Você está na página 1de 16

Rodriguésia 70: e03792017.

2019
http://rodriguesia.jbrj.gov.br
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/2175-7860201970040

Artigo Original / Original Paper


As plantas comestíveis no Brasil dos séculos XVI e XVII
segundo relatos de época
Edible plants used in Brazil during the 16th and 17th century according to historical reports

Bernardo Tomchinsky1,3 & Lin Chau Ming2

Resumo
Este trabalho objetivou estudar a flora comestível do Brasil nos séculos XVI e XVII a partir dos textos de 18
autores que estiveram no país durante este período. As plantas citadas foram identificadas por similaridade a partir
das descrições textuais e imagens disponíveis nas obras estudadas, considerando a origem, área de ocorrência e
nome popular, além da análise de outros estudos botânicos. Ao todo foram levantadas 827 citações de plantas
alimentícias nas obras estudadas, das quais foi possível identificar 183 espécies pertencentes a 61 famílias botânicas
diferentes. De 37 espécies não foi possível chegar a nenhuma aproximação botânica. Das plantas identificadas, 55%
são nativas das Américas, incluindo as do território brasileiro e de outros países americanos, 8% são endêmicas
e só ocorriam no Brasil, 37% são exóticas das Américas e duas plantas não tiveram sua origem definida. A partir
deste trabalho foi possível observar que havia, durante os séculos XVI e XVII, o uso de uma grande diversidade
de espécies na alimentação dos brasileiros, com destaque para a mandioca, abacaxi, jenipapo, batata-doce e milho.
A presença de espécies nativas das Américas, mas exóticas do Brasil, como o milho e a batata-doce, evidencia
a troca de germoplasma que já existia entre populações indígenas. Nos séculos XVI e XVII ocorreu uma rápida
e intensa troca de plantas com outras regiões do mundo promovida pelos europeus, que resultou na introdução
de uma grande quantidade de espécies exóticas as quais acabaram ganhando grande importância na dieta dos
brasileiros. Por fim, observamos que muitas das plantas citadas estão em desuso até os dias de hoje.
Palavras-chave: etnobotânica histórica, história do Brasil, intercâmbio de germoplasma, plantas alimentícias.
Abstract
This work aimed to study the edible flora in Brazil during the 16th and 17th centuries from analyses of texts of
18 authors who visited the country during this period. The cited plants were identified by similarity through the
descriptions and images in the studied texts, area of ​​occurrence, popular name, and the analysis of other botanical
studies. In all, 827 citations of food plants were found in the texts studied; it was possible to identify 183 species
belonging to 61 different botanical families; 37 citations weren’t possible to identify. Of the plants identified, 55%
are native to Americas, including Brazil and other american countries, 8% are endemic to Brazil, 37% are exotic
to Americas and for two plants it wasn’t possible to find their origin. From this data it is possible to say that during
the 16th and 17th century there was the use of a great cornucopia of plant species by the brazilian population,
especially cassava, pineapple, genipap, sweet potato and corn. The presence of exotic and naturalized species
native to the Americas shows the exchange of germplasm that already existed among pre-columbian populations.
During the 16th and 17th century there was an intense exchange of plants with other regions of the world promoted
by Europeans, which resulted in the introduction of many cultivated and exotic species that became important in
the brazilian diet. Finally we can say that many of those plants used during that time are now neglected.
Key words: historical ethnobotany, history of Brazil, germoplasm exchange, edible plants.

Veja material suplementar em <https://doi.org/10.6084/m9.figshare.8765492.v1>


1
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Inst. Estudos em Saúde e Biológicas, Av. dos Ipês s/n, Lot. Cidade Jardim, 68500-00, Marabá, PA, Brasil.
2
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas, Depto. Horticultura, Fazenda Lageado, Av. Universitária 3780, Altos do Paraíso, 18610-034,
Botucatu, SP, Brasil.
3
Autor para correspondência: btomchinsky@gmail.com
2 de 16 Tomchinsky B & Ming LC

Introdução são Piso e Marcgrave (Medeiros & Albuquerque


Quando os europeus desembarcaram no 2014), sendo que não foram encontradas análises
continente americano, já havia ali povos bem botânicas sobre as obras de Frei Lisboa (1985),
estabelecidos com culturas próprias e complexas. Ambrósio Brandão (1997), Gáspar Barléu (1940)
Esta população fazia o uso e o manejo dos recursos e de Pero Lopes Sousa (1839). Kury (2013) de uma
naturais para a sua sobrevivência, incluindo forma mais ampla descreve em livro o uso e troca
para a obtenção de medicamentos, ferramentas e de plantas no Brasil entre os séculos XVI e XIX.
alimentos. Clement (1999) estima que a população Assim, o objetivo deste trabalho é estudar o uso
amazônica já fazia uso de 138 espécies vegetais de plantas alimentícias no Brasil dos séculos XVI
em diferentes estágios de domesticação naquele e XVII e a introdução de espécies exóticas a partir
período. de relatos históricos da época.
Durante o processo de colonização
europeia, muitas destas plantas caíram em desuso Material e Métodos
e esquecimento, enquanto espécies exóticas Foram consultados textos históricos
ganharam grande importância para a população produzidos por 18 autores que estiveram no Brasil
brasileira e outras espécies nativas do Brasil ao longo dos dois primeiros séculos de ocupação
ganharam importância cultural e econômica em europeia, incluindo os trabalhos de Pero Vaz
outras regiões do globo, no que foi cunhado como de Caminha, Pero Lopes Souza, Hans Staden,
o intercâmbio colombiano (Crosby 2003). Antes Manuel da Nobrega, José de Anchieta, André
mesmo deste período, a população nativa, por meio Thévet, Jean Léry, Pero de Magalhães Gandavo,
de redes locais de trocas, já fazia o intercâmbio de Frei Vicente de Salvador, Gabriel Soares Sousa,
espécies vegetais com outros grupos americanos Ambrósio Fernandes Brandão, Fernão Cardim,
(Mann 2005). Claude d’Abeville, Frei Cristovão de Lisboa, Jorge
Os principais registros escritos que possuímos Marcgrave e Guilherme Piso, Gaspar Barléu e
sobre este período pré-colonial advêm de textos Simão de Vasconcelos. Os trabalhos de Marcgrave
deixados pelos primeiros europeus que visitaram e Piso foram analisados conjuntamente, pois os
o território hoje delimitado como Brasil durante o dois estiveram envolvidos no mesmo projeto
inicio da colonização. Estes diários, crônicas e cartas colonizador e publicaram obras semelhantes em
são um rico acervo sobre esta época e, cada qual seu conteúdo.
a seu modo, descrevem costumes das populações As plantas citadas como comestíveis foram
nativas, hábitos alimentares, fauna e flora, entre identificadas a partir de similaridade, fazendo
outros aspectos curiosos para os colonizadores. A o uso das descrições e imagens contidas nos
análise destes documentos, dentro da perspectiva trabalhos estudados, aproximação entre os nomes
da etnobotânica histórica, é importante para a populares e a análise da área de ocorrência. Também
reconstrução da história do Brasil pré-colonial e foram considerados outros trabalhos científicos
para compreender de que forma a flora nativa foi publicados ou notas de botânicos nas edições
sendo substituída por espécies exóticas e acabou das obras estudadas, incluindo Frederico Hoehne
caindo no esquecimento da população geral (Silva (1937), Lichtenstein (1961), Alberto Sampaio
et al. 2014). (Marcgrave 1962), Sérgio Millet (D’Abeville
Os trabalhos existentes que se propõem a 1975), Batista Caetano (Cardim 1978), Venâncio
analisar os textos históricos deste período se limitam Willeke (Salvador 1982), Pickel (2008) e Medeiros
a poucos autores ou estão desatualizados. Frederico & Albuquerque (2014).
Hoehne (1937) em sua obra “Botânica e agricultura Todos os nomes científicos e famílias
no Brasil do século XVI” estuda o trabalho de botânicas foram atualizados de acordo com a Flora
alguns destes autores, mas todos de forma isolada. do Brasil (2016), as bases de dados The Plant List
Outros botânicos, como Sérgio Millet (D’Abeville (2016) e Tropicos (2016). As espécies identificadas
1975), Batista Caetano (Cardim 1978) e Venâncio tiveram sua origem e ocorrência determinadas
Willeke (Salvador 1982) analisam nas edições a partir das bases de dados da Flora do Brasil
estudadas a botânica presente nas obras, mas muitas (Flora do Brasil 2016), do Herbário Virtual (INCT
de suas indicações se mostraram precipitadas ou 2016), do Missouri Botanical Gardens (Tropicos
desatualizadas. Os únicos autores que possuem 2016) e literatura especializada. Foram adotadas
trabalhos analisando de forma ampla as plantas as seguintes categorias para classificar a origem
indicadas e publicados em periódicos científicos das plantas: endêmicas (quando só ocorrem

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


Plantas comestíveis no Brasil dos séculos XVI e XVII 3 de 16

naturalmente no Brasil), americanas (ocorrem locais onde cada autor estivera no Brasil. Da mesma
naturalmente no Brasil e/ou em outros países das forma, a inaptidão alimentar de certas espécies fez
Américas) e exóticas (com origem em outro país com que elas não fossem consideradas no trabalho.
extra-americano). Foi adotada a categoria nativa Existiu certa dificuldade de identificação
para qualquer espécie que originalmente é de algum das plantas citadas a partir de seu nome popular,
país americano, incluindo ou não o Brasil, a fim principalmente no caso dos inhames e carás,
de se evitar equívocos, já que o que é reconhecido que eventualmente se referiam a Dioscoreaceae
como o território brasileiro moderno, não existia (Dioscorea L. spp.) ou Araceae, das taiás/
naquela época. Quando possível, foi identificado o taiobas (Xanthossoma Scott spp.) e dos feijões
centro de origem de cada planta por região, bioma e favas (Fabaceae). No caso das taiás/taiobas,
ou país. Também foi indicado se cada espécie cuja etimologia se refere a ardido segundo
é cultivada ou não, de acordo com os trabalhos Ramanush (2010), foram todas classificadas como
estudados ou a partir de fontes secundárias. Xanthossoma ssp., já que a presença de rafídes
A fim de facilitar a análise de dados e evitar de oxalato de cálcio picantes neste gênero é
equívocos, algumas espécies foram reduzidas a característica. Ainda entre as Xanthossoma, o nome
gêneros. Espécies identificadas como etnovariedades couve foi adotado algumas vezes e também valeu
ou plantas distintas nas obras consultadas, mas que para Brassica oleracea L. var. acephala DC. Já o
atualmente se reconhecem como mesma espécie, nome bredo, adotado por diversos autores, pode
foram agrupadas, como o caso da mandioca/aipim/ estar relacionado a diferentes espécies das famílias
macaxeira (Manihot esculenta Crantz). Portulacacaeae e Amaranthaceae. Por fim, os feijões
A ordem apresentada dos autores estudados foi e favas foram classificados como Phaseolus sp. ou
organizada de acordo com a data em que chegaram como Fabaceae, já que alguns trabalhos chegam a
ao Brasil. Na sequência ao nome dos autores, entre citar mais de cinco tipos de feijão e diversos outros
parênteses, estão o local de nascimento e ano, e o de fava.
local de morte e ano. A grafia dos nomes populares Foi possível observar uma grande variação
das plantas levantadas foi mantida como estão nas do conteúdo entre as obras dos mesmos autores
obras estudadas. publicadas em diferentes edições, como observa
De modo geral, os trabalhos de Ambrósio Pickel (2008) nas obras de Piso e Marcgrave.
Fernandes Brandão e Claude d’Abeville são os Comparando diferentes edições da mesma obra,
menos estudados por outros autores, e tiveram uma existe a supressão de até 18 espécies comestíveis
porcentagem menor de plantas citadas identificadas. entre elas (Piso 1848; Marcgrave 1943; Piso 1957;
Além disto, estes trabalhos apresentam poucas Liechtenstein 1961; Pickel 2008; Medeiros &
informações que contribuem de modo significativo Albuquerque 2014; Dantas et al. 2017).
com a identificação destas plantas. Outros autores, Todos os autores estudados ainda descrevem
além de possuirem mais ensaios e estudos a o uso de diversas outras plantas com finalidades
respeito (ex. Jorge Marcgrave e Guilherme Piso), distintas (corantes, medicinais, madeira, etc),
relatam o uso de poucas espécies (ex. Hans Staden animais, além de aspectos sociais e geográficos que
e Pero Vaz de Caminha), ou descrevem o uso de deveriam ser tema de novos estudos.
grande quantidade de espécies exóticas e de fácil
identificação (ex. Manuel da Nobrega).
Resultados e Discussão
As obras consultados de André Thévet, Frei
Cristovão Lisboa, Jorge Marcgrave e Guilherme Autores sobre o Brasil
Piso são ricas em ilustrações, o que facilitou a nos séculos XVI e XVII
identificação das plantas descritas. Pela riqueza Além da região visitada e das atividades
textual se destaca a obra de Gabriel Soares Sousa, de cada autor, é possível separá-los em grupos
com as descrições “não científicas” mais detalhadas de acordo com o país e o processo colonizador a
sobre as espécies citadas, incluindo distribuição, que estavam relacionados. Thévet e Léry estavam
ambiente de ocorrência, formas de uso e morfologia viculados à França Antártica e Claude d’Abeville
da maior parte das plantas citadas. à França Equinocial, enquanto Gaspar Barléu,
A observação da área de ocorrência de cada Jorge Marcgrave e Guilherme Piso participaram
espécie foi importante para confirmar ou contestar do projeto holandês; já os demais autores estavam
outros trabalhos botânicos, que haviam identificado de alguma forma vinculados ao projeto colonizador
algumas espécies que não ocorrem naturalmente nos português.

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


4 de 16 Tomchinsky B & Ming LC
Por formação, os religiosos tiveram grande Manuel da Nobrega (1517, Portugal - 1570,
contribuição com o registro escrito sobre o Brasil Brasil).
da época por meio dos textos de Jean Léry, André Religioso jesuíta, veio ao Brasil em 1549
Thévet, Manuel da Nobrega, José de Anchieta, como missionário junto da armada de Tomé de
Claude d’Abeville, Fernão Cardim, Frei Cristovão Sousa. Chegou no estado da Bahia e passou por
Lisboa e Simão de Vasconcelos. De fato, este todo o litoral brasileiro, de Pernambuco à São
grupo era a classe intelectual e letrada daquela Vicente. Deixou diversas cartas e textos de cunho
época, além do caráter missionário de seus religioso sobre o país na época (Serafim 1954).
trabalhos, registrando todos os costumes locais, Nobrega (apud Hoehne 1937), descreve
em comparação com uma conduta cristã. em seus textos sete plantas alimentícias de uso
corrente no Brasil: mandioca (Manihot esculenta),
Pero Vaz de Caminha (1450, Portugal - 1500, figo (Ficus carica L.), açúcar (Saccharum
Índia). officinarum L.), limão (Citrus limon (L.) Osbeck),
Veio ao Brasil em 1500 junto com a armada laranja (Citrus sinensis (L.) Osbeck), cidra (Citrus
comandada por Pedro Álvares Cabral que medica L.) e uva (Vitis cf. vinifera L.).
aportou no estado da Bahia. Em sua “Carta do
descobrimento do Brasil” de 1500 ele narra ao rei José de Anchieta (1534, Canárias - 1597, Brasil).
português D. Manuel aspectos sobre esta viagem, Padre jesuíta, veio ao Brasil em 1553 com
os primeiros contatos com a população nativa do a missão de converter os indígenas. Passou
Brasil e suas impressões iniciais (Caminha 1876, por Salvador, mas ficou por estabelecido entre
1977, 1999). São Vicente, Piratininga (São Paulo) e Rio de
Caminha relata o consumo de três plantas Janeiro. Seus textos e cartas registram atividades
alimentícias entre as populações indígenas: religiosas, costumes da polução e impressões
inhame (Manihot esculenta Crantz), jenipapo pessoais (Serafim 1954).
(Genipa americana L.) e palmitos (Arecaceae). Anchieta (apud Hoehne 1937) descreve
27 plantas usadas como alimento: mandioca
Pero Lopes de Sousa (1517, Portugal - 1578, (Manihot esculenta), cana-de-açúcar (Saccharum
Marrocos). officinarum), laranja (Citrus sinensis), cidra
Irmão de Martim Afonso Sousa, veio ao (Citrus medica), mangaba (Hancornia speciosa
Brasil em 1530 no que foi considerada a primeira Gomes), nana (Ananas comosus (L.) Merril),
expedição colonizadora do país. Em seu relato batatas (Ipomoea batatas), sapucaia (Lecythis
descreve a costa do Brasil, desde Pernambuco até pisonis Cambess.), araticum (Annona sp.), perexil
a foz do rio da Prata, com incursões no interior a (Petroselinum crispum (Mill.) Fuss), mocujê
partir do Rio de Janeiro, Cananéia, São Vicente (Couma rigida Müll.Arg.), mangará (Xanthosoma
e Rio da Prata (Sousa 1839; Maranhão 2011). sp.), ibâ/pini (Araucaria angustifolia (Bertol.)
Sousa cita o uso de cinco plantas alimentícias: Kuntze), alface (Lactuca sativa L.), rabão
mandioca (Manihot esculenta), frutas (N.I. - não (Brassica napus L.), couve (Brassica oleracea
identificada), milho (Zea mays L.), raízes (N.I.) var. acephala DC), melão (Cucumis melo L.),
e palmitos (Arecaceae). pepino (Cucumis sativus L.), abóbora (Cucurbita
máxima Duchesne ex Lam.), cará (Dioscorea
Hans Staden (1525, Alemanha - 1579, Alemanha). sp.), gravanço (Cicer arietinum L.), lentilhas
Foi um aventureiro/mercenário que veio (Lens culinaris Medik.), feijão (Phaseoulus sp.),
duas vezes ao Brasil, sendo que durante a favas (Fabaceae), limeiras (Citrus aurantifolia
segunda, entre 1548 e 1549, foi aprisionado por (Christm.) Swingle), limoeiros (Citrus limon) e
índios Tupinambá no litoral do estado de São yeticopé (Pachyrhizus tuberosus (Lam.) Spreng.).
Paulo durante nove meses (Staden 1974, 1999,
2008). André Thévet (1502, França - 1590, França).
Em sua obra “Duas viagens ao Brasil” (1557), Frade franciscano, veio ao Brasil entre
Staden descreve o consumo de cinco plantas, 1555 e 1556 na França Antártica de Villegagnon
incluindo: sal de palmeira (Arecaceae), getica instalada na Bahia da Guanabara. Em seu livro,
(Ipomoea batatas (L.) Lam.), mandioca (Manihot “Singularidades da França Antártica, e que
esculenta), jenipapo (Genipa americana) e dois outros chamam América” (1557), descreveu
tipos de pimenta (Capsicum spp.). os costumes dos indígenas e da vida na região.

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


Plantas comestíveis no Brasil dos séculos XVI e XVII 5 de 16

Esta obra possui ricas ilustrações de algumas das occidentale), melão (Cucumis melo), pepino
espécies citadas (Hoehne 1937; Thévet 1944). (Cucumis sativus), inhame (Dioscorea sp.), figo
Thévet descreve 17 espécies comestíveis, (Ficus carica), limão (Citrus limon), bracases/
incluindo: nana (Ananas comosus), hetich araçá (Psidium sp.), favas (Fabaceae), feijão
(Ipomoea batatas), jenipapo (Genipa americana), (Phaseolus sp.), arroz (Oryza sativa L.), romã
amendoim (Arachis hypogea L.), pacova (Musa (Punica granatum L.), banana/pacova (2) (Musa
sp.), pimenta (Capsicum sp.), iry (Astrocaryum sp.), e dois tipos de aypim/mandioca/pão-do-brasil
aculeatissimum (Schott) Burret), hivourahé (Manihot esculenta).
(Pradosia lactescens (Vell.) Radlk.), mandioca
(Manihot esculenta), acaiu (Anacardium Vicente do Salvador (1564, Brasil - 1632, Brasil).
occidentale L.), couve (Xanthossoma sp.), Jesuíta nascido em Salvador, é considerado o
horyry (Allagoptera arenaria (Gomes) Kuntze), primeiro cronista e historiador brasileiro. Em sua
gerahuva (Arecaceae), palmeira (Arecaceae), obra publicada em 1627 descreve a “História do
feijão (Phaseolus sp.), avati (Zea mays) e favas Brasil” (Salvador 1982; Oliveira 2008).
(Fabaceae). Salvador descreve 50 plantas: cajueiro
(Anacardium occidentale), inhames-grandes
Jean Léry (1534, França - 1613, Suiça). (Dioscorea sp.), taioba (Xanthossoma sp.), pinhão
Religioso calvinista, veio a França Antártica (Araucaria angustifolia), coco (Cocos nucifera L.),
de Villaganon em 1556. Em sua obra “Viagem a palmeiras (Arecaceae), ananás (Ananas comosus),
terra do Brasil” (1578) descreve os hábitos dos caraguatá (Bromelia antiacantha Bertol.), gytis/
indígenas e a natureza local (Hoehne 1937; Léry gyitis-coroe (Couepia sp.), batatas (Ipomoea
1961, 1967). batatas), mandioca (Manihot esculenta), feijão
Léry descreve 24 plantas alimentícias de (Phaseolus sp.), favas (Fabaceae), sasapocaias
uso no Brasil: nana (Ananas comosus), hetich (Lecythis pisonis), milho-zaburro (Zea mays),
(Ipomoea batatas), jenipapo (Genipa americana), janipapo (Genipa americana), maçuranduba
manobi (Arachis hypogeae), pacoére/paco (Musa (Pouteria procera (Mar.) K.Hammer), pimentas
sp.), pimentão (Capsicum sp.), iri (Astrocaryum (Capsicum sp.), ambaíba (Cecropia sp.), abóbora
aculeatissimum), hiyuaré (Pradosia lactescens), (Cucurbita moschata Duchesne e C. maxima),
cana-de-açúcar (Saccharum officinarum), laranja cinco tipos de maracujá (Passiflora edulis Sims,
(Citrus sinensis), sabucaié (Lecythis pisonis), P. alata Curtis, P. quadrangulares L., Passiflora
morugans (Cucurbita maxima), parreira (Vitis sp.), spp.), endro (Anethum graveolens L.), coentro
acaiui (Spondias sp.), cajuá/taioba (Xanthossoma (Coriandrum sativum L.), alface (Lactuca
sp.), camdá-uassú (Phaseolus sp.), manjericão sativa), borragem (Borrago officinalis L.), nabo
(Ocimum basilicum L.), centeio (Secale cereale (Brassica rapa L.), couve (B. oleracea var.
L.), trigo (Triticum aestivum L.), morgoia (Citrus acephala), celga (Beta vulgaris L.), melancia
limon), pimenta (Capsicum sp.), beldroega (N.I.), (Citrulus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai),
dois tipos de manihot/aypi (Manihot esculenta) e melão (Cucurbita melo), hortelã (Mentha sp.),
dois tipos de avati (Zea mays). segurelha (Satureja hortensis L.), figo (Ficus
carica), banana-de-são-tomé (Musa sp.), cevada
Pero de Magalhães Gandavo (1540, Portugal - (Hordeum vulgare L.), arroz (Oryza sativa), açúcar
1579, Portugal). (Saccharum officinalis), trigo (Triticum aestivum),
Historiador português, viajou de Pernambuco romã (Punica granatum), marmelo (Cydonia
a São Vicente. Em suas obras, “Tratado da Terra oblonga Mill.), lima-doce (Citrus aurantifolia),
do Brasil” e “História da província de Santa Cruz” limão (Citrus limon), laranja (Citrus sinensis),
(1576), descreve diversos aspectos sobre o país, cidra (Citrus medica), uva (Vitis sp.) e gengibre
incluindo costumes locais, geografia, fauna e flora (Zingiber officinale Roscoe).
(Hoehne 1937; Gandavo 1975, 1980, 2008).
Gandavo descreve 21 plantas: ananaz Gabriel Soares Sousa (1540, Portugal - 1591,
(Ananas comosus), batata (Ipomoea batatas), Brasil).
pimenta (Capsicum sp.), cana-de-açúcar Chegou ao Brasil em 1565 onde se tornou
(Saccharum officinarum), laranja (Citrus sinensis), senhor de engenho no estado da Bahia. Seu
zabucaes (Lecythis pisonis), parreira (Vitis sp.), “Tratado descritivo do Brasil” publicado em 1587
milho-zaburro (Zea mays), caju (Anacardium e “Notícia do Brasil” estão entre as obras mais

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


6 de 16 Tomchinsky B & Ming LC
completas do período, com a descrição de hábitos, (N.I.), mondorurú (Mouriri pusa Gardner),
geografia, cultura, botânica, fauna e administração apé (Maclura tinctoria (L.) D.Don ex Steud.),
da colônia no portuguêsa no Brasil (Hoehne 1937; figo-bebera/figueira (Ficus carica), bananeira/
Sousa 1987, 2000). pacoba (Musa sp.), ubucaba (Campomanesia sp.),
Sousa descreve 108 espécies alimentícias: comichão (Eugenia brasiliensis Lam.), cambuí
beldroega (Amaranthus sp.), espinafre (Spinacia (Eugenia sp.), cambucá (Myrcia sp.), aracá-
oleracea L.), cebola (Allium cepa L.), alho (Allium de-árvore-grande (Psidium guajava L.), araça
sativum L.), cebolinha (Allium schoenoprasum (Psidium cattleianum Afzel. ex Sabine), maracujá
L.), cajú-silvestre (Anacardium humile A.St.- (Passiflora sp.), tanchagem (Plantago sp.), arroz
Hil.), cajueiro (Anacardium occidentale), cajá (Oryza sativa), cana-de-açúcar (Saccharum
(Spondias mombin L.), ambú (Spondias tuberosa officinalis), ubatim/milho-de-guiné/milho (5
Arruda), endro (Anethum graveolens), coentro tipos) (Zea mays), beldro (Portulaca oleracea
(Coriandrum sativum), cenoura (Daucus carota L.), romeira (Punica granatum), jenipapo (Genipa
L.), nhambi (Eryngium foetidum L.), funcho americana), limão-galego (Citrus aurantifolia),
(Foeniculum vulgare Mill.), salsa (Petrosilum limeira (Citrus limon), laranjeira (Citrus sinensis),
crispum), macugê (Couma rigida), mangabeira cidreira (Citrus medica), azamboa (Citrus
(Hancornia speciosa), piquia (Macoubea aurantium L.), limão-francês (Citrus limonia
guianensis Aubl.), taia/taioba (Xanthossoma Osbeck), maçarandinba/mandiba (Pouteria
sp.), mangará (Xanthosoma sp.), urucuri sp.), canapu (Physalis pubescens L.), berinjela
(Syagrus coronata (Mart.) Becc.), japeracaba (Solanum melongena L.), embaíba (Cecropia sp.),
(Arecaceae), marujaíba (Bactris sp.), pati (Syagrus araytim (Pouroma sp.), parreira (Vitis vinifera),
botryophora (Mart.) Mart.), piçandó (Allagoptera língua-de-vaca (N.I.), malabar (N.I.), muricana
campestres (Mart.) Kuntze.), buri (Arecaceae), (N.I.), seis tipos de mandioca (Manihot esculenta),
patioba (Geonoma pohliana Mart.), anajá- seis tipos de pimenta (Capsicum sp.), oito tipos
mirim (Arecaceae), pindoba (Attalea speciosa de batata (Ipomoea batatas), maniim (Gossypium
Mart. Ex Spreng.), palmeira-de-coco (Cocos barbadense L.) e mangaratia (Zingiber officinale).
nucifera), tamareira (Phoenyx dactylifera L.),
cardo (Asteraceae), chicória (Cichorium intybus Ambrósio Fernandes Brandão (1555, Portugal
L.), alface (Lactuca sativa), couve-tronchuda - 1618, Brasil).
(Brassica oleracea var. acephala), nabo (B. rapa), A identificação correta deste autor é até hoje
mostarda (Brassica sp.), agrião (Nasturtium motivo de discussão. Capristiano de Abreu e Mello
officinale), rabano (Brassica sp.), ananás (Ananas (Brandão 1997) afirma que ele era um cristão novo
comosus), carauatá (Bromelia antiacantha), que veio ao Brasil entre 1582 e 1618 onde foi
munducuru (Opuntia fícus-indica (L.) Mill.), senhor de engenho em Pernambuco e na Paraíba.
mamão (Carica papaya L.), jaracatiá (Jaracatia Sua obra, “Diálogos sobre a grandeza do Brasil”,
spinosa (Aubl.) A.DC), piqui (Caryocar sp.), celga publicado em 1618, é ainda pouco estudada em
(Beta vulgaris), abajeru (Chrysobalanus icaco L.), comparação as dos demais autores e foi escrita
guti (Licania sp.), bacupari (Garcinia brasiliensis em formato de diálogo entre dois personagens,
Mart.), melância (Citrulus vulgaris), pepino abordando diversos aspectos sobre o país,
(Cucumis sativus), abóbora/abóbora-de-quaresma como costumes, geografia e hábitos alimentares
(Curcubita maxima), melão (Cucurbita melo), (Brandão 1997).
gerimú (10–12 tipos) (Cucurbita moschata), Brandão cita 126 plantas com uso
gerumyê/cabaço (Lagenaria siceraria (Molina) alimentício: macaxeira/mandioca/maniçoba/
Standl.), cará/inhame (4) (Dioscorea sp.), pino farinha-de-pau (Manihot esculenta), arroz (Oryza
(Fabaceae), amendoim (Arachis hypogea), sativa), abati/milho-de-maçaroca/zaburro (Zea
curuanha (Dioclea sp.), ingá (Inga sp.), fava- mays), abaiba (Cecropia sp.), abóboras/tquira/
preta/fava-branca/fava-comanda (Phaseolus guiné (Cucurbita maxima), acelga (Beta vulgaris),
lunatus L.), feijão-branco/feijão-preto/feijão- agriões (Nasturtium officinarum R.Br.), alface
vermelho (Phaseolus sp.), poejo (Mentha (Lactuca sativa), alfavaca (Ocimum gratissimum),
pulegium L.), hortelão (Mentha sp.), alfavaca amendoim (Arachis hypogea), ananáz (Ananas
(Ocimum gratissimum L.), manjericão (Ocimum comosus), araça (Psidium sp.), araça-açu (Psidium
basilicum), cupiiba (Vitex sp.), sabucai (Lecythis sp.), araticum (Annona sp.), balancia (Citrulus
pisonis), murici (Byrsonimia sp.), mucuri/mocury vulgaris), batata (Ipomoea batatas), beldroegas

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


Plantas comestíveis no Brasil dos séculos XVI e XVII 7 de 16

(Portulaca oleracea), berinjela (Solanum canafistula (Fabaceae), guamocá (Myrtaceae),


melongena), borragam (Borrago officinalis), ibamirim (Myrtaceae), uti (N.I.), grexiuruba
bredos (N.I.), cabaço (Lagenaria siceraria), (Myrtaceae), eicajerus (Cactaceae), ambus (N.I.),
cajá (Spondias mombin), cajú (Anacardium ubaperunga (N.I.), pigueás (N.I.), quibado (N.I.),
occidentale), cana (Saccharum officinalis), mafai (N.I.), maçaranduba (Sapotaceae), ambus-
inhame (Dioscorea sp.), cará (Dioscorea sp.), ina (N.I.), aquê/coquinho (Arecaceae), comixá
cardos (Asteraceae), cenoura (Daucus carota), (Myrtaceae), erunga (N.I.), passendo (N.I.), umari
cheiro (Petrosilum crispum), chícaros (Fabaceae), (Geoffroea spinosa Jacq.), morosis (Byrsonomia
chicória (Cichoryum intybus), cidra (Citrus sp.) e piquiá (Macoubea guianensis ou Caryocar
medica), coentro (Coriandrum sativum), cominho sp.).
(Cuminum cyminum L.), couve (Brassica oleracea
var. acephala), caruá/curuá (Sicania odorífera Fernão Cardim (1549, Portugal - 1625, Brasil).
(Molina) Standl.), eicajeurs (Cactaceae), enguás Jesuíta português, veio ao Brasil em 1583
(Inga sp.), ervilha (Pisum sativum L.), favas e passou pelos estados da Bahia, Pernambuco,
(Phaseoulus lunatus), feijão-guandu (Cajanus Espirito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Em
Cajans (L.) Millsp.), feijão (Phaseolus sp.), milho- sua obra “Tratado da terra e gente do Brasil”,
naxenim/massa (Penissetum sp.), feijão-sapotaia publicada na década de 1580, aborda diversos
(Fabaceae), figo (3) (Ficus carica), funcho aspectos da geografia, história, fauna e flora do
(Foeniculum vulgare), gabiraba (Campomonesia Brasil e hábitos locais (Cardim 1978).
sp.), gengibre (Zingiber officinale), gergelim Cardim cita 54 plantas: abóbora (Cucurbita
(Sesamum indicum L.), giti (Couepia sp.), maxima), acaju/caju (Anacardium occidentale),
goiaba/goivos (Psidium guayava), hicambu/ aipo (Apium graveolens L.), alface (Lactuca
umbi (Spondias tuberosa), hortelã (Mentha sp.), sativa), alho (Allium sativum), aracá (Psidium sp.),
inhambu (Eryngium foetidum), invira (Xylopia araticuá/araticum (Annona sp.), borragem (Borago
sp.), janamacará (Opuntia sp.), jerimum/jerimum- officinalis), cabaça (Lagenaria siceraria), camará
pacova (Cucurbita moschata), laranja (Citrus (Lippia sp.), cará (Dioscorea sp.), caraguatá
sinensis), lentinlha (Lens culinaris), limão- (Bromelia sp.), cebola (Allium cepa), cebollacê
francês (Citrus limonia), limoeira-zamboa (Citrus (Allium schoenoprasum), cevada (Hordeum
aurantium), macujé (Couma rigida), marmeleiros vulgare), coentro (Coriandrum sativum), couve
(Cydonia oblonga), malagueta (N.I.), pimentas (Brassica oleracea var. acephala), endro
(Capsicum spp.), mamão (Carica papaya), (Anethum graveolens), ervilha (Pisum sativum),
mangava (Hancornia speciosa), manjericão fava (Phaseolus sp.), feijão (Phaseolus vulgaris
(Ocimum basilicum), maracujá-açu/maracujá/ L.), figueira (Ficus carica), funcho (Foeniculum
maracujá-mexira/maracujá-mirim/maracujá- vulgare), gergelim (Sesamum indicum), ianipaba
peroba (4) (Passiflora spp.), melão (Cucurbita (Genipa americana), jaboticaba (Myrcia sp.),
melo), marosis (N.I.), pacoba (Musa sp.), pepinos jaçapucaya (Lecythis pisonis), jambig (Eryngium
(Cucumis sativus), quiabo (Abelmoschus esculentus foetidum), laranjeira (Citrus sinensis), limeira
(L.) Moench), rabaçãs (Brassicaceae), raíz de (Citrus aurantiifolia), limoeira (Citrus limon),
mucuna (Fabaceae), carauatá (Bromelia lacinosa macuoué (Couma rigida), manjericão (Ocimum
Mart. ex Schult. & Schult.f.), comari (N.I.), taiá basilicum), mandioca (Manihot esculenta),
(Xanthossoma sp.), taioba (Xanthossoma sp.), mangába (Hancornia speciosa), mangará
tamarinho (Tamarindus indica L.), tamotarana (Xanthossoma sp.), maracujá (Passiflora sp.),
(Maranta sp.), tatajuba (Maclura tinctoria), marmelo (Clydonia oblonga), melão (Cucumis
toranja (Citrus sp.), tremoço (Lupinus sp.), trigo melo), milho (Zea mays), mostarda (Brassica
(Triticum sativum), uti (Licania tomensoa (Benth.) sp.), nabo (Brassica campestres), nana (Ananas
Fritsch), uticroi (Couepia rufa Ducke), uvas (Vitis comosus), umbu/umbéu/imbú/ambtu (Spondias
sp.), passendo (N.I.), coqueiro (Cocos nucifera), mombin), hortelã (Mentha sp.), pacoba (Musa
pitomba (Talisia esculenta (Cambess.) Radlk.), sp.), parreira (Vitis vinifera), pepino (Cucumis
jabucai (Lecythis pisonis), palmitos (Arecaceae), sativus), pequá/pequiá/piquiá (Caryocar sp.),
genipapo (Genipa americana), apê (Annona sp.), pimenta (Capsicum sp.), pinheiro/pinheiro-do-
ubacropari (Garcinia sp.), comicá (Plinia sp.), paraná (Araucaria angustifolia), rabão (Brassica
ubapitanga (Eugenia sp.), goti (N.I.), garuatá napus var. napobrassica), tajaobas (Xanthossoma
(N.I.), joambos (Myrtaceae), peiti (Arecaceae), sp.) e trigo (Triticum sativum).

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


8 de 16 Tomchinsky B & Ming LC
Claude d’Abbeville (?, França - 1632, França). manioch/macachet/manioca-etê/manioc-cane (4)
Foi um frei capuchinho e etimólogo, que veio (Manihot esculenta), usenpopuita/vsenpopouytan
ao Brasil na França Equinocial (Maranhão) entre (N.I.), avati (Zea mays), melão (Cucumis melo),
1612 e 1614. Em sua obra “História da missão favas (Fabaceae), vagem (Fabaceae), lentilhas
dos padres capuchinhos na Ilha do Maranhão e (Lens culinaris), pimenta (Capsicum sp.) e cana-
suas circunvizinhanças” (1614) descreve animais, de-açúcar (Saccharum officinarum).
plantas, costumes locais e a astronomia indígena
(D’Abeville 1874, 1975, 2002). Frei Cristovão Lisboa (Portugal, 1583 - Portugal,
D’Abbeville cita 67 espécies alimentícias: 1652).
acaiui/caju-etê/caju-pirã/cajúí/caju-açu (4) Chega ao Brasil em 1624 e fica entre o
(Anacardium spp.), banana (Musa sp.), mangaa Maranhão, Pará, Ceará e Pernambuco, após a
(Hancornia speciosa), iaracatia (Jaracatia sp.), expulsão dos franceses, como evangelizador e
uajeruá/ouaieroua/guariruá/uaierona (Couepia inquisitor até o ano de 1635. Em sua obra “História
sp.), jenipapo/iunipap (Genipa americana), dos animais e árvores do Maranhão” de 1631,
agutitreva/agoutytréua (N.I.), araticu/araticou estão reunidas imagens sobre a flora e fauna local;
(Annona sp.), caup/caoup (N.I.), eiuauirap/ entretanto alguns autores apontam que elas teriam
euuauirap (Campomanesia sp.), amavie/ama- sido aproveitadas de desenhos deixados pelos
vue (Cecropia sp.), goiaba/goyaue (Psidium franceses após a reconquista de Portugal (Lisboa
guajava), margoiá/margoya (Passiflora sp.), 1985; Peixoto & Escudeiro 2002).
palmeira (Cocos nucifera), uäcury/ouacoury/ Lisboa descreve 49 plantas comestíveis:
pindó/uacuri-ruã/ouacouryrouan (Attalea sp.), dois tipos de mandioca (Manihot esculenta), três
meuriti-uve (Mauritia flexuosa L.f.), ianajá/ynaia de cará (Dioscorea trifida), tamotarana (Maranta
(Attalea maripa (Aubl.) Mart.), carnauba/carana- sp.), mendoim (Arachis hypogea), gitica (Ipomoea
vue (Copernica cerifera), tucon-ive/toucon-vue batatas), jeremu (Cucurbita moschata), hubaém
(Astrocaryum vulgare Mart.), pacuri/pacoury (Citrulus vulgaris), cinco tipos de comenda
(Platonia insignis), ivá-uaçurã/vua-ouassouran (Phaseolus spp.), camendagora (Fabaceae),
(N.I.), ivá-menbec/vua-membec (Campomonesia iá (Lagenaria siceraria), sapucaia (Lecythis
sp.), coupuí-aiup (N.I.); acajá/acaiá (Spondias sp.), pisonis), araçarainha (N.I.), jenipapo (Genipa
jarandá/yacaranda (N.I.), umbu/onbou (Spondias americana), ibonguiva (Pachira aquática Aubl.),
tuberosa), apajurá/paioura (Couepia sp.), uvá- amingua (Duguetia sp.), iaraquatica (Jacaratia
cave/vua-caue (Myrtaceae), pitom (Talisia sp.), uvaixainha (Eugenia sp.), aracá (Psidium
esculenta), avenonbui-acaju/auenonbouih-acaiou sp.), quaiú (Anacardium occidentale), paquory
(Calophyllum brasiliense Cambess.), iachicha/ (Mammea americana L.), murici (Byrsonimia
yachichá (Eugenia sp.), cajueêm (Myrtaceae), sp.), caia (Spondias sp.), cinco castas de quiinha
macajé-iva/maukaié-vue (Couma Utilis (Mart.) (Capsicum sp.), maraquiaia-açu (Passiflora sp.),
Müll.Arg.), uagiru/ouagirou (Chrysobalanus maracujaí (Passiflora sp.), maroguoauomerim
icaco), moreci/morecy (Byrsonimia sp.), amiiu/ (Passiflora sp.), inambucaru (Passiflora sp.),
amyou (Lucuma caimito), mururé/mourouré ubapeva (Passiflora sp.), maracujá (duas espécies)
(N.I.), uiá-ojiú/vua-oyiou/uyua-yyiu (Eugenia (Passiflora spp.), (Passiflora sp.), mamão (Carica
sp.), uiá-pirip/vua-pirub (Campomonesia sp.), papaya), pacoveira (Musa sp.), biriba (Annona
omei/onemery (Poraqueiba sp.), araça/arasa mucosa), araçá-açu (Psidium sp.), araçá-una
(Psidium sp.), uiti/outy (Licania sp.), pequeí/pekey (Psidium sp.), pindobaíte (Attalea sp.), anai
(Caryocar sp.), jutaí/ioutay (Hymenea sp.), jatá- (Attalea sp.), tucum (Bactris sp.), moreti (Mauritia
iva/yata-vua (Hymenea sp.), ingá (Inga sp.), ananás flexuosa), comanacaru (Cereus sp.), mangaveira
(Ananas comosus), caruatá/karouata (Bromelia cf. (Hancornia speciosa), sequeriba (Protium sp.),
antiacantha.), jaramacuru/yarammacarou (Cereus anhaúba (Bertholetia excelsa Bonpl.) e ananás
cf. jamaracu), giromon (Cucurbita cf. maxima), (Ananas comosus).
taker/kaker (Cucurbita cf. moschata), ivá-eém/
vua-éen (Citrulus vulgaris), comandá-açu/ Jorge Marcgrave (1610, Alemanha - 1644,
commanda (Fabaceae), comanda-mirí (Fabaceae), Angola).
jeteich/yeteuch/patate (3) (Ipomoea batatas), Guilherme Piso (1611, Holanda - 1678, Holanda).
cará (Dioscorea sp.), taiáiaçu (Xanthossoma Marcgrave e Piso foram responsáveis pela
sp.), maduí/mandou (Arachys hypogea), manioc/ primeira publicação de cunho científico sobre o

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


Plantas comestíveis no Brasil dos séculos XVI e XVII 9 de 16

Brasil. Naturalistas, vieram ao nordeste do país pompoen (Cucurbita cf. moschata), melão
na comitiva do Brasil Holandês de Maurice de (Cucumis melo), curuba/curuá (Sicania odorifera)
Nassau entre 1638 e 1644. Na “Historia naturalis cará/inhame-de-são-thomé/quiquoaquicongo
brasiliae” (1648), descrevem animais, plantas, (Dioscorea cf. trifida L.f.), maniiba/amdijba/
doenças e remédios (Piso 1848; Marcgrave 1943; mandioca (9) (Manihot esculenta), maniçoba/
Piso 1957; Liechtenstein 1961; Pickel 2008; mandijba (Manihot sp.), mundubi (Arachis
Medeiros & Albuquerque 2014; Dantas et al. hypogaea), comanda-guira (Cajanus cajan), umari
2017). (Geoffroea spinosa), jetaiba (Hymenaea sp.),
Marcgrave e Piso listam 117 plantas ingá (Inga sp.), mandatia (Lablab purpureus (L.)
comestíveis, incluindo: caponga (Sesuvium Sweet), ietropé (Pachyrizus sp.), ibiruba (Eugenia
portulacastrum (L.) L), caruru/bredo (Amaranthus cf. brasiliensis), mandubi-d’angola (Vigna
sp.), perexil (Blutaparon vermiculare (L.) Mears), subterrânea (L.) Verdc.), guando (Phaseolus
caciaiba/acaiuiba (Anacardium occidentale), lunatus), cumanda-miri (Phaseolus vulgaris),
aroeira (Schinus terebenthifolius Raddi), acaia/ cumanda-guaçu (Canavalia ensiformis (L.)
ibametara (Spondias purpurea L.), umbu DC), mucuna-guaçu (Dioclea sp.), tamarando.
(Spondias tuberosa), copiiba (Tapirira guianensis iutay (Tamarindus indica), aglutiguepo-obi/
Aubl.), araticu-ponhe (Annona sp.), araticum-apê acutitiguepo/cotitepooba (Heliconia sp.),
(Annona sp.), mangabiba/mangaiba (Hancornia ibapurunga (Vitex sp.), iaçapucaya (Lecythis
speciosa), nhambi (Eryngium foetidum), pequeá pisonis), mureci/mureci-petinga/mureci-guacú
(Macoubea guianensis ou Caryocar sp.), (4) (Byrsonima sp.), quigombó/quilombo/
taioba (Xanthossoma cf. violaceum), taioba malva-moscada (Abelmoschus sp.), tamoatarana
(Xanthossoma cf. sagittifolium), aniga-iba (Maranta sp.), caaghiyuyo (Clidemia hirta
(Montrichardia linifera (Arruda) Schott), pindoba/ (L.) D.Don), curuiri (Mouriri pusa), muira
inaia/pindova (Attalea oleifera), inaia-guacuiba/ (Henriettea succosa (Aubl.) DC.), tataiiba
coqueiro (Cocos nucifera), carna-iba/ananá-chi- (Maclura tinctoria), pacoeira/quibuaaquitiba
carirí (Copernica prunifera (Mill.) H.E.Moore), (Musa paradisiaca), ibabiraba (Campomaneisa
aririr/brejauba/airi (Astrocaryum aculeatissimum), sp.), ibipitanga/ubapitanga (Eugenia uniflora
tucum (Astrocaryum vulgare), pindoba/inaiá L.), araça-miri (Psidium araca); araça-iba/
(Attalea compta), tamara (Phoenix dactylifera), araça-guaçú (Psidium guineense), guayaba/
ioçara/palmito-doce (Euterpe edulis Mart.), miriti granaet-peeren (Psidium guajava), cambui
(Mauritia flexuosa), aqué/catolé (Syagrus comosa (Myrtaceae), iabuticaba (Plinia cauliflora (Mart.)
(Mart.) Mart.), urucuriiba/urucury (Syagrus O.Berg.), golfo (Nymphaea amazonum Mart.
coronata), iraibá (Syagrus oleraceae (Mart.) & Zucc.), murucujá (Passiflora cincinnata),
Becc.), maraiáiba (Arecaceae), cuite/cochine murucuia-guaçu/gauinumbi-acaiuba (Passiflora
(Crescentia cujete L.), urucu (Bixa orellana quadrangularis), murucuia (Passiflora alata),
L.), nana/ananás (Ananas comosus), nanabrava/ sésamo/gangila/girgilim (Sesamum indicum),
caraguatá-acanga (Bromelia sp.), iamacarú/ nhandú/betre (Piper marginatum Jacq.), vubae/
cardon/caxambu (Cereus jamacaru DC.), tacomaree (Saccharum officinarum), caaponga
iamacarú (Cactaceae), iamacarú (Brasilipuntia (Portulaca oleracea), ianipaba/ienipapo (Genipa
brasiliensis Willd. A.Berger), iamacarú (Cereus americana), limão-galego (Citrus aurantifolia),
fernambucencis Lem.), meerú (Canna indica nhua/pitoma (Talisia esculenta), guiti-toroba/
L.), tapiá (Crataeva tapia L.), mamoeira/ steen-appel (Pouteria grandiflora (A.DC.)
papay/mamão/pinoguaçu (Carica papaya), Baehni), guyti-iba (Licania sp.), maçarandíba
iaracatiá (Jaracatia spinosa), guaieru/guajeru (Manilkaria salzmanni (A.DC.) H.J.Lam.), taquera
(Chrysobalanus icaco), guitiiba (Couepia rufa), (Lagenaria sicenaria), quiya-uçu/pimenta-
micambe-de-angola (Cleome cf. pentaphylla L.), grande/pimentões (Capsicum sp.), quiya-cumari/
coapoiba/pao-gamelo (Clusia nemorosa G.Mey.), quiyaquia/pimenta-malagueta (12) (Capsicum
ibacuri-pari (Platonia insignis Mart.), ibacuri-pari spp.), camarú (Physalis sp.), iuati (Solanum
(Garcinia macrophylla Mart.), guaiacum/ibiraée agrarium), belingela/macumba/tongu (Solanum
(Pradosia sp.), ietica/ quiquoaquianputu/ batata/ melongena), acetosa (Talinum paniculatum (Jacq.)
omenapó-yeima/ pararo (3) (Ipomoea batatas), Gaertn.), ambaíba (Cecropia sp.), caraguatá (N.I.),
jaee/balancia (Citrulus lanatus), pepino-silvestre- jua-umbu (Ximenia americana L.) e uma erva
do-brasil (Cucumis cf. anguria L.), iurum/bóbora/ (N.I.).

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


10 de 16 Tomchinsky B & Ming LC
Gaspar Barléu (1584, Holanda - 1648, ?). sp.), pinheiros-brasílicos (Araucaria angustifolia),
Historiador e teólogo, veio ao Brasil holandês pitangueira (Eugenia uniflora), pitombeira (Talisia
de Maurice de Nassau. Escreveu sua obra baseado esculenta), tajóba (Xanthossoma sp.), taratinho
nas conquistas da Holanda nas Américas e na África (N.I.), umbu (Spondias tuberosa) e vinho (Vitis sp.).
narrando batalhas, geografia e costumes locais
(Barléu 1940). Plantas mais citadas
Barléu cita 34 plantas comestívies: banana/ Ao todo, nas obras dos 18 autores estudados,
pacoba (Musa sp.), acajá (Anacardium occidentale), foram levantadas 827 citações de plantas comestíveis
açúcar (Saccharum officinalis), ananases (Ananas disponíveis no Brasil nos séculos XVI e XVII. Foi
comosus), batata-doce (Ipomoea batatas), possível identificar 183 espécies pertencentes a 61
cocos (Arecaceae), feijoal (Phaseolus sp.), famílias botânicas; de 37 citações não foi possível
gengibre (Zingiber officinale), jenipapo (Genipa chegar a nenhuma aproximação botânica (Apêndice
americana), laranja (Citrus sinensis), limão (Citrus 1, disponibilizado no link <https://doi.org/10.6084/
limon), mandiocal (Manihot esculenta), maracujá m9.figshare.8765492.v1>).
(Passiflora sp.), melância (Citrulus vulgaris), As famílias com maior número de citações
melão (Cucurbita melo), milho (Zea mays), pepinos foram a Areaceae, seguida pela Fabaceae,
(Cucumis sativus), pimenta (Capsicum sp.), Cucurbitaceae, Poaceae, Solanaceae, Myrtaceae
sapucaia (Lecythis pisonis), taioba (Xanthossoma e Rutaceae. Estas famílias também correspondem
sp.) e uva/vinha (Vitis sp.), limão-grande (Citrus a algumas das com maior número de espécies
sp.), limão-doce (Citrus sp.), romã/romeira (Punica ocorrendo no Brasil (BFG 2018). Já Rutaceae e
granaturm), mamão (Carica papaya), mangabeira Poaceae, que também estão entre as mais citadas,
(Hancornia speciosa), uvalheira (Eugenia sp.), possuem entre seus representantes diversas
palmeiras (Arecaceae), pitangeiras (Eugenia sp.), espécies com origem exótica do Brasil.
araticuns (Annona sp.), jamacarus (Cereus sp.), Seguindo o principio de que as espécies mais
tamarindeiros (Tamarindus indica), castanheiros salientes e citadas por um maior número de autores
(N.I.) e tamareiras (Phoenyx dactylifera). seriam as mais relevantes para a população local, é
possível afirmar que a mandioca, citada em todos
Simão de Vasconcelos (Portugal, 1597 - ?, 1671). os trabalhos estudados, era a planta mais importante
Religioso, sua obra “Noticias curiosas e na alimentação do Brasil do século XVI/XVII. Em
necessárias das coisas do Brasil” publicada em sequência aparecem como mais citadas o abacaxi,
1668, aborda a história da América portuguesa, mas batata-doce e jenipapo, citadas em 13 trabalhos
ainda é pouco estudada em comparação as demais cada uma; feijões/favas, banana e pimentas, citadas
obras (Vasconcelos 1668). em 12 trabalhos cada; caju, taias/taiobas, inhames
São citadas 41 plantas: acayá/caju (Dioscorea), sapucaia, cana-de-açucar e milho em
(Anacardium occidentale), açúcar (Saccharum 11 trabalhos cada; e mangaba, laranja, maracujás e
officinalis), ananás (Ananas comosus), araçazeiro uvas em nove trabalhos.
(Psidium sp.), araticum (3) (Annona sp.), aypi/ É possível que algumas espécies pouco
mandioca (Manihot esculenta), bachoripari citadas também tinham na época grande importância
(Garcinia sp.), batata/jetica (Ipomoea batatas), econômica regional, mas não tiveram destaque
cajazeiros (Spondias mombin), canafistulas- neste trabalho por não serem frequentes nos
horteses/bais (N.I.), canelas (N.I), sapucaya ambientes descritos pelos autores estudados. Desta
(Lecythis pisonis), cará (Dioscorea sp.), forma, são pouco citadas espécies de ocorrência
çaragoçanas (N.I.), cagaguata (Bromelia sp.), exclusiva na Amazônia, nos Pampas e no Pantanal,
gengibre (Zingiber officinale), goiabeira (Psidium em comparação com espécies de ocorrência na
guayava), guta (N.I.), iaboticaba (Myrcia sp.), Caatinga, na Mata Atlântica ou no Cerrado, biomas
iamacarú/urumbeba (Opuntia sp.), iapinabeiro onde estes autores estiveram. Neste sentido, o
(Genipa americana), ibicuybas/nóz-moscada umbu (Spondias tuberosa) e a carnaúba (Copernica
(Myristicaceae), igbánemixama (Eugenia sp.), prunifera), endêmicas da caatinga e do nordeste, só
inhame (Dioscorea sp.), mangabeira (Hancornia aparecem em trabalhos de autores que estiveram
speciosa), mangará (Xanthossoma sp.), maracujá nesta região; enquanto a castanheira (Bertolhettia
(Passiflora sp.), milho (Zea mays), mocujé (Couma excelsa) está apenas no trabalho de Frei Cristovão
rigida), pacoba/bananeira (Musa sp.), palmeiras Lisboa, que realizou incursões na região amazônica
(Arecaceae), quatro tipos de pimentas (Capsicum a partir de Belém do Pará. Já a araucária (Araucaria

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


Plantas comestíveis no Brasil dos séculos XVI e XVII 11 de 16

angustifolia) é citada por autores que estiveram taias/taiobas, a mangaba e os inhames (Dioscorea)
nas regiões meridionais do Brasil, como José de são sencontradas apenas regionalmente hoje em
Achienta, Vicente Salvador, Fernão Cardim e dia (Brasil 2015). Outras espécies nativas menos
Simão de Vasconcelos. Outro fator que deve ser citadas raramente são encontradas em mercados.
considerado é que estes autores estabeleceram
contato principalmente com indígenas do tronco Categorias de plantas comestíveis
Tupi-Guarani e Macro-Gê (Tapuias) que ocupavam As plantas estudadas foram separadas em
na época a faixa litorânea do Brasil (Ribeiro 2009), diferentes categorias de acordo com a forma de
o que possivelmente influênciou na saliência das consumo (hortaliças, condimentos, in natura,
plantas nativas mais citadas e que deviam estar na bebidas) e a parte utilizada (raízes, caule e folhas
dieta destas populações. e frutos e sementes). As raízes cultivadas possuíam
Fatores como o cultivo e a acessibilidade grande importância na alimentação da época, com
a estas plantas também podem ter influenciado a mandioca, a batata-doce, as Xanthossoma spp.,
na saliência das espécies citadas. Entre as 23 o cará e o umbu (que fornece raízes em épocas
mais citadas, apenas uma não era cultivada, de escassez, além de seus frutos), entre as plantas
evidenciando como este fator (cultivo) está mais citadas.
diretamente relacionado a acessibilidade, uso Os frutos consumidos crus (in natura),
e saliência das plantas citadas. Neste sentido, representados por diversas espécies da família
também é interessante considerar o número de Myrtaceae, Anacardiaceae, Annonaceae, Arecaceae,
variedades citadas de cada planta. Provavelmente, entre outras, também tinham grande importância
espécies com um maior número de variedades para a alimentação da população local. Entretanto,
eram cultivadas, estavam num processo mais com raras exceções, como o jenipapo, o cajueiro
avançado de domesticação e possuíam maior e a mangaba, as frutíferas nativas e arbóreas eram
importância local. Desta forma, as pimentas do menos cultivadas em comparação a outras plantas
gênero Capsicum, os feijões/favas, a batata-doce, nativas e herbáceas, como as raízes comestíveis já
o cajueiro, abóboras, milhos, tubérculos do gênero citadas e as pimentas do gênero Capsicum. Também
Xanthossoma e Dioscorea e a mandioca deveriam é possível observar que as espécies exóticas eram
estar entre as plantas mais importantes para a mais cultivadas do que as nativas, até mesmo por
população brasileira no período, já que possuíam que sua introdução dependia do seu cultivo.
um maior número de variedades, segundo os De forma isolada, a única hortaliça folhosa
autores estudados. nativa consumida, ainda que não crua, era a taioba
É importante considerar que cada autor (Xanthossoma spp.). São ainda indicados como
estudado possuia objetivos específicos com seus hortaliças os bredos e beldroegas (Amaranthus
textos. Gabriel Soares Souza escreveu sua obra sp. e Portulaca olercacea) e outras espécies com
para enaltecer as riquezas do Brasil com a intenção menos citações, porém é difícil contextualizar se
de conseguir empréstimos junto à metrópole para sua introdução ou consumo foram realizadas pelos
seus empreedimentos no Brasil e desta forma se europeus ou se já eram realizados pela população
dedica a descrever o maior número de espécies nativa. Katz et al. (2012) observaram que ainda hoje
nativas que consegue. Já Piso e Marcgrave, como o consumo de hortaliças é escasso entre populações
naturalistas, enfocam sobre espécies nativas e seus indígenas da região amazônica.
diversos usos. Por sua vez, José Anchieta e Manoel Com exceção das pimentas do gênero
da Nobrega não tinham como interesse prioritário Capsicum, poucas outras plantas são citadas como
descrever a natureza do Brasil, mas sim a sua condimento pelos autores estudados, assim como
população, costumes e religiosidade, e citam uma observa Cascudo (2011). Hans Staden descreve
maior quantidade de plantas exóticas. os diversos usos das pimentas Capsicum, suas
Entre as plantas com maior destaque, a variedades, seu preparo em pó e o uso do sal
sapucaia, que é citada por 11 autores e ocorre em elaborado com as cinzas de uma palmeira, a qual
praticamente todos os biomas do país (Flora do o consumo excessivo, observa, torna as pessoas
Brasil 2016), foi uma das que aparece em maior doentes. Thévet também descreve o processo de
desuso, sendo praticamente impossível encontrá- obtenção do sal, por meio da evaporação da água
la atualmente em mercados ou na natureza, seja marinha, que era misturada com a pimenta pilada
por esquecimento ou pela devastação das matas para tempero. Entretanto, ele faz ressalva de que
onde ocorria. Entre as mais citadas, o jenipapo, as entre os negociantes europeus o pimentão tinha valor

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


12 de 16 Tomchinsky B & Ming LC
apenas para a tinturaria. Outra planta condimentar, Quanto ao preparo de doces e sobremesas
citada por quatro autores, é o jambug/jambig com o emprego de diversos frutos e raízes e a
(Eryngium foetidum), que teria a propriedade de adição de açúcar, parece que foi uma tradição
“queimar” a língua, além de atributos medicinais. europeia a partir da introdução da cana-de-açúcar
Brandão faz menção ao potencial aromático da e a instalação de engenhos no nordeste do país
envira (Xylopia sp.), enquanto Gabriel Soares (Antonil 1982; Freyre 1997; Cascudo 2011).
Sousa descreve árvores que crescem nas florestas Brandão, Piso e Marcgrave mencionam
semelhantes a noz-moscada. Frei Lisboa ainda algumas plantas consumidas exclusivamente em
indica o maraquaia-açu (Passiflora sp.), que diz período de escassez, incluindo a raíz da mucuna
que é cheia de um licor e pimenta muito azeda que (Fabaceae), macambira (Bromeliaceae), folhas da
servia para fazer vinagre para comer com peixe. Já mandioca, Montrichardia linifera, umari (Geoffrea
Piso e Marcgrave fazem mais menções a plantas spinosa), raíz do umbu e a raiz de uma Heliconia,
condimentares nativas, seu potencial aromático algumas das quais exigiam preparo específico para
e na conservação de alimentos como a Xylopia permitir seu consumo.
sp., o Schinus sp. e Piper marginatum, além das Alguns autores também faziam distinção
pimentas Capsicum. entre as plantas de acordo com a sua origem ou
Talvez este pouco interesse português ao grupo que fazia o seu consumo. Gabriel Soares
pelas plantas condimentares do Brasil tenha sido Sousa chama as hortaliças europeias de frutos do
motivado pelo fato de que Portugal se dedicava a reino. Marcgrave e Piso distinguem sete plantas
época do comércio com as Índias, quando ainda consumidas e introduzidas pelos escravos de
detinha este monopólio das especiarias. Neste origem africana, além de outras 21 indicadas como
período a metrópole proibia o cultivo no Brasil de de consumo exclusivo dos indígenas.
qualquer especiaria que viesse a concorrer com os Muitas das plantas citadas estão em desuso
seus produtos asiáticos (Kury 2013). Gabriel Soares e esquecimento, sendo apresentadas como
Sousa relata que o cultivo de gengibre era proibido comestível apenas nestes trabalhos estudados e sem
no Brasil pela coroa portuguesa. outras referências em publicações mais recentes
Outra categoria de uso citada frequentemente consultadas. É possível que alguns dos fatores
é de bebidas alcoólicas e vinhos elaborados que tenham possibilitado este processo foram
com a fermentação de diversos tipos de plantas, a substituição das plantas nativas por espécies
incluindo a mandioca, batata-doce, milho, caju, exóticas ou cultivadas, a homogeneização da dieta
frutíferas e palmeiras, sendo uma forma popular da população, a modificação e o desmatamento das
de consumo entre a população local. Seria possível áreas de ocorrência destas plantas, ou ainda que o
aprofundar a discussão sobre a importância consumo delas estavam relacionados a momentos
histórica do consumo de bebidas fermentadas específicos e de dificuldade. Ao mesmo tempo
em comunidades tradicionais do Brasil, já que algumas espécies apresentadas em outras categorias
estas podem estar relacionadas a festividades e e não como comestíveis nos trabalhos estudados,
atividades de socialização (Albuquerque 2011; como o urucum (corante e medicinal), a Acmella
Almeida 2015), além de permitir o consumo de (medicinal) e o Hibiscus sabdarifera (medicinal),
alimentos potencialmente tóxicos (mandioca), atualmente são importantes na culinária regional
facilitar a sua digestão e garantir sua inocuidade brasileira (Brasil 2015), demonstrando como este
(Marsh et al. 2014). processo histórico é complexo e dinâmico.
É interessante observar que algumas espécies,
apesar de conhecidas por mais autores, não eram Origem das plantas citadas
reconhecidas como comestível por todos. O Foi possível identificar a origem de 183
urucum é mencionado em diversas obras, mas espécies levantadas neste trabalho; destas, 14
aparece indicado como comestível apenas por (8%) são endêmicas do Brasil, 97 (55%) são
Piso e Marcgrave. Outras plantas que aparecem nativas das Américas, ocorrendo naturalmente
desta forma são Eryngium foetidum, Lagenaria no Brasil e/ou em outros países do continente,
sicenaria, Lippia spp. e a Crescentia cujete, e 65 (37%) são exóticas das América. Apesar
descritas por diversos autores, mas citadas em desta generalização para espécies americanas, é
outras categoria de uso que não alimentícia, possível observar que algumas destas, com origem
sugerindo que o uso destas plantas variou ao longo fora do atual território brasileiro, incluindo a
do tempo e de região para região. batata-doce, nativa da América Central e Oeste

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


Plantas comestíveis no Brasil dos séculos XVI e XVII 13 de 16

da América do Sul, o milho, nativo da América de Berlanga na Ilha de Hispañola (São Domingos)
Central, algumas espécies de Capsicum, abóboras em 1516 (Langdon 1993). Gandavo via nela o sinal
e os feijões (Phaseolus vulgaris), aparecem com da cruz e dizia que a presença da bananeira no Brasil
destaque desde os primeiros trabalhos, sugerindo era um sinal de que aquela terra era parte do paraíso
sua introdução durante o período pré-colombiano. bíblico. Algumas plantas exóticas, como a própria
Estudos linguísticos com diversas “proto-línguas” bananeira e a cana-de-açúcar, ganharam tamanha
americanas mostram que o milho, o feijão e as importância que foram incorporadas na mitologia
pimentas Capsicum já estavam bem distribuídos e cosmologia de alguns povos indígenas (Albert &
em todo o continente americano no período pré- Milliken 2009; Kopenawa & Albert 2015).
colombiano (Brown et al. 2013, 2014a,b). Também A partir dos relatos estudados é possível
foram encontradas evidências paleobotânicas do identificar em qual período cada espécie exótica
cultivo de milho na Amazônia peruana há mais de foi introduzida no país (Tab. 1). Com esta
6.000 anos atrás (Bush et al. 2016). Todos estes cronologia, observamos que várias plantas exóticas
indícios comprovam o complexo e intenso sistema (extraamericanas) já haviam sido introduzidas pelos
de trocas entre populações indígenas que habitavam europeus até o final do século XVI. Entretanto,
o continente americano, conforme apontou Mann é necessário ponderar que com esta análise não
(2005). é possível precisar em qual evento cada espécie
É interessante observar que muitas espécies foi introduzida, até porque durante este período
exóticas foram introduzidas ao longo dos primeiros diversas embarcações portuguesas e de outras
anos de colonização europeia e alcançaram papel nações margeavam a costa brasileira (Belluzzo
importante na economia e cultura local (Tab. 1). A 2000; Maranhão 2011; Kury 2013). É consenso
bananeira (Musa sp.) originária do sudeste asiático que a primeira missão colonizadora portuguesa no
e introduzida ao longo das primeiras décadas de Brasil com o intuito de ocupar de forma sistemática
colonização teve rápida dispersão em todo o Brasil o território brasileiro foi realizada por Martim de
e chegou a ser considerada nativa por alguns dos Lopes Sousa entre 1530 e 1532, quando foram
primeiros cronistas. O registro mais antigo da trazidas várias espécies exóticas para aclimatação
bananeira nas Américas foi realizado por Frei Tomás e cultivo no Brasil (Maranhão 2011).

Tabela 1 – Primeira citação de espécies exóticas das Américas no Brasil.


Table 1 – First citation of exotic plants introduced in Brazil.
Ano do trabalho e autor Plantas
1548 (Manuel da Nobrega) Citrus sinensis; Saccharum officinarum; Citrus limon; Citrus medica; Vitis sp.; Ficus carica
1553 (José de Anchieta) Cucumis melo; Cucumis sativus; Lactuca sativa; Brassica oleracea var. acephala; Brassica
napus; Citrus aurantiifolia; Petroselinum crispum; Lens culinaris; Cicer arietinum; Vicia faba
1555 (André Thévet) Musa sp.
1556 (Jean Léry) Triticum aestivum; Secale cereale; Lagenaria siceraria; Ocimum basilicum
1576 (Pero de M. Gandavo) Oryza sativa; Punica granatum
1564 (Vicente do Salvador) Coriandrum sativum; Mentha sp.; Citrullus lanatus; Zingiber officinale; Beta vulgaris;
Anethum graveolens; Borago officinalis; Cydonia oblonga; Satureja hortensis
1565 (Gabriel Soares Sousa) Foeniculum vulgare; Cocos nucifera; Solanum melongena; Daucus carota; Cichorium
intybus; Nasturtium officinale; Ocimum gratissimum; Citrus limonia; Citrus aurantium;
Allium cepa; Allium sativum; Brassica sp.; Spinacia oleracea; Phoenix dactylifera; Raphanus
sp.; Mentha pulegium
1582 (Ambrósio F. Brandão) Pisum sativum; Sesamum indicum; Cajanus cajan; Abelmoschus esculentus; Tamarindus
indica; Lupinus sp.; Pennisetum sp.; Citrus maxima
1583 (Fernão Cardim) Allium schoenoprasum; Hordeum vulgare; Apium graveolens
1638 (Marcgrave e Piso) Lablab purpureus; Vigna subterranea

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


14 de 16 Tomchinsky B & Ming LC
Manuel da Nobrega em 1548 foi o primeiro das espécies citadas caíram em desuso e raramente
autor a descrever uma grande quantidade de são encontradas nas regiões de origem. É possível
espécies exóticas (extra-americanas) no país. que novos estudos sobre os trabalhos analisados
Existem registros do cultivo de trigo e marmelo tragam outras informações para contribuir com
na província de Piratininga (atual cidade de São este debate.
Paulo), que teriam sido os primeiros produtos de
exportação de São Paulo para outras regiões do Agradecimentos
país. Já a uva era cultivada no nordeste e sudeste Agradecemos à CAPES a bolsa de
com até três colheitas em um ano, de acordo Doutoramento do primeiro autor e ao CNPq a bolsa
com as podas realizadas na cultura, segundo de Produtividade outurgada ao segundo autor.
exalta Ambrósio Fernandes Brandão. Estas Agradecemos também as preciosas colaborações
informações revelam que naquela época já havia dos revisores e editores destacados para o processo
uma agricultura sofistica baseada em espécies de avaliação e editoração deste artigo.
exóticas e adaptada às condições climáticas
brasileiras. Referências
Do mesmo modo que várias espécies
Albert B & Milliken W (2009) Urihi A: a terra-floresta
exóticas foram introduzidas no continente Yanomami. Instituto Socioambiental, São Paulo.
americano durante o intercâmbio promovido pelos 207p.
colonizadores europeus, espécies americanas Albuquerque MBB (2011) Beberragens tupinambá e
também foram transportadas para outras regiões processo educativos no Brasil colonial. Educação
do mundo, onde assumiram importante papel em Revista 27: 19-44.
econômico e cultural (Crosby 2003; Mann 2011; Almeida FO (2015) A arqueologia dos fermentados:
Laws 2015). A “Summa de árvores e plantas da a etílica história dos Tupi-Guarani. Estudos
índia intra Gázes”, do início do século XVII e de Avançados 29: 87-118.
autoria de Manuel Godinho de Erédia, ilustra o Antonil AJ (1982) Cultura e opulência do Brasil. Editora
cajueiro, a papaya, a goiaba e o ananaz, todas de Itatitiaia, Belo Horizonte. 214p.
Barléu G (1940) História dos feitos recentemente
origem americana, na flora Malaia (Kury 2013)
praticados durante oito anos no Brasil e noutras
enquanto a “Flora sinensi” de 1.656, também
partes sob o governo do ilustríssimo João Maurício
lista estas mesmas espécies ocorrendo na China Conde de Nassau. Ministério da Educação, Rio de
(Michael 1656). Janeiro. 435p.
Belluzzo AMM (2000) O Brasil dos viajantes.
Conclusões Metalivros, São Paulo; Editora Objetiva, Rio de
Este trabalho permite resgatar aspectos sobre Janeiro. 192p.
a alimentação da população brasileira dos séculos Brandão AF (1997) Diálogos das grandezas do Brasil
(1618). FUNDAJ, Editora Massangana, Recife.
XVI e XVII a partir dos trabalhos estudados.
242p.
Cada obra analisada traz abordagens distintas de
Brasil (2015) Alimentos regionais brasileiros. Ministério
acordo com seus autores. De modo geral, havia da Saúde, Brasília. 484p.
durante os séculos XVI e XVII o uso de uma Brown CH, Clement CR, Epps P, Luedeling E &
grande diversidade de plantas na alimentação Wichmann S (2013) The paleobiolinguistics
dos brasileiros, incluindo ao menos 183 espécies of domesticated chili pepper (Capsicum spp.).
vegetais, das quais 55% eram nativas do Brasil, Ethnobiology Letters 4: 1-11.
com destaque para a mandioca, abacaxi, jenipapo, Brown CH, Clement CR, Epps P, Luedeling E &
caju, taiobas, carás e sapucaia, além das americanas Wichmann S (2014a) The paleobiolinguistics of
e naturalizadas batata-doce, pimentas Capsicum, maize (Zea mays L.). Ethnobiology Letters 5:
feijões e milho, e das exóticas cana-de-açúcar 52-64.
e bananeira. Durante este período ocorreu um Brown CH, Clement CR, Epps P, Luedeling E &
Wichmann S (2014b) The paleobiolinguistics
grande intercâmbio de plantas com outras regiões
of the commom bean (Phaseolus vulgaris L.).
do mundo promovido pelos europeus. Também foi Ethnobiology Letters 5: 104-115.
possível constatar que já havia no Brasil diversas Caminha PV (1876) A carta de achamento do Brasil.
espécies exóticas do país e nativas das Américas já Manuscrito do Barão de Santa Angelo. 27p.
cultivadas e naturalizadas, evidenciando a intensa Caminha PV (1977) A carta de Pero Vaz de Caminha.
troca entre as populações durante o período pre- Comentada por Prado JFA. Editora Agir, Rio de
colombiano. Por fim podemos observar que muitas Janeiro. 114p.

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


Plantas comestíveis no Brasil dos séculos XVI e XVII 15 de 16

Caminha PV (1999) Carta a el rey D. Manuel. Transcrita Kury LB (2013) Uso e circulação de plantas no Brasil
e comentada por Villela MA. Ediouro, São Paulo. - Séculos XVI-XIX. Andrea Jakobson, Rio de
97p. Janeiro. 324p.
Cardim F (1978) Tratado da terra e gente do Brasil (1583- Langdon R (1993) The banana as a key to early American
1601). Traduzido e comentado por de Caetano B, and Polynesias history. The Journal of Pacific
Abreu C & Garcia R. Editora Nacional, São Paulo. History 28: 15-35.
259p. Laws B (2015) Fifty plants that changed the course of
Cascudo C (2011) História da alimentação no Brasil. history. Firefly books, Richmond Hill. 224p.
Editora Global, São Paulo. 972p. Léry J (1961) Viagem à terra do Brasil. Editora Biblioteca
Clement C (1999) 1492 and the loss of amazonian crop do Exército, Rio de Janeiro. 250p.
genetic resources. Economic Botany 53: 188-202. Léry J (1967) Viagem à terra do Brasil. Livraria Martins,
Crosby AW (2003) Colombian exchange: biological São Paulo. 279p.
and cultural consequences of 1492. Greenwood Lichtenstein MHK (1961) Estudo crítico dos trabalhos de
Publishing Group. 282p. Marcgrave e Piso sobre a história natural do Brasil a
D’Abeville C (1874) História da missão dos padres luz dos desenhos originais. Brasiliensia Documenta,
capuchinhos na ilha do Maranhão e suas São Paulo. 305p.
circunvizinhanças. Typ. do Frias, São Luiz do Lisboa FC (1985) História dos animais e árvores do
Maranhão. 459p. maranhão (1625-1631). Editora Alambra, Rio de
D’Abeville C (1975) História da missão dos padres Janeiro. 204p.
capuchinhos na ilha do Maranhão e terras Mann CC (2005) 1491 Novas revelações das américas
circunvizinhas (1632). Editora Itatiaia, Belo antes de Colombo. Editora Objetiva, São Paulo.
Horizonte. 297p. 460p.
D’Abeville C (2002) História da missão dos padres Maranhão R (2011) Diários de navegação pero Lopes e a
capuchinhos na ilha do Maranhão e suas expedição de Martim Afonso de Sousa (1530-1532).
circunvizinhanças. Siciliano, São Paulo. 363p. Editora terceiro nome, São Paulo. 244p.
Dantas MKM, Santos CAG & Medeiros MFT (2017) Marcgrave J (1943) História natural do Brasil. Com
Reports of knowledge and the uses of cactaceae comentários de botânica de Sampaio AJ. Imprensa
species in the historia naturalis brasiliae (1648): Oficial do Estado, São Paulo. 293p.
comparative past-present analyses. Ethnoscientia Marsh AJ, Hill C, Ross RP & Cotter PD (2014)
2: 1-19. Fermented beverages vith health-promoting
Flora do Brasil (2016) Jardim Botânico do Rio de Janeiro. potential: past and future perspectives. Trends in
Disponível em < http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ >. Food Science & Technology 38: 113-124.
Acesso em 5 janeiro 2017 Medeiros MFT & Albuquerque UP (2014) Food
Freyre G (1997) Açúcar: uma sociologia do doce, com flora in the 17th century northeast region of
receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil. Cia. Brazil in Historia Naturalis Brasilae. Journal of
das Letras, São Paulo. 215p. Ethnobiology and Ethnomedicine 10: 50.
Gandavo PM (1980) Tratado da terra do Brasil. História Michael B (1656) Flora Sinensis, fructus floresque
da província de Santa Cruz (1576). Editora Itatiaia, humillime porrigens, [...] in publicum a R P
Belo Horizonte; Editora da Universidade de São Michaele Boym, [...],”. Disponível em <http://
Paulo, São Paulo.150p. neptun.unamur.be/items/show/1>. Acesso em 5
Gandavo PM (2008) Tratado da terra do Brasil e história janeiro 2017.
da província de Santa Cruz, a que vulgarmente Oliveira ML (2008) A história do Brasil de Frei Vicente
chamamos Brasil. Senado Federal, Brasília. 161p. Salvador: história e política no Império Português
Hoehne FC (1937) Botânica e agricultura no Brasil no do Século XVII. Editora Versal, Rio de Janeiro;
Século XVI. Cia editora nacional, São Paulo. 410p. Odebrecht, São Paulo. 585p.
INCT (2016) Herbário Virtual da Flora e dos Fungos. Peixoto AL & Escudeiro A (2002) Pachira aquática
disponível em <http://inct.florabrasil.net/herbario- (Bombacaceae) na obra “História dos animais e
virtual/>. Acesso em 20 dezembro 2016. árvores do Maranhão” de frei Critovão de Lisboa.
IPNI (2016) International Plants Names Index. Disponível Rodriguesia 53 (82): 123-130.
em <www.ipni.org>. Acesso em 14 dezembro 2016. Pickel BJ (2008) A flora do nordeste do Brasil segundo
Katz E, Léopez CL, Fleury M, Miller RP, Payê V, Dias Piso e Marcgrave no século XVII. EDUFRPE,
T, Silva F, Oliveira Z & Moreira E (2012) No greens Recife. 312p.
in the forest? Note on the limited consumption of Piso G (1957) História natural a médica da índia
greens in the amazon. Acta Societatis Botanicorum ocidental em cinco livro. Traduzido e anotado por
Poloniae 81: 283-293. Mário Lobo Leal. Ministério da Educação e Cultura,
Kopenawa D & Albert B (2015) A queda do céu: palavras Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro. 685p.
de um Xamã Yanomami. Cia. das Letras, São Paulo. Piso G (1848) História natural do Brasil ilustradas. Cia.
729p. Editora Nacional, Rio de Janeiro. 434p.

Rodriguésia 70: e03792017. 2019


16 de 16 Tomchinsky B & Ming LC
Ramanush N (2010) Nheegatu-tupi: vocabulário e Sousa PL (1839) Diário da navegação de Pero Lopes
gramática tupi-guarani. Editora STS, São Paulo. Souza. Typografia da sociedade propagadora dos
109p. conhecimento úteis, Lisboa. 130p.
Ribeiro B (2009) O índio na história do Brasil. Editora Staden H (1974) Duas viagens ao Brasil (1557). Editora
Global, São Paulo. 141p. Itatiaia, Belo Horizonte; Editora da Universidade de
Salvador V (1982) História do Brasil (1500-1627). Abreu São Paulo, São Paulo. 218p.
C, Garcia R, Willeke V (orgs.) Editora Itatiaia, Belo Staden H (1999) A verdadeira história dos selvagens,
Horizonte; Editora da Universidade de São Paulo, nus e ferozes devoradores de homem (1548-1555).
São Paulo. 437p. Dantes, Rio de Janeiro. 190p.
Serafim L (1954) Cartas do primeiros jesuítas do Brasil Staden H (2008) Duas viagens ao Brasil. Editora Itatiaia,
V1 (1538-1553). Comissão do IV centenário da Belo Horizonte. 215p.
Cidade de São Paulo, São Paulo. 576p. The Plant List (2016) Disponível em <www.theplantlist.
Silva TC, Medeiros PM, Balcázar AL, Araújo TAS, com>. Acesso em 15 dezembro 2016.
Pirondo A & Medeiros MFT (2014) Historical Thévet A (1944) Singularidades da França Antártica,
ethnobotany: an overview of selected studies. o que outros chamam América. Editora Nacional,
Ethnobiology and Conservation 3: 1-12. São Paulo. 502p.
Sousa GS (1987) Tratado descritivo do Brasil em 1587. Tropicos (2016) Missouri Botanical Gardens Database.
Comentada por Varganhagem FA. Editora Nacional, Disponível em <www.tropicos.org>. Acesso em 15
São Paulo. 389p. novembro 2016.
Sousa GS (2000) Tratado descritivo do Brasil em 1587. Vasconcellos PS (1668) Noticias curiosas e necessárias
Comentada por Varganhagem FA. Editora Itatiaia, das coisas do Brasil. Officina de Ioam da Costa,
Belo Horizonte. 302p. Lisboa. 289p.

Editora de área: Dra. Cristina Baldauf


Artigo recebido em 18/10/2017. Aceito para publicação em 26/04/2018.
This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License.

Rodriguésia 70: e03792017. 2019

Você também pode gostar