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Admitindo que nos inícios do século XVI se tenham feito tentativas para
Assim poderemos explicar o aparecimento dos pri meiros azulejos lisos, esmal•
I -
tados com verde de cobre, para as composiçoes enxa quetadas que ~os ap~recem
.r> <J"'-< j 41 r-c~ "" ~
em obras das ~pocas manuelinas e joaninas como, por exemplo, as iR capela mor
~
sições enxaquetadas - não podem servir-nos para alicerçar um~ produção de ín-
Temos como certo que durante a primeira metade do século XVI apenas se
tJ..e_f/_ ~~....,_.,
tipo mudejar, ~·
las. Nos a zulejos gra varam-se a buril certos ornatos, nomeadamente escudetes
rr1.1.
com as treze arnelas deste ramo dos Castras, um . medalhão com uma figura barb~
da, um leão e uma folha de figueira. ~ aqui que, sobre uma porta se pode ler
Das fontes literárias, aquela que mais frequentemente tem sido glosa•
edição tem a data de 1655( .~ ) Ali se 1@: "Poucos annos ha que um oleiro, que
vrar louça vidrada branca, não s6 oomo a de Talaveira, mas como a da China ••• "
pressupondo que por essa época já o fabrico da cerâmica estanífera estava re-
gulamentado em Lisboa.
bra, de 1566, 1569, 1571, 1573 e 1576, onde são c~àras as referências á acti-
vidade de "malegueiros~ ( 'J )
sua identidade nem quanto a quaisquer obras com semelhanças técnicas ou morf~
entrada em Lisboa de Filipe II, em 1582, quando menciona o arco levantado pe-
da loiça lisboeta que, segundo eles, concorria com a que vinha da China.
zer a louça vidrada com esmalte opaco branco, diferentes diDs fornos ''mouros",
Observa-se também que nessa épocn a distribuição geográfica dos dois tipos de
so que os fornos "de Veneza" se situavam para as bandas do Mocambo (hoje Ma-
Lisboa fez a El-Rei Nosso Senhor •.• no anno de 1565 estão relacionados todos
os oleiros de uma e outra banda, ainda que ali se não se mencionem azulejei-
vivendo em casa de Is abel Gomes, na Rna da s Esperahça. Eram seus vizinhos ou-
tros artifiaes flamengos, como um Jacome Johão, ima ginário, um Roberto Jácome
J(.-1-
também malegueiro e um Felipe de Gois , c uja profissão s~ não espe cifica mas
que sabemos ter sido também "mestre de male ga de flandres". t precisamente e]_
tão na Praia da Boa Vista, onde estão as Casas caídas, no forno onde se coze
a louça vidrada. Nesse forno estava Març al de Matos pintando um arco para a
capella de Nossa Senhora da Conceição, quando lhe ouviu certas afirmações que
Não levou o ilustre Mestre mais longe a exploração daquela noticia nem
parece ter ligado os nomes de Marçal de Matos e de Filipe de Gois a quai squer
Este Marçal de Matos, personagem que se torna pouco simpática como de-
nunciante que foi, pintava "hum arco para a capela de Nossa Senhora da Concei
ção no forno das Casas Caídas", isto em 1575, dez anos depois de termos encon
trado Filipe de Gois vivendo, ou trabalhando, no Mocambo.
/I 'C
mente, foram Raldados os esforços para encontrar, em Lisboa, uma capela onde
( v.)
pudesse estar um arco azulejado.
i greja da me s ma invoc a ção de Lisboa, estão marca dos com o nome de Francisco
sendo então morador na Rua da s Flo r es, a São Cristovão. Uma das testemunhas d~
clara que uma a v6 de Francisco de Matos ainda vivia e era viúva de Marça1 de
Matos, pintor~ )Infeliz mente nada mais encontramos nas inúmeras buscas a que
Filipe de Gois em 1575 possa ter sido ava de Francis c o de Mattos que assina os
154 o fim ' das obras do Palácio. No entanto, e s ta datação d eve referir-se à
re~onstrução na parte arquitec t ónica já q ue, como veremos, ele p r óprio deve
!~
ter continuado ocupado no aformose a mento dos j ardins, e naturalmente com a d~
1
co r a Ção. Observamos igualmente que a azulejaria de tipo mudéjar sevilhana
ficie plana, pre ferindo-os aos de aresta, se não o desejo de dar à sua casa
esse carácter moderno tão caracterí s tico do ''renasci mento"? t que os azulejos
O novo azulejo era esse ladrilho p lano, mais simples, de colorações mais
q v . 'i"' ,,
suaves, adaptando-se melhor à arquitectura das ~·. Os mensag eiros desse
' ao ·
1
novo gosto decorativo para Espanha e para Portugal, haveriam de dar o golpe
dos tipos conhecidos da queles centros cerâmi c os, dando mostra d e originalidad~
bem diferenciadaS ,
de maior quantia - há que di s ting uir mais de um tipo de azulejo, uma vez que
1
são patentes diferenças de qualidadeo( )
( / t) Já Reynaldo dos Santos (op. cit. pp. 57) observava que nesta classe de
azulejos da Bacalhoa se notava a intervenção de mais de um artífice, prQ
pondo mesmo a sub-divisão dos exemplares em dois grupos, caracterizados
pelos primores de execução.
Uma primeira distinção se deve lazer entre os azulejos destinados à d~
coração abstracta - tapetes de padronagem de repetição - e aqueles formando
ainda há que distinguir os que parecem poder atribuir-se a um bom artista pill
vários exemplares.
XVI se espa lharam pela Europa. E natural que os "male gueiros flamengos"
padrões Fig.
• { 1:....
) de desenhos fitomórficos estilizados, com maior
densidade de brancos.
mais livre no segundo grupo, ().,.. :'fALa. 'f........., kc.Vl i .:~ ~ "' ~~-
ta o tanque pelo poente. Aqui é manifesto que se começou por eleger azulejos
ponsável por estes já tinha adquirido maior segurança no emprego das cores e
no doseamento do fogo.
I li
Em todos os casos de decoração por tapetes com os padrões do primeiro
te, o. f!Ue reforça a hipótese de uma escalonagem no tempe 1....,. ~ v r't-dj........_ ,;... 'j-<>Jfo .
mia -
.- - que ~e julgaram ser o Rapto da s Sabinas - é feito sobre uma es-
tampa de Aeneas Vico, datada de 1542( ,)modelo que foi utilizado por cera-
___ Quanto á cena de Suzana e os velhos, é também feito segundo uma estampa de
no Museu de Bruxelas(o )
Quanto á ale goria a o ,Rio Tejo - infel i zmente com grandes la c unas- ela pr~
cidade. São conhecidas algumas destas Potetmaquias, como por exe mplo, as
nichos foram coloc a dos azulejos planos com os letrei r os: IVSTIÇA, PRVDEMCIA,
com meninos brincando dos quais alguns exemplares foram encontra dos na
Quinta e recolhidos por Mrs. Scoville. Eram deste rodap~, sem dÚvida, os
c nica. ( fo OS )
C) Azulejos ornamentais (r..t~~ ..._.) 1 ~~"'
,A)
. No pequeno páteo que dá entrada para a"Casa de .!~uarnecendo as f,!!
ces dos alegretes, estão pequenos grupos de azulejos de tipo ornamental com
d~vida, ao mesmo autor dos rodapés atraz mencionados tendo, sem d~vida, feito
cinco paineis com outras tantas alegorias de Rios, ostentando os nomes: DOVRO,
MONDEGUO, WILO (Nilo), EVPHRATES e 1fANVBIO, de 7xl3 azulejos, cadao Nem todos
estes paineis terão sido pintados pelo mesmo artistao Há uma nítida diferença
te ou aprendiz". (
Poderemos concluir que, tal como vimos no caso dos azulejos ''de padrão"..-
~foreiras do páteo.
2 • Os paineis dos Rios, da galeria, e os azulejos do a leg rete do ~Rapto de
Europa".
natural que, conhe cendo- se o nome de Franc isco de Matos, assi nando os paineis
de S . Roque, em 158~, tivesse ocorrido que o ••• TOS da Bacalhoa, ligado ao
me nte, a disparidade morfoló g ica e técnica, par e cem opor-se a uma i de ntifica-
'l1 eixeira de Carval ho sopunha· que Francis c o de Matos "tivesse feito a sua
educação em Talavera e que seria o tal "oleiro" de que fala Severi m de
Faria.
Vergilio Correia opinava que Francisco de Ma tos "tivesse sido educado
artísticamente em Itália ou na And a luzia, por ventura na escola de Cris-
tlàbal de Augusta".
Finalmente Reynaldo dos Sa ntos, era de parecer que Francisco de Matos
tivesse sido formado em Sevilha, e apenas lhe atribui os azulejos mais
perfeitos da Bacalhoa - os dos rodapés.
mas ligações deste com "malegueiros flamengos", preci s amente em 1575, parecem
à actividade desse s ceramistas !lamengos, e que com eles terá colaborado 1como
mo a da "Bacalhoa", não há dÚvida de que ambos os palácios são fruto das pre..Q.
nascentismo.
lam como vfs'/1\roe humanista, o responsável pela construção desse palácio t..Q.
lise cuidadosa revela no entanto que este silhar apenas guarnecia primitiva-
cercad ura de óvulos, tendo como motivos cenas mitológicas e venat6rias. Reco-
1
nhecem-se, por exemplo, representações das Metarmofoses de Ovídio - Marte e
ao veado e ao javali. ' ~ manifesto que alguns azulejos não são originais e que
Sabemos que a Quinta das Torres foi mandada construir por D. Diogo de
Eça, o qual nela faleceu "fazendo vida de filósofo antigo" em 1594. Deduzimos
também que o mesmo fidalgo, ausente de Portugal por razões políticas, ~á es-
taria de regresso cerca de 1570 e que~ nesses anos, o palácio tomava forma~ )
( ) J. M. dos Sant~s Simões - Panneaux de Majoligue au Portuga1,.in "Faenza"
Anno XXXII, 1946, PPo 76 e s egso)
1565 com os belos paineis historiados. Souve ou não emulação, mas é inegável
Albuquerque.
quinta, em 1961 , al g uns outros que deveriam ter feito parte de um painel ilu~
trando a "Adoração dos I1agos". I gnoramos onde estes a zulejos poderiam ter es-
quinta . Entre os azulejos que no século XVIII serviram para remendar faltas
ou danos no silhar da '' galeria" vêm-se peças que deviam ter pertencido ao pa,i
nel "A do ração dos Magos" o q ue par e ce comprovar - que este já tinha sido desmem
Também no caso dos azulejos da Qui nta das Torres, os pintores se servi-
mas das diversas versões das "Venatória" de Jan van der Straat .
silhar da Galeria das "Torre s" são coevos ou ligeiramente posteriores aos me-
na de Lisboa onde não era estranho o trabalho ou a inf l uência directa dos "m~
legueiros flamengos"o
LISBOA - Colevção Coelho da Cunha: A primeira grande colecção p articular de
azulejos de Po r tugal foi a inici a da pelo g rande esc r itor e jornalista Alfr edo
da Cunha, continuada e notàvelmente ampliada por seu filho o Senho r Dr. Jos~
Coelho da Cunha.
No belo palácio do Larg o de S. Vicent e - out r ora Casa Nobre dos Noronhas -
lidades.
a biblioteca, o qual provem de uma edificação desap arecida, junto à ant iga
policia o
Bacalhoa. Neste caso, porém o conjunto parece mais cui dadoso, enriquecido com
A igreja das Merc~s datava, na sua Última forma, dos meados do século
XVII, mas assentava no local onde já existia uma casa-nobre que s e rviu, tam-
de Albuquerque.
Agostinhos foi das que mais sofreu com o terramoto de 1755. Antes, admirava-
-se o templo de três amplas naves e capelas laterai s , obra que se impunha á
a nave era toda a z ulejada:"e fazem campear o azulejo dourado, de que esta cu-
berta toda de alto a bayxoo E do frizo mais vizinho à sua abobada até o ulti-
mo pavimento".
que os azulejos a que se refere fossem de tipo de ' tapete ~ já do século XVIIo
~Tt-
Porém, do século XVI é seguramente o azulejamento da a ntiga -s a cristia, hoje
passagem entre o cruzeiro da igreja e a nova e impone nte sacristiao Não é po~
"-9......Qd.
sivel fazer ideia do que seria ~ quadra, uma vez que ela f oi sub stancial-
do século XVIII.
Temos apenas o teste munho dos a zulejos que foram escapando, suficientes
no entanto para poder admi rar uma da s mais originais criações da azulejaria
azuis, verdes e ocres - mas o que surpreende é a sábia compo si ção obtida com
a l iaz, conco rda com o seu tipo tecnológico e com a gra mát i ca ornamental de
sabor flamengo. ~/L r~ I~ ~ -~, .vt r .:.....r4-~af·U -~~
~l...c,r ay-·-~~·"'- ~ {3a.c a. ff.....,,;_ .J2. " ~ ~ 1~ ~· L. ;'j..-rp .Jr ~
Gl.e:J.,~--..._ L,-;6,,<4 J..... ~ ~ N~ J~c.........._ .k v~ -~,k~·" J-t}~
~,~ Lr'.s 6c-e... t~ ~r:..r~ ~D(..,_ ~ ~c:..t r----.:.-t...r~~r«-r-...ç- . ._.__,
-~~ J-,z. ~ ,_ ~... o c:.,-.:.-. Ji ""'-' 1~ ,_ r~ ~ + ·:c. J.J._
~~ ~ Jc--~,;....... ~ •
IJ. o
Deste padrão derivam os esquemas de uma família que vai r roliferar nos prin-
cípios do século XVII mas, os exemplares mais antigos, distinguem-se dos seus de-
1
rivados não só pela mais fina execução do desenho como pela nitidez das cores,
acusando a próxima parentela com a técnica das 1Jcores de Pisa'! Não podemos acer-
tar com exactidão o ano de fabrico destes azulejos mas ele não deverá afastar-se
f
de 15,0, data em que começa a diferenciar-se a fabricação portuguesa deste tipo.
N esta sacristia da Sé Velha de Coimbra encontramos já perfeitamente definida a
intenção decorativa com tapetes de padronagem polícroma, limitados por cercadura
própria, interb cionalmente feita para equilibrar a decoração e integrá-la na arqui-
tectura.
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) I
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camente de ser vistos pelo público desde 1861. Deve -se a Ribeiro Guimarães, no
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Sumário de V•ária História ' a revelação moderna destes azulejos e a sua atribu-
lada história.
) Ribeiro Guimarães, Summário de Vária Histó~ vol. II, pp. 100. e segs . , Lis-
I
boa 1872. Outras referências: Joacp im··'de Vasconcellos , Cerâmica Portuguesa,
vol. II, pp. 12 e segs.; José Queiroz , Cerâmica Portuguesa , pp. 249; Libera to
Teles, Pavimentos, pp. 24; Matos Sequeira, Depois do Te r ramoto, vol. IV , pp.
57.; Nuno Catarino Cardoso, Azulejos, fase. 7; Guia de Portugal, vol. I, pp.
227: Reynaldo dos Santos, A. Arte do azulejo em Portugal, pp. 61.
Quando em 1845 foi decidido demolir o que restava da velha igreja de Santo An-
dré, houve o louvável cuidado de salvar os azulejos que se mantinham cuja beleza
e raridade eram já tradicionais. Foi José Valentim, lídimo e incansável defensor
das antiqualhas lisboetas , quem pugnou pela conservação daqueles azulejos chaman-
do para eles a atenção do q\rquitecto camarário Malaquias Ferreira Leal. o qual ,
por sua vez, fez interferir o Professor da Academia de Belas Artes Francisco de
Assis. Foi assim possível que o Ministério das Obras Públicas mandasse arrancar
cuidadosamente os azulejos os quais, devidamente numerados e embalados , ficaram
depositados ao cuidado da CJDfiX~ Intendência das Obras Públicas.
Em 14 de Março de 1861 o Conservador-ajudante da Biblioteca Nacional, Fran-
cisco Martins de Andrade , dirigia um ofício ao Bibliotecário Mor dando parte da
existência dos azulejos "salvos da f"" uria do escopro e da picadeira pelo zelo tão
mal apreciado do nosso benemérito desenhador o Senhor José Valentim de Freitas
e de outras mais pessoas ... ". Ao descrever os azulejos diz:" Reputam-se obra
do XVI século; devem ser conservados pela sua antiguidade pela qualidade da sua
construção, pela relativa p erfeição da sua pintura e pelo que pode m servir á
Portug al, co mo dizem que este veio, comprar-nos al g umas pedras de calçada ••• "
Foi port a nto em 1861 o g rande paine l da anti g a capela da Senhora da Vida
colocado em um dos corredores da Biblioteca Nacional, no antigo edifÍcio do
-se uma parede c om dime nsões suficient e s. Assim mesmo houve que encurvar a pa~
Senhora d a Vida, visto a p e nas pór meia dÚzia de curiosos e e s tudio sos a quem,
com dificuldade, se aut orizava a visita a esse corre dor. Assim me s mo, a fama
salvag uar da dos e, p o ssivel mente, c e didos ao mes mo Museu q ue os faria ins talar
~ sentaç ãoo
O g rand e painel tem 1.384 azulejos, com 4,60 mo na base e, senslvel mente,
a mesma altura. Ocupava uma das parede s l a t e r a is da Cap e la onde s e abr i a uma
janela e os azule jadores tivera m o cuida do de compor o quadro por forma a coA
t a u-se aquele vão para colocar um painel de 5x7 azulejos - enquadrado por az~
lejos marmore ados cor de rosa- onde se es c reveu a legenda: "Este azulejo era
Demolida a egreja em 1845/se lhe tirou este azulejo,/ gue foi requesitado para /
esta Bibliotheca pelo Con•/ servador F. Martins de/ Andrade, e neste logar/
identidade de autoria.
O painel foi descrito por Reynaldo dos Santos( ~ )o qual se faz éco da
descrição de Ribeiro Gu i marães, aceitando como boa a data de 1580 (que s e lia
não em azulejo, como escreve, mas numa lápide na pare de fronteira à que o pai
LISBOA -São Roque: No local onde se ergue a igreja de São Roque, hoje ligada
á ~nta- Casa dla Misericórdia de Lisboa , existia desde 1506 uma ermida com a
mesma invocação pertenç·a de uma irmandade ou confraria de clérigos , conhecidos
por Padres ou Irmãos de São Roque. Quando a Companhia de Jesus procurou em
Lisboa local para uma casa professa , obteve autorização de D. João III para s e
acomodar com os padres de São Roque e, depois de algumas diligências , foi re-
solvido construir no local uma nova igreja , com a condição de se cons e rvar o mes-
mo título. Em 1553 tomaram os jesuitas posse da ermida e onze anos depois dava-se
início á nova obra que em 1577 já atingia condições para nela se proc e ssar a vida
r e ligiosa.
De acordo com o convénio, ficou a Irmandade de São Roque com sua capela
privativa , - a capela de S. Roque - na qual se esmeraram para que se ressalvay se
a dignidade dos confrades e a gratidão dos padres da Companhia. É nesta capela
que se encontram os azulejos mais belos e mais important e s de quantos até então-
coloc A. .-~
e mesmo depois-se fi!!: tU lUn em Portugal.
Para o vevestimento das paredes laterais encomendaram-se os azulejos que
se autenticam com a assinatura de Francisco de Matos e . ~.a data de 1584. Primiti-
vamente o paramento certtmico revestia igualmente as duas paredes , fronteiras uma
á outra 1 desde o. pavimento até á sanca numa altura de azulejos. No princípio do
século XVIII, ao reformar-se o retábulo , foi colocado um grabde quadro com sua
moldura de talha, na parede do lado do evangelho 1para o que se removeu a parte su -
perior do revestimento de azulejos.
Da--saparecidas com o Terramoto de 1755 as muitas igrejas e conventos onde
sabemos terem existido decorações azulejares de muita importância, tais como
as do claustro do convento de S. Francisco, as do claustro e portaria da Graça , as
do Convento da Trindade ou as da Casa do Despacho da Ordem Terceir a do Carmo,
pode considerar#-se milagroso o ter escapado São Roque a tão espanto ffi cat~strofe .,.
..,. ~JI..o r frr ; ~ s iJ~
Os azulejos da capela desta igreja são os 1Íni eos qlie'v:fíOs testemunham o que iBà.
"""""' .....u:;~ ,;.....'c.&J 4.n <1-.o
a produção portuguesa de azulejo artístico em Lisboa, -G~tr:a:meníL!t&àa: século XVI.
O problmrna dos azulejos de São Roque foi,- e é ainda;-. quiç~ o mais importante
e intrincado da história do azulejo em Portugal. Sobre ele se têm pronunciado todos
os ceramógrafos, cada um procurando entender a sua linguagem , aventando hipóte-
~rAA<Áo ~
SeSYqUanto á personalidade artística do misterioso Francisco de Matos . ~. quanto à
excepcional qualidade técnica de que são prova. O cronograma - 1584 - assegura a
época da sua laboração mas não é suficiente para a colocar no "tempo técnico "por-
tuguês. Na verdade, a obra aparece -nos singularmente isolada nos processos que
""
por esta época se utilizavam na cerâmica lisboeta: 4ão apenas a segurança e cor-
recção do desenho , já de si notáveis , mas sobretudo a qualidade cerâmica do colo-
I) ' I
rido , dominado pelo amarelo f}álido do fundc .J e pelas dosagens em meia tintas dos
azuis e dos roxos de · ~manganés . Igualmente singulariza esta obra a sábia composi-
ção ornamental perfeitamente equilibrada com o conjunto arquitectónico, pressupon-
do da parte do artista o mais requintado gosto e perfeito conhecimento das tendências
estéticas da época.
A verdade é que tal qualidade técnica e artística nos aparecem tão isoladas no
conjunto da cerâmica decorativa portuguesa)como, d€-eeFto-ffi.eàe, sHn': , podemos
dizer, na cerâmica decorativa de qualquer país nesta mesma época. Ao tentarmos
encontrar a génese de tal obra, procedemos por exclusão de partes, compa r ando-a
com o que se produzia na Europa d~ntão, r re levados a afastar uma a uma as
várias hipóteses de comunhão com outros centros cerâmicos. Nem em Talavera de
la Reina nem em SevilhaTmuitos menos em Valência-Se nos depara produção equiva-
lente em qualidade. Qualquer daqueles centros , ainda que dando provas de v italidade ,
estava em face decadente. Fora de Espanha seria impossível encontrar um centro
produtor capaz de tal obra: a Itália é então dominada pela cerâmica veneziana e li-
gura , interessada principalmente na imitação das porcelanas or ientais; de Flandres
haviam dese ; tado os Últimos ceramistas da maj6Üca e, para nenhim dos países on-
de se dirigiram, levaram até tão tarde , as excelênciast técnicas que observamos e m
S." Roque. Em França , - em Ruão, Lille ou Lyon - os ceramistas recozem uma cerâ-
mica tornada tradicional: Na ~""v;• Holanda a arte do azulejo atrofia -se na repetição
de modelos seriados, d e _c_,-o f o p_,._.ji a..< ·
Francisco de Matos, de cuja nacionalidade por tuguesa nunca ninguém duvidou ,
aparece-nos assim como um caso isolado. Já Reynaldo dos Santos estab e l e c e ra um
paralelo problemático com o "Nuno Gonçalves" dos paineis de São Vicente de Fora
e , em ambos os casos , temos uma obra "isolada" , sem nada que a explique antes
nem mesmo imediatamente depois .••
A hipótese de uma ligação entre Francisco de Matos e Marçal de Matos pode
servir como esperança para uma e x plicação, mas, assim mesmo , aceitando Marçal
o
de Matos como pintor• .responsável pelos melhores azulejos da Bacalhoa ,( eventual-
mente também pelo grande painel da Senhora da Vida) e sqündo-o avô de Francisco
de Matos; a diferença de qualidade entre todas estas obras é tão grande que se torna
~j.;_ c..Ve
~ossive1 ide ntificá-las;como resultado ime diato e lógico de uma evolução4/tú . . ...e.
Pre valece portanto o problema dos azulejos de S . Roque como uma incóghita.
- ,fl.c-,
Ac e itemo~ oe !MW:la~ , tal como eles nos são oferecidos, o que se nos afigura se r,
de facto1 o mais importante.
O pintor distribuiu piela parede a decorar uma ornamentação de folhag e ns se-
guindo a sintaxe ornamental flamenga. Urnas alongadas , máscaras femininas, rama-
gens desenvolvendo-se em largas curvas , cachos de frutas característic~ts , tudo con-
duzindo a um motivo central constituido por medalhão eliptíco dentro do qual se pin-
n-
o s~ J..o ;..._ ti(.4JU..é-...~.:.0 Cl.<9......,..Tec.-fo ~ c~ .t1. o... frc-o~ ~ ';-'~ ~ 'i'"'-~·~ ~c:STi "c.:t .