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COLEÇÃO O RT Ó G R AF O S P O RT U G U E SE S 1
VILA REAL • M M X I X
Autores: Carlos Assunção, Rolf Kemmler, Gonçalo Fernandes, Sónia Coelho,
Susana Fontes, Teresa Moura
Título: As Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa
(1574) de Pero de Magalhães de Gandavo: Estudo introdutório e edição
Coleção: ORTÓGRAFOS PORTUGUESES 1
Edição: Centro de Estudos em Letras / Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,
Vila Real, Portugal
ISBN: 978-989-704-386-4
e-ISBN: 978-989-704-387-1
Publicação: 29 de novembro de 2019
Índice
Prefácio ................................................................................................................................
V
Estudo introdutório:
1
Fernão de Oliveira dedica-se àquilo que hoje seria considerado como grafemas, sons e
fonemas da língua portuguesa desde o «Capitolo seysto» até ao «Capitolo xviij»
(Oliveira 1536: fols. 5v-13v). Para um breve estudo das ideias ortográficas deste autor,
veja-se Kemmler (2001: 159-163). Barros (1540 fols. 40r-50r) oferece um capítulo
próprio intitulado «Da orthografia» que reúne as suas considerações sobre os grafemas e
os sons da língua portuguesa (cf. Kemmler 2001: 164-168).
2
Entre estas, será de destacar a «Cartinha» de João de Barros, datada de 1539 (cf. Barros
1971: 237-290). Veja-se também o pós-incunábulo da Cartinha (s.d.).
X Carlos Assunção / Rolf Kemmler / Gonçalo Fernandes / Sónia Coelho / Susana Fontes / Teresa Moura
Por mais importante que o autor seja quer para a historiografia linguística
portuguesa, quer para a historiografia brasileira, continuam a ser muito escas-
sas as informações que temos sobre ele. Assim, Diogo Barbosa Machado
(1682-1772) fornece a seguinte informação no terceiro volume da sua
Bibliotheca Lusitana:
PEDRO DE MAGALHAENS GANDAVO, natural da augusta Cidade de Braga, e
filho de Pay Flamengo, como denota o seu segundo apellido. Foy insigne Humanista, e
excellente Latino, de cuja lingoa abrio escola publica entre Douro, e Minho, onde foy
casado. Assistio alguns annos no Brasil, onde observou com judiciosa curiosidade tudo
quanto era digno de memoria [...] (Machado 1752, III: 591).3
3
No Diccionario popular de Manuel Pinheiro Chagas (1842-1895), as informações bio-
bibliográficas de Barbosa Machado encontram-se aproveitadas só com ligeiras
alterações na respetiva entrada no sexto volume (Chagas 1881, VI: 25).
Estudo introdutório XI
GÂNDAVO (Pêro de Magalhães de) – Humanista port. (Braga, ?-?, depois de 1579), «Insigne
humanista», no dizer de Barbosa Machado, teve escola pública de latim na sua província natal.
Autor da 1.ª ortografia port. entrou, com um Diálogo, na linhagem humanista, iniciada por Fernão
de Oliveira e João de Barros, dos defensores das excelências da nossa língua como idioma culto.
Residiu por duas vezes no Brasil (para onde em 1576 terá sido nomeado provedor da fazenda da
capitania do Brasil), sendo dele o primeiro historiador (Carvalho 1969, IX: 150).
4
Semelhantemente, também Konrad Koerner (2008: 88) somente oferece a informação
limitada «Gandavo, Pero de Magalhaes (d. post1579)» no seu Universal Index of
Biographical Names in the Language Sciences. Já Martí (2009: 511) relativiza a
referência ao ano da morte do ortógrafo: «[...] d. 1579, exact dates and places of birth
and death unknown».
5
Infelizmente, ainda não conseguimos ter acesso a esta obra. Indicações como 'ca. 1540'
encontram-se em bibliotecas e repositórios como a Biblioteca Nacional Digital ou o
Registo Nacional de Objetos Digitais, mas também há propostas que parecem mais
seguras como a de Russo (2018: 12) que propõe '(1540-1579)'.
XII Carlos Assunção / Rolf Kemmler / Gonçalo Fernandes / Sónia Coelho / Susana Fontes / Teresa Moura
6
O artigo «Pronúncia de nomes próprios: o problema Gandavo ou Gândavo» foi
publicado pela primeira vez em Bechara (1998a) e logo a seguir em Bechara (1998b).
Chegou a ser republicado várias vezes, e parece que a edição mais recente foi feita sob o
título «Gandavo ou Gândavo?» em Bechara (2010).
Estudo introdutório XIII
7
Após a edição princeps, a História foi objeto de duas edições simultâneas no ano de
1858, uma promovida pela Academia das Ciências de Lisboa (ACL; cf. Gandavo
1858a) e outra no número 21 da Revista do Instituto Historico e Geographico Brasileiro
(cf. Gandavo 1858b; o número da revista que foi reeditado em 1930; cf. Gandavo 1930).
A partir daí, as suas edições foram-se multiplicando, sobretudo no Brasil.
XIV Carlos Assunção / Rolf Kemmler / Gonçalo Fernandes / Sónia Coelho / Susana Fontes / Teresa Moura
8
O Tratado foi publicado pela primeira vez no quarto volume da Collecção de noticias
para a historia e geografia das nações ultramarinas da ACL (Gandavo 1826). Veja-se,
também, a edição preparada por Pereira Filho (Gandavo 1965).
9
Cf. Gandavo (1574: 1-72). O opúsculo não tem contagem de fols., mas a edição fac-
similada possui paginação. Nota-se, porém, que a introdução de Buescu (1981: [III]-
[XXXIII]) – aliás sem indicar uma paginação – conta os fols. de uma maneira difícil
de entender: fol. 3r é, com ela, fol. 2 v, etc. Parece que Buescu começou a contagem
na folha vazia que vem depois do rosto. Princípios de filologia, seguidos tanto por
Pereira Filho (1961), como por Nagel (1969), exigem uma contagem a partir do rosto
até ao último fólio. Desta maneira, quase todas as citações que a investigadora retira
das Regras não estão certas (p.ex. p. VI, notas. 1, 2, 4, 5; pp. [XI], [XII] n. 1; p. [XIII]
Estudo introdutório XV
nn. 2, 3; p. [XIV], nn. 2, 3, etc.), algumas até mesmo erradas (p. [VII], nn. 1, 2; p.
[XIV], n. 1; p. [XIX], n. 3). Em caso de uma reedição do fac-símile de 1981, seria,
portanto, muito desejável fazer uma revisão pormenorizada do texto introdutório.
Lamentavelmente, foi o que não se fez quando este texto foi reproduzido nas páginas
111-141 da Historiografia da Língua Portuguesa da mesma autora (Buescu 1984b).
10
Devido a esta inclusão do tratado ortográfico numa obra miscelânea que reúne outros
elementos bibliográficos como o tratado de caligrafia de Manuel Barata (1590, 2009) e
o Tratado de Arismetica com muyta diligencia emmendado (Nicolás 1590) do
matemático espanhol Gaspar Nicolás (fl. séc. XVI), as informações bibliográficas de
que dispomos são bastante confusas. Contrariamente ao que dizem Silva (1862, VI:
430), e Buescu (1981: [VI] e [XXXIII]), o estudo atento das indicações de Anselmo
(1977), permite a conclusão de que devem existir apenas duas reedições quinhentistas:
XVI Carlos Assunção / Rolf Kemmler / Gonçalo Fernandes / Sónia Coelho / Susana Fontes / Teresa Moura
a 2.ª edição, impressa por Belchior Rodrigues, Lisboa, 1590, cf. Anselmo n.º 999,
(fazendo o opúsculo de 16 fols. parte da Polygraphia, impressa por António Álvares,
Lisboa, 1590, cf. Anselmo n.º 13) e a 3.ª edição, impressa por Alexandre de Siqueira,
Lisboa, 1592, cf. Anselmo, n.º 1063 (fazendo o opúsculo de 12 fols. parte da
Polygraphia, do mesmo impressor, Lisboa, 1592, cf. Anselmo, n.º 1061).
11
Na verdade, o opúsculo seiscentista apenas foi mencionado de maneira passageira
nos artigos em que Noronha (1881), Gonçalves (1936: 9, 12), Vasconcelos (1929:
867), Vasconcelos (1933) e Pinto (1961: 126) mencionaram ortografias históricas
portuguesas.
12
Para justificar a edição por ele elaborada, é com as seguintes palavras que Nagel
(1969: 111) comenta o seguinte: «Im Jahre 1965 veröffentlichte der brasilianische
Gelehrte Emmanuel Pereira Filho den Tratado da Província do Brasil [...] in einer
kritischen und kommentierten Ausgabe. Aus der Bibliographie geht hervor, daß von
den Regras bis dato noch keine moderne Ausgabe erschienen ist. Pereira Filho, der
sich intensiv mit Pêro de Magalhães de Gândavo beschãftigt hat, verweist auf eine
eigene Arbeit aus dem Jahre 1961. Der erstaunte Leser findet dort eine Einleitung zu
Estudo introdutório XVII
1.4.1 Conteúdo
Com base na editio princeps, a estrutura das Regras de Gandavo pode ser
representada da seguinte forma:
fólios conteúdo
1r [rosto]
1v [página em branco]
2r [licenças]
2v [dedicatória] A elRey nosso senhor.
einer kritischen Edition der Regras und – nichts weiter. Daß es sich um die Einleitung
handelt, an die sich der Text anschließen soll, ist nicht zu bezweifeln; denn der
Verfasser dankt dem Verlag (p. III) und begründet seine Editionskriterien (p. XXIVf.).
Nur, der Text Gândavos ist nicht gefolgt».
[No ano de 1965, o estudioso brasileiro Emmanuel Pereira Filho publicou o
Tratado da Província do Brasil [...] numa edição crítica e comentada. Da bibliografia
consta que nenhuma edição moderna das Regras foi publicada até à data. Pereira
Filho, que estudou intensivamente Pêro de Magalhães de Gandavo, faz referência ao
seu próprio trabalho de 1961. O leitor admirado encontrará uma introdução a uma
edição crítica das Regras e – nada mais. Não há dúvida de que esta é a introdução à
qual deve seguir o texto; pois o autor agradece ao editor (p. III) e justifica os seus
critérios de edição (p. XXIV-XXIX). Só o texto de Gandavo não seguiu].
XVIII Carlos Assunção / Rolf Kemmler / Gonçalo Fernandes / Sónia Coelho / Susana Fontes / Teresa Moura
fólios conteúdo
Como vimos supra, pouco menos de metade das Regras é ocupada pela
prosa dialogada intitulada «Dialogo em defensaõ da lingua Portuguesa». Este
diálogo metalinguístico, reproduzido juntamente com todas as edições das
Regras, insere-se na tradição epistemológica que João de Barros (1496-1570)
estabeleceu em Portugal através do «Dialogo em lovvor da nossa
lingvagem» (Barros 1540: fols. 50v-60v; Barros 1971: 390-410).
Depois do artigo histórico de Williams (1936), consta que o diálogo
gandaviano ainda foi estudado por Buescu (1978: 45-47) e Buescu (1981),
Costa (2004), Hue (2007), Vicente (2008), Silva Filho (2009), Celani (2012:
86-90), Duarte (2017), Russo (2018: 12-13) e Passerini (2019). Para além
disso, também se encontram referências algo passageiras em artigos como os
de Cagliari (1994: 110), Martínez Pereira (2004: 235) e Maia (2010: 35).
Para além das edições do conjunto metalinguístico de Gandavo supra
mencionado, Hue (2007: 67-78) elaborou uma edição 'atualizada' do texto ora
intitulado «Diálogo em defesa da língua portuguesa», em que a autora se
serviu, com algumas exceções, das ortografias modernas brasileira e espanhola
que estavam em vigor na época em que preparou a edição (Hue 2007: 37).
2.1 Vocalismo
13
O presente capítulo constitui uma versão revista dos capítulos 3.2.1.1 e 3.2.1.2 de
Kemmler (2001: 170-175). Para referências adicionais relativas a Gandavo e à sua
obra, cf. Augusto / Kemmler / Assunção (2015).
14
Para informações que vão para além da nossa breve exposição das principais regras
de uso de uma acentuação gráfica nos tratados metaortográficos desde quinhentos
até Madureira Feijó, cf. o artigo de Araújo / Maruyama (1991). Convém, no entanto,
advertir que os dois autores também tomam em consideração o uso posto em prática
ao longo do texto metaortográfico.
XX Carlos Assunção / Rolf Kemmler / Gonçalo Fernandes / Sónia Coelho / Susana Fontes / Teresa Moura
15
É verdade que, no texto original (p. ex. Gandavo 1574: fol. 13r e 13v), o uso real de
diacríticos oscila entre os acentos agudo e grave, embora prevaleça o primeiro. No seu
artigo sobre a acentuação de facto nos tratados metaortográficos históricos, Araújo /
Maruyama (1991: 86) apresentam exemplos de trechos que mostram
convincentemente que Gandavo (ou o tipógrafo António Gonçalves) não terá
distinguido funcionalmente os três acentos. Parece evidente que Nagel (1969: 118) se
terá baseado em considerações parecidas na sua 4.ª edição, pois preferiu transcrever
estes casos de acentuação incoerente de maneira uniforme com o acento agudo.
16
Embora considere que seja desnecessária, Gandavo 1574: fol. 13v) ainda admite a
grafia do produto da crase como <aa>, em que a duplicação da vogal tem o papel de
sinal diacrítico. Para além disso, também se observam três ocorrências da grafia
<â> (Gandavo 1574: fol. 4v, 5r, 18v).
17
Não deixa de ser interessante que Gandavo propõe neste âmbito o uso de <-m> nas
terceiras pessoas do plural do pretérito perfeito simples (alcançaram, louuaram),
enquanto favorece a grafia <-ão> para as respetivas formas do futuro (alcançarão).
Apesar de Gandavo apresentar a sua proposta bastante inovadora de oferecer formas
distintivas, em seguida admite a grafia concorrente com <-m> para ambos os casos.
Julgamos que esta consideração poderá ser interpretada como uma concessão do
ortógrafo ao uso do seu tempo.
18
Buescu (1981: [XIII]) conclui de maneira coerente: «A aplicação ortográfica do próp-
rio texto gandaviano parece apontar para o timbre aberto de ô: sô = só, ainda que pen-
semos que a práxis tipográfica só sob caução pode ser considerada como probatória».
Estudo introdutório XXI
Alem destes ha outros muitos vocabulos, em que he necessario vsarse deste & doutros
accentos, pera que melhor se saibão pronunciar, & entender a significação delles. Mas
por agora não quis tratar aqui, senão destes em cuja significação pode auer duuida não
se vsando do tal accento que acima fica declarado (Gandavo 1574: fol. 14r-14v).
Para além do que se referiu supra, as Regras não se ocupam muito mais
com os sons vocálicos. Os ditongos parecem não ter interesse para o autor.
Mesmo assim, encontramos informações sobre o tratamento deles quando
trata da questão das grafias <i, j, y>.
São consideradas lícitas as grafias com <i, y> sempre que se usa a
vogal [i] propriamente dita, com <j> consoante com valor de [ʒ], tanto em
posição inicial (jornada) como em posição intervocálica (sobeja) e <i, y>
com valor de semivogal anterior [ɪ̯ ] só quando, em ditongo, se encontra
precedida por outra vogal, seja em posição medial (joya, mayor, saiba) ou
final (Rey, foy, cf. Gandavo 1574: fols. 18r-19r).
Gandavo (1574: fols. 18v-19r) realça ainda que o grafema <y> não só
se poderia usar em palavras que o têm por origem, mas, baseando-se no
uso corrente, facultativamente, com a função de representar a semivogal
anterior [ɪ̯ ].
19
Observa-se também a variação gráfica estâ (Gandavo 1574: fol. 3v).
20
Para além disso, encontram-se as variantes só (Gandavo 1574: fols. 19v, 12v) e
sómente (Gandavo 1574: fols. 3v, 34r).
XXII Carlos Assunção / Rolf Kemmler / Gonçalo Fernandes / Sónia Coelho / Susana Fontes / Teresa Moura
2.3 Consonantismo
21
Para indicar a posição de um dado grafema, recorremos às seguintes opções: p. ex.
para o grafema <s> na posição medial até agora sempre usámos <-s->, nas
ocorrências inicial <s-> e final <-s>. Julgamos, porém, conveniente introduzir
também o posicionamento entre consoantes e vogais. A fim de evitar confusões,
usaremos, sempre que for necessário, <V> (maiúsculo) para representar um
ambiente vocálico e <C> (maiúsculo) para representar um ambiente consonântico.
Estas abreviaturas vêm indicadas sem hífen, com o grafema em análise em
minúsculo, sendo, p.ex., a posição medial entre vogais ou entre vogal e consoante
indicada como <VsV>, <CaV>, etc.
22
Gandavo (1574: fol. 7r) até chega a dar-nos uma descrição articulatória detalhada:
«[...] entendam que quando pronunciarem qualquer dição com c, hão de fazer força
com a lingua nos dentes debaixo de maneira, que fique algum tanto à ponta
dobrada pera dentro [...]».
23
Cf. Gandavo (1574: fols. 7r-7v): «[...] quando for com s, porão a lingua mais
folgadamente pera cima que fique soando a pronunciação á maneira de assuuio de
cobra, que esta foy a causa porque os Antigos formàram o s, da feição da cobra [...]».
24
Gandavo (1574: fol. 7v): «Quanto esta letra z, composerão os Gregos de duas
letras, conuemasaber, do s, & do d, & assi a pronunciação della não he outra
cousa, senão a de hum s, carregado por respecto daquelle d, que lhe formão diante,
o qual d, não deixa soltar a lingua tão liuremente como quando o mesmo s, per si
se pronuncia». A descrição feita por Gandavo parece indicar que ainda considerava
usual algo como a africada alveolar sonora [d͡z]. Tal procedimento talvez possa ser
Estudo introdutório XXIII
explicado pelo facto de ele ser oriundo do Norte de Portugal, ou seja, de uma área
conhecida por ser linguisticamente conservadora, como justamente realça Teyssier
(1982: 104), quando trata da manutenção do sistema das quatro sibilantes.
25
A este respeito, cf. também Teyssier (1982: 50 e 104 [nota 31]).
26
Identificando-o como 'letra', Gandavo (1574: fols. 8r, 16v) identifica este grafema
etimológico como 'aspiração' (ou mesmo 'aspirção' em Gandavo 1574: fol. 16v),
mas, ao contrário de Oliveira (1536) e Barros (1540), não tenta explicar o fenómeno
gráfico com argumentos fonéticos.
27
O nosso ortógrafo dá-nos aqui uma indicação muito interessante dos costumes
ortográficos do seu tempo. Ele declara facultativa a grafia <he> ou <é>, mas restringe
logo a aplicação da segunda forma: «Mas porque com este accento he muito pouco
vsado, & muitas pessoas o auerão por nouidade, ignorando pela ventura o que o tal
accento denota, pareceme que sera mais acertado & melhor escrevello com h, por ser
costume mais claro & facil a todos, que destoutra maneira que digo (saluo meliori
iudicio)» (Gandavo 1574: fol. 17r-17v).
XXIV Carlos Assunção / Rolf Kemmler / Gonçalo Fernandes / Sónia Coelho / Susana Fontes / Teresa Moura
affirmo, innumeravel; cf. Gandavo 1574: fol. 15v) quando exigido pela
etimologia. Aderente, em alguns casos, à grafia de consoantes dobradas,
Gandavo (1574: fols. 15r e 19v-20r) proíbe, porém, de maneira categórica
a grafia da maiúscula <-R-> no meio de palavras, como também de <rr->
no início de palavras e depois de consoante nasal ou lateral.
2.4 Definições
do grego (como p.ex. <ph, rh, th> para <φ, ρ / ϱ, ϑ / θ>) o estatuto de 'letras',
ou seja, de grafemas. Esta postura não está muito longe da consagrada no
português atual.28
Para terminar, convém realçar mais uma vez a forma como Gandavo se
preocupou em analisar e representar graficamente a etimologia de uma
palavra. Esta preocupação surge associada ao objetivo de respeitar, tão
fielmente quanto possível, a pronúncia correta da qual o ortógrafo só se desvia
quando se justifica pela etimologia ou pelo uso. 29 Não será, por isso,
descabido marcar com o opúsculo gandaviano o início da inclusão expressa
de ideias etimológicas e etimologizantes no texto metaortográfico português.
28
Ao contrário do que acontece nos primórdios da lexicografia portuguesa, basta ver a
ordem de <ch, lh, nh> num dado dicionário: modernamente, estes dígrafos
deixaram de ser considerados grafemas próprios do português.
29
Cf. também Nagel (1969: 131-132).
XXVI Carlos Assunção / Rolf Kemmler / Gonçalo Fernandes / Sónia Coelho / Susana Fontes / Teresa Moura
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Gandavo, Pero de Magalhães (11858b): «Historia da Provincia Sãta Cruz, a que vulgarmente
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Estudo introdutório XXIX
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1936): 636-642.
REGRAS
QVE ENSINAM
A MANEIRA DE ESCRE-
VER E ORTHOGRAPHIA DA
lingua Portuguesa, com hum Dialo-
go que adiante se segue em de-
fensam da mesma
lingua.
AVTOR
PERO DE MAGALHÃES
DE GANDAVO.
EM LISBOA
Na officina de Antonio Gonsaluez.
Anno de 1574.
fol. 1r
2 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 1v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 3
fol. 2r
4 Pero de Magalhães de Gandavo
A elRey nosso
senhor.
fol. 2v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 5
PROLOGO AO LECTOR.
fol. 3r
6 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 3v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 7
fol. 4r
8 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 4v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 9
De como se ha de fazer
differença na pronunciação de al-
gũas letras em que muitas pessoas
se costumão enganar.
AS LETRAS
que se costumão muitas ve-
zes trocar hũas por ou-
tras, & em que se co-
metem mais vicios nesta
nossa linguagem, são estas que se seguem,
fol. 5r
10 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 5v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 11
fol. 6r
12 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 6v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 13
fol. 7r
14 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 7v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 15
fol. 8r
16 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 8v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 17
fol. 9r
18 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 9v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 19
¶ DO QVE SE POEM
per parenthesis.
QVANDO se offerecer em
algũa parte da escriptura dizer al-
gũa cousa fôra da sentença, que
muitas vezes se não escusa pera ornamen-
to, & declaração do que se escreue, pôr-
seha entre dous meyos circulos (desta ma-
neira.) Todauia não sera muita lectura,
porque se não embarace o lector, nem per-
ca o tino da sentença ou pratica que leua
enfiada. A isto chamão os Latinos Parẽ-
thesis, o qual ainda que se não lea, nem
por isso fica o proposito, & sentido da
pratica desatado, como em algũas partes
no discurso da presente escriptura se po-
de ver.
fol. 10r
20 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 10v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 21
QVANDO no fim de
algũa regra se não acabar
a dição de escreuer por não
caber na mesma regra, pôr-
seha junto da parte que fi-
ca escripta dous sinaes desta maneira = que
significão irse acabar a outra parte que
resta no principio da regra que se ha de
seguir. Porem hase de ter aduertencia
que em semelhantes lugares nunqua se par-
ta syllaba pelo meyo ainda que pareça ser
necessario partirse pera igualdade da escri-
fol. 11r
22 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 11v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 23
fol. 12r
24 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 12v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 25
fol. 13r
26 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 13v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 27
fol. 14r
28 Pero de Magalhães de Gandavo
NVNQVA em principio
nem em cabo de dição, se vsa-
rá de duas letras semelhan-
tes, nem ainda no meyo,
saluo quando a origem do vocabulo as pe-
dir, ou quando algum nome ou verbo for
fol. 14v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 29
fol. 15r
30 Pero de Magalhães de Gandavo
¶ DE COMO SE HAõ DE
escreuer os nomes & verbos
compostos.
fol. 15v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 31
¶ Da pronuncia-
ção G.
SEMPRE diante g, se
seguirá u, ante e, & ante
i, quando se pronunciar com
força, assicomo, guerra, san-
gue: guitarra, guia, &c. E se não
teuer este u, ante e, & ante i, te-
rá a pronunciação desta maneira, assi-
fol. 16r
32 Pero de Magalhães de Gandavo
A ESTA letra a, se a-
juntarà h, quando for ver-
bo, que significar auer al-
gũa cousa, quer com elle
se affirme quer se negue,
assicomo, ha muitos annos que vi foão, não
fol. 16v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 33
fol. 17r
34 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 17v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 35
¶ DE QVE MANEIRA
& em que lugares se ha de vsar
desta letra I, & onde ha
de ser grego.
ESTA letra I, se ha de
escreuer de tres maneiras,
& de cada hũa se ha de
vsar nas partes onde for ne-
cessario, conuemasaber, j,
comprido, y, gregro, i, pequeno. Deste j,
comprido se vsarà, quando seruir de conso-
ante, quer em principio de dição, quer em
meyo, assicomo, jornada, sobeja, &c. Este y
grego se seguirá sempre ẽ meyo de dição, q̃ndo
fol. 18r
36 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 18v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 37
¶ DOS LVGARES
onde se ha sempre de se-
guir M.
fol. 19r
38 Pero de Magalhães de Gandavo
¶ DE COMO SE HA DE
vsar desta letra R.
QVANDO em meyo de
dição a pronunciação desta
letra r, for dobrada, sem-
pre se escreuerá com dous
rr, assicomo, terra, socor-
ro, ferro, &c. Saluo diante consoante se
seguirá hum só (como ja tenho dito) ain-
da que pareça que a pronunciação pede do-
us, assicomo, tenro, genro, &c. porque se
não sofrem duas letras semelhantes diante
consoante.
fol. 19v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 39
¶ DE COMO SE HA DE
vsar desta letra V.
fol. 20r
40 Pero de Magalhães de Gandavo
¶ Fim.
fol. 20v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 41
g SEGVESE HVM
Dialogo em defensaõ da lingua Portugue-
sa, sobre a qual tem disputa hum Portu-
gues com hum Castelhano, onde por
se tratar desta materia vsa ca-
da hum de sua lingua
gem na maneira
seguinte.
Interlocutores.
Petronio. Portugues.
Falencio. Castelhano.
fol. 21r
42 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 21v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 43
fol. 21r
44 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 22v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 45
fol. 23r
46 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 23v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 47
fol. 24r
48 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 24v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 49
fol. 25r
50 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 25v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 51
FALENCIO.
fol. 26r
52 Pero de Magalhães de Gandavo
PETRONIO.
fol. 26v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 53
FALENCIO.
PETRONIO.
fol. 27r
54 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 27v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 55
FALENCIO.
fol. 28r
56 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 28v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 57
fol. 29r
58 Pero de Magalhães de Gandavo
Falencio.
¶ Creo yo señor Petronio, que de-
fol. 29v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 59
Petronio.
fol. 30r
60 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 30v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 61
fol. 31r
62 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 31v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 63
fol. 32r
64 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 32v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 65
fol. 33r
66 Pero de Magalhães de Gandavo
Petronio.
¶ Se cõ essa razão vos parece, senhor
Falencio, que tendes concluido, ain-
da vos prouarey que a nossa he mais
chegada ao latim que a vossa, como
se pode ver em outros muitos voca-
bulos nossos de que a vossa tambem
se desuia: algũs delles são estes que se
seguem. Vos dizeis lengua, nos lin-
gua, o latim lingua. Dizeis pluma,
nos penna, o latim penna. Dizeis tẽ-
prano, nos cedo, o latim cito. Dize-
is lexos, nos longe, o latim longe. Di-
zeis años, nos annos, o latim annos.
Dizeis daño, nos damno, o latim dã-
no. Finalmente que se quantos me
occorrem vos quisesse aqui dizer, se-
ria cousa infinita de nunqua acabar,
fol. 33v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 67
fol. 34r
68 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 34v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 69
Falencio.
fol. 35r
70 Pero de Magalhães de Gandavo
fol. 35v
Regras que ensinam a maneira de escreuer a orthographia da lingua portuguesa 71
Petronio.
Porque alem de as aspirações q̃ vsais
vos corromperem (como ja disse) a se-
melhança que a vossa lingua podia
ter com a Latina, tendes nella muitas
syllabas que se dobrão per duas letras
vogaes, que o latim nem nós nunqua
vsamos: como he, tierra, fuerte, muer-
te, fuerte, luengo, cierto, & outros in-
finitos vocabulos, nos quaes a nossa
segue o latim, & não descrepa delle
cousa algũa, & a vossa totalmente pa-
rece que nelles se esmerou em se des-
uiar delle, como se desta maneira fi-
casse mais perfecta.
Falencio.
¶ Ora senhor Petronio, vos lo teneis
muy bien hecho, y hasta aqui dispu-
fol. 36r
72 Pero de Magalhães de Gandavo
Fim.
fol. 36v