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Karina Costantin
➔ 5º capítulo: A representação do discurso
outro: um setor da atividade linguageira.
➔ Autora: Jacqueline Authier-Revuz.
➔ Tradutores: Carlos Eduardo Silva Pinheiro,
Alena Ciulla, Jéssica Oliveira Fernandes,
Isabel Muniz Lima e Suzana Leite Cortez.
p. 133
1) A metalinguagem no centro da prática linguageira
1.1 A metalinguagem está na linguagem, a metalíngua está na língua.
1.2 Do metadiscurso na discursividade à distribuição interna da
enunciação.
2) Delimitação da RDO no espaço metadiscursivo: traçado de fronteiras
2.1) Três zonas de referência para o metadiscurso;
2.2) Representar a língua ou o discurso?
2.3) Este discurso que representa o Discurso: um outro ou ele mesmo?
2.4) O outro dizer, parte integrante da autorrepresentação
p. 134
1) A metalinguagem no centro da prática linguageira
1.1) A metalinguagem está na linguagem, a metalíngua está na língua
➔ Reflexão de Benveniste sobre língua, linguagem e enunciação;
➔ “a língua pode, em princípio, categorizar tudo, inclusive a si mesma”
(BENVENISTE, 1947);
p. 134-135
1.2) Do metadiscurso na discursividade à distribuição interna da
enunciação
Uma metalinguagem de rosto familiar “parte integrante de nossas atividade
cotidiana”, que desempenha “um papel importante na linguagem cotidiana” e
que “praticamos sem nos darmos conta”, foi a que Jakobson (1963) nos
apresentou, separando o nível “meta” da linguagem de sua restrição à prática
científica, controlada, de descrição linguística (p.136).
(p. 137-138)
➔ A ligação entre heterogeneidade e reflexividade vai além de situações
particulares é em todo o dizer;
➔ Quatro dimensões são afetadas no ato de dizer:
“Os dois interlocutores, irredutivelmente, não são “um”; a palavra não é uma
coisa aquilo que ela nomeia; não somos um com “nossas” palavras, sempre
emprestadas; e a palavra - que é atravessada por polissemia e homonímia-
não é uma com ela mesma”.
(p. 139-140)
2) Delimitação da RDO no espaço metadiscursivo: traçado de fronteiras
2.1) Três zonas de referência para o metadiscurso:
Obs 1: Nota terminológica
Metadiscurso é a metalíngua em emprego e ação.
(p. 141-142)
Duas oposições - hierarquizadas - podem estruturas, em três zonas, o conjunto
de enunciados metadiscursivos, tais como, por exemplo:
Com base na natureza dos objetos
linguageiros dos enunciados, a primeira
oposição é entre linguagem, a língua e os
seus “tipos”, por um lado (1-3), e os
discurso e os “tokens”, de outro (4-8); a
segunda distingue os discurso em
andamento (4-5) de outros discursos (6-8).
(p. 142)
2.2) Representar língua ou o discurso?
Um oposição crucial - zonas fronteiriças delicadas
Campos da língua ou do discurso determina as condições de sua
“representabilidade”:
Somos, com a língua, seus signos, categorias, regras, ao lados de
elementos abstratos, fixos, pertencentes a um sistema finito,
reproduzíveis de forma idêntica;
Enquanto que com o discurso são eventos concretos, singulares,
impossíveis de “reproduzir” que se oferecem, inesgotavelmente, a uma
representação incompleta, aleatória a cada vez, com a questão do
sentido.
(p. 143)
A língua como “o que é dito”
A língua também é representada através do dizer de seus usuários
como o que se diz, o que é dito. Esta representação da linguagem via
discurso - ditos e a dizer - da qual ela emerge e que modela passa por
formas semelhantes às da RDO.
Entre (a) as descrições intralinguísticas, cortadas do dizer, e (b) a referência a
fatos singulares de discurso, tais como, as “citações de autores” de
gramáticas e dicionários, que enquadram totalmente em DD, da RDO,
aparece o espaço (c) das formulações espontâneas ou aprendidas, em que
discurso e língua, empurrados até seus limites, se articulam um ao
outro.
(p. 144)
Língua ou discurso: ambiguidade
“É basicamente a consideração de elementos cotextuais relativos à
determinação, ao tempo, ao aspecto,... que permite interpretar, em
enunciados, o objeto linguageiro representado como pertencente à
generalidade abstrata da língua ou à concretude do discurso
baseada em eventos”.
(p. 146)
Variação na língua e encontro da alteridade no discurso
É também o fato da variedade - o “pluralismo” interno à língua, de
Bakhtin - que questiona articulação língua/discurso: os lexicógrafos
estão bem cientes disso e os seus dicionários de língua multiplicam as
indicações “discursivas”. Sua incidência não é a mesma no
metadiscurso do dicionário, com sua posição (imaginariamente)
"atópica" diante de uma diversidade que ele suspende, e na prática
metadiscursiva espontânea, em que, a enunciada a partir do discurso
em andamento, a representação de um fato de variedade aparecerá
como a de um outro deste discurso, emergente, dialógico, no fio dizer,
um discurso outro.
(p. 147)
Com a “Modalização autonímica de empréstimo” (MAE), em particular,
da RDO (como diz…) passamos, insensivelmente, para este mesmo
lugar “do outro” ou “do exterior” ao discurso em andamento, de atos
singulares de discurso às variedades de língua - através de todas as
ampliações em termos de pluralidade de fontes e/ou de hábitos - para
chegar além da extensão indefinida do "como se diz", ao paradoxal
"como diz a língua", que, excedendo a perspectiva da variedade
"diferente", por mais ampla que seja, situa na língua comum um lugar do
Outro atravessando nosso discurso.
(p. 147)
2.3) Este discurso que representa o Discurso: um outro ou ele mesmo?
Especifica o contorno da representação de um discurso outro (RDO), nosso objeto,
em relação à zona vizinha de autorrepresentação do discurso em andamento (ARD):
(p. 149)
Os critério clássicos para a delimitação do performativo, opondo o exemplo
anterior a Ele te felicita (L≠l), eu te falei (R ≠ r), eu te parabenizei (T≠t), desenham,
complementarmente, o espaço da RDO, espaço no qual se desdobra, assim que
fazemos variar o conjunto de parâmetros dos coenunciadores e da ancoragem
temporal, uma ampla gama de combinações.
O caso em que L= l isto é, em que nos referimos às nossas palavras, mas em
outro tempo (eu te disse, eu te direi…), dirigido a um outro, é totalmente
relevante para a RDO, como uma de suas facetas, interessante em termos de
inclusão de sujeitos em seu discurso.
Portanto,é importante distinguir entre o que é representação de um outro dizer
de si (RDO) do que é autorrepresentação do dizer em via de se fazer, por
definição “de si” (ARD), o que nos faz passar ao campo, enunciativamente outro,
do desdobramento do dizer realizado por meio de - ou acompanho por- sua
representação.
(p. 149-151)
A realidade conferida ao ato representado
A não coincidência entre a A e a, atribuindo tal representação de
discurso ao campo da RDO e não à autorrepresentação do dizer em
andamento, envolve também a questão da realidade conferida, na
representação, ao ato representado.
Os enunciados que representam os dizeres virtuais, imaginários,
hipotéticos, negados, do tipo eu nunca disse...; ah, se ele pudesse ter dito...;
será que você poderia dizer-lhe...?, nos quais a não realidade do a
representado é acrescentado à sua não coincidência referencial para
distinguir dois atos A e a sem dúvida pertencem a RDO, em que ocupam um
lugar importante. O status dos enunciados do tipo performativo com
coincidência referencial (pessoal, temporal) entre A e a, assim que a
realidade do ato representado é posta em questão, é mais complexo. Assim,
em:
Eu o parabenizo
Eu lhes digo que votem em X.
(p. 149-151)
A representação assertiva, afirmativa, no indicativo, de a (ARD) faz parte
do desempenho performativo de A; nas representações de a, marcadas
pela interrogação (a), a negação (b), a hipótese (c), A não coincide com
o a, questionado, separado, imaginado, que ele representa:
(p. 153)
Digressão da ARD: o espelho de faces do eu (te) dito
(p. 154)
ARD/RDO: efeitos de junção
Eu te repito pelo enésima vez que ele disse que não queria ser pago.
(p. 156-157)
2.3.2) O outro e o mesmo: ambiguidades, cumulações e “aparências”
(p. 159)
Imprevisibilidade do “presente” e incertezas do eu te digo entre ARD
e RDO
(p. 159)
Da mesma forma, casos de ambiguidade no nível da frase, em que
apenas o acontecimento discursivo permite atribuir um ou o outro dos
dois valores são numerosos; assim:
(43) Eu digo a mim mesmo que tenho que me levantar mas não consigo.
(p. 159-160)
Um reflexo (ARD) perturbador do “UM” do dizer
(p. 163)
O dizer decomposto em etapas por seu reflexo: eu vou dizer, eu disse...
(p. 166)
2.4 O outro dizer, parte integrante da autorrepresentação
Está claro que o grupo (3,4,5,6) ignora a dimensão da autorrepresentação explícita do dizer (de
1,2), exposto acima; não é menos claro que os dois conjuntos apresentam um parentesco
estreito pela função semântico-enunciativa da modalização do dizer por transferir a assunção de
responsabilidade para outra fonte, da qual eles partilham. Estes elementos “simplesmente”
modais - isto é, sem autorrepresentação explícita formam um conjunto formalmente
heterogêneo (verbos modais, modo verbal, sintagmas preposicionais, advérbios adjetivos…)
Obs 3: Metadiscurso e modalização