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Lúcio Kowarick. A espoliação urbana. 1973-1979.

Dialética metropolitana

Pauperização
Crescimento
da classe
econômico
trabalhadora

– A distribuição espacial da população, diante de um quadro de crescimento


caótico das cidades, espelha, no nível espacial, a segregação socioeconômica imperante.
– A periferia como fórmula de reproduzir nas cidades força de trabalho é
conseqüência direta do tipo de desenvolvimento econômico que se processou na
sociedade brasileira. Possibilitou, de um lado, altas taxas de exploração do trabalho e,
de outro, forjou formas espoliativas da própria condição urbana a que foi submetida a
classe trabalhadora.
– Favelas, casas precárias e cortiços abrigam a classe trabalhadora, cujas
condições de alojamento expressam a precariedade salarial.

– 80% dos empréstimos do BNH foram para extratos de renda média e alta.

– “Para o capital, a cidade e a classe trabalhadora interessam como fonte de


lucro. Para os trabalhadores, a cidade é o mundo onde devem procurar desenvolver suas
potencialidades coletivas. Entre esses dois existe um mundo de diferenças. É um mundo
de antagonismos.” (p. 54)

Rebaixamento do
valor da força de
trabalho (com
precarização das
condições de vida)

Autoconstrução Rebaixamento dos


salários (com
precarização das
condições de vida)

Espoliação urbana da classe trabalhadora


– “Além da compressão salarial que está o âmago do processo de favelização, o
vertiginoso aumento do preço da terra que, nos últimos anos (1978), também afetou
áreas periféricas, tornou ainda mais problemática a confecção da casa própria.” (p. 82)

– “Os assim chamados problemas habitacionais, entre os quais a própria favela,


devem ser entendidos no âmbito de processos sócio-econômicos e políticos abrangentes,
que determinam a produção do espaço de uma cidade e refletem sobre a terra urbana a
segregação que caracteriza a excludente dinâmica das classes sociais”. (p. 83)

– “Numa metrópole em que a produção do espaço se faz sem a existência de


uma sociedade civil vigorosa na defesa dos interesses básicos da maioria dos seus
habitantes, as transformações urbanas só podem se realizar como um rolo compressor
que esmaga todos aqueles que não têm recursos para conquistar os benefícios injetados
nas cidades.” (p. 84)

– “A dinâmica de produção dos espaços urbanos, ao gerar uma melhoria, cria,


simultânea e constantemente, milhares de desalojados e desapropriados que cedem seus
locais de moradia para grupos de renda que podem pagar o preço do progresso que se
opera através de uma enorme especulação imobiliária. Tal trama urbana só pode levar à
fixação das camadas pobres em zonas desprovidas de serviços públicos, até o dia em
que, com o crescimento da metrópole, também desses locais tenderam a ser expulsos, se
por ventura sua iniciativa política ainda estiver bloqueada.” (p. 85)

– Para os setores da classe trabalhadora “que ingressam na longa aventura da


casa própria, a alternativa é a diminuição, geralmente drástica, da já rebaixada cesta de
consumo, através da qual conseguem pagar, durante 20 anos, um terreno
frequentemente clandestino, e construir aos poucos, com a ajuda da família, uma
moradia em péssimas condições de habitalidade.”

– “A condição de favelado representa uma vulnerabilidade que o atinge não


apenas enquanto morador, já que atinge-o também no cerne dos seus direitos civis, pois
mais fácil e frequentemente pode ser confundido com malandros ou maloqueiros que
constituem objeto especial da ação policial. E muitos são confundidos, o que faz com
que, mesmo aqueles que não tenham passado pela experiência, interiorizem a iminência
do perigo. Foco de batidas policiais, a favela é também estigmatizada pelos habitantes
‘bem-comportados’ como o antro da desordem que destrói a paisagem dos bairros
melhor providos, precisando ser removida para que a tranqüilidade volte a reinar no
cotidiano das famílias que se sentem contaminadas pelo perigo da proximidade dos
barracos.” (p. 93)

– “Sem sombra de dúvida, o padrão de moradia reflete todo um complexo de


segregação e discriminação presente numa sociedade plena de contrastes acirrados. De
uma forma mais ou menos acentuada, esse processo perpassa todos os patamares da
pirâmide social em que os ricos procuram se distanciar e diferenciar dos pobres. Mas a
favela recebe de todos os outros moradores da cidade um estigma extremamente forte,
forjador de uma imagem que condensa os males da pobreza que, por ser excessiva, é
tida como viciosa e, no mais das vezes, também considerada perigosa: ‘a cidade olha a
favela como uma realidade patológica, uma doença, uma praga, um quisto, uma
calamidade pública.” (p. 93-94)

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