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concepção de Pichon-Rivière*.
Os grupos que não funcionam a partir desses critérios podem ser denominados de
série, nos termos sartrianos, ou de “ bandos”. O grupo se torna uma “série” quando as
A tarefa do grupo
A tarefa é o conjunto de ações destinadas à consecução de objetivos comuns. É a razão
de ser do grupo, o motivo das pessoas estarem juntas. Essa tarefa pode ser explícita,
objetiva e observável, e, também, implícita constituída pelos medos e ansiedades
que emergem no processamento da tarefa explícita.
A tarefa explícita
A tarefa explícita é expressa através da verbalização oral ou escrita. É conhecida por
todos, é observável, concreta, palpável e gira em torno de um objetivo comum - o
objetivo do grupo. Esse objetivo comum pode ser traduzido em uma missão, meta,
plano de ação, intenção declarada. Na medida em que há o clareamento das
necessidades comuns e complementares a tarefa vai sendo configurada no projeto de
mudança do grupo.
O nível explícito da tarefa é o motivo da constituição do grupo. Todo grupo deve ter
um “porquê” e um “para quê”, ou seja, uma clareza em relação à razão da sua
existência, do “estar junto”. O estatuto e o regulamento da instituição, as funções do
departamento, as atribuições dos cargos são definições insuficientes no sentido da
apropriação plena da tarefa, há que desenvolver um processo de comunicação e
entendimento.
A tarefa implícita
A tarefa implícita é dimensão da subjetividade e está relacionada com o processo de
resistência à mudança, conflitos, mitos grupais e sentimentos, que podem se
transformar durante o processo da comunicação, na “ agenda oculta” , ideias que não
são colocadas em discussão. São frases típicas relacionadas com a existência de
conteúdos implícitos nos grupos: - não sei porque, mas este trabalho não está
rendendo... por que estamos competindo tanto? há alguma coisa no ar - não sei o
que é... é impossível o consenso neste grupo.. só eu falo .... êle não se integra,não
participa,... em nossas reuniões conversamos de tudo e não resolvemos nada!
Apenas por uma questão didática, estamos separando a tarefa explícita da tarefa
implícita, as duas dimensões estão estreitamente relacionadas, atuam juntas num
processo dialético de mútua modificação. Portanto, não é possível desenvolver grupos
operativos, criativos, que utilizam as suas potencialidades, trabalhando apenas a tarefa
explícita ou as duas dimensões separadamente.
A construção do vínculo
O vínculo é um tipo de relacionamento de natureza complexa, pois cada integrante
traz para o grupo a história pessoal permeada de experiências marcantes que
configuram o seu mundo interno. O vínculo se constitui na interação estabelecida
entre os integrantes de um grupo, a partir do entendimento do outro enquanto
diferente, do reconhecimento da existência de necessidades comuns e
complementares e da satisfação recíproca dessas necessidades através dos
No interjogo dos papéis podemos encontrar situações do tipo:.. aqui uns planejam,
controlam e ficam com a melhor parte, os outros executam; ...esperamos que o diretor
atue de uma maneira e ele age de outra;... não sei exatamente o que o coordenador
espera de mim; sou desse jeito mesmo, autoritário!... não quero mais ser o porta voz
deste grupo,... não suporto mais carregar os problemas nas costas!
Os papeis processuais
Os principais papéis informais que emergem na dinâmica do processo grupal,
caracterizados por Pichon-Rivière (1988) são: porta voz; líder de tarefa; bode
expiatório, sabotador e impostor. Existe uma tendência a interpreta-los como positivos
ou negativos, entretanto eles possuem uma função instrumental no processo de
aprendizagem e mudança em grupo. Se os integrantes promovem o desvendamento e
a compreensão dos papeis emergentes, podem obter um salto qualitativo em termos
de operatividade grupal.
O porta-voz
A partir das experiências sociais com a técnica dos grupos operativos, Pichon-Rivière
(1988) verificou que em alguns momentos um integrante do grupo não fala só por si,
fala pelo grupo ou por parte dele. Frequentemente traz uma temática implícita, ou
Líder de tarefa
Quando o porta-voz é aceito pelo grupo ele se torna um líder, que é o papel de alguém
que orienta a ação, preocupando-se em igual dimensão com os resultados e com o
clima interno determinado pela qualidade das interações. Existe uma relação de escuta
ativa, possibilitando uma rede de comunicações e contribuições efetivas à
operatividade grupal.
Bode expiatório
O porta-voz nem sempre é aceito pelo grupo, porque muitas vezes ainda não é o
momento mais adequado para revelar determinados conteúdos, ou não há um grau de
amadurecimento, de compreensão coletiva que possibilite ao grupo assumir uma
determinada questão como própria. É frequente, por exemplo, ocorrer condutas de
resistência a algum procedimento novo de trabalho, que está sendo proposto ou
implementado. Se alguém traz essa percepção à tona pode acontecer que o grupo se
volte contra o “ denunciador” , identificando o problema como individual, negando-o
como uma realidade coletiva. O integrante que trouxe, ou que traz normalmente
questões semelhantes fica no lugar do depositário dos problemas, do "problemático”.
A atenção do grupo a esse tipo de interação torna-se relevante, uma vez que,
frequentemente, é muito difícil para o integrante que é colocado no papel de bode-
expiatório suportar essa centralização, pois funciona como pressão, como crítica com o
objetivo de mudança de comportamento. A resolução dessa situação está relacionada
Sabotador e impostor
É o papel oposto ao do líder, é o papel que indica a resistência à mudança, é o jogador
que durante a partida joga a bola fora do campo ou coloca a perna para derrubar o
adversário. Pode ser consciente ou não. O papel do grupo, nesse caso, é procurar
compreender as razões que levaram o integrante a dificultar a realização da tarefa. A
impostura é um tipo de sabotagem, em que a verbalização e alguns comportamentos
aparentam adesão e afinidade com o que está sendo proposto, mas um olhar mais
apurado, descobre atitudes de resistência e impedimento da tarefa.
A descrição dos papéis processuais de um grupo pode levar ao julgamento dos que
são corretos e errados, entretanto, todos nós podemos eventualmente nos ver e aos
outros exercendo qualquer um desses papéis durante a nossa vida. O importante é
investigar a sua origem e funcionalidade em relação à tarefa, pois facilita o processo de
aceitação das diferenças e a constituição dos vínculos. A compreensão dos papéis que
vivemos nos grupos, nos diversos âmbitos da vida, pode proporcionar uma fonte de
informação importante para o nosso processo de crescimento e desenvolvimento
como sujeitos da nossa história.
O grupo cria seus objetivos e faz suas descobertas utilizando o que existe em cada ser
humano em termos de experiência de vida. Cada grupo escreve a sua história, trabalha
no melhor nível que pode e esse ritmo precisa ser entendido.
Referência bibliográfica
PICHON-RIVIÈRE, Enrique. O processo grupal. São Paulo: ed. Martins Fontes, 1988.