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Desenvolva seu

pensamento crítico:
entenda como ler a
curva de juros
Como avaliar a dinâmica da curva de juros e saber
qual é o momento certo para assumir riscos e qual o
momento certo para ser conservador? Entenda como
analisar os pontos principais da curva de juros na
economia.
Eraldo de Paola
08/06/2018

A importância de ter um pensamento crítico é crucial quando o


assunto é economia. A cobertura oferecida no Brasil a respeito da
economia americana e da dinâmica de seu funcionamento é
usualmente pautada em conclusões de curto-prazo que derivam de
opiniões generalistas, do tipo: “agora os juros americanos estão
subindo, vamos comprar ação de bancos”. Geralmente, o investidor
que pauta suas decisões de investimento com base nas conclusões dos
principais meios de informação chega atrasado para a festa. O
mercado global é muito eficiente e se reposiciona rapidamente. Uma
palavra alterada dentro de uma frase nos comentários das minutas do
Fed move trilhões de dólares em menos de 2 minutos. Portanto, é
muito mais eficiente ter em mão as ferramentas para entender a
dinâmica básica que deve guiar a alocação de seus recursos para se
proteger de surpresas negativas.
Com um breve entendimento da curva de juros você já consegue
perceber que talvez esse não seja o melhor momento para alocar
em bonds de gás natural com 30 anos de maturidade, e talvez possa
ser o momento de todo mês aumentar em sua poupança a alocação em
títulos do Fed, afinal, os EUA estão há nove anos crescendo (2ª maior
expansão da história) e na próxima virada do ciclo econômico, o Fed
provavelmente terá que baixar os juros a patamares negativos. Será
que não vale mais a pena ter uma carteira alocada em ativos livres de
risco, como notas do tesouro americano, pagando por volta de 3%? Ou
é melhor ter uma alocação em bonds categoria Junk (lixo em inglês)
com 30 anos de maturidade pagando 6%, mas que no primeiro sinal de
estresse de mercado perde mais de 30% do seu valor de face? Será que
essa diferença de 3% de cupom vale a pena?

Quando a expectativa de crescimento começa a criar uma expectativa


crescente de inflação, os investidores começam a vender os títulos de
renda-fixa com vencimentos mais longos. A lógica é simples, se a
tendência é que o Banco Central tenha que aumentar os juros para
conter a inflação, então eu posso reinvestir o mesmo montante em
juros maiores em breve, e vou deixar meu dinheiro alocado em títulos
curtos, que sofrem menos deságio com essa mudança de patamar dos
juros e pelo menos pagam a inflação desse ano. Conforme esse
comportamento vai se tornando uma espiral constante, e conforme a
inflação realmente começa a surgir na economia, seja por meio de
aumento do preço do petróleo ou aumento de custos de alimentos e
serviços, os títulos mais longos diminuem seu spread contra os mais
curtos, o que na prática significa que venderam tantos títulos longos e
compraram tantos títulos curtos que ambos pagam um cupom parecido
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Teoricamente, os juros curtos, de um a cinco anos, deveriam pagar


menos que os juros mais longos, de 10 a 30 anos, afinal, é assim que
os bancos ganham dinheiro com seus empréstimos, ou melhor, é assim
que somos recompensados pelas incertezas do futuro e travamos
nossos investimentos para a aposentadoria, correto?

Nem tanto, quando a curva “achatada” aparecer, historicamente, pode-


se afirmar que uma possível recessão está próxima. A bolsa cai, a
economia esfria, a confiança do consumidor cai, os resultados das
empresas são ruins, a produção industrial diminui e o desemprego
aumenta, e a inflação ainda está alta. O que o Fed faz, historicamente
falando? Ele baixa os juros para estimular a economia. Cada vez para
patamares mais baixos. Veja esse exemplo que mostra desde 1980
como a distância entre os juros de 1 ano (linha azul) e inflação
esperada (linha laranja) foi diminuindo até que virou negativa na
última recessão. O antibiótico faz menos efeito no paciente a cada vez
que ele fica doente.

Gráfico de juros de 1 ano americano, histórico desde 1980

Agora, observe a curva de juros (curva que soma os pontos de quanto


cada título do tesouro paga na linha do tempo) em dois momentos
diferentes da história:

Final de um ciclo de expansão em 2006: Observe como está achatada.


Os juros de 30 anos têm um cupom ligeiramente maior que os de 3
meses. Tem algo errado aí, concorda? Receber o mesmo retorno em
investimento de 3 meses e de 30 anos?

Outro momento do ciclo, a expansão em pleno vigor no final de


2016: Observe como uma década de política monetária agressiva do
Fed por meio de juros baixos, pagando próximo de 0,25% no ano, em
conjunto com um potencial de crescimento econômico próximo e
baixa inflação deixaram a mesma curva inclinada. Em novembro de
2016, os investidores precificavam que um título do tesouro com 20
anos de maturidade deveria pagar em torno de 2,32%, ou seja, 2,1% a
mais que os títulos curtos de 3 meses. Justo, não?
Novamente, nem tanto. Como será que ficou o custo de oportunidade
dos investidores que compraram bondslongos em 2016, que os
satisfaziam com apenas 2,32% por 20 anos? Quanto será que
esses bonds estão valendo hoje?

Esta é a foto da curva de juros americana no final de maio de 2018:


como se pode ver, os mesmos 2,32% que antes você precisava arriscar
em um título de 20 anos podem ser atingidos com títulos de menos de
2 anos atualmente.

O importante deste artigo é entender a dinâmica da curva de juros e


com esse conhecimento ter noção para juntar os pontos na hora de
observar a história da economia. Fazer timing perfeito de mercado é
praticamente impossível, mas entender qual é o momento certo para
tomar risco e qual é o momento certo para ser conservador, não.

O site StockCharts disponibiliza diariamente a curva de juros


americano neste link.

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