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2º ano, Turma A
Patrícia Carneiro da Silva
pelo sacrifício
OBRIGACIONAL AQUILIANA
Decorre da violação de um dever específico Decorre da violação de um dever genérico
Há presunção de culpa 1 Não há presunção de culpa
Há diferenças no plano do Direito processual civil e do Direito internacional privado
Prazo prescricional de 20 anos Prazo prescricional de 3 anos
Devedor é responsável pelos actos dos seus Vigora uma responsabilidade mais reduzida – a
representantes legais do comitente
Vigoram as regras comuns das obrigações
A regra básica é a da solidariedade
plurais (ou seja, a parciariedade)
É completada por deveres acessórios É complementada por deveres de tráfego
Há uma regra geral de imputabilidade, que
Funcionam as regras comuns da capacidade de apenas se extingue quando estamos perante
exercício e do suprimento das incapacidades crianças com menos de sete anos ou interditos
por anomalia psíquica
Havendo mera culpa (situações de negligência),
O devedor é sempre plenamente obrigado à a indemnização pode ser inferior ao suposto,
indemnização quando se verifiquem circunstâncias
justificativas disso mesmo
Protege o contracto Protege a riqueza já alcançada
A regra é a da proibição da renúncia antecipada
Há lugar a cláusula penal
aos direitos
A responsabilidade aquiliana é a matriz da responsabilidade civil.
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A presunção de culpa engloba em si uma presunção de culpa e de ilicitude
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à partida. Tal era desde logo justificado pelo facto de a personalidade jurídica se
extinguir com a morte, do que resultava a suposta impossibilidade de lhe serem
atribuídos direitos e, com isso, de o de cujus poder sofrer um dano. Na realidade, a
morte de uma pessoa constitui um dano, uma vez que a vida é um bem juridicamente
tutelado – é, inclusive, o mais importante de todos os bens. Este é um dano com
aspectos morais e patrimoniais, sendo também um dano infligido ao morto e que
afecta também aqueles que o rodeiam (quer moral, quer patrimonialmente). O
ressarcimento de que a vítima beneficia, por sua vez, transmite-se por morte aos seus
sucessores.
A mata B
Bens jurídicos afectados → distingue-se o dano de B, enquanto vítima, do dos que
consigo se relacionam.
Do art 495º CC resulta que são cobertos os danos derivados das tentativas de salvar o
morto, do funeral e as demais, bem como os danos provocados nas pessoas que
dependiam economicamente do falecido.
No art 496º CC está presente a questão dos danos não patrimoniais, também nas
pessoas mais próximas do de cujus. Aqui se define quem sofre os danos e como é que
esses são calculáveis.
O art 496º, nº 2 CC pode ser alvo de uma prudente interpretação extensiva uma vez
que, na perspectiva do Professor Menezes Cordeiro, se encontra um pouco
ultrapassado. Basta pensar no caso em que uma criança é abandonada pelos pais e
criada pelos avós – o desgosto com a morte dessa criança é totalmente dos avós, pelo
que não faz sentido que os pais recebam qualquer indemnização.
Quanto ao cálculo dos danos, este é difícil. A lei manda acautelar os danos não
patrimoniais sofridos pela vítima e os sofridos pelos próximos (referidos no nº
anterior). Esse cálculo atende, então, à maneira como ocorre a morte do de cujus,
concluindo-se que não será igual em caso de alguém que morre num tiroteio ou de
alguém que é queimado vivo.
Os arts 495º e 496º não tratam dos danos sofridos pelo próprio morto. Estes resultam
das cláusulas gerais dos arts 483º, nº 1 e 496º, nº 1 CC, derivando assim de normas que
garantem a sua propriedade e personalidade. A grande questão que se coloca é a de
saber se, entre os danos sentidos pelo morto que se transmitem aos sucessores, se
encontra – a nível indemnizatório - a própria morte. É claro que a morte dá lugar a um
dano imputável à própria vítima, sendo passível de originar responsabilidade civil. No
entanto, existem ainda dúvidas sobre a existência desse dano. Isto porque:
o A morte faz extinguir a personalidade da vítima, pelo que este já não poderia ser
centro de imputação de danos, para que pudesse sofrer o dano morte;
o O art 496º, nº 2 CC tem elenco taxativo.
Estes argumentos não colhem: nada no art 496º CC leva a pensar que a vítima de uma
lesão que lhe causa a morte não sofre danos ressarcíveis. Quanto ao primeiro
argumento, de nada interessa a existência do lesado, desde que ele tenha sofrido o
dano em causa. Se a indemnização é o resultado da valoração jurídica da imputação de
um dano e verificando-se aqui, inquestionavelmente, o dano e a imputação, então há
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lugar a responsabilidade civil. A morte de uma pessoa é, para esta, um dano que pode
dar lugar a imputação. O dano morte é um dano indemnizável por ele próprio e
dependente do tipo de morte sofrido.
A divergência que existe na doutrina quanto a esta matéria faz-nos poder elencar um
conjunto de argumentos contra e a favor do dano morte:
Oliveira Ascensão e Antunes Varela – contra o dano morte
ANTUNES VARELA E OLIVEIRA ASCENSÃO PROFESSOR MENEZES CORDEIRO
Com a morte cessa a personalidade, pelo Se a morte não é ressarcível, então a vida
que não se pode constituir o direito, sem o não é um direito subjectivo
qual não há dano
Os trabalhos preparatórios do Código Os trabalhos preparatórios mostram
mostram que a lei não consagra essa apenas a intenção subjectiva de quem os
solução fez
O art 496º CC esgota os danos O art 496º CC não esgota esse universo:
indemnizáveis e os seus beneficiários arts 70º/1, 483º/1 e 2024º CC
Não há ius cogens nesta matéria, sendo
irónica a comparação com o direito
O Direito europeu não é favorável ao dano
europeu, quando a média das nossas
morte
indemnizações ficam largamente aquém
das europeias
Galvão Telles, Almeida Costa, Menezes Leitão e Menezes Cordeiro – a favor do dano
morte
o Não faz sentido que a lei consagre direitos se depois lhes nega o regime. Se existe
um direito à vida, é necessário que exista uma tutela aquiliana sobre ele, a favor
do seu titular (sob pena de ser um direito de terceiros);
o A actual responsabilidade tem funções retributivas e preventivas, que deixam de
ser aplicáveis se se admitir que os direitos desaparecem logo que sejam violados;
o A aplicação do art 496º, nº 2 CC como ele se apresenta mostra-se inaceitável,
bastando para entender isso olhar para o exemplo já referido;
o As indemnizações arbitradas nos nossos tribunais mostram-se manifestamente
insuficientes, pelo que deve ser aceite qualquer mecanismo válido que incentive
à sua correcção.
A jurisprudência mantem-se largamente a favor da ressarcibilidade do dano morte. O
cálculo da indemnização, feito pelo art 496º, nº 4 CC, assenta num juízo de equidade.
Desd’o Direito Romano que é feita a distinção entre danos emergentes e lucros
cessantes:
o Dano emergente – resulta da frustração de uma vantagem já existente;
o Lucro cessante – resulta da não concretização de uma vantagem que, doutra
forma, se verificaria.
EXEMPLO:
o Dano emergente – é destruído o automóvel de António, avaliado em 5000€;
o Lucro cessante – por causa disso, António não o pode alugar, perdendo assim o valor do aluguer.
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EXEMPLO: existe uma norma de protecção que exige que os elevadores tenham todos uma balança
incorporada, de maneira a não haver nunca excesso de peso. Essa norma de protecção é violada e uma
pessoa morre porque o elevador caiu com peso a mais. Nesta situação, o facto que leva ao dano é a
violação da norma de protecção. Diferente é o caso em que uma pessoa entala a mão no elevador e acaba
com ferimentos graves. Neste caso, o dano não é causado pela violação da norma de protecção, ainda
que esta continue a ser violada – a imposição de balanças nos elevadores não existe para evitar que as
pessoas se entalem.
Analisadas todas as teorias, cabe tomar posição. Uma vez que todas as teorias,
individualmente consideradas, se mostram insuficientes, é necessário combiná-las.
Assim, diz o Professor Menezes Cordeiro, a causalidade (enquanto pressuposto da
responsabilidade civil aquiliana), desenvolve-se em quatro tempos:
o Conditio sine qua non
o Adequada, em termos de normalidade social; ou
o Provocada pelo agente, para obter o seu fim;
o Consoante com os valores tutelados pela norma violada
Começa-se pela análise da conditio sine qua non, perguntando: o facto ocorrido
contribuiu para o dano? Se sim, então segue-se para a análise da causalidade
adequada, feita através de um juízo de prognose póstuma: seria expectável que o
agente que causou o dano, com os conhecimentos especiais do agente e os
conhecimentos gerais do tráfego, soubesse ou calculasse que o dano se poderia
verificar? Se sim, então está estabelecido o nexo de causalidade.
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também o art 70º, enquanto cláusula geral dos direitos de personalidade, se adequa às
circunstâncias.
CONSELHOS, RECOMENDAÇÕES OU INFORMAÇÕES
Do art 485º, nº 1 resulta uma clara desresponsabilização de quem dê conselhos,
recomendações ou informações2. A desresponsabilização é limitada pelo nº 2 do
mesmo artigo, que estabelece o dever de indemnizar quando:
o Se tenha assumido a responsabilidade pelos danos;
o Havia o dever jurídico de dar conselho, recomendação ou informação e se tenha
procedido com negligência ou intenção de prejudicar;
o O procedimento do agente constitua facto punível.
Diz-nos o Professor Regente que “quem não saiba do que fala ou está calado ou tem o
cuidado de dizer que não tem certezas: apenas palpites”. Assim sendo, não faz sentido
(como alguma doutrina defende) assumir que quem pede informações deve controlar
a veracidade do que ouve – se controla, é porque sabe; se sabe, não faz sentido ter
perguntado.
Tudo leva a que se deva fazer uma interpretação restritiva do art 485º, nº 1 CC. Esta
interpretação restritiva deve resultar, desde logo, de um alargamento das excepções
do nº 2. No entanto, também do nº 1 se retira responsabilização: o artigo em apreço
não desresponsabiliza todos os conselhos, recomendações ou informações, mas apenas
as indicações circunstanciais, sem consistência aparente e, por isso, insusceptíveis de
criar uma situação de confiança na pessoa normal. Há, então, responsabilização dos
verdadeiros conselhos, recomendações ou informações, que são capazes de suscitar
nas pessoas efectivas actuações por serem de facto credíveis.
Em qualquer das previsões presentes no nº2 e já referenciadas supra, deverá haver dolo
ou negligência. Se estamos perante a presença de deveres específicos, a culpa (faute)
presume-se – art 799º, nº 1 CC. Assim:
o Se foi assumida a responsabilidade pelos danos, temos um contracto, no qual o
informante assegura o resultado. A responsabilidade é, então, obrigacional;
o Se há um dever jurídico de dar conselho, recomendação ou informação, então
estamos no âmbito dos deveres acessórios (por deveres de informação), o que
implica ainda responsabilidade obrigacional;
o Se estamos perante um facto punível, é feita referência às normas de protecção.
PREVENÇÃO DO PERIGO (DEVERES DE TRÁFEGO)
Quando se começou a falar de responsabilidade aquiliana, esta visava apenas acções,
pelo que, quem nada fizesse, nunca poderia cair na previsão do art 483º, nº 1. Percebeu-
se, depois, que os danos poderiam também resultar de uma abstenção de agir, se
estivesse em causa a exigência de observar deveres destinados a prevenir
determinados perigos e, assim, a proteger terceiros – são os chamados deveres de
tráfego. Estes são, hoje, derivados no próprio art 483º, nº 1 CC, surgindo quando
alguém crie ou controle uma fonte de perigo – a esse cabe, nessas circunstâncias, tomar
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Há doutrina que, inclusive, alarga esta desresponsabilização, alargando-a aos casos em que haja dolo
(ainda que, na perspectiva do Professor Menezes Cordeiro, tal vá contra a letra da lei
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para a pessoa obrigada, por lei ou negócio jurídico, a conservar o edifício ou obra, caso
os danos sejam devidos exclusivamente a defeito de conservação.
DANOS CAUSADOS POR COISAS, ANIMAIS OU ACTIVIDADES
O art 493º, nº 1 CC ocupa-se dos casos em que alguém tenha em seu poder coisa móvel
ou imóvel com o dever de a vigiar, bem como os casos em que alguém tenha assumido
o encargo da vigilância de quaisquer animais. Nessas situações, essa pessoa responde
pelos danos que as coisas ou os animais causarem. O dever de vigilância, inicialmente
inter partes, projecta-se para bem da protecção de terceiros. A responsabilidade
esmorece se o vigilante provar que nenhuma culpa houve da sua parte ou que os danos
se teriam igualmente produzido ainda que não houvesse culpa sua.
A presunção de culpa presente neste artigo é também uma presunção de ilicitude, por
se presumir que houve inobservância do dever de vigiar. No caso dos animais, este
preceito é completado pela previsão do art 502º CC, analisado infra.
DANOS CAUSADOS POR ACTIVIDADES PERIGOSAS
Havendo uma actividade perigosa, a pessoa que dela se sirva ou que a desencadeie tem
deveres de prevenção e de cuidado a seu cargo – os deveres do tráfego, cujo objectivo
é prevenir danos, pessoais ou materiais. Se existem danos, é ao beneficiário que cabe
provar o efectivo cumprimento destes deveres – para isso serve a presunção de culpa.
RESPONSABILIDADE DO COMITENTE
Um dos casos de responsabilidade pelo risco previsto no Código Civil é o do artigo 500º,
que trata da responsabilidade do comitente. Neste, responsabiliza-se aquele que
encarrega outrem de uma qualquer comissão, se da mesma resultarem danos. Para
que seja possível a aplicação do art 500º CC, exige-se a verificação de vários requisitos:
o Comissão – exige-se uma situação em que alguém tenha encarregue outrem de
uma determinada função. Exige-se que haja liberdade de escolha do comitente,
que esse tenha incumbido o comissário de determinada função e que o mesmo
tenha aceite essa incumbência. Exige-se, portanto, uma efectiva relação entre
comitente e comissário. A incumbência em causa pode ou não implicar poderes
de representação. Note-se que, se tivermos perante a presença de um contracto
de trabalho (art 1152º CC), a relação entre ambos está estabelecida e é possível
concluir pela existência de liberdade de escolha do comitente. No fundo, o
pressuposto é simples: a comissão existe quando alguém encarregue outrem de
agir por conta do primeiro;
o Danos, causalidade e imputação ao comissário – exige-se, aqui, que haja danos
causados pelo comissário e que sobre ele recaia também a obrigação de
indemnizar. Quanto aos danos, aqui se integram também os danos morais, mas
só serão relevantes os danos que ocorram no âmbito da comissão em jogo. Esses
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danos têm de ser causados pelo próprio comissário, sendo que é exido que,
sobre esse recaia também a obrigação de indemnizar. Quanto a este último
elemento, foi já sustentado que o comissário deveria, ele próprio, incorrer em
responsabilidade delitual. Tal não é exigido pela lei. Basta, então, que o
comissário incorra em responsabilidade, no âmbito da sua comissão, podendo
tal suceder tanto pela responsabilidade delitual como pelo risco.
o No exercício da função – quanto a este requisito, são duas as orientações
possíveis:
• Orientação restritiva – Antunes Varela – exige-se um nexo funcional
entre os danos e a própria função do comissário;
• Orientação extensiva – Menezes Leitão – exige-se apenas que os danos
sejam causados no exercício da função e não por causa desse exercício.
O Professor Menezes Cordeiro opta por seguir a segunda orientação, dizendo
que a posição seguida pelo Professor Antunes Varela não tem sustentação na
letra da lei.
Verificados estes pressupostos, pode falar-se em responsabilidade do comitente. Dessa
resultará o direito de regresso do comitente perante o comissário se este primeiro
satisfizer a totalidade da indemnização – art 500º, nº 3, 1ª parte CC. Se se verificar que
há também culpa por parte do comitente, então o direito de regresso mantém-se, mas
é agora regulado com base no disposto no art 497º, nº 2 CC. Esta exigência de culpa
também por parte do comitente deve ser entendida no seu sentido amplo: exige-se
que o dano lhe seja também imputável, seja a que título for. Esta situação verifica-se,
por exemplo, se o dano for imputável a ambos a título de ilicitude e de culpa, ou se for
imputável ao comitente a título de culpa e ao comissário a título de risco. O direito de
regresso ficará diminuído.
Natureza da ilicitude
Elencando as várias teorias:
o Teoria da culpa in eligendo - o comitente vai ser responsabilizado por não ter
tido cuidado na escolha do comissário;
o Teoria da representação – há um vínculo de imputação derivado da própria
comissão, pelo que o comissário faz repercutir, na esfera do comitente,
determinados efeitos, sobretudo quando estiverem em causa terceiros;
o Teoria da garantia – defende que o legislador pretendeu garantir a
indemnização do lesado, pelo que além da responsabilidade do próprio agente
é responsável, também, o comitente. Este é devedor no plano externo e credor
no plano interno, por via do direito de regresso;
o Teoria do risco – diz-nos que, tendo o comitente a vantagem de poder exigir ao
comissário que atinja os seus objectivos, é justo que seja ele a assumir os riscos
envolvidos para terceiros. Assim, assume-se que o Direito desloca para o
comitente o risco que, de outro modo, caberia ao lesado;
o Teoria da ilicitude imperfeita (Professor Menezes Cordeiro) – estamos perante
um modo indirecto de orientar as condutas em sociedade. Segundo esta, o
legislador pretende que não haja danos suplementares para as pessoas, por via
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1. CONDUTOR
• 483º? Se concluirmos que não há pressuposto culpa
• (798º?)
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As normas do Código da Estrada são normas de protecção. Em regra, os danos resultantes de acidentes de viação atingem direitos subjectivos, pelo que a hipótese das normas de protecção
é consumida por esses direitos.
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Ocorre, por exemplo, se o condutor se tiver obrigado a transportar pessoas ou mercadorias e não o faça, por se ter envolvido num acidente.
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O art 503º, nº 1 consagra em si um caso de responsabilidade pelo risco. Para que este
esteja preenchido, exigem-se dois requisitos:
o Direcção efectiva do veículo – reporta-se ao controlo material do veículo, a título
de posse ou detenção. Este critério não exige o acto de condução, mas antes o
domínio de facto sobre a viatura.
o Utilização no próprio interesse – trata-se de evitar a imputação ao comissário.
Sobre esse recairá a responsabilidade pelo acto ilício, que depois se repercutirá
na esfera do comitente. A responsabilidade pelo risco, não obstante, apenas
afecta este segundo.
Do art 505º CC resultam situações nas quais é excluída a responsabilidade:
o Aplicação do art 570º CC;
o Imputação do acidente ao lesado ou a terceiro – o tocante ao lesado, neste
preceito, acaba por ser consumido pela aplicação do art 570º;
o Caso de força maior, estranha ao funcionamento do veículo – fala-se, p.e., de um
desmoronamento da berma ou de um atentado terrorista que projecte a viatura
contra um prédio. Não releva qualquer causa de força maior, mas apenas o que
seja estranho ao funcionamento do veículo.
O art 504º fixa os beneficiários da responsabilidade pelos danos causados por veículos.
Note-se que, da letra da lei, se retira a exclusão do ressarcimento de lucros cessantes
em caso de existência de contracto, o que é uma solução duvidosa a nível
constitucional. Em caso de colisão de veículos – art 506º, nº 1 CC – geram-se duas
hipóteses: ou ambos os veículos contribuíram para os danos, ou apenas um deles o fez.
Na primeira hipótese, a responsabilidade é repartida na proporção em que o risco de
cada um contribuiu para os danos. Na segunda, a responsabilidade corre por quem
responda pelo veículo causador.
O art 507º, nº 1 fixa a solidariedade para os devedores, quando a responsabilidade pelo
risco recaia sobre várias pessoas, mesmo que haja culpa de alguma(s). A fixação deste
regime tem como objectivo garantir que os danos resultados de acidentes de viação
são ressarcidos. Havendo solidariedade, o que paga a totalidade da indemnização tem
direito de regresso sobre os demais, não por via do art 524º, mas sim por via da regra
especial do art 507º, nº 2 CC. Se não se conseguir determinar a medida do interesse de
cada um, presumem-se iguais, tal como acontece no tocante à medida das culpas.
Nesse caso, aplicam-se os arts 497º, n º 2 in fine e o art 506º, nº 2 por analogia.
O art 508º CC fixa os limites máximos das indemnizações por acidentes de automóveis,
baseados no risco. Estas limitações, diz o Professor, são admissíveis – visam equilibrar
o funcionamento da responsabilidade e, ao mesmo tempo, facilitar a operacionalidade
dos seguros.
INSTALAÇÕES DE GÁS E ELECTRICIDADE
O art 509º, nº 1 faz um paralelismo claro com o art 503º, nº 1 CC. Neste exige-se:
o Direcção efectiva das instalações – exige-se a posse ou a detenção das
instalações
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O dever de indemnizar
Indemnização é a causa ou o efeito de indemnizar, ou seja, de apagar o dano. O termo
indemnização pode dizer respeito:
o À obrigação de indemnizar;
o Ao objecto dessa obrigação;
o À situação jurídica que compreende um fenómeno de responsabilidade civil.
A obrigação de indemnizar é um vínculo creditício, regulado nos arts 562º e seguintes
do Código Civil. A mesma comporta várias modalidades, assentes em diferentes
critérios:
Quanto aos sujeitos, podemos ter indemnizações plurais ou singulares – plurais se
houver complexidade subjectiva, singulares se tal não se verificar. Em caso de
indemnização plural, esta pode ser solidária ou parciária, consoante o regime aplicável.
Quanto ao tipo de imputação, podemos ter indemnização delitual, pelo risco ou pelo
sacrifício. Podemos ainda distinguir as indemnizações quanto à espécie de danos a
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ressarcir: podem ser morais, patrimoniais, danos emergentes, lucros cessantes, etc.
Quanto ao conteúdo, a indemnização pode ser pecuniária ou específica. A
indemnização específica implica a entrega ao lesado de um bem igual ao prejudicado;
é pecuniária quando é entregue o valor correspondente ao da lesão, normalmente
através da entrega de uma quantia em dinheiro. Finalmente, quanto ao escopo visado
pela indemnização, podemos ter um objectivo reconstitutivo – se se pretender colocar
o lesado na situação idêntica à da ausência da lesão – ou compensatório – se se
pretende conceder uma compensação.
Do art 566º CC resulta uma clara preferência pela indemnização em espécie,
considerada mais perfeita no que toca à reparação do dano. A indemnização não será
específica quando tal for impossível, não repare integralmente os danos ou quando
seja excessivamente oneroso para o devedor. Note-se que esta indemnização não é
possível quando estamos perante bens não fungíveis, como sucede com os danos
morais. Não deve concluir-se que, perante a impossibilidade de uma restituição em
espécie, se deve recorrer a uma indemnização em dinheiro. Nada o indica. Pode haver
uma indemnização específica e, nos danos remanescentes, uma entrega pecuniária.
Pode também acontecer que a indemnização em espécie exija um esforço para o
obrigado que não tenha qualquer equivalência com a vantagem do lesado, caso no
qual a indemnização pecuniária é aceitável. Uma indemnização específica é
excessivamente onerosa quando a sua exigência atente gravemente contra os
princípios da boa fé.
Do art 562º CC resulta que a obrigação de indemnizar visa remover o dano imputado.
A medida da indemnização deve então ser simplesmente a do dano imputado ao
sujeito. Se esse dano não tem expressão em dinheiro, deve ser feito um cálculo
equitativo. A determinação da indemnização pecuniária é feita com base no art 566º,
nº 2 CC, do qual se retira que a indemnização é a diferença entre a situação hipotética
actual, se não houvesse dano, e a situação actual, com o dano.
Cabe ainda falar das indemnizações provisórias e em renda: no primeiro caso, temos
uma situação na qual o dano vaia aumentando até ao momento em que seja totalmente
ressarcido; no segundo, temos um dano de natureza continuada.
DELIMITAÇÕES
A regra geral no que toca à determinação da indemnização é a regra da equivalência ao
montante do dano imputado. Desta, retiram-se diversas excepções.
Na imputação delitual, não há geralmente quaisquer limitações – a indemnização deve
cobrir integralmente todos os danos imputados. O único desvio a essa regra é o previsto
no art 494º CC. Diferentemente, na responsabilidade objectiva, há limites às
indemnizações, que podem assim ficar aquém dos danos. Dando-se a mera aplicação
dos esquemas de imputação delitual, aplicam-se os limites do art 508º CC; quando há
ilicitude, todos os danos devem ser ressarcidos.
Outra situação não qual a indemnização é limitada é a chamada culpa do lesado. Neste
caso, previsto nos arts 570º e 572º CC, se um facto culposo do lesado tiver contribuído
para a produção ou agravamento dos danos, pode o tribunal decidir se a indemnização
deve ser mantida, reduzida ou excluída. Se a responsabilidade derivar de simples
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