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TURMA 4_2020
INTEGRANTES DO GRUPO:
Apresentação em 22/10/2020
SUMÁRIO
Introdução…………………………………………………………………………………....……03
O que é rede social pessoal, suas características e funções….………………………….....04
A rede de apoio no período gravídico e puerperal…………………………………………….05
Benefícios da rede de apoio……………………….…………………………………………….06
Papel da doula na rede de apoio….…………………………...….………………….………...08
Identificar e fortalecer a rede de apoio....………………………..…………………….……….09
Relatos da experiência de mães sobre suas redes de apoio..……………..………………..10
Conclusão……………………...……………………………...…………………………………..12
Referências Bibliográficas….…………………………………...……………………………….13
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INTRODUÇÃO
Esse suporte, o que conhecemos como rede social, tem sido enfatizado como um
dos aspectos mais importantes para o bem-estar materno, podendo atuar desde o período
pré-concepcional até o pós-parto.
O nascimento de filhos é uma das transições mais significativas no curso de vida da
família. Embora a gravidez seja uma situação natural na vida de pessoas com útero, os
sentimentos de ansiedade e as dúvidas que se geram, junto com os efeitos físicos,
emocionais e sociais da gestação são comuns nessa etapa. Essas transformações têm
especial impacto na vida da pessoa que engravida e na maneira como ela vivencia essa
experiência sendo importante para a própria percepção da gravidez e da maternidade.
Durante o nascimento e no período pós-natal, há uma série de novas tarefas que se
exigem à pessoa que teve o filho, e, nesse momento, a rede de apoio desempenha papel
essencial diante das necessidades financeiras e de descanso da mãe, dos cuidados
dispensados ao bebê e da divisão de tarefas domésticas (OLIVEIRA & DESSEN, 2012).
Diante disso, este trabalho se propõe a trazer uma reflexão sobre a importância da rede de
apoio na vida de uma pessoa que passa pelo período gravídico e puerperal, contemplando
suas características, funções, benefícios.
Lembrando que não apenas mulheres podem engravidar, mas também homens
trans que mantiveram o útero. Outro grupo de pessoas que pode se beneficiar nessas
reflexões são famílias adotantes, que apesar de não estarem passando no momento
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específico pelo processo fisiológico da gravidez que é o foco nesse trabalho, lidam com
diversas transformações emocionais, identitárias e relacionais no processo de adoção e
também podem encontrar muitas vantagens em uma rede de apoio fortalecida. E por isso,
esse trabalho considera todas essas pessoas que estão passando pela transformação da
chegada de um novo membro na família.
Por fim, busca-se também abordar o papel da doula como pessoa privilegiada na
rede de apoio de uma pessoa que está passando por este período, como profissional de
assistência à saúde emocional, física e informacional, e como pessoa que pode auxiliar na
identificação e mobilização dessa rede de apoio.
Dentre tantos significados que se têm atribuído ao termo rede de apoio social,
optamos por trabalhar com a seguinte conceituação. Carlos E. Sluziki é um dos principais
teóricos que estudou a temática das redes sociais na prática sistêmica e seu trabalho é
referência para estudiosos que vieram depois dele. O autor apresenta o conceito de rede
social da seguinte maneira: “A rede social pessoal pode ser definida como a soma de todas
as relações que um indivíduo percebe como significativas ou define como diferenciadas da
massa anônima da sociedade” (SLUZKI, 1997, p.42). Isto é, deste conceito, entende-se que
as redes sociais são o conjunto de todas as pessoas importantes com que uma outra
pessoa se relaciona. Ainda, a rede do indivíduo inclui todos aqueles vínculos interpessoais
que conferem identidade, pertencimento, bem-estar à pessoa e que pode atuar no sentido
de cuidado e proteção.
O autor sistematiza a rede social pessoal em quatro grupo de relações, formados
por familiares, por amizades, por pessoas no contexto de trabalho e/ou de estudo e por
relações da comunidade, que incluem as relações de serviço, de saúde e de assistência,
por exemplo. Nestes quatro grupos de relações é possível encontrar grupos mais ou menos
numerosos, relações que vão de maior grau de intimidade até relações mais ocasionais,
grupos com maior ou menor homogeneidade demográfica e sócio-cultural e podem estar
mais ou menos geograficamente dispersas (SLUZKI, 1997).
Lia Sanicola, outra autora referência em pesquisas e trabalhos com redes sociais,
propõe uma classificação das redes sociais de uma pessoa. As redes primárias são
geralmente formadas por família, parentes, amigos e vizinhos, enquanto as redes
secundárias são constituídas pelo conjunto das instituições que formam o sistema de
proteção social à população, tais como serviços de assistência, saúde, educação e justiça
(SANICOLA, 2008).
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As diversas funções desempenhadas por cada indivíduo ou grupo que compõe uma
rede social também é uma característica importante de se remarcar no estudo das redes,
ou seja, o tipo de intercâmbio interpessoal que se estabelece entre os membros de uma
rede. Sluzki (2017) lista uma série de funções:
● companhia social: estar junto e realizar atividades conjuntas;
● apoio emocional: empatia, compreensão, acolhida, estímulo;
● guia cognitivo e conselhos: orientação social e informacional;
● regulação (ou controle) social: serve de referência, modelo, nas relações
sociais;
● ajuda material e de serviços: suporte financeiro e de serviços especializados
de assistência, por exemplo à saúde física e emocional, social, jurídico;
● acesso a novos contatos: proporciona novas conexões para a rede social do
indivíduo.
Não necessariamente estas funções serão exercidas pelo/a acompanhante e por
membros da família, apesar de serem as referências mais comuns. Uma mesma pessoa
pode também desempenhar várias dessas funções. Cada indivíduo vai ter sua rede social
pessoal constituída com base em um contexto social e histórico específico e, por vezes,
pode encontrar tais formas de apoio nas pessoas mais inesperadas. Por isso, aprender a
identificá-las, acioná-las e mobilizá-las para a ajuda é também uma realização importante
nesse período.
Com base nessas referências, buscou-se então refletir sobre as redes sociais
pessoais de um indivíduo que se encontra em seu período gravídico e puerperal e como
essas redes podem se constituir como rede de apoio. Para isso, é fundamental conhecer a
estrutura e as funções da rede de apoio das famílias, uma vez que elas variam de acordo
com o contexto sociocultural, o tempo histórico e o estágio do curso de vida do indivíduo e
da família enquanto grupo.
Os tipos de ajuda fornecidos podem ser diversificados, contendo suporte material,
emocional, financeiro dentre outros já listados anteriormente. Mas, no caso de uma nova
organização familiar, o auxílio nas tarefas domésticas e de cuidado com os filhos, as
orientações e informações necessárias para este período específico são também de
extrema relevância. É por meio desse sistema de relações formais e informais que os
indivíduos recebem suporte emocional, cognitivo e material considerados imprescindíveis
em situações estressantes ou que demandam muita adaptação como é o período da
gestação e do pós-parto (OLIVEIRA, & DESSEN, 2012).
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Diferentes estudos ressaltam a importância da família como a principal fonte de
apoio materno, já que os parentes costumam ser bem mais citados do que os não familiares
e as instituições. No entanto, não raro, as gestantes encontram suporte também fora do
âmbito familiar, em amigas, vizinha, patroa, colegas de trabalho e outras gestantes que
estão passando pelas mesmas vivências (TSUNECHIRO & BONADIO, 1999).
Dentre os participantes da rede social de apoio da pessoa grávida ou que teve um
filho, seus companheiros/companheiras e os próprios pais ou sogros são citados como os
principais colaboradores, pois oferecem a ela o suporte na realização das tarefas
domésticas e nos cuidados dispensados ao bebê. Os estudos têm confirmado maior
participação do companheiro/companheira ao longo da gravidez e após o nascimento dos
filhos e, sobretudo, têm mostrado que ele desempenha um papel ativo e determinante para
o bem-estar do indivíduo, ainda durante a gestação. Os avós também constituem fontes
importantes de suporte familiar, geralmente provendo apoio emocional, financeiro e
instrumental a mães, pais e filhos (OLIVEIRA, & DESSEN, 2012).
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mulheres não têm atividades laborais fora de casa, o que favorece o seu isolamento.
Portanto, a percepção de que as novas famílias, em especial as pessoas que pariram e
passam pela gestação e puerpério, têm que ser cuidadas contribui para a melhoria da
qualidade de vida delas durante esse período de transição, incluindo a diminuição da
probabilidade de ocorrência de depressão pós-parto (OLIVEIRA & DESSEN, 2012) que é
um transtorno depressivo importante durante a gravidez.
A depressão pós-parto é um transtorno psiquiatrico caracterizado por sintomas que
incluem, tristeza ou baixo humor, desânimo, distúrbio do sono, alterações no apetite,
ideação suicida, sentimentos de inutilidade, perda de interesse ou prazer, etc., o que pode
levar a sequelas devastadoras para as gestantes e famílias (HU, YING et al., 2019). De
forma menos intensa que a depressão pós-parto, acontece com mais frequência a disforia
puerperal, popularmente conhecida como baby blues, em que o apoio social também tem
um papel indispensável. Os sintomas podem ser: choro fácil, labilidade afetiva, irritabilidade
e comportamento hostil para com familiares e acompanhantes. É um quadro que
geralmente aparece nos primeiros dias do nascimento do bebê, chega a durar
aproximadamente 2 a 3 semanas e tende a desaparecer de forma espontânea, sem
necessidade de tratamento medicamentoso. A abordagem com uma pessoa em seu baby
blues deve ser de manter o suporte emocional adequado e auxílio nos cuidados com o bebê
(CANTILINO, 2020).
Isto é, para sobreviver ao período pós-parto, as mulheres precisam manter sua
saúde mental e manter a calma para lidar com as necessidades internas e externas. Uma
mulher forte emocionalmente é capaz de enfrentar tudo, mas isso não está de acordo com
a realidade de todas as mulheres, pois em tantos períodos de transição, essas mulheres
podem acabar sendo sobrecarregadas por múltiplas tarefas e necessidades emocionais
naturais. Nenhuma pessoa que pariu pode fazer tudo sozinha. Todas elas precisam de uma
rede de apoio. Um exemplo de como suportar maior pressão em situações desafiadoras é
que, durante a maior parte de 2020, as pessoas adotaram medidas de distanciamento social
para controlar a pandemia COVID-19. É uma situação em que a falta de rede de apoio é
sentida pelas gestantes e puérperas. Em tempos de pandemia ter uma rede de apoio
presencial não é recomendado visando a segurança tanto da gestante quanto do bebê.
Muitas mães estão passando pelo mesmo momento com conversas virtuais, ajuda de um
vizinho ou amigo próximo nem que seja para fazer compras e deixar na sua porta, participar
de grupos online, desabafar, ouvir outras mães com suas experiências, reservar um horário
para encontrar com amiga online, sessão de terapia online, compartilhar angústias e medos
com sua doula, médico ou amiga por meio virtual, ou seja, estratégias adaptadas ao
momento, mas que não deixam de constituir uma rede e cumprir as funções de apoio que
são tão importantes.
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Papel da doula na rede de apoio
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Identificar e fortalecer a rede de apoio
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Nesse momento, a doula tem um papel crucial de fornecer apoio e informações
sobre como as mudanças do período gravídico e puerperal podem afetar a gestante e sua
família e como promover estratégias de organização e mobilização dessa rede, seja com
solicitação explícita de ajuda ou apenas através da comunicação das necessidades por
exemplo, para que a experiência desse ciclo seja mais saudável, adequada e protegida.
"Durante a gestação e principalmente logo após o nascimento da R., percebi que minha
mãe e minha amiga ficaram mais próximas. Tenho rede de apoio até hoje que a R. completa
7 meses, pessoas que ouvem e dão conselhos sem julgamentos. Também agradeço a Deus
por ter me dado um marido, um homem de fé, também prestativo e que sabe ouvir. Minha
gestação foi tranquila mas meu parto foi difícil e mesmo sendo parto normal a recuperação
não foi fácil, para uma mulher que a vida inteira foi independente, nessa fase pós-parto
depender de pessoas para ajudar a fazer a própria cama, curativo não é fácil, mas com
pessoas próximas colocadas por Deus na minha vida que demonstram amor, facilita passar
por essa fase. Ainda está sendo um desafio ser mãe, acredito que vai ser um desafio a
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cada dia e com essa rede de apoio que tenho hoje e minha fé em Deus vou conseguir
passar por cada fase vitoriosa e satisfeita com o resultado, gratidão por Deus e por cada
pessoa que ele colocou ao meu lado e ao lado da R.". A. J. M., mãe da R.
“Nada a reclamar, a família do pai do G. foram ótimos. Tive rede de apoio, a avó do meu
filho especialmente foi maravilhosa, me ajudou bastante e ficou na sala de parto comigo.
Minha dificuldade mesmo, foi quando cheguei mais ou menos no 9° mês, tive sangramento,
então corremos para o Hospital das Clínicas. Na verdade estava agendado para nascer no
Santa Casa, mas no dia em que que chegamos lá, estava lotado e fomos encaminhados
para o Hospital das Clínicas. Lá, o pai do G. não podia entrar comigo e houve falha de
comunicação. O médico me deu um papel e achei que o médico tinha me liberado para ir
para casa e aguardar as contrações, mas na verdade eles estavam me enviando para o
Sofia Feldman, o papel era uma autorização para que a ambulância pudesse me enviar.
Mas ainda bem que o homem da portaria pediu os papéis para ver, ai ele viu que era
encaminhamento e percebeu que eu não escutava direito e só aí autorizou o pai do G. para
entrar comigo, essa foi a parte chata, mas chegando no Sofia (Feldman), foi super tranquilo,
mas só comi gelatina e ganhei no dia seguinte às 22:20". M. A. M., mãe do G.
“Eu não tive nenhuma rede de apoio na gestação mas também não procurei. Porém tive
ajuda do meu marido e da minha mãe. Já no pós-parto, minha mãe ficou comigo o tempo
todo e me ouviu muito porque parecia uma mini-depressão. Não sei explicar o que acontece,
é uma montanha russa de sentimentos, alegria mas na mesma hora fica triste. Mas não é
tristeza por ter tido o neném, não sei explicar, um sentimento muito louco. Não tive outra
pessoa a não ser minha mãe e o meu marido. Me lembro que chorava quando olhava para
o E. e pensava que era tão frágil, que dependia de mim, foi muito intenso meu pós-parto,
mas não durou muito tempo não. Mas em nenhum momento passou sentimento de
arrependimento, mas eu só queria minha mãe comigo. Por mais que eu e meu marido
tínhamos combinado de que tentaríamos ficar só nós três (eu, ele e o E.) para acostumar,
tinha momentos que eu nem queria ver meu marido, só minha mãe, pois era a única que
me entendia naquele momento. Eu não queria nenhum conselho, que alguém viesse falar
que isso ou aquilo estava certo ou errado, eu só queria desabafar”. T.M., mãe do E.
CONCLUSÃO
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sociais e emocionais que provocam. Podem surgir muitas dificuldades com a nova vida da
família e as práticas cotidianas nos cuidados com o bebê. Ainda que com atenção
adequada, quadros de saúde mental como o baby blues e a depressão pós-parto estão
sucetíveis a acontecer. Nesse cenário, é de extrema relevância a existência de uma rede
de apoio que pode influenciar diretamente neste momento, dentro todos os outros.
Este trabalho teve como objetivo refletir sobre essa importância do apoio social na
saúde da nova família e propor estratégias de identificar e mobilizar as redes de apoio à
pessoa no puerpério, sendo que a profissional da doulagem tem papel privilegiado nesse
sentido. Entende-se que uma rede de apoio à pessoa que pariu e à família pode ser
administrado por amigos, familiares, profissionais e pela doula. Portanto, tão importante
quanto prestar apoio informacional, físico e emocional a uma pessoa no ciclo gravídico-
puerperal, é a doula atuar de forma a ajudar a pessoa a reconhecer e acionar as pessoas
que compõem a rede de apoio do indivíduo, favorecendo contexto para um suporte íntimo,
respeitoso e adequado à nova família.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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