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XIII Encontro Nacional de Águas Urbanas

Outubro/2020 – Porto Alegre/RS

EFICIÊNCIA DE SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DA CHUVA


PARA DIFERENTES CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS BRASILEIRAS

Angélica Guimarães da Silva 1; Liriane Élen Böck2; Carla Fernanda Perius3; Rutineia Tassi4 &
Daniel Gustavo Allasia Piccilli5

RESUMO – A crescente necessidade de água para atendimento das demandas urbanas pode
ocasionar escassez na maioria dos países em pouco tempo, tornando-se essencial a gestão adequada
dos recursos hídricos. Uma das formas de reduzir esse impacto é a partir da adoção de sistemas de
aproveitamento de água da chuva (SAAC) para fins não potáveis (descarga em bacia sanitária,
irrigação, etc.). O Brasil, apesar de possuir grandes reservas aquíferas e índices pluviométricos
moderados, é bastante extenso e apresenta uma grande diversidade climática dentre suas regiões.
Neste estudo,foi avaliado como a eficiência de SAAC de 5 capitais brasileiras (Goiânia, João
Pessoa, Manaus, Porto Alegre e São Paulo) é influenciada pelas características da série de
precipitação e demandas, incluindo aquelas sazonais, como a irrigação. Verificou-se que, para as
mesmas características de área de captação e demandas, a sazonalidade do regime de chuva teve
alta influência no desempenho do SAAC, especialmente para a cidade de Goiânia, onde foram
obtidos os menores índices de eficiência. Ainda, a demanda exercida pela descarga de bacia
sanitária mostrou-se como elemento importante para a eficiência do SAAC em todas as capitais,
bem como demandas que estejam fortemente relacionadas a períodos sazonais como a irrigação.

ABSTRACT – The growing need for water to satisfy urban demands can cause water shortage in
most countries in a short time, making proper water resource’s management essential. One way to
reduce this impact is though the adoption of rainwater harvesting systems (RHS) for non-potable
purposes (flushing in the sanitary basin, irrigation, etc.). Brazil, despite having large aquifer
reserves and moderate rainfall, is quite extensive and has great climatic diversity among its regions.
In this study, it was assessed how the RHS of 5 Brazilian capitals (Goiânia, João Pessoa, Manaus,
Porto Alegre e São Paulo) is influenced by the characteristics of precipitation series and demands,
including seasonal ones, such as irrigation. It was verified that, for the specificities of demands and
catchment area, the seasonality of the rain regime had a high influence on the performance of RHS,
especially for the city of Goiânia, where the lowest efficiency rates were obtained. Moreover, the
demand exerted by the flushing of the sanitary basin proved to be an important element for the
efficiency of RHS in all capitals, as well as demands that are strongly related to seasonal periods
such as irrigation.

Palavras-Chave – Reaproveitamento de Água Pluvial, Método da Simulação, Cidades Brasileiras.

INTRODUÇÃO
O fornecimento de água para as demandas urbanas é um desafio complexo, devido à escassez
hídrica, o aumento das demandas por água e a variabilidade das mudanças climáticas (Lopes et al.,
2017; Iamteaz et al., 2011). A Agenda 2030 instituiu 17 objetivos para um desenvolvimento

1) Discente do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria. e-mail: silva.angelicaguimaraes@gmail.com
2) Discente do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria. e-mail: liriane.bock@gmail.com
3) Discente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria. e-mail: carlafperius@gmail.com
4) Docente do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria. e-mail: rutineia@gmail.com
5) Docente do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria. e-mail: dallasia@gmail.com
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sustentável, sendo que dentre suas metas inclui-se a gestão sustentável dos recursos naturais e
especialmente dos recursos hídricos (UNITED NATIONS, 2015).
Uma das formas de colaborar para a minimização desse impacto é através da utilização de
sistemas descentralizados de aproveitamento das águas pluviais, ou seja, a construção de
reservatórios para coletar e armazenar a água da chuva captada em superfícies de residências ou
prédios em geral, a qual pode ser utilizada para diversos fins dependendo de sua qualidade e
demanda (Ali et al., 2020; Alim et al., 2020; Dorneles et al., 2012). Em áreas urbanas, o potencial
de captação de águas pluviais é elevado, uma vez que grande parte dessas áreas são impermeáveis
(Mehrabadi et al., 2013). Ademais, a implantação de tais sistemas de coleta de água pluvial pode
contribuir em certos casos para a redução de inundações nas regiões urbanas.
O uso de água da chuva reduz as demandas por água potável (Chilton et al., 2000), visto que
os usos menos qualificados, como lavagem de carros, descargas de bacias sanitárias e irrigação de
jardins, podem ter como fonte a água pluvial (Gikas e Tsihrintzis, 2012). Além disso, a água pluvial
retida é uma alternativa de baixo custo, visto que contribui fortemente durante situações de falhas
em relação aos sistemas de abastecimento, bem como nos períodos de secas (Chilton et al., 2000;
Lopes et al., 2017).
Além desses benefícios serem bastante conhecidos, e a prática do SAAC ser incentivada, no
ano 2017 foi instituído o aproveitamento de águas pluviais como um dos objetivos da Política
Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), a partir da Lei n° 13.501/2017 (BRASIL, 2017), de forma
a reforçar ainda mais a necessidade de incitar essa prática. No entanto, investigações mais apuradas
acerca da variabilidade de tamanho dos reservatórios de armazenamento, como uma consequência
de características do regime pluviométrico ainda são pouco aprofundadas no Brasil.
Tendo em vista a influência da área de captação nos SAACs (Lopes et al., 2017; Perius,
2016), os efeitos das séries de demandas sobre a necessidade de armazenamento (Hentges, 2013;
Perius et al., 2015; Perius et al., 2019), sabendo que quanto maior a capacidade de retenção do
tanque, mais elevados serão os investimentos iniciais (Campisano et al., 2017; Moraes, 2014) e que
a variabilidade da chuva tem o efeito mais significativo na determinação do volume adequado de
armazenamento (Santos e Taveira-Pinto 2013; Okoye et al., 2015; Perius, 2016; Perius et al., 2016),
é importante determinar o volume de armazenamento de forma adequada, para que o sistema seja
eficiente e viável (Perius, 2016). Nesse sentido, a simulações dos SAAC, considerando diferentes
cenários, pode fornecer subsídios para tomada de decisão, a respeito da melhor estratégia a ser
utiliza na implementação deste tipo de prática (Santos e Taveira-Pinto, 2013).
Nesse trabalho, foi investigado por meio de simulação de diferentes cenários, como as
diferenças da sazonalidade da precipitação afetaram o desempenho de SAAC em cinco capitais
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brasileiras com características pluviométricas bastante diferenciadas em termos sazonais, e como as


séries de demandas influenciaram no resultado.

MATERIAL E MÉTODOS
Para atingir ao objetivo proposto, foi empregado o método da simulação (Equação 1), que é
um procedimento clássico, e constava na versão do ano de 2007 da ABNT - NBR nº 15.527,
revisada no ano de 2019.
𝑆𝑡 = (𝐶. 𝑃𝑡 . 𝐴) + 𝑆𝑡−1 − 𝐷𝑡 (1)
Sendo: St o volume armazenado no reservatório no tempo t, S t-1 o volume de água no reservatório
no tempo t-1, C o coeficiente de escoamento superficial, P t a precipitação no intervalo de tempo t, A
é a área de captação do telhado e Dt é a demanda de água da chuva no intervalo de tempo t.
No método da simulação é inicialmente definido um volume de reservatório (usualmente
considera-se que ele está cheio) e a simulação é realizada a partir da contabilização da entrada
(precipitação) e saídas do reservatório (demandas ou vertimentos). O armazenamento máximo
possível é o próprio volume útil do reservatório, e toda vez que o aporte de água superar a sua
capacidade, os volumes excedentes são extravasados. Quando o armazenamento for nulo (zero) é
sinalizada uma falha no atendimento à demanda, e esse valor normalmente é utilizado para verificar
a eficiência do sistema. Usualmente, os volumes de reservatórios são testados, até que se obtenham
eficiências de 80% ou mais são consideradas satisfatórias, e então o processo de análise é
encerrado.
Para realizar a análise, foram selecionadas cinco capitais brasileiras: Goiânia/GO, João
Pessoa/PB, Manaus/AM, Porto Alegre/RS e São Paulo/SP, uma vez que possuem diferentes
características climatológicas e regime de chuvas, além de contemplar todas regiões do país.
Pela classificação climatológica de Köppen (Torres e Machado, 2011), Goiânia é classificada
como Aw, ou seja, clima tropical chuvoso de savana, com temperaturas mínimas de 18°C, com
chuvas concentradas no verão e inverno mais secos, além da temperatura média anual ser de
23,24°C.
João Pessoa e Manaus são classificados como climas tropicais chuvosos de monção, com
temperaturas em meses mais frios superiores a 18°C, mas de pequena estação seca e chuvas
intensas na maior parte do ano (Am), sendo as temperaturas médias anuais de 26,06 e 26,65°C,
respectivamente.
As cidades de Porto Alegre e São Paulo são classificadas como Cfa e Cfb, respectivamente,
ou seja, possuem clima mesotérmico com temperaturas entre -3 e 18°C em meses de inverno,
apresentando umidade em todas as estações, embora a primeira possui verões quentes com
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temperatura média anual de 19,45°C, enquanto a segunda possui verões brandos com temperatura
média anual de 19,23 °C. A Figura 1a mostra a sazonalidade da precipitação média mensal das
capitais selecionadas.
Para as simulações foram utilizadas séries de precipitação diária destas capitais, obtidas junto
à plataforma Hidroweb da Agência Nacional das Águas. Os dados brutos foram previamente
consistidos usando o método da dupla massa, e postos pluviométricos da vizinhança. As extensões
das séries de precipitação utilizadas durante as simulações são apresentadas na Tabela 1, bem como
as precipitações médias anuais das capitais, considerando-se o período de dados utilizados na
simulação.

a) Precipitações médias mensais b) Temperaturas médias compensadas


Figura 1 – Precipitações e temperaturas médias mensais nas 5 capitais brasileiras analisadas

Tabela 1 – Extensão das séries de precipitação.


Extensão
Capitais Início Fim Precipitação média anual (mm)
(meses)
Goiânia jan./1949 jun./2019 845 1559,61

João Pessoa jan./1996 mai./2018 268 1674,78

Manaus jul./1997 nov./2019 268 2302,81

Porto Alegre jan./1961 jun./2019 701 1397,59

São Paulo jan./1975 jun./2019 533 1602,41


Fonte: Autores

Considerando que apenas a série de precipitação do município de São Paulo não possui falhas,
optou-se por adotar os seguintes critérios para as demais séries, conforme Perius (2016):
● Falhas consecutivas > 15 dias - a simulação é interrompida e iniciada novamente após o
término desse período;
● Falhas consecutivas < 15 dias - a simulação é realizada considerando que nesse período não
ocorreu precipitação.

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Com relação às demandas, foram elaboradas duas séries de demandas para uma residência
unifamiliar padrão com 5 habitantes, conforme proposto por Hentges (2013), considerando usos
internos não potáveis e usos externos:
● Demanda 1 - representa usos internos e externos, incluindo descarga da bacia sanitária,
irrigação, lavagem de veículos e limpeza;
● Demanda 2 - representada os usos externos, incluindo irrigação, lavagem de veículos e
limpeza.
Foi considerado um consumo de 6 L.descarga-1 da bacia sanitária, considerando uma
frequência de uso de 4 descargas.dia -1.hab-1. Além disso, assumiu-se que a lavagem de veículos e
limpeza de calçadas ocorreria a cada 15 dias com consumos de 220L.30min -1 e 280 L.30min-1,
respectivamente. Para a irrigação de jardins, assumiu-se um consumo de 190 L.10min-1, a ser
realizada quando a temperatura média mensal for superior a 20°C e nos 2 dias anteriores não
ocorrer precipitação, com uma frequência de 3 vezes por semana. Nos meses em que a temperatura
for inferior à estabelecida, a irrigação é realizada 1 vez por semana, se no período anterior a 7 dias
não ocorrer precipitação. Nesta análise, foram consideradas as temperaturas médias compensadas
de cada capital (Figura 1b), obtidas a partir das Normais Climatológicas do Brasil 1961-1990
(INMET, 2020).
Foram pré-definidas áreas de captação dos telhados típicas de residências com 100 m² e 300
m², para as quais adotou-se o coeficiente de escoamento superficial igual a 0,95, conforme Wilken
(1978). Ainda, foram testados volumes de reservatórios comerciais de 1000 e 2000 L, cheios no
início da simulação.
Ademais, foi considerado o descarte dos primeiros 2 mm de chuva (first-flush), conforme
recomendado na NBR n° 15.527, com esvaziamento do reservatório de descarte a cada 7 dias. Os
cenários de simulação avaliados são apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 – Cenários de simulações.
Demandas Atendimento Demandas Áreas (m²) Reservatórios (L)
descarga de bacia sanitária
irrigação 100 1000
Dem. 1 Todos os usos
lavagem de veículos 300 2000
limpeza
irrigação
100 1000
Dem. 2 Usos externos lavagem de veículos
300 2000
limpeza
Fonte: Autores

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RESULTADOS
Em razão dos cenários propostos, foram realizadas 40 simulações, e as eficiências resultantes
dos SAAC no atendimento às Demandas 1 e 2 podem ser observadas nas Figura 3a e Figura 3b,
respectivamente.

a) SAACs para o atendimento da Demanda 1 b) SAACs para o atendimento da Demanda 2


Figura 3 – Eficiência dos SAACs no atendimento às demandas simuladas para as cinco capitais

A partir dos resultados, verifica-se que, para uma mesma cidade, houve maior eficiência dos
SAAC no atendimento à Demanda 2 (Figura 3). Neste cenário de demanda, à exceção de Goiânia,
os SAAC de todas as demais cidades atingiram eficiências acima de 80% em qualquer configuração
simulada de área de captação e volume de reservação, mostrando que o sistema seria viável. Na
simulação com a Demanda 1, eficiências acima de 80% foram obtidas apenas para as cidades de
João Pessoa (2000L-300m2), Manaus (2000L - 100 e 300m2)e Porto Alegre (2000L - 100 e 300m2),
sendo que esse resultado esteve relacionado ao aumento da área de captação e tamanho de
reservatório.Para a Demanda 1, os melhores índices de eficiência média foram obtidos para a cidade
de Manaus (81,9%), seguida por Porto Alegre (77,9%) e João Pessoa (73,4%). Para a Demanda 2,
Porto Alegre teve o melhor índice de eficiência médio (96,4%), seguido por Manaus (93,7%) e João
Pessoa (91,7%).
De certa forma, o resultado encontrado para a cidade de Manaus já era esperado,
corroborando com outros trabalhos (Yue et al., 2020), em razão de sua elevada precipitação média
anual (acima de 2300 mm), e inexistência de meses sem chuva, embora haja sazonalidade na série.
No entanto, merece ser destacado o excelente desempenho dos SAAC na cidade de Porto Alegre
que, embora tenha o menor volume de precipitação média anual no período simulado (1397,59 mm)
entre todas as capitais, apresentou eficiência bastante elevada no atendimento às duas demandas,
devido à boa homogeneidade de distribuição de chuvas ao longo do ano.No cenário de Demanda 2,
Porto Alegre supera Manaus em termos de eficiência no SAAC, visto que nesta última cidade os

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volumes de precipitação disponíveis são menores, especialmente nos meses de (junho-setembro), o


que afetou o desempenho do sistema (Figura 4b) neste período.
A cidade de Goiânia apresentou desempenhos inferiores às demais capitais, com os menores
índices de eficiência média tanto para a Demanda 1 (60,1%), como para a Demanda 2 (69,7%),
embora tenha maior pluviometria média anual que Porto Alegre. A marcada sazonalidade da
precipitação em Goiânia,onde durante praticamente três meses do ano não há chuvas(junho-agosto),
levou à baixa eficiência do SAACs especialmente neste período (Figura 4). Resultados como esses
reforçam a necessidade de uso de metodologias baseadas em simulações para dimensionar os
SAAC, e não apenas a utilização de equações simplistas baseadas em estimativas de precipitações
médias anuais, como métodos ditos práticos.

a) Demanda 1 b) Demanda 2
Figura 4 – Variabilidade média do percentual de falhas do SAAC no atendimento à demanda nas capitais analisadas
para as Demandas 1 e 2

Ainda, o resultado de menor eficiência para a Demanda 1 em uma mesma cidade reflete a
influência da série de demandas com uso interno de descarga na bacia sanitária, que possui uma
característica de invariabilidade de demanda no tempo, ou seja, há consumo independentemente de
influência climática. Isso também pode ser verificado na Figura 4a, em que há uma melhor
distribuição das falhas no atendimento à demanda ao longo de todos os meses do ano, ao contrário
da Figura 4b que mostra uma maior concentração de falhas entorno de meses específicos (menor
pluviometria), como é o caso de Manaus e João Pessoa. Desta forma, verifica-se como as demandas
podem ser otimizadas de acordo com as condições locais durante a simulação, de foram a manter
um volume de reservação factível, garantindo aumento na eficiência do sistema, corroborando com
sugestões de autores como Okoye et al. (2015).
Além disso, foi possível observar que os maiores aumentos nas eficiências a partir da redução
da demanda (cenário de Demanda 1=>Demanda 2) acontecem para o volume de reservação de 1000
L para ambas as áreas de captação, e as cidades onde o ganho de eficiência foi maior ao realizar o
ajuste na demanda foram Porto Alegre (26,95%-100m2 e 20,71%-300m2)e São Paulo (24,79%-100
m² e 20,78%-300 m²), devido à grande diminuição das falhas.
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Novamente, merece destacar que o SAAC na cidade de Porto Alegre, comparativamente a


São Paulo, apresentou desempenho superior nos dois cenários de demanda, embora em São Paulo a
precipitação média anual seja superior. Nesse caso, as demandas para irrigação, controladas pela
temperatura, influenciaram fortemente o resultado do desempenho do sistema. Para a cidade de
Porto Alegre, por exemplo, as maiores falhas no atendimento à demanda ocorreram no período de
novembro a maio, para os quais as temperaturas médias são superiores a 20°C (Figura 4b). Nesse
mesmo período, as precipitações médias mensais em Porto Alegre são inferiores aos volumes
observados para a cidade de São Paulo. Assim, embora a temperatura em São Paulo neste mesmo
período também seja maior, aumentando a demanda por irrigação, não se observam falhas
acentuadas nesse período devido à disponibilidade de chuva. Para São Paulo, os maiores índices de
falhas coincidiram com o período de estiagem que ocorre de abril a setembro (Figura 4a e 4b).
Assim, demandas sazonais fortemente influenciadas pelas condições climáticas podem
resultar em uma menor confiabilidade no armazenamento pré-determinado, uma vez que o volume
do mesmo deve ser suficiente para compensar essa variação sazonal, ademais a incompatibilidade
do sistema tende a ser maior quando as menores precipitações ocorrem no verão e coincidem com o
período de irrigação (Mitchell e Fletcher, 2008).

CONCLUSÃO
As características climáticas, traduzidas nas séries de precipitação e temperatura das
diferentes capitais avaliadas mostraram que há grande influência das mesmas no desempenho dos
sistemas de aproveitamento de água da chuva.
A cidade de Goiânia apresentou as menores eficiências em todos os cenários simulados,
embora não tenha a menor pluviometria média anual, evidenciando a influência da marcada
sazonalidade local. Manaus, apesar de possuir a maior precipitação média anual, e ter atingido
ótimos índices de eficiência nos dois cenários simulados, teve desempenho inferior a Porto Alegre,
quando consideradas apenas demandas para usos externos, também como resultado da baixa
pluviometria nos meses de inverno. As cidades de São Paulo e João Pessoa tiveram resultados
bastante parecidos e, embora haja marcada sazonalidade nessas cidades, os volumes nos meses
menos chuvosos ainda foram suficientes para assegurar o funcionamento dos SAAC.
Ressalta-se que o resultado da eficiência dos SAAC foi satisfatório para a maior parte das
capitais analisadas, utilizando volumes de reservação que são bastante compatíveis com as áreas de
captação consideradas no estudo. Para locais em que a eficiência é baixa, os resultados também
indicam que esta poderiam ser aperfeiçoados a partir da adaptação das demandas às condições
climáticas locais. O município de Porto Alegre destacou-se em razão dos ótimos resultados de
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eficiência encontrados nos cenários analisados, indicando a alta viabilidade de utilização de


sistemas de aproveitamento de água da chuva em locais com boa distribuição das chuvas ao longo
de todos os meses do ano.

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