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REC 2212 – Economia Monetária

Roseli da Silva
Monitor: João von Montfort Kling

Lista 1 – capítulos 2 ao 7 do Minshikin

1) Discuta o papel econômico dos mercados financeiros. Diferencie entre financiamento


direto e indireto, associando tais processos aos segmentos dos mercados financeiros.
Podemos entender os mercados financeiros como o canalizador de recursos na
economia. O papel fundamental do sistema financeiro é reduzir os custos de transação das
operações financeiras por conta da escala de transações (economias de escala), juntamente com
uma maior concentração de informações levando a uma alocação mais eficiente dos recursos
na economia. Ademais, por contar com tantas transações, eles permitem oferecer liquidez aos
consumidores e permitem-nos diversificar mais facilmente os riscos.
Outro papel importante é reduzir a assimetria de informações, por meio da
intermediação bancária. Os dois principais efeitos da assimetria de informações — seleção
adversa e risco moral — são minimizados quando a estrutura dos mercados financeiros opera
na conexão entre poupadores e devedores.
Por fim, cabe ainda descarar que pode ocorrer a falha de concorrência, uma vez que
são poucos agentes com poder de mercado e com tanta informação concentrada — sendo o
papel do governo combater essa situação oligopolizada.
O financiamento direto é aquele em que os devedores (borrowers) arrecadam recursos
ao negociar diretamente no mercado financeiro, podemos pensar no mercado de capitais —
mais especificamente na venda de ações e títulos de médio e longo prazo. Já o financiamento
indireto é aquele em que o intermediador financeiro (bancos, agências de crédito) pega
emprestado recursos dos poupadores e utiliza-os para fazer empréstimos aos devedores, ocorre
no mercado de crédito.

2) Alguns economistas suspeitam que uma das razões que as economias dos países em
desenvolvimento crescem muito lentamente é que eles não têm mercados financeiros bem
desenvolvidos. Esse argumento faz sentido? Considerando os segmentos dos mercados
financeiros e a estrutura a termo da taxa de juros, avalie a seguinte afirmação:

“Os projetos de investimentos das empresas S.A. podem ser financiados adequadamente
no mercado de crédito e requererão operações nos mercados de derivativos, caso haja
importação de algum equipamento para o investimento inicial”.

O argumento faz sentido ao se pensar o papel dos mercados financeiros na economia.


Uma vez que levam recursos ociosos de agentes superavitários (os poupadores) para agentes
que possuem uma escassez de recursos, permitindo investimentos produtivos de alto custo e,
no geral, aumenta o nível de investimento geral e promovendo uma alocação mais efetiva do
capital — ainda mais se considerarmos as falhas de mercado que são supridas pelos
intermediários financeiros.
Devemos primeiros pensar na estrutura a termo da taxa de juros. Sabemos que as taxas
de juros de curto prazo são definidas nos mercados monetários, as de médio prazo são
“definidas” (negociadas) no mercado de crédito e as taxas de longo prazo são definidas pelo
mercado de capitais (o mercado de títulos, mais propriamente dito). Isto em mente, também
devemos considerar alguns fatos estilizados, derivados da observação empírica dessa estrutura
a termo da taxa de juros, no geral elas se movem juntas e as taxas de longo prazo são maiores
do que as de curto prazo.

Portanto, sabemos também que investimento produtivo é uma decisão de longo prazo,
portanto financiá-lo pelo mercado de crédito, que opera no curto e no médio prazo, não é uma
boa ideia, uma vez que estará mais suscetível à mudanças nas taxas de juros e há um
descasamento entre os tipos de investimentos, correndo o risco, por exemplo, de que quando
for o prazo para pagar o crédito, o investimento produtivo ainda não ter gerado recursos
suficientes.

3) Se as empresas não levantam capital no mercado secundário, então ele é menos


importante que o mercado primário? Como a divisão de riscos beneficia tanto os
intermediários financeiros quanto os investidores privados?
Apesar das empresas não conseguirem recursos no mercado secundário, ele ainda tem
um papel crucial de determinar os preços pelos quais os títulos são negociados. De tal forma
que os agentes não pagariam às empresas mais do que conseguiriam comprando-os no mercado
secundário. Portanto, quanto maior (ou menor) for o preço negociado no mercado secundário,
mais (ou menos) a empresa emissora poderá cobrar por um novo título no mercado primário.
Além disso, o mercado secundário dá aos títulos maior liquidez, os tornando mais
desejáveis e, portanto, aumentando a demanda e criando pressão para aumentar os preços desses
títulos, mais uma vez incentivando e possibilitando uma maior arrecadação de capital no
mercado primário.

4) Discuta a seguinte afirmação:

“Um ativo deve oferecer um retorno esperado compatível com seu risco, medido pelo seu
desvio padrão histórico, quando um investidor avesso ao risco aloca seu portfólio de
acordo com as alternativas disponíveis nos mercados financeiros. Desta mesma
perspectiva, também é possível compreender o papel econômico da intermediação
financeira quanto ao efeito de risk sharing”.

Para ativos financeiros arriscados, devemos ver o risco como a chance de ganhos ou
perdas de um investimento, sendo medidos como a variância dos retornos de um título. Quanto
mais volátil, isto é, quanto mais distante do valor do retorno esperado — podendo gerar um
retorno muito maior ou muito menor —, maior será o risco de um ativo. Pela hipótese de agentes
avessos ao risco, o investidor precisa receber um retorno maior para aceitar tomar um
investimento mais arriscado.
Entretanto, em um portifólio, não basta apenas pensar nos retornos e no risco de um
ativo. O agente, dado que gastará a mesma riqueza, ao comprar menos de um ativo, demandará
mais do outro. Também passará a considerar os comportamentos da variância de um ativo em
comparação as variâncias de outros ativos, ou seja, pela compensação parcial dos riscos
individuais — que nos leva a diversificar os ativos a fim de não se expor aos riscos individuais
(risk sharing), em outras palavras reduzindo o risco idiossincrático e deixando apenas o risco
sistemático. Podemos, então, perceber o papel dos intermediários financeiros para permitir a
oferta dos mais diferentes tipos de ativos, com diferentes riscos e diferentes comportamentos
de risco.

5) Quais são as principais taxas de juros americanas (EUA) e europeias? Como elas têm se
comportado após a crise financeira de 2007-2008?
Nos EUA, temos a taxa de desconto e fed funds. A primeira é a taxa cobrada aos bancos
comerciais pelo FED para fazer empréstimos de um dia para o outro. O fed funds é a taxa
cobrada entre si pelos bancos para empréstimos de um dia, sendo determina pelo mercado
interbancário. Durante a crise financeira de 2007/2008, as taxas de juros caíram para 0,25%,
enquanto normalmente oscilam entre 1,75% e 2%, quando não há perturbações no mercado.
Já no Velho Mundo, as principais taxas são a do Banco Central Europeu e a Euro
interbank offered rate (Euribor). Inicialmente, as taxas apresentaram crescimento, mas
começaram a decair até chegarem ao seu mínimo de 0,05% (taxa do Banco Central Europeu) e
próximo de 0,1% (Euribor).
Na Inglaterra, temos similar aos EUA e à Europa duas taxas de juros: a oficial fixada
pelo Banco Central da Inglaterra — que caiu até 0,5% em 2009 — e a London interbank offered
rate (Libor) — que também caiu para o valor médio de 0,5%.

6) Se a taxa de juros é de 10%, qual é o valor presente de um título que paga 1.100 de dólares
no próximo ano, 1.210 dólares no ano seguinte e finalmente 1.1331 dólares no terceiro
ano? Se há uma queda na taxa de juros, qual tipo de papel seria melhor manter na
carteira, títulos de curto prazo ou longo prazo? Qual tipo de título possui maior risco de
taxa de juro?

1100 1210 1331


𝑉𝑃 = 1
+ 2
+ = 3000
(1 + 0,1) (1 + 0,1) (1 + 0,1)3

Quanto mais longo for um título, mais sujeito ele está às variações na taxa de juros,
uma vez que seus preços ficam sujeitos às forças de oferta e demanda. Uma queda na taxa de
juros impactaria positivamente no preço dos títulos — que deverá aumentar para igualar-se ao
valor presente. Portanto, dado uma queda na taxa de juros, os títulos de longo prazo valorar-se-
ão bem mais relativamente aos títulos de curto prazo.

7) Resolva:
a) Dado um título A com vencimento em 12 anos; valor de face de R$1000,00;
pagamentos anuais com taxa de cupom de 12%. Se o valor presente for R$850,00,
qual será o yield to maturity?
12
120 1000
850 = ∑ + ∴ 𝑌𝑇𝑀 = 14,73% 𝑎. 𝑎.
(1 + 𝑖)𝑛 (1 + 𝑖)12
𝑛=1
b) O título B possui vencimento em 12 anos; valor de face de R$1000,00; pagamentos
semestrais com taxa anual de cupom de 6%, se o valor presente for de R$1.100,00;
qual será o yield to maturity?
24
30 1000
850 = ∑ + ∴ 𝑌𝑇𝑀 = 2,44% 𝑎. 𝑠. = 4,94% 𝑎. 𝑎
(1 + 𝑖)𝑛 (1 + 𝑖)24
𝑛=1

c) Em qual título você investiria?


Devemos comparar a YTM de mesmo período. Como a do título A é maior,
investiríamos nela.
d) Supondo uma taxa de juros de 6%, qual a duration do título A?
Olhar tabela em anexo (R: aprox. 7,86 anos)

8) Um economista da corrente principal precisa explicar, para um estudante de economia de


primeiro ano que não faz ideia de como são determinadas as taxas de juros, porque um
título que possuía uma taxa de juros adequada deixa de ser um bom investimento num
certo momento ao longo de seu período de maturidade.
Explicamos primeiro o que é a duration. Para títulos sem cupom a maturidade efetiva
dele é igual a sua validade, uma vez que não se recebe pagamento algum por ele até que ele
vença. No entanto, para títulos com cupom, que fazem pagamentos todos os períodos, podemos
pensar na maturidade efetiva, ou seja, o tempo que é necessário até que se tenha rendimentos
do investimento, sendo calculado pelo prazo médio ponderado pelo valor de recebimentos dos
fluxos de caixas trazidos ao valor presente.
Nesse sentido, quando a duration é maior, isto é, mais próximo da maturidade mais
arriscado ele é, portanto, poderá não compensar para indivíduos mais avessos ao risco.

9) Suponha que, recorrendo às observações históricas da rentabilidade do mercado e às


ações da empresa ABC, estima-se um parâmetro beta negativo para a empresa.
Admitindo a validade do modelo CAPM, qual seria a relação que estabelecer-se-ia entre
o retorno do ativo sem risco e o retorno das ações da empresa ABC? Interprete estes
resultados.
O beta negativo indica-nos que o retorno das ações da empresa ABC são inversamente
proporcionais aos do ativo sem risco (i.e., se o retorno do ativo sem risco aumenta, o da ABC
diminui, e vice-versa). Por conta disso, haverá ainda que o retorno seja negativo (ou seja,
esperem que o do ativo sem risco aumente), os agentes demandarão os ativos da empresa ABC
a fim de diversificar seus portifólios e protegerem-se dos riscos, aumentando o valor atual do
ativo e, portanto, diminuindo seu retorno.

10) Considere as seguintes informações:


Ação Proporção no Taxa de Retorno Beta
Portfólio Esperada (%)

A 0,2 15 0,8

B 0,5 16,2 1,1

C 0,3 18,9 1,3


a) Calcule a taxa de retorno esperada e o beta da carteira.
b) Calcule as linhas características dos ativos A, B e C, admitindo que a taxa de juro
do ativo sem risco é 9% e que a taxa de rendimento do mercado é 16%. Interprete
os resultados.
c) Determine as taxas de rendimento de cada uma das ações e da carteira que serão
esperadas se a taxa de juro do ativo sem risco for 10% e a taxa de rendimento do
mercado for 18%.
Resposta na tabela em anexo

11) Considere os seguintes elementos relativos ao mercado de capitais, em que o desvio padrão
é uma proxy para o risco.
Risco Retorno Esperado

Carteira de Mercado 10 10%

Título Público 0 5%
a) Assuma a validade do modelo CAPM. Determine o retorno esperado de um ativo
com risco de 20% sabendo que o retorno deste ativo está perfeitamente e
positivamente correlacionado com o retorno de mercado.
Sabemos que o modelo do CAPM nos diz que:

𝑅𝑖 = 𝑅𝑓 + 𝛽𝑖 (𝑅𝑚 − 𝑅𝑓 )
Colocando os valores nos fornecidos na tabela, obteremos:

𝑅𝑖 = 0,05 + 𝛽𝑖 (0,1 − 0,05) ∴ 𝑅𝑖 = 0,05 + 0,05𝛽𝑖

Como enunciado, sabemos que o retorno deste ativo está perfeitamente correlacionado
com o retorno de mercado. Logo, sabemos que:

𝜎𝑅𝑖𝑅𝑚 = 𝜎𝑅𝑖 × 𝜎𝑅𝑚 × 𝜌𝑅𝑖 𝑅𝑚 = 0,2 × 0,1 × 1 = 0,02


Então, o 𝛽 é dado por:

𝜎𝑅𝑖𝑅𝑚 0,02
𝛽𝑖 = = =2
𝜎𝑅2𝑚 0,1²

Finalmente, o Rendimento do ativo i é:

𝑅𝑖 = 0,05 + 0,05 ∗ 2 = 0,15

b) Calcule e represente graficamente a reta característica do ativo com risco do item


anterior.
A reta característica é definida pela seguinte equação:

𝑅𝑖 = 𝛼𝑖 + 𝛽𝑖 𝑅𝑚

Nós já sabemos o coeficiente angular da reta; podemos, então, concluir ao substituir os


valores que 𝛼𝑖 = −0,05. Representando graficamente temos:

12) Como é definida a eficiência de um mercado à luz da Hipótese de Mercados Eficientes?


Isso é um random walk (white noise)? Comente a afirmação “o preço que pagamos por
um ativo financeiro é justo”.
Um mercado eficiente, no sentido econômico, é aquele em que os preços são formados
com todas as informações disponíveis. Em outras palavras, são os mercados em que os agentes
tomam a decisão sem desperdiçar informação (por isso o sentido de eficiente). Por
consequência, se esta hipótese for correta, o preço dos ativos financeiro incorpora em si tudo o
que os vendedores e compradores sabem e, portanto, reflete os conhecimentos disponíveis.
Pode-se dizer, então, que se houver capacidade de lucro não explorada — uma ação está
subvalorizada — ela rapidamente será eliminada e o preço será o justo.
Pela frequência contínua de informações, o preço segue um comportamento
imprevisível podendo subir ou diminuir sem quais capacidades de previsão — diferentemente
do que a análise técnica de ações se diz capaz de fazer. Dessa forma, pode-se dizer que o
comportamento do preço de uma ação é um Random Walk — que será comprovado ao ver que
o retorno é estável oscilando em uma constante.
Dessa forma, a afirmação mostra-se correta. Como o preço do mercado já incorpora
todas as informações disponíveis, no dado momento do tempo, ele é justo — não oculta
informações e tenta enganar o comprador. Vale destacar que, ainda assim, pode ser reavaliado
no segundo depois, com as novas informações disponíveis, e levar a uma perda do comprador.

13) Suponha que você se depara com uma notícia que a maioria dos analistas financeiros
esperam que o preço das ações caia. Você seguiria essa dica e venderia todas suas ações?
Justifique.
Os analistas financeiros observam os preços presentes e passados das ações, bem como
suas taxas de retorno e utilizam delas para a sua tomada de decisão. Dessa forma, acreditando
na hipótese dos mercados eficientes, não haveria por que acreditar em suas análises, uma vez
que o comportamento dos preços das ações é um Random Walk, refletindo a cada momento
todas as informações disponíveis.
Posto isso, há ainda um fator que devemos considerar: quantos analistas financeiros e
quão influente eles são. Se conseguirem convencer grande parte dos outros participantes do
mercado financeiros, todos eles buscarão vender suas ações para evitar a perda dessa suposta
queda. Com isso, proporcionarão uma profecia autorrealizável — com a venda em peso por
todos os agentes, haverá um excesso de oferta de ações e os preços serão pressionados para
baixo. Dessa forma, os analistas se provarão certos, mas não pela análise financeiro, mas por
influenciarem na formação das expectativas.

14) Considerando o equilíbrio nos mercados financeiros e a demanda por ativos de acordo
com a teoria do portfólio, responde, ilustrando graficamente as respostas.
a) Associe a teoria do portfólio aos fatores que afetam a demanda por títulos e
explique como se dão esses efeitos.
A teoria do portifólio nos diz como os agentes alocarão suas riquezas dentro os diversos
ativos financeiros. Dessa forma, eles consideram a atratividades dos ativos na hora de
decidir quanto cada um irá compor sua carteira. Cabe destacar que todas características
são analisadas comparativamente aos outros ativos, isto é, o agente alocará toda sua
riqueza — podemos pensar que no caso que ele não compre nenhum ativo financeiro
“tradicional” ele alocará em moeda. Portanto, os fatores que tornarão os títulos mais
atrativos, aumentando sua demanda e o seu peso no portifólio serão:
I. Retorno Esperado: quanto maior for o retorno de um ativo,
relativamente ao outros, mais valioso ele é e, portanto, mais dele
demandar-se-á (tudo o mais constante). Logo, se o preço de um ativo
aumentar, o retorno irá diminuir e, então, demandar-se-á menos dele
— daí a curva negativamente inclinada.
II. Risco: quanto mais seguro for o retorno esperado de um ativo
relativamente aos outros, os agentes avessos ao risco o demandarão
mais.
III. Liquidez: quanto mais rápido um ativo puder ser convertido em
moeda (o ativo mais líquido de todos) em comparação aos outros, mais
desejável é. Isso implica também nos ativos que apresentem custos de
transação melhor.
IV. Riqueza: quanto maior for a riqueza de um agente, sem mudar
nenhuma característica dos ativos, mais de todos os ativos ele irá
demandar.

b) Explique os fatores que afetam a oferta de títulos.


Os ofertantes de títulos fazem uma análise comparativa da Eficiência Marginal
do Capital (EMgK) — a taxa interna de retorno dos lucros proporcionados por um
aumento do Capital durante sua vida útil — com a taxa real de juros (r). Podemos
pensar que isso ocorre uma vez que a firma se depara com o custo de oportunidade: o
gasto que ela terá com o capital que ela poderia deixar investido em uma ativo e
ganhando a taxa de juros r.
Dessa forma, se a EMgK for maior do que ela ganhará deixando investido a
uma taxa de juros r, ela decidirá por investir produtivamente. Para isso, ela ofertará
títulos — será o dinheiro conseguido por eles que permitirá o financiamento de Capital.
Daí entendemos a relação positiva entre oferta de títulos e preço dos títulos (lembrando
da relação inversa entre preço e taxa de juros, quanto maior o preço menor a taxa de
juros).
Cabe ainda destacar o papel da inflação esperada. Como a EMgK depende do
lucro futuro de uma firma, inevitavelmente depende de o quanto ela considera que seus
produtos custarão no futuro. Se a inflação esperada for alta, os preços nominais dos
bens serão maiores e, dado que o gasto da firma já foi dado aqui no passado, o lucro
será maior. Além disso, a inflação age por outro caminho, pela equação de Fisher,
sabemos que quando a inflação esperada, para uma dada taxa de juros nominal, a taxa
de juros real diminui — possibilitando que investimentos com EMgK menor se tornem
mais atraentes.
c) Apresente e discuta a relação entre mercado de títulos e mercado fundos
emprestáveis, exemplificando por meio de um experimento de estática
comparativa que afete a demanda por títulos.
O mercado de fundos emprestáveis contam com dois tipos de agentes: os
superavitários — poupadores que querem receber remuneração por sua poupança e vão
comprar títulos —, e os deficitários — os demandantes de fundos, que ofertam títulos
para angariar recursos.
Se outras ativos se tornarem mais atraentes (i.e., apresentarem um retorno
relativo maior, um risco menor ou uma liquidez maior), a demanda por esses ativos vai
aumentar e, dado que a riqueza é limitada, demandar-se-á menos dos títulos. Com essa
redução de demanda, há um excesso de oferta, o que pressionará os preços para baixos
e consequente aumentará os juros. No mercado de fundos, isso se traduz como uma
diminuição oferta de fundos, que refletirá esse aumento da taxa de juros.

15) Os prêmios de risco dos títulos corporativos são normalmente anticíclicos, ou seja, eles
diminuem durante períodos de expansão e aumentam durante recessões. Por que isso
acontece? O que vai acontecer com as taxas de juros dos títulos de uma corporação se o
governo federal garantir que hoje irá pagar os credores se a empresa falir no futuro? O
que vai acontecer com as taxas de juros do Tesouro? Explique o comportamento esperado
para a estrutura a termo do Tesouro sob a perspectiva teórica (compare com as teorias
de expectativa, segmentação de mercado e prêmio por liquidez).
Temos que entender a natureza dos títulos comparativos para entendermos o seu
comportamento no ciclo de negócios. Eles são ofertados por empresas para financiar suas
atividades produtiva e são pagas por essas firmas posteriormente, quando ela recursos por meio
de sua produção. Dessa forma, durante momentos de expansão do ciclo de negócios, a firma
apresenta um melhor desempenho esperado e, portanto, é mais provável conseguir honrar seus
compromissos (tem um menor risco de default). Como o risco é menor, ela não precisa oferecer
um grande prêmio de risco para atrair demandantes em relação ao título livre de risco.
Paralelamente, em momento de contração no ciclo de negócios, o risco de default aumenta e a
empresa deve oferecer um prêmio de risco maior. Daí vem o carácter anticíclico do título
empresarial.
Quando o governo garante que pagará os credores (por exemplo, com o FGC), mesmo
que a firma que emitiu o título não consiga, ele está reduzindo o risco de default e, com isso, o
prêmio de risco diminuirá. Tendo menos risco, o título empresarial terá um excesso de demanda
que pressionará um aumento dos preços e, com a relação inversa de preço e juros, a taxa de
juros cairá. Simultaneamente, pela realocação de portifólio, o título do tesouro será menos
demandado e, com o excesso de oferta, o preço cairá e o juros subirá.
A Teoria das Expectativas supõe que os agentes não preferem maturidade específica e,
dessa forma, os títulos são substitutos perfeitos — dado que possuem o mesmo retorno
esperado. A taxa de juros de longo prazo será igual a média da taxa de juros esperada se se
comprasse múltiplos títulos de curto prazo ao longo do período de maturidade do título de longo
prazo. Portanto, o aumento da taxa de juros decorrente da realocação do portifólio para títulos
empresariais se refletirá em toda Estrutura a Termo da Taxa de Juros — ela aumentará em todos
os vencimentos.
A Teoria da Segmentação dos Mercados supõe que os títulos não são substitutos, cada
maturidade está em um mercado separado. Assim, cada agente tem sua preferência por uma
maturidade em específica e o preço dos títulos ocorre na oferta e da demanda dentro de cada
segmento. Logo, o aumento da taxa de juros afetará cada faixa de maturidade
independentemente seguindo o novo equilíbrio que se estabelecer no segmento.
Por fim, temos a Teoria do Prêmio por Liquidez que acredita que, quanto mais longo
for o vencimento de um título, mais o agente deverá ser recompensado por abrir mão da
liquidez. Dessa forma, os títulos são substitutos, mas não perfeitos, devendo incorporar um
prêmio para tornar mais atrativo a substituição de um título de vencimento mais curto para um
mais longo. Dessa forma, o aumento da taxa de juros afetará toda a Estrutura a Termo da Taxa
de Juros, mas em graus diferentes cada faixa de maturidade uma vez que os prêmios pela
liquidez também se ajustarão a nova realidade.

16) Quais são os fatos estilizados para o comportamento da estrutura a termo da taxa de
juros? Como as teorias sobre estrutura a termo explicam cada um deles? Explique que o
conteúdo informacional a curvatura pode conter sobre a expectativa de taxas de curto
prazo no futuro.
Destaca-se três fatos estilizados, isto é, observados empiricamente e consistentes o
bastante para serem generalizados:
● As taxas de juros de prazos diferentes caminham juntos ao longo do tempo.
● Quando as taxas de juros de curto prazo estão fora do seu patamar normal, é
esperado que retornem para seus níveis normais no futuro.
● Em geral, as taxas de juros de longo prazo são mais elevadas do que as de curto
prazo.

A Teoria das Expectativas explica o primeiro e o segundo fato estilizado. Uma vez que
os títulos sejam substitutos perfeitos, as realocações de portifólio se a taxa de juros de um subir
fará com que as outras também se ajustem nesse sentido até se equalizarem, de forma que
caminharão juntas ao longo do tempo. Por essa mesma lógica, quando as taxas de juros de curto
prazo estão muito além do normal, sua demandar aumentará muito (uma vez que os títulos são
substitutos e serão realocados no portifólio), o que irá provocar uma pressão por aumento do
preço e uma queda da taxa de juros — retornando ao patamar normal de equilíbrio. Entretanto,
ela não consegue explicar o terceiro fato estilizado, a ETTJ deveria ser plana, já que a troca
livre (por serem substitutos perfeitos) garantiria que todos tivessem a mesma taxa de juros.
A Teoria dos Mercados Segmentados, por negar a substituição entre títulos com
maturidades diferentes, não conseguiria explicar nenhum comportamento conjunto das taxas de
juros de curto e longo prazo — o 1º e o 2º fatos estilizados. Apesar disso, traz uma boa
explicação para o 3º fato estilizado, como os títulos de curto prazo apresentam menor risco eles
seriam mais demandados que os títulos de longo prazo, com isso há a pressão para uma elevação
do preço e uma queda da taxa de juros em relação com aqueles observados nos títulos de longo
prazo.
A Teoria do Prêmio pela Liquidez consegue explicar bem os três fatos estilizados. Pelos
títulos serem substitutos em certa medida, explica a movimentação conjunta (apesar de em
graus diferentes) das taxas de juros de curto e de longo prazo. Similarmente, quando as taxas
de juros de curto prazo estão muito distantes do seu equilíbrio, as suas realocações de portifólio
alterarão a demanda e a oferta e trarão para o nível de equilíbrio normal. Por fim, consegue
ainda explicar o último fato estilizado, quanto menor for a liquidez de um título — quanto maior
for sua maturidade — maior terá que ser seu prêmio, dessa forma explicando a taxa de juros de
longo prazo em geral mais altas do que as de curta.
Podemos, então, analisar o formato da curva da Estrutura a Termo da Taxa de Juros. A
ETTJ pode ter três formatos principalmente: normal, plana e invertida. Além disso, a curvatura
no caso da normal e invertida indica o quanto se espera que as taxas de juros mudem no tempo.
Resumindo-se na figura abaixo.
17) Discuta a seguinte afirmativa a partir de argumentos baseados na análise econômica da
estrutura financeira
“Governo de países em desenvolvimento, ao usarem seus sistemas financeiros para
direcionar recursos para si próprios ou para setores específicos da economia, por meio de
taxas de juros subsidiadas, podem produzir como resultado de sua ação direta nestes
mercados menor crescimento econômico”.

Quando o governo atua subsidiando os juros em mercados específicos ele produz


distorções quanto a alocação dos recursos. Dessa forma, ao oferecer juros menores, projetos
que antes a Eficiência Marginal do Capital era maior do que a taxa de juros passam a ser viáveis
— dessa forma, poderia de fato estimular o investimento produtivo e garantir crescimento
econômico.
Porém, há de se pensar, à luz da Hipótese dos Mercados Eficientes, que a taxa de juros
atual melhor reflete as informações naquele instante. Portanto, ao se subsidiar a taxa de juros,
provoca uma distorção de informações e acaba por viabilizar projetos ou empréstimos que não
terão retorno, ou um retorno menor do que a taxa de juros sugeriria.
Em suma, se considerarmos o subsídio de juros em mercados específicos ocorremos
por redirecionar recursos, e possibilitar, investimentos não tão eficientes e mais arriscados
enquanto retiramos de outros investimentos que, dado a conjuntura sem intervenção,
apresentam bom retorno.

18) Explique o comportamento da taxa de juros de acordo com a teoria do portfólio numa
situação de queda de ciclo de negócios, deixando claras as hipóteses necessárias para essa
análise.
Uma queda no ciclo de negócios impacta todos os agentes da economia, de tal forma
que afetará tanto a oferta quanto a demanda de títulos. Pelo lado da oferta de títulos, temos que
pensar que as expectativas de lucros futuros são diminuídas — esperasse que haja uma menor
demanda futura de bens —, de tal forma que a Eficiência Marginal do Capital decresce e,
portanto, investimentos produtivos ficam menos atrativos. Portanto, menos recursos serão
demandados e, consequentemente, menos títulos serão ofertados.
Pelo lado da demanda de títulos, mais fatores entram em ação. Partindo da hipótese de
que renda e riqueza se movem juntas, é natural pensar que com o aumento do desemprego —
em um cenário de queda do ciclo de negócios — as famílias disponham de menos recursos
excedentes e tornem menos superavitárias, podendo ofertar menos recursos. Além disso, em
cenários de queda de atividade econômica, a chance de uma firma não conseguir angariar
fundos para pagar seus compromissos aumenta (aumenta o risco de deafult). Por fim, como o
cenário afeta todos os agentes, menos transações ocorrerão no mercado secundário e a liquidez
de títulos também sofrerá. Avaliados em conjuntos, é um forte indicativo que a demanda por
títulos irá diminuir.
No novo equilíbrio é certo que a quantidade de títulos no mercado será menor. O preço,
no entanto, torna-se incerto — pode aumentar, diminuir ou continuar o mesmo —, dependendo
de qual contração é mais forte. Se a diminuição da demanda for maior, haverá um excesso de
oferta de títulos e o preço terá uma pressão de queda. No entanto, se a diminuição de oferta for
maior, teremos um excesso de demanda e o preço tenderá a aumentar até o novo equilíbrio.

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