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Instituto Superior de Estudos Interculturais e Transdisciplinares

Licenciatura em Gestão

Macroeconomia

Trabalho académico

“A Década Perdida”

Economia Japonesa na década de 1990

Discentes: Ana Rita Gomes Martins nº 59201

José Luís Pereira Coimbra nº 59031

Almada, 6 Junho 2021


Índice

1. Introdução ..................................................................................................................... 4
2. Revisão de literatura ...................................................................................................... 5
2.1. Deflação: .............................................................................................................................. 5
2.2. Bolha especulativa:............................................................................................................... 5
2.3. Superávit da balança comercial ............................................................................................ 6
2.4. Taxas de desconto ................................................................................................................ 6
2.5. Políticas Monetárias ............................................................................................................. 6
2.6. Armadilha de liquidez: .......................................................................................................... 7
2.7. Ciclos Económicos................................................................................................................. 7
2.8. Acordo de Plaza .................................................................................................................... 7
3. Apresentação do caso .................................................................................................... 8
3.1. Contexto macroeconómico: .................................................................................................. 8
3.2. Acordo de Plaza e o início da reviravolta económica: ............................................................ 8
3.3. A tentativa de conter o inevitável: ........................................................................................ 9
3.4. A crise, o estouro e os impactos na economia: .................................................................... 10
3.5. A década perdida e a estagnação económica: ..................................................................... 13
5. Conclusão: .................................................................................................................... 16
6. Referências bibliográficas ............................................................................................ 18

Índice de Gráficos

Gráfico 1 - Preço de activos no Japão (1985 a 2006)

Gráfico 2 - Crescimento e desemprego no Japão (percentagem)

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Lista de abreviaturas:

PIB- Produto Interno Bruto


BOJ - Bank of Japan
IDE- Investimento direto estrangeiro
NPL – Non Performing Loan

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1. Introdução:

Após algumas referências em aula relativamente à economia singular do Japão, consideramos


pertinente analisar a sua experiência após os colapsos das bolhas especulativas dos ativos e a crise
deflacionaria no país, na década de 1990, sendo esse o objetivo do nosso trabalho.

O Japão teve um grande desenvolvimento a partir do final do século XIX, desde então, o
crescimento económico japonês foi sempre espantoso e durante a maior parte do século XX, foi um
país modelo de desenvolvimento, com reconhecimento por outros países, particularmente na Ásia
(Castelli 2010).

O grande crescimento económico após a 2ª guerra mundial até ao final da década de 80, foi
acompanhado por um aumento nos preços das ações, de terras e imóveis, seguido por período de
baixo crescimento, estagnação e um declínio nos preços destas mesmas ações. O período de grande
crescimento económico ficou conhecido, na literatura internacional, como “período da bolha
especulativa” e a estagnação como a “década perdida” (Ito, 2003 in Fraga 2013).

Este trabalho está dividido em cinco partes, iniciando-se com um breve enquadramento
macroeconómico, em que podemos verificar que a alteração de políticas num determinado País pode
motivar um impacto positivo ou negativo considerável noutro com o qual se relacione. Seguidamente
vamos abordar o acordo multilateral efetuado pelos G5 que influenciou o que se pode chamar de
reviravolta económica tendo originado um choque cambial japonês conhecido por endaka.

Na terceira tenta-se evidenciar a existência de uma armadilha de liquidez na economia


japonesa e analisar as políticas que foram adotadas para combatê-la.

Na quarta e penúltima fase descrevemos a crise financeira, as suas causas e efeitos, assim
como as necessidades de reforma do modelo de emprego que vigorava (Castelli 2010)

Por fim, fazemos também referência às principais economias da região que devido ao período
atravessado e às medidas implementadas se encontravam numa situação mais fragilizada.

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2. Revisão de literatura

2.1. Deflação:

A definição de deflação é uma queda dos preços ao longo do tempo, por oposição a uma subida
dos preços (inflação). A deflação acontece quando o dinheiro se torna relativamente mais valioso do
que os outros bens na economia. (Martins 2014)

A deflação pode ocorrer com a combinação de quatro fatores: a oferta de dinheiro diminui, a
oferta de bens aumenta, a procura por dinheiro aumenta, a procura por bens diminui. (Martins 2014)
Acontece geralmente quando a oferta de bens aumenta mais rápido que a oferta de dinheiro. Por
exemplo, a oferta de computadores aumentou muito nos últimos quinze anos devido ao
desenvolvimento tecnológico, a um ritmo muito mais avançado do que a oferta de dinheiro, levando
a uma queda nos preços desses computadores. (Martins 2014)

Quando este efeito é generalizado em vários sectores, a deflação torna-se um risco real.
(Martins 2014)

2.2. Bolha especulativa:

Anónimo (2020) Descreveu que uma bolha especulativa, ou bolha financeira, é quando um
ativo ou produto sofrem um aumento muito rápido e extremo, fazendo com que seja negociado a
preços muito acima do seu justo valor. Esse aumento dos preços pode ocorrer por boatos ou até
mesmo notícias que fazem com que os investidores acreditem que vale a pena comprar determinado
ativo. (Anónimo 2020)

Entretanto, chega um ponto em que a sua cotação fica inflacionada e passa a entrar no campo
da especulação. Na especulação, as pessoas tentam realizar lucros comprando e vendendo esse ativo
num curto espaço de tempo. (Anónimo 2020)

Partindo desse pressuposto, assim como houve um aumento muito rápido dos ativos, ocorre
uma queda também muito rápida o que leva ao estouro da bolha especulativa e deixando
frequentemente prejuízos para os investidores. (Anónimo 2020).

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2.3. Superávit da balança comercial

A balança comercial de um determinado país regista todas as transações de mercadorias entre


residentes e não-residentes desse país processadas durante um período de tempo determinado
(normalmente, um ano). Logo, o seu saldo é determinado pela diferença entre o montante das
exportações (EXP) e o montante das importações (IMP) de bens verificadas num ano.

Se EXP>IMP, existe um superávit comercial. Inversamente, existirá um déficit comercial se


EXP<IMP. (Porto Editora 2021)

2.4. Taxas de desconto

É a taxa aplicada pelo Banco Central aos bancos comerciais. Muitas vezes os bancos comerciais
necessitam de empréstimos de curto prazo para cumprir alguns compromissos que, por falta de
liquidez no período, não conseguiriam cumprir. O Banco Central funciona como uma espécie de
financiador de última instância para os bancos comerciais (Castelli 2010).

Quando o intuito do Banco Central é injetar dinheiro no mercado, ou seja, expandir a base
monetária, ele baixa a taxa de desconto. Os bancos comerciais sentem-se mais estimulados a obter
mais empréstimos com o Banco Central e com isso, a reservar uma maior parte dos seus recursos para
empréstimos e por sua vez uma menor parte para as necessidades de curto prazo. Como consequência,
o crédito disponível aumenta, a base monetária também, e a economia é “aquecida”(Castelli 2010).

Quando o Banco Central aumenta a taxa de desconto, os bancos comerciais vão reservar uma
maior parte de seus recursos para o cumprimento de suas necessidades de curto prazo e diminuir o
montante reservado aos empréstimos. Com isso, a base monetária contrai e a economia desacelera
(Castelli 2010).

É por ela, também, que a política monetária acontece. Quando a taxa de desconto aumenta,
significa que o Banco Central está a iniciar uma política de redução de moeda em circulação.
(Dicionário financeiro 2021)

2.5. Políticas Monetárias

Conjunto de medidas que um governo pode adotar visando o controlo da liquidez da moeda
na sua economia. Este tipo de política, frequentemente utilizado na história moderna dos países, tem
o poder de interagir diretamente na economia e causar forte impacto na inflação/deflação e na taxa

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de juros E a taxa de juros é a principal ferramenta de controlo da inflação e que atua como um
limitador, quando esta começa a subir a taxa de juros sobe para segurar a economia. (Reis 2017).

2.6. Armadilha de liquidez:

Conceito desenvolvido por Keynes, cuja ideia subjacente acenta num contexto em que as
ações impostas numa política monetária através da redução das taxas de juros deixam de produzir
efeito dado que as taxas estão próximas de zero ou a zero. A política monetária perde assim o seu
efeito e capacidade de influenciar a economia. (Gameiro & Pinheiro 1999).

2.7. Ciclos Económicos

Os ciclos económicos consistem em flutuações na actividade económica em torno da sua


tendência a longo prazo, caracterizadas por períodos de expansão ou recessão. Durante as expansões,
a economia cresce em termos reais, enquanto durante as recessões esta contrai. Uma expansão
começa depois da economia atingir uma cava e termina quando esta atinge o seu pico. Entre um pico
e uma cava, a economia está em recessão. (Conselho das Finanças Públicas 2021).

2.8. Acordo de Plaza

O Acordo de Plaza foi um acordo celebrado pelo chamado ‘Grupo dos Cinco’ (G-5), e foi assim
nomeado por ter sido assinado no Hotel Plaza em Nova Iorque, em Setembro de 1985, este acordo
tinha como objectivo a intervenção nos mercados cambiais, ou seja, baixar a cotação do dólar norte-
americano de forma a ajudar à redução do défice comercial dos Estados Unidos (Nunes 2019).

Nas primeiras semanas após a assinatura do acordo os bancos centrais dos países signatários
gastaram cerca de 12 mil milhões de dólares tendo-se conseguido uma redução na cotação do dólar
de cerca de 22%. (Nunes 2019) O acordo procurava reduzir as crescentes pressões para a adoção
unilateral de medidas protecionistas que poderiam levar a retaliações com graves consequências para
todas as partes e para a economia mundial (Nunes 2019).

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3. Apresentação do caso

3.1. Contexto macroeconómico:

Nos anos 80, os EUA aplicaram medidas de estímulo ao mercado interno que levaram à subida
da taxa de juros e consequentemente à subida do valor do dólar nos mercados internacionais (Castelli
2010). Um dos principais beneficiados com a diferença cambial foi o Japão, com o aumento das suas
exportações, originando um Superavit comercial e tornando o Japão num dos maiores credores
líquidos do mundo (Castelli 2010). O elevado défice na Balança Comercial Norte Americana verificado
na primeira metade da década gerou uma perda de competitividade e um aumento do desemprego
(Fiesp 2011).

3.2. Acordo de Plaza e o início da reviravolta económica:

As pressões internas por uma alteração na política económica levaram a uma negociação
entre os governos dos EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido e França, os (G5), com o objetivo de
estabelecer um acordo multilateral nos mercados monetários e reduzir a diferença cambial das
principais moedas (Fiesp 2011).

O acordo denominado de Acordo de Plaza, foi celebrado a 22 de Setembro de 1985 tendo


resultado numa desvalorização do dólar em 30% do seu valor até 1988, contrariamente às moedas dos
restantes países signatários que valorizaram, em especial o Iene, cerca de 41% (Fiesp 2011).

O choque cambial conhecido por endaka, um Iene forte face a outras moedas, provocou de
imediato uma queda vertiginosa das exportações e queda dos lucros dos sectores exportadores
japoneses, obrigando o governo a mudar a política monetária, procurando condições para que a
procura no mercado interno aumentasse e compensasse dessa forma a queda das exportações (Torres
Filho 1997). Contudo, as políticas tomadas não contiveram a sobrevalorização do Iene e uma forte
pressão deflacionista surge na economia japonesa após o acordo em 1985 e até meados dos anos 90
(Fraga 2013), verificando-se uma inversão ao crescimento económico do Japão com os bancos
nacionais a sofrerem perdas avultadas com a desvalorização do dólar e uma consequente escassez de
capital, imprescindível para dar resposta ao financiamento industrial e crescimento que o país vinha a
viver desde os anos 50 (Castelli 2010).

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3.3. A tentativa de conter o inevitável:

Diante este cenário, o Governo do Japão aposta profundamente numa política expansionista
visando a recuperação da economia, em especial através do investimento direto estrangeiro (IDE)
(Carvalho 2012). As medidas aplicadas, como por exemplo a redução da taxa de juros, vieram
contribuir para o aumento contínuo nos valores dos ativos devido ao aumento do consumo privado e
investimento, principalmente no mercado imobiliário (Castelli 2010). Diante deste quadro, as
empresas produtivas lançaram-se com grande afinco a operações especulativas numa procura de
lucros não-operacionais aproveitando as oportunidades que os mercados interno e externo lhes
proporcionavam no que diz respeito a juros, câmbios, etc. (Castelli 2010).

No entanto, a redução da taxa de juros teve uma importante consequência negativa e não
prevista pelo governo, devido ao recurso a capacidades de financiamento desmesuradas e de acesso
fácil em especial ao sector empresarial, sem garantias e com grande carência de regulamentação
financeira adequada sobre as instituições financeiras, formaram-se bolhas especulativas no mercado
de ativos, com o valor de imóveis e ações em média a triplicar ao longo dos 4 anos seguintes (Torres
Filho 1997). Estas, afundaram o Japão numa crise sem precedentes, deixando, após o estouro, uma
pesada herança de ativos de difícil ou nenhuma liquidez (Castelli 2010).

Conforme se pode verificar no gráfico 1, em 1990, em termos de valorização imobiliária, poder-


se-ia, teoricamente, comprar todo o território dos Estados Unidos, uma área 28 vezes maior do que a
do Japão, com a venda de apenas um quarto do arquipélago japonês (Torres Filho 1997, pág 13).

Gráfico 1 - Preço de activos no Japão (1985 a 2006)

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Fonte: Bank of Japan (in Fraga 2013)

Em 1987 a economia japonesa já dava sinais de recuperação do quadro recessivo do endaka e


que se estava a entrar num novo ciclo de crescimento mais centrado no consumo e procura do
mercado interno (Torres Filho 1997). Em 1988 as exportações voltaram a refletir a recuperação da
competitividade bem como a retoma do comércio internacional, com as famílias também a
aumentarem o consumo de bens duráveis, alterando o comportamento mais restritivo que tinham
adotado anteriormente (Torres Filho 1997).

Os principais indicadores apontavam então que estava na altura de se começar a lidar com a
“bolha especulativa”, contudo, o governo decidiu continuar com a politica expansionista e foi só em
1989, quando os níveis de valorização nos mercados de capitais e imobiliário haviam atingido
patamares completamente absurdos, é que foram tomadas as primeiras medidas, com o Banco do
Japão (BoJ) a dificultar o acesso ao crédito e substituindo-se o presidente do BoJ, Satoshi Sumida por
Uasushi Mieno, que ainda em 1989 aumentou diversas vezes a taxa de juro cobrada pelo Banco Central
aos bancos comerciais (taxa de desconto), saindo de mínimos recorde de 2.5% para chegar a 6% em
1990 (Castelli 2010; Torres Filho 1997).

3.4. A crise, o estouro e os impactos na economia:

O estouro da bolha vem a acontecer no verão de 1990 com efeitos imediatos, negativos e
muito intensos na economia, tais como a taxa de crescimento a cair drasticamente e a taxa de
desemprego, que historicamente foi sempre boa, a subir (Gráfico 2) e a originar uma consequente
descida da taxa de inflação, lançando o país no início de um ciclo deflacionista, agravado por uma falta
de liquidez e a impossibilidade de utilizar uma política monetária como arma para combater a crise
(Castelli 2010).

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Gráfico 2 – Crescimento e desemprego no Japão (percentagem)

Fontes: FMI, WEO Database (in Fraga 2013)

Esta situação originou uma queda sistemática e pronunciada do índice Nikkei (Bolsa de Valores
de Tóquio), com a sua desvalorização a deixar completamente ilíquidas empresas e famílias que se
tinham endividado para investir em ações numa perspetiva de continuidade de mercados em alta.
Contudo, apesar do pânico na bolsa, o mercado imobiliário dava continuidade a uma valorização de
135 vezes entre 1955 e 1985 ao contrário de apenas 7 no caso de um depósito a prazo no mesmo
período (Torres Filho 1997).

O índice Nikkei, que mede a valorização das ações na Bolsa de Tóquio, havia passado de
13.113,00 no último dia de 1985, para 26.000,00 em outubro de 1987, cerca de 100% valorização,
chegando a aproximadamente 30.000,00 no início de 1988, com o nível máximo a ser alcançado em
dezembro de 1989 com 38.915,00. Apesar de ser três vezes superior aos valores de quatro anos antes,
a maior parte das previsões dos analistas de mercado eram que o índice iria superar a marca dos
40.000,00 e inclusivamente chegar ao fim do ano a 48.000,00 (Torres Filho 1997).

Os impactos gerados pelo “estouro” foram enormes, com o Japão a viver a pior crise desde a
2ª guerra. Um dos principais impactos foi o aumento dos superavits, a atingirem níveis máximos
históricos no período de 1994-95 revertendo o que haviam conseguido reduzir até 1991 (Torres Filho
1997).

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As grandes quantidades de capital tornaram-se num problema sério para a economia, com
muitas das garantias a perderem o seu valor e uma enorme quantidade de empresas a pedirem apoio
ao Banco do Japão e a tornarem-se insolventes (Castelli 2010).

A crise verificada nos mercados de ativos, em especial após se começar a fazer sentir no
mercado imobiliário, colocava não só em risco o sistema financeiro japonês como também o
internacional, que como resultado das desvalorizações das ações, colocaram as empresas que estavam
em situação especulativa a apresentar prejuízos patrimoniais (Torres Filho 1997).

A crise de confiança que se abateu na sociedade chegou inclusive a pôr em causa o modelo
produtivo japonês, Toyotista, em que a procura guia a produção e confere uma inigualável capacidade
de adaptação ao mercado interno e externo consoante a conjuntura (Carvalho 2012).

A dificuldade em reformar o modelo de emprego vitalício e ultrapassado, life-time employment


que proporcionava garantia de emprego vitalício desde a contratação até à idade da reforma, tornava
vários sectores improdutivos à escala mundial como a agricultura, distribuição, caminhos de ferro, mas
também transportes e comunicações, com custos insustentáveis e que obrigara várias empresas a
estabelecerem planos de reforma para os seus trabalhadores improdutivos e recrutarem novos. Era
então o fim da era company man, modelo que prevalecia no país desde o fim da II Guerra. (Carvalho
2012).

A queda da procura agregada das famílias e empresas, a recusa dos japoneses em consumir,
numa economia que onde os gastos individuais chegaram a atingir praticamente 60% do PIB, o
desemprego a aumentar, o rendimento a contrair-se, e o pessimismo entre os agentes económicos
tornar-se generalizado e foram componentes de uma espiral deflacionista que paralisaram toda a
década de 90 (Carvalho 2012).

Em termos fiscais foram acionados vários instrumentos, por um lado a redução do imposto
sobre o rendimento, com o objetivo de estimular o consumo nas famílias e por outro a aprovação de
orçamentos suplementares focados no investimento do estado em várias obras públicas que tiveram
como consequência um aumento substancial da dívida publica e do défice dos governos central e local
de 0,3% do PIB em 1991 para 7,7% em 1995 (Torres Filho, 1997).

Uma consequência dos diferentes ajustes de combate à recessão foi a aceleração dos
superavits na balança externa, resultado do crescimento das vendas para o mercado externo, ao
mesmo tempo que as importações se reduziam devido às várias limitações impostas e á frustrante
expectativa de crescimento do mercado interno. Este processo foi impulsionador para a
reestruturação na indústria japonesa, motivando um foco primordial nas exportações em produtos

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duráveis, máquinas e equipamentos industriais ao invés da habitual venda de aparelhos audiovisuais
e informática (Castelli 2010).

3.5. A década perdida e a estagnação económica:

A crise foi suavizada com as políticas fiscais e monetárias adotadas, contudo, não foram
suficientes para que a economia japonesa retomasse um crescimento sustentável a curto ou médio
prazo (Castelli 2010).

Em situação vulnerável estavam também as principais economias da região, Hong Kong,


Singapura, Coreia do Sul e Taiwan, que haviam contornado o problema cambial até ao início da década,
mas que começaram a sofrer quedas pronunciadas nas bolsas. O aumento dos salários nestas
economias foi baixando produtividade face á então emergente China, com salários baixos foi
conquistando mercado e capitais. As circunstâncias eram sem dúvida o palco uma crise financeira
asiática em grande escala, e com efeito contagiante para vários países na região (Medeiros 2001).

Conforme (Castelli 2010), quando a economia japonesa parecia estar a caminhar para uma
recuperação, a crise bancaria da região demarca de vez o cenário de recessão do Japão na década de
90. Com as políticas fiscais e expansionistas a mostrarem-se bastante limitadas também a política
monetária foi utilizada com o intuito de combater a crise, e a partir de 1998 o BoJ estabeleceu
temporariamente acesso ao crédito e financiamento. Contudo estas medidas de ligeira abertura de
acesso ao crédito não combatiam o cenário de deflação, tanto porque os bancos eram bastante
penalizados como pela própria procura por crédito era baixa (Castelli 2010).

Após ter conseguido apresentar tímidas taxas de crescimento no início da década


comparativamente com décadas anteriores, a economia japonesa no geral estagnou e terminou com
uma taxa de crescimento próxima de 1%. (Fraga 2013).

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4. Análise crítica do caso

Analisando o caso do Japão, pode-se afirmar que foram um conjunto de fatores interligados
entre si, que deram origem à bolha especulativa na economia japonesa, tais como a
desregulamentação do sistema financeiro na década de 1980, o comportamento agressivo das
instituições financeiras, a inadequada avaliação dos riscos por parte das instituições financeiras, a
tributação e regulamentação, com tendência a desacelerar a subida dos preços, o acordo de Plaza e a
condução da política monetária (Fraga 2013).

Os sinais de recuperação que surgiram entre 1994 e início de 1997 fizeram acreditar que o país
estava a travessar uma recessão cíclica normal e, como tal, não seria necessária grande agressividade
nas políticas do governo, mas com a crise de 1997 (crise asiática), o problema do Japão tornou-se
evidente (Fraga, 2013). Esta vulnerabilidade financeira surge uma vez que não houve uma recuperação
sustentada. (Kang et al in Fraga 2013)

Foram considerados três erros principais da política monetária japonesa, um primeiro lugar, o
fracasso por não ter sido apertada a política monetária de 1987-1989 apesar da evidência de
crescentes pressões inflacionárias, que contribuiu para a criação da bolha especulativa,
posteriormente, a aparente tentativa de combater a bolha especulativa entre 1989 e 1991 só veio
reforçar a descida dos preços dos ativos, e por fim, a forma inadequada como se interveio no período
de 1991 a 1994, tanto no sistema bancário, nos ativos e no declínio geral da economia (Bernancke
1999 in Fraga, 2013).

Os fatores que levaram à passagem de uma recessão cíclica normal, para uma forte estagnação
têm sido estudados ao longo dos anos, e podem dividir-se em duas principais categorias, por um lado
considera-se que o principal motivo foi o facto de que o Japão esteve preso na armadilha da liquidez
e por outro lado, considera-se que as intermediações bancárias foram o principal fator para a não
recuperação económica (Krugman, 1998 in Fraga, 2013).

De acordo com a primeira hipótese a recessão levou a um grande desequilíbrio entre poupança
e investimento (Fraga, 2013). As perspetivas de crescimento da economia eram tão más que, para
equilibrar a poupança e o investimento, a taxa de juros teria de ser negativa (Fraga, 2013). O governo
estabeleceu medidas para baixar as taxas de juro, contudo, apesar destas estarem próximas de zero,
não foi suficiente para impulsionar o investimento e o consumo, devido à reputação anti-inflacionária
e ao facto do Japão ter um consumo historicamente baixo (Fraga, 2013). Sob este ponto de vista a
política monetária não seria a política mais eficaz para tirar o país da recessão. (Fraga 2013).

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A segunda hipótese considera que as restrições de crédito foram a principal limitação para a
recuperação da economia, sendo a recessão um reflexo das intermediações financeiras (Fraga, 2013).
Esta hipótese tem por base o facto de que, no Japão, os bancos eram os maiores fornecedores de
crédito às pequenas e médias empresas, desempenhando um papel de extrema importância nas
intermediações financeiras (muito mais do que nos sistemas financeiros noutros países anglo-
saxónicos, como EUA e Inglaterra) (Fraga, 2013). Durante o período de criação da bolha especulativa,
os bancos financiavam grandes quantias a empresas que por sua vez utilizavam as terras como
garantia, com o colapso dos valores das terras muitos desses créditos transformaram-se em créditos
não produtivos (em inglês non-performing loan ou NPL), o que levou a uma redução ainda maior do
capital dos bancos (Fraga, 2013). Como resultado, também as empresas mais produtivas ficaram
privadas de novos empréstimos, não podendo, assim, desempenhar o papel que seria expectável para
a recuperação económica (Fraga 2013). Esta incapacidade de financiamento, limitou a efetividade da
política monetária (Fraga 2013).

Alguns autores, sugerem que estas hipóteses não são mutuamente exclusivas, no entanto
focam-se em diferentes fatores como principais elementos explicativos deste período (Bayoumi, 2000,
p. 13 in Fraga 2013).

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5. Conclusão:

Após a Segunda Guerra Mundial o Japão adotou um modelo de crescimento económico que,
durante décadas e até final dos anos 80, foi reconhecido e adoptado por muitos países, contudo, sendo
o Japão um país com bastantes idiossincrasias, possui características únicas que não são observáveis
noutras regiões (Castelli, 2010). Com o estourar da bolha especulativa, foram tomadas diversas
medidas para que os seus efeitos fossem contidos, no entanto, estes esforços não foram suficientes e
o Japão entrou numa forte crise económica (Castelli, 2010).

Ito considera que “A bolha foi responsável apenas parcialmente pela década perdida no Japão.
Uma série de erros de política económica implantada pós estouro fizeram um problema menor tornar-
se muito maior”. Tanto as políticas fiscais como monetárias, de cunho keynesiano, fracassaram na
recuperação da economia (Citado por Damas 2007).

De acordo com Fraga (2013), a experiência da crise financeira japonesa sugere que a natureza,
a velocidade e a ordem em que o poder público implementa medidas podem determinar a magnitude
e o custo da crise. Portanto, em retrospetiva, percebe-se que era necessário realizar as seguintes
tarefas (Fraga 2013). Podemos aferir, através desta experiência, que após os colapsos das bolhas
especulativas, ficam evidentes os dilemas da política económica que se apresentam nos períodos de
tensões financeiras agudas. No entanto, é sempre necessária uma solução para uma recuperação
sustentada, seja através da implementação de políticas fiscais ou monetárias para o setor bancário,
seja através de reestruturação das dívidas dos devedores em dificuldades (Fraga 2013).

Ao longo da década de 90, diversas políticas foram adotadas para tirar a economia japonesa da
recessão. Tais políticas tanto eram fiscais, através do aumento dos gastos públicos e subsídios a
empresas (principalmente as de construção civil) como monetárias, com mudanças constantes da taxa
de desconto com o objetivo de incentivar os bancos japoneses a cederem empréstimos às empresas
para que não abrissem insolvência (Castelli 2010).

Devido ao fracasso da política monetária, muitos autores, como Paul Krugman e Ben Bernanke,
inferiram que a economia do Japão estava envolta numa armadilha de liquidez e que nenhuma política
monetária conseguiria a sua total recuperação (Castelli 2010).

No entanto, outros autores, identificaram outros fatores relevantes que contribuíram para esse longo
período de estagnação da economia, como por exemplo, o baixo desempenho de um elevado número
de empresas que se encontravam tecnicamente falidas e que motivaram a crise do setor bancário
japonês. A queda na força de trabalho, com taxas de investimento e produtividade que convergiam

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para níveis consistentes com os de outras economias avanças, pelo que não nos foi possível identificar
o factor chave para esta realidade (Fraga 2013).

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6. Referências bibliográficas

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