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Resumo: O presente artigo apresenta uma aproximação entre as concepções de Infância e Educação
identificadas nas obras de Célestin Freinet (1896-1966) e François Delalande (1941-). Os estudos dos
dois autores permitem amplas reflexões sobre o ensino de música, na medida em que encaram o fazer
musical de crianças, suas explorações do material sonoro, como verdadeiras criações musicais.
Abstract: This paper presents an approach between the conceptions of Childhood and Education in the
works of Célestin Freinet (1896-1966) and François Delalande (1941-). The writings of both authors
allow wide reflections over music teaching, as far as they face the children’s musical production, their
sound material research, as true music creations
1. Introdução
2. François Delalande
O que é fazer música? Esta é, segundo Delalande, a primeira questão que alguém
que reflete sobre pedagogia musical deve-se fazer (Delalande, 1995: 10). O fazer musical
ainda é entendido por muitas pessoas como a habilidade de tocar um instrumento e dominar
uma técnica de leitura e escrita específica. Desta maneira, falar de educação musical para
crianças em idade pré-escolar seria um contra-senso. Porém, a partir do conhecimento da
música de outras culturas e de estudos da psicologia do desenvolvimento, Delalande admite
ser possível pensar em uma pedagogia musical para crianças pequenas, uma Pedagogia das
Condutas Musicais (Delalande, 1988: 3).
A partir das experiências proporcionadas pelos estudos de etnomusicólogos e pela
obra de compositores contemporâneos, Delalande entende como necessário não um foco em
aspectos do produto sonoro resultante das ações dos músicos - que muito variam entre as
diferentes culturas e correntes estéticas -, mas uma atenção ao comportamento de quem faz ou
escuta música. Seriam as atitudes dos músicos, suas condutas, o denominador comum entre as
diversas práticas musicais (Idem). Observando a atividade musical na infância sob esta
perspectiva, Delalande foca nas condutas presentes no fazer musical das crianças, de maneira
a reconhecer suas atitudes exploratórias do material sonoro como invenções musicais, bem
como as dos adultos. A Pedagogia das Condutas Musicais aparece, então, como proposta que
abarca as várias possibilidades de produtos musicais, na qual “o papel atribuído ao educador é
estimular a sua (da criança) imaginação, conduzi-la em sua elaboração, valorizar suas
descobertas, em suma, reforçar deliberadamente sua conduta natural” (Idem: 5)
I Jornada Acadêmica Discente – PPGMUS/USP
Na busca por uma definição abrangente do que é fazer música, Delalande chega a
três aspectos que julga eficientes ao propósito:
cultura possui a sua. Busca-se dominar as regras, de maneira que estas venham fomentar a
imaginação ao invés de sufocá-la, resultando em satisfação intelectual. (Delalande, 1995: 22)
Os jogos de Piaget ajudariam, então, em um maior entendimento sobre o que é
fazer música, sobre os comportamentos próprios ao fazer musical. A observação destes
comportamentos nos faz reconsiderar o fazer musical na infância, pensando a educação
musical como promoção de espaços para a manifestação das condutas, ao invés de concentrar
esforços na adequação da atividade musical infantil a resultados sonoros pré-determinados
(Idem: 28)
curiosidade de vários pedagogos, que visitaram sua escola e levaram suas concepções e
práticas a outros lugares, nascendo, assim, o Movimento Escola Moderna. O Movimento
cresceu no século XX e ainda cresce, congregando educadores em vários países do mundo,
como França, Canadá, África do Sul, Espanha, Brasil, entre outros.
5. As Invariantes Pedagógicas
A primeira convergência que apontamos nos trabalhos dos dois autores diz
respeito à equiparação entre criança e adulto. Freinet, em suas Invariantes n° 1, 2 e 28, deixa
claro que seu pensamento pedagógico se apóia na supressão de uma hierarquia referente à
idade. Esta ideia é reforçada de maneira menos direta nas Invariantes n° 4 e 7, que tratam de
outros aspectos da prática pedagógica, mas criança e adulto aparecem, mais uma vez, como
sujeitos com os mesmos direitos. Na obra de Delalande, este aspecto aparece tanto no
aproveitamento da teoria de Piaget quanto na proposição da Pedagogia das Condutas
Musicais. O fazer musical de crianças e adultos são considerados da mesma natureza na
medida em que o foco é desviado do resultado sonoro para os comportamentos que o geram, e
a teoria dos jogos é tomada como ferramenta de descrição e entendimento da prática de quem
faz e escuta música. Delalande deixa ainda mais clara esta comparação quando afirma que
(...) demos assim numerosos exemplos das riquezas que são capazes de nos
oferecer as crianças que têm finalmente a possibilidade de se interessar pelo
mundo ambiente e de nos dizer sob a forma que convém ao seu
temperamento – prosa ou poesia, canto, desenho, inquéritos, contos,
atividades manuais – as suas necessidades verdadeiras sobre as quais
poderemos então construir uma sólida pedagogia (Freinet, 1976: 15).
I Jornada Acadêmica Discente – PPGMUS/USP
Referências:
Notas
1
Disciplina oferecida no Programa de Pós-Graduação em Música da ECA – USP pela Profa. Dra. Maria Teresa
Alencar de Brito no primeiro semestre de 2012.
2
Fonte: www.francois-delalande.fr, acessado em 08/07/2012.
3
Originalmente publicadas em Pour l’école du peuple em 1946. Aqui apresentaremos a tradução contida em
Sampaio, Rosa M. W. F. Freinet: evolução histórica e atualidades. São Paulo: Ed. Scipione, 1989.