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Contexto Histórico

Os nossos objetivos são olhar e explicar as diferenças entre cartistas e setembristas,


focando depois na instabilidade política olhando em particular para 1838 devido ás
eleições e Constituição de 38.

Antes disso darei um pouco do contexto histórico, resumindo alguns acontecimentos


essenciais durante o período 1820-1851.

Como temos todos noção, a 1820 deu-se o rebentar da Revolução Liberal. Nesse mesmo
ano foram feitas eleições para formar e convocar Cortes responsáveis por escrever uma
Constituição, a conhecida Constituição de 1822.

O que aconteceu foi que esta Constituição chocou muito com as antigas tradições,
instituições e costumes portugueses. A 1823 então, D. Miguel liderou um movimento,
a Vila-Francada, que acabou com a Constituição. Anos depois D. Pedro IV, Rei de
Portugal e Imperador do Brasil, outorgou a Carta Constitucional de 1826 (que se chama
assim pois não foi elaborada em um parlamento e votada pelo povo; é uma vontade do
rei, como diz Hermano Saraiva, é uma espécie de prenda do Rei ao povo português).
Gera-se uma espécie de separação entre os que entendiam que a Constituição de 1822
era preferível pois tinha sido votada pelo povo, ou seja os vintistas, e os que acreditavam
que a Carta outorgada pelo Rei era a que devia ser seguida, ou seja os cartistas. Esta
divergência de opiniões vai ser a grande responsável pela violência entre 1834 e 1851.

Depois de uma guerra civil entre liberais e absolutistas que travou o funcionamento da
Carta (guerra essa ganha pelos liberais), a 1834, D. Maria II sobe ao trono com apenas
15 anos, após a morte do seu pai e a Carta é adotada. O governo é entregue ao duque
Palmela, e ali se mantêm até á Revolução de Setembro de 1836. Ora a revolução consitiu
no seguinte:

A 1836, a população politizada de Lisboa juntamente com a Guarda Nacional, fizeram


um acordo com os notáveis do “partido popular” e realizaram uma revolução que
afastou os cartistas do poder e forçou a Rainha D. Maria II a restaurar a Constituição de
1822. A partir daqui surge pela primeira vez a palavra Setembrismo.

Este movimento setembrista, cujas principais figuras foram Passos Manuel e Sá da


Bandeira, teve uma dimensão bastante reformadora. Este setembrismo moderado vai
traçar uma linha entre a Carta e a Constituição de 1822, na Constituição de 1838,
procurando criar um campo neutro que pacificasse todos os lados. No entanto, o projeto
suscitou resistência tanto na esquerda como na direita, gerando uma gigante
instabilidade política entre partidos.

O projeto da Constituição de 1838 sofreu um golpe a maio de 1838, quando nas ruas
lisboetas se seguiu um episodio sangrento que opôs a tropa de linha às guardas
nacionais. As sucessivas revoltas que se seguiram levaram ao governo, que desde 1839
tinha elementos cartistas, a deslizar para o autoritarismo, focando-se mais na ordem
pública. Entre todas as figuras, vai-se ressaltar Costa Cabral, que vai assumir a liderança
política dos cartistas. A Carta de 1826 vai ser restaurada e o novo governo faz eleições,
como o costume, e sem surpresa consegue que lhe seja devolvida a maioria, permitindo
uma governação que vai acabar por ser chamada de tirania.

A 1844 o governo cartista esmaga a revolta de Torres Novas que pretendia o regresso
dos setembristas, só para ser vítima de outra, a “Maria da Fonte”, apenas dois anos
depois. O governo cartista mostrou-se fraco contra esta revolta, e eventualmente o
ministério caiu e Cabral acabou exilado. Com o aumento do radicalismo, aumentam os
receios de D. Maria II de que as novas Cortes fossem forçar a sua abdicação do trono.
A rainha então demite o governo, chama o duque de Saldanha para formar um novo
ministério. Porém, pouco depois rompe a guerra civil da Patuleia, um movimento
setembrista, que terminou a 1847 graças a intervenção estrangeira. Um novo governo
moderado e apartidário é formado e liderado por Saldanha. No entanto, as eleições que
vão ocorrer no final desse ano confirmam o regresso de Cabral ao poder. A 1851, no
entanto, Saldanha lidera uma revolta que inicia um período conhecido por Regeneração.
Segundo Maria de Fátima Bonifácio no seu ensaio “A Guerra de Todos Contra todos”,
a própria natureza dos partidos de então, bem como a situação do país e do Estado,
podem contribuir para explicar a instabilidade política existente, ou seja, a incapacidade
de se formar um consenso entre as forças políticas em competição pelo poder. A
definição de Giovanni Sartori (um cientista e autor político) de “partido” é: que um
partido é qualquer grupo político que se identifica com um rótulo oficial, apresentado
nas eleições, e que é capaz de colocar, através das eleições, candidatos para cargos
públicos. Esta definição satisfaz alguns requisitos: mostra como as eleições, embora não
sejam livres, marcam uma distinção entre partidos, outros grupos políticos e fações;
desvaloriza deliberadamente os aspetos organizativos visto que o autor acredita ser
suficiente que um partido, para que o seja, demonstre capacidade de organização e
mobilização; e finalmente, mostra que o autor considera que a “identificação através de
um rótulo oficial” é um indicador de que um grupo possui coesão e assim possa ser
considerado um partido. Mas será que na altura que estamos a analisar, os partidos
correspondem a esta definição? Não. Os partidos não se identificavam através de um
rótulo oficial. Vários e diferentes entre si foram os grupos que se reclamaram como
sendo “cartistas” ou “setembristas”. Antes de Setembro, estes diziam-se serem os
verdadeiros cartistas e designavam-se por “oposição constitucional” ou “patriotas”, para
assim se distinguirem dos miguelistas. Depois de Setembro dividiram-se em “ordeiros”,
“moderados defensores da revolução” e em “arsenalistas”. Podemos então ver que não
havia rótulos oficias que servissem como forma de identificar os partidos como distintos
e distinguíveis. Cartismo e Setembrismo eram como duas grandes famílias políticas,
onde no seu interior existiam subgrupos entre os quais havia conflitos, frequentemente
mais pequenos que os conflitos entre as duas famílias em si.

Visto que os requisitos indicados por Sartori não são correspondidos, uma disputa
eleitoral não basta para definir grupos políticos como partidos, distinguindo-os de
fações. As vitórias e derrotas, eram pessoais e das fações. Estamos por isso numa época
de protopartidos, caracterizada pela existência de “agrupamentos transitórios” que se
sobrepunham á tradicional divisão genérica entre cartistas e setembristas. Estes
agrupamentos transitórios tendem a juntarem-se em torno de núcleos que podem ser
qualificados de fações: que são grupos políticos dotados de menor durabilidade e
permanência, desprovidos de especialização de funções internas, de organização formal
e de rótulo oficial, mas dominados pelas ambições pessoais dos seus membros. As
fações competem por prestígio e pelo controlo de recursos, e por isso o faccionalismo é
mais comum em épocas em que a participação política é limitada a indivíduos que
competem entre si no meio de alianças e agrupamentos transitórios.

Constituição de 1822

Voltando agora um pouco atrás, gostaríamos de falar um pouco sobre os dois grandes
motivos que opuseram cartistas, a ala à direita dos liberais, e setembristas, a ala mais à
esquerda dos liberais. E esses dois motivos são obviamente: a Constituição de 22 e a
Carta de 26.

Nesta Constituição de 1822 ficaram consagrados os princípios ligados aos ideais liberais
da época: princípios democrático, representativo, da separação de poderes e da
igualdade jurídica e respeito pelos direitos pessoais.

Portanto podemos enunciar em termos gerais as seguintes realizações:

• primeiramente, o princípio da igualdade civil, isto é, a lei é igual para todos os


cidadãos, contrariamente ao que acontecia no Antigo Regime;
• o sufrágio, foi alargado, os cidadãos maiores de 25 anos podiam votar, sem
restrições de riqueza ou propriedade, estavam excluídos, porém, os analfabetos,
os dependentes e os eclesiásticos regulares;
• exigia-se uma renda em bens próprios, atividade ou emprego para se ser eleito
deputado;
• os poderes do monarca foram fortemente limitados com a divisão dos poderes
políticos em 3 (legislativo, executivo e judicial). O poder legislativo é entregue
às Cortes. Ao Rei e seus secretários de Estado, é atribuído o executivo. O Rei
tinha também poder de veto suspensivo, no entanto, apenas podia vetar algo uma
só vez. Nas suas relações com o poder legislativo o Rei não tinha o poder de
dissolver o parlamento.
• Acreditava-se que a soberania era popular, vinha do povo que representava a
nação.

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