As discussões sobre a comunidade LGBTQI+ já ultrapassaram a
questão se este é ou não é um grupo que se encontra em vulnerabilidade
social. A necessidade hoje é de se discutir a falta de reconhecimento desta vulnerabilidade, que está posta, na área das políticas públicas que visam a garantia de direitos de toda e todo cidadão brasileiro.
É cada vez mais evidente que estas vulnerabilidades vêm à luz de
maneira cada vez mais sólida através de estudos sérios que seguem o rigor e a ética científica, todavia o desvelar dessas vulnerabilidades é tratado frequentemente como uma invenção perversa, uma tentativa de acabar com a dita família tradicional, uma investida contra a pureza da infância e os papéis sagrados de pai e mãe, uma parte de um plano diabólico e profano que tem como objetivo maior implantar uma ditadura homotransnormativa que levaria à prática da esquizofrênica ideia da heterocisfobia.
A vulnerabilidade social da comunidade LGBTQI+ não tem por si um
apelo político relevante no contexto social onde ela existe e resiste, por isso as discussões acerca dela precisam ser fomentadas na arena política de maneira séria, através de ações de humanização das representações sociais das pessoas LGBTQI+ que levem a sociedade a refletir e propor políticas públicas que tenham por objetivo cessar, ou mesmo minimizar, as vulnerabilidades as quais esta população é exposta desde a mais tenra idade, e que levam a rompimentos de vínculos familiares e sociais, e consequentemente à violação de direitos básicos desses sujeitos.
Sim, é necessário pensar na humanização das identidades
homotransafetivas, uma vez que as representações sociais acerca deste grupo tentam incessantemente, e frequentemente conseguem, lhes roubar o reconhecimento de sua humanidade, desumanizando seus corpos e subjetividades, ou, quando muito, evocam esses sujeitos a ocuparem um lugar inferior na experiência de “ser humano”, lhes conferindo uma pseudo humanidade através de ações apelativas e sensacionalistas de caridade, religiosidade e salvação, mas negando-lhes sua identidade, sua experiência e seu lugar enquanto sujeitos de direitos perante a constituição nacional. O não reconhecimento da vulnerabilidade social dos sujeitos LGBTQI+ legitima, reforça e impulsiona as engrenagens das representações sociais pejorativas que desrespeitam, violentam e matam. Afinal, é impossível reconhecer a violação de direitos de um indivíduo quando não se reconhece nem mesmo este indivíduo enquanto sujeito de direitos, ou seja, se não se admite o seu direito de ter direitos, logo os direitos que você não tem não podem ser violados.
Para tanto é necessário primeiro entender o contexto sociocultural que
contribuiu para o surgimento e fortalecimento destas representações, assim como para que as mesmas pudessem se perpetuar até os dias de hoje.