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e Esperança
Rodnei Igor da Silva Serafim
Adaptações
Maria Clara Gonçalves
Projeto Gráfico
Victor Ramos Silva
Um Sorriso de Fé
e Esperança
Rodnei Igor da Silva Serafim
Adaptações
Maria Clara Gonçalves
Projeto Gráfico
Victor Ramos Silva
2ª Edição
Belo Horizonte
2020
Revisão gramatical: Sane Albuquerque Costa
Neste livro, o autor fala de sua vida, sobre como tem enfrentado o
câncer, sobre o quanto a fé em Deus tem sido importante para
enfrentar os dias de luta, e sobre o apoio recebido da família e amigos.
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Capítulo 1
Minha História
Minha vida anda bem movimentada. Quantas provações! Foram tantas
coisas que aconteceram comigo e continuam acontecendo, que
senti vontade de contar a minha história.
Senti vontade de falar da minha fé. Quero falar sobre como Deus tem
cuidado de mim todo esse tempo.
Rodnei Igor
Meu nome é Rodnei Igor da Silva Serafim. Nasci no dia trinta de janeiro
de 2001. Tenho dezenove anos. Sou de Manhuaçu (MG), mas,
atualmente, estou morando na cidade de Simonésia (MG). Tenho três
irmãos: Vitória, Richard e Luan. Sou o irmão mais velho. Minha mãe é a
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Michele, uma mulher de fibra que tem cuidado sozinha dos filhos.
Sobre o meu pai, temos pouco contato.
Tive uma infância muito feliz. Guardo comigo ótimas lembranças desse
tempo. Falando assim, até parece que já sou um velhinho de noventa
anos. Mas, não. Estou ainda na flor dos meus dezenove aninhos.
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Capítulo 2
Hashtag Para Tudo
Em dezoito de dezembro de 2013, bem pertinho do meu aniversário
de treze anos, recebi um diagnóstico de um câncer. Nessa época, eu
sentia dores na coluna, e, quando eu ia ao médico, ele dizia que era
apenas um torcicolo e que não era nada preocupante. E assim o
tempo foi passando, e eu achando que estava tudo bem.
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ossos ou partes moles do corpo. O médico disse que eu teria que ser
internado com urgência. Pelo que tudo indicava, o tumor já havia
atingido e comprometido a minha perna.
Nessa época, minha mãe estava adoentada e minha tia Juliana foi
quem me acompanhou. Minha mãe deve ter ficado com o coração
apertado em ter que ficar longe de mim, nesse momento tão delicado.
Mas, ela não estava em condições de me acompanhar, e minha tia se
prontificou a nos ajudar.
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Capítulo 3
Partiu Belo Horizonte
Chegando em Belo Horizonte, fui internado no Hospital da Baleia.
Devido ao tumor na coluna, a recomendação médica era de que eu
ficasse somente deitado.
Rodnei no hospital
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Enquanto eu passava por tudo isso, estava também no mesmo quarto
uma garotinha de quatro anos de idade que assistia meu sofrimento.
Então, ela começava a rezar pra mim. Não me esqueço daquela cena:
uma garotinha, tão pequenininha, juntando as duas mãozinhas e
pedindo a Deus pra aliviar a minha dor. Essa é uma das muitas boas
lembranças que guardo comigo. Diante desse gesto e de tantas
outras coisas que me foram acontecendo, eu fui me dando conta de
que Deus havia deixado um anjo de quatro aninhos no meu quarto, e
que me guardava em suas orações.
E a dor na minha coluna persistia. Para o meu caso, era necessário fazer
uma cirurgia muito delicada, com uma equipe especializada. Além
disso, como o procedimento seria em Belo Horizonte e eu sou de
outra cidade, era necessário que o SUS (Sistema Único de Saúde)
liberasse a cirurgia. O hospital entrou com o processo para a
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liberação, bem como de equipamentos e médicos especializados.
Graças a Deus, a cirurgia foi liberada! Diante da complexidade, os
médicos ficaram estudando e avaliando quais seriam os
procedimentos adequados para a cirurgia.
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Essa enfermeira foi muito boa pra mim e eu brincava muito com ela. Nos
hospitais, a gente acaba encontrando profissionais que se destacam
por trabalharem com amor e dedicação. Uma palavra ou um gesto de
carinho deles faz uma enorme diferença para o paciente.
Para uma boa recuperação, eu teria que ficar o tempo todo deitado.
Eu tinha que aguentar firme.
Minha tia, minha querida tia, chegou com uma marmita com uma
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comida remosa, daquelas “com sustância”, e eu comi tudo. Eu devia
estar mesmo com muita fome. Ficar três dias sem comer não é
brinquedo não.
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Capítulo 4
Partiu Casa
Minha família e meus amigos haviam preparado uma festa pra mim. Olha
isso! A casa estava toda enfeitada com balões no teto. Lá estavam
minha família e alguns amigos. Minha madrinha Roseane soltou até
foguete. Logo ela que é tão medrosa com essas coisas. Mas, fez a
promessa, teve que cumpri-la.
Aí eu digo: Agradeça pela saúde que você tem, pela família que você
tem, pelos amigos que você tem. Agradeça por você ter acordado e
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levantado de sua cama e poder se locomover pra onde você quiser.
Sejamos gratos a Deus pelo que Ele nos tem oferecido, gratuitamente,
todos os dias.
Eu estava meio que em choque com tudo, pois eu era muito novo e
não sabia direito o que estava acontecendo comigo. A recepção me
fez esquecer um pouco dos traumas do hospital.
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Capítulo 5
O tratamento da doença e
~ Sara
a Fundaçao
Rever minha casa, família e amigos foi muito bom! Mas eu tinha que
encarar a realidade. Eu teria que voltar à BH para fazer a quimioterapia.
E ainda teria que passar pela radioterapia.
Mas, como Deus tudo providencia, uma paciente do hospital falou pra
minha mãe sobre a Fundação Sara Albuquerque, em Belo Horizonte.
Isso foi depois que eu comecei a radioterapia.
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acolhido. Lá eu recebi todo o apoio que eu precisava. Considero a
Fundação Sara como uma família pra mim. Ali é um lugar onde tenho
liberdade de conversar, expressar minha opinião, e onde fiz muitos
amigos, como a Fernanda (Assistente Social), Evelyne (psicóloga), a
Ruth, a Valéria e todos os outros funcionários. Além disso, passamos a
conviver com outras famílias que passam pelos mesmos problemas
que a gente. Gosto muito de todos eles e tenho um carinho enorme
por cada um. São todos meus amigos.
Na Fundação Sara
Sou muito grato à Fundação Sara por ter me acolhido nos momentos
mais difíceis da minha vida.
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Campanha do Setembro Dourado
A Valéria fala que a minha fala no início da gravação, que foi ensaiada
várias vezes, acabou virando um bordão na Fundação, e tornou-se até
mesmo uma senha, que encurtou distâncias entre mim e as pessoas,
melhorou minha timidez e afastou, por um momento, as preocupa-
ções.
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Capítulo 6
Algumas Aventuras
Aventuras não faltam em minha vida.
Então lá foi a minha mãe cortar meu cabelo. Como a tesoura estava
meio cega, ela não conseguiu cortá-lo todo. Pra finalizar o serviço, ela
foi à lanchonete do hospital e comprou vários aparelhos de barbear
para raspar a minha cabeça. E lá ia ela, raspava que era uma beleza! E eu
comecei a brincar com a situação, tirando foto dela cortando meu
cabelo. Depois de concluído, ela me disse orgulhosa de que havia
ficado muito bom.
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Não tínhamos espelho no quarto e eu não conseguia ver se ela havia,
de fato, trabalhado direitinho. Para o azar da Dona Michele, tínhamos
uma janela espelhada, e eu consegui me ver. Vi um monte de caminho
de rato. Ela fez um monte de buraco no meu cabelo. Ficou o “O”
(horrível)! Comecei a rir de desespero. Quando levantei, no dia
seguinte, o cabelo acabou de cair todo, e aí eu fiquei careca de vez.
Perder o cabelo não me incomodou tanto. A princípio, senti um frio na
cabeça, um ventinho, e ficava alisando a careca. Foi um momento
diferente, mas suportei bem.
Agradecendo na igreja
Quando voltei pra casa, após a primeira vez que estive internado, fui à
igreja com minha mãe, minha madrinha, minha prima e irmãos. Só
faltaram o gato e o cachorro pra completar a família que me
acompanhava. Fomos agradecer. Rezamos, fomos à praça e
brincamos. Poder sair pela primeira vez me deu uma sensação de
liberdade. Ali, na igreja, com minha família, eu me senti sob a proteção
de Deus e em segurança.
Uma vez, no hospital, fui tomar banho e lavar minha cabeça. Peguei
meu shampoo, condicionador e pente pra lavar o “cabelo”. Quando
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passei o pente na cabeça, senti uma textura diferente. Levei um susto!
Me lembrei de que eu estava careca. Onde eu estava com a cabeça?!
Essas coisas engraçadas sempre acontecem comigo.
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Capítulo 7
Momentos Inesquecíveis
Tive momentos difíceis e ainda os tenho. Mas passei também por
momentos felizes e inesquecíveis. A doença trouxe tristeza, reflexões,
mudança de olhar para o que me cerca e para a minha vida. Mas tive a
oportunidade de viver momentos mágicos.
Tantas coisas boas aconteceram em minha vida, que nem sei por onde
começar. Vou relatar alguns deles:
A festa que fizeram pra mim em 2014, quando retornei da cirurgia pra
minha casa foi a primeira delas.
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e assisti o clássico Cruzeiro e Atlético. Entrei no gramado com o
jogador Ábila. Dessa vez, ficamos no meio da torcida, bem no meio da
emoção, no meio do grito. O estádio balançava ao som do: “Cruzeiro!
Cruzeiro! Zerooooo! Zeroooo!” Podíamos ter ido para o camarote, mas
a coordenação do evento queria que sentíssemos a emoção de estar
no meio da torcida. Foi demais!
Da segunda vez que fui ao Mineirão, voltei pra casa com meus
companheiros Daniel, Davi e Diego. Aí o Diego sugeriu uma
brincadeira:
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cara dele. Foi uma festa só. Passados uns minutinhos, a mãe dele o
chamou pra dormir, e ele chegou no quarto todo cheio de pasta no
rosto. A mãe dele perguntou-lhe assustada: Que foi isso, Diego? O
que é vocês estão aprontando? No dia seguinte repetimos a dose, e o
bonitinho aqui foi quem dormiu primeiro. E, claro, não tive escapatória,
recebi pasta na cara. Foi a revanche do Diego.
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primeira vez num shopping e em escada rolante. Nesse período, eu
estava ainda em tratamento. Foi um dia muito feliz! Outro aprendizado:
Pequenos gestos podem tornar-se grandes e inesquecíveis para
quem os recebe.
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Capítulo 8
A Volta da Doença
Quando eu ia pra minha cidade, eu gostava de sair pra me divertir. Mas
havia uma recomendação médica: ao sair de casa, use calça
comprida, não saia de chinelo, use um tênis, camisa de manga longa e
máscara. Eu não podia usar ventilador, não podia comer fora de casa,
somente comida caseira. Todos esses cuidados seriam para o meu
próprio bem, de modo a evitar que eu pegasse alguma infecção.
Rodnei em tratamento
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recuperado, me deparo com esse diagnóstico. A doença atingiu meu
braço direito.
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Capítulo 9
O Aprendizado
Meus amigos?! Daquela época pra cá, ficaram poucos amigos, mas
ficaram os verdadeiros. Conheci aqueles que são amigos de verdade.
Alguns daquela época não acreditam muito que eu vá vencer essa
batalha. A minha relação com eles, os verdadeiros, é muito doida,
quero dizer, é muito legal! Eles me dão muita força.
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de alto impacto, não posso correr, não posso andar de bicicleta, se
um parafuso que foi colocado sair, eu posso quebrar o pescoço.
Enfim, mudou a minha forma de pensar e enxergar a vida.
A minha relação com Deus é ótima! É Ele que me sustenta. Não sou
muito de ir à igreja, mas tenho a minha fé. Depois que adoeci, sinto que
a minha fé aumentou. Mas penso sinceramente que essa fé pode se
estreitar ainda mais. Vai melhorar, se Deus quiser! Essa fé herdei de
minha mãe. Foi ela que me apresentou o Deus Pai, o Deus de amor.
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Capítulo 10
Depoimento de Michele -
~ do Rodnei
Mae
O Rodnei encanta a todos. Ele é muito calmo. As pessoas que chegam
no quarto do hospital e o encontram se encantam com ele. Mesmo
com as quimioterapias e sentindo dor, ele está sempre com um alto
astral.
Momento de oração
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Rodnei com a sua mãe
O Rodnei tem uma frase que virou um bordão, e que uma paciente
passou a adotar: -Fica triste, não moça. Tem que ficar feliz!
Aí eu repenso: Deus mandou ele pra terra com um propósito. Deus tem
um propósito! Ter que ficar longe dos irmãos, longe de casa e dos
amigos... Creio que Deus tem um propósito.
Minha força vem do Rodnei. Um levanta o outro. Ele é um anjo que Deus
colocou na terra pra dizer que não podemos desistir. Aí ele sorri pra
mim e eu vou fazendo as vontades dele.
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oportunidades que Deus nos dá. É por isso que eu digo: Deus sabe
todas as coisas.
Meu filho é o amor de minha vida. Faço tudo por ele. Faço tudo por
amor. Nós dois somos “limpos”. Ele é meu herói, assim como meus
outros filhos também são meus guerreiros e meus heróis. Nos
respeitamos muito e somos unidos. Meus filhos são tudo pra mim!
Eu olho para o Rodnei e não sinto culpa por ele estar doente. Não olho
pra ele como um doente. Eu olho pra ele e não sinto pena. Não o trato
como um inválido. Tudo o que faço por ele é por amor e porque é meu
filho. Se ele me magoa, ele me pede desculpas. Tentamos levar a vida
o mais normal possível. Ele me trata da mesma forma. Ele fala pra mim:
Mãe, eu te amo!
Não sabemos quando voltaremos pra casa. Iremos quando ele estiver
pronto pra ir. Com Deus a gente chega lá.
Sou mãe e pai. Cuidei de meus filhos sempre sozinha. Mas, não deixei
faltar os conselhos de mãe. Uma vez ele me falou: Mãe, Fulano me
ofereceu coisa errada na rua, não aceitei por você. Somos honestos
humildes, respeitamos as pessoas.
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pegava no colo e o colocava na cadeira de rodas pra passear na área
do hospital. Ela contava piadas e o fazia rir. Sou eternamente grata a ela
por ter cuidado de meu filho, no momento em que eu não pude
acompanhá-lo.
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Mensagem que recebi do Rodnei, no dia das mães - 2020
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Dados sobre o autor
Refeitório
Capela
Fundacao Sara
fundacaosara
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