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John Maynard Keynes frequentemente

empregava uma linguagem florida - como


"armadilha da liquidez" e "espírito animal" - para
descrever coisas das quais ele não entendia. Ele
era, afinal de contas, muito mais um burocrata do
que um economista. Com efeito, ele seria muito
melhor descrito como um antieconomista, pois
absteve-se de aprofundar ideias como oferta e
demanda e defendia a noção de que o governo
poderia gerir a economia.
Por exemplo, ele não conseguia entender
por que as pessoas investiriam recursos em
empreendimentos arriscados que ajudariam a
economia seguir crescendo a pleno emprego.
Para explicar esse caso, ele substituía a "busca do
lucro" pelo "espírito animal". Era esse espírito
que, segundo Keynes, fazia com que os
empreendedores prosseguissem com uma
ingênua confiança e ignorassem preocupações
com possíveis prejuízos. Similarmente, a
escassez de investimento também era um
problema psicológico que ele alcunhou de
"armadilha da liquidez". Essa armadilha ocorre
quando os investidores buscam liquidez
mantendo moeda (ao invés de aplicá-la ou gastá-
la) e quando a política monetária - no caso, o
corte das taxas de juros - não mais produz um
aumento no investimento.
O problema com Keynes é que ele pensava
que, se os empreendedores se apavorassem
coletivamente, o governo deveria socializar o
investimento, estimular a demanda e o emprego,
e fornecer garantias para que a economia volte ao
pleno emprego. Por não entender como uma
economia de fato funcionava, ele não foi capaz de
entender como a economia se corrige a si própria
quando ocorre uma contração.
E o problema para todos nós é que, agora,
quase todos os países do mundo, liderados pela
trupe Obama, Geithner, Summers e Bernanke,
estão seguindo o manual keynesiano, com o
Nobel Paul Krugman servindo de chefe de
torcida. Se, ao invés disso, apenas tivéssemos
permitido que o processo de mercado
funcionasse, a economia provavelmente já estaria
em recuperação; empresas como a AIG estariam
emergindo da falência e a taxa de desemprego
estaria caindo ao invés de continuar subindo (a
taxa de desemprego nos EUA pulou para 8,5% em
março, o maior nível em 28 anos).
O processo de mercado foi restringido
apenas alguns meses depois que a contração
começou (ainda em 2007) e - nos últimos 15
meses - foi quase que completamente substituído
pela intervenção governamental. Muitas dessas
intervenções foram corretamente descritas como
"sem precedentes", exatamente pelo fato de
nunca terem sido tentadas antes. Isso significa
que nem os agentes de mercado nem os
estrategistas econômicos têm experiência nelas -
e é exatamente isso que a situação econômica
vem comprovando.
E esse calhamaço de intervenções tem sido
desordeiro. Muitas intervenções, como a
aquisição governamental da AIG, foram surpresas
totais, causando volatilidade no mercado
financeiro. Ademais, essas intervenções têm sido
extremamente amplas e abrangentes.
Mensuradas em termos de dólares, o dinheiro
"alocado" para elas totaliza mais de $12 trilhões,
apenas nos EUA.
Ironicamente, ao adotar a ideia keynesiana
de que perdemos o nosso "espírito animal" e
estamos sofrendo de um problema psicológico (o
medo), o governo adotou mudanças políticas
extremas que solapam enormemente a busca pelo
lucro. Os empreendedores não mais estão
procurando por novas oportunidades de lucro na
economia. Ao contrário, eles estão mais
interessados tanto em tentar preservar seu capital
como também em ir atrás do governo pedir mais
pacotes de socorro.
A preservação do capital requer que você
coloque sua riqueza em ativos de baixo risco,
sejam aplicações em títulos do governo e CDBs,
ou simplesmente guardando moeda e comprando
ouro. Portanto, as pessoas estão poupando mais
e pagando suas dívidas para se protegerem a si
próprias. Porém, na terminologia keynesiana,
acabamos de cair na muito perigosa armadilha da
liquidez.
Para Keynes, a armadilha da liquidez ocorre
quando consumidores assustados tentam poupar
mais e consumir menos. Ele raciocinava que
menos consumo iria prejudicar as empresas e a
produção, colocando a economia e o emprego em
risco. Essa menor renda significaria, por sua vez,
que a tentativa de poupar mais iria na verdade
resultar em uma condição econômica muito pior.
A armadilha da liquidez, apesar de toda a
embromação, é apenas sobre poupança e
entesouramento. Não obstante o termo
"entesouramento" ter uma má reputação entre os
economistas, esta ação na verdade é algo muito
positivo. Tipicamente, as pessoas não
entesouram recursos irracionalmente ou sem
qualquer razão; elas entesouram como forma de
se proteger contra situações perigosas.
Depressão, inflação, guerra e outras calamidades
são normalmente o que fazem as pessoas
entesourar.
Não apenas o aumento dessa poupança
ajuda a economia, como também o
entesouramento é de fato algo bom, pois ajuda a
facilitar o processo de deflação de preços, e essa
deflação ajuda a trazer a recuperação. Funciona
assim: se as pessoas reduzem o consumo (a
demanda), os preços caem, particularmente nos
estágios mais iniciais da produção. À medida que
todos os tipos de bens e recursos vão ficando
mais baratos, inclusive a mão-de-obra, o poder de
compra de cada unidade monetária entesourada
aumenta. Todos os preços que foram
pressionados para cima durante a fase da
expansão econômica - particularmente terra,
capital e várias classes de ativos - retornam desta
forma a níveis menores. As dívidas são
liquidadas e a poupança é restaurada, e os
prospectos para um retorno da prosperidade
ressurgem - primeiro entre os produtores e
depois entre os consumidores. Portanto, o
entesouramento acelera a deflação de preços e
essa deflação acelera o processo de correção.
Mas os keynesianos têm medo desse
processo porque não entendem como ele leva a
economia de volta ao pleno emprego e ao
crescimento econômico. A esse medo dei o nome
de apoplithorismosphobia. Joseph
Salerno demonstrou que não há bases
teóricas para esse medo e Greg Kaza demonstrou
que não há bases empíricas para esse medo.
Ironicamente, são as políticas keynesianas, como
os pacotes de socorro financeiro, os pacotes de
estímulo e a inflação monetária, que deveriam ser
temidos, pois são elas que ameaçam nosso
espírito animal em busca do lucro e nos deixam
presos à armadilha da liquidez por muitos anos.
O entesouramento no final corrige a
maioria dos balanços patrimoniais. Porém, em
uma economia dominada por políticas
keynesianas, tal processo leva um tempo
extremamente longo. Durante esse intervalo de
tempo, as pessoas podem se tornar
permanentemente cansadas do mercado e
temerosas de investir. Elas se tornam
entesouradoras permanentes. Foi isso que
aconteceu com muitos americanos que viveram
durante a Grande Depressão. A frugalidade e a
parcimônia, conquanto admiráveis, se tornaram
uma espécie de cicatriz psicológica que elas
carregaram pelo resto de suas vidas.
As políticas keynesianas resultaram em
desastres como a Grande Depressão, a
"estagflação" americana de 1970 a 1982, e a
economia japonesa após a bolha da década de
1980. Cada uma destas durou mais de uma
década. Seria muito melhor ter permitido um
processo desobstruído de correção de mercado.
Não houvesse redes de proteção social e nem
pacotes de socorro, haveria mais poupança, mais
entesouramento, uma deflação de preços mais
rápida, mais falências e um rápido retorno à
prosperidade.
Embora o termo "falência" soe horripilante,
trata-se na verdade de um maravilhoso e ordeiro
processo. Primeiro porque ele corrige os
balanços patrimoniais rapidamente. Ele também
fornece a oportunidade de se remover do
mercado empresas e administradores que
operavam de maneira temerária. Algumas
empresas falidas terão de se retirar
completamente do mercado, e seus recursos
serão leiloados para outros empreendedores a
preços muito baixos. Por exemplo, dúzias de
empresas recém-criadas, trabalhando para trazer
carros elétricos para o mercado, adorariam a
oportunidade de comprar as instalações das
montadoras de Detroit por centavos. Já outras
empresas em concordata permaneceriam no
mercado mantendo a maioria de seus
empregados, porém teriam de renegociar
contratos e salários, reduzindo suas dívidas e
custos - caso contrário, passariam da concordata
à falência.
O ambiente resultante após os processos de
falência é um em que há novos proprietários e
operadores com muito menos dívidas e que não
tiveram seu "espírito animal" esmagado. As
empresas teriam menos dívidas e, portanto,
menores estruturas de custo. Alguns
consumidores estariam inundados de dinheiro
que entesouraram e teriam a oportunidade de
comprar a preços muito mais baixos. A economia
entraria em modo de recuperação e poderia
rapidamente atingir o pleno emprego e o
crescimento econômico. Mais importante: ao
não socorrer os perdedores, não mais haveria
risco moral. Os empreendedores não mais teriam
a certeza de que seriam socorridos no futuro caso
cometessem mais erros. E isso os deixaria mais
prudentes.
Por não entenderem como funciona o
mercado, os keynesianos pensam que tudo isso é
uma fantasia. Mas se você seguir a receita
austríaca e permitir a liquidação de empresas
falidas e suas dívidas, permitir que os preços
caiam sem incorrer em inflação monetária, não
estimular o emprego ou subsidiar o desemprego
(por meio de seguro-desemprego), e não
desencorajar o entesouramento e a poupança,
você levará a economia à mais rápida recuperação
possível e minimizará a magnitude do sofrimento
econômico.

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