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Sociologia da Educação II
Segunda Edição
Revista e Atualizada
Sociologia da Educação II 1
CONSELHO EDITORIAL
Aléxia Pádua Franco – UFU
Carlos Rinaldi – UFTM
Carmem Lúcia Brancaglion Passos – UFScar
Célia Zorzo Barcelos – UFU
Diva Souza Silva – UFU
Eucidio Arruda Pimenta – UFMG
Ivete Martins Pinto – FURG
João Frederico Costa Azevedo Meyer – UNICAMP
Maria Irene Miranda – UFU
Marisa Pinheiro Mourão – UFU
EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
Alberto Dumont Alves Oliveira
Darcius Ferreira Lisboa Oliveira
Dirceu Nogueira de Sales Duarte Júnior
Gustavo Bruno do Vale
Otaviano Ferreira Guimarães
REVISORA
Carina Diniz Nascimento
Sociologia da Educação II 3
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Michel Miguel Elias Temer
MINISTRO DA EDUCAÇÃO
José Mendonça Bezerra Filho
VICE-REITOR
Orlando César Mantese
SUPLENTE UAB/UFU
Aléxia Pádua Franco
Universidade Federal de
Uberlândia
4 Sociologia da Educação II
SUMÁRIO
INFORMAÇÕES6
INTRODUÇÃO7
PLANO DE ESTUDO 8
MÓDULO 1 9
As Teorias Pós-estruturalista : Os conceitos de representação, identidade e de diferença
1.1. Giddens e a Teoria da Estruturação 10
1.2. Elias e a Sociologia Figuracional 13
1.3. A Figuração da Estruturação 15
MÓDULO 2 27
Questões teórico-metodológicas: problematização da explicação sociológica
MÓDULO 3 45
Sociedade, Sociabilidade e Sociação: cultura
MÓDULO 4 53
Sociação: Educação e Gênero
REFERÊNCIAS61
Sociologia da Educação II 5
INFORMAÇÕES
Prezado(a) aluno(a),
Ao longo deste guia impresso você encontrará alguns “ícones” que lhe ajudará a identificar as atividades.
Fique atento ao significado de cada um deles, isso facilitará a sua leitura e seus estudos.
Você usará, também, o espaço ao lado de cada página para fazer suas anotações.
6 Sociologia da Educação II
INTRODUÇÃO
Sejam bem vindos à disciplina Sociologia da Educação II. É a continuidade, obviamente, da Sociologia da
Educação I. É preciso lembrar a importância de ter estudado de maneira adequada o conteúdo anterior para
poder aprender as teorias agora apresentadas.
Conteúdo básico
As teorias pós-estruturalistas. Aqui aprenderemos as teorias que explicam a lógica da ação coletiva, fora da
dicotomia sociedade e indivíduo.
Problematização da explicação sociológica. Refletir sobre a autonomia da sociologia como campo de pesquisa
científico. Demonstrar, metodologicamente, que é possível a explicação científica do fenômeno social.
Estudar, a partir da teoria da sociação, como a sociedade contemporânea produz os sentidos de educação e
gênero.
Dar continuidade ao estudo das teorias sociológicas denominadas pós-estruturalistas. Aprender que a
abordagem teórica que utiliza da dicotomia indivíduo e sociedade não é suficiente, teoricamente, para uma
explicação sociológica dos fenômenos sociais.
Instrumentalizar as (os) alunas (os), teoricamente, para dar tratamento analítico aos fenômenos sociais.
Serão apresentadas as principais reflexões teóricas para tanto.
Por meio da teoria da sociação apreender analiticamente porque a sociedade e a sociabilidade desenvolvem
padrões em termos da cultura, gênero e educação.
Sociologia da Educação II 7
PLANO DE ESTUDO
DESENVOLVIMENTO DO
MÓDULO AVALIAÇÕES
ESTUDO
Atividade 1 – Videoaula
Atividade 4 – Fórum
Atividade 6 – Videoaula
Módulo 2 – Questões
Atividade 7 – Texto básico –
teórico-metodológicas:
guia impresso Atividade 9 – Questionário (10 pontos)
problematização da
explicação sociológica Atividade 8 – Texto
Complementar
Atividade 14 – Videoaula
8 Sociologia da Educação II
MÓDULO 1
As Teorias Pós-estruturalista
A sociologia, ao
longo de sua
história teórica,
vem tentando
se apossar da
“lógica da ação
coleti va”, tanto
pela perspecti va
do indivíduo,
quanto pela
abordagem
da sociedade.
A disciplina
Sociologia I
Figura 1 - foto cedida por Luiz Felipe Netto de Andrade e a p r e s e n t o u
Silva Sahd
as teorias
explicati vas dessas abordagens (Indivíduo e Sociedade). Piaget (1973, Reveja a defi nição de Max Weber em
p.11) defende que a “missão essencial da ciência é ao mesmo tempo Sociologia I “ A sociologia é a ciência do
compreender e explicar”. social”.
Sociologia da Educação II 9
Para a explicação sociológica, entende Piaget (1973, p.14), “o
aparecimento do ‘nós’ consti tui um problema epistemológico
novo”, dado que “o observador faz geralmente parte da totalidade
Conheça um pouco da vida e do trabalho
que ele estuda ou de uma totalidade análoga ou adversa”. Esta é a
de Giddens questão que Piaget (1973, p.113) procura elucidar em seus Estudos
Sociológicos. Os modelos teórico-metodológicos para a Sociologia,
Anthony Giddens (18 de janeiro de sufi cientemente sofi sti cados, que serão instrumentalizados para
1938, Londres) é um sociólogo britâni- explicar a relação, necessariamente complexa, entre as “funções
co, renomado por sua Teoria da estru-
turação. Considerado por muitos como individuais” ( ou “ interiorização refl exiva”) e as “funções coleti vas”
o mais importante fi lósofo social inglês (ou “exteriorização objeti vantes”), na confi guração dos fenômenos
contemporâneo, fi gura de proa do novo sociais, podem ser apresentados, inicialmente pelas teorias de
trabalhismo britânico e teórico pioneiro Giddens (1989) e Elias3 (1980; 1994; 2001).
da Terceira via, tem mais de vinte livros
publicados ao longo de duas décadas.
É
As suas ideias ti veram uma enorme in-
fl uência quer na teoria quer no ensino preciso expor as idéias do sociólogo Giddens, como condição
da sociologia e da teoria social em todo necessária à conti nuidade desta refl exão. A teoria da
o mundo. A sua obra abarca diversas te- estruturação de Giddens deve ser trazida ao debate, como exemplar
máti cas, entre as quais a história do pen- da tentati va de reconceituação do dualismo recorrente em Sociologia
samento social, a estrutura de classes,
elites e poder, nações e nacionalismos, entre Indivíduo e Sociedade, em razão de outro par de conceitos:
identi dade pessoal e social, a família, re- Agência e Estrutura. “Estruturação” deve ser entendida como uma
lações e sexualidade. categoria dinâmica para a descrição da conduta coleti va
humana. Nesta teoria, o substrato ontológico são as
Foi um dos primeiros autores a trabalhar ações e interações dos sujeitos humanos.
o conceito de globalização.
A pretensão em jogo aqui diz respeito à
Mais recentemente tem estado na van- possibilidade de contemplar, ao mesmo
guarda do desenvolvimento de ideias tempo, os aspectos do indivíduo e da
políti cas de centro-esquerda, tendo aju- estrutura, de maneira a superar o
dado a popularizar a ideia de Terceira
via, com que pretende contribuir para a dualismo Indivíduo e Estrutura.
renovação da social-democracia.
A teoria da estruturação
Foi Director da London School of Eco- proporciona à Sociologia
nomics and Politi cal Science (LSE) entre uma “ontologia
1997 e 2003. Anteriormente foi profes-
sor de Sociologia em Cambridge. Muitos de potenciais”:
livros foram publicados sobre este autor sujeito agente é
e a sua obra. Foram-lhe concedidos di- complementar
versos tí tulos honorífi cos. e vinculado à
centralidade
Foi co-fundador, em 1985, de uma edi-
tora de livros cientí fi cos, a Polity Press. da Práxis. A
reprodução
Fonte: htt p://pt.wikipedia.org/wiki/An- das relações
thony_Giddens sociais, ao
longo do tempo
e do espaço,
pode ocorrer
através das
Substrato ontológico: o que sustenta, o conseqüências
senti do de “ser” das ações e interações não intencionais da
humanas. práxis ou, ao mesmo
tempo, através Figura 2 - foto cedida por Luiz Felipe Netto de
da administração Andrade e Silva Sahd
intencional (dos
agentes) através do
ONTOLOGIA: O que as teorias cientí fi cas
postulam ou pressupõem. Ontologia
pressupõe do que o mundo deve parecer,
ou seja, o que é descrito pela teoria. 3 ELIAS, N. Introdução à Sociologia, Lisboa: Edições 70, 1980.
ELIAS, N. A Sociedade dos Indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
ELIAS, N. Nobert Elias Por Ele Mesmo. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
10 Sociologia da Educação II
tempo e do espaço. É a postulação de uma dialéti ca entre agente e
estrutura, como conteúdo de qualquer estruturação do social.
Sociologia da Educação II 11
implícita ao comportamento deliberado, racional,
dos agentes e à sua interseção com aspectos
facilitadores e coercivos dos contextos social e
material desse comportamento.
12 Sociologia da Educação II
1.2. Elias e a Sociologia Figuracional
Norbert Elias (Breslau, 22 de junho de
1897 — Amsterdã, 1 de agosto de 1990)
foi um sociólogo alemão.
Sociologia da Educação II 13
na administração de sua vida em comum. Juntos,
eles compõem um continuam sócio-histórico em que
cada pessoa cresce - como participante - a partir de
determinado ponto. O que molda e compromete
o indivíduo dentro desse cosmo humano, e lhe
confere todo o alcance de sua vida (...) em suma,
sua dependência dos outros e a dependência que os
outros têm dele, as funções dos outros para ele e
suas funções para os outros.
Figura 4 - foto cedida por Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva Sahd
14 Sociologia da Educação II
mas sem fi nalidade”. A Sociologia Figuracional é uma abordagem
sociológico-processual, numa busca constante de explicação da
“sociedade dos indivíduos”, em seu contí nuo desenvolvimento das Sociedade dos indivíduos: Registre-se
estruturas sociais e da extensão da individualização, concretamente, que Elias elabora sua teoria a parti r da
“sem fi nalidade” pré-estabelecida fora desse processo social. Elias diferença entre sociedade e indivíduo
(1994, p.150), para escapar da polarização “ou isto/ou aquilo”, na para a compreensão da Sociologia Figu-
racional em termos de sociedade dos
explicação da relação do indivíduo com a sociedade, vai fazer a indivíduos.
seguinte combinação conceitual: “habitus ou composição social dos
indivíduos” (contexto das característi cas pessoais) e o “conceito
de individualização”. O objeti vo teórico é o de “introduzir os
fenômenos sociais no campo da investi gação cientí fi ca, que antes
lhes era inacessível”, dada a dicotomia sociedade e indivíduo. Elias
(1994, p.151) explica, mais um pouco, essa associação conceitual: Balança nós-eu: a metáfora que enfati zar
“a identi dade eu-nós anteriormente discuti da é parte integrante a complexidade e a dinâmica da intera-
do habitus social de uma pessoa e, como tal, está aberta à ção entre a dimensão da sociedade e a
do indivíduo.
individualização. Essa identi dade representa a resposta à pergunta
‘Quem sou eu?’ como ser social e individual”. O habitus social
dos indivíduos é uma construção ‘conceitual, que, para ser úti l na
explicação da “sociedade dos indivíduos”, uti liza o conceito de uma
“balança nós-eu” como .instrumento de observação sociológica.
Sociologia da Educação II 15
apreender o seguinte fato teórico: tanto a sociologia da figuração
(Elias), quanto a teoria da estruturação (Giddens) são construções
teóricas cujos conteúdos manifestam o padrão exigido por Weber
na criação dos tipos ideais, de uma síntese entre as teorias da ação
e as teorias da estrutura. Sendo assim, por conseqüência, é possível
deduzir do interior da Sociologia da Figuração, o desenvolvimento da
teoria da estruturação. A explicação dessa conjectura é o conteúdo
final dessa reflexão.
Figura 5 - foto cedida por Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva Sahd
16 Sociologia da Educação II
de Giddens como um desenvolvimento necessário da teoria das
fi gurações de Elias. É comum a ambos a idéia de não desconti nuidade
entre sociedade e indivíduo. A teoria da estruturação busca explicar
o que Elias defi ne como sociedade: continuum de seres humanos
interdependentes. Elias e Giddens trabalham, em termos explicati vos,
os conceitos de indivíduos e sociedade vinculados, através da ação
social, às funções e relações, obviamente sociais, inseparáveis,
tanto em termos analíti cos, quanto reais, caracterizando os seres
humanos em suas existências dependentes uns dos outros, como
seres que criam a si próprios como humanos, resultantes dessa vida
de interdependência.
G i d d e n s
compreende no
mesmo senti do
as forças sociais, Exploramos o senti do dessa afi rmação
pois sofi sti ca essa observando a fi gura 6
defi nição com
a concepção de
Figura 6 - foto cedida por Luiz Felipe Netto de Andrade
e Silva Sahd
estrutura social onipresente, cujo resultado (práxis) é consequência
da mediação humana intencional numa dialéti ca com essa mesma
estrutura. Eis a dialéti ca entre agência (ser humano refl exivo)
e estrutura (coerciti vas e facilitadoras) compreendida como
manifestação (práxis) contí nua das “forças sociais”. Giddens realiza,
certamente, uma exigência que Elias (1980, p.18) faz à Sociologia:
Sociologia da Educação II 17
“deverá produzir gradualmente outros conceitos, que sejam mais
adequados às particularidades das representações sociais do
homem”. Elias (1980, p.22) destaca um problema na construção
de teoria em sociologia, do qual Giddens não padece: “o risco de
perdermos o controle sobre nós mesmos, ou de nos perdermos em
especulações sem limites, em fantasias, brincando com as idéias”. A
teoria da estruturação não é “especulação sem limites (fantasias)”,
dado que fica nos limites teóricos configurados por Elias. Giddens
faz o “esqueleto teórico” de Elias caminhar, ganhar movimento
através da teoria da estruturação. É dessa maneira que se deve
compreender a relação teórica entre esses sociólogos, apesar de não
se encontrar, em suas obras de teoria sociológica, referências nesse
sentido. A teoria da estruturação possibilita a realização prática do
que Elias (1980, p.31) impõe como tarefa da sociologia: “investigação
sistemática da dinâmica das interconexões sociais”.
18 Sociologia da Educação II
funções sociais são manifestações de relações de interdependência
entre as pessoas. Tais funções ordenadoras (estrutura) das
possibilidades de ações sociais, existentes entre as
pessoas, são sempre tanto facilitadoras
quanto coerciti vas. Desse modo,
encaixa-se perfeitamente a
compreensão de estrutura
(facilitadora e coerciti va)
de Giddens na concepção
de Elias para funções e
relações sociais. Quando
Giddens chama atenção
para o aspecto facilitador
da estrutura, no mesmo
senti do, Elias (1980,
p.85) chama atenção
para a “reciprocidade,
a bipolaridade ou
a multi polaridade
de todas as
funções”, tanto
coercivas, quanto
facilitadoras.
Na verdade,
Elias (1980,
p.86) delimita
teoricamente
o que Giddens
Figura 7 - foto cedida por Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva
Sahd
Sociologia da Educação II 19
num quebra cabeça complexo: a idéia denominada de figuração da
estruturação. A imagem resultante dessa montagem analítica (Elias
+ Giddens) é uma conjectura explicativa da rede de dependência
e interdependência entre as pessoas. Todavia, Elias (1980, p.109)
afirma que a teoria sociológica deve permitir:
20 Sociologia da Educação II
Observe como na fi gura 8 o que é
visível são as construções sem que nos
apresentem as pessoas que nelas estão.
Em síntese é a vida social que dá senti do
às construções
Figura 8 - foto cedida por Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva Sahd
Sociologia da Educação II 21
quanto ao alcance de sua teoria, ao afi rmar que “generalizações
sobre a conduta social humana são inerentemente instáveis com
relação ao próprio conhecimento (ou crenças) que os atores têm
sobre as circunstâncias de sua própria ação”.
Figura 9 - foto cedida por Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva Sahd
Giddens (1989:XXVII) ainda afi rma “que a refl exão sobre processos
sociais (teorias e observações sobre eles) conti nuamente penetra,
solta-se e torna a penetrar no universo de acontecimentos que eles
descrevem”. Isto é a defi nição da complexidade do estudo dos “fatos
sociais” ou, como deseja Giddens (1989:XXX): “a cognosciti vidade de
Imperialismo do sujeito - teoria da ação atores sociais, enquanto consti tuti va, em parte, de práti cas sociais”.
social
Giddens (1989, p.2) afi rma que uma de suas “principais ambições na
formulação da teoria da estruturação é pôr um fi m a cada um desses
esforços de estabelecimento de impérios”, isto é, exterminar as
“sociologias interpretati vas que se assentam (...) num imperialismo
do sujeito, o funcionalismo e o estruturalismo, por seu lado, propõem
um imperialismo do objeto social”. Para Elias (1980:14): “padrão
básico de uma visão egocêntrica da sociedade”.
Ainda no entender de Elias (1980, p.15): “reti fi cação (...) idéia de que
a sociedade é consti tuída por estruturas que nos são exteriores”. A
idéia dominante em toda obra de Giddens(1989, p.2) e que sustenta
sua teoria da estruturação é a de que “ as práti cas sociais ordenadas
os espaço e no tempo” devem dominar a explicação em ciências
sociais, substi tuindo, assim, a “experiência do ator individual” e
a “existência de qualquer forma de totalidade social”, enquanto
objetos da análise sociológica. Giddens descreve, detalhadamente,
como ocorrem essas “práti cas sociais ordenadas no espaço e no
tempo”, as quais são denominadas de “racionalização da ação” (para
Elias é a existência de “indivíduos interdependentes”).
22 Sociologia da Educação II
Gráfico 1 - Representações do modelo de estratificação do agente -
Fonte: Giddens (1989, p.4)
Sociologia da Educação II 23
Giddens sofistica o diagrama de Elias, da seguinte forma: no lugar das
“valências abertas”, representação da “ação cotidiana” do indivíduo
(Ego, Eu), num “equilíbrio de poder mais ou menos instável” (Elias),
encontramos em Giddens, na realidade, em termos dos conteúdos
(função e relação) das “valências abertas” (Elias), os seguintes
ingredientes das ações cotidianas dos indivíduos: “motivação da
ação”, “racionalização da ação” e “monitoração reflexiva da ação”.
24 Sociologia da Educação II
Giddens (1989, p.11) uma operacionalização conceitual adequada da
problemática relação parte (indivíduo) e todo (sociedade) da seguinte
maneira: “as conseqüências não intencionais são regularmente
‘distribuídas’ como um subproduto do comportamento regularizado
reflexivamente sustentado como tal por seus participantes”. Para
EIias (l994:22), de maneira mais restrita, esse “subproduto” é definido
como um “tecido de relações móveis”, o qual é percebido como um
“contexto funcional que tem uma estrutura muito específica”. A
singularidade da relação entre indivíduos e a sociedade é explicitada
pela teoria da estruturação. Giddens (1989, p.13) reconhece, nesse
sentido, ao estudar as relações sociais: “tanto uma dimensão
sintagmática, a padronização de relações sociais no tempo-espaço
envolvendo a reprodução de práticas localizadas, quanto uma
dimensão paradigmática, envolvendo uma ordem virtual de modos
de estruturação’ recursivamente implicados em tal reprodução”.
Sociologia da Educação II 25
realizar um processo de especulação teórica: cada vez que se atinge
uma equivalência entre eles, surge uma nova idéia, no interior de
Elias que, necessariamente, em Giddens pode-se encontrar uma nova
explicação, por meio de sua criação constante de novos conceitos,
assim por diante, sem fim. De fato, existem vários outros conceitos
da teoria da estruturação, não apresentados aqui, que permitiriam
continuar com essa conjectura teórica. Enfim, há muito espaço
para a geração de avanços na capacidade de a sociologia explicar
o fenômeno social denominado por EIias(1994, p.59) de “sociedade
dos indivíduos” e por Giddens de “a constituição da sociedade.
26 Sociologia da Educação II
MÓDULO 2
Questões teórico-metodológicas:
problematização da explicação sociológica
Portanto, afi rma Elias (1994, p.89), “os homens têm condição de saber
que sabem; são capazes de pensar sobre seu próprio pensamento
e de se observar observando”. Esses são os problemas básicos da
epistemologia no campo das ciências sociais. Elias (1994:94) oferece
uma síntese desse problema epistemológico, da seguinte maneira:
Sociologia da Educação II 27
As “coordenadas” da vida humana são percebidas pelo
desenvolvimento da dimensão social. A autonomia da Sociologia da
filosofia ocorreu quando o sociólogo atravessou o “fosso” entre o
individual e o social, por meio, como foi descrito anteriormente, da
construção dos “tipos ideais”.
Mais adiante, Wilson (1999, p.174) indaga por que as Ciências Sociais
não realizam de maneira recorrente o que as “pessoas esperam”?
Mesmo havendo progresso nas ciências sociais, a cooperação entre
as áreas que compõem as Ciências Sociais é lenta, pois “mesmo
descobertas genuínas são, muitas vezes, obscurecidas por certas
discussões ideológicas”. A desunião entre os cientistas sociais
28 Sociologia da Educação II
impedem o avanço mais rápido das Ciências Sociais no sentido do
que é esperado delas: “o conhecimento para (...) controlar o (...)
futuro”.
Sociologia da Educação II 29
intrinsecamente
compatíveis
com as ciências
naturais”
(Wilson, 1999,
p.180). A
compatibilidade
se daria da
m a n e i r a
que Lakatos
denomina de
“programas de
pesquisa”, isto
é, compatibilizar
os modos de
explicação causal
entre Ciências
Sociais e Ciências
Naturais. A
ausência de uma
teoria social que
realize a união
entre Ciências
Sociais e Ciências
N a t u r a i s
alimenta os
discursos
que pregam Figura 14 - Espaço Cultural Frans Krajcberg – Curitiba por
Cristiane Sousa
a morte da
epistemologia,
ou seja, a
“conversação” entre os estudiosos pode continuar sem preocupação
com tal união.
30 Sociologia da Educação II
infundir a psicologia e biologia na economia e
em outras teorias sociais, o que só lhes pode
ser vantajoso, significa trazer à tona e examinar
microscopicamente os conceitos delicados de
utilidade, perguntando por que as pessoas em
última análise tendem para certas escolhas e ,
estando assim predispostas, por que e sob que
circunstâncias agem de acordo com elas. Além
desta tarefa está o problema do micro para o macro,
o conjunto de processos pelo qual a massa de
decisões individuais é traduzida em padrões sociais.
E, além disso, enquadrado em uma escala de espaço
e tempo ainda mais ampla, está o problema da co-
evolução, o meio pelo qual a evolução biológica
influencia a cultura, e vice-versa. Conjuntamente,
esses domínios – natureza humana, transição do
micro para o macro e co-evolução gene-cultura –
exigem a plena passagem das Ciências Sociais para
a psicologia e, dali, para as ciências do cérebro e a
genética.
Sociologia da Educação II 31
XIX, esse modelo de racionalidade científica (como funciona as
coisas) se estende às ciências sociais, não sem grandes dificuldades
epistemológicas que serão explicitadas mais adiante.
32 Sociologia da Educação II
alcançada em termos de descrições dos juízos teóricos, em debates
sobre a natureza epistemológica da pesquisa científica do social. Um
resultado negativo desse debate epistemológico é a proliferação de
tradições teóricas que sustentam as especializações progressivas,
livres das exigências de uma matriz disciplinar forte, ou seja,
científica, oriunda do reino da episteme. Desse foco, pode-se partir
para o desenvolvimento da reflexão epistemológica sobre o lócus do
entendimento objetivo do social no interior mesmo dessa discussão
teórica.
Sociologia da Educação II 33
acordo metodológico, reina o relativismo epistêmico: a veracidade
ou a falsidade da explicação do fenômeno social é deduzida da
interpretação proposta por um indivíduo ou deduzida de um grupo
social. Isto gera uma atitude relativista em conflito permanente
com a própria prática científica - metodologia - utilizada. Não há
consenso metodológico, não há explicação científica do social: cada
cientista social fica com a defesa de sua conjectura, agarrado a “sua”
metodologia. Eis o domínio do solipsista epistemológico, quando
o objeto do conhecimento é o mundo social. Se predominar essa
compreensão epistemológica, não há ciência possível do social.
34 Sociologia da Educação II
lógicas relacionadas à sua observação e mensuração, as quais são
contaminadas pelo próprio cientista social, isto é, a explicação é
dominada por valores da cultura particular do cientista. Desse modo,
as teorias filosóficas da ciência, tendo como referência científica
as ciências físico-químicas, perpetuam o estatuto científico da
sociologia, nos limites da compreensão interpretativa do fenômeno
social. A sociedade humana, no limite, pode ser interpretada
(conjunto de questionamentos especializados distintos), mas não
pode ser explicada cientificamente. Eis a lógica de compreensão
sobre a produção do entendimento objetivo do social que permite
a especialização progressiva, por ausência de uma matriz disciplinar
forte. Essa idéia será criticada e buscar-se-á a sua refutação teórica.
Sociologia da Educação II 35
a própria estrutura social e a relação dos seres humanos sociais com
os acontecimentos do mundo não-humano”.
Nesse senti do, Elias afi rma que “os homens têm condição de saber
que sabem; são capazes de pensar sobre seu próprio pensamento e
de se observar observando”6.
36 Sociologia da Educação II
pela dimensão social, a qual é passível de tratamento científico, ou
melhor, a pesquisa social, ao ser compreendida como ciência, passa a
merecer esse status, pois de maneira esclarecedora afirma Popper8:
Sociologia da Educação II 37
do que demonstrou Popper, não seria ciência, pois não possui
“uma matriz disciplinar forte”, suficientemente desenvolvida para
encontrar a causalidade entre “fatos sociais”. Nessa abordagem
relativista, a ciência do social, distinta de outras ciências, ao buscar
a causalidade entre fatores, supondo que exista, ao longo do
processo explicativo, não seria capaz de operacionalizar o seguinte
tratamento teórico-metodológico: nexo (teoria), o mecanismo que
causa o efeito: regularidade, em termos de representação empírica,
o que supõe análise comparativa; seqüência temporal, em que a
variável independente da causa dependente; diferença qualitativa
entre a variável que “causa” e o fenômeno a ser explicado;
contigüidade temporal entre os fatores da relação causal . Quanto
ao nexo apreendido em termos lógico-teórico, em si, não é suficiente
para sustentar a relação de causalidade, pois só teoricamente não
se alcança a explicação causai, é necessário o teste empírico. O
importante, além do já dito, é fixar que a relação de causalidade diz
respeito à implicação lógica para qualquer explicação, seja diacrônica
ou sincrônica.
Para Popper10 esse esquema básico tem como resultado, entre outros,
o entendimento de que “a famosa distinção entre ciências teóricas
ou nomotéticas e históricas ou idiográficas pode ser justificada
logicamente - contando que se entenda aqui, sob o termo ‘ciência’,
(...) qualquer tentativa para solucionar um conjunto de problemas
definidos e logicamente diferenciáveis”.
38 Sociologia da Educação II
esquema epistemológico: [PI + TT + EE = P2]. É assim que Popper
“expõe a “solução de problemas e descoberta - a descoberta de
novos fatos, de novas possibilidades, por meio de experimentar as
possibilidades concebidas em nossa imaginação”. Nesse esquema
evolucionário: “PI” se refere à situação inicial do problema enfrentado
pelo cientista; “TT” à teoria tentativa proposta como solução ao
problema; “EE” ao processo de eliminação de erro aplicado à teoria
tentativa; e “P2” à situação-problema revista que resulta desse
processo de ensaio e erro.
Sociologia da Educação II 39
É possível afirmar, portanto, que o método é, rigorosamente, o
mesmo para o fenômeno social e para a ciência natural. Todavia, a
Técnica de Pesquisa, por sua vez, pode ser diferente de uma área
para a outra do conhecimento científico: da matemática à química,
da física à biologia, da sociologia à semiótica etc. É aceitável que
disciplinas tão diferentes se valham de técnicas distintas em seus
trabalhos de pesquisa. Por exemplo: as ciências naturais podem
usar a experimentação e a Sociologia utilizar o survey. Na realidade,
a complexidade do mundo social não deve ser interpretada como
fator inibidor ou limitador das possibilidades objetivas de se fazer
sociologia segundo a “lógica da pesquisa científica”. A complexidade
do social como objeto de pesquisa científica, ao contrário da teoria
do conhecimento implícita na discussão em foco, não impossibilita o
fazer teoria científica do social. Não deixa de ser um grande desafio,
pela dificuldade da empreitada, como também um grande atrativo
no que diz respeito à riqueza e ao dinamismo que a explicação do
mundo social envolve.
40 Sociologia da Educação II
sociedade); (2): a relação entre estrutura social e mudança histórica;
e (3): natureza da explicação social (causal, funcional e intencional).
Sociologia da Educação II 41
em que se procura dar um sentido preciso a esta noção, tomada em
termos que remetem diretamente à eficácia ou ‘instrumentalidade1
de uma ação ‘intencional’”.
42 Sociologia da Educação II
esse tipo de efeitos muitas vezes qualificados de efeitos perversos,
ou de efeitos de composição, não aparece apenas na esfera da vida
econômica. Não vemos, aliás, por que motivo eles deveriam ser
limitados a essa esfera. Na realidade, podemos afirmar sem exageros
que são onipresentes na vida social e que representam uma das
causas fundamentais dos desequilíbrios sociais e da mudança social.
Sociologia da Educação II 43
MÓDULO 3
Figura 18 - Marcha-obrera-Argentina-2005
Sociologia da Educação II 45
como produtos e desenvolvimentos da sociedade, dado que seus
significados objetivos produzem a Sociologia. É uma particularidade
do ser humano a capacidade de construir a sociedade, a qual pode
ser explicada conceitualmente. A abordagem sociológica pode
ser aplicada para estudar os fenômenos sociais: cultura, gênero e
educação.
46 Sociologia da Educação II
de todo tipo decidem sobre o caráter de ser em
comunidade.
Sociologia da Educação II 47
e as idiossincrasias pessoais do indivíduo não são manifestações
sociais da cultura. A cultura é um conceito que possui os seguintes
componentes: as insti tuições (padrões normati vos que governam o
comportamento social), idéias (crenças, conhecimento e valores);
e os produtos materiais criados e usados na vida coleti va (dos
instrumentos primiti vos às máquinas contemporâneas). Vejamos a
seguir algumas das principais concepções de cultura.
48 Sociologia da Educação II
criadas, possuídas e utilizadas, existindo num tempo além da vida de
cada um que compõe esse universo social.
Figura 20 - Festival de las tres culturas, Frigiliana, Málaga, Spain – Miguel Frutos
Sociologia da Educação II 49
“cultura”, não mais uma dimensão da vida na sociedade. O progresso
técnico é compreendido por esses sociólogos como a maior ameaça
sobre o “Espírito” e a sobrevivência “fí sica” da humanidade. Quanto
maior o progresso técnico, maior a “idioti a” cultural e da civilizacão,
dado que “os homens estão sendo marginalizados do processo de
produção de bens.
Rever a teoria da confi guração de Elias Cultura é um conceito ambíguo, pois possui inúmeras defi nições. As
na parte inicial. principais estão sendo expostas. Entre elas deve-se fi xar que cultura
exprime uma confi guração simbólica.
50 Sociologia da Educação II
de porco, enquanto Hindus, embora comam porcos,
evitam a carne de vaca. Os ocidentais consideram a
ato de beijar uma parte natural do comportamento
sexual, mas em muitas outras culturas esse ato é
ou desconhecido ou considerado de mau-gosto.
Todos esses diferentes tipos de comportamento
são aspectos das grandes diferenças culturais que
distinguem as sociedades umas das outras.
Sociologia da Educação II 51
MÓDULO 4
4.1. Educação
Sociologia da Educação II 53
permanente, existentes na maioria das sociedades, quanto à
necessidade da educação como o mecanismo mais eficiente para a
solução desses problemas.
Essa é uma hipótese que deve ser tratada com seriedade pelo
governo brasileiro, dado que a vinculação entre educação e igualdade
entre os brasileiros, de fato, possa avançar, conjuntamente com os
investimentos em equipamentos e salários para o ensino em todos
os níveis. GIDDENS (2000, p.498-504) apresenta as principais teorias
da escolarização, em complementação à variável sócio-econômica,
para avançarmos sobre a natureza da educação moderna e
suas implicações na desigualdade. Elas serão citadas, mas não
54 Sociologia da Educação II
desenvolvidas, pois serão objeto de reflexões de outras disciplinas
nesse curso de Pedagogia:
Sociologia da Educação II 55
1. A educação moderna percorreu o seguinte caminho: começou
com documentos impressos e o crescimento da alfabetização, esse
conhecimento passou a ser retido e consumido em variados lugares.
Com a industrialização, as aptidões para ler, escrever e calcular
tornaram-se necessárias para um trabalho mais especializado.
4.1. Gênero
56 Sociologia da Educação II
identidade de gênero. Isto é: “torna-se”, também, – socialmente -
homem, homossexual, transexual, travestis, transgênero e demais
identidades de gênero, socialmente referenciadas que venham
surgir do processo sem fim que é a sociedade. Gênero representa o
aspecto social das relações entre sexos, distinguindo-se do conceito
biológico de sexo, apesar da forte influência que as diferenças
sexuais cumprem em nossas vidas. Isso decorre do caráter complexo
da sexualidade, socialmente configurado. Compreensão da relação
entre gênero e sexo continua controvertida na reflexão geral. Nas
Ciências Sociais, a questão está equacionada de maneira analítica:
a organização social é a variável explicativa da problemática
envolvida nos estudo sobre gênero. As várias áreas da vida social
são transversalmente perpassadas pela questão do gênero: cultura,
ideologia, divisão do trabalho, no lar, organização do Estado, a
sexualidade, a estruturação da violência. Todavia, o mais comum
quanto à diferenciação de gênero são as perguntas: o que é ser
um homem? E o que é ser uma mulher? Por outro lado, há uma
imensa variedade de construções sociais envolvendo as discussões
sobre gênero. Sociedades diferentes, períodos históricos distintos,
grupos étnicos, classes sociais e gerações podem manifestar formas
diferentes de compreensão e interpretação do problema gênero
para a sociologia.
d) Conservadorismo da sociobiologia
e) Feminismo negro
f) O pós-modernismo
g) Feminismo materialista.
Sociologia da Educação II 57
Pensar sociologicamente sobre as relações entre sexo, gênero e
biologia depende de algumas defi nições necessárias para não se
fazer confusões. GIDDENS23 (2000, p. 121) ensina que:
58 Sociologia da Educação II
que se veste regularmente como homem), travesti
homem (um homem que se veste regularmente
como mulher), mulher transexual (um homem que
se tornou mulher) e homem transexual (uma mulher
que se tornou homem).
Sociologia da Educação II 59
e variações de gênero vivenciadas por quaisquer sociedades! E
a sexualidade com toda a sua complexidade? A socialização do
gênero começa quando nascemos, daí que as sociedades podem
“criar” e “recriar” as mais diversas formas de manifestações de
relações de gênero. Enfim, gênero não é um “fato da natureza”,
mas sim uma configuração social. Todos nós somos a sociedade que
fazemos cotidianamente: as relações de gênero e as possibilidades
de mudanças e experimentações das relações gênero existentes
ou outras mais disponíveis à criatividade humana, em sociedades
democráticas.
60 Sociologia da Educação II
REFERÊNCIAS
WAAL, Frans. Eu, Primata. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
IMAGENS
Sociologia da Educação II 61
Figura 14 - Espaço Cultural Frans Krajcberg – Curitiba por Cristiane
Sousa
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Espa_o_Cultural_
Frans_Krajcberg_-_Curitiba_(40833438).jpg
Figura 18 - Marcha-obrera-Argentina-2005
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Marcha-obrera-
Argentina-2005.JPG
Figura 23 - Reading an Old Norse text in the classroom. - By: Pål Berge
Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/Archivo:Reading_old_Norse.jpg
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