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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Faculdade de Direito

Trabalho de Direitos Fundamentais

Tema:

Restrições dos Direitos Fundamentais

Discentes:

Licumbe, Maria das Dores;

Mauelele, Lóide Rosalina Fernando;

Meno, Lucas Luis;

Ngovene, Anivaldo Jeremias;

Sitóe, Wilson Moises.

Docentes:

Ms.António Chipanga-Regente

dr.ª Zaida Maria Sultanegy-Assistente

Maputo, Março de 2021

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Conteúdo
Introdução.........................................................................................................................................3
Regime jurídico de suspensão dos direitos fundamentais.................................................................4
Estados de emergência e de sítio......................................................................................................4
Situação de Calamidade Pública........................................................................................................7
Situação de calamidade pública e Direitos Fundamentais.................................................................8
Constitucionalidades das decisões, actos e duração das restrições dos Direitos Fundamentais
impostas em Moçambique durante a pandemia da Covid-19...........................................................9
Conclusão........................................................................................................................................10

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Introdução
Direitos fundamentais são posições de vantagens que o homem tem diante do Estado. O
Estado tem o dever de garantir a efetivação desses direitos aos seus cidadãos. Porem, para a
efectivação de certos direitos o Estado vê-se obrigado a impor certas limitações de certos
direitos para garantir a efetivação dos demais direitos e o bem-estar colectivo.

Neste trabalho estaremos a abordar acerca das limitações dos Direitos Fundamentais,
buscaremos definir com base em nosso Direitos Constitucional, em que momentos o Estado
tem a autonomia de restringir os direitos de indivíduos, sobre que circunstancia podem ser
impostas tais restrições e em virtude de o quê.

Devido a pandemia da Covid-19, o país viu-se obrigado a restringir certos direitos


fundamentais consagrados na Constituição aos seus indivíduos como forma de se prevenir da
mesma, tendo sido essa uma das formas de salvaguardar um dos direitos mais supremos do
homem «o direito a vida». Tal facto foi efectivado se observando os princípios consagrados
na constituição previstos para a regularização dos actos e decisões do poder executivo em
decorrência da verificação de actos que imponham medidas restritivas. Desta feita,
Aproveitaremos nós como o grupo, desenvolver a matéria relacionada com a restrição de
direitos Fundamentais no ordenamento jurídico Moçambicano tendo como base a nossa
constituição, analisar quais tipos de rescrições podem ser imposta e em que circunstancias
devem ser imposta e, por fim, analisar se em todas as restrições impostas pelo governo e os
actos praticados pelos seus agentes no decorrer da restrição são ou não constitucionais. Trata-
se de um trabalho da disciplina de Direitos Fundamentais e esperamos que sirvam como um
recurso de aquisição de matéria e aprendizagem no que diz respeito a restrições de direitos
fundamentais.

Para a sua elaboração recorremos a Constituição da Republica de Moçambique e os Decretos-


lei como base de legalidade dos artigos aqui descrito e também como base de fundamentação
das ideias por nos expostas e ainda recorremos a doutrina para a definição e explicação de
alguns termos. É com recurso a esse material que garantimos a cientificidade e o rigor dos
nosso trabalho.

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Regime jurídico de suspensão dos direitos fundamentais

A suspensão dos Direitos fundamentais já é prevista na lei constitucional, conforme o nº 2 do


artigo 56 "o exercício dos direitos, liberdades e garantias pode ser limitado em razão da
salvaguarda de outros direitos ou interesses protegidos pela constituição",

e são, restritos apenas aos casos previstos na lei constitucional, conforme o nº 3 do mesmo
artigo, "a lei só pode limitar o direitos, liberdades e garantias nos casos nos casos
expressamente previstos na constituição" Avançando mais, o nº. 4 prescreve que as restrições
legais dos direitos e das liberdades devem revestir carácter geral e abstracto e não devem ter
efeito retroactivo, isto é, produzem efeitos só a partir da data da sua declaração.

Estados de emergência e de sítio

Duas das modalidades de suspensão do exercício dos direitos fundamentais são os Estados
de sítio ou de emergência. Conforme se pode notar do n.º 1 do artigo 290 são pressupostos da
sua declaração:

- agressão efectiva ou eminente;

- grave ameaça;

- perturbação da ordem constitucional;

- calamidade pública.

Não podendo ser declarado fora desses pressupostos, conforme o nº. 3 do artigo 56.

Dentro desses pressupostos, a declaração vai se fundamentar e deve especificar os direitos


cujo exercício é limitado ou suspenso (vide nº 2 do art. 290)

Quanto a opção, opta-se por Estado de sítio quando os pressupostos encontram-se agravados
e, Estado de Emergência quando são menos graves. Vejamos por exemplo, em 30 de Março
de 2020, publicou-se o decreto presidencial nº. 11/2020, fundamentada em calamidade
pública, este optou por Estado de emergência, porquanto, a situação pandémica da covid-19
não se encontrava grave, em Moçambique, na altura, pelo que não se justificava a declaração
do Estado de sítio. Este que extinguira trinta dias após a sua declaração, que é o tempo que

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pode durar cada declaração, mas porque persistiram as razões primordiais da sua declaração,
prorrogou-se três vezes, não obstante terem persistido, por razões constitucionais não pôde
ser prorrogado pois o limite é de três prorrogações, art. 293.

Conforme a al. a) do artigo 160 da CRM, compete ao presidente da república, no domínio da


defesa e ordem pública, "declarar a guerra e sua cessação, o estado de sítio ou de
emergência", importando para o estudo que nos propomos a fazer a última parte do excerto.
Porque "a declaração do estado do sítio ou de emergência não pode afectar a aplicação da
constituição quanto à competência, ao funcionamento dos órgãos de soberania e quanto aos
direitos e imunidades dos respectivos titulares ou membros, ao declarar o Estado de Sítio ou
de Emergência, o presidente da república submete à Assembleia da República, no prazo de
vinte e quatro horas, a declaração com a respectiva fundamentação, para efeitos de
ratificação, Se Assembleia não estiver em sessão, convoca-se uma reunião extraordinária,
devendo reunir-se no prazo máximo de cinco dias.

Quanto às restrições do estado de sítio ou emergência, trata o artigo 295 da CRM, ao qual
texto o transcrevemos:

Artigo 295

(Restrições das liberdades individuais)

Ao abrigo do estado de sítio ou de emergência podem ser tomadas as seguintes medidas


restritivas da liberdade das pessoas:

a) obrigação de permanência em local determinado (suspensão do exercício do direito de


circulação - nº 2 do artigo 55);

b) detenção;

c) detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns;

d) restrições relativas a inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à


prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão; (Garantidos
no art. 48 da constituição)

e) busca e apreensão em domicílio

f) suspensão da liberdade de reunião e manifestação (garantidos no artigo 51 da CRM);


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g) reaquisição de bens e serviços.

Na âmbito do estado de sítio ou de emergência, limitam e/ou suspende-se vários direitos,


liberdades e garantias, mas existem aqueles que pelo seu valor não podem ser suspensos,
desses trata o artigo 294, são eles: o direito à vida, à integridade pessoal, à capacidade civil e
à cidadania, a não retroatividade da lei penal, o direito de defesa dos arguidos e a liberdade de
religião.

Embora o estado de sítio ou emergência suspenda vários direitos, liberdades e garantias


fundamentais, a sociedade não é um motor que pode ser desligado ou pausado, os factos
sociais ainda ocorrerem, o Crime é um dos factos sociais mais normais da sociedade humana,
pois existiu desde o passado e subsistiu até hoje, em todas as partes do mundo, tendo a
principais características do facto social segundo Durkheim (coerção social, exterioridade e
generalidade).

Tendo isto posto é perceptível que nenhum acto é capaz de cessar, extinguir o crime, mesmo
no âmbito da declaração do estado de emergência ou de sítio, pois é um fenómeno lapidado
na rocha firme da estupidez humana, por isso haverão de ser feitas detenções, e, estas
praticadas no âmbito do estado de emergência ou sítio, são reguladas pelo artigo 296 da
constituição, que estabelece o seguintes princípios:

- o dever (do agente/instituição detentora) de notificar um parente ou pessoa confiada do


detido por este indicado, a quem se dá o conhecimento do enquadramento legal, no prazo de
cinco dias;

- o nome do detido e o enquadramento legal são tornados públicos, no prazo de cinco dias;

- o detido é apresentado a juízo, no prazo máximo de dez dias.

Sobre o termo (artigo. 298)

No termo do estado de sítio ou de emergência, o presidente da república faz uma


comunicação a AR com uma informação detalhada sobre as medidas tomadas ao seu abrigo e
a relação nominal dos cidadãos atingidos. A cessação do estado de sítio ou de emergência faz
cessar os seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos actos ilícitos cometidos pelos
seus executores ou agentes.

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Situação de Calamidade Pública

Prevista no artigo 34 do Regime Jurídico de Gestão e Redução de Riscos de Desastres,


aprovado pela lei n.º10/2020 de 24 de Agosto. Considera-se situação de calamidade pública
um evento anormal provocado por uma catástrofe de grande dimensão, que causa danos ou
prejuízos que impliquem o comprometimento substancial de capacidade de resposta do poder
público.

A declaração da situação calamidade pública deve ser aprovada pelo Governo.

Em função da capacidade de resposta das autoridades, a situação de calamidade pública pode


ser:

Local, quando atinge unidades territoriais de nível de província, distrito, posto administrativo,
localidade ou povoação, sendo a capacidade de resposta local;

Nacional, quando atinge simultaneamente, mais de uma província ou, ainda que limitada a
uma unidade territorial inferior, desde que sua magnitude e gravidade ultrapasse a capacidade
de resposta local.

Durante a vigência da situação de calamidade pública, Governo pode tomar as seguintes


medidas:

a. garantir a adopção e respeito das medidas de segurança;


b. reorganizar o exercício da actividade comercial, industrial e o acesso a bens e
serviços;
c. reorganizar o funcionamento dos transportes colectivos, o tráfego rodoviário, aéreo,
marítimo fluvial e ferroviário;
d. reorganizar o funcionamento das instituições de ensino, da administração pública, do
movimento fronteiriço, bem como a realização de espectáculos, actividades
desportivas, culturais e de lazer;
e. coordenar com as lideranças religiosas sobre as condições de uso dos locais de culto;
f. limitar ou racionalizar a utilização dos serviços públicos de abastecimento de água,
energia, combustíveis e lubrificantes, bem como o consumo de bens e serviços de
primeira necessidade;

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g. proceder a aquisição de bens e serviços de carácter urgente, usando regras
excepcionais, nos termos da legislação aplicável;
h. determinar a mobilização civil por determinados períodos de tempo certos, por zonas
territoriais ou sectores de actividade caso se mostre necessário;
i. usar de forma proporcional os meios coercivos apropriados para garantir o
comprimento das medidas.

Com o vista a combater a propagação do vírus COVID-19, o Governo declarou a situação de


calamidade pública, através do decreto nº 79/2020 de 4 de Setembro, tomando um conjunto
de medidas restritivas com fundamento na necessidade de combater o COVID-19, medidas
essas que incluem entre outras, a quarentena domiciliária obrigatória, a interdição das
actividades culturais e recreativas realizadas em espaços públicos, encerramento de alguns
postos de travessia, entre outras.

Situação de calamidade pública e Direitos Fundamentais

O direito fundamental é um direito positivado no plano constitucional. Os direitos


fundamentais são de extrema importância para a sociedade, contudo não são absolutos, o
direito fundamental pode ser restringidos.

O artigo 72 da CRM dispõe que as liberdades e garantias individuais só podem ser suspensas
ou limitadas temporariamente em virtude de declaração do estado de guerra, do estado de
sítio ou do estado de emergência nos termos estabelecidos na Constituição, e sempre que se
verifique a suspensão ou limitação de liberdades ou garantias, elas têm um carácter geral e
abstracto e devem especificar a duração e a base legal em que se assenta.

A exemplo temos o artigo 17 do decreto nº 2/2021, que introduz o recolher obrigatório na


Área Metropolitana do Grande Maputo, nomeadamente, nas Cidades de Maputo e da Matola,
Distrito e Município de Boane e Distrito de Marracuene, entre as 21 horas as 4 horas durante
30 dias. Esta se aqui perante a limitação de um direito fundamental, concretamente, o direito
de circulação, assente no artigo 55 da CRM, cuja sua limitação só é feita em razão da
salvaguarda de outros direitos ou interesses protegidos pela Constituição, em conformidade
com o nº 2 do artigo 56 da CRM.

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Constitucionalidades das decisões, actos e duração das restrições dos Direitos Fundamentais
impostas em Moçambique durante a pandemia da Covid-19

O Capitulo I do Titulo XV da constituição da Republica de Moçambique trata das Garantias


constitucionais, dos estado de Emergência e de sitio mais precisamente. Sendo a Covid-19
uma doença mortal que facilmente propaga-se através de aglomerados de pessoas houve a
necessidade de se restringir alguns direitos fundamentais tais como a de livre circulação,
participação em cultos religiosos, reuniões, etc., e houve necessidade de se impor o uso de
máscara.

Em Moçambique, para decretar-se o primeiro Estado de Emergência, verificou todos os


pressupostos de opção de declaração consagrados no artigo 291 da Constituição da
Republica, bem como o processo de declaração consagrado no artigo 293 e ainda verificou-se
o termo de declaração consagrado no numero 1 do artigo 298.

Ainda, verificou-se os limites de declaração consagrados no artigo 294 «a declaração de


estado de sitio ou de emergência em nenhum caso pode limitar ou suspender o direito a vida, a
integridade pessoal, a capacidade civil e a cidadania, a não retroatividade da lei penal, o direito de
defesa dos arguidos e a liberdade de religião.»

Deixa porem a desejar o cumprimento da duração prevista na lei constitucional que consagra
em seu artigo 292 uma «duração de trinta dias prorrogáveis por três vezes caso persistam as
razoes que determinam a declaração do estado de emergência » bem como também deixa muitas
lacunas as acções dos agentes da lei e ordem durante o período do Estado de Emergência.

O Decreto de Estado de calamidade foi um dos meios em que o executivo optou para manter
a constitucionalidade dos seus actos e ainda assim, simultaneamente, continuar a luta contra o
Corona vírus. É um dever fundamental do cidadão obedecer as imposições e restrições do
Decreto 79/2020 pois, é um dever fundamental de todo cidadão «defender e promover a saúde
publica»(art. 45, CRM).

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Conclusão
Com o presente trabalho concluímos que quer as limitações, quer as restrições dos direitos
fundamentais são impostas para salvaguardar um direito maior do que visam restringir ou
limitar.

A Constituição regula tais matéria para que em primeiro lugar sendo uma realidade do Direito
esteja positivados e a posterior, para que não se firam por completo os interesse dos
indivíduos.

Concluímos também que , opta-se por Estado de sítio quando os pressupostos encontram-se
agravados e, Estado de Emergência quando são menos graves.

A matéria de base constitucional que consagra as restrições dos direitos fundamentais


encontram-se plasmados nos artigos 290 a 298 da Constituição da Republica de
Moçambique.

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REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
Constituição da Republica de Moçambique(2018).Maputo: imprensa nacional
Decreto presidencial nº. 11/2020, série I, Nº 61

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