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OPERAÇÕES DE UMIDIFICAÇÃO

A umidificação e a desumidificação envolvem a transferência de massa entre um


líquido puro e um gás, que é insolúvel no líquido. Estas operações são mais simples
que as de adsorção, porque o líquido contem somente um componente. Desta forma,
não há gradientes de concentração nem resistência a transferência na fase líquida.
Entretanto, tanto a transferência de calor como a transferência de massa são importantes
e se influenciam mutuamente. Nestes processos, e nos processos de secagem há uma
variação simultânea de concentração e temperatura.
Exp.: Resfriamento por evaporação, processo de desumidificação, torres de resfriamento.

Definições

Nas operações de umidificação, especialmente quando aplicadas ao sistema ar-


água, são utilizadas algumas definições especiais. A base habitual para os cálculos de
engenharia é uma unidade de massa de gás livre de vapor, denominando ‘vapor’ a
forma gasosa do componente que também está presente na fase líquida, e ‘gás’ ao
componente que só se encontra na fase gasosa. Neste capítulo é tomado como base
de cálculo 1 kg de ar livre de vapor. O vapor contido na fase gasosa é denominado
componente A, e o gás como componente B. A pressão total do sistema deve estar
fixada, uma vez que as propriedades da mistura gás-vapor variam com a pressão total.
Supõe-se que a pressão total do sistema é de 1 atm, quando outra condição não for
especificada. Considera-se que as misturas de gás e vapor de água seguem as leis
dos gases ideais.

Umidade absoluta
É a massa de vapor contida em um quilograma de gás livre de vapor. A partir
desta definição, a umidade absoluta depende somente da pressão parcial do vapor de
água na mistura, quando a pressão total está fixa. Se a pressão parcial do vapor de água
é p A atm, a relação molar de vapor e gás, para a pressão de 1 atm, é p A /(1 − p A ) , e a
umidade é dada por:
M A pA
Η= ,
M B (1 − p A )

sendo MA e MB = massas moleculares dos componentes A e B, respectivamente. A


umidade absoluta está relacionada com a fração molar na fase gasosa por meio da equação:

Η/MA
y=
1/ M B + Η / M A

Como H/MA é pequeno em relação a 1/MB, y pode ser considerado proporcional a H.

Gás saturado
O gás saturado está em equilíbrio com o líquido na temperatura do gás. De acordo
com a lei de Dallton, a pressão parcial do vapor de um gás saturado é igual a pressão
de vapor do líquido a temperatura do gás. Se HS é a umidade de saturação e pA a pressão
de vapor do líquido:

M A pA
ΗS =
M B (1 − p A )
Umidade relativa
É a relação entre a pressão parcial do vapor e a pressão de vapor do líquido, a
temperatura do gás. Geralmente, é expressa numa base percentual, de forma que a
umidade de 100% corresponde ao gás saturado e de 0%, ao gás seco.

pA
ΗR =
pA

Umidade percentual
É dada pela relação entre a umidade absoluta real (H), e a umidade de saturação
(HS), na temperatura do gás:

Η p /(1 − p A ) 1− pA
Η A = 100 = 100 A = ΗR
ΗS p A /(1 − p A ) 1− pA

Para umidades diferentes de 0 e 100 %, a umidade percentual é menor que a


umidade relativa.

Calor úmido
É o número de quilocalorias necessárias para aumentar a temperatura de 1 kg
de gás, mais o vapor que o acompanha, em 1°C. Desta forma:

c S = c pB + c pA Η

sendo CpB e CpA, os calores específicos do gás e do vapor, respectivamente.

Volume úmido
O volume úmido é igual ao volume total, em m3, de 1 kg de gás livre de vapor,
mais o vapor que o acompanha, a 1 atm e a temperatura do gás. De acordo com a lei
dos gases, vH está relacionado com a umidade e a temperatura por meio da equação:

0,0224Tgas  1 Η  m 3 
υH =  M + M  kg 

273  B A  

sendo Tgás a temperatura absoluta. Quando H = 0, vH é igual ao volume específico do


gás e quando H = Hs, vH é o volume saturado.

Ponto de orvalho
É a temperatura que é preciso resfriar uma mistura de gás e vapor (a umidade
absoluta constante) para que chegue a saturação. O ponto de orvalho de um gás é
igual a temperatura do gás.

Entalpia total
É a entalpia do gás mais a do vapor que o acompanha. Para calcular hy, é
necessário escolher os estados de referência, um para o gás e outro para o vapor. Se
To é a temperatura de referência para os dois componentes e o gás encontra-se a uma
temperatura Tg e umidade H, a entalpia é a soma de três parcelas: o calor sensível do
gás livre de vapor, o calor latente do líquido (vapor) a temperatura To e o calor sensível
do vapor. Desta forma:
h y = c pB (Tg − To ) + Η λo + c pA Η (Tg − To )
sendo λo o calor latente do líquido a temperatura To.

Temperatura de bulbo úmido


É a temperatura estacionária de não-equilíbrio que alcança uma pequena massa
de líquido submergida em condições adiabáticas em uma corrente contínua de gás.
Suponha inicialmente que a temperatura inicial do líquido é igual a do gás. Como o gás
não está saturado, o líquido é evaporado, e sendo o processo adiabático, o calor
latente é fornecido para resfriamento do líquido. Representa-se por Tw a temperatura
que se alcança no estado estacionário e recebe o nome de temperatura de bulbo
úmido. A Tw é uma função de T e de H.
Para se medir com precisão a temperatura de bulbo úmido, são necessárias três
precauções:
(1) A mecha úmida deve estar totalmente molhada.
(2) A velocidade deve ser suficientemente alta para assegurar que a transferência
de calor por radiação é desprezível.
(3) Caso haja necessidade de repor líquido no bulbo, a temperatura do mesmo
deve ser igual a temperatura de bulbo úmido.

A temperatura de bulbo úmido está relacionada com a temperatura de saturação


adiabática. Para misturas ar-água estas temperaturas são aproximadamente iguais, sendo,
entretanto, uma coincidência que não é válida para misturas diferentes de ar-água.

Uso da carta psicrométrica


A utilização da carta psicométrica como fonte de dados de uma mistura ar-água
pode ser acompanhada na Figura abaixo. Suponha-se que se conhece, por exemplo, a
temperatura T1 e a umidade percentual HA1 de uma corrente de ar não saturado
representado pelo ponto a do diagrama. Este ponto é a intersecção da linha de
temperatura constante T1 com a linha de umidade constante percentual HA1. A umidade
do ar H1 é dada pelo ponto b. O ponto de orvalho é obtido seguindo-se a linha de
umidade constante que passa pelo ponto a até alcançar o ponto c situado sobre a linha
de 100% de umidade. O ponto de orvalho vem dado pela temperatura d no eixo das
abscissas. A temperatura de saturação adiabática é a correspondente a linha de
esfriamento adiabático que passa pelo ponto a. A umidade para a saturação adiabática
é obtida seguindo a linha adiabática até alcançar a intersecção e com a linha de 100%,
cuja umidade Hs corresponde ao ponto f da escala de umidade. Em muitos casos pode
ser necessária a interpolação entre as linhas adiabáticas. A temperatura de saturação
adiabática Ts vem dada pelo ponto g. Se o ar original se satura a temperatura
constante, a umidade de saturação é obtida seguindo a linha de temperatura constante
que passa pelo ponto a até o ponto h, cuja umidade correspondente é lida no ponto j.
O volume úmido do ar obtém-se localizando os pontos k e l nas curvas de
volume saturado e seco. O ponto m situa-se a uma distância (HA/100)kl, sobre a linha
lk. O volume úmido vH é dado pelo ponto n na escala de volume. O calor úmido do ar é
obtido localizando-se o ponto o, correspondente a intersecção da linha de calor úmido
com a linha de umidade constante, que passa pelo ponto a. O calor úmido cS do ponto
p é lido na escala superior.
As linhas de resfriamento adiabático são linhas de entalpia quase constantes
para a mistura de ar-água de entrada e pode-se utilizá-las sem muito erro (1ou 2%)
para determinar a entalpia destas misturas. Contudo é possível corrigir um valor de
entalpia para o desvio que existe no caso de uma mistura de ar-vapor d’água não-
saturado, usando as linhas de desvios de entalpia que aparecem na carta.
Carta psicrométrica (exemplo de utilização)
Exemplo 6 (Perry): Determinar o consumo de água e a quantidade de calor dissipado
por uma corrente de ar de 1000 ft3/min a 90°F (bulbo seco), cuja temperatura de bulbo
úmido é 70 °F quando a corrente de ar na saída do equipamento está saturada a 110 °F
e a água de reposição está a 75°F. Solução:
Umidade saída: H2 = 416 grãos/lb ar seco ; Umidade entrada H1 = 78 grãos/lb ar seco
Umidade adicionada ∆H = 338 grãos/lb ar seco
Entalpia umidade adicionada = m.cp.∆T hw=(338/7000)(1)(75-32) = 2,08 Btu/lb ar seco
(1lb água=7000 grãos)
Entalpia de entrada do ar = h1 = h’1 + D1 =34,1 – 0,18 = 33,92
Entalpia de saída do ar = h2 = h’2 + D2 = 92,34 + 0 = 92,34
Variação de entalpia: Q = ∆h ∆h = h2 – h1 – hw = 56,34 Btu/lb ar seco
Volume específico do ar de entrada = 14,1 ft3/lb
Calor total dissipado = m∆
& h = (1000/14,1) * 56,34 = 3.990 Btu/min.
Consumo de água = m& ∆Η = (1000/14,1)(338/7000) = 3,42 lb / min

Referências:
McCabe, L.W.; Smith, J.C. e Harriot, P. Unit Operations of Chemical Engineering. Sec 4,
Cap 23, Humidification operations, 1993.
Perry & Chilton. Manual de Engenharia Química. Ed. Guanabara Dois. Seção 12, 1980.
Himmelblau, D.M. Engenharia Química - Princípios e Cálculos. Ed. LTC, 6a Edição, 1998.

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