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AULA 3

ADMINISTRAÇÃO DE
CARTEIRAS

Profª Ana Paula Mussi Szabo Cherobim


INTRODUÇÃO

Qualquer carteira de investimentos é composta por papéis, ou títulos do


mercado financeiro. Esta etapa apresenta a administração de carteiras à luz da
principal teoria sobre administração desse conjunto de ativos: Portfolio Selection,
desenvolvida em 1952 por Harry Markowitz.
Vários autores e profissionais de mercado fizeram boas contribuições para
o estudo da administração de carteiras. Os clássicos aprofundaram a questão do
risco, por exemplo, Sharpe (1964), Lintner (1965), Fama (1970); Kahneman e
Tversky (1979) incluíram fatores menos reacionais e mais psicológicos à análise,
iniciando o estudo de Finanças Comportamentais. Outros profissionais analisaram
a questão das bolhas de mercado, e mais recentemente, fortaleceram o status do
investimento financeiro como direcionador da Nova Ordem Mundial, como Soros
(2008). Porém, os princípios da Teoria de Carteiras de Markowitz estão validos
até hoje, setenta anos depois.
Além dessa introdução, esta etapa visa a apresentar a modelagem da
Teoria de Carteiras de Markowitz, explicar de forma conceitual e estatística a
diversificação e a correlação de ativos; para então desenhar a fronteira eficiente.
Antes de terminar o capítulo, diferenciamos a gestão ativa da gestão passiva de
carteiras e desenvolvemos alguns princípios práticos para elaborar e administrar
uma carteira de investimento.

TEMA 1 – MARKOWITZ E A MODERNA TEORIA DE CARTEIRAS – PORTFOLIO


SELECTION

Todo investidor e/ou administrador carteiras procura aplicações financeiras


com maior retorno. Ao procurar papéis com o objetivo de poupar por precaução,
investir por especulação e aumentar seu patrimônio, o investidor usualmente
concentra sua busca em papéis que oferecem maior taxa de juros, na renda fixa,
e maior perspectiva de ganhos, na renda variável. Markowitz dá mais
complexidade a esse raciocínio: não basta procurar maiores taxas e/ou ganhos: a
fonte de geração desses ganhos precisa ser diferente. Em outras palavras: os
papéis da carteira precisam variar de forma diferente entre si e em relação ao
mercado. E assim apresentamos a primeira grande contribuição de Markowitz: o
conceito de diversificação.

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Várias vezes ocorrem perdas no valor dos papéis e nas remunerações
esperadas. Em momentos de crises econômicas, os papéis tendem a perder valor:
ações; títulos emitidos pelos governos; moedas e outros ativos. No entanto, nem
todos os ativos perdem valor, se desvalorizam com a mesma intensidade: por
exemplo, moedas de países com economia mais forte, tendem a se valorizar, o
mesmo ocorrendo com títulos de governo de países mais ricos; e em relação às
empresas, o preço de algumas ações pode até subir, a depender de sua atividade,
ou ao menos, vão sofrer menor impacto da tendência geral de queda.
Por outro lado, quando a economia melhora, nem todos os ativos reagem
com a mesma velocidade; ou seja, alguns recuperam valor mais rapidamente e
outros podem até nunca mais se recuperar. O investidor precisa, portanto,
identificar como os ativos se comportam em relação ao mercado. A segunda
grande contribuição de Markowitz foi estabelecer a base para o estudo da relação
risco X retorno dos ativos.
A rentabilidade de uma carteira de investimentos é consequência da
rentabilidade dos papéis que compõem essa carteira. O investidor tende a tomar
a decisão de investimento a partir do seu conhecimento de mercado e suas
expectativas futuras. Para Markowitz essa preocupação é necessária, mas não
suficiente. Para avaliar corretamente a rentabilidade de cada um dos papéis da
carteira é necessário também compreender qual o nível de risco desse papel.
Portanto, a análise deve ser sempre da relação “risco X retorno”.

1.1 Risco x retorno

Conforme já destacado, a diversificação é a principal contribuição de


Markowitz para a Administração de Carteiras. Porém, antes de aprofundarmos as
estratégias de diversificação, precisamos entender a relação risco X retorno.
Em uma economia relativamente estável, todos os agentes econômicos
estão em busca da satisfação de suas necessidades, dentre elas a valorização do
seu patrimônio: em ativos reais e ativos financeiros. O mercado financeiro viabiliza
a troca desses ativos; contudo, as perspectivas e possibilidades de ganho são
diferentes. Os projetos podem não obter o sucesso esperado, limitando ganhos,
causando perdas e prejuízos. Essa variabilidade dos retornos é chamada de risco
e precisa ser considerada na tomada de decisão de investimento. Alguns
exemplos, a seguir, procuram evidenciar essa relação “risco X retorno”.

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a) Os analistas de mercado dificilmente recomendam o investimento em
Caderneta de Poupança no Brasil, em função de seu rendimento ser um
dos mais baixos do mercado. Sob a ótica do retorno, a não recomendação
está perfeita. No entanto, além da facilidade de aplicação, liquidez e
padronização do produto em todas as instituições financeiras, as
aplicações em Caderneta de Poupança têm baixíssimo risco. Ou seja, para
quem não tem conhecimento de mercado, pode ser uma boa alternativa de
investimento.
b) O investimento em ouro é uma forma de preservação de valor. Em
momentos de crise, esse ativo financeiro tende a se valorizar; mas quando
a economia do país se fortalece o preço do metal tende a cair.

O Gráfico 1, Ouro X PIB, apresenta a variação mensal do PIB e do ouro


para o período novembro 2021 a julho 2022. Podemos perceber a flutuação
inversa das variações nos meses de março, maio e junho de 2022.

Gráfico 1 – Ouro x PIB

Variação Ouro X PIB


0,1500

0,1000

0,0500

-
nov/21 dez/21 jan/22 fev/22 mar/22 abr/22 mai/22 jun/22 jul/22

-0,0500

-0,1000

Ouro PIB

c) O investimento em ações oferece melhores perspectivas de retorno, no


entanto, o investidor corre riscos relacionados às empresas investidas e ao
mercado financeiro, em especialmente variações na bolsa de valores. Por
outro lado, o investimento em títulos públicos é mais conservador: menos
arriscado porque há mais segurança entre receber juros do governo e

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auferir ganhos de capital e proventos pagos pelas empresas listadas em
bolsa.

O Gráfico 2, Ações X Taxa SELIC, evidencia o aumento de investimento


em fundos de ações quando a taxa SELIC cai ao longo dos últimos 20 anos.

Gráfico 2 – Ações X taxa SELIC

Fonte: Anbima; Bloomberg; Nord Research.

Naturalmente muitos outros fatores influenciam essas variações, mas os


gráficos nos ajudam a compreender os movimentos da relação risco X retorno.

1.2 Diversificação

A Teoria de Markowitz destaca a diversificação como uma estratégia de


evitar a correlação entre os ativos.
Portanto, diversificar não é procurar ativos diferentes, mas é sim procurar
ativos que se comportem de maneira diferente em face ao mesmo problema ou
situação.
O administrador de Carteiras pode “fugir” dessa correlação buscando
diferentes classes de ativos:

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• Tipos diferentes de ativos: renda fixa X renda variável;
• Na renda fixa: títulos públicos X títulos privados
• Em títulos privados: setores econômicos diferentes
• Na renda variável: Ações X Moedas X Derivativo
• Em ações: empresas de segmentos diferentes, empresas de grupos
econômicos diferentes.
• Em moedas: dólar, euro, criptomoedas
Essa busca tem características qualitativas. A efetiva diversificação vai
ocorrer a partir da aplicação de técnicas estatísticas para analisar o
comportamento dos retornos desses ativos, em relação ao comportamento do
mercado. Desse modo, as técnicas quantitativas contribuem para a seleção dos
ativos a comporem a carteira.

TEMA 2 – DIVERSIFICAÇÃO E CORRELAÇÃO DE ATIVOS

Os métodos estatísticos usando para calcular a diversificação recorrem ao


tradicional cálculo de médias e desvios padrão. Apresentamos a seguir um breve
roteiro e uma aplicação “didática” usando ativos e retornos criados para mais bem
explicar a utilização do modelo:

1. Reunir informações sobre o retorno dos ativos a serem analisados; caso


não seja possível reunir o histórico, é necessário fazer uma projeção dos
retornos esperados.
2. Calcula-se o retorno médio.
3. Calcula-se o desvio padrão, com vista a mensurar a variabilidade dos
retornos.
4. Calcula-se a relação risco retorno. A maneira mais simples é dividir o
retorno médio pelo desvio padrão. O ativo com maior relação
retorno/desvio padrão é o mais interessante.
5. Para elaborar a carteira, atribuímos inicialmente a mesma participação
percentual para cada ativo na carteira.
6. Calculamos o retorno médio da carteira, por meio da média ponderada:
somatório dos retornos, ponderados pela participação média de cada ativo
na carteira.
7. Calculamos o desvio padrão médio ponderado da carteira.
8. Calculamos a relação risco retorno da carteira.

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2.1 Histórico de retornos

O quadro 1 apresenta quatro ativos e sua rentabilidade ao longo dos


últimos doze meses. Não sabemos que tipo de ativo é: renda fixa ou variável,
emitido por banco, empresa ou governo. Vamos fazer a análise apenas
considerando o histórico de retornos.

Quadro 1 – Histórico de retornos dos ativos

Ativo MMM - histórico de Ativo KKK - histórico Ativo YYY - histórico Ativo ZZZ - histórico
retornos de retornos de retornos de retornos

Retorno Retorno Retorno Retorno


jan/x0 0,50% jan/x0 0,80% jan/x0 0,45% jan/x0 -0,50%
fev/x0 0,40% fev/x0 0,90% fev/x0 0,60% fev/x0 -0,70%
mar/x0 0,60% mar/x0 0,30% mar/x0 0,60% mar/x0 1,25%
abr/x0 0,55% abr/x0 -0,50% abr/x0 0,60% abr/x0 1,80%
mai/x0 0,70% mai/x0 -0,50% mai/x0 0,70% mai/x0 -0,01%
jun/x0 0,80% jun/x0 0,70% jun/x0 0,60% jun/x0 1,20%
jul/x0 0,50% jul/x0 0,65% jul/x0 0,65% jul/x0 1,50%
ago/x0 0,65% ago/x0 0,35% ago/x0 0,60% ago/x0 1,30%
set/x0 0,70% set/x0 -0,35% set/x0 0,65% set/x0 0,75%
out/x0 0,75% out/x0 2,00% out/x0 0,70% out/x0 -0,55%
nov/x0 0,70% nov/x0 1,90% nov/x0 0,75% nov/x0 1,10%
dez/x0 0,65% dez/x0 -0,80% dez/x0 0,70% dez/x0 1,20%

Média de retorno 0,63% Média de retorno 0,45% Média de retorno 0,63% Média de retorno 0,70%
Desvio Padrão 0,001177439 Desvio Padrão 0,0090314 Desvio Padrão 0,000778 Desvio Padrão 0,008863
Retorno/dp 5,308128626 Retorno/dp 0,5028748 Retorno/dp 8,135314 Retorno/dp 0,784136

A partir da análise risco retorno, o ativo KKK apresenta o menor retorno


0,45% com o maior risco, representado pelo desvio padrão de 0,0090314. Essa
escolha é corroborada pela menor relação retorno/desvio padrão, entre os quatro
ativos 0,5028748. Esse ativo será retirado da carteira.

2.2 Cálculo do risco x retorno da carteira:

Vamos trabalhar com apenas três papéis na nossa carteira: MMM, YYY,
ZZZ.
Continuamos a análise da carteira calculando o retorno médio ponderado,
o desvio padrão médio ponderado e a relação retorno desvio padrão média
ponderada. O Quadro 2 evidencia esses cálculos:

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Quadro 2 – Relação risco retorno da carteira

retorno dp ret/dp Peso


MMM 0,63% 0,0011774 5,308129 0,33
YYY 0,63% 0,0007785 8,135314 0,33
ZZZ 0,70% 0,0088633 0,784136 0,33
carteira 0,65% 0,003606 4,74

O Quadro 2 nos mostra uma carteira composta por três ativos. A


participação percentual de cada um é proporcional, 33,% cada. O retorno médio
é 0,65%, com risco medido pelo desvio padrão de 0,003606.
É necessário ainda calcular como cada ativo se comporta em relação ao
outros. Isso é possível por meio do cálculo da correlação dos ativos, apresentada
no Quadro 3.

Quadro 3 – Correlação dos ativos

MMM YYY ZZZ


MMM 1,00
YYY 0,4959 1,00
ZZZ 0,1812 0,1825 1,00

Os ativos MMM e YYY são bastante correlacionados, as suas


possibilidades de retorno se comportam de modo semelhante. O ativo ZZZ
apresenta retornos mais independentes do retorno de YYY e MMM.
A otimização da carteira se dá por meio da melhor combinação dos ativos.
O Quadro 4 mostra simulações para a essa composição. As três primeiras colunas
simulam uma carteira composta apenas por um ativo, ou seja, a relação risco
retorno da carteira é igual a relação risco retorno do ativo.
As colunas seguintes mostram diferentes combinações, mostrando maior
retorno quando o ativo ZZZ participa com maior peso, porém aumentando o risco.
A melhor combinação, dentre as calculadas é a última coluna: 20% de MMM; 47%
de YYY e 33% de ZZZ. O retorno médio é 0,652%, o segundo mais alto dentre os
apresentados, e o segundo menor risco 0,00353; sendo essa a melhor relação
risco retorno.

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MMM 0% 0% 100% 33% 40% 25% 28% 20%
YYY 0% 100% 0% 33% 30% 25% 28% 47%
ZZZ 100% 0% 0% 33% 30% 50% 45% 33%
100%

retorno da carteira 0,70% 0,63% 0,63% 0,651% 0,649% 0,662% 0,659% 0,652%
desvio padrao cart 0,00886 0,00078 0,00118 0,00361 0,00336 0,00492 0,00453 0,00353
Ret/risco carteira 0,7841 8,1353 5,3081 4,7425 4,7991 3,7529 4,0498 5,1440

A utilização da ferramenta “solver” do Excel permite inúmeras simulações,


até encontrar a relação risco retorno ótima.

TEMA 3 – FRONTEIRA EFICIENTE

A partir da combinação de diferentes ativos podemos calcular diferentes


relações risco retorno. Se considerarmos um número limitado de ativos
disponíveis podemos estabelecer diferentes relações risco retorno ótimas. A
depender do apetite de risco do investidor, podemos selecionar ativos para
carteiras mais arriscadas, aumentando as expectativas de retorno; o risco
assumido será maior; porém a relação risco retorno também deve ser a maior. Por
outro lado, se o investidor é conservador, não quer assumir riscos, é possível
selecionar ativos menos arriscados para a carteira, usualmente com promessa de
retorno menor; mas entre esses ativos menos arriscados é preciso escolher
aqueles com retornos maiores, mantendo a maior relação risco retorno possível.
Essas combinações permitem traçar o gráfico da Fronteira Eficiente.

3.1 O gráfico da Fronteira Eficiente

A Fronteira Eficiente é traçada em um plano onde o eixo horizontal


representa o nível de risco, aumentado da esquerda para a direita e o nível de
retorno está representado no eixo vertical, quanto mais para cima, maior o retorno.
Ao longo da linha preta estão as combinações possíveis de risco x retorno.

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Qualquer carteira, prometendo maiores ou menores retornos, ao seguir a
Teoria de Markowitz irá escolher ativos com a relação risco X retorno plotada na
linha da Fronteira Eficiente.

3.2 Fazendo escolhas corretas

Se considerarmos as figuras geométricas como ativos plotados conforme


sua combinação risco retorno, podemos afirmar:

• O ativo hexágono está na fronteira eficiente; o papel aceita menor retorno,


porque corre menor nível de risco.
• O ativo quadrado também está na fronteira eficiente: assume mais risco,
em função da possibilidade de auferir maiores retornos.
• O ativo losango assume maior risco e a perspectiva de retorno é igual ao
ativo hexágono; ou seja, losango não está na Fronteira Eficiente, assume
riscos desnecessários.
• O ativo pentágono, tal qual o hexágono não está na fronteira eficiente, a
sua relação risco retorno.

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TEMA 4 – GESTÃO ATIVA E GESTÃO PASSIVA

A administração de carteira acontece segundo o objetivo do investidor, no


caso de investimentos individuais ou conforme a política do Fundo de
Investimentos, no caso de investidores institucionais. Não há consenso sobre a
superioridade de um tipo de gestão sobre outro. A gestão ativa seleciona uma
estratégia, estuda os indicadores e procura ganhos acima do mercado, a partir da
compra e venda de títulos. A gestão passiva, procura manter na carteira papéis
cuja rentabilidade siga um índice pré-definido na política de investimentos.

4.1 Conceito de gestão de carteiras

A gestão de carteiras é bastante evidente quando a carteira se refere ao


um fundo de investimento, registrado na CVM. Para isso existem parâmetros de
quais tipos de papel devem compor a carteira e em que proporção.
A forma de relacionamento com os investidores, cotistas do fundo, também
faz parte da gestão da carteira do fundo. Para atender as condições de resgate,
por exemplo D+1, o gestor da carteira do fundo deve manter recursos em caixa,
de forma a ter a liquidez necessária para os honrar os pedidos de resgate.

4.2 Gestão ativa

Entenda por “ativa” o frequente acompanhamento do mercado, para


encontrar papéis sub avaliados e que possam entregar retornos acima dos
parâmetros esperados na política de investimento da carteira. Mesmo papéis de
renda fixa, podem obter ganhos adicionais quando sua precificação está superior
ao esperado no vencimento. Isso pode acontecer, por exemplo, quando as
perspectivas são de redução da inflação, com consequente queda nas taxas de
juros no futuro. Os papéis pré-fixados, a taxas de juros acima das taxas esperadas
sofrem aumento de valor durante um intervalo de tempo, antes do seu vencimento.
O gestor ativo, vende esses papéis, trazendo um ganho adicional para a carteira.
Essa atuação exige equipes de analistas certificados. As premissas da gestão
ativa estão na baixa eficiência dos mercados e nas diferentes expectativas de
retorno e risco (Knight; Sachtel, 2002, citados por Oliveira Filho, 2019, p. 111).

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4.2.1 Administração profissional de carteiras de terceiros

Os princípios de administração e carteiras são válidos para qualquer


administrador. A administração profissional deve segregar as funções da gestão
do patrimônio próprio da instituição coma gestão do patrimônio de terceiros,
prática conhecida por Chinese Wall. Essa exigência da CVM deu origem a
empresas especializadas, conhecidas por Assets Management: o investidor
estabelece uma tese de investimento junto aos profissionais da empresa e os
resultados almejados serão obtidos mediante o trabalho de equipes, estruturadas,
conforme Oliveira Filho (2019) em: gestão de portfólio, com especialistas em
setores do mercado; análise econômica; pesquisa; gestão de risco; compliance e
controles internos; administração e Back office; e distribuição.

4.3 Gestão passiva

É a gestão na qual não é necessário buscar papéis a cada instante. A


carteira é formada a partir da política de investimento, sempre vinculando os
papéis a um benchmarking. A administração de carteiras passiva pode ser
relacionada à crença no Mercado Eficiente. Conforme Fama (1970), o
comportamento dos preços dos ativos em um mercado eficiente reflete todas as
alterações de mercado.
No caso dos fundos de investimento, a gestão passiva precisa obter
retornos acima do benchmarking do fundo, para poder custear a taxa de
administração. Se o gestor se limitar a investir em papéis vinculados ao
benchmarking do fundo, poderá ter problemas na hora de entregar a rentabilidade
liquida do fundo.

4.3.1 Benchmarketing

A política de um investidor e/ou de um fundo de investimento pode


estabelecer um parâmetro de rentabilidade. Normalmente são escolhidos índices
do mercado, por exemplo a taxa SELIC, a taxa CDI ou, no caso de aplicações em
ações, algum índice da Bolsa de Valores. A variação desses índices é o mínimo
de rentabilidade a ser obtida pelo gestor da carteira. A expressão benchmarking
vem do marketing e procura expressar quem ou o que é o espelho, é o objetivo
daquele produto, no caso de carteiras de investimento, quem é o exemplo, ou qual
é a meta do administrador da carteira.
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A administração de carteiras se torna ainda mais complexa quando
incluímos as diferentes formas de avaliar, mensurar e incluir o risco na decisão de
investimento das carteiras. Esse tema é objeto do quarto capítulo desse livro.

TEMA 5 – PRÁTICAS – DESVELANDO O CAMINHO PARA A ELABORAÇÃO E


ADMINISTRAÇÃO DE UMA CARTEIRA DE INVESTIMENTOS

Para analisar investimentos algumas “máximas do mercado” devem ser


conhecidas, e preferencialmente respeitadas:

5.1 A maldição do vencedor

Esse é um alerta para a tomada de decisão de investimento: a ideia por


trás dessa heurística do mercado financeiro está na tentação dos investidores
escolherem seus investimentos se baseando no histórico de rendimentos do
produto financeiro. No caso dos fundos de investimentos, a maldição do vencedor
está em tomar a decisão baseado nos retornos verificados, sem analisar a
perspectiva de retornos futuros. Isso pode ser feito de forma qualitativa analisando
as perspectivas dos ativos da carteira e de forma quantitativa, calculando a
evolução da relação risco X retorno.

5.2 Alterações de mercado: bear market e bull market

Os ativos de renda variável podem ter altas e baixas nos seus preços. Essa
é a característica principal para serem classificados com renda variável.
Existe um jargão de mercado para quando os preços caem
sistematicamente, ao longo de um período: bear market.
O nome está associado ao urso (bear, em inglês). O urso ataca sua presa
de cima para baixo.
O bear market só é caracterizado se o índice de referência cair
sistematicamente. Usualmente, o pessimismo com as perspectivas de mercado
acompanha um bear market. Nesse caso, pode ocorrer o fly to quality, ou fuga
para qualidade.
No mercado acionário brasileiro, usamos o índice Ibovespa ou o IBRX. Se
o índice cai ao longo de um período, o investidor identifica o bear market, para
seu horizonte de investimento e tende a vender suas ações, ou posições em

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ações, e compra títulos públicos. A mesma fuga pode acontecer entre mercados
de diferentes países.
Alerta: vender ativos em mercados em queda pode significar perda de
dinheiro, mas se a tendência do ativo é continuar em queda, acompanhando a
queda do mercado, então você estará fazendo um “stop loss”, ou limitação de
perdas.
Alerta: se o mercado está em queda, mas você identifica a possibilidade de
alta em alguma(s) ação(es) específicas, pode ser interessante “comprar na baixa”
para depois “vender na alta”.
O jargão de mercado para quando os preços sobem sistematicamente, ao
longo de um período é o: bull market.
O nome está associado ao touro (bull, em inglês). O touro ataca sua presa
de baixo para cima. O folclore do mercado financeiro associa o touro a grandes
ganhos, por isso a presença de um touro fabricado em bronze próximo à Bolsa de
Valores de Nova York, emblema repetido em frente a outras bolsas de valores do
mundo.
O mercado em ascensão bull market pode trazer novos investidores, mas
também os mais experientes tendem a realizar seus ganhos, vendem as ações. A
depender da proporção de novas aquisições e realização de ganhos de capital, a
tendência de mercado de alta pode se confirmar ou se reverter.

5.3 Os principais critérios de análise para escolher administradores de


carteira

Estabelecida a sua estratégia de investimentos, é necessário escolher o


administrador de sua carteira, ou caso você resolva decidir individualmente, basta
selecionar um operador.
Você pode operar com várias corretoras e bancos, mas isso vai trazer um
trabalho adicional: além de comparar os produtos de investimento, precisa
comparar os administradores.
Para analisar as casas de investimento ou assets:

• Verificar quais as assets existentes.


Essa busca pode ser ativa: levantar todas ou algumas com auxilio das
informações sistematicamente publicadas pela Anbima. Em julho de 2022
existiam 101 administradores de fundo registrados na Anbima. Disponível em:

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https://www.anbima.com.br/pt_br/informar/ranking/fundos-de-
investimento/administradores.htm. Acesso em: 11 out. 2022.
Ou a busca pode ser passiva: pesquisar apenas aquelas corretoras e
instituições financeiras de seu relacionamento.
Comparar as características dessas instituições:

• Histórico do administrador
• Perfil dos gestores
• Tipos de papéis oferecidos.
• Facilidade de acesso
• Outras especificidades relacionadas aos seus interesses particulares. Por
exemplo, facilidade de uso do aplicativo e/ou site da administradora.

Na sequência você vai escolher os papéis, conforme sua política pessoal


de investimento, ou então vai estabelecer sua estratégia, junto a um administrador
profissional.
Alguns produtos de investimento mais “populares” são oferecidos em
diferentes casas de investimento, mas você pesquisa primeiro os papéis e fundos
da(s) asset(s) selecionadas.
Alerta: A depender do seu porte de investidor você poderá ter acesso a
inúmeras informações e aos gestores. No entanto, se o seu porte de investimento
é menor, nem sempre todas essas informações estarão disponíveis e/ou o gestor
estará acessível. Você deverá desenvolver capacidade de análise e rapidamente
selecionar quais relatórios interessam para sua decisão de investimento. Caso
contrário você vai gastar muito tempo lendo relatórios, sem, contudo, relacionar
essas informações aos seus investimentos.
Alerta: Teoria de Agência. O pessoal das corretoras visa a proporcionar
bons retornos aos seus clientes, porém eles têm seus interesses particulares e
podem receber incentivos para oferecer outros produtos financeiros com
perspectivas de retornos não tão boas para você.

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REFERÊNCIAS

FAMA, E. Efficient capital markets: a review of theory and empirical work. Journal
of Finance, v. 25, n. 2, p. 383-417, 1970.

KAHNEMAN, D.; TVERSKY, A. Prospect theory: an analysis of decision under


risk. Econometrica, v. 46, p. 171-185, 1979.

LINTNER, J. The valuation of risk assets and the selection of risky investments in
stock portfolios and capital budgets. The Review of Economic Statistics, v.47,
p.13-37, 1965.

OLIVEIRA FILHO, B. G. Gestão de Fundos de Investimento. São Paulo: Saint


Paul, 2019.

SHARPE, W. E. Capital asset prices: a theory of market equilibrium under


conditions of risk. Journal of Finance, v. 19, p. 425-442, 1964.

SOROS, G. The new paradigm for financial markets: the credit crisis of 2008
and what it means. New York: PublicAffairs, 2008.

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