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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

MESTRADO EM CIÊNCIAS POLÍTICAS

Tema
Tema: Golpes de Estado: Porque os Golpes de Estado são frequentes no Mali e quase improváveis
na Grã-Bretanha e no Japão

Discentes: Henrique Armando Matlombe


Wilson Vawa

Nota oral: Quarto grupo – [12 valores]


(a) Porquê ocorre a violência política? Desigualdades? Clivagens políticas?
(b) Pesquisa focada no comportamento humano observável e mensurável.
(c) Ted Gurr e a privação relativa
(d) Privação relativa, privação económica e clivagens étnicas ----- violência/conflitos/guerra
(e) Institucionalismo é quando as pessoas não confiam nas instituições e acabam optando?
(f) Estruturalismo/Funcionalismo – surge quando o sistema não funciona: instituições não estão a executar as suas funções?
Governo militar com falta de capacidade para exercer as suas funções.
(g) Sistemas monárquico-constitucionais que funcionam em obediência às normas e regras institucionais.
(h) Rational choice? Racionalidade e interesses próprios dos indivíduos.
(i) Ideia de estado bem enraizada na cultura.
Nota escrita: Este grupo esteve o mais próximo possível do fulcro do exercício dado. [14 valores]

Maputo, Julho 2021


Índice
1. Introdução...................................................................................................................................................3
2. Perspectiva Funcionalista.............................................................................................................4
2.1. Análise dos Golpes na Perspectiva Funcionalista........................................................................5
3. Perspectiva Institucionalista.........................................................................................................6
3.1. Análise dos Golpes de Estado na Perspectiva Institucionalista...................................................7
4. Teoria das Escolhas Racionais.....................................................................................................7
3.1. Análise Golpes de Estado na Perpectiva das Escolhas Racionais................................................8
4. Perspectiva Behaviorista..............................................................................................................8
4.1. Contexto do Surgimentos, Percursores e sua aplicação na Ciência política................................9
5. Debate Conceptual................................................................................................................................13
5.1. Golpe de Estado.........................................................................................................................13
6. Porque os Golpes de Estado são frequentes no Mali e improváveis na Grã-Bretanha e no Japão.......15
Bibliografia...................................................................................................................................................18

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1. Introdução
O presente ensaio constitui um estudo exploratório do Conceito de Golpe de Estado, tendo como espaços
geográficos de análise o Mali, o Japão e a Grã-Bretanha. O ensaio enquadra-se no módulo de Teorias
Políticas Contemporâneas, e o mesmo tem como Objectivo Geral Analisar os porquês dos golpes de
Estado serem frequentes no Mali, quase improváveis no Japão e na Grã-Bretanha. Tem como objectivos
específicos Identificar os elementos que originam os Golpes de Estado; Caracterizar os Golpes de Estado;
Identificar as possíveis relações entre o sistema de Governação e o nível de desenvolvimento
socioeconómico com os Golpes de Estado;

Este trabalho será realizado com recurso a teoria Behaviorista ou teoria Comportamental da Ciência
Política. Os pressupostos da teoria Behaviorista podem ser resumidos da seguinte maneira:
Ênfase à busca de maior cientificidade – objectividade – na análise política, o que o leva ao abandono de
especulações subjectivas em favor de métodos de observação aplicados a objectos realmente passíveis de
serem investigados em laboratório. Esse objectivismo implicaria no deslocamento da perspectiva
investigativa, passando dos fenómenos mentais para a observação empírica do comportamento.

Do ponto de vista behaviorista, é muito mais importante que a pesquisa política seja voltada para os dados
sobre a influência dos seres humanos sobre os processos governamentais, sobre o modo como constituem
esses processos e são influenciados por eles e, particularmente, que a pesquisa não se apoie em
argumentos sobre as prioridades das diferentes Ciências Sociais. Em suma, a pesquisa de comportamento
político busca, em primeiro lugar, dados que expressem o comportamento humano em tipos de situações
que envolvem o exercício da autoridade governamental, em vez de encontrar evidências que glorifiquem
ou condenem entidades personificadas, tais como o Estado, a sociedade, a comunidade, a economia ou a
classe, dotadas de qualidades tais como omnisciência, omnipotência e inevitabilidade.

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Perspectiva Funcionalista
O funcionalismo marcou fortemente as teorias sociais até os anos 1980, se constituindo neste período
como método hegemónico na sociologia. A teoria funcionalista tem como percursoresr Émile Durkheim,
Talcott Parsons e Robert Merton. Muito além do impacto na própria constituição da sociologia como
disciplina académica, estes autores influenciaram a maneira como as relações Políticas foram vistas e as
questões que surgiram desta visão. Sem dúvida o funcionalismo exerceu grande influência sobre as teorias
que buscaram explicar os fenómenos políticos dentre os quais os Golpes de Estado. A vertente
funcionalista de Robert K. Merton servirá de base teórica para a prossecução do presente ensaio.

Segundo MORREIRA (2001:94) A essência da perspectiva funcionalista reside na institucionalização do


fenómeno político, no sentido de considerar o Poder, no seu funcionamento, como um conjunto
diferenciado de modelos de conduta de agentes, cada um dos agentes desempenha uma função, e todas
inter-relacionadas. Sendo portanto uma perspectiva individualista e a perspectiva de grupo. A função, do
ponto de vista político, é definida pelas expectativas dos destinatários em relação à esperada intervenção
do agente do Poder, visão que pode não coincidir com a que este tem da sua própria função.

Segundo Morreira (2001) o Funcionalismo preconiza a análise da articulação entre diferentes actores e
intervenientes na prossecução dos objectivos da organização. Os agentes envolvidos no processo de
tomada de decisão ao nível da organização devem interagir de acordo com as regras existentes dentro da
organização.

A perspectiva individualista das tendências básicas procura averiguar que tipo de homem ocupa a
presidência, para entender e prognosticar sobre a sua conduta política. O funcionalismo atende antes ao
facto de o homem que exerce a presidência ser um homem situado, e evidencia que ele é colega de outros
intervenientes, membro de certos grupos religiosos ou culturais, representante de certos elementos amigos
de certos interessados, seguidor de certos doutrinados políticos, e que a sua acção, para desempenhar a
presidência, será uma resultante dentro de um complexo de funções executadas por outros agentes
(MORREIRA, 2001:94).

A acção política é portanto sempre condicionada, não apenas pela personalidade básica do agente, mas
também pelo complexo de funções interdependentes e conflituantes em que se inscreve. A principal

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utilizaçāo da perspetiva funcionalista diz respeito à explicação e previsão do comportamento político dos
agentes, sendo que o seu elemento mais frutuoso é a definição das expectativas que a sociedade atribui a
uma função, em cada situação ou conjuntura.

A grande contribuição de Merton para a metodologia da ciência política foi a de descobrir o principio do
equivalente funcional, segundo o qual um só elemento pode desempenhar várias funções, assim como
vários elementos podem substituir-se reciprocamente no desempenho da mesma função. Na vida política
foi fácil descobrir exemplos, tal como o de um sindicato assumir a representatividade que pertencia a um
parido proibido, ou de o Exército assumir a função de Governo nos Golpes de Estado.

Análise dos Golpes na Perspectiva Funcionalista


Segundo Bonavides (1997) Os Golpes de Estado são típico dos sistemas monocráticos instáveis, onde são
mais usuais na América Latina, África e Oriente Médio, nestes casos o golpe de Estado é a técnica política
predilecta de tomada do poder que mais se emprega nos países subdesenvolvidos ou em fase de
desenvolvimento. Daí, ser mais serem quase prováveis os golpes militares em África (Mali), e quase
improváveis na Grã-Bretanha e no Japão, países desenvolvidos, com um sistema parlamentar, e onde as
funções dos integrantes da maquina governativa estão em seu pleno funcionamento.

A Grã-Bretanha e o Japão são duas nações com um sistema de Governo parlamentar, Monarquias
Parlamentares. No Estado parlamentar, o Governo depende da Assembleia eleita, a qual pode ser
dissolvida; o chefe de Estado é um monarca hereditário ou um Presidente eleito pela Assembleia, que na
actualidade tem poderes residuais.

Recorrendo a perspectiva funcionalista, podemos dizer que há uma maior satisfação das expectativas que a
sociedade civil no Japão e na Grã-Bretanha tem em relação à função dos seus respectivos Governantes. O
mesmo não acontece no Mali, onde, tanto no primeiro Golpe de Estado, como no segundo, há uma noção
de quase disfuncionalidade do corpo governativo. Isto é, as partes não estão a desempenhar as funções
para ais quais foram eleitas ou delegadas dentro do sistema.

A teoria funcionalista preconiza a análise da articulação entre diferentes actores e intervenientes na


prossecução dos objectivos da organização. Os agentes envolvidos no processo de tomada de decisão ao
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nível do Governo devem interagir de acordo com as regras existentes dentro do Estado, considerando o
Estado como uma estrutura complexa de grupos ou indivíduos, reunidos num trama de acções e reacções,
e como um sistema de instituições correlacionadas entre si, agindo e reagindo umas em relação as outras.
Assim sendo, mau o desempenho de cada órgão que compõe um sistema pode pôr em causa a estrutura
como um todo, assim o mau desempenho das funções preconizadas para o Chefe de Estado gera um mau
funcionamento geral do Estado o que provoca a insatisfação e posteriormente os golpes do Estado no
Mali.

Perspectiva Institucionalista
Rod Rhodes citado por LOWNDES (2018:54) descreveu o institucionalismo como o "coração histórico"
do sujeito e "parte do conjunto de ferramentas de todo cientista político e caracteriza a metodologia do
Institucionalismo como a do observador inteligente tentando descrever e entender o mundo político ao seu
redor de forma não abstracta.

Na primeira metade do século XIX, Tocqueville valorizou as instituições sociais e políticas como as
variáveis explicativas da bem-sucedida democracia republicana presidencialista dos Estados Unidos.
Outro exemplar significativo desse tipo de enfoque é o trabalho de Walter Bagehot, The English
constitution, publicado em 1867, no qual o autor inglês comparava os modelos constitucionais britânico e
norte-americano, de forma a ressaltar as supostas vantagens do primeiro sobre o segundo, especialmente
em função da adopção da monarquia parlamentarista com constitucionalismo moderado, ou seja, com
reduzido grau de dispersão do poder político (LOWNDES, 2018:57).

De modo geral, O Institucionalismo dá primazia aos procedimentos, protocolos, normas e convenções


oficiais e oficiosas inerentes à estrutura organizacional da comunidade política ou da economia política.
Isso estende-se das regras de uma ordem constitucional ou dos procedimentos habituais de funcionamento
de uma organização até às convenções que governam o comportamento dos sindicatos ou as relações entre
bancos e empresas. Em geral, esses teóricos têm a tendência a associar as instituições às organizações e às
regras ou convenções emanadas pelas organizações formais.

A perspectiva Institucional analisa a relação entre as instituições e o comportamento individual em termos


gerais. E enfatizam as assimetrias de poder associadas ao funcionamento e ao desenvolvimento das
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instituições. Tendem a formar uma concepção do desenvolvimento institucional que privilegia as
trajectórias, as situações críticas e as consequências imprevistas. Enfim, ela busca combinar explicações
da contribuição das instituições à determinação de situações políticas com uma avaliação da contribuição
de outros tipos de factores, como as ideias, a esses mesmos processos.

Análise dos Golpes de Estado na Perspectiva Institucionalista


Recorrendo a Teoria Institucionslista, podemos dizer que a Grã-Bretanha e o Japão são duas nações com
um sistema de Governo parlamentar, Monarquias Parlamentares. No Estado parlamentar, o Governo
depende da Assembleia eleita, a qual pode ser dissolvida; o chefe de Estado é um monarca hereditário ou
um Presidente eleito pela Assembleia, que na actualidade tem poderes residuais. E No Mali, com um
regime presidencial, tanto o Presidente, o chefe do Executivo, como a Assembleia, a sede do legislativo,
são eleitos por sufrágio universal e têm igual legitimidade; por isso, nem a Assembleia tem o direito de
destituir o Presidente por razões políticas nem ele tem o direito de dissolver a Assembleia. Daí, serem
maiores as chances de destituição do Presidente por meio da violência, golpe de Estado neste último
Estado do que nos dois primeiros.

Há uma total inoperância das instituições no Mali, o que em última instância origina os golpes e a
instabilidade, e na Grã-Bretanha e no Japão encontramos instituições completamente operacionais.

Teoria das Escolhas Racionais


Por sua vez a teoria das Escolhas Racionais advoga que o estudo da política envolve a aplicação dos
métodos da economia ao estudo da política. Duas suposições-chave que são de importância absolutamente
central para a escolha racional podem ser imediatamente destacadas: racionalidade e interesse próprio.
Não importa para qual aspecto da política eles estejam a estudar. Para os teóricos da escolha racional para
qualquer situação particular, as pessoas podem se comportar de acordo com suas expectativas e como se
as outras pessoas fossem também racionais e com interesses próprios. Racionalidade aqui significa
racionalidade instrumental. As pessoas são capazes de identificar o curso de acção que mais
provavelmente lhes permitirá atingir seus objectivos.

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Em qualquer situação particular, as pessoas podem se comportar de acordo com suas expectativas de
como outras pessoas racionais e com interesses próprios irão se comportar. Racionalidade aqui significa
racionalidade instrumental. As pessoas são capazes de identificar o curso de acção que mais
provavelmente lhes permitirá atingir seus objectivos (LAWNDES, 2018:43).

Dentro desta perspectiva, encontramos uma A lógica da acção colectiva ou lógica de grupo, que defende
que se os indivíduos são racionais, faz sentido intuitivamente que os grupos, sendo compostos de
indivíduos, também sejam racionais. Se um grupo compartilha um objectivo comum que todos concordam
que vale a pena, podemos esperar que todos contribuam para a realização desse objectivo.

Análise Golpes de Estado na Perpectiva das Escolhas Racionais


Analisando os frequentes golpes de Estado do Mali, fica claro que nem sempre as acções humanas gozam
de alguma racionalidade, e nem sempre sabem quais serão as consequências de suas acções e, portanto,
podem agir de maneiras que, em última análise, elas ou outras pessoas percebem que são prejudiciais aos
seus interesses. Os constantes Golpes de Estado no Mali e quase permanente instabilidade mostram a
Teoria de Escolha racional acarreta algumas insuficiências para analisar a situação neste país africano. As
pessoas nem sempre têm informações perfeitas. Eles operam em um mundo de informações limitadas e, às
vezes, de incerteza radical.

Perspectiva Behaviorista
Como dissemos na nossa Introdução este ensaio tem como perspectiva de análise a teoria Behaviourista.
Segundo LOWNDES e tal. (2018) A abordagem comportamental da análise social e política concentra-se
em uma questão única e aparentemente simples: por que as pessoas se comportam dessa maneira? O que
diferencia os comportamentalistas de outros cientistas sociais é a sua insistência em que (1) observável o
comportamento, seja ao nível do indivíduo ou do agregado social, deve ser o foco da análise; e (2)
qualquer explicação desse comportamento deve ser susceptível a testes empíricos. Os estudiosos do
comportamento consideram que, quaisquer que sejam as categorias teóricas que qualquer análise use, a
investigação social trata fundamentalmente de tentar compreender o que (algumas) pessoas fazem, pensam
ou dizem.

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Contexto do Surgimentos, Percursores e sua aplicação na Ciência política
O movimento comportamental assumiu uma posição importante nas ciências sociais nas décadas de 1950
e 1960. Suas origens filosóficas estão nos escritos de Auguste Comte (Comte, 1974) no século XIX e no
positivismo lógico do Círculo de Viena na década de 1920. O positivismo, que foi popularizado na Grã-
Bretanha por Alfred Ayer e na Alemanha por Carl Hempel, afirmava que as declarações analíticas feitas
sobre o mundo físico ou social caíam em uma de três categorias. Em primeiro lugar, essas declarações
podem ser tautologias úteis; eles poderiam ser declarações puramente definicionais que atribuíam um
significado específico a um determinado fenómeno ou conceito. Em segundo lugar, as afirmações podem
ser empíricas, ou seja, podem ser testadas contra a observação para verificar se são verdadeiras ou falsas.
Terceiro, as declarações que não se enquadravam em nenhuma das duas primeiras categorias eram
destituídas de significado analítico. LOWNDES e tal. (2018).

Na Ciencia política, ocorre que depois da II Guerra Mundial, as abordagens institucionalistas, de natureza
bastante formal, começavam a ser consideradas ineficientes para a explicação dos novos fenómenos
políticos que surgiram a partir da década de 1930 – o nazismo, o fascismo, as crises do liberalismo e da
representação, a apatia e a alienação políticas etc. Em decorrência disso, depois da Segunda Guerra
Mundial, os estudos passaram a enfocar a dinâmica real da política, com ênfase na investigação factual, na
proposição de hipóteses testáveis e na busca de generalizações empíricas autore como Roert Dahl, 1963;
Somit e Tanenhaus, 1967; Dryzek e Leonard, 1988; Farr, 1995; Almond, 1996 tiveram, grande contributo
no desenvolvimento da teoria comportamental na Ciência política. Estávamos Perante uma revolução
comportamentalista no campo da Ciência Política. Mas, afinal, o que foi essa “revolução
comportamentalista? Quais foram suas principais características e quais suas limitações analíticas? Enfim,
quais as contribuições que o Behaviourismo trouxe à Ciência Política? São os aspectos que trataremos no
ponto a seguir.

Segundo LOWNDES e tal. (2018) uma das contribuições da teoria Behaviorista para a interpretação dos
fenómenos políticos deriva principalmente da determinação de seus defensores em buscar formas de
análise que são capazes de replicação. Os estudiosos que trabalham na tradição comportamental estão
sempre preocupados em estabelecer que outros pesquisadores que fazem conjuntos de suposições
semelhantes às dos pesquisadores e examinam as mesmas evidências tirariam conclusões amplamente
semelhantes.

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Segundo Dahal (1961), historicamente, a abordagem behaviorista era um movimento de protesto que teve
lugar no interior da Ciência Política. Termos tais como comportamento político e abordagem
comportamentalista passaram a ser associados a certo número de cientistas políticos, especialmente
americanos, que compartilhavam uma insatisfação em relação às realizações da Ciência Política
convencional, especialmente no caso das abordagens históricas, filosóficas e da descrição institucional.
Ocorre que a Ciência Política tradicional era predominantemente institucionalista; e foi contra esse
institucionalismo que o comportamentalismo se insurgiu. As leis formais, regras e estruturas
administrativas não explicavam realmente o comportamento político ou os resultados políticos.

Um dos grandes contributos da teoria Behaviorista para a Ciência política e para perceber os Golpes de
Estados segundo LOWNDES e tal. (2018) citando Cederman, Gleditsch e Buhaug reside na resposta da
questão que preocupa académicos, das Ciências Políticas, analistas de relações internacionais e activistas
de direitos que relaciona-se com vontade se clarificar até que ponto a desigualdade é responsável por gerar
o tipo de queixas que levam ao Golpes de Estado ou Guerras Civis? Há muito se reconhece que a raiva (ou
ressentimento) sobre a exclusão política e relativa privação económica podem levar à violência e que esses
efeitos podem ser particularmente intensos quando estão alinhados com clivagens étnicas.

Paradoxalmente, estudos quantitativos de violência política geralmente encontraram suporte muito


limitado para explicações baseadas em queixas de violência política e guerra civil Para Cederman,
Gleditsch e Buhaug isso ocorre porque os estudos anteriores se concentraram tanto em dados em nível de
país, que falham em medir adequadamente o etn-onacionalismo entre os diferentes grupos dentro de um
determinado país, quanto em dados em nível individual, que não levam devidamente em conta as
desigualdades em nível de grupo. A Cederman, Gleditsch e Buhaug distinguem entre desigualdades
verticais, que existem entre diferentes indivíduos e famílias, e desigualdades horizontais entre grupos
estabelecidos (tipicamente étnicos).

Cederman, Gleditsch e Buhaug desenvolveram medidas aprimoradas de desigualdades horizontais em


nível de grupo - que se concentram no acesso que diferentes grupos étnicos têm ao poder estatal
(económico e político). Usando essas medidas, a pesquisa estabelece a superioridade das explicações de
Golpes de Estado e guerra civil baseadas em queixas.

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Assim, Cederman, Gleditsch e Buhaug fazem uma análise teórica da sequência ligações entre
desigualdades horizontais e Golpes de Estado e Guerras Civis. Podemos resumir os estágios desta teoria
da seguinte forma:

Desigualdades Horizontais

Identificação do Grupo

Comparação intragrupo

Avaliação da Injustiça

Enquadrar e Culpabilizar

Queixas

Mobilização

Reclamações do Grupo
estado
Golpe de Estado

Os autores comportamentalistas desenvolvem medidas aprimoradas de desigualdades horizontais em nível


de grupo - que se concentram no acesso que diferentes grupos étnicos têm ao poder Estatal (económico e
político). Usando essas medidas, a pesquisa estabelece a superioridade das explicações dos Golpes de
Estado baseadas em queixas.

Do ponto de vista behaviorista, é muito mais importante que a pesquisa política seja voltada para os dados
sobre a influência dos seres humanos sobre os processos governamentais, sobre o modo como constituem
esses processos e são influenciados por eles e, particularmente, que a pesquisa não se apoie em
argumentos sobre as prioridades das diferentes Ciências Sociais. Em suma, a pesquisa de comportamento
político busca, em primeiro lugar, dados que expressem o comportamento humano em tipos de situações
que envolvem o exercício da autoridade governamental, em vez de encontrar evidências que glorifiquem
ou condenem entidades personificadas, tais como o Estado, a sociedade, a comunidade, a economia ou a
classe, dotadas de qualidades tais como omnisciência, omnipotência e inevitabilidade.

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Podemos resumir os pressupostos da Teoria Behaviorista da Ciência política com os seguintes pontos:
 Somente uma Ciência Política com orientação empírica e positiva é capaz de explicar
cientificamente os fenómenos políticos.
 O cientista político deve se ocupar apenas de fenómenos observáveis, evitando qualquer
especulação dedutiva.
 Os dados analisados devem ser quantitativos ou, então, quantificados.
 A pesquisa deve ser orientada e dirigida por uma teoria conceitualmente rigorosa.
 A análise deve ser pautada pela neutralidade axiológica.
 As pesquisas devem ter carácter analítico (padrões e correlações estatísticas) e não meramente
descritivo.
 É recomendável utilizar abordagens multidisciplinares, uma vez que a Ciência Política com tal
orientação seria apenas uma das ciências do comportamento.
 Adopção do máximo de rigor metodológico, seguindo a lógica do sistema de inferência indutivo.
Em suma, o Behaviorismo significa uma revolução, como dizem Goodin e Klingemann (1996: 11)
argumentando que, "foram abandonados os formalismos da política - instituições, organogramas,
constitucionais mitos e ficções jurídicas.

3. Debate Conceptual

Golpe de Estado

Os Golpes de Estado muitas das vezes confundem-se com revoluções. Segundo BONAVIDES (1997:413)
define-se Golpe de Estado a mudança do pessoal governativo por meio da violência ou não, que não
atingiu a Constituição política e a forma de governo. golpe de Estado. São com frequência por sinónimo
forma de ascensão ao poder marcadas pela de instabilidade política ou indicação de fins egoísticos e
pessoais, contrários ao bem comum.

De uma forma simplista o Golpe de Estado pode ser definido como a tomada do poder por meios ilegais.
Onde seus protagonistas tanto podem ser um governo como uma assembleia, bem assim autoridades já
alojadas no poder (Forças de Defesa e Segurança.

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Uma das definições de Golpe de Estado quem reúne consenso na bibliografia é a de Gabriel Naudé, que
compreendendo o golpe de Estado como acções audaciosas e extraordinárias que os príncipes são
compelidos a executar em empreitadas difíceis e desesperadas, contra o direito comum, sem manter
qualquer ordem ou forma de justiça, colocando em risco o interesse particular em prol do bem público.
(Naudé, 1639)

Mas a definição de Golpe de Estado foi ganhando uma conotação negativa ao longo do tempo, sendo
então um sinónimo de violação de direitos perpetrada por forças de natureza ultraconservadora, sitando
(Calleja, 2001, p. 96).

Bartelson (1997) também sustenta que o moderno conceito de golpe de Estado, que emerge com o fim do
absolutismo e após a consumação da Revolução Francesa em 1789, passa a conotar a ideia de antítese do
progresso político.

Mas nem sempre os golpes de Estado são essencialmente um mal. Samuel HUNTINGTON, aprova os
golpes “bem-intencionados”, que visam a reforma social. O golpe de Estado nem sempre se lhe afigura
sintoma patológico senão que em dadas ocasiões constitui um mecanismo sadio de mudança gradual, a
saber (diz ele) o equivalente não constitucional das mudanças periódicas de controlo de partido mediante
processo eleitoral. Nesse modo de entender, o golpe de Estado seria preconizado para aqueles países onde
a instabilidade das instituições políticas e sociais não permite o emprego normal dos mecanismos
constitucionais de sucessão do poder. Nessa perspectiva, o golpe de Estado seria preconizado para aqueles
países onde a instabilidade das instituições políticas e sociais não permite o emprego normal dos
mecanismos constitucionais de sucessão do poder.

4. Porque os Golpes de Estado são frequentes no Mali e improváveis na Grã-Bretanha e no Japão


Recorrendo a Teoria Behaviorista o grupo concliui que:

Segundo Bonavides (1997) Os Golpes de Estado são típico dos sistemas monocráticos instáveis, onde são
mais usuais na América Latina, África e Oriente Médio, nestes casos o golpe de Estado é a técnica política
predilecta de tomada do poder que mais se emprega nos países subdesenvolvidos ou em fase de
desenvolvimento. Daí, serem frequentes os golpes militares em África (Mali), e quase improváveis na

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Grã-Bretanha e no Japão, países desenvolvidos, com um sistema parlamentar, e onde o comportamento
dos indivíduos é guiado numa lógica do pleno funcionamento do Estado tendo em conta as suas funções
naturais.

Para o Behaviorismo numa unidade política os actores, neste caso eleitores, fazem uma escrupulosa
análise comportamental, cálculo de decisão como eleitor, e assim escolhem os que melhor podem guiar os
seus destinos. Pelo facto de os Políticos Africanos não apresentarem, em muitas situações, projectos de
governação passíveis de serem analisados numa perspectiva de custos e benefícios pode estar na origem
da insatisfação pós eleitoral e consequentemente golpes militares no Mali.

A teoria Behaviorista oferece um avanço metodológico na forma como as fontes das manifestações,
Golpes de Estados, Guerra civil podem ser avaliadas tendo em conta as desigualdades económicas e
políticas entre os diferentes grupos, a como esses elementos facilitam os comportamentos que geram a
violência. Até que ponto a desigualdade é responsável por gerar o tipo de queixas que levam ao conflito e
a Golpes de Estado ou Guerras? Há muito se reconhece que a raiva (ou ressentimento) sobre a exclusão
política e privação relativa, a privação económica pode levar à violência e que esses efeitos podem ser
particularmente intensos quando estão alinhados com clivagens étnicas. Nesta perspectiva, A Grã-
Bretanha e o Japão são dois Estados com poucas desigualdades socioeconómicas no seio da população,
sem clivagens étnicas (São plenos Estados-Nação), com baixíssimos indicadores de privação económica.
Assim sendo, tem pouquíssimas ou quase nenhumas chances de desenvolver comportamentos tendentes a
Golpes de Estado.

No sentido contrário, encontramos no Mali uma grande privação económica, também resultante da
pobreza que assola o pais e de factores étnicos, encontramos também no Mali Clivagens étnicas entre as
Tribos Perene e os Tuaregue aspectos esses que todos conjugados geram comportamentos violentos como
foi acima supracitado.

Citando MOREIRA (2001), não deixa de ser importante o contributo da teoria funcional, na continuidade
dos governos numa dada sociedade, em determinado período da sua evolução histórico-social, atendendo
predominantemente, a considerações de carácter funcional. Considerações que optimizem o ajustamento
de uma ordenação social (donde um mínimo de presença do modelo ideal), observadamente viável (donde

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um mínimo de presença do modelo histórico), às principais exigências político-sociais com que se
defronte tal sociedade.

Ocorre todavia que nos países altamente desenvolvidos, como o Japão e a Grã-Bretanha, ligados ao
quadro da ideologia ocidental, há uma determinada massa de opinião, entre as camadas mais ilustradas,
inteiramente desfavorável ao conceito de revolução. Parte-se do princípio de que os elementos, detentores
do poder funcionam na sua plenitude. As partes desempenham com eficácia as suas funções.

Conclusão

O presente ensaio constituiu um estudo exploratório do Conceito de Golpe de Estado, tendo como espaços
geográficos de análise o Mali, o Japão e a Grã-Bretanha, concluímos, no seio do mesmo, com base na
perspectiva de análise Behaviorista, concluímos que os golpes de Estado são frequentes no Mali, e quase
improváveis no Japão e na Grã-Bretanha porque há uma maior satisfação das expectativas que a sociedade
civil no Japão e na Grã-Bretanha tem em relação à função dos seus respectivos Governantes. O mesmo
não acontece no Mali, onde, tanto no primeiro Golpe de Estado, como no segundo, há uma noção de quase
disfuncionalidade do corpo governativo. Isto é, as partes não estão a desempenhar as funções para ais
quais foram eleitas ou delegadas dentro do sistema.

Em países altamente desenvolvidos, como o Japão e a Grã-Bretanha, ligados ao quadro da ideologia


ocidental, há uma determinada massa de opinião, entre as camadas mais ilustradas, inteiramente
desfavorável ao conceito de revolução. Parte-se do princípio de que os elementos, detentores do poder
funcionam na sua plenitude. As partes desempenham com eficácia as suas funções.

A teoria Behaviorista trás os conceitos de Desigualdades como chave para analisar os Golpes. Até que
ponto a desigualdade é responsável por gerar o tipo de queixas que levam ao conflito e a Golpes de Estado
ou Guerras? A exclusão política e privação relativa, a privação económica pode levar à violência e que
esses efeitos podem ser particularmente intensos quando estão alinhados com clivagens étnicas. Nesta
perspectiva, A Grã-Bretanha e o Japão são dois Estados com poucas desigualdades socioeconómicas no
seio da população, sem clivagens étnicas (São plenos Estados-Nação), com baixíssimos indicadores de
privação económica. Assim sendo, tem pouquíssimas ou quase nenhumas chances de desenvolver
comportamentos tendentes a Golpes de Estado.
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Bibliografia
1. Morreira, Adriano (2001) Ciência Política, Ed. Almedina, Coimbra.

2. Bartelson, Jens (1997) Making exceptions: some remarks on the concept of Coup détat and its
history. Political theory, vol. 25.

3. Bonavides, Paulo (1997), Ciência Política, Ed. Malheiros Editores, Brasil.

4. Calleja, Eduardo González (2001) En las tinieblas de Brumario: cuatro siglos de reflexión política
sobre el golpe de Estado. Historia y política: ideas, procesos y movimientos sociales.

5. DAHL, Robert. (1961), A preface to democratic theory. Chicago, University of Chicago Press.
(1961),

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