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Divórcio__________________________________________________

O divórcio, quando ocorre, ou quando sua possibilidade se torna real na vida


dos casados, é uma das mais importantes crises da vida do adulto.

No casamento, ambos os parceiros mudam ou evoluem com os anos,


geralmente em diferentes ritmos, e não necessariamente em direções
complementares, podendo surgir a necessidade de separação.

Assim, diante de um casamento não satisfatório,


começam a surgir inúmeros problemas no
convívio e no relacionamento, que chamaremos
aqui de desajustes conjugais. Ocorrendo a
separação, ambos os ex-parceiros , independente
de quem tenha tomado a iniciativa, passam por
um período de sofrimento em decorrência da
perda da relação, por pior que essa estivesse no
período imediatamente anterior ao divórcio.

Falaremos aqui em divórcio como sinônimo de separação de corpos e de


domicílios, independente do tipo de casamento, seja civil, religioso ou
consensual (amigável).

Uma maior aceitação do divórcio

A maior facilidade legal para o divórcio e a diminuição da influência da religião


com dogmas rígidos tornaram a separação um acontecimento mais aceitável,
com as pessoas separadas sofrendo menor preconceito que no passado.

Uma mostra disso é o fato de no Brasil desde 1940 até 1990 , segundo o IBGE,
o percentual de pessoas divorciadas, na população em geral, aumentou
aproximadamente 15 vezes. Outro aspecto que contribuiu foi a busca mais
acentuada pelo bem-estar individual, através da maior oferta de prazer (real ou
ilusória) na sociedade atual para aqueles que abrem mão da vida a dois.

Como se perpetuam relações desajustadas no casamento

Em um casamento, quando ocorre um desajuste conjugal, a responsabilidade


pelo problema é de ambos os cônjuges, mesmo que aparentemente a situação
aponte para um único responsável.

Isso porque ocorre o que pode ser chamado de acordo inconsciente entre os
dois no casamento, isto é : um problema que aparentemente é de apenas um
dos cônjuges, é, em geral, compartilhado ou até mesmo aceito pelo outro.

Assim, uma pessoa ao se casar ou manter-se casada o faz pelas virtudes do


parceiro ou da própria união. Porém, com as virtudes, aparecem as diferenças
e até mesmo os problemas.
Questões sócio-culturais também são muito
importantes na manutenção de casamentos muito
desajustados, principalmente em culturas e
classes sociais em que a mulher (ou o homem)
tem uma educação rígida em relação ao
casamento, não tendo uma vida pessoal própria,
independente, mesmo profissionalmente, em que
o casamento e a maternidade são vistos como
meio de vida, muitas vezes por necessidade e
não como opção.

Além disso, muitos casamentos mantêm-se pela extrema dependência afetiva


dos cônjuges um do outro, que faz com que desajustes intensos no casamento
sejam tolerados, de modo que a tristeza pela perda do casamento seja intensa
ou até insuportável, não permitindo uma separação mesmo que os problemas
conjugais sejam vários.

Causas do divórcio

Da mesma forma que ocorre com o casamento, o divórcio é uma questão única
para cada dupla que se separa.

Geralmente a separação é mais comum entre casais que se uniram na


adolescência ou entre membros de diferentes níveis sócio-econômicos e
culturais. Também pessoas cujos pais eram separados têm maior tendência a
resolver um problema conjugal optando pelo divórcio.

Outra experiência provocadora de tensões no casamento é a paternidade,


fazendo com que o parceiro sinta menos prazer com o outro após o nascimento
de filhos.

A presença de doença nos filhos também gera uma tensão ainda maior, sendo
que casamentos em que um dos filhos morre por doença ou acidente têm uma
tendência de cerca de 50% em terminarem no divórcio.

Divórcio e relações extraconjugais

Na meia idade (40 a 60 anos) 60% dos homens e 40% das mulheres tiveram
pelo menos um encontro extraconjugal (segundo dados americanos). A maioria
desses acontecimentos é mantida em segredo, mas a sua revelação raramente
se transforma em causa suficiente para a separação.

Muitas vezes, contudo, a relação extraconjugal sinaliza insatisfações prévias


dentro do casamento, de um ou de ambos os parceiros, e não
necessariamente apenas insatisfações sexuais.

Motivos psicológicos para o divórcio

Inúmeras e praticamente incontáveis podem ser as razões objetivas e práticas


de separações. As pessoas que se separam podem atribuir a perda do amor, a
presença de um relacionamento extraconjugal, o esfriamento sexual, as brigas
constantes, a interferência dos sogros, a falta de dedicação ao casamento, e
tantos outros que propiciam um desajuste conjugal.

Porém, da mesma forma que vimos antes em relação aos fatores inconscientes
(não percebidos pela pessoa) que são capazes de manter uniões "
desajustadas ", também ocorrem fatores psicológicos (inconscientes) da
pessoa que agem na hora de optar-se por separações, além dos fatores
objetivos, práticos, que se mostram mais evidentes.

Podemos falar nos seguintes fatores psicológicos que determinam as


separações:
 

Escolha do cônjuge:

não é raro que uma escolha insatisfatória tenha uma repercussão através do
divórcio somente após anos de casamento. O nascimento de filhos, o
surgimento de rotinas, a estabilização da vida sexual, a maior independência
dos filhos crescidos, entre outros aspectos comuns do casamento, porém
geradores de ansiedade, podem levar a uma reflexão sobre a escolha do
cônjuge apenas após anos de vida a dois.
Amadurecimento do casal:

uma segunda causa psicológica para o divórcio seria o amadurecimento


desigual do casal. As mudanças naturais que ocorrem em cada pessoa ao
longo da vida podem gerar nos parceiros de casamento diferenças que se
tornam difíceis de conciliar.
Decadência dos aspectos saudáveis do casamento:

a diminuição do efeito saudável, ou terapêutico, do casamento é algo que


muitas vezes determina seu fim. Não é raro que uma pessoa encontre no
parceiro alguém que vai poder aliviar sua ansiedade ou angústia diante de
alguns de seus problemas pessoais. É importante lembrar que isso, em si,
não é algo anormal ou um problema em si. É algo natural das uniões. Porém
pode extremar-se ou tornar-se um problema. Mas quando este lado de alívio
da ansiedade dentro do casamento é rompido, a união pode acabar.
Mudança psicológica de um dos cônjuges:

muitas vezes o que pode aproximar duas pessoas são seus lados
problemáticos, ou conflituosos. Assim, o divórcio pode estar ligado à melhora
psicológica de um dos cônjuges, sem ser acompanhado pelo outro.
Surgimento de um problema psicológico em um dos cônjuges:

uma mulher pode ver-se diante de uma forte necessidade de separar-se de


um marido que, com o passar dos anos, foi se tornando deprimido e
alcoolista. Da mesma forma, um homem pode não mais conseguir manter-se
com uma mulher que, diante das inseguranças e sentimentos depressivos do
período de climatério (menopausa), começa a ter casos extraconjugais, como
forma de reafirmar sua sexualidade e feminilidade, muitas vezes abaladas
nesse período.
Ilusões sobre o divórcio:

às vezes pode também ocorrer da pessoa iludir-se a respeito da vida do


divorciado (que seria mais prazerosa) e acabar optando pela separação.
Portanto, não é tão raro ou estranho que separações retrocedam.

A crise do divórcio

Divórcio é um momento de crise importante na vida da pessoa. Em geral,


ocorre uma reação de luto pelo fim da união, por pior que esta estivesse antes
da separação. Falamos de luto pela tristeza decorrente da perda do
casamento, tristeza que pode iniciar antes mesmo da separação definitiva. A
maioria das pessoas relata sentimentos de depressão e angústia intensa,
relacionada a dúvidas e mudança constante no humor na época do divórcio (às
vezes alegre, eufórico, às vezes triste, outras irritado). Apesar de uma
separação poder ocorrer de forma rápida, estudos mostram que o processo de
recuperação psicológica da crise do divórcio leva cerca de dois anos para ter
uma resolução satisfatória, quando torna-se possível que o ex-cônjuge seja
visto de modo neutro (sem raiva ou rancor intensos ou, por outro lado, quando
deixa de ser visto como "uma paixão insubstituível e perfeita"), com cada um
dos separados aceitando sua nova identidade de pessoa solteira ou
descasada.

Os filhos do divórcio

Como ficam as crianças após o divórcio é uma preocupação freqüente dos pais
e daqueles que profissionalmente se dedicam a minimizar o efeito do divórcio
nos filhos dos separados.

Portanto, conseqüência para as crianças existem, e mais ou menos, de acordo


com vários fatores, incluindo a própria resolução favorável da separação para
os pais, a idade das crianças e o seu grau de desenvolvimento.

Do ponto de vista da criança, é preciso levar em conta que a separação é um


projeto dos pais. Muitas crianças conseguem ser razoavelmente felizes e
sentirem-se bem cuidadas em famílias em que um ou ambos os cônjuges
sentem-se infelizes.

Poucas crianças demonstram sentirem-se aliviadas com a decisão do divórcio.

Uma repercussão imediata dos filhos ao divórcio é variável de acordo com o


desenvolvimento e a idade dos mesmos. As crianças mais novas, pré-
escolares, de 3 a 5 anos, podem apresentar uma regressão depois que um dos
pais deixa o lar, podendo voltar a urinar na cama, a serem mais solicitantes,
demonstrando ter vários medos e a ter alterações no sono. Podem se tornar
irritáveis e exigentes.
Crianças de 5 a 8 anos geralmente demonstram uma tristeza aberta pelo
divórcio, freqüentemente se refletindo no declínio do rendimento escolar.

Na idade de 8 a 12 anos em geral a criança reage com raiva franca de um ou


de ambos os pais, por terem causado a separação. Por vezes demonstram
ansiedade, solidão e sentimentos de humilhação por sua própria impotência
diante do ocorrido. O desempenho escolar e o relacionamento com colegas
podem ter prejuízo nesta fase.

Vimos como as conseqüências do divórcio nas crianças a médio e a longo


prazo é muito variável. Já os adolescentes sofrem com o divórcio muitas vezes
com depressão, raiva intensa ou com comportamentos rebeldes e
desorganizados.

Contudo, como escreveu Judith Wallerstein, uma importante estudiosa de


separações conjugais, em " Filhos do Divórcio " : "quando os pais decidem pela
separação após pensar bem e considerar cuidadosamente as alternativas,
quando previram as conseqüências psicológicas, sociais e econômicas para
todos os envolvidos, quando acertaram manter um bom relacionamento entre
pais e filhos, então é provável que as crianças não venham a sofrer
interferência no desenvolvimento ou desgaste psicológico duradouro. Por outro
lado, se o divórcio for realizado de modo a humilhar ou enraivecer um dos
parceiros, se o ressentimento e a infelicidade dominarem o relacionamento
pós-divórcio, ou se as crianças forem mal amparadas ou informadas, se foram
usadas como aliadas, alvo de disputa ou vistas como extensões dos adultos,
se o relacionamento da criança com um ou ambos os pais for empobrecido e
perturbado e se a criança se sentir rejeitada, o desfecho mais provável para as
crianças será a interferência no desenvolvimento, a depressão ou ambos".

O divórcio na balança: os prós e os contras do divórcio.

Invariavelmente a separação em um casamento não é uma mera opção da


pessoa, o que implica dizer que se separar não é fácil, pois há sofrimento
envolvido, por mais que o casamento esteja aparentemente pouco satisfatório,
ou mesmo desajustado.

A separação em geral força a pessoa, antes mesmo de separar-se, a tornar-se


autônoma, a sair de uma posição de dependência, sendo que esta posição
pode ser difícil de ser conquistada, especialmente se ambas as pessoas estão
acostumadas a serem dependentes uma da outra (como normalmente
acontece no casamento, em que há dependência e uma certa mistura da vida
de duas pessoas, para que ele exista satisfatoriamente).

Mais comumente, a iniciativa da separação parte apenas de um dos cônjuges.


Por vezes este poderá enfrentar sentimentos de culpa, principalmente se o
casal possuir filhos, o que intensifica a dúvida da separação. A pessoa que
toma a iniciativa poderá sentir-se causadora de sofrimento aos filhos, a si
própria e até mesmo ao cônjuge de quem está separando-se, principalmente
se esse mostra-se muito fragilizado com a possibilidade do divórcio.
De modo similar, pode ocorrer o medo e a incerteza diante do futuro da vida de
descasado, com os sentimentos de abandono, de solidão e de vazio pela perda
da relação conjugal.

Por outro lado, o divórcio coloca na balança o sofrimento que pode ser causado
pela permanência em um casamento insatisfatório. A pessoa pode sentir-se
sacrificada dentro de uma relação que não lhe permite satisfação pessoal. O
amadurecimento pessoal de cada um, se for desigual ou em direções muito
diferentes, pode afastar as pessoas, de modo que a permanência da união
poderá causar problemas emocionais para um ou para ambos.

Da mesma forma, uma escolha do cônjuge que não foi madura, em uma época
muito inicial da vida ou baseada em aspectos psicológicos doentios, como foi
descrito anteriormente, pode fazer o casamento tornar-se difícil de ser mantido,
marcado por sentimentos de raiva do cônjuge, ou de tristeza e depressão,
existindo um sentido de obrigação para manter o casamento e não um desejo
sincero e maduro de mantê-lo e desfrutá-lo.

Além disso, muitos casamentos podem se manter por aspectos psicológicos


pouco sadios, com poucos sentimentos de amor, carinho, respeito, podendo
predominar desprezo, raiva, inveja, que resultam em uniões marcadas por
competição, constantes acusações, brigas, agressões físicas, ou dependência
doentia de um ou de ambos os casados.

Divórcio e tratamentos psicológicos

Sendo o divórcio uma crise importante na vida das pessoas que o enfrentam,
muitos procuram algum tipo de tratamento psicológico em decorrência do
mesmo, seja antes, durante, ou após a separação.

A maioria das pessoas, contudo, não o fazem, seja por não sentirem
necessidade, seja por falta de condições (ou não possuírem algum tratamento
acessível) ou por falta de conhecimento a respeito de auxílios psicológicos.

Além disso, muitas vezes, no senso comum, existe a idéia de que tratamentos
psicológicos (psiquiátricos, psicoterápicos ou psicanalíticos) fazem com que a
pessoa que se trata termine por se separar.

Entretanto, tratamentos psicológicos bem orientados objetivam reduzir as


perturbações no relacionamento, muitas vezes favorecendo a manutenção do
casamento e o enriquecimento do vínculo afetivo do casal.

Além disso, muitas pessoas podem sentir necessidade de tratamento após a


separação, justamente pela perda que esta envolve, ou pelas modificações de
vida decorrentes da mesma. Por último, no casamento podem ressurgir
problemas psicológicos de um ou de ambos os parceiros anteriores ao próprio
casamento, mas que se exacerbam durante a vivência a dois ou em família.
Divórcio em PORTUGAL

O divórcio foi legalizado em 1910, menos de um mês após a proclamação da


República, com o Decreto de 3 de Novembro daquele ano. Marido e mulher
terão desde entao o mesmo tratamento legal, quanto aos motivos de divórcio,
aos direitos sobre os filhos. A esposa deixa de ter o dever de obedecer ao
marido. O adultério é crime, mas nao se distingue o cometido pela mulher ou
pelo homem. Contudo, a Concordata assinada com o Vaticano em 1940 retira,
dos que se casem na Igreja Católica, o direito de se divorciar - restrição que
será revogada em 1975. Os países onde mais ocorrem pedidos de rompimento
do matrimônio são: Estados Unidos, Dinamarca e Bélgica, com índices entre
55% e 65%. Em contraponto, os países com menos incidência de separação
são países extremamente católicos como Irlanda e Itália com números abaixo
de 10%. Em Malta e nas Filipinas, o divórcio ainda não foi legalizado.

Quanto ao poder paternal (pátrio poder), ele assume cada vez maior
importância no divórcio, sendo atribuído em 95% das vezes às mulheres, e
segundo dados oficiais de 2003 quer no Brasil, quer Portugal, Espanha, e
América.

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