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1.1. INTRODUÇÃO
Na ótica da Engenharia Ambiental, o conceito de qualidade da água é muito mais amplo do que a simples
caracterização da água pela fórmula molecular H2O. Isto porque a água, devido às suas propriedades de
solvente e à sua capacidade de transportar partículas, incorpora a si diversas impurezas, as quais definem
a qualidade da água.
A qualidade da água é resultante de fenômenos naturais e da atuação do homem. De maneira geral, pode-
se dizer que a qualidade de uma determinada água é função das condições naturais e do uso e da
ocupação do solo na bacia hidrográfica. Tal se deve aos seguintes fatores:
Condições naturais: mesmo com a bacia hidrográfica preservada nas suas condições naturais, a
qualidade das águas é afetada pelo escoamento superficial e pela infiltração no solo, resultantes da
precipitação atmosférica. O impacto é dependente do contato da água em escoamento ou infiltração
com as partículas, substâncias e impurezas no solo. Assim, a incorporação de sólidos em suspensão
(ex: partículas de solo) ou dissolvidos (ex: íons oriundos da dissolução de rochas) ocorre, mesmo na
condição em que a bacia hidrográfica esteja totalmente preservada em suas condições naturais (ex:
ocupação do solo com matas e florestas). Neste caso, têm grande influência a cobertura e a
composição do solo.
Interferência dos seres humanos: a interferência do homem, quer de uma forma concentrada, como
na geração de despejos domésticos ou industriais, quer de uma forma dispersa, como na aplicação de
defensivos agrícolas no solo, contribui na introdução de compostos na água, afetando a sua qualidade.
Portanto, a forma em que o homem usa e ocupa o solo tem uma implicação direta na qualidade da
água.
A Figura 1.1 apresenta um exemplo de possíveis inter-relações entre o uso e ocupação do solo e a
geração de focos alteradores da qualidade da água de rios e lagos. O controle da qualidade da água está
associado a um planejamento global, no nível de toda a bacia hidrográfica, e não individualmente, por
agente alterador.
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Fig. 1.1. Exemplos de inter-relação entre uso e ocupação do solo e focos alteradores da qualidade
da água
Em contraposição à qualidade existente de uma determinada água, tem-se a qualidade desejável para esta
água. A qualidade desejável para uma determinada água é função do seu uso previsto. São diversos os
usos previstos para uma água, os quais são listados no Item 1.3.1. Em resumo, tem-se:
qualidade de uma água existente: função das condições naturais e do uso e da ocupação do solo na
bacia hidrográfica
qualidade desejável para uma água: função do uso previsto para a água.
Dentro do enfoque do presente texto, o estudo da qualidade da água é fundamental, tanto para se
caracterizar as conseqüências de uma determinada atividade poluidora, quanto para se estabelecer os
meios para que se satisfaça determinado uso da água.
A água é o constituinte inorgânico mais abundante na matéria viva: no homem, mais de 60% do seu peso
são constituídos por água, e em certos animais aquáticos esta porcentagem sobe a 98%. A água é
fundamental para a manutenção da vida, razão pela qual é importante saber como ela se distribui no
nosso planeta, e como ela circula de um meio para o outro.
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- Água do mar: 97,0%
- Geleiras: 2,2%
- Água doce: 0,8% .......... água subterrânea: 97%
água superficial: 3%
- TOTAL: 100,0%
Pode-se ver claramente que, da água disponível, apenas 0,8% pode ser utilizada mais facilmente para
abastecimento público. Desta pequena fração de 0,8%, apenas 3% apresentam-se na forma de água
superficial, de extração mais fácil. Esses valores ressaltam a grande importância de se preservarem os
recursos hídricos na Terra, e de se evitar a contaminação da pequena fração mais facilmente
disponível.
Uma vez visto como a água se distribui em nosso planeta, é importante também o conhecimento de como
a água se movimenta de um meio para outro na Terra. A essa circulação da água se dá o nome de ciclo
hidrológico.
A Figura 1.2 apresenta o ciclo hidrológico de uma forma simplificada. Nesse ciclo, distinguem-se os
seguintes mecanismos de transferência da água:
precipitação
escoamento superficial
infiltração
evaporação
transpiração
a) Precipitação
A precipitação compreende toda a água que cai da atmosfera na superfície da Terra. As principais formas
são: chuva, neve, granizo e orvalho. A precipitação é formada a partir dos seguintes estágios:
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aumento do tamanho das gotículas por coalizão e aderência até que estejam grandes o suficiente para
formar a precipitação
b) Escoamento superficial
A precipitação que atinge a superfície da Terra tem dois caminhos por onde seguir: escoar na superfície
ou infiltrar no solo. O escoamento superficial é responsável pelo deslocamento da água sobre o terreno,
formando córregos, lagos e rios e eventualmente atingindo o mar. A quantidade de água que escoa
depende dos seguintes fatores principais:
intensidade da chuva
capacidade de infiltração do solo
c) Infiltração
A infiltração corresponde à água que atinge o solo, formando os lençóis d'água. A água subterrânea é
grandemente responsável pela alimentação dos corpos d'água superficiais, principalmente nos períodos
secos. Um solo coberto com vegetação (ou seja, com menor impermeabilização advinda, por exemplo, da
urbanização) é capaz de desempenhar melhor as seguintes importantes funções:
d) Evapotranspiração
A transferência da água para o meio atmosférico se dá através dos seguintes principais mecanismos,
conjuntamente denominados de evapotranspiração:
abastecimento doméstico
abastecimento industrial
irrigação
dessedentação de animais
preservação da flora e da fauna
recreação e lazer
criação de espécies
geração de energia elétrica
navegação
harmonia paisagística
diluição e transporte de despejos
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Destes usos, os quatro primeiros (abastecimento doméstico, abastecimento industrial, irrigação e
possivelmente dessedentação de animais) implicam na retirada da água das coleções hídricas onde se
encontram. Os demais usos são desempenhados na própria coleção de água.
Em termos gerais, apenas os dois primeiros usos (abastecimento doméstico e abastecimento industrial)
estão freqüentemente associados a um tratamento prévio da água, face aos seus requisitos de qualidade
mais exigentes.
A inter-relação entre o uso da água e a qualidade requerida é direta. Na lista de usos acima, pode-se
considerar que o uso mais nobre seja representado pelo abastecimento de água doméstico, o qual requer a
satisfação de diversos critérios de qualidade. De forma oposta, o uso menos nobre é o da simples diluição
de despejos, o qual não possui nenhum requisito especial em termos de qualidade. No entanto, deve-se
lembrar que diversos corpos d'água têm usos múltiplos previstos, decorrendo daí a necessidade da
satisfação simultânea de diversos critérios de qualidade. Tal é o caso, por exemplo, de represas
construídas com finalidade de abastecimento de água, geração de energia, recreação, irrigação e outros.
Alguns dos usos da água permitem interpretações conflitantes com relação aos seus objetivos. A
utilização de uma água para preservação da fauna e da flora possui uma dimensão bem ampla, e a
caracterização específica dos seres que se pretende preservar está sempre cercada de um certo elemento
de subjetividade. Esta subjetividade está associada ao arbítrio, por parte do ser humano, no sentido de
quais espécies ele julga importante sejam preservadas, e quais espécies ele considera não sejam
importantes de ser preservadas. O mecanismo desse processo decisório é, sem sombra de dúvida,
essencialmente polêmico.
Além do ciclo da água no globo terrestre, existem ciclos internos, em que a água permanece na sua forma
líquida, mas tem as suas características alteradas em virtude da sua utilização. A Figura 1.3 mostra
exemplos de rotas do uso da água. Nestas rotas, a qualidade da água é alterada em cada etapa do seu
percurso:
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ROTAS DO USO E DISPOSIÇÃO DA ÁGUA
Água, esgotos e água pluvial
ÁGUA SUBTERRÂNEA
Água bruta. Inicialmente, a água é retirada do rio, lago ou lençol subterrâneo, possuindo uma
determinada qualidade;
Água tratada. Após a captação, a água sofre transformações durante o seu tratamento para se adequar
aos usos previstos (ex: abastecimento público ou industrial);
Água usada (esgoto bruto). Com a utilização da água, esta sofre novas transformações na sua
qualidade, vindo a constituir-se em um despejo líquido.
Esgoto tratado. Visando a remoção dos principais poluentes, os despejos sofrem um tratamento antes
de serem lançados ao corpo receptor. O tratamento dos esgotos é responsável por uma nova alteração
na qualidade do líquido.
Água pluvial. A água pluvial escoa no solo, incorpora novos constituintes e, no meio urbano, é
coletada em sistemas de drenagem pluvial antes de ser lançada no corpo d´água.
Corpo receptor. A água pluvial e o efluente da estação de tratamento de esgotos atingem o corpo
receptor, onde, face à diluição e mecanismos de autodepuração, a qualidade da água volta a sofrer
novas modificações.
Reúso. Os esgotos tratados podem ser usados, sob certas condições, na agricultura, indústria e no
meio urbano.
Os diversos componentes presentes na água, e que alteram o seu grau de pureza, podem ser retratados, de
uma maneira ampla e simplificada, em termos das suas características físicas, químicas e biológicas.
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Estas características podem ser traduzidas na forma de parâmetros de qualidade da água, os quais são
abordados no Item 1.5. As principais características da água podem ser expressas como:
Características físicas
Características químicas
Características biológicas
A Figura 1.4 apresenta de forma diagramática estas inter-relações. Os principais tópicos são explicados
em maiores detalhes nos itens seguintes. Antes de se proceder à análise dos diversos parâmetros de
qualidade da água, apresenta-se uma introdução a dois tópicos de fundamental importância: (a) sólidos
presentes na água e (b) organismos presentes na água.
Todos os contaminantes da água, com exceção dos gases dissolvidos, contribuem para a carga de sólidos.
Por esta razão, os sólidos são analisados separadamente, antes de se apresentarem os diversos parâmetros
de qualidade da água. Simplificadamente, os sólidos podem ser classificados de acordo com (a) as suas
características físicas (tamanho e estado) ou (b) as suas características químicas. Grande destaque é dado
aos sólidos, em vários volumes desta série, apresentando outras classificações complementares e mais
aprofundadas.
A divisão dos sólidos por tamanho é sobretudo uma divisão prática. Por convenção, diz-se que as
partículas de menores dimensões, capazes de passar por um papel de filtro de tamanho especificado
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correspondem aos sólidos dissolvidos, enquanto que as de maiores dimensões, retidas pelo filtro são
consideradas sólidos em suspensão. A rigor, os termos sólidos filtráveis e sólidos não filtráveis são mais
adequados. Numa faixa intermediária situam-se os sólidos coloidais, de grande importância no
tratamento da água, mas de difícil identificação pelos métodos simplificados de filtração em papel. Nos
resultados das análises de água, a maior parte dos sólidos coloidais entra como sólidos dissolvidos, e o
restante como sólidos em suspensão.
A Figura 1.5 mostra a distribuição e classificação das partículas segundo o tamanho. De maneira geral,
são considerados como sólidos dissolvidos aqueles com diâmetro inferior a 10 -3 µm, como sólidos
coloidais aqueles com diâmetro entre 10-3 e 100 µm, e como sólidos em suspensão aqueles com diâmetro
superior a 100 µm .
Alguns grupos de microrganismos têm propriedades em comum com os vegetais, enquanto outros
possuem algumas características de animais. Há vários anos, a classificação dos seres vivos apresentava
como os dois grandes reinos apenas os Vegetais e os Animais, tendo-se grupos de microrganismos
presentes em cada uma destas grandes subdivisões.
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algas, fungos e protozoários). Há ainda outras classificações mais recentes, com outros reinos, os quais
não são, para os objetivos do presente livro, de fundamental importância.
O Quadro 1.2 apresenta uma descrição sucinta dos principais microrganismos de interesse dentro da
Engenharia Ambiental.
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Quadro 1.2. Principais microrganismos de interesse na Engenharia Ambiental
Microrganismo Descrição
Bactérias Organismos unicelulares.
Apresentam-se em várias formas e tamanhos.
São os principais responsáveis pela conversão da matéria orgânica.
Algumas bactérias são patogênicas, causando principalmente doenças
intestinais.
Archaea Similares às bactérias em tamanho e componentes celulares básicos
A parede celular, material celular e composição do RNA são diferentes
Importantes nos processos anaeróbios
Algas Organismos autotróficos, fotossintetizantes, contendo clorofila.
Importantes na produção de oxigênio nos corpos d'água e em alguns
processos de tratamento de esgotos.
Em lagos e represas, podem proliferar em excesso, causando uma
deterioração da qualidade da água
Fungos Organismos predominantemente aeróbios, multicelulares, não fotossintéticos,
heterotróficos.
Também de importância na decomposição da matéria orgânica.
Podem crescer em condições de baixo pH.
Protozoários Organismos unicelulares sem parede celular.
A maioria é aeróbia ou facultativa.
Alimentam-se de bactérias, algas e outros microrganismos.
São essenciais no tratamento biológico para a manutenção de um equilíbrio
entre os diversos grupos.
Alguns são patogênicos.
Vírus Organismos parasitas, formados pela associação de material genético (DNA
ou RNA) e uma carapaça protéica.
Causam doenças e podem ser de difícil remoção no tratamento da água ou do
esgoto.
Helmintos Animais superiores.
Ovos de helmintos presentes nos esgotos podem causar doenças.
Fonte: Silva & Mara (1979), Tchobanoglous e Schroeder (1985), Metcalf & Eddy (1991)
Um resumo das principais características dos diversos grupos componentes dos reinos monera e protista
está apresentado no Quadro 1.3.
Os microrganismos em que o núcleo das células encontra-se confinado por uma membrana nuclear
(algas, protozoários e fungos) são denominados eucariotas, ao passo que os microrganismos que
possuem o núcleo disseminado no protoplasma (archaea, bactérias e cianobactérias) são denominados
procariotas. De maneira geral, os seres eucariotas apresentam um maior nível de diferenciação interna.
Os vírus não foram incluídos na classificação acima por possuírem características totalmente
particulares.
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parâmetros de forma sucinta, apresentando seu conceito, sua origem (natural ou antropogênica, isto é,
causada pelo homem), sua importância sanitária, sua utilização e a interpretação dos resultados de análise
(compilado de Hadad, 1971; von Sperling, 1983; Peavy et al, 1985; Tchobanoglous & Schroeder, 1985;
Richter e Azevedo Netto, 1991; Vianna, 1992; WHO, 1993). Todos esses parâmetros são de
determinação rotineira em laboratórios de análise de água.
Os parâmetros abordados neste item podem ser de utilização geral, tanto para caracterizar águas de
abastecimento, águas residuárias, mananciais e corpos receptores. É importante esta visão integrada da
qualidade da água, sem uma separação estrita entre as suas diversas aplicações. Devido a esta razão,
apresenta-se neste texto a descrição de parâmetros que não são normalmente enfocados na literatura de
tratamento de esgotos. A caracterização aprofundada da qualidade das águas residuárias encontra-se no
Capítulo 2.
No texto a seguir, são feitas referências aos seguintes padrões de qualidade da água:
Os padrões de corpos d´água e de lançamento são de grande importância para o presente livro, sendo
discutidos em detalhe no Capítulo 3.
Cor
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o valores de cor da água bruta inferiores a 5 uC usualmente dispensam a coagulação
química; valores superiores a 25 uC usualmente requerem a coagulação química seguida
por filtração
o águas com cor elevada implicam em um mais delicado cuidado operacional no
tratamento da água
o ver Padrão de Potabilidade (≤ 15 uC)
Em termos de corpos d'água
o ver Padrão para Corpos d'Água
Turbidez
Conceito: A turbidez representa o grau de interferência com a passagem da luz através da água,
conferindo uma aparência turva à mesma
Forma do constituinte responsável: Sólidos em suspensão
Origem natural:
Partículas de rocha, argila e silte
Algas e outros microrganismos
Origem antropogênica:
Despejos domésticos
Despejos industriais
Microrganismos
Erosão
Importância:
Origem natural: não traz inconvenientes sanitários diretos. Porém, é esteticamente desagradável na
água potável, e os sólidos em suspensão podem servir de abrigo para microrganismos patogênicos
(diminuindo a eficiência da desinfecção)
Origem antropogênica: pode estar associada a compostos tóxicos e organismos patogênicos
Em corpos d'água: pode reduzir a penetração da luz, prejudicando a fotossíntese
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas de abastecimento brutas e tratadas
Controle da operação das estações de tratamento de água
Unidade: uT (Unidade de Turbidez)
Interpretação dos resultados:
Em termos de tratamento e abastecimento público de água:
o numa água com turbidez igual a 10 uT, ligeira nebulosidade pode ser notada; com turbidez
igual a 500 uT, a água é praticamente opaca
o valores de turbidez da água bruta inferiores a cerca de 20 uT podem ser dirigidas diretamente
para a filtração lenta, dispensando a coagulação química; valores superiores a 50 uT
requerem uma etapa antes da filtração, que pode ser a coagulação química ou um pré-filtro
grosseiro
o ver Padrão de Potabilidade (variável em função da origem da água e do tipo de tratamento –
consultar Padrão)
Em termos de corpos d'água
o ver Padrão para Corpos d'Água
Sabor e odor
Conceito: O sabor é a interação entre o gosto (salgado, doce, azedo e amargo) e o odor (sensação
olfativa).
Forma do constituinte responsável: Sólidos em suspensão, sólidos dissolvidos, gases dissolvidos
Origem natural:
Matéria orgânica em decomposição
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Microrganismos (ex: algas)
Gases dissolvidos (ex: gás sulfídrico H2S)
Origem antropogênica:
Despejos domésticos
Despejos industriais
Gases dissolvidos (ex: H2S)
Importância:
Não representa risco à saúde, mas consumidores podem questionar a sua confiabilidade, e buscar
águas de maior risco. Representa a maior causa de reclamações dos consumidores.
Valores especialmente elevados podem indicar a presença de substâncias potencialmente perigosas.
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas de abastecimento brutas e tratadas
Unidade: Concentração limite mínima detectável
Interpretação dos resultados:
Na interpretação dos resultados, são importantes a identificação e a vinculação com a origem do sabor
e do odor
Em termos de tratamento e abastecimento público de água:
o ver Padrão de Potabilidade (odor e gosto são considerados “não objetáveis”)
Temperatura
pH
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Conceito: Potencial hidrogeniônico. Representa a concentração de íons hidrogênio H+ (em escala
antilogarítmica), dando uma indicação sobre a condição de acidez, neutralidade ou alcalinidade da água.
A faixa de pH é de 0 a 14.
Forma do constituinte responsável: Sólidos dissolvidos, gases dissolvidos
Origem natural:
Dissolução de rochas
Absorção de gases da atmosfera
Oxidação da matéria orgânica
Fotossíntese
Origem antropogênica:
Despejos domésticos (oxidação da matéria orgânica)
Despejos industriais (ex: lavagem ácida de tanques)
Importância:
Não tem implicação em termos de saúde pública (a menos que os valores sejam extremamente baixos
ou elevados, a ponto de causar irritação na pele ou nos olhos)
É importante em diversas etapas do tratamento da água (coagulação, desinfecção, controle da
corrosividade, remoção da dureza)
pH baixo: potencial corrosividade e agressividade nas tubulações e peças das águas de abastecimento
pH elevado: possibilidade de incrustações nas tubulações e peças das águas de abastecimento
Valores de pH afastados da neutralidade: podem afetar a vida aquática (ex: peixes) e os
microrganismos responsáveis pelo tratamento biológico dos esgotos
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas de abastecimento brutas e tratadas
Caracterização de águas residuárias brutas
Controle da operação de estações de tratamento de água (coagulação e grau de
incrustabilidade/corrosividade)
Controle da operação de estações de tratamento de esgotos (digestão anaeróbia)
Caracterização de corpos d'água
Unidade: -
Interpretação dos resultados:
Geral:
o pH < 7: condições ácidas
o pH = 7: neutralidade
o pH > 7: condições básicas
Em termos de tratamento e abastecimento público de água:
o diferentes valores de pH estão associados a diferentes faixas de atuação ótima de
coagulantes
o freqüentemente o pH necessita ser corrigido antes e/ou depois da adição de produtos
químicos no tratamento
o a variação do pH influencia o equilíbrio de compostos químicos
o ver Alcalinidade e Acidez
Em termos de tratamento de águas residuárias
o valores de pH afastados da neutralidade tendem a afetar as taxas de crescimento dos
microrganismos
o a variação do pH influencia o equilíbrio de compostos químicos
o valores de pH elevados possibilitam a precipitação de metais
o ver Padrão de Lançamento de Efluentes
Em termos de corpos d'água
o valores elevados de pH podem estar associados à proliferação de algas
o valores elevados ou baixos podem ser indicativos da presença de efluentes industriais
o a variação do pH influencia o equilíbrio de compostos químicos
o ver Padrão de Corpos d'Água
Reações e equações de importância:
H2O ↔ H+ + OH-
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pH = - log[H+]
Alcalinidade
Conceito: Quantidade de íons na água que reagirão para neutralizar os íons hidrogênio. É uma medição
da capacidade da água de neutralizar os ácidos (capacidade de resistir às mudanças de pH: capacidade
tampão). Os principais constituintes da alcalinidade são os bicarbonatos (HCO 3-), carbonatos (CO32-) e
os hidróxidos (OH-). A distribuição entre as três formas na água é função do pH.
Forma do constituinte responsável: Sólidos dissolvidos
Origem natural:
Dissolução de rochas
Reação do CO2 com a água (CO2 advindo da atmosfera ou da decomposição da matéria orgânica)
Origem antropogênica:
Despejos industriais
Importância:
Não tem significado sanitário para a água potável, mas em elevadas concentrações confere um gosto
amargo para a água
É uma determinação importante no controle do tratamento de água, estando relacionada com a
coagulação, redução de dureza e prevenção da corrosão em tubulações
É uma determinação importante no tratamento de esgotos, quando há evidências de que a redução do
pH pode afetar os microrganismos responsáveis pela depuração
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas de abastecimento brutas e tratadas
Caracterização de águas residuárias brutas
Controle da operação de estações de tratamento de água (coagulação e grau de incrustabilidade /
corrosividade)
Unidade: mg/L de CaCO3 (também em miliequivalentes/L = equivalente/m3; os valores são diferentes
dos expressos em mg/L)
Interpretação dos resultados
Em termos de tratamento e abastecimento público de água
o a alcalinidade, o pH e o teor de gás carbônico estão inter-relacionados
o pH > 9,4: hidróxidos e carbonatos
o pH entre 8,3 e 9,4: carbonatos e bicarbonatos
o pH entre 4,4 e 8,3: apenas bicarbonato
Em termos de tratamento de águas residuárias
o processos oxidativos (como a nitrificação) tendem a consumir alcalinidade, a qual, caso
atinja baixos teores, pode dar condições a valores reduzidos de pH, afetando a própria taxa
de crescimento dos microrganismos responsáveis pela oxidação
Reações e equações de importância:
Equilíbrio do carbonato:
CO2 + H2O ↔ H2CO3
H2CO3 ↔ H+ + HCO3-
HCO3- ↔ H+ + CO32-
Cálculo da alcalinidade:
Alcalinidade (mg/L) = 100 x { [(HCO3-)/(61x2)] + [(CO32-)/60] + [(OH-)/(2x17)] } (concent. em
mg/L)
Na faixa usual de pH, próxima à neutralidade, a maior contribuição para a alcalinidade é dos
bicarbonatos. Assim: Alcalinidade (mg/L) ≈ (HCO3-)/1,2 (concent. em mg/L)
Acidez
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Conceito: Capacidade da água em resistir às mudanças de pH causadas pelas bases. É devida
principalmente à presença de gás carbônico livre (pH entre 4,5 e 8,2).
Forma do constituinte responsável: Sólidos dissolvidos e gases dissolvidos (CO2, H2S)
Origem natural:
CO2 absorvido da atmosfera ou resultante da decomposição da matéria orgânica
Gás sulfídrico
Origem antropogênica:
Despejos industriais (ácidos minerais ou orgânicos)
Passagem da água por minas abandonadas, vazadouros de mineração e borras de minério
Importância:
Tem pouco significado sanitário
Águas com acidez mineral são desagradáveis ao paladar, sendo recusadas
Responsável pela corrosão de tubulações e materiais
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas de abastecimento (inclusive industriais) brutas e tratadas
Unidade: mg/L de CaCO3 (também em miliequivalentes/L = equivalente/m3; os valores são diferentes
dos expressos em mg/L)
Interpretação dos resultados:
Em termos de tratamento e abastecimento público de água
o o teor de CO2 livre (diretamente associado à acidez), a alcalinidade e o pH estão inter-
relacionados
o pH > 8,2: ausência de CO2 livre
o pH entre 4,5 e 8,2: acidez carbônica
o pH < 4,5: acidez por ácidos minerais fortes (usualmente resultantes de despejos
industriais)
Reações e equações de importância:
Equilíbrio de carbonatos: ver Alcalinidade
Reações com o enxofre:
H2S ↔ H+ + HS-
H2S + 2O2 ↔ H2SO4
Dureza
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Caracterização de águas de abastecimento (inclusive industriais) brutas e tratadas
Unidade: mg/L CaCO3 (também em miliequivalentes/L = equivalente/m3; os valores são diferentes dos
expressos em mg/L)
Interpretação dos resultados:
Em termos de tratamento e abastecimento público de água
o dureza < 50 mg/L CaCO3: água mole
o dureza entre 50 e 150 mg/L CaCO3: dureza moderada
o dureza entre 150 e 300 mg/L CaCO3: água dura
o dureza > 300 mg/L CaCO3: água muito dura
o ver Padrão de Potabilidade (≤ 500 mg/L)
Reações e equações de importância:
Ver Alcalinidade
Equilíbrio carbonato:
CaCO3 ↔ Ca2+ + CO32-
Ca2+ + 2HCO3- → CaCO3 + CO2 + H2O
Cálculo da dureza total:
Dureza (mg/L) = 50 x { (Ca2+)/20 + (Mg2+)/12,2 } (concentrações em mg/L)
Ferro e manganês
Conceito: O ferro e o manganês estão presentes nas formas insolúveis (Fe 3+ e Mn4+) numa grande
quantidade de tipos de solos. Na ausência de oxigênio dissolvido (ex: água subterrânea ou fundo de lagos
e represas), eles se apresentam na forma solúvel reduzida (Fe2+ e Mn2+). Caso a água contendo as
formas reduzidas seja exposta ao ar atmosférico (ex: na torneira do consumidor), o ferro e o manganês
voltam a se oxidar às suas formas insolúveis (Fe3+ e Mn4+), que precipitam, o que pode causar cor na
água, além de manchar roupas durante a lavagem.
Forma do constituinte responsável: Sólidos em suspensão ou dissolvidos
Origem natural:
Dissolução de compostos do solo
Origem antropogênica:
Despejos industriais
Importância:
Tem pouco significado sanitário nas concentrações usualmente encontradas nas águas naturais
Em pequenas concentrações causam problemas de cor na água
Em certas concentrações, podem causar sabor e odor (mas, nessas concentrações, o consumidor já
terá rejeitado a água, devido à cor)
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas de abastecimento brutas e tratadas
Unidade: mg/L
Interpretação dos resultados:
Em termos de tratamento e abastecimento público de água
o ver Padrão de Potabilidade (≤ 0,3 mg/L para ferro e ≤ 0,1 mg/L para manganês)
- Em termos do tratamento de águas residuárias:
o ver Padrão de Lançamento
- Em termos dos corpos d'água
o ver Padrão de Corpos d'Água
Reações e equações de importância:
Oxidação do ferro e manganês:
2Fe2+ + ½ O2 + 5H2O → 2Fe(OH)3 + 4H+
Mn2+ + ½ O2 + H2O → MnO2 + 2H+
Cloretos
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Conceito: Todas as águas naturais, em maior ou menor escala, contêm íons resultantes da dissolução de
minerais. Os cloretos (Cl-) são advindos da dissolução de sais (ex: cloreto de sódio).
Forma do constituinte responsável: Sólidos dissolvidos
Origem natural:
Dissolução de minerais
Intrusão de águas salinas
Origem antropogênica:
Despejos domésticos
Despejos industriais
Águas utilizadas em irrigação
Importância:
Em determinadas concentrações imprime um sabor salgado à água
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas de abastecimento brutas
Caracterização de esgotos tratados usados para irrigação
Unidade: mg/L
Interpretação dos resultados:
Em termos de tratamento e abastecimento público de água
o ver Padrão de Potabilidade (≤ 250 mg/L)
Em termos dos corpos d'água
o ver Padrão de Corpos d'Água
Nitrogênio
Conceito: Dentro do ciclo do nitrogênio na biosfera, este se alterna entre várias formas e estados de
oxidação. No meio aquático, o nitrogênio pode ser encontrado nas seguintes formas: (a) nitrogênio
molecular (N2), escapando para a atmosfera, (b) nitrogênio orgânico (dissolvido e em suspensão), (c)
amônia (livre NH3 e ionizada NH4+), (d) nitrito (NO2-) e (e) nitrato (NO3-).
Forma do constituinte responsável: Sólidos em suspensão e sólidos dissolvidos
Origem natural:
Constituinte de proteínas e vários outros compostos biológicos
Nitrogênio de composição celular de microrganismos
Origem antropogênica:
Despejos domésticos
Despejos industriais
Excrementos de animais
Fertilizantes
Importância:
O nitrogênio na forma de nitrato está associado a doenças como a metahemoglobinemia (síndrome do
bebê azul)
O nitrogênio é um elemento indispensável para o crescimento de algas e, quando em elevadas
concentrações em lagos e represas, pode conduzir a um crescimento exagerado desses organismos
(processo denominado eutrofização)
O nitrogênio, nos processos bioquímicos de conversão da amônia a nitrito e deste a nitrato, implica
no consumo de oxigênio dissolvido do meio (o que pode afetar a vida aquática)
O nitrogênio na forma de amônia livre é diretamente tóxico aos peixes
O nitrogênio é um elemento indispensável para o crescimento dos microrganismos responsáveis pelo
tratamento de esgotos
Os processos de conversão do nitrogênio têm implicações na operação das estações de tratamento de
esgotos, em termos de consumo de oxigênio, consumo de alcalinidade e sedimentabilidade do lodo
18
Em um corpo d'água, a determinação da forma predominante do nitrogênio pode fornecer informações
sobre o estágio da poluição (poluição recente está associada ao nitrogênio na forma orgânica ou de
amônia, enquanto uma poluição mais remota está associada ao nitrogênio na forma de nitrato)
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas de abastecimento brutas e tratadas
Caracterização de águas residuárias brutas e tratadas
Caracterização de corpos d'água
Unidade: mg/L
Interpretação dos resultados:
Em termos de tratamento e abastecimento público de água
· ver Padrão de Potabilidade (≤10 mg/L para nitrato e ≤ 1 mg/L para nitrito)
Em termos de tratamento de águas residuárias
o é necessário um adequado balanço C:N:P no esgoto para o desenvolvimento dos
microrganismos (cerca de 100:5:1 em termos de DBO:N:P)
o ver Padrão de Lançamento (amônia)
Em termos dos corpos d'água
· ver Padrão de Corpos d'Água (amônia, nitrato, nitrito e, em certas condições, nitrogênio
total)
Reações e equações de importância:
Formas do nitrogênio:
N total = N orgânico + N amônia + NO2- + NO3-
Equilíbrio da amônia:
NH3 + H+ NH4+
Oxidação da amônia a nitrito:
2NH4+ + 3O2 → 2NO2- + 4H+ + 2H2O + Energia
Oxidação da nitrito a nitrato:
-
2NO2- + O2 → 2NO3 + Energia
Oxidação da amônia a nitrato (nitrificação) (reação global):
NH4+ + 2O2 → NO3- + 2H+ + H2O + Energia
Redução do nitrato a nitrogênio gasoso (equivalentes de oxigênio e H+):
2NO3- + 2H+ → N2 + 2,5O2 + H2O
Detalhamento no presente livro: Itens 2.2.3.4 e 3.4
Fósforo
Conceito: O fósforo na água apresenta-se principalmente nas formas de ortofosfato, polifosfato e fósforo
orgânico. Os ortofosfatos são diretamente disponíveis para o metabolismo biológico sem necessidade de
conversões a formas mais simples. As formas em que os ortofosfatos se apresentam na água (PO 43-,
HPO42-, H2PO4-, H3PO4) dependem do pH, sendo a mais comum na faixa usual de pH o HPO42-. Os
polifosfatos são moléculas mais complexas com dois ou mais átomos de fósforo.
Forma do constituinte responsável: Sólidos em suspensão e sólidos dissolvidos
Origem natural:
Dissolução de compostos do solo
Decomposição da matéria orgânica
Fósforo de composição celular de microrganismos
Origem antropogênica:
Despejos domésticos
Despejos industriais
Detergentes
Excrementos de animais
Fertilizantes
Importância:
O fósforo não apresenta problemas de ordem sanitária nas águas de abastecimento
19
O fósforo é um elemento indispensável para o crescimento de algas e, quando em elevadas
concentrações em lagos e represas, pode conduzir a um crescimento exagerado desses organismos
(eutrofização)
O fósforo é um nutriente essencial para o crescimento dos microrganismos responsáveis pela
estabilização da matéria orgânica
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas residuárias brutas e tratadas
Caracterização de corpos d'água
Unidade: mg/l
Interpretação dos resultados:
Em termos de tratamento de águas residuárias
o é necessário um adequado balanço C:N:P no esgoto para o desenvolvimento dos
microrganismos (cerca de 100:5:1 em termos de DBO:N:P)
o em lançamentos de efluentes a montante de represas com problemas de eutrofização,
freqüentemente se limita o P total em 1,0 a 2,0 mg/l
- Em termos dos corpos d'água
o os seguintes valores de P total podem ser utilizados como indicativos aproximados do
estado de eutrofização de lagos (lagos tropicais provavelmente aceitam concentrações
superiores): (a) P < 0,01-0,02 mg/l: não eutrófico; (b) P entre 0,01-0,02 e 0,05 mg/l:
estágio intermediário; (c) P> 0,05 mg/l: eutrófico
o ver Padrão de Corpos d'Água
Detalhamento no presente livro: Item 3.4
Oxigênio dissolvido
Conceito: O oxigênio dissolvido (OD) é de essencial importância para os organismos aeróbios (que
vivem na presença de oxigênio). Durante a estabilização da matéria orgânica, as bactérias fazem uso do
oxigênio nos seus processos respiratórios, podendo vir a causar uma redução da sua concentração no
meio. Dependendo da magnitude deste fenômeno, podem vir a morrer diversos seres aquáticos, inclusive
os peixes. Caso o oxigênio seja totalmente consumido, tem-se as condições anaeróbias (ausência de
oxigênio), com possível geração de maus odores.
Forma do constituinte responsável: Gás dissolvido
Origem natural:
Dissolução do oxigênio atmosférico
Produção pelos organismos fotossintéticos
Origem antropogênica:
Introdução de aeração artificial
Produção pelos organismos fotossintéticos em corpos d´água eutrofizados
Importância:
O oxigênio dissolvido é vital para os seres aquáticos aeróbios
O oxigênio dissolvido é o principal parâmetro de caracterização dos efeitos da poluição das águas por
despejos orgânicos
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Controle operacional de estações de tratamento de esgotos
Caracterização de corpos d'água
Unidade: mg/L
Interpretação dos resultados:
Em termos de tratamento de águas residuárias
o é necessário um teor mínimo de oxigênio dissolvido (> 1 mg/L ou eventualmente mais)
nos reatores dos sistemas aeróbios
Em termos dos corpos d'água
o a solubilidade do OD varia com a altitude e a temperatura. Ao nível do mar, na
temperatura de 20°C, a concentração de saturação é igual a 9,2 mg/L
20
o valores de OD superiores à saturação são indicativos da presença de algas (fotossíntese,
com geração de oxigênio puro)
o valores de OD bem inferiores à saturação são indicativos da presença de matéria
orgânica (provavelmente esgotos)
o com OD em torno de 4-5 mg/L morrem os peixes mais exigentes; com OD igual a 2
mg/L praticamente todos os peixes estão mortos; com OD igual a 0 mg/L tem-se
condições de anaerobiose
o ver Padrão de Corpos d'Água
Reações e equações de importância:
Oxidação da matéria orgânica (consumo de oxigênio):
C6H12O6 + 6O2 → 6CO2 + 6H2O + Energia
Fotossíntese (produção de oxigênio):
6CO2 + 6H2O + Energia → C6H12O6 + 6O2
Oxidação da amônia a nitrato (nitrificação) (consumo de oxigênio):
NH4+-N + 2O2 → NO3--N + 2H+ + H2O + Energia
Redução do nitrato a nitrogênio gasoso (liberação de oxigênio):
2NO3--N + 2H+ → N2 + 2,5O2 + H2O
Detalhamento no presente livro: Item 3.2
Matéria orgânica
Conceito: A matéria orgânica presente nos corpos d'água e nos esgotos é uma característica de
primordial importância, sendo a causadora do principal problema de poluição das águas: o consumo do
oxigênio dissolvido pelos microrganismos nos seus processos metabólicos de utilização e estabilização
da matéria orgânica. Os principais componentes orgânicos são os compostos de proteína, os carboidratos,
a gordura e os óleos, além da uréia, surfactantes, fenóis, pesticidas e outros em menor quantidade. A
matéria carbonácea (com base no carbono orgânico) divide-se nas seguintes frações: (a) não
biodegradável (em suspensão e dissolvida) e (b) biodegradável (em suspensão e dissolvida). Em termos
práticos, usualmente não há necessidade de se caracterizar a matéria orgânica em termos de proteínas,
gorduras, carboidratos etc. Ademais, há uma grande dificuldade na determinação laboratorial dos
diversos componentes da matéria orgânica nas águas residuárias, face à multiplicidade de formas e
compostos em que esta pode se apresentar. Em assim sendo, utilizam-se normalmente métodos indiretos
para a quantificação da matéria orgânica, ou do seu potencial poluidor. Nesta linha, existem duas
principais categorias: (a) Medição do consumo de oxigênio (Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO;
Demanda Química de Oxigênio (DQO) e (b) Medição do carbono orgânico (Carbono Orgânico Total -
COT). A DBO e a DQO são os parâmetros tradicionalmente mais utilizados, e encontram-se analisados
em maiores detalhes em vários outros itens do presente livro.
Forma do constituinte responsável: sólidos em suspensão e sólidos dissolvidos
Origem natural:
Matéria orgânica vegetal e animal
Microrganismos
Origem antropogênica:
Despejos domésticos
Despejos industriais
Importância:
A matéria orgânica é responsável pelo consumo, pelos microrganismos decompositores, do oxigênio
dissolvido na água
A DBO e a DQO retratam, de uma forma indireta, o teor de matéria orgânica nos esgotos ou no corpo
d'água, sendo, portanto, uma indicação do potencial do consumo do oxigênio dissolvido
A DBO e a DQO são os parâmetros de maior importância na caracterização do grau de poluição de
um corpo d'água
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas residuárias brutas e tratadas
Caracterização de corpos d'água
21
Unidade: mg/L
Interpretação dos resultados:
Em termos de tratamento de águas residuárias
o a DBO dos esgotos domésticos está em torno de 300 mg/L e a DQO em torno de 600
mg/L
o a DBO e a DQO dos esgotos industriais variam amplamente, com o tipo de processo
industrial
o a DBO e a DQO efluentes do tratamento são função do nível e do processo de
tratamento
o ver Padrão de Lançamento
- Em termos dos corpos d'água
o ver Padrão de Corpos d'Água
Reações e equações de importância:
Conversão aeróbia da matéria orgânica (oxidação):
C6H12O6 + 6O2 → 6CO2 + 6H2O + Energia
Conversão anaeróbia da matéria orgânica:
C6H12O6 → 3CH4 + 3CO2 + Energia
Detalhamento no presente livro: Item 2.2.3.3
Micropoluentes inorgânicos
Conceito: Uma grande parte dos micropoluentes inorgânicos são tóxicos. Entre estes, têm especial
destaque os metais. Entre os metais que se dissolvem na água incluem-se o arsênio, cádmio, cromo,
chumbo, mercúrio e prata. Vários destes metais se concentram na cadeia alimentar, resultando num
grande perigo para os organismos situados nos níveis superiores. Felizmente as concentrações dos metais
tóxicos nos ambientes aquáticos naturais são pequenas. Vários metais, em baixas concentrações, são
nutrientes essenciais para o crescimento de seres vivos. Além dos metais, há outros micropoluentes
inorgânicos de importância em termos de saúde pública, como os cianetos, o flúor e outros.
Forma do constituinte responsável: sólidos em suspensão e sólidos dissolvidos
Origem natural:
A origem natural é de menor importância
Origem antropogênica:
Despejos industriais
Atividades mineradoras
Atividades de garimpo
Agricultura
Importância:
Alguns elementos e compostos, em baixas concentrações, são nutrientes para seres vivos
Vários elementos e compostos, em determinadas concentrações, são tóxicos para os habitantes dos
ambientes aquáticos, para os consumidores da água e para os microrganismos responsáveis pelo
tratamento biológico dos esgotos
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas de abastecimento brutas e tratadas
Caracterização de águas residuárias brutas e tratadas
Caracterização de corpos d'água
Unidade: µg/L ou mg/L
Interpretação dos resultados:
Em termos de tratamento e abastecimento público de água
o ver Padrão de Potabilidade (vários elementos e compostos – consultar Padrão)
Em termos de tratamento águas residuárias
o em determinadas concentrações, podem causar inibição no tratamento biológico de
esgotos
o ver Padrão de Lançamento
22
- Em termos dos corpos d'água
· ver Padrão de Corpos d'Água
Detalhamento no presente livro: Item 2.2.6.2
Micropoluentes orgânicos
Conceito: Alguns compostos orgânicos são resistentes à degradação biológica, não integrando os ciclos
biogeoquímicos, e acumulando-se em determinado ponto do ciclo (interrompido). Entre estes, destacam-
se os defensivos agrícolas, alguns tipos de detergentes (ABS, com estrutura molecular fechada) e um
grande número de produtos químicos. Uma grande parte destes compostos, mesmo em reduzidas
concentrações, está associada a problemas de toxicidade.
Forma do constituinte responsável: sólidos dissolvidos
Origem natural:
Vegetais com madeira (tanino, lignina, celulose, fenóis)
Origem antropogênica:
Despejos industriais
Detergentes
Processamento e refinamento do petróleo
Defensivos agrícolas
Importância:
Os compostos orgânicos incluídos nesta categoria não são biodegradáveis
Vários compostos, em determinadas concentrações, são tóxicos para os habitantes dos ambientes
aquáticos, para os consumidores da água e para os microrganismos responsáveis pelo tratamento
biológico dos esgotos
Utilização mais freqüente do parâmetro:
Caracterização de águas de abastecimento brutas e tratadas
Caracterização de águas residuárias brutas e tratadas
Caracterização de corpos d'água
Unidade: µg/L ou mg/L
Interpretação dos resultados:
Em termos de tratamento e abastecimento público de água
o ver Padrão de Potabilidade (vários compostos – consultar Padrão)
- Em termos de tratamento águas residuárias
o ver Padrão de Lançamento
- Em termos dos corpos d'água
o ver Padrão de Corpos d'Água
Detalhamento no presente livro: Item 2.2.6.2
23
1.5.3. PARÂMETROS BIOLÓGICOS
A relação dos microrganismos de interesse na Engenharia Sanitária e Ambiental (bactérias, algas, fungos,
protozoários, vírus e helmintos) está apresentada no Quadro 1.2.
A determinação da potencialidade de uma água transmitir doenças pode ser efetuada de forma indireta,
através dos organismos indicadores de contaminação fecal, pertencentes principalmente ao grupo de
coliformes. Os coliformes encontram-se descritos no Capítulo 2.
Ao se solicitar uma análise de água, deve-se selecionar os parâmetros a serem investigados pela análise.
O Quadro 1.5 apresenta uma relação da associação mais freqüente entre parâmetros e tópico a ser
24
estudado. A lista inclui apenas os parâmetros mais usuais, e deve-se lembrar que o conhecimento das
particularidades de cada situação é que deve definir os parâmetros a serem incluídos na análise. As
principais utilizações são:
25
Quadro 1.6. Associação entre os usos da água e os requisitos de qualidade
Uso geral Uso específico Qualidade requerida
26
Poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos
Degradação da qualidade ambiental: a alteração adversa das características do meio ambiente.
Uma outra conceituação, menos formal, de poluição das águas é: a adição de substâncias ou de formas
de energia que, direta ou indiretamente, alterem a natureza do corpo d'água de uma maneira tal que
prejudique os legítimos usos que dele são feitos.
Esta definição é essencialmente prática e, em decorrência, potencialmente polêmica, pelo fato de associar
a poluição ao conceito de prejuízo e aos usos do corpo d'água, conceitos esses atribuídos pelo próprio ser
humano. No entanto, esta visão prática é importante, principalmente ao se analisar as medidas de
controle para a redução da poluição.
O Quadro 1.7 lista as principais fontes de poluentes, conjuntamente com os seus efeitos poluidores mais
representativos.
Nos livros da presente série, maior atenção é dada ao equacionamento da poluição dos esgotos
domésticos, através do seu adequado tratamento. Dentro deste enfoque, a maior ênfase é dada ao tópico
da matéria orgânica e do consumo de oxigênio dissolvido, o qual, apesar de já em grande parte
equacionado na maioria dos países desenvolvidos, constitui-se possivelmente no principal problema de
poluição das águas nos países em desenvolvimento. No entanto, são enfocados também os outros
poluentes típicos dos esgotos domésticos, ou seja, organismos patogênicos e nutrientes.
Existem basicamente duas formas em que a fonte de poluentes pode atingir um corpo d'água (ver Figura
1.6):
27
poluição pontual
poluição difusa
Na poluição pontual, os poluentes atingem o corpo d'água de forma concentrada no espaço. Um exemplo
é o da descarga em um rio de um emissário transportando os esgotos de uma comunidade.
Na poluição difusa, os poluentes adentram o corpo d'água distribuídos ao longo de parte da sua extensão.
Este é o caso típico da poluição veiculada pela drenagem pluvial, a qual é descarregada no corpo d'água
de uma forma distribuída, e não concentrada em um único ponto.
O enfoque do presente livro é para o controle da poluição pontual por meio do tratamento dos esgotos
previamente coletados e transportados. Em vários países desenvolvidos, grande atenção tem sido dada à
poluição difusa, pelo fato dos lançamentos pontuais já terem sido em grande parte equacionados.
Entretanto, nos países em desenvolvimento, há praticamente tudo a se fazer ainda em termos do controle
da poluição pontual originária de cidades e indústrias.
28
Como comentado, de maneira geral, os poluentes são freqüentemente originários das seguintes fontes
principais:
esgotos domésticos
despejos industriais
escoamento superficial
· área urbana
· área rural
Em vários cálculos, a quantificação dos poluentes deve ser apresentada em termos de carga. A carga é
expressa em termos de massa por unidade de tempo, podendo ser calculada por um dos seguintes
métodos, dependendo do tipo de problema em análise, da origem do poluente e dos dados disponíveis
(nos cálculos, converter as unidades para se trabalhar sempre em unidades consistentes, como por
exemplo, kg/d):
concentração(g / m3 ) . vazão ( m3 / d)
carga ( kg / d)
1.000 (g / kg)
Esgotos domésticos:
Esgotos industriais:
Drenagem superficial:
29