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DIREITOS AUTORAIS

EM ESPAÇOS DIGITAIS

Guilherme Carboni
I. CRIAÇÕES INTELECTUAIS PROTEGIDAS PELA PROPRIEDADE
INTELECTUAL

Propriedade Industrial
Propriedade Industrial
(marcas, patentes,
(marcas, patentes,
Campo da
Campo da Técnica
Técnica desenhos industriais,
desenhos industriais,
repressão àà concorrência
repressão concorrência
desleal)
desleal) PROPRIEDADE
INTELECTUAL

Campo Estético
Estético Propriedade Literária
Propriedade Literária
Campo Artística ee Científica
Científica
Artística
(Direito de
(Direito de Autor)
Autor)

Idéias, sistemas,
Idéias, sistemas, Não são
são protegidos
protegidos
Não
métodos
métodos
II. PROTEÇÃO AUTORAL DAS OBRAS INTELECTUAIS NA
INTERNET

Artigo 7º da Lei 9.610/98: criações do espírito expressas por qualquer meio


ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível

Textos
Textos

Sons
Sons

Protegidos pelo
Protegidos pelo
Imagens
Imagens Multimídia
Multimídia Direito de
Direito de Autor
Autor

Base de
Base de Dados
Dados

Software
Software
III. COMO A INTERNET AFETA O DIREITO DE AUTOR

ƒ Desmaterialização do suporte físico

ƒ Tradicional fluxo de distribuição: autor ⇒ indústria/mercado ⇒ usuário

ƒ Fluxo pode ser: autor ⇒ usuário ou usuário ⇒ usuário

ƒ Facilita a reprodução e a modificação de obras intelectuais

ƒ Novos valores na circulação de obras intelectuais


IV. TITULARIDADE DOS DIREITOS AUTORAIS – PROBLEMAS

ƒ Possibilidade de confusão dos tradicionais papéis de autor e leitor (a leitura


sempre entendida em seu sentido mais amplo)

ƒ A autoria coletiva nas redes de informação


V. VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS NA INTERNET

ƒ Inserção de obras protegidas por direitos autorais na Internet (reprodução e


transmissão): dependem de prévia e expressa autorização dos titulares de
direitos autorais
V. VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS NA INTERNET

Autorizada aa inserção,
Autorizada inserção, 44 tipos
tipos básicos
básicos de
de utilização:
utilização:

Reprodução
Reprodução
Reprodução
Reprodução Reprodução
Reprodução externa através
externa através
total ou
total ou parcial
parcial
externa do
externa do da impressão
da impressão do do
da obra
da obra para
para
Visualização
Visualização material através
material através material em
material em um
um
uso no
uso no próprio
próprio
em tela
em tela de download
de download nono ou mais
ou mais
ciberespaço
ciberespaço computador do
computador do exemplares, com
exemplares, com
(framing, deep
(framing, deep
usuário
usuário ou sem
ou sem intuito
intuito de
de
linking)
linking) lucro
lucro
VI. A OBRA CRIADA SOB ENCOMENDA, CONTRATO DE
TRABALHO OU DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

ƒ Artigo 36 da Lei 5.988/73: “se a obra intelectual for produzida em


cumprimento a dever funcional ou a contrato de trabalho ou de prestação
de serviços, os direitos de autor, salvo convenção em contrário,
pertencerão a ambas as partes, conforme for estabelecido pelo Conselho
Nacional de Direito Autoral”
VI. A OBRA CRIADA SOB ENCOMENDA, CONTRATO DE
TRABALHO OU DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

ƒ Lacuna na LDA sobre a titularidade dos direitos autorais da obra realizada


sob encomenda, contrato de trabalho ou prestação de serviços.

ƒ Na ausência, regra geral: a titularidade é do criador da obra


VI. A OBRA CRIADA SOB ENCOMENDA, CONTRATO DE
TRABALHO OU DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

ƒ Regra diferente para o software:

ƒ Artigo 4º da Lei 9.609/98: “salvo estipulação em contrário, pertencerão


exclusivamente ao empregador contratante de serviços ou órgão público,
os direitos relativos ao programa de computador, desenvolvido e elaborado
durante a vigência de contrato ou vínculo estatutário, expressamente
destinado à pesquisa e desenvolvimento, ou em que a atividade do
empregado, contratado de serviço ou servidor seja prevista, ou ainda, que
decorra da própria natureza dos encargos concernentes a esses vínculos
VII. TECNOLOGIA DIGITAL E CRISE DO DIREITO DE AUTOR

ƒ Inadequação à tecnologia digital

ƒ Conflitos entre o interesse individual do autor e o interesse coletivo pelo


acesso à informação e ao conhecimento e pelo desenvolvimento
econômico, cultural e tecnológico

ƒ Tentativa de resolução dos problemas: regulamentação das limitações ⇒


incapacidade para resolver o problema
VIII. LIMITAÇÕES: CONCEITO

ƒ Hipóteses em que a lei permite a livre utilização de obras protegidas sem a


necessidade de autorização do autor
IX. REGULAMENTAÇÃO DAS LIMITAÇÕES NO PLANO
INTERNACIONAL

ƒ Convenção da União de Berna (1886) ⇒ “regra dos três passos”:

ƒ “Fica reservada às legislações dos países da União a faculdade de permitir


a reprodução das referidas obras, (1) em certos casos especiais, (2) desde
que tal reprodução não prejudique a exploração normal da obra (3) nem
cause um prejuízo injustificado aos legítimos interesses do autor”
IX. REGULAMENTAÇÃO DAS LIMITAÇÕES NO PLANO
INTERNACIONAL

ƒ Interpretação:

(a) Certos casos especiais: a limitação deve ter um propósito que seja
justificável em termos de políticas pública
IX. REGULAMENTAÇÃO DAS LIMITAÇÕES NO PLANO
INTERNACIONAL

(b) Não prejudique a exploração normal da obra:

9 “exploração” ⇒ qualquer uso pelo qual o titular do direito de autor


possa otimizar o valor de seu direito

9 “normal” ⇒ Não é permitida a limitação injustificada de um mercado


comercialmente relevante já existente ou que plausivelmente surgirá, a
menos que haja interesse público
IX. REGULAMENTAÇÃO DAS LIMITAÇÕES NO PLANO
INTERNACIONAL

(c) Não causar prejuízos injustificados aos legítimos interesses do autor:


exige que o prejuízo seja razoável (pois este sempre existirá),
devendo a limitação ao direito de autor ser socialmente justificável e
sem escopo de lucro
X. REGULAMENTAÇÃO DAS LIMITAÇÕES NO BRASIL

ƒ Artigos 46 a 48 da Lei 9.610/98 (“Lei de Direitos Autorais”):

(a) reprodução de notícia na imprensa diária ou periódica;

(b) reprodução para uso de deficientes visuais, sem intuito de lucro;

(c) reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso


privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;

(d) citação de passagens para fins de estudo, crítica ou polêmica;

(e) apanhado de lições em estabelecimentos de ensino por aqueles a


quem elas se dirigem, vedada sua publicação;

(f) utilização para demonstração da obra à clientela;


X. REGULAMENTAÇÃO DAS LIMITAÇÕES NO BRASIL

(g) representação teatral e execução musical no recesso familiar ou para


fins didáticos, em estabelecimentos de ensino;

(h) utilização para produzir prova judiciária ou administrativa;

(i) reprodução de pequenos trechos de obras preexistentes em obra


maior;

(j) paráfrase e paródia, quando não houver descrédito; e

(k) representação de obras situadas permanentemente em logradouros


públicos.
XI. CÓPIA PRIVADA - LEGISLAÇÃO

ƒ Lei 5.988/73 (antiga Lei de Direitos Autorais)

ƒ Art. 49. Não constitui ofensa aos direitos do autor:


(...)
II - A reprodução, em um só exemplar, de qualquer obra, contando que não
se destine à utilização com intuito de lucro;
XI. CÓPIA PRIVADA - LEGISLAÇÃO

ƒ Lei 9.610/98 (atual Lei de Direitos Autorais)

ƒ Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:


(...)
II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso
privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;

ƒ Proibição da cópia privada, sem intuito de lucro

ƒ O que é “pequeno trecho” ? Conceito quantitativo ou que leva em conta o


prejuízo econômico do autor?
XI. CÓPIA PRIVADA - REPROGRAFIA

ƒ Algumas associações vêm entendendo:

(a) por pequeno trecho: “um fragmento da obra que não contempla sua
substância”

(b) que a limitação apenas deve ser aplicada quando o próprio copista (um
estudante, por exemplo) reproduz “pequenos trechos” de uma obra
XI. CÓPIA PRIVADA - REPROGRAFIA

ƒ Problemas:
a) Instauração do critério da “essência da obra” ⇒ a idéia da reprodução de
pequenos trechos é a revelação de “essências parciais” da obra

b) A execução de cópias remuneradas (por Centro Acadêmico ou empresa


copiadora, por exemplo) caracterizaria infração aos direitos de autor ⇒
intuito de lucro deve ser considerado do ponto de vista do demandante da
reprodução e não dos demandados a realizarem as fotocópias

ƒ TOTAL IMPROPRIEDADE DESSA INTERPRETAÇÃO


XI. CÓPIA PRIVADA - REPROGRAFIA

ƒ Interpretação deve levar em conta a realidade nacional:

(a) Em outros países ⇒ é comum os alunos tirarem cópias nas


bibliotecas

No Brasil ⇒ as fotocópias são centralizadas em pequenas empresas


privadas ou nos centros acadêmicos das Universidades

(b) Em outros países ⇒ existe mercado significativo de livros


universitários de “segunda mão”, muitas vezes, mais baratos do que o
custo da cópia integral
XI. CÓPIA PRIVADA - REPROGRAFIA

(c) 62,7 % da população brasileira vive abaixo da linha da pobreza

Para essa parcela da população brasileira, é impensável adquirir livros


e produtos culturais e alimentar-se

A reprodução integral de obras protegidas por essa população não


interfere nos meios normais que os autores têm para explorar
economicamente suas obras, pois essa parcela da população brasileira
está fora do mercado

O impedimento da reprodução de obras por essa parcela da população


não implicará na compra de mais ou menos exemplares de livros, mas
apenas na perpetuação da miserabilidade do povo brasileiro, gerada
pela falta de acesso à cultura e à educação
XII. PROPOSTA DE ALTERAÇÃO LEGAL DA ABPI

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais, a reprodução parcial ou
integral, a distribuição e qualquer forma de utilização de obras intelectuais
que, em função de sua natureza, atenda a dois ou mais dos seguintes
princípios, respeitados os direitos morais previstos no art. 24:
XII. PROPOSTA DE ALTERAÇÃO LEGAL DA ABPI

I – tenha como objetivo, crítica, comentário, noticiário, educação, ensino,


pesquisa, produção de prova judiciária ou administrativa, uso exclusivo de
deficientes visuais em sistema Braile ou outro procedimento em qualquer
suporte para esses destinatários, preservação ou estudo da obra, ou ainda,
para demonstração à clientela em estabelecimentos comerciais, desde que
estes comercializem os suportes ou equipamentos que permitam a sua
utilização, sempre na medida justificada pelo fim a atingir;
II – sua finalidade não seja essencialmente comercial para o destinatário da
reprodução e para quem se vale da distribuição e da utilização das obras
intelectuais;
III – o efeito no mercado potencial da obra seja individualmente
desprezível, não acarretando prejuízo à exploração normal da obra;
XII. PROPOSTA DE ALTERAÇÃO LEGAL DA ABPI

Parágrafo Único – A aplicação da hipótese prevista no inciso II deste artigo


não se justifica somente pelo fato de o destinatário da reprodução e quem
se vale da distribuição e da utilização das obras intelectuais ser empresa
ou órgão público, fundação, associação ou qualquer outra entidade sem
fins lucrativos;
XIII. FUNÇÃO SOCIAL DO DIREITO DE AUTOR

1) Restrições intrínsecas:

(a) limitações estabelecidas em lei


(b) objeto
(c) duração
XIII. FUNÇÃO SOCIAL DO DIREITO DE AUTOR

2) Restrições extrínsecas:

a) declarações e tratados internacionais sobre limitações e flexibilização de


direitos autorais
b) princípios constitucionais sobre direito de acesso ao conhecimento, à
informação e à cultura bem como ao desenvolvimento tecnológico
c) princípio da função social da propriedade
d) princípio da função social dos contratos
e) teoria do abuso de direito
f) regras sobre desapropriação para divulgação ou reedição de obras
intelectuais (Decreto-Lei 3.365/41, artigo 5, letra “o”)
XIV. REFLEXÕES FINAIS

ƒ Direito de Autor deve levar em conta os valores criados pela própria


tecnologia digital, novas formas de autoria

ƒ Para um melhor balanceamento dos interesses públicos e privados não


basta a regulamentação das limitações ⇒ desenvolvimento de uma teoria
da função social do direito de autor

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