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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul

Pós-Graduação Lato Sensu em “Finanças e Mercado de Capitais”

Artigo de conclusão de curso - abril de 2015

CICLOS ECONÔMICOS: A ESCOLA AUSTRÍACA COMO


ALTERNATIVA À TEORIA KEYNESIANA

Eduardo Evandro Franco

RESUMO

Após a crise de 2008, o debate sobre ciclos econômicos volta à tona. Mas o que se vê é uma
discussão parcial, que sugere como causa das crises, e dessa em específico, os mesmos
problemas que a causaram; relacionada, notadamente, a Teoria Geral de John M. Keynes. Se
faz necessário então a apresentação de uma abordagem esquecida no debate: a Teoria
Austríaca dos Ciclos Econômicos. O objetivo desse trabalho foi, em um primeiro momento,
apresentar as duas teorias econômicos, e depois, realizar uma análise empírica a respeito da
crise de 2008 nos EUA, e da atual crise vivida no Brasil. A conclusão que se chega é que a
teoria keynesiana é insuficiente para o entendimento da crise, e os remédios sugeridos por
Keynes tendem a causar os ciclos econômicos e a agravar seus efeitos, como foi lembrado
pela Escola Austríaca de Economia.
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“Homens práticos, que acreditam serem completamente isentos de qualquer influência


intelectual, geralmente são os escravos de algum economista defunto.”
(John M. Keynes)

"Ideias, e somente ideias, podem iluminar a escuridão.”


(Ludwig von Mises)
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1 INTRODUÇÃO

As crises e as oscilações da economia têm se mostrado cada vez mais constantes e


mais severas. Faz-se, então, necessário a busca pelo entendimento de como se originam as
crises e como se deve resolvê-las. Entretanto, são poucos os economistas, políticos, jornalistas
e profissionais do mercado financeiro que conseguem, tanto entender, como prever uma crise
econômica.

Percebe-se, portanto, que são necessárias alternativas às teorias econômicas


estudadas pelo mainstream, principalmente no que tange ao entendimento dos ciclos
econômicos, que é o foco principal desse estudo.

Nesse sentido, a temática escolhida para a realização do trabalho foi a de ciclos


econômicos, sendo o mesmo direcionado ao estudo da teoria econômica de Keynes e da
Escola Austríaca de Economia.

Com a frequente ocorrência de crises financeiras, especialmente após a crise de


2008, o entendimento dos ciclos econômicos passou a ter um destaque maior no debate
econômico. Diante desta realidade, surge a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos como
alternativa à teoria keynesiana que, apesar de dominar o entendimento econômico
contemporâneo, é considerada por muitos falha e insuficiente no tratamento dado ao tema.

Essa busca pelo entendimento dos ciclos econômicos se faz necessária por uma série
de fatores que vão desde a otimização de ganhos no mercado de capitais passando pelo
planejamento empresarial e pessoal.

A ampla maioria das informações divulgadas a respeito dos ciclos econômicos e, em


especial, as referentes à crise de 2007/08, mostram um ponto em comum que é o fato da crise
ter sua origem na falta de regulamentação do mercado pelo Estado. Keynesianos apontam a
intervenção estatal como a solução, enquanto seguidores da Escola Austríaca de Economia
apontam a intervenção estatal como causadora e geradora da crise.
Nesse contexto, o presente artigo busca responder ao seguinte problema: seria a
Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos válida como alternativa à economia keynesiana no
que diz respeito a análise, previsão e tratamento de crises financeiras?
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O objetivo geral é analisar os ensinamentos da Escola Austríaca de Economia


enquanto alternativa à economia keynesiana no tratamento de ciclos econômicos. O mesmo é
complementado com a apresentação da Escola Austríaca de Economia; uma revisão da
bibliografia da Escola Austríaca a respeito dos ciclos econômicos; a revisão da Teoria Geral
de Keynes; e a construção de evidências empíricas que propiciem comparar as duas vertentes
de pensamento.

O trabalho justifica-se pela importância no entendimento dos ciclos econômicos,


considerado um assunto atual, e quando bem compreendido e aplicado, além de trazer
melhores resultados para empresas e investidores, através da melhora no planejamento de
produção e investimentos, tem um efeito social benéfico muito grande, evitando que as
distorções econômicas gerem uma falsa sensação de prosperidade que vem, logo depois,
cobrar seu alto preço. Particularmente, o tema tem grande importância haja vista a relevância
que tem no mercado de capitais, podendo, inclusive, servir como apoio para estruturação de
investimentos no mercado financeiro.

Para os diversos setores da economia, mercado financeiro, empresas em geral e


governo, esse trabalho pretende ser uma semente plantada que chame a atenção de uma linha
de pensamento praticamente ignorada no atual debate econômico.

O estudo está dividido em duas partes, além desta introdução e das considerações
finais. A primeira parte apresenta a metodologia utilizada para a produção deste artigo. A
segunda parte recupera elementos da teoria existente em torno do tema, pela qual se realiza o
desenvolvimento da análise em busca da resposta ao problema central levantado.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
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Esta parte tem como objetivo apresentar o embasamento teórico que contribui para a
realização e sustentação da pesquisa, permitindo a investigação e o aprimoramento do
conhecimento já adquirido.

Assim, o referencial teórico apresenta os conceitos Ciclos Econômicos. Em seguida


traz o entendimento dos ciclos econômicos dentro das duas doutrinas destacadas. Por fim, faz
uma análise da crise de 2008 e da história econômica recente do Brasil.

2.1 Ciclos Econômicos

Por ciclo econômico se entende a variação, ora positiva (expansão), ora negativa
(contração) da atividade econômica de um país, ou de um conjunto de países, baseado na
análise de variáveis econômicas relevantes, tais como produção, emprego, renda, consumo e
investimento, dado que essas variáveis não se comportam de forma linear ao longo do tempo.

De Lima (2011, p. 1) ressalta que:

entender as razões do movimento ondulatório das economias de mercado e procurar


precaver-se contra ele é um dos principais desafios da pesquisa macroeconômica e
da formulação de políticas de estabilização.

Nessa busca pelo entendimento, surgem diferentes teorias tentando entender e explicar
a causa dos ciclos econômicos (a partir de agora CE) e propor soluções. Mas, como lembra
Rothbard (2012), o estudo dos ciclos econômicos deve partir de uma teoria que esteja
integrada ao restante da teoria econômica geral. Portanto, diferentes teorias devem ser
analisadas sob a luz dos diferentes pressupostos teóricos nas quais estão assentadas.

2.2 Escola Austríaca de Economia e a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos

2.2.1 Uma introdução à Escola Austríaca

A Escola Austríaca de Economia, com base robusta nos pensadores Escolásticos, é


assim chamada pelo fato de seus fundadores e membros iniciais terem nascido na Áustria.
Tem seu início na figura de Carl Menger, mais precisamente no ano de 1871, quando Menger
constrói a Teoria Subjetiva do Valor e a Lei da Utilidade Marginal Decrescente.
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Entusiasmado com as ideias de Menger, Eugen von Böhm-bawerk começou um longo e


brilhante trabalho publicado em três volumes na obra “Capital e juro”, obra essa que lhe
rendeu o convite a assumir o Ministério das Finanças austríaco em 1889. Forte crítico da obra
de Karl Marx, Böhm-bawerk teve entre seus alunos de maior destaque Joseph Schumpeter e
Ludwig von Mises. Mises teve, por sua vez, um importante e destacado aluno: Friedrich
Hayek que recebeu o prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel no ano de
1974. Ainda entre os alunos de Mises, surge a figura de Murray Rothbard, que trouxe
importantes contribuições não somente para teoria econômica como para a ciência política, e
Israel Kirzner estudioso da função empresarial.

Como lembrado por Iorio (2011) a tríade básica da Escola Austríaca de Economia é a
ação, o tempo e o conhecimento. Mais precisamente, o estudo da ação humana através da
praxeologia, pois a economia nada mais é do que a interação de homens movidos por suas
insatisfações buscando uma situação com maior nível de conforto que a atual. O tempo é, na
concepção austríaca, dinâmico. O oposto à concepção estática e linear de tempo da visão
newtoniana, uma vez que ao passar do tempo o homem vai acumulando experiências e
conhecimentos, devido ao fato de algo novo sempre estar acontecendo, e com isso seus planos
podem se alterar ou, ainda, se mostrarem errados. A questão do conhecimento, último
elemento da tríade austríaca, nos remete ao fato de que o conhecimento humano detém
componentes de indeterminação e de imprevisibilidade, dotando a ação humana de efeitos
involuntários e que não podem ser calculados a priori, uma vez que o conhecimento é prático,
disperso e tácito.

Para o correto entendimento da Escola Austríaca é necessário traçar uma comparação


entre suas bases teóricas e a da escola neoclássica (predominante no estudo da Economia
Mainstream). Soto (2010) nos traz um quadro que mostra sinteticamente essas principais
diferenças:

Diferenças essenciais entre a Escola Austríaca e a Neoclássica:

Pontos de comparação Paradigma austríaco Paradigma neoclássico

1. Conceito Teoria da ação humana entendida Teoria da decisão: maximização sujeita


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de economia (princípio como um processo dinâmico a restrições (conceito estrito de


essencial): (praxeologia). "racionalidade").

2. Perspectiva Subjetivismo. Estereótipo do individualismo


metodológica: metodológico (objetivista).

3. Protagonista dos Empreendedor criativo. Homo economicus.


processos sociais:

4. Possibilidade de os Admite-se a possibilidade de serem Não se admite que existam erros dos
agentes se equivocarem a cometidos erros empresariais puros quais alguém possa arrepender-se, uma
priori e natureza do ganho que poderiam ter sido evitados com vez que todas as decisões passadas se
empresarial: maior perspicácia empresarial na racionalizam em termos de custos e
percepção de oportunidades de lucro. benefícios. Os lucros empresariais são
considerados como a renda de mais um
fator de produção.

5. Concepção O conhecimento e a informação são Pressupõe-se a existência de informação


da informação: subjetivos, estão dispersos e alteram- perfeita (em termos certos ou
se constantemente (criatividade probabilísticos), objetiva e constante a
empresarial). Distinção radical entre propósito de fins e de meios. Não se
conhecimento científico (objetivo) e distingue entre conhecimento
prático (subjetivo). prático (empresarial) e científico.

6. Ponto de referência: Processo geral com tendência Modelo de equilíbrio (geral ou


coordenadora. Não se distingue parcial). Separação entre a micro e a
entre a micro e a macroeconomia: macroeconomia.
todos os problemas econômicos são
estudados de forma inter-
relacionada.

7. Conceito Processo de rivalidade empresarial. Situação ou modelo de «concorrência


de «concorrência»: perfeita».
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8. Conceito de Subjetivo (depende da capacidade Objetivo e constante (pode ser


custo: empresarial para descobrir novos conhecido e medido por uma terceira
fins alternativos). parte).

9. Formalismo: Lógica verbal (abstrata e formal) que Formalismo matemático (linguagem


permite a consideração do tempo simbólica própria da análise de
subjetivo e da criatividade humana. fenômenos atemporais e constantes).

10. Relação com o mundo Raciocínios apriorístico—dedutivos: Verificação empírica das hipóteses
empírico Separação radical e, quando (pelo menos retoricamente).
necessário, coordenação entre
teoria (ciência) e história (arte). A
história não pode ser utilizada para
testar as teorias.

11. Possibilidades de Impossível, uma vez que o que vai A previsão é um objetivo que se procura
previsão específica: suceder no futuro depende de um de forma deliberada.
conhecimento empresarial ainda não
criado. Apenas são possíveis pattern
predictions de tipo qualitativo e
teórico sobre as consequências
descoordenadoras do
intervencionismo.

12. Responsável pela O empresário. O analista econômico (engenheiro


previsão: social).

13. Estado atual do Notável renascimento nos últimos 25 Situação de crise e mudança acelerada.
paradigma: anos (especialmente depois da crise
do keynesianismo e da queda do
socialismo real).

14. Quantidade de Minoritário, mas crescente Maioritário, mas com sinais de


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"capital humano" investido: crescente dispersão e desagregação.

15. Tipo de Teóricos e filósofos Especialistas em intervencionismo


"capital humano" investido: multidisciplinares. Liberais radicais. econômico (piecemeal social
engineering). Grau de compromisso
com a liberdade muito variável.

16. Contribuições mais Análise crítica da coação Teoria da Escolha Pública.


recentes: institucional (socialismo e Análise econômica da família.
intervencionismo). Análise econômica do direito.
Teoria do sistema bancário livre e Nova macroeconomia clássica.
dos ciclos econômicos. Teoria econômica da "informação"
Teoria evolutiva das instituições (economics of information).
(jurídicas, morais). Novos keynesianos.
Teoria da função empresarial.
Análise crítica do conceito de
«Justiça Social».

17. Posição relativa Rothbard, Mises, Hayek, Kirzner Coase, Friedman, Becker, Samuelson,
de diferentes autores: Stiglitz

2.2.2 Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos

Como dito por Arroyo 2010, a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos (daqui em
diante, TACE), pode ser considerada a condensação de todo o pensamento da Escola
Austríaca; apesar de parecer uma teoria a respeito de um único fenômeno a mesma só pode
ser plenamente compreendida se for estudada sob a luz de um conjunto de temas como base
teórica. Por isso se faz necessário um estudo mais aprofundado, em relação ao resumo já
apresentado aqui, sobre as bases de pensamento dessa escola.
Ciclos econômicos, diferentemente das flutuações econômicas, não são específicos
de algum setor da economia. Ocorrem de forma geral atingindo diferentes áreas e tomam
proporções enormes. Empreendedores erram de forma estapafúrdia suas previsões de
demanda e seus investimentos de longo prazo. De repente, a demanda diminui; os
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investimentos, que antes eram atrativos, se mostram errados. Um período de prosperidade é


encerrado e se inicia uma recessão. Mas qual é o motivo por trás de tantos erros cometidos de
forma conjunta e em larga escala?

A Escola Austríaca de economia no seu entendimento sobre os ciclos econômicos


acredita que algumas informações são interpretadas de forma errada pelo mercado fazendo
com que os investidores e empreendedores errem em seus cálculos e tenham prejuízos. Mas,
levando em conta que a essência da atividade empresarial é fazer previsões, a única forma de
vários empresários errarem ao mesmo tempo é quando há alteração na oferta de moeda no
mercado.

O boom se inicia no momento em que a base monetária é expandida. Para melhor


entendimento, imaginemos uma economia livre de intervenção onde existe uma determinada
quantidade de moeda (base monetária) a disposição. Dessa base monetária uma parte é gasta
em consumo e outra é dividida entre poupança e investimento. A fatia da base monetária que
cabe a cada um é definida pela preferência temporal dos agentes econômicos. A preferência
temporal dos agentes revela os desejos entre satisfazer uma necessidade no presente ou no
futuro: Segundo Rothbard (2012): “quanto menos elas (as pessoas) preferirem no presente,
menor será sua taxa de preferência temporal, e menor, portanto, sua taxa pura de juros”.
Ainda segundo Rothbard, “uma taxa mais baixa de preferência temporal será refletida em
maiores proporções entre investimento e consumo, no prolongamento da estrutura de
produção e formação de capital”. Assim como uma maior preferência temporal traz o efeito
contrário: maior taxa de juros natural, menor proporção entre consumo e investimento e
menor formação de capital. Dessa forma, a taxa de juros está sempre alinhada a preferência
temporal dos agentes econômicos refletindo o desejo desses entre consumir ou adiar seu
consumo.

De outra forma, analisemos como funciona a economia hoje, com um sistema


bancário altamente inflacionário, através do sistema de reservas fracionadas, e com a taxa de
juros determinada arbitrariamente pelo governo. Primeiramente o governo emite nova moeda
se utilizando da emissão de títulos da dívida pública; tais títulos vão, em sua maioria, para o
caixa dos grandes bancos comerciais que, por sua vez, multiplicam esse valor inicial se
valendo do, já mencionado, sistema de reservas fracionadas. Por si só esse processo já é
altamente perigoso para economia, pois ele aumenta as reservas disponíveis para empréstimos
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nos bancos o que força uma redução dos juros reais do mercado estimulando empresários e
consumidores a tomar crédito. Isso se torna ainda mais danoso quando o governo intervém
diminuindo as taxas de juros.

A consequência primeira do processo é de que as proporções entre investimento e


consumo são alteradas artificialmente graças ao novo dinheiro posto em circulação: ao mesmo
tempo em que há um aumento no consumo via aumento do crédito, há um aumento nos
investimentos em bens de capital, ou de longo prazo, que são aqueles investimentos que se
encontram, dentro da estrutura de produção, mais longe do consumidor final. Por isso um fato
comum dos ciclos econômicos é o de que a empresas de bens de capital, geralmente, são mais
vulneráveis as flutuações nas taxas de juros e oferta de moeda do que as indústrias de bens de
consumo. A explicação de tal fato se dá graças ao entendimento em finanças coorporativas de
que o maior custo em um projeto de investimento é o custo de capital, portanto, quando o
custo de capital é reduzido os investimentos de longo prazo são estimulados.

Vejamos que se essa situação (de menores taxas de juros e maiores investimentos de
longo prazo) ocorresse em um cenário livre de intervenção, ela seria consequência da baixa
preferência temporal dos agentes econômicos, sendo assim, sustentável em longo prazo, uma
vez que a consequência primeira seria a formação de poupança e redução natural das taxas de
juros.

Consequência inevitável do processo de expansão da base monetária, a inflação


surge no momento em que o dinheiro recém criado entra em circulação aumentando o preço
os fatores de produção (alugueis, salários e juros) empregados nos novos investimentos.
Como não houve, ou pelo menos não podemos crer que houve, uma mudança na preferência
temporal, a proporção natural entre consumo e investimento tende a voltar, ou seja, os agentes
econômicos vão consumir e poupar na mesma proporção de antes do início do processo, o que
acarreta em redução da formação de poupança e aumento do consumo. Consequentemente,
haverá um aumento do nível geral de preços e um aumento no nível de endividamento das
famílias e das empresas, fato esse que se deve ao cenário convidativo de juros baixos e oferta
de crédito.

Rothbard (2012) resume bem o fenômeno:


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os empresários foram iludidos pela inflação do crédito bancário a investir de mais


em bens de capital de ordens superiores, que só poderiam mantidos com
prosperidade, por meio de preferências temporais mais baixas, e maiores poupança e
investimento; assim que a inflação chega a massa do povo, a inflação se restabelece,
e os investimentos empresariais nas ordens superiores revelam-se um desperdício.
Os empresários foram induzidos a esse erro pela expansão do crédito e por sua
interferência na taxa de juros do livre mercado.

O boom, então, se resume a uma fase de investimento equivocados. A recessão


começa no momento em que a expansão de crédito cessa: ora pelo fato da inflação se tornar
alarmante, ora pelo excesso de endividamento dos agentes econômicos, estando esses fatores
diretamente relacionados à mudança de expectativa do mercado. Faz-se necessário lembrar
que o ciclo não se dá de forma mecânica, quando os primeiros investimentos começam a se
mostrarem equivocados, geralmente, as empresas se socorrem nos bancos comerciais que, por
sua vez, concedem novos empréstimos e continuam a inflar a expansão monetária e creditícia
até a chegada da recessão.

A recessão, apesar de dolorosa, se faz necessária para que os investimentos errados


sejam liquidados. A fase de recessão (ou depressão) também pode ser chamada de fase de
recuperação porque é justamente quando os investimentos errados são liquidados que a
economia se reestabelece para iniciar um novo ciclo.

Um importante comentário feito por Rothbard (2012) sobre o desemprego se mostra


pertinente:

o desemprego será agravado pelas muitas falências, e pelos grandes erros revelados,
mas ele não precisa ser mais do que temporário. (...) O desemprego ultrapassará a
fase ‘friccional’, tornando-se realmente agudo e duradouro, somente se os salários
forem mantidos artificialmente altos e impedidos de cair.

Em suma, se durante o período de recessão os salários forem aumentados por alguma


força além da demanda e oferta, como aumento dos salários mínimos por exemplo, o
desemprego é inevitável. Quanto maior for a diferença entre valor real da mão-de-obra e valor
dos salários cobrados maior será o desemprego.
2.3 A Teoria Keynesiana e os Ciclos Econômicos

2.3.1 Introdução à Teoria Keynesiana


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Por economia keynesiana, ou keynesianismo, se entende a teoria econômica pensada


por John Mayer Keynes e consolidada na obra “A teoria geral do emprego, do juro e da
moeda” publicada pela primeira vez em 1936. Obra essa que resulta em um pensamento
político-econômico contrário aos ideais do liberalismo econômico, ou capitalismo laissez-
faire, uma vez que outorga ao Estado o direito e o dever de intervir na economia objetivando
uma situação de pleno emprego.

Segundo Fernando Ferrari Filho (1991):

Como se sabe, o projeto de Keynes na Teoria Geral consiste basicamente em, por
um lado, negar o sistema econômico de mercado auto equilibrante e auto regulador
e, por outro, apresentar mecanismos econômicos que evitem as depressões e
flutuações econômicas.

Para tanto Keynes desenvolve seu projeto a partir de três proposições teóricas: teoria
da determinação da renda (propensão a consumir e multiplicador), teoria do
investimento (eficácia marginal do capital) e teoria da taxa de juros (preferência pela
liquidez).

2.3.1.1 Princípio da demanda efetiva

O ponto de partida da teoria de Keynes é o da demanda efetiva: o pleno emprego


depende da demanda agregada e o desemprego é o resultado de uma carência de demanda
agregada. Dillard (1993):

Quando o emprego aumenta, aumenta o rendimento. É um princípio fundamental


que quando o rendimento real duma comunidade aumenta, aumentará também o
consumo, porém menos que o rendimento. Em consequência, para que haja uma
procura suficiente para manter o aumento de emprego tem que haver um aumento no
investimento real igual a diferença entre o rendimento e a procura de consumo
originada desse rendimento. Em outras palavras, o emprego não pode aumentar a
não ser que aumente o investimento. Esta é a viga mestre do princípio da procura
efetiva.

2.3.1.2 As três funções “psicológicas” de Keynes

Consumo, poupança e investimento, essas três decisões que são o cerne da atividade
econômica são trabalhadas por Keynes, de forma deliberada, como agregados, ou seja,
Keynes renuncia o detalhe das decisões individuais e se interessa sobre suas variações globais
ao longo do tempo e por sua maior ou menor estabilidade.
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Keynes (1982) na página 243, a respeito dos ciclos econômicos nos diz o seguinte:
“Visto que pensamos ter demonstrado nos capítulos anteriores o que determina o volume de
emprego em qualquer momento, deduz-se, se estivermos certos, que a nossa teoria deve ser
capaz de explicar o fenômeno do ciclo econômico.” Como fundamentação de sua constatação,
Keynes prossegue, na mesma passagem:

Quando examinamos em detalhe qualquer exemplo concreto de ciclo econômico (...)


Verifica-se, em especial, que as flutuações nas propensão a consumir, no estado de
preferência pela liquidez, e na eficiência marginal do capital desempenham todos o
seu papel.

Dando continuidade, Keynes sugere que todo ciclo tem sua origem nas flutuações da
eficiência marginal do capital, somados a isso algumas outras variáveis pontuais de curto
prazo. Dillar (1993) explica:

Keynes encontra a essência do ciclo econômico nas variáveis da taxa de


investimento motivada pelas flutuações cíclicas da eficiência marginal do capital. A
taxa de juros que juntamente com a eficácia marginal do capital determina a taxa de
investimento, é relativamente rígida ou estável e não constitui uma força impulsora
das flutuações cíclicas, se bem que atue, isto sim, como um fator vigorizador,
especialmente nas crises financeiras que amiúde caracterizam o começo das etapas
da depressão. De igual modo, a propensão a consumir é relativamente estável e não
constitui um fator importante que explique as flutuações cíclicas. Temos assim que
das três variáveis independentes que determinam o volume do emprego (a eficácia
marginal do capital, a taxa de juros e a propensão a consumir) , a que desempenha
papel principal nos ciclos econômicos é a eficácia marginal do capital.

Fica claro portando que na óptica de Keynes, apesar de complexo, o ciclo econômico
tem uma única, e principal, fonte causadora. Entretanto, para melhor compreensão, não só da
teoria de Keynes, mas do modo de pensar é preciso fazer uma análise dos demais pontos de
sua obra.

2.3.1.3 Propensão a consumir

Segundo Keynes (1982), a propensão a consumir pode ser resumida como a função
entre C (consumo) e Y (renda); onde para um determinado nível de renda, existe um
determinado nível de consumo que se mostra relativamente estável em curto prazo. Apesar de
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tal análise poder ser aplicada tanto para indivíduos quanto para famílias, é no agregado para a
comunidade que Keynes se dedica. Conforme dito por ele na página 84 da mesma obra:

O montante que a comunidade gasta em consumo depende, evidentemente: i) em


parte do montante da sua renda; (ii)em parte, de outras circunstâncias objetivas que
o acompanham; e (iii), em parte, das necessidades subjetivas. (...) Uma análise
histórica ou uma comparação entre dois sistemas sociais de tipos diferentes deverá
necessariamente levar em conta a maneira pela qual as mudanças nos fatores
subjetivos podem afetar a propensão a consumir. Na continuação desta obra, porém,
consideraremos os fatores subjetivos como dados e admitiremos que a propensão a
consumir apenas depende das alterações nos fatores objetivos.

Como fica bastante claro, Keynes compreendia que a renda tinha somente uma parte
de influência sobre o consumo da comunidade, entretanto, também, fica claro que Keynes
opta por negligenciar os fatores subjetivos e se deter nos fatores objetivos, elencando seis
como os principais fatores que influenciam a propensão a consumir: 1) Uma variação na
unidade de salário; 2) uma variação na diferença entre renda e renda liquida; 3) variações
imprevistas nos valores de capital não considerados no cálculo da renda liquida; 4) variações
na taxa intertemporal de desconto, isto é, na relação de troca entre bens presentes e bens
futuros; 5) variações na política fiscal; 6) Modificação nas expectativas acerca da relação
entre os níveis presentes e futuros de renda. Conclui Keynes:

Chegamos, pois, à conclusão de que, em determinada situação, a propensão a


consumir pode ser considerada uma função relativamente estável desde que
tenhamos eliminado as variações na unidade de salário em termos de moeda. As
flutuações imprevistas nos valores de capital podem modificara propensão a
consumir, bem como poderão afetá-la variações substanciais na taxa de juros e na
política fiscal; porém, não é provável que os outros fatores objetivos capazes de
atuar sobre ela, conquanto não devem ser desprezados, tenham importância em
circunstancias comuns.

Portanto Keynes acredita que se a renda não sofrer alterações a propensão a consumir
tende a ser estável, apesar de também sofrer influência, em menor grau, mas não desprezível,
dos demais fatores objetivos. Keynes credita, portanto, que a variação do consumo se deve, na
maior parte, a variação da renda, entretanto tais agregadas não variam na mesma proporção,
como explicado por Dillard (1993, p. 72-73):

O princípio fundamental de Keynes de que o consumo cresce menos do que o


rendimento, quando este cresce, significa que a relação entre o acréscimo de
consumo e o acréscimo de rendimento é sempre menor que um (...) A única
suposição vital para a teoria de Keynes é que a quantidade de absoluta de consumo
aumenta menos que a quantidade absoluta de renda, sempre que esta aumente.

2.3.1.4 O efeito multiplicador


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Como já foi dito, para Keynes há uma relação bem definida entre consumo e renda,
bem como entre renda e investimento. E com base nessa relação, pode-se, de forma
matemática, determinar quanto uma variação de renda afetaria o consumo e o investimento.
Existirá, segundo o autor, uma razão definida entre qualquer aumento de renda e qualquer
aumento no investimento. Dillard (1993) ajuda a esclarecer:

A relação entre a propensão marginal a consumir e o multiplicador do investimento


pode ser ilustrada mediante um simples exemplo aritmético. Suponhamos que um
aumento de 100 dólares na renda decorre de 90 dólares no consumo e de 10 dólares
no investimento (Y=C+I ou 100=90+10).A propensão marginal a consumir, C/Y, é
90/10. O multiplicador, Y/I, é 100/10 ou 10. Podemos generalizar e dizer que o
multiplicador é igual ao inverso de (1 menos a propensão marginal a consumir); e a
propensão marginal a consumir é igual a unidade menor o inverso do multiplicador.

Continua a explicação expandindo o cenário para a economia de uma comunidade:

O processo em virtude do qual uma nova inversão dá origem a um aumento


multiplicado da renda devido ao aumento do consumo pode ser ilustrado por um
exemplo aritmético. Suponhamos que a propensão marginal a consumir é 4/5. O
multiplicador será então 5. Um milhão de dólares em novo investimento levará a um
aumento total de renda de 5 milhão de dólares. O desembolso inicial de um milhão
de dólares para o investimento aumenta a renda dos recebedores em um milhão de
dólares. Como a propensão marginal a consumir é 4/5, comente 80% deste aumento
inicial de renda será gasto em consumo. Os 800 mil dólares que se gastam em
consumo adicionarão, na segunda rotação, dessa quantidade a renda da comunidade,
já que o gasto de uma pessoa é renda para outra. (...) Este processo, pelo qual o
consumo aumenta até 80% de cada incremento de renda, prosseguirá, através de
etapas sucessivas, até um limite definido, até que o aumento global da renda da
comunidade seja igual a 5 vezes o investimento original.

Faz-se necessário esclarecer que a ausência de qualquer menção a poupança (S) se


deve ao fato de Keynes considerar que todo investimento decorre de poupança, então I=S.
Como ele mesmo explica na página 64 da Teoria Geral:

Desde que se admita que a renda seja igual ao valor da produção corrente, que o
investimento corrente seja igual a parte da dita produção corrente não consumida e
que a poupança seja igual ao excedente de renda sobre o consumo – sendo que tudo
isto está de conformidade com o senso-comum e com o costume tradicional da
grande maioria dos economistas-, a igualdade entre a poupança e o investimento é
uma consequência natural.

2.3.1.5 Estado de preferência pela liquidez

Para Keynes a procura por dinheiro é uma procura pela liquidez. Existindo três
grandes fatores que motivam a preferência por essa. Vamos a eles:
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a) O motivo-renda: ou motivo-transação, trata do montante de recursos


usados para recebimento e o desembolso da renda. Os fatores cruciais
que determinarão o tamanho desse montante serão o valor da renda e a
periodicidade em que se recebe. Segundo Keynes “o conceito de
velocidade-renda da moeda é estritamente apropriado apenas a este
contexto”.
b) O motivo-precaução: refere-se a necessidade de manter moeda para
atender a contingências inesperadas ou aproveitar oportunidade de ganho
como compras vantajosas e adquirir ativos.
c) O motivo-especulação: Seguindo a linha de pensamento de Keynes, os
motivos renda e precaução são relativamente constantes e derivam,
basicamente, da renda. Entretanto há um motivo que faz com que uma
parcela da renda não seja empregada nem no consumo nem nos
investimentos: a expectativa de um aumento na taxa de juros no futuro.

Como disse Dillard (1993):

Por que haveria qualquer pessoa com um superávit de riqueza de preferir acumulá-la
em forma de dinheiro e sacrificar assim o rendimento de juros que poderia auferir
trocando o dinheiro por um crédito em forma de obrigação, hipoteca, etc.? Segundo
Keynes a única condição essencial, sem a qual não poderia subsistir a preferência
pela liquidez do dinheiro como reserva de valor é, a incerteza quanto ao futuro da
taxa de juros, com o que se quer dizer a incerteza quanto ao futuro complexo de
taxas de juros, sobre os créditos de diferentes extensões, que hão prevalecer no
futuro.

Então, pela lógica keynesiana, quanto mais crescer a renda de uma economia maior
tende ser a possibilidade de formação de reservas baseadas no motivo-especulação estando os
agentes econômicos com expectativas de que as taxas de juros subirão, pois os motivo-renda e
motivo-precaução são constantes. Portanto, como os agentes econômicos esperam uma alta
nos juros eles optam por, nesse momento de incerteza, entesourar moeda e adiar
investimentos e consumo.

2.3.1.6 Eficiência marginal do capital

O termo “eficiência”, no contexto empregado, faz referência à rentabilidade de um


bem de capital; portanto, a eficácia de um bem de capital é medida pela taxa de retorno sobre
seu próprio custo. Complementa o conceito Keynes (1982):
18

A confusão mais importante quanto à importância e ao significado da eficiência


marginal do capital advém do fato de não se ter compreendido que ela depende
também da renda esperada do capital e não apenas da sua renda corrente. Isso pode
ser melhor ilustrado indicando-se o efeito sobre a eficiência marginal do capital que
tem a expectativa de modificações no custo prospectivo de produção, quer se
esperem essas mudanças como resultado de alterações no custo do trabalho, isto é,
na taxa de salário, quer de invenções e técnicas novas.

Em suma, trata-se da clássica “taxa de desconto que, aplicada à série de anuidades


constituída pelos rendimentos descontados do investimento, torna o valor atual dessas
unidades igual ao preço de oferta do bem de capital” conforme Keynes menciona em seu
livro.

2.3.2 Os ciclos econômicos na visão de Keynes

Para Keynes os três principais fatores de sua teoria (propensão a consumir,


preferência pela liquidez e eficiência marginal do capital) tem papel relevante no
entendimento dos ciclos econômicos. Entende-se então que, apesar de muito complexos os
ciclos, a teoria é capaz de explicar tal fenômeno. Keynes não mostra dúvida em relação à
causa básica dos ciclos econômicos: “Creio que a explicação mais normal, e por vezes a
essencial, da crise não é primordialmente uma alta na taxa de juros, mas um repentino colapso
da eficiência marginal do capital”. Entretanto ele julga necessário incluir uma nova
característica para o ciclo econômico e chama essa de fenômeno da crise:

...crise o fato de que a substituição de uma fase ascendente por outra descendente
geralmente ocorre de modo repentino e violento, ao passo que, como regra, a
transação de uma fase descendente para fase ascende não é tão repentina.

Ainda sobre a crise e sua relação entre as taxas de juros e a eficiência marginal do
capital ele explica que o fato das taxas de juros sofrerem uma alta é um fato que agrava, e às
vezes, desencadeia a crise. Mas a causa da alta das taxas de juros é consequência da maior
demanda por moeda, tanto para fins de transações como para fins especulativos. Cita,
também, alguns fatores psicológicos que contribuem para o aumento das taxas de juros:
“Além disso, o pessimismo e a incerteza a respeito do futuro que acompanham o colapso da
eficiência marginal do capital suscitam, naturalmente, um forte aumento da preferência pela
liquidez e, consequentemente, uma elevação nas taxas de juros”.
19

Falando sobre a fase de expansão do ciclo econômico e sua relação com a eficiência
marginal do capital, Keynes diz que:

enquanto a expansão continua, a maioria dos novos investimentos oferece um


rendimento corrente que não é insatisfatório. A desilusão chega porque, de repente,
surgem dúvidas quanto à confiança que se pode ter no rendimento esperado, talvez
porque o rendimento atual de sinais de baixa à medida que os estoques de bens
duráveis produzidos recentemente aumentam regularmente.

E complementa dizendo que a queda na eficiência marginal do capital tende a afetar


negativamente a propensão a consumir, e que, naturalmente, a ilusão da fase de expansão leva
a produção de bens de capital que nada mais são do que desperdício de recursos.

Ao tratar da fase posterior a crise, Keynes lembra novamente da taxa de juros e dos
fatores psicológicos:

Posteriormente, um declínio da taxa de juros será de grande auxílio para a


recuperação e, provavelmente, uma condição necessária da mesma, mas, de
momento, o colapso da eficiência marginal do capital pode ser tão completo que
nenhuma redução possível da taxa de juros baste para o contrabalançar.

(...) É a volta confiança, para empregar a linguagem comum, que se afigura tão
difícil de controlar numa economia de capitalismo individualista.

O autor acredita ainda que:

em condições de laissez-faire, talvez, seja impossível evitar grandes flutuações no


emprego sem uma profunda mudança na psicologia do mercado de investimentos,
mudança essa que não há razão para esperar que ocorra. Em conclusão acho que não
se pode, com segurança, abandonar a iniciativa privada o cuidado de regular o
volume corrente de investimentos.

Até esse ponto pode-se entender o que Keynes julgava ser a causa da crise: as
oscilações da eficiência marginal do capital. Pode-se, também, entender que tais oscilações
são inerentes a uma economia capitalista e que a alta nas taxas de juros não pode ser
considerada uma causa, mas sim um agravante da fase de declínio do ciclo. A dúvida que
pode surgir nesse ponto é: o que pode ser feito? Na página 249 ele sugere:

O remédio para o auge da expansão não é a alta, mas a baixa da taxa de juros! Pois
aquela pode fazer perdurar o chamado auge da expansão. O verdadeiro remédio para
o ciclo econômico não consiste em evitar o auge das expansões e em manter assim
uma semidepressão permanente, mas em abolir as depressões e manter desde modo
permanentemente um quasi-boom.

O remédio não consistiria em fazer incidir uma elevada taxa de juros, que
provavelmente desanimaria alguns investimentos úteis e enfraqueceria ainda mais a
propensão a consumir, mas em tomar medidas energéticas, como, por exemplo, uma
20

nova distribuição dos rendimentos ou outra qualquer, a fim de estimular a propensão


a consumir.

Apesar de creditar a causa da crise à eficiência marginal do capital, Keynes insiste


que além de estimular os investimentos reduzindo as taxas de juros, a melhor saída para a
crise é estimular o consumo:

Se é materialmente impraticável aumentar o investimento, torna-se evidente não


haver outros meios de alcançar um nível maior de emprego além do de aumentar o
consumo.

O remédio consistiria em tomar várias medidas capazes de aumentar a propensão a


consumir através de uma redistribuição de renda ou de um processo semelhante de
modo eu dado volume de emprego pudesse ser mantido com um volume de
investimentos menor

Embora procurando conseguir um luxo de investimento controlado socialmente com


vista a baixa progressiva a eficiência marginal do capital, estou disposto a apoiar, ao
mesmo tempo, toda sorte de medidas para aumentar a propensão a consumir.

2.4 A crítica austríaca à teoria keynesiana

As principais divergências entre as teorias saltam aos olhos. Entretanto, graças ao


fato da teoria keynesiana ter tido muito mais espaço no meio acadêmico e no meio político, a
maioria das críticas cabidas à teoria de John M. Keynes ficaram por anos reclusas a um
pequeno grupo de pensadores e estudantes. A grande mídia e a academia, por exemplo, até
hoje parecem estar “imunes” as críticas feitas à Keynes. Alguns poucos veem Hayek como
um crítico solitário e vencido. Após a crise de 2008 muito se tem discutido sobre os ciclos
econômicos e tais discussões pendem, favoravelmente, para o lado de Keynes sem nem
considerar seus críticos. Com base nesse cenário, se faz necessário e urgente que as possíveis
falhas teóricas existentes na teoria keynesiana sejam mostradas e debatidas, assim como as
críticas keynesianas a teoria austríaca sejam analisadas.

2.4.1 O fetiche do pleno emprego

Keynes, explicitamente, define que o resultado, ou o objetivo, de uma política


econômica ideal deva ser o pleno emprego. Na realidade, defendem os austríacos, o objetivo
de uma economia saudável deve ser a produtividade crescente; aumento do nível de emprego
é uma consequência disso. Como Ron Paul e Lew Rockweel (2015) lembram:
21

Você pode dar a alguém um "emprego" de cavar um buraco num dia e tapá-lo no dia
seguinte — ou talvez o equivalente a isso, porém executado em uma escrivaninha.
Mas isso não trará benefício nenhum a ninguém. Da mesma maneira, seria possível
reduzir o desemprego a zero por meio de uma regressão compulsória na tecnologia:
poderíamos abolir completamente o uso de caminhões e trens, e obrigar toda a carga
a ser transportada de carro. Isso criaria milhões de novos empregos. Ou poderíamos
também abolir o uso do carro e criar ainda mais empregos, pois agora as pessoas só
poderiam transportar carga nas costas.

Em cada um desses casos, o número de empregos criados iria superar com ampla
margem o número de empregos perdidos na indústria de caminhões e na
automotiva. Mas fica a pergunta: essa criação de empregos por acaso nos deixou
mais ricos? Por acaso aumentou o nosso bem-estar? A resposta é óbvia. Essa
criação de empregos, na prática, gerou uma redução no padrão de vida de todas as
pessoas.

(...) A única maneira de criar e manter empregos que não produzem realmente
aquilo que o consumidor quer é utilizando o governo.
Seja por meio de subsídios diretos, seja por meio de regulações que criam um cartel
e proíbem a concorrência, seja por meio de tarifas de importação que criam um
reserva de mercado — apenas o governo pode manter operante empresas que
produzem algo que não é genuinamente demandado pelo consumidor. E, ao fazer
isso, empregos são gerados. E eles podem custar muito caro.

Colocar como objetivo de uma economia saudável a criação de empregos traz


consequências de médio e longo prazo que serão melhores analisadas no capítulo a respeito da
chamada “nova matriz econômica”.

2.4.2 A armadilha da liquidez e as taxas de juros

Um dos maiores críticos de Keynes, com certeza, foi Murray Rothbard. Na obra “A
grande depressão americana”, ele disseca a crise de 1929 e aponta os principais erros na
análise keynesiana.

Os keynesianos afirmam que a preferência por liquidez pode ser persistentemente


alta que as taxas de juros não cairiam o suficiente para estimular novos investimentos.
Rothbard ressalta que o erro nessa interpretação é de que a taxa de juros não é formada pela
preferência pela liquidez, mas sim pela preferência temporal dos agentes econômicos.
Lembra, também, o fato que de que não são as taxas de juros que determinam o nível de
investimentos, mas que as taxas de juros, níveis de investimentos e poupança são
determinados simultaneamente pela preferência temporal. Portanto, um aumento na demanda
por moeda não necessariamente elevará a taxa de juros, pois a oferta para suprir essa demanda
pode vir ou de fundos consumidos anteriormente ou de fundos investidos anteriormente, ou de
uma mistura dos dois que deixa inalterada a proporção entre consumo e investimento.
22

Rothbard conclui que “se o aumento no entesouramento vier principalmente do consumo, um


aumento na demanda monetária fará com que as taxas de juros caiam – porque as preferências
temporais caíram”.

2.4.3 A TACE só é válida na hipótese de pleno emprego

Tal afirmativa, critica frequente a TACE, se mostra equivocada porque parte do


princípio que a TACE pressupões pleno emprego dos fatores de produção. Segundo a crítica,
os ciclos provocados por expansões artificias do crédito não ocorreriam na hipótese de
desemprego. Segundo Ioirio (2013):

Como a TACE mostra claramente, expansões artificiais do crédito, isto é, não


baseadas em poupança genuína, mas em moeda fantasiada de poupança, emitem
sinais positivos ilusórios para o capital nos setores de ordens mais elevadas, o que
atrairá investimentos de longo prazo para esses setores, mas isto só poderá acontecer
durante algum tempo, porque o cabo de guerra subsequente entre consumo e
investimento, dadas as preferências intertemporais, acabará por elevar a taxa de
juros e mostrando a realidade dos fatos: aqueles investimentos
foram malinvestments, e esse fato inescapável, ou seja, os erros cometidos
anteriormente serão amplificados ao final do período de boom.

Espero ter ficado bem claro que expansões artificiais de crédito geram ciclos
econômicos e isso nem de longe depende da existência ou ausência de fatores de
produção desempregados!

2.4.4 A TACE pressupõe que o boom é um período de sobre investimentos

Muitos críticos gostam de dizer que no entendimento austríaco a expansão de crédito


gera um aumento nos investimentos, o que caracteriza um período de sobre investimento. Na
realidade, a TACE observa que durante o boom o que ocorre é um aumento no consumo dos
bens de capital devido ao fato de que esses não aumentaram. Então, conforme o volume de
investimentos vai aumentando maior é o consumo dos bens de capital, até o ponto em que não
existirão bens disponíveis para que a estrutura de produção se complete. Tais investimentos
não caracterizam sobre investimentos, mas sim “malinvestiments”, ou seja, investimentos
errados. Iorio (2013) completa:

Como a oferta de bens de capital demanda mais tempo para se concretizar, empresas
não podem entrar em operação porque ainda não houve tempo para a instalação de
outras empresas que produzam insumos complementares para a produção das
primeiras e, como escreveu Mises, "fábricas cujos produtos não podem ser vendidos
porque os consumidores antes preferem comprar outros bens que, no entanto, não
são produzidos em quantidades suficientes" (porque o crédito artificial estimulou
23

investimentos equivocados em outras etapas do processo produtivo). Em outras


palavras, o término inescapável da expansão creditícia torna visíveis erros que antes
pareciam acertos!

É claro que todos veem somente os malinvestments visíveis, sem notar que isso foi
provocado porque não surgiram empresas para produzirem bens complementares,
bem como empresas necessárias para produzir aqueles bens de consumo que agora
são mais demandados.

Mises, em Ação Humana, é bastante claro: "A classe empresarial inteira fica como
que na posição de um construtor que superestima a quantidade da oferta disponível
de materiais... supervisiona a construção das fundações... e só depois descobre... que
não tem o material necessário para completar a estrutura. É óbvio que o erro de
nosso construtor não foi um sobre investimento, mas um investimento inapropriado.

No mesmo artigo, Iorio conclui que somente um mercado livre de agressão


governamental pode garantir que a estrutura de produção possa se desenvolver de forma
natural ao longo do tempo.

2.4.5 O efeito multiplicador keynesiano

O efeito multiplicador de Keynes se baseia na premissa de que é o ato de gastar que


torna uma sociedade rica. Derivando a equação Y=C+I, ele chega à conclusão de que quanto
maior o consumo, maior a renda. Aqui logo se percebe um erro lógico na inversão de causa e
consequência, que é o preço que se paga ao simplificar a ciência econômica a fórmulas
matemáticas: não é um consumo maior que aumenta a renda, mas sim uma renda maior que
aumenta o consumo. Vejamos o exemplo de uma única pessoa dentro da sociedade: alguém
chamado José possui uma renda de R$ 1.000,00. Parte de sua renda, digamos 90%, José
consome, o restante, 10%, ele poupa todos os meses.

Certamente não é o valor consumido por José que lhe torna uma pessoa mais rica,
mas sim sua capacidade em gerar mais renda. Depois de passado um ano, José terá consumido
R$ 10.800,00 e poupado outros R$1.200,00. Gastar 100% da renda não torna José mais rico;
da mesma forma, gastar mais do que sua renda permite, através de endividamento, não
somente não torna José mais rico, como o torna mais pobre devido ao fato de que ele está
gerando débitos futuros que vão lhe corroer o poder de compra.
Com toda certeza, o valor consumido serviu de renda para seus fornecedores,
entretanto, um aumento do consumo de José que não seja sustentado por um aumento de
renda acaba por limitar sua capacidade de consumir no futuro, assim como, um aumento no
consumo hoje via endividamento, não só limita como diminui a capacidade de consumir no
24

futuro; esse ciclo faz com que o ganho de renda atual dos fornecedores de José não se
mantenha em um futuro próximo, graças a iminente queda no consumo que está por vir. Se tal
exemplo for expandido a mais agentes econômicos, facilmente se percebe que um aumento no
consumo dos fornecedores de José terá o mesmo efeito: uma redução no consumo futuro, e o
mesmo acontecerá com os fornecedores dos fornecedores de José.

Alguns keynesianos argumentam que com um aumento no consumo presente, os


fornecedores se veem estimulados a realizarem novos investimentos, e desses novos
investimentos surgem aumentos de renda que manterão o nível de consumo crescente. Tal
raciocínio se faz correto se, e somente se, for admitia a hipótese de que o aumento de
consumo é algo que se dá através do uso de recursos previamente acumulados (poupança) ou
de crédito com base em poupança real existente. Infelizmente esse não é o caso do
funcionamento atual do mercado.

Através do sistema de reservas fracionadas e da emissão de moeda sem lastro pelos


Bancos Centrais ao redor do mundo, a maior parte do crédito em circulação não possui lastro
algum em poupança; se mesmo assim for iniciado um processo de incentivo ao consumo e ao
crédito, o que se verá é o início de um ciclo econômico como bem descreveu a TACE, onde
existiram sim novos investimentos focados em atender a maior demanda atual, entretanto,
logo esses investimentos se mostrarão investimentos errados, e o aparente ciclo de
prosperidade se encerrará.

Alguns, ainda, argumentam que Keynes, na verdade, baseava sua teoria em um


aumento de investimentos que geraria um ciclo próspero de mais investimentos e mais renda.
Vejamos o que diz Bagus (2013):

O famoso "multiplicador do investimento" é uma das vítimas. Segundo esta teoria,


um aumento unitário no volume de investimento de uma economia provoca ondas
sucessivas de aumento da renda, cuja dimensão depende da propensão marginal a
consumir ou poupar. Esta teoria requer que todos os fatores de produção estejam
apresentando alguma ociosidade. Mais especificamente, para Keynes estar correto,
é necessário que haja desemprego voluntário de todos os fatores de produção e que
também haja capacidade ociosa nas indústrias de bens de consumo.

Vejamos. Se não houver desemprego voluntário de todos os fatores, o estímulo


governamental a novos projetos de investimentos irá gerar apenas gargalos, uma vez
que fatores de produção serão retirados de outros projetos mais lucrativos e
direcionados para projetos artificiais. Os keynesianos concordam com isso. Se
todos os tipos de fatores de produção estiverem apresentando alguma ociosidade,
mas não houver mais capacidade produtiva nas indústrias de bens de consumo, então
25

estímulos governamentais irão apenas elevar os preços dos bens de consumo e


encurtar a estrutura de produção, tornando-a mais voltada para o presente. Os
keynesianos também concordam com isso.

E, finalmente, se os dois fenômenos ocorrerem conjuntamente — isto é, se houver


uma ociosidade geral dos fatores e houver folga na capacidade produtiva das
indústrias de bens de consumo, que é o pressuposto da teoria de Keynes —, por que
então não há um acordo voluntário entre os proprietários dos fatores de produção e
os empreendedores? Keynes não respondeu a essa questão, e preferiu ir diretamente
para a defesa do aumento dos gastos do governo e da inflação monetária para
corrigir esta situação.

Também de forma precisa, Iorio (2013) recorre a Rothbard para mostrar como,
algebricamente, tal teoria se mostra errada:

Rothbard utiliza uma paródia, obedecendo rigorosamente ao raciocínio keynesiano,


para desmascarar a falácia, por reductio ad absurdum, que passo a reproduzir com
pequenas alterações:

Sejam: renda agregada = Y; Renda de Jorge = J; e Renda de todos os demais


habitantes do país = X, sendo Jorge um habitante desse país.

X é, então, uma função estável de Y, o que pode ser visto se plotarmos ambos em
coordenadas e verificarmos que para cada Y haverá um X correspondente. Como
Rothbard escreveu, esta é uma função tremendamente estável, bem mais estável do
que a função consumo convencional, que não exclui o consumo de Jorge.

Se, agora, plotarmos a renda de Jorge, J, contra Y, encontraremos, ao invés de uma


correlação perfeita, apenas conexões remotas entre a renda flutuante desse indivíduo
e a renda agregada. Portanto, a renda de Jorge é um elemento ativo e volátil de
incerteza nessa economia, enquanto o consumo de todos os demais indivíduos é
passivo, estável, determinado pela renda da coletividade.

Suponhamos que a equação relevante seja:

X = 0,99999 Y

Temos, então,
Y = 0,99999 Y + J

E, logo,
0,0001 Y = J

Ou seja,
Y = 100.000 J

Este número fantástico é o "multiplicador" de Jorge, muito mais potente do que o


multiplicador de investimentos original.

Como admitido por Keynes, sua teoria é baseada no fato que os agregados
econômicos são estáveis ao longo do tempo. A Escola Austríaca lembra que é muito perigoso
analisar a economia pelo uso de agregados justamente porque esses não refletem exatamente
as preferências temporais e pessoais dos diversos agentes econômicos.
26

3 ANÁLISE EMPÍRICA

Com base em toda a bibliografia revisada, vamos confrontar teoria e prática.

3.1 A crise de 2008 e a TACE

A crise do subprime, que teve seu auge no ano de 2008 nos Estados Unidos e
rapidamente se espalhou pelo mundo, é até hoje, sete anos depois, motivo de divergência
entre economistas. Alguns alegam que ela serviu para provar como capitalismo sem regulação
tende a autodestruição; outros dizem que ela mostrou que a ausência de políticas anticíclicas,
pregadas por keynesianos, levou a crise. Os economistas que tem por base a escola austríaca
nos dizem que esse foi, mais um, exemplo da TACE. Nas próximas linhas, será mostrada uma
síntese imparcial a respeito da crise, assim como proposto por Roque (2013).

3.1.1 A anatomia da tragédia – alguns detalhes importantes

Na figura 1, podemos verificar o comportamento dos preços dos imóveis novos


postos à venda. Roque (2013):
Figura 1 - preço dos imóveis novos postos a venda
27

Observa-se que a partir do início dos anos 2000 os preços aumentaram de forma
exponencial, fugindo da linha imaginária que direcionava os preços a um aumento constante
até entrar em colapso no ano de 2008.

Para real entendimento do motivo que fez com que os preços disparassem depois de
2000, é necessário conhecer duas empresas americanas: Federal National Mortgage
Association (popularmente conhecida como Fannie Mae) e a Federal Home Loan Mortgage
Corporation (popularmente conhecida como Freddie Mac). Tais empresas foram criadas pelo
governo com o objetivo de dar liquidez ao sistema hipotecário americano; funcionavam
assim: um banco realizava um empréstimo imobiliário e vendia esse empréstimo a Fannie
Mae ou a Freddie Mac, recebendo em troca um valor superior ao valor emprestado.

Dessa forma, os bancos estavam livres do risco de inadimplência, uma vez que o risco
era todo das empresas, e poderiam voltar ao mercado fazer novos empréstimos. Devido ao
grande risco concentrado nessas duas organizações e a sua função social, o governo assumia o
papel de garantidor das empresas, ou seja, caso as empresas (privadas) sofressem perdas, o
governo era responsável por socorrê-las.

Como lembrado por Roque (2013) a participação das empresas era tão grande que em
setembro de 2008, quando o governo nacionalizou ambas, elas detinham metade das hipotecas
do país e quase 75% das hipotecas recentes. Roque (2013) exemplifica como se dava, na
prática, o funcionamento dessas empresas:

Um americano típico, John Smith, vai a um banco qualquer e consegue um


empréstimo para comprar um imóvel. Ato contínuo, este banco irá revender este
empréstimo (que é um ativo) para Fannie e Freddie. Ambas terão a opção de ou
manter este ativo ou revender este ativo. Na maioria das vezes, como mostram os
números do parágrafo acima, elas mantinham este ativo em suas carteiras.

Porém, em vários casos, elas empacotavam estes ativos e revendiam para


investidores de todo o mundo, em sua esmagadora maioria grandes conglomerados
financeiros e grandes bancos de investimento.
Bear Stearns, Lehman Brothers, Goldman Sachs, JPMorgan Chase, Merril Lynch,
Morgan Stanley, Citibank, Bank of America eram os compradores americanos mais
famosos, ao passo que Barclays, Royal Bank of Scotland e Northern Rock (Reino
Unido), BNP Paribas e Société Générale (França), Credit Suisse e UBS (Suíça), e
Deutsche Bank (Alemanha) eram os mais famosos compradores da Europa.

Esta prática de empacotar ativos e revendê-los é chamada de securitização. O


principal problema com esta securitização é que ela misturava ativos bons
(mutuários com bom histórico de crédito) com ativos ruins (mutuários sem nenhum
histórico de crédito) no mesmo pacote. Logo, quem comprava um pacote contendo
28

ativos bons também acabava por tabela adquirindo ativos ruins. Qualquer calote dos
ativos ruins afetaria sobremaneira os balancetes destas instituições.

Outra questão de suma importância para entendimento do processo de formação da


bolha é a lei denominada CRA (Community Reinvestment Act.), como dito por Roque
(2013):

Trata-se de uma lei criada ainda no governo de Jimmy Carter, no final da década de
1970, e que foi plenamente revigorada no governo Clinton. Esta lei deixou os
bancos à mercê de processos por discriminação caso eles não emprestassem para
minorias em um volume suficientemente alto, que satisfizesse as autoridades.

De acordo com as regras do Community Reinvestment Act (CRA), se um banco


quisesse fazer qualquer alteração em suas operações comerciais — fusão, abertura
de uma filial, entrada em uma nova linha de negócios —, ele deveria primeiro
provar aos reguladores que ele, o banco, já fez uma quantidade "suficiente" de
empréstimos aos mutuários preferidos do governo — no caso, minorias e pessoas de
baixa renda.

E, a partir de 1995, o governo americano passou a pressionar os bancos para que


fizessem empréstimos sem que pudessem verificar critérios minimamente prudentes,
como histórico de crédito do tomador de empréstimo, seu histórico de poupança e a
magnitude do pagamento da hipoteca em relação à sua renda. Os bancos não
podiam nem sequer verificar a renda do mutuário. Adicionalmente, o Banco Central
americano havia dito aos bancos que a simples participação deste mutuário em
programas de aconselhamento de crédito, muitos dos quais são financiados com
fundos federais, poderia ser usada como "prova" da capacidade desse mutuário de
baixa renda honrar seus pagamentos hipotecários.

Em outras palavras, os reguladores bancários federais exigiram que os bancos


fizessem empréstimos ruins baseando-se em padrões de crédito inexistentes.

Percebe-se, logo, que após as medidas de incentivo a concessão de empréstimos


imobiliários pelo governo, seja pelo lado de garantir as empresas Fannie e Freddie, seja pelo
lado de relaxar os critérios de seleção de crédito, formava-se um cenário bastante propício e
incentivador a especulação. Roque (2013) completa:

O aumento na demanda por imóveis — estimulado pelo acesso artificialmente


facilitado aos financiamentos — gerou um inevitável e contínuo aumento nos preços
dos imóveis. Este aumento contínuo, por sua vez, produziu o "inesperado" efeito de
atrair especuladores para o mercado imobiliário. Tornou-se extremamente comum
um indivíduo adquirir um empréstimo, comprar uma casa, fazer alguns
aprimoramentos nesta casa e, apenas um ano depois, revendê-la a um preço muito
maior, entregando a hipoteca para o novo comprador que, seis meses depois, faria a
mesma coisa que seu antecessor. Ou seja, comprar um imóvel havia virado um
investimento altamente rentável e de ganho certo.

Aqueles que não compravam com a intenção de revender passaram a utilizar suas
casas como um caixa eletrônico: sempre que o imóvel se valorizava, o indivíduo ia
ao banco e, utilizando o novo valor da sua casa como colateral, negociava um novo
empréstimo para gastar em bens de consumo, como carros e televisores de plasma.
29

Um arranjo como este perdura enquanto os preços dos imóveis estiverem em


ascensão. Se os preços começarem a cair, duas coisas ocorrerão: a revenda do
imóvel passará a dar prejuízo e o valor da hipoteca será maior do que o valor do
imóvel, o que impedirá qualquer tipo de renegociação com os bancos e deixará o
mutuário com um patrimônio negativo. Em suma, todo o esquema especulativo virá
abaixo. E não apenas isso: dar o calote e abandonar o imóvel passará a ser a opção
mais racional.

3.1.2 O boom e a formação da bolha

Após o estouro da bolha das empresas de tecnologia, também chamada de crise das
pontocom, e dos ataques terroristas do 11 de setembro de 2011, os Estados Unidos passava
por uma situação econômica muito delicada; tinha a missão de se recuperar de uma crise
financeira e um atentado bárbaro sofrido. Como estratégia de estímulo a atividade econômica,
o FED (Federal Reserve), que funciona como o Banco Central, resolveu diminuir os juros e,
para isso, aumentou a base monetária. A figura 2, disponibilizada por Roque (2013), mostra
justamente o comportamento da taxa de juros (linha azul) e da base monetária (linha
vermelha):
Figura 2 - taxa básica de juros X base monetária

Nota-se que a taxa básica de juros foi reduzida de 6,5% a.a para 1% a.a e
permaneceu assim até parte de 2004. Também é visível o grande incremento na base
monetária, tal incremento (que se dá através dos bancos comerciais) deixou os bancos cheios
de dinheiro para emprestar e com um setor, imobiliário, se destacando como o como o
preferido (devido aos fatores já mencionados). O que nos traz a figura 3, que mostra
30

justamente o comportamento do mercado de crédito americano. Na linha azul os valores totais


de crédito concedidos no período e na linha vermelha os valores referentes ao crédito
imobiliário:
Figura 3 - Crédito total X crédito imobiliário

Observamos que, entre 2000 e 2008, o volume total de crédito saltou de 3,5 trilhões
de dólares para 7 trilhões de dólares, ou seja, em 8 anos o volume total de crédito aumentou
em 100%. Da mesma forma, o volume destina ao crédito imobiliário passou de 1,5 trilhão de
dólares para 3,5 trilhões de dólares, um aumento, proporcionalmente, maior ainda que o
observado no crédito total.

Roque (2013) resume bem a situação:


Ou seja, dos US$3,5 trilhões jogados na economia, US$2 trilhões foram para o setor
imobiliário. Acrescente a isso todas as medidas governamentais citadas ao longo
deste artigo, e realmente não há absolutamente nenhum motivo para se estranhar a
bolha imobiliária que foi formada.

Isso explica toda aquela elevação de preços observada no gráfico 1. De 1993 a


2006, os preços dos imóveis se apreciaram acentuadamente. Em alguns mercados
específicos, até mesmo os preços das moradias mais simples se tornaram
astronomicamente altos.

Esta subida nos preços estimulava novos investimentos em mais construções de


imóveis, o que gerava um aumento na oferta de imóveis. E este aumento na oferta
de imóveis viria, mais à frente, a exercer uma pressão baixista nos preços dos
imóveis.
31

Como a economia americana já demonstrava recuperação em relação ao período


difícil do início da década e, também, preocupado com o nível de preços, em 2004 o FED
optou por iniciar a redução dos estímulos. Como podemos observar na figura 4, onde temos a
evolução da taxa básica de juros (linha azul) e da base monetária (linha vermelha):

Figura 4 - Taxa básica de juros X base monetária

Esse aumento na taxa básica de juros, de 1% a.a para 5,25% a.a, teve impacto nas
taxas de empréstimos sobre as hipotecas, como é mostrado a seguir na figura 5:
32

Figura 5 - evolução da taxa de juros para empréstimos imobiliários

Percebe-se que os juros das hipotecas com taxas ajustáveis (linha vermelha)
passaram de uma mínima de 3,5% a.a em 2004 e foram para quase 6% em 2006. Enquanto a
taxa das hipotecas convencionais de 30 anos (linha azul) passaram de 5,5% a.a. para quase
7% a.a.

3.1.3 O estouro da bolha

Após um período convidativo a investimentos no setor imobiliário, diversos recursos,


não só monetários, foram direcionados a oferta de imóveis. Esse aumento na oferta de
imóveis quando somado ao aumento nas taxas de empréstimos sobre os imóveis fez com que
os preços, no final de 2006, começassem a cair. A consequência inevitável desse processo é
explicada por Roque (2013):

A queda nos preços — na realidade, a percepção de que os preços não mais iriam
aumentar — arrefeceu toda a atividade especulativa. Pessoas que haviam comprado
imóveis para especular viram que a festa havia acabado. O que elas fizeram?
Simplesmente pararam de pagar suas hipotecas. Deram o calote. Por quê? Porque
elas haviam pegado empréstimos extremamente generosos, que não exigiam
absolutamente nenhum pagamento de entrada. Elas simplesmente abandonaram
seus imóveis. Não perderam nada.

Já outras pessoas pararam de pagar suas hipotecas simplesmente porque o aumento


dos juros havia tornado impossível continuar honrando suas prestações.
33

A combinação destes dois fatores fez com que os calotes totais nos empréstimos
imobiliários disparassem. Começou timidamente em 2006. Disparou em 2007. Foi
para a estratosfera em 2008.

De 2005 até o final de 2008, os calotes pularam de US$20 bilhões para US$170
bilhões. Um aumento de 750% em 4 anos.”

A evolução dos calotes é mais facilmente identificada no gráfico da figura 6:

Figura 6 - Inadimplência total dos empréstimos garantidos por imóveis

O aumento no número de calotes fez com que aqueles ativos vendidos por Fannie e
Feddie para grandes bancos perde-se valor, alguns passaram a ter valor zero. Isso afetou
sobremaneira o balanço dos bancos, fazendo com que muitos não conseguissem mais
emprestar dinheiro (nem mesmo entre bancos). Por consequência, vários bancos passaram a
sofrer com problema de liquidez. Roque (2013) lembra:

Essa crise começou a se tornar mundialmente visível em agosto de 2007. No dia 9


daquele mês, o banco francês BNP Paribas anunciou que estava suspendendo saques
em dois dos seus fundos que haviam investido volumosamente em títulos lastreados
em hipotecas americanas. Isso afetou o banco britânico Northern Rock, que
dependia exatamente destes fundos de investimento para conseguir liquidez.

Incapaz de conseguir um empréstimo de curto prazo no mercado bancário, o


Northern Rock recorreu ao Banco Central da Inglaterra para pedir um empréstimo
de 3 bilhões de libras. Tudo parecia estar indo bem, exceto por um detalhe: um
informante dentro do Banco da Inglaterra alertou a BBC sobre a operação no dia 13
de setembro de 2007.
34

A notícia de que o banco estava insolvente se espalhou como fogo na pólvora e, na


manhã seguinte, houve uma corrida bancária ao Northern Rock, com correntistas
ávidos para sacar seu dinheiro. Foi a primeira corrida bancária em larga escala
desde 1930. O governo britânico anunciou que iria garantir todos os depósitos do
banco.

No dia 17 de fevereiro de 2008, após o governo recusar várias ofertas de aquisição


pelos outros bancos, o Northern Rock foi nacionalizado. Daí por diante, todo o
castelo de cartas começou a desabar.

O banco de investimentos Bear Stearns se tornou insolvente em março de 2008. O


Tesouro americano orquestrou sua aquisição pelo JP Morgan.
No dia 7 de setembro, Fannie Mae e Freddie Mac foram nacionalizadas
completamente. Na semana seguinte, o Fed orquestrou a aquisição do Merril Lynch
pelo Bank of America. No dia 15 de setembro, o Lehman Brothers anunciou sua
falência. Não houve socorro.

Mas não foram somente os bancos que sofreram com a crise. A seguradora AIG
(uma das maiores do mundo) também teve enormes perdas. A seguradora, incentivada pela
política do FED e pela avaliação de risco das agências de rating, emitia seguros contra calote
da dívida hipotecária dos bancos, os famosos credit default swaps, com a disparada dos
calotes os bancos começaram a resgatar suas apólices, o que fez com a AIG ficasse
completamente sem dinheiro para honrar os compromissos. O socorro foi dado pelo FED que
emprestou 125 bilhões de dólares em troca de 80% da empresa.

O gráfico 7 é explicado por Roque (2013):

Após todas estas intervenções, o Fed assumiu uma postura totalmente inaudita em
toda a sua história: ele simplesmente passou a comprar todos os títulos hipotecários
em posse dos bancos. Ou seja, ele passou a imprimir dinheiro e dar aos bancos em
troca dos títulos hipotecários em posse destes bancos. Isso limpou o balancete dos
bancos e fez com que a base monetária explodisse.

No entanto, e felizmente, todo este aumento da base monetária não se converteu em


expansão do crédito. Ou seja, os bancos não jogaram este dinheiro na economia. A
quase totalidade do aumento da base monetária transformou-se em "reservas em
excesso". "Reservas em excesso" são as reservas que os bancos mantêm
voluntariamente depositadas junto ao Fed, além do volume determinado pelo
compulsório.

O gráfico abaixo mostra a evolução da base monetária (linha azul) e das reservas em
excesso (linha vermelha), que representa o dinheiro que os bancos não emprestaram
ao público porque preferiam mantê-lo voluntariamente depositado junto ao Fed, que
está pagando juros de 0,25% ao ano sobre este montante.
35

Figura 7 - evolução da base monetária (linha azul) e evolução das reservas em excesso (linha vermelha)

Roque (2013) conclui seu artigo lançando algumas questões:

A única intenção [do artigo] foi mostrar, sem ideologias ou partidarismos, como
realmente se desenrolou todo o processo que levou à formação de uma bolha
imobiliária, como se deu seu estouro e como isso afetou todo o sistema bancário.

De posse de todas as informações aqui contidas, o leitor deve se fazer as três


seguintes perguntas:

1) Todo este arranjo apresentado configura um sistema totalmente


desregulamentado, um genuíno laissez-faire, ou, ao contrário, representa um sistema
fortemente intervencionista, no qual políticos, burocratas e reguladores
determinavam regras e agitavam em prol de suas conveniências?

2) Um sistema bancário que goza de uma garantia implícita dada pelo governo — de
que haverá socorro caso as coisas deem erradas — tende a apresentar
comportamentos mais temerários ou mais prudentes?

3) Sem um Banco Central criando dinheiro e permitindo aos bancos manterem suas
expansões creditícias de modo crescente, será que tudo isso teria sido possível?
As respostas a estas perguntas têm de estar claras antes de se iniciar qualquer debate
a respeito da crise.

3.2 A Nova Matriz Econômica brasileira à luz da TACE

Como é sabido, a crise de 2008 não foi exclusiva dos americanos. Foi uma crise de
proporções globais. Afetou de forma intensa diversos países, entretanto o Brasil ficou
conhecido por ser um dos que melhores reagiu a crise. Políticas econômicas que, por hora, se
36

mostravam certas hoje são discutidas com bastante desconfiança; uns dizem que o modelo se
esgotou, outros dizem que é a crise externa que lhe atrapalha, mas o simples fato daquilo que
um dia foi chamado de “Nova Matriz Econômica” (a partir de agora NME) hoje ser
considerado um modelo já é indicação de que algo não funcionou. O questionamento que se
faz é: seria a TACE útil para analisar a conjuntura brasileira pós NME?

3.2.1 O Brasil do Plano Real – Primeira fase e tripé macroeconômico

Antes de adentrar no tema propriamente dito é necessária uma breve revisão da


história brasileira econômica, pelo menos em sua fase mais recente e mais bem sucedida, a
saber, o período que compreende da implementação do Plano Real até a chegada da NME.

Com a incerteza que cada novo plano econômico trazia investir era uma tarefa
desproporcionalmente arriscada. A inflação impedia qualquer racionalidade econômica.
Somente após a implementação do plano Real, o Brasil conseguiu algo que possa ser chamado
de estabilidade econômica: confiança na moeda, controle inflacionário e manutenção nas
chamadas “regra do jogo”.

Roque (2012) nos traz um resumo de quão caótica era situação econômica do país
pré-Plano Real:

Quando Itamar Franco assumiu interinamente a Presidência da República no dia 29


de dezembro de 1992, imediatamente após a renúncia de Fernando Collor, a inflação
acumulada em 12 meses estava em 1.119%. Em 1991, ela havia sido de 472%. Em
1990, de 1.621%. Com o país mergulhado em uma crise política e com a economia
em frangalhos, não havia a menor perspectiva entre a população de que houvesse
qualquer arrefecimento na inflação de preços.

Também em decorrência da recessão, a arrecadação tributária não era suficiente para


cobrir as despesas. Como consequência, o governo apenas ordenava ao Banco
Central — que, na época, podia comprar títulos diretamente do Tesouro — que
imprimisse o dinheiro necessário para fazer frente às despesas. O resultado era um
moto-perpétuo inflacionário.

(...) Tal prática de imprimir dinheiro para fazer frente às despesas governamentais
não cobertas por impostos já era tradicional na economia brasileira; porém, no início
da década de 1990, ela havia chegado ao ápice. Em abril de 1990, por exemplo, a
inflação acumulada em 12 meses foi de 6.821%, recorde até hoje absoluto em nossa
história.

Após mais de uma década com inflação de preços anual acima dos 100% — a média
de inflação de preços anual entre 1980 e 1992 foi de incríveis 694%, uma solução
definitiva era urgente.
37

Dando continuidade a seu raciocínio Roque (2012), diz que, na prática, o Plano Real
consistia em criar uma moeda muito atrelada ao dólar, e lembra que o sucesso do Plano Real
dependia de cinco fatores:

1) Zerar o déficit público, pois era sabido que era esse o causador da enorme impressão de
dinheiro;
2) Desindexar a economia, com o objetivo de acabar com a inflação inercial, os ajustes
automáticos (que existiam por força de lei) de preços foram extintos;
3) Reindexar a economia de acordo com a taxa de cambio, isso é, fazer com que os preços
variassem de acordo com a cotação do dólar;
4) Abrir a economia, para isso usou-se a diminuição de tarifas de importação;
5) Aumentar as reservas nacionais, com o intuito de mostrar maior robustez do plano e menor
vulnerabilidade a um ataque especulativo.

Após cinco anos de relativo êxito no combate à inflação, o Plano real entra na sua
segunda fase de vida: a do tripé macroeconômico. Tendo que enfrentar a crise cambial e fiscal
do ano de 1999 (que causaram uma enorme diminuição nas reservas internacionais do país, e
essas eram de suma importância para manter o real pareado ao dólar) e tendo que ser mais
eficaz no controle dos gastos públicos, foi adotado como alicerce da política
macroeconômica:

a) Sistema de metas de inflação;


b) Cambio flutuante;
c) E a perseguição da austeridade fiscal.

Grosso modo, pode-se dizer que o tripé econômico foi a base da política econômica
do segundo mandato do governo de Fernando Henrique Cardoso e do primeiro mandato do
governo de Lula, ou de 1999 a 2009.

O tripé macroeconômico definia que, supostamente, a flutuação cambial se daria em


função das forças de mercado, livres de interferência do governo, salvo casos onde o governo
poderia atuar para “suavizar” a volatilidade do mercado; governo esse que estaria voltado,
majoritariamente, para buscar superávits e para atuar na política monetária.
38

O sistema adotado como política monetária passaria a ser o de metas de inflação e


meta de taxas de juros; estando os dois diretamente ligados: para atingir a meta de inflação
proposta, o governo, através do Comitê de Política Monetária, define a taxa de juros (SELIC
Meta) que, econometricamente analisada, melhor se adequa para controle da inflação; e para
atingir a meta da taxa de juros o Banco Central se utiliza de três ferramentas (open market,
taxa de redesconto e depósito compulsório), todas elas ligadas a manipulação da base
monetária.

De forma bastante simples, pode-se dizer que o governo expande a base monetária
para diminuir os juros reais praticados no mercado e contrai a base monetária para elevar os
juros, tudo isso visando o controle da inflação de preços.

Tal sistema tem se mostrado pouco efetivo no controle da expansão total da base
monetária; se nessa nova fase do Plano Real os gastos públicos são mais controlados, a
criação de dinheiro se dá no mercado de crédito através do sistema bancário. O gráfico a
seguir, Roque (2012), mostra a variação da base monetária a partir da adoção do tripé
econômico, tendo como base o M2 (cédulas e moedas metálicas, depósitos em conta corrente,
depósito em poupança e depósitos a prazo); variação essa diretamente relacionada a emissão
de títulos de dívida por parte do Tesouro Nacional, o que pode ser visto no gráfico
39

Figura 8 -Evolução do M2 brasileiro pós ano 2000

Figura 9 -variação dos títulos de dívida em carteira do BaCen.

Apesar da aparência inicial de “inofensividade”, uma evolução no M2 (mesmo que


com atingimento das metas de inflação) traz algumas consequências não desejadas quando
40

esperamos um crescimento econômico sustentável. Uma delas é o aumento do endividamento


da população. Uma vez que o novo dinheiro entra no mercado via crédito, tal consequência
causa uma diminuição do consumo futuro (já que os agentes econômicos passam a ter o
serviço de suas dívidas) e esse, por sua vez, diminui a probabilidade de novos investimentos
ocorrerem. Tal cenário é mais bem identificado nos gráficos a seguir.

Figura 10 - Total de crédito concedido ao setor privado.

Após visualizarmos a evolução do volume de crédito concedido ao setor privado,


passamos a analisar a evolução do endividamento das famílias sobre sua renda:
41

Figura 11 - nível de endividamento das famílias em relação à renda.

Percebe-se que endividamento vem avançando sobre a capacidade de gerar renda;


consequência natural desse fenômeno é o aumento da inadimplência.

Figura 12 - Inadimplência em op. de crédito do sistema financeiro


46

Depois de observarmos, ainda que superficialmente, as consequências danosas que


uma má gestão, ainda que bem intencionada, da base monetária provoca, passamos a analisar
o comportamento da economia quando tal estratégia passa a perseguir novos objetivos, mas
utiliza o mesmo ferramental.

3.2.2 O Brasil do Plano Real à Nova Matriz econômica

Para entendermos a NME podemos começar citando uma entrevista com o secretário
de política econômica, dada ao jornal Valor, em 17 de dezembro de 2012¹:

Márcio Holland, explica o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste
ano por causa da transição do país para o que chama de "nova matriz
macroeconômica". Essa matriz combina juro baixo, taxa de câmbio competitiva e
uma consolidação fiscal "amigável ao investimento.

Como deixa claro mais a frente, Márcio credita a NME a redução de 5,25% na taxa
de juros, redução essa que ocorreu em 12 meses; segundo ele, tal redução na taxa de juros
muda o perfil de investimento do país: passa-se a te uma perspectiva de longo prazo ao
contrário da atual perspectiva de curto prazo.

Taxa de câmbio competitiva, significa uma taxa de cambio manipulada pelo governo
para enfraquecer o Real perante o dólar, até um patamar onde as exportações sejam mais
estimuladas em relação a um possível Real valorizado e flutuado livremente.

O termo “consolidação fiscal amigável ao investimento”, refere-se a uma gestão


fiscal “anticíclica”, voltada a desonerações (como a da folha de pagamento, do Imposto sobre
Produtos Industrializados, a Lei 12.431 que dá tratamento tributário diferenciado a debentures
voltadas a investimentos em infraestrutura); ao aumento dos valores desembolsados com o
Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, bem como os demais subsídios fiscais e de
juros.

Por mais paradoxal que possa parecer, Holland não acredita que a NME substitua o
tripé econômico implantando em 1999, e utiliza o sistema de metas de inflação como exemplo
da conciliação das políticas: “taxas de inflação muito baixas levaram os bancos centrais a
terem taxas de juros muito baixas, que, por sua vez, geraram estímulos à formação de bolhas
47

de ativos”, ou seja, o secretário acredita que é necessário inflação para que os juros não
baixem muito, mas que permaneçam baixos para estimularem investimentos de longo prazo.

Apesar das explicações dadas por Márcio Holland, a situação parece outra para
Miranda (2014):

A nova matriz econômica representa um embate frontal ao tripé macroeconômico


estabelecido em 2014, significando uma política frouxa de combate à inflação (dada
sua perseguição de uma taxa de juros baixa), o abandono do câmbio flutuante a
partir de maior intervenção do Banco Central e o desajuste das contas públicas por
meio de uma política fiscal expansionista.

Após os primeiros sinais de ruínas da NME boa parte da mídia passou a criticar a
política econômica adotada pelo governo brasileiro no pós-crise de 2008. Mas os economistas
que se dedicam ao estudo da Escola Austríaca já vinham anunciando suas trágicas
consequências anos antes.

Em 2010 o PIB do Brasil cresceu 7,5% e foi o maior crescimento em um período de


24 anos. Tudo no país parecia andar às mil maravilhas, e somente um olhar atento como o de
Roque (2010) para avisar sobre a situação real. Preocupado com o aumento de 25% no
volume de crédito em um período de 16 meses, Roque diz:

Essa acentuada taxa de crescimento na concessão de crédito explica também os


(aparentemente) bons números macroeconômicos que o Brasil vem apresentando.
(...) Como sempre dissemos neste site, a expansão do crédito e a rapidez com que ela
ocorre provoca distorções na economia, de modo a fazer com que os resultados
macroeconômicos (taxa de desemprego e crescimento do PIB) de curto prazo sejam
aparentemente positivos.

O termo "distorções" é correto, pois trata-se de um crédito que só está sendo


expandido nesse volume por causa da expansão da base monetária que o Banco
Central vem empreendendo. Ou seja, o crédito não está aumentando porque está
havendo poupança (abstenção de consumo) das pessoas. Ele está aumentando
porque o Banco Central e o sistema bancário simplesmente estão expandindo
rapidamente o volume de dinheiro na economia.

Como dito por Bastiat (2013), toda ação tem duas consequências: uma imediata (que
se vê) e uma mais demorada (que não se vê); geralmente, quando a ação imediata traz
benefícios a que não se vê traz malefícios, e vice-e-versa. Bastiat (2013) conclui: “Entre um
mau e um bom economista existe uma diferença: o primeiro se detém no efeito que se vê; já o
outro leva em conta tanto o efeito que se vê quanto aqueles que se devem prever”.
48

E é exatamente isso que Roque faz ao lembrar que o problema do aumento do


crédito, e de seus aparentes benefícios, é que ele não é permanente; como os preços dos
fatores de produção estão em constante aumento, devido ao aumento da quantidade de
dinheiro na economia, as empresas precisam de mais crédito para terminar seus projetos já
iniciados. Esse aumento na demanda por crédito força os juros dos empréstimos para cima,
então o Banco Central intervém expandindo mais o crédito para manter os juros baixos e
obtém sucesso no curto prazo.

Entretanto, tal intervenção aumenta ainda mais as distorções na estrutura de


produção e faz com que mais crédito seja demandado, reiniciando o ciclo que se repete até o
momento em que o Banco Central resolve deixar os juros subirem, ou ainda, ajuda nesse
processo. Roque (2010) complementa:

Mesmo que o Banco Central continuasse injetando dinheiro indefinidamente, uma


hora os bancos teriam de aumentar os juros dos seus empréstimos, pois a expansão
monetária estaria provocando um inevitável aumento de preços. Assim, se os
bancos não aumentassem os juros cobrados, eles simplesmente receberiam — no
momento da quitação do empréstimo — um dinheiro com um poder de compra
menor do que o que esperavam receber quando da concessão do empréstimo.

Quanto mais os preços dos fatores de produção sobem, mais desesperadas por
empréstimos ficam aquelas empresas que deram início a projetos de longo prazo
levadas pela crença de que o crédito seria farto e barato durante muito tempo. O
aumento dos preços — e, por conseguinte, dos juros — altera seus planos. Cedo ou
tarde, a crise irá se instaurar. O período da expansão econômica irá terminar e dar-
se-á início à recessão. Quanto mais cedo esta vier, menor terá sido a destruição de
capital desse período da expansão.

Como avisado pela TACE, a única consequência possível de uma expansão da base
de crédito é a recessão. No Brasil não tem como ser diferente. A estagnação do crescimento
econômico, ou até mesmo um “encolhimento” como é previsto para 2015, e a inflação acima
do teto da meta não são os únicos fatores que compravam empiricamente a TACE. Roque
(2014) apresenta uma série de gráficos que esclarece a situação atual brasileira.
49

Figura 13 - Trimestre contra trimestre

Com forte correlação com o PIB, o consumo das famílias também apresenta um
quadro preocupante:

Figura 14 - Consumo das famílias

Os investimentos apresentaram queda em 4 dos últimos 5 trimestres pesquisados, o


que representa que a confiança dos investidores vem caindo:
50

Figura 15 - Investimentos por trimestre

A confiança dos investidores não só vem caindo, como já atingiu a mínima em 10


anos:

Figura 16 - Confiança dos investidores

Como reflexo claro da diminuição de investimentos e da confiança dos investidores,


a produção industrial vem caindo. Caiu em 10 dos últimos 12 meses no comparativo mês a
mês:
51

Figura 17 - Produção industrial mês a mês

Como não poderia ser diferente, com todos os aspectos macroeconômicos se


deteriorando, o emprego também é afetado. O próximo gráfico mostra a variação do emprego
na indústria, na comparação com o trimestre do ano anterior:
Figura 18 - Emprego na indústria

Apesar das variações negativas na geração de emprego, o índice de emprego do


IBGE tem se mostrado estável em um nível baixo. A figura seguinte, que leva em
consideração a ocupação por faixa etária, mostra que uma grande parte da população jovem
52

não trabalha nem estuda (então não participam do índice) e outra grande parte somente estuda
(então não são considerados desempregados):
Figura 19 - Atividade dos jovens de 15 a 29 anos

A situação é, de fato, muito ruim. Como já explicado, a expansão do crédito cobra


seu preço. O endividamento das famílias e das empresas é mais um alto preço a ser pago.
Quanto mais a alto o endividamento, menor será a demanda por novos empréstimos e maior a
cautela dos bancos em conceder crédito. E como uma parte considerável da renda é destina ao
serviço da dívida, menor é o consumo e menor a poupança, por consequência, menor há de ser
o investimento e a geração de empregos.
53

Figura 20 - Endividamento - Pessoa Física

Figura 21 - Evolução do saldo de empréstimos do BNDES


54

A última consequência a ser tratada aqui, é a desvalorização do Real. Uma moeda


forte significa maior poder de compra em relação às demais moedas; significa que o povo de
seu país está ficando mais rico que os demais. O contrário também é válido. A desvalorização
cambial mostra o quanto os preços tem subido em uma economia em relação a outra e,
também, quanto os investidores confiam nessa mesma economia. O caso do Real se mostra
preocupante. Os gráficos a seguir mostram a variação de valor da nossa moeda em relação a
outras divisas:

Figura 22 - Variação US$ X R$ até fevereiro de 2015


55

Figura 23 - Franco Suiço X Real em fevereito de 2015

Figura 24 - Euro X Real em fevereiro de 2015


56

Figura 25 - Libra esterlina X Real em fevereiro de 2015

Como se pode perceber, a variação cambial se mostra um perfeito reflexo da situação


econômica por qual passa o Brasil.
57

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

São diversas as divergências entre a Escola Austríaca de Economia e a Teoria Geral


de Keynes. As diferenças começam na epistemologia: cada um trata a ciência econômica de
uma forma. Talvez seja um dos fatos que tenha feito com que a teoria austríaca tenha ficado
tanto tempo limitada a um pequeno grupo. Talvez seja a falta de apelo político da mesma. O
fato inegável é que a Teoria Geral revolucionou a economia, divergindo fortemente da teoria
econômica clássica e divergindo em menor grau dos neoclássicos. Keynes ganhou,
merecidamente, o rótulo de economista mais influente do século XX.

Apesar de renegada, a Escola Austríaca ressurge no período econômico pós-2008


com mais força do que nunca. Tem agora pela frente um novo paradigma mundial: vivemos a
era da informação. Dados econômicos são facilmente encontrados, até mesmo em tempo real.
A informação se espalha rapidamente pela internet; livros são transformados em artigos, para
serem lidos mais rapidamente (essa é, também, a era da velocidade), artigos se tornam vídeos
ou breves aulas. Tendo esse cenário por base, personagens, teorias, fatos e boatos de todos os
tipos conquistam fama e seguidores. Entretanto, a mesma facilidade que traz a fama traz a
possibilidade da verificação, lógica ou histórica, de tais teorias. A disputa ideológica segue,
ainda, inclinada para o lado de Keynes. O lado do apelo emocional/político. O lado que opta
por fazer algo em detrimento de deixar as coisas serem como são.

A filósofa Ayn Rand gostava de citar Francis Bacon dizendo que “a natureza, para
ser comandada, tem de ser obedecida”. Com base aristotélica, tal pensamento nos traz a ideia
de que a realidade existe independentemente da nossa consciência, que alguns fenômenos são
naturais e imutáveis, e o exercício da razão nos permite que entendamos tais fenômenos, sem
sermos capazes de manipulá-los. Devemos resistir a forte tentação de acreditar que a
economia possa ser manipulada para ser otimizada. Que exista um modelo econômico ideal.
Apesar de ser uma ciência social, a economia possui uma lógica natural maior baseada na
ação humana, portanto, não previsível e não manipulável.

A história, e se espera que isso tenha ficado provado nesse trabalho, nos mostra que a
hiperatividade do homem em mudar e aperfeiçoar o que é “natural” não traz as consequências
desejadas inicialmente, o que, por sua vez, gera uma nova tentativa de manipulação e
58

mudança, provocando um ciclo que tende ao colapso. Somente a educação e a propagação das
boas ideias podem mudar esse cenário.

Espera-se que esse trabalho sirva como incentivo para que mais análises, com uma
base teórica consistente como a da Escola Austríaca, surjam e permitam analisar os fatos
econômicos com seriedade, da mesma forma que se buscou realizar nesse artigo.
59

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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contribuição. 2010.
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DE SOTO, Jesus Huerta. A Escola Austríaca / Jesus Huerta de Soto. -- São Paulo : Instituto
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DILLARD, Dudley. A teoria econômica de John Maynard Keynes: teoria de uma
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LANDAUER, Carl. Sistemas econômicos contemporâneos. 1ª ed. Rio de Janeiro: Zahar
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