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INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE

TECNOLOGIA, INFRAESTRUTURA
E TERRITÓRIO (ILATIT)
ARQUITETURA E URBANISMO

ANÁLISE DA SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL NO


MUNICÍPIO DE APARECIDA-SP, COM ÊNFASE NA
QUESTÃO DE MOBILIDADE URBANA DO BAIRRO TIGRÃO.

YURI JOSÉ ONTIVEROS ESAÚ DOS SANTOS

Aparecida
Ano 2021
1. Debata o texto “Questão agrária e América latina: breves aportes para um
debate urgente” de Roberta Traspadini. Para isso aponte: a principal ideia do
texto, os principais argumentos da autora e como ele se relaciona com a
realidade latino-americana.

A partir do referencial marxista, a autora busca compreender a questão agrária na


América Latina, trabalhando três tópicos sendo eles 1- Abya Yala x AL 2- AL e o
estado capitalista dependente 3- AL e as diversas fases da ideologia do
desenvolvimento.
Assim, ela monta seu estudo para compreender o papel da AL e sua função agrária.
Ela cita sobre o processo de invasão e colonização de uma terra já habitada que foi
roubada e invada para fins de comerciais enriquecedores de terceiros e logo a faceta
que questão agrária toma como transformadora das ideologias políticas, do território e
das relações humanas em todo o processo histórico de formação da América Latina,
até os dias atuais. Assim, ela busca, por meio do tema histórico agrário reconhecer a
ignorância a respeito do passado de Abya Yala que foi destruído com a invasão e
colonização, compreender as lutas e movimentos de resistências, e decifrar a
centralidade que a terra e a agricultura tem para o acúmulo de capital.

1. Questão agrária: Abya Yala versus América Latina

Abya Yalla significa Terra Viva ou Terra em Amadurecimento, na língua do povo Kuna,
localizados na Colômbia. Já era o nome atribuído à localidade que hoje denominamos
como América Latina, nome esse que faz referência ao Latim (a língua e sua
dominação num território multiétnico) e ao Américo “descobridor” do continente, como
outra característica de dominação.
A questão proposta pela autora para alimentar sua linha de raciocínio e argumentação,
parte da questão de dominação de um território já habitado e posteriormente a
introdução de um modelo agrário predatório em território Abya Yala. Vale ressaltar que
o sistema agrário de subsistência e agroflorestal já existia com os Incas, mayas,
astecas e etc. Porém agora o modelo agrário, tomava uma face exploratória de
exportação e de monocultivo, agredindo o solo e a gente ali escravizada.
Para isso a autora evidencia a tríade da violência estrutural agrária promovida pela
invasão, sendo ela monocultivo-latifúndio-trabalho escravo. Ao se pautarem nestes três
tópicos exploratórios, o europeu leva o território ao mais alto grau de exploração, ao
usar nossa terra e nossa gente para seu próprio benefício, desenvolvendo-se e
pautando-se sempre na exploração do solo e das pessoa, formando, assim, as grandes
propriedades privadas, demarcadas, defendidas e amparadas pelas leis hoje, mas que
um dia foram fruto de apropriação e morte. Não é à toa que essa é uma característica
evidenciada pela autora e de conhecimento geral, grandes propriedades latifundiárias
pertencentes à poucos e voltados à exportação e ao acúmulo próprio de capital.
2. América Latina e Caribenha e a conformação do Estado capitalista dependente

Assim, já no século XIX começam as legalizações formais da terra e da propriedade


privada para aqueles que um dia a roubaram e a exploraram num passado não tão
distante. Pessoas essas que em maioria possuem hereditariedade com o suposto dono
daquele espaço, mas que um dia foi saqueado para benefício próprio. Ao mesmo
tempo que a legalização de delimitação dessas terras acontecem, há um processo
contrário aos movimentos de resistência e luta pela reforma agrária por grupos que
também possuem marginalidade hereditária, sendo eles indígenas, quilombolas e
campestres.
Como demonstrado pela autora, esses grupos foram um dia marginalizados e
violentados no passado, e hoje, sua forma de vida e característica ainda se apresenta
marginalizada, muitas vezes amparadas por leis que não lhes abrange ou até mesmo
que os criminalizam, sendo que o natural seria o processo contrário, já que há o
conhecimento histórico de violência e reflexo no presente que os caracterizam como
grupos vulneráveis.
Essa política criminalizadora de movimentos e consentimento e legalização de terras
latifundiárias é amparada ainda mais com com o início do desenvolvimento tecnológico
industrial da Europa e Estado Unidos passando, então, a responsabilidade do
desenvolvimento agrícola e agropecuário aos países latino americanos com a
associação de desenvolvimento e melhora para a nação. Porém de efeito concreto só
mostrou a concentração de renda proporcionada pela propriedade privada (que um dia
foi tomada) e pela exploração do trabalho pelo escravismo no passado e por analogia
no passado mais recente.

3. América Latina e as diversas fases da ideologia do desenvolvimento (do nacional ao


neodesenvolvimentismo clássico/contemporâneo)

Pautados pelo início do desenvolvimento industrial e contudo do processo de


globalização, regulado pela economia capitalista, os países se percebem cada vez
mais conectados e dependentes entre si, tanto que a autora evidencia o fato de que a
crise de 1929 foi a “primeira grande crise com desdobramentos internacionais,
tamanha a proporção de trabalhadores e territórios evolvidos”.
De 1930 a 1970 como explicitado pela autora, começa, então, o discurso
desenvolvimentista marcado pela mecanização do campo e posteriormente pela
Revolução Verde, no qual a intensa tecnologia mecânica (maquinários pesados que
aumentam a produção intensiva e substitui o trabalho braçal, provocando o Êxodo
Rural) e a tecnologia biológica, no qual houve intensa produção e estudo científico na
transgenia de sementes e pesticidas.
Estes aspectos influenciaram diretamente na saída do campo para as cidades,
tornando o crescimento urbano acelerado, expandido e caótico já que foi marcado pelo
desemprego em massa no campo e pela oportunidade industrial na cidade. Entretanto,
estes acontecimentos corroboraram para várias outras problemáticas nas cidades e
principalmente nas grandes capitais, onde a marginalização, concentração de renda e
a segregação socioespacial marcam a era do século XXI, atreladas ao discurso
desenvolvimentista que se apresenta para poucos, para os grandes proprietários de
terras.
Fato que proporcionou problemas sociais e também seus descontentamentos e
resistências por parte do grupos marginalizados, representados por movimentos de luta
e partidos apoiadores, tanto que a autora comenta brevemente a divisão mais notória
entre esquerda e direita promovida pela quebra do muro de Berlim e a concepção de
mundo ligada à ele, e as causas sociais e seus atuantes em território brasileiro.
Favorecido então pelo modelo neodesenvolvimentismo-neoliberalismo, países como
Brasil, Argentina e México, políticas e demandas públicas voltam-se ao grande capital
e às normas decorrentes da acumulação de riquezas favorecidas à um grupo seleto e
institui a internacionalização das economias e suas dependências, fato este que coloca
em segundo plano e suposto atraso para o desenvolvimento do país, marginalizando e
criminalizando, são as lutas que se decorrem pelos direitos básicos à terra e pelo
direito à vida, tornando esta resistência precarizada tanto pelo governo, quanto pelo
marketing de criminalidade e decadência atrelado à esses grupos.
Além disso a autora classifica em em três modos a questão agrária do séc XXI. Sendo
o agronegócio e sua apropriação de terras pelo capital estrangeiro e nacional, a
resposta de ação dependente do Estados Unidos pela sua influência em nosso
território, e a religiosa-ideológica que traz a concepção de dominação e
conservadorismo no meio da luta pela acesso à terra.

2. Descreva o programa ProSavanna e o relacione com o texto “Questão agrária e


América latina: breves aportes para um debate urgente”.

ProSavanna significa Programa de Tripartida para o Desenvolvimento Agrícola da


Savana Tropical no Norte de Moçambique. Este programa tripartido, foi lançado em
2011 e é composto por Brasil, Japão e Moçambique e visa introduzir a tecnologia e
conhecimento da agricultura brasileira, conhecida mundialmente pela extensa
produção de soja no centro-oeste, mais especificamente no estado do Mato Grosso,
com investidores e a logística Japonesa na distribuição da commoditie alimentícia para
a Ásia e outros continentes, junto à Moçambique intermediando e conduzindo as
políticas de território.
Compreendendo cerca de 11 milhões de hectares o Corredor de Nacala, que liga o
Porto de Nacala localizado no nordeste do país, até o à fronteira entre Malawi no
noroeste estava previsto a construção de uma ferrovia pela Vale do Rio Doce, a fim de
integrar logisticamente a área para escoação da commoditie, já eu aquela faixa seria
usada para a introdução da agricultura intensiva para exportação.
Até ai parece que há investimento e desenvolvimento no país com a inserção de
empresário e investidores em solo moçambiquenho, com a possiblidade de geração de
emprego para o povo local e consequentemente amenização da pobreza, tão assolada
no país e no continente em geral. Entretanto, à exemplo de Gurué, cidade próxima à
faixa de Nacala, onde há grande presença de camponeses e agricultura familiar, no
ano 2012 a 2015 muitas das pessoas que moravam na região foram desapropriadas
pela pressão do próprio governo, a fim de inserir ali uma monocultura, até que a terra
foi cedida para um grupo único tornando-a privada.

Portanto, à exemplo de Gurué, este grande projeto ProSavanna, com o marketing de


desenvolvimento, em sua verdade não passa de um outro caso de desapropriação de
terras pelo próprio Governo que prioriza o lucro próprio do que o bem de seus
cidadãos, já que além da terra ser barata por estar num país pobre e há o interesse
comercial facilitado e subsidiado ali, o capital que volta para o Estado, minimamente
tem um retorno para a própria população que antes habitava.
Com a desapropriação de terras e o monocultivo intensivo, o camponês perde dua
fonte de subsistência e as vezes até quando consegue mantê-la acaba sendo
prejudicado pela competição com uma multinacional totalmente equipada e com
sementes modificadas.
Felizmente o programa ProSavanna não sucedeu e nem foi adiante, devido aos
movimentos sociais campestres e apoio de organizações e partidos políticos, tanto de
Moçambique como do Brasil. Com o questionamento a respeito de um diálogo aberto
de propostas e ao mesmo tempo rechaça em outros métodos e pontos que diziam
respeito ao processo de plantio que seria implementado, estes grupos conseguiram
mostrar as entrelinhas do projeto e torna-lo mais público, fazendo com que houvesse
desistência de investidores.
Com o exemplo de caso do projeto ProSavanna e de Gurué fica claro a semelhança
com o processo de construção agrária em território brasileiro descrito no artigo
Questão agrária e América latina: breves aportes para um debate urgente de Roberta
Traspadini ao ser relatado em três momentos como se deu a questão agrícola.
Assim como o Brasil, Moçambique também sofreu um processo de invasão, exploração
e colonização portuguesa, tomando o território do povo que ali se encontrava,
comercializando-o para o próprio benefício e enriquecimento, escravizando e
marginalizando os grupos vulneráveis.
Como segundo e terceiro momento citado por Traspadini, Moçambique sofre hoje as
mazelas que o passado lhe trouxe, apresentando grupos em vulnerabilidade
socioambiental que vivem resistindo ao predatorismo do capitalismo internacional que
na intenção de se apropriar de suas terras, se apoia a um Governo omisso e
corrompido que se beneficia unicamente dessa relação entre multinacional e a posse
da terra permitida pelo Estado.
Porém como forma de resistência ao ProSavanna e à essas políticas predatórias, esse
movimentos na busca de impedirem um desastre ambiental, social e humano se
organizaram e tomaram providências como os movimentos brasileiros têm feito ao
longo de anos, pois só assim será possível manter seus territórios que um dia foram
roubados e ainda continuam sendo alvo para o grande capital.

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