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Universidade Federal de Santa Maria

Programa de Pós-Graduação em Letras


Teorias de Argumentação
Prof. Gil Negreiros

A representação do discurso outro: um


setor da atividade linguageira

Karina Costantin
➔ 5º capítulo: A representação do discurso
outro: um setor da atividade linguageira.
➔ Autora: Jacqueline Authier-Revuz.
➔ Tradutores: Carlos Eduardo Silva Pinheiro,
Alena Ciulla, Jéssica Oliveira Fernandes,
Isabel Muniz Lima e Suzana Leite Cortez.

“Este capítulo é parte do livro mais atual de


Authier-Revuz (2020), em que a autora retoma
funções metadiscursivas inerentes à prática
linguageira, para chegar a mais recente concepção
de Representação do Discurso Outro” (p. 10).
Jacqueline Authier-Revuz (1940, 81 anos)
➔ Linguista da Enunciação;
➔ Interesses de pesquisa: Heterogeneidade e
dimensão metalinguagem da enunciação:
autorrepresentação, representação do
discurso outro - questões de linguagem,
discurso, escrita, subjetividade -; linguagem e
psicanálise.
Palestra na Abralin, em julho de 2020, intitulada:
Revisiter le « Discours Rapporté »: la réflexivité
métalangagière au cœur de l’énonciation - enjeux
langagiers, linguistiques, discursifs, subjectifs de la
Représentation du Discours Autre. Disponível em:
https://aovivo.abralin.org/lives/jacqueline-authier-rev
uz/
Algumas obras da autora
A representação do discurso outro: um setor da
atividade linguageira
Sr. Jourdain: Quando eu digo “Nicole, eu lhe disse para me trazer minhas pantufas”, é
metalinguagem?
Sim! Usamos a metalinguagem tão comumente quanto “batemos papo”;
Metalinguagem: refere-se aos dizeres sobre um dizer (familiar ou mais
elaborado), em “nível” intralinguageiro (da linguagem tendo como objeto ela
mesma);
“(...) linguagem humana dita “natural”, ou seja, de um dado observável dos
planos linguísticos, discursivo e linguageiro, aquele do subsistema, incluída na
língua, da metalíngua e da variedade de funcionamentos metadiscursivos
inerentes à prática linguageira”

p. 133
1) A metalinguagem no centro da prática linguageira
1.1 A metalinguagem está na linguagem, a metalíngua está na língua.
1.2 Do metadiscurso na discursividade à distribuição interna da
enunciação.
2) Delimitação da RDO no espaço metadiscursivo: traçado de fronteiras
2.1) Três zonas de referência para o metadiscurso;
2.2) Representar a língua ou o discurso?
2.3) Este discurso que representa o Discurso: um outro ou ele mesmo?
2.4) O outro dizer, parte integrante da autorrepresentação

p. 134
1) A metalinguagem no centro da prática linguageira
1.1) A metalinguagem está na linguagem, a metalíngua está na língua
➔ Reflexão de Benveniste sobre língua, linguagem e enunciação;
➔ “a língua pode, em princípio, categorizar tudo, inclusive a si mesma”
(BENVENISTE, 1947);

“(...) um “privilégio” da linguagem humana dentro os outros


sistemas de signos: “Nenhum outro sistema de signos tem uma
‘língua’ na qual ele possa se categorizar e se interpretar de
acordo com suas distinções semióticas[,...]” (BENVENISTE,
1974, p. 61-62)
p. 134
➔ Linguagem das abelhas: a comunicação refere-se apenas a determinado
dado objetivo (planta X; direção Y; distância Z), ou seja, a abelha não
constrói uma mensagem a partir de uma outra mensagem;
➔ Nesse sentido, Authier-Revuz afirma que não haveria RDO na comunicação
das abelhas, pois esse sistema de signos não é capaz de categorizar a si
mesmo, como o fazem as línguas naturais humanas.

p. 134-135
1.2) Do metadiscurso na discursividade à distribuição interna da
enunciação
Uma metalinguagem de rosto familiar “parte integrante de nossas atividade
cotidiana”, que desempenha “um papel importante na linguagem cotidiana” e
que “praticamos sem nos darmos conta”, foi a que Jakobson (1963) nos
apresentou, separando o nível “meta” da linguagem de sua restrição à prática
científica, controlada, de descrição linguística (p.136).

Fonte: Jakobson (1963)


Função metalinguística

“(...) nos fatos do discurso,


chamou atenção para os gêneros
dos discurso, práticas e operações
que são predominantemente
metalinguageiras, ao mesmo
tempo que nos convidava a
considerar os níveis internos do
“meta” como um componente
inalienável do fato enunciativo” (p.
137).
Fonte: Jakobson (1963)
É um “continente metadiscursivo” que tomou corpo (...) e que é abordado sob
vários ângulos:

➔ Operações especificamente metalinguageiras - exemplo: traduzir,


reformular, corrigir.
➔ Práticas e gêneros discursivos para os quais a dimensão metadiscursiva é
importante - exemplo: boatos (parece que ele disse…), artigos de divulgação
científica (especialistas dizem...).
➔ Contextos situacionais aptos a suscitar a emergência metadiscursiva, tal
como o processo de aquisição da linguagem, ou a imensa diversidade de
situações de contato entre línguas ou variedades, investigadas principalmente
por uma sociolinguística “conversacional”.

(p. 137-138)
➔ A ligação entre heterogeneidade e reflexividade vai além de situações
particulares é em todo o dizer;
➔ Quatro dimensões são afetadas no ato de dizer:

“Os dois interlocutores, irredutivelmente, não são “um”; a palavra não é uma
coisa aquilo que ela nomeia; não somos um com “nossas” palavras, sempre
emprestadas; e a palavra - que é atravessada por polissemia e homonímia-
não é uma com ela mesma”.

Os “pontos sensíveis” de desdobramentos do dizer não devem ser considerados


como falhas no curso de uma comunicação, mas como emergências pontuais, os
afloramentos do dizer, das duas dimensões que, solidariamente, o trabalham: as
não coincidências fundadoras e a distância reflexiva em que esse dizer ocorre”.

Implica mecanismos de ajuste entre sujeitos e os da “reposta internalizada” que


comporta toda fala “pelo outro”.
(p. 138-139)
➔ “(...) “esquecimento” salutar do jogo incessante”;
➔ O linguística pode reconhecer o fato metalinguageiro como inerente à prática
linguageira: no plano estrutural, nas realizações discursivas e no centro da
enunciação e da relação humana com a linguagem;
➔ RDO não deserta o espaço da enunciação, mas ancora-se nele e assim
lança luz sobre o que está em jogo, em seus planos, na especificidade dessa
prática metadiscursiva.

(p. 139-140)
2) Delimitação da RDO no espaço metadiscursivo: traçado de fronteiras
2.1) Três zonas de referência para o metadiscurso:
Obs 1: Nota terminológica
Metadiscurso é a metalíngua em emprego e ação.

(p. 141-142)
Duas oposições - hierarquizadas - podem estruturas, em três zonas, o conjunto
de enunciados metadiscursivos, tais como, por exemplo:
Com base na natureza dos objetos
linguageiros dos enunciados, a primeira
oposição é entre linguagem, a língua e os
seus “tipos”, por um lado (1-3), e os
discurso e os “tokens”, de outro (4-8); a
segunda distingue os discurso em
andamento (4-5) de outros discursos (6-8).

(p. 142)
2.2) Representar língua ou o discurso?
Um oposição crucial - zonas fronteiriças delicadas
Campos da língua ou do discurso determina as condições de sua
“representabilidade”:
Somos, com a língua, seus signos, categorias, regras, ao lados de
elementos abstratos, fixos, pertencentes a um sistema finito,
reproduzíveis de forma idêntica;
Enquanto que com o discurso são eventos concretos, singulares,
impossíveis de “reproduzir” que se oferecem, inesgotavelmente, a uma
representação incompleta, aleatória a cada vez, com a questão do
sentido.

(p. 143)
A língua como “o que é dito”
A língua também é representada através do dizer de seus usuários
como o que se diz, o que é dito. Esta representação da linguagem via
discurso - ditos e a dizer - da qual ela emerge e que modela passa por
formas semelhantes às da RDO.
Entre (a) as descrições intralinguísticas, cortadas do dizer, e (b) a referência a
fatos singulares de discurso, tais como, as “citações de autores” de
gramáticas e dicionários, que enquadram totalmente em DD, da RDO,
aparece o espaço (c) das formulações espontâneas ou aprendidas, em que
discurso e língua, empurrados até seus limites, se articulam um ao
outro.

(p. 144)
Língua ou discurso: ambiguidade
“É basicamente a consideração de elementos cotextuais relativos à
determinação, ao tempo, ao aspecto,... que permite interpretar, em
enunciados, o objeto linguageiro representado como pertencente à
generalidade abstrata da língua ou à concretude do discurso
baseada em eventos”.

(p. 146)
Variação na língua e encontro da alteridade no discurso
É também o fato da variedade - o “pluralismo” interno à língua, de
Bakhtin - que questiona articulação língua/discurso: os lexicógrafos
estão bem cientes disso e os seus dicionários de língua multiplicam as
indicações “discursivas”. Sua incidência não é a mesma no
metadiscurso do dicionário, com sua posição (imaginariamente)
"atópica" diante de uma diversidade que ele suspende, e na prática
metadiscursiva espontânea, em que, a enunciada a partir do discurso
em andamento, a representação de um fato de variedade aparecerá
como a de um outro deste discurso, emergente, dialógico, no fio dizer,
um discurso outro.
(p. 147)
Com a “Modalização autonímica de empréstimo” (MAE), em particular,
da RDO (como diz…) passamos, insensivelmente, para este mesmo
lugar “do outro” ou “do exterior” ao discurso em andamento, de atos
singulares de discurso às variedades de língua - através de todas as
ampliações em termos de pluralidade de fontes e/ou de hábitos - para
chegar além da extensão indefinida do "como se diz", ao paradoxal
"como diz a língua", que, excedendo a perspectiva da variedade
"diferente", por mais ampla que seja, situa na língua comum um lugar do
Outro atravessando nosso discurso.

(p. 147)
2.3) Este discurso que representa o Discurso: um outro ou ele mesmo?
Especifica o contorno da representação de um discurso outro (RDO), nosso objeto,
em relação à zona vizinha de autorrepresentação do discurso em andamento (ARD):

Para todo o enunciado relevante da representação de discurso, coloca-se


crucialmente a questão da relação entre os dois planos, de status diferente, do
ato ali realizado, instância representante, e do ato que ali se encontra como
objeto representado: referencialmente disjuntos na RDO, esses dois planos se
sobrepõem na ARD. (p. 148)
(p. 148)
2.3.1) O outro vs. o mesmo: traçando uma fronteira
Acoragens pessoais e temporais dos atos representante/representado.
ARD requer, entre os dois atos A e a, a coincidência referencial do conjunto
de parâmetros da coenunciação (L=l = eu, R=r=tu), da ancoragem temporal
e espacial (T= t = presente instantâneo, Loc= loc= aqui mesmo), tal como
ela se manifesta em enunciados performativos, no sentido estrito ou amplo.
Ex: Eu lhe parabenizo, aconselho, agradeço, etc.
Um único elementos diferente é suficiente para inscrever a alteriedade na
relação A/a e, por isso, o enunciado RDO. Esta é uma condição necessária
e suficiente para o reconhecimento de um fato de RDO.

(p. 149)
Os critério clássicos para a delimitação do performativo, opondo o exemplo
anterior a Ele te felicita (L≠l), eu te falei (R ≠ r), eu te parabenizei (T≠t), desenham,
complementarmente, o espaço da RDO, espaço no qual se desdobra, assim que
fazemos variar o conjunto de parâmetros dos coenunciadores e da ancoragem
temporal, uma ampla gama de combinações.
O caso em que L= l isto é, em que nos referimos às nossas palavras, mas em
outro tempo (eu te disse, eu te direi…), dirigido a um outro, é totalmente
relevante para a RDO, como uma de suas facetas, interessante em termos de
inclusão de sujeitos em seu discurso.
Portanto,é importante distinguir entre o que é representação de um outro dizer
de si (RDO) do que é autorrepresentação do dizer em via de se fazer, por
definição “de si” (ARD), o que nos faz passar ao campo, enunciativamente outro,
do desdobramento do dizer realizado por meio de - ou acompanho por- sua
representação.

(p. 149-151)
A realidade conferida ao ato representado
A não coincidência entre a A e a, atribuindo tal representação de
discurso ao campo da RDO e não à autorrepresentação do dizer em
andamento, envolve também a questão da realidade conferida, na
representação, ao ato representado.
Os enunciados que representam os dizeres virtuais, imaginários,
hipotéticos, negados, do tipo eu nunca disse...; ah, se ele pudesse ter dito...;
será que você poderia dizer-lhe...?, nos quais a não realidade do a
representado é acrescentado à sua não coincidência referencial para
distinguir dois atos A e a sem dúvida pertencem a RDO, em que ocupam um
lugar importante. O status dos enunciados do tipo performativo com
coincidência referencial (pessoal, temporal) entre A e a, assim que a
realidade do ato representado é posta em questão, é mais complexo. Assim,
em:
Eu o parabenizo
Eu lhes digo que votem em X.
(p. 149-151)
A representação assertiva, afirmativa, no indicativo, de a (ARD) faz parte
do desempenho performativo de A; nas representações de a, marcadas
pela interrogação (a), a negação (b), a hipótese (c), A não coincide com
o a, questionado, separado, imaginado, que ele representa:

a) Será que eu te parabenizo ou, pelo contrário, te condeno?


b) Não te parabenizo, eu sei que isso te irritar.
Não estou lhe dizendo para votar em x ou y, estou muito incerto.
c) Eu lhe agradeceria, se você tivesse feito isso de propósito.
Eu lhe parabenizo, e você vai acreditar que isso aconteceu!

(p. 153)
Digressão da ARD: o espelho de faces do eu (te) dito

São numerosas as faces do espelho, em que o dizer que está sendo


realizado pode ser representado, de várias maneiras no plano de uma incidência
do ato, do conteúdo ou das palavras do dizer, e no plano das nuances modais,
estruturas sintática e no nível de cristalização.
Dentre estas formas que são externamente corriqueiras em todos os
registros, encontramos construções fráticas:

(p. 154)
ARD/RDO: efeitos de junção

A oposição entre representação de um discurso ou outro, de outrem ou de


si, e autorrepresentação do dizer - para além de sua relevância em caracterizar
os discursos pelo lugar que eles dão a cada um dos dois - se presta
voluntariamente a efeito textuais, voluntariamente enfáticos, de confronto - e de
realce - articulando RDO e a ARD. Tais quais:
➔ A cumulação dos dois no “eu te repito, reafirmo, redigo”,
autorrepresentação, aqui e agora, de um dizer que lexicalmente, explicita
sua dimensão de já-dito:

Eu te repito pelo enésima vez que ele disse que não queria ser pago.

(p. 156-157)
2.3.2) O outro e o mesmo: ambiguidades, cumulações e “aparências”

“(...) linha complexa entre as duas versões da representação do


discurso” o que ocasiona casos de ambiguidade, mais interessantes
quanto às questões semântico-enunciativas das relações, no dizer, entre
o mesmo e o outro, bem como casos de indeterminação e de
articulação.

(p. 159)
Imprevisibilidade do “presente” e incertezas do eu te digo entre ARD
e RDO

Os valores classicamente descritos do "tempo verbal" presente, para


além da estrita contemporaneidade com o tempo de enunciação (esse
precisamente da performatividade) - extensões ao dito presente da
verdade geral e mudança nos chamados valores ditos do futuro próximo
e do passado recente são evidentemente origem de enunciados como
em eu te digo, se provendo RDO:

(p. 159)
Da mesma forma, casos de ambiguidade no nível da frase, em que
apenas o acontecimento discursivo permite atribuir um ou o outro dos
dois valores são numerosos; assim:

(43) Eu digo a mim mesmo que tenho que me levantar mas não consigo.

Se o contexto à esquerda for “todos os dias é a mesma coisa” ou


"Eu sei são 7 da manhã", esse serão tratados como RDO vs. ARD.

(p. 159-160)
Um reflexo (ARD) perturbador do “UM” do dizer

Formas que, marcando no plano temporal e/ou modal uma não


coincidência de o com O, indicam, contudo uma autorrepresentação do
dizer. Paradoxo de uma autorrepresentação que passa por formas que
são as da RDO - de um discurso outro pelo tempo, modo-: no espelho
de sua autorrepresentação, o dizer, desdobrado, mais do que se repetir
por um eu estou dizendo, se desagrega, decomposto, na continuidade,
em momentos sucessivos, ou incrustado, em sua “espessura”
enunciativa, de um nível do não-dizer.

(p. 163)
O dizer decomposto em etapas por seu reflexo: eu vou dizer, eu disse...

Em relação a fronteira entre o eu estou dizendo da coincidência O/o


e tudo o que - RDO - se distancia no plano temporal ou modal, é um
enclave de representação de discurso outro em território de
autorrepresentação do dizer que constituem as formas do tipo que eu
vou dizer/eu disse as quais colocam em jogo, decomposto em seus
vários momentos, o processo de dizer que está se fazendo. Incidentes
do conteúdo ou da forma do enunciado (globalmente ou em parte),
essas formas desdobram "o" tempo de dizer em imagens, fortemente
modalizadoras, de movimentos prospectivos (a) - projeto de eu vou
dizer, eu direi, digamos questão que o dizer diferencia do direi eu?, ou
como dizer/direi eu? - ou retroativos (b) eu disse, eu não disse, eu
quase disse.
(p. 163)
Especialmente através das subordinadas metaenunciativas (hipotéticas),
do modo verbal (condicional), da modalidade (interrogativa) , da polaridade
(negativa), dos tempos/aspectos (eu quase disse, eu ia dizer), é, em graus
variados, é da ordem de uma “ausência” que o dizer encontra no reflexo de
sua autorrepresentação.
A realidade do dizer - a de um eu digo - encontra-se reestabelecida
pelas simples potencialidades, suspensa, questionada, negada.

(p. 166)
2.4 O outro dizer, parte integrante da autorrepresentação

Um dizer único pode, com os espelhamentos temporais e modais


"alterado" o reflexo que ele dá de si mesmo (ARD), "não coincidir" sem
convocar o outro lugar (RDO) de um outro discurso: qualquer outro é o
caso em que a referência a um verdadeiro discurso outro (o, distinto de
O) intervém como um parâmetro essencial da autorrepresentação de um
dizer.
(66) ... eu digo isso com base no que me disseram…
(67) … eu tomo aqui emprestada a palavras de L.

Vemos que, no retorno do dizer sobre ele mesmo, um outro dizer


encontra-se de fato convocado como origem do primeiro.
Nesse sentido, combinado, hierarquicamente, ARD e RDO, o movimento
metaenunciativo de retorno ao si do dizer passa por - seu encontro com
- um discurso outro.
Essas formas explícitas - através de um principal do tipo eu digo ou de
uma subordinada que a implica - de retorno metaenunciativo sobre o
dizer, o caracterizam, no plano do seu conteúdo (68) ou de suas palavras
(69), como recebido de "outro lugar-interior" de um outro discurso:
Disponível em: https://www.lfg.com.br/conteudos/artigos/geral/idosos-tem-direito-a-pensao-alimenticia-dos-filhos
O seguinte conjunto de modalizações da asserção "O POS será em
breve modificado" faz parecer diferença e parentesco:

Está claro que o grupo (3,4,5,6) ignora a dimensão da autorrepresentação explícita do dizer (de
1,2), exposto acima; não é menos claro que os dois conjuntos apresentam um parentesco
estreito pela função semântico-enunciativa da modalização do dizer por transferir a assunção de
responsabilidade para outra fonte, da qual eles partilham. Estes elementos “simplesmente”
modais - isto é, sem autorrepresentação explícita formam um conjunto formalmente
heterogêneo (verbos modais, modo verbal, sintagmas preposicionais, advérbios adjetivos…)
Obs 3: Metadiscurso e modalização

➔ Relação entre metaenunciação e modalização do dizer;


➔ Metaenunciação relaciona-se à modalização, que induz um “modo de dizer”
duplicado por sua autorrepresentação; além disso, é possível considerar a
dimensão “meta” ou reflexiva como inerente - quer seja explícita ou não - ao
nível ou à saliência da modalização do dizer;
➔ (...) [a] "capacidade reflexiva" de enunciação: este movimento conduz desde
o grau mínimo de “reflexividade fundida na trama enunciativa” à emergência
dos “pontos sensíveis de reflexividade” da modalização (por advérbios,
auxiliares...) para chegar ao "metadiscurso" concebido como o último grau da
atualização da reflexividade, que culmina na “reificação”do dizer.
De modo a resumir, são cinco modos pelos quais a Representação do Discurso
Outro pode se instanciar discursivamente, quais sejam, a forma do Discurso
Direto (DD), como em Ele diz: eu vencerei todos eles!; a forma do Discurso
Indireto (DI), como em Ele diz que vai superar todos; a forma do Discurso
Indireto Livre (DIL), como em Ele não tem dúvidas: vencerá todos eles!; a forma
da Modalização Autonímica de Empréstimo (MAE), como em Segundo ele, ele
vai superar a todos; e a forma da Modalização como Asserção Segunda
(MAS), como em Espero que ele os "pulverize", como ele gosta de dizer.
DESCRIÇÃO DE UM VÍDEO DA BBC: Durante a sua já tradicional live das quintas-feiras, o
presidente Jair Bolsonaro disse que nunca chamou a covid-19 de " gripezinha" e afirmou que não
existe nenhuma gravação que mostre o contrário.
"A grande mídia falando que eu chamei de gripezinha a questão do covid. Não existe um vídeo ou
um áudio meu falando dessa forma", disse o presidente.
Em março deste ano, no entanto, o presidente usou a expressão ao menos duas vezes
publicamente. A primeira vez, em uma coletiva de imprensa, no dia 20 de março: "Depois da
facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, tá ok?".
Quatro dias depois, voltou a usar o termo em pronunciamento nacional em rádio e TV:
"No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não
precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou
resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico, daquela conhecida televisão".
Ele se referia a uma fala do médico Drauzio Varella, que apoiadores do presidente resgataram de
um vídeo de janeiro deste ano. Mais tarde, o médico um gravou novo depoimento em que
reconhecia que havia subestimado o novo coronavírus.

Confira as falas do presidente no vídeo. https://www.youtube.com/watch?v=rcxB7DsEAFQ

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