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Química Ambiental

Prof. Edson Torres

2014
Copyright © UNIASSELVI 2014

Elaboração:
Prof. Edson Torres

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

577.14
T693q Torres, Edson
Química Ambiental / Edson Torres. Indaial : Uniasselvi, 2014.

207 p. : il

ISBN 978-85-7830-827-8

1. Qúimica ambiental. 2. Química. 3. Atmosfera.


I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
Apresentação
Prezado(a) acadêmico(a)!

A Química Ambiental, atualmente, é reconhecida como o maior


exemplo da multidisciplinaridade da Química dentro das ciências exatas.
Assim, tanto nos projetos de pesquisa, na extensão, quanto no ensino, deve-
se adotar uma visão holística, integrada e sistêmica. Todas as temáticas
ligadas aos processos naturais, os processos afetados por ações antrópicas,
tanto da atmosfera, da hidrosfera e da geosfera, devem ser abordadas de
forma sistêmica e integradas. Em última análise a química ambiental está
intimamente ligada aos ecossistemas, aos seus compartimentos abióticos e
bióticos. Devido a estes aspectos sistêmicos, a conceituação e o conhecimento
sobre os significados biogeoquímicos e ecológicos da Química Ambiental são
fundamentais para a realização dos cálculos, simulações computacionais,
pesquisas de campo e laboratoriais.

A Química Ambiental avança nos conceitos da química convencional,


trazendo uma dimensão socioeconômica e propicia a integração e necessidade
com outras áreas do conhecimento como a toxicologia, a engenharia sanitária
e ambiental, a biologia e a geologia. Assim, revive a química como uma ciência
natural, atuando como impulsionadora da Química Verde e certamente pode
ser encarada como a ferramenta mais poderosa no resgate da importância da
Química como uma das ciências que mais benefícios tem trazido ao homem.

Quando pensamos em meio ambiente, vivemos em uma crescente


conscientização das pessoas e empresas sobre os danos causados por uma gama
de atividades humanas. Estas atividades antrópicas geram enormes volumes de
resíduos sólidos, líquidos e gasosos que acabam contaminando toda a biosfera,
desencadeando uma série de problemas ambientais que podem culminar em
perda da biodiversidade, assim como doenças e morte para os seres humanos.

Para que possamos compreender estes aspectos se faz necessário


estudarmos os conceitos básicos da química do solo, do ar e da água, os ciclos
biogeoquímicos, assim como os fenômenos físico-químicos relacionados e
interligados a estes processos naturais e antrópicos.

Nos tópicos a seguir, veremos cada processo natural e antrópico


relacionado à Química Ambiental, permitindo assim, que vocês tenham o
preparo para utilizá-los com os seus alunos.

Para enriquecer o seu conhecimento apresentaremos algumas


bibliografias que atuarão como auxílio e atualização dos conhecimentos;
bem como atividades de estudo que contribuirão na fixação e aplicação dos
conteúdos abordados.
III
Esperamos que por meio deste estudo, você, acadêmico(a), possa
entender os principais conceitos da disciplina e proporcionar maior
compreensão nas relações e importância da Química Ambiental para a
atenuação das consequências relacionadas à degradação e contaminação
ambiental, assim como indicar um caminho para ajudar nas decisões na busca
pela sustentabilidade.

Desejamos a você um ótimo aprendizado, e que ao final consiga


aplicar os conceitos no meio profissional, quando a cada dia se torna mais
competitiva e necessária a busca do conhecimento.

Bons estudos!

Prof.: Edson Torres

UNI

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades
em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o


material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato
mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação
no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, que é um código
que permite que você acesse um conteúdo interativo
relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO ............................ 1

TÓPICO 1 – O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS ............................................ 3


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 INTRODUÇÃO À QUÍMICA AMBIENTAL .................................................................................. 3
3 CICLOS BIOGEOQUÍMICOS ........................................................................................................... 6
3.1 O QUE SÃO OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS? ......................................................................... 7
3.2 CICLO BIOGEOQUÍMICO DO NITROGÊNIO .......................................................................... 13
3.2.1 Fixação do nitrogênio atmosférico .......................................................................................... 15
3.2.1.1 Descargas elétricas ........................................................................................................... 15
3.2.1.2 Combustão ........................................................................................................................ 16
3.2.1.3 Indústria ............................................................................................................................ 16
3.2.1.4 Fixação simbiótica e assimbiótica .................................................................................. 17
3.2.2 Amonificação e nitrificação ...................................................................................................... 18
3.2.3 Desnitrificação ............................................................................................................................ 19
3.2.3.1 Desnitrificação biológica ................................................................................................. 20
3.2.3.2 Desnitrificação não biológica ......................................................................................... 21
3.2.4 Efeitos prejudiciais do excesso de nitrogênio ........................................................................ 22
3.3 CICLO BIOGEOQUÍMICO DO FÓSFORO . ................................................................................. 23
3.4 CICLO BIOGEOQUÍMICO DO ENXOFRE .................................................................................. 25
3.5 CICLO BIOGEOQUÍMICO DO CARBONO . ............................................................................... 29
3.5.1 Origem do gás carbônico na atmosfera .................................................................................. 32
3.5.1.1 Primeiro momento ........................................................................................................... 32
3.5.1.2 Segundo momento ........................................................................................................... 33
3.5.1.3 Processos biogênicos de liberação do carbono para a atmosfera . ............................ 33
3.5.1.4 Processos antropogênicos de liberação de carbono para a atmosfera ..................... 34
3.5.1.5 Fixação do CO2 ................................................................................................................ 35
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 36
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 39
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 41

TÓPICO 2 – A QUÍMICA DO SOLO ................................................................................................... 43


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43
2 ORIGEM E FORMAÇÃO DA LITOSFERA .................................................................................... 43
3 FORMAÇÃO DO SOLO ..................................................................................................................... 45
4 INTEMPERISMO ................................................................................................................................. 47
4.1 INTEMPERISMO FÍSICO ................................................................................................................ 48
4.2 INTEMPERISMO QUÍMICO .......................................................................................................... 50
4.2.1 Hidrólise . .................................................................................................................................... 51
4.2.2 Acidólise ...................................................................................................................................... 52
4.2.3 Hidratação . ................................................................................................................................. 52
4.2.4 Dissolução ................................................................................................................................... 53
4.2.5 Oxidação . .................................................................................................................................... 53
5 COMPOSIÇÃO DO SOLO ................................................................................................................. 54

VII
5.1 FASE SÓLIDA . ................................................................................................................................. 55
5.1.1 Os minerais ................................................................................................................................. 55
5.1.2 Matéria orgânica ........................................................................................................................ 56
5.2 FASE LÍQUIDA ................................................................................................................................ 58
5.2.1 Solo encharcado ......................................................................................................................... 59
5.2.2 Solo úmido .................................................................................................................................. 59
5.2.3 Solo seco ...................................................................................................................................... 59
5.3 FASE GASOSA ................................................................................................................................. 60
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 60
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 63
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 64

TÓPICO 3 – PROPRIEDADES FÍSICAS, CONTAMINAÇÃO E REMEDIAÇÃO DO SOLO . 65


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65
2 PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DO SOLO ....................................................................... 65
2.1 CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA DO SOLO ................................................................ 66
2.2 ACIDEZ DO SOLO .......................................................................................................................... 66
2.3 PROCESSOS DE OXIDAÇÃO E REDUÇÃO DO SOLO ........................................................... 67
2.4 ADSORÇÃO DE METAIS NO SOLO ........................................................................................... 68
3 FONTES DE CONTAMINAÇÃO DOS SOLOS ............................................................................. 69
3.1 PESTICIDAS ..................................................................................................................................... 70
3.2 METAIS PESADOS .......................................................................................................................... 71
3.3 O LIXO URBANO ............................................................................................................................ 73
4 REMEDIAÇÃO DO SOLO CONTAMINADO ............................................................................... 74
4.1 BIORREMEDIAÇÃO ....................................................................................................................... 75
4.2 FITORREMEDIAÇÃO . ................................................................................................................... 77
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 80
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 83
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 84

UNIDADE 2 – A QUÍMICA DA ATMOSFERA ................................................................................. 85

TÓPICO 1 – A QUÍMICA DO AR ........................................................................................................ 87


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87
2 COMPOSIÇÃO DA ATMOSFERA ................................................................................................... 87
3 ESTRATIFICAÇÃO DA ATMOSFERA ............................................................................................ 89
4 IMPORTÂNCIA DA ATMOSFERA ................................................................................................. 91
5 AS PARTÍCULAS NA ATMOSFERA ................................................................................................ 92
5.1 FONTE DE PARTICULADOS NA ATMOSFERA . ..................................................................... 94
5.1.1 Processos físicos naturais de formação de particulados ...................................................... 94
5.1.2 Processos físicos antrópicos de formação de particulados .................................................. 94
5.1.3 Processos químicos de formação de particulados . ............................................................... 94
5.2 PROPRIEDADES DOS PARTICULADOS NA ATMOSFERA .................................................. 95
6 COMPOSTOS INORGÂNICOS DA ATMOSFERA ..................................................................... 96
6.1 MONÓXIDO DE CARBONO . ....................................................................................................... 97
6.2 ÓXIDO DE ENXOFRE . ................................................................................................................... 97
6.3 ÓXIDO DE NITROGÊNIO ............................................................................................................. 98
6.4 AMÔNIA . ......................................................................................................................................... 99
6.5 O CICLO BIOGEOQUÍMICO DO OXIGÊNIO . .......................................................................... 100
6.5.1 Reações de reposição do oxigênio da atmosfera ................................................................... 102
6.5.2 Reações de retirada do oxigênio da atmosfera ...................................................................... 102
6.5.2.1 Respiração dos seres aeróbicos ...................................................................................... 102

VIII
6.5.2.2 Reações de combustão . ................................................................................................... 103
6.5.2.3 Reações de oxidação de materiais ................................................................................. 103
7 COMPOSTOS ORGÂNICOS DA ATMOSFERA .......................................................................... 104
7.1 COMPOSTOS ORGÂNICOS BIOGÊNICOS ............................................................................... 104
7.2 COMPOSTOS ORGÂNICOS DE ORIGEM ANTRÓPICA ........................................................ 104
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 105
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 108
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 109

TÓPICO 2 – A QUÍMICA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA ......................................................... 111


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 111
2 A CHUVA ÁCIDA ................................................................................................................................ 111
2.1 DEFINIÇÃO DE CHUVA ÁCIDA . ............................................................................................... 112
2.2 PROCESSO DE FORMAÇÃO DA CHUVA ÁCIDA .................................................................. 113
2.3 FONTES DOS COMPOSTOS DE ENXOFRE . ............................................................................. 114
2.4 CONSEQUÊNCIAS DA CHUVA ÁCIDA . .................................................................................. 115
2.4.1 Consequências na pesca . .......................................................................................................... 115
2.4.2 Consequências na cadeia alimentar ........................................................................................ 115
2.4.3 Consequências nos micro-organismos . .................................................................................. 115
2.4.4 Efeito nas vegetações terrestres ............................................................................................... 116
2.4.5 Efeito em saúde humana . ......................................................................................................... 116
3 SMOG FOTOQUÍMICO ..................................................................................................................... 116
3.1 O QUE É O SMOG FOTOQUÍMICO ............................................................................................ 116
3.2 EMISSÕES FORMADORAS DO SMOG FOTOQUÍMICO ........................................................ 118
3.3 CONDIÇÕES PARA FORMAÇÃO DO SMOG FOTOQUÍMICO ............................................ 119
3.4 REAÇÕES NA FORMAÇÃO DO SMOG FOTOQUÍMICO ...................................................... 121
3.4.1 Primeira etapa ............................................................................................................................ 122
3.4.2 Segunda etapa ............................................................................................................................ 123
3.4.3 Terceira etapa . ............................................................................................................................ 124
3.5 EFEITOS DO SMOG FOTOQUÍMICO ......................................................................................... 125
3.5.1 Efeitos físicos .............................................................................................................................. 125
3.5.2 Efeitos biológicos ....................................................................................................................... 126
3.5.3 Efeitos químicos ......................................................................................................................... 126
4 COMPOSTOS ORGÂNICOS TÓXICOS ......................................................................................... 126
4.1 PESTICIDAS ..................................................................................................................................... 126
4.1.1 Inseticidas organoclorados........................................................................................................ 128
4.1.1 Herbicidas ................................................................................................................................... 128
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 129
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 131
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 132

TÓPICO 3 – A CAMADA DE OZÔNIO E OS GASES DE EFEITO ESTUFA ............................. 133


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 133
2 A QUÍMICA DA CAMADA DE OZÔNIO ...................................................................................... 133
2.1 A CAMADA DE OZÔNIO ............................................................................................................. 133
2.2 FORMAÇÃO DO OZÔNIO NA ESTRATOSFERA .................................................................... 135
2.3 O EFEITO PROTETOR DA CAMADA DE OZÔNIO ................................................................ 136
2.4 DESTRUIÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO .............................................................................. 137
2.5 CONSEQUÊNCIAS DA DESTRUIÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO ................................... 139
3 O EFEITO ESTUFA ............................................................................................................................... 140
3.1 EFEITO ESTUFA INTENSIFICADO E O AUMENTO DOS GASES ESTUFA ........................ 142
3.1.1 Protocolo de Kyoto .................................................................................................................... 143

IX
3.2 AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS .............................................. 144
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 146
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 149
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 151

UNIDADE 3 – A QUÍMICA DA ÁGUA .............................................................................................. 153

TÓPICO 1 – IMPORTÂNCIA E PROPRIEDADES DAS ÁGUAS E CICLO


HIDROLÓGICO ...................................................................................................................................... 155
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 155
2 IMPORTÂNCIA DA ÁGUA ............................................................................................................... 155
2.1 A ORIGEM DA ÁGUA ................................................................................................................... 158
3 CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADE DAS ÁGUAS ............................................................... 158
4 CICLO HIDROLÓGICO ..................................................................................................................... 162
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 166
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 169
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 170

TÓPICO 2 – A QUÍMICA DA ÁGUA .................................................................................................. 171


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 171
2 O OXIGÊNIO NA ÁGUA .................................................................................................................... 172
2.1 DECOMPOSIÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA EM ÁGUA . ................................................... 174
3 A ACIDEZ E O DIÓXIDO DE CARBONO NA ÁGUA ................................................................. 176
3.1 O DIÓXIDO DE CARBONO NA ÁGUA ..................................................................................... 177
4 A ALCALINIDADE DA ÁGUA ......................................................................................................... 179
5 COMPLEXAÇÃO E QUELAÇÃO ...................................................................................................... 180
6 INTERAÇÕES QUÍMICAS ENVOLVENDO SÓLIDOS, GASES E ÁGUA ............................. 181
7 COLOIDES NA ÁGUA ........................................................................................................................ 182
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 183
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 185
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 186

TÓPICO 3 – POLUIÇÃO E TRATAMENTO DAS ÁGUAS ............................................................ 187


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 187
2 NATUREZA E TIPOS DE POLUENTES DA ÁGUA ..................................................................... 187
3 INDICADORES DE POLUIÇÃO DA ÁGUA ................................................................................. 190
3.1 INDICADORES FÍSICOS . .............................................................................................................. 190
3.2 INDICADORES QUÍMICOS .......................................................................................................... 191
3.3 INDICADORES BIOLÓGICOS ...................................................................................................... 192
4 OS METAIS ............................................................................................................................................ 192
4.1 CÁDMIO ........................................................................................................................................... 193
4.2 CHUMBO . ........................................................................................................................................ 193
4.3 MERCÚRIO ...................................................................................................................................... 194
5 POLUENTES ORGÂNICOS ............................................................................................................... 195
5.1 BIOACUMULAÇÃO ....................................................................................................................... 195
5.2 BIOMAGNIFICAÇÃO .................................................................................................................... 195
6 PROCESSO DE TRATAMENTO DAS ÁGUAS ............................................................................ 198
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 200
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 202
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 203
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 204
ANOTAÇÕES ........................................................................................................................................... 207

X
UNIDADE 1

OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A
QUÍMICA DO SOLO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Os objetivos desta unidade são

• apresentar os conceitos e a importância da química ambiental;

• entender a dinâmica dos ciclos biogeoquímicos e a importância do equilí-


brio entre o meio ambiente e as atividades antrópicas;

• compreender as principais características e interações com o meio ambien-


te com a química do solo;

• identificar os principais contaminantes do solo e suas fontes;

• verificar os processos de remediação do solo.

PLANO DE ESTUDOS

A Unidade 1 está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles,


leituras complementares e atividades estarão à sua disposição para a melhor
compreensão dos conteúdos abordados.

TÓPICO 1 – O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

TÓPICO 2 – A QUÍMICA DO SOLO

TÓPICO 3 – PROPRIEDADES FÍSICAS, CONTAMINAÇÃO E REMEDIAÇÃO


DO SOLO

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

O MEIO AMBIENTE E CICLOS


BIOGEOQUÍMICOS

1 INTRODUÇÃO
No primeiro tópico desta unidade apresentaremos uma introdução
à química ambiental. Para iniciarmos nossos estudos, abordaremos os ciclos
biogeoquímicos, buscando explanar o que são os ciclos biogeoquímicos. A partir
disso, adentraremos nos diferentes ciclos biogeoquímicos: nitrogênio, fósforo,
enxofre e carbono.

2 INTRODUÇÃO À QUÍMICA AMBIENTAL

Para a maior parte das pessoas, a química ambiental é uma área do


conhecimento que surgiu dentro da química recentemente, devido à conscientização
dos cidadãos e empresas sobre os danos causados pelas atividades antrópicas, tanto
em seus lares, como nas indústrias. Estas atividades antrópicas geram efluentes
e resíduos, sólidos, líquidos e gasosos que, de uma maneira ou outra, têm seu
destino final na atmosfera, nos solos e nos corpos d’água, naturais e artificiais,
continentais, costeiros ou nos oceanos. A maioria desses efluentes e resíduos
constituem-se em materiais ricos em nutrientes, como o carbono, nitrogênio e
fósforo, e contaminantes orgânicos e inorgânicos, que são os responsáveis pela
degradação ambiental crescente que nossos ecossistemas vêm sofrendo e as
próprias consequências negativas para o homem (MOZETO; JARDIM, 2002).

No entanto, essa preocupação não é recente, pois já no século XVII, no Reino


Unido, havia preocupação com a devastação do meio ambiente em regiões onde
se fazia a extração do carvão. Em um periódico da Nature de 1872, encontra-se
uma meticulosa análise da qualidade do ar nas cidades de Londres e Manchester,
inclusive apontando para o perigo das altas concentrações de SO2 observadas
naquelas atmosferas urbanas (THORPE, 1872 apud JARDIM, 2001).

3
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

A partir da década de 60, a sociedade foi tomada por uma nova ordem,
quando a informação transformou nosso planeta em um sistema único e
interligado. Ficamos cientes que o uso dos pesticidas estava colocando em risco a
nossa saúde (contaminando alimentos e as águas), que o lixo urbano e industrial
era descartado inadequadamente e que o ar estava se tornando irrespirável. O
modelo econômico já se apresentava obsoleto, tratando o planeta Terra como
finito e limitado, como se fosse algo infinitamente rico e capaz de prover recursos
naturais ilimitados a uma população que crescia assustadoramente. Este sistema
via a indústria química como um mero transformador desses recursos naturais
em bens de consumo, sem se importar com os rejeitos impactantes gerados
nessas transformações (JARDIM, 2001).

FONTE: Adaptado de: <http://www.engenhariaambiental.unir.br/admin/prof/arq/apostila-


especialicacao-2.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2013.

Já na década de 70 é possível observar alguns resultados diante da


organização e mobilização da sociedade, agora protegida por uma legislação
ambiental cada vez mais restritiva, preocupada com o destino dos compostos
químicos no meio ambiente, com a avaliação de risco ambiental e com o risco
de exposição às novas moléculas sintéticas. A partir dos anos 80, a questão
ambiental ganhou amplitude. É um tema de discussão em todos os segmentos da
sociedade. Porém, a democratização da discussão sobre as questões ambientais
tem sido um dos principais fatores para um maior conhecimento dos processos de
degradação ambiental e para o aprimoramento de uma legislação pertinente. Os
problemas de poluição/degradação ambiental ainda sofrem com a desinformação,
dificultando a escolha da melhor opção preventiva ou corretiva para o problema.
Parte dessa desinformação se deve às questões econômicas e políticas conduzidas
por determinados setores econômicos, assim, como por um erro histórico que os
químicos cometeram, por deixar a sociedade sem respostas quando questionaram
os riscos relacionados à produção, uso e descarte de vários compostos sintéticos,
como, por exemplo, os agrotóxicos (JARDIM, 2001). Estes são alguns dos fatos que
demonstram que a química ambiental já era praticada há muito tempo.

Porém, no Brasil, somente em 1994 é que foi criada a Divisão de Química


Ambiental na Sociedade Brasileira de Química (SBQ), com o propósito de abrigar
a produtividade técnica e científica dos técnicos e pesquisadores que já, há alguns
anos, trabalhavam nesta área de concentração (MOZETO; JARDIM, 2002).

Chega-se a uma definição da Química Ambiental: é uma ciência que “estuda


as fontes, as reações, o transporte, os efeitos e o destino de espécies na hidrosfera,
na atmosfera, na geosfera, na biosfera e na antroposfera, além dos efeitos das
atividades humanas” (MANAHAN, 2013, p. 28). Assim, a Química Ambiental não
é a divisão da química que faz o monitoramento ambiental, mas, sim, desvenda os
mecanismos que definem e controlam a concentração das espécies químicas que
serão monitoradas. Com isso, as iniciativas dos projetos de pesquisa no âmbito
da Química Ambiental adquirem um caráter multidisciplinar e interdisciplinar e

4
TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

são integrados com outras áreas da ciência como a biologia, ecologia, geologia,
engenharia ambiental, física, meteorologia, entre outras. Portanto, todas as
questões abordadas que digam respeito a processos naturais e ou afetados por ações
antrópicas, tanto da atmosfera, da hidrosfera e da litosfera, precisam ser tratadas
de forma sistêmica e integrada. A Química Ambiental vai além dos horizontes da
química convencional, agregando uma dimensão social e econômica, propiciando
integração com as outras ciências, sendo uma das principais ciências que compõem
a dimensão da sustentabilidade (MOZETO; JARDIM, 2002).

FIGURA 1 – RELAÇÃO SISTÊMICA DA QUÍMICA AMBIENTAL COM OS ECOSSISTEMAS

FONTE: Adaptado de: Lenzi e Favero (2011, p. 81)

NOTA

Caro(a) acadêmico(a)! Você sabia que o conceito de visão sistêmica foi desenvolvido
por Karl Ludwig von Bertalanffy, na década de 50, quando se criou a chamada Teoria Geral
dos Sistemas? Esta teoria aborda que os sistemas podem ser definidos como um conjunto
de elementos em inter-relação entre si e com o ambiente, denotando interdisciplinaridade,
multidisciplinaridade e transdisciplinaridade.

5
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

Para os processos de ensino, elaboração de projetos e aplicação da Química


Ambiental de forma sistêmica, há a necessidade de se contemplar alguns quesitos,
conforme a figura a seguir.

FIGURA 2 – QUESITOS PARA ADEQUAÇÃO SISTÊMICA NO ÂMBITO DA QUÍMICA AMBIENTAL

FONTE: Adaptado de: Mozeto e Jardim (2002, p. 8-9)

3 CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

Caro(a) acadêmico(a), neste momento estudaremos o que são os ciclos


biogeoquímicos, bem como o ciclo biogeoquímico do nitrogênio, do fósforo, do
enxofre e do carbono.

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TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

3.1 O QUE SÃO OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS?


A natureza apresenta-se de forma dinâmica e nos seus mais variados
aspectos encontra-se em permanentes transformações. Os promotores destas
transformações são diversos, onde alguns dependem de fatores internos (estrutura
própria), entre eles: desequilíbrios físicos, químicos e biológicos, que tendem
sempre a um estado de equilíbrio. Outros são de ordem externa, como a radiação
solar, interações gravitacionais, entre outros. E o terceiro fator a promover tais
transformações é a atividade antrópica (LENZI; FAVERO, 2011).

NOTA

Devemos nos lembrar de que Lavoisier, que foi considerado o pai da química
moderna, concluiu por meio de seus experimentos e observações, que “na natureza nada se
cria, nada se perde, tudo se transforma” (LENZI; FAVERO, 2011, p. 79).

Todos os elementos químicos, inclusive aqueles elementos essenciais para


a vida, tendem a circular na biosfera em caminhos característicos, que vão do
ambiente para o organismo e de volta para o ambiente. Assim, podemos considerar
a atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera como componentes do sistema Terra,
tendo a função de reservatórios biogeoquímicos que armazenam elementos
químicos terrestres, associados a processos que os transportam de um componente
a outro, conforme a figura a seguir. Portanto, os ciclos biogeoquímicos promovem
o fluxo dos elementos químicos de um reservatório a outro (PRESS et al., 2006).
Esses caminhos ou movimentos mais ou menos cíclicos são conhecidos como ciclos
biogeoquímicos (ODUM; BARRETT, 2011, BRAGA et al., 2005, DERISIO, 2012).
Bio, porque está relacionado com os organismos vivos que interagem no processo
de síntese orgânica e decomposição dos elementos. Geo, porque está relacionado
com o meio terrestre, é a fonte dos elementos. E químicos, porque faz relação com
os ciclos de elementos químicos. Assim, a biogeoquímica é a ciência que estuda
a troca ou o fluxo de matéria entre os componentes vivos e físico-químicos da
biosfera (BRAGA et al., 2005; ODUM; BARRETT, 2011).

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UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

FIGURA 3 – PROCESSOS DE TRANSPORTE ENTRE OS COMPONENTES DO SISTEMA TERRA

FONTE: Press et al. (2006, p. 599)

As relações entre espécies e ambiente físico caracterizam-se por uma


constante troca de elementos em uma atividade cíclica, que, por compreender
aspectos de etapas biológicas, físicas e químicas alternantes, é conhecido como ciclo
biogeoquímico. Este fenômeno, porém, é estritamente cíclico apenas em relação
ao aspecto químico, pois estes compostos químicos alterados se reconstituem
ao final de cada ciclo, enquanto que o aspecto físico das rochas não se regenera,
necessariamente. Com isso, existe uma espécie de intercâmbio contínuo entre
o meio físico (abiótico) e com o conjunto de seres vivos (biótico), sendo esse
intercâmbio de tal forma equilibrado, em relação à troca de elementos entre os dois
meios, que estes se mantêm praticamente constantes (DERISIO, 2012).

Mesmo que a fonte primária de energia (radiação solar) seja inesgotável,


a matéria-prima necessária à síntese orgânica e a sucessivas transformações
energéticas existe em quantidade limitada no meio, devendo, ser recirculado,
tornando obrigatória a troca recíproca e contínua de elementos químicos entre
o meio biótico e abiótico. O intercâmbio de elementos químicos é acompanhado
de ganhos e perdas de energia, que geram um ciclo entre o meio biológico e o
meio geofísico. Com a existência dos ciclos biogeoquímicos é atribuído à biosfera
um poder importante de autorregulação, assegurando a sustentabilidade dos
ecossistemas. Em cada um dos ciclos biogeoquímicos, existe um compartimento
que funciona como reservatório do nutriente, constituindo um componente
muito grande em relação aos demais, de modo a garantir o escoamento lento e
regularizado do elemento em questão (DERISIO, 2012).

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TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

NOTA

Caro(a) acadêmico(a)! Não podemos esquecer que o ECOSSISTEMA é uma


unidade que inclui todos os organismos de uma determinada área interagindo com o meio
físico, de forma a originar um fluxo de matéria e energia (DERISIO, 2012).

O movimento dos elementos e compostos inorgânicos essenciais para


a vida pode ser convenientemente designado de ciclagem dos nutrientes. Esses
elementos, entre 30 e 40, são incorporados aos organismos na forma de compostos
orgânicos complexos ou ainda participam de uma série de reações químicas
essenciais às atividades dos seres vivos. Portanto, um elemento essencial disponível
para os produtores, em forma molecular ou iônica, receberá o nome de nutriente
(BRAGA, et al., 2005). Alguns elementos essenciais, como o carbono, o hidrogênio,
o oxigênio e o nitrogênio, são necessários em grandes quantidades. Já outros, são
necessários em pequenas ou até minúsculas quantidades. Desta forma, qualquer
que seja o volume necessário, os elementos essenciais exibem ciclos biogeoquímicos
definidos. Os elementos não essenciais, ou seja, aqueles elementos que não são
exigidos para a vida, também circulam e frequentemente fluem com os elementos
essenciais, pelo ciclo hidrológico, ou por afinidade química (ODUM; BARRETT,
2011).

Os nutrientes são divididos em dois grandes grupos conforme apresentado


na figura a seguir.

FIGURA 4 – CLASSIFICAÇÃO DOS NUTRIENTES

FONTE: Adaptado de: Braga et al.(2005)

Assim, também cada ciclo de nutriente pode ser convenientemente


dividido em dois compartimentos ou estoques, conforme a figura a seguir. Muitos
elementos têm múltiplos estoques reservatórios e alguns podem ter múltiplos
estoques de ciclagem ou lábeis (ODUM; BARRETT, 2011).

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UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

FIGURA 5 – DIVISÃO DOS CICLOS DE NUTRIENTES

FONTE: Adaptado de: Odum e Barrett (2011)

Em termos de ecossistema, os ciclos bioquímicos são caracterizados em


dois grupos básicos conforme a figura a seguir.

FIGURA 6 – CARACTERIZAÇÃO DOS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS EM RELAÇÃO AO


ECOSSISTEMA

FONTE: Adaptado de: Odum e Barrett (2011) e Braga et al.(2005)

Nos ciclos sedimentares (fósforo, enxofre, cálcio, magnésio, potássio, entre


outros), o reservatório que supre os elementos e os recebe de volta é a litosfera.
Nos ciclos gasosos (carbono, nitrogênio, oxigênio, entre outros), o reservatório é
a atmosfera. A dissipação de alguma forma de energia é sempre necessária para
acionar os ciclos biogeoquímicos (BRAGA et al., 2005, ODUM; BARRETT, 2011).

Na tabela a seguir podemos observar o tamanho dos reservatórios e os


tempos de renovação de quatro elementos biologicamente ativos.

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TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

TABELA 1 – TAMANHO DE RESERVATÓRIOS E TEMPOS DE RENOVAÇÃO DE ELEMENTOS


BIOLOGICAMENTE ATIVOS

Tempo de
Reservatório Quantidade
renovação*
Nitrogênio (1012 g N)
Atmosfera (N2) 4 x 109 107
Sedimentos 5 x 108 107
Oceano (N2 dissolvido) 2,2 x 107 1000
Oceano (inorgânico) 6 x 10 5

Solo 3 x 105 2000


Biomassa terrestre 1,3 x 10 4
50
Atmosfera (N2O) 1,4 x 104 100
Biomassa marinha 4,7 x 102
Enxofre (1012 g S)
Litosfera 2 x 1010 108
Oceano 3 x 109 106
Sedimentos 3 x 108 106
Solos 3 x 105 103
Lagos 300 3
Biota marinha 30 1
Atmosfera 4,8 8 – 25 dias
Fósforo (1012 g P)
Sedimentos 4 x 109 2 x 108
Continente 2 x 105 2000
Oceano profundo 8,7 x 104 1500
Biota terrestre 3000 ~50
Oceano superficial 2700 2,6
Atmosfera 0,028 dias
Carbono (10 g C)
12

Sedimentos, rochas 77 x 106 >106


Oceano profundo (CID, carbono orgânico dissolvido) 38000 2000
Solos 1500 <10-105
Oceano superficial décadas 1000 Décadas
Atmosfera 750 5
Oceano profundo (COD, carbônico orgânico
700 5000
dissolvido)
Biomassa terrestre 550-680 50
Sedimentos superficiais 150 0,1-1000

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UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

Biomassa marinha 2 0,1-1


*Tempo de renovação em anos, a menos que citado de outra forma.
FONTE: Adaptado de: Odum; Barrett (2011, p. 144)

Os elementos químicos quase nunca estão distribuídos de forma


homogênea na natureza, nem estão presentes na mesma composição química
em todo o ecossistema. Muitas vezes, a porção reservatório é chamada de
estoque indisponível, e o estoque ativo em circulação, de estoque disponível.
Para exemplificar podemos citar as análises que os agrônomos fazem,
quantificando a fertilidade do solo estimando a concentração de nutrientes
trocáveis – a parte pequena do conteúdo de nutrientes total do solo que logo
se torna disponível para as plantas. Porém, estas afirmações são admissíveis
desde que seja compreendido de que estes termos são relativos. Um átomo
no estoque reservatório não está, necessariamente, indisponível para os
organismos, porque existem fluxos lentos entre os componentes disponíveis
e indisponíveis. Os métodos usados para quantificar nutrientes trocáveis em
testes de solo são apenas indicadores aproximados. O tamanho relativo dos
estoques reservatório é importante quando se avaliam os efeitos antrópicos
sobre os ciclos biogeoquímicos. Assim, temos que, geralmente, os menores
estoques reservatório serão os primeiros afetados pelas mudanças nos fluxos
dos elementos. Exemplificando, a quantidade de carbono na atmosfera é uma
parte muito pequena do total de carbono na biosfera, contudo uma mudança
nesse estoque tem um grande efeito na temperatura da Terra. Atualmente,
o ser humano exibe os 40 elementos essenciais e também todos os outros
elementos, incluindo os sintéticos, acelerando de tal forma a circulação de
muitos materiais que os processos autorreguladores que tendem a manter a
homeorese são suprimidos, ao passo que os ciclos de nutrientes tendem a se
tornar imperfeitos ou acíclicos. Assim, o objetivo da conservação dos recursos
naturais em um sentido mais amplo é fazer com que os processos acíclicos se
tornem mais cíclicos (ODUM; BARRETT, 2011).

Portanto, agora iremos estudar mais profundamente os ciclos


biogeoquímicos de alguns elementos químicos, como o nitrogênio, fósforo, enxofre
e o carbono. O ciclo biogeoquímico do oxigênio será abordado com mais detalhes
na Unidade 2 e o ciclo biogeoquímico da água será abordado na Unidade 3.

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TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

3.2 CICLO BIOGEOQUÍMICO DO NITROGÊNIO

Caro(a) acadêmico(a)! O ciclo biogeoquímico do nitrogênio é uma dos ciclos


biogeoquímicos mais importantes, por isso será estudado com mais aprofundamento.
Então vamos lá!

O nitrogênio (N2) é o gás mais abundante na atmosfera, contribuindo com


aproximadamente 78% de sua composição, porém, ele não é reativo, com isso, não
pode ser usado diretamente por muitos organismos. A atmosfera é o principal
reservatório de nitrogênio, sob a forma de N2 (MANAHAN, 2013). A molécula de N2 é
extremamente estável, reagindo quimicamente com mais intensidade na termosfera
(altitude maior que 90 km) onde pode ser fotolizada ou ionizada (DERISIO, 2012,
MARTINS et al., 2003, ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

O nitrogênio é um constituinte de muitos compostos encontrados na


natureza, pois este elemento químico possui grande capacidade de fazer ligações
químicas, com números de oxidação variando de (–3) a (+5).

Os constituintes minoritários, como o óxido nitroso (N2O), óxido nítrico


(NO), dióxido de nitrogênio (NO2), ácido nítrico (HNO3) e amônia (NH3) são
quimicamente reativos e têm importância significativa nos impactos ambientais
da atualidade, como a chuva ácida, poluição atmosférica, aerossóis atmosféricos
e a depleção da camada de ozônio.
FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/carooolmarques/ciclo-do-nitrognio-26436093>.
Acesso em: 20 dez. 2013.

O óxido nítrico e o dióxido de nitrogênio são rapidamente interconversíveis


e coexistindo em equilíbrio dinâmico. Assim, a soma das duas espécies químicas
geralmente é referida como óxidos de nitrogênio (NOx) onde NOx= NO + NO2
(MARTINS et al., 2003).

O nitrogênio é um elemento químico essencial à vida, como, por exemplo,


é constituinte dos aminoácidos, que formarão as proteínas e, portanto, fazem
parte do DNA. Os animais utilizam-se do nitrogênio incorporado em compostos
orgânicos (aminoácidos e proteínas), enquanto que plantas e algas utilizam-se do
nitrogênio sob a forma de íons nitrato (NO3-) ou íons amônio (NH4+) (MARTINS et
al., 2003; ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

O ciclo biogeoquímico do nitrogênio, apresentado na figura a seguir,


é um dos mais importantes e complexos ciclos globais. Este ciclo descreve um
processo dinâmico de intercâmbio de nitrogênio entre a atmosfera, a matéria
orgânica e compostos inorgânicos.

FONTE: Adaptado de: <http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarTema.php?idTema=7>. Acesso em: 20


dez.2013.

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UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

FIGURA 7 – CICLO BIOGEOQUÍMICO DO NITROGÊNIO

FONTE: Martins et al.(2003, p. 34)

Ao analisarmos a figura anterior, podemos verificar que no ciclo do nitrogênio


existem quatro mecanismos reacionais básicos: fixação do nitrogênio atmosférico em
nitratos, amonificação, nitrificação e desnitrificação (BRAGA et al., 2005).
FIGURA 8 – PRINCIPAIS REAÇÕES QUÍMICAS DO CICLO DO
NITROGÊNIO

FONTE: O autor

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TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

3.2.1 Fixação do nitrogênio atmosférico

A fixação do nitrogênio atmosférico é o processo pelo qual o N2 (gasoso ou


simplesmente “g”) atmosférico reage para formar outro composto nitrogenado.
Assim, o nitrogênio transforma-se em outra forma de composto que contém o
nitrogênio da atmosfera. Este processo acontece de formas variadas, entre elas as
descargas elétricas, combustão, indústria e por fixação simbiótica e assimbiótica
(LENZI; FAVERO, 2011).

3.2.1.1 Descargas elétricas

As descargas elétricas podem acontecer de forma natural, como os raios,


relâmpagos, eflúvios elétricos, ou de forma artificial, como por meio do arco voltaico
(processo de soldagem, por exemplo). Uma descarga elétrica na atmosfera, ou em
mistura de N2 e O2, inicialmente dissocia as moléculas de N2 e de O2, conforme
podemos observar nas reações R-1 e R-2, e depois acontece a síntese do NO e NO2
(NOx), conforme apresentado nas reações R-3 e R-4 (LENZI; FAVERO, 2011).

15
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

3.2.1.2 Combustão

A combustão (R-5) está presente nos processos energéticos das indústrias,


na queima dos combustíveis fósseis dos veículos e na queimada das florestas, por
consequente estes processos químicos são geradores de óxido nitroso (N2O (g)) e
óxido nítrico (NO2 (g)). Observe a reação R-9. Quando a matéria orgânica (lenha,
óleo diesel, gasolina, mato etc.) entra em combustão na presença do oxigênio do ar,
significa que o nitrogênio do ar (78%) reage com o oxigênio, conforme apresentado
na reação R-8. Ainda neste processo, por exemplo, o carvão aceso (brasa) ou as
paredes do cilindro do motor, funcionam como um catalisador da reação (R-6 e
R-7) (LENZI; FAVERO, 2011).

Cilindros do motor, brasa

3.2.1.3 Indústria

A exportação dos nutrientes e as deficiências do solo (devido à agricultura


intensiva) levaram o homem a sintetizar uma enorme quantidade de fertilizantes,
entre eles os nitrogenados. Com isto, milhares de toneladas de nitrogênio
atmosférico são retirados da atmosfera e devolvidos ao solo. A principal molécula
para a produção dos fertilizantes nitrogenados é o gás amônia, NH3(g), que é

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TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

sintetizado por diversas rotas metabólicas. A seguir vejamos a reação de síntese da


amônia (R-10) conhecida como rota sintética de Claude (LENZI; FAVERO, 2011).

3.2.1.4 Fixação simbiótica e assimbiótica

A fixação do nitrogênio é um processo que utiliza muita energia para


quebrar a tripla ligação molecular de N2 de forma que possa ser convertida em
duas moléculas de amônia (NH3). Somente os procariontes podem converter
biologicamente o N2 inútil em nitrogênio utilizável para construir e manter as
células vivas. Quando esses microrganismos (como o exemplo do Rhizobium
leguminosarum) vivem em simbiose com algumas espécies de leguminosas, aumenta
muito a fixação de nitrogênio. A planta fornece uma residência nos nódulos da raiz
ou na cavidade da folha, protegendo os micróbios do excesso de O2 (que inibe a
fixação de N2) e os supre com energia. Em troca, a planta obtém um suprimento
de nitrogênio fixado prontamente assimilável (LENZI; FAVERO, 2011, ODUM;
BARRETT, 2011).

NOTA

A simbiose é o processo de vida em comum entre dois seres de raças distintas, em


que cada um tem seus benefícios desta convivência.

Existe também a fixação assimbiótica do nitrogênio, realizada pelos


microrganismos heterotróficos. Por exemplo, as bactérias quimiossintetizantes
Nitrosomonas (converte amônia em nitrito) e Nitrobacter (converte nitrito em
nitrato) obtêm energia da degradação da matéria orgânica, ao passo que as
bactérias desnitrificantes e fixadoras de nitrogênio requerem energia de outras
fontes para completar as suas respectivas transformações. Existe também um ciclo
curto do nitrogênio na biosfera viva, onde os organismos heterotróficos degradam
as proteínas por meio de enzimas e excretam o nitrogênio excedente sob a forma
de ureia, ácido úrico ou amônio. O fator determinante para a biofixação é a enzima
nitrogenase, que catalisa a quebra de N2 (ODUM; BARRETT, 2011).

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UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

3.2.2 Amonificação e nitrificação

A transformação do nitrogênio orgânico (N-orgânico) na forma mineral


de amônio (NH4+), é denominada amonificação e a transformação do amônio
em nitrito (NO2-) e nitrato (NO3-), é chamada de nitrificação (ver reação R-11).
Estas reações são promovidas pela ação de microrganismos, como o Rhizobium
leguminosarum (LENZI; FAVERO, 2011).

O nitrogênio total que está presente na fase sólida e líquida dos componentes
da hidrosfera, geosfera e biosfera pode ser agrupado nas formas apresentadas na
figura a seguir.

FIGURA 9 – FORMAS EM QUE SE PODE ENCONTRAR O NITROGÊNIO NAS


FASES SÓLIDA E LÍQUIDA DOS COMPOSTOS DA HIDROSFERA, GEOSFERA E
BIOSFERA

FONTE: Adaptado de: Lenzi e Favero (2011, p. 85)

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TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

O N-orgânico representa 85% a 95% do nitrogênio total existente nas fases


sólida e líquida dos materiais terrestres. O maior percentual do nitrogênio do solo
está nas proteínas, derivado dos vegetais e animais mortos. A decomposição destes
materiais orgânicos em seus componentes inorgânicos (minerais) e componentes
orgânicos (aminoácidos) por organismos vivos denomina-se mineralização. O
nitrogênio é transformado em parte a amônio (NH4+) em ambiente anaeróbico e em
nitrato (NO3-) em ambiente aeróbico, correspondendo ao N-inorgânico. A outra
parte permanece na forma de aminoácidos que continua reagindo, formando os
materiais húmicos, etapa esta conhecida como humificação (LENZI; FAVERO,
2011).

O nitrogênio na forma de NH4+ e NO3- pode seguir caminhos diferentes,


como:

a) Reabsorvido pelas plantas: dentro do ciclo do nitrogênio as formas NH4+ e


NO3- são as formas assimiláveis pelas plantas, como um dos macronutrientes
utilizados na formação de aminoácidos, proteínas, enzimas, entre outros.

b) Lixiviado e percolado: as formas iônicas de NH4+ e NO3- são hidratadas, formando


com a água uma unidade do tipo NH4+(aq) e NO3-(aq) que são solúveis na solução
do solo e na água da chuva, sendo lixiviadas e/ou percoladas, alcançando algum
fluxo d'água bem distante do local de formação.

c) Trocado e fixado: as micelas coloidais dispersas na solução do solo contém


cargas elétricas negativas criadas por substituições isomórficas (no caso das
argilas – micelas minerais) ou por mudança de pH (micelas orgânicas e também
minerais). Estas cargas elétricas negativas (podendo ser positivas) atraem o íon
NH4+ fixando-o à micela.

d) Desnitrificação: a desnitrificação é um conjunto de processos biológicos e


abiológicos que promovem a redução de nitratos, como a N2(g) e a consequente
perda de nitrogênio do solo (LENZI; FAVERO, 2011).

3.2.3 Desnitrificação

Caro(a) acadêmico(a)! Agora estudaremos a desnitrificação biológica e a


desnitrificação não biológica.

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UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

3.2.3.1 Desnitrificação biológica

A desnitrificação é realizada por muitos microrganismos, entre eles os de


natureza heterotrófica (Pseudomonas sp; Xanthomonas sp, Bacillus sp, entre outros)
e os de natureza autotrófica (Micrococcus denitrificans e Thiobaccillus denitrificans). A
maioria é de natureza anaeróbica. Seguem as etapas da reação de desnitrificação
(LENZI; FAVERO, 2011):

A partir dessa etapa o processo pode seguir dois caminhos:

Quando o pH > 7,0:

Quando o pH < 7,0:

20
TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

3.2.3.2 Desnitrificação não biológica

Esta reação é resultante de uma sequência de reações químicas entre os


diferentes compostos nitrogenados presentes no solo natural ou adicionados
como fertilizantes. Portanto, dependendo das condições do solo ou do composto,
o nitrogênio pode ser perdido na forma de NH3(g), NO(g), NO2(g) e N2(g) (LENZI;
FAVERO, 2011).

a) Os fertilizantes que contêm amônio NH4+, num ambiente básico e temperatura


adequada (25- 35°C), sofre a reação R-16:

b) Em situações em que se forma o ácido nitroso (HNO2) este pode se decomposto


e liberar os NOx, conforme reações de R-17 a R-18.

c) O nitrogênio (N2(g)) pode ser volatilizado a partir de nitritos do solo conforme as reações
R-19 até R-21.

21
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

d) Em condições adequadas de acidez e temperatura pode-se perder o N2(g) conforme


a reação R-22.

e) A ureia aplicada ao solo, dependendo das condições pode provocar a perda de


nitrogênio, conforme a reação R-23.

Onde, o carbonato de amônio, pode seguir dois caminhos.

1. De compor-se nas condições ambientes e perder NH3(g) para a atmosfera:

2. Ou encontrar o ácido nitroso e perder N2(g):

3.2.4 Efeitos prejudiciais do excesso de nitrogênio

A produção e utilização de fertilizantes, os cultivos de leguminosas e a


queima de combustíveis fósseis depositam mundialmente, aproximadamente 140
Tg/ano (teragramas por ano) de nitrogênio novo no solo, na água e no ar. Este
incremento antrópico quase equivale às estimativas de nitrogênio fixado de forma
natural. Só o esgoto humano e os excrementos de animais domésticos contribuem
com, quase a metade desse valor e a maior parte destas entradas escapam para o
solo ou cursos de água ou são misturadas a metais pesados e outras toxinas, não
participando do processo de reciclagem (ODUM e BARRETT, 2011).

22
TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

A maioria dos ecossistemas naturais e das espécies nativas está adaptada


aos ambientes com teores de nutrientes reduzidos. O problema se inicia com o
enriquecimento com nitrogênio e outros nutrientes, favorecendo o desenvolvimento
de espécies oportunistas chamadas ervas daninhas, adaptadas aos altos teores de
nutrientes.

Todo evento que prejudica os ecossistemas naturais também se torna


prejudicial para os seres humanos. Assim, o excesso de componentes a base de
nitrogênio na água de abastecimento, na comida, e no ar põe em risco a saúde
humana. O enriquecimento por nitrogênio vem reduzindo a biodiversidade e
aumentando o número de pragas e doenças em nível mundial, afetando de maneira
adversa a saúde humana (ODUM e BARRETT, 2011).

NOTA

Caro(a) acadêmico(a)! Você sabia que o excesso de nitrato na água de


abastecimento também pode ser causado por leguminosas exóticas? A introdução da
leguminosa acácia-negra (Leucaena leucocephala), proveniente das Filipinas, após a Segunda
Guerra Mundial, envenenou as águas subterrâneas de boa parte da ilha de Guam (USA) (ODUM
e BARRETT, 2011).

3.3 CICLO BIOGEOQUÍMICO DO FÓSFORO

O fósforo é um elemento químico que constitui as moléculas dos ácidos


ribonucleico (RNA) e desoxirribonucleico (DNA) e componente dos ossos e dentes.
O fósforo aparece nos organismos em proporção muito maior aos outros elementos
químicos quando comparado com sua participação nas fontes primárias. Por isso, o
fósforo tem grande importância ecológica e provavelmente é o fator mais limitante
à produtividade primária (BRAGA et al., 2005).

Conforme exemplificado na figura a seguir, o fósforo tende a circular com


componentes orgânicos na forma de fosfato (PO4), elemento que é novamente
disponibilizado para as plantas. Porém, o maior depósito do elemento fósforo não é a
atmosfera, mas os depósitos minerais de apatita (sal de fósforo) formados em épocas
geológicas passadas, constituído assim o maior reservatório de fosfato ambiental
(ODUM; BARRETT, 2011, MANAHAN, 2013). Assim por meio dos processos erosivos,
ocorre a liberação do elemento fósforo na forma de fosfatos, que serão utilizados pelos
produtores. Porém, parte desses fosfatos é carregada para os oceanos, onde se perde
em depósitos a grandes profundidades, ou é consumida pelo fitoplâncton (BRAGA et
al., 2005).

23
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

FIGURA 10 – CICLO BIOGEOQUÍMICO DO FÓSFORO

FONTE: Braga et al. (2005, p. 32)

Cerca de 5 x 1012 g de fósforo são devolvidas anualmente pela poeira


atmosférica e aerossóis ao ambiente terrestre, mas o fosfato volta sempre para
o mar, onde parte dele é depositada nos sedimentos rasos e parte se perde nos
sedimentos profundos (ODUM; BARRETT, 2011). Porém, os meios de retorno do
fósforo para os ecossistemas a partir dos oceanos são insuficientes para compensar
a parcela que se perde, tendo como principais agentes de retorno os peixes e as aves
marinhas. Um exemplo deste processo pode ser observado nos depósitos de guano
(fosfato de cálcio originário dos excrementos das aves marinhas) existentes nas
costas do Peru e do Chile. Porém, a ação predatória dos seres humanos sobre esses
pássaros faz com que a taxa de retorno se reduza ainda mais. Ao mesmo tempo
em que reduzem a taxa de retorno, a ação antrópica, avança na exploração da
mineração, na ocupação desordenada do solo, no desmatamento e na agricultura,
acelerando o processo de perda de fósforo do ciclo. Estima-se que, atualmente, de
um a dois milhões de toneladas de fosfato são produzidas a partir da mineração,
só que apenas 60 mil toneladas retornam ao ecossistema (BRAGA et al., 2005). O
que se observa é que as atividades humanas parecem acelerar a taxa de perda de
fósforo, diminuindo esse ciclo. Porém, segundo Odum e Barrett (2011), não existe
razão para preocupação imediata com o suprimento para uso do homem, pois as
reservas de fosfato são abundantes. No entanto, a mineração e o processamento do
fosfato para fertilizantes geram graves problemas de poluição local.

Como já estudamos, uma parte significativa do fósforo se perde nos


depósitos de sedimentos profundos no oceano. Porém, devido aos movimentos
tectônicos, existe a possibilidade de levantamentos geológicos que tragam
novamente o fósforo perdido. Também, por meio da reciclagem, o fósforo presente

24
TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

nos compostos orgânicos, é metabolizado pelos decompositores e transformado


em fosfatos, sendo novamente utilizado pelos produtores. Contudo, este processo
apresenta perdas, uma vez que os ossos (ricos em fósforo) oferecem resistência aos
decompositores e à erosão (BRAGA et al., 2005).

O fósforo terá um papel importante no futuro, pois, de todos os


macronutrientes, ele é o mais escasso em termos de abundância relativa nos
depósitos disponíveis na superfície da Terra (ODUM; BARRETT, 2011).

3.4 CICLO BIOGEOQUÍMICO DO ENXOFRE

Na natureza existem muitos compostos contendo enxofre, pois este


elemento possui grande capacidade de fazer ligações químicas, apresentando
números de oxidação variando de (–2) a (+6) (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

O enxofre é um elemento químico essencial à vida na Terra, onde


organismos vivos, incluindo plantas, assimilam espécies de enxofre, enquanto
que várias formas de enxofre são emitidas como produto final de seus
metabolismos.
FONTE: Adaptado de: <http://www.quimica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.
php?conteudo=1245>. Acesso em: 8 jan. 2014.

O enxofre representa aproximadamente 0,5% da massa seca de plantas e


microrganismos e 1,3% do tecido animal (MARTINS et al., 2003). Apesar disso,
o ciclo do enxofre é uma das peças-chave nos padrões gerais de produção e
decomposição (ODUM; BARRETT, 2011).

O ciclo biogeoquímico do enxofre possui um conjunto de transformações


entre as espécies de enxofre presentes na litosfera, hidrosfera, atmosfera, biosfera
e antroposfera, conforme apresentado na figura a seguir.

O elemento enxofre possui um ciclo basicamente sedimentar, embora


possuindo uma fase gasosa de pouca importância. A principal forma de
assimilação do enxofre pelos seres produtores é como sulfato inorgânico,
sendo produzido por uma série de microrganismos com funções específicas
de redução e oxidação. A maioria do enxofre que é assimilado é mineralizado
em processo de decomposição. Porém, sob condições anaeróbias, o enxofre é
reduzido a sulfetos, dos quais o sulfeto de hidrogênio (H2S) é um composto
letal à maioria dos seres vivos, principalmente aos ecossistemas aquáticos em
grandes profundidades.
FONTE: Adaptado de: <http://pt.slideshare.net/bikengineer/ciclos-biogeoqumico-1s-anos-
alterado>. Acesso em: 8 jan. 2014.

25
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

FIGURA 11 – CICLO BIOGEOQUÍMICO DO ENXOFRE

FONTE: Martins et al. (2003, p. 37)

Os compostos reduzidos de enxofre, como o H2S, são formados por


atividade bacteriana anaeróbica no processo de oxidação de carbono orgânico a
dióxido de carbono e na redução do sulfato (SO42-) a sulfeto (S2-). Uma parte destes
compostos reage com íons metálicos e são fixados na litosfera, como rochas e
sedimentos (MARTINS et al., 2003). Ainda sob condições anaeróbias e na presença
de ferro, o enxofre é precipitado, formando sulfetos férricos e ferrosos. Com isso,
a produção destes compostos, permite que o fósforo converta-se de insolúvel a
solúvel, tornando-se utilizável. Esse é um exemplo da inter-relação entre diferentes
ciclos de minerais ocorrendo em um ecossistema (BRAGA et al., 2005). A relação
do fósforo com o ciclo do enxofre é mais evidenciada nos sedimentos anaeróbicos
das zonas alagadas, sendo locais importantes para a reciclagem do nitrogênio e
carbono também (ODUM; BARRETT, 2011).

Os processos realizados por microrganismos nas zonas anaeróbicas


profundas de solos e sedimentos resultam dos movimentos ascendentes de gases
de H2S em ecossistemas terrestres e pantanosos. A decomposição das proteínas
também leva à produção de sulfeto de hidrogênio. Quando o H2S chega à atmosfera,
é convertido em dióxido de enxofre (SO2), sulfato (SO4), dióxido de carbono (CO2)
e em minúsculas partículas flutuantes de SO4 (aerossóis de enxofre) (ODUM;
BARRETT, 2011).

26
TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

Já em ambientes com oxigênio, bactérias aeróbicas também produzem


sulfeto, pela decomposição de matéria orgânica contendo enxofre. Os compostos
reduzidos de enxofre como o sulfeto de hidrogênio (H2S), o dimetilsulfeto
(CH3SCH3 ou DMS), o sulfeto de carbonila (COS) e o dissulfeto de carbono (CS2) são
voláteis e rapidamente escapam para a atmosfera. O principal composto biogênico
do enxofre é o dimetilsulfeto (CH3SCH3), sendo emitido predominantemente por
determinadas algas marinhas, como a alga vermelha Polysiphonia fastigiata. Uma
parte do enxofre deste organismo está na forma de ácido dimetilssulfopropiônico,
sofrendo decomposição para produzir o dimetilsulfeto, formando um grande
reservatório nos oceanos (MARTINS et al., 2003).

O DMS presente no oceano é transferido para a atmosfera na ordem de


3% a 10%, porém os oceanos são responsáveis por 99% do fluxo global de DMS.
A outra parte está relacionada com emissões terrestres a partir da vegetação e
solos. Na atmosfera, o DMS reage com o radical hidroxila OH*, que é o principal
responsável pela sua remoção.

O sulfeto de carbonila (COS) é fornecido ao ecossistema principalmente


pelas árvores e outras espécies de plantas, onde a queima da biomassa constitui
a maior fonte direta antrópica do COS. Por apresentar baixa reatividade química,
o COS é o gás que contém enxofre, mais abundante na atmosfera, possuindo um
tempo de vida médio de um ano e meio, permitindo que atinja a alta atmosfera,
sendo uma importante fonte de SO2 e de sulfato particulado para a estratosfera
(MARTINS et al., 2003).

Já o sulfeto de hidrogênio (H2S) é um gás mal cheiroso, sendo produzido por


bactérias específicas. As principais fontes de H2S para a atmosfera são as atividades
vulcânicas, oceânicas, a partir de solos e vegetação, a queima da biomassa e as
emissões industriais. Uma vez presente na atmosfera, o H2S é rapidamente oxidado
pelo radical OH* (MARTINS et al., 2003).

O dissulfeto de carbono (CS2) é um gás que contém enxofre produzido na


atmosfera pelo ataque de radicais OH* ao sulfeto de carbonila (COS), podendo ser
encontrado em fontes como as atividades industriais, principalmente na indústria
de celulose.

O dióxido de enxofre (SO2) é um dos principais poluentes atmosféricos,


sendo emitido pela queima dos combustíveis fósseis e pelas atividades industriais
como, o refino de petróleo, a metalurgia e o cimento, enquanto que a atividade
vulcânica é a sua principal fonte natural (MARTINS et al., 2003).

A atmosfera atua como um meio oxidante, fazendo com que os compostos


reduzidos de enxofre reajam principalmente com radicais OH* e NO3*, sendo
oxidados principalmente a SO2. Uma vez na atmosfera, o SO2 é oxidado, tanto na
fase gasosa, quanto na fase aquosa (chuva, neblina, nevoeiro), produzindo o ácido
sulfúrico (H2SO4) ou partículas neutralizadas sob forma de sulfato. A sequência das
reações R-27 até R-31 representa o processo de conversão do H2S a SO2 (MARTINS
et al., 2003).
27
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

Os outros compostos reduzidos de enxofre, também sofrem reação com


o radical OH*, apresentando-se como o principal processo de oxidação na fase
gasosa da atmosfera. Já o DMS reage com radical NO3*, em que este processo se
torna importante na remoção deste gás, em atmosferas poluídas por óxidos de
nitrogênio (NOx) (MARTINS et al., 2003).

A oxidação por radical OH* também é responsável pela conversão do SO2


na fase gasosa da atmosfera, conforme apresentado nas reações R-32 e R-33.

Já o trióxido de enxofre (SO3) formado reage rapidamente com a água,


produzindo o ácido sulfúrico (H2SO4), conforme apresentado na reação R-34.

O dióxido de enxofre possui boa solubilidade em água, logo, a fase aquosa


da atmosfera contém SO2 dissolvido, ou ainda moléculas de enxofre no estado de
oxidação +4, sulfito (SO32-) e bissulfito (HSO3-), conforme apresentado nas reações
R-35 à R-37 (MARTINS et al., 2003).

28
TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

A ação antrópica vem contribuindo na interferência do ciclo biogeoquímico


do enxofre por meio de grandes quantidades de dióxido de enxofre liberadas
nos processos de queima de carvão e óleo combustível em indústrias e usinas
termoelétricas e outros. O dióxido de enxofre possui efeitos danosos ao organismo,
além de provocar, efeitos danosos também nos ecossistemas por meio da chuva
ácida e do smog fotoquímico (BRAGA et al., 2005).

Caro(a) acadêmico(a)! Estes processos de poluição provocados pelo SO2


serão estudados mais profundamente na Unidade 2.

3.5 CICLO BIOGEOQUÍMICO DO CARBONO

É indiscutível a importância do carbono e de seus compostos, fazendo


parte de toda a matéria orgânica e de tudo o que tem vida, fundamentais na
respiração, fotossíntese e regulação do clima (MARTINS et al., 2003). Existe uma
grande variedade de compostos de carbono envolvidos no seu ciclo global, os
quais podem ser sólidos, líquidos e gasosos, e muitos deles são produzidos por
organismos vivos (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Podemos observar no ciclo biogeoquímico do carbono (conforme figura


a seguir) que o depósito atmosférico de carbono é pequeno se comparado com
a quantidade de carbono presente no oceano, em combustíveis fósseis e outros
depósitos na litosfera. A queima de combustíveis fósseis, juntamente com a
agricultura e ao desmatamento estão contribuindo para o aumento contínuo de
CO2 na atmosfera, sendo que em 1850 a concentração era de 270 ppm (partes
por milhão), passando para uma concentração de 395 ppm em 2013. A perda
líquida de CO2 na agricultura é muito grande. Isto ocorre porque o CO2 fixado por
cultivos não compensa o CO2 liberado do solo, especialmente em consequência
das frequentes aragens. O desmatamento pode liberar o carbono armazenado nas
matas por meio das queimadas, seguindo com liberação de carbono por meio da
oxidação de húmus. Já as florestas jovens de crescimento rápido são sumidouros
de carbono, portanto, o reflorestamento em larga escala tende a reduzir os efeitos
do aquecimento global e está intimamente ligado ao aumento da concentração de
CO2 na atmosfera (ODUM; BARRETT, 2011).

29
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

FIGURA 12 – CICLO BIOGEOQUÍMICO DO CARBONO

FONTE: Martins et al. (2003, p. 31)

Assim, o carbono pode ser encontrado na atmosfera sob diferentes formas,


tais como o monóxido de carbono (CO), o gás carbônico (CO2), o gás metano (CH4),
os derivados clorofluorcarbonos (CFCs), os hidrocarbonetos (HC), os derivados
orgânicos, entre outros (LENZI; FAVERO, 2011). Foi a partir do último século (início
da Revolução Industrial), que a emissão antrópica destes gases começou a ser
significativa na atmosfera, consequentemente, provocando fenômenos ambientais
de natureza regional e global, como o efeito estufa, a depleção do ozônio, o smog
fotoquímico, entre outros (BRAGA et al., 2005).

No ciclo biogeoquímico do carbono estão envolvidos quatro reservatórios


principais, que são: a atmosfera, o oceano (incluindo organismos marinhos), a
superfície continental (incluindo plantas terrestres e solos) e a litosfera (conforme
figura a seguir).

30
TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

FIGURA 13 – O CICLO DO CARBONO MOSTRANDO OS RESERVATÓRIOS EM Gt (109


TONELADAS) E OS FLUXOS PARA OS QUATRO SUBCICLOS EM EQUILÍBRIO

FONTE: Press et al. (2006, p. 601)



O fluxo de carbono entre esses reservatórios são separados em quatro
subciclos básicos conforme apresentado na figura a seguir. Durante as épocas em
que o clima da Terra está estável, cada subciclo está em equilíbrio, podendo ser
caracterizado por um fluxo constante (PRESS et al., 2006).

31
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

FIGURA 14 – OS SUBCICLOS DO CICLO BIOGEOQUÍMICO DO CARBONO

FONTE: Adaptado de: Press et al.(2006, p. 600)

3.5.1 Origem do gás carbônico na atmosfera


O gás carbônico da atmosfera teve origem em dois momentos distintos
identificados ao longo da existência da Terra. O primeiro momento foi antes do
aparecimento da vida e o segundo após o aparecimento da vida sobre o planeta
Terra (LENZI; FAVERO, 2011).

3.5.1.1 Primeiro momento


Antes do surgimento da vida na Terra, o CO2 atmosférico se originou
da litosfera, assim como das reações plutônicas. Assim, o carbono atmosférico
restringia-se apenas ao ciclo geoquímico do carbono, até que as condições
ambientes fossem favoráveis para a vida no planeta. Com um pH muito ácido
proveniente dos ambientes aquáticos iniciais da Terra, não havia formação das
rochas calcárias. Assim, o gás carbônico era liberado diretamente para a atmosfera,
conforme a reação R-38 (LENZI; FAVERO, 2011).
32
TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

3.5.1.2 Segundo momento

Conforme as condições foram permitindo, surgiram os organismos


autotróficos e heterotróficos, apresentando as características aeróbias e anaeróbias,
iniciando então o segundo momento com o ciclo do carbono na atmosfera. Com
isso, os organismos autotróficos, retiram o gás carbônico da atmosfera e auxiliados
pela radiação solar, nutrientes e pela clorofila sintetizam a biomassa, fixando o
CO2 da atmosfera. Este processo é chamado de fotossíntese. O carbono de estado
de oxidação 4+ passa para carbono no estado de oxidação zero, sofrendo assim,
uma redução e o oxigênio sofre oxidação, liberando o gás O2 (ver R-39) (LENZI;
FAVERO, 2011).

O carbono que foi fixado na biomassa poderá ser novamente liberado para
a atmosfera na forma de CO2, ou sendo fixado na forma de matéria orgânica do
solo, ou ainda como material mineral da crosta terrestre. Todos estes processos
podem ser de origem biogênica, não biogênica ou antrópica. O ciclo do carbono
é um ciclo perfeito, pois o carbono é devolvido ao meio à mesma taxa a que é
sintetizado pelos produtores (BRAGA et al., 2005, LENZI; FAVERO, 2011).

3.5.1.3 Processos biogênicos de liberação do carbono


para a atmosfera

Os seres vivos para sobreviver buscam a energia degradando a matéria


orgânica resultante da biomassa mediante o que se chama respiração para os
aeróbicos e fermentação para os anaeróbicos.

33
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

a) Respiração: os organismos aeróbicos processam bioquimicamente o oxigênio


do ar nas células, oxidando a matéria orgânica. É uma reação de combustão
controlada em nível celular ou ainda uma reação em sentido contrário da
fotossíntese, liberando a energia solar que foi armazenada e os componentes
iniciais H2O e CO2 (verificar a reação R-40) (LENZI; FAVERO, 2011)

Elétrons doados
1+ 2- 4+ 1+ 2-

CH2 O(S) + O2(g)


Organismo
CO2(g) + H2 O(liq) + Energia R-40
biomassa aeróbico
0 2-

Elétrons recebidos

b) Fermentação: ocorre nos ambientes isentos ou quase isentos de oxigênio como,


por exemplo, um lamaçal ou o interior do intestino de um animal. Neste ambiente
encontram-se as espécies químicas em suas formas reduzidas, significando um
ambiente com disponibilidade de elétrons (ambiente redutor). A biota que
habita neste ambiente, realiza a fermentação da matéria orgânica para produzir
energia. Esta reação é denominada de reação redutora, conforme apresentado
na reação R-41. Nesta reação o CH4 e o CO2 são devolvidos para a atmosfera,
fazendo retornar o carbono retirado por meio da fotossíntese (LENZI; FAVERO,
2011).

3.5.1.4 Processos antropogênicos de liberação de


carbono para a atmosfera
O ser humano não somente adquire a energia básica para a sobrevivência
(respiração), mas precisa suprir as necessidades de alimentos, moradia, conforto,
entre outros. Portanto, precisa de mais energia, que na maior parte das vezes
busca na forma de energia calorífica mediante a combustão de material fóssil ou
de material. Porém, estes processos de combustão transformam o carbono em
CO2 e na ausência de oxigênio produz o CO, conforme apresentado nas reações
R-42 e R-43. Só na combustão de materiais fósseis, como a queimada das florestas
e modificações do uso da terra são lançados na atmosfera anualmente 7,1 Gt de
carbono na forma de CO2 (LENZI; FAVERO, 2011).

34
TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

3.5.1.5 Fixação do CO2

A fotossíntese é um dos mais importantes processos de fixação do carbono da


atmosfera, conforme abordado no item anterior, porém temos ainda outro processo
chamado de dissolução na água líquida.

O CO2 é um importante ácido fraco das águas naturais, não importando sua
origem, onde, este formará com a água um sistema de duas fases, pois o CO2 é gás e
a água é líquido. Assim, o CO2, na fase líquida, é distribuído conforme apresentado
na sequência:

a) Uma fração do CO2 apresenta-se na forma molecular, regida pela lei de Henry
que é igual à soma dos dois componentes:

b) Uma fração do CO2 dissolvido se encontra na forma ionizada de bicarbonato


(HCO3-(aq)) e carbonato (CO32-(aq)).
c) Uma terceira fração encontra-se associada à reação de decomposição de rochas
conforme as reações R-44 e R-45.

35
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

d) E a quarta fração, na forma de CO32-(aq) encontra-se em equilíbrio com os próprios


carbonatos que se dissolveram no corpo de água dando o efeito do íon comum,
conforme a reação R-46. O My+ é um cátion metálico proveniente da dissolução
de minerais por onde a água passa (LENZI; FAVERO, 2011).

LEITURA COMPLEMENTAR

QUÍMICA VERDE, OS DESAFIOS DA QUÍMICA DO NOVO MILÊNIO

A química tem uma grande participação nos dias atuais com os inúmeros
produtos fundamentais à humanidade. A sua presença pode ser destacada desde
diversos combustíveis aos mais complexos medicamentos. Porém, a produção
química também gera inúmeros inconvenientes, como a formação de subprodutos
tóxicos e a contaminação do ambiente e do próprio homem expostos a estes
xenobióticos. A preocupação com estes inconvenientes pode ser claramente
observada, pois, nos últimos anos, cresce continuamente a pressão sobre as
indústrias químicas, tanto através da sociedade civil, como das autoridades
governamentais, no sentido de aprimorar o desenvolvimento de processos, que
sejam cada vez menos prejudiciais ao meio ambiente. Dentro da problemática
industrial vigente, um dos principais problemas que se destaca é o grande volume
de efluentes tóxicos produzidos por vários processos químicos. A emissão de
contaminantes pode ser minimizada através de diversos caminhos, tais como o
emprego de reagentes alternativos apropriados, o aumento da seletividade para
maximizar o uso dos materiais de partida, a utilização de catalisadores para facilitar
a separação do produto final da mistura, bem como a reciclagem dos reagentes
e catalisadores empregados no processo [...]. [...] estes conceitos devem estar
fixados em todos os estudantes de química com a intenção de formar profissionais
capacitados para os novos conceitos científicos e tecnológicos responsáveis pela
sustentabilidade do planeta.

Dentro dos princípios da necessidade de um desenvolvimento sustentável,


tem-se como regra que a química deve manter e melhorar a qualidade de vida.
36
TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

O grande desafio é a continuidade do desenvolvimento, diminuindo os danos


causados ao meio ambiente. Tal fato requer uma nova conduta química para o
aprimoramento dos processos, com o objetivo fundamental da geração cada vez
menor de resíduos e efluentes tóxicos, bem como da menor produção de gases
indesejáveis ao ambiente. Este novo caminho a ser delineado pela química
é denominado como química sustentável ou química verde: “A criação, o
desenvolvimento e a aplicação de produtos e processos químicos para reduzir ou
eliminar o uso e a geração de substâncias tóxicas”.

A química verde tem a preocupação do desenvolvimento de tecnologias


e processos incapazes de causar poluição. Idealmente, a aplicação dos princípios
da química verde conduz à regulamentação, ao controle para não causar a uma
remediação desnecessária.

Além dos benefícios ambientais, tal pensamento apresenta também


um impacto econômico graças à diminuição de gastos com o armazenamento e
tratamento de resíduos, a descontaminação e o pagamento de indenizações. O
questionamento global sobre os danos gerados ao planeta por uma miríade de
atividades humanas tem se apresentado cada vez mais em destaque na mídia. A
resposta encontrada para ajudar na solução destes problemas está baseada em uma
combinação de fatores, entre os quais se destacam os econômicos, científicos, bem
como os sociais. Assim, a adoção da química verde é só mais uma das iniciativas
para a prevenção da poluição desenfreada. Este novo pensamento científico
incentiva tal combinação e a implantação da química verde nos currículos e na
prática científica, bem como aplicá-la em escala comercial e industrial.

A emergência da química verde na educação e na pesquisa está sendo


suportada por sociedades científicas, governos e indústrias. Os princípios da
prática química guiada pela preocupação com a qualidade de vida e com o meio
ambiente formam os doze princípios da química verde: 1) prevenção: é melhor
prevenir a formação de subprodutos do que tratá-los posteriormente; 2) economia
de átomos: os métodos sintéticos devem ser desenvolvidos para maximizar a
incorporação dos átomos dos reagentes nos produtos finais desejados; 3) sínteses
com compostos de menor toxicidade: sempre que possível deve-se substituir
compostos de alta toxicidade por compostos de menor toxicidade nas reações
químicas; 4) desenvolvimento de compostos seguros: os produtos químicos
deverão ser desenvolvidos para possuírem a função desejada, apresentando a
menor toxicidade possível; 5) diminuição de solventes e auxiliares: a utilização
de substâncias auxiliares (solventes, agentes de separação etc.) deverá ser evitado
quando possível, ou usadas inócuas no processo; 6) eficiência energética: os métodos
sintéticos deverão ser conduzidos sempre que possível à pressão e temperatura
ambientes, para diminuir a energia gasta durante um processo químico que
representa um impacto econômico e ambiental; 7) uso de substâncias recicladas:
os produtos e subprodutos de processos químicos deverão ser reutilizados
sempre que possível; 8) redução de derivativos: a derivatização (uso de reagentes
bloqueadores, de proteção ou desproteção, modificadores temporários) deverá ser
minimizada ou evitada quando possível, pois estes passos reacionais requerem
reagentes adicionais e, consequentemente, podem produzir subprodutos
37
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

indesejáveis; 9) catálise: a aplicação de catalisadores para aumentar a velocidade


e o rendimento dos processos químicos; 10) desenvolvimento de compostos para
degradação: produtos químicos deverão ser desenvolvidos para a degradação
inócua de produtos tóxicos, para não persistirem no ambiente; 11) análise em
tempo real para a prevenção da poluição: as metodologias analíticas precisam ser
desenvolvidas para permitirem o monitoramento do processo em tempo real, para
controlar a formação de compostos tóxicos; 12) química segura para a prevenção
de acidentes: as substâncias usadas nos processos químicos deverão ser escolhidas
para minimizar acidentes em potencial, tais como explosões e incêndios [...].

Para ler o artigo completo consulte a referência:

FONTE: PRADO, A. G. S. Química Verde, os Desafios da Química do Novo Milênio. Química Nova,
Vol. 26, nº 5, 738-744, 2003.

38
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você viu que:

• A química ambiental é uma ciência que estuda as fontes, as reações, o transporte,


os efeitos e o destino das espécies químicas na hidrosfera, na atmosfera, na
geosfera, na biosfera e na antroposfera, além dos efeitos das atividades humanas.

• Todos os elementos químicos, inclusive aqueles elementos essenciais para a


vida, tendem a circular na biosfera em caminhos característicos, que vão do
ambiente para o organismo e de volta para o ambiente.

• Os ciclos biogeoquímicos promovem o fluxo dos elementos químicos de um


reservatório a outro, em que a atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera têm
a função de reservatórios biogeoquímicos para armazenamento dos elementos
químicos.

• Com a existência dos ciclos biogeoquímicos é atribuído à biosfera um poder


importante de autorregulação, assegurando a sustentabilidade dos ecossistemas.

• O nitrogênio é o gás mais abundante na atmosfera, contribuindo com


aproximadamente 78% de sua composição, porém, ele não é reativo, com isso,
não pode ser usado diretamente por muitos organismos.

• O ciclo biogeoquímico do nitrogênio é um dos mais importantes e complexos


ciclos globais, apresentando um processo dinâmico de intercâmbio de nitrogênio
entre a atmosfera, a matéria orgânica e compostos inorgânicos.

• O fósforo tende a circular com componentes orgânicos na forma de fosfato (PO4),


elemento que é novamente disponibilizado para as plantas.

• O enxofre é um elemento químico essencial à vida na Terra, em que organismos


vivos, incluindo plantas, assimilam espécies de enxofre, enquanto que várias
formas de enxofre são emitidas como produto final de seus metabolismos.

FONTE: Adaptado de: <http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarTema.php?idTema=7>.


Acesso em: 8 jan. 2014.

• O elemento enxofre possui um ciclo basicamente sedimentar, embora possua


uma fase gasosa de pouca importância.

• O carbono é um elemento químico de grande importância para o ecossistema,


fazendo parte de toda a matéria orgânica e de tudo o que tem vida, sendo
fundamental na respiração, fotossíntese e regulação do clima.

39
• No ciclo biogeoquímico do carbono estão envolvidos quatro reservatórios
principais, que são: a atmosfera, o oceano (incluindo organismos marinhos), a
superfície continental (incluindo plantas terrestres e solos) e a litosfera.

40
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos


exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno
de Estudos. Bom trabalho!

1 Para a maior parte das pessoas, a química ambiental é uma área


do conhecimento que surgiu dentro da química recentemente,
devido à conscientização dos cidadãos e empresas sobre os da-
nos causados pelas atividades antrópicas, tanto em seus lares,
como nas indústrias. Estas atividades antrópicas geram efluentes e resíduos,
sólidos, líquidos e gasosos que, de uma maneira ou outra, têm seu desti-
no final na atmosfera, nos solos e nos corpos d’água, naturais e artificiais,
continentais, costeiros ou nos oceanos. A maioria desses efluentes e resíduos
constituem-se em materiais ricos em nutrientes, como o carbono, nitrogênio
e fósforo, e contaminantes orgânicos e inorgânicos, que são os responsáveis
pela degradação ambiental crescente que nossos ecossistemas vêm sofrendo
e as próprias consequências negativas para o homem (MOZETO; JARDIM,
2002). Com base no texto, o que você entende por química ambiental?

2 O nitrogênio é um elemento químico essencial à vida, como, por


exemplo, sendo constituinte dos aminoácidos, que formarão as
proteínas e, portanto, fazendo parte do DNA. Os animais utili-
zam-se do nitrogênio incorporado em compostos orgânicos (ami-
noácidos e proteínas), enquanto que plantas e algas utilizam-se do nitrogênio
sob a forma de íons nitrato (NO3-) ou íons amônio (NH4+). Analisando o texto,
quais são os quatro mecanismos reacionais básicos do ciclo do nitrogênio?

3 A compreensão dos ciclos biogeoquímicos e sua aplicação estão


baseadas em uma visão sistêmica, a fim de contribuir para a
busca da sustentabilidade. Neste contexto, associe a primeira
coluna com a segunda.

(A) Ciclo do nitrogênio. ( ) Muito encontrado em depósitos de guano.


(B) Ciclo do enxofre. ( ) Fundamental na respiração, fotossíntese e regulação do clima.
(C) Ciclo do fósforo. ( ) Transformação do nitrogênio orgânico em amônio.
(D) Ciclo do carbono. ( ) Possui um ciclo basicamente sedimentar.
(E) Amonificação. ( ) Fixação do carbono.
(F) Fotossíntese. ( ) Promove a fixação do elemento por meio de descargas elétricas.

41
42
UNIDADE 1
TÓPICO 2

A QUÍMICA DO SOLO

1 INTRODUÇÃO
Depois de estudarmos os ciclos biogeoquímicos no tópico 1, neste segundo
tópico iremos nos ater à origem e formação da listosfera. Assim, para darmos conta
deste tema abordaremos a formação do solo e o intemperismo e a partir desse,
os intemperismos físico e químico. Em seguida nossos estudos se voltam para a
composição do solo e suas fases: sólida, líquida e gasosa.

2 ORIGEM E FORMAÇÃO DA LITOSFERA

Caro(a) acadêmico(a)! Para que possamos compreender adequadamente


os fenômenos ambientais, é preciso pensar sempre com base nos ciclos
biogeoquímicos, considerando os importantes fluxos de matéria e energia, que
ocorrem dinamicamente entre seus compartimentos reguladores, que como já
estudamos, são a litosfera, hidrosfera, atmosfera, biosfera e antroposfera.

Portanto, as hipóteses sobre a formação do planeta Terra também se baseiam


em fluxos dinâmicos. No início, há cerca de cinco bilhões de anos, o planeta Terra
era apenas uma bola de minerais fundidos e incandescentes. Na sequência inicia-se
um processo de resfriamento da massa incandescente, as rochas e atmosfera (gases
ao redor do planeta). Após este processo, e por ocorrência de altas pressões, a água
passa para o estado líquido e inicia o processo cíclico de precipitação, evaporação,
formação de nuvens e novas precipitações, ou seja, inicia o ciclo hidrológico
(ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Com isso, a chuva fazia o processo de resfriamento das rochas superficiais


solidificando-as e ao mesmo tempo promovia o desgaste e desagregação, sendo
potencializado pela atmosfera muito corrosiva por consequência do gás carbônico,
enxofre e cloro que era lançado na atmosfera por meio das erupções vulcânicas.

Com o auxílio do calor e frio, as rochas foram se despedaçando em


granulometrias, tais como pedras, cascalho, areia e argila. Neste mesmo processo,
as rochas sedimentares formadas no fundo dos oceanos vieram à superfície, e da
superfície para o fundo por movimentos tectônicos, originando grandes depósitos
de plantas e microrganismos fossilizados (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2004).

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UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

Assim, a maior parte da crosta terrestre sólida é formada por rochas, em


que estas são compostas por sólidos inorgânicos de ocorrência natural e com
uma estrutura cristalina interna e composição química características (chamados
minerais). Já a rocha é uma massa sólida e coesa de mineral puro ou um agregado
de dois ou mais minerais (MANAHAN, 2013).

Chegamos então no chamado ciclo das rochas, definido pelos intercâmbios


e conversões entre rochas ígneas, sedimentares e metamórficas, conjuntamente com
os processos envolvidos nessas conversões, conforme observado na figura a seguir.
Uma rocha de qualquer um desses três tipos poderá converter-se em uma rocha de
um dos outros dois tipos, porém, uma rocha de qualquer um desses três tipos pode
ser convertida em uma rocha diferente, mas do mesmo tipo (MANAHAN, 2013).

FIGURA 15 – CICLO DAS ROCHAS

FONTE: Manahan (2013)

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TÓPICO 2 | A QUÍMICA DO SOLO

3 FORMAÇÃO DO SOLO

O solo pode ser representado como um ciclo natural em que participam


fragmentos de rochas, minerais, água, ar, seres vivos e seus detritos em
decomposição, resultantes de fatores climáticos e da atividade combinada de
microrganismos decompondo restos de animais e vegetação (fatores químicos,
físicos e biológicos ou intemperismo). Mantendo o raciocínio, o solo é o resultado
das interações entre a litosfera, hidrosfera, atmosfera, biosfera e antroposfera
(DERISIO, 2012, ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2004).

Portanto, o solo é classificado em quatro classes com base na sua formação,


conforme apresentado a seguir.

FIGURA 16 – CLASSIFICAÇÃO DO SOLO QUANTO À SUA FORMAÇÃO

FONTE: Adaptado de: Derisio (2012), Philippi Jr. (2005)

Assim, as modificações sofridas pela alterita (rocha modificada pelo


intemperismo que depois se transforma em solo) devido à ação dos fatores que
controlam a alteração intempérica, conforme representado na figura a seguir, são
caracterizadas por:

a) Perda de matéria tanto física (remoção de partículas) como química (remoção


em solução ou lixiviação).
b) Adição de matéria, proveniente de fontes externas, como a matéria orgânica de
origem animal ou vegetal, poeiras minerais vindas da atmosfera, e sais minerais
trazidos por fluxo ascendente de soluções.

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UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

c) Remobilização pelos fluxos de soluções no interior do perfil (movimentos


verticais e laterais) ou pela ação da fauna (translocação de matéria).
d) Transformação de matéria, em contato com produtos da decomposição post-
mortem da matéria vegetal e animal (TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009).

FIGURA 17 – PRINCIPAIS MECANISMOS ENVOLVIDOS NA FORMAÇÃO DO SOLO

FONTE: Toledo; Oliveira; Melfi (2009, p. 229)

Esses mecanismos são controlados pelas soluções que percolam o perfil


vertical e lateralmente, e pelos organismos vivos. Adições, perdas, translocações e
transformações de matéria produzem uma reorganização estrutural da alterita em
diferentes camadas ou horizontes, que serão tanto mais diferenciados da rocha-
mãe quanto mais afastados dela se encontrarem.

Assim, o perfil de um solo é a sucessão vertical desses horizontes, possuindo


quatro horizontes principais formados pela ação da pedogênese (processo
de formação do solo) (horizontes O, A e B) e um horizonte que compreende a
alterita (horizontes C). Observe a figura a seguir. Os horizontes mais superficiais
do perfil, por conterem quantidades maiores de matéria orgânica, apresentam
uma tonalidade mais escura, já os horizontes inferiores, são mais claros (regiões

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TÓPICO 2 | A QUÍMICA DO SOLO

temperadas) ou mais avermelhados e amarelados (em regiões tropicais) devido a


maiores concentrações de argilominerais e óxi-hidróxidos de ferro e de alumínio
(TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009).

FIGURA 18 – PERFIL DO SOLO


LEGENDA: O solum são os
horizontes afetados pela
pedogênese. O solo compreende
a alterita e o solum. O horizonte
C representa a rocha alterada.
O horizonte B acumula a argila,
matéria orgânica e óxi-hidróxidos
de ferro e de alumínio. O horizonte
A contém matéria mineral e
orgânica com alta atividade
biológica. O horizonte O é rico em
restos orgânicos em decomposição.

FONTE: Toledo; Oliveira; Melfi (2009, p. 230)

4 INTEMPERISMO

O intemperismo é o conjunto de modificações de ordem física e química que


as rochas sofrem ao surgir na superfície da Terra. Os produtos do intemperismo,
rocha alterada e solo, estão sujeitos a outros processos, como erosão, transporte
e sedimentação, os quais acabam levando à denudação continental, com o
consequente aplainamento do relevo (TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009).

A pedogênese (formação do solo) ocorre quando as modificações causadas


nas rochas pelo intemperismo tornam-se, sobretudo, estruturais, com importante
reorganização e transferência dos minerais formadores do solo entre os níveis
superiores do manto de alteração. Posteriormente entram em ação a fauna e a flora
do solo que, ao realizarem suas funções vitais, modificam e movimentam grandes
volumes de material, mantendo o solo aerado e renovado em sua parte exposta
(TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009).

Tanto o intemperismo quanto a pedogênese levam à formação de um perfil


de solo. A estruturação de um perfil ocorre na posição vertical a partir da rocha

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UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

fresca, na base, sobre a qual se formam o saprolito e o solum, que constituem juntos
o manto de alteração ou regolito (conforme figura anterior). Quanto mais afastados
se encontram os materiais do perfil em relação à rocha-mãe, mais diferenciados em
termos de composição, estrutura e texturas eles vão se tornando. A pedogênese
e o intemperismo são dependentes do clima e do relevo, ocorrendo de maneira
distinta nos diferentes estágios morfoclimáticos do globo, levando à formação de
perfis decompostos de horizontes de diferente espessura e composição (TOLEDO;
OLIVEIRA; MELFI, 2009).

Assim, o intemperismo pode ser classificado como físico e químico, em


função dos mecanismos predominantes de atuação.

4.1 INTEMPERISMO FÍSICO

O intemperismo físico são todos os processos que provocam a desagregação


e a fragmentação das rochas, com separação dos grãos minerais, antes coesos,
transformando a rocha inalterada em material descontínuo e friável (TOLEDO;
OLIVEIRA; MELFI, 2009).

As rochas têm sua origem em condições extremas de temperatura e pressão,


em sua maioria e quando expostas à atmosfera, ficam sujeitas às condições de
umidade, de temperatura, precipitação e pressão diferentes daquelas de origem
(LEPSCH, 2002).

As variações de temperatura causam a expansão e contração térmica nos


materiais rochosos, levando à fragmentação dos grãos minerais. Já os minerais com
diferentes coeficientes de dilatação térmica se comportam de forma diferenciada
às variações de temperatura, provocando o deslocamento relativo entre os cristais,
rompendo a coesão inicial entre os grãos. Também a mudança periódica de umidade
pode causar expansão e contração, provocando o enfraquecimento e fragmentação
das rochas. Com isso, as rochas que possuem fissuras, quando preenchidas com
água e posteriormente congeladas, sofrem um aumento de volume de cerca de 9%,
exercendo pressão nas paredes, causando esforços que terminam por aumentar a
rede de fraturas e fragmentação da rocha, conforme podemos observar na figura a
seguir (TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009).

48
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DO SOLO

FIGURA 19 – FRAGMENTAÇÃO PELA AÇÃO DO GELO

LEGENDA: (a) fissuras


da rocha preenchidas
com água líquida. (b)
congelamento da água,
expandindo e exercendo
pressão nas paredes das
fissuras.

FONTE: Adaptado de: Toledo; Oliveira; Melfi (2000, p. 141)

Já a cristalização dos sais dissolvidos nas águas de infiltração tem efeito


parecido com o congelamento, pois o crescimento desses minerais, também
favorece a expansão das fissuras e a fragmentação das rochas, podendo exercer
pressões enormes sobre as paredes das rochas, devido à expansão térmica. O
intemperismo físico de cristalização é um dos principais problemas que afetam os
monumentos, em que os sais que se precipitam nas fissuras das rochas são cloretos,
sulfatos e carbonatos originados da própria alteração intempérica da rocha, que
são dissolvidos pelas soluções percolantes provenientes das chuvas (TOLEDO;
OLIVEIRA; MELFI, 2009).

Quando as partes mais profundas dos corpos rochosos ascendem em níveis


mais superficiais, acontece o alívio da pressão, e os corpos rochosos expandem,
causando a abertura de fraturas grosseiramente paralelas à superfície ao longo da
qual a pressão foi aliviada, conforme a figura a seguir. Estas fraturas recebem o
nome de juntas de alívio e também fazem parte dos mecanismos do intemperismo
físico (TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009).

FIGURA 20 – FORMAÇÃO DAS JUNTAS DE ALÍVIO

LEGENDA: a) antes da erosão; b) depois da erosão.


FONTE: Adaptado de: Toledo; Oliveira; Melfi (2000, p. 142)

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UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

As raízes das plantas também são responsáveis pelo intemperismo físico,


quebrando as rochas pela pressão causada devido ao seu desenvolvimento.
Portanto, quando as rochas são fragmentadas e, consequentemente, aumentando
a superfície exposta ao ar e à água, o intemperismo físico abre caminho e facilita o
intemperismo químico (TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009).

4.2 INTEMPERISMO QUÍMICO

Quando as rochas afloram à superfície da Terra, seus minerais entram


em desequilíbrio e, através de uma série de reações químicas, transformam-se
em outros minerais, que por sua vez são mais estáveis neste novo ambiente (com
pressões e temperaturas baixas e grande concentração de água e oxigênio). O
principal agente do intemperismo químico é a água da chuva, que infiltra e percola
as rochas (TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009).

Essa água possui grande concentração de oxigênio (O2), que reage com o
dióxido de carbono (CO2) atmosférico, adquirindo caráter ácido, tornando-se cada
vez mais ácido quando entra em contato com o solo, pois a respiração das plantas
pelas raízes e a oxidação da matéria orgânica enriquecem o ambiente com CO2.

Quando a degradação da matéria orgânica não é completa, vários ácidos


orgânicos são formados reagindo com as águas percolantes, tornando-as muito
ácidas e, aumentando seu poder de oxidação dos minerais (TOLEDO; OLIVEIRA;
MELFI, 2009).

Os constituintes solúveis das rochas intemperizados são transportados


pelas águas que drenam o perfil de alteração (fase solúvel). Em consequência,
o material que resta no perfil de alteração (fase residual) torna-se enriquecido
nos constituintes menos solúveis e estão nos minerais primários residuais, que
resistiram à ação intempérica e nos minerais secundários que se formaram no
perfil (TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009).

As reações do intemperismo químico seguem a representação genérica


conforme apresentado na reação 47.

MINERAL 1 + SOLUÇÃO DE ALTERAÇÃO → MINERAL 2 + SOLUÇÃO DE LIXIVIAÇÃO R - 47

Na maioria dos ambientes da superfície terrestre, as águas percolantes


têm pH entre 5 e 9, tendo como as principais reações do intemperismo químico a
hidrólise, acidólise, hidratação, dissolução e oxidação.

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TÓPICO 2 | A QUÍMICA DO SOLO

4.2.1 Hidrólise

A hidrólise é a reação de sais de ácido fraco (H4SiO4) e bases fortes


(NaOH, KOH, Ca(OH)2, Mg(OH)2) com água, resultando em uma solução alcalina
(acontece sempre em pH 5 e 9 e principalmente com silicatos). Quando a água
é ionizada, libera o H+, e este por sua vez, penetra nas estruturas minerais,
deslocando principalmente os cátions alcalinos (K+ e Na+) e alcalinos terrosos que
são liberados para a solução. A estrutura do mineral na interface sólido/solução
de alteração acaba sendo rompida, liberando Si e Al na forma de íons isolados ou
polimerizados para a fase líquida. Com isso, esses elementos podem recombinar-
se, resultando em uma nova formação de minerais secundários, conforme a figura
a seguir (TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009).

FIGURA 21 – HIDRÓLISE DE UM FELDSPATO

LEGENDA: Potássio em presença de água e ácido carbônico, com a entrada de H+ na estrutura


do mineral, substituindo K+. O potássio é eliminado pela solução de lixiviação e a sílica apenas
parcialmente. A sílica persistente reage com o alumínio, formando a caulinita.
FONTE: Adaptado de: Toledo; Oliveira; Melfi (2000, p. 145)

O grau de eliminação dos elementos químicos dissolvidos define a intensidade


da hidrólise, ocorrendo de forma parcial ou total. A hidrólise total é caracterizada pela
eliminação de 100% da sílica e do potássio, mesmo a sílica sendo pouco solúvel na faixa
de pH da hidrólise, porém estas devem permanecer diluídas sob condições de alta
pluviosidade e drenagem eficiente dos perfis. A equação 48 é um exemplo da reação de
hidrólise total (TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009).

51
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

A hidrólise parcial tem como característica a permanência de parte da sílica no


perfil, devido às condições menos eficientes de drenagem. O potássio pode ser total ou
parcialmente eliminado. Esses elementos químicos reagem com o alumínio, formando
os aluminossilicatos hidratados, conforme a reação 49 (TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI,
2009).

4.2.2 Acidólise

A acidólise é o processo intempérico pelo qual há a formação de complexos de


ferro e alumínio em ambientes com o pH baixo (pH < 5), devido à presença de ácidos
orgânicos formados pela decomposição parcial da matéria orgânica em ambientes
predominantemente frios. Ocorre acidólise do feldspato de potássio em soluções de
pH menor do que 3, fazendo com que todos os elementos entrem em solução (R-50)
(TOLEDO; OLIVEIRA; MELFI, 2009).

4.2.3 Hidratação

A hidratação dos minerais ocorre pela atração entre os dipolos das moléculas de
água e as cargas elétricas não neutralizadas das superfícies dos grãos, onde as moléculas
de água entram na estrutura mineral, formando um novo mineral (R-51) (TOLEDO;
OLIVEIRA; MELFI, 2009).

52
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DO SOLO

4.2.4 Dissolução

A dissolução é a solubilização completa de alguns minerais (calcita e


halita), ocorrendo com frequência em terrenos calcários, levando a formação de
relevos cársticos, caracterizados por cavernas e dolinas. A reação de dissolução
está apresentada na R-52.

4.2.5 Oxidação

A oxidação é a reação que acontece com transferência de elétrons,


modificando o número de elétrons dos minerais envolvidos, logo, adquirindo
outras propriedades, conforme a reação 53.

53
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

Por exemplo, podemos observar na figura seguir um piroxênio


transformando-se em goethita por meio de uma reação de oxidação.

FIGURA 22 – ALTERAÇÃO POR MEIO DE UMA REAÇÃO DE OXIDAÇÃO DE UM


MINERAL

LEGENDA: Alteração por meio de uma reação de oxidação de um mineral de Fe2+


(Ferro ferroso), resultando em Fe3+ (ferro férrico), resultando no mineral goethita.
FONTE: Adaptado de: Toledo; Oliveira; Melfi (2000, p. 147)

5 COMPOSIÇÃO DO SOLO

O solo é formado por constituintes nos três estados físicos da matéria:


sólido, líquido e gasoso, cujas proporções relativas variam de solo para solo,
em um mesmo solo, com as condições climáticas, na presença de plantas e no
manejo. Em geral, a composição volumétrica porcentual de um solo que apresenta
ótimas condições para o crescimento de plantas, apresenta 50% de fase sólida
(45% de origem mineral e 5% de orgânica), 25% de fase líquida e 25% de fase
gasosa (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009). A porção sólida é formada por
matéria inorgânica (minerais resultantes da decomposição de rochas) e matéria
orgânica (resíduos de plantas e animais em diferentes estágios de decomposição, e

54
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DO SOLO

organismos vivos e em atividade). A fase líquida é constituída pela água no solo,


sais em dissolução e matéria coloidal em suspensão. Já a porção gasosa é o ar,
apresentando diferença na proporção percentual de seus constituintes em relação
ao ar atmosférico (LEPSCH, 2002).

5.1 FASE SÓLIDA

Caro(a) acadêmico(a)! Neste momento, nossos estudos se voltam para os


minerais e para a matéria orgânica do solo.

5.1.1 Os minerais

As partículas que constituem os componentes minerais do solo têm sua


origem na intemperização das rochas. São compostas de fragmentos de rochas, de
minerais primários (geralmente de tamanhos maiores), e de minerais secundários,
com menores. Os fragmentos de rocha são remanescentes de rochas maciças da
qual se formam por intemperismo (BRADY; WEILL, 2013).

Os minerais apresentam duas características específicas como a composição


química definida (expressa pela fórmula química do mineral), e uma estrutura
cristalina. A estrutura cristalina está relacionada ao modo com que os átomos
estão dispostos uns em relação aos outros. Assim, diferentes minerais podem ter a
mesma composição química ou a mesma estrutura cristalina, porém, são minerais
diferentes. A aparência externa característica de um mineral cristalino puro é sua
forma cristalina (MANAHAN, 2013).

Existem mais de dois mil minerais conhecidos, porém, somente cerca de


25 minerais constituintes das rochas compõem a maior parte da crosta terrestre.
A maior parte dos minerais encontrados na crosta terrestre são os silicatos, como
o quartzo (SiO2) ou o ortoclásio, KAlSi3O8, isso porque o oxigênio e o silício
representam 49,5% e 25,7% respectivamente em massa da crosta terrestre (conforme
a tabela a seguir). Os outros elementos que compõem a crosta terrestre, em ordem
decrescente de abundância, são o alumínio (7,4%), o ferro (4,7%), o cálcio (3,6%), o
sódio (2,8%), o potássio (2,6%), o magnésio (2,1%) e os outros (1,6%) (MANAHAN,
2013).

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UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

TABELA 2 – PRINCIPAIS GRUPOS MINERAIS DA CROSTA TERRESTRE

Grupo mineral Exemplos Fórmula


Quartzo SiO2
Silicatos Olivina (Mg, Fe)2SiO4
Feldspato de Potássio KAlSi3O8
Corundo Al2O3
Óxidos
Magnetita Fe3O4
Calcita CaCO3
Carbonatos
Dolomita CaCO3; MgCO3
Pirita Fes2
Sulfetos
Galena PbS
Sulfatos Gipsita CaSO4; 2H2O
Halita NaCl
Haletos
Fluorita CaF2
Cobre Cu
Elementos nativos
Enxofre S

FONTE: Manahan (2013, p. 467)

Os minerais primários existem na maioria dos solos e são os componentes


das rochas mais resistentes ao intemperismo químico, permanecendo mais tempo
no solo e mantendo sua composição original, mas podendo fragmentar-se pela
ação do intemperismo físico. São derivados das rochas por simples fragmentação,
sendo alguns exemplos, o quartzo, a apatita, a zirconita e a mica muscovita (KIEHL,
1979). Segundo Kiehl (1979), estes minerais originais podem ser considerados
como a reserva mineral, em potencial, dos solos, uma vez que podem ceder lenta
ou rapidamente, pelo efeito da intemperização, elementos químicos considerados
nutrientes das plantas.

Já os minerais secundários são formados pela alteração da matéria


precursora mineral, assim, podemos citar como exemplo as argilas, que são
minerais silicatos, normalmente contendo alumínio, fazendo parte de uma das
classes mais importantes de minerais secundários. A olivina, a augita, a hornblenda
e os feldspatos são minerais que formam a argila (MANAHAN, 2013).

5.1.2 Matéria orgânica

A matéria orgânica é um conjunto de resíduos animais e plantas,


parcialmente decompostos e sintetizados e/ou que está em contínua decomposição
resultante dos microrganismos no solo (BRADY; WEILL, 2013). Tem sua origem no
solo, a partir da contínua decomposição de restos de animais, de microrganismos
e parte de plantas (folhas, raízes, caules, frutos, flores), bem como de excreções

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TÓPICO 2 | A QUÍMICA DO SOLO

animais e da meso e macro fauna (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009, LEPSCH


2002). A matéria orgânica representa menos de 5% do solo produtivo, porém é
fator preponderante para a produtividade do solo. Esta é fonte de nutrientes para
os microrganismos, sofre reações químicas, como a troca iônica, e influencia as
propriedades físicas do solo (MANAHAN, 2013).

Na fração orgânica temos os polissacarídeos, os aminoaçúcares, os


nucleotídeos e o enxofre orgânico, além de compostos fosforados que possuem
atividade biológica no solo. O principal componente da matéria orgânica é o húmus,
um material solúvel em água e de biodegradação muito lenta (MANAHAN, 2013).

Os compostos orgânicos transformam-se em húmus, na presença de oxigênio


(meio aeróbio) que é a mineralização de matéria orgânica, ficando, assim, disponível no
solo. A composição do húmus é consequência do clima da região, das características
do solo, da vegetação e das atividades dos microrganismos. Já em meio anaeróbio
(sem oxigênio), geralmente quando a decomposição acontece em solos encharcados,
a natureza da matéria orgânica possui aspectos diferenciados, resultando na
denominada turfa (BRADY; WEILL, 2013).

Os processos envolvidos na formação dessas matérias orgânicas se dão


através do ciclo de carbono ou ciclo da vida. As plantas assimilam o dióxido de
carbôno (CO ), transformando-o, com o auxílio da água e de nutrientes que extraem
2
do solo, em compostos de carbono (fotossíntese) (LEPSCH, 2002).

Alguns componentes orgânicos contribuem para o intemperismo da


matéria mineral. Por exemplo, o íon oxalato (C2O42-), produzido como metabólito
dos fungos no solo, ocorre na forma de whewelita e weddelita (sais de cálcio). Uma
vez na água, o oxalato presente no solo dissolve a matéria mineral, catalisando o
processo de intemperismo e aumentando a disponibilidade de espécies iônicas
com função nutriente. Esse processo envolve a complexação do ferro ou alumínio
presentes nos minerais pelo íon oxalato, conforme a reação 54 no qual o M
representa o Al ou o Fe (MANAHAN, 2013).

Outra função importante diz respeito aos microrganismos do solo, para os


quais os materiais orgânicos servem de fonte de alimento. Muitos desses microrganismos
desempenham papel importante referente à nutrição das plantas (LEPSCH, 2002).

Na matéria orgânica também encontramos algumas espécies químicas


com potencial carcinogênico como os hidrocarbonetos aromáticos polinucleares
(HAP) naturais. Os principais HAP encontrados no solo incluem o fluoranteno,
pireno e criseno, e são resultantes da combustão de fontes naturais ou fontes
poluidoras (MANAHAN, 2013).

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UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

5.2 FASE LÍQUIDA

A fase líquida nada mais é do que a solução do solo. A solução do solo é uma
solução de eletrólitos quase em equilíbrio, que ocorre no solo em condições de não
saturação de umidade (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009). Conforma Manahan
(2013), também podemos conceituar como a porção aquosa do solo onde está contida
a matéria dissolvida gerada nos processos químicos e físicos que ocorrem nele e nas
trocas com a hidrosfera e a biosfera.

Os solutos no solo estão presentes, na maioria das vezes, na forma de sais dos
cátions H+, Ca2+, Mg2+, K+ e Na+, em níveis menores de Fe2+, Mn2+ e Al+ e dos ânions
HCO3-, CO32-, HSO4-, SO42-, Cl- e F-. Os cátions Fe2+, Mn2+ e Al3+ de modo geral estão
presentes como formas hidrolisadas ou ligadas a substâncias húmicas (MANAHAN,
2013).

As principais características do conceito de solução do solo são:

a) constitui uma parte maior do fator de intensidade no fornecimento de


nutrientes para as plantas;
b) é o meio para a maioria dos processos químicos e biológicos que ocorrem no
solo;
c) é o principal meio para o transporte de materiais no solo.
FONTE: Disponível em: <http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarTema.php?idTema=60>. Acesso em:
8 jan. 2014.

A maior parte dos solos possui a capacidade de reter e armazenar a água


infiltrada por um determinado tempo (LEPSCH, 2002). Contudo, nem toda a água
que chega ao solo é armazenada e se torna disponível às plantas, porque parte da
água das chuvas percola pelo perfil e alcança as camadas mais profundas, tornando-se
inacessível às raízes das plantas.

A quantidade de água absorvida pelo solo depende da sua permeabilidade,


pois, quando ela é pequena, a maior parte da água escorre pela superfície, em direção
aos vales e rios, carregando grandes quantidades de sedimentos e elementos nutritivos
(processo erosivo) (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

De acordo com o conteúdo e da natureza da retenção de água, o solo pode se


encontrar em três estados de umidade: muito mal drenado (encharcado), mal drenado
(úmido) e bem drenado (seco) (LEPSCH, 2002).

58
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DO SOLO

5.2.1 Solo encharcado

Os solos muito mal drenados ou encharcados possuem todos os poros


preenchidos com água, sendo que a parte gasosa (ar) é praticamente ausente. Com
o encharcamento total do solo, a água drena para as camadas ou horizontes mais
baixos, juntando-se ao aquífero freático, dando origem às nascentes (LEPSCH, 2002).

Conforme o solo vai sendo saturado com água, as suas características físicas,
químicas e biológicas também irão mudar, pois nessas condições, o oxigênio no solo
é rapidamente consumido na respiração de microrganismos que degradam a matéria
orgânica nele. Nos solos saturados, as ligações que mantêm juntas as partículas
coloidais são quebradas, causando a ruptura de sua estrutura (MANAHAN, 2013).

5.2.2 Solo úmido

Os solos mal drenados ou úmidos são caracterizados pela água infiltrada nos
microporos, sendo que o ar se encontra também presente nos chamados acroporos. Os
poros menores funcionam como finos tubos chamados capilares. O líquido contido
nesses é chamado água capilar, ficando retido no solo com tal força, que fica mantido
por mais tempo nos poros. Contudo, as plantas ainda conseguem extrair parte dessa
água, e em função disso, a água extraída é denominada água disponível (LEPSCH,
2002).

Nem todos os solos têm a mesma capacidade de armazenar a água. Varia


muito em função da quantidade de matéria orgânica das características, da textura,
tipo de argila e estrutura do solo (LEPSCH, 2002).

5.2.3 Solo seco

O solo bem drenado ou seco é caracterizado por conter água, mas em forma
de películas externas finas, localizadas ao redor das partículas de solo. Geralmente,
essa água é retida com tal força que as raízes não conseguem extraí-la para o uso das
plantas, sendo considerado então, um solo seco. A água contida no solo bem drenado
ou seco é denominada higroscópica (LEPSCH, 2002).

59
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

5.3 FASE GASOSA

Os solos são formados por uma parte gasosa representada por 25%. Esse
ar está situado nos poros, e se encontra livre ou em pequenas bolhas dissolvidas
na água. De tal forma, podemos dizer que existe uma relação dinâmica entre as
fases líquidas e gasosas do solo (LEPSCH, 2002). A fase gasosa do solo apresenta,
qualitativamente, os mesmos principais componentes presentes no ar atmosférico. Porém,
quantitativamente, pode haver grandes diferenças, devido à respiração das raízes e dos
microrganismos, à decomposição da matéria orgânica e a reações ocorridas no solo, onde
há o consumo de O2 e liberação de CO2, com constantes alterações nos fluxos entre os
compartimentos (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Os microrganismos no solo dependem das condições de aeração do solo, e


na presença abundante de oxigênio, os microrganismos participam ativamente nas
transformações da matéria orgânica, liberando nutrientes para as plantas. O ar no
interior do solo é a fonte de oxigênio para a respiração das células das raízes e para
os microrganismos e pequenos animais produtores de húmus (ROCHA; ROSA;
CARDOSO, 2009).

NOTA

A maioria das plantas cultivadas requer solos bem arejados, para um máximo
de desenvolvimento radicular. Geralmente, os sintomas de falta de oxigênio proporciona um
aspecto amarelado nas folhas, aparecem quando a concentração de O2 nos espaços porosos
é muito inferior a 15% (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

LEITURA COMPLEMENTAR

Em 1975, a Shell iniciou a construção de uma planta industrial para


a fabricação de agrotóxicos, incluindo a produção de Endrin e Aldrin e o
processamento de Dieldrin, três agrotóxicos organoclorados. A fábrica iniciou suas
atividades no ano de 1977, no Município de Paulínia, a 126 km da capital do estado
de São Paulo e tem aproximadamente 40 hectares. Em todo o seu lado oeste em
forma de meia lua é acompanhada pelo Rio Atibaia, um dos principais afluentes
do rio Piracicaba, e que abastece de água, entre outras, as cidades de Americana e
Sumaré. Entre a indústria e o rio existe uma faixa de aproximadamente 100 metros,
onde está localizado o bairro residencial Recanto dos Pássaros, antigo loteamento
Poço Fundo. A fábrica instalou-se no local depois dos chacareiros.

60
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DO SOLO

Três vazamentos no tanque de armazenamento de líquidos residuais da


fábrica instalado na unidade Opala foram oficialmente registrados durante os anos
de produção. Em 1978, as inspeções acusaram estufamento do revestimento interno
do tanque feito de ladrilhos e em 1982 foi novamente constatado tal problema. Em
1985, mais uma vez é detectado o vazamento e realizada impermeabilização de tal
tanque com um filme plástico de PVC (policloreto de vinila).

Na área oeste da planta, funcionava um incinerador de líquidos para


queima de resíduos industriais. Tal incinerador recebeu três advertências da
CETESB por operação fora dos padrões aceitáveis na época. Os incineradores são
reconhecidos por ampla bibliografia internacional como fonte emissora, dentre
outros compostos tóxicos, de dioxinas e furanos, além de metais pesados.

A comercialização destes produtos foi interrompida no Brasil em 1985,


através da portaria 329 de 2 de setembro de 1985 do Ministério da Agricultura, sendo
ainda permitida a comercialização de iscas para formigas e cupinicida destinados
a reflorestamentos elaborados a base de Aldrin. Entretanto, a fabricação para
exportação continuou até 1990. Em 1998, através da Portaria nº 12 do Ministério da
Saúde, estes produtos foram completamente proibidos [...].

Na primeira semana de fevereiro de 2001, a Shell admitiu publicamente a


responsabilidade pela contaminação das chácaras vizinhas à área onde funcionou sua
fábrica de agrotóxicos em Paulínia, São Paulo. Os agrotóxicos organoclorados Endrin,
Dieldrin e Aldrin foram encontrados no lençol freático sob as chácaras localizadas
entre a fábrica e o Rio Atibaia, um dos principais afluentes do rio Piracicaba e que
abastece de água, entre outras, as cidades de Americana e Sumaré.

A contaminação causada pela Shell em Paulínia é tóxica, persistente e


bioacumulativa, podendo causar sérios danos ao meio ambiente e à saúde humana.
Por isto e pela iminência de contaminação do Rio Atibaia, o Greenpeace demanda
que:

1. Seja realizada varredura de toda a área da antiga fábrica para o inventário da


extensão da contaminação por metais pesados e organoclorados, incluindo
dioxinas e furanos.
2. Seja implementado plano de descontaminação e remediação da área afetada,
previamente discutido com a sociedade e aprovado pelos órgãos competentes.
3. Sejam adotadas tecnologias alternativas à incineração para a desativação dos
resíduos gerados pelo processo de remediação, dando preferência às aplicáveis
“in situ” e “on site”; [...].

Os dados de contaminação por DRINS (Aldrin, Dieldrin e Endrin) foram


apresentados através de relatório técnico elaborado pela empresa CEIMIC em
janeiro de 2001 a pedido da Shell do Brasil S.A. e reafirmados por mais dois relatórios
técnicos, um elaborado pelo Instituto Adolfo Lutz em São Paulo em março de
2001. Em final de fevereiro de 2001, a empresa holandesa de consultoria ambiental
Haskoning/Iwaco, também contratada pela Shell, elaborou novo relatório técnico

61
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

com análise de solo e água subterrânea em nove pontos localizados nas chácaras
vizinhas à área da indústria. Os índices de contaminação por Dieldrin chegam a
17 ppb (partes por bilhão) no solo e 0,47 ppb na água. Os números ultrapassam
os limites internacionais, sendo que o índice de contaminação da água é maior do
que o permitido na legislação brasileira (Portaria 1469/2000 – Ministério da Saúde
– Valor Máximo Permitido: 0,03 ppb). As análises realizadas anteriormente eram
restritas apenas às águas subterrâneas.

Em virtude do exposto, o Greenpeace conclui que empresa Shell do Brasil


atuou de maneira no mínimo irresponsável, se não criminosa, durante a operação
da fábrica de agrotóxicos de Paulínia. Claramente os processos industriais,
principalmente de incineração, não eram controlados e o descarte de resíduos era
feito de modo inaceitável.

A empresa tem assumido os problemas ali existentes a conta-gotas,


mostrando com isto imensa má vontade quanto ao esclarecimento da amplitude do
problema e irresponsabilidade para com o meio ambiente e a saúde dos vizinhos,
alegando que os níveis de contaminação encontrados não causam danos à saúde.
Por isto, o passivo ambiental da área, bem como os impactos na saúde humana
decorrentes das atividades da planta, ainda não estão definidos.

Para ler o artigo completo consulte a referência:


FONTE: SUASSUNA, K. Contaminação em Paulínia por Aldrin, Dieldrin, Endrin e outros
compostos tóxicos produzidos e descartados pela Shell do Brasil S.A. Campanha de Substâncias
e Tecnologias Tóxicas. São Paulo: Greenpeace Brasil, 2001.

62
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico você viu que:

• A maior parte da crosta terrestre sólida é formada por rochas. São compostas
por sólidos inorgânicos de ocorrência natural e com uma estrutura cristalina
interna e composição química características.

• O solo pode ser representado como um ciclo natural em que participam


fragmentos de rochas, minerais, água, ar, seres vivos e seus detritos em
decomposição, resultantes de fatores climáticos e da atividade combinada de
microrganismos decompondo restos de animais e vegetação.

• O perfil de um solo é a sucessão vertical dos horizontes, possuindo quatro


horizontes principais formados pela ação da pedogênese.

• O intemperismo é o conjunto de modificações de ordem física e química que as


rochas sofrem ao surgir na superfície da Terra.

• O intemperismo físico são todos os processos que provocam a desagregação e a


fragmentação das rochas, com separação dos grãos minerais, transformando a
rocha inalterada em material descontínuo e friável.

• O principal agente do intemperismo químico é a água da chuva, que infiltra


e percola as rochas, favorecendo as reações químicas de hidrólise, acidólise,
hidratação, dissolução e oxidação.

• A hidrólise é a reação de sais de ácido fraco e bases fortes com água, resultando
em uma solução alcalina.

• A oxidação é a reação que acontece com transferência de elétrons, modificando o


número de elétrons dos minerais envolvidos, adquirindo outras propriedades.

• O solo é formado por constituintes nos três estados físicos da matéria: sólido,
líquido e gasoso, cujas proporções relativas variam de solo para solo.

• A solução do solo é uma solução de eletrólitos quase em equilíbrio, que ocorre


no solo em condições de não saturação de umidade.

63
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos


exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno de
Estudos. Bom trabalho!

1 Ao longo da formação da geosfera, as rochas, com o auxílio do


calor e do frio, foram se despedaçando em granulometrias, tais
como pedras, cascalho, areia e argila. Neste mesmo processo, as
rochas sedimentares formadas no fundo dos oceanos vieram à su-
perfície, e da superfície para o fundo por movimentos tectônicos, originando
grandes depósitos de plantas e microrganismos fossilizados. Com base neste
texto, como é chamado o processo evidenciado e como ele pode ser definido?

2 O solo pode ser representado como um ciclo natural em que


participam fragmentos de rochas, minerais, água, ar, seres
vivos e seus detritos em decomposição, resultantes de fatores
climáticos e da atividade combinada de microrganismos
decompondo restos de animais e vegetação. Com base nos mecanismos de
formação do solo avalie as sentenças a seguir:
I- O intemperismo é o conjunto de modificações de ordem física e química que
as rochas sofrem ao surgir na superfície da Terra.
II- Somente a pedogênese proporciona a formação de um perfil de solo.
III- O intemperismo físico são todos os processos de desagregação e fragmentação
das rochas, transformando a rocha inalterada em material descontínuo e friável.
IV- O intemperismo químico acontece quando as rochas afloram à superfície
da Terra, e por meio de uma série de reações químicas, transformam-se em
outros minerais.
V- A oxidação é a reação que acontece com transferência de elétrons, modificando
o número de elétrons dos minerais envolvidos.
Assinale a alternativa CORRETA.

a) ( ) As sentenças II e III estão corretas.


b) ( ) As sentenças I, III, IV e V estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e V estão corretas.
e) ( ) Somente a sentença I está correta.

3 O solo é formado por constituintes nos três estados físicos da ma-


téria, ou seja, sólido, líquido e gasoso, cujas proporções relativas
variam de solo para solo, em um mesmo solo, com as condições
climáticas, na presença de plantas e no manejo. Um constituinte
do solo em especial é responsável pela sua fertilidade e está presente na maté-
ria orgânica. Qual é este constituinte e como pode ser definido?

64
UNIDADE 1
TÓPICO 3

PROPRIEDADES FÍSICAS,
CONTAMINAÇÃO E REMEDIAÇÃO
DO SOLO
1 INTRODUÇÃO
Para finalizarmos esta unidade, neste terceiro tópico nossos estudos serão
dirigidos às propriedades físico-químicas do solo. Assim, abordaremos também a
capacidade de troca catiônica do solo, a acidez do solo, o processo de oxidação e
redução do solo e a adsorção de metais no solo. Dando continuidade ao estudo do
solo, trataremos das fontes de contaminação dos solos: pesticidas, metais pesados e
lixo urbano. Para finalizarmos esta primeira unidade, estudaremos a remediação do
solo contaminado, versando sobre a biorremediação e a fitorremediação.

2 PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DO SOLO

A argila, que é uma das constituintes do solo, é formada por minerais


secundários, óxidos de ferro e de alumínio cristalinos ou amorfos e matéria
orgânica, e é a principal responsável pelas propriedades físico-químicas dos solos,
pelo fato de apresentar elevada superfície específica e alta reatividade dos seus
componentes. As argilas apresentam tamanhos iguais ou inferiores a 4 µm, caráter
coloidal e carga líquida negativa, saturada por cátions diversos. Geralmente,
essas características provêm das propriedades estruturais da fase dispersa, como
tamanho, forma e área superficial das partículas. Com isso, devido aos diferentes
mecanismos de formação do solo, admite-se que a carga total negativa dos solos
é constituída por duas componentes, ou seja, uma constante (carga permanente)
e outra variável (dependente do pH). Já o silte (62,0 - 4,0 µm) e a areia (200-62
µm), apresentam eficiência reduzida nos processos químicos, por apresentarem
partículas mais grossas de minerais primários e quartzos (ROCHA; ROSA;
CARDOSO, 2009).

65
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

2.1 CAPACIDADE DE TROCA CATIÔNICA DO SOLO

A capacidade de troca catiônica ou CTC do solo é definida como a quantidade


de cátions adsorvidos reversivelmente por unidade de massa de material seco, e
expressa a capacidade do solo de trocar cátions (MANAHAN, 2013). A quantidade
de cátions é fornecida pelo número de cargas positivas (centimol ou milimol) em
uma massa de solo seca, geralmente 100 g ou 1 kg. Os valores de CTC encontrados
para minerais argilosos variam de 1 a 150 centimol kg-1. Já o CTC para a matéria
orgânica pode atingir até 400 centimol kg-1, devido ao grande número de grupos
oxigenados, como os carboxílicos (-COOH), os quais podem ligar e trocar cátions
(BAIRD; CANN, 2011, ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

A troca de cátions no solo nada mais é do que o mecanismo em que o potássio,


o cálcio, o magnésio e metais essenciais em nível traço são disponibilizados para
as plantas. Quando os íons de metais com função nutriente são absorvidos pelas
raízes, o íon hidrogênio é trocado pelos íons metálicos. Esse processo, acompanhado
do lixiviamento de cálcio, magnésio e de outros íons metálicos do solo pela água
contendo ácido carbônico tende a deixar o solo mais ácido, conforme apresentado
na reação 55 (MANAHAN, 2013).

O solo atua como tampão e resiste às mudanças no pH, cuja capacidade


tamponante é função do tipo de solo (MANAHAN, 2013). Quanto maiores forem
os valores de CTC, mais fértil é o solo, pois maiores quantidades de cátions podem
ser armazenadas e posteriormente cedidas aos vegetais mediante reações de troca
iônica (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

2.2 ACIDEZ DO SOLO

Bronsted e Lowry definem que ácida é uma substância que tende a ceder
prótons (íons hidrogênios) a uma outra, e uma base, é qualquer substância que
tende a receber os prótons. O ácido em solução aquosa se dissocia ou se ioniza
gerando H+ e o ânion correspondente, conforme reação 56.

66
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES FÍSICAS, CONTAMINAÇÃO E REMEDIAÇÃO DO SOLO

Os H+ dissociados correspondem à acidez ativa e que o HA, indica a acidez


potencial, portanto, quanto mais o equilíbrio da reação for deslocado para a direita,
maior será a atividade do H+ e mais forte será o ácido. Assim, em meio aquoso, o H+
está sempre hidratado sendo predominante na forma de hidrônio, H3O+ (H2O + H+
→ H3O+) (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Nos ácidos fortes, a acidez ativa se aproxima da potencial, porém, nos


ácidos fracos, a acidez ativa é menor do que a potencial. Por isso que a medição
da acidez total em ácidos fracos não oferece indicação da acidez ativa (ROCHA;
ROSA; CARDOSO, 2009).

Assim, a acidez do solo é constituída de duas frações:

a) Fração trocável: corresponde principalmente ao alumínio (Al3+) adsorvido no


complexo de troca.
b) Fração titulável: corresponde principalmente ao H+ ligado covalentemente
a compostos da matéria orgânica, como grupos carboxílicos e fenólicos e,
possivelmente, ao alumínio ligado aos complexos argila-matéria orgânica
(ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Portanto, como a fração titulável é devida aos íons Al3+ e H3O+, que estão
fortemente retidos aos minerais da argila e matéria orgânica, evidenciando-se
somente por extração em pH mais elevado, pode-se aceitar que, nas condições
normais dos solos, o alumínio é o principal responsável pela acidez (ROCHA;
ROSA; CARDOSO, 2009).

Assim, o pH da água do solo é determinado pela concentração de íons


hidrogênio e hidróxido. Porém, o solo possui uma reserva ácida devido ao fato
de possuir uma grande quantidade de íons hidrogênio presentes nos grupos
(-COOH) e (-OH) da fração orgânica e nos sítios de troca catiônica presentes na
superfície dos minerais ocupados por íons H+. Assim, os solos comportam-se como
ácidos fracos, mantendo seus íons H+ ligados até serem influenciados por bases.
Portanto, o pH do solo tende a estar tamponado contra grandes aumentos de pH,
uma vez que seus íons hidrogênio podem ser emitidos lentamente para a fase
aquosa (BAIRD; CANN, 2011).

2.3 PROCESSOS DE OXIDAÇÃO E REDUÇÃO DO SOLO

Os solos podem sofrer reações químicas que proporcionam variações em


seus estados de oxidação-redução (redox), alterando as características de elementos
como C, N, O, S, Fe e Mn, Ag, As, Cr, Cu, Hg e Pb. Os equilíbrios de oxi-redução são
controlados pela atividade de elétron livre, podendo ser expressos pelos valores
de pE (o logaritmo negativo da atividade do elétron) ou Eh (diferença, em milivolt
do potencial entre o eletrodo de platina e o eletrodo-padrão de hidrogênio), cujo
fator de conversão de unidades é Eh (mV) = 59,2 pE. Baixos valores de pE estão

67
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

associados à presença de espécies reduzidas, já altos valores de pE favorecem a


existência de espécies oxidadas (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

As reações catalíticas nos solos geralmente são lentas, contudo, podem


ser catalisadas por microrganismos, podendo sobreviver nos solos em intervalos
longos de pH de 3 a 10 e em pE de +12,7 a -6,0. A respiração de microrganismos
aeróbicos, microfauna e raízes de plantas também influenciam no estado redox
de solos, pois consomem grandes quantidades de oxigênio (ROCHA; ROSA;
CARDOSO, 2009).

Algumas espécies químicas sofrem influências indiretas por mudanças nas


condições redox de solos. Por exemplo, íons sulfato podem ser reduzidos a sulfetos,
com valores de pE abaixo de -2,0, ocorrendo a precipitação de sulfetos metálicos,
como FeS2, HgS, CdS, CuS, MnS e ZnS. A dissolução de óxidos de Mn, Al e Fe, sob
condições redutoras, pode liberar para a solução do solo metais coprecipitados como
Zn, Co. Ni, Cu e Mn (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

2.4 ADSORÇÃO DE METAIS NO SOLO

O comportamento e a biodisponibilidade dos metais em solos estão


associados à adsorção de metais da fase líquida para a fase sólida.

Esses processos controlam a concentração de íons metálicos e seus


complexos na solução do solo e exercem grande influência no seu acúmulo em
plantas.
FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/GRUTAR/aula-5qumicadomeioambiente>.
Acesso em: 8 jan. 2014.

Assim, temos que os principais constituintes do solo relacionados a reações


de adsorção são os óxidos de Al, Fe e Mn. Algumas espécies metálicas podem ser
adsorvidas, em maiores quantidades, em estruturas iônicas complexadas na matéria
orgânica de solos, assim a capacidade de adsorção de zinco em óxidos de ferro e
alumínio é, respectivamente 7 a 26 vezes mais elevada em relação à capacidade de
troca catiônica do solo a pH 7,6 (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

A adsorção específica é fortemente dependente do pH e está relacionada


à hidrólise dos metais. Portanto, os metais com maiores possibilidades de formar
hidroxocomplexos são mais adsorvíveis. Assim, os valores de pK da reação
determinam o comportamento de adsorção de diferentes metais nos solos. A
adsorção específica aumenta com a diminuição dos valores de pK, mas, no caso de
Cu e Pb, que têm os mesmos valores de pK, o Pb com maior tamanho iônico é mais
fortemente adsorvido (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

68
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES FÍSICAS, CONTAMINAÇÃO E REMEDIAÇÃO DO SOLO

NOTA

Caro(a) acadêmico(a)! Temos que lembrar que o pK é o logaritmo negativo da


constante de ionização (K), ou seja, pK = – log K. É utilizada para comparar as forças relativas
dos ácidos. Assim, quanto menor for o pK, mais forte será o ácido.

Os íons metálicos adsorvidos em superfícies minerais podem ser difundidos


no solo, cuja velocidade de difusão relativa aumenta com o pH até um valor
máximo correspondente ao valor de pK, quando a velocidade de difusão relativa
diminui. Essa última está associada ao diâmetro iônico, sendo que, quanto menor
for o diâmetro iônico, maior será sua velocidade de difusão (ROCHA; ROSA;
CARDOSO, 2009).

3 FONTES DE CONTAMINAÇÃO DOS SOLOS

Caro(a) acadêmico(a)! Vamos estudar neste tópico de forma bem rápida


alguns contaminantes específicos do solo. Contudo, o tema “metais pesados” será
aprofundado na Unidade 3 e o tema “pesticidas” será aprofundado dentro do
tema “produtos orgânicos tóxicos”, na Unidade 2. Então vamos lá!

De acordo com Derisio (2012), entre as fontes de poluição do solo, destacam-


se aquelas de origem natural, associadas a catástrofes, tais como terremotos,
vendavais, inundações e atividade vulcânica, e aquelas derivadas da atividade
humana. As fontes derivadas da atividade humana podem ser relacionadas, de
acordo com Derisio (2012), como:

• Poluição decorrente da disposição de resíduos sólidos domésticos, hospitalares


e industriais.
• Poluição decorrente de resíduos líquidos sanitários e industriais.
• Poluição decorrente da urbanização e ocupação do solo.
• Poluição decorrente de atividades agropastoris.
• Poluição decorrente de atividades extrativistas.
• Poluição decorrente de acidentes no transporte de cargas.

Os resíduos sólidos gerados pela atividade humana são, geralmente,


dispostos diretamente sobre o solo, na forma de aterros, por infiltração ou pela
acumulação sobre o solo.

Nesta lógica, segundo Derisio (2012), os resíduos sólidos podem ser


agrupados de acordo com a sua origem, como:

69
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

• Resíduos sólidos domésticos.


• Resíduos sólidos de serviços de saúde.
• Resíduos sólidos industriais.

Entre estes contaminantes do solo provenientes dos resíduos sólidos,


vamos estudar ainda algumas espécies químicas potentes, como os pesticidas e os
metais pesados.

3.1 PESTICIDAS
Para atender à demanda alimentícia há muito tempo tem sido necessária a
utilização de pesticidas/herbicidas na agricultura. Os pesticidas são responsáveis
pela maior parte da alta produtividade agrícola, sendo os principais responsáveis
pelos problemas de poluição associados à agricultura (MANAHAN, 2013).

Os pesticidas são as substâncias de origem natural ou sintética utilizadas


no controle e/ou na eliminação/diminuição de pragas como os insetos, ervas
daninhas, entre outros, que acarretam prejuízos na produção de alimentos, ou
transferem enfermidades aos seres humanos e a outros organismos. Já herbicidas
são substâncias químicas que controlam ou matam plantas daninhas. Por serem
sintéticas, são consideradas substâncias estranhas ao ambiente e podem ser
chamados também de xenobióticos (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Após a aplicação dos pesticidas, estes podem permanecer no solo por


muito tempo, mantendo ou não seu efeito biológico. Assim, é importante conhecer
seu comportamento no solo, prevendo possíveis danos à litosfera, hidrosfera e
atmosfera (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Os pesticidas são os compostos químicos que têm grande influência


no solo e nos organismos no qual ele atua, pois, precisam entrar em contato
direto e persistirem tempo suficiente para serem eficazes. Quando os pesticidas
permanecem no solo por períodos longos de tempo, de acordo com Manahan
(2013), percebe-se que:

• Tornam-se mais resistentes aos processos de extração e dessorção.


• Ficam menos biodisponíveis aos organismos.
• Diminuem sua toxidade total.

O comportamento dos herbicidas é dependente das propriedades físico-


químicas e biológicas do solo e de fatores climáticos. Os três processos básicos
que ocorrem com os pesticidas no solo são a retenção, transformação e transporte,
conforme apresentado na figura a seguir. O processo de transporte realizado pelo
movimento das moléculas do herbicida no solo é influenciado por fatores como
umidade, temperatura, densidade, características físico-químicas do solo e do
pesticida. Grande parte é transportada por ventos, chuvas, depositando-se em

70
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES FÍSICAS, CONTAMINAÇÃO E REMEDIAÇÃO DO SOLO

outros reservatórios, como atmosfera e hidrosfera (ROCHA; ROSA; CARDOSO,


2009).

FIGURA 23 – ESQUEMA GERAL DA INTERAÇÃO ENTRE HERBICIDA E SOLO

FONTE: Rocha, Rosa e Cardoso (2009, p. 187)

Segundo Manahan (2013), as principais preocupações com a aplicação dos


pesticidas no solo e que devem ser levadas em conta no processo de licenciamento
e regulamentação desses produtos são:

• Permanência de pesticidas e dos produtos de sua degradação com atividade


biológica em lavouras plantadas em temporadas posteriores.
• Efeitos biológicos em organismos que vivem em ecossistemas terrestres e
aquáticos (bioacumulação e transporte ao longo de cadeias alimentares).
• A contaminação de águas subterrâneas.
• Os efeitos na fertilidade do solo.

3.2 METAIS PESADOS

Os metais pesados são elementos que possuem o peso específico maior do


que 5 g/cm³ ou que possuem o número atômico maior do que 20, englobando
metais, semimetais e não metais como é o caso do selênio. Os principais são: Cu,
Fe, Mn, Mo, Zn, Co, Ni, V, Al, Ag, Cd, Cr, Hg, e Pb (MACÊDO, 2002).

71
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

O destino final dos metais pesados e também de muitos compostos


orgânicos tóxicos é a deposição e o soterramento em solos e sedimentos. Os metais
pesados acumulam-se na camada superior do solo, sendo então acessíveis para as
raízes das plantas cultivadas em plantações (BAIRD; CANN, 2011).

Os cátions de metais pesados possuem afinidade com os materiais húmicos.


São extraídos da água que passa através deles por meio de processos de troca iônica.
Essa fixação de cátions metálicos ocorre por meio da formação de complexos com
os íons metálicos através dos grupos (-COOH) dos ácidos húmicos e fúlvicos.

Segundo Baird e Cann (2011), os metais pesados são retidos no solo por três
vias, conforme segue:

• Por adsorção sobre as superfícies das partículas minerais.


• Por complexação pelas substâncias húmicas das partículas orgânicas.
• Por reações de precipitação.

A precipitação dos íons mercúrio e cádmio acontece por meio da formação


dos sulfetos insolúveis HgS e CdS, quando o íon livre em solução se encontra com
um íon sulfeto. Em solos ácidos, a concentração de Cd2+ pode ser aumentada, já que
esse íon possui adsorção fraca sobre argilas e outros materiais particulados. Acima
de pH 7, o cádmio precipita como sulfeto, carbonato ou fosfato. O tratamento
do solo com cal a fim de aumentar seu pH é um método efetivo para fixar o íon
cádmio, impedindo assim sua absorção pelas plantas (BAIRD; CANN, 2011).

Os íons de metais pesados são geralmente adsorvidos sobre as superfícies


de materiais particulados, especialmente os orgânicos que se encontram em
suspensão na água, em vez de se encontrarem dissolvidos na água, como íons
livres ou formando complexos com biomoléculas solúveis, como os ácidos fúlvicos.
Assim, as partículas decantam-se no fundo dos lagos tornando-se enterradas
quando outros sedimentos acumulam-se sobre as mesmas.

Este processo é um depósito importante de muitos poluentes da água,


favorecendo a purificação da água. Porém, os poluentes adsorvidos podem entrar
na cadeia alimentar por meio do consumo das partículas pelos organismos que se
desenvolvem no fundo dos corpos de água (BAIRD; CANN, 2011).

O mercúrio na forma Hg2+ representa um potente poluente, uma vez


que forma o metilmercúrio, mesmo fazendo forte ligação com os sedimentos e
ser praticamente insolúvel na água. O maior problema está relacionado com a
transferência do metal para a cadeia alimentar aquática e, consequente, topo
da cadeia alimentar. As bactérias anaeróbias metilam o íon mercúrico para
formar Hg(CH3)2 e CH3HgX, que se dessorvem das partículas de sedimentos e
dissolvem-se na água, entrando assim na cadeia alimentar. Mesmo que os níveis
de metilmercúrio dissolvido na água sejam baixos, um fator de biomagnificação
de 108 faz com que se origine uma concentração na faixa de ppm no músculo de
alguns peixes (BAIRD; CANN, 2011).

72
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES FÍSICAS, CONTAMINAÇÃO E REMEDIAÇÃO DO SOLO

As concentrações de metais pesados são mais altas em lodo de esgoto


que no solo, pois nas áreas com sistemas de encanamento de esgoto, os resíduos
industriais são muitas vezes lançados diretamente nas linhas de esgoto de prédios
residenciais. Assim, também há preocupação com as colheitas cultivadas em solo
fertilizado com lodo de esgoto, pois estes podem incorporar parte dos metais
pesados. Pois, como se sabe, a concentração de arsênio em solos de uso agrícola é
aumentada quando são aplicados pesticidas baseados em arsênio (BAIRD; CANN,
2011).

3.3 O LIXO URBANO

Atualmente, a principal forma de descartar os resíduos urbanos sólidos


se dá pelo uso dos aterros sanitários. Estes por sua vez são formados por pilhas
de rejeitos erguidas no solo ou em uma depressão geológica e são compactadas
e cobertas por solo a intervalos regulares. Esse método permite a cobertura
frequente das pilhas de resíduos a fim de minimizar o arraste do lixo pelo vento, a
contaminação da água e outros efeitos indesejados.

Mesmo que o lixo urbano seja menos perigoso que os resíduos químicos,
problemas graves existem, como o descarte de agentes de limpeza, solventes,
baterias de chumbo e outros tipos de materiais potencialmente perigosos
nos aterros, representando risco ambiental, podendo contaminar o ambiente
(MANAHAN, 2013).

Os aterros sanitários produzem emissões gasosas e aquosas onde a


biomassa é degradada, consumindo rapidamente todo o oxigênio por meio da
biodegradação aeróbia dos microrganismos presentes, emitindo o dióxido de
carbono (R-57) e por degradação anaeróbia gera o metano (R-58).

O metano é um gás de efeito estufa e representa um risco alto de explosão


para as estruturas erguidas sobre os aterros. O sulfeto de hidrogênio (H2S) é um
gás tóxico e com odor desagradável, gerado pela biodegradação anaeróbia. Em
um aterro sanitário adequado, os volumes de sulfeto de hidrogênio liberados são
pequenos e o gás tende a oxidar e atingir a atmosfera (MANAHAN, 2013).

A água infiltrada nos aterros sanitários dissolve a matéria no lixo, escorrendo


na forma de chorume, e a degradação anaeróbia da biomassa produz ácidos

73
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

orgânicos que conferem ao chorume a tendência de dissolver solutos solúveis em


ácido, como os metais. O chorume ainda pode se infiltrar em águas subterrâneas,
potencializando a contaminação.

Já os resíduos químicos perigosos são descartados nos chamados aterros


industriais, planejados para impedir o escorrimento e a contaminação do solo
por esses compostos tóxicos. Esse tipo de aterro compreende uma variedade de
medidas a fim de impedir a contaminação de águas subterrâneas e da geosfera
circunvizinha (MANAHAN, 2013).

Um dos problemas mais graves com relação ao descarte de resíduos na


geosfera está relacionado ao lixo radioativo. A maioria dos resíduos radioativos é
classificada como resíduos de baixo nível de radiação, porém se dispostos em aterros
inadequados causam grave contaminação. Esses resíduos podem ser os compostos
químicos radioativos de laboratório e fármacos, assim como filtros e resinas de
troca iônica usados para remover pequenas quantidades de radionuclídeos da água
de refrigeração de reatores. Porém ainda neste âmbito, acarreta-se maior problema
quando são descartados os resíduos radioativos de nível alto, como os produtos
de fissão em reatores nucleares e os subprodutos da fabricação de armas atômicas.
Com o tempo, esses resíduos precisam ser dispostos na geosfera, de maneira a não
trazer riscos, porém não é uma tarefa fácil. Várias propostas foram feitas para seu
descarte adequado, como a utilização de formações salinas, as zonas de subdução
no leito dos oceanos, nas calotas polares e em rochas ígneas (MANAHAN, 2013).

4 REMEDIAÇÃO DO SOLO CONTAMINADO

As tecnologias de remediação de solos contaminados são baseadas nas


propriedades químicas de substâncias ou processos físicos que serão utilizados
para retenção, mobilização ou destruição de um determinado contaminante
presente no solo. Estas técnicas podem ser aplicadas in situ, isto é, no lugar da
contaminação, ou ex situ, processo característico pela remoção do material
contaminado para outro local e depois é realizado o tratamento (BAIRD; CANN,
2011, ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Todas as áreas estão sujeitas a terem contaminação, mesmo as mais virgens,


porém os solos contaminados são encontrados com maior frequência não apenas
nas redondezas de locais de descarte de lixo e de plantas químicas, mas também
nos arredores de oleodutos e postos de gasolina. As tecnologias disponíveis para a
remediação de locais contaminados são classificadas em três categorias:

a) Retenção ou imobilização.
b) Mobilização.
c) Destruição.

74
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES FÍSICAS, CONTAMINAÇÃO E REMEDIAÇÃO DO SOLO

As técnicas de retenção in situ são as que empregam o isolamento dos


resíduos do ambiente circundante, cobrindo o local contaminado com argila ou o
uso de muro de retenção de baixa permeabilidade que impeçam o espalhamento
lateral dos contaminantes. Já retenção ex situ corresponde à colocação do solo
contaminado em um aterro especial. As técnicas de imobilização incluem a
solidificação e estabilização do material contaminado, sendo especialmente úteis
para resíduos inorgânicos, que são difíceis de tratar por outros métodos (BAIRD;
CANN, 2011).

As técnicas de mobilização são geralmente aplicadas in situ e incluem


a lavagem do solo e a extração dos vapores contaminantes. Muitas vezes são
empregadas técnicas em conjunto na extração de vapor do solo, como o aquecimento
para aumentar a taxa de evaporação e a abertura de poços para a injeção de ar.
Também são utilizadas as lavagens do solo in situ, injetando fluidos através de
cavidades situadas no subsolo, sendo os mesmos coletados em outros poços. Outras
opções de lavagem incluem o uso de uma solução com agentes quelantes, como o
EDTA (remoção de metais), agentes oxidantes (oxidar) e ou agentes tensoativos ou
surfactantes (remoção de substâncias hidrofóbicas) (BAIRD; CANN, 2011).

Também são utilizadas técnicas eletroquímicas para remediar os solos, onde


há a colocação de eletrodos no solo contaminado e a aplicação de uma voltagem
entre eles, resultando no transporte de íons no interior do solo.

Porém, estas técnicas de retenção, imobilização e mobilização não promovem


a eliminação dos contaminantes perigosos, com isso, é necessário o emprego de
técnicas de destruição, como a incineração e a biorremediação, resultando então,
na permanente eliminação do contaminante ou na transformação por via química
ou bioquímica (BAIRD; CANN, 2011).

4.1 BIORREMEDIAÇÃO
A biorremediação é a utilização de organismos vivos, especialmente
microrganismos, para degradar ou transformar poluentes ambientais em
substâncias com toxicidade reduzida. Esta técnica é empregada para substâncias
orgânicas, como combustíveis e solventes orgânicos e para a remediação de
depósitos de lixo e solos contaminados com compostos orgânicos semivoláteis,
como os HPAs (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos), podendo também ser
aplicada em substâncias inorgânicas. A biorremediação explora a capacidade dos
microrganismos (bactérias e fungos) na degradação de muitos tipos de resíduos,
para substâncias mais simples e menos tóxicas (BAIRD; CANN, 2011, ROCHA;
ROSA; CARDOSO, 2009).

Todas as substâncias resistentes à biodegradação são chamadas de


recalcitrantes ou biorrefratárias. Existem também as substâncias (alguns
compostos orgânicos) que se biodegradam parcialmente, em vez de mineralizar-
se por completo, sendo transformados em compostos orgânicos, podendo ser

75
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

biorrefratários ou ainda mais tóxicos que as substâncias originais (BAIRD; CANN,


2011).

Segundo Baird e Cann (2011), para que uma técnica de biorremediação


funcione deverá atender a algumas condições, como:

• Os resíduos devem ser susceptíveis à degradação biológica e estar presentes sob


uma forma física acessível para os microrganismos.
• Os microrganismos apropriados devem estar disponíveis.
• As condições ambientais como pH, temperatura e nível de oxigênio devem ser
adequadas.

Para a biorremediação de substâncias orgânicas, geralmente os poluentes


são degradados a CO2 ou CH4 e H2O, ocorrendo sob condições aeróbicas e
anaeróbicas, dependendo das condições do meio. Na presença de oxigênio (meio
aeróbio), os microrganismos usam o oxigênio atmosférico para oxidar os poluentes
orgânicos em CO2 e H2O. No tratamento aeróbico são usados bactérias e fungos
aeróbios que utilizam oxigênio, resultando em processos oxidativos na medida em
que os microrganismos utilizam os resíduos como fonte alimentar. Para citar um
exemplo de biorremediação aeróbica de solos, utiliza-se a técnica de bombeamento
de água saturada de oxigênio através do sólido, garantindo a alta disponibilidade
de O2 (BAIRD; CANN, 2011).

Já na ausência de oxigênio (meio anaeróbio), as substâncias formadas


pela degradação do composto original estarão nas suas formas mais reduzidas,
como, por exemplo, o carbono que estará na forma CH4. Degradados de
contaminantes ambientais por microrganismos anaeróbios são muito utilizados
como nos PCBs (bifenilas policloradas), porém, comumente as degradações mais
rápidas e completas são obtidas com microrganismos aeróbios. Contudo, uma
vantagem da biodegradação anaeróbica é a produção de sulfeto de hidrogênio,
que causa a precipitação in situ dos íons de metais pesados, na forma dos sulfetos
correspondentes (BAIRD; CANN, 2011).

Na biorremediação temos o processo de catabolismo, que é a parte do


metabolismo dos microrganismos responsáveis pelo processamento da matéria
adquirida para fins de obtenção de energia (ATP). Logo, de moléculas grandes,
são geradas moléculas pequenas, pobres em energia (H2O, CO2, NH3), em que
a energia resultante é aproveitada pelo organismo nos processo de degradação
(ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Muitos microrganismos realizam o processo de cometabolismo,


transformando parcialmente os compostos químicos em produtos que não
produzem energia para o seu crescimento, isto é, transformam um substrato
que não promove o crescimento na presença obrigatória de outro substrato que
promova o crescimento ou outro composto biotransformável (ROCHA; ROSA;
CARDOSO, 2009).

76
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES FÍSICAS, CONTAMINAÇÃO E REMEDIAÇÃO DO SOLO

Os compostos inorgânicos, como metais e metaloides (semimetal), não


podem ser degradados biologicamente, porém podem ser transformados ou
imobilizados, por meio da biosorção, bioacumulação, oxirredução ou ainda da
metilação. A biosorção é uma propriedade que certos tipos de biomassa microbiana
inativa ou mortas apresentam ao ligar-se com metais potencialmente tóxicos. Já
a bioacumulação é resultante do transporte de metais essenciais ao metabolismo
microbiano ou das proteínas com potencial para complexar metais. As reações de
oxirredução em metais potencialmente tóxicos podem ocorrer via microrganismos,
influenciando na disponibilidade de espécies metálicas, podendo diminuir sua
toxicidade. Outros microrganismos têm a capacidade de metilar metais, sendo que
algumas formas metiladas são menos tóxicas (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Os principais fatores, que influenciam na biorremediação, são as condições


ambientais, como o tipo de solo, a profundidade do nível da água, a concentração de
nutrientes, o potencial redox, o pH e a temperatura. Antes de iniciar um projeto de
biorremediação, a natureza e a extensão das substâncias químicas no solo devem ser
avaliadas (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

4.2 FITORREMEDIAÇÃO

A fitorremediação é o uso de vegetação para a descontaminação in situ de


solos e sedimentos, eliminando metais pesados e poluentes orgânicos. Conforme
ilustrado na figura a seguir, as plantas podem remediar poluentes por meio de três
mecanismos, de acordo com Baird e Cann (2011):

a) Ingestão direta dos contaminantes e acumulação no tecido da planta


(fitoextração).
b) Liberação no solo de oxigênio e substâncias bioquímicas, como enzimas que
estimulam a biodegradação dos poluentes.
c) Intensificação da degradação por fungos e micróbios localizados na interface
raiz-solo.

77
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

FIGURA 24 – MECANISMOS DE FITORREMEDIAÇÃO DE UMA PLANTA

FONTE: Baird e Cann (2011, p. 778)

Uma das grandes vantagens da fitorremediação é que determinadas plantas


são hiperacumuladoras de metais, ou seja, absorvem por meio de suas raízes altos
índices de contaminantes do que a média e de concentrá-los muito mais do que
as plantas normais. Essas plantas desenvolvem-se nos locais contaminados sendo
posteriormente cortadas e incineradas (BAIRD; CANN, 2011). As espécies químicas
que mais são absorvidas na fitorremediação são os metais (Pb, Ni, Hg, Zn, Cu, Se,
U, Cs), compostos inorgânicos (NO3-, NH4+, PO43-), hidrocarbonetos derivados de
petróleo (BTXs), pesticidas derivados dos organoclorados e dos nitroaromáticos,
explosivos (TNT, DNT), solventes clorados (TCE) e resíduos orgânicos industriais
(PCPs e HPAs), entre outras (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

A fitorremediação pode ser classificada dependendo da técnica a


ser empregada, da natureza química ou da propriedade do poluente, como
fitoextração, fitoestabilização, fitoestimulação, fitovolatilização e fitodegradação
(ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

78
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES FÍSICAS, CONTAMINAÇÃO E REMEDIAÇÃO DO SOLO

A fitoextração é a absorção dos contaminantes pelas raízes das plantas,


sendo que estes são armazenados ou transportados, e acumulados nas partes
aéreas. Esta técnica é eficiente para metais, mas pode ser utilizada também para
compostos orgânicos. Ela utiliza plantas (Brassica juncea, Aeolanthus biformifolius,
AIyssum bertoloni e Thlaspi caerulescens) denominadas hiperacumuladoras, que
possuem a capacidade de armazenar elevadas concentrações (0,1 a 1% M/M) do
peso seco, dependendo do metal (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

A fitoestabilização é a assimilação dos contaminantes orgânicos e


inorgânicos pela lignina da parede vegetal ou pelo húmus do solo, cujos metais
são precipitados sob formas insolúveis, sendo posteriormente retidos na matriz do
solo, evitando a disponibilização do contaminante e limitando sua difusão no solo
pela cobertura vegetal. Algumas plantas cultivadas para a fitoestabilização são
as espécies de Haumaniastrum, Eragrostis, Ascolepis, Gladiolus e Alyssum (ROCHA;
ROSA; CARDOSO, 2009).

A fitoestimulação é o processo pelo qual raízes em crescimento (extremidades


e ramificações laterais) causam a proliferação de microrganismos degradativos
na rizosfera (ambiente de raízes), usando metabólitos exudados da planta como
fonte de carbono e energia, podendo ainda excretar enzimas biodegradativas. As
Pseudomonas são os organismos predominantes associados às raízes, contudo a
gama microbiana na rizosfera é heterogênea devido à distribuição espacial variável
dos nutrientes. Esta técnica é aplicada somente para contaminantes orgânicos
(ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

A fitovolatilização é o processo pelo qual a planta absorve por meio das raízes
os elementos químicos como mercúrio, selênio e arsênio e estes são transformados
em formas não tóxicas, sendo posteriormente liberados na atmosfera. Esta técnica
pode ser empregada para compostos orgânicos e para metais.

Já a fitodegradação é o processo pelo qual os contaminantes orgânicos são


degradados ou mineralizados dentro das células vegetais por enzimas específicas.
Podemos citar algumas dessas enzimas, como as nitroredutases (degradação de
nitroaromáticos), desalogenases (degradação de solventes clorados e pesticidas) e
as lacases (degradação de anilinas). Alguns exemplos de plantas que possuem estas
enzimas são: Populus sp. e a Myriophyllium spicatum (ROCHA; ROSA; CARDOSO,
2009).

Para a implantação de remediação do solo por meio de fitorremediação


devem ser consideradas algumas características como as propriedades físico-
químicas do solo, do contaminante e sua distribuição na área, pois qualquer fator
que interfira negativamente no desempenho das plantas deve ser controlado. Para
que as plantas tenham potencial para serem utilizadas na fitorremediação, segundo
Rocha, Rosa e Cardoso (2009, p. 194), devem possuir algumas características
básicas como:

79
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

• Alta taxa de crescimento e produção de biomassa.


• Capacidade de absorção, concentração ou metabolização e tolerância ao
contaminante.
• Sistema radicular profundo e denso.
• Elevada taxa de transpiração radicular, especialmente em árvores e plantas
perenes.
• Fácil colheita, quando necessário remover a planta da área.
• Ocorrência natural em áreas poluídas.
• Resistência a pragas e doenças.
• Capacidade transpiratória elevada.
• Capacidade de se desenvolver em ambientes diversos.

A fitorremediação possui vantagens, como baixo custo, benefícios estéticos,


natureza não invasiva e extração de metais facilitada, que com outras técnicas
geralmente são difíceis de extrair devido a suas baixas concentrações. Entretanto,
uma dificuldade da fitorremediação é que os hiperacumuladores são, geralmente,
plantas que crescem devagar acumulando lentamente os metais (BAIRD; CANN,
2011). Um detalhe a ser considerado é que a concentração do poluente e a presença
de determinadas toxinas devem estar dentro dos limites de tolerância da planta
utilizada para não comprometer o tratamento, assim como devem ser considerados
os riscos com a possibilidade dos vegetais entrarem na cadeia alimentar (ROCHA;
ROSA; CARDOSO, 2009).

Tanto a biorremediação, como a fitorremediação, são tecnologias que estão


emergindo rapidamente e o potencial a longo prazo do uso dessas técnicas em
muitos locais que necessitam descontaminação é evidente (BAIRD; CANN, 2011).

LEITURA COMPLEMENTAR

BIORREMEDIAÇÃO DE SOLOS CONTAMINADOS POR PETRÓLEO E SEUS


DERIVADOS

O mundo atual está cada vez mais dependente do petróleo e de seus derivados
para a manutenção de sua atividade industrial. Durante a exploração, o refino, o
transporte e as operações de armazenamento do petróleo e/ou de seus derivados
podem vir a ocorrer derramamentos acidentais, ocasionando a contaminação de solos,
rios etc. Tais ocorrências vêm motivando, principalmente, a realização de pesquisas
relacionadas com a remediação de sítios contaminados (Aislabie et al., 2004, Marín et
al., 2006).

O que se tem notado, nas duas últimas décadas, é que a poluição causada por
petróleo e seus derivados tem sido um dos principais problemas ao meio ambiente.
Quando ocorre o derramamento de gasolina em solos, por exemplo, uma das

80
TÓPICO 3 | PROPRIEDADES FÍSICAS, CONTAMINAÇÃO E REMEDIAÇÃO DO SOLO

principais preocupações é a contaminação das águas subterrâneas, que também podem


contaminar, especialmente, os aquíferos que são usados como fontes de abastecimento
de água para o consumo humano (Custance et al., 1992). Os frequentes derramamentos
de petróleo e seus derivados registrados em solos brasileiros vêm motivando o
desenvolvimento de novas técnicas que visam, principalmente, a descontaminação
dessas matrizes. Diante disso, diversas técnicas, físicas, químicas e biológicas, vêm
sendo desenvolvidas para a remoção ou a degradação in-situ ou ex-situ de petróleo
derramado e para a redução de seus efeitos sobre o ecossistema, especialmente os
tóxicos. Dentre as técnicas desenvolvidas, a “biorremediação” vem se destacando
como uma alternativa viável e promissora para o tratamento de solos contaminados
por petróleo e seus derivados (Bento et al., 2003, Dua et al., 2002, Rahman et al., 2002).

De modo geral, a biorremediação baseia-se na degradação bioquímica dos


contaminantes por meio da atividade de microrganismos presentes ou adicionados
no local de contaminação (Bernoth et al., 2000). Neste caso, os tratamentos são
basicamente de dois tipos: 1) ex-situ (ou off-site), realizado fora do local onde ocorreu
a contaminação e, por isso, é um tratamento que requer a escavação e a remoção
do solo contaminado para outro local. A adoção deste procedimento pode resultar
em um aumento considerável do custo do processo, porém, não obstante a essa
desvantagem, é possível controlar, com maior facilidade, as condicionantes do meio,
que são consideradas os fatores-chave utilizados no tratamento dos solos; 2) in-situ (ou
on-site), tratamento feito no próprio local da contaminação. Normalmente, essa opção
de biorremediação torna o processo mais atrativo e economicamente viável, quando
comparado ao tratamento citado anteriormente. Além disso, o tratamento in-situ,
normalmente, acarreta em menores impactos ambientais advindos da remediação da
área contaminada (Nano et al., 2003).

A biorremediação envolve a utilização de microrganismos, de ocorrência


natural (nativos) ou cultivados, para degradar ou imobilizar contaminantes em águas
subterrâneas e em solos. Neste caso, geralmente, os microrganismos utilizados são
bactérias, fungos filamentosos e leveduras. Destes, as bactérias são as mais empregadas
e, por conseguinte, são consideradas como o elemento principal em trabalhos que
envolvem a biodegradação de contaminantes. São definidas como qualquer classe
de microrganismos unicelulares, geralmente agregados em colônias, que vivem em
compartimentos ambientais diversos. São importantes, em função de seus efeitos
bioquímicos e por destruírem ou transformarem os contaminantes potencialmente
perigosos em compostos menos danosos ao ser humano e ao meio ambiente (NRC,
1993).

No que diz respeito aos tipos de utilização da técnica, quanto ao local


de tratamento, a biorremediação in-situ é a mais empregada no mundo. Porém,
independentemente do local de aplicação, a biorremediação, assim como as demais
técnicas químicas de degradação, tem como objetivo principal a mineralização completa
dos contaminantes, ou seja, transformá-los em produtos com pouca ou nenhuma
toxicidade (inócuos), como CO2 e água. Em suma, os microrganismos metabolizam as
substâncias orgânicas, das quais se obtêm nutrientes e energia. Sendo que, para que
isso ocorra, os microrganismos devem estar ativos para desempenharem a sua tarefa
de biodegradação.

81
UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO

O petróleo é uma mistura complexa que contém vários compostos, sendo


que os hidrocarbonetos representam a fração majoritária. De acordo com a sua
origem, as suas composições químicas e as suas propriedades físicas variam de
um campo petrolífero para outro. Devido, principalmente, à complexidade dessa
mistura, normalmente o tratamento de áreas contaminadas por essas substâncias é
bastante difícil e problemático. Em solos contaminados por petróleo e seus derivados,
alguns contaminantes se destacam frente aos demais. Neste caso, de forma geral, os
compostos de interesse que exigem maior preocupação ambiental e que, normalmente,
são os principais a serem identificados e quantificados antes e durante um processo
de remediação, são: benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos (isômeros: orto-, meta-
e para-xileno). Esses compostos, conhecidos também como BTEX, são definidos
como hidrocarbonetos monoaromáticos, cujas estruturas moleculares possuem como
característica principal a presença do anel benzênico. São usados, principalmente, em
solventes e em combustíveis e são os constituintes mais solúveis na fração da gasolina.

Compostos, como os BTEX, constituem em um grande problema, não


somente no Brasil, mas em todo o mundo. Esses compostos aromáticos são tóxicos
tanto ao meio ambiente como ao ser humano, nos quais atuam como depressores do
sistema nervoso central e apresentam toxicidade crônica mais significativa que os
hidrocarbonetos alifáticos (também presentes no petróleo e derivados), mesmo em
concentrações da ordem de µg L-1 (Watts et al., 2000). O benzeno é reconhecidamente
o composto mais tóxico dentre os BTEX e, por isso, pode ser apontado como o agente
mais preocupante no tocante à saúde pública. Segundo a Agência Internacional de
Pesquisa de Câncer (International Agency for Research on Câncer – IARC), órgão da
Organização Mundial da Saúde, o benzeno se classifica no Grupo I, ou seja, é uma
substância comprovadamente cancerígena e que também pode causar leucemia
em seres humanos. Assim como a IARC, nos Estados Unidos, a Agência de Saúde
e Segurança Ocupacional (National Institute for Occupational Safety and Health
– NIOSH), bem como a Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection
Agency – EPA) também incluem o benzeno em suas listas de produtos cancerígenos
(EPA, 2003a; IARC, 2006; NIOSH, 2006). Daí, a importância considerável em monitorar
esses contaminantes em episódios de contaminações.

Em solos contaminados por petróleo e seus derivados, além dos BTEX,


geralmente, outras classes de compostos também são alvos de atenção, como os
hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), os compostos orgânicos voláteis (COV)
totais e os hidrocarbonetos totais de petróleo (HTP). Os compostos BTEX, HPA e HTP
são escolhidos, principalmente, pela toxicidade, mobilidade e persistência no meio
ambiente; os COV totais, por representarem o total de emissões gasosas, como perdas
por volatilização provenientes do derramamento. Assim, qualquer contaminação
oriunda dessas fontes merece atenção, não apenas pelo contato direto (como a inalação
de vapores) desses compostos indevidamente dispostos no solo, mas também quanto
à sua presença em águas utilizadas para o consumo humano.

Para ler o artigo completo consulte a referência:

FONTE: ANDRADE, J. de A.; AUGUSTO, F.; JARDIM, I. C. S. F. Biorremediação de Solos Contaminados


por Petróleo e seus Derivados. Eclética Química. Vol. 35, Nº 3. São Paulo, setembro 2010.

82
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico vimos que:

• As principais propriedades físico-químicas do solo são a capacidade de troca


catiônica, acidez, processos de oxidação e redução e a adsorção de metais.

• A capacidade de troca catiônica ou CTC do solo é definida como a quantidade


de cátions adsorvidos reversivelmente por unidade de massa de material seco,
e expressa a capacidade do solo de trocar cátions.

FONTE: Disponível em: <http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarTema.php?idTema=60>. Acesso


em: 8 jan. 2014.

• Uma substância é ácida quando tende a ceder prótons (íons hidrogênios) a uma
outra, e base é qualquer substância que tende a receber os prótons.

• Os solos podem sofrer reações químicas que proporcionam variações em seus


estados de oxidação-redução (redox), alterando as características de espécies
químicas.

• O comportamento e a biodisponibilidade dos metais em solos estão associados à


adsorção de metais da fase líquida para a fase sólida, controlando a concentração
de íons metálicos e seus complexos na solução do solo e influenciando seu
acúmulo nas plantas.

• Alguns dos contaminantes do solo podem ser os resíduos sólidos, pesticidas e


os metais pesados.

• Os pesticidas são as substâncias de origem natural ou sintética utilizadas no


controle de pragas (insetos, ervas daninhas, entre outros) que acarretam prejuízos
na produção de alimentos, ou transferem enfermidades aos seres humanos e a
outros organismos.

• Os metais pesados são elementos que possuem o peso específico maior do que 5
g/cm³ ou que possuem o número atômico maior do que 20.

• O lixo urbano é potencialmente tão perigoso quanto os resíduos químicos, pois


o descarte inadequado de agentes de limpeza, solventes, baterias de chumbo e
outros, representa grande risco de contaminação ambiental.

83
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos


exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno
de Estudos. Bom trabalho!

1 A argila, que é uma das constituintes do solo, é formada por


minerais secundários, óxidos de ferro e de alumínio cristalinos
ou amorfos e matéria orgânica, e é a principal responsável pelas
propriedades físico-químicas dos solos, pelo fato de apresentar
elevada superfície específica e alta reatividade dos seus componentes. Com
base no texto, cite as principais propriedades físico-químicas dos solos.

2 Os pesticidas são as substâncias de origem natural ou sintética


utilizadas no controle de pragas como insetos, ervas daninhas,
entre outros, acarretando prejuízos na produção de alimentos,
ou gerando doenças aos seres humanos e a outros organismos.
Explique quais são as características apresentadas pelos pesticidas quando
permanecem no solo por longo tempo.

3 As atividades em grande escala das indústrias florestais da Nova


Zelândia causaram a contaminação de várias centenas de locais
em que a madeira serrada era tratada com o pentaclorofenol (PCP)
como agente defensivo. Os contaminantes do PCP, como os fura-
nos e as dioxinas, também são encontrados nos solos. Estes três tipos de con-
taminantes são lixiviados e introduzidos nas águas subterrâneas de algumas
dessas regiões, e começaram a bioacumular-se na cadeia alimentar. Diante do
exposto, analise as assertivas relacionadas à remediação do solo:
I- A remediação de solos contaminados baseia-se nas propriedades químicas e
físicas dos contaminantes, promovendo a retenção, mobilização e destruição.
II- As técnicas de remediação podem ser aplicadas in situ, (no lugar da
contaminação), ou ex situ (remoção para tratamento posterior).
III- A biorremediação é a utilização de organismos vivos (microrganismos),
para degradar ou transformar poluentes ambientais em substâncias com
menor toxicidade.
IV- A fitorremediação é o uso de vegetação para a descontaminação in situ de
solos e sedimentos, eliminando metais pesados e poluentes orgânicos.
V- A fitoestabilização é o processo que causa a proliferação de microrganismos
degradativos na rizosfera.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, III, IV e V estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças III e V estão corretas.
e) ( ) Somente a sentença I está correta.

84
UNIDADE 2

A QUÍMICA DA ATMOSFERA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Caro(a) acadêmico(a)! Os objetivos desta unidade são:

• compreender os principais processos químicos presentes na atmosfera;

• identificar o material particulado que interage na atmosfera;

• conhecer os compostos inorgânicos e orgânicos constituintes da atmosfe-


ra;

• compreender a química da poluição atmosférica, assim como entender o


processo da chuva ácida e do smog fotoquímico;

• conhecer os gases de efeito estufa e sua interação na atmosfera;

• compreender o aquecimento global e as mudanças climáticas.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 2 está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, leituras
complementares e atividades estarão à sua disposição para a melhor compre-
ensão dos conteúdos abordados.

TÓPICO 1 – A QUÍMICA DO AR

TÓPICO 2 – A QUÍMICA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

TÓPICO 3 – A CAMADA DE OZÔNIO E OS GASES DE EFEITO ESTUFA

85
86
UNIDADE 2
TÓPICO 1

A QUÍMICA DO AR

1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)! No Tópico 1 estudaremos, além de outros assuntos
relevantes, a composição, estratificação e importância da atmosfera. Sobre as
partículas espalhadas na atmosfera analisaremos as propriedades e os processos
físicos e químicos, bem como os compostos inorgânicos e o ciclo biogeoquímico do
oxigênio. Atenção especial é dada aos compostos orgânicos biogênicos e de origem
antrópica. Sugerimos uma leitura atenciosa e desejamos bons estudos!

2 COMPOSIÇÃO DA ATMOSFERA

A atmosfera é a camada de gases que envolvem um planeta ou satélite. A


atmosfera (do grego atmós, gás; sphaira, esfera) da Terra tem espessura estimada
em 800 km, e é formada pelo nitrogênio (78%), o oxigênio (21%) e o argônio (0,9%),
e por gases em concentrações menores, tais como o vapor de água, dióxido de
carbono (CO2), metano (CH4), hidrogênio (H2), dióxido de nitrogênio (NO2), dióxido
de enxofre (SO2), ozônio (O3) e os gases nobres, totalizando 0,1% do volume do ar
atmosférico (MACÊDO, 2002; ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009). A tabela a seguir
apresenta a composição química da atmosfera. Portanto, a atmosfera do planeta
Terra é composta por uma mistura de gases, dos quais o nitrogênio e o oxigênio
representam 99%. Assim, chamamos de homosfera a camada da atmosfera que
se estende até uma altura de 100 km, cuja composição molecular é praticamente
constante, em consequência das movimentações verticais do ar e vento (PHILIPPI
JR, 2005).

87
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

TABELA 3 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA ATMOSFERA ATÉ 80 KM DE ALTITUDE

Componente Símbolo químico Porcentagem molar (%)


Nitrogênio N2 78,084
Oxigênio O2 20,947
Argônio Ar 0,934
Dióxido de carbono CO2 0,0398*
Neônio Ne 0,001818
Hélio He 0,000524
Metano CH4 0,0001803**
Criptônio Kr 0,000114
Hidrogênio H2 0,000053
Óxido nitroso N2O 0,0000324***
Xenônio Xe 0,0000087
Ozônio O3 Traços até 0,0008
Monóxido de carbono CO Traços até 0,000025
Dióxido de enxofre SO2 Traços até 0,00001
Dióxido de nitrogênio NO2 Traços até 0,000002
Amônia NH3 Traços até 0,0000003

* Percentual equivalente a 398 ppm (parte por milhão), atualizado em dezembro de 2013,
conforme The Keeling Curve, disponível em: <http://keelingcurve.ucsd.edu/>.
** Percentual equivalente a 1803 ppb (parte por bilhão), atualizado em 2011, conforme IPCC,
2013.
*** Percentual equivalente a 324 ppb (parte por bilhão), atualizado em 2011, conforme IPCC,
2013.
FONTE: Adaptado de Oliveira, Cordani e Fairchild (2009, p. 110)

NOTA

A característica da atmosfera terrestre por ter um grande percentual de oxigênio


livre se difere muito da composição da atmosfera dos planetas vizinhos. O oxigênio indica
condições oxidantes e foi sendo acumulado como produto residual do processo de fotossíntese
primeiramente por micro-organismos fotossintetizantes, há pelo menos 2.700 milhões de
anos. Inicialmente, a atmosfera tinha caráter redutor e ácido, pois não possuía o oxigênio livre.
Portanto, a vida microbial existente não estava adaptada à sua presença, e sua introdução no
ambiente, representou o início de uma drástica mudança, em direção a condições oxidantes,
potencialmente tóxicas para os organismos da época. Contudo, sua presença também
exerceu forte pressão seletiva que favoreceu o aperfeiçoamento do metabolismo aeróbio e,
posteriormente, a reprodução sexuada, a multicelularidade e o tamanho megascópico dos
organismos (BRAGA et al., 2005; OLIVEIRA; CORDANI; FAIRCHILD, 2009).

88
TÓPICO 1 | A QUÍMICA DO AR

A atmosfera é composta também por material sólido disperso, como poeira


em suspensão, pólen, micro-organismos, cinzas vulcânicas, entre outros. Existe,
ainda, uma porção líquida, composta de gotículas resultantes da condensação do
vapor d'água, na forma de nuvens, neblinas e chuvas. Contudo, em termos de
massa relativa, a principal parcela é gasosa (MACÊDO, 2002; ROCHA; ROSA;
CARDOSO, 2009).

As moléculas dos gases que constituem a atmosfera são constantemente


trocadas, porém, a composição média da atmosfera permanece constante desde
que a humanidade caminha sobre a Terra. Essa substituição de moléculas dentro
da atmosfera depende de fenômenos físicos, químicos e biológicos. A composição
dos principais gases N2 e O2 na atmosfera não mudou ao longo da história, contudo,
as principais alterações ocorridas se deram nos componentes minoritários,
como o CO2, principalmente por estar associado às emissões antrópicas. A
função dos componentes minoritários na atmosfera é tão relevante quanto a dos
macroconstituintes, uma vez que a poluição atmosférica é resultado da variação
destes. Assim, a entrada de espécies minoritárias na atmosfera modifica suas
propriedades químicas e físicas, onde os processos que envolvem as transformações
químicas tendem a manter a sua composição em estado estacionário. Os diversos
compostos que entram na atmosfera são transformados quimicamente em espécies
mais solúveis em água, posteriormente favorecendo seu retorno à litosfera por
processos como a chuva (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

3 ESTRATIFICAÇÃO DA ATMOSFERA

A atmosfera pode ser dividida conforme a variação da temperatura, da


composição química do ar ou da estrutura eletromagnética (campos elétricos e
de atração magnética), conforme verificado na figura a seguir (ALMANAQUE
ABRIL, 1998 apud MACÊDO, 2002; LENZI; FAVERO, 2011).

89
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

FIGURA 25 – ESTRUTURA DA ATMOSFERA DEFINIDA EM FUNÇÃO DA


TEMPERATURA E DA ALTITUDE

FONTE: Oliveira, Cordani e Fairchild (2009, p. 111)

A divisão térmica da atmosfera possui temperaturas diferentes conforme


a altitude, dividindo-se em troposfera, estratosfera, mesosfera e termosfera. A
troposfera vai até 12 km e sua temperatura média varia de 20°C na camada inferior
a -60°C na camada superior. A estratosfera vai de 12 a 50 km, com oscilação de
temperatura entre -60°C a -5°C. A mesosfera está compreendida na faixa de 50 a 80
km, com oscilação de temperatura de 5°C a -95°C. As maiores variações estão na
termosfera, faixa compreendida entre 80 km e 500 km, onde a temperatura vai de
-95°C a -1.000°C (ALMANAQUE ABRIL, 1998 apud MACÊDO, 2002).

90
TÓPICO 1 | A QUÍMICA DO AR

Na divisão química, a altitude também modifica a distribuição dos gases


e a pressão. Conforme se aumenta a altitude, o ar se torna mais rarefeito (menos
denso) e a pressão diminui. Com isso, estima-se que cerca de 97% dos gases estejam
na faixa dos 30 km iniciais da atmosfera. Portanto, a atmosfera divide-se em
homosfera, heterosfera e exosfera. A homosfera vai até 100 km e tem composição
gasosa constante e regular, predominando os gases nitrogênio e oxigênio.
Na heterosfera, entre 100 km e 500 km, a distribuição de gases é irregular com
predominância do hélio e do hidrogênio. Já a exosfera é a última camada, sendo
a parte externa da atmosfera. Nela as moléculas começam a escapar da atração
terrestre (força gravidade) integrando-se ao espaço (ALMANAQUE ABRIL, 1998
apud MACÊDO, 2002).

Na divisão eletromagnética a atmosfera divide-se em ionosfera e


magnetosfera. A ionosfera é a faixa compreendida entre 60 km e 600 km,
caracterizando-se pela presença de partículas eletricamente carregadas, permitindo
a reflexão das ondas de rádio. Já a magnetosfera possui dimensão irregular em
consequência dos ventos solares. Na face do planeta em que é dia a magnetosfera
atinge cerca de 60.000 km e, no lado em que é noite, 600.000 km. O campo de
atração magnética da Terra é predominante na magnetosfera (ALMANAQUE
ABRIL, 1998 apud MACÊDO, 2002).

4 IMPORTÂNCIA DA ATMOSFERA
A atmosfera é um manto protetor que nutre a vida na Terra e a protege do
perigoso ambiente do espaço sideral. É a fonte de dióxido de carbono necessário
para a fotossíntese e de oxigênio para a respiração, assim como do nitrogênio que
as bactérias fixadoras de nitrogênio e as indústrias produtoras de amônia utilizam
para produzir o nitrogênio quimicamente combinado. A atmosfera participa do ciclo
hidrológico transportando água dos oceanos a Terra, onde atua como condensador
em um imenso destilador movido à energia solar. A atmosfera também é utilizada
como depósito de lixo para diversos materiais poluentes, como hidrocarbonetos,
dióxido de enxofre, gases refrigerantes, entre outros, prejudicando toda a vida do
planeta (MANAHAN, 2013).

A atmosfera atua como um escudo de proteção, absorvendo a maioria dos


raios cósmicos vindos do espaço sideral, protegendo os organismos dos efeitos
que causam. Também absorve a maior parte da radiação eletromagnética do Sol,
permitindo a transmissão de teores expressivos de radiação apenas nas regiões
entre 300 e 2.500 nm (o ultravioleta próximo, a radiação visível e o infravermelho
próximo) e entre 0,01 e 40 m (ondas de rádio). A atmosfera filtra a radiação
ultravioleta prejudicial quando absorve a radiação eletromagnética abaixo de
300 nm, que, do contrário, seria muito perigosa para os organismos vivos. Já
ao absorver a maior parte da radiação infravermelha, em um processo em que
a energia solar absorvida pelo planeta é reemitida para o espaço, a atmosfera
estabiliza a temperatura da Terra, evitando os enormes extremos de temperatura
observados em planetas e luas que não têm atmosferas substanciais (MANAHAN,
2013).
91
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

5 AS PARTÍCULAS NA ATMOSFERA

As partículas sólidas ou líquidas presentes na atmosfera são denominadas


de material particulado (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009). São formadas por
uma grande variedade de materiais e objetos espalhado de maneira discreta, que
podem ser tanto sólidos quanto gotículas líquidas (MANAHAN, 2013). Estes
materiais particulados são corpúsculos que se apresentam dispersas na atmosfera
com dimensões variando entre 100 µm a 0,002 µm, para alguns autores, e outros
ampliam a faixa de 500 µm a dimensões moleculares entre 0,0001 µm a 0,001
µm. Como na maioria das vezes apresentam tamanhos que se encontram abaixo
do limite de visibilidade do olho humano (±90 µm) são considerados esféricos.
Entre estes particulados encontram-se corpos abióticos (inorgânicos) e corpos
bióticos (orgânicos) (MANAHAN, 2013; LENZI; FAVERO, 2011). A figura a seguir
apresenta exemplos de materiais particulados da atmosfera com a respectiva faixa
de dimensão.

FIGURA 26 – PRINCIPAIS TIPOS DE PARTÍCULAS ATMOSFÉRICAS E SUAS DIMENSÕES

FONTE: Lenzi; Favero (2011, p. 130)

92
TÓPICO 1 | A QUÍMICA DO AR

A quantificação da massa dos materiais particulados é conhecida como


Material Particulado Total em Suspensão (MPTS), constituindo uma medida de
massa total por unidade de volume, expressa em unidade de µg m-³. Muitas dessas
partículas são visíveis como a poeira, cinzas e fumaças, outras, porém, não são,
contudo são extremamente significativas para o meio ambiente. Por exemplo, as
partículas inaláveis menores do que 10 µm (PM10), podem ficar retidas no trato
respiratório superior e as partículas menores do que 2,5 µm podem atingir os
pulmões, ficando retidas e provocar danos à saúde (ROCHA; ROSA; CARDOSO,
2009).

As partículas muito pequenas podem ser, por exemplo, o negro de fumo,


iodeto de prata, núcleos de combustão e núcleos de sal marinho. As partículas
maiores são representadas por pólen, pó de cimento, poeira do solo soprada
pelo vento, poeira de fundições e carvão pulverizado. Já o material particulado
no estado líquido, conhecido como névoa, é representado pelas gotas de chuva,
nevoeiro e névoa de ácido sulfúrico (MANAHAN, 2013).

NOTA

O material particulado é a forma mais visível e óbvia de poluição atmosférica


(MANAHAN, 2013, p. 318).

A dispersão dos materiais particulados na atmosfera é uma mistura onde o


particulado é o disperso (ou o soluto) e a fase gasosa, ou seja, o ar (mistura gasosa
de O2 e N2) é a fase dispersante (ou o solvente). Dependendo da dimensão do
soluto, esta mistura pode ser uma solução verdadeira, uma dispersão coloidal e ou
uma dispersão grosseira (LENZI; FAVERO, 2011).

NOTA

As partículas de tamanho entre 0,1 a 10 µm servem como núcleos de condensação


de vapor de água formando as nuvens. As nuvens estão diretamente ligadas à quantidade de
chuva que precipita em uma região. Quando um núcleo de condensação alcança um volume
suficiente ele precipita na forma de chuva (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

93
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

5.1 FONTE DE PARTICULADOS NA ATMOSFERA

Os materiais particulados da atmosfera têm origem de processos naturais e


antrópicos, resultantes de fenômenos físicos ou químicos. Entre as fontes podemos
citar as atividades industriais, motores de carros, trabalho com o solo ou rochas,
queimadas de canaviais, erupções de vulcões, grãos de pólen, vírus, bactérias e
poeiras (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009; LENZI; FAVERO, 2011; MANAHAN,
2013).

5.1.1 Processos físicos naturais de formação de particulados

A principal fonte de formação dos particulados líquidos da atmosfera por


meio de fenômenos físicos naturais é a energia solar que evapora a água, originando
nevoeiros, neblinas, cerrações, nuvens, entre outros. A rebentação das ondas do
mar, também transportam para a atmosfera partículas de água líquida contendo
sais dissolvidos, como o NaCl (cloreto de sódio) (LENZI; FAVERO, 2011).

A ação vulcânica é outra fonte de material particulado, gerando vapor


de água, fumaças e poeiras vulcânicas. Em lugares desérticos e superfícies
desprotegidas da terra, a ação eólica leva à atmosfera particulados arenosos e
argilosos.

Os polens das flores das plantas, esporos de fungos e bactérias, vírus, entre
outros, também são dispersos na natureza pela ação do vento e pela ação de insetos
e animais diversos (LENZI; FAVERO, 2011).

5.1.2 Processos físicos antrópicos de formação de


particulados

Este processo está associado à extração de materiais (rochas, minerais etc.),


seu preparo e posterior utilização. Como exemplo, podemos citar a extração de
rocha, sua redução à brita e sua utilização na construção civil. Também é fonte
geradora a prática de aração e gradação da terra, onde grandes quantidades de
poeiras são levadas para a atmosfera. Já a formação de particulados líquidos está
restrita à formação de sprays em torres de refrigeração (LENZI; FAVERO, 2011).

5.1.3 Processos químicos de formação de particulados

Os processos químicos que geram materiais particulados estão relacionados


principalmente com a combustão, onde são produzidas as fumaças, fuligens, cinzas

94
TÓPICO 1 | A QUÍMICA DO AR

voláteis, entre outras. As principais fontes são as termoelétricas, incineradores,


fornos, fogões caseiros, todo e qualquer engenho de combustão (entre eles os
motores a combustão), incêndios e queimadas. Neste processo, os particulados
gerados apresentam natureza inorgânica ou orgânica (LENZI; FAVERO, 2011).

5.2 PROPRIEDADES DOS PARTICULADOS NA ATMOSFERA

Os materiais particulados na atmosfera apresentam uma série de


propriedades, algumas de natureza física e outras, química, conforme visto
na figura a seguir. As partículas coloidais pequenas estão sujeitas a processos
de difusão. Já as partículas menores sofrem coagulação, formando partículas
maiores. Um dos principais mecanismos de remoção de partículas da atmosfera é
a sedimentação ou deposição seca de partículas, que podem atingir um tamanho
suficiente para se depositarem por coagulação. Outra via para a eliminação de
particulados atmosféricos é a captura por gotas de chuva ou outras formas de
precipitação (MANAHAN, 2013).

FIGURA 27 – PROPRIEDADES DAS PARTÍCULAS

FONTE: Manahan (2013, p. 320)

Podemos verificar na tabela a seguir as principais propriedades dos


materiais particulados.

95
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

TABELA 4 – PRINCIPAIS PROPRIEDADES DOS MATERIAIS PARTICULADOS E DEFINIÇÕES

Propriedade Definição
Tendência que as partículas têm de se espalhar tomando todo o
Difusão
volume do recipiente.
A coagulação dos particulados é a agregação dos mesmos num ponto
Coagulação
comum, resultando num corpo sólido com volume e massa maiores.
É a interação entre duas espécies A e B. Já a adsorção é quando a
Sorção
interação é superficial e absorção quando um entra no outro.
É o comportamento de varrer, predominante com a chuva. As gotas ao
Varredura se precipitarem, dissolvem e arrastam consigo para o chão os demais
particulados.
É semelhante à coagulação, conduzindo à formação de um particulado
Condensação
líquido.
Os fenômenos da coagulação e da condensação podem formar
Precipitação particulados cujas massas conduzem a um peso, que pela ação da
gravidade precipita.
Vaso de reações químicas O particulado é um local próprio (tubo, vaso) para provocar reações
e fenômenos químicos químicas e fenômenos físicos na atmosfera.

FONTE: Adaptado de Lenzi e Favero (2011, p. 137-139)

6 COMPOSTOS INORGÂNICOS DA ATMOSFERA

Os compostos inorgânicos são resultantes da combinação, ou não, dos


elementos químicos, entre os quais se tem 92 estáveis, que começam com hidrogênio
(H) e vão até o urânio (U), com exceção dos derivados do carbono (C) que originam
os compostos orgânicos. Os óxidos de carbono (CO, CO2) e os carbonatos (CO3-2)
são considerados compostos inorgânicos (LENZI; FAVERO, 2011).

Os compostos inorgânicos gasosos podem ser de origem geoquímica,


biogênica e antropogênica. Os de origem geoquímica são produzidos por
fenômenos da natureza, como ação de vulcões, da luz, entre outros. Os de origem
biogênica estão associados aos processos vitais e os antropogênicos são gerados
nos processos da ação humana (LENZI; FAVERO, 2011).

A maioria dos poluentes gasosos inorgânicos entram na atmosfera como


resultado das atividades humanas (BAIRD; CANN, 2011). Os principais gases
inorgânicos na atmosfera são CO, CO2, SO2, NO e NO2. Outros gases poluentes
inorgânicos em menor percentual incluem NH3, N2O, N2O5, H2S, Cl2, HCl e HF
(MANAHAN, 2013).

Caros acadêmicos! Agora estudaremos um pouco mais a fundo alguns dos


compostos inorgânicos da atmosfera.

96
TÓPICO 1 | A QUÍMICA DO AR

6.1 MONÓXIDO DE CARBONO

O monóxido de carbono (CO) é um constituinte natural da atmosfera


atuando como poluente quando está presente em níveis acima das concentrações
normais. Causa problemas em concentrações elevadas devido à sua toxicidade.
A concentração atmosférica total do monóxido de carbono é cerca de 0,1 ppmv
(parte por milhão em volume), correspondendo a um volume de 500 milhões de
toneladas métricas na atmosfera, com tempo de residência médio que varia entre
36 e 110 dias. A maioria do monóxido de carbono está presente como intermediário
da oxidação do metano pelo radical hidroxila. Com isso, qualquer processo de
oxidação do metano que gere monóxido de carbono como intermediário, contribui
de forma acentuada para a manutenção do estoque total de CO na atmosfera
(MANAHAN, 2013).

A degradação da clorofila durante os meses de outono libera CO,


correspondendo a 20% das emissões totais anuais. As fontes antropogênicas
respondem por cerca de 6% das emissões de CO, e o restante provém de fontes
desconhecidas, como plantas e organismos marinhos chamados de sifonóforos, da
ordem Hydrozoa (invertebrados marinhos que vivem em colônia dando aparência
de medusas) e pela decomposição de matéria vegetal, além da clorofila.

Nas áreas urbanas, os níveis de CO são altos devido a sua emissão por
motores a combustão interna e mais intensos em áreas urbanas congestionadas
quando o número de pessoas expostas é máximo. Nesses momentos, os níveis de
monóxido de carbono na atmosfera atingem por volta de 50 – 100 ppmv. São muito
prejudiciais à saúde humana (MANAHAN, 2013).

6.2 ÓXIDO DE ENXOFRE

As principais fontes dos óxidos de enxofre estão associadas com o ciclo do


enxofre já estudado na Unidade 1 e envolvem as espécies químicas H2S, (CH3)2S,
SO2, SO3. Temos muitas incertezas associadas às fontes, às reações e aos destinos
dessas espécies de enxofre da atmosfera. Numa perspectiva global, as atividades
antropogênicas são responsáveis pela emissão de grande parte dos compostos de
enxofre na atmosfera, somando cerca de 100 milhões de toneladas métricas de
enxofre anuais, por meio da combustão de carvão e de óleo combustível residual.
Contudo, a principal fonte de dióxido de enxofre antropogênico é o carvão, do qual
o enxofre precisa ser removido a custos consideráveis para manter as emissões do
gás em níveis aceitáveis (MANAHAN, 2013).

As reações químicas do dióxido de enxofre na atmosfera sofrem influência


por diversos fatores como a temperatura, umidade, intensidade da luz, transporte
atmosférico e características superficiais dos particulados. Algumas das maneiras
possíveis do dióxido de enxofre reagir com a atmosfera são por meio das reações

97
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

fotoquímicas, das reações fotoquímicas e químicas na presença de óxidos de


nitrogênio ou hidrocarbonetos, dos processos químicos nas gotículas de água e
das reações em partículas sólidas na atmosfera (MANAHAN, 2013).

Mesmo não sendo muito tóxicos para os seres humanos, níveis reduzidos
de dióxido de enxofre no ar têm algumas consequências para a saúde, como
visto no aparelho respiratório, ocasionando irritação e maior resistência nas vias
aéreas, sobretudo em pessoas portadoras de insuficiência respiratória e asmáticos
sensíveis. Assim, a exposição ao gás aumenta o esforço respiratório e a secreção
de muco também é estimulada pela exposição ao ar contaminado com dióxido de
enxofre (MANAHAN, 2013).

Vamos verificar no Tópico 2 desta unidade que a chuva ácida tem como
principal agente causador o dióxido de enxofre.

6.3 ÓXIDO DE NITROGÊNIO

Os óxidos de nitrogênio (NOx) podem estar na atmosfera sob as formas:


N2O, NO, NO2, NO3, N2O3, N2O4 e N2O5, porém, destes somente o N2O, NO e NO2,
são encontrados em quantidades significativas e apresentam papel relevante na
química atmosférica (MANAHAN, 2013; ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

O óxido de nitroso (N2O) é um gás incolor, emitido principalmente por fontes


naturais, por meio da ação bacteriana e por reação entre N2 e O2 na atmosfera. É um
potente gás de efeito estufa, contribuindo para reter calor na atmosfera terrestre. Já
o óxido nítrico (NO) é um gás incolor e inodoro, produzido na natureza por ação
de micro-organismos, sendo também um dos principais poluentes produzidos pela
ação humana, por meio dos processos de combustão. Na atmosfera é oxidado por
ozônio por reações fotoquímicas e por oxigênio, formando o dióxido de nitrogênio
(ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

O dióxido de nitrogênio (NO2) é um gás avermelhado, com odor irritante,


e um dos principais poluentes secundários presentes na atmosfera dos grandes
centros urbanos. Mesmo sendo emitido por fontes primárias em pequenas
quantidades, sua principal fonte é a rápida oxidação do NO na atmosfera (ROCHA;
ROSA; CARDOSO, 2009).

NOTA

Os poluentes primários são aqueles emitidos diretamente de sua respectiva fonte.


Já os poluentes secundários são os que se formam na atmosfera por meio de reações que
ocorrem em razão da presença de certas substâncias químicas e de determinadas condições
físicas (BRAGA et al., 2005).

98
TÓPICO 1 | A QUÍMICA DO AR

Os óxidos de nitrogênio, o óxido nítrico (NO) e o dióxido de nitrogênio


(NO2) são gases presentes próximos da área em que ocorrem processos de
combustão, independentemente do tipo de material queimado. Para entender sua
formação, é necessário lembrar que o ar atmosférico é uma mistura de diferentes
gases, sendo que os dois principais componentes são o nitrogênio, com cerca de 78
% do volume, e o oxigênio, com cerca de 21 %. A grande quantidade de nitrogênio
na atmosfera é uma evidência da grande estabilidade do gás N2 (ROCHA; ROSA;
CARDOSO, 2009).

6.4 AMÔNIA

A amônia é um gás incolor à temperatura ambiente, com odor forte


característico e é consideravelmente mais leve do que o ar. É considerado o único
gás básico existente em quantidade significativa na atmosfera. A amônia é emitida
para a atmosfera por diversas fontes, como a decomposição de matéria orgânica, as
emissões provenientes de fezes de animais, a utilização de fertilizantes e a queima
de biomassa (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Por meio de processos físicos de deposições seca e úmida ou por processos


químicos é que a amônia pode ser suprimida da atmosfera. As principais reações
que levam ao consumo da amônia são as reações de oxidação, com formação de
óxidos de nitrogênio e reação com espécies ácidas, formando partículas secundárias
(ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Antes da intensa produção de nitrogênio reativo por processos industriais,


havia na natureza um balanço representado por um equilíbrio químico dinâmico
entre os compostos de nitrogênio e o nitrogênio atmosférico molecular não reativo,
vistos no ciclo do nitrogênio (estudado na Unidade 1). O nitrogênio atmosférico
era naturalmente convertido em formas reativas usadas pelas plantas e animais,
e quantidade semelhante de nitrogênio não reativo retomava à atmosfera
via processos naturais. Atualmente, devido ao aumento excessivo no uso de
fertilizantes com a produção de energia, o balanço foi modificado, favorecendo a
formação de nitrogênio reativo (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Um fator interessante é que a amônia atmosférica tem um papel fundamental


para a química ambiental, pois neutraliza, em determinada extensão, a acidez
causada por gases e partículas. Grande parte dos ácidos atmosféricos gerados pela
oxidação do SO2 e do NOx são neutralizadas pela amônia, tendo como produtos
finais os sais de amônio na forma de material particulado. Portanto, as reações
de neutralização, juntamente com as deposições seca e úmida, são os meios de
remoção mais comuns dos compostos ácidos na atmosfera (ROCHA; ROSA;
CARDOSO, 2009).

99
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

6.5 O CICLO BIOGEOQUÍMICO DO OXIGÊNIO

Na atmosfera primitiva, o oxigênio gasoso (O2) não existia, mas estava na


forma de gases oxigenados, como SO2, NO, particulados oxigenados suspensos na
atmosfera, entre outros. Ele só começou a existir na atmosfera quando surgiram
os seres autotróficos, por meio da reação de fotossíntese, em que libera o O2 (R-1).
Assim, foi somente ao longo de milhares de anos que o O2 na atmosfera alcançou a
abundância de 21% em volume de ar seco (LENZI; FAVERO, 2011).

Para que a energia solar chegue até a litosfera, primeiramente encontra


a atmosfera, atravessando as camadas na seguinte ordem: exosfera, termosfera,
mesosfera, estratosfera, troposfera e finalmente a litosfera, conforme a figura a
seguir.

FIGURA 28 – ANÁLISE DO OXIGÊNIO NA ATMOSFERA

LEGENDA: (A) Visualização das camadas da atmosfera e altitudes; (B) reações químicas principais
de formação das espécies do elemento oxigênio; (C) balanço de massa das espécies formadas
pelo elemento O; (D) radiação eletromagnética absorvida nas reações fotoquímicas nas diferentes
camadas.

FONTE: Lenzi e Favero (2011, p. 89)

Nestas camadas, conforme visto na figura anterior, acontecem as diferentes


interações entre a radiação solar e os componentes da atmosfera. Com isso, o
oxigênio pode encontrar-se em diversas formas não ionizadas como: oxigênio

100
TÓPICO 1 | A QUÍMICA DO AR

elementar (O) e as formas alotrópicas (O2 (gás oxigênio) e O3 (ozônio)), que são mais estáveis
e as formas ionizadas: O+, O-, O2+, que são menos estáveis (LENZI; FAVERO, 2011).

NOTA

É importante lembrar que o ozônio atmosférico (O3) tem um importante papel no


ciclo do oxigênio, mesmo a uma concentração baixa na estratosfera e a mais de 10 km de altitude.
O ozônio filtra a radiação ultravioleta no espectro de comprimento de onda entre 220 e 330 nm,
protegendo a vida no planeta contra os efeitos nocivos dessa radiação (MANAHAN, 2013).

Devido à reatividade do oxigênio, ele praticamente faz parte de todos os


ciclos dos demais elementos. Portanto, vamos analisar o ciclo do oxigênio sob dois
aspectos: as reações que repõem o oxigênio na atmosfera e as reações que retiram
ou consomem o oxigênio da atmosfera, conforme verificado qualitativamente na
figura a seguir (LENZI; FAVERO, 2011).

FIGURA 29 – CICLO BIOGEOQUÍMICO DO OXIGÊNIO

FONTE: Lenzi e Favero (2011, p. 93)

101
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

6.5.1 Reações de reposição do oxigênio da atmosfera

A reação química (R-1) responsável pela reposição do oxigênio na


atmosfera é chamada de fotossíntese. Para que o processo aconteça, é necessária
a clorofila dos seres autotróficos, pigmento verde característico das plantas. Esta
reação é exclusiva dos organismos autotróficos. Nos casos em que há falta de CO2,
existem organismos autotróficos (fitoplânctons) que sintetizam a biomassa a partir
de bicarbonatos (alcalino) de corpos d'água, conforme a reação (R-2) (LENZI;
FAVERO, 2011).

Existem também as reações fotoquímicas que liberam o oxigênio na


própria atmosfera, conforme podemos observar nas reações (R-3) e (R-4) (LENZI;
FAVERO, 2011).

6.5.2 Reações de retirada do oxigênio da atmosfera

6.5.2.1 Respiração dos seres aeróbicos

A degradação metabólica (nível celular) da matéria orgânica para a


produção de energia pelos seres aeróbicos é chamada de respiração. Neste processo
o oxigênio atmosférico é consumido conforme podemos observar na reação (R-5)
(LENZI; FAVERO, 2011).

102
TÓPICO 1 | A QUÍMICA DO AR

6.5.2.2 Reações de combustão

As reações de combustão ou de queima da matéria orgânica (biomassa ou


material fóssil) também consomem o oxigênio atmosférico, conforme pode ser
observado nas reações (R-6) e (R-7).

Porém, a diferença desta reação para a reação de respiração está na


velocidade da reação. Na reação de respiração, a velocidade da reação é controlada
e libera a energia gradualmente. Já na reação de combustão a liberação de energia
é descontrolada, ou seja, libera toda a energia conforme o desenvolvimento
(cinética) da reação (LENZI; FAVERO, 2011).

6.5.2.3 Reações de oxidação de materiais

As reações de oxidação dos materiais podem ser espontâneas ou provocadas


pela ação antrópica. Na reação espontânea podemos exemplificar com a oxidação
da pirita no meio ambiente, ou seja, na presença de ar (O2) e umidade (H2O),
conforme a reação (R-8).

Já como exemplo de reação provocada pelo homem podemos citar a


oxidação do nitrogênio nos motores à combustão. O ar que entra no cilindro do
motor, a combustão contém 78% de N2, e este é oxidado a compostos de óxido de
nitrogênio, conforme a equação (R-9) (LENZI; FAVERO, 2011).

103
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

7 COMPOSTOS ORGÂNICOS DA ATMOSFERA

Os poluentes orgânicos exercem forte influência na qualidade da atmosfera


e seus efeitos são divididos em duas categorias principais. A primeira consiste
nos efeitos diretos, como o câncer causado pela exposição ao cloreto de vinila.
(MANAHAN, 2013). A segunda é a formação dos poluentes secundários,
sobretudo, o smog fotoquímico, que será discutido no Tópico 2 desta unidade

7.1 COMPOSTOS ORGÂNICOS BIOGÊNICOS

A liberação de compostos orgânicos por organismos revela um tipo de


interação importante entre a atmosfera e a biosfera. Depois do metano liberado,
sobretudo pelas bactérias, a maior fonte de compostos orgânicos biogênicos
na atmosfera é a vegetação. Diversas plantas liberam hidrocarbonetos, como
isopreno, monoterpenos e sesquiterpenos. Os compostos oxigenados são liberados
em quantidades menores, mas em grande variedade, e incluem os álcoois como
o metanol e o 2-metil-3-buteno-2-ol, e as cetonas, como a 6-metil-5-hepteno-2-
ona, além de derivados do hexeno. Porém são as bactérias anaeróbias durante
a decomposição de matéria orgânica na água e no solo que mais produzem
compostos orgânicos biogênicos (metano) na atmosfera, conforme apresentado na
reação (R-10) (MANAHAN, 2013).

7.2 COMPOSTOS ORGÂNICOS DE ORIGEM ANTRÓPICA

Devido às necessidades do ser humano, tais como: alimentação, locomoção,


moradia, bem-estar pessoal e comunitário, entre outras, houve forte impulso ao
desenvolvimento da química, sendo produzidos diversos tipos de compostos, entre
eles os orgânicos. Entre eles encontram-se os hidrocarbonetos, álcoois, aldeídos,
ácidos, ésteres, éteres, epóxidos e derivados halogenados. Por consequência destes
compostos orgânicos gasosos, voláteis e mesmo particulados que são carreados
à atmosfera, temos os problemas relacionados ao buraco de ozônio, efeito estufa,
smog fotoquímico, chuva ácida, poluição dos corpos d'água, poluição do solo e
poluição da atmosfera (LENZI; FAVERO, 2011).

As principais fontes dos compostos orgânicos são:


• Engenhos baseados em reações químicas espontâneas para produzir diferentes
formas de energia (fogões, fornos, fornalhas, termo elétricas etc.).

104
TÓPICO 1 | A QUÍMICA DO AR

• Máquinas para os mais variados tipos de trabalho e locomoção com as


respectivas fontes de energia (automóveis, caminhões, tratores, trens, navios,
aviões, espaçonaves etc.).
• Fábricas dos mais diferentes suprimentos de necessidades do homem (alimentos,
vestimentas, implementos agrícolas; praguicidas, celulose e seus derivados,
sistemas refrigerados, entre outros).
• Fábricas de materiais sintéticos com propriedades mais adequadas para as
novas tecnologias do homem, em todos os campos da ciência (LENZI; FAVERO,
2011).

Os contaminantes orgânicos são retirados da atmosfera de várias formas,


entre elas a chuva, a deposição seca, as reações fotoquímicas, a formação e
incorporação em material particulado e a absorção por plantas. As árvores nas
florestas possuem grande área superficial de contato com a atmosfera e são
importantes na filtragem de contaminantes orgânicos no ar. Essas árvores estão em
contato com a atmosfera por meio da estrutura vegetal chamada camada cuticular,
ou seja, a "pele" das folhas formada por biopolímeros. Esta camada é lipofílica,
logo, tem afinidade com substâncias orgânica como as encontradas na atmosfera.
A absorção aumenta com o caráter lipofílico dos compostos e com a área superficial
foliar. Esse fenômeno sinaliza a importância das florestas na purificação da
atmosfera e ilustra um importante tipo de interação entre a atmosfera e a biosfera
(MANAHAN, 2013).

LEITURA COMPLEMENTAR

INVENTÁRIO NACIONAL DE EMISSÕES ANTRÓPICAS POR FONTES


E REMOÇÕES POR SUMIDOUROS DE GASES DE EFEITO ESTUFA NÃO
CONTROLADOS PELO PROTOCOLO DE MONTREAL

O Brasil, como país Parte da Convenção sobre Mudança do Clima,


assumiu, com base em seu Artigo 4º, parágrafo 1º, o compromisso de “elaborar,
atualizar periodicamente, publicar e pôr à disposição da Conferência das Partes,
em conformidade com o Artigo 12º, inventários nacionais de emissões antrópicas
por fontes e remoções por sumidouros de todos os gases de efeito estufa não
controlados pelo Protocolo de Montreal, empregando metodologias comparáveis
a serem acordadas pelas Conferências das Partes.” Para que o Brasil cumprisse
as obrigações assumidas no âmbito da Convenção, foi estabelecido um quadro
institucional na forma de um Programa, sob a coordenação do Ministério da
Ciência e Tecnologia, com recursos financeiros aportados pelo PNUD/GEF.

Foram considerados, no presente inventário, o dióxido de carbono


(CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), os hidrofluorcarbonos (HFCs),
os perfluorcarbonos (PFCs) e o hexafluoreto de enxofre (SF6). Também foram
estimadas as emissões dos chamados gases de efeito estufa indireto, como os

105
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

óxidos de nitrogênio (NOx), o monóxido de carbono (CO) e outros compostos


orgânicos voláteis não metânicos (NMVOC). Os gases acima foram estimados
segundo as fontes de emissão, chamadas setores: energia, processos industriais,
uso de solventes e outros produtos, agropecuária, mudança do uso da terra e
florestas, e tratamento de resíduos [...].

O Brasil apresenta um perfil diferente dos países desenvolvidos, em que


as emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis se sobressaem. Nos
setores mais importantes para o Brasil, como a agricultura e a mudança do uso da
terra e florestas, não existem metodologias facilmente aplicáveis às características
nacionais, dado que os fatores de emissão sugeridos pelo IPCC refletem, em
grande parte, as condições dos países desenvolvidos e de clima temperado, não se
adequando, necessariamente, à realidade brasileira. Desta forma foi realizado um
grande esforço de obtenção de informação correspondente às condições nacionais
possibilitando a aplicação das metodologias mais detalhadas do IPCC e a obtenção
de estimativas mais acuradas e precisas [...].

A análise dos resultados é apresentada de duas formas: a primeira refere-se


ao ano de 2000, conforme a diretriz da Convenção sobre Mudança do Clima para a
Segunda Comunicação Nacional; a segunda forma refere-se ao ano de 2005, onde
se contemplam os dados mais atuais disponíveis para todos os setores.

Em 2000, as emissões de CO2 foram estimadas em 1.612 Tg (teragrama, que


é igual a 1012), destacando-se o Setor de Mudança do Uso da Terra e Florestas, com
78% das emissões, seguido pelo Setor de Energia, com 18% de participação no total
de emissões.

Nesse mesmo ano, as emissões de CH4 foram estimadas em 15,9 Tg, sendo
o Setor de Agropecuária responsável por 68% das emissões totais, seguido pelo
Setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas, com 19% e pelas emissões do Setor
de Tratamento de Resíduos, com 10%. Os dois subsetores mais importantes foram
a fermentação entérica da pecuária, com 61%, e conversão de florestas para outros
usos no bioma Amazônia, com 13%.

As emissões de N2O foram estimadas em 455 Gg, basicamente por causa


do Setor de Agropecuária, responsável por 86% das emissões totais. Dentro
desse setor, as emissões provenientes de solos agrícolas participaram com 83%,
incluindo, entre outras, as emissões de dejetos de animais em pastagem, que
sozinhas representam 40% do total.

Em 2005, as emissões de CO2 foram estimadas em 1.638 Tg, destacando-se o


Setor de Mudança do Uso da Terra e Florestas, com 77% das emissões, seguido pelo
Setor de Energia, com 19% de participação no total de emissões. Nesse mesmo ano,
as emissões de CH4 foram estimadas em 18,1 Tg, sendo o Setor de Agropecuária
responsável por 70% das emissões totais, seguido pelo Setor de Mudança de Uso da
Terra e Florestas, com 17%, e pelas emissões do Setor de Tratamento de Resíduos,

106
TÓPICO 1 | A QUÍMICA DO AR

com 10%. Os dois subsetores mais importantes foram a fermentação entérica da


pecuária, com 63%, e conversão de florestas para outros usos no bioma Amazônia,
com 12%.

As emissões de N2O foram estimadas em 546 Gg, basicamente por causa


do Setor de Agropecuária, responsável por 87% das emissões totais. Dentro desse
setor, as emissões provenientes de solos agrícolas participaram com 84%, incluindo,
entre outras, as emissões de animais em pastagem, que, sozinhas, representam
40% do total.

Para ler o artigo completo acesse a referência:

FONTE: BRASIL. MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Coordenação-Geral de Mudanças Globais


de Clima. Segunda Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima. Vol. 2. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2010.

107
RESUMO DO TÓPICO 1
Nesse tópico, você aprendeu que:

• A atmosfera é a camada de gases que envolve um planeta ou satélite e é formada


pelo nitrogênio (78%), o oxigênio (21%) e o argônio (0,9%), e por gases em
concentrações menores.

• A atmosfera é composta também por material sólido disperso, como poeira em


suspensão, pólen, micro-organismos, cinzas vulcânicas, entre outros, assim como,
uma porção líquida, composta de gotículas resultantes da condensação do vapor
d’água.

• A atmosfera é um manto protetor que nutre a vida na Terra e a protege do perigoso


ambiente do espaço sideral.

• As partículas sólidas ou líquidas presentes na atmosfera são denominadas de


material particulado e são formadas por uma grande variedade de materiais e
objetos espalhados, que podem ser tanto sólidos quanto gotículas líquidas.

• Os materiais particulados da atmosfera têm origem em processos naturais e


antrópicos, resultantes de fenômenos físicos ou químicos.

• As principais propriedades dos materiais particulados são a difusão, coagulação,


sorção, varredura, condensação, precipitação e vaso de reações químicas e
fenômenos químicos.

• Os compostos inorgânicos são resultantes da combinação, dos elementos químicos,


com exceção dos derivados do carbono (C) que originam os compostos orgânicos.

• Os compostos inorgânicos gasosos de origem geoquímica são produzidos por


fenômenos da natureza, como a ação de vulcões. Os de origem biogênica estão
associados aos processos vitais e os antropogênicos são gerados nos processos da
ação humana.

• Os principais gases inorgânicos na atmosfera são CO, CO2, SO2, NO e NO2. Outros
gases poluentes inorgânicos em menor percentual incluem NH3, N2O, N2O5, H2S,
Cl2, HCl e HF.

• Na atmosfera primitiva o oxigênio gasoso (O2) não existia, mas estava na forma de
gases oxigenados, e só começou a existir na atmosfera quando surgiram os seres
autotróficos, por meio da reação de fotossíntese, onde libera o O2.

Os compostos orgânicos gerados a partir de organismos são principalmente


o metano, hidrocarbonetos, metanol, cetonas e derivados do hexeno. Já os de origem
antropogênica são os hidrocarbonetos, álcoois, aldeídos, ácidos, ésteres, éteres,
epóxidos e derivados halogenados.
108
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos


exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno
de Estudos. Bom trabalho!

1 A característica da atmosfera terrestre por ter um grande per-


centual de oxigênio livre difere muito da composição da at-
mosfera dos planetas vizinhos. O oxigênio indica condições
oxidantes e foi acumulado como produto residual do processo
de fotossíntese primeiramente por micro-organismos fotossintetizantes, há
pelo menos 2.700 milhões de anos. Portanto, atualmente, qual é a composi-
ção da atmosfera terrestre?

2 A atmosfera é composta por material particulado, por compos-


tos inorgânicos e por compostos orgânicos. Muitos destes com-
ponentes podem trazer sérios problemas para o meio ambiente
de forma geral, mas principalmente para o ser humano. Alguns
destes problemas são a chuva ácida, smog fotoquímico, depleção da camada
de ozônio, entre outros. Sobre este tema analise as afirmações a seguir:

I. Os compostos inorgânicos gasosos podem ser de origem geoquímica,


biogênica e antropogênica.
II. O monóxido de carbono é um constituinte natural da atmosfera atuando
como poluente quando está presente em níveis acima das concentrações
normais.
III. A amônia atmosférica tem um papel fundamental para a química ambiental,
pois tem a capacidade de acidificar os gases e partículas.
IV. As bactérias anaeróbias durante a decomposição de matéria orgânica
são responsáveis pela maior parte dos compostos orgânicos (metano) na
atmosfera.
V. As árvores nas florestas possuem grande área superficial de contato com a
atmosfera e são importantes na filtragem de contaminantes orgânicos no ar.

É correto o que se afirma em:

a) ( ) As assertivas II e III.
b) ( ) As assertivas I, II, IV e V.
c) ( ) As assertivas I, II e III.
d) ( ) As assertivas I e V apenas.
e) ( ) A assertiva I apenas.

109
110
UNIDADE 2 TÓPICO 2

A QUÍMICA DA POLUIÇÃO
ATMOSFÉRICA

1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)! No Tópico 2 desenvolveremos o tema A Química da
Poluição Atmosférica. Definiremos a chuva ácida, processos de formação, fontes
de compostos de enxofre e as consequências da chuva ácida. Em um segundo
momento, focalizaremos o smog fotoquímico, emitindo conceitos e apresentando
emissões formadoras do smog fotoquímico e as reações na sua formação e efeitos.
Ainda serão apresentados os compostos orgânicos tóxicos como as pesticidas,
inseticidas e herbicidas. Recomendamos uma leitura atenciosa e muito estudo!

2 A CHUVA ÁCIDA

Em 1872, na Inglaterra, Robert Angus Smith observou a rápida oxidação


e desgaste das peças de metal expostas ao tempo na cidade de Londres e iniciou
experiências e investigações sobre o fato. Ele concluiu que o fenômeno era causado
pela presença do ácido sulfúrico no ar, que derivava de reações entre o ar e os
compostos de enxofre que se desprendiam das chaminés domésticas e industriais,
quando era queimado o carvão mineral nas fornalhas e sistemas de aquecimento.
Smith demonstrou que a mesma acidez atmosférica provocava a ocorrência da
chuva ácida e tinha como consequência a alteração das pinturas dos prédios,
desgaste das pedras e má qualidade da água que era consumida pelos habitantes.
Smith lançou o livro “Ar e chuva: fundamentos de uma climatologia química”,
porém ninguém deu importância, ficando esquecido por um século (BRANCO;
MURGEL, 2004).

Ao longo deste último século, o desenvolvimento industrial foi intenso,


provocando um aumento na quantidade de resíduos lançados na atmosfera. Este
processo levou a danos irreparáveis ao meio ambiente e que foram ignorados
em função da modernidade (comodidade, consumismo etc.). A acidificação do
solo e vias fluviais é possivelmente uma das maiores ameaças ao meio ambiente,
cuja consequência mais devastadora desta acidificação é seu impacto em nossos
ecossistemas complexos (MACÊDO, 2002).

A chuva ácida pode diminuir a colheita de hortifrutigranjeiros, degradar


monumentos históricos, aumentar a incidência de infecções respiratórias em toda

111
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

população, contaminar os mananciais que abastecem as cidades inviabilizando


sua utilização como água potável, afeta o gado exposto, podendo contaminar a
sua carne tornando-a inviável para o consumo. As chuvas ácidas aceleraram a
deterioração natural dos monumentos de pedra e edifícios históricos e os outros
materiais como ferro, aço, zinco e as pinturas, também podem ser danificados. Um
dos fatores mais importantes são os danos causados à saúde humana, embora as
pessoas não estejam diretamente em perigo devido à exposição à chuva ácida, mas
podem ser afetadas pelas partículas do ar que conduzem a chuva ácida (MACÊDO,
2002).

2.1 DEFINIÇÃO DE CHUVA ÁCIDA

O termo chuva ácida significa a precipitação de componentes ácidos


encontrados em chuvas, neves, neblinas ou partículas secas, porém, a designação
correta é precipitação ácida (MACÊDO, 2002). Esta denominação refere-se à
precipitação que seja significativamente mais ácida do que a precipitação natural,
ou seja, chuva não poluída, que por sua vez é ligeiramente ácida devido à presença
do dióxido de carbono (CO2) da atmosfera dissolvido na forma de ácido carbônico
(H2CO3) conforme a reação (R-11) (BAIRD; CANN, 2011).

O ácido fraco H2CO3 ioniza-se parcialmente liberando um íon hidrogênio


(H+), consequentemente reduzindo o pH do sistema, conforme observado na
reação (R-12).

Por este motivo, ou seja, por esta fonte de acidez, o pH da chuva natural
é cerca de 5,6. Portanto, apenas a chuva que possui um pH igual ou inferior a 5 é
considerada chuva ácida, tendo em vista a presença de quantidades traço de ácidos
fortes naturais, levando a acidez da chuva em ar puro a um nível um pouco mais
alto do que aqueles existentes pela presença apenas de dióxido de carbono. Assim,
os dois ácidos que predominam na chuva ácida são o ácido sulfúrico (H2SO4), e o
ácido nítrico (HNO3) (BAIRD; CANN, 2011).

112
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

2.2 PROCESSO DE FORMAÇÃO DA CHUVA ÁCIDA

O aquecimento desigual da terra resulta em ventos na atmosfera,


fornecendo energia para que gases, líquidos e cinzas se espalhem por grandes
distâncias antes de se precipitarem ao solo. Já sabemos também que a queima
de combustíveis fósseis como o carvão e os gases liberados pelos automóveis
liberam grandes quantidades de dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio
(NOx) no ar, compostos estes responsáveis pela acidificação da água da chuva. Os
óxidos de enxofre e de nitrogênio podem ser transportados por grandes distâncias
(MACÊDO, 2002).

No transporte pelos ventos, algumas destas partículas alcançam as nuvens.


Quando o dióxido de enxofre, os óxidos de nitrogênio e o material particulado
entram em contato com as gotas de água nas nuvens, inicia-se uma série de reações
químicas que resultam em chuva ácida (MACÊDO, 2002).

No processo de transporte os compostos de enxofre e nitrogênio são


transformados na atmosfera em partículas acidificadas secundárias, denominadas
aerossóis e podem ser transportados por centenas de quilômetros. No ar limpo, o SO2
oxida formando o trióxido de enxofre (SO3), posteriormente reagindo rapidamente
com a umidade formando o ácido sulfúrico (H2SO4), cuja formação pode ser resumida
nas reações (R-13), (R-14) e (R-15) (MACÊDO, 2002).

A conversão do SO2 em ácido sulfúrico ocorre a uma taxa reduzida, de


algumas horas a uns poucos dias. Assim, a poluição atmosférica local pode se
tornar um problema regional ou nacional, porque essas substâncias podem
ser transportadas na atmosfera por centenas de quilômetros (HINRICHS;
KLEINBACH; REIS, 2010).

Já o nitrato atmosférico é o resultado de reações semelhantes que oxidam o


óxido de nitrogênio (NO) e dióxido de nitrogênio (NO2) para ácido nítrico (HNO3)
e outros compostos nitrogenados inorgânicos e orgânicos. O mecanismo geral
para a conversão de NOx em ácido nítrico é apresentado nas reações (R-16), (R-17)
e (R-18) (MACÊDO, 2002).

113
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

Porém, sabemos que as fontes naturais de compostos de enxofre emitem


o SO2 que segue o mecanismo das reações (R-13), (R-14) e (R-15), mas também
outros compostos como o ácido sulfídrico (H2S). Uma vez que o H2S está presente
na atmosfera, ele é rapidamente convertido em SO2, deixando-o disponível para
oxidar formando o ácido sulfúrico e intensificar a acidez da água da chuva. As
reações (R-19), (R-20), (R-21) e (R-22) exemplificam o processo (MANAHAN, 2013).

2.3 FONTES DOS COMPOSTOS DE ENXOFRE

As principais fontes dos compostos de enxofre provêm de fontes de


combustão que utilizam combustível fóssil, como o carvão e óleo, e de processos
industriais, como a produção primária de metais (MACÊDO, 2002).

As fontes de combustão são categorizadas em fontes estacionárias, ou seja,


são fontes fixas como, por exemplo, uma caldeira, e as fontes móveis, são fontes
que se deslocam, como por exemplo, os caminhões, carros e ônibus. As fontes
móveis contribuem com uma porção significativa nas emissões de compostos de
enxofre.

As fontes naturais de emissões de enxofre também contribuem para a


chuva ácida, como por exemplo, os óxidos de nitrogênio e enxofre provenientes
das erupções vulcânicas (MACÊDO, 2002).

114
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

2.4 CONSEQUÊNCIAS DA CHUVA ÁCIDA

2.4.1 Consequências na pesca

O desaparecimento de peixes de locais onde antes era abundante pode


estar relacionado a dois efeitos da chuva ácida:

• Devido à rápida troca de pH do local o que leva a alta mortalidade dos peixes,
porque as gotas contendo os contaminantes ácidos são extremamente tóxicos.
• A permanência dessa acidez por um longo período leva os peixes à esterilidade,
além de eliminar somente peixes em idade baixa e tamanho pequeno, tornando
a ictiofauna de um determinado lago ou rio sem renovação (MACÊDO, 2002).

2.4.2 Consequências na cadeia alimentar

Os organismos de todos os níveis tróficos dentro da cadeia alimentar


podem ser afetados por meio da precipitação ácida, reduzindo as espécies em
número e variedades, prejudicando a produção primária e a decomposição de
matéria orgânica, ocasionando colapso de todo o ecossistema (MACÊDO, 2002).

As reduções das diversas comunidades de plantas em corpos d’água e


no rompimento subsequente da produção primária geralmente podem reduzir a
disponibilidade de comida. Assim, o fluxo de energia dentro do ecossistema afetado
também é reduzido, o que também reduz a oferta de nutrientes. Estes fatores
limitam o número de organismos que podem coexistir dentro do ecossistema,
gerando um grande impacto ambiental (MACÊDO, 2002).

2.4.3 Consequências nos micro-organismos

A acidificação dos corpos d’água, devido à precipitação ácida, diminui


a atividade microbiológica afetando as taxas de decomposição e acumulação de
materiais orgânicos nos ecossistemas aquáticos. As transformações bioquímicas
dos detritos por meio do metabolismo microbiano são fundamentais para o ciclo
de nutrientes e para o fluxo de energia dentro do ecossistema. Assim, as relações
tróficas nos ecossistemas de corpos d’água são intimamente dependentes na sua
estrutura dos materiais orgânicos (MACÊDO, 2002).

115
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

2.4.4 Efeito nas vegetações terrestres

Os compostos químicos na atmosfera alcançam as plantas das superfícies


por precipitação na forma líquida e seca. Sabendo que as folhas das plantas podem
assimilar os sulfatos, nitratos, e outras espécies solúveis em água, percebe-se que
é a concentração de íons de hidrogênio livres na precipitação ácida que causam os
efeitos diretos e prejudiciais na vegetação em geral (MACÊDO, 2002).

2.4.5 Efeito em saúde humana

Com baixos níveis de pH aumenta-se a mobilidade dos componentes


metálicos na hidrosfera, litosfera e atmosfera. Isto ocasiona um impacto
potencial indireto na saúde humana por causa da contaminação dos alimentos,
principalmente os peixes, e da água potável devido a uma maior concentração de
componentes metálicos. Com isso, a precipitação ácida influência a saúde humana
da seguinte forma:

• Alguns metais tóxicos, como mercúrio e alumínio podem ser lançados no meio
ambiente pela acidificação da litosfera, atingindo a água potável, as plantações,
os peixes e podem ser ingeridos pelo homem. Posteriormente, estes metais são
bioacumulados e desenvolvem doenças.
• Há aumento de problemas relacionados ao sistema respiratório.
• Aumento nas frequências de resfriados, alergias e tosses, principalmente em
crianças.
• Perda de sustento econômico de algumas pessoas devido à improdutividade
agrícola e da piscicultura, ocasionando problemas de saúde indiretos devido à
depressão e estresse (MACÊDO, 2002).

3 SMOG FOTOQUÍMICO

3.1 O QUE É O SMOG FOTOQUÍMICO

A partir do momento em que o smog fotoquímico foi reconhecido como


problema de poluição atmosférica nos anos 40 (HINRICHS; KLEINBACH; REIS,
2010), este fenômeno é objeto de muitos estudos, estando entre os principais esforços
responsáveis pela evolução da ciência da química atmosférica (MANAHAN, 2013).

O smog fotoquímico é característico de cidades ensolaradas, quentes e de


clima seco. Os picos de poluição ocorrem em dias quentes, com muito sol. A palavra
smog é a combinação de smoke (fumaça) e fog (névoa), e seu processo de formação
envolve centenas de diferentes reações, envolvendo inúmeras substâncias químicas
simultaneamente (BAIRD; CANN, 2011). Os gases óxidos de nitrogênio, monóxido

116
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

de carbono e hidrocarbonetos (os veículos são as principais fontes) sofrem várias


reações na atmosfera por efeito da radiação solar (reações fotoquímicas), gerando
novos poluentes. Esse smog é uma mistura de poluentes, destacando-se os óxidos
de nitrogênio, os radicais orgânicos PAN (Peroxi Acetil Nitrato - CH3.COO.ONO2),
o ozônio e alguns aldeídos (BRAGA et al., 2005). Uma das principais características
da formação do smog fotoquímico é a presença de níveis elevados de ozônio (O3)
em baixas altitudes, como resultado das reações entre os poluentes e a radiação
solar (BAIRD; CANN, 2011). Outra característica do smog fotoquímico é formação
da cor marrom avermelhada, e o pico de concentração ocorre por volta das 10
ou 12 horas quando a temperatura da superfície é mais alta, conforme a figura a
seguir (BRAGA et al., 2005).

FIGURA 30 – VARIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE POLUENTES CONSTITUINTES


DO SMOG FOTOQUÍMICO DURANTE UM PERÍODO DE 24 HORAS

FONTE: Braga et al. (2005, p. 181)

NOTA

Caro acadêmico! Você deve se lembrar de que a maioria das reações que
conhecemos inicia-se quando as moléculas dos reagentes se chocam, ocorrendo os rearranjos
e aí se dá a formação de um novo produto. O movimento mais intenso que favorece o choque
das moléculas é resultado de energia térmica. Já na reação fotoquímica, o início da reação é
dado pela molécula que absorve um fóton de luz. Assim, absorvem a energia de somente um
fóton, ficando no estado excitado, e posteriormente liberando a energia para realizar as reações
fotoquímicas (BAIRD; CANN, 2011).

117
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

Como já dito, os reagentes originais em um episódio de smog fotoquímico


são o óxido nítrico (NO) (emitido também por usinas termelétricas), e os
hidrocarbonetos não queimados que são emitidos para o ar como poluentes dos
motores de combustão interna. As concentrações dessas substâncias químicas são
algumas vezes maiores do que as encontradas no ar limpo. Os hidrocarbonetos
gasosos e hidrocarbonetos parcialmente oxidados também estão presentes no ar
urbano como resultado da evaporação de solventes, combustíveis líquidos e outros
compostos orgânicos. O conjunto das substâncias que evapora rapidamente para o
ar, como os hidrocarbonetos e seus derivados, é chamado de compostos orgânicos
voláteis (COV). Os COVs são formalmente definidos como compostos orgânicos
que possuem os pontos de ebulição entre 50ºC e 260°C. Estes compostos podem
ser liberados para o ar quando um tanque de gasolina é enchido, ou quando a
gasolina não queimada, evaporada pelo escapamento dos veículos antes que os
conversores catalíticos estejam suficientemente aquecidos para funcionar (BAIRD;
CANN, 2011).

Outro ingrediente indispensável para o smog fotoquímico é a luz solar, que


aumenta a concentração de radicais livres que participam no processo químico
de formação do smog. Embora os reagentes (NO e COV) sejam relativamente
inócuos, os produtos finais da reação do smog como o ozônio, ácido nítrico, e os
compostos orgânicos parcialmente oxidados são muito mais tóxicos. A maioria
das transformações que ocorrem na atmosfera tem início pela reação com o radical
livre hidroxila (OH), exceto por aquelas substâncias que sofrem fotólise. Os COVs
mais reativos no ar urbano são os hidrocarbonetos que contêm uma ligação dupla
carbono-carbono (C=C), e os aldeídos, uma vez que suas reações com o radical
hidroxila são muito rápidas (BAIRD; CANN, 2011).

3.2 EMISSÕES FORMADORAS DO SMOG FOTOQUÍMICO

O smog fotoquímico ocorre principalmente devido às emissões industriais


(cidades com alta industrialização), porém a principal fonte das emissões são
os veículos, devido ao tráfego intenso (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009). Os
motores à combustão interna utilizados em automóveis e caminhões emitem
hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio reativos, dois dos três ingredientes
principais para a formação do smog (MANAHAN, 2013).

Em condições de temperatura e pressão elevadas em um motor à combustão


interna, os produtos resultantes da queima incompleta da gasolina sofrem reações
químicas que geram grande quantidade de hidrocarbonetos diferentes, sendo que
muitos deles contribuem para a formação do smog fotoquímico. Um automóvel tem
muitas fontes de emissão de hidrocarbonetos, conforme podemos ver na figura a
seguir. A primeira é a produção dos gases do escape. A segunda é a névoa de
hidrocarbonetos composta por óleo lubrificante e a nuvem de gases evaporativos
do cárter. É composta por gases de escape e uma mistura de combustível não
oxidado e ar introduzido no cárter a partir câmaras de combustão no pistão
(MANAHAN, 2013).
118
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

FIGURA 31 – PRINCIPAIS FONTES DE HIDROCARBONETOS PRODUZIDOS POR UM AUTOMÓVEL

FONTE: Manahan (2013, p. 402)

A terceira fonte de emissões de hidrocarbonetos é o sistema de combustível.


Os hidrocarbonetos são emitidos, partindo do tanque e suspiros até os carburadores.
Quando o motor é desligado e o calor residual aquece o sistema de combustível, a
gasolina pode evaporar e ser liberada na atmosfera. O aquecimento durante o dia
e o esfriamento ocorrido à noite, também fazem com que o tanque de combustível
transpire, emitindo vapores de gasolina. Os motores de automóveis modernos
com sistemas de injeção eletrônica emitem volumes menores hidrocarbonetos
vaporizados em comparação com os modelos antigos equipados com carburadores
(MANAHAN, 2013).

3.3 CONDIÇÕES PARA FORMAÇÃO DO SMOG


FOTOQUÍMICO

O smog fotoquímico tem a característica de formar produtos altamente


oxidantes, porém necessita de condições mínimas para iniciar o processo, como
a inversão térmica, hidrocarbonetos (HC), óxidos de nitrogênio (NOx); radiação
eletromagnética (λ < 420 nm), de preferência ultravioleta (luz solar) conforme
verificado na figura a seguir (LENZI; FAVERO, 2011).

119
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

FIGURA 32 – ESQUEMA GERAL DE FORMAÇÃO DO SMOG FOTOQUÍMICO

FONTE: Manahan (2013, p. 412)

A inversão térmica é um fenômeno natural que pode acontecer na atmosfera


(principalmente na troposfera), no qual cessam as correntes de ar, ficando
estacionado numa determinada região. Normalmente a radiação solar chegar à
superfície da Terra, aquece e como consequência, aquece a camada mais próxima
de ar. O ar aquecido aumenta sua energia cinética, expande-se na atmosfera,
dilata-se e ocupa maior volume, diminuindo sua massa específica, ficando mais
leve, e com isto, sobe. O ar mais afastado da superfície permanece frio, mais denso
e, por isso, desce. Com esta situação as correntes de ar começam a se estabelecer,
conforme visto na figura a seguir, e qualquer poluente descartado na atmosfera é
dispersado e levado para longe do local de formação (LENZI; FAVERO, 2011).

120
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

FIGURA 33 – ESQUEMA DA INVERSÃO TÉRMICA

LEGENDA: (1) Representação do comportamento normal da atmosfera. (2) Formação da inversão


térmica com as condições de formação do smog fotoquímico.

FONTE: Lenzi e Favero (2011, p. 213)

Sob determinadas condições meteorológicas, muitas vezes facilitadas pela


conformação da superfície da litosfera, forma-se uma camada (nuvem, nevoeiro)
a uma dada altura da atmosfera, interceptando a radiação eletromagnética, isto
é, não deixando passar diretamente a radiação. Em consequência, a superfície da
Terra (figura anterior - 2) na região logo abaixo dessa camada, permanece fria.
Assim, o ar na região não é aquecido e não se formam correntes de ar, porém,
acima dessa camada, elas são formadas. Esse fenômeno é a inversão térmica, que
naturalmente não é nociva, mas o que pode torná-la perigosa é a existência de
fontes poluidoras da atmosfera, cujos materiais descartados (gases e particulados)
vão se acumulando no ambiente, alcançando níveis tóxicos ou ainda criarem as
condições de formação do smog fotoquímico (LENZI; FAVERO, 2011).

3.4 REAÇÕES NA FORMAÇÃO DO SMOG FOTOQUÍMICO

Na química ambiental, as reações fotoquímicas são muito importantes,


sendo que os três principais conjuntos de reações fotoquímicas estão relacionados
com a chuva ácida, o smog fotoquímico e com a camada de ozônio. Portanto, é
fundamental o estudo das reações fotoquímicas que ocorrem com estes fenômenos
atmosféricos (BAIRD; CANN, 2011). Assim, para facilitar didaticamente o estudo
das reações relacionadas ao smog fotoquímico, serão divididas em três etapas.

Em síntese, a primeira etapa se caracteriza pela formação de radicais


e espécies inicializadoras do processo. Na segunda, com a entrada dos
hidrocarbonetos, há prosseguimento na formação de radicais em reação em
cadeia. A terceira é um conjunto de reações de finalização de reações em cadeia
e de radicais. É importante lembrar que após se iniciar o smog acontecem as três
etapas conjuntamente (LENZI; FAVERO, 2011).

121
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

3.4.1 Primeira etapa

A formação do oxigênio atômico (O) é realizada por formas diferentes


dependendo da camada atmosférica e do comprimento de onda da radiação
incidente. Na estratosfera pode ser formado pela dissociação fotoquímica do O2
(O-O) com energias do ultravioleta, conforme a reação (R-23) (LENZI; FAVERO,
2011).

Na troposfera também pode ser formado pela fotólise do ozônio, conforme


a reação (R-24). Os fótons da radiação solar com comprimentos de onda entre 315
a 1200 nm podem dissociar o ozônio e produzir oxigênio no seu estado eletrônico
fundamental (O (3P)) (LENZI; FAVERO, 2011).

Posteriormente o oxigênio (O) pode reagir com o O2 e recompor o ozônio


com o auxílio de um terceiro corpo M (N2 ou O2) conforme a reação (R-25) (LENZI;
FAVERO, 2011).

NOTA

O terceiro corpo, representado com a letra M, representa uma espécie química


diferente dos reagentes e produtos envolvidos na reação, que no caso das reações do smog
fotoquímico podem ser podem ser N2 ou O2.

122
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

Quando o ozônio absorve um fóton do ultravioleta, próximo ao visível com


comprimento de onda menor do que 315 nm é formado um átomo de oxigênio
excitado, O (1D), conforme a reação (R-26) (LENZI; FAVERO, 2011).

Na troposfera este oxigênio ativado mediante uma colisão com um terceiro


corpo M vai para o estado fundamental conforme a reação (R-27) (LENZI; FAVERO,
2011).

Também pode colidir com uma molécula de água e produzir dois radicais
hidroxilo HO· conforme a reação (R-28) (LENZI; FAVERO, 2011).

Os radicais formados são fundamentais na continuidade do processo do


smog fotoquímico. Na troposfera a reação de formação do oxigênio atômico é a
fotólise do NO2 com radiação do visível (250 < λ < 430 nm). Também pode ser
formado a partir do NO3, com radiação do visível (400 < λ < 625 nm), respectivamente
conforme as reações (R-29) e (R-30). O oxigênio atômico reage também com as
espécies presentes no smog, formando novas espécies que irão participar do smog
fotoquímico (LENZI; FAVERO, 2011).

3.4.2 Segunda etapa

A segunda etapa é caracterizada com a entrada dos hidrocarbonetos (HCs)


e outros compostos orgânicos voláteis (COV), conforme as reações (R-31), (R-32),
(R-33), (R-34) e (R-35).
123
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

A formação do radical alquilperoxilo RH2COO·) é característico desta


etapa, atuando como agente oxidante que oxida o O2 a ozônio e o NO a NO2, que
realimentam a primeira etapa e, ao mesmo tempo, fica disponível para a terceira
etapa da formação do smog fotoquímico. A presença de O3 e NO2 em concentrações
significativas são características de um smog, mas, quando só eles, apenas
caracterizam um ambiente atmosférico poluído (LENZI; FAVERO, 2011).

3.4.3 Terceira etapa

Caracteriza-se pelas reações químicas de propagação, finalização de cadeias


e eliminação de radicais, produzindo o PAN e o aldeído que são característicos da
formação do smog fotoquímico, conforme podemos observar nas reações (R-36),
(R-37) e (R-38) (LENZI; FAVERO, 2011).

Assim, as principais reações de eliminação de radicais do smog fotoquímico


são as reações (R-39), (R-40) e (R-41).

124
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

A figura a seguir apresenta em forma de esquema as condições de formação


do smog fotoquímico e as principais reações de cada etapa com as que acontecem
em paralelo (LENZI; FAVERO, 2011).

FIGURA 34 – ESQUEMA DAS CONDIÇÕES DE FORMAÇÃO DO SMOG FOTOQUÍMICO E


PRINCIPAIS REAÇÕES POR ETAPA

FONTE: Lenzi e Favero (2011, p. 216)

3.5 EFEITOS DO SMOG FOTOQUÍMICO

Classificam-se os efeitos do smog fotoquímico em físicos, biológicos e


químicos.

3.5.1 Efeitos físicos

As partículas resultantes do smog apresentam as propriedades físicas


dos materiais particulados da atmosfera e formam os aerossóis que limitam a
visibilidade, dependendo da umidade relativa (abaixo de 60%) e se for abaixo de
3,6 km (LENZI; FAVERO, 2011).

125
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

3.5.2 Efeitos biológicos

Os efeitos do smog fotoquímico atingem a biota animal e vegetal, e no


ser humano apresentam problemas de saúde e de desconforto. Dependendo da
intensidade do smog e do tempo de exposição, este apresenta um odor pungente.
Os PAN e aldeídos causam irritação aos olhos, e o ozônio, na concentração de 0,15
ppm causa tosse, dificuldade na respiração, chiado ao respirar, irritação das vias
respiratórias e constrição dos brônquios (HINRICHS; KLEINBACH; REIS, 2010,
MANAHAN, 2013, LENZI; FAVERO, 2011).

Os particulados sólidos e líquidos que se depositam nas folhas das plantas


provocam a formação de manchas esbranquiçadas e bronzeadas, denominadas
de clorose, devido à ação dos agentes oxidantes como o PAN, óxidos nítricos,
peróxidos, ácido nítrico, entre outros. Os efeitos danosos dependem da concentração
destes materiais oxidantes e do tempo de exposição (MANAHAN, 2013; LENZI;
FAVERO, 2011).

3.5.3 Efeitos químicos

Os efeitos químicos estão relacionados ao caráter oxidante dos produtos do


smog fotoquímico, corroendo e decompondo os materiais com os quais entram em
contato. A água é suporte para a maioria destas reações, seja na forma de umidade
coalescendo no particulado sólido ou dissolvendo-se na forma de solução (LENZI;
FAVERO, 2011).

4 COMPOSTOS ORGÂNICOS TÓXICOS

Primeiramente precisamos saber que a maioria dos compostos sintéticos


comerciais são compostos orgânicos, em que a maioria utiliza o petróleo e o gás
natural como fonte original de carbono. Assim, os compostos químicos sintéticos
são usados para descrever substâncias que geralmente não estão presentes na
natureza, mas que foram sintetizadas por químicos a partir de substâncias mais
simples (BAIRD; CANN, 2011).

4.1 PESTICIDAS

Os pesticidas são substâncias que matam ou controlam um organismo


indesejável. Todos os pesticidas químicos compartilham uma propriedade comum
de interferir no metabolismo vital dos organismos aos quais eles são tóxicos
(BAIRD; CANN, 2011).

126
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

Foi a partir do uso DDT durante a Segunda Guerra Mundial que o uso
dos pesticidas tomou grande amplitude. São utilizados com diversas finalidades,
como no controle de invertebrados incluindo os inseticidas, moluscicidas (atuantes
contra caracóis e lesmas) e nematicidas (usados no controle de vermes cilíndricos
microscópicos). Os vertebrados são controlados por raticidas (matam roedores),
avicidas (matam pássaros) e piscicidas (matam peixes). Os herbicidas são
utilizados para matar plantas, sobretudo ervas daninhas em terras cultivadas. Os
reguladores de crescimento, desfolhantes e dessecantes de plantas são utilizados
para diversas finalidades no cultivo de plantas. Os fungicidas atuam contra
fungos, os bactericidas contra bactérias, os microbicidas impedem a ocorrência de
organismos produtores de substâncias pegajosas na água e os algicidas combatem
a proliferação de algas (MANAHAN, 2013).

Os inseticidas e fungicidas são os pesticidas que mais estão em contato com


os seres humanos pelos alimentos, devido à aplicação imediata antes ou mesmo após
a colheita. A produção de herbicidas cresceu, acompanhando o crescente consumo
de produtos químicos no controle de ervas daninhas em substituição às atividades
diretas do cultivo da terra para essa finalidade, e hoje responde pela maioria dos
pesticidas utilizados na agricultura (MANAHAN, 2013).

É fato que a atual capacidade dos países desenvolvidos para plantar


e amadurecer enormes quantidades de alimentos em uma área relativamente
pequena de terra, com uma quantidade relativamente baixa de trabalho humano,
tem sido possível somente pelo uso dos pesticidas em larga escala (BAIRD; CANN,
2011). Com isso acentua-se o potencial para que grandes quantidades de pesticidas
sejam introduzidas na água pela via direta, em aplicações como o controle de
mosquitos, ou pela via indireta, pelos deflúvios de terras cultivadas (MANAHAN,
2013).

Tanto os pesticidas, como outros compostos químicos geram preocupações


específicas devido aos efeitos que podem apresentar, entre as quais podemos citar
os compostos com alta resistência à biodegradação, os carcinógenos prováveis
ou conhecidos, os compostos tóxicos com efeitos negativos na reprodução ou
no desenvolvimento, as neurotoxinas, como os inibidores da colinesterase, as
substâncias com alta toxicidade aguda e os contaminantes conhecidos de águas
subterrâneas (MANAHAN, 2013).

Desde a sua introdução, os pesticidas sintéticos têm gerado problema por


causa do potencial impacto sobre a saúde humana devido à contaminação dos
alimentos por esses compostos químicos orgânicos. Por essa razão, muitos desses
compostos têm sido proibidos ou têm tido seu uso restringido (BAIRD; CANN,
2011).

127
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

4.1.1 Inseticidas organoclorados


Os inseticidas à base de hidrocarbonetos clorados ou organoclorados são
hidrocarbonetos em que diferentes átomos de hidrogênio foram substituídos por
átomos de cloro (CI). Entre os inseticidas organoclorados, o mais famoso e um
dos mais tóxicos foi o DDT (para-diclorodifeniltricloroetano), utilizado em grande
quantidade após a Segunda Guerra Mundial (MANAHAN, 2013).

Os organoclorados foram utilizados em larga escala, pois apresentam


várias propriedades consideradas importantes quanto à toxidade, solubilidade,
eficácia, entre outros, como:

• Estabilidade frente à decomposição ou degradação no ambiente.


• Solubilidade baixa em água, exceto na presença de oxigênio ou nitrogênio nas
moléculas.
• Alta solubilidade em ambientes lipofílicos, como nos tecidos adiposos em
matéria viva.
• Toxicidade alta para insetos e baixa para humanos (BAIRD; CANN, 2011).

Podemos citar o hexaclorobenzeno (C6Cl6) como exemplo de um pesticida


organoclorado estável, fácil de preparar a partir do cloro e benzeno, e foi usado
como fungicida na agricultura (culturas de cereais) por várias décadas depois
da Segunda Guerra Mundial. Este pesticida permanece um longo tempo como
contaminante no ambiente, uma vez que é extremamente persistente e ainda é
emitido como um subproduto na indústria química e em processos de combustão.
É um composto químico preocupante porque causa câncer de fígado em roedores
de laboratório e muito possivelmente em humanos (BAIRD; CANN, 2011).

4.1.2 Herbicidas
Os herbicidas são os compostos químicos que destroem as plantas, sendo
utilizados normalmente para matar ervas daninhas sem causar prejuízo para a
vegetação desejável, como na eliminação de folhas largas de grama de gramados
sem matar a grama. O uso de herbicidas na agricultura tem substituído os
humanos e os cortadores mecânicos de grama nos países e, consequentemente,
tem diminuído o número de pessoas empregadas na agricultura. Os herbicidas são
usados também para eliminar plantas indesejáveis de acostamentos de estradas,
linhas férreas e corredores de torres de energia elétrica etc. e algumas vezes para
desfolhar regiões inteiras (BAIRD; CANN, 2011).

128
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

LEITURA COMPLEMENTAR

O EPISÓDIO DONORA

Era uma típica tarde de outono no oeste da Pensilvânia, o céu estava


nublado e parado (SHRENK et al., 1949). Os moradores de Donora, pequena cidade
às margens do Rio Monongahela, não prestaram muita atenção àquilo que parecia
ser um dia especialmente carregado. Já tinham visto dias piores. Algumas pessoas
lembravam-se de dias em que o ar estava tão pesado que era possível ver a poluição
pairando no ar. Naquela tarde de sábado, as crianças se preparavam para o desfile
de Halloween, e os rapazes estavam envolvidos com os preparativos para o jogo de
futebol americano do colegial. O técnico do time adversário era contra a realização
do jogo. Afirmava que o técnico do Donora havia encomendado aquela nuvem de
poluição que pairava sobre o campo. Se alguém fizesse um passe, ninguém veria a
bola e os jogadores da retranca não conseguiriam fazê-la reaparecer.

Foi um dia cinzento e nublado muito diferente: até o fim da noite 11 pessoas
morreram e mais 10 morreriam nas horas seguintes. A nuvem de poluição estava
tão densa que os médicos que atendiam aos doentes perdiam-se no trajeto de uma
casa para outra. Na segunda-feira, quase metade da população da cidadezinha de
14 mil habitantes estava ou nos hospitais ou de cama em casa com fortes dores de
cabeça, vômitos e cólicas. Os animais domésticos sofreram mais que todo mundo:
os passarinhos morreram e muitos cães e gatos já estavam mortos ou agonizando.
Até as plantas das casas sucumbiram aos efeitos do smog (neblina esfumaçada).

Não havia ambulâncias nem hospitais suficientes, e muitas pessoas


morreram por falta de cuidados imediatos. Os bombeiros foram acionados.
Traziam tanques de oxigênio para atender apenas àqueles que estivessem em
piores condições. Como não havia oxigênio para todo mundo, foram distribuindo
o que tinha em doses reduzidas para cada um e seguiam adiante para atender a
mais pessoas.

Quando a atmosfera finalmente clareou no dia 31 de outubro, seis dias


depois da intensa neblina e fumaça tóxica, restaram os rastros de uma tragédia
de imensas proporções (à medida que tragédias da qualidade do ar começaram
a ser conhecidas) e as consequências foram terríveis. A publicidade em torno do
incidente em Donora provocou uma conscientização sobre o controle da qualidade
do ar nas comunidades americanas. Segundo os funcionários da saúde, se a neblina
continuasse por mais uma noite, quase 10 mil pessoas teriam morrido.

Que fatores contribuíram para que essa tragédia ocorresse em Donora?


Em primeiro lugar, Donora era uma cidade metalúrgica, com três grandes fábricas
instaladas: de aço, de fios e cabos, e de zinco para galvanização dos cabos. As
três fábricas juntas produziam fios galvanizados. O transporte era feito pelo Rio
Monongahela até os mercados mundiais, e a disponibilidade de matérias-primas
e mão de obra confiável (em geral, importada da Europa oriental) tornou a cidade
muito próspera. Naquela tarde de sábado, quando a condição da qualidade do ar
129
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

na cidade ficou crítica, as fábricas diminuíram a produção, mas, aparentemente, os


administradores não perceberam que suas empresas eram as responsáveis diretas
pelas condições de saúde dos habitantes de Donora. Apenas no domingo à noite,
quando foram informados sobre a tragédia, é que fecharam os fornos e as chaminés
das fábricas.

Em segundo lugar, Donora está localizada às margens do Rio Monongahela,


com altos rochedos no entorno, formando uma bacia com a cidade bem no meio.
Na noite de 25 de outubro de 1948, ocorreu uma inversão térmica nas condições
do vale. Essa condição meteorológica, sem ter nada a ver com poluição, limitou
o movimento ascendente do ar e criou uma espécie de barreira sobre o vale. Os
poluentes emitidos pelas fábricas não conseguiram sair e ficaram presos sob a
barreira, produzindo um nível crescente de concentrações tóxicas.

As metalúrgicas alegaram que não eram responsáveis pelo acidente.


Na verdade, não se registrou nenhuma falha durante a investigação realizada.
As empresas estavam operando de acordo com a lei e não obrigavam nenhum
operário a trabalhar em suas fábricas, ou morar em Donora. Na falta de legislação
específica, as empresas não se sentiram obrigadas a pagar pelo equipamento para
combater a poluição, nem a alterar seus processos de fabricação para reduzir a
poluição do ar. Os empresários acreditavam que, se fossem os únicos a pagar
pelo equipamento e por sua instalação para combater a poluição, estariam em
desvantagem competitiva e seriam obrigados a encerrar suas atividades.

A tragédia obrigou o estado da Pensilvânia e também o governo federal a


tomar uma atitude, que contou com o único e grande feito, enviando a Lei do Ar
Limpo ao Congresso em 1955, mas apenas em 1972 a lei federal começou a vigorar.
Em Donora e nas imediações de Pittsburgh, entretanto, ninguém nunca confirmou
as péssimas condições do ar, o que constituía um requisito para manter bons
empregos e prosperidade. A imprensa de Pittsburgh cobriu a tragédia de Donora
comparando-a com uma fuga da cadeia. Até o início da década de 1950 havia o
medo de que, se as pessoas protestassem contra a poluição, as fábricas fechariam
e não haveria emprego para mais ninguém. No entanto, a fábrica de zinco, a
principal responsável pela formação da neblina tóxica, foi fechada apenas em 1957,
e as outras duas só encerraram suas atividades dez anos mais tarde. Atualmente,
Donora não se parece mais com a antiga cidade, porém entrou para a história em
razão do significativo episódio que deu início à nossa atual mobilização na direção
do compromisso com o ar limpo.

Para ler o artigo completo acesse a referência:

FONTE: VESILIND, P. A.; MORGAN, S. M. Introdução à engenharia ambiental. 2. ed. São Paulo:
Cengage Learning, 2011. p. 9-11.

130
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A chuva ácida é um fenômeno causado pela presença do ácido sulfúrico no ar,


onde derivavam reações entre o ar e os compostos de enxofre.

• A chuva ácida pode diminuir a colheita de hortifrutigranjeiros, degradar


monumentos históricos, aumentar a incidência de infecções respiratórias na
população e contaminar as mananciais que abastecem as cidades.

• O smog fotoquímico é formado por diversas reações químicas envolvendo os


óxidos de nitrogênio, monóxido de carbono e hidrocarbonetos por efeito da
radiação solar (reações fotoquímicas), gerando novos poluentes.

• O smog fotoquímico é uma mistura de poluentes, destacando-se os óxidos de


nitrogênio, os radicais orgânicos PAN, o ozônio e alguns aldeídos.

• O smog fotoquímico é característico de cidades ensolaradas, quentes e de clima


seco.

• O smog fotoquímico ocorre principalmente devido as emissões industriais,


porém a principal fonte das emissões são os veículos.

• Os efeitos do smog fotoquímico atingem a biota animal e vegetal, e no ser humano


apresenta problemas de saúde e de desconforto, assim como tosse, dificuldade
na respiração, chiado ao respirar, irritação das vias respiratórias e constrição dos
brônquios.

• Os pesticidas são substâncias que matam ou controlam um organismo indesejável.

• Todos os pesticidas químicos compartilham uma propriedade comum de


interferir no metabolismo vital dos organismos aos quais eles são tóxicos.

• Desde a sua introdução, os pesticidas sintéticos têm gerado problema por


causa do potencial impacto sobre a saúde humana devido à contaminação dos
alimentos por esses compostos químicos orgânicos.

• Os inseticidas à base de hidrocarbonetos clorados ou organoclorados são


hidrocarbonetos em que diferentes átomos de hidrogênio foram substituídos
por átomos de cloro.

• Os herbicidas são os compostos químicos que destroem as plantas, sendo


utilizados normalmente para matar ervas daninhas sem causar prejuízo para a
vegetação desejável.
131
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos


exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno de
Estudos. Bom trabalho!

1 Na química ambiental, as reações fotoquímicas são muito


importantes, sendo que os três principais conjuntos de reações
fotoquímicas estão relacionados com a chuva ácida, o smog
fotoquímico e com a camada de ozônio. Com base no texto,
avalie as assertivas a seguir:
I – O termo chuva ácida significa a precipitação de componentes ácidos
encontrados em chuvas, neves, neblinas ou partículas secas, porém, a
designação correta é precipitação ácida.
II – A queima de combustíveis fósseis e os gases liberados pelos automóveis
liberam grandes quantidades de SO2 e NOx no ar, sendo responsáveis pela
acidificação da água da chuva.
III – Os organismos de todos os níveis tróficos da cadeia alimentar podem ser
afetados por meio da precipitação ácida, reduzindo as espécies em número e
variedades, prejudicando a produção primária e a decomposição de matéria
orgânica.
IV ­­– Os reagentes necessários para a formação do smog fotoquímico são os gases
óxidos de nitrogênio, monóxido de carbono e hidrocarbonetos, na ausência
da radiação solar.
V – Os produtos finais da reação do smog fotoquímico, como o ozônio, ácido
nítrico, e os compostos orgânicos parcialmente oxidados não possuem
toxicidade ao ser humano.
É correto o que afirma em:

a) ( ) As assertivas I e III.
b) ( ) As assertivas I, III, IV e V.
c) ( ) As assertivas I, II e III.
d) ( ) As assertivas I e V.
e) ( ) A assertiva I apenas.

2 Aproximadamente metade do uso de pesticidas na América do


Norte envolve a agricultura, embora mundialmente este valor
alcance 85%. A maior parte de todas as culturas de alimentos
comercializados é produzida com o uso de inseticidas, herbi-
cidas e fungicidas. Também é evidente que a atual capacidade dos países
desenvolvidos para plantar e amadurecer grande quantidade de alimentos
em uma área relativamente pequena de terra, com uma quantidade relativa-
mente baixa de trabalho humano, tem sido possível pelo uso dos pesticidas
(BAIRD; CANN, 2011). Com base no texto, o que você entende por pesticida?

132
UNIDADE 2
TÓPICO 3

A CAMADA DE OZÔNIO E OS
GASES DE EFEITO ESTUFA

1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)! No Tópico 3 estudaremos a camada de ozônio
e os gases de efeito estufa. Focalisaremos a química da camada de ozônio, sua
formação e destruição e consequências. Apresentaremos, ainda, o estudo do efeito
estufa, o protocolo de Kyoto, o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Sugerimos muito estudo e trabalho para que possa assimilar bem estes conteúdos
tão importantes para a humanidade. Desejamos contribuir para que todos possam
aspirar a um futuro com menos problemas climáticos e ecológicos.

2 A QUÍMICA DA CAMADA DE OZÔNIO

2.1 A CAMADA DE OZÔNIO

O químico alemão Christian Friedrich Schönbein foi quem detectou a


existência do ozônio na atmosfera em meado de 1840. Ele observou que descargas
elétricas no ar produziam um cheiro característico, e assim denominou este composto
gasoso de ozônio, que do grego é ozein, que significa cheirar. Foi em 1845 que C.
Marignac e M. La Rive em Genebra, Suíça, sugeriram que o ozônio se formava de
transformações do oxigênio, porém, foi o químico J. L. Soret que o identificou como
uma forma alotrópica do oxigênio. Já as primeiras medidas de ozônio no ar foram
feitas pelo francês André Houzeau, em Rouen, em 1858 (LENZI; FAVERO, 2011).

O ozônio (O3) é um gás presente na atmosfera de cor azul-escuro,


diamagnético, com ponto de ebulição de -112°C, que se concentra na estratosfera,
formando a camada de ozônio (MACÊDO, 2002; ROCHA; ROSA; CARDOSO,
2009). É uma forma alotrópica do oxigênio, constituído por três átomos de oxigênio
que são unidos por ligações simples e duplas. O ozônio é um agente oxidante
muito forte, sendo apenas mais fraco do que o flúor. Devido à alta reatividade é um
elemento tóxico capaz de atacar proteínas, destruir micro-organismos, prejudicar
o crescimento dos vegetais e quando está no estado líquido possui propriedades
explosivas (AMORIM; LARA, 2002 apud MACÊDO, 2002).

A camada de ozônio é a região da atmosfera chamada de escudo solar


natural da Terra, uma vez que ela filtra cerca de 95% dos raios ultravioletas (UV)

133
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

nocivos, provenientes da luz solar antes que esses possam atingir a superfície
de nosso planeta, causando danos a seres humanos e outras formas de vida. A
diminuição substancial na quantidade de ozônio pode colocar em perigo a vida na
terra (MILLER JR, 2012; BAIRD; CANN, 2011).

O resultado do equilíbrio entre a produção e a destruição do ozônio determina


uma concentração estável do gás na estratosfera. A região da estratosfera em que
são vistas quantidades expressivas de ozônio é chamada de camada de ozônio. Os
limites da camada de ozônio variam com a altitude, e segundo Manahan (2013) se
estende de 15 a 35 km de altura e segundo Macêdo (2002), entre 20 e 40 quilômetros
de altitude, conforme observado na figura a seguir. Em altitudes maiores que 35 km,
o nível de gases atmosféricos é muito baixo e a maior parte do oxigênio é dissociado
em átomos de oxigênio existindo pouco O2 molecular com que os átomos de oxigênio
podem se combinar para formar O3. Em altitudes inferiores a 15 km, a maior parte
da radiação ultravioleta de baixo comprimento de onda e capaz de gerar átomos de
oxigênio necessários para a produção de ozônio foi filtrada da radiação solar nas
camadas superiores da atmosfera (MANAHAN, 2013).

FIGURA 35 – CAMADA DE OZÔNIO DA ESTRATOSFERA

FONTE: Lenzi e Favero (2011, p. 236)

Em torno de 350 mil toneladas métricas de ozônio são produzidas e


destruídas todos os dias na camada de ozônio, porém, nunca compõe mais que
uma pequena parcela dos gases nesta camada. Se todo o ozônio da atmosfera fosse
disposto em uma camada de espessura uniforme, ao nível do mar, a 25°C e 1 atm,
ela teria apenas 3 mm de espessura. Isso representa uma camada de ozônio de 0,3
atm cm. A quantidade total de ozônio na atmosfera é medida em unidades Dobson

134
TÓPICO 3 | A CAMADA DE OZÔNIO E OS GASES DE EFEITO ESTUFA

(UD). A UD equivale a 0,001 atm cm, assim, a espessura média da camada de


ozônio é 300 UD (MANAHAN, 2013).

A variação do ozônio na troposfera depende de fatores naturais e antrópicos.


A quantidade é variável existindo processos de produção do ozônio e processos de
eliminação do mesmo, havendo certo controle natural de sua abundância com o
tempo. Entre os parâmetros naturais podemos citar:
• A presença de radiação eletromagnética que é dependente do período diurno
(manhã, meio-dia, tarde, com sol sem nuvens e/ou com nuvens) e período
noturno, da estação do ano (inverno, primavera, verão e outono) e da posição
geográfica do local da atmosfera (latitude e longitude).
• O deslocamento de massas de ar (correntes e ventos).
• A composição química natural da atmosfera (LENZI; FAVERO, 2011).

Entre os parâmetros antrópicos podemos citar a poluição atmosférica


decorrente das atividades, tanto que em ambientes urbanos, a abundância do
ozônio é maior que em outros locais (LENZI; FAVERO, 2011).

2.2 FORMAÇÃO DO OZÔNIO NA ESTRATOSFERA


É na estratosfera, que de modo natural, o ozônio é produzido por meio da
ação fotoquímica dos raios ultravioletas sobre as moléculas de oxigênio. A radiação
ultravioleta possui energia suficiente para separar os dois átomos que constituem
a molécula de O2, produzindo assim o chamado oxigênio atômico, que é necessário
na formação do O3 (MACÊDO, 2002).

Foi Chapman em 1930 que propôs para a formação e para a destruição do


ozônio na estratosfera as reações (R-42), (R-43), (R-44), (R-45) e (R-46) que podemos
acompanhar a seguir (LENZI; FAVERO, 2011).

135
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

A fotólise do O3 pode conduzir à formação do oxigênio atômico no estado


fundamental O (3P) se λ > 310 nm, conforme podemos observar na reação (R-47) ou
pode conduzir à formação de oxigênio atômico no estado excitado O(1D), conforme
observamos na reação (R-48) (LENZI; FAVERO, 2011).

A fotólise do O2 por radiação de λ < 175,9 nm produz o oxigênio ativado,


conforme a reação (R-49). Porém, o O(1D) no próprio ambiente mediante um
terceiro corpo é desativado conforme a reação (R-50). A soma das abundâncias das
espécies (O + O3) = Ox. (LENZI; FAVERO, 2011).

Em condições normais, ou seja, sem agentes catalíticos na estratosfera,


estas reações dependem dos fatores naturais e antrópicos, promovendo um
equilíbrio estacionário entre o O3 produzido e o O3 decomposto ao longo tempo,
caracterizando o tempo de vida do O3 (LENZI; FAVERO, 2011).

2.3 O EFEITO PROTETOR DA CAMADA DE OZÔNIO

O gás ozônio absorve a radiação ultravioleta com muita eficiência na


região de 220 a 330 nm, sendo eficaz para filtrar a radiação UVB. A radiação UVB é
perigosa e tem o comprimento de onda entre 290 e 320 nm. Já a radiação UVA está
entre 320 e 400 nm, mas é menos prejudicial, e a radiação UVC, com comprimento
de onda inferior a 290 nm, não penetra na troposfera. Se a radiação UVB não
fosse absorvida pelo ozônio, as formas de vida expostas a ela na Terra sofreriam
sérios problemas. A absorção da radiação eletromagnética pelo ozônio converte
a energia da radiação em calor e é responsável pelos máximos de temperatura
encontrados no limite entre a estratosfera e a mesosfera, a uma altitude próxima
de 50 km. A razão pela qual o máximo de temperatura ocorra a uma altitude maior
que aquela em que é observada a concentração máxima de ozônio está no fato de

136
TÓPICO 3 | A CAMADA DE OZÔNIO E OS GASES DE EFEITO ESTUFA

que o ozônio é tão eficaz na absorção da luz ultravioleta que a maior parte dessa
radiação fica retida na estratosfera superior, gerando calor, enquanto apenas uma
pequena parcela atinge altitudes menores, que permanecem relativamente frias
(MANAHAN, 2013).

2.4 DESTRUIÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO

A depleção do ozônio estratosférico por substâncias liberadas na atmosfera


com a propriedade de catalisar a reconversão do O3 em O2 é uma das mais graves
ameaças ao ambiente. Os principais compostos responsáveis pela diminuição da
camada de ozônio são os gases CFCs, conhecidos pelo nome comum de Freons.
Por meio de uma pesquisa realizada no ano de 1974, observaram-se indícios
convincentes do papel dos clorofluorocarbonos como catalisadores da destruição
do ozônio estratosférico. Os dados coletados posteriormente sobre os níveis de
ozônio na estratosfera e o aumento na incidência de radiação ultravioleta na
superfície da Terra revelaram que a ameaça ao ozônio estratosférico trazida pelos
CFC era real (MANAHAN, 2013).

Os CFCs foram desenvolvidos na década de 1930 como substitutos para


o dióxido de enxofre e a amônia. Esses fluidos refrigerantes foram utilizados e
liberados na atmosfera em níveis elevados por muitas décadas. Foram utilizados
como fluidos refrigerantes e também como solventes, propelentes de aerossóis e
agentes de sopro na produção de espumas plásticas. Por apresentarem grande
estabilidade química, os CFCs são compostos atóxicos, e esta mesma propriedade
permite que persistam por anos na atmosfera, favorecendo a entrada na estratosfera.
Na estratosfera inicia-se o processo de dissociação fotoquímica dos CFCs pela
radiação ultravioleta intensa, produzindo átomos de cloro, conforme apresentado
na reação (R-51) (MANAHAN, 2013).

Os átomos de cloro posteriormente sofrem reações em cadeia, começando


com a reação do cloro atômico com o ozônio, conforme podemos observar na
reação (R-52).

137
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

Posteriormente, os radicais (CIO.) reagem para formar um dímero que


reage com os átomos de CI que, por sua vez, reagem com o ozônio para regenerar
o (CIO.), conforme a sequência de reações cíclicas (R-53), (R-54), (R-55), (R-56) e
(R-57), onde M é um terceiro corpo absorvedor de energia, como uma molécula de
N2 (MANAHAN, 2013).

O efeito gerado por essas reações é a catálise da destruição de milhares


de molécula de ozônio para cada átomo de cloro (CI) que é produzido. Devido à
ampla utilização e persistência na atmosfera, os CFCs que despertam as maiores
preocupações quanto à destruição do ozônio são o CFC-11 e o CFC-12, o CFCl3 e o
CF2CI2. Mesmo em meio à radiação ultravioleta intensa incidente na estratosfera,
os CFCs mais persistentes têm ciclos de vida da ordem de 100 anos (MANAHAN,
2013).

Assim, o exemplo mais clássico da depleção da camada de ozônio é


o buraco de ozônio da Antártida, que foi observado pela primeira vez em 1985
pela Expedição Britânica à Antártida e detectado outras vezes, em meio a muita
apreensão, nos anos seguintes. Esse fenômeno é manifestado pelo surgimento de
uma drástica redução no nível de ozônio estratosférico, de até 50% na Antártida,
durante o final do inverno polar e os primeiros meses da primavera, de setembro a
outubro. Alguns cientistas estimam que a recuperação total do buraco na camada
de ozônio sobre a Antártida não ocorra antes de 2050.

138
TÓPICO 3 | A CAMADA DE OZÔNIO E OS GASES DE EFEITO ESTUFA

2.5 CONSEQUÊNCIAS DA DESTRUIÇÃO DA CAMADA DE


OZÔNIO
O cientista Mike McElroy, em 1975, ao estudar os efeitos da destruição da
camada de ozônio, advertiu que isto poderia ser usado como uma nova arma de
guerra. Um composto químico como o bromo, se lançado em grandes quantidades
na atmosfera, formaria um buraco na camada de ozônio sobre o território inimigo,
incapacitando pessoas desprotegidas e destruindo as plantações. Se a destruição
da camada de ozônio já foi imaginada como uma arma de guerra, podemos de
antemão ter ideia dos efeitos devastadores para o ser humano e ao meio ambiente
com esse acontecimento (MACÊDO, 2002).

Com maior incidência dos raios ultravioletas devido à redução da


camada de ozônio, diminui-se a capacidade fotossintetizante dos vegetais e
afetam-se as espécies animais. Nos seres humanos compromete a resistência do
sistema imunológico, causa câncer de pele e problemas oculares como a catarata
(MACÊDO, 2002).

O aumento das intensidades de radiação ultravioleta no nível do solo


causado pela destruição da camada de ozônio na estratosfera teria consequências
adversas significativas. Um dos principais efeitos seria observado nas plantas,
inclusive as culturas utilizadas na produção de alimentos. A destruição das plantas
microscópicas que formam a base da cadeia alimentar oceânica (o fitoplâncton)
reduziria a produtividade dos mares do planeta (MANAHAN, 2013). A maior
parte das plantas não foi testada quanto aos efeitos de um aumento da UV-B. A
soja apresenta uma redução de 25% na produção quando há um aumento de 25%
na concentração de UV-B. Já o fitoplâncton (base da cadeia alimentar marinha),
assim como as larvas de alguns peixes, também sofrem efeitos negativos quando
expostos a uma maior taxa de radiação UV-B (MACÊDO, 2002).

A exposição dos seres humanos poderia resultar em uma maior incidência


de catarata. Estudos afirmam que a redução de 1% da camada de ozônio provocaria,
só nos Estados Unidos, um aumento de 25 mil casos anuais de catarata. Outras
estimativas indicam que uma redução de 50% na camada de ozônio ao redor do
planeta provocaria cegueira e queimaduras de pele com formação de bolhas num
prazo de dez minutos. A radiação UV-B também inibe a atividade do sistema
imunológico humano que é o mecanismo natural de defesa do organismo. Além
de tornar mais fáceis as condições para que os tumores se desenvolvam sem que
o corpo consiga combatê-los. Também, acredita-se que haveria um aumento nas
infecções por herpes, hepatite e infecções dermatológicas provocadas por parasitas
(JUNIOR CARNEIRO, 2002 apud MACÊDO, 2002).

O efeito que desperta as maiores preocupações em relação aos seres


humanos é a elevada incidência de câncer de pele em indivíduos expostos à
radiação ultravioleta. Isso ocorre por conta das reações fotoquímicas no DNA
celular que absorve a radiação UVB, causando a tradução inadequada do código
genético durante a divisão celular, descontrolando o evento e levando ao câncer

139
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

de pele. As pessoas de pele clara não possuem a proteção dada pela melanina, que
absorve a radiação UVB, sendo especialmente suscetíveis a seus efeitos. O tipo
mais frequente de câncer de pele resultante da exposição à radiação ultravioleta é
o carcinoma de células escamosas, que forma lesões capazes de serem removidas
com facilidade e que não apresenta tendência elevada de realizar metástase. O
melanoma maligno é causado pela absorção da radiação UVB e geralmente é fatal
(MANAHAN, 2013).

Devido a esta grande importância da camada de ozônio para os seres vivos,


em 1987, 24 países, e a Comissão da Comunidade Europeia, assinaram o Protocolo
de Montreal sobre as substâncias que destroem a camada de ozônio. Mais de 185
países ratificaram o acordo entre os signatários estavam os principais produtores
dos clorofluorcarbonos (CFC). Esse acordo mercadológico exigia uma redução de
50% no consumo e na produção de CFC, sendo atingido gradualmente até o ano
de 2000 (THOMAS; CALLAN, 2010).

3 O EFEITO ESTUFA

O planeta Terra recebe a radiação solar em ondas curtas e reemite essa


radiação em comprimento de onda mais longo. Parte da radiação incidente é
refletida de volta para o espaço pelas nuvens e pela superfície da Terra. Outra
parte é absorvida pela atmosfera e reirradiada de volta para o espaço e outra ainda
é absorvida pela superfície dos continentes e oceanos. Essa energia envolvida nos
processos citados é usada principalmente para evaporar a água, para a fotossíntese
e para mover as correntes marinhas e de vento. Contudo, antes de ser reirradiada
para a atmosfera, essa energia é absorvida principalmente pelo vapor d'água e
pelo gás carbônico, e também por alguns outros gases presentes na atmosfera,
os chamados gases estufa. Esse fenômeno é conhecido como efeito estufa e os
detalhes do processo podem ser observados na figura a seguir. Para exemplificar,
podemos perceber a semelhança do que acontece em uma estufa, onde a radiação
solar passa pelo vidro, mas o calor (radiação de comprimento de onda mais longo)
não sai direto porque é absorvido primeiro pelo vidro (OLIVEIRA; CORDANI;
FAIRCHILD, 2009).

140
TÓPICO 3 | A CAMADA DE OZÔNIO E OS GASES DE EFEITO ESTUFA

FIGURA 36 – MODELO DO EFEITO ESTUFA

FONTE: Press et al. (2006, p. 592)

Em termos mais detalhados, podemos perceber que do total da luz de


todos os comprimentos de onda que alcança a Terra (infravermelho (IV), visível
e ultravioleta (UV)), cerca de 50% são absorvidos em sua superfície pelos corpos
d'água, pelo solo, pela vegetação, pelos prédios, entre outros. Mais de 20% da luz
que chega à atmosfera são absorvidos pelas gotículas de água presentes no ar
(principalmente na forma de nuvens) e pelas moléculas de gases, onde a radiação
UV é absorvida pelo ozônio estratosférico e pelo oxigênio diatômico, e a radiação
IV é absorvida pelo dióxido de carbono e pelo vapor d’água (BAIRD; CANN, 2011).

Já os 30% restantes da radiação solar são refletidos de volta para o espaço


pelas nuvens, partículas em suspensão, gelo, neve, areia e por outros corpos
refletores, sem serem absorvidos. A fração de luz solar refletida de volta para o
espaço por um objeto é chamada de albedo, e é representada pela fração de cerca
de 0,30 para a Terra em geral. As nuvens são bons refletores, com albedos variando
de 0,4 a 0,8. Já a neve e o gelo são superfícies altamente refletoras da luz visível,
ou seja, possuem alto albedo, enquanto que o solo e os corpos d'água são pouco
refletores, ou seja, baixo albedo (BAIRD; CANN, 2011).

O efeito estufa assim como descrito é um fenômeno natural que tem como
característica manter a Terra a uma temperatura média de 15°C, cerca de 30°C cima
do que ela teria na sua ausência, ou seja, -15°C. A energia absorvida pela atmosfera
é reirradiada para o espaço, pois pelo contrário, a temperatura da superfície
aumentaria continuamente. Assim, o retorno da energia para o espaço é retardado
pelo efeito estufa, num processo semelhante ao que acontece com alguém debaixo

141
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

de um cobertor numa noite fria. Podemos observar na figura a seguir um esquema


do balanço da radiação solar, indicando a porcentagem do total incidente refletida,
absorvida e reemitida (OLIVEIRA; CORDANI; FAIRCHILD, 2009).

FIGURA 37 – BALANÇO ENERGÉTICO DA ATMOSFERA EM watts/m²

FONTE: Oliveira, Cordani e Fairchild (2009, p. 115

3.1 EFEITO ESTUFA INTENSIFICADO E O AUMENTO DOS


GASES ESTUFA

Os gases que possuem a capacidade de absorver a radiação infravermelha


na atmosfera são conhecidos como gases de efeito estufa ou simplesmente gases
estufa. Estes gases são responsáveis pelo efeito estufa, fenômeno que como já vimos,
mantém o planeta aquecido. Sem o efeito estufa, a vida, tal como está estabelecida
em nosso planeta, seria inviável. O vapor da água é o principal componente da
atmosfera que absorve a radiação infravermelha e a reemite para a superfície do
planeta, sendo responsável por cerca de 80% do efeito estufa, e está associado
ao ciclo hidrológico, que é um fenômeno também de controle natural (ROCHA;
ROSA; CARDOSO, 2009).

Portanto, o fenômeno que preocupa os cientistas ambientais é que o


aumento da concentração de gases estufa que estão em pequenas quantidades
(gases traço) no ar, e que absorvem a radiação infravermelha térmica, resultaria
no redirecionamento de uma maior quantidade de energia infravermelha refletida
para a superfície da Terra, o que poderia aumentar a temperatura média da
superfície além dos 15°C. Esse fenômeno é denominado efeito estufa intensificado,

142
TÓPICO 3 | A CAMADA DE OZÔNIO E OS GASES DE EFEITO ESTUFA

para então diferenciar seus efeitos daquele que vem atuando naturalmente durante
muito tempo (BAIRD; CANN, 2011). Segundo o 5º Relatório do IPCC, há mais de
95% de certeza de que as ações antrópicas são responsáveis por mais de metade
da elevação média de temperatura registrada entre 1951 e 2010. Este aumento da
temperatura está diretamente associado ao efeito estufa intensificado e à emissão
dos gases de efeito estufa proveniente das ações antrópicas (STOCKER et al., 2013).

Os principais gases de efeito estufa emitidos por ação antrópica são o


dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hidrofluorocarbonos
(HFCs), perfluorocarbonos (PFCs), e hexafluoreto de enxofre (SF6) (MILLER JR,
2012). Porém o CO2 é o mais representativo, sendo o segundo gás de efeito estufa
em quantidade presente na atmosfera. Um fator a ser considerado é o potencial
de aquecimento global (PAG) de cada gás de efeito estufa. Tal fator indica qual é o
potencial de cada molécula em contribuir para o efeito estufa. Para tornar possível
essa comparação, ficou estabelecido que o CO2 tem PAG igual a 1. Já o CH4, por sua
vez, tem o PAG igual a 21, significando que uma molécula de CH4 produz o mesmo
efeito que 21 moléculas de CO2 (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

As principais fontes antrópicas de emissões dos gases de efeito estufa são


a queima dos combustíveis fósseis, como os derivados do petróleo e o carvão (são
emitidos o CO2, CH4 e o N2O). Também temos a produção da energia elétrica, outros
processos industriais como a produção do cimento e do aço que emitem o CO2. A
agricultura e a pecuária com a criação de bovinos e suínos, com o desmatamento,
queimada, adubação entre outros também emitem o CO2, CH4 e o N2O. Os gases
refrigerantes e o SF6 são gases específicos de alguns processos industriais (MILLER
JR, 2012).

NOTA

É importante salientar que a concentração de CO2 na atmosfera em 2013 atingiu


a marca de 400 ppm, ou seja, a maior concentração entre 800 mil anos e está aumentando.
Caro(a) acadêmico(a)! Você pode verificar a concentração de CO2 (Chamado de curva de
Keeling) diariamente pelo site do instituto de pesquisa Scripps Institution of Oceanography.

3.1.1 Protocolo de Kyoto

O Protocolo de Kyoto é um acordo internacional estabelecido em 1997, na


cidade de Kyoto, Japão durante a 3ª reunião da COP. Vale lembrar que a COP é
a reunião anual dos membros da Convenção Quadro sobre Mudanças Climáticas
(UNFCCC). A proposta do Protocolo de Kyoto consiste em reduzir as emissões de
gases estufa dos países industrializados e garantir um modelo de desenvolvimento

143
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

limpo aos países em desenvolvimento. O documento prevê que, entre 2008 e 2012,
os países desenvolvidos reduzam suas emissões em 5,2%, em relação aos níveis
que eram emitidos em 1990 (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

O acordo estabelece diferentes níveis de reduções para os 38 dos países


considerados principais emissores de gases estufa. Para os países da União
Europeia, foi estabelecida a redução de 8% em relação às emissões de gases em
1990. Para os Estados Unidos, a meta foi de 7% e, para o Japão, de 6%. Para a China
e os países em desenvolvimento, como Brasil, Índia e México, ainda não foram
estabelecidos níveis de redução.

Os Estados Unidos da América são o país que mais emite gases estufa,
sendo responsáveis por cerca de um quarto da produção mundial de CO2, ou 1,49
bilhão de toneladas anuais (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

3.2 AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

O aquecimento global é resultado do lançamento excessivo de gases de


efeito estufa, principalmente o CO2, na atmosfera. Esses gases estufa formam uma
espécie de cobertor cada dia mais espesso que torna o planeta cada vez mais quente
(MILLER JR, 2012).

Considerando o período desde 18 mil anos atrás até o início do século XX,
o clima global esquentou vários graus, e desde então, o aumento de temperatura
da Terra tem se acelerado, lentamente no início, mas de forma muito acentuada
a partir de 1960 (OLIVEIRA; CORDANI; FAIRCHILD, 2009). E é justamente este
cenário que podemos observar com os dados do 5º Relatório do IPCC em que
verificou que a temperatura global aumentou 0,85ºC entre 1880 e 2012 (STOCKER
et al., 2013).

Com os níveis atmosféricos do gás estufa dióxido de carbono aumentando


nas últimas décadas, as preocupações com o aquecimento global se intensificaram
desde 1980. Outro dado importante é que os oito anos mais quentes desde o início
dos registros de temperatura no mundo ocorreram a partir do ano de 1998, e que
os 14 anos mais quentes registrados ocorreram no intervalo de 1990 até o presente.
Entre esses, o ano de 2005 foi o com a maior temperatura e o ano de 2007 empatou
com o de 1998 em segundo lugar. O valor próximo à marca recorde medido em
2007 é o mais notável porque esse foi o ano com menor incidência de radiação
solar, e o ciclo natural dos fenômenos EI Niño e La Niña, observados no Oceano
Pacífico equatorial, estava em sua fase fria (MANAHAN, 2013).

Com o aquecimento médio da Terra aumentando surgem então as variações


climáticas ou comumente chamadas de mudanças climáticas. Estas, por sua vez,
são resultado do aumento da temperatura da terra, gerando mudanças nos padrões
climáticos, intensificando alguns fenômenos como chuvas mais volumosas, secas
mais intensas, aumento de furacões, entre outros (STOCKER et al., 2013).

144
TÓPICO 3 | A CAMADA DE OZÔNIO E OS GASES DE EFEITO ESTUFA

Além do aumento na temperatura média da Terra, existem inúmeras outras


mudanças que indicam que o clima de fato está se alterando, ocasionando, portanto,
as mudanças climáticas. O inverno se tomou mais curto, em pelo menos 11 dias. No
Hemisfério Norte, a primavera tem chegado mais cedo e o outono tem começado
mais tarde. Nas últimas três décadas, o período da primavera (característico pelo
aparecimento de brotos, folhas e flores nas plantas) tem avançado em uma média
de seis dias na Europa, enquanto que o início do outono (data em que as folhas
começam a mudar de coloração e a cair), tem sido atrasado por cerca de cinco dias
(BAIRD; CANN, 2011).

A cobertura de gelo da Terra está diminuindo. Geleiras, coberturas de gelo


polar e gelo marítimo polar estão derretendo e desaparecendo a velocidades altas,
como consequência do aquecimento global. Por exemplo, as geleiras remanescentes
no Glacier National Park, nas Montanhas Rochosas dos Estados Unidos, podem
desaparecer em 30 anos caso a velocidade de derretimento atual continue (BAIRD;
CANN, 2011).

O aquecimento da água está matando grande parte das espécies de corais


em recifes oceânicos e ameaçando a vida marinha. Os recifes de corais em águas
tropicais nutrem e protegem os peixes, e com o aquecimento das águas, os corais
se descolorem por meio da expulsão de algas que lhes dão a cor e a nutrição e
morrem (BAIRD; CANN, 2011).

Doenças causadas por mosquitos têm alcançado grandes altitudes. Por


causa das temperaturas mais quentes, os mosquitos são capazes de sobreviver em
regiões nas quais eles normalmente não sobreviviam. Como consequência, esses
insetos têm levado a malária para regiões montanhosas mais altas em partes da
África e a dengue para novas regiões na América Central (BAIRD; CANN, 2011).

Aumento nos níveis dos mares representa ameaças de inundações das ilhas
do Pacífico. O aquecimento do ar eventualmente levará a um aumento nos níveis
dos mares (BAIRD; CANN, 2011).

As precipitações têm aumentado na maioria das áreas. Um importante


aspecto do clima é a quantidade de precipitação (chuva ou neve) que cai em vários
locais do planeta. No século XX, a precipitação anual total no Hemisfério Norte
aumentou, com a maior parte das regiões de médias e altas latitudes do leste da
América do Norte e do Sul, Europa e Ásia tornando-se de alguma forma mais
úmidos. Porém, muitas áreas, um pouco ao norte e um pouco ao sul do Equador,
como na África e em partes do sul da Ásia, se tornaram mais secas, com graves
consequências para a produção de alimentos (BAIRD; CANN, 2011).

Climas extremos estão se tornando mais comuns. A frequência de eventos


climáticos extremos e violentos tem aumentado em muitas áreas do planeta. Esses
eventos incluem fortes nevascas e tempestades com muita neve e granizos nas
áreas ao norte e, em outras, ondas de calor recordes, furacões e secas.

145
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

Podemos observar de forma dinâmica na figura a seguir, as consequências


previstas para uma atmosfera mais quente no planeta Terra.

FIGURA 38 – CONSEQUÊNCIAS DO AQUECIMENTO GLOBAL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

FONTE: Miller JR (2012, p. 430)

LEITURA COMPLEMENTAR

NOVO RELATÓRIO CLIMÁTICO REFORÇA VISÃO DE QUE HOMEM


CAUSA AQUECIMENTO

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou


no dia 26 de setembro de 2013, um novo relatório que aumenta o grau de certeza
dos cientistas em relação à responsabilidade do homem no aquecimento global.

146
TÓPICO 3 | A CAMADA DE OZÔNIO E OS GASES DE EFEITO ESTUFA

Chamado de “Sumário para os Formuladores de Políticas”, o texto afirma


que há mais de 95% (extremamente provável) de chance de que o homem tenha
causado mais de metade da elevação média de temperatura registrada entre 1951
e 2010, que está na faixa entre 0,5 a 1,3 graus (a edição anterior falava em mais de
90%).

O documento apresentado em Estocolmo, na Suécia, em conferência


científica, mostra também que o nível dos oceanos aumentou 19 centímetros entre
1901 e 2010, e que as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e
óxido nitroso aumentaram para “níveis sem precedentes, pelo menos nos últimos
800 mil anos”.

O novo relatório diz ainda que há ao menos 66% de chance de a temperatura


global aumentar pelo menos 2ºC até 2100 em comparação aos níveis pré-industriais
(1850 a 1900), caso a queima de combustíveis fósseis continue no ritmo atual e não
sejam aplicadas quaisquer políticas climáticas já existentes.

Os 259 pesquisadores-autores de várias partes do mundo, incluindo o


Brasil, estimam ainda que, no pior cenário possível de emissões, o nível do mar
pode aumentar 82 centímetros, prejudicando regiões costeiras do planeta, e que
o gelo do Ártico pode retroceder até 94% durante o verão no Hemisfério Norte.
Trata-se da primeira parte de um conjunto de dados que servirá de base para as
negociações climáticas internacionais. As demais partes serão publicadas em 2014.

Os cientistas tratam como fato o aumento médio de 0,85ºC na temperatura


global entre 1880 e 2012 e que é “muito provável” que desde 1950 houve redução
de dias e noites mais frios e aumento de dias e noites mais quentes em todo o
planeta. A temperatura da superfície do oceano teve aumento de 0,11ºC por década
entre 1971 e 2010, e a água marinha está mais ácida, fator que pode prejudicar o
ecossistema.

Um ponto considerado polêmico do documento, o chamado “hiato” da


mudança climática, foi mantido. O trecho explica que houve uma “desaceleração”
no aumento da temperatura global entre 1998 e 2012, com taxa de aquecimento de
0,05ºC por década, enquanto que período entre 1951 e 2012, essa taxa era de 0,12ºC.
Para o IPCC, esta desaceleração sentida não significa uma mudança de curso no
aquecimento do planeta.

Ao avaliar quatro cenários de emissões de gases, o IPCC fez previsões


de que até 2100 a temperatura no planeta pode aumentar entre 0,3ºC e 1,7ºC (no
cenário mais brando, com menos emissões e políticas climáticas implementadas) e
entre 2,6ºC 4,8ºC se não houver controle do lançamento de gases-estufa.

O relatório aponta também que é forte a evidência de que as camadas


polares e glaciares do Ártico e Antártica têm perdido massa de gelo e reduzido sua
extensão oceânica. O texto diz que são “altamente confiáveis” as informações de
que a Groenlândia e a Antártica perderam massa de gelo nas últimas duas décadas
147
UNIDADE 2 | A QUÍMICA DA ATMOSFERA

e que já há migração de ecossistema terrestre para áreas onde o frio predominava


(e não havia chance de sobrevivência da maioria dos tipos de vegetais).

“O mais importante é que o gelo fora da região antártica continua com ritmo
acelerado de derretimento e, principalmente, as geleiras não polares (encontradas
em montanhas) continuam a reduzir rapidamente e a contribuir para o aumento
do nível do mar”, explicou o glaciologista brasileiro Jefferson Simões, um dos
revisores da parte que aborda as massas de gelo do planeta.

Um dos dados apresentados pelo IPCC aponta que foi registrado um


aumento de 43% na forçante radiativa entre 1985 e 2011. A forçante radiativa é
um índice que estima impactos climáticos causados pelo desequilíbrio entre as
radiações solares absorvidas pela Terra e o calor devolvido pelo planeta à atmosfera,
aquecendo-a. Essa troca de energia equilibrada garante uma temperatura global
estável. No entanto, uma maior emissão de gases e aerossóis pelo homem por conta
de queimadas, desmatamento e queima de combustíveis fósseis (principalmente
CO2) tem elevado a forçante e, consequentemente, retido uma maior quantidade
de calor no planeta.

De acordo com o IPCC, é muito provável que o nível do mar aumente no


século 21 em todos os cenários de emissões estudados pelos cientistas. A elevação
seria causada pelo aumento do degelo na região da Antártica e do Ártico. No
cenário mais brando, em que há corte de emissões e políticas climáticas, o nível do
mar pode subir entre 26 centímetros e 55 centímetros até 2100. Já no pior cenário,
com altas emissões de gases-estufa e não cumprimento de regras para a redução
delas, o nível do mar aumentaria entre 45 centímetros e 82 centímetros. O IPCC
faz a previsão também de que 95% da totalidade do oceano tem probabilidade alta
de aumentar o seu nível e que 70% das regiões costeiras do planeta sofrerão com
o avanço do mar.

Para ter acesso a todos os dados do 5º Relatório do IPCC leia: STOCKER,


T. F.; et al. (ed.). IPCC: Summary for Policymakers. In: Climate Change 2013: The
Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Fifth Assessment
Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change., United Kingdom;
New York: Cambridge University Press, Cambridge, 2013.

Para ler o artigo completo acesse a referência:

FONTE: Novo relatório climático reforça visão de que homem causa aquecimento. G1. Disponível
em: <http://g1.globo.com/natureza/noticia/2013/09/novo-relatorio-climatico-reforca-visao-de-
que-homem-causa-aquecimento.html.> Acesso em: 10 dez. 2013.

148
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O resultado do equilíbrio entre a produção e a destruição do ozônio determina


uma concentração estável do gás na estratosfera chamada de camada de ozônio.

• A camada de ozônio é a região da atmosfera chamada de escudo solar, uma vez


que filtra cerca de 95% dos raios ultravioletas (UV) nocivos, provenientes da luz
solar antes que esses possam atingir a superfície de nosso planeta.

• A variação do ozônio na troposfera depende de fatores naturais e antrópicos.

• É na estratosfera, que de modo natural, o ozônio é produzido por meio da ação


fotoquímica dos raios ultravioleta sobre as moléculas de oxigênio.

• Os principais compostos responsáveis pela diminuição da camada de ozônio


são os gases CFCs, conhecidos pelo nome comum de Freons.

• Com maior incidência dos raios ultravioletas devido à redução da camada de


ozônio, diminui-se a capacidade fotossintetizante dos vegetais e afetam-se as
espécies animais. Nos seres humanos compromete a resistência do sistema
imunológico, causa câncer de pele e problemas oculares como a catarata.

• O efeito estufa é um fenômeno natural no qual a radiação solar é filtrada,


absorvida e refletida, fazendo com que a temperatura média da estratosfera
baixa seja 15°C, favorecendo a vida que conhecemos.

• Os gases que possuem a capacidade de absorver a radiação infravermelha na


atmosfera são conhecidos como gases de efeito estufa.

• O aumento da temperatura global devido ao aumento da concentração dos


gases estufa é chamado de efeito estufa intensificado.

• Os principais gases de efeito estufa emitidos por ação antrópica são o dióxido
de carbono, metano, óxido nitroso, hidrofluorocarbonos, perfluorocarbonos, e
hexafluoreto de enxofre.

• A proposta do Protocolo de Kyoto consiste em reduzir as emissões de gases


estufa dos países industrializados e garantir um modelo de desenvolvimento
limpo aos países em desenvolvimento.

149
• O aquecimento global é resultado do lançamento excessivo de gases de efeito
estufa, principalmente o CO2, na atmosfera. Esses gases estufa formam uma
espécie de cobertor cada dia mais espesso que torna o planeta cada vez mais
quente.

• As mudanças climáticas são resultado do aumento da temperatura da terra,


gerando mudanças nos padrões climáticos, intensificando alguns fenômenos
como chuvas mais volumosas, secas mais intensas, aumento de furacões, entre
outros.

150
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos


exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno de
Estudos. Bom trabalho!

1 A camada de ozônio filtra cerca de 95% dos raios ultravioletas


(UV) nocivos, provenientes da luz solar antes que esses possam
atingir a superfície de nosso planeta, causando danos a seres
humanos e outras formas de vida. A diminuição substancial na
quantidade de ozônio pode colocar em perigo a vida na terra. Com base no
texto, o que é a camada de ozônio?

2 O planeta Terra recebe a radiação solar em ondas curtas e ree-


mite essa radiação em comprimento de onda mais longa. Parte
da radiação incidente é refletida de volta para o espaço pelas
nuvens e pela superfície da Terra. Outra parte é absorvida pela
atmosfera e reirradiada de volta para o espaço e outra ainda é absorvida pela
superfície dos continentes e oceanos. Essa energia envolvida nos processos
citados é usada principalmente para evaporar a água, para a fotossíntese e
para mover as correntes marinhas e de vento. Contudo, antes de ser reirra-
diada para a atmosfera, essa energia é absorvida principalmente pelo vapor
d’água e pelo gás carbônico, e também por alguns outros gases presentes na
atmosfera, os chamados gases estufa. Com base no texto assinale a alternativa
que está diretamente relacionada com o tema do efeito estufa intensificado.
a) ( ) Fenômeno natural que tem como característica manter a Terra a uma
temperatura média de 15°C.
b) ( ) A fração de luz solar refletida de volta para o espaço por um objeto é
chamada de albedo e ajuda no aumento da temperatura do globo.
c) ( ) Os gases que possuem a capacidade de absorver a radiação infravermelha
na atmosfera são conhecidos como gases de efeito estufa.
d) ( ) O aumento da concentração de gases estufa na atmosfera resulta no
redirecionamento de uma maior quantidade de energia infravermelha
refletida para a superfície da Terra.
e) ( ) O aquecimento global é o aumento da temperatura média da Terra,
porém independe do aumento da concentração dos gases estufa.

151
152
UNIDADE 3

A QUÍMICA DA ÁGUA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Caro(a) acadêmico(a)! Os objetivos desta unidade são:

• apresentar a importância e as propriedades da água;

• atender à dinâmica e às interações do ciclo hidrológico;

• conhecer e compreender as principais características químicas da água;

• apresentar os principais poluentes da água e suas fontes;

• conhecer as principais características e a dinâmica dos poluentes hídricos;

• identificar os processos básicos de tratamento da água e esgoto.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 3 está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, leituras
complementares e atividades estarão à sua disposição para a melhor compre-
ensão dos conteúdos abordados.

TÓPICO 1 – IMPORTÂNCIA E PROPRIEDADES DAS ÁGUAS E CICLO HI


DROLÓGICO

TÓPICO 2 – A QUÍMICA DA ÁGUA

TÓPICO 3 – POLUIÇÃO E TRATAMENTO DAS ÁGUAS

153
154
UNIDADE 3
TÓPICO 1

IMPORTÂNCIA E PROPRIEDADES DAS


ÁGUAS E CICLO HIDROLÓGICO

1 INTRODUÇÃO

Caro(a) acadêmico(a)! No Tópico 1 desta unidade apresentaremos a


importância, origem e propriedades da água e o ciclo hidrológico. Sugerimos
que você realize a leitura com muita atenção para poder assimilar o máximo dos
conteúdos expostos. Bons estudos!

2 IMPORTÂNCIA DA ÁGUA

Todas as formas de vida na Terra dependem da água. O ser humano precisa


consumir vários litros de água diariamente para sobreviver. Porém, muito mais
água é usada para outras atividades domésticas como chuveiro, vaso sanitário,
lavação de louças, cozinhar, irrigação de jardins, entre outras. Quantidades
enormes per capita são usadas por indústrias e especialmente para a irrigação na
agricultura (BAIRD; CANN, 2011).

NOTA

No chuveiro e vaso sanitário são gastos diariamente cerca de 50 litros de água;


para lavar louças cerca de 20 litros e para cozinhar 10 litros. Na indústria, podemos citar o
consumo de milhares de litros para produzir um quilograma de carne, algodão e ou arroz
(BAIRD; CANN, 2011).

Do total de água no planeta, 97% é representada pelos oceanos e mares,


sendo inviável para consumo e ou utilização na agricultura. Três quartos da água
doce estão presos nas geleiras e calotas polares, portanto, os lagos e rios constituem
uma das principais fontes de água potável, mesmo constituindo apenas 0,1% do
total de suprimento de água doce. Cerca de metade da água potável é obtida das
águas subterrâneas (BAIRD; CANN, 2011).

155
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

O planeta Terra é uma esfera com 2/3 de sua superfície coberta de água,
flutuando como uma grande bola azul no espaço. A hidrosfera, ou seja, o reservatório
que agrega todos os tipos de água existentes no planeta, contém aproximadamente
1,4 x 109 km³ de água, sendo que os oceanos são os mais velhos (3,8 bilhões de
anos de existência) e são o maior dos reservatórios, conforme podemos verificar na
tabela a seguir (CAMPOS; JARDIM, 2003).

TABELA 5 – TAMANHOS DOS RESERVATÓRIOS E TEMPOS DE RENOVAÇÃO DA ÁGUA GLOBAL

Reservatório Quantidade Tempo de renovação*


Oceanos 1.380.000 37.000
Calota polar, geleiras 29.000 16.000
Águas subterrâneas (trocadas ativamente) 4.000 300
Lagos de água doce 125 10 - 100
Lagos salinos 104 10 - 10.000
Umidade do solo 67 280 dias
Rios 1,32 12 - 20 dias
Vapor de água atmosférico 14 9 dias
* Tempo de renovação em anos, exceto quando citado de outra forma.

FONTE: Odum e Barrett (2011. p. 159)

Na superfície da Terra, a importância da água é atestada quando se comparam


as áreas cobertas por água e gelo com aquelas de terra firme, sendo que do total de 510
x 106 km² da superfície da Terra, 310 x 106 km² estão cobertos pelos oceanos, e 184,94
x 106 km² é área continental, resultando numa proporção entre superfície marítima
e terra firme de 2,42:1. Considerando-se que cerca de 2,5 x 106 km² dos continentes
correspondem aos rios e lagos e até 15 x 106 km² são cobertos por geleiras, esta relação
fica ainda mais desfavorável para as terras emersas. E é por este fato que a Terra é
conhecida como planeta azul, que quando vista do espaço tem predomínio da cor
azul devido à grande quantidade em área da água. Contudo, as águas subterrâneas
também são importantes, pois alimentam poços que são responsáveis por boa parte
do abastecimento de água em grandes centros urbanos e nas áreas secas (KARMANN,
2009).

Assim, a ciclagem da água entre os reservatórios é um processo muito


dinâmico, movido basicamente pela energia solar, e que movimenta cerca de 1 km³
de água por ano apenas entre a hidrosfera e a atmosfera, fazendo com que o tempo de
residência da água na atmosfera seja pequeno, tipicamente de 10 dias, conforme visto
na tabela anterior (CAMPOS; JARDIM, 2003).

Para os seres humanos a água doce tem importância vital na manutenção da


vida, e as águas dos oceanos têm um papel vital na manutenção da vida no planeta
Terra como um todo. O recurso vital água, pode ser visto como um grande potencial
energético a ser explorado, como uma fonte de alimentos a ser sustentada e, também,
como um importante aliado que ameniza o efeito estufa, por meio da absorção de
grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera (CAMPOS; JARDIM, 2003).

156
TÓPICO 1 | IMPORTÂNCIA E PROPRIEDADES DAS ÁGUAS E CICLO HIDROLÓGICO

A substância mais abundante na superfície do planeta é a água, participando


dos processos modeladores por meio da dissolução de materiais terrestres e do
transporte de partículas. É o solvente mais comum disponível na natureza, conhecido
como solvente universal, e seu papel no intemperismo químico é evidenciado pela
hidrólise (PHILIPPI JR, 2005). A água é responsável pelo transporte de partículas por
meio dos rios, desde a forma iônica (em solução) até o cascalho e blocos rochosos,
sendo o meio mais eficiente de erosão da superfície terrestre. Acumula-se em
grandes volumes sob a forma de gelo, formando as geleiras, escarificando o terreno,
arrastando blocos rochosos e esculpindo a paisagem (KARMANN, 2009). Portanto,
a água e a hidrosfera são fundamentais para os processos envolvidos no destino e
transporte químicos no ambiente. Esses incluem os processos físicos de volatilização,
dissolução, precipitação, absorção e liberação ocorridos em sedimentos. Os processos
químicos envolvidos no destino e transporte químicos na água são reações químicas
que resultam em dissolução, precipitação, hidrólise, complexação, oxidação-redução
e reações fotoquímicas (Figura a seguir). São processos que sofrem influência direta
dos fenômenos bioquímicos, como a bioacumulação e a biomagnificação em cadeias
alimentares, além da biodegradação, que nesse sentido, o destino e o transporte de
poluentes na hidrosfera são aspectos muito importantes (MANAHAN, 2013).

FIGURA 39 – PROCESSOS QUÍMICOS ENVOLVIDOS NO DESTINO E TRANSPORTE


QUÍMICOS NA ÁGUA
BIOACUMULAÇÃO

BIOMAGNIFICAÇÃO
FONTE: Adaptado de Manahan (2013, p. 57)

157
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

A água é responsável pela vida na Terra, por meio da fotossíntese,


que produz biomassa (carboidratos) pela reação entre CO2 e H2O. Também é
importante lembrar que praticamente 80% do corpo humano é composto por
água (KARMANN, 2009). Porém, é um bem que está sendo ameaçado por um
possível aquecimento global, que poderia influenciar a circulação oceânica e,
consequentemente, o fluxo de energia (na forma de calor) na Terra. Alguns estudos
são desenvolvidos para avaliar como as emissões de partículas de aerossóis e de
gases pelos oceanos podem influenciar a composição química da atmosfera e até
mesmo o clima global (CAMPOS; JARDIM, 2003).

2.1 A ORIGEM DA ÁGUA

A origem da primeira gota de água está relacionada aos processos iniciais


da diferenciação do planeta. A origem da primeira água na história da Terra está
relacionada com a formação da atmosfera, ou seja, a desgaseificação do planeta.
Este por sua vez é o fenômeno de liberação de gases por um sólido ou líquido
quando aquecido ou resfriado. Esse processo é atuante ainda hoje, porém, teve
início na fase de resfriamento geral da Terra, após a fase inicial de fusão parcial.
Neste gradativo resfriamento e formação de rochas ígneas, foram liberados gases,
principalmente vapor de água (H2O) e dióxido de carbono (CO2). Outros gases
também foram produzidos como subprodutos voláteis da cristalização do magma
(KARMANN, 2009).

Atualmente ainda observa-se a geração de água na forma de vapor por meio


das erupções vulcânicas, sendo chamada de água juvenil. Os geólogos acreditam
que o volume de água que atualmente compõe a hidrosfera surgiu repentinamente
num certo momento. Existem evidências geoquímicas que suportam a formação de
quase toda a atmosfera e a água hoje disponível nessa primeira fase de resfriamento
da Terra. Desde então, esse volume teria sofrido pequenas variações, apenas por
reciclagem por meio do ciclo das rochas (KARMANN, 2009).

3 CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADE DAS ÁGUAS

A água possui diversas propriedades exclusivas como o caráter polar,


a tendência de formar pontes de hidrogênio e a capacidade de hidratar íons
metálicos. Essas propriedades essenciais à vida estão relacionadas na tabela a
seguir (MANAHAN, 2013).

158
TÓPICO 1 | IMPORTÂNCIA E PROPRIEDADES DAS ÁGUAS E CICLO HIDROLÓGICO

TABELA 6 – PROPRIEDADE DA ÁGUA

Propriedade Efeitos e implicações


Transporte de nutrientes e produtos de resíduos,
Solvente universal possibilitando processos biológicos em meio
aquoso.
Maior constante dielétrica entre os líquidos Alta solubilidade de substâncias iônicas, ionização
mais comuns. dessas substâncias em solução.
Maior tensão superficial entre todos os Fator de controle na fisiologia; governa os
líquidos. fenômenos de gota e de superfície.
Incolor, permitindo que a luz necessária à
Transparente aos comprimentos de onda da
fotossíntese alcance profundidades consideráveis
luz visível e do UV.
em corpos hídricos.
Flutuação do gelo; circulação vertical em corpos
Densidade máxima como líquido a 4°C.
hídricos.
Maior calor de evaporação entre todos os Determina a transferência de calor e de moléculas
materiais. de água entre a atmosfera e corpos hídricos.
Maior calor latente de fusão entre os líquidos Temperatura estabilizada no ponto de
mais comuns. congelamento da água.
Maior capacidade calorífica que qualquer Estabilização das temperaturas de organismos e
outro líquido, depois da amônia líquida. regiões geográficas.

FONTE: Manahan (2013, p. 60)

Para se compreender as propriedades da água deve ser estudada a


estrutura e as ligações químicas de sua molécula. A molécula da água é composta
por dois átomos de hidrogênio ligados a um átomo de oxigênio, formando um
ângulo de 105°. Devido à estrutura não linear da molécula e ao fato de o átomo de
oxigênio atrair elétrons com mais intensidade do que os átomos de hidrogênio, a
molécula da água se comporta como um dipolo, com duas cargas elétricas opostas
em cada extremidade. O dipolo água é atraído por íons com carga positiva ou
negativa. Como exemplo podemos citar o caso do NaCl que quando se dissolve
em água como íons (Na+) positivos e (Cl-) negativos, o íon sódio positivo é cercado
por moléculas de água com seus polos negativos apontando para ele, enquanto
o íon cloro é envolto por moléculas de água com seus polos positivos apontando
para seu centro. É este tipo de atração por íons que caracteriza a propriedade de
dissolver os compostos iônicos e sair insolúveis em outros líquidos (MANAHAN,
2013).

Alguns destes íons, como o cloreto (abundante em águas de alta salinidade),


são chamados de conservativos porque são pouco reativos, e suas concentrações
dependem apenas dos processos de mistura. Outros, como o íon bicarbonato e o
íon hidrogênio são considerados não conservativos, pois podem ser consumidos
ou gerados no corpo aquático, e suas concentrações variam independentemente
dos processos de mistura. Fundamentalmente, as águas salgadas têm altas
concentrações de íons quando comparadas àquelas encontradas tipicamente em
águas doces e uma composição química mais homogênea em todo o planeta do
que as águas subterrâneas, de rios e lagos (CAMPOS; JARDIM, 2003).

159
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

Uma segunda característica importante da molécula da água é a sua


capacidade de formar pontes de hidrogênio, ou seja, a ligação entre o hidrogênio de
uma molécula de água e o oxigênio de outra molécula de água, conforme se pode
verificar na figura a seguir. As pontes de hidrogênio ocorrem porque o oxigênio
tem uma carga parcial negativa e o hidrogênio tem uma carga parcial positiva. As
pontes de hidrogênio mantêm as moléculas juntas formando grupos volumosos
(MANAHAN, 2013).

FIGURA 40 – PONTES DE HIDROGÊNIO ENTRE MOLÉCULAS DE ÁGUA E ENTRE


MOLÉCULAS DE ÁGUA E SOLUTO

FONTE: Manahan (2013, p. 61)

As pontes de hidrogênio ajudam a manter em solução algumas moléculas


ou íons de solutos, pois as pontes de hidrogênio se formam entre as moléculas de
água e os átomos de hidrogênio, nitrogênio ou oxigênio na molécula do soluto
conforme a figura anterior. As pontes de hidrogênio também ajudam a manter
em suspensão na água partículas pequenas, chamadas de partículas coloidais
(MANAHAN, 2013).

160
TÓPICO 1 | IMPORTÂNCIA E PROPRIEDADES DAS ÁGUAS E CICLO HIDROLÓGICO

Estas ligações de hidrogênio também proporcionam à água líquida o


elevado calor específico (ou capacidade calorífica específica) de 1,0 cal g-1 °C-1.
Para entender melhor, é necessário fornecer uma grande quantidade de energia na
forma de calor (1 cal) para poder elevar a temperatura de 1 g de água líquida em
1°C. A energia que seria consumida para aumentar a movimentação das moléculas
é inicialmente absorvida para quebrar as ligações de hidrogênio e, portanto, a
água absorve energia sem aumentar sua temperatura drasticamente (CAMPOS;
JARDIM, 2003).

O alto calor específico da água tem implicações diretas no clima e na vida


do planeta, prevenindo variações rápidas de temperatura da água, observadas
quando vamos à praia. Muitas vezes, no meio do dia, sentimos a areia queimando
nossos pés, enquanto que a água do mar permanece fria. Isto acontece porque
a areia tem um calor específico muito mais baixo que o da água, ou seja, o calor
que a areia absorve eleva eficientemente sua temperatura, gerando gradientes
de temperatura na areia ao longo de um dia. Portanto, o oceano retém cerca de
1100 vezes mais calor que a atmosfera. O elevado calor específico da água faz com
que apenas 2,5 m de coluna d’água do oceano seja equivalente a toda capacidade
calorífica da atmosfera que está sobre o oceano (CAMPOS; JARDIM, 2003).

Outras propriedades físicas importantes da água, para compreendermos


a importância do oceano no clima global são o calor latente de fusão e
vaporização. O calor latente de fusão é a quantidade de calor necessária para
transformar 1 g de uma substância do estado sólido para o estado líquido ou
vice-versa. Já o calor latente de vaporização refere-se à transição entre o estado
líquido e gasoso. O elevado calor latente de fusão da água (80 cal) provoca um
efeito termostático no ponto de congelamento, pois uma grande quantidade
de energia precisa ser emitida ou absorvida para que haja mudança de estado,
evitando a rápida formação de gelo na coluna d’água. A presença de sais na
água do mar (cerca de 35 g kg-1) diminui seu ponto de congelamento para -1,9°C
e, por isto, a água do mar nunca atinge temperaturas inferiores a este valor
(CAMPOS; JARDIM, 2003).

As moléculas carregam grandes quantidades de energia quando a


água passa do estado líquido para o gasoso, devido ao elevado calor latente de
vaporização (540 cal g-1). Portanto, quando há transferência de água do oceano
para a atmosfera existe, também, a transferência de calor. O vapor d’água na
atmosfera é transportado para outras regiões do planeta e, quando condensa
na forma de chuva, ocorre a liberação do calor latente. A mesma quantidade
de energia absorvida no processo de vaporização é liberada para a atmosfera.
Isto significa que o calor é transportado de uma região do planeta para outra,
na forma de calor latente de vaporização, o que é muito importante para a
distribuição de calor e estabilização do sistema climático global (CAMPOS;
JARDIM, 2003).

FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAYkcAF/biogeoquimica-


hidrosfera>. Acesso em: 24 jan. 2014.

161
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

No verão, o calor é armazenado nos oceanos e, durante o inverno, parte


desse calor é transferida de volta para a atmosfera, amenizando, a temperatura
do ar. Apenas compreendendo o significado do elevado calor específico da água,
somado ao seu grande volume, já podemos perceber porque o oceano age como
moderador climático, diminuindo a amplitude das variações de temperatura entre
as estações do ano, e transferindo calor das regiões tropicais para as subtropicais e
polares por meio das correntes marinhas. Se não fossem os oceanos, nosso planeta
teria dias muito quentes e noites muito frias (CAMPOS; JARDIM, 2003).

A água é um ótimo solvente para diversos materiais. É o meio de transporte


básico de nutrientes e resíduos gerados pelos processos biológicos. Sua constante
dielétrica extremamente alta, comparada à de outros líquidos, exerce efeito
profundo nas propriedades solventes da água, permitindo que a maioria dos
materiais iônicos se dissocie nela (MANAHAN, 2013).

4 CICLO HIDROLÓGICO

O ciclo da água, ou também ciclo hidrológico, está relacionado ao


movimento da água do seu maior reservatório, os oceanos, por evaporação para
a atmosfera (menor reservatório) e, posteriormente, pela precipitação (chuva) de
volta para a superfície da Terra. Em seguida, há a infiltração e o escoamento nos
continentes, e eventual retorno das águas aos oceanos. Parte da chuva volta para
o ar por evaporação e transpiração da vegetação. Cerca de um terço da incidência
de energia solar está envolvida na condução do ciclo da água. Ainda que hoje
a quantidade global de água na Terra seja igual à da era glacial, a quantidade
congelada variou muito ao longo do tempo geológico. O fluxo da água também
varia de lugar para lugar, e vem sendo cada vez mais afetado pelas atividades
humanas (PRESS et al., 2006; ODUM; BARRETT, 2011). Porém, o ciclo hidrológico
pode ser considerado um ciclo de renovação natural da qualidade da água
(MILLER JR, 2012).

A partir do volume total de água que é relativamente constante no sistema


Terra, podemos acompanhar o ciclo hidrológico conforme apresentado na figura
a seguir.

162
TÓPICO 1 | IMPORTÂNCIA E PROPRIEDADES DAS ÁGUAS E CICLO HIDROLÓGICO

FIGURA 41 – CICLO HIDROLÓGICO

FONTE: Karmann (2000, p. 115)

No início do ciclo hidrológico ocorre o fenômeno da precipitação meteórica


que representa a condensação de gotículas a partir do vapor de água presente na
atmosfera, originando a chuva.

Quando o vapor de água se transforma diretamente em cristais de


gelo e estes por aglutinação, atinge tamanho e peso suficientes. A precipitação
ocorre na forma de neve ou granizo, responsável pela geração e manutenção de
importante reservatório representado pelas geleiras nas calotas polares e nos
cumes de montanhas (KARMANN, 2009).

FONTE: Disponível em: <http://www.outorga.com.br/pdf/Artigo%20123%20-%20Ciclo%20


hidrol%C3%B3gico.pdf >. Acesso em: 24 jan. 2014.

Parte da precipitação retorna para a atmosfera por evaporação direta durante


seu percurso em direção à superfície terrestre, somando-se ao vapor de água formado
sobre o solo e aquele liberado pelas atividades biológicas de organismos, principalmente
pelas plantas, por meio da respiração. Este conjunto de processos é denominado de
evapotranspiração, na qual a evaporação direta é causada pela radiação solar e vento,
enquanto a transpiração depende da vegetação (KARMANN, 2009).

163
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

A evapotranspiração em áreas florestadas de clima quente e úmido é


responsável em devolver à atmosfera até 70% da precipitação. Já em ambientes
glaciais o retorno da água para a atmosfera ocorre pela sublimação do gelo,
passando diretamente do estado sólido para o gasoso, por meio da ação do vento.
Nas regiões com florestas, uma fração da precipitação pode ser retida sobre folhas
e caules, sofrendo evaporação posteriormente, processo a que se atribui o nome
de interceptação. Com a movimentação das folhas pelo vento, uma parte da
água retida continua seu trajeto para o solo. Portanto, a interceptação diminui o
impacto das gotas de chuva sobre o solo, reduzindo as chances de provocar erosão
(KARMANN, 2009).

A gotícula de água no solo pode seguir por dois caminhos, sendo que o
primeiro é a infiltração, dependente das características do material de cobertura
da superfície. Conduzida pela força gravitacional, a água de infiltração, tende a
preencher os vazios no subsolo, seguindo em profundidade, onde abastece o corpo
de água subterrânea. A segunda possibilidade ocorre quando a capacidade de
absorção de água pela superfície é superada e o excesso de água inicia o escoamento
superficial, impulsionado pela gravidade para zonas mais baixas (KARMANN,
2009).

Por sua vez, esse escoamento tem início por meio de pequenos filetes
de água, efêmeros e disseminados pela superfície do solo, que convergem para
os córregos e rios, constituindo a rede de drenagem. O escoamento superficial,
geralmente, tem como destino final os oceanos. Também é bom salientar que
parte da água de infiltração retorna à superfície pelas nascentes, alimentando o
escoamento superficial ou, por rotas de fluxo mais profundas e lentas, reaparecendo
diretamente nos oceanos (KARMANN, 2009).

Durante o trajeto geral do escoamento superficial nas áreas emersas e,


principalmente na superfície dos oceanos, ocorre a evaporação, realimentando
o vapor de água atmosférico e completando o ciclo hidrológico. Estima-se que
os oceanos contribuam com 85% do total anual evaporado e os continentes com
15% por evapotranspiração (KARMANN, 2009).
FONTE: Disponível em: <http://www.creadigital.com.br/portal?txt=3777333231>. Acesso em: 24
jan. 2014.

A maior parte da água da atmosfera tem origem no próprio ciclo hidrológico,


ou seja, é a energia solar que evapora a água da superfície dos corpos d'água ou da
biota mediante a evapotranspiração, e libera o vapor de água para a atmosfera. Na
atmosfera, pelas correntes de ar e ventos, difunde-se pela troposfera. Esta água da
troposfera pode sofrer além das transformações físicas, que conduzem às demais
etapas do ciclo hidrológico, transformações fotoquímicas e químicas (LENZI e
FAVERO, 2011).

164
TÓPICO 1 | IMPORTÂNCIA E PROPRIEDADES DAS ÁGUAS E CICLO HIDROLÓGICO

Podemos verificar na figura a seguir a inclusão das estimativas da quantidade


de água e do fluxo anual que entra e sai dos grandes estoques reservatórios.

FIGURA 42 – ESTOQUES E FLUXOS GLOBAIS DE ÁGUA NA TERRA (VALORES EXPRESSOS EM


TERRATONS – 1018 g)

FONTE: Odum e Barrett (2011, p. 158)

Já na figura a seguir, o ciclo hidrológico está exemplificado em termos


de energia, como uma alça ascendente (evaporação) acionada pelo Sol e uma
alça descendente (precipitação) que libera energia utilizável pelo ecossistema e
para geração de energia hidrelétrica. Cerca de um terço de toda a energia solar
é dissipado na condução do ciclo da água. Como podemos perceber, estamos
mais uma vez dependentes da energia solar como um serviço do capital natural
(ODUM; BARRETT, 2011).

165
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

FIGURA 43 – FLUXO ENERGÉTICO DO CICLO HIDROLÓGICO

FONTE: Odum e Barrett (2011, p. 158)

Dois aspectos do ciclo hidrológico devem ser enfatizados:

• Evapora mais água do oceano do que retorna a ele por meio da chuva no
continente e vice-versa. Uma parte considerável das chuvas que sustentam os
ecossistemas terrestres, incluindo a maioria da produção de alimentos, vem da
água evaporada do mar.
• As atividades humanas tendem a aumentar o índice pluviométrico por meio
da pavimentação da terra, abrindo e represando rios, compactação dos solos
agrícolas e pelo desmatamento, reduzindo a recarga do compartimento da água
subterrânea. Este por sua vez é o terceiro maior reservatório global de água,
contendo cerca de 13 vezes mais água que toda a água doce nos lagos, rios e
solos. Os aquíferos são os maiores depósitos de água subterrânea, constituindo-
se de camadas porosas subterrâneas, frequentemente de rocha calcária, areia ou
cascalho, confinados por rochas ou argila impenetráveis que retém a água como
um tubo gigante ou um tanque extenso (ODUM; BARRETT, 2011).

LEITURA COMPLEMENTAR

MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS E DISPONIBILIDADE HÍDRICA


SOBRE O NORDESTE

Em adição aos processos atmosféricos e oceânicos que causam a variabilidade


dos totais pluviométricos interanual a intrasazonal sobre o Nordeste, há evidências
observacionais e de resultados de modelos matemáticos do clima global que indicam
166
TÓPICO 1 | IMPORTÂNCIA E PROPRIEDADES DAS ÁGUAS E CICLO HIDROLÓGICO

a existência de tendências de variações sistemáticas nas escalas de dezenas a centenas


de anos, as quais são devidas em parte ao acúmulo de gases de efeito estufa de
origem antrópica na atmosfera. Estudos de geração de cenários de mudanças
climáticas, realizados com modelos matemáticos do sistema terrestre para o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), apresentam indicadores
convergentes sobre a tendência de aumento das temperaturas do ar sobre a Amazônia
e o Nordeste. Já sobre a pluviosidade, os sinais dos modelos globais utilizados para os
estudos de mudanças climáticas apresentam sinais menos convergentes do que para
a temperatura, não obstante predominem resultados indicando para possível redução
dos totais pluviométricos anuais sobre o Nordeste do Brasil.

Estudos mais detalhados dos impactos das mudanças climáticas globais


sobre a América do Sul indicam que a Região Nordeste do Brasil se encontra dentre
as regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas, com um quadro de aumento
da temperatura média do ar, aumento da frequência de noites quentes e diminuição
dos totais anuais de precipitação sobre a região. Estudos de detecção de mudanças
climáticas sobre o Nordeste também indicam um forte aquecimento do ar em alguns
postos meteorológicos com séries temporais com mais de quarenta anos de dados, como
detectado num estudo de Lacerda e Nobre (2010) sobre o sertão de Pernambuco. Tal
estudo também documenta a redução pluviométrica anual e o aumento da frequência
da ocorrência e duração de veranicos em postos pluviométricos com séries longas
de dados no sertão de Pernambuco. Conforme verificado na estação climatológica
do Instituto de Pesquisas Agropecuárias de Pernambuco (IPA), em Vitória de Santo
Antão – PE, houve um aumento de aproximadamente 0,8 grau Celsius por década
no período de 1950 a 2010, marca similar ao observado na localidade Araripina – PE.
Enquanto o aumento de temperatura do ar está muito acima da média global, que é
de aproximadamente 0,7 grau centígrado em cem anos, indica que valores médios
de aquecimento global não se aplicam para todas as localidades. Dependendo de
condições microclimáticas locais, assim como dos padrões de mudança do uso da
terra, é plausível que as mudanças climáticas já em curso, assim como durante as
próximas décadas, serão diversas.

Quanto à precipitação, a variabilidade espacial e as tendências de mudanças


com o tempo são ainda mais variáveis do que a temperatura. Em estudo recente ainda
não publicado, Nobre e Lacerda coletam evidências observacionais em conjunto de
postos pluviométricos com mais de 40 anos de dados no semiárido de Pernambuco,
indicando uma tendência à diminuição dos totais pluviométricos anuais e aumento
da duração máxima de veranicos. Combinado com as observações de tendência de
aumento de temperatura doar e assumindo representatividade das séries temporais
analisadas para todo o semiárido, conclui-se que as condições para aridização do
semiárido são um processo já instalado.

Para final do século XXI, os cenários de mudanças climáticas do IPCC-AR4


indicam que a Região Nordeste venha a registrar um aquecimento médio entre 2 a
4ºC, relativamente à media climatológica dos últimos 30 anos, e 15-20% mais seco.
Alta evaporação, induzida pelo aumento da temperatura, e redução da pluviosidade
devem afetar a disponibilidade de umidade do solo e reduzir os volumes de água
armazenada em açudes, com a área mais afetada sendo o semiárido.

167
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

Assim, a região semiárida do Nordeste, onde chove em média 600 milímetros


por ano de modo concentrado em poucos meses, sofre grande risco de desertificação;
i.e., mais seco, com solos empobrecidos e menor diversidade biológica. Com a
diminuição das chuvas, uma quantidade menor de água percola no solo, reduzindo a
recarga dos lençóis freáticos. Estima-se que possa ocorrer uma redução de até 70% na
recarga dos aquíferos na Região Nordeste

As projeções de clima futuro publicadas pelo Quarto Relatório do IPCC (IPCC


AR4) mostraram cenários de ocorrência de secas e eventos de precipitação extremos
em diversas áreas do planeta. No Brasil, a região mais vulnerável às mudanças
climáticas globais é o semiárido do Nordeste. A maioria dos modelos globais do
IPCC AR4 mostra reduções de precipitações e aquecimento que podem ultrapassar
os 3ºC no semiárido nordestino em meados do século XXI. Tal conjunção de fatores
da pluviometria e temperatura poderia acarretar, como exemplo, uma redução de até
20% nas vazões do rio São Francisco.

O Relatório do Clima do Brasil, produzido recentemente pelo Instituto


Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), avalia as mudanças climáticas no Brasil até o
final do século XXI. Utilizando modelos atmosféricos regionais com resolução de até
50 km, o relatório conclui que, no cenário otimista de missões globais de gases de efeito
estufa do IPCC AR4, o aquecimento sobre o Nordeste do Brasil chegaria a 1-3ºC e a
chuva ficaria entre 10-15% menor que no presente. Já no cenário climático pessimista,
e mais próximo dos níveis observados de emissões globais de gases de efeito estufa,
as temperaturas aumentariam de 2ºC a 4ºC e as chuvas reduziriam entre 15-20% no
Nordeste até o final do século XXI. Como consequências de tais cenários de mudanças
no clima do Nordeste, o relatório do INPE lista aos seguintes impactos:

• A caatinga pode dar lugar a uma vegetação mais típica de zonas áridas, com
predominância de cactáceas. O desmatamento da Amazônia também afetará a
região.
• Um aumento de 3ºC ou mais na temperatura média deixaria ainda mais secos os
locais que hoje têm maior déficit hídrico no semiárido.
• A produção agrícola de subsistência de grandes áreas pode se tornar inviável,
colocando a própria sobrevivência do homem em risco.
• O alto potencial para evaporação do Nordeste, combinado com o aumento de
temperatura, causaria diminuição da água de lagos, açudes e reservatórios.
• O semiárido nordestino ficará vulnerável a chuvas torrenciais e concentradas em
curto espaço de tempo, resultando em enchentes e graves impactos socioambientais.
Porém, e mais importante, espera-se uma maior frequência de dias secos consecutivos
e de ondas de calor decorrente do aumento na frequência de veranicos.
• Com a degradação do solo, aumentará a migração para as cidades costeiras,
agravando os problemas urbanos.

Para ler o artigo completo acesse a referência:

FONTE: MAGALHÃES, A. R. Coord. A Questão da Água no Nordeste. Centro de Gestão e Estudos


Estratégicos; Agência Nacional de Águas. Brasília: CGEE, 2012.

168
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Do total de água no planeta, 97% é representada pelos oceanos e mares, é inviável


para consumo e utilização na agricultura.

• Para os seres humanos a água doce tem importância vital na manutenção da vida,
e as águas dos oceanos têm um papel vital na manutenção da vida no planeta
Terra como um todo.

• A origem da primeira água na história da Terra está relacionada com a formação


da atmosfera, ou seja, a degaseificação do planeta.

• A água possui diversas propriedades exclusivas como o caráter polar, a tendência


de formar pontes de hidrogênio e a capacidade de hidratar íons metálicos.

• A água tem a capacidade de formar pontes de hidrogênio, ou seja, a ligação


entre o hidrogênio de uma molécula de água com o oxigênio de outra molécula
de água.

• Estas ligações de hidrogênio também proporcionam à água líquida o elevado


calor específico (ou capacidade calorífica específica).

• No verão, o calor é armazenado nos oceanos e, durante o inverno, parte desse


calor é transferida de volta para a atmosfera, amenizando, a temperatura do ar.

• O ciclo da água, ou também ciclo hidrológico, está relacionado ao movimento


da água do seu maior reservatório, os oceanos, por evaporação para a atmosfera
(menor reservatório) e, posteriormente, pela precipitação (chuva) de volta para
a superfície da Terra.

• A evapotranspiração em áreas florestadas de clima quente e úmido é responsável


em devolver à atmosfera até 70% da precipitação.

• A maior parte da água da atmosfera tem origem no próprio ciclo hidrológico, ou


seja, é a energia solar que evapora a água da superfície dos corpos d’água ou da
biota mediante a evapotranspiração, e libera o vapor de água para a atmosfera.

169
AUTOATIVIDADE

Caro (a) acadêmico (a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos
exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno de
Estudos. Bom trabalho!

1 A água é responsável pela vida na Terra, por meio da


fotossíntese, que produz biomassa pela reação entre CO2 e
H2O. Também é importante lembrar que praticamente 80% do
corpo humano é composto por água. Porém, é um bem que
está sendo ameaçado por um possível aquecimento global, que poderia
influenciar a circulação oceânica e, consequentemente, o fluxo de energia
(na forma de calor) na Terra. Com base neste texto, quais seriam os processos
de destino e transporte químico influenciados no ciclo hidrológico se por
ventura o aquecimento global se confirmar?

2 A maior parte da água da atmosfera tem origem no próprio


ciclo hidrológico, ou seja, é a energia solar que evapora a
água da superfície dos corpos d’água ou da biota mediante a
evapotranspiração, e libera o vapor de água para a atmosfera.
Com base no texto, analise as assertivas a seguir:
I. A gotícula de água no solo pode seguir por dois caminhos, sendo que o
primeiro é a infiltração e o segundo é a percolação.
II. Quando o vapor de água se transforma diretamente em cristais de gelo e
estes por aglutinação, atingem tamanho e peso suficientes e a precipitação
ocorre na forma de neve ou granizo.
III. O ciclo da água, ou também ciclo hidrológico, está relacionado ao
movimento da água do seu maior reservatório, os oceanos, por evaporação
para a atmosfera e, posteriormente, pela precipitação de volta para a
superfície da Terra.
IV. A evapotranspiração em áreas florestadas de clima quente e úmido é
responsável por devolver à atmosfera até 1% da precipitação.
V. Evapora mais água do oceano do que retorna a ele por meio da chuva no
continente e vice-versa.
É correto o que afirma em:
a) ( ) As assertivas II e III.
b) ( ) As assertivas I, III, IV e V.
c) ( ) As assertivas I, II e III.
d) ( ) As assertivas II, III e V.
e) ( ) A assertiva I apenas.

170
UNIDADE 3
TÓPICO 2

A QUÍMICA DA ÁGUA

1 INTRODUÇÃO

A química da água estuda a água de rios, lagos, estuários, oceanos, além das
águas subterrâneas e dos fenômenos que determinam a distribuição e a circulação
de espécies químicas em águas naturais, e pressupõe algum entendimento das
fontes, do transporte, das características e da composição da água.

As reações químicas que ocorrem na água e as espécies químicas encontradas


nela estão sob forte influência do ambiente onde a água é encontrada. A química
da água exposta à atmosfera é muito diferente da química da água no fundo de um
lago. Os micro-organismos desempenham um papel essencial na determinação da
composição química da água. Portanto, ao discutir a química aquática é necessário
levar em consideração muitos fatores gerais que a influenciam (MANAHAN,
2013).

Comparando as condições controladas de um laboratório com a descrição


dos fenômenos químicos nos sistemas de águas naturais é muito mais difícil. Esses
sistemas, conforme a figura a seguir, são muito complexos, e uma descrição de
sua química precisa levar em conta inúmeras variáveis. Esses sistemas contêm
água, fases minerais, gasosas e organismos. Na qualidade de sistemas abertos e
dinâmicos, as entradas e saídas de energia e de massa são variáveis. Portanto, é
difícil encontrar um cenário de equilíbrio verdadeiro, embora um sistema aquático
em estado quase estacionário exista com frequência. Em sua maioria, os metais
encontrados em águas naturais não existem como cátions simples hidratados
na água, e os oxiânions são muitas vezes encontrados na forma de espécies
polinucleares (MANAHAN, 2013).

171
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

FIGURA 44 – OS PRINCIPAIS PROCESSOS AQUÁTICOS

FONTE: Manahan (2013, p. 64)

A natureza das espécies químicas na água é fortemente influenciada pela


ação de organismos como as bactérias ou as algas. Logo, uma descrição precisa de
um sistema de águas naturais com base nas constantes ácido-base, de solubilidade
e de equilíbrio de complexação, no potencial redox, no pH e em outros parâmetros
químicos é impossível. Portanto, esses sistemas são descritos de acordo com
modelos simplificados, muitas vezes, fundamentados em conceitos de equilíbrio
químico. Ainda que não sejam exatos, nem reflitam a realidade por completo,
esses modelos permitem fazer generalizações úteis e desenvolver noções acerca da
natureza dos processos químicos aquáticos, fornecendo diretrizes para a descrição
e mensuração de sistemas de águas naturais. Embora simplificados, esses modelos
são valiosos na visualização das condições que determinam espécies químicas e
suas reações em águas naturais e residuárias (MANAHAN, 2013).

2 O OXIGÊNIO NA ÁGUA

O oxigênio dissolvido (OD) é um fator indispensável para a sobrevivência


de muitos tipos de organismos aquáticos. O oxigênio dissolvido é consumido pela
degradação da matéria orgânica na água e muitas ocorrências de mortandade de
peixes se devem não à toxicidade direta dos poluentes, mas à falta de oxigênio
devido ao seu consumo na biodegradação desses poluentes (MANAHAN, 2013).

172
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA ÁGUA

A maior parte do oxigênio dissolvido é proveniente da atmosfera, que


contém 20,95% do elemento em sua composição por volume de ar seco. Logo, a
capacidade de um corpo hídrico de se reoxigenar ao contato com a atmosfera é
um atributo importante. Sabe que o oxigênio é produzido por meio dos processos
fotossintéticos das algas, porém esse processo não é eficiente como meio de
oxigenar a água. Essa ineficiência é explicada pelo fato de o oxigênio formado pela
fotossíntese durante o dia ser perdido à noite, quando as algas passam a consumi-
lo como parte de seu processo metabólico. Quando morrem, a degradação de sua
biomassa também consome oxigênio (MANAHAN, 2013).

A solubilidade do oxigênio na água depende da temperatura da água,


da pressão parcial do oxigênio na atmosfera e da quantidade de sal na água. É
importante fazer uma distinção entre a solubilidade do oxigênio, a concentração
máxima de oxigênio, em uma situação de equilíbrio, e a concentração de OD,
que em geral não é a concentração de equilíbrio e é limitada pela taxa em que o
oxigênio se dissolve. A concentração de oxigênio na água a 25°C em equilíbrio com
o ar na pressão atmosférica é de apenas 8,32 mg L-1. A concentração de oxigênio
dissolvido em água é pequena e, portanto, deficiente do ponto de vista ecológico
(BAIRD; CANN, 2011). Com isso, a água em equilíbrio com o ar não tem condições
de apresentar um nível alto de oxigênio dissolvido. Se processos consumidores
de oxigênio estão ocorrendo na água, o nível de OD pode se aproximar de zero
com rapidez, a menos que algum mecanismo eficiente de aeração esteja em
operação, como o fluxo turbulento em uma corrente de pouca profundidade
ou o bombeamento de ar no tanque de aeração de uma estação de tratamento
secundário de esgoto com lodo ativado (MANAHAN, 2013).

A água que é aerada por meio dos cursos de água e rios é constantemente
reabastecida de oxigênio. Contudo, a água parada ou que está próxima do fundo
do lago é quase que completamente deficiente de oxigênio, devido sua reação com
a matéria orgânica e da falta de qualquer mecanismo que possibilite uma reposição
com rapidez, já que a difusão é um processo lento. A capacidade da matéria orgânica
e biológica em uma amostra de água natural de consumir oxigênio, processo este
que é catalisado pelas bactérias presentes, é chamado de demanda bioquímica de
oxigênio (DBO) (BAIRD; CANN, 2011).

NOTA

Não podemos esquecer de que a DBO é igual à quantidade de oxigênio consumido


resultante da oxidação da matéria orgânica consumida por uma amostra de água. Estas
reações de oxidação são catalisadas pela ação de micro-organismos presentes na água natural
(BAIRD; CANN, 2011).

173
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

Se representarmos a matéria orgânica de origem biológica pela fórmula


(CH2O), o consumo de oxigênio na água pela degradação de matéria orgânica é
expresso pela reação bioquímica (R-1).

A redução dos níveis de oxigênio dissolvido abaixo daqueles que garantem


a vida dos organismos aeróbios requer a degradação de uma quantidade ainda
menor de matéria orgânica em temperaturas mais altas (em que a solubilidade do
oxigênio é menor) ou em água não totalmente saturada com o oxigênio atmosférico.
Outro fator importante é que não existem reações químicas de reabastecimento
do OD ocorrendo corriqueiramente no ambiente aquático, e com a exceção do
oxigênio disponibilizado por meio da fotossíntese, o restante do gás tem que vir
da atmosfera (MANAHAN, 2013).

Outro efeito importante é a influência da temperatura na solubilidade dos


gases na água, principalmente no caso do oxigênio. A solubilidade do oxigênio na
água em equilíbrio com o ar atmosférico diminui de 14,74 mg L-1 a 0°C para 7,03
mg L-1 a 35°C. Em temperaturas mais altas, a solubilidade reduzida do oxigênio,
juntamente com a maior taxa respiratória dos organismos aquáticos, pode levar a
uma condição em que uma demanda maior por oxigênio, acompanhada de menores
níveis de solubilidade do gás na água, acarreta uma grave diminuição nos níveis do
gás, podendo comprometer a vida naquele sistema aquático (MANAHAN, 2013).

2.1 DECOMPOSIÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA EM ÁGUA

Estando presentes as bactérias certas, a matéria orgânica dissolvida será


descomposta em água sob condições anaeróbias, ou seja, sem a presença do
oxigênio. As condições anaeróbias vão ocorrer naturalmente nas águas paradas
encontradas em pântanos e no fundo dos lagos. A bactéria age sobre o carbono
gerando um processo de perda de proporções, ou seja, parte do carbono é oxidado
na forma de dióxido de carbono (CO2) e o restante é reduzido a metano (CH4),
conforme podemos observar na reação (R-2) (BAIRD; CANN, 2011).

174
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA ÁGUA

Esta reação representa um processo muito conhecido, a fermentação, que é


definida como aquela em que ambos os agentes oxidantes e redutores são materiais
orgânicos. O produto desta reação, o metano, é quase insolúvel em água, com isso,
forma bolhas que podem ser vistas sendo exaladas na superfície de pântanos e
algumas se incendeiam. Na verdade, o metano foi inicialmente chamado de gás do
pântano. A mesma reação química ocorre em biodigestores usados principalmente
por populações rurais para converter resíduos orgânicos produzidos por animais
em gás metano, que pode ser usado como um combustível (BAIRD; CANN, 2011).

NOTA

Caro(a) acadêmico(a)! É importante salientar que atualmente devido às ações de


mitigação dos gases de efeito estufa, existem muitos projetos de Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo que atuam na eliminação do gás metano (potente gás estufa), utilizando modernos e
eficientes biodigestores.

Uma vez que as condições anaeróbias são quimicamente redutoras,


compostos insolúveis de Fe3+ (ferro III) que estão presentes em sedimentos no
fundo de lagos são convertidos pela redução em compostos solúveis de Fe2+ (ferro
II) por meio dos elétrons disponíveis, conforme verificado na reação (R-3).

É muito comum encontrar condições aeróbias e anaeróbias ao mesmo


tempo em diferentes partes do mesmo lago, principalmente no verão, quando
uma estratificação estável de distintas camadas normalmente ocorre conforme
podemos observar na figura a seguir. A água na superfície do lago é aquecida pela
absorção da luz solar, enquanto que abaixo do nível de incidência da luz solar
permanece fria. Uma vez que a água aquecida é menos densa que a fria, esta flutua
sobre a camada mais fria que fica abaixo, e pouca transferência térmica ocorre. A
superfície da camada, chamada de epilímnio, normalmente possui um nível de
saturação de oxigênio dissolvido, em virtude do contato com o ar e do oxigênio
produzido durante a fotossíntese das algas (BAIRD; CANN, 2011).

175
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

FIGURA 45 – ESTRATIFICAÇÃO DE LAGOS NO VERÃO

FONTE: Baird e Cann (2011, p. 589)

3 A ACIDEZ E O DIÓXIDO DE CARBONO NA ÁGUA

Os fenômenos ácidos-base na água envolvem a doação e a recepção do íon


H . As espécies químicas que atuam como ácidos na água doam o íon H+, enquanto
+

que as que como bases, recebendo o H+. A água desempenha as duas funções. Uma
espécie importante na química ácido-base da água é o íon bicarbonato (HCO3-),
que também pode atuar como ácido ou base, conforme podemos observar nas
reações (R-4) e (R-5) (MANAHAN, 2013).

Em relação às águas naturais ou residuárias, a acidez é a capacidade de


neutralizar o íon OH-, e a alcalinidade é a capacidade de neutralizar o íon H+.
Praticamente toda fonte de água tem um determinado grau de alcalinidade,
porém, as águas ácidas não são comuns, exceto nos casos de poluição grave. De
modo geral, a acidez é resultado da presença de ácidos fracos, sobretudo o CO2,
mas, às vezes, é causada por outras substâncias, como H2PO4-, H2S, proteínas e
ácidos graxos. Os íons metálicos ácidos como o Fe3+, também podem contribuir
para a acidez da água (MANAHAN, 2013).

176
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA ÁGUA

São os ácidos fortes os maiores contribuintes da acidez como forma de


poluição da água, aplicando-se o termo ácido mineral livre para ácidos fortes como
o ácido sulfúrico (H2SO4) e o ácido clorídrico (HCI) na água. A drenagem ácida
de minas é um poluente da água bastante comum e contém uma concentração
apreciável de ácido mineral livre (MANAHAN, 2013).

O caráter ácido de alguns íons metálicos hidratados pode contribuir para a


acidez, conforme podemos observar na reação (R-6), que representa a hidrólise do
Al3+ hidratado. Alguns resíduos industriais, como o líquido de decapagem de aços
utilizados, contêm íons metálicos ácidos e com frequência um excesso de ácidos
fortes. A acidez desses resíduos precisa ser mensurada no cálculo da quantidade
de cal ou de outros produtos químicos necessários para a sua neutralização
(MANAHAN, 2013).

3.1 O DIÓXIDO DE CARBONO NA ÁGUA

O dióxido de carbono é o ácido fraco mais importante presente na água,


e pela sua produção a partir da decomposição microbiana da matéria orgânica, o
dióxido de carbono dissolvido está presente em quase todas as águas naturais e
residuárias. A chuva que cai de uma atmosfera totalmente livre de poluentes tem
um ligeiro caráter ácido devido à presença de CO2 dissolvido. A dissolução do
CO2 em água do mar é um mecanismo importante para a redução do dióxido de
carbono da atmosfera, que é o gás estufa que mais contribui para o aquecimento
global (MANAHAN, 2013).

NOTA

Algumas propostas foram apresentadas descrevendo o bombeamento do CO2


gerado por combustão em pontos dos oceanos, para que as águas o removessem da atmosfera
há milhares de anos.

Os produtos da ionização do dióxido de carbono, o íon bicarbonato (HCO3-


) e o íon carbonato (CO32-), possuem grande influência na química aquática.
Muitos minerais se depositam como sais do íon carbonato. As algas utilizam o
CO2 dissolvido para sintetizar o seu alimento, ou seja, a biomassa (carboidrato). O
equilíbrio entre o CO2 dissolvido e o dióxido de carbono gasoso na atmosfera (R-

177
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

7), e o e equilíbrio do íon carbonato (CO32-) entre a solução aquática e os minerais


contendo carbonatos sólidos (R-8), exercem forte efeito tampão no pH da água
(MANAHAN, 2013).

Na atmosfera, o CO2 compõe apenas 0,039% em volume de ar seco, e


devido a esta baixa concentração, a água sem qualquer alcalinidade em equilíbrio
com a atmosfera contém um nível muito baixo de dióxido de carbono. Contudo, a
formação do íon bicarbonato (HCO3-) e do íon carbonato (CO32-) aumenta muito a
solubilidade do dióxido de carbono. As altas concentrações de dióxido de carbono
livre na água comprometem a respiração e a troca de gases dos animais aquáticos,
podendo ocasionar a morte. Assim, a concentração limite é de 25 mg L-1 em água
(MANAHAN, 2013).

Grande parcela do dióxido de carbono encontrado na água é produto


da degradação da matéria orgânica por bactérias. As algas, que utilizam CO2 na
fotossíntese, produzem o dióxido de carbono em seus processos metabólicos na
ausência de luz. Assim, conforme a água vai se infiltrando entre as camadas de
matéria orgânica em decomposição no solo, ela dissolve uma grande quantidade
de CO2 produzido pela respiração dos organismos nesse meio. Posteriormente,
enquanto atravessa as formações calcárias, a água dissolve o carbonato de cálcio
devido à presença ácida do CO2 dissolvido, conforme a reação (R-9) (KARMANN,
2009; MANAHAN, 2013).

Esse processo forma as cavernas calcárias, conforme podemos observar na


figura a seguir.

178
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA ÁGUA

FIGURA 46 – DISSOLUÇÃO E PRECIPITAÇÃO DE CALCITA (CaCO3)

FONTE: Karmann (2000, p. 131)

4 A ALCALINIDADE DA ÁGUA

A alcalinidade é definida como sendo a capacidade da água de receber


íons H+ (prótons), tornando-se fundamental no tratamento da água e na química
e biologia de águas naturais. Com frequência, a alcalinidade da água precisa
ser analisada no cálculo das quantidades de produtos químicos adicionados no
tratamento. A alta alcalinidade da água proporciona um pH elevado (acima de
7) e apresenta altos níveis de sólidos dissolvidos. Estas características podem ser

179
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

prejudiciais na água usada em aquecedores, no processamento de alimentos e em


sistemas de águas municipais. A alcalinidade atua como tampão de pH e fonte de
carbono inorgânico, o que ajuda a determinar a capacidade da água de suportar
a proliferação de algas e outras formas de vida aquática. Por isso a alcalinidade é
utilizada como indicador de fertilidade da água. As espécies básicas responsáveis
pela alcalinidade da água são os íons bicarbonato, carbonato e hidróxido, conforme
podemos observar nas reações (R-10), (R-11) e (R-12) (MANAHAN, 2013).

Há também outras substâncias que contribuem para a alcalinidade, porém


em menor quantidade, como a amônia e as bases conjugadas dos ácidos fosfórico,
silícico, bórico e também ácidos orgânicos (BAIRD; CANN, 2011).

5 COMPLEXAÇÃO E QUELAÇÃO

As propriedades dos metais dissolvidos em água dependem da natureza


das espécies desses metais. Portanto, a especiação de metais desempenha um papel
importante na química ambiental das águas naturais e residuárias. Além dos íons
metálicos hidratados, como o Fe(H2O)63+ e as espécies hidroxo como FeOH(H2O)52+,
os metais podem ocorrer na água ligados aos ânions inorgânicos e compostos
orgânicos em reações reversíveis, na forma de complexos metálicos. Podemos
citar como exemplo, o íon cianeto pode fazer ligação com o ferro (lI) dissolvido,
conforme podemos observar na reação (R-13) (MANAHAN, 2013).

Os íons cianeto adicionais irão se ligar como o ferro para formar Fe(CN)2,
Fe(CN)3-, Fe(CN)42-, Fe(CN)53- e Fe(CN)64-. As moléculas de água ainda ligadas ao
ferro (lI) foram omitidas para simplificar o entendimento. Portanto, a complexação
é definida pelos processos demonstrados. A espécie que se liga ao íon metálico, CN-,

180
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA ÁGUA

no exemplo dado, é chamada de ligante, e o produto de sua ligação ao íon metálico


é um complexo, íon complexo, ou composto de coordenação (MANAHAN, 2013).

Já os casos especiais de complexação em que um ligante se liga a um íon


metálico em dois ou mais sítios damos o nome de quelação. Além de estarem
presentes como complexos metálicos, os metais podem ocorrer na água na forma
de compostos organometálicos contendo ligações entre o carbono e o metal, como
no caso do metilmercúrio (BAIRD; CANN, 2011). As solubilidades, as propriedades
de transporte e os efeitos biológicos dessas espécies são muitas vezes diferentes
daqueles dos íons metálicos (MANAHAN, 2013).

6 INTERAÇÕES QUÍMICAS ENVOLVENDO SÓLIDOS, GASES


E ÁGUA
São raras as reações químicas homogêneas que ocorrem integralmente em
solução aquosa em águas naturais e residuárias. A maior parte dos fenômenos
químicos e bioquímicos significativos no ambiente aquático envolve as interações
entre espécies presentes na água com aquelas presentes em outra fase, como a
atmosfera e a litosfera (MANAHAN, 2013).

Podemos observar na figura a seguir algumas das interações importantes,


entre as quais a produção de biomassa sólida pela fotossíntese de algas, que ocorre
no meio contendo algas em suspensão e envolve a troca de sólidos dissolvidos e
gases entre a água e a célula. Trocas parecidas ocorrem quando bactérias degradam
a matéria orgânica na água. Além disso, algumas reações químicas produzem
sólidos ou gases na água (MANAHAN, 2013).

181
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

FIGURA 47 – PROCESSOS QUÍMICOS E AS INTERAÇÕES ENTRE A ÁGUA E OUTRA FASE

FONTE: Manahan (2013, p. 121)

Ao lado do ferro, muitos elementos-traços importantes são transportados


em sistemas aquáticos na forma de compostos químicos coloidais ou são sorvidos
por partículas sólidas. Hidrocarbonetos poluentes e alguns pesticidas podem estar
presentes na superfície da água como uma película líquida imiscível, e sedimentos
podem ser fisicamente lixiviados para o interior de um corpo hídrico. Além da
água propriamente dita, as outras fases são divididas em sedimentos (sólidos
grosseiros) e material coloidal suspenso (MANAHAN, 2013).

7 COLOIDES NA ÁGUA
Alguns minerais, determinados poluentes aquáticos, materiais proteináceos,
algumas algas e bactérias estão em suspensão na água como partículas muito
pequenas, e estas são classificadas como partículas coloidais. Elas apresentam
as características de bactérias e algas quando em solução, e comportam-se como
partículas grandes em suspensão. Têm diâmetro entre cerca de 0,001 micrômetro
(µm) e perto de 1 µm, e espalham luz branca na forma de luz azul, como observado
em ângulos retos à incidência da luz (MANAHAN, 2013).

O espalhamento da luz, propriedade relativa ao fenômeno apresentado


pelos coloides por terem a mesma magnitude de tamanho que o comprimento
de onda da luz, no que é chamado efeito Tyndall. As propriedades únicas dos
coloides e o comportamento de suas partículas sofrem forte influência de suas
características físico-químicas, como a área específica, a alta energia de interface
e a grande razão superfície-densidade de carga. Os coloides desempenham um
papel muito importante na determinação dos parâmetros e do comportamento de
águas naturais e residuárias (MANAHAN, 2013).

182
TÓPICO 2 | A QUÍMICA DA ÁGUA

LEITURA COMPLEMENTAR

CONTAMINAÇÃO POR MERCÚRIO E O CASO DA AMAZÔNIA

[...] A utilização do mercúrio no processo de amalgamação do ouro já era


conhecida pelos fenícios e cartagineses em 2.700 a.C. Caius Plinius, em sua “História
Natural” (50 d.C.) descrevia a técnica de mineração do ouro e prata como um processo
de amalgamação similar ao utilizado hoje nas minas de ouro.

Na América do Sul, o processo de extração de ouro utilizando o mercúrio


é usado em países como o Brasil, Venezuela, Colômbia, Bolívia, Guiana Francesa,
Guiana, Equador e Peru desde os anos 80 [...].

[...] A contaminação ambiental por mercúrio é provocada pela dieta


alimentar, comumente pela ingestão de peixes de água doce ou salgada, e afeta
diretamente a corrente sanguínea, provocando problemas no sistema nervoso
central. Sua comprovação é feita facilmente pela determinação do mercúrio no
cabelo ou no sangue.

A substância simples e os sais de mercúrio são os principais responsáveis


pela contaminação ocupacional, enquanto os compostos orgânicos de mercúrio,
predominantemente o metilmercúrio, são responsáveis pela contaminação ambiental.
Uma característica comum às duas formas de mercúrio é que ambas podem atravessar
a barreira placentária afetando seriamente o feto [...].

Fala-se muito em nível trófico e cadeia trófica. O termo trófico vem da raiz
grega τροφη que significa alimento. A cadeia trófica, isto é, a cadeia alimentar, é
formada em sua base inferior por micro-organismos e peixes de espécies mais simples
(de nível trófico baixo), terminando por peixes predadores (de nível trófico elevado) e,
finalmente, o homem, que se alimenta de peixes. As populações ribeirinhas da Bacia
Amazônica são dependentes do consumo de peixe para o seu sustento, chegando a
consumir em média 200 gramas por dia. Os peixes são concentradores naturais de
mercúrio e a sua quantidade nestes animais depende do alimento, bem como da idade
e do tamanho. Como consequência, a contaminação humana por mercúrio depende
não somente da quantidade de peixe consumida como também da espécie escolhida.

Simplificando, há os peixes de nível trófico baixo, que são os herbívoros


e detritívoros, os de nível trófico intermediário, os omnívoros, e finalmente os de
nível trófico elevado, os piscívoros, também chamados de carnívoros ou predadores.
Os herbívoros (tambaqui, jatuarana, pirapitinga, pacu) se alimentam basicamente
de sementes e de frutos, os detritívoros (bodo, jaraqui, curimatã, branquinha) se
alimentam de matéria orgânica em decomposição e microrganismos associados à lama
do fundo de lagos e margens de rios. Os detritos provindos da mata alagada, ninfas
de insetos e zooplâncton são a base da alimentação dos omnívoros (aruanã, pirarara,

183
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

cará, mandi, matrinchã, cuiucuiu). Os piscívoros se alimentam de outros peixes e por


isso bioacumulam o mercúrio (dourada, filhote, piranha, tucunaré, surubim, pescada
e pintado).

[...] Após a sua utilização no processo e extração do ouro, o mercúrio residual


é descartado nas margens e nos leitos dos rios, no solo, ou é lançado na atmosfera
durante o processo de queima do amálgama. Estando disponível no meio ambiente,
este mercúrio pode transformar-se no metilmercúrio. A metilação do mercúrio é o
passo mais importante para a sua entrada na cadeia alimentar de organismos aquáticos,
maiores bioconcentradores deste metal.

Hoje se sabe que a velocidade de metilação realizada pelas bactérias é função


de vários fatores, como o baixo pH da água, alta concentração de matéria orgânica
dissolvida e baixo teor de material particulado, situação fácil de ser encontrada nos
rios amazônicos. O pH do Rio Negro, por exemplo, é particularmente baixo, chegando
a 3,8.

Cerca de três mil toneladas de mercúrio utilizadas nos garimpos de ouro da


Amazônia, ao longo dos últimos 20 anos, vêm sofrendo oxidação e metilação nas
condições propícias das águas e sedimentos dos rios, contaminando as populações
ribeirinhas, através da ingestão de peixes.

Existem diversas pesquisas realizadas na Amazônia abordando a contaminação


da população ribeirinha por mercúrio, mencionadas em sua maioria no artigo de
Barbosa et al.(1997).

Em um período compreendido entre 1991 e 1993 foram analisadas amostras


de cabelo de 270 ribeirinhos do rio Madeira, utilizando a espectrometria de absorção
atômica com vapor frio. O teor médio de mercúrio no cabelo destes indivíduos foi 17,2
microgramas de mercúrio por grama de cabelo (µg/g), com valor máximo obtido de
303 µg/g. Foram analisados também cabelos de 51 pessoas da região, mas com baixo
consumo de peixe (controles). Para estas pessoas, o teor médio foi de 4,1µg/g, nível
que pode ser considerado normal [...]

[...} O teor médio de mercúrio em cabelo obtido em vários projetos para


populações da Amazônia foi de 19,1µg/g, considerado elevado, merecendo atenção
especial dos órgãos do governo responsáveis pelo meio ambiente e saúde da população
brasileira [...] O teor médio de mercúrio obtido para os peixes de nível trófico elevado,
apresentou para os piscívoros, 669 µg/g, estando acima dos limites estipulados pela
OMS. O consumo diário de peixes, durante um longo período, correspondente a 200
microgramas de mercúrio (isto é, consumo de 500 gramas de peixe contendo 400 µg/g
de mercúrio), acarreta o acumulo de 50 µg/g de Hg no cabelo (OMS, 1990).

Para ler o artigo completo acesse a referência:

FONTE: SOUZA, J. R. de; BARBOSA, A. C. Contaminação por mercúrio e o caso da Amazônia.


Química Nova na Escola. Nº 12, nov. 2000.

184
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A química da água estuda a água de rios, lagos, estuários, oceanos, além das águas
subterrâneas e dos fenômenos que determinam a distribuição e a circulação de
espécies químicas em águas naturais, e pressupõe algum entendimento das fontes,
do transporte, das características e da composição da água.

• A natureza das espécies químicas na água é fortemente influenciada pela ação de


organismos como as bactérias ou as algas.

• O oxigênio dissolvido é um fator indispensável para a sobrevivência de muitos


tipos de organismos aquáticos.

• A solubilidade do oxigênio na água depende da temperatura dela, da pressão


parcial do oxigênio na atmosfera e do conteúdo de sal na água.

• A matéria orgânica dissolvida pode ser decomposta em água sob condições


anaeróbias, ou seja, sem a presença do oxigênio e na presença de bactérias específicas.

• Os fenômenos ácidos-base na água envolvem a doação e a recepção do íon H+.

• Em relação às águas naturais ou residuárias, a acidez é a capacidade de neutralizar


o íon OH-, e a alcalinidade é a capacidade de neutralizar o íon H+.

• O dióxido de carbono é o ácido fraco mais importante presente na água, e pela sua
produção a partir da decomposição microbiana da matéria orgânica, o dióxido de
carbono dissolvido está presente em quase todas as águas naturais e residuárias.

• Grande parcela do dióxido de carbono encontrado na água é produto da degradação


da matéria orgânica por bactérias.

• A alcalinidade é definida como a capacidade da água de receber íons H+ (prótons),


tornando-se fundamental no tratamento da água e na química e biologia de águas
naturais.

• A quelação é quando um ligante se liga a um íon metálico em dois ou mais sítios.

• A maior parte dos fenômenos químicos e bioquímicos significativos no ambiente


aquático envolve as interações entre espécies presentes na água com aquelas
presentes em outra fase, como a atmosfera e a litosfera.

• Alguns minerais, determinados poluentes aquáticos, materiais proteináceos,


algumas algas e bactérias estão em suspensão na água como partículas muito
pequenas, e estas são classificadas como partículas coloidais.

185
AUTOATIVIDADE

Caro(a) acadêmico(a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos


exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno
de Estudos. Bom trabalho!

1 A química da água estuda a água de rios, lagos, estuários, oceanos,


além das águas subterrâneas e dos fenômenos que determinam a
distribuição e a circulação de espécies químicas em águas naturais,
e pressupõe algum entendimento das fontes, do transporte, das
características e da composição da água. As reações químicas que ocorrem
na água e as espécies químicas encontradas nela estão sob forte influência
do ambiente em que a água é encontrada. Além da influência do ambiente, a
química da água possui outros tipos de influência além das que foram citadas?
Explique sua resposta.

2 O oxigênio dissolvido é um fator indispensável para a


sobrevivência de muitos tipos de organismos aquáticos. O
oxigênio dissolvido é consumido pela degradação da matéria
orgânica na água e muitas ocorrências de mortandade de peixes
se devem não à toxicidade direta dos poluentes, mas à falta de oxigênio
devido ao seu consumo na biodegradação desses poluentes. Diante do
exposto e considerando os principais tipos de reações químicas:
I A solubilidade do oxigênio na água depende da temperatura, da pressão
parcial do oxigênio na atmosfera e da quantidade de sal na água.
II As condições anaeróbias vão ocorrer naturalmente nas águas paradas
encontradas em pântanos e no fundo dos lagos, onde acontece a respiração
gerando metano.
III É muito comum encontrar condições aeróbias e anaeróbias ao mesmo tempo
em diferentes partes do mesmo lago, principalmente no verão.
IV As espécies químicas que atuam como ácidos na água doam o íon OH-,
enquanto que as que como bases, recebendo o OH-.
V Grande parcela do dióxido de carbono encontrada na água é produto da
degradação da matéria orgânica por bactérias.
VI A alta alcalinidade água proporciona um pH elevado (acima de 7) e apresenta
altos níveis de sólidos dissolvidos.

Com relação ao exposto, é correto o que se afirma em:


a) ( ) As assertivas I, II e III.
b) ( ) As assertivas I, II, III, IV e V.
c) ( ) As assertivas I, II e VI.
d) ( ) As assertivas I e VI.
e) ( ) As assertivas I, III, V e VI.

186
UNIDADE 3
TÓPICO 3

POLUIÇÃO E TRATAMENTO
DAS ÁGUAS

1 INTRODUÇÃO

Caro(a) acadêmico(a)! No Tópico 3 desta unidade estudaremos a poluição e


o tratamento das águas. Também focalizaremos a natureza e os tipos de poluentes,
indicadores de poluição, ou seja, os indicadores físicos, químicos e biológicos
da água. Serão abordados os poluentes orgânicos e o processo de tratamento.
Sugerimos muita atenção durante a leitura do texto para que obtenha o máximo
de aproveitamento de seus conteúdos.

2 NATUREZA E TIPOS DE POLUENTES DA ÁGUA

A poluição da água é a alteração de suas características por quaisquer


ações ou interferências, tanto de origem natural ou antropogênica. Essas alterações
podem produzir impactos estéticos, fisiológicos ou ecológicos. Ao longo do tempo,
o conceito de poluição da água tem-se tornado cada vez mais amplo em função
de maiores exigências com relação à conservação e ao uso racional dos recursos
hídricos (BRAGA et al., 2005).

As emissões de poluentes para a atmosfera, a litosfera e a hidrosfera


estão sempre aumentando devido aos processos naturais e principalmente
pelas atividades humanas, em particular das indústrias que sempre impactam
o meio ambiente. Mesmo que sejam feitos esforços para reduzir o impacto ao
ambiente decorrentes das atividades humanas, é praticamente impossível evitar
contaminações ambientais (MACÊDO, 2002; THOMAS; CALLAN, 2010). Essa
contaminação irá ocorrer quando alguma substância estranha ao meio está
presente. Portanto, a poluição é a alteração de alguma qualidade ambiental a qual
a comunidade exposta é incapaz de neutralizar os efeitos negativos, tendo algum
tipo de risco identificado (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

Mesmo assim, nem todos os problemas relacionados com a qualidade


da água estão relacionados aos impactos causados pela atividade humana.
Como exemplo, podemos citar os metais presentes na litosfera que podem
ciclar no ambiente tanto como resultado de atividade geológica quanto da
atividade humana. Determinados processos geológicos, como a ação vulcânica,
as atividades hidrotermais e longos períodos chuvosos, também são responsáveis
por contaminação local (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

187
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

As matérias-primas utilizadas nas atividades humanas, tanto no uso


doméstico diário, como nos processos industriais geram resíduos. Geralmente,
estes resíduos têm três diferentes destinos que também podemos observar na
figura a seguir:
• Lançamento na atmosfera, quando é possível.
• Lançamento nos corpos hídricos mais próximos, por ser mais cômodo e mais barato
e, na maioria das vezes é um recurso hídrico utilizado como fonte de água para
abastecimento público.
• Depositado em determinada área, previamente escolhida, um aterro sanitário
ou industrial (MACÊDO, 2002).

FIGURA 48 – PRINCIPAIS ROTAS DE APORTE DE POLUENTES NOS RECURSOS HÍDRICOS

FONTE: Rocha, Rosa e Cardoso (2009, p. 55)

188
TÓPICO 3 | POLUIÇÃO E TRATAMENTO DAS ÁGUAS

Segundo Rocha, Rosa e Cardoso (2009, p. 53), podemos classificar as fontes


de poluição hídricas em:
• Fontes pontuais: redes de efluentes domésticos e industriais,
derramamentos acidentais, atividades de mineração, entre outros.
• Fontes não pontuais: práticas agrícolas, deposições atmosféricas,
trabalhos de construção, enxurradas em solos, entre outros.
• Fontes lineares: enxurradas em autoestradas. .

As características das fontes de poluentes podem variar desde pontos bem


definidos que podem ser simples ou múltiplos ou emissões difusas originadas de
pequenos pontos múltiplos, como exaustores de gases (indústrias, residências) ou
escoamento de rodovias. Já as fontes pontuais e não pontuais também diferem
nas rotas pelas quais os poluentes emitidos aportam nos mananciais. As fontes
pontuais geralmente resultam em descargas diretas para os corpos d’água,
enquanto as fontes não pontuais podem ter rotas resultando em deposições
parciais dos poluentes antes de atingirem os mananciais. Assim, a concentração
de contaminantes originários de fontes não pontuais pode variar de forma
significativa, espacial e temporalmente (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009).

As emissões contínuas de poluentes são caracterizadas por serem


praticamente constantes por um longo período, como no caso dos
efluentes de estações de tratamento e descargas de processos de produção
continuados. As emissões descontínuas caracterizam-se por variações
no volume e na concentração e podem ser de picos ou de blocos. As
emissões de picos são caracterizadas por grandes descargas em pouco
tempo, e a altura do pico (concentração das espécies) pode variar muito.
Já as emissões de bloco são caracterizadas por fluxo relativamente
constante por determinados períodos, mas com intervalos regulares de
emissões praticamente zero. A quantidade exata das diferentes fontes
por meio das quais os poluentes podem atingir os sistemas aquáticos
é muito grande, mas, por simplicidade e conveniência, elas podem ser
separadas em duas categorias, ou seja, urbanização/industrialização e
agricultura/florestas. (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009, p. 53).

Alguns autores como Derisio (2012), classificam a poluição das águas em


quatro tipos de fontes:
• Poluição natural: poluição não associada à atividade humana, ou seja, causada
por chuvas e escoamento superficial, salinização, decomposição de vegetais e
animais mortos.
• Poluição industrial: constitui-se de resíduos gerados nos processos industriais.
Quase sempre é o fator mais significativo em termos de poluição tendo como
principais indústrias poluidoras a de papel e celulose, refinarias de petróleo,
usinas de açúcar e etanol; siderúrgicas e metalúrgicas, químicas e farmacêuticas,
abatedouros e frigoríficos, têxteis e curtumes.
• Poluição urbana: proveniente dos habitantes de uma cidade, que geram esgotos
domésticos lançados direta ou indiretamente nos corpos d'água.
• Poluição agropastoril: poluição decorrente de atividades ligadas à agricultura
e à pecuária por meio de defensivos agrícolas, fertilizantes, excrementos de
animais e erosão.

189
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

Além desses quatro tipos de fontes de poluição, ainda existe a poluição


acidental, decorrente de derramamentos de materiais prejudiciais à qualidade
das águas. A poluição, em caso de acidentes, pode ocorrer tanto na fase de
produção como nas operações de transportes. Neste caso, as ações de controle
são de emergência, mas é imprescindível uma preparação baseada na experiência
existente, aliada a medidas de caráter preventivo (DERISIO, 2012).

3 INDICADORES DE POLUIÇÃO DA ÁGUA

A água pura na natureza não é existente, a não ser as moléculas de água


presentes na atmosfera na forma de vapor. Assim que ocorre a condensação,
começam a ser dissolvidos na água, várias substâncias que estão no mesmo espaço,
como, por exemplo, os gases atmosféricos. Portanto, são necessários indicadores
físicos, químicos e biológicos para caracterizar a qualidade da água. Dependendo
das substâncias presentes na atmosfera, do tipo do terreno, da vegetação e de
outros fatores intervenientes, as principais variáveis que caracterizam a qualidade
da água apresentarão valores diferentes. Assim, espera-se que a água da chuva
em locais próximos ao oceano apresente maior concentração de cloreto de sódio.
Rios que atravessam regiões de floresta densa devem apresentar coloração mais
escura do que rios que atravessam regiões desérticas, em razão do teor de matéria
orgânica na água (BRAGA et al., 2005).

As variáveis físicas são medidas em escalas próprias, as variáveis químicas


são usualmente dadas em concentração (mg/L ou ppm) e as variáveis biológicas,
pela indicação da densidade populacional do organismo de interesse (BRAGA et
al., 2005).

3.1 INDICADORES FÍSICOS


Segundo Braga et al. (2005) e Macêdo (2002), nas características físicas, são
determinadas a cor, a turbidez, o sabor e o odor, conforme segue:
• Cor: é uma característica derivada da existência de substâncias em solução,
sendo essas, na maioria dos casos, de natureza orgânica.
• Turbidez: é a propriedade de desviar raios luminosos, e assim, é decorrente da
presença de materiais em suspensão na água, finamente divididos ou em estado
coloidal, e de organismos microscópicos.
• Sabor e odor: são associados à presença de poluentes industriais ou outras
substâncias indesejáveis, como matéria orgânica em decomposição, algas, entre
outros.

Certas características físicas podem prejudicar alguns usos da água, como


por exemplo, a cor e a turbidez elevadas podem tornar a água imprópria ao consumo
humano pelo aspecto estético ou por manchar roupas e aparelhos sanitários. A cor

190
TÓPICO 3 | POLUIÇÃO E TRATAMENTO DAS ÁGUAS

também pode tornar o líquido inadequado para uso em indústrias de produção de


bebidas e de outros alimentos. A turbidez acentuada em águas naturais impede
a penetração dos raios solares, prejudicando a fotossíntese, causando problemas
ecológicos para o meio aquático (BRAGA et al., 2005).

3.2 INDICADORES QUÍMICOS

As características químicas da água ocorrem devido à presença de


substâncias dissolvidas e geralmente mensuráveis apenas por análises químicas.
Segundo Braga et al. (2005) entre as características químicas da água, destaca-se:

• Salinidade: conjunto de sais normalmente dissolvidos na água, formado pelos


bicarbonatos, cloretos, sulfatos e outros sais. O teor de cloreto pode indicar
poluição por esgotos domésticos.
• Dureza: caracteriza a presença de sais de metais alcalino-terrosos (cálcio,
magnésio, entre outros) e alguns metais em menor intensidade. A dureza é
caracterizada pela extinção da espuma formada pelo sabão, dificultando o
banho e a lavagem de utensílios domésticos e roupas. As águas duras podem
incrustar as tubulações de água quente, radiadores de automóveis, hidrômetros,
caldeiras, entre outros.
• Alcalinidade: ocorre em razão da presença de bicarbonatos, carbonatos e
hidróxidos, quase sempre de metais alcalinos ou alcalino-terrosos. A alcalinidade
influencia o tratamento da água para consumo doméstico.
• Corrosividade: a tendência da água de corroer os metais pode ser devido à
presença de ácidos minerais ou pela existência em solução de oxigênio, gás
carbônico e gás sulfídrico. O oxigênio é fator de corrosão dos produtos ferrosos,
o gás sulfídrico, dos não ferrosos e o gás carbônico, dos materiais à base de
cimento.
• Ferro e manganês: o ferro, com certa frequência associado ao manganês, confere
à água sabor, ou melhor, sensação de adstringência e coloração avermelhada,
decorrente de sua precipitação. As águas ferruginosas mancham as roupas
durante a lavagem, mancham os aparelhos sanitários e podem ficar depositadas
nas tubulações.
• Compostos tóxicos: alguns elementos ou compostos químicos, quando presentes
na água, fazem com que ela fique tóxica, como o cobre, o zinco, o chumbo, os
cianetos, o cromo hexavalente, o cádmio, o arsênio, o selênio, a prata, o mercúrio,
o bário. Essas impurezas podem alcançar a água a partir de efluentes industriais,
drenagem de áreas agrícolas ou atividades de mineração.
• Fenóis: são tóxicos e seus compostos existentes em resíduos industriais causam
problemas em sistemas de tratamento da água, pois se combinam com o cloro
para produzir odor e sabor desagradáveis.
• Detergentes: principalmente os que não são biodegradáveis, causam sabor
desagradável, formação de espuma em águas agitadas, problemas em estações
de tratamento de água e esgoto em virtude da espuma e da toxicidade, quando
em teores mais elevados.

191
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

• Agrotóxicos: são substâncias químicas usadas no combate às pragas, tais como


inseticidas, raticidas, herbicidas, fungicidas e formicidas. Esses produtos são
tóxicos ao homem, aos peixes e a outros animais quando em concentrações mais
elevadas do que aquelas consideradas críticas.
• Radioatividade: o desenvolvimento da indústria nuclear traz problemas de
aumento da radioatividade ambiente, sendo que as águas da chuva poderão
carrear a contaminação, quando essa não ocorrer por lançamento direto.

3.3 INDICADORES BIOLÓGICOS


Ao realizar suas atividades biológicas de nutrição, respiração e excreção na
água, os micro-organismos aquáticos provocam modificações de caráter químico e
ecológico no próprio ambiente aquático. Já os micro-organismos patogênicos que
são introduzidos na água junto com matéria fecal, normalmente não se alimentam
nem se reproduzem no meio aquático, tendo caráter transitório nesse ambiente.
Entre os organismos que podem ser encontrados na água, destacam-se:

• Algas: podem acarretar problemas relacionados à formação de grande volume


de massa orgânica, levando à produção de quantidade excessiva de lodo e à
liberação de vários compostos orgânicos, que podem ser tóxicos ou produzir
sabor e odor desagradáveis. O desenvolvimento de camadas de algas nas
superfícies de reservatórios, podem causar turbidez, dificultando a penetração
da luz solar, com a consequente redução do oxigênio do meio, o entupimento
de filtros de areia em estações de tratamento da água, o ataque às paredes de
reservatórios de águas e piscinas e a corrosão de estruturas de ferro e de concreto.
• Micro-organismos patogênicos: são introduzidos na água junto com matéria
fecal de esgotos sanitários. Podem ser de vários tipos, como as bactérias, vírus e
protozoários. Eles não são residentes naturais do meio aquático, tendo origem,
principalmente, nos dejetos de pessoas doentes. Assim, eles têm sobrevivência
limitada na água, podendo, no entanto, alcançar o ser humano por meio da
ingestão ou contato com a água, causando-lhe doenças (BRAGA et al., 2005).

4 OS METAIS

Os metais pesados são elementos químicos que na maioria dos casos


são extremamente tóxicos para os seres humanos. Eles estão situados na
Tabela Periódica, perto da parte inferior, logo apresentam densidades altas em
comparação com outros elementos. E na maioria dos casos, os metais pesados são
transportados de um lugar para outro por via aérea, seja como gases ou como
espécies adsorvidas sobre ou absorvidas em material particulado em suspensão
(BAIRD; CANN, 2011).

Embora o vapor de mercúrio seja muito tóxico, os metais pesados, mercúrio


(Hg), chumbo (Pb), cádmio (Cd), cromo (Cr) e arsênio (As), nas suas formas de
192
TÓPICO 3 | POLUIÇÃO E TRATAMENTO DAS ÁGUAS

elementos livres condensados, não são tóxicos. Porém, quando estão na forma
catiônica e também quando ligados a cadeias curtas de átomos de carbono são
muito perigosos. Do ponto de vista bioquímico, o mecanismo de sua ação tóxica
deriva da forte afinidade dos cátions pelo enxofre. Assim, os grupos sulfidrila,
(-SH), que ocorrem comumente nas enzimas que controlam a velocidade de reações
metabólicas de importância crítica no corpo humano, ligam-se rapidamente aos
cátions de metais pesados ingeridos ou a moléculas contendo tais metais. Pelo fato
de a ligação resultante metal-enxofre afetar a enzima como um todo, ela não pode
atuar com normalidade, e, em consequência, gera problemas de saúde que muitas
vezes se torna fatal (BAIRD; CANN, 2011).

4.1 CÁDMIO

O cádmio é um elemento químico poluente da água, que tem origem nos


resíduos de mineração e despejos industriais, sobretudo do processo de metalização.
Quimicamente, o cádmio é muito semelhante ao zinco, e esses dois metais, muitas
vezes, passam pelos mesmos processos juntos. Ambos são encontrados na água no
estado de oxidação (2+) (MANAHAN, 2013).

Nos seres humanos, os efeitos do envenenamento agudo por cádmio causa


hipertensão arterial, dano renal, dano ao tecido testicular e destruição dos glóbulos
vermelhos. A ação fisiológica do cádmio se deve principalmente à semelhança
química que tem com o zinco, que o substitui em algumas enzimas, alterando a
sua estereoestrutura e consequentemente reduz sua atividade, causando doenças
(MANAHAN, 2013).

O cádmio e o zinco são poluentes comuns na água e nos sedimentos em


portos de áreas industriais. As concentrações acima de 100 ppm em peso seco de
sedimento foram encontradas em sedimentos coletados nessas áreas (MANAHAN,
2013).

4.2 CHUMBO

O chumbo inorgânico é proveniente de diversas fontes industriais e de


mineração, da gasolina, ocorre na água com estado de oxidação (2+). Além das
fontes poluidoras, o calcário contendo chumbo e a galena (PbS) contribuem para
os teores de chumbo em águas naturais, em alguns locais. Amostras de cabelo
humano e outras fontes indicam que a presença desse metal tóxico no corpo
humano caiu nas últimas décadas, sobretudo como resultado da diminuição no
uso de chumbo em tubulações e outros produtos em contato com alimentos e
bebidas (MANAHAN, 2013).

193
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

Nos humanos, o envenenamento agudo por chumbo causa nefropatias


graves, afetando também o fígado, o sistema reprodutor, o cérebro e o sistema
nervoso central, resultando em doenças e morte. Sabe-se que o envenenamento por
chumbo pela exposição ambiental foi o agente de retardo mental em muitas crianças.
O envenenamento moderado por chumbo também causa anemia. A vítima pode
ter dores de cabeça e musculares, além de sentir cansaço e irritabilidade. Exceto em
casos isolados, o chumbo não causa problemas graves quando presente na água
para consumo humano, embora essa probabilidade seja real onde tubulações de
chumbo continuem em uso (MANAHAN, 2013).

4.3 MERCÚRIO

Devido a sua toxicidade, a mobilização de formas metiladas por bactérias


anaeróbias e outros fatores relativos à poluição, o potencial poluente do mercúrio
gera muitas preocupações. É um metal encontrado como componente-traço de
diversos minerais, e seu teor em rochas continentais está, em média, perto de
80 partes por bilhão ou um pouco menos. Combustíveis fósseis, como carvão e
lignita, contêm mercúrio, muitas vezes em níveis perto de 100 partes por bilhão
ou até mais, e sua combustão representa uma das maiores fontes do elemento no
ambiente (MANAHAN, 2013).

Foi utilizado frequentemente o mercúrio metálico como eletrodo na geração


eletrolítica do gás cloro, em aparelhos de vácuo empregados em laboratório e
outras aplicações. Quantidades expressivas de compostos de mercúrio inorgânico
eram consumidas a cada ano. Os compostos orgânicos do elemento eram muito
utilizados como pesticidas, sobretudo fungicidas. Esses compostos de mercúrio
incluíam arilas mercúricas, como o dimetilditiocarbamato fenil mercúrico, e
compostos alquilmercúricos, como o cloreto de etilmercúrico, utilizado como
fungicida de sementes (MANAHAN, 2013).

Entre os efeitos toxicológicos do mercúrio estão os danos cerebrais,


que incluem irritabilidade, paralisia, cegueira ou insanidade, além de quebra
cromossômica e defeitos de nascença. Os sintomas mais moderados da intoxicação
por mercúrio, como depressão e irritabilidade, são de natureza psicopatológica.
Devido à semelhança desses sintomas com problemas comportamentais comuns,
esse nível de intoxicação nem sempre é detectado. Algumas formas de mercúrio
são relativamente atóxicas e no passado eram utilizadas como medicamento no
tratamento da sífilis, por exemplo. Outros compostos de mercúrio, sobretudo os
orgânicos, são muito tóxicos (MANAHAN, 2013).

194
TÓPICO 3 | POLUIÇÃO E TRATAMENTO DAS ÁGUAS

5 POLUENTES ORGÂNICOS

5.1 BIOACUMULAÇÃO

Muitos compostos organoclorados encontram-se nos tecidos de peixes em


concentrações que são ordens de grandeza maiores que as encontradas nas águas
em que vivem. As substâncias hidrofóbicas, como o DDT, são particularmente
propensas em exibir este fenômeno. Existem várias razões para a bioacumulação
de produtos químicos em sistemas biológicos (BAIRD; CANN, 2011).

Muitos organoclorados são muito mais solúveis em meios similares a


hidrocarbonetos, como o tecido gorduroso de peixes, do que em água. Assim,
quando a água passa por meio das brânquias do peixe, os compostos difundem
de forma seletiva desde a água até a carne gordurosa, tornando-se aí mais
concentrados. Esse processo é chamado de bioacumulação (BAIRD; CANN, 2011).

5.2 BIOMAGNIFICAÇÃO

Os peixes também acumulam produtos químicos orgânicos procedentes


de sua alimentação e da ingestão de material particulado da água e de sedimentos
sobre os quais os produtos químicos se encontram adsorvidos (BAIRD; CANN,
2011).

Em muitos desses casos, tais produtos não são metabolizados pelo peixe,
porém, as substâncias simplesmente acumulam-se nos tecidos adiposos, nos quais
sua concentração aumenta com o tempo. Por exemplo, a concentração de DDT
nas trutas do Lago Ontário aumenta quase linearmente com a idade do peixe,
conforme verificado na figura a seguir (BAIRD; CANN, 2011).

195
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

FIGURA 49 – VARIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE DDT COM A IDADE DE TRUTAS DO


LAGO ONTÁRIO

FONTE: Baird e Cann (2011, p. 449)

A concentração média de muitos produtos químicos aumenta também


de forma significativa à medida que se avança na cadeia alimentar, que consiste
em uma sequência de espécies nas quais cada uma alimenta-se de uma espécie
precedente na cadeia. A teia alimentar, que inclui cadeias alimentares interligadas,
conforme se verifica na figura a seguir (BAIRD; CANN, 2011).

196
TÓPICO 3 | POLUIÇÃO E TRATAMENTO DAS ÁGUAS

FIGURA 50 – ESQUEMA BÁSICO DO PROCESSO DE BIOMAGNIFICAÇÃO

FONTE: Baird e Cann (2011, p. 450)

Durante sua vida, um peixe come muitas vezes seu peso em comida dos
níveis inferiores da cadeia alimentar, mas retém em vez de eliminar a maioria
dos produtos organoclorados procedentes desses alimentos. Um produto
químico cuja concentração aumenta ao longo de uma cadeia alimentar chama-se
biomagnificado. Essencialmente, a biomagnificação resulta de uma sequência de
etapas de bioacumulação que ocorrem ao longo da cadeia (BAIRD; CANN, 2011).

197
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

6 PROCESSO DE TRATAMENTO DAS ÁGUAS

“As mais importantes fontes de matéria orgânica para águas de superfície


são os efluentes domésticos e industriais. Vários são os processos disponíveis para
tratamento de efluentes, dependendo da natureza e da característica do efluente
final. Em uma estação de tratamento de efluentes (ETE), as etapas de floculação,
sedimentação e tratamento biológico são controladas e otimizadas”, conforme a
figura a seguir. (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009, p. 56).

FIGURA 51 – ESQUEMA DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES

FONTE: Rocha, Rosa e Cardoso (2009, p. 57)

As ETEs têm sido planejadas de acordo com os poluentes orgânicos


encontrados nos efluentes domésticos e industriais. Geralmente, elas
apresentam níveis de tratamentos primários, secundários e terciários, e
o número de estágios depende do custo financeiro, do tipo de efluente
de entrada e da qualidade desejada para o efluente final. A capacidade
de tratamento de muitas ETEs tem sido estendida à remoção de carbono
orgânico, de nitrogênio (por nitrificação e desnitrificação), bem como à
remoção de fosfato e metais potencialmente tóxicos. Consequentemente,
a configuração das ETEs tem aumentado de complexidade e o número
de processos físicos, biológicos e químicos que influenciam na qualidade
do efluente final tem se expandido. Contudo, em muitas ETEs uma
melhora na eficiência de remoção pode ser obtida somente pela redução
da concentração de sólidos suspensos, e isso, muitas vezes, pode
ser conseguido sem grandes custos adicionais de equipamentos de
filtração. Basta melhorar as características do decantador secundário e a
floculação (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009, p. 56).

198
TÓPICO 3 | POLUIÇÃO E TRATAMENTO DAS ÁGUAS

“Em algumas ETEs é feito o tratamento preliminar de efluentes, que consiste


na remoção de sólidos grosseiros e areia. Essa etapa tem a finalidade de proteger
bombas e tubulações, evitando abrasão e obstrução, facilitando o transporte do
líquido para a próxima etapa do tratamento. O tratamento primário remove
sólidos sedimentáveis em suspensão, óleos, graxas e parte da matéria orgânica
em suspensão. Nessa etapa, aproximadamente 30% da DBO da água é removida”.
(ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009, p. 56).

No tratamento secundário, ocorre a remoção da matéria orgânica


dissolvida e em suspensão (não removida no tratamento primário). Este
tratamento é caracterizado pela oxidação da matéria orgânica por micro-
organismos, reduzindo a DBO a aproximadamente 10% da concentração do
efluente não tratado. O precipitado gerado nas etapas dos tratamentos primário
e secundário é denominado lodo e seu destino final pode ser a incineração, aterro
sanitário, ou simplesmente a liberação em corpos d'água. Uma alternativa que tem
sido experimentada é a utilização do lodo como fertilizante agrícola. Entretanto,
como além de nutrientes, essa matriz pode conter espécies (inorgânicas e
orgânicas) potencialmente tóxicas, tem-se procurado a minimização/eliminação
dessas espécies antes da disposição final. O tratamento terciário tem por objetivo
a remoção de poluentes específicos e/ou remoção complementar daqueles não
suficientemente removidos no tratamento secundário como, por exemplo,
compostos orgânicos dissolvidos, fosfatos, metais potencialmente tóxicos, entre
outros. A remoção de compostos orgânicos dissolvidos pode ser feita com o
uso de carvão ativado. Compostos orgânicos dissolvidos, como tri-halometanos
(por exemplo, clorofórmio), dicloroeteno e pesticidas (por exemplo, dieldrin,
heptaclor), são adsorvidos na superfície do carvão vegetal.

FONTE: Rocha, Rosa e Cardoso (2009, p. 56)

A remoção de fosfatos pode ser feita adicionando hidróxido de cálcio à


solução, para sua precipitação. Espécies metálicas potencialmente tóxicas podem
ser removidas por técnicas, como, por exemplo, a osmose reversa. Ela consiste em
aplicar ao sistema uma alta pressão forçando a passagem do efluente por uma
membrana semipermeável, constituída de uma substância orgânica polimérica
como, por exemplo, acetato de celulose. Neste caso, o efluente que passa pelos
poros da membrana tem sua concentração iônica diminuída. Além da osmose
reversa, outra alternativa é a adição de íons, hidróxido ou sulfeto, para formar
hidróxidos ou sulfetos metálicos pouco solúveis (ROCHA; ROSA; CARDOSO,
2009).

199
UNIDADE 3 | A QUÍMICA DA ÁGUA

LEITURA COMPLEMENTAR

SURTO DE HEPATITE NO HOLY CROSS COLLEGE

Logo depois do jogo realizado em Dartmouth, em 1969, todos os integrantes


do time de futebol americano do Holy Cross College ficaram doentes (Morse, 1972).
Tiveram febre, náuseas e dores abdominais, além de apresentarem pele amarelada
– sintomas característicos da hepatite infecciosa. Nos dias que se seguiram, quase
90 pessoas – entre jogadores, treinadores, técnicos e outras pessoas – que faziam
parte do programa de futebol da instituição também adoeceram. O colégio cancelou
o restante da temporada e tornou-se alvo de um mistério epidemiológico. Como
explicar que um time inteiro tivesse contraído hepatite infecciosa?

Sabe-se que a doença é transmitida basicamente de pessoa para pessoa.


Embora epidemias possam ocorrer, isso quase sempre se deve à contaminação
da água ou de frutos do mar. Há vários tipos de vírus da hepatite com drásticas
consequências para o ser humano. O menos mortal é o da hepatite A que ocasiona
mal-estar durante várias semanas, mas raramente deixa sequelas duradouras.
As hepatites B e C, todavia, podem provocar graves problemas, em especial no
fígado, e durar por anos. Na ocasião da epidemia no Holy Cross College, o vírus
da hepatite ainda não havia sido isolado e muito pouco se sabia sobre sua etiologia
ou suas consequências.

Quando o colégio teve ciência da seriedade da epidemia, pediu e recebeu


ajuda dos governos estadual e federal, que enviaram epidemiologistas até a cidade
de Worcester. Em princípio, esses especialistas coletaram todo tipo de informação
sobre os integrantes do time de futebol: com quem haviam estado e o que haviam
comido e bebido. O objetivo era encontrar pistas que os levassem a descobrir como
surgiu a epidemia, e obtiveram os seguintes dados:

Uma vez que o período de incubação da hepatite é de cerca de 25 dias, a


infecção deve ter ocorrido em algum momento antes do dia 29 de agosto.
• Os jogadores que deixaram o time antes desse período não foram infectados.
• Jogadores da equipe principal que chegaram atrasados, depois do dia 29 de
agosto, também não foram infectados.
• Jogadores do time de calouros que chegaram no dia 3 de setembro também não
tiveram a doença.
• Tanto os jogadores do time de calouros como os do time principal usaram o
mesmo refeitório, e, como nenhum calouro foi infectado, descartou-se a hipótese
de que o refeitório fosse a causa da doença.
• Um dos técnicos que desenvolveu hepatite não havia usado o refeitório do
colégio.
• Não havia nenhum indício de que os jogadores tivessem comido frutos do mar
em algum restaurante, o que poderia dar uma dica sobre onde poderiam ter
contraído o vírus.
• Os jogadores consumiram uma bebida preparada pelo colégio, cuja composição

200
TÓPICO 3 | POLUIÇÃO E TRATAMENTO DAS ÁGUAS

era açúcar, mel, gelo e água (a versão caseira do Gatorade). No entanto, como os
funcionários da cozinha provaram da bebida antes e depois do jogo, e nenhum
deles desenvolveu a doença, a possibilidade de a bebida ter sido a causadora da
doença foi descartada.

Como não encontravam respostas para o fato, os epidemiologistas se


concentraram no fornecimento da água. O colégio recebe água da cidade de
Worcester e uma tubulação subterrânea traz a água da Rua Dutton – que é sem
saída – até o campo de treinamento de práticas esportivas, onde há um bebedouro
que os jogadores utilizam durante os treinos.

Amostras da água foram colhidas do bebedouro e não apresentaram


nenhuma contaminação. A ausência de contaminação durante a amostragem
não descartou, entretanto, a possibilidade de transmissão da doença através da
tubulação, que cruzava o campo por meio de um medidor de água e várias caixas
de sprinklers enterradas no solo, colocadas em todo o campo para regar o gramado.

Duas outras informações foram cruciais. Soube-se que, em uma das casas
na Rua Dutton, moravam crianças que haviam contraído hepatite. Durante o verão,
elas brincavam com água dos sprinklers, espirrando umas nas outras e formando
poças no gramado. No entanto, como a água dessas poças – caso as crianças a
tivessem contaminado – teria ido parar na tubulação, já que os canos de água eram
mantidos sempre sob pressão positiva?

A última peça do quebra-cabeça se encaixou quando os epidemiologistas


descobriram que havia ocorrido um grande incêndio em Worcester, durante a
noite do dia 28 de agosto, que durou até a manhã do dia seguinte. A demanda de
água para o incêndio foi tão grande que todas as casas da Rua Dutton ficaram sem
água da rua, ou seja, os bombeiros bombearam a água em tal quantidade que a
pressão no encanamento ficou negativa.

Esses dados levaram à seguinte conclusão: as crianças esqueceram algumas


das válvulas dos sprinklers abertas, o que certamente provocou a contaminação
da água ao redor do sprinkler. Então, o vírus da hepatite entrou no encanamento
da água potável. Na manhã seguinte, a pressão da água foi restabelecida no
encanamento, e a água contaminada foi parar no final do ramal da tubulação, ou
seja, no bebedouro do campo de futebol – todos os jogadores, treinadores, técnicos
e quaisquer outras pessoas que beberam daquele bebedouro foram infectados com
hepatite.

Esse caso ilustra a clássica conexão cruzada, ou seja, o contato físico entre
a água potável tratada e a contaminada e as consequências potencialmente graves
dessas conexões.

Para ler o artigo completo acesse a referência:

FONTE: VESILIND, P. A.; MORGAN, S. M. Introdução à engenharia ambiental. 2. ed. São Paulo:
Cengage Learning, 2011. p. 3-5.

201
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• A poluição da água é a alteração de suas características por quaisquer ações ou


interferências, tanto de origem natural ou antropogênica.

• As emissões de poluentes para a atmosfera, a litosfera e a hidrosfera estão sempre


aumentando devido aos processos naturais e principalmente pelas atividades
humanas, em particular das indústrias que sempre impactam o meio ambiente.

• As emissões contínuas de poluentes são caracterizadas por serem praticamente


constantes por um longo período, como no caso dos efluentes de estações de
tratamento e descargas de processos de produção continuados.

• São necessários indicadores físicos, químicos e biológicos para caracterizar a


qualidade da água.

• Ao realizar suas atividades biológicas de nutrição, respiração e excreção na água,


os micro-organismos aquáticos provocam modificações de caráter químico e
ecológico no próprio ambiente aquático.

• Os metais pesados são elementos químicos que na maioria dos casos são
extremamente tóxicos para os seres humanos.

• E na maioria dos casos, os metais pesados são transportados de um lugar para


outro por via aérea, seja como gases ou como espécies adsorvidas sobre ou
absorvidas em material particulado em suspensão.

• A bioacumulação e o acúmulo de substâncias orgânicas no organismo.

• Vários são os processos disponíveis para tratamento de efluentes, dependendo


da natureza e da característica do efluente final, sendo que as principais etapas
são a floculação, a sedimentação e o tratamento biológico.

202
AUTOATIVIDADE
Caro(a) acadêmico(a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos
exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno de
Estudos. Bom trabalho!

1 A poluição da água é a alteração de suas características por


quaisquer ações ou interferências, tanto de origem natural ou
antropogênica. Essas alterações podem produzir impactos
estéticos, fisiológicos ou ecológicos. Ao longo do tempo, o
conceito de poluição da água tem-se tornado cada vez mais amplo em função
de maiores exigências com relação à conservação e ao uso racional dos
recursos hídricos. Com base no texto, responda quais são os três diferentes
destinos de lançamento dos resíduos.

2 A água pura na natureza não é existente, a não ser as moléculas


de água presentes na atmosfera na forma de vapor. Assim que
ocorre a condensação, começam a ser dissolvidos na água, várias
substâncias que estão no mesmo espaço, como, por exemplo, os
gases atmosféricos. Portanto, são necessários indicadores físicos, químicos
e biológicos para caracterizar a qualidade da água. Quais são os principais
parâmetros químicos de qualidade da água?

203
REFERÊNCIAS
BAIRD, C.; CANN, M. Química ambiental. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2011.

BRADY, N. C.; WEILL, R.Y. Elementos da natureza e propriedades dos solos. 3.


ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.

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LENZI, E.; FAVERO, O. B. Introdução à química da atmosfera: ciência, vida e


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204
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ANOTAÇÕES

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