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SEGURANÇA E ESPAÇO PÚBLICO: UMA ANÁLISE DA

IMPORTÂNCIA DOS ESPAÇOS DE LAZER PARA A DIMINUIÇÃO DA


CRIMINALIDADE
Luciana Teixeira Motta1
Henrique G. Herkenhoff 2
Resumo
Atualmente, a violência urbana tem sido tratada, e é um assunto que preocupa as
autoridades e a população, e vem sendo objeto de pesquisa em várias áreas. O uso
da arquitetura e urbanismo é capaz de determinar um planejamento ideal para
auxiliar na diminuição da criminalidade. A relação e a origem das favelas no Brasil,
no final do século XIX, influenciam na explosão populacional para os grandes
centros urbanos e na gentrificação, contribuindo para o aumento da criminalidade
desordenada. A relevância de um planejamento urbanístico e de áreas públicas de
lazer possam impactar na melhoria do bem estar social dos moradores e na
diminuição dos crimes.

Palavras-chave: Praça. Urbanismo. Espaço público.

Abstract
Currently, urban violence has been addressed, and it is a subject that concerns
authorities and the population, and has been the subject of research in several areas.
The use of architecture and urbanism is capable of determining an ideal planning to
assist in the reduction of crime. The relationship and origin of favelas in Brazil, in the
late 19th century, influenced the population explosion for large urban centers and
gentrification, contributing to the increase in disorderly crime. The relevance of urban
planning and public leisure areas can have an impact on improving the social well-
being of residents and reducing crime.

Keywords: Square. Urbanism. Public place.

Introdução
Após a libertação dos escravos, houve a necessidade da substituição da mão
de obra escrava, por mal de obra assalariada, e com isso, houve a corrida para as
cidades, de pessoas vindas do campo. Segundo Cardoso (2008) essa aceleração na

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1 Mestranda em Segurança pública, graduada em Direito e Arquitetura e Urbanismo. E-mail:
lucianateixeiramotta@gmail.com

2 Doutor em Direto Civil pela USP. E-mail: Henrique.herkenhoff@uvv.br


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busca de um emprego assalariado, e do progresso no desenvolvimento comercial e


econômico, fez com que as habitações populares fossem os cortiços.
Esse crescimento fez-se necessário a cidade acolher uma grande quantidade
de pessoas, e elaborar espaços improvisados, sendo as moradias coletivas as mais
utilizadas, visto a deficiência de casas e locais de moradia. O Rio de Janeiro, é um
exemplo de cidade que sofreu com essa migração, tendo entre 1870 e 1890, sua
população dobrada de tamanho, segundo Vaz (1994).
Vaz (1994) ainda complementa que as casas eram construídas em terrenos
coletivos e pequenos cômodos, formando casas pequenas e cômodos próximos uns
aos outros. Os cortiços eram problemas para as cidades, pois a falta de higiene, a
superlotação, eram aspectos fiscalizados pelos órgãos municipais e vigilâncias. Na
busca da melhor qualidade de vida, esses espaços frequentemente eram
interditados, e com isso, surgia a semente da iniciação das favelas.
O autor finaliza ainda informando que diante desses problemas, muitas
pessoas, para garantir a própria segurança, e iam morar em outros locais, porém
com valores absurdos, e para adequar a realidade do trabalhador assalariado, a
saída era começar a ocupar os morros, que não tinham quase residência, não
tinham fiscalização e era barato ali residir.
Cardoso (2008) relata que a saída dos cortiços para outros locais era apenas
a transferência do problema, e a necessidade faz com que as famílias de baixa
renda suba os morros ou ocupe áreas de mangue e alagados, gerando assim as
favelas.
Um grande exemplo de favelização é a cidade do Rio de Janeiro, que também
na Revolta Armada, do Governo de Marechal Floriano Peixoto, teve a autorização
para a construções de barracões nas encostas dos morros para criar moradias perto
dos quarteis. (ABREU, 1994).
O conceito de gentrificação trata das dinâmicas de segregação urbana, os
desafios das transformações urbanas, sociais e estruturação dos territórios. Esse
processo, foi difundido inicialmente nas cidades americanas e europeias e hoje
utilizado em todo o mundo. O termo gentrificação amplamente estudado por
sociólogos, buscava analisar as etapas de substituição das classes populares pelas
classes superiores em áreas desvalorizadas das grandes cidades.
O termo, originalmente explorado por sociólogos, visava a analisar o processo
de substituição das classes populares pelas classes superiores em setores
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desvalorizados das grandes cidades (Bidou-Zachariasen, 2006). E ao passar das


décadas foram usadas em áreas centrais urbanas que, através de políticas de
revalorização urbana, se transformavam como espaço de residência, consumo e
lazer para as classes superiores.
Atualmente há uma nova definição de gentrificação, que se transformou de
um processo das áreas centrais a um processo das dinâmicas capitalistas (Mendes,
2011).
O problema popular é o medo da gentrificação, pois a revitalização da
localidade pode atrair investimentos mais altos, fazendo com que o local seja
aumentado seu custo de vida, voltando assim para a migração e criação de novas
favelas.
Porém, se usados na mesma proporção da necessidade que os moradores
locais precisarem, e de comum acordo com os mesmos, o processo de gentrificação
pode ser uma solução para a criação de bem estar, áreas urbanizadas, dignas de
moradias e confortáveis, inclusive nas favelas.
Com base nisso o foco desse artigo se trata não apenas dos meios de
gentrificação de zonas mas de implantação de espaços públicos de lazer que
auxiliam e ajudam na diminuição da criminalidade.
As cidades estão em constante evolução, sendo de suma importância para o
país e para a sociedade. Porém, as pessoas colocam o bem-estar e a qualidade de
vida em segundo plano. (LINCH, 2009). Com o tempo, os momentos de
confraternização, de convivência foram sendo realizados em locais fechados como
shoppings, locais privados e em edifícios com suas áreas de lazer.
Isso faz com que locais públicos de lazer, como praças e parques, sejam
menos habitados e frequentados pelas pessoas, os tornando locais mais propícios
para usuários de drogas, o que acarreta em várias demandas e consequências
dessa falta de uso pela sociedade.
As praças, que antes eram muito importantes para a socialização das
pessoas, lazer, e comércio foram deixadas de lado, tornando-se locais de moradores
de rua e de simples passagem (VALÊNCIO, 2008).
Segundo dados de 2012, da Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% da
população está sofrendo de estresse no mundo (SANTANA, 2012). Parte disso,
ocorre pelo movimento desenfreado das pessoas com a rotina do trabalho, estudo e
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compromissos, e a falta de aproveitamento do convívio humano e social (SANTANA,


2012).
BAUMAN, 2009, conclui acerca do tema afirmando que por conta do
crescimento dos interesses do mercado e da expansão dos espaços privados, a
“cultura do medo” tem fortalecido uma tendência de tornar os espaços urbanos
menos frequentados.
Diante do exposto, a metodologia escolhida dessa pesquisa se deu com uma
pesquisa bibliográfica, podendo ser compreendida como um estudo com materiais
publicados de autores da área. Sendo possível reportar e avaliar o conhecimento
produzido em pesquisas prévias, destacando conceitos, procedimentos, resultados,
discussões e conclusões relevantes.

DA IMPORTANCIA DA GENTRIFICAÇÃO E CRIAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS


OU PRIVADOS DE LAZER SEGUROS

Como já mencionado, a qualidade de vida também está vinculada aos


espaços livres e toda uma vida ambiental e urbana, e a ausência ou falta de espaços
habitáveis familiares, pode propiciar a sensação de insegurança, principalmente em
uma localidade onde os únicos espaços públicos de lazer abriga apenas usuários de
drogas, moradores de rua ou estão mal cuidados e escuros. Com isso, se faz
necessário diferenciar os conceitos de espaços livres relatados por autores da área.
A cidade viva e compartilhada é um tema que muitos autores abordam. Gehl
(2014) exemplifica o conceito de cidade viva como sendo:

“(...) a cidade tornar se viva, sempre que mais pessoas sintam-se


convidadas a caminhar, pedalar ou permanecer nos espaços da cidade. A
importância da vida no espaço público, particularmente as oportunidades sociais e
culturais, assim como as atrações associadas com uma cidade cheia de vida (...)”

Para ele, esses espaços são muito além de lazer, esses espaços
proporcionam qualidade física e visual, que influenciam nas atitudes e os convidam
a fazerem parte da comunidade, proporcionando encontros.
O conceito de espaço livre é visto como edificações e urbanizações, sendo
público ou privado, podendo ser os jardins, ruas, avenidas, praças, parques,
simplesmente um vazio urbano.
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Diante do exposto, podemos considerar que os espaços livres de uso público


são aqueles que influenciam no equilíbrio ambiental contribuindo para a segurança e
a qualidade de vida das pessoas que o utiliza. Assim, de modo a garantir o direito a
esses espaços, o Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257 de 2001, que traz diretrizes
sobre política urbana, tem a função de visar que todos os cidadãos tenham acesso
às oportunidades que a vida urbana de qualidade apresenta, sobretudo, com o
objetivo de garantir o direto de todos a cidades sustentáveis, infraestruturas urbanas
e lazer (BRASIL, 2001).
Apesar da lei garantir aos cidadãos uma qualidade de vida urbana, esses
espaços são cada vez mais raros e ausentes. A violência urbana é um dos fatores
que fazem com que a população não frequente os espaços que atualmente existem.
Essa sensação de insegurança, torna cada vez mais um impedimento para a
integração da sociedade nesses espaços de lazer públicos.
Lima (2015, p. 21) expos:
“[...] os lugares públicos e as ruas têm-se tornado, de fato, cada vez mais
perigosos. Essas áreas estão a deixar de ser vistas como o lócus de sociabilidade,
tal como as relações de vizinhança [...]”.

Podendo fazer um paralelo com a Teoria das Janelas quebradas, onde o meio
urbano pode influenciar diretamente na atitude das pessoas que ali frequentam.
Podendo o ambiente social e urbano contribuir para diminuir ou aumentar a
criminalidade que ali frequenta. (SOARES; SABOYA, 2019).
Não apenas as janelas quebradas como é dito na teoria, mas pichações,
lixos, também transmite sensação de insegurança e medo.
Isso faz com que remetamos ao processo de gentrificação das favelas e
locais carentes.
O crescimento das favelas no Brasil está ligado ao processo de urbanização,
e correlacionado ao aumento da industrialização entre os anos de 1950 a 1970.
Apesar do surgimento das favelas ser anterior a esse aumento das concentrações
nos grandes centros urbanos. Estando o termo favela relacionado no contexto da
cidade do Rio de Janeiro durante o Século 19. (FILHO, 2011).
A escola de Chicago tenta demonstrar esse crescimento racial das cidades, e
isso incluí o surgimento das favelas, que teve seu ápice na migração das pessoas
em busca de novas oportunidades nas cidades, gerando a falta de habitação, o
surgimento dos cortiços, e posteriormente, com a fiscalização acirrada pela
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municipalidade nos cortiços, as pessoas migraram para os morros, construindo


cômodos, e pequenas casas, dividindo terrenos. (VIANA, 2015).
As pessoas não tinham condições financeiras para sua moradia,
improvisando os locais, que em sua maioria eram pequenos, sem ventilação,
estrutura precária. Basicamente, as pessoas precisavam de um teto para morar
após chegarem dos interiores, porém, sem emprego, renda, ou possibilidade de
moradia, as pessoas foram criando o que se tornou a favela. (CARDOSO, 2007)
O mesmo autor ainda afirma que após a década de 80, a urbanização de
favelas no Brasil se desenvolveu e cresceu consideravelmente o número de
habitantes. Apesar de não haver um planejamento, a favela une uma pobreza
urbana e a população consequentemente está mais exposta a vulnerabilidade social
e ambiental. Com toda deficiência e insalubridade, riscos nas edificações, podendo
ocorrer desmoronamentos, incêndios e inundações.
Maricato tratou sobre o tema, dizendo:
O Brasil, como os demais países da América Latina, apresentou intenso processo
de urbanização, especialmente na segunda metade do século XX. Em 1940 a
população urbana era de 26,3% do total. Em 2000 ela era de 81,2%. Esse
crescimento se mostra mais impressionante ainda se lembrarmos os números
absolutos: em 1940 a população que residia nas cidades era de 18,8 milhões de
habitantes, e em 2000 ela era de aproximadamente 138 milhões. Constatamos,
portanto, que em 60 anos os assentamentos urbanos foram ampliados de forma a
abrigar mais de 125 milhões de pessoas. Considerando apenas a última década
do século XX, as cidades brasileiras aumentaram em 22.718.968 pessoas. Isso
significa mais da metade da população do Canadá ou um terço da população da
França.

Abiko e Coelho (2009), contribuíram para a conceituação do que é


considerado favela um termo genérico, usado para definir aglomerações de casas
de classe baixa, de forma irregular e ocupação de terras franca, sem infraestrutura.
Sendo cômodos pequenos, e insalubres.
Desde o fechamento dos cortiços, há muito preconceito quando falamos de
favela, e pela mídia algo que se torna foco é a violência, tornando a favela uma
imagem de que o crime apenas domina o lugar com tráfico de drogas e pessoas
com má índole. Mas a própria história nos conta que a grande maioria dos
moradores das favelas são trabalhadores, pertencentes a estrutura da cidade, e seu
entorno.
Segundo Compans (2007), a nova imagem da favela exposta pela mídia
depois dos problemas das epidemias e de reduto de criminosos, é da degradação
ambiental.
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A preocupação com de planejamento urbano das cidades é um problema


decorrente, pois apesar de todas as tentativas políticas de acabar com as favelas,
ela expande a cada dia, pois é um dos locais que permite a habitação
financeiramente para a pessoa mais carente. Porém, o problema com
parcelamentos do solo ilegal, também torna um problema para esse tipo de
localidade.
Quando falamos de gentrificação, seu conceito foi criado pela socióloga
britânica Ruth Glass no ano de 1964. Com objetivo na questão imobiliária e a
mudança da população pobre pela de classe média.
Glass (2006), definiu a gentrificação como a ocupação de uma nova classe
média na cidade de Londres, o que gerou o aumento dos preços dos alugueis, e a
saída forçada da classe mais baixa que vivia nas áreas centrais.
Basicamente, eram bairros mais carentes, habitados pela classe baixa e que
sofreram uma revitalização e intervenção urbanística, que originou a migração da
classe média, não sendo possível continuar a bancar a moradia nesses bairros, a
classe média migrava para outros bairros.
Um dos problemas enfrentados sobre o crescimento urbano, pode ter
potenciais positivos. Encontrando uma forma alternativa de reduzir a pobreza
alterando as condições urbanas.
As favelas até hoje continuam crescendo absurdamente, sendo necessário
intervenções nesse aspecto de aglomeração urbana, para melhorar a qualidade de
vida, e proporcionar mais decência à população que reside na localidade, diminuindo
outros fatores como insegurança e problemas ambientais.
Com isso, o uso da urbanização como maneira de intervir, é a alternativa para
revitalizar essas áreas, desenvolvendo socialmente e culturalmente a cidade.
Com o uso do conceito de gentrificação, colocamos em cheque de que
maneira essas intervenções urbanísticas podem ser feitas, de modo a não expulsar
as classes mais pobres e substitui-las pela classe média, como na gentrificação.
Sabemos que a gentrificação pode ser aplicada em outras áreas e não
necessariamente ao espaço urbano. Quando retratado em áreas periféricas, para
criar um novo paisagismo ou projetos de locomoção, que é o caso do estudo em
tela, como podemos exemplificar na figura 01.
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Figura 01 – Revitalização Morro. (Fonte: CAU/RJ)

Casos semelhantes aconteceram no Rio de Janeiro, especificamente na


favela do Vidigal, por conta de sua vista da praia de Ipanema. Em 2012 houve a
implantação da UPP na localidade, tendo um impacto direto na violência local, os
imóveis tornaram-se mais procurados e valorizados, com o turismo na favela,
atraindo diversos estrangeiros, sendo instaladas diversas acomodações, hostes e
inclusive um hotel de luxo, como constata a figura 02.

Figura 02 – Vista Bar Morro de Vidigal. (Fonte: O Globo)

Apesar do processo de gentrificação ter muitas críticas, quando colocado de


modo a agregar, podemos transformar os espaços das favelas, de modo a garantir o
bem-estar, saneamento, saúde, convivência social, segurança, dos moradores. De
modo que não tire a essência, e nem prejudique financeiramente o modo de viver, e
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de certa forma, valorize a localidade e possa abrir inclusive portas de emprego aos
moradores.
Dessa maneira, algo muito importante é conseguir compreender o
funcionamento da favela e entender a rotina dos moradores, para que possa propor
as melhorias habitacionais e urbanísticas, de modo que atenda às necessidades dos
moradores, a figura 03 mostra uma passagem reurbanizada.

Figura 03 – Urbanização passagem morro. (Fonte: CAU/RJ)

A qualidade desse processo de urbanização deve abranger em oferecer não


apenas moradia em boas condições de uso, mas outras garantias, como transporte
público, infraestrutura, equipamentos sociais e coletivos, saneamento, comércio,
entre outros.
Um dos maiores exemplos é o da favela Comuna 13 em Medelín, na
Colômbia, famosa por ter como um dos traficantes Pablo Escobar. Que através de
investimentos de aparelhamento, inteligência e capacitação policial. Geração de
renda para os habitantes, ajudando a saírem do narcotráfico. Voltando a ter
investimentos públicos no local, tornando-se hoje muito segura e outro exemplo de
favela como ponto turístico, figura 04 mostra imagem atual do local.
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Figura 04 – Comuna 13 em Medelín. (Fonte: Exame)

DA SENSAÇÃO DE INSEGURANÇA DA SOCIEDADE


Bauman (2009) fala que no nosso século houve uma inversão do papel
histórico da cidade. E que a sensação de medo passou a alarmar as cidades. O
autor também conclui que a falta de interessa da vida comunitária contribui para
essa sensação de medo urbano.
Beato (1998, p.2) afirma que:
“[...] a literatura sobre políticas públicas de combate à criminalidade tem
enfatizado crescentemente a busca por soluções locais e descentralizadas, o que
conduz necessariamente à identificação de problemas nos contextos específicos
de sua ocorrência [...]”.

Jacobs (2011), desde 1960 em sua literatura aponta acerca da vigilância


natural, ver e ser visto. Seu livro “Morte e vida de grandes cidades”, aponta que é
importante a vitalidade urbana, e que a diversidade de usos e circulação das
pessoas nas ruas, em vários horários, cria uma cidade mais segura.
Jacobs (2011) fala que a vigilância natural, realiza a manutenção da vitalidade
urbana diariamente. E mostra que o planejamento e a vizinhança continua contribui
na manutenção da “[...] segurança dos espaços públicos, lidando com estranhos, de
modo que sejam um trunfo e não uma ameaça, garantindo a vigilância informal das
crianças nos lugares públicos [...]” (JACOBS, 2011, p. 284).
Newman (1996) define um conjunto de estratégias para a prevenção dos
crimes, por meio do desenho urbano, pelo “espaço defensável”. Que os espaços
residenciais das cidades precisam ser controlados e vigiados pelos próprios
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moradores. O autor ainda contribui para o conceito reforçam os princípios de


territorialidade e controle social dos acessos, o que confirma o exposto por Jacobs.
Dessa forma resta claro que atualmente a existência de espaços públicos de
lazer causam insegurança a população, porém, a sua construção e uso de
estratégias podemos criar uma vida social pública em espaços urbanizados de lazer,
que possam ser seguros através da vigilância natural e de meios junto a população
para que garanta a segurança dos usuários.

CASOS DE SUCESSO
BARE FOOT PARK (PARQUE DE LOS PIES DESCALZOS) EM MEDELLIN,
COLÔMBIA

O Barefoot Park, conhecido como o parque dos pés descalços, localizado no centro da cidade
de Medellín, na Colômbia. Sendo de iniciativa pública, para incentivar as crianças e adultos a
andarem descalços para se conectar com o ambiente, figura 05 E 06. (MASIERO, 2014).

Figura 5 – Crianças descalças. Figura 6 – Frequentadores do local.

Fonte: Erico Masiero, 2014 Fonte: Erico Masiero, 2014

Na década de 90, a localidade de três hectares de terra, havia se tornado um


local abandonado com alguns edifícios no entorno, inclusive o Teatro Metropolitano.
O plano da administração era construir um estacionamento, mas a localidade foi
implantado o parque para que todos andem descalços. (DUNNELL, 2016).
Segundo Dunnell, 2016, o parque foi construído em 1998, durando 2 anos de obra. E se
tornou o parque mais popular da região. Na entrada do parque há uma placa dizendo que é proibido
usar sapatos, figura 07. Fazendo com que todos os visitantes fiquem descalços, relaxando em meio à
confusão da cidade.
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Figura 7 – Placa proibido usar sapatos.

Fonte: Pagani, 2020


O Barefoot Park, como o nome sugere, foi projetado para incentivar as
pessoas a tirar os sapatos e passear, o parque apresenta uma série de áreas para
os pés descalços. Aguçando o sensorial dos frequentadores do local. Dividido em
jardim do bambu zen, gramados, piscinas rasas para escalda pés e bancos de areia,
figura 8, 9 E 10. (Dunnell, 2016)

Figura 8 – Área de contemplação. Figura 9 – Bambu Zen.

Fonte: Erico Masiero, 2014


Fonte: Erico Masiero, 2014

Figura 10 – Piscinas rasas.


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Fonte: Erico Masiero, 2014

O parque em questão, traz a tona para a sociedade, o prazer e relaxamento


para as pessoas que vivem na cidade, conseguir ter um local para sair do stress e
correria que a grande cidade traz. Colocando elementos do sensorial para serem
estimulados por seus visitantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, após as definições acerca do tema abordado, podemos aprofundar o
conhecimentos e a importância do surgimento histórico da favela e de como ela tem
se desenvolvido no Brasil e no mundo.
Falar sobre a difusão e surgimento dessas áreas periféricas, é muito
importante para as pesquisas, pois ajuda a entender a diversidade cultural que foi
um marco para o urbanismo e é referência até hoje. As favelas por muitos ainda são
vistas como um problema para as cidades, uma área de risco e de criminalidade.
Porém, as favelas precisam que o Poder Público esteja atento para a
população que lá reside, pois com seu crescimento desordenado, problemas
consequentemente surgem se não houver um controle ou intervenções que
garantam os direitos a dignidade e ao bem estar social dos moradores.
A favela precisa ser respeitada, pois nesse local vivem diversos moradores e
trabalhadores que contribuíram para a história e contribuem todos os dias para o
desenvolvimento das cidades.
Ao vincularmos o processo de gentrificação, seu conceito, e como ele tem
sido aplicado no ambito das favelas inicialmente gera um imenso debate.
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Quando expomos a gentrificação, como sendo um processo de reurbanização


e revitalização de uma localidade, onde se troca moradores carentes por moradores
de classe média, somo bem superficial e incompletos.
O processo de gentrificação não apenas pode, como já foi aplicado, no
cenário das favelas, sem que os moradores carentes não conseguissem mais viver e
se manter no local, mas esses mesmos moradores também mudaram suas vidas.
Obviamente que o processo de gentrificação precisa ser aplicado em conjunto
com políticas públicas e de segurança públicas, para que possa ser substituído a
dependência financeira oriunda do crime, por rendas financeiras licitas.
Além disso, restou claro a importância da criação de espaços livres de lazer
públicos e privados, que tragam qualidade de vida aos seus usuários.
Porém, restou um impedimento, que foi demonstrado a insegurança e a
sensação de medo da população. E com isso, a cada dia, a sociedade escolhe mais
locais fechados como lazer, shoppings, e casa de festas.
Dessa forma, muitos autores, trazem conceitos de vigilância natural ou
vigilância social, para tornar esses espaços mais seguros.
A vida social necessita desses espaços que tragam qualidade de vida aos
moradores, e integração social. E há maneiras dessa criação de forma que diminua
a criminalidade e a sensação de segurança local.

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