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Em íntima conexão com o assunto dos sinais e marcas da igreja está a pergunta:
Quais são as qualificações que dão direito de admissão no grupo cristão?
Aquilo que se faz necessário para tornar um indivíduo um membro da igreja invisível
é algo muito diferente daquilo que é necessário para constituir alguém como membro
da igreja visível de Cristo.
As Escrituras nos asseguram que há uma igreja que é a santa Noiva de Cristo, unida
a ele por um pacto eterno —
uma associação que ele chama de seu corpo espiritual, do qual ele é o Cabeça
exaltado —
uma comunidade descrita como “templo do Espírito Santo”, cujos membros são
“pedras vivas e espirituais” usadas na sua construção.
Marcas e privilégios como esses não pertencem a nenhum grupo visível ou exterior,
cujos traços podem ser descobertos e cujas características podem ser lidas pelos
homens.
graça eletiva.
Ela não está restrita a uma época apenas, nem a um só lugar, mas envolve todos os
eleitos de todos os tempos e de todos os lugares, sem distinção e sem exceção.
Na história passada, ela abrangeu todos aqueles que desde o princípio foram
escolhidos para a salvação,
No céu está uma multidão que homem nenhum pode contar, daqueles que já foram
redimidos da terra; e neste mundo há outra multidão, unida à família no céu, tanto dos
que já são crentes como daqueles que ainda haverão de crer para a vida eterna.
Quando definimos os membros da igreja invisível de Cristo como o grupo todo dos
eleitos em todos os lugares e em todos os tempos, deparamo-nos com as
contestações da igreja papista.
Há uma dupla diferença a esse respeito entre a sua maneira de ver e os princípios
que já foram apresentados.
Em primeiro lugar, ele nega que a igreja invisível seja formada de todos os
eleitos, e afirma que alguns deles ainda não obedeceram ao chamamento exterior
da igreja, e não se encontram na sua comunhão visível,
embora sejam contados com os eleitos de Deus, não podem ser reconhecidos como
membros da igreja invisível;
e, em segundo lugar, ele nega que a igreja invisível seja constituída unicamente
pelos eleitos,
asseverando que mesmo aqueles que receberam graça por meio das ordenanças e
da comunhão da igreja, mesmo que depois tenham se desviado e se tornado
réprobos, devem ser, mesmo assim, contados como membros verdadeiros da igreja
invisível de Cristo.(73)
mas que, não sendo ainda convertidos, ainda não se uniram à igreja visível na terra,
nem se tornaram ainda participantes de suas ordenanças exteriores.
não importando se mais tarde se desviam, e provam que na verdade são réprobos.
No primeiro caso, embora realmente escolhido e eleito por Deus para a salvação, o
indivíduo não é membro da igreja invisível porque ainda não participa da graça que a
igreja na terra confere.
No outro caso, embora reprovado e rejeitado por Deus,o indivíduo é membro da igreja
invisível, porque foi privilegiado em receber da igreja na terra a graça que ela concede
a todos os que com ela mantêm comunhão exterior.
Esses princípios, se não conduzem a uma clara negação total da existência de uma
igreja invisível, como acontecia no caso dos romanistas mais antigos, na prática a
substituem, ou a fazem inteiramente subordinada e dependente da igreja visível.
Pertencer à igreja invisível não é um direito que precisa ser concretizado nem
confirmado por meio da graça concedida por uma associação visível; as condições
para fazer parte da igreja invisível têm uma origem mais elevada.
Esse direito é conferido por Deus por meio da eleição. A igreja invisível é constituída
de todos os eleitos de todos os tempos, que foram escolhidos por Deus para a
salvação em Jesus Cristo.(74)
A igreja visível é formada de todo o grupo, não dos eleitos, mas dos cristãos
professos, espalhados pelo mundo todo.
e fazendo dela a igreja de Cristo; e aquilo que constitui a marca da igreja visível,
considerada como um grupo separado,
Agora, o princípio que acabamos de enunciar opõe-se à opinião dos romanistas, por
um lado, e à opinião dos independentes,
por outro; e contrastar esse princípio com as doutrinas desses dois partidos, em
sequência, talvez sirva para ilustrar tanto a sua importância quanto a sua veracidade.
Mas se, por outro lado, a essência de uma igreja cristã é professar a fé em Cristo,
também se torna um requisito necessário, da parte do membro da igreja, fazer a
mesma profissão de fé; e, além disso, que a sua conduta e caráter não tornem sem
valor nem anulem essa profissão.
A mera submissão intelectual aos preceitos da igreja nos assuntos de fé, e a sujeição
formal do homem exterior às suas ordenanças não são substitutos apropriados para
a consciente profissão de fé em Cristo,
A teoria papista a respeito dos membros da igreja inverte a relação que a comunidade
cristã e os membros dessa comunidade mantêm entre si.
Um membro da comunidade cristã não deve receber da igreja a profissão da sua fé,
mas deve dar essa profissão à igreja, como testemunho voluntário da sua parte, da
sua característica como a verdadeira igreja de Cristo.
Ele não deve receber da igreja as regras a que deve obedecer, mas deve trazer à
igreja a sua obediência, como garantia e evidência de que é sincera a sua profissão
de fé.
2.º) Mas vamos considerar agora os princípios dos independentes, tal como ensinam
a respeito dos membros da igreja cristã.
consideram que a única base ou condição para tornar-se membro da igreja é a obra
da graça operada em sua alma.(76)
e que foi efetivamente chamado à salvação por meio da fé que está em Cristo Jesus.
e do candidato à admissão se exige apenas que mostre que sua conduta e vida estão
de acordo com a sua profissão e que a abonam.
Uma simples profissão de fé exterior, por mais digna de confiança que seja em si
mesma, e por mais que seja fortemente confirmada por um proceder e uma conduta
exteriores,
não pode nunca, como profissão exterior e nada mais, conceder o direito aos
privilégios, ou um lugar entre os que são contados entre os eleitos de Deus.
E se não houvesse nenhum outro aspecto pelo qual a igreja fosse mencionada ou
reconhecida nas Escrituras, não teríamos permissão de dizer que os seus membros
são tão-somente os verdadeiros crentes.
Mas temos visto que há diversas declarações nas Escrituras que não se harmonizam
com a noção de que existe somente uma igreja invisível,
Não é apenas que a igreja invisível seja composta de uma quantidade de indivíduos
cuja profissão exterior como cristãos seja visível publicamente.
Parece haver boas bases nas Escrituras para afirmar que a igreja, como associação
visível, tem uma existência e características coletivas, e que nessas características
possui certos privilégios e certos membros, distintos daqueles que pertencem a ela
como comunidade invisível.
Ninguém pode negar que Cristo fez alguma provisão de ordenanças exteriores para
beneficiar a sua igreja;
e com não menos clareza vemos apresentado nas Escrituras que os homens são
convidados e autorizados a fazer uso dessa provisão exterior,
A igreja de Cristo encontra-se revelada diante dos olhos dos homens, expressa num
sistema visível de administração, ordenanças e disciplina;
Na minha opinião, não é muito fácil negar que seja essa a conclusão a que chegamos
quando examinamos as Escrituras.
não como indivíduos, mas como membros da comunidade; e temos esses privilégios
e promessas completamente à parte das outras bênçãos salvíficas, conferidas à igreja
por Cristo, o seu Cabeça.
Em outras palavras, temos uma igreja visível, que se encontra num relacionamento
e que é formada de membros que obedecem ao seu chamado exterior, que fazem
parte de uma comunidade eclesiástica, e em troca recebem privilégios exteriores, e o
cumprimento de promessas exteriores da parte dele.
Qualquer que seja o nome que lhe demos, esse relacionamento exterior com Cristo
é, para todos os fins e intenções, um pacto federal.
Na história dos pactos anteriores firmados por Deus parece sempre existir o princípio
de uma vida exterior e uma vida interior.
É como se houvesse dois pactos, um dentro do outro — o exterior e, por assim dizer,
carnal, e o outro interior e espiritual; e o exterior é projetado e designado a conduzir
ao interior. Assim foi com o pacto estabelecido com Noé.
Esse pacto apresentava a sua forma exterior e a sua forma interior, a sua
característica ou aspecto mais carnal e a característica ou aspecto mais espiritual.
Havia o pacto exterior feito com Noé e com toda a sua posteridade, sem exceção, por
meio do qual Deus prometeu que o mundo criado nunca mais seria destruído,
e o acesso a essa promessa se dava não pela circuncisão da carne, mas pela fé no
coração.
Nesse caso, também, o pacto exterior tinha como propósito conduzir aqueles que dele
participavam aos benefícios salvíficos do pacto interior e espiritual.
Havia um pacto exterior feito com Israel segundo a carne, envolvendo muitos
benefícios e privilégios temporais;
mas havia um pacto interior feito com Israel segundo o espírito, englobado e rodeado
pelo primeiro, e que continha a promessa de bênçãos espirituais para o verdadeiro
Israel de Deus.
E aqui, de igual forma, o pacto exterior foi feito inferior e subserviente ao interior, e
destinado a conduzir os homens do pacto exterior para o pacto interior.
Temos, agora, uma igreja exterior e visível, caracterizada, assim como antigamente,
por uma administração exterior, e contando entre os seus membros aqueles que
foram admitidos mediante uma profissão exterior.
Mas, envolta nessa igreja exterior, e rodeada por ela, encontramos a igreja invisível
e espiritual, caracterizada pela promessa, não de bênçãos exteriores,
mas de interiores, e que conta entre os seus membros apenas aqueles que estão
espiritualmente unidos ao Salvador.
E precisamente como nos casos anteriores, essa igreja exterior está subordinada e é
subserviente aos interesses da igreja interior,
E e destina a guiar e sugerir que os seus membros avancem até que cheguem às
bênçãos da igreja espiritual que está no meio dela.
À vista do que foi apresentado, não é razoável dizer que, se não existisse uma igreja
visível, como alegam os independentes, com todas as suas provisões e ordenanças
exteriores,
e seus membros englobando a igreja invisível e espiritual, não negaria isso a analogia
de todas as revelações anteriores de Deus para com os homens, e não inverteria os
princípios anteriormente estabelecidos na sua maneira de agir com eles?
A clara descrição da igreja visível que com frequência nos é fornecida nas Escrituras
parece ser totalmente inconsistente com a ideia de uma comunidade cujas condições
de membresia são uma fé verdadeira e uma associação salvífica com Cristo.
O reino de Deus, ou a igreja visível, é comparado ora a um campo, onde tanto o joio
como o trigo crescem juntos; ora a uma rede lançada ao mar, que apanha e traz para
a praia tanto peixes bons como ruins; em outra ocasião,
é comparado a uma casa em que há vasos, uns para honra, e outros para desonra;
numa quarta comparação, o reino de Deus assemelha-se a uma ceia de casamento,
onde há convidados sem a vestimenta nupcial;
De nada adianta alegar, como gostam de fazer os defensores dos pontos de vistas
dos independentes,
mesmo que saibam fazer a distinção entre eles, mas que os deixem crescer juntos
até a colheita; ele expõe a razão dessa ordem explicando que há o perigo de, ao
arrancar joio, arrancar também com ele o trigo.
Acho que não há como apresentar uma resposta mais clara e explícita à objeção dos
independentes,
que essas descrições referentes à igreja como ela é, e não à igreja como ela deveria
ser; e parece não haver mais razão para duvidar de que,
com respeito à comunidade cristã na terra, não é nem possível, nem foi determinado
que ela fosse uma comunidade construída sobre o princípio da exclusão, de entre os
seus membros, de todos os indivíduos exceto os regenerados.
A igreja visível não pode jamais ser completamente, ou em todas as suas partes,
idêntica, neste mundo, à igreja invisível; nem podem os seus membros jamais ser
restritos apenas aos eleitos.
não deve haver grande dificuldade de julgar a respeito desse tipo de evidência, não
sendo necessário mais do que uma inteligência normal e um desejo sincero pela
pureza da casa de Deus por parte daqueles que devem avaliar essas condições
exigidas.
Eles têm autoridade para julgar a profissão exterior e a conduta exterior do candidato
à membresia da igreja; e tendo autoridade, são responsáveis pelo correto exercício
dela.
os ministros da igreja recebem ordem de decidir sobre a realidade daquilo que não
se pode ver e que não pode ser conhecido com certeza no homem interior —
torna-se claro que lhes foi atribuída uma tarefa para a execução da qual são
inteiramente incompetentes e desqualificados.
Eles não têm como ser testemunhas da obra secreta de Deus operada na alma de
um irmão; não têm conhecimento da realidade da misteriosa operação por meio da
qual pode ter-lhe sido manifesto,
a ele e a ninguém mais além dele, que passou das trevas para a luz; não têm como
conseguir evidências suficientes para guiá-los numa expressão séria de julgamento
a respeito do estado de graça, ou o contrário, de um candidato à membresia da igreja.
O próprio indivíduo, cuja experiência é que Deus operou em sua alma a obra de
convicção e conversão, pode possuir o conhecimento, e deve arcar com a
responsabilidade envolvida nessa obra.
Um estranho não pode ter participação nessa obra, nem tem condições de assumir a
responsabilidade do outro.
porque eles não têm o conhecimento necessário para isso, e porque isto envolve uma
responsabilidade que a pessoa mesma não pode transferir para eles, uma vez que
ela não pode passar adiante tal conhecimento.