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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

ALAMBIQUE E PARQUE ECOLÓGICO VALE VERDE:


UMA ANÁLISE NO ÂMBITO DA SUSTENTABILIDADE SOCIAL E
AMBIENTAL

Professor orientador:
Walter Tedeschi
waltertedeschi@uol.com.br
Mestre em Administração,
Universidade Federal de Minas Gerais

Aline Assis Silva


alyneasb@hotmail.com

Amanda Carvalho de Jesus


amandacarvalhodj@hotmail.com

Larissa Moreira Roque


larisa_lalamr@hotmail.com

Lourdes Aparecida dos Santos Carvalhais


lourdescarvalhais82@gmail.com

Estudantes do 3º Período de Administração,


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Betim
2016
Resumo

Este trabalho busca analisar as práticas socioambientais do Parque Ecológico e


Alambique Vale Verde localizado em Vianópolis, bairro de Betim, e sua relação com a
comunidade local. São apresentados e discutidos alguns conceitos relacionados ao tema, tais
como - sustentabilidade, valoração econômica ambiental, biomimetismo e a expansão da
produtividade radical dos recursos - e relatados a percepção dos pesquisadores em relação à
aplicação desses conceitos no caso do Parque Ecológico e Alambique Vale Verde.
A fim de atribuir mais profundidade ao estudo, foi realizada uma visita à região de
Vianópolis, e ao Vale Verde, com o intuito de ampliar, a partir da coleta “in loco” de
informações a respeito da preocupação da empresa com o meio ambiente e com a sociedade.
Para realizar essa pesquisa, foram desenvolvidos dois questionários: um destinado à
administração do parque, buscando explorar as práticas da empresa voltadas à comunidade e
ao meio ambiente; e outro destinado aos moradores e comerciantes de Vianópolis, a fim de
identificar e conhecer a percepção dos que estão no entorno do parque.

Palavras-chave: Vale Verde; sustentabilidade; valoração econômica ambiental; hedonismo;


gestão de recursos naturais.
1. Introdução

O processo cada vez mais acelerado de avanço do capitalismo, combinado com o


aumento constante da população mundial, provocou um desequilíbrio na manutenção dos
recursos naturais, uma vez que os recursos naturais não se reproduzem na mesma velocidade
que nós os consumimos. Com isso, surgiu a necessidade de se criar leis específicas de
controle ambiental acerca dos custos sociais e ambientais resultantes do modelo de
desenvolvimento capitalista.
Nesse cenário, foi preciso introduzir nas organizações a gestão voltada para a
sustentabilidade, desenvolvendo ferramentas capazes de aliar a produção de bens e serviços, à
preservação da capacidade dos ecossistemas e serviços ambientais, além de proporcionar um
ambiente que estimule a criação de relações de trabalho legítimas e saudáveis. O propósito
dessa pesquisa é o de identificar a aplicação desta gestão sustentável, tendo como objeto de
estudo o parque ecológico Vale Verde.
O Vale Verde é um parque ecológico localizado no bairro Vianópolis do município de
Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. Seu objetivo principal é proporcionar aos
seus visitantes um ambiente agradável e tranquilo através do contato com a natureza. Oferece
diversas atrações de lazer e possui ainda um zoológico que trabalha com a conservação de
espécies mantidas em cativeiro e uma grande variedade de plantas. Além disso, ali é
produzida cachaça artesanal em um processo, qualificado pela organização, como
inteiramente sustentável.
Esse estudo buscou analisar as práticas socioambientais da empresa no que tange à
relação com a comunidade local e a gestão dos recursos naturais utilizados para a manutenção
do parque e para a produção da cachaça e dos demais produtos comercializados. Além disso,
foi observada a atuação do parque em relação à preservação e educação ambiental,
considerados um referencial da empresa.

2. Fundamentação teórica

A argumentação de que a maioria dos recursos naturais são economicamente gratuitos,


fizeram com que o estudo deles saísse de cena na análise econômica por muitos anos. (Silva,
2003) Contudo, com a crescente deterioração dos recursos naturais e o advento de fenômenos
naturais, o uso sustentável dos recursos naturais está cada vez mais em foco nas estratégias
das organizações em geral.
HAWKEN, P.; LOVINS, A.; LOVINS, L. H. (1999) afirmam que o capitalismo, da
forma que vem sendo praticado, é uma forma lucrativa, porém insustentável do
desenvolvimento humano. Portanto faz-se necessário uma nova economia que valorize
plenamente todas as formas de capital, inclusive o humano e o natural.
Existem várias definições para sustentabilidade, mas a que é mais comumente aceita é
como sendo a capacidade de interação do ser humano com o mundo, preservando o meio
ambiente para não comprometer os recursos naturais das gerações futuras.
Para Mikhailova (2004), uma sociedade sustentável é aquela que não coloca em risco
os elementos do meio ambiente. Desenvolvimento sustentável é aquele que melhora a
qualidade da vida do homem na Terra ao mesmo tempo em que respeita a capacidade de
produção dos ecossistemas nos quais vivemos. A sustentabilidade está diretamente
relacionada ao desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio ambiente, usando
os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro.
Segundo o Relatório Brundtland (1987), o uso sustentável dos recursos naturais deve
"suprir as necessidades da geração presente sem afetar a possibilidade das gerações futuras de
suprir as suas".
Contudo, a sustentabilidade não está relacionada apenas à preservação ambiental. Essa
ideia é dividida em três pilares: o social, o econômico e o ambiental. Para se desenvolver de
forma sustentável, uma empresa deve atuar de forma que esses três pilares coexistam e
interajam entre si de forma plenamente harmoniosa.
A sustentabilidade social trata de todo capital humano - funcionários, público-alvo,
fornecedores, comunidade ao entorno e a sociedade em geral - que está, direta ou
indiretamente, relacionado às atividades desenvolvidas por uma empresa. É sabido que
empresas socialmente sustentáveis devem proporcionar um ambiente que estimule a criação
de relações de trabalho legítimas e saudáveis, além de favorecer o desenvolvimento pessoal e
coletivo dos direta ou indiretamente envolvidos.
A sustentabilidade econômica se refere à capacidade de desenvolvimento da empresa
de forma justa em relação aos seus concorrentes do mercado. Além disso, a empresa deve
produzir, distribuir e oferecer seus produtos ou serviços de forma que não cause desequilíbrio
nos ecossistemas a seu redor.
A sustentabilidade ambiental trata das condutas que causem algum impacto no meio
ambiente, seja a curto, médio ou longo prazo. O objetivo do desenvolvimento sustentável é
minimizar ao máximo os impactos ambientais causados pela produção indústria (Tera
Ambiental)
A importância dos recursos naturais se traduz em valores para as pessoas, seja pelo seu
uso ou pelo bem-estar proporcionado por eles. Ao valor econômico dos recursos naturais, dá-
se o nome valoração econômica ambiental. (Motta, 1997)
A valoração econômica ambiental é uma ferramenta fundamental para a formulação e
a avaliação de políticas públicas orientadas ao desenvolvimento sustentável e à preservação
dos recursos ambientais. (Ortiz, 2003, p.97).
Nesta perspectiva, são analisadas as mudanças ocorridas nos recursos ambientais e os
efeitos que estas alterações surtem no bem-estar do homem, com o intuito de mensurar o valor
destes.
Segundo Motta (1997), o valor econômico de um recurso ambiental é estimado
monetariamente a partir da determinação de seu valor em relação aos outros bens e serviços
disponíveis na economia.
Sebold e Silva (2004) acrescentam, afirmando que a valoração ambiental pode ser
definida como um conjunto de técnicas que permitem avaliar as probabilidades de benefícios
ou custos advindos do uso de um ativo ambiental. Os métodos de valoração tem em comum a
medição do desejo das pessoas pelos benefícios de um recurso ambiental e a disposição destas
em pagar por tal benefício.
As técnicas de valoração ambiental são muito importantes para a gestão de recursos
ambientais por proporcionarem a análise de como alocar os recursos de forma a obter o maior
beneficio social e inserir o meio ambiente nas estratégias de desenvolvimento econômico.
(Ortiz, 2003)
Para Sebold e Silva (2004), o valor econômico total de um recurso natural pode ser
classificado em duas categorias: valor de uso, que corresponde ao valor que os indivíduos
atribuem a um recurso natural pelo seu uso no presente ou seu uso potencial no futuro,
podendo atribuir preços de mercado e, valor de não uso, que se refere ao valor dissociado do
uso, expressando o valor intrínseco do recurso e refletindo, desta forma, o seu valor de
existência. Neste caso, os indivíduos não pensam em utilizar os serviços do recurso e lhes
atribui valor pelo simples prazer de ver ou contemplá-lo.
Conforme Ortiz (2003) há vários métodos para valorar um recurso ambiental. Pode-se
fazer de maneira indireta, inferindo o valor econômico do recurso ambiental a partir da
observação do comportamento dos indivíduos em mercados relacionados com o ativo
ambiental. Ou de maneira direta, inferindo as preferências individuais por bens ou serviços
ambientais a partir de perguntas feitas diretamente às pessoas.
Os locais que mais utilizam esta prática são áreas turísticas que são visitadas por
muitas pessoas e locais que abrigam recursos naturais.

3. Metodologia

Com a intenção de investigar os conceitos desenvolvidos, foi realizada uma visita à


região de Vianópolis, e ao Vale Verde. Os instrumentos utilizados na coleta dos dados dois
questionários estruturados: um destinado à administração do parque, buscando conhecer as
ações da empresa voltadas à comunidade e ao meio ambiente; e o outro destinado aos
moradores e comerciantes de Vianópolis, a fim de conhecer a percepção dos que estão no
entorno do parque, ou seja, na região de Vianópolis.

4. Sustentabilidade social: analisando o entorno do parque

A lei nº 4.574 de 02 de outubro de 2007 que trata de políticas urbanas do município de


Betim estabelece que “consideram-se como pertencente à região de Vianópolis, a região
compreendida entre a divisa de Esmeraldas, a Bacia de Várzea das Flores, a área delimitada
como Zona de Expansão Urbana, a BR 262 e o Rio Paraopeba”.
A região de Vianópolis se constitui no principal núcleo de atividades agrosilvopastoris
do Município, de turismo e de lazer integrado à natureza.
A percepção acerca das características da região leva a presumir que a população é
desabastada e a região carece de desenvolvimento econômico. De acordo com informações
obtidas do Censo IBGE 2010, o percentual de pessoas analfabetas com 15 anos ou mais
naquela região é de 7,40%, um dos piores do munícipio de Betim. O percentual de pessoas
entre 10 e 14 anos que trabalham é de 9,9% e o percentual de pessoas em situação de pobreza
extrema (com renda per capita até R$ 70) é de 3,03%.
As empresas são instituições sociais, ou seja, possuem a responsabilidade de
contribuir para o desenvolvimento econômico sustentável, buscando melhorar a qualidade de
vida dos empregados, de suas famílias e da sociedade em geral (Kreitlon,2004). Bertoncello e
Chang Jr (2007) afirmam que “a responsabilidade das empresas vai além da responsabilidade
de maximizar lucros e incorporam-se a esta a necessidade de uma postura pública perante os
recursos econômicos e humanos da sociedade e a vontade de ver esses recursos utilizados
para fins sociais mais amplos e não simplesmente para os interesses privados dos indivíduos.”
Portanto, a relação da empresa com a população que está no seu entorno constitui fator
importante na análise da sustentabilidade empresarial. Na primeira parte desse estudo,
buscou-se apurar o ponto de vista dos moradores de Vianópolis sobre as práticas sociais do
Vale Verde. E num segundo momento, é apresentado o que foi declarado pela empresa a
respeito disto.
A fim de identificar a opinião a respeito da presença do Vale Verde em Vianópolis
foram entrevistados 21 moradores, em sua maioria comerciantes. As questões levantadas
tinham como propósito averiguar o que o parque ecológico Vale Verde representa para eles, a
influência quanto às boas práticas de preservação e educação ambiental, oferta de emprego e
os benefícios concedidos pelo empreendimento.
4.1. Influência do Vale Verde em educação e preservação ambiental

Neste tópico, almejava-se investigar o ponto de vista dos moradores de Vianópolis


acerca da atuação do Vale Verde em preservação e educação ambiental. A partir das respostas
obtidas, constatou-se que há pouco conhecimento dos entrevistados das práticas de educação e
preservação ambiental por parte do Vale Verde na área externa do parque. Em contrapartida,
no que tange às ações realizadas dentro do parque, as respostas foram positivas. A maioria dos
entrevistados consideram válidas as práticas de preservação ambiental do Vale Verde, por
meio do cuidado dos profissionais com a área verde e com os animais.
Supõe-se que os respondentes que avaliam negativamente essa questão provavelmente
possuem alguma expectativa sobre o que é ação em educação ambiental diferente do que é
visto e consideram que poderiam ser realizadas ações voltadas à comunidade externa. Os
respondentes, em sua totalidade, alegaram nunca ter participado de projetos ofertados pelo
parque e informaram desconhecer a existência de tais. Como consequência, os moradores
daquela região afirmam não ter o comportamento influenciado pela empresa. As figuras 1, 2 e
3 apresentam os percentuais das respostas para questões referentes à práticas de preservação e
educação ambiental.

Figura 1

Classificação das ações direcionadas


ao meio ambiente praticadas pelo
Vale Verde

Frequentes
24%
Não frequentes
57% 19% Não classifica

Fonte: dados primários da pesquisa

Figura 3

Avaliação da práticas de educação


ambiental
Importante
Figura 2
19%
29% Muito
importante
19%
Não ocorre
33%
Desconheço

Fonte: dados primários da pesquisa


Figura 4

Influência do Vale Verde no


comportamento em relação à
preservação ambiental

24% Sim

76% Não

Fonte: dados primários da pesquisa

4.2. Influência do Vale Verde quanto à relação comercial, oferta de emprego e geração
de renda para os moradores de Vianópolis

Neste tópico foram averiguadas questões referentes à oferta de emprego, geração de


renda e relações comerciais entre os moradores de Vianópolis e o Vale Verde. Das respostas
obtidas, detectou-se que a maioria considera o Vale Verde como importante ou muito
importante na geração de emprego e renda. Pode-se inferir que o Vale Verde contrata, em sua
maioria, mão-de obra local, uma vez que os entrevistados alegam conhecer pessoas que
exercem alguma atividade no Parque.
Os entrevistados afirmaram também que a presença da empresa favorece o comércio
da região, já que muitos fregueses são visitantes ou funcionários do parque. De acordo com as
respostas obtidas, 5% dos entrevistados mantêm uma relação comercial direta com o Vale
Verde. O restante dos entrevistados, que totalizam 95% não mantem nenhuma relação
comercial. Alguns entrevistados demonstraram interesse em comercializar seus produtos
dentro do parque. As figuras 4, 5, 6 e 7 apresentadas a seguir, apresentam os percentuais das
respostas para questões referentes à relação comercial e geração de emprego e renda.

Figura 4 Figura 5

Avaliação das ofertas de emprego Trabalha ou conhece algum


morador que trabalha na Vale
Importante Verde
9%
14%
23% Muito Sim
50% importante

18% Não ocorre Não


86%

Desconheço
Fonte: dados primários da pesquisa Fonte: dados primários da pesquisa
Figura 6 Figura 7

Sua atividade econômica tem Mantém alguma relação


alguma relação com a Vale Verde comercial com a Vale Verde
5%

29% Sim Sim

71% Não Não


95%

Fonte: dados primários da pesquisa Fonte: dados primários da pesquisa

4.3. Benefícios concedidos pelo empreendimento

Neste tópico, foi questionado a respeito dos benefícios advindos da presença do Vale
Verde em Betim, no ponto de vista dos moradores de Vianópolis. A maioria dos entrevistados
consideram as ações do Vale Verde como benéficas para a região de Vianópolis. A justificativa
das respostas gira em torno da relevância das atrações de lazer e ainda do consequente
favorecimento trazido pelo turismo. É relatada também a importância advinda do
enriquecimento cultural, uma vez que os méritos obtidos pela excelência na produção de
cachaça culminaram em premiações e no reconhecimento da qualidade dos produtos.
Os entrevistados em sua maioria, afirmaram já ter visitado o parque, mas com pouca
frequência. Foi relatado que tal fato é devido aos preços para o ingresso e também dos demais
custos para o uso das opções de lazer e consumo do parque.
Dos entrevistados, 86% acreditam que a presença do Vale Verde em Vianópolis
contribui para a valorização dos imóveis locais.
O Bairro Vianópolis é muito valorizado e está voltado para o público que deseja
residir em um lugar distante da confusão das megalópoles (Jornal Estado de Minas em
07/01/2013). Além disso, um dos fatores preponderantes para a compra de imóveis no local se
deve por estar em um espaço rodeado pela natureza.
Esse fato relaciona-se com o conceito de precificação hedônica que consiste em
utilizar dados do mercado provenientes das compras realizadas para a determinação do valor
dos atributos de um bem particular. (FÁVERO, BELFIORE & LIMA, 2008) Esse método é
mais comumente aplicado à variação dos preços de habitação que refletem o valor dos
atributos ambientais locais.(Site economia do meio ambiente)
O termo hedônico indica a sensação de prazer ou a felicidade que um consumidor
apresenta dependendo do nível de atributos que o bem adquirido possui. Em função disso,
pressupõe-se que há uma relação indireta entre a presença do Vale Verde e o valor dos imóveis
em Vianópolis, proveniente das ações de preservação ambiental e pela posição como empresa
de grande porte.
Quando questionados a respeito da relevância do Vale Verde para a cidade de Betim,
a maioria dos entrevistados considerou-o de significativa importância, seja pela opção de
lazer, ou pela geração de emprego ou ainda, ao contribuir para a valorização a economia da
cidade por ser um empreendimento reconhecido pela comunidade.
As figuras apresentados a seguir (8, 9, 10 e 11), demonstram os percentuais das
respostas para questões referentes aos benefícios proporcionados pela presença do Vale Verde
em Betim, sobretudo em Vianópolis.

Figura 8 Figura 9
Avaliação dos benefícios Visita ou visitou o Vale Verde
concedidos pelo empreendimento
Importante
9% 33%
Muito Sim
43% importante
29% Não
Não ocorre 67%
19% Desconheço

Fonte: dados primários da pesquisa Fonte: dados primários da pesquisa

Figura 10 Figura 11

Avaliação da contribuição do Vale Classificação da importância do


Verde para a valorização dos Vale Verde para Betim
imóveis locais
Muito
10% importante
14% 9% 33% Importante
Sim
Não Não são
86% 48%
importantes
Desconheço

Fonte: dados primários da pesquisa Fonte: dados primários da pesquisa

5. Sustentabilidade ambiental: percepções obtidas na visita ao Parque Ecológico Vale


Verde

De acordo com De Oliveira Claro, et. al(2008) , a sustentabilidade ambiental leva as


empresas a considerarem o impacto de suas atividades no ambiente e contribui para a
integração da administração ambiental na rotina de trabalho.
A visita ao parque teve como objetivo a identificação de práticas ambientalmente
sustentáveis nas diversas atividades realizadas, tais como: processo de produção da cachaça e
demais produtos comercializados, manutenção da estrutura do parque em geral (água, energia
elétrica). Procurou-se, também identificar o perfil socioeconômico dos visitantes e averiguar o
motivo pelo qual visitavam o parque.
No que tange à questão do uso dos recursos na produção da cachaça, que é o produto
mais conhecido e comercializado da empresa, observou-se a estratégia do biomimetismo, que
consiste “na redução do desperdício no uso dos materiais, a partir da reestruturação dos
sistemas industriais em linhas biológicas que modifique a natureza dos processos,
possibilitando a reciclagem constante do material e a eliminação da toxicidade”. (HAWKEN,
P.; LOVINS, A.; LOVINS, L. H. ,1999, p. )
Segundo relatos de uma educadora ambiental e funcionária do parque, a produção das
cachaças Vale Verde é absolutamente natural. Todo o processo é sustentável e os resíduos são
reutilizados a partir de suas características. A colheita da cana é feita sem a aplicação da
tradicional queima; o bagaço da cana é usado como combustível para as cadeiras de vapor,
adubo para plantas, alimento animal e ninho de pássaros; a fermentação é realizada com
nutrientes naturais, sem nenhum aditivo químico; as leveduras e bactérias viram o vinhoto,
resíduo que recebe tratamento e é reutilizado como fertilizante; por fim, a parcela de álcool
impróprio para consumo é transformado em combustível para os veículos do parque.
Em relação à gestão dos recursos hídricos também foram observadas práticas que
demonstram a preocupação da empresa com a preservação ambiental. As águas de lavagem do
processo de engarrafamento da cachaça passam pela estação de tratamento e são reutilizadas
na irrigação dos jardins do parque.
Além disso, há o desenvolvimento de uma proposta que envolve o reuso de água na
criação de peixes e cultivo de orgânicos, além de materiais recicláveis na captação de água da
chuva que auxilia no processo. O sistema, chamado de aquaponia, é formado por um aquário,
alguns vasos de plantas e um tambor para armazenamento de água da chuva. Quando a água
do aquário está poluída com amônia, ácido úrico ou outras substâncias tóxicas liberadas pelos
peixes, é retirada e colocada nos vasos de plantas para purificação. As camadas do solo são
utilizadas para limpar a água, pois a terra funciona como um filtro. As plantas não absorvem
a amônia, mas o solo a transforma em nitrogênio que constitui substância essencial para o
desenvolvimento destas. A água retorna limpa ao aquário, e a amônia vira fertilizante para as
plantas. Através de uma calha é captada água da chuva e armazenada em um tambor. A água
da chuva é utilizada para reabastecer o sistema se necessário, pois parte da água se perde no
processo. O modelo de sistema no parque é pequeno, mas pode ser reproduzido em grandes
escalas.
As práticas observadas caracterizam a conduta da sustentabilidade ambiental atestada
através da consciência, por parte da empresa, do impacto causado pelo efeito de suas ações no
ambiente e a consequente busca da minimização destas.

5.1. A sustentabilidade do ponto de vista da empresa

De acordo com informações cedidas pela administração do Vale Verde, o parque recebe,
em média, 20 mil visitantes mensalmente. Afirma-se ainda que dentre estes há famílias das
classes A, B e C e que a motivação para as visitas são a busca por diversão e aventura, além
da interação com a natureza que o parque faz questão de preservar.
Quando questionado a respeito do investimento em pesquisas voltadas à sustentabilidade e
inovações na área, foi informado que o parque ecológico investe em cursos e treinamentos
para que seus colaboradores possam aprimorar ainda mais o trabalho diário de
sustentabilidade do grupo.
A respeito da relação financeira entre o ingresso pago com o investimento em
sustentabilidade ambiental, afirmou-se que o valor cobrado é todo revertido para a
manutenção do parque, estando inclusas as ações de sustentabilidade ambiental. Dentre essas
ações de sustentabilidade ambiental, foi relatada a prática do enriquecimento ambiental que
consiste em colocar diversos estímulos no ambiente dos animais, de forma que desafie e
exercite seus instintos, diminuindo o estresse e melhorando seu bem estar. Todos os animais
do Parque Ecológico recebem cuidados médicos, infraestrutura e excelente alimentação.
Entretanto, há a preocupação que os animais usem seus instintos naturais na busca por
alimentos. Por isto eles precisam ser estimulados através de atividades de enriquecimento
ambiental. Com isso, já foi constatada uma mudança na fertilidade e nos resultados
reprodutivos da fauna do parque, que foram melhorados significativamente. Este fator
constitui um dos mais importantes indicadores para medir a qualidade de vida e bem estar dos
animais.
Conforme relatado pela administração do Vale Verde, por todo o parque há lixeiras, muitas
delas anteriormente usadas no processo de envelhecimento da cachaça, mas agora
deterioradas, são utilizadas na separação o lixo para que seja feito melhor uso dele. Além
disso, todas as oficinas feitas com os visitantes reutiliza algum tipo de material: rolo de papel
higiênico, garrafas pet, pneus, entre outros.
De acordo com a empresa, são desenvolvidas ações de conscientização sobre meio
ambiente com moradores do bairro, através de oficinas que reaproveitam materiais que
teoricamente iriam para o lixo.
Para alcançar seus objetivos o Vale Verde tem como visão estar entre os melhores parques
temáticos, de cunho ecológico, de aventura e divertimento, superando os padrões através da
excelência em atendimento, por meio de equipes motivadas e comprometidas com a satisfação
dos clientes, com a fauna e a flora, com a criação de diferenciais competitivos e com a
comunidade.
Nisto a missão da empresa é promover a diversão dos visitantes através de experiências
diversas, de forma segura e com preocupação e responsabilidade para com o meio ambiente,
com a educação e de maneira que seja rentável à organização.
Para que a visão seja alcançada e a missão cumprida, o Parque possui valores que guiam
as atividades diárias,interna e externamente. Esses valores estão relacionados ao tratamento
para com o cliente, no qual os funcionários procuram surpreendê-los pelo padrão de
qualidade, no atendimento e nas experiências. O comprometimento se faz através do
entendimento claro dos papéis e responsabilidades sempre focando nos objetivos e resultados
desafiadores. As relações internas e externas do Vale Verde se fazem com ética e
transparência, defendendo e praticando princípios de honestidade e ética. Proatividade é o
valor que a empresa associa a resolver os problemas, por meio da proposta de soluções e não
com justificativas. O espirito de equipe, o bom humor e a segurança promovem a construção
de um ambiente positivo, produtivo para os funcionários e clientes.

Conclusões

O resultado obtido a partir das respostas dos entrevistados em Vianópolis demonstra


que os moradores daquela região carecem de informações e conhecimento para avaliar ou
classificar ações de preservação e educação ambiental praticadas pelo Vale Verde
externamente ao parque.
Conclui-se que a presença do Vale Verde é fundamental para o desenvolvimento
econômico da região, visto que contribui para o comércio e representa grande parte da
geração de emprego e renda em Vianópolis. Além disso, pode-se considerar que a empresa
contribui de forma significativa nos aspectos relativos à sustentabilidade do município de
Betim, principalmente nos aspectos inerentes à geração e emprego e renda, propiciando ainda
uma opção de lazer e turismo.
Analisando o parque ecológico Vale Verde na perspectiva de empresa sustentável,
observa-se que esta favorece, como já mencionado, o desenvolvimento coletivo ao ofertar
emprego e renda. Contudo, a pesquisa revela a importância de uma maior difusão, no
ambiente externo das práticas da empresa, assim como da elaboração de projetos que
envolvam diretamente a comunidade local.
No interior da organização praticam-se os valores propostos, que tem conduzido o
bom tratamento do espaço e zelo pelo bem-estar dos visitantes, sendo percebidos, ao longo do
estudo, os esforços em passar um retorno positivo.
Os funcionários procuram esclarecer e tirar dúvidas quanto aos processos presentes,
principalmente enfatizando o aspecto da sustentabilidade ambiental. Dessa forma tem-se no
processo de produção da cachaça os exemplos mais evidentes da sustentabilidade ambiental,
os quais são obtidos principalmente pelo reaproveitamento e consequente redução do
desperdício no uso dos produtos e materiais.
Finalmente, pode-se inferir que os objetivos propostos foram alcançados, ainda que
em escala parcial, em um grau satisfatório.
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