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"A Grande Depressão" é um termo forte,

mas o que exatamente ele significa? Depressões


são uma parte normal de um ciclo econômico e
que hoje são mais pomposamente chamadas de
'recessões', 'declínios' ou 'correções'. Elas ocorrem
em qualquer economia onde os mercados
financeiros se baseiam em um sistema bancário
de reservas fracionárias.
Depressões só se tornam "grandes" quando
recessões normais e/ou severas são utilizadas
como desculpa para se aumentar maciçamente a
intervenção estatal na economia. O
livro America's Great Depression, de Murray
Rothbard, demonstra claramente esse fenômeno.
As três grandes depressões ocorridas na história
americana foram a Progressive Era (1907-1922), a
Grande Depressão (1929-1945) e a Grande
Estagflação (1970-1982).
O ano de 2008 marca o início da próxima
recessão, correção ou depressão (escolha o termo
que desejar). Todos os indicadores estatísticos
estão apontando para essa direção. Todos os
indicadores de mercado apontam para essa
direção também. Basta ver como muitos não-
economistas se sentem para se ter a confirmação
dessa tendência. Mas, em termos técnicos, tudo o
que os americanos precisam fazer é esperar o
pessoal da NBER (National Bureau of Economic
Research) confirmar oficialmente aquilo que
todos já sabem.
A razão da depressão é a quebra do
mercado imobiliário - todos sabem disso
também. Os economistas austríacos, durante
todo o período do boom, já vinham alertando
para a existência de uma bolha no setor
imobiliário. Ainda nos primórdios de 2003, Frank
Shostak, Christopher Mayer, Lew
Rockwell, Robert Blumen, Jeff Scott do Wells
Fargo Bank, e outros, incluindo este que vos
escreve, alertaram para a bolha, escrevendo e
palestrando sobre o assunto. Todos nós
identificamos a frouxa política monetária do
Federal Reserve - o banco central americano -
como sendo a causa dessa bolha, e que as
inevitáveis conseqüências dessa política
monetária seriam o colapso do mercado
imobiliário e de toda a economia em geral.
O valor das ações das construtoras atingiu
seu pico em meados de 2005 e, desde então, a
coisa toda passou a ser como se estivéssemos
assistindo a uma batida de trens em câmera
lenta. Quando toda a bolsa de valores atingiu seu
pico há um ano, após ter sido artificialmente
inflada pelo Fed, começamos finalmente a
celebrar o início da fase de correção, ainda que
suspeitássemos que esta seria bem severa. Várias
instituições hipotecárias quebraram em 2007 e o
constante aumento do número de execuções
hipotecárias sinalizava que a correção finalmente
estava em andamento.
Em fins de 2007 já havia sinais definitivos de
que grandes forças corretivas estavam agindo nos
mercados financeiros. Entretanto, sempre que
tais correções aparentavam estar prontas para
ocorrerem, elas eram frustradas pela intervenção
governamental. No dia 12 de dezembro de 2007, o
Fed anunciou a criação de uma bizarrice
chamada Term Auction Facility (leilões para
injeção de liquidez), cuja função seria a de leiloar
dinheiro - utilizando as taxas de redesconto -
para uma "maior variedade de tomadores" e
utilizando como garantia uma "maior variedade
de colaterais" em relação ao que normalmente se
faz nas operações de mercado-aberto e sem que
os tomadores desses empréstimos tivessem de ser
identificados. Essa foi a primeira intervenção
extraordinária.
E então, em março, o presidente do Fed Ben
Bernanke e o secretário do Tesouro Henry
Paulson orquestraram, tudo durante um fim de
semana, a compra do banco de investimentos
Bears Stearns pelo J.P. Morgan, fornecendo ao
Morgan um empréstimo de $30 bilhões, com
prazo de dez anos. Essa certamente foi uma
intervenção incomum. Essa intervenção
contribuiu também para estabelecer todo um
padrão de intervenções que mandam sinais
perfeitamente errados para o mercado. Os
funcionários do governo no Fed, no Tesouro e em
todas as outras áreas passam o tempo todo
dizendo que tudo está ótimo com a economia. E
então, quando mais notícias econômicas ruins
são anunciadas, eles bisonhamente alegam que as
notícias "não são tão ruins quanto
antecipávamos". E quando então os mercados
reagem corretamente a essa desinformação,
tentando corrigi-la para se auto-ajustarem, o
governo surge novamente com mais um socorro
financeiro maciço, sempre na forma de
intervenções novas e cada vez mais inusitadas.
(Ver mais aqui).
Em julho, o secretário Paulson disse ao
Congresso americano que não via necessidade de
legislações adicionais para resolver os problemas
com a Fannie Mae e com a Freddie Mac. Uma
semana depois, ele anunciou que o Tesouro iria
"escorar" as duas gigantes hipotecárias. Esse ato
essencialmente reverteu o que todos os
secretários do Tesouro vinham dizendo há
décadas: que eles não protegiam ou garantiam os
papéis, as dívidas e as obrigações dessas duas
entidades apadrinhadas pelo governo. (Ver
mais aqui).
E recentemente, uma ação ainda mais
radical do Tesouro americano praticamente
nacionalizou a Fannie e a Freddie. É claro que
isso em nada ajuda os proprietários de imóveis
em dificuldades ou os potenciais compradores.
Também não ajuda as construtoras. Na prática,
essa medida é prejudicial para todas essas pessoas
porque as coloca como meros contribuintes em
perigo de sofrer prejuízos potenciais de vários
trilhões de dólares.
Muitos comentaristas pensam que essa
encampação da Freddie e da Fannie foi a coisa
certa a ser feita: uma coisa deplorável, porém
necessária para se evitar uma crise financeira.
Tudo errado. Essa atitude pode até adiar uma
crise financeira, mas apenas fará com que toda a
crise econômica, quando inevitavelmente vier,
seja ainda pior. A história já bem demonstrou que
intervenções dos governos apenas prolongam as
crises econômicas e aumentam seu custo geral.
Pergunte aos japoneses, que têm experiência no
assunto.
Dada a extraordinária natureza das
intervenções que foram realizadas até agora e os
precedentes que elas estabeleceram, já temos
todos os ingredientes para a próxima grande
depressão.
Caso não tivessem ocorrido todas essas
intervenções governamentais, seria bem provável
que a fase corretiva do ciclo econômico já
estivesse terminada e o país já estivesse em fase
de recuperação. Tudo bem que o setor
imobiliário iria permanecer no fosso ainda por
um bom tempo, mas as forças restaurativas do
mercado já estariam em ação criando a próxima
geração de empresas e empregos.
Se o governo quiser evitar a próxima grande
depressão, tudo o que ele deve fazer é
interromper toda e qualquer intervenção. O
Departamento do Tesouro deveria revisar sua
recente ação e, ao invés de colocar, como alegou
ter feito, a Fannie e a Freddie em "conservância",
ele deveria, isto sim, colocá-las em falência, o que
iria finalmente liquidar essas corporaçõe, bem
como todos os seus passivos e obrigações.
Enquanto isso, o Fed deveria anunciar sua
intenção de acabar com as Term Auction
Facilities e fechar a janela de redesconto,
mantendo-a apenas para os bancos que são seus
clientes tradicionais. Para reduzir o impacto
negativo da recessão, o governo deveria parar
com as hostilidades estrangeiras, reduzir os
gastos militares, equilibrar o orçamento, e cortar
impostos e regulamentações.
Não é muito difícil, é?

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