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ETNOMICOLOGIA BRASILEIRA
Oswaldo Fidalgo
Instituto de Botlinica, cx.p. 4005
01000- Si> Paulo (SP)- Brasil
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EmomicologÚJ Bralilmz - O. FU:úllgo y D.J.M. Poroca
assiste a contamina~iio dos povos indígenas pela mentas etnomicológicos do país, entao existentes
dita civiliza~iio moderna, soterrando, de forma de forma bastante esparsa {Fidalgo, 1965), abran-
irrecuperável, urna quantidade incalcu1ável de precio- gendo, do ponto de vista nomenclatura!, cerca de 40
sos cohecimentos por eles adquiridos; tudo isso deco- epítetos, incluindo-se entre eles, náo apenas os
rrendo da incapacidade dessa gera~io de se antecipar vocábulos propriamente ditos, como também suas
a esses processos destrutivos, estudando as proprie- variantes fonéticas (Fidalgo & Fidalgo, 1967). Tendo,
dades de animais, plantas e fungos e tomando cohe- o trabalho publicado por Fidalgo em 1965, desperta·
cimento e registrando os dados acumulados pelas do interesse entre os etnólogos foi solicitada sua
diferentes culturas de povos primitivos. reedi~o em revista especializada nesse campo (Fidal-
Cientes desses fatos, lutam os cientistas para go, 1968). Embora, esse trabalho, nao viesse chamar
a concientiza~ao da humanidade em pról da conserva- urna especial atenc;iio de etnólogos para os fungos,
~ao da natureza e de seus recursos naturais, propondo despertou o interesse de um etnobot<lnico para esse
o estabelecimento de verdadeiros santuários na forma campo e, com ele, comer~aram a ampliar-se as infor-
de reservas e parques garantindo, assim, a form~iw ma¡;:iies etnomicológicas de tribos da regiaó amazóni-
de verdadeiros bancos naturais de patrimonios genéti- ca (Prance, 1972, 1973). Em 1974, Oswaldo Fídalgo
cos, como um potencial em reserva a ser oportuna- e Ghillean T. Prance visitaram o grupo Sanamá,
mente colocado a servi~o do hornero. da tribo dos Yanomamis, na extremidade a noroeste
De outra parte, procura desenvolver hoje a do Território de Roraima, perto da Venezuela, da
etnologia e áreas colaterais, como a etnobot<búca qual trouxeram 155 coletas de fungos e bom número
e a etnomico1ogia, esta, objetivando o estudo e o de informa~iies. No ano seguinte, foi, pela prime ira
registro dos costumes e de toda cultura material e vez, ministrada a disciplina de Etnomicologia no
espiritual dos povos primitivos vinculada aos fungos; Brasil por O. Fidalgo, em Curso de Mestrado em
visa esta, assim, transferir para a civiliza~iio moderna Botánica, entao, patrocinado em convenio pela
todo acérvo de cohecimentos micológicos desses Universidade Federal de Pernambuco e Universidade
povos, com o fnn de impedir sua perda ·total e tornar Federal Rural de Pernambuco, e, do qual, resultou
possive1 sua adequada aplica~iio. um trabalho de etnomicologia reunindo os principais
Poucos siio os povos primitivos efetivamente dados da literatura mundial (Poroca, 1975). Coro
micófllos, entres os quais, os fungos, possam ser essa disciplina registrou·se também, pe la primeira
considerados como desempenhando relevante papel vez, o emprego da palavra etnomicologia conferin·
em suas culturas; no entanto, mesmo os nao micófi- do-lhe urna certa indenpendéncia da etnobotánica.
los, demonstram possuir conhecimentos sobre fungos Fidalgo & France (1976) publicaram os resul-
que nao devem, de qualquer forma, ser despresados tados da viagem feíta ao Território de Roraima,
e perdidos. enquanto, nessa mesma época, José Massaru Hirata
Até o presente, a etnomicologia, tem reunido (em comunic~áo pessoal), colhia algumas informa-
um conjunto ainda bastante reduzido de dados. yÓes sobre as tribos do Parque Xingú, Mato Grosso.
Existem informa~oes sobre conhecirnentos micoló- Verifica-se, portanto, ~e, ao poucos, os conhe-
gicos de diversos povos do nordeste asiático (Mingoia_, cimentos etnomicológicos vao se avolumando com
1970}, (fe Papua e Nova Guiné (Singer, 195~) e na maior frequencia, a despeito de nao haver a defuú·
Africa (Oso, 1975). c;ao de urna política que garanta a continuidade e a
Certamente, o país mais explorado, do ponto consequénte sobrevivencia dessa linha de pesquisa
de vista etnomicológico, é o México, onde, a deseo- no Brasil.
berta de fungos alucinógénicos, utilizados por dife-
rentes povos em cerimónias religiosas, atraiu a aten-
c;iio de diversos pesquisadores, tais como, Richard 3. OS NOMES DE FUNGOS NAS LIN- ·
E. Schultes, Joan, B. Johnson, Roger Heim, Rolf GUAS INDIGENAS.
Singer, Gastan Guzmán, etc. e mesmo de amadores,
entre os quais, destacam-se o casal Roger G. Wasson
e Valentina P. Wasson. Do ponto de vista nomenclatura! os índios
Dentro desse contexto tém surgido dados rela- comportam-se dentro de dois padróes distintos:
tivos ao conhecimento micológico dos ameríndios l. dando nomes aos fungos de acordo com alguma
do Brasil. idéia, qualidade ou semelhan¡ya que possa caracteri·
zá-los, sem, no entanto, demonstrarem qualquer
interesse de conectar um fungo a outro pelo nome;
2. HISTORICO DA ETNOMICOLOGIA 2. atribuindo epítetos ou sufixos ou preftxos que '
BRASILEIRA designem todos os fungos ou apenas os fungos comes-
tíveis, adiciando, qualquer nome lembrando a cor,
forma, una idéia ou sua ligac;áo a algo que permita
Pode-se dizer que essa área do conhecimento distinguí-los dos demais.
humano iniciou-se apenas recentemente no Brasil, Entre os do primeiro grupo, podem ser men·
ou seja, há cerca de 12 anos, com a publicac;ao de cionados os índios Bororos aos quais, Albisetti &
um trabalho, que objetivou reunir todos os conheci- Venturelli em 1962 (Fidalgo, 1965, 1968) atribuem
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Etnomico/ogÚJ Brusüera - O. Ffdalgo y D.J.M. Poroca
o conhecimento de trés termos micologicos: aidúdu; urupé-rob, urupé-tauá, urupé-ti, urupe-tinga (Fidalgo,
expressáo de etimología desconhecida aplicada a 1965, 1963 e Fidalgo & Fidalgo, 1967).
fungo de cheiro fétido ; boé etáo, que significa: fungos O uso do nome urupé para fungo acha-se,
lembrando a cabe~a de índ.ios Bororos e que, possível- boje, bastante difundido e amplamente empregado
mente, deve referir-se a Gasteromyc:etes ou a Agari- pelo caboclo brasileiro de norte a sul do país.
cales jovens;jerígibia traduzível como orelha de lenha Comportamente equivalente é observado na
seca ou orelha de pau . tnbo Caiabi (Tupi) do Posto Diauarum do Parque
Aliás, a expressao "orelha-de-pau" é igualmente Xingu que dá as orelhas de pau o nome de iv~
usada por ou tras tribos e pelo homem leigo das cida- Afrrmam esses índios que nao comem ivepó verme-
des para indicar os Aphyllophorales apodrecidos de lho ou castanho, mas apenas os pretos e brancos.
madeira. Segundo Montoya , em 1976 (Fidalgo, Um fungo comestível é conhecido como ivepó-
1965, 1968) encontra-se no vocabulário tupí-guaraní mutab.
o nome ihviv-votib ou ybi-iboty (Fidalgo & Fidalgo, Para os fungos ni> usados em sua alimenta~ao,
1967) que, dando o sentido de "flOr da tena" se apli- os índios Sanamás, seja por falta de conhecimento ,
ca ao Geaster saccatus Fr. constiuíndo uma exce- interesse ou por qualquer outra razio, nao empre-
~ao, á regra, na língua geral. Berkeley, em 1356, gam sistemáticamente uro vocábulo que os associa.
descrevendo fungos coletados por Spruce refere-se Mesmo assim, deve-se destacar a presenya do prefl.X.o
a um fungo da regiao de Panuré, como coatá-pó parolib ou patolib que , em diferentes combinayóes,
(= mao de macaco negro do Amazonas) que recebeu é usado para designar fungos das familias Polypora-
o nome científico de Polyporus pes-simiae Berk., ceae, Thelephoraceae, Clavariaceae, Pezizaceae e
cujo tipo se acha desaparecido. Xylariaceae, (Fidalgo & Prance , 1976). Aliás, esse
Nesse grupo enquadram-se ainda algumas preflxo é emitido com um soro intennediário que,
tribos indígenas do Parque Xingú (Hirata, em comuni- usualmente corresponde mais a um r, mas, em certos
c~ao pessoal) já que a vocábulos empregados nao casos equivale a um t.
evidenciam traduzir quelquer ligayao entre os fungos. A expressio uoncbelá, nao deve aquí ser levada
Assim. a tribo Txucarramae (Caiapó-Ge) do Sub- . em muita considerayao, pois, pode .nao tratar-se de
posto Cretire empre_ga os nomes pin-iamac ( = orelha um nome propriamente dito, mas sim , de urna fonna
de pau) e cucrinincrapin ("' cabe~a de pau que nasce usada para indicar que o fungo nao presta como
em fezes de anta) este defmindo um cogumelo da alimento.
terra. A tribo Txicáo (Caribe) do Posto Leonardo O outro sistema taxinómico encontrado entre
Vilas Boas emprega numerosos nomes, de significado os índios e, talvez o mais frequente, consiste em usar
desconhecido ou nao preciso para os autores, a saber: a expressáo designativa de fungo na forma de sufixo.
Jermu (cogurnelo branco da terra), marulú-nabum Esse é o caso dos índios Mundurucus que
(cogumelo pequeno e escuro), paching-panam (orelha empregam o suftxo ró'p ou tó'p após um ou roais
de pau), colé (?), ekipitina, cele-panam (orelha de nomes para designar diferentes tipos de fungos,
morcego), piláu ( cogumelo vennelho oscuro), maulé- conforme assinalado por Mense em 1947 (Fidalgo,
buchiro (cogumelo branco), acaimogat (gordura de 1965, 1963). Esse sufixo tambén parece ser emitido
tatu grande), tagugo ( cogumelo castanho escuro que com um som intennediário entre o r e o t (Fidalgo
possui ftlamentos), taguo (cogumelo pequeno, ~scuro & Prance, 1976). - - ·
e farinhento), apcom (cogumelo vennelho escuro · Machado, em 1945 assinalou um sistema equi-
grande que náo comem), compo-wolu Ocogumelo valente entre os Carajás, em cuja língua, fungo é
branco de cheiro ruim que nao comem). indicado pelo suftXo dorró ou dorró-ni (Fidalgo,
Conforme se pode verificar, esses vocábulos 1965, 1963).
resu}tam de associayOeS de idéias isoladas que nao Talvez, o fato mais interessante constatado
os amarram a um conjunto coro certo relacionamento até o presente, seja a inversáo do sistema nomencla-
natural . tural utilizado pelos índios Sanamás para os fungos
comestíveis ou anamo. Esta palavra se reduz a amo,
quando entra na composiyao de nomes, passando
entio a forma de sufixo. Sem considerar suas varian-
4. SISTEMAS TAXONOMICOS UTILIZA· tes fonéticas ou gráficas, nada menos que 17 vocábu·
DOS PARA FUNGOS POR DIFEREN- los foram anotados para fungos comestíveis (Fidalgo
TES. TRIBOS. & Prance, 1976).
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Emomlcologia Brrui/eirrl - O. Fidalgo )' D.J.M. Poroca
e guaraná e, por Roquete-Pinto que, os Narnbiquaras maJona, os cogumelos sao comidos após fervidos
da Serra do Norte, considerarn certos fungos feJVidos por algum tempo; dois sao ingeridos crus e urna
como verdadeiros acepipe. Um deles, conhecido por espécie é assada em folha de bananeira. Foram
esses índios como acebi ou arezi, é urna orelha-de-pau experimentados por Fidalgo e Prance trés desses
poliporóide. fungos: 1. uaicassamo que é duro, coriáceo e sem
Banner, em 1957, conta que na lenda sobre a gosto, mesmo depois de fervido por 30 minutos;
origem da lavoura relata-se, o emprtgo de fungos 2. sama-sama-iamo que, comido cru, mostra-se
na alimentayáo pelos índios Caiapó, quando, de mais macio, lembra um pouco o paladar de pao,
início, na falta de melhores alimentos, nutriarn-se mas , nii.o exibe um gosto distinto; 3. hamimamo,
com farelo de palmeiras en descomposi~áo, de lagar- que, feJVido, apresenta um gosto picante de pimenta.
tas e de orelhas-de-pau (Fidalgo, 1965 , 1968). Hirata Aliás, esse fungo, para ser identificado , pelo indios
(em comunica~io pessoal) obteve a informayáo de é sempre, antes , provado.
que, tarnbém só na auséncia de outros alimentos, Na mesma regiáo, de urna outra tribo visitada
os índios velhos txucarramae (Caiapó-Gé), do Parque (índios Mayongongs do grupo Caribe) foi folhida
Xingú, comiam fungos. Os índios atuais já nao mais a informa<¡:áo de que comem apenas um fungo , o
reconhecem os fungos que eram assim utilizados. ca-hóca. Nao foi possível convence-los de mostrarem
Em sua viagem pela Amazonia , Spruce soube, esse fungo.
junto a Cachoeira Jauarete, que os indios da regiao, Os índios da tribo Txi<¡:ao (Caribe) do Parque
por ocasiao da estayao umida , comiam duas espécies Xingú, aparentemente , cornero diversas espécies
de fungos que cresciam debaixo de pés do umari dando , as comestíveis, a denominayaO genérica de
(Cf. Humirium floribunda Mart.), urna parecendo apeo. Entre eses destacam-se o lérmu, que é um
um agárico e o outro, alguma coisa semelhante a cogumelo branco da terra que cornero assado e cujo
Fistulina (Fidalgo, 1965, 1968). Outras ínforma9oes gosto lembra o da batata ; o marulú-nabum, cogumelo
imprecisas davam canta de um possível emprego do pequeno e escuro que só os velhos cornero por esta-
Polyporus sapurema Moell., na alimentayao, por parte rem acostumados ao seu gosto muito forte e o pa-
de índios brasileiros, razáo pela qual esta espécie ching-panam, urna orelha-de-pau que é cosida em
é vulgarmente conhecida como pao-dos-índios (Fidal- forno.
go, 1965, 1968). Constatou-se que na Amazonia Também, no Parque Xingú, foi constatado que
muitos descendentes de índios comem boje o escle- os índios Caiabi (Tupi) se .alimentam normalmente, .
rócio de Polyporus sapurema Moell. que, cortado em na esta~ii.o das chuvas, do ivepó-mutab, fungo que é
fatias e frito em gordura, dizem ter o sabor próximo socado no pililo junto com a farinha de mandioca
ao da batata frita. e com o qual fazem urna espécie de pirao.
Entre os indios Waikás, que vivem no caminho Das tribos que vivero no Parque Xingú, ainda
entre a Serra das Surucucus e o Rio Uraricuera, nao foi possível conseguir espécimes dos fungos que
foi verificado (Prance, 1972, 1973) que sao comidos utilizam como alimento e consequentemente, a iden-
crus, o shikimamok (= chi-quimá-mok), o adamasik tificayio científica dos mesmos ainda nao se tomou
e o mafcomkuk . O hodohodokuk, para ser comido, viável.
é antes feJVido e depois deixado esfriar. Muitos Até o presente, nada menos que 21 espécies
índios declararam que só o comiam nessas condi<¡:Óes. foram reconhecidas como sendo utilizadas na alimen-
Em visita a aldeia dos índios Sanamás da tribo dos tayáo por tribos indígenas brasileiras, a saber: ·corio-
Yanomamis (comumente conhecida como Waiká), lus zonatus (Nees) Quél., Favolus brasiliensis {Fr.)
na Serra Parima, junto ao Rio Uauaris (Território Fr., Favolus brunneo1us Berk. & Curt., Favolus
de Roraima), constatou-se (Fidalgo & Prance, 1976) striatulus Ell. & Ev., Favolus tesselatus Mont., Gloeo-
que esses índios possuem o mais amplo conheci- porus thelephoroides (Hook. ex Kunth) G. H. Cunn.
mento sobre fungos, de todas as tribos até o presente (e Gloeoporus conchoide& Mont. ex de La Sagra),
visitadas. Além de conhecerem um bom número de Gymnopilus hispidellus Murr. (?), Hexagona subca-
fungos , utilizam-nos diariamente em sua alimentayao, perata Murr ., Hydnopolyporus palmatus (Hook. ex
aproveitando nada menos que 16 espécies científica- Kunth.) O. Fid., Lactocollybia aequatorialis Sing.,
mente identificadas. Os cogumelos, lagartas e laJVas Lentinus crinitus (L. ex Fr.) Fr ., Lentinus glabratus
constituem, para essa tribo, a principal fonte de (Mon t. ex de La Sagra, Lentínus velutinus Fr., Neocli-
proteínas, já que, em virtude de um excesso de pesca tocybe bissiseda (Bres.) Sing., Panus rudis Fr., Pholio-
e caya, essas se tomaram pouco frutíferas. A maioria ta bicolor (Speg.) Sing. Pleurotus concavus (Berk.)
das espécies de fungos cÓmestíveis sao por eles colhi- Sing., Polyporus aquosus P. Henn., Polyporus sapu-
das em suas plantayÓes de mandioca (manihot), rema Moell., Polyporus stipitarius Berk. & Curt. e
onde os troncos caídos, tocos, peda9os de madeira Polyporus tricholoma Mont.
semiqueimados ou semidecompostos, sob as condi-
~ües Jocais de temperatura e umidade, compoem
um ambiente ideal para o desenvolvimento desses 5. FUNGOS E A MEDICINA INDIGENA
fungos, todos apodrecedores de madeira. Estabelece-
se, dessa forma, um verdadeiro cultivo acidental
de fungos. Urnas poucas espécies sao diretamente Roquette-Pinto em 193~ relatou que os índios
colhidas na floresta, primária ou secundária. Em sua Nambiquaras , que vivero nas proximidades do Río
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EmomkologitJ Bn11ileira - O. Fidalgo y D.J.M. Poroca
Sao Miguel, afluente do Guaporé, na fronteira do Adamasik (Do waiká; etimología ignorada) - nome
Mato Grosso com a Bolívia, apresentam-se sujeitos aplicado ao Favolus tesselatus Mont. ou a
a urna dermatomicose endémica, conhecida, entre Hexagona subcaperata Murr. que os índios
eles, como chimbere e que nada mais é do que a tínea Waikás, da Serra das Surucucus comem crú.
imbricata {Thichophyton concentricum Blanchard). Possívelmente variante fonética de adamassa.
Em sua fase de aspecto esfoliativo, essa micose é Cf. adamassa.
chamada de báanecedulu (Fidalgo, 1965, 196~).
Essa taJvez seja a única micose reconhecida por Adamassa (Do waiká; etimología ignorada) - nome
indios, de que se tem notícia. aplicado a fungos comestíveis de diversos géne-
Segundo Martius, o índio atribuía as plantas ros, tais como, Favolus sp., Panus rudis Fr. e
e a algumas partes das mesmas, de cór vermelha, Lentinos crinitus (L. ex Fr.) Fr. pelos índios
urna rela~ao com o sangue, explicando, assim, o Waikás da Serra Parima. Possívelmente variante
emprego do urupé-tauá ("' urupe-piranga) contra fonética de adamasik. Cf. adamasik.
a hemoptise. Pardal em 1937 e Levi-Strauss em 1946
indicaram que o Polyporus coccineus Fr. e o Geaster Aidúdu (Do bororo; etimología ignorada) - termo
saccatus Fr. sao usados para tratar hemorragias e designativo de fungos de cheira fétido (Gastero-
distúrbios uterinos (Fidalgo, 1965, 196~). mycetes).
Conforme informa~ao da ilustradora botanica
Margareth Ursula Mee, as caboclas do Mato Grosso Amo (Do sanamá), etimología ignorada) - forma
e Amazonas utilizam Trametes cupreorosea (Berk.) reduzida de anamo normalmente usada pelos
Uoyd para amenizar as cólicas uterinas por ocasiao índios Sanamás, da Serra Parima, como sufixo,
da menstruas;ao. Tais conhecimentos parecem ter para designar fungos comestíveis. Aplicam,
adquirido dos índios Canoeiros, denominas;ao popular também, a expressao amo para o broto terminal
da tribo dos Erigpaktsa que vivem no Alto Juruena, comestível de urna Musaceae que, no gasto e
próximo a Cachoeira de Dois lrmaos, no Município aparencia se assemelha ao palmito. V. anamo.
de Aripuaná, Mato Grosso (Fidalgo, 1965, 196~).
Anamo (Do sanamá; etimología ignorada)- expressáo
genérica utilizada, pelos índios Sanamás da
Serra Parima, para indicar qualquer fungo
7. OUTROS EMPREGOS DADOS AOS considerado como comestível. V. amo.
FUNGOS PELOS INDIOS BRASILEI-
ROS. Anaté-do-rró (Do carajá; etimología ignorada) -
cogumelo luminiscente comum as margens do
Río Araguaia e afluentes.
Além da utilizayao de fungos na alimentas;ao
e na medicina, a única outra aplícayao sugerida, foi Ang-biuant-téi p (Do mundurucu; etimología igno-
fomecida por Viégas em 1959 que suspeitava ter rada) . termo micológíco de significado preciso
sido a chamada "pedra flexível., mencionada pelo desconhecido.
Padre Anchieta, nada além que os esclerócio de
Po1yporus sapurema Moell. e que era empregado para Apeo (Do Txicao; etimología ignorada) - expressao
afiar instrumentos (Fidalgo, 1965, 1968 ). empregada de forma genérica, pelos índios da
tribo Txiciío, do Pasto Leonardo Vilas Boas do
Parque Xingú, para designar fungos comestíveis.
8. GLOSSARIO ETNOMICOLOGICO DAS Apcom (Do txicáo; etimología ignorada) - fungo
TRIBOS INDIGENAS DO BRASIL. vermelho escuro, grande, nao comestível, da
regia o do Xingú.
Acaimogat (Do Txicao; gordura de tatú grande) - Arezi (Do nambiquara; etimología ignorada) - nome
termo micológico de significado preciso desco- aplicado ao Glocoporus thelephoroides (Hook.
nhecido. ex Kunt) G. H. Cunn. (= Glocoporus conchoi-
1
des Mont. ex de La Sagra),de que se alimentam
Acebi • (Do nambiquara ··: etimología ignorada) - os índios Nambiquaras da Serra do Norte,
variante fonética de arezi dos Tauités, conforme Município de Aripuana, Mato Grosso. Variante
emitida pelos sabanés. V. arezi. fonética de acebi dos Sabanes. Temse notícia
que, pelo menos urna tribo indígena da Vene-
Adabamo (Do sanamá; etimología ignorada) - nome zuela, também come esse fungo. V. acebi.
aplicado ao Favolus brunneolus Berk. & Curt.
que é coletado das madeiras em descomposi~iio Atapa-amo (Do Sanamá, etimologia ignorada) -
nas planta~óes de mandioca e comido pelos sa- variante fonética de adabamo. V. adaba-
namás. Variante fonética de atapa-amo. mo.
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EtnOMicoloKia Branleim - O. Fida/go y D.J.M. Poroca
Báanécédutu (Do nambiquara; etimología ignorada) chi-quirno-amo dos índ.ios Sanamás. Prance
dermatomicose esfoliativa, comum entre os em 1972, propos a variante gráfica shikimamok
Nambiquaras, possívelmente, urna tínea visinha de acordo com a fonética inglesa.
ao chimbere. Cf. chimberé.
Chi-quimo-amo (Do sanamá, chi-quimá "' um peque-
Bóe-etao (Do bororo, bóe "' indios Bororos + et no papagaio + amo .. fungo comestível)
= (d)eles + ao = cabe~a)- fungos que , quan- - nome atribuído ao (pfioJ~ zonatus (Nees)
do novos, apresentam forma esferoidal (Agari- Quél., pelos índios Sanainás da Serra Parima,
cales e Gasteromycetes). que o ingerem após ferve-lo.
Chi-quimá-mok (Do waiká ; etimologia em dúvída) Corobamo (Do sanamá, corob = torax + amo • fungo
- os índios Waikás da Serra das Surucucus comestível) - variante fonética de codobamo,
aplicam esse nome ao Favolus brasiliensis corobó-amo e cotopó-amo. V. codobamo.
(Fr.) Fr. que é por eles comido cru. E possível
que este vocábulo tenha alguma relafYaO com o Corobó-amo Do sanamá, corob = torax + amo "'
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EtnomicOIOfia BnuileiTtl - O. FidDlgo y DJ.M. Poroca
fungo comestível) variante fonética de codo- arde como pimenta + amo • fungo comestível
bamo, corobamo e cotopó-amo. V. codobamo. + uai = pequeno) - nome usado para a Lacto-
collybia aequatorialis Singer, espécie de paladar
Cotopó-amo (Do sanamá, corob = torax + amo = picante; os índios Sanamás da Serra Parirna
fungo comestível) variante fonética de codoba- a coletam das madeiras em descomposi~io
mo, corobamo e corobó.amo. V. codobamo. nas plantayoes de mandioca e a comem depois
de fervida. Fidalgo & Prance em 1976, propu-
Crepuru-r6-p (Do mundurucu; etimología ignorada) seram a variante gráfica hamimamo-amwai,
- termo micológico de significado preciso de acorde coma fonética inglesa.
desconhecido.
Hassamo (Do sanarná, hassa • veado + amo ..
Cucri-nin.ai-pin (Do tx.ucarramáe, cucri anta fungo comestível) - nome dado ao Favolus
+ nin • fezes + era
= cabe~a + pin • pau) striatulus Ell. & Ev. e a Polyporus sp., pelos
- nome pelo qual os índios, da tribo Txucarra- índios Sanamás da Serra Parima, que os coletarn
máe do Sub-posta Cretire do Parque Xingú, das madeiras em decompos.i~ao nas planta~oes
conhecem cogumelos da regiio que dio na de mandioca e os comem após fervé-los .
terra.
Hassamo-holichi (Do sanamá, bassa = veado + iuno
Dacba-mag-á-r8'b (Do mundurucu; etimología igno- 2 fungo comestível + holicbi • mentira, falso)
rada) -termo micológico de significado preciso - nome usado para um Pleurotus sp. nao
desconhecido. comestível (?), pelos índios Sanamás da Serra
Parima, Cfr. hiualamo.
Dichthybaki (Do tupi-guarani; etimología ignorada)
- termo empregado na metade inferior do Rio . Hiualamo (Do sanamá, biuala .. porco espinho + amo
Uauapés, pelo índios Tucanes, para designar fungo comestível) - epíteto, empregado
os fungos de um modo geral (grafia proposta por índios Sanamás da Serra Parima, para um
por Spruce, baseado na fonética inglesa). Pleurotus sp ., dito comestível. Urna das cole- .
~óes recebeu de alguns índios o neme de
E-dorró (Do carajá; etimología ignorada) - orelha-de- hiualamo, enquanto outros, a denominaram
pau. Os indios Carajás, do Rio Araguaia e Rio bassamo-holicbi. O significado deste neme
das Martes empregam esse vocábulo para desig- justifica a confusáo. Fidalgo & Prance , em
nar particularmente o Pycnoporus sanguineus 1976, propuseram a variante gráfica hiwalamo,
(L. ex Fr.) Murr. Cfr. e-dorró-ni. Cf. parolih-dé, de acorde coma fonética inglesa . Cfr. bassamo-
umpé-pi-ranga, urupé-ro-phita e urupé-tauá. holicbi.
E-dorró-ni (Do carajá; etimología ignorada)- orelha- Hodohodokuk (Do waíká; etimología ignorada)
de-pau espessa e perene. Com esse vocábulo os - os índios Waikás, da Serra dos Surucucus,
índios Carajás, do Rio Araguaia e Rio das assim chamarn urna espécie comestível, Neoeli-
Martes, diferenciam as formas normalmente tocybe bissiseda (Bres.) Sing., que é ingerida
perenes, mas, sempre espessas, das de píleo fino depois de fervida , mas, deixada esfriar antes
e usualmente anuais. Cfr. e-dorró. de ser comida. Muitos índios foram taxativos
de que só a comeriam fria depois de fervida.
Ekpitina (Do txicao, etimología ignorada) - termo
micológico de significado preciso desconhecido. Ho-pé (Do waiká; etimología ignorada) - neme
usado para o Polyporus tricboloma Mont.,
Gurupé (Do nheéngatu, iru = vaso + pé = casca) espécie considerada como comestível por
- variante fonética de urupé. Empregado índios Waíkás da Serra Parima , Cf. codobamo.
principalmente para designar os fungos achata-
dos do tipo orelha-de-pau (Polyporaceae Huanta~hu-aie-niei-bll-ro"p (Do mundurucu ; etimo-
e outras familias de AphyUophorales). Variante logía ignorada) - termo micológico de signi-
fonética e gráfica de urupé V. urupé. ficado preciso desconhecido.
1
Ha.miñwno (Do sanamá, hami = pimenta; que arde
como pimenta + amo = fungo comestível) Huare-rarem-tll'p (Do mundurucu ; etimología igno-
- vocábulo aplicado a Lentinus sp . ou Pleu- rada) - termo micológico de significado preciso
rotus sp. que se apresentam picantes: os desconhecido .
índios Sanamas, da Serra Parima, os coletarn
das madeiras em decomposi~io nas planta-
~Oes de mandioca e os cornero após ferve-los . Huare-rll'p (Do mundurucu; etimología ignorada)
- termo micológico de significado preciso
(Do sanamá, hami = pimenta, que desconhecido.
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EtnomicologÍII Bnuilell'tl - O. Fidlllgo y D.J.M. Poroca
Parolih-dé-ossuai (Do sanamá, parolih = coberto Po-po-temo-amo (Do sanamá,p lo-plo nome onoma-
+ de = o qual é + os = tenro, mole, jovem + topaico relativo ao som emitido por um sapo
uai .. pequeno, sim) - nome dado a espécie + (?) + amo • fungo comestível) - variante
de Xylaria nao comestível, pelos indios Sana- fonética e gráfica de plo-plo-le-amo. V. plo·
más da Serra Parima. O mesmo que come- pio-le-amo.
come-ca. Fidalgo & Prance, em 1976, propu-
seram a variante gráfica parolih-de-osswai, Re-dorrO (Do carajá; etimología ignorada)- variante
em concordancia com a fonética inglesa. fonética de e-dorrO. V. e-dorró.
Cf. come-come<a.
Sama-sama-iamo (Do sanamá, sama-sama arraia
Parolih4igoste (Do sanamá, parolih z coberto de ferrao + amo = fungo comestível) - os
+ di = sempre) - designa~ao dada aClavariaceae índios Sanamás da Serra Parima aplicam esse
nao comestível, pelos índios Sanamás da Serra nome ao Polyporus aquosus P. Henn. que
Parima. é apanhado na floresta, comido cru e que
lembra urna arraia de ferráo encontrada no
Peli-poli-á (Do sanamá, peli-poli • lua, na forma de Río Uauaris.
meia lua) - nome atribuído a diversas espé-
cies poliporóides espessas rigídas e com píleo Sú-dorr6 (Do carajá; etimología ignorada) - de um
semicircular, tais como Fomes marmoratus modo geral, designa, para os índios Carajás,
(Berk. & Curt.) Cooke e Amauroderma spp., do Río Araguaia e Río das Martes, todos os
pelos indios Sanamás da Serra Parima. Cfr. fungos de chapéu, ou seja, em sua maioria
parolih-dé. as Agaricales.
Pida-pida-lhamo (Do sanamá, (?) + amo = fungo Tagugo (Do txucao; etimología ignorada) - eyiteto
comestível) - os índios Sanamás da Serra atribuído, pelos índios da tribo Txicao do
Parima o aplicam ao Gymnopilus hispidellus Pasto Leonardo Bilas Boas do Parque Xingú,
Murr. que alguns dizem ser comestível e outros a um fungo castanho escuro da regiao que
nao. Cf. Wonchelá-dé-ámo-áni. possui pelos.
Piláu (Do txicao; etimología ignorada) - epíteto Taguo (Do txicao; etimologia ignorada) - nome
dado a fungo vermelho escuro, pelos indios da dado pelos índios da tribo Txicao do Pasto
tribo Txicao do Posto Leonardo Vilas Boas Leonardo Vilas Boas do Parque Xingú, a um
do Parque Xingú. fungo pequeno, escuro e farinhento, da re-
giao.
Pin-iamac (Do txucanamae, pin = pau + iamac
= orelha) - os indios, da tribo Txucarramae Tareo-curup-tll-p (Do mundurucu; etimología igno-
do Subposto Cretire do Parque Xingú, assim rada) - termo micológico de significado preciso
chaman os fungos comestíveis do tipo orelha- desconhecido.
de-pau.
Tareo-tll-p (Do mundurucu; etimología ignorada)
Plo-plo-le..amo (Do sanamá, plo-plo ~ nome onoma- - termo micológíco de significado preciso
topaico, relativo ao som emitido por um desconhecido .
sapo + (?) + amo = fungo comestivel) - os
índios Sanamás da Serra Parima, aplicam-no Uaicassamo (Do sanamá, uaicá "' índio waiká +
ao Pleurotus concavus (Berk.) Sing. que, só amo = fungo com~stível) - nome aplicado
após ser fervido , é comido. Variante gráfica ao Favolus brasiliensis (Fr.) Fr., pelos índios
fonética e gráfica de plo-plo-lemo-amo, po-po- Sanamás da Serra Parima, que o colhem de
temo-amo e po-po-leámo. árvores da floresta ou de madeiras em decom-
pOSÍ9aO, nas planta9óes de mandioca e OCornero
Plo-plo-lemo-amo (Do sanamá, plo-plo = nome assado ou após ser fervido. Fidalgo & Prance ,
onomatopaico, realtivo ao som emitido por um em 1976, propuseram a variante gráfica waika-
sapo + (?) + amo =¡fungo comestível)- varian- ssamo. de acordo com a fonética inglesa.
te ·fonética e gráfica de plo-plo-le-amo. V.
plo-plo-le..amo. Uaini-se-rá (Do sanamá. uai = pequeno, sim + ani
= feio, ruim, mau) - assim, é chamado um
fungo poliporóide nao comestível, Daedalea
Po-po-le..amo (Do sanamá, plo-plo nome onomato- elegans Spreng. ex. Fr., pelos indios Sanamás
paico, relativo ao som emitido por um sapo + da Serra Parima. Fidalgo & Prance, em 1976,
(?) + amo % fungo comestível) - variante propuseram a variante gráfica waini-se-rah,
fonética e gráfica de plo-plo-Je..amo. V. em conformidade com a fonética inglesa.
plo-plo-Je..amo. Cf. parolih-dé.
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Etnonrico/ogía BrasileiTa - O. Fidalgo y D.J.M. Poroca
Uonchélá-amo-qllé (Do sanamá, uonchélá = que iru = vaso + pe .. casca; etimología desconhe-
nao é bom , que nao presta .. amo = fungo cida para os dem ais vocábulos) - termo mico-
comestível) - nome dado a fungos nao comes- lógico de significado preciso desconhecido.
tíveis alucinogenicos, Psilocybe sp. e Psilocybe Grafía proposta por Pardal, em 1937, baseado
plutonia (Berk. & Curt.) Sacc., pelos índios na fonética castelhana.
Sanamás da Serra Parima. Nao foi possível
precisar se uochélá-amo-qtie é reabnente um Urupé-piranga (Do tupí-guaraní, iru = vaso + pe =
nome ou urna expressao para indicar que o casca + piranga = vermelho) - termo emprega·
fungo nao serve para comer. Fidalgo & Prance , do , especialmente, para designar o Pyenoporus
em 1976, propuseram a variante gráfica won- sanguíneos (L. ex Fr.) Murr., fungo utilizado
shelá-amo-qü'e, baseada na fonética inglesa. pelos índios para o tratamento de hemorragias.
Cf. e-dorró , parolih-dé, urupé-ro-phita, urupé-
Uonché-lá-dé (Do sanamá, uonchélá = que nao é tauá.
bom , que nao presta + dé = o qual é) - nome
usado para fungos gelatinosos, nao comestíveis , Urupé-ró (Do tupí-guaraní, iru • vaso + pe "' casca
tais como Auricularia spp., Trernella spp. e + ró = ?) - termo micológico de significado
outros, pelos índios Sanamás da Serra Parima , preciso desconhecido. E possível que se trate
Nao fo i possível precisar se uonchelá-dé se trata de variante fonética de urupé-rob.
realmente de un nome, ou constituí urna expre-
ssao para indicar que o fungo nao é bom para Urupé-rob (Do tupí-guaraní , iru = vaso + pé = casca
comer. Fidalgo & Prance , e m 1976, propuseram + rob "' amargo) -trata-se de urna espécie
a variante gráfica wonshelá-dé de acordo com desconhecida de Agaricales.
a fonética inglesa.
Urupé-ro-phita (Do tupí-guaraní, iru • vaso + pé ,.
Uonché-dé-amo-ani (Do sanamá, uonchélá = que casca; etimología desconhecida para os demais
nao é bom, que nao presta + dé = o qual é vocábulos) - vocábulo empregado para desig-
+ amo = fungo comestível + ani = feio, ruim , nar o Pyenoporus sanguineus (L. ex Fr.) Murr.,
mau) - nome aplicado ao Gymnopilus de- grafía pro posta por Pardal, em 1937, baseado
pressus Murr., pelos índios Sanamás da Serra na fonética castelhana. Cf. e-dorró, parolih-
Parima, que nao o consideram como comes- dé, urupé-piranga, urupé-tauá.
tível. Segundo Singer, no entanto, esta espé-
cie é comida no Perú , onde é conhecida como Urupé-tauá (Do tupí-guaraní, iru = vaso + pé ..
callampas del arbol. Nao foi possível preci- casca + tauá = vaso) - vocábulo empregado
sar se uonchélá-de-amo-ani se trata realmente para designar o Pyenoporus sanguíneos (L.
de un nome, ou constituí urna expressao, ex Fr .) Murr. Cf. e-dorró, parolih-dé, urupé·
para indicar que o fungo nao é bom para piranga , urupé-ro-phita.
comer. Fidalgo & Prance, em 1976 , propuseram
a variante gráfica wonshelá-déámoáni, de acor· Umpé-ti (Do tupí-guaraní, iru • vaso + pé = casca
do com a fonética inglesa. Cf. pida-pida..Jhamo. + ti = nariz, focinho) - termo micológico de
signitlcado preciso desconhecido.
Umpé (Do tupí-guaraní , iru = vaso + pe = casca)
- vocábulo que, isolado ou combinado , designa Urupé-tinga (Do tupí-guaraní, iru = vaso + pé =
fungo. Variante fonética e gráfica de gurupe. casca + tinga = branco) - CanthareUus sp. (?)
V. gurupé.
Urupé-ua (Do nheéngatu,~ iru = vaso + pé = casca
Urupé-a (Do tupi-guarani , iru = vaso + pé ., casca + u a = f ru ta) - varían te f oné ti ca e gráfica
+ ua = fruta) - vocábulo empregado , princi- de urupé-a. V. urupe-a.
pabnente, para designar os fungos achatados ,
do tipo orelha-de-pau (Polyporaceae e 0\ltras Ybi-iboty (Do tupi-guarani , ibi = terra + iboti ,.
familias de Aphyllophorales). Variante fonética flor) - variante gráfica proposta por Fidalgo
e gráfica de urupe.ua. V. urupé-ua . & Fidalgo. em 1967, para ibi-iboti. V. ibi-
iboti.
Urupé-narnbi (Do tupí-b1arani , iru .. vaso + pé
casca + nambi = de orelha) - termo micoló-
gico de significado preciso desconhecido .
9. CONCLUSOES
Urupé-nambi-abi (Do tupi-guarani , iru = vaso + pé
= casca + nambi = orelha + abi = {?) - term o
micológico de significado preciso desconhecido. l. A Etnomicologia encontra-se numa fase pri-
mária de desenvolvimento trazído a lume o conheci- ¡
U ru pé-nu nga -takuapi-rogwé (Do tu pi-guaraní , mento micológico de um número limitado de povos.
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l
EtnomícoloPI Brru/ldra - O. Fidlzlgo y D.J.M. Poroca
2. Pelos dados já levantados verificou-se que, suftxo designativo de fungo. Neste último caso o
em prácticamente todos os continentes sáo encon- preftxo é que diferencia as espécies . As tribos que
trados pavos micófllos, destacando-se de forma nao demonstram qualquer instinto taxinómico
especial como tais os povos primitivos do México. atribuem nomes aos fungos que os relacionam a coisas
conhecidas (com frequéncia a animais), mas nao
entre si.
3. A Etnomicologia tem trazido contribuiyÓes
relevantes nos campos da linguística, da religiao , 5. As espécies de fungos C9m.propriedades psi.co-
da medicina e da alimentayao indígenas. trópicas sao as que se destacam no culto religioso
de diferentes povos primitivos e especialmente os
do México que os utilizam para "faJar com os seus
4. Dentro da linguística, além do conhecimen- Deuses".
to dos vocábulos designativos de fungos e do estudo
de suas respectivas etimologías ficou evidente que 6. Vários fungos sáo empregados como medi-
alguns P9VOS possuem um verdadeiro instinto taxi- cinais e em particular como hemostáticos ou como
nómico, enquanto outros nao exibem qual- anestésicos. Os fungos vermelhos, devido a sua cor,
quer tend~ncia de correlayao das espécies den- sao atribuidas propriedades medicinais para doenyas
tro de urna estrutura linguística. Sob esse relacionadas com o sangue.
ponto de vista demostrou possuir instinto taxi-
. nómico algumas tribos micóf:tlas do Brasil.
Estas reunem os fungos (muitas vezes apenas 7. Aparentemente os fungos sao usados com
aqueles utilizados na alimentayao) sob um mais frequt'!ncia na alimentayao por tribos que vivem
vocábulo comum que aparece como nom- em regióes onde a caya e a pesca sao escassas. Nestes
e básico antecedendo aos demais caracte- casos os fungos contribuem para reduzir a defi·
rísticos da espécie ou sob a forma de ciéncia protéica do regi.me alimentar dessas tribos.
AGRADECIMENTOS
Os autores desejam agradecer a José Massaru Hirata, aluno do Curso de Pós-Graduayio e Auxiliar de Ensino
da Facultade de Odontología da Universidade de Sio Pauto, pelos dados colhidos junto as tribos Txucarramae,
Txicáo e Caiabi do Parque Xingú.
REFERENCIAS
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(196 7 - 1968). & UFRPE, 49 pp. (mimeografado).
- -- - - & FIDALGO, M. E. P. K. (1 967) - Dicioná rio PRANCE, G.T. (1972) - An ethonobotanical comparison
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_ __ _ _ & PRANCE, G. T. (1 976) - The ethnomycology - - - - - (1 973) -- The mycological die t of the Yanomam
of the Sanama Indians. Mycologia , Lancaster, 6 8 lndians. Mycologia , Lancaster, 65: 248-250,
201 - 210, fig. 1- 3, tab. 1-II. 1 fig.
19