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Resumo de: AGRICULTURA E SUSTENTABILIDADE

Existe uma agricultura antroposófica, isto é, uma das aplicações da


Antroposofia, chamada de Agricultura Biodinâmica (ABD), introduzida por Rudolf
Steiner em 1924 [1]. Desde aquela época, inúmeras fazendas que usam o método de
cultivo biodinâmico (BD) têm sido formadas no mundo todo, havendo várias no Brasil.
Existem casos dignos de nota como as fazendas de arroz Volkmann,
www.volkmann.com.br. Provavelmente muitos dos leitores já viram nos invólucros de
produtos agrícolas a marca IBD, do Instituto Biodinâmico, que certifica produtos
orgânicos e BDs; ele tem as características de integridade de todas as iniciativas
antroposóficas.
Em 1971, nos EEUU, assisti uma palestra do presidente da associação
americana de agricultores orgânicos, e lhe perguntei o que achava da ABD. Ele disse
"É o máximo em agricultura orgânica." Por que será? A distinção está nos
fundamentos espiritualistas antroposóficos da ABD, a maneira como a terra, as
plantações e os animais são tratados e o fato de que cada fazenda tem, como tudo
na Antroposofia, o ser humano como centro. Se for feita uma visita a uma fazenda BD,
e se falar com os agricultores, logo notar-se-á algo muito especial: o amor e respeito
que todos os que trabalham numa fazenda BD têm pela terra, pelas plantas e animais,
e o fato de sempre se constituírem em uma comunidade harmônica de trabalho, que
oferece dignidade e cultura para todos. Em particular, obviamente não são usados
adubos, pesticidas e herbicidas químicos, e muito menos transgênicos. O ideal é que
as sementes sejam produzidas na própria fazenda, para evitar origens desconhecidas.
Mas, diferente dos cultivos orgânicos, nos BD usam-se métodos específicos para
literalmente curar a terra, e há uma integração entre pecuária e agricultura, para que
todo o adubo seja, na medida do possível, originário da própria fazenda. Além disso,
é seguido um calendário agrícola que leva em conta as influências cósmicas que
ocorrem durante cada ano. O cuidado e o carinho com a terra são tão grandes que é
comum organizarem-se bairros residenciais em volta das fazendas para proteger seus
campos e riachos da contaminação pelos inseticidas e adubos dos vizinhos.
O Brasil é o maior consumidor de pesticidas do mundo. Estamos envenenando
nossas terras e sendo literalmente envenenados por eles, pelos herbicidas e adubos
químicos – basta ver, por exemplo, frutas sendo vendidas sem terem sido lavadas
para se ver nelas a quantidade de resíduos (ilegais) dos inseticidas. Sempre que
compro frutas examino cada uma para ver se ela apresenta resíduos brancos de
inseticida, e gosto de comprar no sacolão pois lá não estão as maiores e mais bonitas
– sempre desconfio de verduras e frutas grandes e lindas. Compare-se uma maçã ou
laranja orgânica com uma normal para se ver a diferença de aspecto. É uma lástima
que as pessoas prefiram o que é bonito e não o que é saudável – e com muito mais
gosto! É muito ilustrativo comparar a cor de uma cenoura de cultivo BD com outra de
cultivo tradicional – nós perdemos a noção do que deveria ser a cor "cenoura"! Em
particular, fico sempre contente quando encontro um verme dentro de uma fruta, sinal
de que não houve muito tratamento. Lembrem-se que estamos no Brasil, onde
praticamente não há fiscalização e, se a há, os fiscais são muitas vezes corrompidos
pelo capital. Por exemplo, vejam-se as queimadas, essa maneira criminosa de limpar
a terra, pois vai destruindo seus nutrientes e tornando-a cada vez mais ácida. As
localizações das queimadas são perfeitamente detectadas pelo sistema por satélite
desenvolvido pelo INPE em São José dos Campos, SP; simplesmente não se faz
praticamente nada para evitá-las e para multar e prender quem as produziu. Aliás, fui
informado por um dos pesquisadores do INPE sobre um dos truques usados pelos
agricultores: colocam fogo em suas matas e logo vão correndo fazer um Boletim de
Ocorrência na delegacia de polícia mais próxima dizendo que alguém tinha posto fogo
em suas terras... Isso é o Brasil! Ignorância e egoísmo matam.
Sustentabilidade quer dizer não estragar o meio ambiente do qual
dependemos, pelo contrário, deveríamos melhorá-lo, pois ele já foi em grande parte
contaminado ou destruído. A industrialização da agricultura, e a invasão nela do
capitalismo selvagem, egoísta e totalmente materialista, significa retirar dos produtos
sua qualidade e só se pensar em quantidade – por exemplo, usando-se como critério
de eficiência a produção por hectare plantado, ignorando-se totalmente a qualidade
do produto, bem como o custo para produzi-lo. Os terríveis transgênicos são uma
consequência dessa mentalidade – estamos mudando a natureza introduzindo seres
que jamais existiram nela, como se tivéssemos sabedoria suficiente para suplantar a
da própria natureza que, para qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade,
mostra uma sabedoria infinita, muito maior daquilo que nosso parco conhecimento
pode apreender. Dessa maneira, estamos prejudicando a nossa própria
sobrevivência, isto é, estamos nos tornando insustentáveis. Mas isso também ocorre
com o próprio solo, que vai perdendo sua vida, representada tão bem por suas
bactérias e insetos; por outro lado, os mananciais vão sendo envenenados, o que está
tornando insalubre a água em muitas regiões do globo. Nossa cultura de base, a
agricultura, está tornando nosso planeta insustentável! A Terra não é um objeto, muito
menos artificial – é um organismo vivo, e assim deveria ser tratada, e para isso
deveríamos desenvolver para com ela um profundo respeito e veneração.
Rudolf Steiner disse uma vez que o tipo de agricultura que se praticava em sua
época estava retirando toda a espiritualidade dos alimentos, o que prejudicava
enormemente o desenvolvimento espiritual de cada pessoa. E isso foi no começo do
século passado, imagine-se hoje como está essa situação!
Aos que dizem: "Mas os produtos orgânicos e BDs são muito mais caros!"
gostaria de perguntar: "Quanto vale sua saúde, física, anímica e espiritual?" A última
economia que se deveria fazer é em saúde, alimentação e educação.
Referência:
SETZER, Valdemar W. Agricultura e Sustentabilidade. Disponível em:
http://www.sab.org.br/portal/agricultura-biodinamica/56-agricultura-e-
sustentabilidade. Acesso em: 04 out. 2020.

Trecho de: Estudo da Sustentabilidade Ecológica em Agricultura


Biodinâmica em Região Semiárida

No Nordeste do Brasil, a agricultura praticada é caracterizada, desde a sua


origem, por um modelo em que a exploração do solo está acima de sua
sustentabilidade. Extensas áreas já demonstram sinais de degradação pelo declínio
da produtividade e em casos mais avançados, a desertificação já impera. Fatos como
o extrativismo irrestrito dos recursos florestais, agricultura baseada nas queimadas e
o manejo inadequado de projetos de irrigação vêm ocasionando a degradação de
muitas áreas desta região do Brasil. Muitos dos problemas ambientais detectados
nesta região decorrem do uso inadequado dos recursos naturais (Araújo; Crispim,
2009).
Referência:
DA SILVA, Ary Vieira; NETO, José Dantas; FRANCISCO, Paulo Roberto
Megna. Estudo da Sustentabilidade Ecológica em Agricultura Biodinâmica em Região
Semiárida. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 7, n. 03, p. 497-512, 2014.
Disponível em:
https://www.researchgate.net/profile/Paulo_Roberto_Francisco/publication/30392033
6_Estudo_da_Sustentabilidade_Ecologica_em_Agricultura_Biodinamica_em_Regiao
_Semiarida/links/575daf8108ae414b8e4f4dc9.pdf. Acesso em: 04 out. 2020.

Trecho de: Práticas organizacionais na produção agrícola biodinâmica

Como a Fazenda Viva o Verde teve dois arrendatários em áreas distintas


durante algum tempo, Oliveira (2011) relata que ficou muito feliz com sua escolha
porque “assistia as matas nativas ficando tudo amarelada, quando o cara usava
Roundup”. Complementando esta informação, afirma que a terra estava exaurida:
Depoimento de Jones de Oliveira – Fazenda Viva o Verde:
A fazenda mais inçada de Capim Anoni que eu conheço. Campo com Anoni é
sinônimo de solo degradado. Como se diz, é adubação com fósforo: risca o fósforo e
queima. Manejo com queimadas. Tiraram tudo que podia do solo.
Referência:
VOLKMANN, Pedro Armando Furtado. Práticas organizacionais na
produção agrícola biodinâmica. 2011. Disponível em:
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/31765/000784981.pdf. Acesso em:
04 out. 2020.

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