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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE

PERNAMBUCO
Curso de Licenciatura em Letras
Disciplina: Linguística II

Aluno: FELLIPE TORRES VERAS RODRIGUES

Polo: RECIFE

Atividade sobre preconceito linguístico

Em Rei do Gado (1996), a personagem de Patrícia Pillar expressa o desejo de


“falar sem trupicar nas palavras” e a “falar que nem gente”. Se essa fala for
contextualizada no enredo da referida telenovela, pode-se identificar a presença do
Mito n° 4 (“As pessoas sem instrução falam tudo errado”) e do Mito n° 8 (“O domínio
da norma culta é um instrumento de ascensão social”). Na trama, a “boia-fria” Luana
(Patrícia Pillar) tem um relacionamento amoroso com o latifundiário pecuarista Bruno
Mezenga (Antonio Fagundes), o que desperta nela o desejo de ascender socialmente,
de modo a se sentir compatível com a nova realidade.

Como se vê, do mesmo modo como existe o preconceito contra


a fala de determinadas classes sociais, também existe o preconceito
contra a fala característica de certas regiões. É um verdadeiro acinte
aos direitos humanos, por exemplo, o modo como a fala nordestina é
retratada [pg. 43] nas novelas de televisão, principalmente da Rede
Globo. Todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um
tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio
e o deboche dos demais personagens e do espectador. No plano
lingüístico, atores nãonordestinos expressam-se num arremedo de
língua que não é falada em lugar nenhum do Brasil, muito menos no
Nordeste. Costumo dizer que aquela deve ser a língua do Nordeste de
Marte! Mas nós sabemos muito bem que essa atitude representa uma
forma de marginalização e exclusão. (BAGNO, 2007, p.41).

Em Avenida Brasil (2012), a personagem recusa carne-seca ao afirmar que


não gosta de “comida de paraíba”. Aqui, fica claro um preconceito regional e uma
xenofobia, mas não necessariamente um dos mitos apontados por Marcos Bagno. O
mesmo ocorre em Joia Rara (2013), em que uma personagem comenta que “o
Nordeste é atrasado demais para uma pessoa que nem eu”.
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PERNAMBUCO
Curso de Licenciatura em Letras
Disciplina: Linguística II

Em Guerra dos Sexos (2012), uma personagem é criticada por outra por
supostamente falar errado. Pode-se identificar a presença do Mito n° 4 (“As pessoas
sem instrução falam tudo errado”) e do Mito n° 7 (“É preciso saber gramática para falar
e escrever bem”). Na cena fica clara o sentimento de vergonha que a filha expressa
em relação à mãe, que não tem pleno domínio da norma culta.

Mas quem são essas “pessoas cultas na época atual”? Com


que critérios o autor as classificou de “cultas”? Com que metodologia
precisa identificou o modo como elas “falam e escrevem”? Pois é disso
precisamente que mais necessitamos hoje no Brasil: da descrição
detalhada e realista da norma culta objetiva, com base em coletas
confiáveis que se utilizem dos recursos tecnológicos mais avançados,
para que ela sirva de base ao ensino/aprendizagem [pg. 65] na escola,
e não mais uma norma fictícia que se inspira num ideal lingüístico
inatingível, baseado no uso literário, artístico, particular e exclusivo dos
grandes escritores. (BAGNO, 2007, p.61).

Em Sai de Baixo (2013), o personagem Caco Antibes é lembrado por destilar


preconceitos os mais diversos, sobretudo relacionados a classes sociais menos
abastadas. Em sua fala pejorativa a respeito de “pobres quando quer falar bem” fica
clara a presença do Mito n° 4 (“As pessoas sem instrução falam tudo errado”) e do
Mito n° 7 (“É preciso saber gramática para falar e escrever bem”). Aqui, o domínio da
norma culta é instrumento de humilhação daqueles que porventura falam variantes da
língua portuguesa que não encontram lastro na norma culta.

REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. Edições Loyola. 49ª edição:
junho de 2007.

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