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CURSO MÉDIO DO PARTIDO COMUNISTA

Curso Médio do Partdo Comunista Brasileiro

Autor:

Wilson do Nascimento Barbosa

- 1962 -

II
Índice

1 O Desenvolvimento da Sociedade. 6

2 A Luta de Classes e o Desenvolvimento Social. 40

3 A Exploração Capitalista. 79

4 Contradições do Regime Capitalista. 120

5 O Imperialismo, Etapa Superior do Capitalismo. 161

6 O Regime Socialista. 203

7 A Nova Era em Que Vivemos. 258

8 A Exploração Imperialista no Brasil. 307

9 O Problema Agrário no Brasil. 350

10 O Desenvolvimento Econômico do País. 392

11 As Classes, O Regime Polítco e o Estado. 445

12 O Caráter da Revolução Brasileira. 491

13 A Frente Única Nacionalista e Democrátca. 555

14 A Tátca Leninista. O Centro da Tátca dos Comunistas. 592

15 Os Caminhos da Revolução Brasileira. 635

16 O Governo Atual e a Posição dos Comunistas. 662

17 A Teoria Marxista-Leninista. 697

18 O Partdo Comunista. 733

19 Princípios de Organizações do Partdo. 764

20 A Polítca de Organização do Partdo. 801

III
“A prátca tateia no escuro
se não for iluminada pela teoria revolucionária.”
Mao Tsé-Tung

CURSO PCB PARTE 1


Introdução
O partdo, nome na verdade, para os “de dentro”,, sofreu três rudes golpes que antecederam o
extermínio fsico de sua direção, pela ditadura de 1964-1990. Foram eles: (1) a cassação de seu
registro eleitoral, em 1947, ato que legalizou a repressão subsequente pelo governo Dutra; (2) a
denúncia pela direção do PCUS dos “crimes de Stálin”,, em 1956; e (3) a derrota da frente
nacionalista, com o golpe militar de 1964.
Não seria errado afrmar que o XX Congresso do PCUS, em 1956, pôs término à experiência
socialista na União Soviétca, faltando apenas quem viesse remover as “lonas do circo”, ou
patrocinar ali outro espetáculo. É extraordinário que dentro do PCB, um partdo que lutava com
grandes difculdades, ainda se houvessem reunido camaradas dispostos a manter o partdo
basicamente com a mesma linha e que hajam empreendido semelhante tarefa com uma energia
que rapidamente os transformou em fator do poder polítco. Qual a explicação para semelhante
reviravolta?
Primeiro, como o próprio PCB explicava, o poder burguês no Brasil estava seriamente dividido
entre (a) os partdários da industrialização e os (b) partdários da contnuidade semicolonial. Com a
crise do capitalismo mundial, o Brasil, semicolônia de enormes proporções, viu-se empurrado para
um processo de industrialização que lhe pudesse fornecer bens industriais, de que se restringia
pela falta relatva de divisas (moeda estrangeira ganha no comércio exterior dividido pela
população do país). O país viu-se obrigado a produzir em seu território o que não podia comprar
no exterior. No entanto, passada a crise de 1929 e a escassez relatva da segunda guerra mundial,
as potências e os monopólios externos voltaram, e exigiram a entrega do mercado local, com ou
sem industrialização. Nessa brecha objetva, em que lutavam os partdários (a) do neocolonialismo,
de um lado, (b) do capital industrial local, do outro, o PCB pode se aliar aos elementos
nacionalistas e defender as bandeiras parciais (para ele) do capital nacional, do poder nacional, das

IV
reformas de base e de um desenvolvimento independente. O conjunto das bandeiras da causa da
Esquerda nacionalista era de tal maneira patriótco e justo que nos anos 1956 – 1968 jamais vi um
“debatedor nacionalista”, ser derrotado em um debate qualquer. A única coisa que restava para os
“advogados do atraso”, era o antcomunismo mais feroz, o racismo mais cego e brutal, o desprezo
aberto à massa do povo brasileiro. Este ambiente crescente de ódio e desprezo é que está na raiz
do golpe de 1964: a chamada “classe média”, (pequena burguesia) espumava de ódio ao ver um
trabalhador melhorar de vida. No período 1950 – 1964, as estruturas podres da insttucionalidade
semicolonial começaram a ranger e a se decompor em público. Aglutnaram-se então, em função
da ampla mobilização de diferentes massas do povo, as propostas de “reformas de base”,, que
chegaram até o congresso nacional.
O segundo elemento a modifcar a situação foi a correção de rumo dada pela nova direção do
PCB às linhas que vinham do Manifesto de Agosto e do IV Congresso do PCB. Nos debates de 1957
– 1958, o PCB livrou-se de diversos elementos de sua estratégia anterior que bloqueavam avançar
sobre a polítca do poder. O PCB deixou para trás diversos “fatores operatvos permanentes da
estratégia”,, tais como: (a) a premissa de exercer a hegemonia para partcipar de um movimento;
(b) a viabilização de um exército de libertação nacional, com a preparação de uma insurreição no
campo; (c) a hegemonia operário-camponesa como fator de mudanças do poder; (d) a liquidação
do quadro do regime vigente para efetuar reformas; etc. Resumidamente:
(A).- Sem hegemonia prévia nos movimentos. - O desempenho objetvo de um movimento
qualquer e quais os inimigos que ele enfrentava defniam agora a posição do partdo de (1) apoio,
(2) reserva ou (3) hostlidade quanto ao dito movimento polítco; e não à postura subjetva dos
líderes desse movimento ou o grau de partcipação do partdo nele. Isso signifcava, por exemplo,
apoio do partdo a lutas de que não partcipava.
(B).- Abandono da Polítca de Insurreição no Campo. - O partdo passava a dar prioridade para as
lutas urbanas, vendo os choques na área rural (principalmente nas frentes de colonização) como
meios de organizar politcamente a massa rural para a luta conjunta com as massas urbanas, por
um programa polítco de resoluções parciais. A formação de um exército de libertação nacional foi
deixada de lado como capaz de “consumir mais forças do que criá-las”, (efeito destrutvo para
acumulação de forças).
(C).- Formação da aliança operário-camponesa sem o pré-requisito da hegemonia. - O PCB
passou a considerar a consolidação de uma aliança operário-camponesa numa frente polítco-
eleitoral pró-reformas, como etapa antecedente a um aprofundamento revolucionário de

V
semelhante aliança (como premissa para uma mudança do poder). Para o PCB, faltavam quadros e
a organização rural avançar mais lentamente que o êxodo rural (efeito da industrialização).
(D).- Efetuar as reformas possíveis na conjuntura. - A direção do PCB passou a considerar as
reformas possíveis de obter como bastante boas, como “momentos”, de uma ampliação gradual da
correlação de forças. Embora tvesse diversas propostas “suas”, em pauta no Congresso, o PCB
apoiava outras reformas que contnham elementos progressistas em relação ao status quo.
Esta “fexibilização”, do PCB signifcava, na prátca: (1) dar mais importânncia ao programa de seus
aliados; (2) desenvolver polítcas de frente também no movimento sindical e no meio da classe
operária, abandonando a tese da “construção para a hegemonia”,; (3) oferecer uma ampla frente
de luta “nacionalista e democrátca”, e não uma “frente socialista”, aos neocolonialistas.
É evidente, do ponto de vista histórico, o caráter mobilizador dessa “nova polítca”, do PCB
(chamada linha do V Congresso, mas a ela anterior), na fase 1958–1962. No entanto, os elementos
neocolonialistas – em partcular os chamados “agentes imperialistas”, - compreenderam o perigo
dessa nova polítca e passaram a radicalizar todo e qualquer confronto, trando-o da luta de massas
e levando-o para o plano de “um episódio da guerra fria”,. Essa tátca da direita burguesa visava
jogar na ilegalidade os dirigentes nacionalistas e antecipar uma guerra civil, em que teriam o apoio
dos norte-americanos, para evitar a “cubanização”, do Brasil. Assim, na fase 1963 -1964, o
ambiente polítco foi levado para uma confrontação aberta, e os dirigentes burgueses da frente
nacionalista não pretendiam buscar ou chegar a uma guerra civil, desejando obviamente vitoriar-
se nas eleições de 1965 (que jamais viriam a ocorrer).
A manobra das forças reacionárias consistu, portanto, em fngir que concentravam todas suas
fchas na vitória eleitoral de 1965, que sabiam ser impossível, quando na verdade se concentravam
e se preparavam para dar um golpe o mais rápido possível. O que sempre dá garantas à direita
golpista é a certeza de que – se seu golpe fracassar – a tentatva fcará impune. Pelo menos na
América Latna é assim que sempre se dá. A direita nunca é punida pelos crimes que venha a
pratcar. Depois do golpe de 1961, viria o de 1964. Caso este fracassasse, viria o de 1965, etc.
Os dirigentes do PCB sabiam disso. Mas não tnham como convencer seus aliados da
necessidade de punir quem violasse a chamada “ordem democrátca”,. Na verdade, a democracia
vigente era tão escassa que ninguém se preocupava com ela. Caso você fosse à rua distribuir
panfetos, era preso, agredido, processado, precisava de um habeas corpus para ser solto e de um
advogado para arquivar o processo (panfetagemm) Os jovens daquela época falavam em luta, mas
não falavam muito em “democracia brasileira”,, porque de fato ela era quase inexistente (a

VI
Consttuição de 1946).
Com base nos impactos subjetvo desse “segundo elemento”,, os órgãos de direção do PCB
trataram de aproveitar a semilegalidade obtda pelo acordo com JK para impulsionar em todas as
direções a reconstrução do partdo. Deixando em escala de massa todas as instânncias dirigentes do
movimento nacionalista para as outras correntes, o PCB se especializou em assessorar tais
direções, aperfeiçoando-lhes o entendimento polítco e o trabalho teórico. Costumava-se dizer, em
tom de troça, que com sucesso da frente única haveria mais lombos para receber as pancadas da
reaçãom No entanto, a rapidez com que a juventude entendia e aceitava as teses de uma frente
comum para mudar o Brasil, levou a reação ao maior desespero, não concebendo outra saída que
a violência e o golpe de estado. Era um paradoxo: um programa menos radical seria talvez mais
factível, no entanto, por ser factível, a reação se recusava a jogar com elem Se o congresso podia
aceitar e aprovar alguns tpos de reforma, não seria melhor fechar o congresso do que aceitar
reformas? Foi esse dilema que as forças reacionárias levaram para o exercício da ditadura e que
levou a sucessivas cassações polítcas e a novos golpes dentro do golpe de 1964.
Aqueles que não têm condição de ganhar eleições são os que necessitam de golpes de estado.
Evidentemente, os golpistas são em muito maior número do que potenciais vencedores eleitorais e
é por isso que os golpistas só podem se manter no poder suprimindo todas as regras possíveis de
“jogo democrátco”,. Para eles, os direitos devem ser postergados, desde que resultem em prejuízo
para sua sede de poder. Raramente golpistas têm algum projeto de reforma social progressista.
Querem apenas usufruir do poder e para tal quanto mais primitvas as regras, melhor. É por tudo
isso que, (a) enquanto se aglutnavam num campo as forças interessadas em algum tpo de
progresso e de reformas democrátcas; (b) se aglutnava em outro todos os perdedores no tempo
recente, todos os obscurantstas e reacionários, todos os interessados em privilégios e
concentração de renda.

A Linha de Massas
Desde 1949, quando da vitória da luta de libertação na China, com a formação da República
Popular da China, o PCB vinha “namorando”, a linha de massas, como revela por exemplo a revista
do partdo, “ Problemas”,, onde o artgo “Stálin e a Revolução Chinesa”,, de dezembro daquele ano
(1949), procura criar uma ponte entre as experiências chinesa e soviétca.
Quadros do partdo de então, dirigentes, haviam visitado a China para aprender da experiência
de organizar os camponeses para formar um exército de libertação. Até o secretário de

VII
organização do partdo, Arruda Cânmara, aceitou o convite da delegação chinesa ao XX Congresso
do PCUS, feito a todos os partdos ali presentes. Os chineses convidaram os delegados dos outros
partdos para irem até a China discutr o que houve naquele congresso e que rumo deveriam
tomar. Durante alguns anos (1956 – 1959) houve uma expectatva de que o P.C.C. criasse uma 5 a
Internacional, para prosseguir a luta mundial pelo socialismo. No entanto, o fracasso do “Grande
Salto Adiante”, na China e o afastamento de Mao da direção polítca, puseram fm a esta tendência.
Assumiu o comando na China Liu Shao Chi, que era próximo da linha de Moscou.
Mesmo sem o apoio do aparato polítco, no plano do debate teórico era crescente a infuência
da teoria da linha de massas, na variante elaborada por Mao Tsé-Tung (1924-1926). A linha de
massas se caracteriza por levar às últmas consequências o leninismo. Em primeiro lugar, a linha de
massas abandona qualquer preconceito intelectual contra as massas do povo, colocando o povo
no centro de todos os acontecimentos e fazendo dele e de sua tradição os motvos porque a
mudança é necessária. Nesse sentdo, tal concepção é uma volta radical a Rousseau e, por certo, à
pregação “do retorno à Primeira Igreja”, (o grupo de Cristo e seus apóstolos), que originou a
Revolução Puritana na Inglaterra (1640). Recorde-se que a teoria revolucionária de Rousseau parte
de dois elementos: (a) o povo é quem faz a história; e o povo, portanto, nunca erra; (b) todas as
representações polítcas emanam da autoridade do povo e podem, portanto, ser refeitas em
assembleia do povo. O radicalismo rousseauísta obteve três leituras, de que derivam todos as
leituras revolucionárias de esquerda: (1) socialismo; (2) democratsmo revolucionário; (3)
democratsmo popular. Nas leituras feitas pelos partdos revolucionários asiátcos, o nacionalismo
democrátco se expressa num partdo revolucionário representante da maioria da nação, partdo
do povo, sob a direção da aliança operário-camponesa, e conduzido pela ideologia marxista-
leninista. As implicações são óbvias.
Em segundo lugar, se o povo está certo, ele é responsável pela indicação do “programa mínimo”,
na luta revolucionária, derivando daí todas as formas de organização dos diferentes movimentos
sociais. Implica dizer, por exemplo, que em cada lugar de existência da massa, a luta consiste em
lutar pelos pontos programátcos estabelecidos pela própria massa e daí ir-se elevando
mutuamente os níveis de organização e de luta, sempre com base na unidade de ação da maioria
do coletvo envolvido. Dito na linguagem de Ho Chi Minh, se o povo quiser uma divisão de terra,
ele terá a terra dividida, e se ele quiser uma cerca, a cerca será construída. O general Giap explicou
aos seus inimigos que os vietnamitas não se batam pelo comunismo, mas pelo direito de se
governarem a si mesmos. É importante divisa da linha de massas (a) a unidade de todas as forças

VIII
populares desde a base, (b) a luta pelas soluções positvas que a maioria deseje, (c) o movimento
das massas pela base e (d) o respeito às direções polítcas estabelecidas pelas massas do
movimento. Trata-se, portanto, de organizar a luta das massas e levar daí à mobilização das massas
de milhões, que exigem reformas. Para dar um exemplo, toda pessoa deseja saúde e escola para
seus flhos. Mas o que resultaria no Brasil mobilizar as pessoas só com essas três, ou duas palavras-
de-ordem? (a) assistência médica e hospitalar decente; (b) creches decentes para todos; (c) escolas
decentes para todosm É evidente que isso basta para derrubar o regime. Aliás, qualquer regime
cuja função é escravizar o povo e debochar do povom
Em terceiro lugar, se a maioria do povo está certa, então a mobilização da maioria é o xis da
questão. Daí a importânncia da diferença fundamental entre (1) as contradições no seio do povo; (2)
as contradições com o inimigo do povo. No seio do povo, tudo pode ser debatdo e corrigido. No
entanto, não se pode fazer concessão ou ttubear, quando se enfrenta o inimigo. Observe-se que a
divisão da luta de massas é polítca, e não pessoal ou ideológica. Aqueles que impedem a solução
dos problemas que o povo enfrenta, tais são os inimigos do povo.
A divisão entre os interesses do povo e os interesses dos dominadores e exploradores deixa uma
parte da média burguesia e quase toda pequena burguesia no campo do povo. Isso não apenas
satsfaz aquela visão de Rousseau da luta democrátca como uma luta da maioria como confrma o
caráter nacional e democrátco – de conteúdo – do poder popular. É bem verdade que a “linha de
massas”, é de tal forma assustadora para as classes exploradoras que elas tendem a apelar para o
golpe de Estado e para a luta armada contra as massas em processo de organização. Tal se deu na
China em 1927, na Indochina em 1946 – 1947 e no Brasil em 1964. O caso do Brasil se caracterizou
pela incapacidade das forças democrátcas de aceitarem a mudança da forma de luta imposta pela
burguesia, que tornou impossível o encaminhamento legal de uma solução para aquela
conjuntura.
O movimento popular no Brasil se desdobrou enquanto organização de massas em duas
direções: (a) uma direção operária e sindical (1948 – 1962), em que as direções sindicais e
populares livraram-se dos efeitos da repressão de Dutra e criaram uma polítca clássica leninista de
construção da “frente operária”, (PCB + PTB), chegando ao PUA e ao CGT (1960 – 1964); (b) um
movimento popular guiado por diferentes organizações, que chegaram (1958 – 1962) às Ligas
Camponesas, à UNE e UEEs (movimento estudantl), à FMP e a FLN de Mauro Borges (governador
de Goiás). Estas “duas pinças”, do movimento popular caracterizaram o movimento nacionalista e
democrátco, que se expandiu de forma notável entre 1962 – 1964. A reação a esta altura cunhou

IX
o termo “República Sindicalista”,, para acusar o presidente João Goulart de ser o responsável
polítco por tais movimentos e planejar um golpe de estado para instalar a citada “República
Sindicalista”,. Isto era totalmente falso, mas sabe-se que as campanhas da direita e da burguesia
sempre se iniciam pela “materialização”, de uma mentra qualquer.
O grande detonador polítco do lado (b) do movimento popular foi o governador do Rio Grande
do Sul, e logo deputado federal, Leonel Brizola. Na crise polítca do golpe militar que derrubou o
presidente Jânnio (agosto-setembro de 1961), Brizola mobilizou uma enorme massa no país, que
levou à queda da Junta Militar. Dado então no Congresso o golpe do parlamentarismo (troca do
regime por voto indireto), Brizola propôs ao presidente Goulart que “se fosse empossá-lo”, em
Brasília, à frente de uma “caminhada cívica”,, uma marcha da legalidade que, saindo de várias
cidades, se dirigiria à Brasília, para “perguntar ao Congresso”, qual a “razão do parlamentarismo”,.
Se essa caminhada houvesse sido feita, o menor resultado teria sido o da marcha de Mussolini
“sobre Roma”,, que resultou para Mussolini 22 anos no poder. Como a marcha não foi aceita por
Goulart, restou como dela efeito a FLN (Frente de Libertação Nacional) e FMP (Frente de
Mobilização Popular).
Houve, portanto, uma oportunidade de vitória do movimento popular no Brasil, naquela época,
dentro do ensaio da prátca de uma “linha de massas”,, estratégia que, no dizer de Foster Dulles
“nada deixa”, para os seus adversários fazerem polítca. O “poder das massas”, é criar o “poder para
as massas”,, dizia Mao-Tsé-Tung e a verdade é que, quando as massas ganham as ruas, ninguém
mais pode governar. Vide as jornadas de junho de 2013. Vê-se a revolução cultural na China (1966-
1969).
Mao-Tsé-Tung e seus assessores Chen-Po-Ta (Chen Bota; Chen Boda) e Lin Poku escreveram
numerosas vezes sobre a importânncia da mobilização das massas mais amplas, “massas de
milhões”,, para criar o poder das massas e levar o inimigo do povo à derrota. Sem uma linha de
massas, insistem, não é possível levar a guerra popular à vitória, nem se construir o socialismo.
Nesse sentdo, o PCB, durante um certo período (1949 – 1964) aproximou-se da teoria da linha de
massas, e da teoria leninista das ondas revolucionárias. Nunca teve, contudo, a reversão defnitva
rumo a esse caminho, a escolha e a aceitação da tese da guerra popular revolucionária.
Certamente, a maioria dos dirigentes do PCB não entendiam nada da chamada linha de massas.
Dos sete homens que dirigiam o Burô Polítco e o PCB (1958 – 1964), a tendência de esquerda
possuía apenas três: Jover Telles, Carlos Marighella e Mário Alves. A tendência de esquerda
controlava a Seção de Educação e Propaganda e a Seção Sindical, mas nunca a Seção de

X
Organização, órgão decisivo do poder dentro do PCB. Por isto, talvez, o PCB tenha estado sempre
tão despreparado para enfrentar nas ruas o golpe de estado e no longo prazo estabelecer tátca ou
estratégia de luta armada. O sistema de organização do PCB, certamente guiado por uma
concepção organicista de luta de massas, sempre demonstrou difculdade para pratcar a
antecipação de fatos que chegava a prever (!), como o golpe de 1964, a crise de 1961, etc. Talvez a
crise de agosto-setembro de 1961 haja sido o único episódio onde o PCB não foi apanhado
“dormindo no ponto”,.
No trabalho de construção da S.E.P., dava-se muita importânncia a esclarecer a linha de massas e
como a militânncia de base e do nível intermediário devia lutar para criar e desenvolver uma ampla
frente nacionalista e democrátca, da qual os comunistas seriam apenas o “núcleo duro”,, o coração
do cometa.
Após a crise de 1961, semelhante frente avançava rapidamente em todos os estados,
predominantemente nas áreas urbanas. No entanto, semelhante polarização teria que trazer
consigo o choque, que, devido a intervenção norte-americana só poderia dirigir-se a uma guerra
civil, que – diga-se a verdade – seria fatal caso fosse ignorada como fato provável pelas forças
progressistas. A mobilização da esquerda, tanto no Brasil como na América Latna, atngiu o seu
máximo naqueles dias, da década de (19)60. Furtar-se a enfrentar este fato, conduziu – como se
sabe – a devastadora e, em muitos casos defnitvos, derrota das forças populares. Isto implica
dizer que a esquerda hoje deve estudar a situação polítco-estratégica levando em consideração
inclusive aquela experiência.
Por isso a importânncia da leitura desse “Curso Médio do Partdo”,. Ele expressa um nível dado de
experiência, de debate e de consolidação de teses e ideias leninistas no mundo dos anos 60 (do
século passado) e pode ser útl tanto para compreender aquela época, afastando uma nuvem de
mentras, como compreender a época em que se está vivendo, onde tudo indica que a História
ainda não acabou.

XI
CURSO MÉDIO DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO

Seção de Educação e Propaganda (SEP)


Comitê Central
Rio de Janeiro – São Paulo

REDATOR: Wilson do Nascimento Barbosa

1
(1962)
(Edição Restaurada: 2016)

OBSERVAÇÃO.
No dia 21 de outubro de 1961, a Seção de Educação e Propaganda do Comitê Central do
PCB reuniu no Glória, às 16 horas (um sábado), para formalizar as estruturas dos cursos
médio e superior do partdo e despedir-se de seu membro, Camarada Paschoal Lemme, que
iria dedicar-se a outras tarefas.
O partdo leninista é uma organização montada com três tpos de estrutura (funcional,
hierárquica e de assembleia), sendo que a assembleia (comissão, comitês) é a mais
importante forma de organização. Após as difculdades de direção na crise 1956-1957, o
trabalho de educação e propaganda havia sido reorganizado com sucesso, sendo os
responsáveis pelos novos avanços os companheiros Apolônio de Carvalho (secretário), Jacob
Gorender, Mário Alves e Paschoal Lemme. As publicações e jornais do partdo haviam sido
reatvadas em todo o país, a editorial Vitória estava de vento em popa e o curso básico,
amplamente distribuído, era debatdo pelos militantes e pelos membros da “linha próxima”,.
O objetvo do roteiro das aulas era discutr as teses mais importantes que expressavam o
modo de pensar leninista, e a maneira como se arrumavam na explicação tátca da ação do
partdo. Daí a importânncia de se recorrer às citações de textos, clássicos ou não.
Em virtude de que 36 livros citados não foram encontrados hoje disponíveis, todas as
citações tveram sua fonte em livro omitda e optou-se por repetr citações já usadas no texto
em lugar de outras, tomadas pelo desgaste ilegíveis ou incompletas. O texto, no entanto, é a
mais completa reprodução do original que se pôde obter. O texto original foi elaborado entre
maio e agosto de 1962.
No período 1946-1956, o partdo havia se caracterizado por suas escolas clandestnas e
pelos seus três cursos de educação: (a) Marx e Engels; (b) Lenine; (c) Stálin. Esses cursos
formaram alguns milhares de militantes, dos quais os nove mil militantes contados em maio
de 1958. Com a crise da luta interna e a reorganização do partdo, a S.E.P (Seção de Educação
e Propaganda) reestruturou os antgos cursos, criando em seu lugar os cursos “básico”,
(formação na linha polítca), “médio”, (formação leninista em geral), e “superior”, (formação
aprofundada no marxismo-leninismo).
Entre os escolados e temperados membros da SEP, encontrávamo-nos eu e outro
camarada, cujo nome deixo de citar por não saber o que dele foi, ambos os dois “arraia

2
miúda”,, ou “marinheiros de primeira viagem”,. Como resultado do afastamento do partdo do
chamado estalinismo, a condição de instrutor de cursos da CEP era agora uma formação
libertária: recebia-se o roteiro, com as teses a serem explicadas em cada “aula”,. O instrutor
devia apresentá-las encadeadas de acordo com seu entendimento e ser avaliado ao fm de
cada curso. No “curso médio”,, não havia um texto “pronto”,, como das teses do roteiro. Entre
1961 e o golpe de 1964, a SEP teve mais de 43 mil alunos em seus cursos básico e médio. A
meta era meio milhão de alunos, até as eleições de 1965. O PCB da linha V Congresso era
uma força avassaladora dentro da juventude de então. Estava a repetr o sucesso do PCB de
1945-1946, crescendo sem parar, ultrapassando todos os limites da polítca tacanha da
época. Mais uma vez, só o golpe de estado poderia cortar esse processo rumo à libertação,
que estava a viver o povo brasileiro. Para tanto, mais um golpe de estado foi – pasmem! - a
solução encontrada pelas forças da direita. Os marxistas jamais buscaram enganar os
trabalhadores em todo seu período de atuação. Os marxistas sempre apostaram no
esclarecimento polítco e ideológico de cada trabalhador, de cada pobre, em escala de massa
de dezenas de milhões. As pessoas do povo sofrem o ataque ideológico e polítco de
milhares de “tribunos”, a serviço da reação – alguns simplesmente ignorantes e bem-
intencionados – a absoluta maioria, bandidos, indivíduos cínicos e corruptos, a serviço do
capital e de todo tpo de exploração. Portanto, a luta ideológica e o esclarecimento de cada
militante socialista, cada militante comunista de organizar células – organização de base –
com pessoas humildes do povo, e a partr de três até vinte membros, dedicar-se à formação
ideológica e à discussão polítca. Este “curso médio”, se presta, por exemplo, à leitura
semanal de cada aula, num coletvo, seguido de debate. Em seis meses, o curso estará feito e
o grupo pode avançar para a leitura de materiais mais específcos. Hoje, é importante
desligar a televisão, para recuperar o conhecimento e a verdade. É bem verdade que a
ditadura, ao assassinar milhares de comunistas e socialistas e até dois presidentes da
república (JK, Jango) lançou o movimento social na derrota e nas trevas do pseudo-
reformismo e o país na famigerada “dívida”, (externa e interna). Isso, contudo, pode ser
derrotado pela verdadeira organização popular, a organização leninista.
A pobreza da democracia brasileira é que seu pescoço está sempre nas mãos da reação, da
velha e conhecida oligarquia, que se renova geracionalmente, mas não se transforma em
algo novo. Como toda “cultura”, de bandidos e reacionários, liquidam os seus inimigos,
dedicam-se a difamá-los e desaparecem com seus “textos sagrados”,, para que a verdade não

3
seja conhecida. Esta versão do “curso médio”, sobreviveu ao período repressivo. É, portanto,
útl para se entender uma leitura de esquerda do movimento polítco, à época anterior ao
golpe de 1964. Ele também é útl para todos os organizadores de esquerda compreenderem
o trabalho do PCB e retomar o trabalho de educação e propaganda entre as massas do povo,
em moldes parecidos com o que realizava aquele partdo.
Na verdade, este texto, 54 anos depois, ainda está vivo. Ele pode ser estudado e discutdo
por militantes, como (a) em roteiro autoeducatvo; (b) um roteiro para planejar o trabalho
educatvo atual; (c) uma fonte de informação do estlo leninista de trabalho. As massas
populares servem – como as baionetas de Napoleão – para se fazer quase tudo com elas,
menos para se sentar em cima delas. Os falsos movimentos sociais, os diversos tpos de
reacionários e semi-fascistas, etc., a serviço da “sociedade civil”,, têm pratcado toda sorte de
misérias como os assalariados e os pobres, levando ao paroxismo da diferenciação biológica
o separatsmo social. No entanto, o grau de abjeção e miséria que têm imposto aos pobres,
está levando cada país do falecido “terceiro mundo”, à guerra civil, disfarçada de “confito
periférico”, e “luta contra o narcotráfco”,. Após a enxurrada de golpes de estado com que os
EUA e seus aliados têm varrido o mundo (1956-2016), sessenta anos de banditsmo
“democrátco”,, vê-se que a antga “orientação leninista do movimento de massas”, era a linha
de menor custo para a renovação das sociedades e a libertação legítma dos diferentes
povos. Outro não é o caso no Brasil. Fora do leninismo não há salvação. A sucessão de
quadrilhas – até com disfarces religiosos - que revezam no saque e na pilhagem de um país
rico e de um povo pobre, não deixa outro caminho do que a autêntca educação polítca das
massas de dezenas de milhões, na luta pelo despertar da consciência dos trabalhadores e
dos pobres. Por isso é de grande importânncia o estudo da experiência passada, com a leitura
de textos como este, que hajam logrado sobreviver à boçalidade da repressão policial
burguesa.

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CURSO MÉDIO DO P.C.B.
1º VOLUME
(AULAS 1 A 7)

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Aula 1

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1 - Duas Concepções sobre o Mundo a História e o Desenvolvimento da Sociedade.

O chamado “problema fundamental da flosofa”, busca responder o que é primário no


mundo: o Ser ou o Espírito. Por “ser”,, entende-se em flosofa a realidade, o mundo exterior,
a Natureza. Por “espírito”,, entende-se o que está na origem da concepção humana, a ideia,
ou ainda a consciência humana ou o que lhe parece como tal. Intuitvamente é simples
resolver esta questão, mas logo que o que pensa nela a resolver, ela se torna mais
complicada e uma dúvida mais extensa vem-se instalar. Os “flósofos”, mais antgos (“amigos
da sabedoria”,) obviamente se dividiram ao dar a resposta, instalando-se assim o “problema
fundamental”,.

A melhor maneira de se avaliar tais respostas é estudando-se a “História da Filosofa”,, uma


disciplina que narra como diferentes pensadores abordaram o problema. Este ou aquele
flósofo, é claro, o resolve de forma diferente e pode-se, portanto, aprender de suas
explicações. A primeira questão é a observação do que aparentemente nos rodeia: há coisas
que parecem existr fora de nós e outras que parecem existr dentro de nós. Como
poderemos nos orientar? Uma estrela, uma planta, um avião, uma árvore, etc., parecem
existr fora de nós. Um sentmento, uma dor, um entendimento, etc., parecem existr dentro
de nós. Então, examinando melhor, vemos que tudo o que conhecemos está concentrado,
isto é, uma árvore é um conceito, um sentmento como dor ou desprezo é um conceito...
Então, só existem conceitos?

A primeira percepção importante a fazer é que há coisas que existem independentemente


de nossa vontade individual e até de toda a humanidade. A segunda percepção a fazer é que
há coisas que só existem dentro de nossas cabeças, embora existam até em toda a
humanidade. E a terceira percepção a fazer é – tenhamos ou não conceitos para certas coisas
– elas ainda estão lá fora, parte delas, de nossa percepção ou consciência. Por exemplo: um
boi iaki existe independentemente de que o hajamos visto ou não, como o planeta Marte;
uma tristeza existe, mesmo que sejamos apenas nós, individualmente, que o sentmos e

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possamos expressar; há, pois, coisas que se passam dentro de nossa mente e outras que se
passam fora da mente. Há coisas subjetvas e há coisas objetvas.

Daí que um fato ou fenômeno que exista objetvamente existe fora da consciência do
homem. Outro fato que existe subjetvamente exista dentro da consciência do homem. Este
últmo caso, tem-se o que é “espiritual”, ou “ideal”, (de ideia). No caso anterior, o que é
objetvo, diz-se que é “material”,. A partr dessa “divisão fundamental”,, tudo que se logra é do
“mundo material”, ou do “mundo ideal”,.

Esta separação básica nos permite plantear o “problema fundamental da flosofa”,: (a) foi o
“Ser”, que nos ensinou gradualmente a perceber sua objetvidade e, portanto, nossa
subjetvidade; ou (b) foi a nossa subjetvidade – o espírito – que se formando, nos ensinou a
distnguir o “Ser”,? Diferentes flósofos responderam de diferentes maneiras e daí a
importânncia do estudo da História da Filosofa para entender como se deu até aqui o
entendimento do mundo.

A matéria é primária e engendra a consciência? A consciência é primária e inventa a


matéria? Portanto, a conexão entre o pensar e o ser é o problema fundamental da flosofa. A
maneira como se responde a esta questão condiciona a posição do pensador ou do
pesquisador em relação a todos os problemas da vida e, portanto, no campo da História.
Como se forma a primeira sociedade humana? Como se desenvolvem as sociedades
humanas? Uns darão uma explicação idealista, outros darão uma explicação materialista. Um
caso de explicação idealista, por exemplo, é aquele em que Moisés recebeu um código dado
pelo próprio Deus, e a partr daí criou uma dada civilização (pela prátca das ideias postas no
código). Uma outra explicação “idealista”, de Moisés diria que ele próprio escreveu o código,
para obter regras comportamentais necessárias a criar uma dada sociedade. A crença em
que Moisés criou o código, na verdade, não seria “materialista”,, mas “idealista subjetva”,;
uma outra interpretação “idealista”, apresentaria uma mudança coletva de neutralidade que
permitria o grupo de Moisés criar o código (haveria uma “consciência objetva”,). Trata-se do
idealismo objetvo. Uma postura materialista veria diferente: somente em dadas condições
materiais de existência, um grupo da sociedade criaria um código para resolver os problemas
de convivência que vinham aumentando. Por exemplo: o código de Moisés é uma variante
dos códigos babilônicos, egípcios, etc., de sociedades muito avançadas, portanto, à época; e

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que podiam solucionar problemas mais complicados. O resumo copiado por Moisés e seu
grupo servia para uma sociedade menos complicada, como a sua.

A visão idealista na História tende a exagerar o papel dos indivíduos e a rebaixar as


difculdades que tornam típicas as diferenças entre as sociedades. Há sociedades que podem
resolver certos problemas que outras não podem. Isto porque o conhecimento é
acumulatvo e quem resolveu certos problemas pode avançar para outros tpos de
problemas. É difcil ultrapassar quem está na frente do desenvolvimento social. Ainda mais
nos primeiros estágios da vida histórica. O homem é um animal social. Se um homem for
criado fora de uma sociedade humana, ele não reproduzirá sozinho, uma cultura da
sociedade humana. Portanto, o homem não se desenvolve a partr de imagens pré-existentes
em seu cérebro, mas aprendidas na sua vida social.

É evidente que é um exagero classifcar o homem de uma folha de “papel em branco”,


quando nasce. Ele, na verdade, consttui um aparato tão complexo que as suas confgurações
orgânnicas compreendem pré-disposições, equipamentos biologicamente herdados que
tornam mais fácil a tarefa de “tornar-se”, homem. Nada, contudo, que chegue a prescindir do
meio social em que ele deverá existr. A sociedade humana é consttuída por seres humanos,
limitados por suas circunstânncias históricas que, por sua vez, expressam a experiência
histórica de uma sociedade dada. Darei um exemplo. Um povo qualquer tem sua maneira de
contar números, mas, de repente, um dos seus pode descobrir a tabuada que outro povo
utliza. Ao aprender a contar daquela maneira, este membro do primeiro povo pode difundir
entre os seus aquela tabuada que não expressa sua experiência prévia, mas que incorpora
uma experiência indireta, economizadora de “tempo de trabalho”,.

Assim como os indivíduos aprendem uns dos outros, as sucessivas sociedades aprendem
umas das outras. Daí que não seja verdadeira a tradição idealista que apresenta em cada
povo um herói mito como Moisés, que “inventou”, a organização social... Isto é um longo
caminho, a transformação do hominídeo em homem e a História é a disciplina que pode nos
contar o caráter materialista desta transformação, deixando de lado a idealização e o
discurso subjetvista.

Pode-se complicar ainda mais a “questão fundamental”,, chamando a atenção para que cada
um de nós é uma “unidade material”, e os processos que se passam dentro de nós – como a

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geração de energia por processos químicos – e que “produz os nossos pensamentos, aquilo
que escrevemos”,, etc. Mas isso não é importante por agora. Até há pouco, acreditava-se em
“espiritual”, como sendo algo distnto do “material”, e daí os equívocos da interpretação
idealista. É claro que o “espírito”, é uma dissipação de energia, gasto material, mas isso já
requer um nível de instrução que os flósofos antgos – nem a população comum – possuíam
ou possuem.

O “problema fundamental”, também precisa ser visto de outro lado. Seja a “ideia”, ou o
“espírito”, o primário ou o secundário, ainda assim é possível conhecer o “Ser”,? Dito de
outra forma, o ser humano pode conhecer o mundo? Pode conhecer a si mesmo? Para os
idealistas subjetvos, não. O ser humano não pode conhecer o mundo, pouco pode conhecer
de si mesmo. Daí que grande parte deles atribuía o conhecimento a uma entdade fora do
homem e da natureza; uma entdade que sempre existu e não é sequer regulada pelo tempo
ou pelo espaço. Esta entdade é chamada “O Impronunciado”,, “O Eterno”,, etc., ou para a
maioria, “Deus”,. Deus nos explicaria tudo o que acontece, somente através da intuição, razão
porque devemos todos nos comunicar com ele de forma pessoal, por via de orações ou de
meditação.

Outros idealistas, a maioria dos idealistas objetvos, acha que a intuição nos permite que
nos comuniquemos com a “ordem do universo”,, etc., ou até o sobrenatural como Deus, e
percebamos como as coisas funcionam. Já os materialistas, acreditam que tudo o que existe
pode ser conhecido e explicado, mas que tal não é uma tarefa fácil. É preciso criar métodos
de pesquisa para abordar cada vez melhor os seres humanos, os outros animais, a natureza,
etc. Tais métodos tentatvos geram a explicação que é possível obter – em dadas condições
materiais – e ir-se pouco a pouco avançando e melhorando tais estudos. Os materialistas não
negam a intuição, mas acham que se deve buscar construir teorias e provas para todos os
conhecimentos novos e velhos obtdos.

Portanto, o materialismo é a base do conhecimento do mundo de forma científca. “Duvidai


de tudo”, é uma boa divisa para o conhecimento científco. Tudo deve ser analisado,
debatdo, testado, submetdo à prova. A mente do homem é um cadinho processador dos
ensinamentos que ele adquire na realidade. E os procedimentos de seu raciocínio devem ser
bem analisados para que ele possa separar conclusões errôneas de conclusões corretas. A

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percepção que o homem tem de sua pequenez diante do mundo, diante do cosmos, sempre
foi uma fonte de medo, de terror mesmo, e tais interferências emocionais no processo do
pensamento tem permitdo criar um número enorme de opiniões falsas, de conclusões
errôneas capazes, às vezes, não só de embaraçar a vida de uma pessoa como até a própria
elaboração científca.

Desse modo, a percepção do mundo não é uma coisa ingênua e desinteressada. A maneira
como se percebe cada coisa, ou o conjunto das coisas, leva a uma concepção de mundo, à
formação do que hoje se chama uma ideologia. Uma ideologia expressa o mundo de acordo
com os interesses de seus elaboradores. Uma ideologia contém uma leitura do mundo mais
distorcida ou menos distorcida. Em virtude da divisão da sociedade em grupos e classes
sociais, com grau de riqueza material e de interesses diferentes, não se pode deixar de lado
que na vida social dos povos se hajam consttuído diferentes ideologias. Quando se
examinam as característcas de uma ideologia, vê-se que cada componente dela encerra uma
leitura correta do ponto de vista de uma classe – a produtora daquela ideologia – que, ao
mesmo tempo, pode ser uma leitura da realidade incorreta, do ponto de vista de outra classe
e até de grupos sociais da mesma classe que a produziu.

Portanto, os assuntos ideológicos não podem ser tratados com superfcialidade, porque eles
correspondem a complexas elaborações do ponto de vista sociopolítco e socioeconômico,
na defesa da perpetuação de uma classe e na luta pela derrota ou até destruição de outras.
Devido à inteligência altamente desenvolvida do homem, ele não é um animal homogêneo
como, por exemplo, as hienas, que caçam em bandos e possuem regras de hierarquização e
de repartção simples. O homem provavelmente é o mais complexo dos animais. Suas regras
dependem de uma estrutura social complexa e – até aqui – em perpétua transformação.
Seria ingênuo acreditar que os sistemas de crenças e normas sociais difundidos por
estruturas custosas e enormes, como escolas, igrejas, órgãos de governo, jornais, emissoras
de rádio, etc., tvessem por fnalidade o bem de todos, a harmonia entre os grupos sociais
ou a elevação do conhecimento científco. Esta possibilidade existe apenas parcialmente,
pela via do esclarecimento da maioria e da consciência ideológica clara das classes
majoritárias, que têm o potencial de ser tornadas classes por si, ou seja, capazes de se tornar
sujeito da História humana, pelo reconhecimento e pela defesa de seus próprios interesses.

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A observação cuidadosa da luta intelectual ao longo da História humana conhecida indica
que as classes dominantes sempre procuraram mascarar seus interesses grupais,
apresentando-os como interesse de toda a sociedade. Este processo de mascaramento
consiste em construir verdades para si, a partr da experiência histórica e encobrir tal
verdade com uma falsidade mais extensa, em que o aspecto verdadeiramente de classe da
elaboração vê-se disfarçado e falseado como interesse da maioria. Semelhante deformação
espiritual não é apenas deliberada e proposital, da parte de ideólogos das classes
dominantes. Ela corresponde a necessidades de seu próprio processo de elaboração, porque
(a) há miopia de classe; (b) o foco de análise é parcial; (c) o explorador não pode entender as
necessidades do explorado.

(A) Miopia de Classe - O ideólogo da classe exploradora não percebe em geral na sociedade
a existência de outras necessidades e interesses que não sejam os seus próprios. Dessa
maneira, o seu “horizonte democrátco”, se limita a tratar da reprodução social e econômica
de sua própria classe, desde que a divisão social do trabalho conduziu a sua sociedade a
tornar-se uma sociedade de classes. A miopia de classes é própria de todas as classes na
sociedade, mas ela é mais intensa nas classes dominantes, como produto de alienação
resultante de viverem estas classes à custa da expropriação do resultado do trabalho de
outras classes.

(B) Percepção e Análise Parcial – Mesmo quando o ideólogo da classe exploradora procura
explicar a sociedade e os interesses sociais como um todo, ele não consegue alcançar este
todo, que caricatura por meio de redução do conceito de totalidade. A aversão ao trabalho e
aos trabalhadores leva o ideólogo da classe exploradora a exaltar o papel sócio-histórico dos
exploradores e a reduzir o papel das massas trabalhadoras na construção dos processos da
sociedade. A partr daí, o seu “retrato”, da sociedade se torna sempre uma caricatura
grosseira do que se está a passar. A falsidade das formulações constantes de sua elaboração
ideológica se reduz simplesmente a um punhado de mentras, do ponto de vista de outras
classes, partcularmente das classes exploradas.

(C) Bloqueio Objetvo Ante a Realidade do Explorado – O ideólogo das classes dominantes
não é apenas um portador de uma moral inferior. Dentro de sua mente, não consegue
visualizar como a exploração existe na sociedade, daí resvalar sua análise do “próximo”, em

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outra classe com grosseria, em verdadeira classifcação moralista e insultuosa. Para ele, os
pobres e os trabalhadores dispõem da mesma liberdade e operacionalidade do que ele.
Moram em barracos porque são preguiçosos e bêbados; perdeu o emprego pelo mesmo
motvo, etc. Na verdade, no ânmago de si, tal ideólogo defende a exploração e até sente
prazer em ver a miséria e a ruína do “próximo”,, para engrandecer a si mesmo.

Não é à-toa que quase sempre as formas idealistas de compreensão neguem os avanços da
ciência e se liguem a pior treva religiosa. Fascinam-se com homens santos, com poços de
água sagrada, mas não veem qualquer “milagre”, no rádio, na televisão, ou na jornada de oito
horas. O obscurantsmo clerical pode ser refnado. Mas também os seus seguidores se
benefciam em silêncio dos efeitos do progresso da ciência. No entanto, não desejam lutar
para que os frutos da ciência possam ser distribuídos a toda a sociedade, sem distnção de
classes ou rendimentos.

Para evitar todas essas falsidades, a doutrina socialista se afasta do idealismo e assume um
caráter materialista e dialétco. A elaboração do materialismo dialétco, partndo dos
flósofos progressistas do século XVIII, completou-se em meados do século XIX, pelo trabalho
de pensadores como Hegel, Feuerbach, Marx, Engels e outros. Esses flósofos abriram
caminho ao aperfeiçoamento da ideologia de classe dos trabalhadores, do proletariado, que
é também a ideologia renovada dos camponeses pobres e sem terra. Às ideologias dos
exploradores se opõe assim a ideologia dos trabalhadores.

A aplicação dos princípios duradouros do materialismo dialétco ao estudo da sociedade


humana tem produzido uma série de categorias científcas, cujo conjunto nós conhecemos
como o materialismo histórico. O ponto central da explicação do materialismo histórico é
que todos os fenômenos da sociedade tem um desenvolvimento histórico. Não pode existr
um fenômeno sem que tenha ou expresse um movimento, sem que acarrete uma dinânmica
específca. Os inimigos dos trabalhadores gostam de difundir teorias e explicações em que os
fenômenos do mundo têm uma “vida estátca”,, isto é, aparecem e desaparecem sem uma
explicação possível.

Estas concepções místcas e subjetvistas são avessas ao espírito científco. Todo estudante
de ciência sabe que é possível buscar causas e relações para cada fenômeno e lograr uma
explicação razoável que possa ser evidenciada por outro estudioso. As explicações

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extraordinárias, produto de “gênios insondáveis”, resultam em geral haverem sido produto de
demência ou má-fé. Elaborar um quadro deformado do mundo é condição necessária para
engessar a maioria das pessoas com formas atrasadas do idealismo e com formas religiosas.

A criação e o desenvolvimento do materialismo histórico é uma oportunidade até aqui sem


igual na vida dos povos. Marx e Engels, baseando-se em Hegel e Feuerbach, o
desenvolveram, pela revelação do caráter dialétco-materialista da sociedade e do
pensamento humanos. Eles se basearam na percepção do caráter dialétco da natureza,
porque seria pouco possível que a sociedade humana, gerada na natureza, não fosse
expressa por um conjunto de leis em concordânncia e contradição – processo de superação –
na relação com a dita natureza. Criaram-se assim a mais avançada teoria científca do
desenvolvimento social.

Grande parte dos pensadores antgos acreditava que as mudanças na sociedade e nas
pessoas se devessem: (a) a agentes externos, como deuses; (b) a casualidade, de fundo
inexplicável. Eles não tnham os recursos de uma sociedade mais complexa, rica na divisão
social do trabalho e na criação de meios materiais de existência que lhes permitsse fazer
experimentações encadeadas, que se prestassem à acumulação efetva de conhecimentos.

No entanto, de seu esforço, foi possível elaborar uma teoria de conhecimento que podia ser
passada de geração a geração, criando a profssão de “intelectual”,, ou seja, criador de novas
teorias, embora aquela teoria do conhecimento fosse eclétca, formal, rígida e cheia de
elementos de sofstca. Isso era aquilo que puderam elaborar as pessoas que se dedicaram a
pensar o mundo, na condição de representantes das classes dominantes do passado.

Na luta para remover o pensamento humano das trevas, muitos sábios do passado deram
contribuições importantes, abrindo assim um caminho para levar pouco a pouco à ciência do
materialismo histórico. Na antga sociedade do Mediterrânneo, na Ásia e na Mesopotânmia, no
Egito e outras sociedades daquele período e do período chamado medieval, criaram-se
teorias que puderam ser desenvolvidas no Renascimento e no subsequente período
ilustrado, de luta contra o feudalismo. Idealistas objetvos e materialistas contribuíram assim
para mudar o entendimento do mundo social, percebendo a dinânmica da sociedade e seus
motvos encobertos pelos exploradores e dominadores. Esse movimento de avanço da
compreensão atngiu grande importânncia com a crítca dos textos da Bíblia, as revoluções

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inglesas e a revolução francesa (séculos XVII e XVIII). No período 1790-1850, ruíram as
concepções retrógradas, com a formação das teorias democrátcas, flosófcas e econômicas
contemporânneas, a teoria das revoluções sociais, o socialismo e o comunismo. Nesse
contexto, foi então criado o materialismo histórico. A percepção das contribuições diferentes
das distntas classes para a criação da riqueza (François Quesnais, Adam Smith, David
Ricardo, Jean-Jacques Rousseau, Denis Diderot), a oposição transformadora da luta de
classes (Augustn Thierry, François Guizot, François-Auguste Mignet), a natureza da
democracia (Jean-Jacques Rousseau, Alexander Herzen, Saint-Simon) foram contribuições
acumuladoras de conhecimento que permitram a Marx e Engels formular os fundamentos
do materialismo histórico.

Portanto, o materialismo histórico não deve ser visto como uma verdade absoluta. Ele é um
método avançado, mas não fechado, de análise e interpretação da sociedade
contemporânnea. Como tal, ele permite a aplicação de um conjunto de categorias ao estudo
de cada sociedade atual. Permite estudar sociedades antecedentes, dentro de uma avaliação
ajuizada, em que nem todas as categorias sejam aplicadas, mas que contribui para elaborar
outras categorias ali aplicáveis.

Em suma, trata-se de um “método para a ação”,, e não para inação. É um instrumento de


luta para os trabalhadores e seus intelectuais, a serviço da busca da verdade que serve à
maioria absoluta dos seres humanos. Poucos métodos, portanto, nas ciências sociais, podem
ter tamanha efetvidade na busca das verdades sociais. É certo que as verdade sociais,
produto da análise histórica consciente e consequente, são também verdades provisórias,
produto da história, que o homem progressista não se cansa de melhorar. Isto nada tem a
ver com o obscurantsmo, o egoísmo e a má-fé, com que os elementos das classes
dominantes examinam a vida social e os interesses sociais.

2 – A Concepção Idealista e suas Característcas.

Obviamente, não existe uma única concepção idealista do mundo. No entanto, analisando
as característcas desses sistemas aparentemente distntos, é possível resumir-lhe os traços
principais a dois conjuntos bem defnidos, o “idealismo subjetvo”, e o “idealismo objetvo”,.

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Esses dois “sistemas”, assim resumidos podem, em decorrência, ser submetdos a um resumo
pelas característcas comuns, para o fm de situar-lhes o lugar na vida social.

No sentdo do mundo moderno e contemporânneo, os últmos quatro séculos, a concepção


idealista ancorou-se cada vez mais no indivíduo como elemento subjetvo, não deixando de
representar uma ampla inversão do sentdo da realidade, fundamentada na religião. O
surgimento do idealismo baseia-se em equívoco constante natural de compreensão, uma vez
que toma o resultado como a causa e a causa como resultado. Isso pensado em termos de
historidade e o difcil trajeto que leva da ignorânncia até o conhecimento.

As primeiras imagens geradas de concepções dos agrupamentos humanos não podiam


penetrar muito além da aparência das coisas, percebendo apenas, portanto, uma parte
daquilo que realmente está a se passar. Isso leva a falseamento de relações causa-efeito,
logicamente desnecessários, mas talvez necessários ou inevitáveis na situação vivida em que
eles se deram. Para facilitar a compreensão do leitor, inventaremos um exemplo.

Uma pessoa caminha na tempestade, cheia de raios e trovões, perto das outras pessoas que
caminham. Ela se ajoelha e invoca o nome de um antepassado, entdade ou deus, pedindo
proteção. Nesse momento cai um raio que atnge outra pessoa, matando-a na hora. Está-se
assim diante de um “milagre”,, que cria uma “entdade protetora”,, um “renascido pela fé”,, e
castga um ímpio que não sabe implorar.

PESSOA IMPLORAÇÃO INCIDENTE PRÊMIO CASTIGO

SUJEITO ATO QUEDA DE RAIO FICAR VIVO FICAR MORTO

Toda a cadeia da relação com o fenômeno está fundamentada no erro, mas o mesmo irá se
consolidar na prátca social, servindo sua difusão à narratva do que aparentemente
aconteceu contra o que realmente aconteceu.

A explicação científca do fato é até simples. Ela foi feita por Benjamin Franklin, quando
empinou uma pipa (“papagaio”,) com um fo, parte arame, parte cordão, emendados por
uma chave. O raio é uma carga elétrica que se descarrega rumo à outra carga elétrica no
terreno. Uma carga atrai a outra. A pessoa de pé andando na chuva tem em sua cabeça

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carregada de eletricidade um ponto para atrair a chegada do raio produzido pelo choque das
nuvens cheias de eletricidade. A experiência de Franklin só se deu no século XVIII (1752).

Antes não se podia provar para o “crente”, que era só uma aparência a proteção dada pela
entdade. Na verdade, ao ajoelhar-se, a pessoa deixou de atuar como para-raios, “deixando”,
tal situação para a que se tornou vítma. Dirá um fanátco que é melhor a humildade, viver
ajoelhado e não meter-se em confusão. Contudo, tal “sabedoria”, não tem nada que ver com
o que realmente aconteceu.

A história da construção do idealismo e a história da construção das religiões é um desfle


interminável de falsas associações ao longo da vida social. É evidente que olhar para o céu
imenso, para o mar aparentemente infnito – partcularmente sob a luz noturna – causa
medo. É evidente que subir uma montanha elevada ou aventurar-se no mar encapelado
gelam a alma de um vivente. Deixar-se, no entanto conduzir por esse medo nos leva – sem
dúvida – a cultuar Baal, Apolo ou Santa Bárbara inapelavelmente.

A importânncia do medo, do terror-pânnico, na sujeição das pessoas não deve ser


subestmada. Ao longo da história, insttuições falidas, como as diferentes igrejas, e Estado
ditatoriais, como a Alemanha Nazista e a ditadura franquista, na Espanha, tem-se mantdo no
poder pelo terror e pelo assassinato – com ou sem torturas – de milhões de pessoas. As
ditaduras dos Estados policiais da burguesia em todo o mundo consomem a cada ano
milhares de vidas. Contudo, deixar semelhante medo penetrar a sua alma, escravizar a sua
mente, signifca renunciar de vez à sua condição humana.

Portanto, a concepção idealista de mundo se baseia num cordão quase interminável de


associações equivocadas, a que – ao longo do tempo – haveriam de se juntar falsifcações
deliberadas de padres (de todas as religiões) e de falsos flósofos. Se na origem de
semelhantes equívocos pode-se compreender certa ingenuidade e despreparo mental, a
partr de certo ponto tem-se que admitr ser o interesse material, o desejo de escravizar o
próximo e a má-fé a verdadeira fonte de emulação e de sustentação de semelhantes
patranhas.

Há uma certa respeitabilidade quando um flósofo de 2.500 anos atrás supõe que o mundo
real não é observável, mas o que se observa são formas degeneradas do mesmo. Contudo,

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não se pode aceitar como de boa-fé que um flósofo de hoje em dia, ou de trinta anos atrás,
nos diga a baboseira de que “tudo que sobe, converge”,...

Os ideólogos do idealismo, com os anos e o avanço da ciência (principalmente 1850-1950),


procuraram se tornar mais suts e deslocar a discussão para uma forma sofstcada de
prioridade da ideia, qual seja priorizar o Eu como a fonte sem história do pensamento. Dessa
forma, o Eu já nasce “completo”,, passeando qual borboleta por um mundo que nomeia e
categoriza e de onde, portanto, nascem dialétcas menores associadas ao “estar no mundo”,,
esta “tragédia humana”,. Refundam assim de modo quase artístco-literário a velha oposição
entre sujeito e objeto, produzindo diferentes versões não materialistas das relações da “coisa
signifcante”,. A miséria dessas pretensas signifcações só é interessante para quem está com
a barriga cheia e suas propriedades estão asseguradas pela polícia e pelas forças armadas. A
quem esteja de modo efetvo a buscar soluções para os crescentes problemas sociais e
polítcos, pouco interessa semelhante diletantsmo burguês. Todas estas derivações do lado
mau do platonismo não valem o papel em que são escritos, nem o tempo de aula em que
são expostos. A esterilidade do pensamento burguês contemporânneo estmula apenas a
“viver a boa vida”, à custa dos trabalhadores, criando focos e dando centralidade a discussões
inúteis para o progresso material e o desenvolvimento da Consciência Social. Ao produzir
diferentes “psicologias”, e “sociologias”,, na verdade em camadas sucessivas, os ideólogos
fabricadores do idealismo visam prioritariamente espalhar dúvida e confusão, jogando no
atoleiro mental os jovens desavisados e as pessoas menos perspicazes.

Opõem eles sucessivas “antologias”, formais à análise do problema fundamental do


desenvolvimento do ser social e de seu processo de contradições objetvas. Sob verdadeira
tempestade de supostos “achamentos”,, o ideólogo do idealismo “defende”, a “livre escolha”,
deste ou daquele ponto de vista, de uma abordagem “libertária”, do mundo, a escapar da
“escravidão”, da interpretação materialista. Na verdade, com ele você pode fritar o peixe com
farinha de mandioca ou farinha de trigo, pois nada disso mexe com os fundamentos que a
ele preocupam no mundo real. Por outro lado, enquanto você perde o seu tempo nos
duzentos caminhos de liberdade psicológica ou flosófca que o idealista tem para lhe
oferecer, os anos passam, sua juventude se esvai, e você se esquece de colocar todas as
perguntas que realmente importam sobre a sociedade real e seu poder econômico e polítco.
Quando você descobrir, terá cinquenta ou sessenta anos de idade e gastou sua vida a

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pesquisar “abobrinhas”,... É evidente que alguns flósofos e sociólogos idealistas são pessoas
que efetvamente se perderam – de boa-fé – nos descaminhos da vida. No entanto, a esta
altura do desenvolvimento da informação e do conhecimento, grande parte deste
inumerável “exército”, está consttuída de indivíduos mal intencionados, vendedores de peixe
podre de todos os tpos, jornalistas, “flósofos”, e publicistas fracassados, que pagam suas
contas brandindo as armas da mentra, difamação e calúnia. As livrarias e a imprensa nunca
estveram coalhadas de tanta infânmia e falsidade. A menos que o flisteísmo seja uma nova
forma de divisão do trabalho sob o capital, não há como justfcar a multplicação da
vulgaridade idealista como hoje se observa.

Para o ideólogo idealista “bem intencionado”,, um de dois é o caminho possível: (1) o Eu


pensa (por “determinação exterior”, ou não) massas desconexas de materialidade e lhes
atribui um sentdo que só existe no modelo pensado; ou (2) apenas na subjetvidade
humana, em múltplas diferenciações, se compõe uma realidade conhecível. Ou seja, o
mundo não pode ser conhecido de forma ampla pelos seres humanos. Este “pessimismo”,
pelo qual só a “realidade idealizada”, é conhecimento, nega na verdade a possibilidade de o
homem modifcar o mundo de forma positva, ou seja, de acordo com um “projeto humano”,
homogêneo. Fora da dialétca materialista não existe a possibilidade de uma humanidade
heterogênea tornar-se cada vez homogênea no desenvolvimento de sua consciência –
necessariamente social, ou seja, coletva – e chegar, portanto, a um projeto humano, para si
mesma.

É interessante que os idealistas e seu braço religioso não acreditem no ser humano. Como
pontuou Feuerbach, ao colocar fora do homem todas as qualidades positvas, criando com
elas Deus, os idealistas passaram a considerar as qualidades humanas como divinas e se
conformaram em boa extensão a viver no mundo, como bandidos. Ora, a eternidade da
maldade humana é uma mera justfcação para os atos das classes dominantes. Com o fm da
dominação e da exploração, orientados por uma sociedade democrátca e crescentemente
responsável, a tendência é para o recuo do Eu e de suas taras, justfcadas e ampliadas pelas
ideologias idealistas.

A obscuridade do Eu, verdadeiro fortm das lucubrações idealistas, é evidentemente um


produto histórico da pobreza, da dominação, da exploração e da miséria material. As

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distorções e limitações de cada ego individual são produto do atraso e do medo
generalizado. O progresso da ciência, da educação e das organizações progressistas na
sociedade tende gradualmente a lançar para dentro da animalidade “insondável”, do Eu
crescentes luzes.

Assim, nem a subjetvidade pode deixar de lado o mundo exterior para tratar apenas das
idealizações do mesmo, nem deixa de existr aquilo que a mesma não considera nem
compreende. Nem o mundo exterior se reduz a apenas aquilo que é percebido, nem a
capacidade de conhecer do homem está para sempre vedada a conhecer a verdadeira
natureza das coisas. Tampouco a construção do belo e do ideal deve se dar apenas dentro de
nossas cabeças, mas pode ser posta no mundo, deve ser posta no mundo e reformar o
mundo para a humanidade cada vez melhor. O homem é uma totalidade em seu
pensamento e em sua sociedade. Em que pese a aparente disparidade, ele está integrado na
totalidade que é a natureza, formando assim um processo com a mesma que se deve
considerar uma existência única, fadada a um destno comum no cosmos.

O conhecido economista soviétco Eugênio Slutsky (1927) argumentou que processos ao


acaso podem ser uma fonte de processos cíclicos, confrmando assim para o campo
econômico a relação da díade dialétca determinação – indeterminação. Um dos fortes
argumentos dos inimigos da ciência é que a admissão do caráter determinado do
desenvolvimento dos fenômenos é incompatível “com a intervenção de Deus no mundo dos
homens”, e com a “teoria religiosa do livre arbítrio”,. Os materialistas sabem de há muito que
a liberdade do homem é sempre concreta, isto é, ela só pode se dar dentro das condições
materiais de sua existência. Ou seja, a liberdade humana, sendo sempre um fato concreto,
não pode se dar fora dos limites em que está estabelecida. O desenvolvimento da
consciência começa pela necessidade de entender e dominar as condições de existência,
para se propor então examinar-se como potencial de ação libertária. Sabe-se também que no
cosmos apresentam-se como fenômenos ao acaso, fenômenos que no plano terráqueo
veem-se determinados. Ou seja, o movimento da indeterminação para a determinação e
vice-versa efetvamente ocorre, e pode-se cada vez mais conhecer sobre eles.

Em função da infuência religiosa sobre formas do idealismo, inúmeros cientstas


(partcularmente sociais) procuram desenvolver disciplinas que, em nome da liberdade de

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opiniões, negam a possibilidade do conhecimento determinado do movimento fenomênico.
Nesse ponto, fcam a dever aos próprios flósofos do campo idealista objetvo, como por
exemplo, Fichte e Hegel. Estes flósofos, baseados em informação empírica, foram capazes de
intuir importantes relações dialétcas nas estruturas e no movimento de diferentes
fenômenos. As dialétcas das relações do infnito e do fnito tveram com eles ampla
investgação, favorecendo o conhecimento e o estabelecimento da dialétca materialista.

Na verdade, a abordagem dialétca comprova não só a possibilidade de estabelecer a


determinação das relações de dado fenômeno como a possibilidade até de obtê-la a partr
de simples montagem do movimento do fenômeno. As relações da possibilidade e da
probabilidade obedecem a leis dialétcas que podem ser conhecidas e que podem obter
mesmo expressão quanttatva.

Assim, a negação idealista da existência da matéria e de suas leis, caracterizada por uma
suposição passiva ou até não verifcável da mesma, impede uma atvidade de apoio claro à
ciência e até o entendimento de suas conquistas. A attude da maioria dos idealistas em
relação à ciência se caracteriza pelo desprezo efetvo de seu papel, uma apropriação
oportunista e ignorante de seus resultados, que são vistos como “dádivas”, a consumir, e
“consequências”, a desprezar. Essa postura em relação aos frutos da ciência leva a utlizá-los
de modo irresponsável, no contexto de velhas prátcas e velhas ideologias, como a guerra e a
exploração do próximo.

Em oposição a tais formulações voluntaristas, o materialismo dialétco parte de uma


elaboração das categorias da matéria e da consciência, para formular o processo de relação
entre o conhecimento e o fenômeno. Somente a descoberta do lugar da correlação da
matéria com a consciência, pode levar a uma abordagem correta do movimento dos
fenômenos e suas transformações.

O estudo da eletricidade levou, no começo do século XX, à tese idealista do “movimento


sem matéria”,. A matéria, então, teria “desaparecido”,. No entanto, os idealistas não puderam
provar a inexistência da realidade objetva e do mundo exterior, podendo apenas argumentar
o caráter provisório das descobertas científcas. A defnição materialista de “matéria”, não se
reduz à concepção de matéria com que trabalham os fsicos, ou o “elétron”,, “eletricidade”,,
“energia”,, etc. A defnição marxista inclui o lado flosófco do lugar do conhecimento, ou seja,

21
a condição de realidade objetva, que pré-existe ao pensamento pós-humano e pós-existrá
ao mesmo. Esse sentdo de “tempo”, do “movimento”, e de “existência”, como condição do
“tempo”, inscreve as formas de manifestação material na matéria como generalidade e não
se esgota na possibilidade temporal com que se manifesta cada forma de existência da
mesma (aliás, “mesma”, em movimento e alteração...) A matéria nada mais é que o
movimento da formação e da destruição de si mesma sob diferentes formas de superação e
criação negatvada de uma outra forma, que conserva sua essência... A matéria não é como
pensou Klotz (1959), simplesmente energia... A matéria não se reduz às suas diversas
propriedades, manifestações e relações. Ela corresponde a uma totalidade, a um sistema de
evidenciações, que se põe para lá de suas eventuais partcularidades, perceptíveis ou não.
Ela é a infnitude das transformações de si mesma, passando-se substancialmente, pois, fora
da consciência humana. Compreende em sua existência concreta, diferentes formações, cuja
existência vê-se temporalmente determinada. Do ponto de vista de um sistema, nós também
nos consttuímos uma “formação material”, que não cabe na defnição de “matéria”,, pois em
“nosso caso”, não somos objeto de existência que abranja o “universo como um todo”,...

Quando o ser social que se consttui a humanidade se estabeleceu, a princípio ao acaso e


em número reduzido, provavelmente estabelecida a partr de uma única “família”,, a sua
linguagem bastante precária representava os elementos de uma consciência pouco
desenvolvida. Certamente no período de 200 mil a.C a 25 mil a.C. tal humanidade logrou
expandir-se e sobreviver até umas dezenas ou centenas de milhares, como parecem indicar
os restos arqueológicos até aqui indicados. Este coletvo existente progrediu de forma
extraordinária nas duas etapas então sucedentes, de 25 mil a 15 mil, e deste a 5 mil a.C.
Deram-se aqui transformações em que a forma biológica antes hegemônica tornou-se a
sobrevivente, aquela responsável pela criação da humanidade historicamente conhecida, e
de que fazemos parte. Ou seja, a humanidade existente elevou a si própria através de
patamares sucessivos de relação com o ambiente, logrando adaptá-lo de modo cada vez
mais favorável, até a consttuição dos primeiros Estados conhecidos, havendo desembocado
em uma sociedade de classes. As ligações neurodinânmicas do cérebro do homo sapiens
haviam propiciado nesta longa jornada de cerca de 200 mil anos criar a espécie humana tal
como se a conhece hoje, um animal histórico, dotado de consciência social, capaz de
expressá-la em uma linguagem complexa. O psiquismo do homem é uma forma material

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complexa, produto da energia química processada no artefato sofstcado de seu corpo. São
formas historicamente estabelecidas em relação ao mundo ambiente e em nada desprezíveis
para receber de fora, pronto, as ideações que pode originar.

3 – A Concepção Materialista da História.

Já foi amplamente comprovada a capacidade das formas materiais de emitrem refexos


como ações determinadas a alterações do meio onde atuam. Com as formas percebidas
vivas das formações materiais não totais no mundo circundante passa-se, obviamente, “o
mesmo”,, no entanto, diferente. A consciência manifesta-se, no mundo animal, no cérebro,
órgão altamente organizado, sendo, pois um fenômeno material, uma forma elevada de
organização da matéria. Dão-se os refexos, as imagens captadas direta e indiretamente do
mundo exterior, da realidade objetva. A consciência individual caracteriza assim uma forma
partcular, superiormente nova do refexo do mundo exterior, capaz de orientar o homem
como ser social na realidade circundante. Ao atuar de forma criatva no meio, o homem
expressa sua consciência social.

Tal manifestação consciente se acumula sob a forma de conhecimento, e com ele a


sociedade humana assegura um relatvo controle do meio, o desenvolvimento da produção e
da distribuição da riqueza criada. Desta forma, a atvidade produtva do homem desenvolve a
razão e a intuição; qualifca o pensamento abstrato e estabelece a prátca social como
critério da verdade. Por este caminho, as experiências vividas em sociedade, com sua
fnitude no tempo, começam a organizar em categorias as formas do refexo universal, graus
de um conhecimento que se eleva de formas inferiores a formas superiores. Como explicam
Marx e Engels na “Ideologia Alemã”, (pp 59) o homem eleva-se desde o animal que não se vê
relações nas relações, até a tomada de consciência de sua existência.

A percepção de si, como separado da natureza, expressa a intervenção consciente na


realidade exterior, e pelo trabalho chega à percepção do tempo, da modifcação e do caráter
concreto do movimento. Descobriram assim pelo processo do trabalho o partcular, com
fenômenos, objetos e processos partculares; percebe a diferença, chegando à especialização
de tarefas e ao singular. Este movimento para a produção do conhecimento de forma

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organizada, deliberadamente acumulatva, expressa a correlação entre os elementos
adquiridos na vida quotdiana, a elaboração de conceitos e a passagem da experiência
acumulada de geração a geração.

Do ponto de vista materialista, a ciência permitu criar o método do materialismo histórico.


É com esse método que os partdários do materialismo dialétco estudam a sociedade
humana e suas transformações. Estuda, portanto, a sociedade e as leis de seu
desenvolvimento. Para o materialismo histórico, tais leis ou regularidades que expressam o
movimento social têm caráter objetvo, isto é, não dependem de as pessoas perceberem ou
não como elas funcionam.

A percepção da objetvidade de certas coisas na natureza e na sociedade separa os


materialistas dos idealistas. Um materialista estuda a realidade para perceber a sua
movimentação objetva e colocar-se a favor de tal movimentação para acelerar-lhe o
desfecho. Um idealista atribui ao desempenho objetvo do mundo um papel fugaz ou
desprezível. Um idealista, diante dele, apela pela fé para uma entdade exterior, para que
interceda; ou crê que pela sua simples vontade, aplicada em qualquer direção, o movimento
da realidade será sustado e o seu desejo será a ele imposto. Semelhantes reações do
idealista indicam partcularmente a prisão de sua mente numa fase infantl de
desenvolvimento. Os ensinamentos do materialismo histórico lutam contra tal subjetvismo
extremo. Ao buscar estar totalmente “livre”, de imposições objetvas, o idealista termina por
inviabilizar sua partcipação criatva melhor, perdendo-se no subjetvismo.

As leis objetvas que regem os processos são independentes da consciência do homem. Elas
funcionam da mesma forma que as leis de desenvolvimento da natureza. A objetvidade de
tais leis não signifca, contudo, que elas não possam ser conhecidas. O homem pode e deve
conhecê-las, para poder se adaptar e lograr utlizá-las em sua ação prátca. Há, é claro, uma
diferença entre as leis naturais e as leis sociais. As leis naturais expressam movimentos no
campo geral da determinação – indeterminação, apresentando-se para a sociedade como
forças cegas. Já as leis da sociedade humana expressam os fns que os distntos grupos e
classes sociais se colocam para si mesmos na sociedade, apresentando-se, é claro, para cada
grupo ou classe como um “projeto racional”,, que entra em choque com interesses opostos,
dando-se daí o movimento objetvo da sociedade. A luta pelos objetvos distntos de

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diferentes agrupações humanas se expressa, a partr de certo grau da divisão do trabalho,
como luta de classes. Observando este fato, Marx declarou que “o limite da exploração
capitalista é o grau de organização polítca dos trabalhadores”,. Marx deixa aí claro os fns
determinados por diferentes forças sociais, e o resultante processo de luta, cujo desfecho é
imprevisível.

Na marcha da sociedade, o homem criou inúmeras disciplinas para o estudo e a


compreensão da vida social. No entanto, o materialismo histórico é necessário de se aplicar
em todas elas, porque o seu aporte enquanto método lhes fornece um embasamento
materialista e objetvo que lhes permite afastarem-se do mofo e das armadilhas da velha
teoria do conhecimento. A primeira dessas armadilhas é que tais disciplinas não veem o
desenvolvimento da sociedade como um processo, como um conjunto. O materialismo
histórico, ao buscar expressar as leis mais gerais do desenvolvimento social, contribui para
orientar a pesquisa e o entendimento em todas as perguntas dirigidas ao fenômeno social.
Pode informar às demais disciplinas sobre correlações como a existência e a consciência
social, a produção material na vida e nas ideias do homem, etc.

O conhecimento da origem e do papel das ideias sociais e das insttuições que lhes
correspondem é muito importante. O materialismo histórico permite compreender o papel e
o lugar de distntas classes e camadas sociais em cada sociedade. O estudo de cada povo e
de suas sociedades é importante para compreender o caráter socioeconômico e sócio-
polítco do mundo em que vivemos. A razão não pode se desenvolver deixando-se de lado o
conhecimento dos fatos da realidade e agarrando-se apenas às idealizações dos mesmos.
Que papel representa para si e para os demais cada povo? Que papel em separado tem
representado suas personalidades históricas? O estudo objetvo do homem pelo próprio
homem torna o mundo mais racional e, portanto, mais humano. De que maneira surgem as
classes em dada sociedade? Como se dá a luta entre elas? Como se formou e para quê serve
o Estado? Como se dão as revoluções sociais? Que representam no processo histórico? Em
suma, o materialismo histórico busca fornecer um roteiro, um método em aberto para o
estudo da vida em sociedade, sem se agarrar a velhas e surradas distorções. Esta busca da
compreensão é um esforço louvável em cada intelectual e em cada trabalhador, razão
porque conhecer e estudar o materialismo histórico faz-se uma fonte de melhor
entendimento dos mais obscuros fatos sociais.

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O materialismo histórico é um produto da generalização de fatos da prátca histórico-social
e expressa o avanço gradual da ciência. Por isso pode servir de base metodológica para as
ciências da sociedade. O papel do povo, das massas populares, o papel das insttuições e as
lutas para transformá-las, etc., tem sido objeto de refexão de inúmeros estudiosos ao longo
dos séculos. O materialismo histórico como método condensa a direção correta de tais
ensinamentos acumulados, estuda a transformação da realidade sobre a base da
caracterização das leis do desenvolvimento social. Deste modo, suas categorias são úteis
como ponto de partda de cada estudo e economizam, não raro, enormes esforços para a
problematzação do tema em estudo e a busca efetva de sua explicação. A compreensão das
condições materiais de existência permite entender a correlação entre necessidade e
liberdade, desde um sentdo abrangente.

A base do desenvolvimento social é a produção de riqueza. A sociedade humana se organiza


de tal modo que as pessoas possam repartr entre si as tarefas, de modo a obter o máximo
de resultado com o menor esforço possível. Desde os tempos da economia de recoleção, o
homem buscou modos de assim proceder. Desta forma, a sociedade foi se diferençando da
natureza e criando um equipamento social crescente: ferramentas, cabanas, vias,
domestcação de animais... Ou seja, tudo que era possível melhorar, tpifcar ou incluir como
bem, acumulados, daí riqueza para o grupo e para os indivíduos dele componentes. O
acúmulo desses recursos e meios obedece a leis que geram, de produção material.

Pouco a pouco, pode-se falar dos dois aspectos de semelhante produção: (a) as forças
produtvas e (b) as relações de produção. Por “forças produtvas”, compreendem-se os
trabalhadores, as ferramentas que eles criam para humanizar a natureza, os animais que
eventualmente utlizam no trabalho e outras formas de energia.

Por “relações de produção”, entendem-se as conexões de trabalho e as relações sociais


necessárias para aplicar seu trabalho em a natureza, gerando produtos ou mercadorias. Os
elementos que compõem as “relações de produção”, são vários: (1) substancialmente,
experiência organizada sob a forma de procedimentos que obtém a melhor efciência; (2)
maneiras de passar as rotnas para os trabalhadores iniciantes ou menos experientes; (3)
capatazia estruturada que escolhe os procedimentos e distribui as tarefas; e (4) o sistema
insttucional que regula “as forças produtvas”,, a apropriação e distribuição dos produtos.

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Portanto, as relações econômicas de classes, grupos sociais, etc., são o aspecto principal das
relações de produção.

As “forças produtvas”, expressam as relações entre as pessoas e a natureza, ou seja, o


aspecto principal da produção social. As pessoas utlizam a experiência acumulada do grupo
ou da sociedade para transformar os recursos disponíveis em produtos ou bens. Isso no
começo pode ser feito sem grandes complicações, mas quanto maior o grupo, maior tem que
ser a produção e, consequentemente, com a crescente divisão social do trabalho, maior tem
que ser o processo normatvo. Ou seja, devem crescer também as “relações de produção”,.
Não é possível aplicar o trabalho humano de modo sistemátco para modifcar a natureza
sem criar relações sociais de trabalho. As primeiras comunidades humanas operavam com
todos fazendo tudo, mas a produção e a produtvidade aumentavam com o desenvolvimento
da divisão natural do trabalho. Tal divisão obedeceu à observação de elementos biológicos
da necessidade do trabalho: homens de um lado; mulheres, idosos e crianças do outro. Após
a divisão natural do trabalho, surgiram as divisões sociais do trabalho. A primeira, a segunda,
a terceira...

Quais são os elementos componentes das relações de produção? As relações que as


pessoas estabelecem com os meios de produção é o fator determinante. Segue-se a relação
entre diferentes grupos e classes sociais no processo de produção. Nas condições da
sociedade de classes, a oposição entre o trabalho urbano e rural gera a contradição entre o
campo e a cidade. Este já é um momento mais recente da contradição que se consttui entre
o trabalho fsico e o trabalho mental. As relações mútuas de todos os trabalhadores em
todos os círculos de produção, apesar de separados pelas necessidades da divisão do
trabalho também é elemento importante das relações de produção. As relações dentro de
cada classe, dentro de cada grupo, etc., no processo de trabalho, faz parte das relações de
produção. Partcularmente na sociedade capitalista estas relações dentro das classes e
grupos são muito importantes.

Dessa forma, pode-se compreender que quanto mais complexa a sociedade, quanto mais
avançada a divisão social do trabalho, maior a separação entre aqueles elementos sociais
que compõem as “forças produtvas”, e aquelas que compõem as “relações de produção”,. Do
ponto de vista da observação, a tendência das forças produtvas para se expandirem e

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aumentar cada vez a produção tende igualmente a ser contda ou bloqueada pelas “relações
de produção”,, que tem óbvios interesses na produção e ainda mais visíveis interesses na
distribuição dos produtos ou mercadorias. Quem controla a distribuição controla o destno
da riqueza criada e numa sociedade baseada em compra-e-venda controla também o lucro e
o fuxo de dinheiro.

Tem-se assim, que as pessoas de uma sociedade, do ponto de vista das condições naturais
de existência, partcipam sempre das “forças produtvas”, ou das “relações de produção”,, por
inclusão na parte, no todo, ou até por exclusão das mesmas. Uma pessoa incapacitada para
o trabalho também ali ver-se-á incluída, ainda que, - insistmos – por exclusão. Ninguém faz
parte de uma sociedade humana sem ver-se classifcado do ponto de vista do trabalho,
distribuído que se vê numa hierarquia social e polítca que o valoriza e desvaloriza, “justa ou
injustamente”,, não importa.

É a partr dessa situação de efetvo enquadramento social que uma pessoa pode exercer sua
liberdade. Ainda que alguns indivíduos possam “escapar”, dessa determinação, nunca o fará
um amplo grupo ou classe social. É a partr de tais “limitações”, ou “fator de
independentzação”,, como se prefra entender, que uma pessoa poderá elaborar sua “visão
de mundo”, e sua obra partcipatva na sociedade.

Do ponto de vista da experiência histórica, as “forças produtvas”, e as “relações de


produção”, se artculam numa série de sistemas que atuam como subsistemas de um modo
de produção partcular. Assim, o modo de produção é um artculado resultante de formas de
produção partculares, cuja estrutura representa, engendra e manifesta uma oposição
fundamental de classes no processo, em certa duração. Muitas pessoas não compreendem
que as artculações de um sistema de produção se dão involuntariamente das lucubrações
dos analistas. Não é algo que se passe na cabeça de um teórico. Trata-se antes, de
“descobrir”, o que se passa de fato na história, porque tais artculações correspondem a
necessidades concretas das forças sociais que atuam. Marx e Engels, portanto, têm o mérito
de seguir as pistas analítcas deixadas por Rousseau, Diderot, Goethe, Saint-Simon, e outros,
formulando então corretamente a categoria de “modo de produção”,.

A unidade da produção e do consumo soldam as “forças produtvas”, e as “relações de


produção”,, de modo que resultam os modos de produção historicamente caracterizáveis.

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Pode-se, evidente, caracterizar diferentes “maneiras de produzir e distribuir”, as riquezas. No
entanto, no nível da generalidade, estas maneiras, estes sistemas, podem se congregar em
algumas poucas grandes estruturas observáveis. Assim, têm-se cinco ou seis “modos de
produção”, típicos na história, resultando de uma série de combinações que podem resultar
num ou noutro. Não é, para o materialismo histórico, a mesma coisa “o modo de produção”,
e a “formação econômico-social”,, porque a formação econômico-social é uma estrutura mais
ampla. Ela é a estrutura socioeconômica da sociedade tal como pode ser observada,
compreendendo um ou mais modos de produção, sistemas e formas de produção
“pregressas”, ou “futuras”,, etc., num arranjo que resulta da objetvidade histórica. Há na
formação econômica-social “classes pretéritas”, e restos de grupos e classes, mas há também
a oposição fundamental de classes de modo de produção nela principal, que tende a
determinar para onde vai marchar a formação como um todo. Pelo menos dentro de uma
oportunidade potencial. (Uma sociedade pode sofrer estagnação, colapso, etc.)

O modo de produção designa, portanto, a maneira principal como está organizado e se


desenvolve o processo de produção das condições materiais de existência de um grupo
concreto da sociedade (uma sociedade dada). Já se falou rapidamente sobre o processo de
produzir condições materiais de existência.

No processo de trabalhar, o homem modifca a natureza e a si próprio. Marx apontou que a


organização do processo de distribuição é determinada pela organização do processo de
distribuição. Não se pode produzir como operário e receber parte da riqueza distribuída
como um burguês. As relações de troca e distribuição dos produtos dos que trabalham
atuam como fator determinante do modo de circulação. A partr de um certo ponto do
desenvolvimento histórico, capital de um lado e trabalho assalariado de um outro, passaram
a representar os dois fatores opostos de uma mesma relação, de forma que uma dessas
formas não pode subsistr sem a outra. Consequentemente, são expressões de duas classes
sociais, uma de exploradores e outra de explorados. O processo, contudo, de consciência
enquanto tal não deriva daí automátco ou igual. Elevar a própria experiência até o nível de
consciência percorre um longo caminho. Muitos exploradores não têm consciência que o
são, nem muitos trabalhadores, de outra forma, têm consciência de que são explorados. A
percepção do mundo real, ainda que o mundo social é produto de refexão, debate, estudo e
acúmulo de saber durante a vida.

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Os meios de produção monopolizados por uma parcela determinada da sociedade
consttuem o capital. Muitos capitalistas pensam que sua posição resulta apenas de sua
iniciatva, de sua “capacidade de trabalho”,, de seu “talento para liderar pessoas”, e outras
bobagens. Eles não percebem e nem compreendem que sua riqueza que se acumula é o
trabalho sucessivo e não pago de seus subordinados. Na verdade, ele paga apenas uma
fração do trabalho acrescentado sob a forma de salário, não pagando a outra parte, que gera
lucro e da qual todo patrão se apropria. Se o trabalho pago – salário - fosse igual ao valor do
produto produzido, não haveria razão para o capitalista contratar força de trabalho. Ou seja,
a forma social da produção tem por seu próprio conteúdo as relações sociais de produção.
Assim, um dado modo material de produção não existe em processo de isolamento. Opera
ele num enquadramento sócio-material e tem por base uma forma social de organização do
processo produtvo. Como todas as sociedades de classe foram sociedades baseadas na
propriedade privada, na subordinação do trabalho e no roubo do resultado do trabalho
(roubo social, é claro), a efetva subordinação do processo de trabalho ao capital, não
necessita modifcar em nada, quando se estabelece, o modo de produção real. Isto
aparentemente torna difcil a muitos estudiosos compreender as diferenças efetvas de uma
forma de produção a outra, ou de um modo de produção a outro. No caso do modo de
produção capitalista, o trabalhador passa a estar sob a direção, as ordens e a capatazia do
capitalista no seu processo de trabalho, que agora foi apropriado pelo capital. O capital, ao
subordinar o trabalho naquelas condições técnicas, se apropria também das formas de
trabalho enquanto elaboração teórica, abstrata, e quando necessário irá aprisioná-las na
forma de suas máquinas, para introduzir (e criar) o seu próprio tempo de trabalho e
intensifcar a exploração do assalariado.

4 – Base Econômica e Superestrutura.

O modo de produção da vida material, portanto, a forma como se desenvolve a população,


as forças produtvas, as relações de produção, o ambiente geográfco em que dada sociedade
se dá, fazem parte da base econômica. A base econômica é assim a generalidade, o
ambiente, em que os indivíduos sociais podem exercer suas faculdades, partcularmente
criar os elementos que não estão diretamente determinados por sua vida econômica. Desta

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forma, se uma parte da cultura criada pelos homens para desenvolver sua sociedade está na
base, outra parte se encontrará na superestrutura. Ela é o todo social vivo criado a partr da
base, partcularmente as insttuições que não estão diretamente vinculadas à reprodução
econômica. A superestrutura não é um simples amontoado de coisas criadas à revelia das
necessidades naturais da sociedade dada. Ela expressa um sentdo histórico, ela refete um
eixo diretor que decorre da apropriação das condições materiais de existência por membros
de todos os grupos e classes da sociedade.

À medida que a sociedade se torna mais habilitada a operar sua base econômica, ela
constrói insttuições reguladoras ou outras, que expressam seus projetos possíveis naquelas
condições materiais. Outras insttuições herdadas também de situações de desenvolvimento
anterior – até produtos de outras bases – são “reformadas”, para consttuir aglutnadores ou
expressadores das ideologias atuantes na vida social.

Do ponto de vista do materialismo histórico, a consciência social é um processo que se dá


ao longo da história, tornando-se cada vez mais complexo. Suas partes componentes não
surgiram, pois, todas de uma só vez, mas “saíram umas de dentro das outras”,, expressando a
crescente complexifcação da vida social. As suas três partes componentes compreendem: a
psicologia social, a ideologia social e a ideologia polítca.

Ao começo do desenvolvimento do ser social, a psicologia social compreendia também o


“pouco”, que havia de ideologia social e de ideologia polítca. A psicologia social é assim a
etapa primeira da manifestação da consciência coletva. Nos primeiros coletvos, na vida das
aldeias e pequenas vilas, etc., as camadas sociais não compreendiam a si mesmas como
diferenciadas. Escassamente até havia a percepção da individualidade, ou de direitos
diferenciados para os indivíduos. Por exemplo, o exame cuidadoso dos textos dos atenienses
do século V ou IV a.C., indicam que não concebiam os indivíduos como portadores de uma
“persona”, fora do grupo, ou com direito a existr fora das determinações do coletvo. Isso
implica dizer que a psicologia social daquela comunidade – ou outra naquele estádio de
desenvolvimento – era homogênea. As respostas que dava e as perguntas sociais que
colocava correspondiam à verdade do grupo comunitário, ou para todo o grupo. Com uma
estrutura pensamental tão “simples”,, todas as verdades sociais, bastante idêntcas para
todos de todas as camadas, estavam estabelecidas pelos códigos criados e não eram

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“desafadas”, socialmente como errôneas: o erro era sempre do indivíduo que não seguisse a
regra do coletvo, consagrada insttucionalmente.

No entanto, o desenvolvimento da base econômica, a ampliação contnuada da experiência


social, o aprofundamento do confito interno, etc., levou à percepção a um outro patamar de
consciência, em que se formou cada ideologia polítca como diferente da psicologia social.
Esta “ideologia polítca”, nada mais era que um “programa”,, uma nova concepção de dada
camada grupo ou classe, que se via em constante perigo diante da unanimidade dos
conceitos e do modo de ver a psicologia social, dela se distnguindo e cada vez mais a ela se
opondo, até a consttuir-se uma fase ou etapa necessária de contradição - e superação
dentro da consciência social.

No entanto, indica a observação histórica que muitos grupos portadores dessa nova
“ideologia polítca”, lograram se instalar no poder social e polítco e não raro gerar novos
grupos historicamente dominantes ou novas classes dominantes. A sua permanência no
poder será, pois, utlizada no tempo para a consolidação de tal “programa”, de partda, e para
difundir para toda aquela sociedade uma leitura nova, homogênea – ou quase – da
realidade, segundo seus ditames. Assim a consolidação de semelhante ideologia polítca, no
curso de gerações, tenderá a transformá-la numa “ideologia social”,, ou seja, um sistema
integral de crenças, comportamentos e leituras da realidade cuja percepção de parcialidade
torne-se oculta. A parte – ideologia polítca de um grupo dominante – é disfarçada de um
todo, qual seja, a ideologia social de toda comunidade. Pela “estrutura superestrutural”,, esta
parte da consciência social “torna-se”, o todo (aparente apenas) da consciência social. Dito
de outra forma consttui-se agora uma etapa de ideologia social, diferente da psicologia
social e diferente de outra(s) ideologia(s) polítca(s) que venha(m) eventualmente a aparecer.

Esta viagem do “simples”, ao “complexo”, transforma assim, no processo histórico de


desenvolvimento de consciência social, um processo simples num processo complicado. São
agora suas etapas ou fases: (1) a psicologia social; (2) a ideologia social; (3) a ideologia
polítca. Através desse processo complexifcado do mundo material na consciência das
pessoas, estabelece-se a consciência social de cada sociedade de classe.

(1) A Psicologia Social. – Esta que na origem se consttuía toda a consciência social possível,
viu formarem-se suas diferenciações, para se consttuírem veres discrepantes e aglutnadores

32
de outros níveis de compreensão e de linguagem. Assim, como “verdade explicatva”, a
psicologia social se “encolheu”, e passou a refetr socialmente de modo exclusivo a
experiência homogênea de um grupo ou – o mais comum – de uma classe. Há uma
“psicologia operária”,, uma “psicologia camponesa”,, uma “psicologia burguesa”,, etc. Cada
qual está consttuída por “verdades absolutas”, para a classe a que pertencem e consttui um
fundo comum de classe de construção pensamental, linguístca e cultural. Por exemplo, o
burguês está convencido, em sua psicologia que o “operário é um indolente e sem disciplina,
o que explica sua pobreza.”,

Este tpo de valoração é próprio da classe burguesa e com ele (e muitos outros) axiomátco,
constrói a burguesia toda uma visão de mundo: relações de trabalho, ordens repressivas,
literatura, peças de teatro, etc. O jornal burguês é um enorme depósito das crenças da
burguesia sobre as outras classes. A incapacidade da burguesia para perceber o erro e o viés
de semelhantes “explicações”, (valores) a leva a apresentá-los como uma leitura correta das
outras forças em presença na sociedade e na vida polítca. Quanto a um operário, ele está
frmemente convencido de que os trabalhadores são atvos e sacrifcados. Isto faz parte de
sua psicologia social, mas não tem força social para convencer outras classes. Por esta razão,
cada psicologia social é – em geral – homogênea e se consttui um fundo de existência
mental e moral de cada classe.

(2) Ideologia Social – A ideologia social como etapa de desenvolvimento da consciência é


uma ideologia polítca que se tornou socialmente dominante, pelo exercício contnuado do
poder. Ao longo do processo histórico, ela pode compreender restos artculados e tornados
coerentes (mas não homogêneos...) de diferentes superestruturas de dominação, diferentes
Estados, extntos e “novos”, etc. O nazismo, por exemplo, “lia”, o mundo desde pedaços
assimilados e reartculados de crenças medievais, liberais, revolucionárias,
contrarrevolucionárias, etc.

Ele se apresentava como uma visão eclétca e confusa para justfcar “um destno alemão”,,
sempre se valendo do monopólio de opiniões derivadas do poder repressivo do Estado,
pedaços idealistas de ideologias sociais anteriores, etc. As crenças de uma dominação,
repetdas por dezenas (ou centenas) de anos, assumem o caráter de verdade social e
“explicam”, relações sociais sem envolver (aparentemente) interesses materiais. Por

33
exemplo, é uma verdade social (e uma força material na sociedade) que Nossa Senhora
apareceu em Fátma ou em Londres; e que Maomé, ou Jesus, subiram aos céus. Todo o lixo
das ideologias polítcas que “fca”, de uma ideologia para outra, e é aceito pela sociedade
como “conceito bom”, e “explicatvo”,, faz parte da ideologia social. Por exemplo, as pessoas
da sociedade burguesa realmente acreditam que o Parlamento representa os interesses da
sociedade (...). Assim, a ideologia social é o caldo da dominação que permite à maioria,
consttuída de classes diferentes, ser manipulada pela minoria organizada da classe
dominante, que efetvamente exerce o poder. A ingenuidade e superfcialidade das pessoas
comuns chegam a tal ponto que elas acreditam que o Estado burguês arrecada impostos e
taxas para servir à maioria da população...

(3) Ideologia Polítca - A ideologia polítca é a etapa em que o núcleo da classe dominante
(pode ser mais de uma) exerce hegemonicamente o poder, através de insttuições renovadas
e monopolizadas, que se sustentam em discursos, programas e linguagens: que
“interpretam”, mistfcadoramente as necessidades e os interesses da maioria. Graças à
ideologia social, a ideologia polítca pode ser uma etapa apresentada de forma racional,
atraente e simular que se encontra a serviço de todos. Na verdade, trata-se de mais uma
máquina polítca inventada para: (a) saquear as riquezas do território e os frutos do trabalho
do pobre; (b) apresentar o programa dos ricos como se fosse o programa dos pobres; (c)
perpetuar a exploração.

Nas condições da sociedade capitalista, a etapa da ideologia polítca não pode oferecer o
monopólio da percepção à classe capitalista, em virtude de haver a classe operária muito
cedo, desenvolvido sua própria ideologia polítca e se consttuir, portanto, também ela em
fator de luta pelo poder polítco. A existência de um partdo do proletariado e o processo de
construção da aliança operário-camponesa em escala mundial torna a dominação burguesa,
através da ideologia polítca, um fenômeno contestado. Daí o “jogo sujo”,, a brutalidade do
aparato repressivo da burguesia, montado quase exclusivamente à base de mentras,
calúnias e falsifcações, para apresentar os comunistas e os membros de outras forças
democrátcas não burguesas como meros bandidos e “inimigos da pátria”,. A burguesia não
pode permitr-se o risco de perder o poder, então, “vale tudo”,...

34
Também em virtude da crescente intelectualização das relações sociais, é difcil para o
grupo dominante de a burguesia impor-se a toda a classe burguesa – ou aos restos do poder
do latfúndio – como uma liderança única e inconteste. Quase em todos os países
capitalistas, a burguesia vê-se obrigada a tolerar um grande número de partdos polítcos, a
tolerar a partção do poder, etc. Na burguesia, só há unanimidade para reprimir operários e
pobres. Tudo o mais entra em questonamento e ela procura apresentar esta confusão como
“democracia”,, desde que expresse seus interesses de classe. A duplicidade da etapa da
ideologia polítca requer, para materializar-se, a duplicidade de instrumentos: (a) uma
“estrutura jurídica”,, onde se cristalizam os procedimentos e fltros do exercício do poder – no
caso burguês – da sociedade; e uma (b) “estrutura de ideologia polítca”,, onde se pratcam as
variações dos graus de dominação, as chicanas de classe, os acordos; é aqui que se teoriza e
se pratca a dominação atual, efetva e do dia a dia. É preciso entender que as máquinas de
poder, as insttuições, os aparatos (delegacia de polícia, tribunais, quartéis, igrejas, etc.) não
estão “dentro”, da consciência social, mas se consttuem o cenário básico de sua intervenção.
São seus veículos, instrumentos, estão ali para servi-la, tornando “isto”, “sagrado”, e “aquilo”,
“impuro”,. Neste patamar da relação contraditória entre a estrutura da ideologia polítca, as
demais subestruturas da consciência social, e do próprio aparato da ideologia polítca,
enquanto etapa ou fase se situa a produção de cultura, ou seja, a orientação criadora de
parte da ação do grupo societário para este ou aquele objetvo parcial. O ato de criação
cultural efetva assim a unidade entre a base e a superestrutura.

Em sociedades mais complexas, a duplifcação das subestruturas das psicologias sociais


torna o confito, ou expressa o confito, num nível já generalizado, tornando-se a luta pelo
controle da linguagem e da opinião pública uma situação aberta. Têm-se nesse caso
avançado de cultura pré-revolucionária, discursos apartados, sistemátcos e intransigentes na
vida social e polítca, com choques latentes e periódicos.

Certamente o principal aparato da superestrutura a garantr a permanência da classe


dominante é o Estado. No Estado são deixadas de lado as matreirices, os joguinhos da
dominação ideológica e impulsionados os instrumentos de coerção, com a imposição, no
grau necessário, das necessidades da dominação expressas sob a forma de lei ou
regulamento. Marx já havia chamado à atenção que os burgueses têm direitos que não
precisam ser autorizados. Mas tudo o que se refra ao trabalhador precisa ser

35
regulamentado. O Estado burguês chega a negar a competência aos trabalhadores... para
trabalhar! Para exercer atvidades é preciso pagar licenças, obter autorizações que são
temporárias, etc. Dessa forma, o Estado transformou o exercício de profssões, onde o
trabalhador vai ser “apenas”, explorado, para garantr sua subsistência, numa fonte de rendas
para o Estado burguês oprimir... o trabalhador.

O Estado como aparato falsifca constantemente as regras do jogo em desfavor dos pobres e
oprimidos e em favor dos ricos e opressores. Por mais que trabalhe ano após ano, os direitos
do trabalhador são sempre, por “necessidade patriótca”,, alterados em seu desfavor. Suas
organizações, o impacto de seu voto polítco, etc., são eliminados por manobras
parlamentares, golpes-de-Estado, etc. É como o caso do cachorro correndo atrás da salsicha:
a meta se afasta o tempo todo, pela desonestdade da aplicação das regras. O Estado
capitalista pratca, com a elaboração das leis por um parlamento que representa as classes
dominantes, a “tátca de soterramento”, contra os trabalhadores e os pobres. Esta tátca
consiste em produzir tal quantdade de leis, regulamentos, papéis, etc., uns modifcando os
outros, todos voltados contra os direitos da maioria trabalhadora. Se um trabalhador se
sentar e for ler a “matéria legislada”,, gastará por certo a metade de sua vida nesta tarefa.
Graças a esta enxurrada “democrátca”, de leis, um trabalhador perde seus direitos, seu
entendimento da situação e só pode tratar de se defender se tver rendimentos sufcientes
para pagar um advogado. Lênine classifcava este procedimento de classe dominante como
“cretnismo parlamentar”,, com um emaranhado de regras que violam o senso comum e os
direitos adquiridos pela maioria. Seu sistema de legislação aumenta a riqueza dos ricos e a
pobreza dos pobres. Se estes protestam, enviam então a polícia e atrás da polícia o exército
burguês.

O Estado é assim, uma máquina efciente e corrupta a serviço da dominação. Sua tátca é a
repressão e a sua estratégia é o engodo, o engano. Promessas mirabolantes, no meio da
repressão e criminalização constante. A serviço da manutenção das relações de produção, o
Estado não recua diante de nada, para assegurar a manutenção do status quo. O maior erro
que um grupo de trabalhador pode cometer é fazer-se ilusões sobre a natureza do Estado
burguês e da dominação burguesa.

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Na verdade, o Estado nada poderia fazer se a massa da população não acreditasse em sua
neutralidade e não o apoiasse. As ideias reacionárias que mantém o Estado burguês, elas
estão também impregnadas na grande massa da população, que aceita ou acredita nos atos
criminosos do Estado burguês como necessários ou desejáveis para a “manutenção da
ordem”,. As classes dominantes mantém a população nas trevas da ignorânncia, sem escolas,
sem saúde pública, etc., para facilitar o seu ideário repressivo e de liberalismo falsifcado. Até
mesmo as poucas liberdades burguesas que são dadas para o conjunto da burguesia e certas
camadas da pequena burguesia não podem ser estendidas à massa do povo, tratada como
verdadeiro rebanho de animais.

Nessas condições locais não muito favoráveis, é preciso esclarecer à grande massa do povo
sobre os seus direitos e sobre a terrível dualidade social. Nessas condições, a luta
democrátca se esforça até mesmo para difundir a luta pelas liberdades democrátcas, para
assegurar a vida polítca das massas e sua gradual conscientzação partcipatva. E o Estado?

Nas condições brasileiras, a força atva dele consiste em apresentar-se como uma estrutura
neutra, capaz de vigiar o comportamento das diferentes classes e negociar – como Estado –
uma solução pacífca entre pobres e ricos. Nós sabemos que o mesmo não pode cumprir tal
papel. No entanto, não se deve negar o aspecto positvo dos polítcos burgueses que
representam o lado nacional da burguesia e que procuram soluções polítcas favoráveis à
industrialização do país. Devemos apoiar as medidas positvas propostas por tal setor da
burguesia. Devemos aproveitar essa oportunidade para esclarecimento polítco das massas
populares que apoiam semelhante proposta nacional, embora o conteúdo da mesma seja
burguês.

Essas amplas massas populares que estão mais à esquerda, e querem uma solução nacional
para a industrialização e o desenvolvimento do país são mais politzadas e podem ser
mobilizadas para a luta polítca, por um desenvolvimento nacional independente e
democrátco. Apoiar a ampliação das liberdades democrátcas é essencial para reforçar os
elementos mais democrátcos dentro do Estado e deprimir-lhe as forças mais antpovo e mais
repressivas. Não se pode ter a ilusão de um avanço amplo da luta democrátca sem se ganhar
para a causa democrátca o apoio de milhões e milhões de brasileiros que hoje apoiam –
iludidos – a proposta golpista das forças reacionárias. A sociedade brasileira apresenta

37
atualmente uma forte divisão polítca, que atnge pela primeira vez em muitos anos a base
social da dominação. Esta divisão se dá também dentro do Estado e o “cretnismo
parlamentar”, também está em crise.

5 – Conclusões.

Podemos agora trar algumas conclusões de nossa primeira aula. Sabemos que existem duas
correntes principais de explicação do universo e do mundo em que vivemos. O materialismo
é uma concepção de mundo muito mais válida da natureza e da sociedade e que não leva à
passividade, mas acredita poder-se melhorar a vida com a ajuda da ciência e das técnicas
produzidas pelo homem. As concepções idealistas verifcou-se que são explicações
engenhosas, mas quase sempre voluntaristas, que exageram o poder e o lugar dos homens
diante da natureza e do universo. Já a concepção materialista, mostra que a natureza tem
suas próprias leis e que devemos nos adaptar a ela, caso queiramos usar a ciência e a
técnica, para melhorar a vida de todos. O falso desprezo pelo caráter material do mundo não
pode levar a nada de bom.

Aprendemos, portanto, que o homem só pode viver limitado pelas suas condições materiais
de existência. Como dizia Goethe, quem tem um cavalo anda mais depressa e quem tem
criados realiza um número maior de obras. Negar os meios à disposição dos homens, negar o
aspecto material da existência é negar-se de fato a explicar a sociedade e a desvendar seus
aparentes segredos. Entendemos o que é, portanto, o modo de produção, a formação
econômico-social, o caráter da base econômica e da superestrutura.

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Perguntas.

1. Que sabe sobre as concepções acerca do desenvolvimento da sociedade?

2. Quais as duas formas de concepção idealista?

3. Quais as duas formas de concepção materialista?

4. Que entende por base econômica?

-5. Que entende por superestrutura?

-6. Que é modo de produção?

-7. Que é uma formação econômico-social?

39
Aula 2

40
II – A luta de Classes e o Desenvolvimento Social.

1 – A Sociedade não Foi Sempre Dividida em Classes.

Os teóricos do marxismo nos ensinam que a sociedade não foi sempre dividida em classes
sociais. As classes sociais emergem após um certo grau de desenvolvimento das sociedades,
como resultado do crescimento crescente do excedente econômico, da população e da
divisão social do trabalho. O exame das fontes históricas e pré-históricas permite elaborar
um quadro interpretatvo detalhado dos começos da vida social, a partr de um certo ponto,
é evidente. Sabemos muito pouco de que como o homem vivia entre 200 mil e 20 mil a.C.
São 180 mil anos com informações residuais, pedaços de esqueleto, de ferramentas e
objetos materiais deixados em pontos de convivência no Kenya, Uganda, África do Sul,
Etópia e Saara Ocidental. É certo que o homem de que descendemos surgiu na África, mas
não se pode provar a existência comum dos pequenos grupos – famílias – a que estava então
reduzido, entre si. A partr de um certo momento, entre o penúltmo e o últmo glaciário,
grupos de homens deixam a África e se dirigem pelo Mar Vermelho à Ásia e à Europa, onde
encontrariam outros grupos de homens ou hominídeos, de que não temos ainda provas de
que houvessem sobrevivido.

Sob os efeitos das mudanças de clima produzidas com o fm do últmo glaciário, entre 20
mil e 10 mil a.C., atnge a população humana uma certa densidade (2 a 3 habitantes por km²)
em regiões mais favoráveis à ocupação, como a bacia do Indo e do Ganges, dos rios Yang-Tsé
e Hoang Ho, do rio Nilo, dos rios Tigre e Eufrates, dos golfos da costa da atual Turquia e da
Arábia, etc. Nessas regiões surgiram as primeiras comunidades aldeãs a passarem pelas
revoluções indicadas pelos arqueólogos de campo: a revolução neolítca, a transformação de
algumas aldeias em cidades (revolução urbana), com as crescentes divisões sociais do
trabalho, que criaram as “profssões dentro das famílias”,. O marxismo rejeita todas as
explicações de formação dos Estados antgos e das classes sociais que se baseiam em: (a)
importânncia na distnção das raças humanas; (b) hipótese de raças superiores e inferiores;
(c) diferenças explicáveis pelo patrimônio genétco herdado. O marxismo dá ênfase como
fontes do progresso material e daí cultural a: (1) processo de formação da base econômica;
(2) crescente diferenciação social exigida pelo quadro geográfco às divisões do trabalho; (3)
volume de acumulação de cultura e de trocas culturais, acidentais e incidentais. O marxismo

41
rejeita as ideias de Gobineau, Houston Chamberlain e Vacheur de Lepouge e valoriza as teses
de Lewis Morgan, Friedrich Engels e Vincent Gordon Childe, acerca da formação das
primeiras sociedades históricas.

Da formação das redes de aldeias como sistemas interdependentes, as comunidades


humanas evoluíram através da lei ou característca de desenvolvimento desigual, para redes
de cidades com aldeias sob seu comando; para redes de cidades sob o comando de cidades,
dando-se aqui, neste momento da revolução urbana a (1) centralização dos excedentes
produtvos do grupo; (2) a formação do Estado como estrutura centralizada de poder para
dada rede, ou um conjunto de redes urbano-rurais. Este foi o caminho no vale do Indo e do
Ganges, nos vales fuviais da China, nos rios Tigre e Eufrates e no vale do rio Nilo. Aí se
formam as mais antgas sociedades históricas conhecidas (7 mil a 3 mil a.C.).

Antes do avanço da divisão social do trabalho, e antes, portanto, da formação das classes
sociais, as comunidades locais viviam em grandes famílias, em aldeias que controlavam uma
área rural e pratcavam a chamada agricultura-de-jardinagem e o pastoreio de animais,
devido a possuírem já técnicas de seleção e domestcação de animais. Estas aldeias, em geral
dirigidas por um conselho das famílias locais, foram pouco a pouco sendo melhor ou pior
sucedidas na criação e acúmulo de riquezas. Ao exercer maior ou menor poder dentro de seu
círculo de relações (a rede de aldeias da mesma cultura, às vezes da mesma etnia), esta ou
aquela aldeia se tornava dominante ou dependente de outras. Assim, as diferenças
ambientais, técnicas, etc.; o roubo e a pilhagem de vizinhos, etc. Toda uma série de fatores
contribuiria para a diferenciação entre as aldeias, depois, entre as cidades delas surgidas, até
a formação de Estados. A leitura de textos antgos é rica em explicação das formas tomadas
por estas transformações e as questões ocorridas em diversas sociedades. Por exemplo, a
leitura dos Upanishad, ou da Ilíada e da Odisseia. O poeta Hesíodo, por exemplo, indica que
o processo de formação das classes na Grécia Antga nada teve de harmonioso ou fraternal.
Os episódios da história romana que nos propiciam o entendimento das transformações
econômicas dentro da comita centuriata ou da comita curiata, a luta pela terra, etc.,
indicam a tragédia da crescente divisão social de interesses. No poema de Hesíodo “O
Trabalho e os Dias”, se descreve a exploração de um lavrador pobre, apanhado pelo usurário
e pelo proprietário rico. A fábula do açor (gavião) e do rouxinol retrata em Hesíodo o
problema social; o açor com o rouxinol nas garras diz:

42
“Miserável, por que gritas? Pertences a quem é muito mais forte do que tu. Irás para onde eu te levar,
por melhor cantor que sejas.

E de t, a meu gosto, farei meu jantar ou te darei a liberdade.

Bem louco é o que resiste ao mais forte que ele: não consegue a vitória e, à vergonha, ele acrescenta
o sofrimento.” (Versos 205-210).

Assim, ao lado dos basileus que se apossavam das terras que antes não eram suas, mas de
famílias camponesas livres se desenvolvia a escravidão por dívidas e surgiam as cidades-
estados, baseadas no trabalho escravo (polis), que se tornariam logo o centro da vida grega.
Foi a época ali em que o comércio e o artesanato se separou da agricultura. A escravidão e o
comércio grego se desenvolveram através das comunicações marítmas e as guerras nisso
acarretadas. Marx escreveu:

“No mundo antgo, a ação do comércio e o desenvolvimento do capital mercantl rematou sempre
uma economia escravista; ou, segundo o seu ponto de partda, ela pode levar à simples
transformação de um sistema de escravidão patriarcal à produção de mais valia.” (O Capital, livro III,
t. I, pág. 340).

Assim, perdia crescentemente importânncia, as diferenças naturais, biológicas, entre os


homens na sociedade (sexo, idade, raça) e se ampliavam as diferenças sociais, pela
distribuição desigual da riqueza criada e pela acumulação. Estas diferenças resultam
claramente do desenvolvimento histórico da sociedade. A decomposição da comunidade
primitva, baseada no trabalho das famílias, com o aumento da riqueza excedente que se
podia criar leva à apropriação pelos mais poderosos dos meios de trabalho e, mesmo, dos
trabalhadores. É a escravidão, se um homem pode produzir garantdamente muito mais do
que consome, por que não escravizá-lo? Assim se desenvolveu a propriedade privada,
aumentou a desigualdade econômica e a exploração. O avanço da divisão social do trabalho
fez surgir as diferentes profssões e a existência das mesmas aguçou tanto o aumento da
riqueza quanto a repartção desigual da mesma. Como resultado, o aumento das
desigualdades sociais levou à diferenciação aguda dentro da sociedade. As diferentes
comunidades sociais se dividiram em interesses opostos, ou cada vez mais opostos, dando
origem à fragmentação de estruturas já dadas (família, gens, tribo, etnias, classe...) e a
formação de camadas de pessoas rejeitadas e expulsas do grupo, que se põe a vazar fora da
vida social organizada.

43
Comunidades e seus costumes, que haviam existdo durante centenas ou milhares de anos,
veem-se desaparecer por rápidas e imprevistas mudanças na base econômica. A estrutura
social da sociedade sem classes entra em colapso e desaparece num período de dois mil
anos. Ora, no lugar daquela estrutura social que deixou de existr, teve que se formar uma
outra. No lugar da família como centralidade, esta nova sociedade trazia a família
proprietária como célula básica. A divisão entre os que possuem e os que não possuem
tornou o novo motor das relações sociais. Foram estabelecidas assim novas dependências e
relações recíprocas.

Transformada a base – o modo de produção dos bens materiais – mudou também a


estrutura social da sociedade. Estruturas complexas como a tribo e a gens, com 40 mil ou
100 mil anos de existência, deixaram de existr, mas legaram à nova sociedade formas de
psicologia social, formas de ideologia social que sobreviveriam agora como elementos
mitfcados, deixando saudades de “dias melhores”, no passado remoto. Era o inevitável
produto do desenvolvimento histórico. A memória dos povos de uma sociedade anterior,
baseada na solidariedade grupal, haveria de consttuir-se interessante elemento ideológico a
trabalhar nos intestnos da sociedade escravista e da sociedade feudal, aparecendo aqui e ali
como uma proposta ou uma utopia de uma vida igualitária. O território, a língua e a cultura
em comum iriam caracterizar a formação de etnia, elevando o número de partcipantes do
grupo social, quando em comparação com as extntas genes (ou gentes).

A etnia se forma com uma rede de aldeias que na origem compreende elementos postos
para fora de outras sociedades ou sobreviventes de sociedades (como a gens ou a tribo) que
houvessem sucumbido na diferenciação das relações socioeconômicas. Muitas etnias
serviriam, mais tarde, no colapso de era feudal, à formação de nações modernas, mas não
todas. As etnias e as nações não devem ser confundidas com as raças. As raças são
diferenciações de aparência e de superfcialidades biológicas adaptatvas, quando
agrupamentos humanos viram-se bloqueados em determinadas áreas, formando o que os
antropólogos chamam “stocks”,. O principal componente de todas as raças atuais é o homo
sapiens sapiens, também chamado de cromagnon, que saiu da África entre 100 mil e 30 mil
antes de nossa era. Seus diferentes “stocks”, na África, na Ásia, na América, etc., fcaram
submetdos a lattudes diferentes, cujas condições geográfcas e climátcas exigiram
adaptações para a sobrevivência, de acordo com a teoria de Darwin de adaptação das

44
espécies. De acordo com a observação histórica, a estrutura biológica sofre mutação
adaptatva a cada ciclo de 25 mil anos, o que explica a diferença atual dita “raça”, dentro dos
agrupamentos conhecidos de “homo sapiens”,. As diferenças relacionadas com as
característcas da aparência fsica do ser humano não tem qualquer infuência no seu
desenvolvimento social, que passa visivelmente por estágios assemelhados em toda parte.
Os ideólogos burgueses, contudo, procuram difundir teorias racistas de homens superiores e
inferiores, com base na aparência do nariz, do crânnio, cor da pele, etc. Trata-se de outra
prova do malefcio das concepções idealistas. Semelhantes ideias conduzem ao
nacionalismo exacerbado cujo modelo típico é o nariz-africano e o desprezo pela cultura e
pela nação “dos outros”,.

Com a formação da sociedade de classes, diferentes classes assumiriam o papel de força


principal de diferentes modos de produção. Em geral, a classe proprietária fundamental de
um modo de produção se torna a principal força social do mesmo, até que seja aquela base
produtva substtuída por outro modo de produção. Os modos de produção da sociedade de
classes podem ser agrupados em algumas formas gerais, identfcados como uma tpologia
histórica, a saber: (a) modo asiátco de produção; (b) modo escravista de produção; (c) modo
feudal de produção; (d) modo capitalista de produção, e, por fm (e) modo socialista de
produção. Esta não é a única classifcação dos modos de produção, no entanto é a mais
comum, razão porque a citaremos.

(A) Modo Asiátco de Produção. – É caracterizado como o primeiro modo de produção que
existu, depois da generalidade da comunidade gentílica. As gentes (plural de gen) e as tribos
se assentaram em vastos territórios, em que o controle da foresta e do mecanismo dos rios
(enchentes, estagens) exigia obras de irrigação, de drenagem, agricultura de terraços, etc.
Estas característcas foram comuns nas primeiras grandes sociedades, após o últmo
glaciário, em que a desertfcação de certas regiões exigiu a ocupação por população
migrante dos vales inundáveis dos rios. A cooperação entre as aldeias criou um tpo de
Estado para regular as sazonalidades, com forte concentração de mão de obra e diferentes
turnos e etapas de prestação de serviços em coletvo. Estas sociedades foram, por isso,
chamadas “hidráulicas”,, por alguns historiadores. A administração da água era o centro da
vida. Para controlar o regime de águas, a agricultura irrigada e os estoques nos celeiros, foi

45
necessário desenvolver ciências (agrimensura, hidráulica, construção civil, astronomia, etc.) e
formam pouco a pouco uma classe dominante de base religiosa.

(B) Modo Escravista de Produção. – O mundo escravista dá-se quando uma porcentagem
importante de mão de obra já foi transformada em escravos. Os historiadores o classifcam
em “inferior”, (o mais antgo), “médio”, e “superior”, (o mais novo), de acordo com a
densidade de escravos na produção e o grau de acumulação do capital mercantl. A guerra e
a escravidão por dívidas eram as principais fontes de obtenção de escravos. Na Grécia e na
Roma antgas a escravidão chegou a tomar a maioria das atvidades. O indivíduo comprado
devia exercer sua profssão em proveito do proprietário. Havia escravos que eram ministros,
médicos ou conselheiros diplomátcos. A regulação da escravidão era complicada por
preceitos religiosos. Os camponeses pobres corriam um grande risco de cair na escravidão
por dívidas, porque a especulação e a usura eram livres. No entanto, as dívidas eram
herdáveis e transmissíveis. Povos inteiros foram derrotados e escravizados. O regime de
escravidão nunca foi totalmente abolido. No período feudal (século V a XVI), cerca de 10% da
mão de obra permaneceu escrava. No Algarves, no século XV, 20% da mão de obra rural era
de escravos. Mas o colapso da escravidão como sistema se deu com as chamadas “invasões
bárbaras”, no ocidente europeu. Mais tarde, na colonização árabe de diversas regiões e na
América, a escravidão voltou a generalizar-se formando o que se chamou “escravidão
moderna”,.

(C) Modo de Produção Feudal. – Em muitas partes (Europa, Ásia), com o colapso do poder
central, guerras e contnuadas invasões, desapareceram as relações escravistas, cedendo
lugar a sistemas de contrato entre conquistadores e os trabalhadores locais, urbanos e rurais.
No Ocidente eram comuns tais contratos de prestação de serviços se fazerem entre senhores
e senhores, e senhores e trabalhadores, sob a base de juramentos religiosos ou até mesmo
por escrito. O servo ou vassalo, em troca de suposta proteção do senhor, tnham obrigação
de prestar serviços. Tais serviços se davam como trabalho agrícola, trabalho artesanal,
serviço militar, doméstco, etc. Logo se formou uma nova classe de senhores, baseada em
formas de renda e apropriação do excedente social. A meia (50%), a terça (30%) e a quarta
(25%) se generalizaram na prestação de serviços. Suas prátcas compreendiam a renda-
trabalho, a renda-produto e a renda-dinheiro. Quanto mais meios de produção, quanto mais
trabalhadores, maior era a renda auferida. Daí as constantes guerras da sociedade feudal, em

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todas as suas formas sociais conhecidas (França, Rússia, Inglaterra, China, Índia, Japão...). A
sociedade feudal é uma das mais mistfcadas pela concepção idealista da história. Seus
analistas idealistas agarram-se a cada singularidade encontrada para negar a existência
generalizada do feudalismo. Esta confusão é necessária para ocultar a natureza do latfúndio,
o monopólio da terra e a transitoriedade do capitalismo. O latfúndio e o capital mercantl
são apresentados pelos idealistas como formas eternas, necessárias, da organização social.
Para tal, precisam negar tanto o caráter genérico dos modos de produção, como sua
tendência evolutva para se sucederem na linha do tempo, como formas generalizadas de
exploração dos trabalhadores e dos pobres.

(D) Modo Capitalista de Produção. – Trata-se de um conjunto de sistemas econômicos que


se fundamentam na exploração do trabalho assalariado. A propriedade privada dos meios de
produção, no regime do capital, difere de outros sistemas anteriores de exploração do
trabalho porque se baseia no trabalho assalariado. Consequentemente, trata-se de um
sistema social baseado na exploração desses trabalhadores que ganham salário, uma vez que
o salário não corresponde ao montante da riqueza criada durante o tempo de trabalho. Para
que o capitalismo se veja implantado como base social e sistema de relações sociais, se
requer uma das seguintes condições: (a) expropriação em massa dos pequenos produtores
(camponeses e artesãos), que perderam terra e outros meios de trabalho para usurários,
invasores ou apropriadores que controlam as leis; (b) sujeição externa, com roubo e
pilhagem da população e da riqueza, locais, com reordenamento, de fora para dentro, de
vida social; (c) sujeição gradual ou imediata da classe dominante local e dominadores
externos.

Os capitalistas só se interessam pelo seu próprio consumo. Procuram viver do fornecimento


de mercadorias entre si. Abastecer e assalariar os trabalhadores é para eles apenas “um mal
necessário”, para que possam acumular crescente riqueza. Dá-se assim a produção social com
apropriação privada da riqueza, para todas as classes na sociedade capitalista. Para tal, os
meios de produção se concentram cada vez mais. A pequena produção é periodicamente
destruída no curso da acumulação, dando-se crises por falta de compradores, por excesso de
desequilíbrio produtvo, etc. De tempos em tempos, os trabalhadores são desempregados e
lançados na miséria para preservar as taxas de lucros dos capitalistas.

47
No capitalismo, toda a produção é convertda em mercadoria e levada ao mercado. Dessa
forma, também o trabalho humano é mercadoria, que se compra com o salário, sob a
expressão de tempo de trabalho. Partndo da cooperação simples sob o controle de um
capitalista, os momentos-de-trabalho dos trabalhadores passam a ser copiados pelas
máquinas que logo irão comandar o ritmo de produção. Cercado por equipamentos
mecânnicos e procedimentos de intensifcação do ritmo, o trabalhador vê-se explorado, com
um aumento constante da produtvidade do trabalho. Os trabalhadores assim consumidos
pela intensifcação do processo são substtuídos por outros. O modo capitalista assume todos
os ramos de produção e gera o chamado excedente populacional (a população que não será
empregada). O trabalho não pago efetuado pelos trabalhadores se consttui em mais-valia
incorporada nas mercadorias e que será convertda em lucro, quando de sua venda. Assim,
se reproduzem as relações capitalistas, quando o lucro é apropriado e empregado.

(E) O Modo de Produção Socialista. – O modo socialista de produção é um produto da


análise teórica dos pensadores revolucionários do século XIX e começo do século XX,
resultando do desenvolvimento polítco independente da classe trabalhadora, com a aliança
entre proletariado e os camponeses. Os teóricos materialistas não poderiam conceber: (a)
um desenvolvimento espontânneo do capitalismo até formas socialistas; (b) uma passagem
direta do capitalismo à sociedade comunista. Com a experiência histórica da Comuna de
Paris e diversas sublevações operárias e camponesas, os ideólogos do socialismo
entenderam que era possível elaborar estratégia e tátcas polítcas para o movimento de
massas trabalhadoras, habilitando-as à tomada do poder. No entanto, este poder não dava
automatcamente a base para uma sociedade nova, devendo a mesma ser construída.

O socialismo é, portanto, uma etapa da revolução em que a aliança operário-camponesa


conquistou o poder polítco. Seu programa consiste nos pontos principais: (a) desapropriação
da grande propriedade capitalista, que passa à administração de conselhos de trabalhadores,
representantes de um novo Estado, o Estado socialista; (b) nacionalização da terra
(propriedade do novo Estado) e sua entrega às organizações e famílias camponesas médias e
pobres, para montar unidades produtoras públicas, cooperatvas e granjas familiares; (c)
nacionalização de toda a estrutura fsica do sistema produtvo; (d) asseguramento do
abastecimento básico da produção e do consumo; (e) estabelecimento de um sistema de

48
planifcação econômica centralizada, coordenado entre governo, órgãos de representação
popular e entdades produtvas.

O modo de produção socialista é, pois, entendido como a criação de uma nova base
econômica, sob a direção da aliança operário-camponesa e politcamente voltada para a
formação do socialismo e do comunismo. Uma sociedade sem classes, sem Estado e livre de
mecanismos de opressão não pode ser alcançada de forma imediata, com a revolução
popular que tome o poder polítco das mãos de burguesia como classe. É necessário
organizar a nova sociedade. É necessário tocar a produção que existe e orientá-la para uma
produção socialista. É necessário expandir enormemente a produção de bases de produção,
uma vez que os capitalistas não produzem para abastecer toda a população, mas somente
aqueles que podem comprar. Nos países capitalistas mais avançados, a produção efetva de
bens só alcança uns 40 a 50% da produção que seria necessária para abastecer todas as
pessoas existentes. A propaganda polítca e comercial capitalista atribui “gostos sociais”, à
maioria da população: segundo tais “gostos”,, os pobres preferem usar um só tpo de roupa,
de sapatos e comer “entulhos”, energétcos com bebidas alcoólicas. O que tal propaganda
não diz é que a maioria dos trabalhadores e dos pobres não possuem poder aquisitvo para
comer, vestr e beber melhor. E, portanto, nem se produz tais coisas para eles. A experiência
histórica observada em todos os países que até agora transitaram do capitalismo para o
socialismo foi encontrar uma produção de todo insufciente, em especial dos bens básicos
para a população. Os capitalistas preferem produzir artgos de luxo e bens novos, que dão
maior taxa de lucros na venda. Por isso, faltam bens para a saúde, educação básica,
alimentação em escala de massa, transporte público, etc. Não faltam nas lojas joias, bebidas
e outros bens sofstcados. Eles têm preços elevados...

A aliança operário-camponesa, manifesta como movimento revolucionário, deve


reorganizar todos os sistemas de produção e de distribuição, para obter a formação de uma
base econômica socialista. Isso não se dá da noite para o dia. Por exemplo: a reorganização
da população signifca a reestruturação de cada empresa ou centro de trabalho, com a
imposição de tarefas novas: nova pauta de bens a produzir; estruturação de creches e
espaços para os trabalhadores, etc. São tarefas que levam dezenas de anos para desembocar
em uma sociedade nova. Assegurar alimentação, vestmenta, educação e tratamento de
saúde para todos é uma revolução completa em relação a atngir desde a ordem capitalista e

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não se pode fngir que as pessoas “escolham”, comer pé de porco ou andar seminu. O
comunismo, “reino de liberdade e de abundânncia”,, só pode ser alcançado após uma longa
etapa de “a qualquer um de acordo com seu trabalho”, (socialismo).

Não é tarefa do socialismo distribuir carros para todos, mas assegurar transportes coletvos
mais rápidos, mais baratos e mais seguros. Não é tarefa do socialismo oferecer passeios
turístcos, mas prover creches, escolas e tratamentos médicos a custo baixo. Todas as tarefas
que podem ser assumidas coletvamente pela ordem pública são então empreendidas como
objeto do bem comum, oferecendo a uma ampla maioria, novas e melhores condições
materiais de existência.

O Estado socialista garante com sua base polítca de classe a propriedade social dos meios
de produção, eliminando-se a contradição entre a propriedade de tais meios e a produção
necessária para todos. O socialismo é, assim, um regime polítco voltado para a construção
de uma base nova, que será, depois de operante, ela própria socialista. Só então se poderá
falar em modo de produção socialista. O sistema planifcado, com uma base socialista,
poderá programar gradualmente a extnção de cada foco de escassez, apoiado na produção
atva da massa de milhões de trabalhadores (este é um aspecto essencial).

O partdo comunista, como partdo socialista que é, tem uma estrutura de comitês que é a
mais importante de suas estruturas. O sistema piramidal de estruturação do partdo operário
é o modelo da estrutura do Estado socialista, com cada escalão sendo responsável pela
esfera de atribuições que lhe é compatível e pondo em marcha as transformações com uma
direção coletva. A direção coletva é a forma dominante nos coletvos de direção e de
estruturação do partdo e, por consequência, do Estado socialista. As decisões são tomadas
dentro da esfera própria de competência polítca, na base de discussão e do voto, após a
apreciação de propostas e da adequada iluminação de seus elementos técnicos
competentes.

2- O Estado. Seu surgimento. Sua Essência como Ditadura de Classe.

Toda pessoa simples que já entrou em uma delegacia de polícia, uma organização de justça
ou numa instalação militar certamente sentu um mal-estar, apreensão e, talvez até medo.

50
Esta pessoa não está enganada: esses lugares não foram feitos para proteger ou tratar bem
pobres ou trabalhadores. Tais lugares estão ali para humilhá-los, prendê-los ou persegui-los.
Na verdade, tais lugares não zelam pela pátria ou pelo patriotsmo, não se interessam
positvamente pelas maiorias, etc. São máquinas da opressão. Estão abertamente voltadas
para a proteção de ricos e poderosos. É a estrutura repressiva do Estado. Com o avanço da
luta das massas populares em toda parte, o Estado não raro viu-se também obrigado a
encampar outras insttuições: centros de caridade, casas de misericórdia, hospitais e clínicas,
etc. Também o serviço prestado nessas estruturas é feito com má vontade; deixa muito a
desejar. Não seria exagero que tais estruturas foram encampadas pelo Estado quando
estavam a caminho da ruína; expressam até hoje o desprezo que as elites, os ricos e os
poderosos votam aos trabalhadores e pobres.

O que mais possui o Estado, esta máquina aparentemente heterogênea? Dezenas de órgãos
de controle da população e de enquadramento das classes populares. O Estado nem sempre
existu. Ele é uma invenção que tornou as classes dominantes, dominantes. E Estado é um
aparato complexo da superestrutura para regular o funcionamento da sociedade, da base
econômica, de acordo com as necessidades de exploração da maioria. Daí que haja indo, ao
longo do desenvolvimento social, a anexar toda insttuição criada aqui e ali, por movimentos
sociais diversos, e que se verifcaram ser ou se tornar centros de poder social. Por exemplo,
os hospitais, casas de misericórdia, asilos, etc., nasceram de movimentos religiosos de
socorro ao próximo. Na Idade Média e até 50 anos atrás, o hospital era um lugar onde se ia
morrer; não para intentar ser salvo. A caridade religiosa, com o crescimento das grandes
cidades, passou a estabelecimentos públicos governados por normas do Estado e mantdos
quase sempre pelos seus cofres. Obviamente, esta não é a atvidade principal do Estado. No
entanto, salvar vidas – ou aparentar fazê-lo – é parte importante do teatro da regulação
social. Então, o Estado está encarregado de regular a vida coletva das classes: no plano
polítco, econômico e social.

É no Estado que os polítcos sentam em diferentes órgãos, para assegurar a injusta


distribuição da riqueza criada e a vigilânncia da dominação burguesa sobre as massas de
outras classes. Criam toda a série de códigos e regulamentos que tornam a vida dos
trabalhadores e dos pobres um inferno. É no Estado que se normalizam e aplicam as polítcas

51
econômicas que tornam os ricos mais ricos, os pobres mais pobres e que fazem os
trabalhadores pagarem por todo tpo de crise.

O Estado organiza a sociedade de tal forma que tudo que se entrega ao trabalhador é de má
qualidade e ruim; tudo que se entrega às classes dominantes tem a melhor qualidade
possível. Isto se verifca num serviço médico, numa escola ou numa refeição que seja. Esta
máquina infernal de opressão e exploração, garante às classes dominantes o sono tranquilo e
a perpetuidade de seus ganhos e rendas.

Mas o Estado nem sempre existu. Ele foi criado lá na transição da sociedade sem classes
para a sociedade de classes. O Estado é um aparato que refete o desenvolvimento social nas
sociedades de classe. Ele é o miolo do sistema polítco da sociedade. Nele se abrigam todas
as máfas e quadrilhas – malfeitores abertos – das classes dominantes ou a serviço delas. Por
isso, o Estado só foi radicalmente modifcado aqui e ali ao longo da história pela revolução
social. Por isso é ela necessária.

No Estado contemporânneo, desempenham o lugar central no movimento polítco os


partdos polítcos, associações da classe dominante, entdades secretas e semi-secretas
tradicionais, etc. Esses grupos organizados exercem o poder, trocando favores entre si, e
elaborando leis e regulamentos que, enquanto na aparência benefciam toda a sociedade,
carreiam os ganhos dos impostos e as dotações dos orçamentos em proveito das diferentes
quadrilhas minoritárias. A menor parcela possível de taxas e impostos chega por fm ao bem
comum. Trata-se de um mascaramento necessário para prosseguir o roubo-de-classe,
pratcamente tornado perpétuo. Por isso é muito difcil o Estado capitalista, máquina na mão
dos piores bandidos sociais, promover a paz, o progresso e a ordem pública. Não estão aí
para isso. Mas para espremer dinheiro e sangue de cada crise, como se espreme um limão
ou um marisco.

Na sociedade atual, de crise generalizada e mundial, os imperialistas e seus agentes,


espalhados na burguesia de toda parte, partcularmente dos países atrasados do sistema,
tem difculdade para unifcar a polítca dos Estados capitalistas, fazendo ignorar suas
diferenças de estrutura. Em numerosos países coloniais, semicoloniais e dependentes,
movimentos revolucionários locais de tpo nacional desejam pôr a mão na sociedade local
para seus próprios fns. Alguns movimentos querem fazer avançar reformas sociais e

52
econômicas. Outros movimentos representam a ganânncia e o atraso da burguesia e da
pequena burguesia locais, que querem trar ali a parte do leão das mãos dos imperialistas,
para o seu próprio consumo. Em ambos os casos, o resultado prátco, do ponto de vista dos
interesses das metrópoles capitalistas e dos imperialistas, é o mesmo. Caso estes
movimentos triunfem, as antgas potências perderão seu flão explorador. Esta situação atua,
portanto, como um elemento complicador do papel do Estado. Na luta polítca, dá-se a
oportunidade de, de acordo com a evolução da correlação de forças, mudar a situação de um
Estado local.

A análise internacional (em conferência de 1959) do sistema de contradições em nossa


época insiste: as contradições fundamentais do sistema atual são assim consideradas:

(1) capitalismo x socialismo


(2) potências imperialistas x potências imperialistas
(3) países capitalistas centrais x países capitalistas periféricos
(4) forças produtvas x relações de produção
(5) burguesia local x proletariado local

Façamos então um breve resumo de cada subsistema contraditório que fundamenta a


elaboração da estratégia marxista-leninista para o conjunto do mundo, dentro da qual se
caracteriza a natureza possível de cada Estado.

(1) – A Contradição Entre Capitalismo Socialismo. - A luta dos trabalhadores no mundo todo
enfraqueceu a dominação capitalista entre os anos 1870 e 1914, colocando o movimento
operário como um fator polítco de poder. A luta interimperialista, caracterizada pela disputa
colonial entre as grandes potências, levou à primeira guerra mundial, com a destruição da
Rússia Czarista, o “elo mais fraco”, da corrente imperialista. Tal levou à Revolução de Outubro
de 1917, à guerra civil na antga Rússia Czarista, com a vitória do socialismo, pela formação
de um governo consttuído à base de Conselhos Operários e Camponeses. A Revolução Russa
abriu um caminho aos povos de todo o mundo, facultando-lhes a possibilidade real de uma
mudança social avançada, uma quebra dos grilhões da exploração e dependência, nacional e
social.

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O desenvolvimento das forças socialistas na União Soviétca, com a formação de uma base
econômica socialista no entre-guerras, coincidiu com (1) a nova hegemonia imperialista, dos
E.U.A., e (2) o recuo da dominação imperialista em escala global, com a crise geral capitalista
de 1929-1932. O aprofundamento das contradições interimperialistas durante o entre-
guerras tnha por estratégia da Grã-Bretanha, França e EUA, lançar o chamado eixo
nazifascista (Alemanha, Itália, Japão e seus aliados) contra a União Soviétca. Essa estratégia
em parte fracassou, com a omissão do Japão no ataque à União Soviétca (1941-1945).
Assim, a União Soviétca emergiu da segunda guerra mundial (1939-1945), como o centro do
socialismo, logo liderando um bloco de nações que haviam logrado efetuar suas próprias
transformações e tomar o caminho revolucionário. A formação do chamado campo socialista
foi um duro golpe na hegemonia imperialista e na anterior dominação inconteste do
capitalismo no mundo.

Hoje se vive um processo parcial de desagregação do mundo do capital (1945-1962), com


perdas de suas colônias, formação de novas nações independentes e tomada de um caminho
para o socialismo em diferentes regiões (vide Coreia, Vietnam e Cuba). Os elementos
populares das forças democrátcas em todo o mundo tendem a se unir às forças que
implantam reformas capazes de conduzir ao socialismo, em escala global.

(2) A Contradição Interimperialista. – O fato de um grupo de potências imperialistas haver


batdo o outro na primeira guerra mundial enfraqueceu o campo do capitalismo e permitu
aparecer o primeiro país socialista (na verdade, um bloco de 22 nações) no mundo. No
entanto, apesar do recuo parcial do capital fnanceiro em escala global, as potências
imperialistas voltaram a se chocar num segundo confito de proporções mundiais, em que
intentavam, igualmente, a destruição da União Soviétca. Por que tais fatos se verifcaram?
Em primeiro lugar, porque a contradição entre as potências imperialistas no período (1870-
1945) havia se tornado vital para a sobrevivência do grande capital, havendo o mundo se
tornado “pequeno demais”, para o grande número de centros de capital fnanceiro em
expansão. A luta pelo comando da exploração em escala global, com milhões de toneladas
de matérias primas, pratcamente gratuitas, em mãos de seus competdores, era uma visão
de mundo intolerável para cada grande potência. Recordemos a afrmação de Bismarck, lá
em 1881:

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“Antes se governava um país. Agora, somos caixeiros-viajantes a serviço de monopolistas.” Essa
afrmação é uma declaração correta sobre o contexto das contradições interimperialistas.

O materialismo requer uma abordagem objetva dos problemas. Muitos pensadores


progressistas idealizam os objetvos da burguesia aqui e ali, atribuindo-lhe projetos
complexos e “humanistas”, que ela na verdade jamais elaborou. Nenhum capitalista jamais se
preocupou em “levar o cristanismo”, à África ou “ a civilização”, à Indonésia. Mas uma vez
que haja malucos e missionários que assim pensam, tais hão de ajudar a dobrar a opinião
pública local e permitr ao capitalista indigitado apossar-se de territórios e matérias primas a
um custo muito baixo.

Lênine chamou à atenção que os monopólios, com a conquista à mão armada do mundo
exterior, com suas polítcas de “horizontalização e vertcalização”, de empresas e mercados,
com os conluios oligopolistas, etc., chegam a uma margem de lucro de dois ou três dígitos,
acumulando recursos que tornam uma guerra algo barato para eliminar concorrentes. Por
exemplo, a Grã-Bretanha, em escala mundial, teve lucros de mais de 100% ao ano entre 1850
e 1950. Semelhantes “botns”, são superiores a um eventual saque de um pirata bem-
sucedido. Não se pode renunciar a tais posições de ganho.

Nessas condições, a guerra e a agressão se tornam trocados de bolso. Evidentemente,


houve após a segunda grande guerra uma mudança no núcleo do comando imperialista, com
os EUA assumindo uma hegemonia quase total, similar àquela que a Grã-Bretanha desfrutou
entre 1840 e 1870. Os EUA possui uma elite de estrategistas muito mais desconfada de seus
“êxitos inevitáveis”,, que procura primeiro manter o que já tem. Seu espírito aventureiro é
menor que aquele de ingleses, japoneses e alemães, acercando-se mais da “modésta”, da
França e da Holanda.

Por isso, os estrategistas dos EUA adotaram uma estratégia indireta, para (a) manter seus
aliados imperialistas subordinados; e (b) destruir o campo socialista e a União Soviétca. Com
tal estratégia indireta, em que controla os EUA diretamente no mundo tanto as forças
armadas de seus rivais como a corrida armamentsta, difcilmente a contradição
interimperialista desempenhará no futuro o papel destruidor para o capitalismo, que
representou no passado.

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(3) – A Contradição Entre Países Capitalistas Ricos e Países Capitalistas Pobres. – Também
conhecida por “contradição-centro-periferia”,, é outra contradição fundamental do atual
sistema. Os “países ricos”, desejam manter os “países pobres”, no lugar econômico e social
onde se encontram, sejam países coloniais, semicoloniais, ou dependentes. Isso porque
nessa situação compram as mercadorias das antgas metrópoles mais caras do que deveriam;
e vendem seus produtos para todos – incluídas as antgas metrópoles – mais baratas do que
deveriam. Na verdade, o que tornou tais países tão pobres foi sua desorganização interior,
resultado da intervenção das potências, durante centenas de anos. Seria insensato acreditar
agora que – por causa da Revolução de Outubro – todas as antgas potências houvesse
renunciando às suas posições hegemônicas anteriores. Os “países ricos”, exploram os países
pobres por diversas formas: (a) vendendo mercadorias – isso inclui o dinheiro – o mais caro
possível para a outra parte; (b) comprando os produtos locais – isso inclui força de trabalho –
o mais barato possível; (c) impondo uma pauta de demanda que não permite à outra parte
sair do imobilismo; (d) apoiando o que há de pior na polítca e na economia do “parceiro”,
local.

Os “países ricos”, associam a tal processo o fornecimento de assessoria, transferências


culturais, etc., capazes de deixar suas vítmas “anestesiadas”, geração após geração.

(4) – A Contradição Entre as Forças Produtvas e as Relações de Produção. – Disse Marx que
“a força produtva mais poderosa é a própria classe revolucionária.”, Assim, não é a evolução
dos meios de trabalho o mais decisivo, mas a consciência atva dos trabalhadores e a sua
disposição para se organizar na produção, produzindo mais e melhor. Daí que a observação
histórica caracterize uma tendência das forças produtvas a crescer sem cessar, a produzir
sempre mais e mais, superando todos os recordes obtdos no passado. Nas condições do
capitalismo, as forças produtvas produzem mercadorias e não produtos (bens para a troca),
porque toda a sua capacidade está orientada para o lucro do patrão. No entanto, dois
elementos tolhem a tendência das forças produtvas para a expansão: (a) as crises periódicas
que abalam a lucratvidade do capital; d (b) a necessidade dos capitalistas de manterem a
produção baixa, para não aumentarem a renda e o consumo até que esteja fora de seu
controle.

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(A) – As Crises Periódicas. – O aumento da procura, com a elevação contnuada da produção
leva à queda de preços, o que nem sempre interessa aos capitalistas (perda relatva de
ganhos na “fronteira”, interna do mercado). A pressão dos capitalistas para manter os salários
o mais baixo possível reduz o potencial de compradores e faz chegar mais cedo o limite de
crescimento da taxa de lucro. Como consequência, se reduzem as vendas, os patrões
diminuem a produção e o desemprego tende a crescer.

(B) – A Necessidade de Controlar a Renda e o Consumo. – Os capitalistas que já controlam


um mercado entendem que o crescimento “descontrolado”, do mesmo leva a ampliação da
renda em mãos desconhecidas, a formação “exterior”, de acumulação e o aumento da
competção pelos mesmos consumidores, com a abertura de outras unidades produtoras, de
propriedade alheia. Por isso julgam que é melhor fechar o mercado do que abri-lo; é melhor
produzir menos e vender mais caro, do que produzir mais e vender mais barato (o contrário
da “lei da maquinofatura”,), etc.

Assim, os capitalistas tendem a usar o Estado e as relações de produção para (1) evitar a
“competção em excesso”,, (2) impedir a elevação dos salários e (3) bloquear ou reduzir os
direitos dos trabalhadores. Em toda a parte, em todo sistema econômico sob o capital, a luta
entre as forças produtvas e as relações de produção se faz presente.

(5) – A Contradição Entre a Burguesia e o Proletariado em Cada País. – A formação de um


campo socialista e a luta entre as potências imperialistas modifca o ambiente, mas não
altera a contradição fundamental entre o capital e o trabalho, entre a burguesia e o
proletariado em cada país capitalista, seja o capitalismo avançado ou não. Nos países em que
o capitalismo não é avançado e se alia a formas privadas “pretéritas”,, isto é, sobreviventes de
modos e bases passadas. O fenômeno da contradição vê-se tpifcado pela potencial traição
da burguesia à causa democrátca, com a preservação de sua aliança com o latfúndio. Foi
assim que se deu na revolução chinesa, em 1925-1927, Quando a burguesia nacional atnge
certo grau de poder, ela pode “bandear-se para o outro lado”,, ou aliar-se ao lado derrotado,
que a revolução democrátca acabou de derrotar. Vide a revolução de 1848-1849.

Portanto, levando-se em consideração o quadro geral das contradições fundamentais, da


Conferência Internacional (1959), o papel e o lugar do Estado variam muito, de acordo com o

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desenvolvimento da conjuntura revolucionária e o desempenho do mesmo como elemento
da ditadura de classe no plano local.

Pessoas corretamente treinadas e educadas por um sistema educacional democrátco, não


teriam qualquer necessidade de um Estado, para fazer-lhe indicações de comportamento
racional ou reprimi-las. A presença do Estado se deve à mesma milenar função do passado,
assegurar os interesses da classe dominante, manter a maioria “no seu lugar”, e realizar
tarefas que exijam uma unidade que não possa ser contestada. Assim, o Estado nas crises
desempenha função primordial, a de impedir que as massas tenham acesso aos seus direitos
ou que pressionem por melhorias polítcas amplas. No entanto, o Estado é um personagem
histórico. Ele não pode ignorar a evolução de cada conjuntura. Ele deve adaptar-se para
cumprir suas missões e pode sofrer permeações de classe que se expressem no efeito de seu
papel de relatva independência das classes. Talvez a missão mais extraordinária do Estado
seja salvar a classe que ele representa, à revelia das intenções e dos desejos dela.

Por isso, na atual conjuntura mundial, em que as forças do progresso avançam e as forças
da reação recuam, a natureza do Estado não pode ser considerada inamovível ou defnitva.
O Estado impacta na luta de classes, mas sofre o efeito da luta de classes, como nos ensinou
o camarada Lênine:

“O Estado é o produto e a manifestação do fato de que as contradições de classe são inconciliáveis. O


Estado surge, no momento e na medida em que, objetvamente, as contradições de classe não podem
conciliar-se. E inversamente: a existência do Estado prova que as contradições de classes são
inconciliáveis.”

Qualquer que seja a situação do Estado, pois, as lutas de classe seguirão o seu curso
objetvo. Para saber usar a luta de classes para neutralizar a ação desfavorável às nossas
forças por parte do Estado; e para usar a força possível do Estado para reforçar nossa
posição, cumpre defnir corretamente a natureza do Estado, na etapa atual da luta. Ela pode
ser:

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(a) Estado imperialista
(b) Estado burguês dominantemente nacional independente
dependente
(c) Estado nacional burguês independente
(d) Estado democrátco-popular
(e) Estado socialista

A análise do Estado brasileiro atual indica que ele é um Estado do tpo (b), ou seja um
Estado burguês dependente, onde o componente nacional se encontra deprimido e
reprimido. A aliança da burguesia brasileira em suas partes componentes, (1) comercial e (2)
industrial, não lhe deu forças sufcientes para completar a chamada “revolução de 30”, (de
caráter democrátco nacional).
A burguesia industrial tem sido fraca e apesar do enorme crescimento de 1930 a 1960
(cerca de 6% ao ano), tal burguesia não consegue efetuar as reformas democrátcas
necessárias para ampliar o mercado interno e criar um Estado burguês nacional autônomo, a
seu serviço.
Cumpre observar que há um setor da burguesia e da pequeno burguesia que é radical. Ele
propõe reformas de base na economia e na sociedade e luta sinceramente para eliminar a
aliança com o latfúndio e a burguesia agrária (exportadora). Isso abre uma oportunidade
para vitórias da causa nacionalista e democrátca, podendo mesmo levar à consttuição de
um Estado do tpo (c), ou seja, um Estado nacional, baseado no movimento popular, sob a
hegemonia da burguesia ou da pequeno burguesia radical. Tal Estado pode abrir caminho
para completar as tarefas nacionais e democrátcas, deixadas incompletas pelo movimento
varguista dos anos 1930-1960.
Como disse Lênine:
“Segundo Marx, o Estado é um organismo de dominação de classe, um organismo de opressão de
uma classe por outra; é uma criação de uma “ordem” que legaliza e fortalece esta opressão
diminuindo o confito das classes. Segundo a opinião dos polítcos pequenos-burgueses, a ordem é
precisamente a conciliação das classes, e não a opressão de uma classe por outra; moderar o confito
é conciliar e não retrar certos meios e processos de combate às classes oprimidas em luta pela
derrubada dos opressores.”
Ou seja, existe a possibilidade de vitória parcial da frente única nacionalista e democrátca.
Nesse caso, o Estado seria um instrumento da luta democrátca e prepararia com sua ação
uma nova etapa da luta rumo ao socialismo. A supressão do Estado não pode ser o objetvo

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atual da luta revolucionária e democrátca, nem seria obtda de imediato, com a vitória da
causa socialista. Disse Lênine:
“Enfim, somente o comunismo torna o Estado absolutamente supérfuo, porque não há ninguém a
reprimir “ninguém” no sentdo de classe, no sentdo de luta sistemátca, contra uma parte
determinada da população.”
Portanto, a abolição das classes, da luta de classes e do Estado não são tarefas que se
imponham, do ponto de vista materialista dialétco, à fase atual da luta polítca. As tarefas
que se impõem requerem a partcipação crescente das massas populares nas proposições e
na aplicação dos pontos do programa da frente única nacionalista e democrátca. Cada força
partcipante deve, para tal, preservar o seu próprio programa, sua própria estrutura
organizatva e seu caminho de atuação. O êxito do conjunto e de cada força decidirá do grau
do resultado que será obtdo, sua profundidade.

3 – O Conceito de Classe Social.


Assim como o Estado, as classes sociais não existram sempre. É sabido que também elas
são um produto da história, que só se puderam efetvar num certo momento do
desenvolvimento social. Ao analisar o problema do Estado, assim se pronunciou Engels:
“Portanto, o Estado não tem existdo eternamente. Houve sociedades que se organizaram sem ele,
não tveram a menor noção de Estado ou de seu poder. Ao chegar a certa fase de desenvolvimento
econômico, que estava necessariamente ligada à divisão da sociedade em classes, esta divisão tornou
o Estado uma necessidade. Estamos agora nos aproximando, com rapidez, de uma fase de
desenvolvimento da produção em que a existência dessas classes não apenas deixou de ser uma
necessidade, mas até se converteu num obstáculo à produção mesma. As classes vão desaparecer e
de maneira inevitável como no passado surgiram. Com o desaparecimento das classes, desaparece
inevitavelmente o Estado. A sociedade, reorganizando de forma nova a produção, na base de uma
associação livre de produtores iguais, mandará toda a máquina do Estado para o lugar que lhe há de
corresponder: ao museu das antguidades, ao lado da roda de fiar e do machado de bronze.”
Tal como o Estado surgiu por necessidade das classes, tal as classes surgiram devido à
complexidade da divisão social do trabalho, do avanço da propriedade privada e da
ampliação da base econômica. É natural entender-se que o fm da escassez e da preferência
pelo que é supérfuo pedirá também o fm deste tpo de estrutura, que são as classes sociais.
A atual contradição irreconciliável entre as diferentes forças sociais está ligada à propriedade

60
privada dos bens de produção. Com o fm da propriedade privada, ela pouco a pouco
perderá o sentdo. Como caracterizou Lênine:
“O domínio da burguesia só pode ser derrubado pelo proletariado, classe distnta cujas condições
econômicas de existência preparam para esta derrubada, e à qual elas oferecem a possibilidade e a
força de realizá-la. Enquanto a burguesia fraciona e dissemina o campesinato e todas as camadas
pequenos-burgueses, ela agrupa, une e organiza o proletariado.”
Assim, os diferentes processos de dominação de classe na sociedade, têm diferenciados
efeitos no comportamento das classes sujeitadas, dando curso material a diferentes formas
sociais de transformação na vida social. Enquanto que o campesinato está condenado à
extnção sob o domínio do capital, a sociedade socialista lhe reserva uma transformação
positva na história. O advento do proletariado organiza outras forças sociais. Disse Lênine:
“A burguesia não pode ser derrubada se o proletariado não se transforma em classe dominante
capaz de reprimir a resistência inevitável, desesperada, da burguesia, e de organizar todas as massas
trabalhadoras e exploradas para um novo regime econômico.”
Para efetvar esta renovação social profundamente democrátca o proletariado deve
organizar elementos de todas as classes sociais e trazê-las para o campo majoritário da luta
libertadora. Explicou Oto Kuusinen:
“Marx e Engels, pela primeira vez, estenderam o materialismo à compreensão da vida social e
descobriram as forças motrizes materiais e as leis do desenvolvimento social, transformando assim a
história da sociedade em ciência.”
“Finalmente, os fundadores do marxismo converteram a doutrina filosófica materialista – antes uma
teoria abstrata – em um meio eficaz de transformação da sociedade, em arma ideológica da classe
operária na sua luta pelo socialismo e o comunismo.”
O ponto de vista materialista implica que a materialização de nossos projetos não se dá
apenas por nossa vontade, mas requer o conhecimento objetvo da natureza do processo em
curso, e a nossa disposição em atuar de acordo com o sentdo de seu desenvolvimento. O
fato de uma classe ter consciência de sua existência, ter conhecimento de seu lugar no
mundo através de seus líderes e ter um programa hegemônico dentro da classe, esses traços
por si não garantem um desdobramento favorável de seus projetos. Esta classe se situa num
emaranhado de classes que lutam entre si, que compõem alianças temporárias, choques,
etc. Ou seja, o resultado desse processo de luta de classes não é igual ao desejo de cada
classe ou de cada liderança de classe. Disse Lênine em “Uma Grande Iniciatva”,:

61
“Denominam-se classes, grandes grupos de homens, que se diferenciam pelo seu lugar num sistema
da produção social historicamente determinado, pela sua relação (em maior parte fixada e
formalizada nas leis) para com os meios de produção, pelo seu papel na organização social do
trabalho, e, por conseguinte, pelos modos de obtenção e pela proporção da parte da riqueza social,
de que dispõem. As classes são grupos tais de homens, dos quais um pode se apropriar do trabalho
do outro, em virtude da diferença do seu lugar numa determinada formação de economia social.”
Esta estrutura criada objetvamente no desenvolvimento social, não pode ser evitada, nem
movida para lá e para cá, ao sabor da vontade dos ideólogos e dos governos. Trata-se de uma
estrutura e requer polítcas acertadas para favorecer a evolução das forças que possam
modifcá-las objetvamente. Os marxistas respeitam o caráter objetvo da evolução histórica.
Procuram analisar o interesse de cada classe e de cada fração de classe nas lutas econômicas
e polítcas. Com base no conhecimento desses traços objetvos, os marxistas traçam então
seu plano tátco para levar a massa de todas as classes à luta – que de qualquer forma
ocorreria – mas que, com uma liderança correta, há de se dar com o menor custo social
possível.
No sentdo de desenvolvimento da sociedade contemporânnea, com o poder burguês e a
revolução industrial, gerou-se a nação burguesa moderna. Esta forma nacional passa por
uma etapa histórica em que a burguesia de cada país se apropria do “seu mercado”, e do
“seu proletariado”,, enfatzando o caráter “nacional”, de sua dominação, em detrimento das
outras burguesias nacionais e das outras classes, não dominantes. Algumas nações
burguesas se desenvolveram, tornando-se com seus monopólios centros imperialistas. Tais
centros procuraram logo subjugar-se mutuamente, com suas polítcas agressivas e
guerreiras, que levaram aos dois confitos mundiais, e a uma sucessão que não termina de
guerras localizadas. Assim, a nação é o lugar onde vivem as classes sociais e antecede o
domínio da burguesia. No entanto, com a dominação burguesa, a nação assumiu um caráter
novo, em que ela mascara e deforma os verdadeiros objetvos do Estado burguês. Como
disse Stálin:
“Nação é uma comunidade estável, historicamente formada, que tem sua origem na comunidade de
língua, de território, de vida econômica e de conformação psíquica que se manifesta na cultura
comum.”
É fácil perceber que a pretensão da burguesia de que cada nação é um fortm que a ela
pertence, difundindo teorias racistas e ultranacionalistas, tem, por fm, apenas garantr um

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mercado e uma força de trabalho para si, com total desprezo pelos interesses das classes
sociais. Esse esforço ideológico, no entanto, é deixado de lado toda vez que “a necessidade
aperta”,. Como argumentou o camarada Oto Kuusinen.

“A comunidade nacional não pode suprimir as diferenças de classe dentro da nação. Pelo contrário,
estas diferenças penetram toda a sua vida e a cindem em partes hosts. A comunidade nacional desta
maneira, não apenas não exclui o antagonismo de classe, como, sem levá-lo em conta, não poderá
ser corretamente compreendido o próprio movimento nacional.”

“Por outro lado, a solidariedade de classe ultrapassa os marcos da nação isolada. Os capitalistas
norte-americanos, alemães, franceses, falam línguas diferentes. Mas todos são aproximados entre si
pelo fato de que pertencem à mesma classe e isto os une estreitamente contra o socialismo, o
movimento operário e a luta de libertação nacional dos povos coloniais. Exatamente da mesma
maneira, os operários pertencem a variadas nacionalidades e raças, mas permanecem, em primeiro
lugar, proletários, o que determina a comunidade dos seus interesses internacionais, dos seus fins e
de sua ideologia, diante do que passam para segundo plano as outras diferenças. Os operários
conscientes, compreendendo que a discórdia e o isolamento nacionais prejudicam os interesses
internacionais da classe operária, conduzem a luta contra quaisquer formas de discriminação
nacional ou racial.”

O desenvolvimento da consciência social de cada proletariado, de cada país, leva a


abandonar a estratégia da visão nacional burguesa. Os trabalhadores e os pobres de todos os
países devem se ajudar e colaborar entre si, na luta contra a exploração e os exploradores. A
burguesia, enquanto procura isolar os trabalhadores em cada país, negando-lhes recursos e
passaportes para viajar e conhecer outros povos faz o contrário quanto a si mesmo,
tornando-se cada vez mais uma classe única e internacional. Também o proletariado de cada
país tem que se tornar solidário com os outros proletariados em suas reivindicações e lutas.
Os trabalhadores sabem que a burguesia só é solidária com outra burguesia quando se trata
de combater o proletariado. Com a vitória da revolução soviétca, 22 países capitalistas lá
interviram, para tentar derrotar a revolução. Sem solidariedade internacional dos
trabalhadores, a burguesia unida se tornaria capaz de “ajustar contas”, com cada movimento
trabalhador só e isolado. É preciso lutar unido, para se chegar ao socialismo. Ensina Oto
Kuusinen:

63
“A revolução socialista, em qualquer país capitalista abrange um período bastante longo de
transição do capitalismo ao socialismo. Ela começa com a revolução polítca, isto é, com a conquista
do poder estatal pela classe operária. Somente através do estabelecimento do poder da classe
operária pode decorrer a transição do capitalismo ao socialismo.”

“A missão histórica da revolução socialista consiste na liquidação da propriedade capitalista privada


sobre os meios de produção e das relações de produção capitalistas entre os homens, na sua
substtuição pela propriedade social, socialista, sobre os meios de produção e pelas relações de
produção socialistas. É impossível, porém, realizar esta substtuição, enquanto o poder pertence à
burguesia. O Estado burguês representa o principal obstáculo no caminho da transformação do
regime capitalista. Ele serve fielmente aos exploradores, protegendo sua propriedade. A fim de
arrebatar às classes dirigentes a sua propriedade e transferi-la a toda a sociedade, é preciso tomar o
poder polítco aos capitalistas e colocar no poder o povo trabalhador. O Estado da burguesia deve ser
substtuído pelo Estado dos trabalhadores.”

Cada povo revolucionário só chega ao poder através de uma coligação concreta de classes
progressistas, que varia com as circunstânncias de luta do próprio povo. Um bloco popular
para levar ao socialismo, deve desenvolver o poder polítco novo de acordo com as leis
específcas de sua sociedade. A solidariedade internacional é para tanto uma força decisiva.
Diz Kuusinen:

“As relações socialistas não podem nascer nos marcos do capitalismo. Elas surgem depois da
tomada do poder pela classe operária, quando o Estado dos trabalhadores nacionaliza a propriedade
dos capitalistas sobre os meios e produção, sobre as fábricas, usinas, minas, meios de transporte,
bancos, etc., convertendo-se em propriedade social socialista. Está claro que seria impossível fazer
isto antes que o poder passasse às mãos da classe operária.”

4 – A Luta de Classes. A Teoria Marxista da Luta de Classes.

O tpo de polítca que se vê, em certo período da vida social, refete a natureza do Estado
que ali existe, e como está a se transformar no emaranhado de contradições em que atua.
Em uma sociedade como a brasileira, que se apresenta imersa numa crise social, agravada de
quando em quando por crises econômicas sérias, quase sempre a situação polítca está
dividida em dois polos, um à direita e outro à esquerda. A direita compreende as forças
conservadoras e reacionárias, hosts a quaisquer reformas, e partdária da repressão aos
64
movimentos trabalhador e camponês. A esquerda compreende as forças que preferem
reformas, seja por interesses imediatos, seja por horizonte programátco. Ao buscar
mudanças, os elementos à esquerda querem o fm do imobilismo, o desenvolvimento
econômico social, a partr da pluralidade polítca. Cada força reformadora, sem abandonar
seu próprio programa, luta por um programa comum, capaz de produzir na prátca, soluções
positvas. Estas forças estão conscientes do caráter revolucionário, transformador, das
propostas que buscam efetvar. Este é o quadro de forças de um processo de luta de classes
avançado. Neste quadro de forças, todas as classes têm objetvos conscientes. Suas
lideranças possuem as insttuições necessárias à luta. Cada lado busca mobilizar massas de
milhões em apoio ao seu programa: deixar tudo como está; ou mudar tudo para melhorar.

Do lado da reação, encontra-se a burguesia comercial, sócia do imperialismo nas


exportações e importações, e na sugação da mais-valia dos trabalhadores brasileiros;
encontra-se o latfundiário; encontra-se parte da pequena burguesia hostl aos trabalhadores
e aos pobres; encontra-se parte de elementos de camadas médias novas, geradas pelo
processo de industrialização, e que temem por seus empregos e seu nível de renda.
Encontra-se o imperialismo.

Do lado da revolução democrátca, encontra-se a burguesia nacional, principalmente


consttuída de empresários industriais e granjeiros que prosperam com a polítca
nacionalista; encontra-se a intelectualidade pequeno-burguesa, com sua maioria
nacionalista, que no momento lidera e conduz a burguesia nacional; encontra-se o
proletariado urbano, com suas entdades de classe; encontra-se o campesinato pobre e os
camponeses-sem-terra, com suas entdades representatvas.

Encontra-se uma parte da pequena burguesia urbana e das novas camadas médias, ambas
as forças socialmente divididas. Entre estes dois campos que lutam pelos seus interesses de
modo consciente, situam-se milhões de indivíduos da massa do povo, membros de
diferentes classes, que, de dentro das trevas polítcas, ora apoiam um campo, ora apoiam
outro campo.

A luta do partdo operário é pelo esclarecimento polítco dessas massas de milhões, e pela
condução das mesmas ao seu campo correto, o campo do povo trabalhador. O partdo é
nessa tarefa o elemento essencial. Disse Sverdlov:

65
“O Leninismo nos ensina que as classes dominantes não abrirão mão do seu poder voluntariamente.
E o maior ou menor grau de intensidade que a luta possa assumir, o uso ou não-uso da violência na
transição para o socialismo, depende da resistência dos exploradores...”

Tal está conforme o ensinamento de Lênine:

“O Estado é a organização especial de um poder; é a organização da violência destnada a esmagar


uma certa classe. Qual é então a classe que o proletariado deve esmagar? Evidentemente apenas as
classes dos exploradores, quer dizer a burguesia. Os trabalhadores só têm necessidade do Estado
para reprimir a resistência dos exploradores: ora, somente o proletariado pode dirigir esta repressão,
realizá-la pratcamente, enquanto única classe revolucionária até o fim, única classe capaz de unir
todos os trabalhadores e todos os explorados na luta contra a burguesia, a fim de expulsá-la
totalmente do poder.”

Para tal, o partdo necessita se tornar dirigente de grandes massas, e virar a seu favor o
quadro polítco da relação de forças. Disse Lênine:

“A democracia tem uma importância considerável na luta que a classe operária trava contra os
capitalistas para sua libertação. Mas a democracia não é de forma alguma um limite que não se
poderia ultrapassar; ela não passa de uma etapa no caminho que leva do feudalismo ao capitalismo
e do capitalismo ao comunismo.”

Lênine esclareceu:

“A democracia é uma forma de Estado, uma de suas variedades. É, portanto, como todo Estado, a
aplicação organizada, sistemátca de coerção aos homens. Isto, por um lado: mas, por outro lado, ela
significa o reconhecimento oficial da igualdade entre os cidadãos, do direito igual para todos de
determinar a forma do Estado e de administrá-lo. Segue-se, pois, que, a um certo grau do seu
desenvolvimento a democracia de início une o proletariado, a classe revolucionária antcapitalista, e
lhe permite quebrar, reduzir a migalhas, fazer desaparecer da face da terra a máquina estatal
burguesa, seja burguesia republicana, exército permanente, polícia, burocracia, e... substtuí-la por
uma máquina estatal mais democrátca (... mas que nem por isso deixa de ser uma máquina do
Estado), sob a forma das massas operárias armadas e depois por todo o povo, partcipando
maciçamente das milícias.”

Quando o camarada Lênine formulou a teoria do quadro de forças, levou pela primeira vez
a ciência polítca a um nível independente de formulação, em relação à economia polítca,
Lênine demonstrou a relatva independência que a conjuntura polítca pode possuir em
66
relação à base econômica, qual seja, indicar “as folgas”, no encontro dos sistemas da
determinação social e econômica, que facultam o êxito, na ação consciente da luta polítca. A
compreensão da natureza da correlação de forças é fato decisivo para analisar corretamente
como se dispõe o quadro de forças em cada conjuntura e habilitar o partdo a atuar,
independentemente do fundamento estrutural do processo da crise. O plano de organização
da luta deve levar em consideração o ritmo potencial de mudança da conjuntura. Portanto, o
partdo não pode ser surpreendido pela mudança aparentemente brusca das formas de luta,
uma vez que as mesmas hajam sido detectadas como potencialidade do plano tátco geral.
Ensinou Lênine:

“A necessidade de inculcar sistematcamente nas massas esta ideia – e precisamente esta – da


revolução violenta está na base de toda a doutrina de Marx e Engels.”

“Sem revolução violenta, é impossível substtuir o Estado burguês pelo Estado proletário. A
supressão do Estado proletário, quer dizer a supressão total do Estado, só é possível pela via da
‘extnção’.”

“Marx e Engels desenvolveram estes pontos de vista de uma maneira detalhada e concreta,
estudando cada situação revolucionária isoladamente, analisando os ensinamentos trados da
experiência de cada revolução. Chegamos a essa parte incontestavelmente a mais importante de sua
doutrina.”

A divisão da sociedade em dois campos de força implica que um deles terminará por impor
sua vontade ao outro. Como disse Lênine, na tomada do poder, se há guerra civil, são duas
partes do povo que se encontra em luta, uma parte conduzida pelas classes dominantes e a
outra parte conduzida pelos seus verdadeiros interesses. A consciência ingênua das massas
permite que as mesmas sejam usadas como “carne de canhão”, pelas classes dominantes. Daí
a importânncia do elemento revolucionário em esclarecer o povo, indicando-lhe o que está
em jogo na presente luta. Diz a Resolução de dezembro de 1960:

“A coexistência pacífica dos Estados não implica em renúncia à luta de classes. A coexistência de
Estados de diferentes sistemas sociais é uma forma de luta entre o socialismo e o capitalismo.”

“Em condições de coexistência pacífica, são criadas oportunidades favoráveis para o


desenvolvimento de lutas de classes nos países capitalistas e no movimento de libertação nacional
dos povos dos países coloniais dependentes...”

67
“A coexistência pacífica de povos e diferentes sistemas sociais não significa conciliação das
ideologias socialista e burguesa. Pelo contrário, implica na intensificação da luta da classe
trabalhadora de todos os partdos comunistas pelo triunfo das ideias socialistas.”

O partdo tem assim por dever organizar as massas desde o mais baixo nível de suas
reivindicações, lutar por cada pequeno detalhe de seus direitos, antes de intentar movê-las
para objetvos mais complexos. Tem por obrigação organizar todos os degraus da luta
econômica, acompanhando o movimento espontânneo da sociedade, para depois consolidar
cada pequena conquista sob uma forma de movimento organizacional. Como está escrito na
linha do V Congresso (1960):

“A unidade da classe operária é condição básica para que ela possa desempenhar o papel dirigente
no movimento ant-imperialista e democrátco. Esta unidade se processa, fundamentalmente, através
do movimento sindical, em cujas fileiras se associam os trabalhadores para a luta por suas
reivindicações econômicas sociais. Os sindicatos e demais organizações profissionais não devem
servir a objetvos que dividam os operários, mas consttuir instrumentos da unidade de ação dos
trabalhadores ainda desorganizados e sem filiação partdária, que consttuem a maioria.”

“A fim de obter a unidade de ação, é necessário utlizar as conquistas da legislação social vigente e
procurar concretzá-la e aperfeiçoá-la, infuindo sobre o parlamento com a pressão de massas para
conseguir a aprovação de novas leis. Os comunistas atuam na organização sindical existente e
utlizam a Consolidação das Leis do Trabalho, procurando unir e organizar os trabalhadores na luta
por suas reivindicações.”

É a partr do desenvolvimento das ações unitárias das massas que desperta o entendimento
das mesmas para o caráter polítco das reivindicações mais simples. As classes dominantes
não gostam de nada ceder, nem minutos de descanso, nem o uso de um toalete limpo aos
trabalhadores. Na luta pelas pequenas reivindicações, ao abordar uma pauta mínima e
buscar soluções positvas: as amplas massas começam a perceber sua força e a descobrir seu
verdadeiro destno. Diz a Resolução do V Congresso:

“A unidade só terá bases sólidas e duradouras se o movimento sindical contar com a partcipação
atva das massas trabalhadoras, se não for um movimento apenas de cúpula. A organização dos
trabalhadores nos próprios locais de trabalho, nas empresas, é o passo decisivo para estreitar os
laços entre sindicatos e a massa de associados, bem como para organizar as massas ainda não

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sindicalizadas. Uma preocupação constante deve ser também a organização sindical das categorias
de trabalhadores ainda desorganizados.”

“O movimento sindical se desenvolve na medida em que se fortalece a unidade de ação dos


trabalhadores nos sindicatos, federações e confederações. Devido à inexistência de uma estrutura
sindical de tpo horizontal, os pactos, conselhos e outras formas de acordos intersindicais
desempenham importante papel, na coordenação das lutas do proletariado. Tais formas de acordo
intersindicais não podem, porém, ser colocados em contraposição à atual estrutura sindical existente
no país, nem servir de pretexto para desviar o movimento sindical dos sindicatos e federações e
confederações. Ao contrário, os pactos intersindicais, para cumprir plenamente seu papel unitário,
devem contribuir, sem qualquer exclusivismo, para que sejam encontradas as formas de organização
que permitam coordenar melhor o movimento operário dentro da estrutura sindical legal. Atuando
nos quadros dessa estrutura, o proletariado vem criando formas intersindicais de organização e, no
curso de suas lutas, conseguirá aperfeiçoar a estrutura do tpo vertcal, coroando-a com a insttuição
legal da forma horizontal de organização desde o município e o Estado até a central unitária que será
a expressão da unidade nacional dos trabalhadores, meta para a qual deve marchar o movimento
operário brasileiro.”

Assim que é necessário e decisivo, para a luta da classe trabalhadora e para a vitória do
programa da frente única, a unidade desde a base da classe operária com o povo
trabalhador, reduzindo o espaço polítco de manobra das forças conservadoras e
reacionárias. A organização das amplas massas do povo, a partr de sua vida real nas
localidades, bairros e fábricas, é a verdadeira fonte organizatva da vitória popular. Como diz
a Resolução do V Congresso:

“A tarefa principal dos comunistas no trabalho das massas consiste em fortalecer a unidade e a
organização da classe operária para que ela desempenhe o papel dirigente no movimento ant-
imperialista e democrátco. A fim de cumprir essa tarefa, os comunistas devem intensificar a
aperfeiçoar cada vez mais a sua atuação no movimento sindical.”

“Os Sindicatos e demais organizações profissionais não devem servir a objetvos que dividem os
operários, mas consttuir instrumentos de unidade de ação dos trabalhadores de todas as tendências
ideológicas e polítcas que atuem no movimento sindical e dos trabalhadores ainda desorganizados e
sem filiação partdária. Para obter a unidade de ação os comunistas atuam na organização sindical
existente e utlizam a Consolidação das Leis do Trabalho, procurando organizar os trabalhadores na

69
luta por suas reivindicações. Ao mesmo tempo em que defendem as conquistas da legislação social,
devem chamar as massas a concretzá-la, aperfeiçoá-la e ampliá-la.”

Só é possível construir uma linha de ação de massas retrando os quadros que hão de dirigir
tal movimento da própria massa do povo. Somente a luta organizada com base nas
proposições mais amplas nascidas da massa pode educar as massas em ampla escala no nível
polítco. Somente a formação de quadros a partr das lutas mais amplas do povo pode isolar
os elementos reacionários e conservadores e pôr em marcha um grande movimento.

Não se pode atribuir apenas às massas as suas reivindicações. O leninismo nos ensina que
nos movimentos sociais concretos expressam-se associações e dissociações do ponto de vista
de classe, apresentando-se muitas vezes como um movimento confuso, mas com
reivindicações claras. O leninismo nunca deixa de lado as exigências concretas de cada
movimento social. Ele sempre busca desvendar a sua base de classe, a força ali hegemônica e
o sentdo de sua reivindicação. Para tanto, deve partcipar da luta reivindicatória e ajudá-la a
ser conduzida a um desfecho com êxito. A possibilidade de vitória nasce desses pequenos
êxitos. Como diz a Proposta de Programa (1960):

“As forças mais consequentes da frente única, em partcular a classe operária, contnuarão a luta por
medidas mais enérgicas e profundas contra o imperialismo e a reação interna. A fim de defender as
conquistas já alcançadas e prosseguir nas transformações exigidas pelo desenvolvimento do País,
será necessário, portanto, um processo de radicalização da composição e da polítca do governo
nacionalista democrátco, o que conduzirá a perda de posições de elementos conciliadores e
vacilantes.”

“Dessa maneira, num prazo dependente das circunstâncias concretas, será possível alcançar a
mudança essencial na correlação de forças, que permitrá o salto revolucionário, com a restauração
de um novo Poder Estatal capaz de levar à prátca as transformações radicais da etapa ant-
imperialista e antfeudal da revolução brasileira.”

A teoria marxista da luta de classes, portanto, alia o seu caráter de validade universal de sua
análise à adequação sempre concreta necessária à condução das alianças de classe e de
grupos sociais em cada país. Ao analisar as forças sociais em presença em cada formação
econômico-social concreta, procura estabelecer caminhos tátcos que correspondam à
natureza local das formas de luta, sempre indicando, contudo, a importânncia do conjunto da

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situação. Assim, os teóricos marxistas, ao formular tátcas de acumulação de forças, evitam
se descolar da realidade. Diz a Proposta de Programa:

“Sustentada, basicamente, pelas suas forças internas, a revolução brasileira contará com o apoio
eficiente dos países socialistas no que se refere à sua segurança diante das tentatvas de agressão do
imperialismo norte-americano e igualmente no que se refere à ajuda concreta para o
desenvolvimento econômico e a construção das bases materiais do socialismo.”

Para cumprir suas tarefas, o proletariado brasileiro necessita de seu próprio partdo, como
aponta a Proposta (1960):

“Vanguarda organizada da classe operária em nosso País, o Partdo Comunista Brasileiro orienta-se
pela teoria marxista-leninista e deve dedicar o máximo de seus esforços para circular a ideologia
socialista na consciência da classe operária elevando a sua massa fundamental ao nível da
consciência revolucionária.”

“Fiel à sua tradição, o PCB se encontra fraternalmente ligado ao movimento operário internacional,
com o qual possui em comum a teoria marxista-leninista, os ideais comunistas e a vitoriosa
experiência acumulada em mais de quarenta anos de lutas.”

Dessa forma, os comunistas brasileiros estão conscientes de que fazem parte de uma classe
internacional, dentro do sistema capitalista, e não fomentam a ilusão de que o caráter
nacional de sua luta não faça parte das transformações mundiais de sua época. Como
explicou o camarada Oto Kuusinen:

“Só é possível dirigir as massas levando em conta sua experiência e nível de consciência, sem se
separar de sua realidade, sem correr à frente. Em caso contrário, há risco de que a vanguarda fique
em situação lamentável, perdendo o vínculo com as forças fundamentais afastadas dela.”

“Entretanto, levar em conta o nível de consciência das massas nada tem de comum com a
adaptação a este nível, com o nivelamento no atraso. Tal compreensão da ligação com as massas é
própria do oportunismo. Os comunistas compreendem as coisas de modo diverso. Não futuam de
acordo com a vontade das ondas.”

“Ao generalizar a experiência da sua classe e do seu povo, ao compreendê-la à luz da história e da
teoria marxista, o partdo comunista tem a possibilidade de colher as tendências, que ainda não se
manifestaram inteiramente, mas que pertencem ao futuro. Nada inventando, o partdo marxista se

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baseia na vida, mas vai à frente do movimento espontâneo, indica-lhe o caminho, porque sabe propor
oportunamente a solução dos problemas que agitam o povo.”

“O Partdo pode dirigir as massas e instruí-las se ele próprio aprende com as massas, isto é, estuda
atentamente o que nasce na prátca popular, absorvendo a sabedoria do povo. Aprender com as
massas a fim de ensinar às massas – eis o princípio da direção marxista-leninista, que todos os
partdos comunistas seguem. Os comunistas chineses o denominam de ‘linha de massas’.”

5 – A Unidade e Importância das Diferentes Formas de Luta de Classes. Necessidade do


Partdo Polítco da Classe Operária.

Ao contrário do que pensam os ideólogos da reação, a luta de classes não é um processo


subjetvo fomentado por atçadores de confitos. Ela não depende em absoluto de que se
tenha consciência pessoal de que ocorre, tornando-se quando ignorada ainda mais brutal e
implacável. A história está cheia de confitos desesperados, não negociados, levados passo a
passo até a destruição de grupos ou classes inteiras. Numerosos historiadores do século XVIII
e XIX descobriram o fenômeno da luta de classes, formulando então teoricamente suas
característcas. Marx e Engels apenas se encontram entre tais observadores materialistas,
não lhes ganhando em antecedência.

A análise dos diferentes modos de produção ao longo da história indica que a propriedade
privada dos meios de produção é a verdadeira fonte da persistência da injusta distribuição da
riqueza e do bem-estar público, com muitos trabalhando em excesso sem nada possuir de
seu, e uns poucos se apossando pratcamente de tudo que existe. Semelhante injustça social
entra pelos olhos das pessoas mais tolerantes, gerando-se no curso de vidas e gerações lutas
encarniçadas entre exploradores e explorados, seja sob a capa do ato de desespero
individual, seja sob a forma do protesto aberto de grupos organizados. Na sociedade
capitalista, o fenômeno da luta de classe se ampliou sob a forma de lutas econômicas e
polítcas, aglutnando-se em campos opostos de força, com desdobramentos estratégicos e
tátcos, onde cada campo busca impor a sua vontade. O partdo, sem se confundir com a
massa, luta sem trégua para fazer da luta de classes um processo consciente na cabeça de
cada trabalhador e de cada membro pobre do povo. Ensinou Lênine:

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“Dirigir as massas não significa doutriná-las a toda hora. É preciso partcipar na resolução das
questões mais prosaicas e, esclarecendo-as segundo as posições marxistas, esforçar-se para
‘conquistar’ com a sua energia, com a sua infuência ideológica (e não com os seus conhecimentos e
graus, está claro), um papel dirigente...”

Assim, as diferentes classes produzem, por necessidade estrutural, insttuições e órgãos de


representação, entre os quais estão os partdos polítcos. A vantagem do partdo operário
sobre todos os demais é que ele está perfeitamente consciente de seu papel e de sua
missão, não se deixando enganar, nem enganando, através de símbolos e mitos falsifcados e
supostamente universais. Sendo um partdo baseado em objetvos claros e num programa
claro, o partdo do proletariado indica claramente a todas as forças sociais para onde vai e
qual o processo para se chegar à vitória.

Isso torna o partdo operário não só necessário para a classe operária, mas para todas as
classes. A dominação do latfúndio e da burguesia se baseia no engodo, na mentra, na
tergiversação. Seus polítcos são para o povo, indiferentes, ou inimigos jurados. Nada do que
dizem cumprem, a não ser que sejam ameaças. Montada em feroz demagogia e decepção, a
polítca burguesa só se torna séria quando tem que enfrentar o partdo operário e o
movimento operário. Podem até, para sobreviver, cumprir promessas feitas as outras classes.
Lênine afrmou:

“A conquista do Poder polítco pelo proletariado é um progresso gigantesco deste últmo


considerado como classe; e o Partdo se encontra na obrigação de consagrar-se mais, de um modo
novo e não por métodos antgos, à educação dos sindicatos, a dirigi-los, sem esquecer, entretanto,
que esses sindicatos são e serão, entretanto, durante muito tempo, uma ‘escola de comunismo
necessária’, a escola preparatória dos proletários para a realização de sua ditadura, a associação
indispensável dos trabalhadores para o passo progressivo da direção de toda a economia do País,
primeiro nas mãos da classe operária (e não de profissões isoladas) e depois nas mãos de todos os
trabalhadores.”

Portanto, uma associação de trabalhadores não se põe a serviço apenas daquela categoria
que representa, mas se esforça para melhorar o todo social, sendo uma escola para o futuro
de progresso contnuado. Luta por objetvos específcos, mas como movimento operário,
está chamada a uma responsabilidade maior, a de partcipar na criação de um mundo novo.
A luta de libertação nacional requer transformações democrátcas para se consolidar e seguir

73
adiante. O partdo operário e o movimento operário dessa forma jamais desapontam os seus
aliados, na luta para melhorias polítcas e sociais que fortaleçam o país.

Para o partdo operário, o movimento operário se baseia na unidade sindical. A luta pela
centralização do movimento sindical não pode ser prejudicada pela ideologia do inimigo,
mesquinharias, etc. Tratando cada divergência com toda seriedade, os dirigentes sindicais do
partdo constroem a unidade sindical em entdade por entdade, com base na paciência e na
persuasão, esclarecendo cada problema e superando cada difculdade. Seria um absurdo
permitr que no meio sindical prevalecesse a ideologia social da burguesia. Ensinou Lênine:

“Aqui ‘a quantdade se transforma em qualidade’: chegado a este grau, o democratsmo sai do


marco da sociedade burguesa, e começa a evoluir para o socialismo. Se todos partcipam de fato da
gestão do Estado, o capitalismo não se pode mais manter. O desenvolvimento do capitalismo cria, por
sua vez, todas as condições necessárias para que ‘todos’ possam partcipar na gestão do Estado.
Estas condições são, entre outras, a instrução geral já realizada por vários países capitalistas mais
avançados, depois a ‘educação e a formação na disciplina’ de milhões de operários pelo aparelho
socializado, imenso e complexo que são os correios, as estradas de ferro, as grandes usinas e o
grande comércio, os bancos, etc.”

Existem aqueles que preferem ver no avanço do movimento trabalhador uma ameaça à
democracia quando veem apenas uma ameaça aos seus próprios interesses. Sendo
detentores de muita renda ou riqueza, compreendem que o despertar das massas irá retrá-
los dessa situação de monopólio e que terão que saber repartr algo que têm com quem
nada tem. Esta possibilidade os torna intolerantes, reacionários e até criminosos. Contudo,
esta não será a situação da maioria da população. Aqueles que muito têm pertencem a
classes minoritárias e não raro até parasitárias. Muitos estão encarapitados em máquinas
coloniais herdadas de família, com benesses que duram há séculos. Não podem expressar a
maioria das classes na população. Pelo contrário, a maioria da população, expressando o
movimento social de diferentes classes, é que pode conquistar um novo tpo de governo,
capaz de levar o país pelo caminho das reformas de base. Diz a nossa linha polítca:

“A fim de conseguir a formação de um governo nacionalista e democrátco, as forças patriótcas e


populares devem orientar sua atvidade em três direções principais que se entrelaçam em sua
aplicação: (a) Lutar por reformas de estrutura, por soluções nacionalistas e democrátcas que atnjam
efetvamente o imperialismo e o latfúndio. Ao mesmo tempo em que lutam pelas reformas de base,

74
os comunistas exigem do Poder Executvo medidas imediatas e concretas para enfrentar as
dificuldades mais agudas do momento, medidas que podem ser tomadas independentemente de
aprovação legislatva, vindo a substtuir um passo inicial no sentdo da realização de reformas
estruturais. (b) Combater as concessões do atual Governo ao imperialismo e as forças reacionárias,
as falsas reformas de base que vem propondo e a sua polítca de conciliação com os inimigos da
Nação. Um poderoso movimento popular pode levar essa polítca ao fracasso, provocar choques no
seio do próprio Governo. Com a intervenção das massas, estes choques conduzirão ao isolamento,
abrindo caminho para a formação de um governo nacionalista e democrátco. (c) Lutar para
desenvolver os aspectos positvos da polítca realizada pelo setor da burguesia nacional no Poder. Na
medida em que se conseguir, através da pressão de massas, manter e desenvolver estes aspectos
polítcos, é possível aprofundar as contradições com as forças reacionárias, inclusive no seio do
Governo, criar as condições para derrotá-las e impor novos avanços no processo democrátco.”

O sistema parlamentarista imposto ao país pelos golpistas que derrubaram o governo Jânnio
deve ser enfrentado pelo movimento popular e utlizado como meio de frustrar as suas
maquinações contra o povo e a favor de uma nova tentatva de golpe. A maioria das forças
sociais do país demonstrou na luta de agosto-setembro (1961), que não se apoia o golpe de
Estado e que apoiava a transição pacífca do país para um governo popular, que promova as
reformas necessárias. O partdo e seus aliados no movimento polítco devem ampliar
estrategicamente a ação do movimento de massas, de modo a bloquear a iniciatva da
reação parlamentar e do inimigo golpista. Somente a ampla luta das massas populares pode
afançar o avanço das forças progressistas, conferindo-lhes a iniciatva necessária. Como diz
nossa Resolução:

“Na medida em que se conseguir, através da pressão das massas, manter e desenvolver estes
aspectos positvos, é possível aprofundar as contradições com as forças reacionárias, inclusive no seio
do Governo, criar as condições para derrotá-las e impor novos avanços no processo democrátco.”

É preciso, pois, pela luta de massas, criar as condições à formação de um novo gabinete
parlamentar que não seja de conciliação com os elementos reacionários derrotados em
agosto-setembro, mas que expresse uma qualidade nova, voltada para as reformas de base.
Uma polítca de alianças só se torna sólida se não se alimentar do ar mais vazio. É preciso
organizar e mobilizar setores de todas as classes em torno de suas reivindicações mais
sentdas. É preciso fazer sentr ao poder parlamentar a profundidade das reivindicações das

75
massas do povo, criando novas formas de levá-las até os representantes eleitos e pressioná-
los para que abandonem seus conchavos com a reação.

A luta polítca tornou-se aberta desde os erros do governo Jânnio Quadros, e as massas têm
compreendido o desejo dos elementos retrógrados em ganhar tempo, para retomar a
ofensiva golpista. Para os golpistas, o grau de amadurecimento do movimento de massas se
tornou insuportável. Apesar de gastarem dezenas de milhões para promover seus
candidatos, marcham, com certeza, para a derrota eleitoral. Dessa maneira, manobram
desesperadamente para ganhar tempo e preparar um novo golpe de Estado, que lhes
permita mudar em condições favoráveis a forma de luta. Como aponta nossa Resolução:

“A polítca de conciliação se realiza em detrimento dos interesses nacionais e populares e conduz,


inevitavelmente, ao maior agravamento dos problemas que o País enfrenta.”

Quanto mais as forças progressistas dentro do governo forem levadas à contemporização,


esperando reforçar a sua base de apoio com o resultado das próximas eleições, em outubro
vindouro, tanto mais há de se verifcar a intervenção aberta dos agentes imperialistas, em
apoio à reação. Diz nossa Resolução:

“A conquista de um governo nacionalista e democrátco resultará de uma mudança na correlação de


forças polítcas, de uma intensa luta de todos os brasileiros interessados no progresso e na libertação
nacional, e não da simples substtuição de alguns homens no Poder. Para que seja formado um
governo desse tpo, é necessário mudar o atual sistema de forças, que compõe o governo e derrotar a
polítca de conciliação com o imperialismo e o latfúndio. Um governo nacionalista e democrátco não
pode ser formado tendo por base o compromisso entre a burguesia nacional e as forças reacionárias,
expressa no acordo PTB-PSD, que serve de fundamento ao atual governo do Sr. João Goulart.”

6 – Conclusões.

Vimos que a luta de classes é um resultado objetvo da existência de exploração, nas bases
econômicas organizadas segundo a propriedade privada dos bens de produção. A luta de
classes, sendo objetva, como as próprias classes sociais, não necessita ser percebida, ou
tornada consciente pelas pessoas para que ocorra. Entendemos que é até melhor se estar

76
consciente da existência das classes e de suas lutas, para que se possa buscar caminhos
racionais de solução dos problemas, aparentemente pessoais ou abertamente sociais.

Entendemos também que os movimentos sociais resultam de encontros necessários ou


ocasionais de grupos de diferentes classes, que se unem para buscar soluções concretas para
os graves problemas de suas vidas. Aprende-se assim, que as classes não só se organizam de
modo puro, enquanto classe em si ou classe para si, como também se organizam ou criam
insttuições ou mobilizações misturadas, partcipando desse modo na vida econômica, social,
polítca, etc.

Entre as insttuições de classe ou que apresentam hegemonia de classe estão os partdos


polítcos. Quase todos, em partcular os dominantes, costumam enganar a opinião pública e
as massas de classe, se apresentando como “estruturas plurais”,, a serviço de todos,
mascarando seus verdadeiros objetvos de classe. Tal não se dá com o partdo marxista-
leninista, que se apresenta abertamente como o partdo de classe operária e da aliança
operário-camponesa. O partdo comunista afança sua dignidade na luta ao apresentar os
seus objetvos para todos e fazendo proposições concretas e progressistas para a parte da
sociedade em que se situa. Ao não mascarar seus objetvos, tem a certeza de representar o
menor custo social possível para uma polítca de mudanças, que deve ser obtda
civilizadamente e por caminho racional.

Vimos assim que seu programa está sempre a descoberto e que ele confa na maioria para
tornar o mundo melhor. O partdo operário não pretende governar sem o apoio da maioria.
Seu programa no Brasil atual é ant-imperialista, pela reforma agrária e de ampla
partcipação democrátca na luta pela liberdade nacional e social. Vimos que os marxistas
estendem a mão a todos e todas que se interessam por reformas profundas na sociedade
brasileira, e os convida a debater e a aperfeiçoar o programa de reformas.

77
Perguntas.

1. Que entende por libertação nacional?

2. Que entende por libertação social?

3. Apresente um esquema das classes na sociedade brasileira.

4. Qual a diferença entre base econômica e divisão social do trabalho?

5. Dê um conceito de classe social.

6. Qual o papel do Estado na sociedade de classes?

7. O Estado pode mudar de natureza?

8. Que entende por ditadura de classe?

9. Como surgiu o Estado?

10. Há relação entre Estado e a base econômica?

78
Aula 3

79
3 – A Economia Mercantl – A Exploração Capitalista.

As desigualdades no processo de formação da riqueza em diferentes grupos sociais e em


diferentes regiões, a submissão polítca de uma região a outra através de confitos, etc.,
foram unifcando os mercados antgos e impondo a crescente produção para trocas e para
compra e venda. Isto é, aumentou cada vez a necessidade de tornar os produtos produzidos
em mercadoria, elemento de compra e venda. Tal pode ser estudado por um período de três
mil anos, aumentando sempre de importânncia da produção mercantl. No princípio, ela podia
ser obtda com o trabalho coletvo das famílias, artesanato doméstco, ou se caracterizar
como produção de excedentes em certas aldeias para troca por produtos faltantes ou para o
comércio. O modo escravista de produção se expandiu com a produção mercantl de
escravos nos campos e nas ofcinas. No entanto, ao longo dos séculos, principalmente no
Ocidente europeu a partr do século XI, os trabalhadores das ofcinas tenderam a ser
remunerados com soldos ou salários. Eram, como meio-ofciais ou aprendizes, explorados
pelas famílias proprietárias das ofcinas, que em geral também trabalhavam nelas.

O avanço da produção mercantl na sociedade de classes é o ponto de partda para o


aparecimento do capitalismo. Com a desagregação das relações feudais, o sistema mercantl
iria servir de fundação para o aparecimento da produção capitalista. Mais uma vez a
propriedade privada sobre os meios de produção (terras, ferramentas, máquinas, ofcinas...)
iria incrementar novas e sucessivas divisões sociais no processo de trabalho, conduzindo
passo a passo à exploração capitalista. Ensina Ostrovitanov:

“O modo de produção capitalista, que sucede o modo de produção feudal, baseia-se na exploração
da classe dos trabalhadores assalariados pela classe dos capitalistas. Para compreender a essência
do modo de produção capitalista há que ter presente, primeiramente, que este se baseia na produção
mercantl.”

“A produção mercantl exista já, como vimos, durante os regimes escravagista e feudal. No período
de desagregação do feudalismo, a produção mercantl simples serviu de base ao nascimento da
produção capitalista.”

“A produção mercantl simples pressupõe, em primeiro lugar, a divisão social do trabalho, em


resultado da qual os diversos produtores se especializam na feitura de diferentes produtos, e, em
segundo lugar, a propriedade privada dos meios de produção e dos produtos do trabalho.”

80
“A produção mercantl simples dos artesãos e camponeses distngue-se da produção mercantl
capitalista na medida em que se baseia no trabalho pessoal do produtor das mercadorias. Mas, ao
mesmo tempo, é do mesmo tpo que ela, pois pressupõe a propriedade privada dos meios de
produção. A propriedade privada provoca inevitavelmente entre produtores de mercadorias a
concorrência que conduz ao enriquecimento de alguns e ao empobrecimento da maioria. Isto faz com
que a pequena produção mercantl consttua o ponto inicial do nascimento e desenvolvimento das
relações capitalistas.”

“A produção mercantl adquire no capitalismo um caráter predominante e universal”. “A troca de


mercadorias, escreveu Lênine, é ‘a relação mais simples, habitual, fundamental, geral e comum, que
se encontram milhões de vezes – a relação da sociedade burguesa (mercantl)’.”

1 - A Economia Mercantl: Seus Traços Fundamentais.

A produção mercantl simples se caracteriza por ser trabalho individual dos artesãos e
camponeses, que são os produtores dos produtos que são vendidos como mercadorias. Isso
a torna diferente da produção mercantl capitalista, que se apoia na propriedade privada dos
meios de produção. A tendência privada da base econômica é ampliar contnuamente os
mercados, com base na busca do maior lucro possível, provocando a concorrência entre os
produtores mercants simples, levando uns à ruína e outros a se tornarem capitalistas. Dessa
forma, avançam as relações capitalistas e antgos produtores simples se convertem em
trabalhadores assalariados. Desenvolvem-se as relações capitalistas. Diz Ostrovitanov:

“A mercadoria é, antes de mais, uma coisa que satsfaz uma determinada necessidade do homem e
que, além disso, é produzida não para o consumo próprio, mas para a troca.”

“A utlidade de uma coisa, as qualidades que lhe permitem satsfazer tais ou tais necessidades do
homem, fazem dela um valor de uso. Este pode satsfazer diretamente as necessidades pessoais do
homem ou servir de meio de produção de bens materiais. O pão, por exemplo, satsfaz a necessidade
de alimentação, os tecidos satsfazem a necessidade de vestr; o valor de uso de um tear consiste em
que ajuda a fazer tecidos. No decurso do desenvolvimento histórico, o homem vai descobrindo nas
coisas novas qualidades úteis e novos modos de empregá-las. ”

81
“Muitas coisas que não são produto do trabalho do homem possuem um valor de uso como, por
exemplo, a água natural ou frutos silvestres. Mas nem tudo que possui valor de uso é mercadoria.
Para tal é necessário que seja produto do trabalho e que se produza para os outros, para venda.”

O produtor simples de mercadorias podia trocá-las por outras mercadorias ou bens de que
necessitasse, mas principalmente levá-las ao mercado e vendê-las. Uma larga experiência de
trocas no mercado local, à base da tentatva de achar um preço justo, empregava o método
popular do erro-e-acerto. Esse preço “achado”, pelos produtores simples foi a base do preço
adotado pelos produtores capitalistas de mercadorias, que então – é óbvio – “acharam”, seus
custos pela prátca de preços historicamente determinada, fxando desde aí o aproximado do
valor da mercadoria e a taxa de salários. Diz Ostrovitanov:

“As mercadorias, em determinadas quantdades, equivalem-se umas às outras, o que quer dizer que
têm uma base comum. Esta base não pode ser evidentemente, nenhuma das suas qualidades
naturais, o peso, o volume, a forma, etc. As qualidades naturais das mercadorias determinam a sua
utlidade, o seu valor de uso. Condição necessária para troca de mercadorias é a diferença entre os
seus valores de uso. Ninguém trocaria mercadorias de idêntco valor de uso, por exemplo, trigo por
trigo ou açúcar por açúcar. Mas sendo qualitatvamente diferentes os valores de uso de diversas
mercadorias são quanttatvamente incomensuráveis entre si.”

“A única qualidade comum contda nas diversas mercadorias e que permite compará-las entre si na
troca é que todas elas são produtos do trabalho. O que serve de base à equiparação de duas
mercadorias trocadas é o trabalho social necessário para produzi-las. Quando o produtor chega ao
mercado com o machado, para trocá-lo por outros produtos, verifica que lhe dão por ele 20 quilos de
grão. Isto significa que o machado vale a mesma quantdade de trabalho social que os 20 quilos de
grão. O valor é o trabalho social dos produtores materializado nas mercadorias.”

“Que o valor das mercadorias materializa o trabalho social necessário para produzi-las é confirmado
por fatos conhecidos de todos. Certos bens materiais como o ar que se respira, embora úteis em si,
como não representam um emprego de trabalho, não encerram nenhum valor. Pelo contrário
mercadorias cuja produção requer grandes quantdades de trabalho, como ocorre com o ouro ou os
diamantes, possuem um valor muito elevado. É frequente o caso de mercadorias que antgamente
eram caríssimas e que se tornaram bastante mais baratas quando o progresso técnico reduziu a
quantdade de trabalho necessário para produzi-las.”

82
O processo de produção capitalista leva a produção mercantl a se tornar universal,
absolutamente dominante. Os produtores simples veem-se arruinados, o seu processo de
trabalho é incorporado como técnica de produção ao maquinário do capitalista, que
submete o conjunto da produção à lei do lucro. Os produtores simples chegam assim a
extnguir-se em determinados ramos. No longo prazo, seu domínio técnico tende a se perder
como habilidade individual, devendo de fato ser “reinventado”, a cada geração.

Portanto, a mercadoria apresenta um duplo caráter quanto ao trabalho que nela está
materializada. Ela é (a) uma coisa capaz de satsfazer uma necessidade humana qualquer,
mas também é (b) algo produzido para a venda e não diretamente produzida para o
consumo (um produto). Diz Ostrovitanov:

“A troca de mercadorias é determinada pela divisão social de trabalho entre os seus produtores. Os
produtores de mercadorias, quando equiparam diversas mercadorias entre si, equiparam,
simultaneamente, os seus diversos tpos de trabalho, estabelecem determinadas relações entre si.
Estas relações estabelecem-se no processo de atvidade produtva e manifestam-se na troca das
mercadorias. Consequentemente, o valor expressa as relações de produção entre os produtores de
mercadorias.”

“A mercadoria possui um duplo caráter: por um lado, é valor de uso e, por outro, valor. Este duplo
caráter da mercadoria corresponde ao duplo caráter do trabalho nela materializado. As modalidades
de trabalho são tão variadas como os valores de uso produzidos. O trabalho do carpinteiro distngue-
se qualitatvamente do trabalho do alfaiate, do sapateiro, etc. Os diversos tpos de trabalho
diferenciam-se uns dos outros pela finalidade, pelos métodos e ferramentas e, finalmente, pelos seus
resultados. O carpinteiro trabalha com o machado, a serra e a plaina e produz objetos de madeira:
mesas, cadeiras, armários; o alfaiate produz peças de roupa com a ajuda da máquina de costura, as
tesouras e a agulha. Em todo o valor de uso se plasma e materializa, pois, uma determinada
modalidade de trabalho: na mesa o trabalho do carpinteiro; no fato o trabalho do alfaiate; no sapato
o do sapateiro e assim sucessivamente. Este trabalho empregue sob uma determinada forma é o
trabalho concreto. O trabalho concreto cria o valor de uso de mercadoria.”

Assim, o conteúdo material da riqueza está compreendido nos valores de uso,


independente da forma social que este venha a assumir. Isto porque, na economia mercantl,
o valor de uso é o portador do valor de troca da mercadoria. Na verdade, o valor de troca há
de manifestar-se como uma expressão quanttatva com que os valores de uso de dado tpo

83
vem a ser trocados por valores de uso de um outro tpo. Assim se expressa o seu valor de
troca. Como explica Ostrovitanov:

“Através da troca comparam-se e equiparam-se entre si as mais diversas mercadorias, produto de


diferentes modalidades de trabalho concreto. Isto significa que encoberto pelas diversas modalidades
concretas de trabalho há algo geral, inerente a todo trabalho, seja qual for.”

“Tanto o trabalho do carpinteiro como o do alfaiate, apesar das diferenças qualitatvas existentes
entre eles, representa uma utlização produtva das energias cerebrais, nervosas, musculares, etc., do
homem e, assim considerados, ambos consttuem modalidades de um trabalho humano igual, do
trabalho em geral. O trabalho dos produtores de mercadorias, considerado como utlização da sua
força humana de trabalho em geral, independentemente da forma concreta que apresente, é o
trabalho abstrato. O trabalho abstrato cria o valor da mercadoria.”

“Trabalho abstrato e trabalho concreto são dois aspectos distntos do trabalho materializado na
mercadoria.” “Todo trabalho é, por um lado, desgaste da força humana de trabalho no sentdo
fisiológico, e, como tal, sendo trabalho humano igual ou trabalho humano abstrato, forma o valor da
mercadoria”. “Mas todo trabalho é, por outro lado, dispêndio da força de trabalho humano sob uma
forma especial e dirigida a um fim e, como tal, sendo trabalho concreto e útl, produz os valores de
uso.”

Mais uma vez estão os homens situados de duas margens opostas quanto à produção e a
apropriação da riqueza, ou seja, aqueles que a produzem são comandados por aqueles a
quem cabe distribuí-la. Sendo a mercadoria de um lado valor de uso, e de outro, valor de
troca, vê-se o duplo caráter do trabalho que se cristaliza na mercadoria. Para tantos valores
de uso que se tenham produzido, assim, tantos serão os tpos de trabalho existentes. Os
objetvos, os métodos, os instrumentos e os resultados fazem diferir os tpos de trabalho. No
entanto, consttuem em sua essência trabalho. Explica-nos Ostrovitanov:

“Na sociedade em que impera a propriedade privada dos meios de produção, o duplo caráter do
trabalho materializado na mercadoria refete a contradição entre o trabalho privado e o trabalho
social dos produtores de mercadorias. A propriedade privada dos meios de produção divide os
homens, faz do trabalho de cada produtor de mercadorias um seu assunto privado. Cada produtor de
mercadorias orienta a sua economia à parte do outro. O trabalho dos diferentes produtores não se
coordena nem se harmoniza ao nível da sociedade no seu conjunto. Mas, por outro lado, a divisão
social do trabalho implica a existência de múltplas ligaçees entre os produtores, que trabalham uns

84
para os outros. Quanto maior é a divisão de trabalho na sociedade, mais variados e diversos são os
produtos criados pelos diferentes produtores e maiores os vínculos mútuos de dependência entre eles.
Isto faz com que o trabalho de cada produtor seja, no fundo, um trabalho social, parte do trabalho da
sociedade no seu conjunto.”

O que se oculta assim no processo de trabalho e que é inerente a qualquer trabalho? A


velha contradição entre o caráter privado e o caráter social. Há um tempo de trabalho
socialmente necessário para a elaboração de qualquer mercadoria, nas condições normais
de produção. O trabalho dos produtores, na produção mercantl, tem um aspecto privado
para cada um, mas tem igualmente uma função social na distribuição e no funcionamento da
base econômica. Ensina Ostrovitanov:

“A contradição inerente à produção mercantl consiste, portanto, em que o trabalho dos produtores,
sem deixar de ser, diretamente, assunto privado de cada um, tem ao mesmo tempo um caráter social.
O isolamento dos produtores de mercadorias faz com que o caráter social do seu trabalho fique
oculto ao processo de produção. Isoladamente, cada produtor de mercadorias cria, com o seu
trabalho privado concreto, valores de uso, ignorando as necessidades efetvas da sociedade. O
caráter social do trabalho do produtor de mercadorias manifesta-se somente no processo de troca,
quando a mercadoria é lançada no mercado para ser trocada por outra. Só no processo de troca se
revela se o trabalho de determinado produtor de mercadorias é considerado necessário para a
sociedade e aceite por esta.”

“O trabalho abstrato, que forma o valor da mercadoria, é uma categoria histórica, uma forma
específica do trabalho social, próprio da economia mercantl. Na economia natural, os homens não
criam produtos para troca, mas apenas para a satsfação das suas próprias necessidades, o que faz
com que o caráter social do seu trabalho se manifeste diretamente na sua forma concreta.”

Embora a produção capitalista, como uma forma privada mais produtva de exploração do
trabalho, tenda a ocupar todos os vazios, todos os interstícios das formas anteriores de
produção sobreviventes, não se deve confundir as formas pré-capitalistas de produção e de
exploração do trabalho com as formas capitalistas. A apropriação do trabalho dos
camponeses sob a forma de renda trabalho, produto ou dinheiro não pode ser confundida,
quando “sobrevivente”,, com a apropriação propriamente capitalista. Explica Ostrovitanov:

“Por exemplo, quando o senhor feudal se apoderava do produto excedente dos servos camponeses
sob a forma de renda em trabalho ou espécie, apropriava-se diretamente do trabalho sob a forma de

85
prestações pessoais ou de determinados produtos. O trabalho social, nestas condições não revesta a
forma de trabalho abstrato. Na produção mercantl, pelo contrário, os produtos não se destnam a
satsfazer as próprias necessidades, são para venda. Desta forma, o caráter social do trabalho revela-
se ao equiparar uma mercadoria à outra e esta equiparação pressupõe a redução dos diferentes tpos
de trabalho concreto ao trabalho abstrato, que forma o valor da mercadoria. Este processo, quando
predomina a propriedade privada dos meios de produção, realiza-se de um modo espontâneo, sem
nenhum plano social, à custa dos produtores de mercadorias.”

Portanto, quando se trata de mercadoria, o tempo de trabalho assume um papel essencial.


A grandeza de valor contda numa mercadoria é determinada pelo tempo de trabalho. As
diferentes mercadorias contém diferente grau de quantdade de trabalho no tempo em sua
composição. Quanto mais tempo de trabalho contdo, tanto maior seu valor. Trata-se aqui do
tempo socialmente necessário, do tempo que uma sociedade toma em média para a
produção daquela mercadoria. Logo, a quantdade de produtos que é criada em dado tempo
de trabalho, expressa a produtvidade do trabalho. Quanto mais elevada a técnica produtva,
quando as máquinas utlizadas na produção encerram mais momentos copiados de trabalho
sob a forma de trabalho morto, maior será a efciência produtva do trabalho vivo. O trabalho
vivo incorpora muito mais valor à mercadoria do que o trabalho morto, razão pela qual
quanto mais for elevada a produtvidade do trabalho, mais baixo será o valor dessa
mercadoria. Diz Ostrovitanov:

“O tempo de trabalho determina a grandeza do valor da mercadoria. Quanto mais tempo for
necessário para produzir uma determinada mercadoria maior será o seu valor. Mas, como é sabido,
os diversos produtores trabalham em diferentes condições e empregam diferentes quantdades de
tempo de trabalho para produzir as mesmas espécies de mercadorias. Quer isto dizer que quanto
mais indolente for o trabalhador ou menos favoráveis sejam as condições em que trabalham, maior
será o valor das mercadorias que produz? Nada disso. A grandeza do valor da mercadoria não é
determinado pelo tempo de trabalho individual, o tempo de trabalho empregue por cada produtor
individualmente na produção da mercadoria, mas pelo tempo de trabalho socialmente necessário.”

“Tempo de trabalho socialmente necessário é o tempo exigido para produzir uma mercadoria
qualquer em condições normais de produção na sociedade, isto é, com o nível médio de técnica,
capacidade e intensidade de trabalho. Este nível médio é determinado pelas condições de produção
em que se cria a grande maioria das mercadorias de cada tpo. O tempo de trabalho socialmente
necessário muda ao mudar a produtvidade do trabalho.”

86
O trabalho possui uma qualidade na sua aplicação. Esta qualidade expressa efeitos
diferentes sob distntas intensidades. Os trabalhadores que se empenham na produção de
mercadorias apresentam, portanto, qualifcações diferentes. Um operário cujo trabalho não
requer qualquer qualifcação prévia desempenha tarefas simples. Outro operário, que detém
esta qualifcação desempenha tarefas complexas. Seu trabalho não é simples, é qualifcado.
A intensidade do trabalho é determinada pelo trabalho despendido numa unidade de
tempo. Nesta unidade de tempo, o trabalho complexo cria um valor de grandeza maior que o
trabalho simples. Na produção mercantl de propriedade privada, um trabalho complexo
pode ser “decomposto”, em diversas operações de trabalho privado. Assim, a grandeza de
valor de uma mercadoria vê-se determinada pela quantdade de trabalho simples
socialmente necessário. Diz Ostrovitanov:

“A produtvidade do trabalho é medida pela quantdade de produtos obtdos por unidade de tempo
de trabalho. Quando se aperfeiçoam os instrumentos de produção ou se empregam com mais
rendimento, quando progride a ciência, se eleva a perícia do trabalhador, mediante a racionalização
do trabalho e outros avanços no processo de produção, o trabalho torna-se mais produtvo.”

A forma mais simples do valor é expressar o valor de uma mercadoria em outra mercadoria.
Assim, caminhou-se para expressar o valor de todas as mercadorias em uma outra
mercadoria-padrão para medir o valor das mercadorias: criou-se o dinheiro. O valor de uma
mercadoria quando se expressa no valor de várias outras, estas outras desempenham o
papel de equivalente. Assim, o dinheiro pode ser dito um equivalente geral. Ele se torna
necessário num certo grau de desenvolvimento da divisão social do trabalho e da produção
mercantl. Com o equivalente geral, os mercados podem efetuar as trocas necessárias
indiretamente, sem envolver a permuta entre os interessados. O equivalente geral ou
universal evolui gradatvamente até a forma dinheiro. Os metais preciosos e raros cumpriram
nesse momento o papel de representantes do valor. Com o desenvolvimento dos mercados,
tal se tornou desnecessário, bastando apenas, como hoje, a garanta relatva dos governos.
Como disse Marx:

“Com este regime de troca torna-se possível separar as vendas das compras. O produtor pode vender a
mercadoria, retendo durante algum tempo o dinheiro obtdo dessa forma. Se são muitos os produtores que
vendem sem comprar, a venda das mercadorias pode chegar a dificultar-se. A circulação mercantl contém,

87
pois, já implícita a possibilidade de crises. Mas, para que estas crises se tornem inevitáveis, tem de se dar uma
série de condições que só surgem com a passagem ao modo de produção capitalista.”

Ou seja, as crises antes do modo de produção capitalista não nasciam propriamente no


circuito da produção mercantl.

2 - A Economia Capitalista: Forma Desenvolvida da Economia Mercantl.

Com o desenvolvimento da economia mercantl, formaram-se os mercados secundários,


onde se opera com uma mercadoria que exerce a função de equivalente geral, o dinheiro. Ele
encarna o trabalho social e, assim, expressa as relações de produção entre produtores de
mercadorias. O dinheiro unifcou uma série de desempenhos necessários em si mesmo. Ele é
(a) medida de valor; (b) meio de circulação; (c) meio de acumulação; (d) meio de pagamento;
e (e) dinheiro universal.

Na verdade, os produtores de mercadorias estão isolados e dispersos, cuidando qualquer


um deles de seus próprios interesses. O dinheiro, ao servir de medida do valor das
mercadorias, vincula-se todos à forma mercantl-monetária. Assim, a mercadoria, no lugar de
ver-se medida em tempo de trabalho, só é medida indiretamente pela equiparação entre
mercadoria e dinheiro no processo da troca. Ao revelar-se o sentdo social do trabalho
privado do produtor de mercadorias, pode-se dar tanto o cálculo espontânneo, quanto a
medida de valor de todas as mercadorias.

O dinheiro, enquanto mercadoria possui valor e pode cumprir a função de medida de valor.
O valor do dinheiro era ou é garantdo pela quantdade de metal que simbolicamente
garante o valor nele inscrito, embora hoje, com os bilhetes papel, a palavra dos governos é
sufciente para a relatva garanta dos mercados. A medida do valor das mercadorias através
do ouro e da prata (sistema bimetálico) efetuou-se: depois se passou a efetuá-la em termos
ouro; hoje, com cânmbio fxo, a avaliação da medida simbólica, antes de efetvar-se a troca de
dada mercadoria por dinheiro (verifcação do cânmbio). Embora o ouro haja expressado a
correlação do valor entre si e cada mercadoria, portanto, o trabalho socialmente necessário
empregado na produção, o crescimento da oferta de mercadorias tornou sua posição
meramente uma fonte referencial. Portanto, o preço se evidencia como o valor da

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mercadoria expressa em dinheiro. Embora se possa dizer que tais valores são em ouro ou
prata pela indicação do dinheiro, estas funções hoje são necessárias apenas para medir a
mercadoria dinheiro.

Uma determinada quantdade de peso de metal-dinheiro é a medida do dinheiro, mas é


óbvio que nos grandes mercados de hoje ela não pode ser exigida. O fracionamento das
moedas e consequentemente de seu valor facilitou as trocas de mercadorias de todo tpo e
deixou o conjunto dos governos, ou cada governo, como efetva garanta de funcionamento
dos mercados.

Cada unidade monetária de cada país, com suas frações, serve de escala de preços, pelo
qual se referem os preços de todas as mercadorias (inclusive o dinheiro). Como medida de
valor, o dinheiro mede o valor das outras mercadorias; como escala de preços, ele vai medir
a quantdade do próprio metal-dinheiro. A mudança eventual do valor do ouro não se refete
em sua fração na escala de preços. A denominação enquanto moeda é formal, sendo o
múltplo perpétuo de suas subdivisões (um cruzeiro igual a cem centavos).

Os diferentes países, ou “mercados nacionais”, representam o dinheiro sob a forma de uma


“moeda nacional”,. Isso permite ao Estado em questão expressar uma soberania própria, à
revelia de qualquer outro Estado ou de qualquer outra nação. Na expressão desse poder, o
Estado pode alterar o conteúdo de metal precioso de sua moeda, aumentar ou diminuir a
quantdade de moeda em circulação, etc. Isto é, o Estado pode amoldar o funcionamento do
“mercado”,, os mecanismos de produção, distribuição, acumulação, etc., através do controle
da massa de dinheiro. Por exemplo, caso ele rebaixe o conteúdo ouro de sua moeda, o
mercado terá de elevar os preços para que correspondam ao mesmo conteúdo ouro anterior.
Estará com isso sinalizando que a quantdade de trabalho gasto na produção das mercadorias
de mesmo montante, corresponde, com a alta dos preços, ao que correspondia antes.

O dinheiro também se desempenha na função de meio de circulação. A troca de


mercadorias é circulação de mercadorias. Não se pode separá-la da circulação do dinheiro,
que também é uma mercadoria. Mercadoria para lá, dinheiro para cá. O dinheiro é o
intermediário na circulação de mercadorias. O dinheiro evolui desde cabeças de gado em
pé, passando por discos de bronze levados em varas, conchas do mar ensacadas, etc., até
barras de discos de ouro e prata, para chegar ao que temos hoje: bilhetes de papel e moedas

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de metais resistentes. Com a infação dos preços, a moeda às vezes vale menos que o
trabalho que ela contém. Em geral, sendo a cunhagem de moedas e o fabrico gráfco das
notas monopólio do Estado, o mesmo lucra com a diferença entre o valor de face do dinheiro
que cria e quanto gastou para produzi-lo: chama-se este ganho senhoriagem social.

As notas e as moedas gastam-se com o uso e necessitam ser trocadas. Na condição de meio
de circulação, o dinheiro não precisa possuir um valor em si mesmo. Pelo desgaste, a moeda
se transformou em signo de valor, o chamado signo de dinheiro. Ou seja, em geral o valor
efetvo da moeda é menor do que aquele valor que nela está inscrito.

Enquanto meio de circulação, o dinheiro pode ser meio de entesouramento. Basta que seja
retrado de circulação e transformado em tesouro. Na época da escravidão aqui no Brasil,
isso era muito comum. Escondia-se o dinheiro no colchão ou se enterrava em um ponto do
quintal. Recapitulando Lênine:

“O desdobramento das mercadorias em mercadorias e dinheiro indica o desenvolvimento das


contradições da produção mercantl. Na troca direta de uma mercadoria por outra, cada transação
apresenta um caráter isolado, a venda é inseparável da compra. Coisa completamente distnta é a
troca por intermédio do dinheiro, isto é, a circulação mercantl. Aqui, a troca pressupõe múltplas
ligações entre os produtores de mercadorias e um incessante entrelaçamento de suas transações.
Cria-se a possibilidade de a venda ser separada da compra. O produtor de mercadorias pode vender o
seu produto e reter durante um certo tempo o dinheiro com ele obtdo. Quando muitos produtores
mercants vendem, sem comprar, pode surgir um entorpecimento nas vendas de mercadorias. Como
se vê, já na circulação mercantl simples está contda a possibilidade das crises. Entretanto, para a
transformação dessa possibilidade das crises na inevitabilidade delas, é necessária uma série de
condições que só surgem com a passagem para o modo de produção capitalista.”

O dinheiro também desempenha a função de meio de pagamento. Se a compra e venda da


mercadoria se dá a crédito, o adiamento da mesma se dá como meio de pagamento. O
comprador recebe a mercadoria sem o pagamento imediato. Só quando vencer o prazo de
pagamento o comprador irá pagar o que já recebeu. O dinheiro também funciona como meio
de pagamento na quitação de impostos, na renda da terra, etc. Sabe-se assim:

“A função do dinheiro como meio de pagamento refete o ulterior desenvolvimento das contradições
da produção mercantl. Os vínculos entre os diferentes produtores de mercadorias tornam-se mais
largos, cresce a dependência recíproca entre eles. Aqui, o comprador torna-se devedor e o vendedor

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transforma-se em credor. Quando são muito numerosas as compras de mercadorias efetuadas a
crédito, o não pagamento no prazo por um ou por vários devedores pode refetr-se em toda a cadeia
de obrigações de pagamento e provocar a bancarrota de uma série de possuidores de mercadorias,
ligados entre si por relações de crédito. Dessa maneira, aumenta a possibilidade das crises, que já
está contda na função do dinheiro como meio de circulação.”

Ao analisar as funções do dinheiro como meio de circulação e como meio de pagamento,


chega-se à quantdade de dinheiro necessária à circulação de mercadorias. Tal quantdade de
dinheiro depende (1) da soma dos preços das mercadorias em circulação, e esta depende (2)
da quantdade de mercadorias e do preço de cada uma delas isoladamente. Considera-se
também a velocidade com que o dinheiro circula: mais velocidade de circulação, menor a
quantdade necessária. Assim, graças ao crédito, a presença do dinheiro só se faz para pagar
as dívidas cujo prazo venceu.

Cada vez mais se utliza, com o avanço das relações mercants, o papel-moeda emitdo pelo
Estado como signo dinheiro. Ele não tem valor próprio, nem desempenha a função de
medida do valor das mercadorias. Mas representa o valor da quantdade de metal precioso
(ouro) necessária para assegurar a circulação das mercadorias. Pratcamente não pode ser
exigido ouro em troca do papel-moeda.

A existência do papel-moeda faculta ao Estado capitalista inventar ricos da noite para o dia,
emitndo o mesmo sem reservas de ouro, e distribuindo-o para os especuladores que
querem enriquecer à custa dos impostos e da infação. Como os preços das mercadorias
futuam constantemente, ao sabor da oferta e da procura, a emissão excessiva de papel-
moeda interfere nesse processo. Com a elevação resultante dos preços, diminui o poder de
compra dos assalariados, por causa da infação. Essa colocação do dinheiro e das
mercadorias acima dos interesses reais da maioria gera o que se chama fetchismo da
mercadoria. Ou seja, as mercadorias dominam a vida social daqueles que as produzem. Os
controladores do dinheiro assumem demasiado poder sobre as outras pessoas. O valor da
mercadoria expressa uma relação social entre dominadores e dominados, entre exploradores
e explorados.

Ao comprar “tudo”, com o dinheiro, o agente mercantl reproduz a relação capitalista.

Diz Ostrovitanov:

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“O modo de produção capitalista passa, no seu desenvolvimento, por duas fases: a pré-monopolista
e monopolista. As leis econômicas do capitalismo atuam nas duas fases. Mas o capitalismo pré-
monopolista distngue-se por uma série de característcas substanciais, de que se falará mais
adiante.”

E acrescenta:

“Todo o capital começa sua trajetória sob a forma de uma determinada soma de dinheiro. O
dinheiro em si não é capital. Quando, por exemplo, os pequenos produtores independentes de
mercadorias, trocam estas entre si, o dinheiro atua como meio de circulação, mas não como capital.
A fórmula da circulação de mercadorias é: M (mercadoria). D (dinheiro). M (mercadoria), ou seja,
venda de uma mercadoria para comprar outra. O dinheiro torna-se capital quando se emprega com o
fim de explorar trabalho alheio. A fórmula geral do capital é D-M-D, isto é vender para comprar com
o fim de enriquecer.”

“A fórmula M-D-M significa a troca de um valor de uso por outro: o produtor de mercadorias separa-
se da mercadoria que não necessita e recebe em troca dela outra que lhe é necessária para seu
consumo. O fim da circulação é aqui o valor de uso.”

“Pelo contrário, na fórmula D-M-D coincidem os pontos inicial e final da operação; no começo desta
o capitalista tem em seu poder dinheiro e volta a tê-lo no final dela. Mas o movimento do capital
resultaria estéril, se no fim da operação, o capitalista se limitasse a recuperar a mesma soma de
dinheiro que possuía no princípio. Para o capitalista, todo o sentdo das suas atvidades cifra-se no
fato de que, como resultado da sua operação, passa a ter em seu poder mais dinheiro que ao iniciar
aquela. O fim da circulação é, aqui, aumentar o valor do capital.”

“Por conseguinte a fórmula geral do capital é: D-M-D’, em que D’ significa a soma de dinheiro
acrescentada.”

“O capital adiantado pelo capitalista, isto é, posto em circulação por ele, regressa ao seu dono com
um certo aumento.”

“Donde provém este aumento de capital? Os economistas burgueses, procurando descobrir a fonte
real do enriquecimento dos capitalistas, afirmam frequentemente que este aumento resulta da
circulação mercantl. Semelhante afirmação é insustentável.”

Então, uma vez que com o dinheiro “tudo”, se paga, cria-se a falsa sensação de que o ouro é
que tem essa propriedade, e não as relações sociais de exploração e de dominação. A relação

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de produção, como diz Marx, torna-se “uma forma fantasmagórica de relação entre coisas”,.
Daí considerar Marx:

“Nisto consiste o fetchismo do capital: no modo de produção capitalista cria-se a enganosa aparência de que,
supostamente, os meios de produção (ou determinada quantdade de dinheiro, com a qual se podem comprar
meios de produção) possuem em si mesmos a milagrosa capacidade de proporcionar ao seu proprietário a
renda regular, que não se origina do trabalho.”

Entende-se que o trabalho do produtor como trabalho privado; e o caráter social do


mesmo, ao se revelarem na troca de mercadorias, manifestam o fetchismo gerado pela
produção mercantl.

Recapitulemos Ostrovitanov:

“O dinheiro desempenha a função de meio de acumulação ou de entesouramento. O dinheiro é


entesourado quando se retra da circulação. Sendo como é o expoente universal da riqueza, o
dinheiro pode, quando se quiser, trocar pela mercadoria desejada. Pode-se guardar qualquer
quantdade. Os produtores de mercadorias, por exemplo, acumulam dinheiro para comprar meios de
produção ou para realizar poupança. O desenvolvimento da produção de mercadorias aumenta o
poder do dinheiro. Consequentemente aumenta o desejo de poupar dinheiro, de entesourá-lo. A
função do entesouramento só pode ser realizada com dinheiro de verdadeiro valor real: as moedas e
lingotes de ouro e prata e os objetos destes metais.”

“Quando servem como dinheiro as moedas de ouro e prata, a quantdade destas adapta-se
espontaneamente às necessidades de circulação das mercadorias. Ao diminuir a produção de
mercadorias e ao reduzir-se a sua circulação uma parte das moedas de ouro saem da corrente
circulação e é entesourada. Pelo contrário, quando a produção cresce e aumenta a circulação,
regressam à circulação, moedas que tnham estado retradas.”

“Outra das funções do dinheiro é servir de meio de pagamento. O dinheiro cumpre esta função nos
casos em que a compra e a venda das mercadorias se efetua a crédito, isto é, com um prazo para
pagamento da mercadoria. Com a compra a crédito, a mercadoria passa da posse do vendedor para
a do comprador sem que este a pague imediatamente. Vencido o prazo, o comprador entrega o
dinheiro ao vendedor sem que exista a entrega da mercadoria, na medida em que ela já tnha sido
feita anteriormente.”

O desenvolvimento do dinheiro, assim, veio facilitar a acumulação de capital. Sendo uma


relação social histórica, determinada no tempo, o capital não pode se confundir, como

93
pretendem os economistas idealistas, com “um pedaço de pau que o homem primitvo
usou”,, ou as moedas que alguém disciplinado deixou de gastar. Os instrumentos de trabalho
do homem primitvo não são capital, nem a matéria prima e os instrumentos do artesão, o
boi que puxa o arado do camponês, etc. É só em certo momento do desenvolvimento
histórico, nas condições de propriedade privada dos equipamentos, que se consttui o
capital, porque ele assegura o monopólio de determinar a produção através da exploração
contnuada do trabalhador assalariado. O capital é aquele valor que produz mais-valia,
através da exploração de operários assalariados. É uma relação social, como dissemos.
Ensina M. Alves:

“A descoberta do duplo caráter do trabalho materializado na mercadoria serviu a Marx de chave para
estabelecer a diferença entre o capital constante e o capital variável, para a descoberta da essência da
exploração capitalista. Marx mostrou que, com o seu trabalho, o operário cria simultaneamente um novo valor
e transfere para a mercadoria produzida o valor dos meios de produção. Como trabalho concreto, determinado,
o trabalho do operário transfere para o produto o valor dos meios de produção gastos e como trabalho
abstrato, como um gasto geral de força de trabalho, cria um novo valor. Estes dois aspectos do processo de
trabalho se diferenciam muito claramente. Assim, por exemplo, no caso de ser duplicada a produtvidade do
trabalho na indústria da fiação, o fiandeiro, durante sua jornada de trabalho, transfere para o produto o dobro
do valor dos meios de produção (uma vez que elabora o dobro da massa de algodão), mas o valor por ele criado
será o mesmo que antes.”

Como se sabe, a produção capitalista, para triunfar, necessita de duas pré-condições: (a) a
existência de uma massa considerável de pessoas despossuídas, que sejam individualmente
livres e desprovidas de meios de produção e de meios de existência. São por isso, obrigadas a
alugar sua capacidade de trabalho a outros. E (b), a acumulação de recursos e dinheiro em
mãos de um grupo reduzido, de forma que seus membros possam formar empresas e
comandar atvidades. Assim, deve-se dar um processo histórico concreto que produza as
condições (a) e (b), ou seja, concretamente pela operação da lei do valor, dentro da produção
mercantl.

Pela ação contnuada da lei do valor, é que ocorre uma diferenciação crescente entre (1) os
pequenos produtores de mercadorias, artesãos e (2) camponeses. É requerido um certo
tempo para que se amplie o ânmbito de troca das mercadorias, a circulação monetária, a
formação de um mercado nacional, etc. Por exemplo, o mercado nacional no Brasil, formou-
se entre 1860, com a queda da oferta de escravos e a criação do ministério da agricultura,

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para arranjar mão de obra livre, e 1960, quando pela ação dos presidentes Vargas e
Kubistchek se abriram estradas, navegação costeira, etc., consolidando laços entre mercados
locais. É claro que a formação dos mercados nacionais e do mercado mundial atuaram de
modo a acelerar a decomposição das pequenas economias mercants de camponeses e
artesãos. Daí surgiu um punhado de ricos, que se converteu em uma cúpula de capitalistas, e
uma massa de pessoas economicamente arruinadas, que se tornou a fonte dos operários
assalariados.

Ao lado dessas transformações sociais – e até para acelerá-las – os latfundiários e a


burguesia lançaram mão de métodos violentos, como a falsifcação, o roubo e a pilhagem,
para fabricar ricos de um lado e pobres do outro. Basta lembrar-se de portugueses,
espanhóis, franceses, holandeses, ingleses, etc., pilhando em todos os contnentes; basta
lembrar a rapinagem do “Estado”, na Europa e na Ásia, para entender-se como ocorreu a
aceleração desse processo de expropriação em massa.

Como disse Marx:

“Na indústria têxtl algodoeira, que se desenvolvia mais depressa que os outros ramos de produção,
predominava o trabalho manual. Nessa indústria, as principais operações eram a fiação e a tecelagem. O
produto do trabalho dos fiandeiros consttuía o objeto do trabalho dos tecelões. O aumento da procura de
tecidos de algodão fazia-se sentr, antes de tudo, na técnica da tecelagem: em 1733, foi inventada a lançadeira
volante, que elevava ao dobro a produtvidade do trabalho do tecelão. Tal invenção fazia com que a fiação se
distanciasse da tecelagem. Nas manufaturas de tecelagem, sucedia frequentemente os teares ficarem parados
por falta de fios. Surgiu a necessidade imperiosa de aperfeiçoar a técnica de fiação.”

“Este problema foi resolvido com a invenção (em 1765/1767) da máquina de fiar, com capacidade para
movimentar de quinze a vinte fusos. A força motriz das primeiras máquinas era o próprio homem, ou então
gado de tração, mas depois surgiram máquinas que eram movidas à força hidráulica. Os sucessivos
aperfeiçoamentos técnicos possibilitaram não apenas aumentar a produção de tecidos, mas também melhorar
sua qualidade. Em fins do século XVIII, já existam máquinas de fiar que movimentavam até 400 fusos. Em
consequência destas invenções, a produtvidade do trabalho cresceu vertcalmente na fiação.”

“Surgiu na indústria têxtl algodoeira uma nova desproporção: agora era a fiação que se adiantava à
tecelagem. Esta desproporção foi afastada em 1785, com a invenção do tear mecânico. Depois de uma série de
aperfeiçoamentos, o tear mecânico alcançou larga difusão na Inglaterra e nos anos 40 do século XIX, alijou por
completo o trabalho manual. Também passaram por transformações radicais as diferentes operações da
tecelagem: o alvejamento, a tntura e a estamparia. O emprego da química reduziu o tempo de duração desses
processos e melhorou a qualidade da produção.”

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3 – A Mais-Valia. A Lei da Mais-Valia.

Marx explicou a tendência que a humanidade apresenta para a automistfcação, para,


como indicou Feuerbach, auto-alienar-se, apresentando o objeto como sujeito e o sujeito
como objeto. O homem “criou”, Deus à sua desejada semelhança e, para eximir-se de seus
erros, transferiu para Deus a “criação”, do homem. Isso é muito mais fácil do que perceber a
realidade com seus encobrimentos, e chegar, a saber, que o homem se fez tal pelo processo
de trabalho. Disse Marx: “todo o conteúdo da consciência representa uma alienação com relação
às condições econômicas, sobre cuja base deve então ser explicada a ideologia.” É de se compreender
as formas alienadas que se projetam então das relações socioeconômicas baseadas na exploração.
Não se pode estudar o “fato econômico” e fazer de conta que a exploração não existe, ou que não
tem importânncia no comportamento alienado que gera. Como disse Marx na “Contribuição para a
Crítca da Economia Polítca”, o “trabalho que cria valor de troca se caracteriza pela apresentação,
por assim dizer, às avessas, da relação social das pessoas, ou seja, como relação social entre coisas.”
Comenta por isso Rubin:

“Nesta ‘materialização’, Marx aparentemente vê antes de mais nada uma ‘mistficação’, que é óbvia
nas mercadorias e mais obscura no dinheiro e capital. Ele explica que esta mistficação é possível
devido aos ‘hábitos adquiridos na vida cotdiana’. ‘Não é outra coisa senão a rotna da vida cotdiana,
o que faz parecer trivial e óbvio o fato de uma relação social de produção assumir a forma de um
objeto, de tal maneira que a relação das pessoas em seu trabalho se apresenta como sendo um
relacionamento de coisas consigo mesmas, e de coisas com pessoas’. (p.140-141)”

Assim, uma vez que as relações sociais de produção se dão entre pessoas, a teoria do valor
deve ser abordada deste ponto de vista; sendo uma relação entre pessoas, deve assumir
uma forma material. Para tal, deve estar relacionada ao processo de produção. No mercado,
uma coisa se troca por outra coisa qualquer. Num mercado avançado de trocas, as coisas se
trocam por dinheiro. Os preços que representam os valores trocados oscilam ao longo do
tempo. É possível observar-se que tais preços oscilam em torno a um preço médio. Esse
preço médio é igual ao custo de produção, mais o lucro médio sobre o capital investdo. Na
economia mercantl simples os preços médios dos produtos são proporcionais ao seu valor-
trabalho (ou valor pelo trabalho). Nesse caso, o valor representa o nível médio em torno do
qual futuam (ou se distribuem) os preços do mercado. Mas como não se dá um estado de
equilíbrio entre os diferentes ramos de produção, os preços de mercado não coincidem com

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o valor embutdo nas mercadorias. Um sistema baseado na divisão do trabalho é um sistema
com distribuição de trabalho. Uma vez que a produção capitalista é anárquica, ora a
quantdade de trabalho social consumida num ramo é em excesso, ora é insufciente. Só de
tempos em tempos se dá um equilíbrio entre oferta e procura de mercadorias e, portanto,
de trabalho vivo consumido na sua produção. A tendência ao restabelecimento do equilíbrio
é uma das fontes de oscilações. O desvio dos preços de mercado, relatvamente de valores é
o mecanismo de busca de equilíbrio, etc.

A teoria do valor, portanto, analisa as leis de troca, os mecanismos de igualação das coisas
no mercado, onde elas expressam a produção e distribuição, principalmente do trabalho, na
economia mercantl. Diz Rubin:

“Esta é uma das característcas da estrutura econômica da sociedade contemporânea. ‘O


comportamento puramente atomístco dos homens, em seu processo social de produção, e, portanto,
a forma material assumida por suas próprias relações de produção, subtraídas de seu controle e seus
atos individuais conscientes, revelam-se antes de mais nada no fato de que os produtos de seu
trabalho revestem, como caráter geral, a forma de mercadorias’ (C., I, p. 55). A materialização das
relações de produção não surge de ‘hábitos’, mas da estrutura interna da economia mercantl. O
fetchismo é não apenas um fenômeno da consciência social, mas da existência social. Sustentar,
como faz Hammacher, que a única explicação de Marx para o fetchismo era em termos de ‘hábitos’,
é negligenciar esta formulação definitva do fetchismo da mercadoria que encontramos tanto no
Livro I de O Capital, quanto no capítulo sobre ‘A Fórmula Trinitária’, no Livro III. Assim, em A Sagrada
Família, o elemento ‘humano’ na economia é contrastado com o elemento ‘material’, ‘alienado’,
como um ideal, frente à realidade. Na Miséria da Filosofa, Marx desvenda relações sociais de
produção por trás das coisas. Em [Contribuição] Para a Crítca da Economia Polítca, a ênfase é
colocada no caráter específico da economia mercantl, que consiste no fato de que as relações sociais
de produção são ‘reifcadas’. Uma descrição detalhada deste fenômeno e uma explicação de sua
necessidade objetva numa economia mercantl são encontradas no Livro I de O Capital, aplicadas
principalmente aos conceitos de valor (mercadoria), dinheiro e capital. No Livro III, no capítulo sobre
‘A Fórmula Trinitária’, Marx dá um desenvolvimento adicional, ainda que fragmentário, dos
mesmos pensamentos aplicados às categorias básicas da economia capitalista, e enfatza,
partcularmente, a ‘fusão’ específica das relações sociais de produção com o processo de produção
material.”

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Marx e Engels nos ensinaram que em país algum onde predomina a produção capitalista
tornou-se ela um fenômeno puro, livre totalmente de classes pretéritas ou de restos
consideráveis das anteriores formas pré-capitalistas de economia. Por exemplo, além da
burguesia, o latfúndio e a pequena propriedade dos produtores mercants simples estão
sempre presente. É evidente que a massa dos pequenos produtores da cidade e do campo é
explorada pelos latfundiários e os capitalistas que, entre outros fatos, utlizam-se das crises
para passar os custos das perdas eventuais para manter ou ampliar seus lucros. Os
capitalistas e latfundiários só temem a crise, quando enfrentam uma classe operária
organizada e politzada.

As leis econômicas do capitalismo, entre as quais a lei do valor, funcionam em ambas as


etapas históricas do sistema, ou seja, (1) a pré-monopolista e (2) a monopolista. Quando as
relações sociais do capital se estabelecem, o capital que o capitalista lança em circulação
retorna a ele ampliado por um certo acréscimo. Para os economistas burgueses, este
acréscimo é resultado da circulação mercantl. Esta tese é absurda. Caso fossem trocados
mercadorias e dinheiro em igual valor, o dono das mercadorias não poderia extrair um valor
maior da sua mercadoria trocada. O que ganhassem como produtores perderiam como
compradores. Mas o que se observa na prátca? É que todos os capitalistas ganham a mais,
com toda sorte de operações que fazem. Ganham como vendedores e ganham como
compradores. Por que será? Será porque existe no mercado uma mercadoria que, no
processo de seu valor de uso, gere um valor maior do que aquele valor que ela possui. Esta
mercadoria é a força de trabalho. Ela tem a propriedade de ser fonte de valor. O trabalhador,
ao trabalhar, acrescenta na mercadoria trabalho vivo não pago pelo salário, o que gera uma
mercadoria com valor maior do que o conjunto dos insumos cujo custo foi pago.

Então, a força de trabalho, como mercadoria, é necessária para a produção de bens


materiais. E a parte dela incluída na mercadoria que se consttui trabalho vivo não pago no
salário, é a fonte do valor adicional da mercadoria em relação aos seus outros elementos
componentes. Com a transformação da força de trabalho em mercadoria, a produção
mercantl atnge o seu mais elevado estágio e se torna universal. Portanto, a principal
característca do trabalho assalariado é ser explorado na produção capitalista. Ou seja, o
traço principal da produção capitalista é a exploração do trabalho assalariado. O operário

98
vende sua força de trabalho para sobreviver e o capitalista, paga apenas uma parte dela, para
materializar seu lucro. Ensina Ostrovitanov:

“A força de trabalho, isto é, o conjunto de capacidades fsicas e intelectuais que o homem põe em
ação durante o processo de produção de bens materiais, é elemento necessário da produção em
qualquer forma de sociedade. Mas só no capitalismo a força de trabalho é uma mercadoria.”

“O capitalismo é a produção mercantl, na sua fase superior de desenvolvimento, em que a própria


força de trabalho se torna necessária. Com a conversão da força de trabalho em mercadoria, a
produção mercantl adquire um caráter universal. A característca fundamental da produção
capitalista é a exploração do trabalho assalariado e o contrato de operários pelo capitalista não é
outra coisa senão a compra e venda da mercadoria força de trabalho: o operário vende a sua força
de trabalho e o capitalista compra-a.”

“Ao contratar o operário, o capitalista tem direito a dispor totalmente da sua força de trabalho
durante determinado tempo. O capitalista aplica a referida força de trabalho no processo de
produção, onde se realiza o aumento de capital.”

“Como qualquer outra mercadoria, a força de trabalho é vendida por um determinado preço,
baseado no seu valor. Qual é esse valor?”

“Para que o operário esteja em condições de trabalhar, deve satsfazer as suas necessidades quanto
a alimento, vestuário, calçado, habitação, etc. Satsfazer as necessidades mais prementes significa
restaurar o desgaste das energias vitais do operário, da sua energia muscular, nervosa, cerebral,
restabelecer a sua capacidade de trabalho, pelo que há que dar ao operário a possibilidade, não só de
ele se manter, como também a sua família. Deste modo se assegura a reprodução, isto é, constante
renovação da força de trabalho. Finalmente, o capital requer não só operários sem qualquer
preparação, mas também operários qualificados, que saibam lidar com as máquinas mais
complicadas e que para se instruir necessitam dedicar a tal fim determinadas quantdades de
trabalho. Daí que os custos de produção e a reprodução da força de trabalho inclua também um
mínimo de investmentos para instruir as jovens gerações da classe operária.”

“Daqui se deduz que o valor da força de trabalho como mercadoria é igual ao valor dos bens de
consumo necessários para manter o operário e a sua família.”

“O valor da força de trabalho, como o de todas as outras mercadorias, é determinado pelo tempo
de trabalho necessário para produzi-la, incluindo, portanto, a reprodução deste artgo específico.”

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Como dizia Owen, preso o operário para sempre à “miséria do salário”,, o capitalista,
comprando a força de trabalho, tem à sua disposição a capacidade de trabalho do mesmo.
Ele então utliza essa força no processo de trabalho, que nada é senão o processo de criação
do valor. Ou seja, o valor de uso da mercadoria força de trabalho é a propriedade que ela
tem de ser fonte de criação de valor. Ela é capaz de criar um valor maior do que o valor que
ela própria tem em si. Daí resultam duas grandezas distntas: (1) o valor da força de trabalho
e (2) o valor por ela criado no processo de seu emprego. Por exemplo, o capitalista gasta cem
cruzeiros com o salário de um operário contratado, e recebe 200 cruzeiros ao vender o
produto do trabalho do mesmo operário. Assim, o capitalista recebeu tanto (1) o capital
originalmente desembolsado, quanto (2) um excedente igual a cem cruzeiros. Este (2) é que
se consttui a mais-valia materializada.

A mais-valia é o valor criado pelo trabalho do operário assalariado, acima do valor de sua
força de trabalho e que é apropriado pelo capitalista gratuitamente. Como diz Ostrovitanov:

“E se na empresa vigora o sistema de pagamento pela quantdade de objetos produzidos, cria-se a


aparência de que ao operário se paga o trabalho materializado em cada unidade de mercadoria por
ele produzida; isto é, parece que o operário é retribuído integralmente por todo o trabalho
incorporado.”

“Esta aparência enganadora não é um erro casual em que as pessoas incorrem. É o fruto das
próprias condições da produção capitalista que fazem com que a exploração apareça sempre
encoberta e esfumada, as relações entre o patrão e o operário assalariado se apresentem
desfiguradas, como se tratasse de relações entre produtores de mercadorias em plano de igualdade.”

“Na realidade, o salário não é o valor nem o preço do trabalho do operário. Se admitr que o
trabalho é uma mercadoria e tem o seu valor, então, a grandeza deste valor teria que ser medida de
algum modo. E sendo evidente que, a grandeza do ‘valor do trabalho’ como o valor de qualquer
outra mercadoria, se mede pela quantdade de trabalho que nela se incorpora, cairíamos no círculo
vicioso de defender que o trabalho se mede pelo trabalho.”

“Além disso, se o capitalista pagasse ao operário o ‘valor do trabalho’, isto é, todo o seu trabalho,
desapareceria a fonte do seu enriquecimento, a mais-valia; por outras palavras, não poderia existr o
modo de produção capitalista.”

100
Assim, o dia de trabalho na empresa capitalista se divide em duas partes: (a) tempo de
trabalho necessário; e (b) o tempo de trabalho suplementar. Em (a), o operário reproduz o
valor de sua força de trabalho (que foi a parte paga pelo capitalista); em (b) o operário
trabalha a mais do que recebeu, ou seja, cria a mais-valia, que é a riqueza do patrão a ser
materializada com a venda da mercadoria produzida. Há assim, um duplo movimento: (1) o
operário trabalha sob o controle do capitalista, dispendendo para este o trabalho vendido;
(2) o capitalista se apropria do trabalho não pago, para obtê-lo como mais-valia. Assim, o
processo de trabalho na produção capitalista tem um caráter duplo e contraditório. Diz
Ostrovitanov:

“Com o desenvolvimento histórico da sociedade, tanto mudam as necessidades habituais do


operário como o meio para satsfazê-las. O nível das necessidades habituais do operário não é igual
em todos os países. As característcas do caminho histórico percorrido por um dado país e as
condições em que se formou a classe dos assalariados determinam em grande parte o caráter das
suas necessidades. Também exercem uma infuência grande sobre as necessidades de alimento,
vestr, habitação do operário, as condições climátcas do meio e outros fatores naturais. O valor da
força de trabalho não inclui somente o dos objetos necessários para o restabelecimento das forças
fsicas do homem, mas também os gastos dirigidos a satsfazer certas necessidades culturais do
operário e de sua família, necessidades provocadas pelas condições sociais em que vivem e foram
educados os operários (para dar lições aos filhos, comprar periódicos e livros, assistr ao cinema e ao
teatro, etc.).”

“Em todas as partes e sempre os capitalistas esforçam-se por reduzir as condições materiais e
culturais da vida do operário ao nível mais baixo.”

Além disso, como os capitalistas produzem apenas para fcar mais ricos, a produção tende a
aumentar nas atvidades mais rendosas e a uma estagnação relatva, onde os lucros são
menores. Todos os capitalistas procuram maximizar os seus ganhos, colocando de
preferência o seu capital ali onde rende mais. Ou seja, a produção para o consumo dos
operários e dos pobres tem um padrão técnico mais baixo e qualidade pior. Recapitulando
com Rubin:

“Como se pode ver, a partr das citações de Miséria da Filosofa, Marx disse mais uma vez que
dinheiro, capital, e outras categorias econômicas não são coisas, mas relações de produção. Marx
deu uma formulação geral a esses pensamentos, com as seguintes palavras: ‘As categorias

101
econômicas não são mais que expressões teóricas, abstrações das relações sociais de produção’
(Miséria da Filosofa, p. 104). Marx já percebera relações sociais de produção por trás das categorias
materiais da economia. Mas ele ainda não perguntara por que as relações de produção entre as
pessoas recebem esta forma material, numa economia mercantl. Este passo foi dado por Marx em
[Contribuição] Para a Crítca da Economia Polítca, onde ele diz que o ‘trabalho que cria valor de
troca se caracteriza pela apresentação, por assim dizer, às avessas, da relação social das pessoas, ou
seja, como relação social entre coisas’ (Crítca, p. 140). Aqui é dada a exata formulação do fetchismo
da mercadoria. O caráter material, presente nas relações de produção da economia mercantl, é
enfatzado, mas a causa desta ‘materialização’ e de sua necessidade numa economia nacional sem
regulação, não são ainda apontadas.”

E recapitulando com Marx o papel do dinheiro:

“A função do dinheiro enquanto meio de pagamento, refete mais acentuadamente as contradições inerentes à
produção mercantl. Alargam-se as ligações entre os diferentes produtores de mercadorias, que dependem cada
vez mais uns dos outros. O comprador transforma-se em devedor e o vendedor em credor. Quando muitos
possuidores de mercadorias compram estas a crédito, a falta de pagamento pontual de um ou vários devedores
repercute-se em toda a cadeia de obrigações de pagamento e provoca a falência de vários possuidores de
mercadorias, unidos entre si pelas relações de crédito. Acentua-se, deste modo, a possibilidade de crises, que já
estava implícita na função do dinheiro como meio de circulação.”

A produção mercantl, a função do dinheiro, uma economia de assalariados implicam


trabalho não pago; implicam a perpetuação da pobreza para os trabalhadores. Com a
determinação geral dos preços na economia mercantl complexa, se oculta a função do valor
pelo desequilíbrio entre os ramos da produção. Diz Ostrovitanov:

“O estudo das funções próprias do dinheiro como meio de circulação e como meio de pagamento
permite estabelecer a lei que determina a quantdade de dinheiro necessária para a circulação de
mercadorias.”

“As mercadorias são vendidas e compradas em muitos lugares simultaneamente. Num dado período
a quantdade de dinheiro necessária para a circulação, depende, antes de tudo, da soma dos preços
das mercadorias circulantes, o que, por sua vez depende da quantdade de mercadorias e do preço

de cada uma delas. Há que, além disso, ter em conta a velocidade de circulação do dinheiro.
Quanto mais rápido circule o dinheiro, menor quantdade é necessária para a circulação e
reciprocamente. Se, por exemplo, durante um determinado período, suponhamos um ano, se vendem
mercadorias no montante de mil milhões de dólares e cada dólar percorre, em média, cinco vezes o

102
ciclo completo da circulação, serão necessários 200 milhões de dólares para assegurar a circulação de
todo este conjunto de mercadorias.”

“Em resultado do crédito que os produtores de mercadorias concedem uns aos outros, a necessidade
de dinheiro é reduzida da soma correspondente aos preços das mercadorias vendidas a crédito e da
soma dos pagamentos que se compensam mutuamente. O único dinheiro efetvamente necessário é
o que se aplica no pagamento das dívidas ao vencer-se o prazo.”

Os capitalistas se unem contra os trabalhadores porque estão à caça de mais-valia, quanto


mais, melhor... Portanto, a lei descoberta por Marx, de produção da mais-valia no processo
mercantl é a lei fundamental do capitalismo. Ela explica a polítca efetva dos capitalistas: a
falsidade de seus discursos, o caráter ilusório de suas ideologias social e polítca e a miséria
crônica dos operários e dos pobres. Tal lei condiciona a transitoriedade histórica do
capitalismo. Expressa o aprofundamento de suas contradições.

O capital, no processo da produção, se compõe de diferentes partes. Estas não


desempenham um mesmo papel, quanto à formação do valor do produto oriundo da
empresa capitalista. Uma parte do capital se imobiliza em construções fabris, máquinas e
equipamentos, compra de matérias primas, outros insumos, etc. O valor desta parte do
capital se transfere para as novas mercadorias produzidas, uma vez que os meios de
produção vão-se desgastando no processo de trabalho. A grandeza desta parte do capital,
uma vez aplicada, não varia no processo de produção, exceto pelo seu lento consumo.
Chama-se por isso capital constante.

Outra parte do capital vê-se empregada na compra de trabalho, pela contratação de


operários. Ela é mais que compensada em seu consumo relatvamente rápido, pelo novo
valor que o capitalista recebe com a venda das mercadorias produzidas. É, assim, uma parte
do capital que cresce no processo da produção. Chama-se por isso capital variável. Há aqui,
portanto, uma importante contradição na estrutura do capital que foi descoberta por Marx.
Aqui reside a essência da exploração capitalista. Diz Ostrovitanov:

“O que o capitalista compra não é o trabalho, mas uma mercadoria especial: a força do trabalho. O
uso da força de trabalho, isto é, a incorporação da energia muscular, nervosa, cerebral do operário, é
o processo de trabalho. O valor da força de trabalho é sempre inferior ao valor novo que o trabalho
do operário cria. O salário paga apenas uma parte da jornada de trabalho, o tempo de trabalho

103
necessário. No entanto, como o salário reveste a forma de pagamento do trabalho, adquire-se a
impressão de que toda a jornada de trabalho é paga na íntegra. Por isso disse Marx que o salário na
sociedade burguesa é a forma metamorfoseada do valor, ou o preço da força de trabalho. ‘O salário
não é o que parece ser, isto é, o valor – ou o preço – do trabalho, mas somente uma forma
disfarçada do valor – ou do preço – da força de trabalho’.”

“O salário é a expressão monetária do valor da força de trabalho, o seu preço, revestndo a forma de
preço do trabalho.”

Como frisou Lênine:

“Sob a escravatura, não se efetuavam transações de compra e venda da força de trabalho entre escravagista e
o escravo. O segundo era propriedade do primeiro. Por isso, parece que todo o trabalho de escravo se
entregava gratuitamente como se até a parte do trabalho que servia para repor as despesas de subsistência do
escravo fosse trabalho não retribuído, trabalho para o escravagista. Na sociedade feudal, o trabalho necessário
do camponês servo na sua parcela e o trabalho excedente nas terras do Senhor aparecem claramente
desligados um do outro no tempo e no espaço. No regime capitalista, até o trabalho não retribuído do operário
assalariado aparece como trabalho pago.”

Portanto, o processo de assalariamento encobre a verdadeira natureza do salário, dando


impressão ao trabalhador de que toda a força de trabalho que ele entrega no processo
produtvo lhe está sendo paga, e que o valor acrescido na mercadoria é pura habilidade de
vendedor do capitalista. Como explica Marx:

“O salário esbate todos os vestgios da divisão da jornada de trabalho em tempo de trabalho


necessário e suplementar, em trabalho pago e não pago disfarçando com isso as relações em que
assenta a exploração capitalista.”

4 – Os Salários. Salários e Preços.

Marx, ao descobrir o caráter duplo do trabalho, materializado na mercadoria, obteve a


chave para esclarecer a diferença entre capital constante e capital variável. O operário cria no
processo de produção, um novo valor, quando está a transferir para a mercadoria produzida
o valor dos meios de produção. Como trabalho concreto, o trabalho do operário transfere
para o produto o valor dos meios de produção dispendidos. Enquanto trabalho abstrato, se
expressa como um gasto geral de força de trabalho, e cria um novo valor. São dois aspectos,

104
portanto, do processo de trabalho que se distnguem pela diferença entre eles. Permite ao se
descobrir a diferença, medir o grau de exploração do operário pelo capitalista, que se
expressa na taxa de mais-valia. Ela é a relação entre a mais-valia e o capital variável.

Sendo:
m = mais-valia
v = capital variável
Então m é a taxa de mais-valia m’
V

Com o desenvolvimento do capitalismo cresce a taxa de mais-valia. Ou seja, eleva-se o grau


de exploração do proletariado pela burguesia. Como exemplifca Ostrovitanov:

“A TAXA DE MAIS-VALIA. O grau de exploração do operário pelo capitalista encontra sua expressão
na taxa de mais-valia.”
“Denomina-se taxa de mais-valia a relação entre a mais-valia e o capital variável,
isto é, m
v
expressa em porcentagem. A taxa de mais-valia mostra em que proporção o trabalho despendido
pelo operário divide-se em trabalho necessário e trabalho suplementar, ou, em outras palavras,
que parte do dia de trabalho o proletário gasta na reposição do valor de sua força de trabalho e
que parte do dia de trabalho ele trabalha de graça para o capitalista. Marx designa a taxa de
mais-valia pela letra m’. Desse modo, m' = m
v.
No exemplo dado anteriormente (V. p. 85), a taxa de mais-valia, é a seguinte:
m’ = m = 4 dólares x 100 = 100%”
v 4 dólares

A luta da classe operária para reduzir a jornada de trabalho foi uma batalha encarniçada
travada em todo o mundo capitalista. Os trabalhadores tnham jornadas de pelo menos 12
horas diárias de trabalho. Nos termos do exemplo acima, eram 6 horas de trabalho
necessário e 6 horas de trabalho suplementar (produção gratuita de mais-valia). O capitalista
procurava estcar a jornada para lá de 12 horas, obtendo mais trabalho suplementar.

105
Não nos esqueçamos, pois, que o capital é o valor que, através da exploração de operários
assalariados, produz mais-valia. Não haveria a produção de mais-valia sem assalariados. Não
haveria capitalismo, o modo mais avançado da produção mercantl, sem salários. O capital
não leva em conta os limites morais ou fsicos do processo de exploração de todo aquele que
trabalha. É impiedoso em relação à vida e a saúde da maioria da população. Para o capital,
até os remédios consttuem mercadoria. Algumas empresas capitalistas bastante atrasadas
facilitam teto, alimentação e algum dinheiro para os seus operários. Limitam assim, com
formas escravistas de exploração. No entanto, a maioria das empresas vive no regime
assalariado.
“O pagamento em espécie manteve-se, todavia, até certo ponto, no período mecanizado do capitalismo.
Pratcava-se, por exemplo, na indústria extratva e têxtl da Rússia antes da revolução. O pagamento dos
salários em espécie encontrava-se espalhado na agricultura capitalista, quando se empregava o trabalho de
jornaleiros, em alguns ramos industriais dos países capitalistas e dos países colonizados e dependentes. Os
capitalistas colocam os operários numa situação que os obriga a levantar víveres a crédito da cantna da fábrica
ou empresa, em condições gravosas, etc. No sistema de pagamento em espécie, o capitalista explora o operário
assalariado de dupla maneira: como vendedor da força de trabalho e como consumidor.”

Ensina Ostrovitanov:
“A característca do modo de produção capitalista já desenvolvido é o salário em dinheiro.”
“Há que distnguir o salário nominal e o salário real.”
“O salário nominal é o expresso em dinheiro: consiste na soma de dinheiro que o operário recebe
em troca do trabalho que vende ao capitalista.”
“O salário nominal, por si só, não permite formar uma ideia de qual é, na realidade, o nível dos
salários. Pode ocorrer, por exemplo, que o salário nominal permaneça invariável, mas aumentar os
preços dos artgos de primeira necessidade e os impostos; de fato o salário desce. O salário nominal
pode, inclusive, aumentar, mas se no mesmo período aumentar ainda mais a caresta de vida, o
salário sofrerá, de fato, uma descida.”
“O salário real é o expresso em meios de subsistência para o operário; indica quais e quantos
produtos de primeira necessidade e de serviços pode o operário comprar com o seu salário em
dinheiro. A grandeza do salário real do operário determina-se, por um lado, pela quanta de salário
nominal e, por outro lado, pelo nível de preços dos bens de consumo e dos serviços, custo dos
alugueres e volume dos impostos cobrados ao operário.”
Assim, com a difusão da produção mecanizada e o aumento e proletarização do conjunto da
população, o capital pode rebaixar o salário real dos operários e mantê-los por toda parte
num nível bem baixo de consumo. Para reforçar o seu poder, o patrão capitalista dividiu a

106
massa dos trabalhadores até em centenas de denominações, pagando uma pirânmide
diferenciada de salários, onde cada grupo consttui uma camada salarial. Com este
expediente, procuram os capitalistas fomentar a dissensão entre os operários, para que na
heterogeneidade se julguem uns diferentes dos outros, devido a uma fração diferenciatva
nos salários ou na hierarquia do trabalho.
Ao interesse polítco de classe que procura soluções de conjunto para os problemas que
afigem os trabalhadores, opõem os capitalistas, medidas divisionistas, diferenciações
étnicas, etc. Os capitalistas, apesar da crescente mecanização, não aceitam reduzir o tempo
de trabalho na jornada, para não correr o risco de reduzir o tempo de trabalho suplementar
ainda maior que num país desenvolvido. Os capitalistas que têm as máquinas mais
avançadas na produção conseguem uma produtvidade maior que a média do ramo, o que
resulta um valor individual para cada mercadoria de sua empresa inferior ao valor social
daquela mercadoria. Daí obtém uma taxa mais elevada de mais-valia que a corrente, ou seja,
obtém uma mais-valia extraordinária. Os oligopólios pratcam esta norma, a ponto de recriar
mercados duais, onde já não havia mercados primitvos. Assim ensina Ostrovitanov:
“Estende-se cada vez mais o sistema das normas de trabalho estabelecidas de antemão para diferentes
movimentos e operações em separado.”
“Um dos procedimentos seguidos para elevar a mais-valia, enganando os operários, é a chamada partcipação
dos operários nos lucros. Sob o pretexto de interessar os operários no incremento dos lucros da empresa, o
capitalismo diminui o salário básico dos operários, a fim de criar um fundo de ‘repartção de lucros entre os
operários’. No fim do ano e com o nome de ‘lucros’ distribui-se aos operários, na realidade, a parte do salário
que previamente se havia descontado para a empresa. No fim de contas, o operário ‘interessado nos lucros’
recebe geralmente, de fato, um salário mais baixo que o normal. Com igual finalidade distribuem-se, entre os
operários, ações da empresa aos que nela trabalham.”
“Os artfcios usados pelos capitalistas em todos os sistemas de pagamento tendem a extrair do
operário a maior quantdade possível de mais-valia. Os patrões valem-se de todos os meios para
degradar a consciência dos operários, fazendo-os crer que tem um pseudo-interesse em intensificar o
trabalho, em diminuir as despesas da empresa por unidade de produção e em elevar os lucros da
empresa. Os capitalistas procuram, assim, debilitar a resistência do proletariado na sua ofensiva
contra o capital, desviar os operários da entrada para os sindicatos, afastá-los das greves e semear a
divisão no movimento operário.”
Marx não se limitou a apontar o desigual conteúdo de valor trabalhado de duas
mercadorias, com preços de produção iguais. Deu uma fórmula para o desvio de preço da
produção relatvamente ao valor pelo trabalho (valor-trabalho). Deu uma fórmula outra para

107
o desvio da distribuição do trabalho relatvamente à distribuição de capitais, ou seja,
descobriu a relação entre ambos os processos, com o conceito de composição orgânnica do
capital. Uma parte do quadro de Marx, no Livro III de O Capital é esclarecedor. Marx
considera cinco esferas de produção distntas, com diferentes composições orgânnicas, uma
para cada um dos montantes de capital investdo. Vê-se ali a ligação entre composição
orgânnica e distribuição do trabalho social, ou seja: preço de produção – distribuição de
capitais – distribuição do trabalho social. Marx considera que o trabalho “se distribui
proporcionalmente entre os diversos ramos de produção, de acordo a estas necessidades
sociais, quanttatvamente estabelecidas”,.

Distribuição de Composição Orgânica do Distribuição de


Capitais Capital Trabalho
I 100 80c + 20v 120
II 100 70c + 30v 130
III 100 60c + 40v 140
IV 100 85c + 15v 115
V 100 95c + 5v 105

Marx chamou a atenção da diminuição do preço da hora do trabalho, que leva o operário
para se manter ter que prolongar o seu dia de trabalho. Ao lado disso, a intensifcação do
ritmo da produção também contribui para o aumento do gasto de força de trabalho, Marx
comenta:
“O capitalista pode agora extrair do operário uma determinada quantdade de trabalho
suplementar, sem dar-lhe o tempo de trabalho necessário à sua manutenção. Pode retrar ao
emprego todo caráter regular e, segundo sua comodidade, seu capricho e seus interesses no
momento, fazer alternar os períodos do mais monstruoso excesso de trabalho, com os do desemprego
relatvo ou absoluto.”
Como esclarece Kozminov:
“Em consequência da diminuição do preço da hora de trabalho, o proletário, para poder subsistr, vê-
se obrigado a concordar com a prolongação do dia de trabalho. Mas, tanto a prolongação do dia de
trabalho como a desmedida intensificação do trabalho faz com que aumente o dispêndio de força de
trabalho. Quanto menor for o pagamento de cada hora de trabalho, tanto maior será a quantdade
de trabalho, ou tanto mais longo será o dia de trabalho necessário para que o operário receba um
mísero salário. De outro lado, a prolongação do tempo de trabalho provoca, por sua vez, a redução
do pagamento da hora de trabalho. Esta circunstância de que tanto com a prolongação do dia de

108
trabalho, como com o aumento da intensidade do trabalho reduz-se o pagamento da hora de
trabalho, é aproveitada pelo capitalista de acordo com os seus interesses.”
“Se as condições para a venda das mercadorias apresentam-se favoráveis, ele aumenta o dia de
trabalho, introduz as horas extraordinárias, isto é, as horas que ultrapassam o fixado na duração do
dia de trabalho. Se, entretanto, as condições do mercado são desfavoráveis e o capitalista é obrigado
a diminuir o volume da produção, ele reduz o dia de trabalho e introduz o pagamento por hora. O
pagamento do salário por hora, quando o dia de trabalho é incompleto ou é reduzida a semana de
trabalho, baixa sensivelmente o salário. Se, no nosso exemplo, o dia de trabalho for reduzido de 12
horas para 6 horas, mantdo o anterior pagamento de 50 cents por hora, nesse caso o salário diário
do operário será de 3 dólares, isto é, terá a metade do valor diário de sua força de trabalho. Portanto,
o operário recebe um salário menor não só quando o dia de trabalho é desmedidamente aumentado,
como quando se vê obrigado a trabalhar um tempo incompleto.”
As diferentes formas concebidas pelo capitalista para diminuir o salário pago ao operário
justfcam a classifcação do salário, pelos socialistas utópicos, como “medida da miséria”,. Os
capitalistas não se interessam pelos trabalhadores enquanto consumidores. Nesta últma
condição – consumidores – os trabalhadores também são explorados, pois recebem
produtos inferiores àqueles destnados à burguesia e com preços mais elevados.
“Mais ainda do que no caso do salário por tempo, o salário por peça cria a enganosa aparência de
que o operário, supostamente, vende ao capitalista não a sua força de trabalho, mas o seu trabalho e
recebe o completo pagamento do trabalho, de acordo com a quantdade de produtos que elabora.”
“O sistema capitalista de pagamento por tarefa acarreta a permanente intensificação do trabalho.
Ao mesmo tempo, torna mais fácil a tarefa do empresário de exercer vigilância sobre os operários.
Aqui, o grau de tensão do trabalho é controlado pela quantdade e a qualidade dos produtos que o
operário deve elaborar para adquirir os indispensáveis meios de existência. O operário vê-se obrigado
a aumentar a elaboração das peças, a trabalhar cada vez mais intensamente. Mas, tão logo um
número mais ou menos grande de operários atnja um novo nível mais elevado de intensidade de
trabalho, o capitalista reduz a taxa do pagamento por peça. Se, em nosso exemplo, a taxa de
pagamento por peça é rebaixada, digamos, à metade, para receber o mesmo salário que antes o
operário é obrigado a trabalhar por dois, isto é, vê-se forçado ou a aumentar o tempo de trabalho, ou
a elevar ainda mais o grau de tensão do trabalho, de tal modo que no curso de um dia produza não
60, mas 120 peças. ‘O operário esforça-se por resguardar a massa do seu salário, trabalhando mais;
seja trabalhando mais horas por dia, seja produzindo mais em cada hora. O resultado é este: quanto
mais trabalha, menos salário ganha.’ Nisto consiste uma partcularidade importantssima do
trabalho por tarefas sob o capitalismo.”

109
“Por grande que seja a variedade de formas do salário por tarefas no capitalismo, sua essência
permanece invariável. Engendra a concorrência entre os operários, obriga-os a elevar a intensidade
do trabalho, assegurando aos capitalistas maiores ingressos. O salário por tarefa, ‘ao elevar os
salários individuais acima do nível médio, tende, pois, a rebaixar este mesmo nível’.”
Lênine critcou a organização do trabalho pelo capitalista, caracterizando-a como uma
forma desumana de exploração do trabalhador. Faz referência ao taylorismo e ao fordismo,
que possibilitaram a efetvação da chamada “segunda revolução industrial”,. Disse Lênine:
“A essência do taylorismo (a denominação do sistema origina-se do seu autor, o engenheiro norte-americano
F. Taylor) consiste no seguinte: Na empresa, são selecionados os operários mais fortes e mais hábeis, aos quais
obriga a trabalhar com o máximo de tensão. A execução de cada operação é registrada em segundos e em
frações de segundos. À base dos elementos fornecidos pela cronometragem, são estabelecidos o regime de
produção e as normas de tempo para toda a massa de operários. No caso de superação da norma – ou ‘tarefa’
– o operário recebe um pequeno acréscimo ao salário diário – um prêmio: se, porém, a norma não for atngida,
o salário é pago segundo tarifas fortemente reduzidas.”
“Caracterizando o sistema de Taylor, em conjunto, Lênine afirmou que ele associa uma série de sérias
conquistas cientficas no terreno da análise dos movimentos mecânicos no trabalho, da supressão dos
movimentos supérfuos, da elaboração de métodos corretos de trabalho, dos melhores sistemas de cálculo e
controle, etc., à refinada ferocidade da exploração capitalista. Lênine chamou essa organização do trabalho e
do pagamento dos operários de sistema ‘cientfico’ de extração de suor.
“Como resultado disto, descreve Lênine, nas mesmas 9 ou 10 horas, arranca-se do operário três vezes mais
trabalho, esgotam-se implacavelmente todas as suas forças extrai-se com velocidade triplicada até a últma
gota da energia nervosa e muscular do escravo assalariado. Morrerá prematuramente? Que importa, se há
muitos outros esperando nos portões?!...”
“O sistema de organização do trabalho, e do salário introduzindo pelo ‘rei do automóvel’ americano, H.Ford, e
por muitos outros capitalistas (o sistema do fordismo) obtém a máxima elevação da intensidade do trabalho
através de uma crescente aceleração dos ritmos do trabalho em cadeia e da introdução de sistemas
extenuantes de salário. Aqui, a intensificação do trabalho não se faz acompanhar pelo aumento do salário, ou
pela redução do dia de trabalho.”
“O aumento da exploração dos operários é também obtdo através de outros sistemas de organização do
trabalho e do salário, que são variedades do taylorismo e do fordismo. Entre eles figura, por exemplo, o
sistema Hant (Estados Unidos). Diferentemente do sistema taylorista de peças, o sistema de Hant utliza o
critério do salário por tempo com prêmios. O operário cumpre determinada ‘tarefa’ e se lhe garante um
pagamento muito baixo por unidade de tempo trabalhada, independentemente do cumprimento da norma. O
operário que cumprir a ‘tarefa’ recebe um pequeno adicional, ou prêmio, àquele mínimo garantdo. O sistema
Helsi (Estados Unidos) baseia-se no princípio do pagamento de prêmios pela ‘economia’ de tempo, como
complemento ao ‘salário médio’ por hora de trabalho. Segundo tal sistema, por exemplo, se a intensidade do
trabalho for duplicada por cada hora de tempo ‘economizado’ paga-se um prêmio equivalente a

110
aproximadamente um terço do salário-hora. Em consequência, quanto mais intenso for o trabalho, tanto mais
baixo será o salário do operário em relação ao trabalho por ele gasto. O sistema Rowan (Inglaterra) repousa
sobre os mesmos princípios.
“Na Europa ocidental e nos Estados Unidos, tornou-se muito difundido o sistema do contnuador francês de
Taylor – Bedaux – que se baseava numa complexa escala de índices de velocidade do movimento e de tensão do
trabalho no cumprimento das operações de produção, com elevadas normas de elaboração. Este sistema
calculava o tempo de trabalho até pequenas frações de segundo. No caso de cumprimento da norma, o
operário recebia um prêmio e se não a atngisse era multado mediante o rebaixamento do salário. O sistema de
Bedaux acarretou uma enorme elevação da intensidade do trabalho.”
“Os métodos do taylorismo e do fordismo são ainda hoje utlizados sob as diferentes modalidades. Assim,
diversas formas de salário por tempo com prêmios são empregadas nos Estados Unidos em combinação com
altas normas, estabelecidas à base da cronometragem e do estudo das operações de trabalho, tendo em conta
o aproveitamento máximo da potência das máquinas.”

Uma vez que o sistema capitalista de pagamento visa baixar o salário real pago ao
trabalhador, a infação dos preços contribui para elevações sucessivas nominais do salário,
quando, na verdade, em termos reais, o trabalhador tende a ter um poder aquisitvo cada
vez menor. Esta diminuição do salário real é difcil de ser percebida pela pessoa comum, que
em geral tende a atribuir suas difculdades a erros que ela própria comete. No entanto, a
massa real de poder de compra transferida aos trabalhadores tende a ser cada vez menor. O
capitalista procura encobrir esta situação com a venda a crédito, em que o trabalhador vê-se
endividado, às vezes pagando duas ou mais vezes o valor da mercadoria “fnanciada”,... Diz
Kozminov, comentando a “partcipação nos lucros”,:
“Um dos métodos de elevação da mais-valia, mediante o engodo dos operários, é a chamada “partcipação
dos operários nos lucros”. A pretexto de interessar o operário no aumento dos lucros da empresa, o capitalista
reduz o salário básico dos trabalhadores e por esse meio forma o fundo de “distribuição dos lucros entre os
operários”. Posteriormente, no fim do ano e sob o rótulo de lucros, entrega-se de fato ao operário uma parte do
salário que a empresa lhe havia descontado antes. No final das contas, o operário “partcipante nos lucros”
frequentemente recebe, na realidade, menos do que o salário habitual. Com os mesmos fins, pratca-se a
distribuição entre os operários de ações da empresa em que trabalham.”

Kozminov também discute o salário nominal e o salário real:


“O pagamento em espécie ainda se mantém, em certa medida, no período mecanizado do capitalismo. Era
pratcado, por exemplo, na indústria extratva e têxtl da Rússia de antes da revolução. O pagamento em espécie
é difundido na agricultura capitalista, onde é empregado o trabalho de assalariados, em alguns ramos da
indústria dos países capitalistas, nos países coloniais e dependentes. Os capitalistas colocam os operários numa
tal situação que eles são obrigados a adquirir gêneros a crédito no armazém da fábrica, a alojar-se em
habitações construídas junto às minas ou às plantações e a viver nas duras condições ditadas pelos patrões, etc.

111
Sob o sistema do pagamento em espécie, o capitalista explora o operário assalariado não apenas como
vendedor de sua força de trabalho, mas também como consumidor.”
“O pagamento em dinheiro é característco do modo de produção capitalista em sua etapa
desenvolvida.”
“Deve-se distnguir entre o salário nominal e o salário real.”
“O salário nominal é o salário expresso em dinheiro; é a quanta em dinheiro que o operário recebe
pela venda de sua força de trabalho ao capitalista. O salário nominal por si mesmo não oferece uma
completa representação do nível real de pagamento do operário. O salário nominal pode, por
exemplo, permanecer invariável, mas se, ao mesmo tempo, os preços dos artgos de consumo e os
impostos se elevarem, o salário do operário na realidade se reduzirá. Pode mesmo suceder que o
salário nominal seja aumentado, mas se no mesmo período de tempo a caresta de vida aumentar
mais do que o aumento do salário nominal, então, de fato, haverá uma diminuição do salário.
“O salário real é o salário expresso em meios de existência do operário; indica quantos e quais
artgos de consumo e serviços pode o operário comprar com o seu salário em dinheiro. A grandeza do
salário real do operário é determinada, de um lado, pelo nível do salário nominal, e de outro pelo
nível dos preços dos artgos de consumo de serviços, pelo custo do aluguel da casa, pela carga dos
impostos arrancados ao operário.”
“Na determinação do nível médio do salário real, a estatstca burguesa frequentemente torce a
realidade: inclui, por exemplo, na soma global dos salários da classe operária os ingressos da minoria
dirigente da indústria e da burocracia financeira (gerentes de empresas, diretores de bancos, etc.),
exclui da soma global dos salários a numerosa camada de operários sem qualificação e baixamente
remunerados, o proletariado agrícola, ignora a elevação dos preços dos artgos de amplo consumo,
os aumentos de impostos, lança mão de índices falsos do custo de vida, reduz enormemente a
caresta da vida e utliza outros métodos, a fim de embelezar a real situação da classe operária sob o
capitalismo.”
“Até que ponto, semelhantes métodos de cálculo do nível médio de salários podem deformar a
situação real, resulta evidente do fato de que os ingressos dos dirigentes das empresas, diretores de
bancos e outros elementos da administração altamente remunerados superam em dezenas de vezes
o salário médio dos operários. Assim, por exemplo, em 1955, segundo os dados da estatstca
americana, o soldo anual (incluindo diversos pagamentos complementares) do presidente do maior
monopólio automobilístco dos Estados Unidos, a General Motors, elevou-se a 776,4 mil dólares, a de
um diretor da companhia de aço Bethleem ascendeu a 706 mil dólares, a de um monopólio químico a
Dupont a mais de 624 mil dólares e a de Henry Ford II – um dos maiores empresários dos Estados
Unidos, presidente da companhia de automóveis Ford – foi de 565 mil dólares.”

112
Nos países mais ricos do sistema capitalista, a vida dos trabalhadores não é tão fácil como
nos flmes e na propaganda burguesa:
“Economistas burgueses dos Estados Unidos calcularam em 1938 o mínimo vital para uma família operária,
consttuída de 4 pessoas, em 2177 dólares por ano. Ao mesmo tempo, o salário médio anual por cada operário
industrial nos Estados Unidos era de 1176 dólares, isto é, pouco mais de metade daquele mínimo vital. Antes da
Segunda Guerra Mundial, o mínimo vital de uma família operária média na Inglaterra (composta de 5 pessoas)
foi determinado pelos economistas burgueses em cerca de 55 xelins semanais. De acordo com os dados oficiais,
nos anos que precederam imediatamente a últma guerra, 80 por cento dos operários da indústria carbonífera,
75 por cento dos operários da indústria extratva (exclusive a carbonífera), 57 por cento dos operários das
empresas de serviços públicos da Inglaterra recebiam menos do que esse mínimo vital.”

Apesar da luta dos trabalhadores para manter seu nível de rendimento real, o incessante
surgimento de novas mercadorias, muitas das quais necessárias numa sociedade de trabalho
intensivo e assalariado (máquinas de lavar, ventladores, aquecedores, fogões a gás, etc.), faz
com que a lenta progressão (ou nenhuma) do salário real não permita a grande parte dos
trabalhadores ter acesso a esses bens novos. O salário real tende a decrescer sob o capital
porque o progresso técnico, que aumenta a produtvidade do trabalho, diminui o valor da
força de trabalho (enquanto eleva a mais-valia). Esta tendência fundamenta o
desenvolvimento da produção capitalista. Como nas condições do capitalismo a população
cresce sem cessar, com a decomposição pelo capital da economia camponesa mercantl
simples, gera-se excesso de oferta de força de trabalho para os capitalistas contratarem. Isso
permite aos capitalistas pagar menos em termos reais para os novos operários contratados.
O salário costuma ser sempre inferior ao valor da força de trabalho.
Indica Kozminov:
“Os artfcios usados pelos capitalistas em todos os sistemas de pagamento visam extrair do
operário a maior quantdade possível de mais-valia. Os empresários se valem de todos os meios
possíveis para inocular na consciência dos operários um suposto interesse no aumento da intensidade
do trabalho, na redução dos gastos de salário por unidade de produção e na elevação da
lucratvidade da empresa. Os capitalistas visam, por esse meio, enfraquecer a resistência do
proletariado à ofensiva do capital, levar os operários a renunciar ao ingresso nos sindicatos, à
partcipação nas greves e semear a cisão no movimento operário.”
A mudança na forma de pagamento, por exemplo, por peça e não por tempo, não resulta de
fato em qualquer melhoria; acrescenta Kozminov:
“Ao estabelecer estas taxas, o capitalista leva em conta, em primeiro lugar, o salário diário do
operário calculado por tempo e, em segundo lugar, a quantdade de artgos ou de peças que um

113
operário elabora no curso de um dia; além disso, toma como norma geralmente o coeficiente de
produção mais elevado. Se o salário médio diário num determinado ramo da produção, sob o sistema
do salário por tempo, é de 6 dólares, e a quantdade de artgos de determinado tpo que um operário
produz é de 60 unidades, então a norma estabelecida para o pagamento por peça será de 10 cents
por unidade ou por peça. A taxa de pagamento por peça é fixada pelo capitalista de tal maneira que o
salário de uma hora (um dia, ou uma semana) do operário não seja mais elevado do que o salário por
tempo. Assim, o salário por peças é, no fundo, apenas uma modalidade do salário por tempo.”
O quadro estabelecido por Marx no volume III d’O Capital (p.592), nos permite chegar -
como se disse – ao esquema de relação causais preço de produção – distribuição de capitais
– distribuição de trabalho. Como se parte do preço de produção, que compreende os custos
de produção mais o lucro médio, dito de outra forma, capital constante mais capital variável,
deve-se partr para a análise dos custos de produção. Aqui podem nascer as modifcações
que iriam alterar os preços de produção. Diz Rubin:
“Se a taxa média de lucro permanece inalterada, então os preços de produção das mercadorias se
modificam quando os custos de produção se modificam. Os custos de produção de determinadas
mercadorias se modificam nos casos seguintes: 1) quando as quantdades relatvas de meios de
produção e o trabalho necessário para a produção se modificam, ou seja, quando a produtvidade do
trabalho nessas dadas esferas de produção se modifica, dados preços constantes; 2) quando os
preços dos meios de produção se modificam; isto pressupõe modificações na produtvidade do
trabalho nos ramos que produzem esses meios de produção (se a quantdade relatva de meios de
produção e força de trabalho são constantes). Em ambos os casos, os custos de produção se
modificam em relação à produtvidade do trabalho e, consequentemente, a modificações no valor-
trabalho. Desta maneira, ‘permanecendo inalterável a taxa geral de lucro, o preço de produção de
uma mercadoria só pode variar porque seu próprio valor varia; porque se necessitar de uma maior ou
menor quantdade de trabalho para reproduzir esta mercadoria, seja porque se altera a
produtvidade do trabalho que produz a mercadoria em sua forma definida, seja porque sofre uma
alteração a produtvidade do trabalho produtor daquelas que contribuem para sua produção’. ‘O
preço de produção dos fios de algodão, por exemplo, pode cair, seja porque o algodão em bruto é
produzido mais barato, seja porque o trabalho de fiação é agora mais produtvo, devido à introdução
de maquinaria mais aperfeiçoada’ (C., III, pp. 207-208; ver também p. 108). É necessário notar que os
preços de produção quanttatvamente expressos não coincidem exatamente com o valor-trabalho
das mercadorias que o consttuem.”
“Como o preço de produção pode diferir do valor da mercadoria, pode ocorrer que o preço de custo
de uma mercadoria em que esteja incluído o preço de produção de outra mercadoria seja inferior ou

114
superior à parte de seu valor total formada pelo valor dos meios de produção empregados para
produzi-la” (C., III, p. 170). Podemos ver que esta circunstância, a que Tugan-Baranovski atribuiu tão
grande significado em sua crítca à teoria de Marx, era bem conhecida pelo próprio Marx. Marx
mesmo preveniu ‘que quando numa esfera especial da produção o preço de custo da mercadoria se
equipara ao valor dos meios de produção empregados para produzi-la, sempre cabe a possibilidade
de erro’ (C., III, p. 170). Mas este desvio de maneira alguma confita com o fato de que modificações
no valor-trabalho, provocadas por modificações na produtvidade do trabalho, provocam
modificações nos custos de produção e, assim, nos preços de produção. Era precisamente isto que
tnha que se provar. O fato de que as expressões quanttatvas das diferentes séries de eventos
divirjam, não elimina a existência de uma relação causal entre eles, nem nega que modificações
numa série dependem de modificações na outra. Nossa tarefa só estará completa se pudermos
estabelecer as leis desta dependência.”
Kozminov chama à observação o caráter encoberto das formas capitalistas, salário, lucro,
etc., para se chegar ao ponto de conexão das suas relações:
“A mais-valia confrontada com todo o capital toma a forma de lucro. Além disso, como a mais-valia
não é confrontada com o capital variável, mas com todo o capital, em seu conjunto, dissimula-se a
diferença entre o capital constante empregado na compra de meios de produção e o capital variável
investdo na contratação de força de trabalho. Em consequência, surge a enganosa aparência de que
o lucro é supostamente, gerado pelo próprio capital. Na realidade, porém, a fonte do lucro é a mais-
valia criada exclusivamente pelo trabalho dos operários no processo de uso da força de trabalho, cujo
valor está cristalizado no capital variável. O lucro é a mais-valia tomada em relação a todo o capital
invertdo na produção e que aparece exteriormente como tendo sido engendrada por este capital.
Devido a isto, Marx denomina o lucro de forma metamorfoseada da mais-valia.”
“Do mesmo modo que a forma salário oculta a exploração do operário assalariado, criando a falsa
representação de que, supostamente, todo o trabalho seria remunerado, também exatamente assim
a forma lucro, por sua vez, oculta a relação de exploração, criando a ilusória aparência de que o lucro
seria engendrado pelo capital. Assim é que as formas das relações de produção capitalistas
dissimulam e mascaram sua essência exploradora.”
“A taxa de lucro depende antes de tudo da taxa de mais-valia. Quanto mais elevada for a taxa de
mais-valia, tanto maior, mantdas as demais condições, será a taxa de lucro. Todos os fatores que
elevam a taxa de mais-valia, isto é, que aumentam o grau de exploração do trabalho pelo capital
(prolongação do dia de trabalho, elevação da intensidade e da produtvidade do trabalho, etc.),
também incrementam a taxa de lucro.”
Mas a taxa de lucro depende também da composição orgânnica do capital. Diz Kozminov:

115
“Ademais, dada uma determinada taxa de mais-valia, a taxa de lucro depende da composição
orgânica do capital. Como já vimos, a composição orgânica do capital é a relação entre o capital
constante e o capital variável. Quanto mais baixa for a composição orgânica do capital, isto é, quanto
maior for o peso específico do capital variável em relação ao constante, tanto maior, com uma
mesma taxa de mais-valia, será a taxa de lucro. E, inversamente, quanto mais elevada a composição
orgânica do capital, com uma taxa igual de mais-valia, tanto menor será a taxa lucro.”
“Um dos fatores que elevam a taxa de lucro é a economia na aplicação do capital constante.”
“Por últmo, infui sobre a taxa de lucro a rapidez da rotação do capital. Quanto mais rápida for a
rotação do capital, tanto mais alta será a taxa anual de lucro, que representa a relação entre a mais-
valia produzida durante um ano e todo o capital adiantado. E, inversamente, a lentdão na rotação do
capital acarreta a redução da taxa anual de lucro.”
Assim sendo, a lei da mais-valia funciona através da lei da taxa média de lucro. As relações
de exploração são veladas, obscurecidas, pelo nivelamento da taxa de lucro e a
transformação do valor em preço de produção. A diferença que existe, de grandeza, entre o
lucro e a mais-valia nas diferentes esferas de produção obscurece a verdadeira natureza e a
origem do lucro. A base de determinação do valor, como observou Marx, fca obscurecida
com a transformação do valor em preço de produção.

6 – Conclusão.
Aprendemos qual é a diferença entre a economia mercantl simples e a economia mercantl
complexa, o capitalismo, em que os mercados já conhecem o equivalente universal, o
dinheiro, baseado simbolicamente no ouro, e em que prevalece o contrato da força de
trabalho à base do salário.
Aprendemos também que o grau de rentabilidade de uma empresa capitalista é
determinado pela taxa de lucro. Esta é o que alimenta a razão de ser do sistema empresarial
e não o tpo de mercadoria que ali é produzido.
Diz Kozminov:

116
“O grau de rentabilidade de uma empresa capitalista, para o seu possuidor é determinada pela
taxa de lucro. A taxa de lucro é a relação entre a mais-valia e todo o capital adiantado, expressa
em porcentagem. Por exemplo, se todo o capital adiantado for igual a 200 mil dólares e o lucro
num ano for de 40 mil dólares, então a taxa de lucro será de
40.000 x 100, ou 20%.
200.000

“A taxa de lucro é a força motriz da produção capitalista; produz-se aquilo e só na medida em que
seja possível produzir-se com lucro.”
“Desde que todo o capital adiantado é maior do que o capital variável, a taxa de lucro [ m ] é
sempre menor do que a taxa de mais-valia [ m ].
c+v

“Se, em nosso exemplo, o capital de 200 mil dólares for composto por 160 mil dólares de capital
constante e 40 mil dólares de capital variável, nesse caso a taxa de mais-valia será de
40.000 x 100 = 100%,
40.000

enquanto a taxa de lucro será de 20%, ou um quinto da taxa de mais-valia.”

Entendemos nessa aula algo sobre formação da taxa média de lucro e o processo de
transformação do valor das mercadorias em preço de produção. Podemos agora
compreender algo da concorrência capitalista:
“No capitalismo, a distribuição dos capitais entre os diferentes ramos da produção e o
desenvolvimento da técnica processam-se em meio a uma encarniçada luta de concorrência.”
“É necessário distnguir a concorrência dentro de cada ramo da concorrência entre os diferentes
ramos.”
“A concorrência dentro de cada ramo é a que se estabelece entre as empresas de um mesmo ramo,
produtoras de mercadorias do mesmo gênero, buscando maiores vantagens na venda dessas
mercadorias e a obtenção de lucros suplementares. As diferentes empresas trabalham em condições
diversas e diferenciam-se umas das outras pelas proporções da empresa, pelo nível de dotação
técnica e de organização da produção. Devido a isto, não é o mesmo o valor individual das
mercadorias produzidas por diferentes empresas. Entretanto, o preço das mercadorias não é
determinado pelos seus valores individuais, mas pelo valor social. O processo de formação do valor
social opera-se espontaneamente, através da concorrência entre empresas de um mesmo ramo.”

117
“A grandeza do valor social das mercadorias depende, como já foi visto, das condições médias de
produção num determinado ramo. Tendo em vista o fato de que o preço das mercadorias é
determinado por seu valor social, levam a melhor aquelas empresas em que a técnica da produção e
a produtvidade do trabalho são mais elevadas do que o nível médio no ramo considerado e, em
consequência, o valor individual das mercadorias é mais baixo do que o valor social. Estas empresas
auferem um lucro suplementar, ou superlucro, que representa uma forma da mais-valia
extraordinária, que já estudamos anteriormente (capítulo IV). A concorrência impele o capitalista, na
corrida ao lucro mais elevado, a empenhar-se na redução do valor individual das mercadorias
elaboradas em sua empresa, relatvamente ao valor social. Nem todos os capitalistas, porém,
conseguem tal coisa. Ao contrário, para muitos empresários o valor individual das mercadorias
permanece mais alto do que o valor social. Assim, em consequência da concorrência dentro de cada
ramo, em diferentes empresas de um ramo dado formam-se taxas de lucros diversas. A concorrência
entre as empresas de um mesmo ramo acarreta o deslocamento das pequenas e médias empresas
pelas grandes empresas.”
Entendemos que do ponto de vista individual, não há solidariedade entre as empresas
capitalistas, que buscam arruinar uma a outra, com base na busca do lucro máximo:
“A fim de resistr na luta da concorrência, os capitalistas – proprietários de empresas atrasadas –
esforçam-se por introduzir os aperfeiçoamentos técnicos empregados pelos seus concorrentes –
proprietários das empresas tecnicamente mais desenvolvidas. Devido a isto, modificam-se as
condições médias de produção no ramo considerado e, consequentemente, reduz-se o valor social das
mercadorias. Ao mesmo tempo, a introdução de aperfeiçoamentos técnicos traz implícita a elevação
da composição orgânica do capital para todo o ramo, em seu conjunto. Agora, o superlucro, que
vinham recebendo os capitalistas donos de empresas tecnicamente mais desenvolvidas, deixa de
existr e verifica-se uma baixa da taxa média de lucro para todo o ramo. Isto obriga os capitalistas a
novamente introduzir aperfeiçoamentos técnicos. Assim, no processo da concorrência dentro de cada
ramo, desenvolve-se a técnica e crescem as forças produtvas.”
“A concorrência entre os diferentes ramos é aquela que se estabelece entre os capitalistas dos
diferentes ramos de produção por uma inversão mais lucratva do capital. Os capitais empregados
nos diferentes ramos da produção possuem composições orgânicas diversas. Uma vez que a mais-
valia é criada exclusivamente pelo trabalho dos operários assalariados, nas empresas daqueles ramos
onde predomina uma baixa composição orgânica do capital, um capital da mesma grandeza e com
uma taxa igual de mais-valia produz uma massa relatvamente maior de mais-valia. Já nas empresas
onde a composição orgânica do capital é mais elevada, produz-se uma massa relatvamente menor
de mais-valia para um capital da mesma grandeza. Todavia, a luta de concorrência entre os

118
capitalistas dos diferentes ramos faz com que se nivelem as proporções dos lucros sobre os capitais de
iguais dimensões.”
Compreendemos o caráter dual da produção mercantl, do lucro, da mais-valia e do salário,
entendendo assim porque não depende da vontade de cada capitalista o processo de
exploração do trabalho e da monopolização da riqueza. Diz Kozminov:
“Na realidade, a formação da taxa média de lucro significa uma redistribuição da mais-valia entre os
capitalistas dos diferentes ramos da produção. Parte da mais-valia criada nos ramos onde é baixa a
composição orgânica do capital é apropriada pelos capitalistas dos ramos onde a composição
orgânica do capital é alta. É evidente, pois, que os operários são explorados não apenas por aqueles
capitalistas para os quais eles trabalham, mas por toda a classe dos capitalistas, em conjunto. Toda a
classe dos capitalistas está interessada na elevação do grau de exploração dos operários, uma vez
que isto tem como consequência a elevação da taxa média de lucro. Como ensinou Marx, a taxa
média de lucro depende do grau de exploração de todo o trabalho por todo o capital.”
“A lei da taxa média de lucro exprime, de um lado, as contradições e a luta de concorrência entre os
industriais capitalistas pela partlha da mais-valia, e, de outro lado, o profundo antagonismo entre as
duas classes mutuamente hosts. – a burguesia e o proletariado. Esta lei testemunha que na
sociedade capitalista a burguesia, como classe, contrapõe-se ao proletariado em seu todo, que a luta
por interesses parciais dos operários ou de grupos operários isolados, a luta contra capitalistas
isolados não pode conduzir a uma mudança radical da situação da classe operária. A classe operária
só poderá sacudir o jugo do capital, liquidando o sistema da exploração capitalista.”
Perguntas.
1. Que entende por mais-valia?
2. Qual a diferença entre mais-valia e lucro?
3. Qual a diferença entre massa de lucros e taxa de lucro?
4. Por que economizar o capital constante é uma força oposta à elevação da taxa média de
lucro?
5. Por que o salário é dual?
6. Qual a contradição fundamental da economia mercantl avançada?
7. Que entende por preço de produção?
8. Formule verbalmente a lei da mais-valia.
9. Qual a relação entre salário e preço de mercado?
10. Através de que se dá a redistribuição da mais-valia entre os capitalistas dos diferentes
ramos de produção?
*
119
Aula 4

120
4 - Contradições do Regime Capitalista.
A contradição fundamental do capitalismo se dá entre (1) os proprietários dos meios de
produção e (2) os trabalhadores assalariados que são por aqueles explorados no processo de
produção e de criação de riqueza. Como o capitalismo não existe enquanto regime puro,
outras contradições vêm a fundamentar o processo de sua existência.
Há a contradição entre camponeses médios e pobres, membros da economia mercantl
simples, que é periodicamente arruinada e se refaz no processo da reprodução mercantl
avançada ou capitalismo. Esta classe compreende também os pequenos proprietários
citadinos – a pequena burguesia – que têm pouca ou nenhuma exploração de mão de obra
assalariada. Estão estes – dizíamos – em contradição com a burguesia como classe, de um
lado, e o proletariado como classe, do outro. Trata-se de uma “classe pretérita”,, isto é, ela já
exista na produção econômica-social, antes do estabelecimento do capitalismo. Também se
opõem ao latfúndio.
Há a contradição entre burguesia e o latfúndio, como classes opostas. A burguesia como
um todo se caracteriza pela exploração capitalista. Já a classe – ou camada – dos
latfundiários, a depender do seu grau de decomposição social, vive da exploração dos
trabalhadores rurais, camponeses ou não, sob as formas pré-capitalistas de confsco de
renda (renda-trabalho, renda-produto e/ou renda-dinheiro). O avanço da burguesia no setor
agrário tende a absorver a propriedade latfundiária e a transformá-la numa “fábrica rural”,
de insumos industriais. É um processo lento, de idas e vindas, e expressa a luta econômica e
social entre essas duas classes.
Há a contradição entre latfúndio e o proletariado; a sobrevivência do latfúndio rebaixa o
nível de vida dos trabalhadores urbanos e rurais; opõe-se também ao campesinato sem
terra, monopolizada pelo latfúndio.
Na base econômica, dá-se a contradição entre as forças produtvas e as relações de
produção. Há a contradição, nos países da periferia, entre a burguesia local e o imperialismo,
que são componentes externos que sustentam o latfúndio e a parte comercial da burguesia,
por convergência de interesses. Dá-se também a contradição, na periferia do sistema, entre a
Nação (o povo local) e o imperialismo, consttuído pelo bloco monopolista externo, que se
apresenta unido no plano local, mas se move contraditoriamente no quadro internacional.
Para um “país subdesenvolvido”, (capitalismo atrasado) como o Brasil, são dez, as
contradições fundamentais de seu processo de existência:

121
(1) Burguesia x Proletariado
(2) Pequeno Burguesia x Proletariado
(3) Pequeno Burguesia x Latfúndio
(4) Burguesia x Latfúndio
(5) Forças Produtvas x Relação de Produção
(6) Proletariado x Latfúndio
(7) Pequeno Burguesia x Burguesia
(8) Proletariado x Imperialismo
(9) Burguesia Nacional x Imperialismo
(10) Nação x Imperialismo
No quadro atual do sistema, são contradições antagônicas (necessária destruição de um dos
“polos”, ou de ambos) as contradições: (9) e (10).
A burguesia nacional (um bloco de classes que compreende parte da pequena burguesia e
da burguesia industrial) ou derrota o imperialismo ou tende a desaparecer; quanto à Nação
(um bloco de classes liderado pela burguesia nacional que compreende o proletariado) ou
derrota o imperialismo e o latfúndio, ou tende a desaparecer como unidade nacional.
Por estas característcas, o nosso partdo considera a etapa estratégica de luta atual uma
etapa democrátca (formação de blocos heterogêneos de classe), nacional (a sobrevivência
da Nação está em jogo), ant-imperialista (a dominação externa bloqueia a industrialização) e
antfeudal (é preciso eliminar o latfúndio e libertar as forças produtvas rurais com algum
tpo de revolução operária). É agravador do caráter da luta o fato de o latfúndio ainda se
consttuir no país uma força social autônoma (não dependente da burguesia).
Para o nosso partdo é preciso unir num bloco nacional (a Nação) o proletariado, o
campesinato pobre e sem-terra, a burguesia nacional e parte da pequena burguesia (urbana
e rural) para combater a burguesia comercial, os agentes imperialistas e o latfúndio. Trata-se
da forma socialista atual da revolução brasileira.

1 – A Acumulação Capitalista e a Pauperização Relatva e Absoluta da Classe Operária.


Além das formas como as contradições sociais se manifestam concretamente no plano
polítco do processo histórico, como formas partculares que são, tem-se as contradições

122
universais do sistema capitalista, que, não sendo singularidades, se manifestam em cada
sociedade dominada pelo capital, como manifestação do geral.
Ao examinar o problema da acumulação na sociedade capitalista, Marx indicou que o
capitalista não enriquece pela frugalidade, como o camponês ou o artesão que se abstém de
gastar e se divertr, mas graças à apropriação do trabalho gratuito dos “seus”, operários e à
renúncia que a eles impõem de todos os prazeres da vida. O trabalho não pago é a fonte do
enriquecimento do capitalista, permitndo acumular mais-valia e materializá-la como lucro
nas atvidades comerciais.
Para que o número de empobrecidos permitsse deslanchar, ao menos no nível de uma
nação, a formação do mercado capitalista, algumas pré-condições se fzeram necessárias: (a)
o arruinamento em escala de massa dos pequenos e médios produtores mercants simples,
situação que requeria; (b) a prévia ascensão ao poder da burguesia comercial; (c) a aliança
ou associação dessa burguesia com os latfundiários pré-existentes; (d) a possibilidade de
saquear um ou vários mercados primitvos exteriores pré-existentes; (e) a formação de um
aparelho de Estado, ou ao menos de uma força armada que expressasse a aliança latfúndio-
capital comercial; etc. Vê-se historicamente no caso da Índia, da China, da Itália, da Flandres,
etc., que faltaram algumas destas condições aqui e ali, para que a burguesia se consolidasse
como classe e pudesse estabilizar um processo independente da sua própria reprodução
ampliada como um sistema. Só e quando essas pré-condições cooperaram entre si, a
princípio em bem poucos países, passou a economia mercantl simples a outra, considerada
complexa, baseada na acumulação à base de dinheiro. Como disse Kozminov:
“O dinheiro desempenha a função de meio de acumulação, ou meio de entesouramento. O dinheiro
transforma-se em tesouro quando retrado da circulação. Uma vez que o dinheiro pode a qualquer
momento ser transformado em qualquer mercadoria, é ele o representante universal da riqueza.
Pode ser guardado em qualquer quantdade. Os produtores de mercadorias acumulam dinheiro, por
exemplo, para comprar meios de produção ou a ttulo de poupança. Com o desenvolvimento da
produção mercantl, cresce o poder do dinheiro. Tudo isto fez surgir a paixão pela poupança de
dinheiro, pelo entesouramento. Somente pode ser entesourado o dinheiro que conserve a plenitude do
seu valor: moedas de prata e de ouro, pedaços de ouro e de prata e também os objetos destes metais.”
“Quando as moedas de ouro ou de prata desempenham as funções de dinheiro, sua quantdade
ajusta-se espontaneamente às necessidades da circulação mercantl. Se há redução da produção de
mercadorias e diminuição da circulação mercantl, parte das moedas de ouro sai da circulação e é

123
entesourada. Inversamente, quando a produção se amplia e cresce a circulação mercantl, estas
moedas retornam à circulação.”
A utlização do dinheiro no processo de circulação permite pratcamente a uma unidade
produtva do capitalismo intentar inundar os mercados com as suas mercadorias. O que não
pode ser vendido perto, talvez possa ser vendido longe. Com a diminuição colonial dos
mercados externos, tornou-se possível trazer matérias primas de toda parte e até mover
mão de obra daqui para ali, com vistas a atender as necessidades do capital em lucrar. Dessa
forma, o sistema teve que ampliar, muitas vezes, as suas relações e suas unidades produtvas.
Diz Kozminov:
“A análise das funções do dinheiro como meio de circulação e como meio de pagamento permite
descobrir a lei que rege a quantdade de dinheiro necessária à circulação das mercadorias.”
“As mercadorias são vendidas e compradas simultaneamente em muitos lugares. A quantdade de
dinheiro necessária à circulação num dado período depende, em primeiro lugar, da soma dos preços
das mercadorias em circulação, que, por sua vez, depende da quantdade de mercadorias e do preço
de cada mercadoria isoladamente. Além disso, é preciso ter em conta a velocidade com que circula o
dinheiro. Quanto maior for a velocidade com que circule o dinheiro, tanto menor será a quantdade
de que dele se necessitará para a circulação, e vice-versa. Se, por exemplo, durante um determinado
período, um ano, suponhamos, são vendidas mercadorias por 1 bilhão de dólares e cada dólar realiza,
em média, 5 rotações, nesse caso serão necessários apenas 200 milhões de dólares para a circulação
de toda essa massa de mercadorias.”
“Graças ao crédito, que uns produtores de mercadorias abrem aos outros, a necessidade de dinheiro
reduz-se da soma dos preços das mercadorias vendidas a crédito e da soma dos pagamentos que se
amortzam mutuamente. A presença de dinheiro só é exigida para saldar aquelas dívidas cujo prazo
de pagamento se venceu.”
“Assim, a lei da circulação monetária consiste em que a quantdade de dinheiro necessário à
circulação das mercadorias deve ser igual à soma dos preços de todas as mercadorias vendidas,
dividida pelo número médio de rotaçees das unidades monetárias do mesmo nome. Ao mesmo
tempo, da soma dos preços de todas as mercadorias é preciso deduzir a soma dos preços das
mercadorias vendidas a crédito e a soma dos pagamentos que se amortzam mutuamente e
acrescentar a soma dos pagamentos daquelas dívidas, cujo prazo venceu.”
“Esta lei tem validade universal para todas as formações sociais onde haja produção e circulação de
mercadorias.”
“Por fim, o dinheiro desempenha o papel de dinheiro universal na circulação entre os países. A
função de dinheiro universal não pode ser desempenhada pelas moedas, que não possuam plena

124
cotação, ou pelo papel-moeda. No mercado mundial, o dinheiro se despoja da sua forma de moeda e
reaparece sob o aspecto primitvo – barras de metais nobres.”
O dinheiro facilita imensamente o processo de acumulação do capitalista. O lucro do
capitalista já se dá na forma dinheiro ou pode rapidamente ser transformado em dinheiro.
Tal lucro pode ser utlizado para o consumo por ele e pelos seus, ou em parte ou no todo ser
reaplicado na empresa que o gerou. Caso o capitalista consuma a totalidade de seu lucro,
como disse Kalecki, “ele poupa o que consome.”, Como assim? O seu consumo dará lucro a
outros capitalistas, que de posse de mais lucro, também comprarão dos produtos deste
primeiro capitalista. Nesse caso em que não aplicou o lucro na empresa (não “investu”,) o
capitalista ainda contnuará a produzir na mesma proporção de antes, auferindo massa de
lucro semelhante ao fm do processo. Teremos então um lucro aproximadamente constante.
A tal situação chamamos de reprodução simples. Em outro caso, o capitalista “investrá”, o
todo ou uma parte do lucro que obteve naquele movimento produtvo. 1. Então, a produção
será aumentada no movimento dois, e teremos uma acumulação, a que se chama
reprodução ampliada.
É claro que a acumulação tem elementos que a tornam mais complicada do que esta
percepção inicial. Durante o movimento 1, ocorrem na sociedade diversos fatos que
contribuem para a reprodução simples ou ampliada. Aumento ou diminuição da oferta de
matérias primas ou força de trabalho, novas invenções técnicas, melhorias científcas, etc.
Inúmeros componentes, assim, vêm modifcar a disposição do capitalista para manter ou
ampliar o seu negócio. E isso altera a acumulação em diversas gerações.
A acumulação extensiva é aquele caso em que o aumento da produção suplementar dá-se
de forma quanttatva, proporcional ao capital despendido.
A acumulação intensiva é quando o capitalista intensifca o uso dos elementos empregados
na produção (melhorias técnicas, organizatvas, etc.). A produção aumenta em valor, sem
elevar na mesma proporção o capital que foi aplicado.
A acumulação progressiva é quando o capitalista conquista mercados externos, primitvos,
ou não, que lhe dão vantagem sobre os concorrentes. Permite assim “reimportar”, os lucros e
intensifcar a acumulação no centro do sistema. (países avançados). Ensina Ostrovitanov:
“Para viver e desenvolver-se, a sociedade necessita de produzir bens materiais. Não pode deixar de
produzir, como não pode deixar de consumir.”

125
“Dia após dia, ano após ano, as pessoas consomem pão, carne e outros alimentos, usam roupas e
calçado; mas, ao mesmo tempo, o trabalho humano encarrega-se de produzir novas quantdades de
pão, carne, roupas, calçado e outros artgos. O carvão arde nos fornos, mas novas quantdades de
hulha são extraídas das entranhas da terra. As máquinas envelhecem tarde ou cedo, mas outras
novas saem das fábricas. O processo de produção tem de renovar-se constantemente qualquer que
seja o sistema de relações sociais por que se rege.”
“A esta renovação e repetção constante do processo de produção chama-se reprodução. ‘Todo o
processo social de produção, considerado nos seus constantes vínculos e no seu fuxo ininterrupto de
renovação é, ao mesmo tempo, um processo de reprodução. ’ (1). Conforme forem as condições de
produção, assim serão também as de reprodução. Se a produção tem a forma capitalista, a
reprodução revestrá necessariamente essa mesma forma.”
“O processo de reprodução não consiste apenas na reprodução pelos homens de novas e novas
quantdades de produtos para repor os consumidos e no incremento deles, mas também em que na
sociedade se renovem constantemente as correspondentes relações de produção.”
Como já dissemos, ao longo da história, em diversos momentos, a produção mercantl
simples viu surgir acumulações locais geradoras de burgueses, que poderia haver iniciado
aqui e ali, o “sistema capitalista”,. Havia fatores favoráveis, que ampliavam a acumulação na
mão de certas famílias e certos grupos sociais. Até mesmo via-se expandir o processo de
assalariamento. No entanto, faltavam sempre algumas “pré-condições”, decisivas para o
triunfo completo do capital. Então, esse núcleo local de burguesia comercial não lograva
desapropriar os produtores simples dos seus meios de produção, fosse no campo, fosse na
cidade. E reviravoltas posteriores terminavam por destruir ou fragmentar esses núcleos
iniciais de burguesia, que não lograram gerar um proletariado para explorá-lo. Diz
Ostrovitanov:
“Há dois tpos de reprodução: a simples e a ampliada.”
“Reprodução simples é a repetção do processo de produção na mesma escala do anterior: os novos
produtos não fazem mais que repor os meios de produção e os bens de consumo pessoal que tenham
sido gastos.”
“Reprodução ampliada é a repetção do processo de produção em maior escala: a sociedade, além
de repor os bens materiais consumidos, cria meios de produção e bens de consumo pessoal,
complementares.”
“Até ao aparecimento do capitalismo, as forças produtvas desenvolviam-se muito lentamente. O
volume da produção social mal mudava de ano para ano, de década para década. No capitalismo, a
anterior lentdão da produção social cedeu lugar a um desenvolvimento rápido das forças produtvas.

126
O modo de produção capitalista caracteriza-se pela reprodução ampliada, interrompida pelas crises
econômicas, durante as quais a produção diminui.”
A história não é um processo de contínuo avanço. Lênine até brincou que após um “zig”,,
costuma vir um “zag”,. Isto é, avança-se aqui, mas pode-se adiante até retroceder. No
conjunto da situação, porém, a história tende aos avanços, ao progresso, e às modifcações
estruturais. Na verdade, o triunfo do capital foi um avanço em relação às formas sociais
antecedentes. Disse Ostrovitanov:
“Na reprodução capitalista simples, o processo de produção renova-se em escala invariável e a mais-
valia incorpora-se integralmente nos interesses pessoais do capitalista.”
“O exame da reprodução simples permite-nos descobrir a fundo alguns dos traços essenciais do
capitalismo.”
“No processo de reprodução capitalista renovam-se não só os produtos do trabalho, mas também as
relações da exploração capitalista. Por um lado, no curso da reprodução, cria-se constantemente a
riqueza, que pertence ao capitalista e que este utliza para apropriar-se da mais-valia. No final de
cada processo de reprodução, o patrão encontra-se, uma vez após outra, proprietário do capital que
lhe permite enriquecer mediante a exploração dos operários. Por outro lado, o operário sai
constantemente do processo de produção como proletário despossuído, e obrigado, portanto, se não
quer morrer de fome, a vender, mais uma vez, a sua força de trabalho ao capitalista. A reprodução da
força de trabalho assalariado é sempre condição indispensável para a reprodução do capital.”
Como os trabalhadores têm que trabalhar por um certo período (semana, mês), é evidente
que o trabalho que realizam é apropriado pelo capitalista mesmo antes de o salário vir a ser
pago. Ou seja, o operário primeiro cria o valor pelo seu trabalho, para que o mesmo seja
fonte de sua remuneração. Marx citava o caso do ladrão que pagava uma compra à vítma
com o produto do roubo. Diz-nos Ostrovitanov:
“Daqui se depreende claramente, que o capitalista não paga ao operário o salário de um fundo
próprio, mas do valor criado pelo trabalho dos operários em período anterior de produção (por
exemplo, durante o mês anterior). Para empregar a expressão de Marx a classe capitalista procede à
velha maneira do conquistador; compra a mercadoria do vencido com o dinheiro que lhe tnha
arrebatado.”
Ostrovitanov esclarece que os trabalhadores podem apenas sobreviver, com os salários que
recebem:
“Em segundo lugar, o capitalista só paga a força de trabalho quando o operário tver realizado certo
trabalho, ao contrário do que se passa com as outras mercadorias. Desta maneira fica esclarecido
que não é o capitalista quem empresta ao operário, mas, ao contrário, é o operário quem empresta
127
ao capitalista. Eis o motvo por que o capitalista procura pagar os salários o mais espaçadamente
possível (por exemplo, uma vez por mês) alargando assim o prazo durante o qual recebe
gratuitamente o crédito dos operários.”
“A classe dos capitalistas entrega constantemente aos operários sob a forma de salários, o dinheiro
necessário para adquirir os meios de subsistência, isto é, uma certa parte do produto criado pelo
trabalho dos próprios operários e de que os exploradores se apropriam. E os operários, com a mesma
regularidade, fazem regressar este dinheiro aos capitalistas, ao adquirir com ele os meios de
subsistência que a própria classe operária produziu.”
“A análise das relações capitalistas no decurso da reprodução revela não só a verdadeira fonte do
salário, mas também a verdadeira fonte de todo o capital.”
É de se compreender que o capitalista, ao descobrir que o trabalho que compra acrescenta
valor não pago às suas mercadorias, tenha sua avidez despertada e deseje cada vez maior
montante de mais-valia, do qual possa se apropriar. Esta é a fonte impulsionadora da
acumulação de capital, e não, como afrma o capitalista, o desejo de prestar um serviço útl à
sociedade. Os capitalistas lutam entre si e buscam até arruinar seus concorrentes, o que
afasta qualquer hipótese de que desejam prestar serviço à sociedade. Quanto mais aumenta
a produção controlada pelo capitalista, mais aumenta a quantdade de mais-valia de que vai
se apropriar. O capital vive da exploração da classe operária. A base do capital só se amplia
com o aumento da exploração produtva do trabalho alheio. Assim se dá com as relações de
produção capitalistas.
Com o aumento da mais-valia, cresce a produção capitalista, recuam as formas de produção
pré-capitalistas e aumenta na sociedade o número de indivíduos desprovidos de meios de
produção. Aumenta, portanto, a força de trabalho colocada à disposição do capital, para ser
explorada – ou não! – pelo sistema de salários. Ou seja, há uma massa crescente de pessoas
posta à disposição da exploração. Diz Ostrovitanov:
“Na reprodução ampliada, o capitalista destna uma parte da mais-valia a incrementar a produção: a
comprar novos meios de produção e a contratar novos operários. Por conseguinte, uma parte da
mais-valia é somada ao capital anterior, isto é, o capital é acrescentado.”
“Chama-se acumulação do capital à incorporação no capital de uma parte da mais-valia, ou à
conversão de uma parte da mais-valia em capital. Portanto, a fonte de acumulação é a mais-valia. À
custa da exploração da classe operária incrementa-se o capital e, com isso, reproduzem-se sobre uma
base ampliada as relações de produção capitalista.”

128
O capital, ao arruinar as formas pré-capitalistas de produção, não irá necessariamente
empregar como assalariados todos aqueles que foram arruinados, mas apenas uma fração
deles. Marx chamou a atenção que não existe “excedente biológico”, de população, mas que
cada modo de produção engendra o excesso de população que é útl ao seu processo de se
reproduzir. O “excesso de população”, é, portanto, um fenômeno social. Explica
Ostrovitanov:
“Por conseguinte, qualquer que seja a fonte primitva do capital, já no decurso da reprodução
simples este capital converte-se, ao fim de um certo período de tempo, num valor criado pelo
trabalho dos operários e apropriado gratuitamente pelo capitalista. Assim é denunciada com toda
evidência, a absurda afirmação dos economistas burgueses de que o capital é a riqueza conseguida
pelo próprio trabalho do patrão.”
“A reprodução simples é parte integrante ou elementar da reprodução ampliada. As relações de
exploração inerentes à reprodução capitalista simples adquirem o seu desenvolvimento ulterior na
reprodução capitalista ampliada.”
Os capitalistas, no processo de sua expansão, invadem mercados alheios e até mercados
onde vigoram relações simples de troca ou relações mercants simples. No afã de aumentar
suas riquezas, roubam, pilham e destroem outras relações sociais, utlizando para tanto
pretextos nacionais, culturais ou polítcos. O regime de saque e de pilhagem que
desencadeiam caracteriza a chamada acumulação primitva. O uso da força, a violação dos
direitos do próximo, a violência, etc., não podem ser separadas do triunfo das relações
capitalistas e é condição periódica de sua contnuidade. Como disse Marx:
“O processo de produção capitalista reproduz, portanto, em virtude do seu próprio desenvolvimento,
o divórcio entre a força de trabalho e as condições de trabalho. Reproduz e eterniza, com ele, as
condições de exploração do operário. Obriga-o constantemente a vender a sua força de trabalho para
poder viver, e permite constantemente ao capitalista comprá-la para enriquecer-se.”
Um processo brutal de violação dos direitos da maioria da sociedade, visando favorecer o
avanço da propriedade privada, a expropriação de meios de produção, a eliminação dos
direitos sociais, a compulsão para trabalhar, etc. caracterizam o processo de acumulação
primitva. Os agressores e assaltantes do próximo, aventureiros, “conquistadores”,,
bandeirantes e outros tpos de bandidos transformados em heróis na história ofcial, todos
eles estão ou estveram a serviço do capital. O colonialismo e o neocolonialismo nada mais
são que instrumentos do processo de acumulação capitalista. Ensina Ostrovitanov:

129
“O incremento da produção, no capitalismo, é acompanhado, como já foi assinalado, pelo aumento
da composição orgânica do capital. A procura da mão de obra não depende do volume do capital,
mas somente do capital variável. Marx salientou o erro em que incorria a economia polítca clássica
burguesa, que, a começar por Adam Smith, parta do pressuposto de que toda a mais-valia
acumulada se converta em capital variável. Na realidade, uma parte da mais-valia acumulada
acresce ao capital constante, enquanto outra se adiciona ao capital variável. Além disso, a parte
variável do capital sofre, à medida que progride a técnica, uma diminuição relatva em proporção
com o capital constante. Na sociedade burguesa, à medida que o capital se vai acumulando e a sua
composição orgânica crescendo, diminui relatvamente a procura de mão de obra, embora o volume
total do proletariado aumente à medida que se desenvolve o capitalismo.”
“Como consequência deste fato, uma massa considerável de operários vê-se na impossibilidade de
encontrar emprego para o seu trabalho. Uma parte da população operária fica ‘de sobra’; forma-se a
chamada superpopulação relatva. Esta superpopulação é relatva, porque uma parte da mão de
obra permanece ociosa, mas só em relação às necessidades da acumulação do capital. A finalidade
da produção capitalista – a obtenção da mais-valia – põe certos limites à expansão da produção
capitalista.”
As leis contra a “vadiagem”,, a vigilânncia permanente da polícia, a criminalização dos pobres,
etc., tudo isso faz parte da necessidade do capital de utlizar apenas uma parte da população
que ele torna miserável. Diz Ostrovitanov:
“Se o objetvo do capitalismo fosse a satsfação das necessidades de toda a sociedade e os
capitalistas pudessem abraçar o caminho do constante melhoramento da situação dos trabalhadores
abrir-se-ia para a produção um mercado em expansão sem cessar e desapareceria a superpopulação
relatva. Porém, se isso sucedesse, o capitalismo deixaria de ser tal capitalismo. Na sociedade
burguesa, à medida que cresce a riqueza social, uma parte da classe operária vê-se condenada a um
trabalho desmedido e cada vez mais agonizante e outra parte lançada no desemprego forçado. Há
que distnguir várias formas de superpopulação relatva.”
“A superpopulação futuante é formada pelos operários que ficaram sem trabalho por certo
período, ao reduzir-se a produção, ao introduzirem-se novas máquinas ou ao encerrarem-se
empresas. Parte destes operários desempregados, e com eles uma parte dos operários da jovem
geração, encontrarão trabalho ao ampliar-se de novo a produção. Aumenta o número global de
operários no atvo, mas sempre em proporções constantemente decrescentes relatvamente ao
volume de produção.”
Assim, a exploração capitalista necessita de gerar “excedentes humanos”, para perpetuar a
exploração barata da força de trabalho. Diz Ostrovitanov:

130
“A superpopulação futuante também está relacionada com as crises econômicas de superprodução,
que se dão periodicamente. Em tempo de crise, a superpopulação futuante aumenta bruscamente ao
juntarem-se-lhes os operários despedidos. A superpopulação futuante piora seriamente a situação
dos operários. Todo o operário vê-se condenado durante uma parte da sua vida ao desemprego
forçado, à carência de rendimentos. A necessidade de mudar de trabalho coloca frequentemente o
operário na situação de ter de mudar de especialidade, baixando de categoria, com a consequente
baixa de salário.”
As relações capitalistas procuram maximizar a exploração dos trabalhadores. No entanto, os
ideólogos a serviço do capital procuram apresentar os defeitos do capitalismo como defeitos
das sociedades anteriores ou dos próprios operários, a que o capital se esforça por corrigir.
Para tais ideólogos, a aliança da burguesia com o latfúndio não é a causa da sobrevivência
do latfúndio. A causa seria uma “indolência inata”, do camponês, do homem pobre rural, etc.
Para os ideólogos a serviço do capital, o arruinamento dos camponeses médios e pobres e da
pequena burguesia em geral nada tem a ver com a propriedade privada dos meios de
produção. Tudo isso se deveria a fatores subjetvos. No entanto, como explicou
Ostrovitanov:
“A superpopulação futuante está intmamente ligada ao desenvolvimento desigual e não
planificado dos diferentes ramos e empresas no capitalismo, às modificações que se manifestam na
composição técnica do capital e à sua acumulação desigual. Se qualquer empresa, sob a ação da
concorrência, é obrigada a reduzir a sua produção ou cai na ruína, isso se traduz no despedimento
dos seus operários. Se uma companhia ou um ramo de produção ampliar consideravelmente o seu
volume de produção, à medida que aumenta a técnica desta, em virtude da importante acumulação
do seu capital, isto pode provocar o aumento do número de operários que trabalham nela, embora
nunca no mesmo grau em que aumenta o volume da produção. Por outro lado, um aumento
importante na composição orgânica do capital, se a acumulação desta não for considerável, provoca
uma redução da procura de mão de obra e o despedimento dos operários.”
“A superpopulação latente é formada pelos pequenos produtores arruinados, e, principalmente,
pelos camponeses pobres e jornaleiros do campo, que só encontram trabalho na agricultura durante
uma pequena parte do ano sem encontrar emprego para os seus braços na indústria e que,
subsistndo a duras penas, vivem na aldeia no meio da maior penúria. Por conseguinte, a
superpopulação latente forma-se na agricultura e é a superpopulação agrícola. Ao desenvolver-se o
capitalismo, acentua-se o processo de diferenciação entre os camponeses. Forma um numeroso
contngente de operários agrícolas e de camponeses paupérrimos. As grandes explorações agrícolas
capitalistas exigem mão de obra assalariada. Porém, à medida que a produção capitalista se vai

131
apoderando de um ramo da agricultura após outro e se alarga consideravelmente o emprego da
maquinaria, as grandes massas camponesas arruínam-se em escala crescente e a procura de mão de
obra na agricultura diminui, em termos absolutos, diversamente do que sucede na indústria. Uma
parte da população agrícola arruinada integra-se constantemente nas filas do proletariado industrial
ou passa a engrossar o exército urbano dos desempregados (forçados). Simultaneamente, uma
massa considerável da população agrícola, não encontrando trabalho na indústria, permanece na
aldeia, onde apenas uma parte consegue emprego na agricultura.”
“O caráter latente da superpopulação agrária consiste em que os pequenos camponeses arruinados
possuem uma pequena economia própria e aparecem como proprietários independentes. As
estatstcas burguesas não os reconhecem como trabalhadores desempregados, embora de fato o
sejam.”
Além da pauperização relatva do trabalhador, que consiste em que, quanto mais cresce a
economia, mais diminui a partcipação dos salários na renda nacional, dá-se também a
pauperização absoluta da classe trabalhadora. Como caracteriza Ostrovitanov:
“A pauperização absoluta do proletariado consiste na descida do nível de vida dos operários. O nível
de vida da classe operária determina-se pelo conjunto das suas condições de vida e de trabalho: pelo
nível do salário real e sua relação com o valor da força de trabalho, pelo grau de intensidade do
trabalho e duração da jornada, pelo volume do desemprego forçado total e parcial, pela infuência
das crises econômicas e das guerras e pela situação em que se encontra a classe operária, não só nos
países desenvolvidos, mas também nos colonizados e dependentes.”
“Os economistas burgueses, e na pegada deles os revisionistas, tratando-se de embelezar a
realidade capitalista, negam a verdade da pauperização absoluta e defendem que os operários
melhoram sistematcamente de situação sob o capitalismo. O seu principal argumento em apoio disto
são os dados que mencionam acerca do incremento do salário real dos operários atvos, em certos
períodos isolados e nos países mais desenvolvidos. Porém, fazem caso omisso das condições a que
mais atrás nos referíamos e que são as que determinam o nível de vida dos operários. Como já
frisamos, sob o capitalismo, se nos fixarmos na sua curva de desenvolvimento durante um período
longo de tempo, o salário real acusa uma tendência para a baixa.”
“O desenvolvimento do capitalismo, além disso, acentua constantemente a discordância entre o
salário real e o valor da força de trabalho, entre as necessidades dos operários, historicamente
criadas e o nível dos salários.”
“O salário real não é o único índice de vida dos operários. A sua situação pode piorar, mantendo-se
inalterável o nível do salário real ou mesmo que ele acuse certa alta.”

132
No Brasil, um dos estratagemas dos capitalistas é a elevação preventva de todos os preços
que pratcam, sob bens importados ou produzidos localmente. No entanto, a produtvidade
mais elevada das metrópoles exportadoras deveria assegurar para a população brasileira
umas importações com preços em geral cadentes. A burguesia local, assim, não se peja de
apropriar-se de uma fata adicional da renda dos consumidores de bens importados. Diz
Ostrovitanov:
“O desenvolvimento do capitalismo conduz a que, com a acumulação do capital, se concentrem num
dos polos da sociedade burguesa, imensas riquezas, cresçam o luxo e o parasitsmo, o esbanjamento
e a ociosidade das classes exploradoras, enquanto no outro polo aumenta cada vez mais o jugo da
exploração, cresça o desemprego (forçado) e desça o nível de vida dos que com o seu trabalho criam
todas as riquezas.”
“Quanto maior for a riqueza social, o capital em funções, o volume e a intensidade do seu
crescimento, e maior também, portanto, a grandeza absoluta do proletariado e a capacidade
produtva do seu trabalho, tanto maior será o exército industrial de reserva... A dimensão relatva do
exército industrial de reserva cresce, por conseguinte, à medida que crescem as potencialidades de
riqueza. E quanto maior é este exército de reserva em relação aos exércitos de trabalhadores atvos,
mais se estende a massa da superpopulação estabilizada cuja miséria se acha na razão inversa dos
tormentos do seu trabalho... tal é a lei geral, absoluta, da acumulação capitalista.”
“A lei geral da acumulação capitalista é a expressão concreta da vigência da lei econômica
fundamental do capitalismo. Ou, por outras palavras, da lei da mais-valia. A avidez para acrescentar
a mais-valia, objetvo da produção capitalista, conduz inevitavelmente à acumulação das riquezas nas
mãos das classes exploradoras, ao acentuar da desigualdade social, ao desemprego (forçado), à
agudização da insegurança social e de toda a espécie de privações para camadas cada vez mais
extensas das massas trabalhadoras.”
“Os economistas burgueses e os revisionistas afirmam que a situação dos operários e de todos os
trabalhadores melhora e as diferenças entre as classes se vão eliminando à medida que aumenta a
produção capitalista.”
Dessa maneira, os ideólogos da burguesia negam a evidência quotdiana do aumento da
exploração quando os países capitalistas se tornam mais ricos, e os seus trabalhadores, de
modo estranho, mais pobres:
“Marx, ao salientar a ação da lei da acumulação capitalista, chega à importantssima conclusão de
que ‘à medida que se acumula o capital, necessariamente tem de piorar a situação do operário
qualquer que seja a sua retribuição, seja ela alta ou baixa’.”

133
“Paralelamente ao processo de desenvolvimento do capitalismo, desenvolve-se o processo de
pauperização relatva e absoluta do proletariado.”
“A pauperização relatva do proletariado consiste em que, à medida que aumenta a riqueza social,
diminui a partcipação dos operários no rendimento nacional produzido nas empresas capitalistas e
aumenta a dos capitalistas. A elevação da produtvidade do trabalho e da exploração dos operários
faz descer o salário destes e incrementa a parte correspondente à mais-valia. Eis aqui por que motvo
é cada vez mais clamoroso o contraste entre a crescente riqueza, entre o luxo e o deboche com que
vive a maioria exploradora da sociedade, e o nível de vida dos trabalhadores. A par do aumento da
riqueza social, cresce a desigualdade social, aprofunda-se e alarga-se o abismo entre a classe dos
proprietários (a burguesia) e o proletariado. Daí a agudização das contradições entre proletariado e
burguesia.”
Os capitalistas de toda parte lutam para elaborar leis que reduzam os direitos sociais dos
trabalhadores, lancem sobre eles os custos dos transportes e da alimentação no trabalho e
anulem, na prátca, a jornada de oito horas. Acicatados pelas dúvidas e pela queda do salário
real, os trabalhadores não raro veem-se obrigados a assumir jornadas duplas, na mesma
empresa ou em outra. A descida do nível de vida só é evitada quando o trabalhador logra
colocar todos os membros da família em postos de trabalho:
“Um dos índices realmente importantes da descida do nível de vida dos operários é o aumento da
intensidade do trabalho e do agravamento das suas condições. A intensificação desmedida do
trabalho piora a situação dos operários já que os obriga a submeter as suas forças a uma tensão
extraordinária, a acelerar o ritmo de execução das operações e a aumentar a carga, o que atenta
diretamente contra a saúde do operário e mina a sua capacidade normal de trabalho. Regra geral, o
maior desgaste de energias fsicas e nervosas que a intensificação do trabalho impõe não é
compensado pela elevação do salário. Daí que, ao acentuar-se a intensificação do trabalho, piore a
situação dos operários, não só quando o salário real baixa, mas inclusive quando sobe em alguma
medida. A intensificação do trabalho contribui para aumentar a discordância entre o valor da força
de trabalho e o seu preço. Nestas condições, o salário torna-se cada vez mais insuficiente para a
reprodução normal da força de trabalho. Isto faz com que, em termos absolutos, piore a situação dos
operários. Quando o capital infringe sistematcamente as medidas necessárias de proteção e
segurança no trabalho aumentam os acidentes na produção. E como consequência disso, o operário
envelhece rapidamente, perde a sua capacidade de trabalho e torna-se um inválido. Enquanto que
antes a intensificação do trabalho dava-se principalmente à custa do desgaste de energias
musculares, agora, ao acelerar-se o ritmo das operações de trabalho em extraordinárias proporções

134
a sua intensificação exige do operário uma tensão nervosa cada vez maior, como consequente
esgotamento fsico e nervoso e a multplicação das doenças nervosas e de coração.”
À medida que aumenta a riqueza acumulada em mãos dos capitalistas, aumenta também a
concorrência entre as empresas, inclusive na etapa monopolista e imperialista (fase últma
ocorrida) do desenvolvimento do capital. Enormes massas de riquezas acumuladas
compreendem enormes patrimônios de capital fxo que devem periodicamente ser
substtuídos, por necessidade da concorrência e do acréscimo de mais-valia. Nessas
condições, o avanço dos oligopólios e monopólios não reduz a composição orgânnica do
capital, mas sim exige ainda mais a sua elevação. Ou seja, na época atual, dos monopólios e
oligopólios, a mudança técnica e o gasto com equipamentos produtvos são mais
importantes ainda que na época passada da livre concorrência. Naquela época, a maior parte
dos dispêndios do capitalista era com a compra de força de trabalho. Hoje, o investmento
periódico em técnica e novos equipamentos é maior para obter a retomada expansiva após
cada depressão cíclica do capital. O crescimento numérico e de gastos da burguesia,
correspondentemente, tem requerido necessidades crescentes de gasto dos ganhos de mais-
valia como renda capitalista (e não consumo de equipamentos). Colocados dentro desse
duplo envolvimento para o consumo da mais-valia, não cabe aos capitalistas, outra saída que
não aumentá-la. Como disse Marx:
“Os economistas burgueses tratam de justficar a existência do desemprego (forçado) no capitalismo
invocando as leis eternas da natureza. Tal é o fim que persegue as especulações pseudocientficas do inglês
Malthus, economista dos fins do século XVIII e começos do XIX. Segundo a ‘lei da população’ inventada por ele,
desde as origens da sociedade humana a população vem a multplicar-se em progressão geométrica (1, 2, 4, 8 e
assim sucessivamente) enquanto os meios de subsistência, por limitações das riquezas naturais, aumenta em
progressão aritmétca (1, 2, 3, 4, etc.). Essa é, segundo Malthus, a causa fundamental da existência de uma
população em excesso e da fome e miséria das massas do povo. O proletariado, no entender de Malthus, não
poderá libertar-se da miséria e da fome acabando com o regime capitalista, mas mediante o celibato e a
redução artficial da natalidade. Malthus considerava benéficas as guerras e as epidemias, já que diminuíam o
volume da população trabalhadora. A teoria de Malthus é profundamente reacionária. A burguesia recorre a
ela para justficar os vícios incuráveis do capitalismo. As invenções de Malthus não tem nada que ver com a
realidade das coisas. A poderosa técnica de que dispõe a humanidade está em condições de incrementar a
quantdade de meios de subsistência a um ritmo tal, que não poderia alcançá-lo nem o mais rápido crescimento
da população. Mas a isto se opõe o regime capitalista, que é o verdadeiro causador da miséria das massas.”

135
As concepções clássicas sobre o caráter “férreo”, ou de “bronze”,, das leis da reprodução
capitalista não correspondem à visão de Marx e de seus seguidores, quanto ao
desenvolvimento social. Diz Ostrovitanov:
“A composição orgânica do capital varia nos diferentes ramos industriais e nas diferentes empresas
do mesmo ramo: é mais alta onde a cada operário corresponde um maior número de máquinas
complicadas e de custo elevado e maior a quantdade de matéria-prima transformada; é mais baixa
onde predomina o trabalho vivo, e a cada operário corresponde um pequeno número de máquinas e
matérias-primas, e estas são relatvamente baratas.”
“A composição orgânica do capital cresce com a acumulação do capital: diminui a parte do capital
variável e aumenta a do capital constante. Assim, na indústria dos Estados Unidos, a composição
orgânica do capital, que era em 1889 de 4,4:1 aumentou em 1904 para 5,7:1, em 1929 para 6,1:1 e
em 1939 para 6,5:1.”
“No decurso da reprodução capitalista aumentam as proporções dos diversos capitais. Este aumento
processa-se mediante a concentração e a centralização do capital.”
“Chama-se concentração de capital ao aumento de volume de capital como resultado da
acumulação da mais-valia obtda numa determinada empresa. O capitalista, ao incorporar na
empresa uma parte da mais-valia de que se apropriou, torna-se proprietário de um capital cada vez
maior.”
“Chama-se centralização do capital ao aumento de volume de capital por efeito da fusão de vários
capitais num capital maior. Na concorrência, o grande capital arruína e absorve as pequenas e as
médias empresas capitalistas. Comprando a um preço ínfimo a empresa do competdor arruinado ou
integrando-a na sua própria empresa por outro meio qualquer (por exemplo, para saldar dívidas), o
grande industrial aumenta o volume de capital de que dispõe. A fusão de vários capitais efetua-se
também mediante a organização de sociedades em comandita, sociedades anônimas, etc.”
Portanto, não há uma lei só ou uma tendência só, atuando no sentdo do desenvolvimento
capitalista, mas um conjunto de forças capaz de elevar sua expansão ou afrmar – em dada
conjuntura – sua estagnação. Nessas condições, por exemplo, aumenta a contratação de
trabalhadores na fase expansiva e aumenta o desemprego na fase de queda dos lucros. Se
cai conjunturalmente a procura por trabalho, cai a massa salarial e até os salários pagos
individualmente. Como disse Blanqui, “o trabalhador perde na crise o que ganhou na (fase
de) expansão.”, Ensina Ostrovitanov:
“No decurso da acumulação capitalista, cresce o volume global do capital, porém as suas partes
variam desigualmente, e em consequência disso, transforma-se a sua composição.”

136
“Ao acumular a mais-valia e ao ampliar a sua empresa, o capitalista costuma introduzir várias
máquinas e aperfeiçoamentos técnicos, pois isso lhe permite aumentar os lucros. O desenvolvimento
da técnica representa um incremento mais rápido da parte do capital composto de meios de
produção: máquinas, edifcios, matérias-primas, etc., quer dizer, do capital constante. E, pelo
contrário, cresce com maior lentdão a parte do capital destnada à compra de força de trabalho, ou
seja, o capital variável.”
“Chama-se composição orgânica do capital à relação entre o capital constante e o capital variável,
determinada pela razão entre o volume dos meios de produção e a força de trabalho viva.”
Ou seja, a tendência da sociedade do capital é para estagnação dos ganhos dos
trabalhadores ao longo de sua vida produtva. A necessidade, porém de introduzir sempre
novos produtos para assegurar o lucro médio no mercado, faz a economia capitalista reduzir
os preços de inúmeras mercadorias no longo prazo, o que permite ao trabalhador obter,
dentro dos movimentos cíclicos, acesso à mercadorias que não podia comprar antes, ou que
antes não existam. No entanto, em termos comparatvos com a renda dos capitalistas, a
renda dos trabalhadores diminui proporcionalmente ao enriquecimento dos patrões. Diz
Kozminov:
“O nivelamento da taxa de lucro e a transformação do valor em preço de produção mascaram ainda
mais as relações de exploração e, em grau ainda maior encobrem a verdadeira fonte do
enriquecimento dos capitalistas. A diferença real de grandeza entre o lucro e a mais-valia ‘nas
diferentes esferas da produção oculta agora completamente a verdadeira natureza e a origem do
lucro, e não apenas aos olhos do capitalista, que, no caso em apreço, tem partcular interesse em
enganar-se, mas também aos olhos dos operários’. ‘Com a transformação do valor em preço de
produção, se oculta aos olhos a base mesma da determinação do valor’.”
“Na realidade, a formação da taxa média de lucro significa uma redistribuição da mais-valia entre
os capitalistas dos diferentes ramos da produção. Parte da mais-valia criada nos ramos onde é baixa
a composição orgânica do capital é apropriada pelos capitalistas dos ramos onde a composição
orgânica do capital é alta. É evidente, pois, que os operários são explorados não apenas por aqueles
capitalistas para os quais eles trabalham, mas por toda a classe de capitalistas, em conjunto. Toda a
classe dos capitalistas está interessada na elevação de grau de exploração dos operários, uma vez
que isto tem como consequência a elevação da taxa média de lucro. Como ensinou Marx, a taxa
média de lucro depende do grau de exploração de todo o trabalho por todo o capital.”
“A lei da taxa média de lucro exprime, de um lado, as contradições e a luta de concorrência entre os
industriais capitalistas pela partlha da mais-valia, e, de outro lado, o profundo antagonismo entre as
duas classes mutuamente hosts – a burguesia e o proletariado. Esta lei testemunha que na sociedade

137
capitalista a burguesia, como classe, contrapõe-se ao proletariado em seu todo, que a luta por
interesses parciais dos operários ou de grupos operários isolados, a luta contra capitalistas isolados
não pode conduzir a uma mudança radical da situação da classe operária. A classe operária só
poderá sacudir o jugo do capital, liquidando o sistema da exploração capitalista.”
A concorrência entre os capitalistas, a busca crescente pela mais-valia, etc., obriga, pois a
elevar a composição orgânnica do capital, a qual impacta como decréscimos periódicos da
taxa de lucro. Mas há ainda a atuação de outros elementos. Explica Kozminov:
“Assim, a elevação da composição orgânica do capital conduz à baixa da taxa média de lucro. Ao
mesmo tempo, uma série de fatores atua em contraposição à baixa da taxa de lucro.”
“Em primeiro lugar, cresce a exploração da classe operária. O desenvolvimento das forças
produtvas do capitalismo, que se exprime na elevação da composição orgânica do capital, opera-se
juntamente com uma elevação da taxa de mais-valia. Devido a isto, a redução da taxa de lucros
opera-se mais lentamente do que ocorreria no caso de que a taxa de mais-valia se mantvesse
invariável.”
“Em segundo lugar, o desenvolvimento da técnica nas condições do capitalismo, elevando a
composição orgânica do capital, provoca o aumento do desemprego, que pressiona sobre o mercado
de trabalho. Tal fato oferece aos patrões a possibilidade de diminuir os salários, fixando-os num nível
consideravelmente mais baixo do que o valor da força de trabalho.”
“Em terceiro lugar, à medida que cresce a produtvidade de trabalho cai o valor dos meios de
produção: máquinas, equipamentos, matérias-primas, etc. Isto torna mais lento o aumento da
composição orgânica do capital e, consequentemente, contrapõe-se à redução da taxa de lucro.”
“Suponhamos que o patrão obrigue o operário, que antes trabalhava com cinco teares, a trabalhar
com 20 teares. Entretanto, devido à elevação da produtvidade na indústria produtora de teares, o
valor dos teares reduziu-se à metade. Em consequência, 20 teares custam já não quatro vezes mais
do que os antgos cinco teares, mas apenas duas vezes mais. Por isto, a parte do capital constante,
que corresponde a cada operário, terá crescido não em quatro vezes, mas em duas vezes.”
“Em quarto lugar, contrapõe-se à elevação da taxa média de lucro a economia no capital constante,
que o capitalista faz a expensas da saúde e da vida dos operários. Com o objetvo de aumentar os
lucros, os industriais obrigam os operários a trabalhar em instalações acanhadas, sem a necessária
ventlação, e economizarem o quanto podem nos dispositvos reclamados pela segurança do
trabalho. O resultado dessa avareza dos capitalistas é a ruína da saúde dos operários, a enorme
quantdade de acidentes no trabalho, que acarreta a elevação da mortalidade entre a população
operária.”

138
“Em quinto lugar, a queda da taxa de lucro é freada devido à troca não equivalente no comércio
externo, mediante a qual os empresários dos países capitalistas desenvolvidos, ao exportar suas
mercadorias para os países coloniais e dependentes, auferem superlucros.”
“Todos estes fatores contrapostos à redução da taxa de lucro não suprimem, mas somente debilitam
a baixa da taxa de lucro, dando a esta baixa um caráter tendencial. Desse modo, atua no capitalismo
a lei da tendência à baixa da taxa geral (ou média) de lucro.”
“A queda da taxa de lucro não significa a diminuição da massa de lucro, isto é, de todo o volume de
mais-valia produzido pela classe operária. Ao contrário, a massa de lucro cresce tanto em ligação
com a elevação da taxa de mais-valia, como em consequência do aumento do número global de
operários explorados pelo capital.”
“A tendência à baixa da taxa de lucro impele os capitalistas a seguir pelo caminho de uma
exploração ainda maior dos operários. Isto faz com que se agucem as contradições entre proletariado
e a burguesia.”
“A lei da tendência à baixa da taxa de lucro intensifica a luta no seio da própria burguesia em torno
da distribuição da massa global de lucro.”
“Na caça a lucros mais altos, os capitalistas lançam-se com os seus capitais aos países atrasados,
onde a mão de obra é mais barata e a composição orgânica do capital mais baixa do que nos países
de indústria altamente desenvolvida. Os capitalistas das metrópoles exploram impiedosamente os
povos dos países pouco desenvolvidos. Isto faz com que se agucem as contradições entre os países
capitalistas desenvolvidos e os atrasados, entre as metrópoles e as colônias.”
“Além disso, para manter os preços num nível elevado, os patrões agrupam-se em diferentes tpos
de uniões. Por esse meio, conseguem obter altos lucros.”
“Por fim, para tentar compensar a queda da taxa de lucro, através da elevação da massa de lucros,
os capitalistas ampliam o volume da produção para muito além dos limites da procura solvente.
Devido a isto, nos tempos de crises, manifestam-se de maneira partcularmente aguda as
contradições decorrentes das tendências à baixa da taxa de lucro.”
“A lei da tendência à baixa da taxa de lucro é uma das claras evidências da limitação histórica do
modo de produção capitalista. Ao aguçar as contradições capitalistas, esta lei mostra à saciedade
que, em determinado grau, o regime burguês transforma-se num obstáculo ao posterior
desenvolvimento das forças produtvas.”

2 – A Contradição Fundamental do Sistema Capitalista.


Embora seja possível ao operário e ao trabalhador em geral sobreviver no sistema
capitalista, é evidente que tal sistema nada lhes tem a oferecer que não seja uma escravidão

139
disfarçada, “sem grilhões”,, a não ser aqueles da miséria e da extenuação pela vida toda. O
capital não se interessa pela elevação do nível de vida e de educação dos trabalhadores, pelo
bem-estar e a saúde de seus flhos e de seus familiares em geral. O capital só busca proteger
a burguesia e de preferência o seu setor mais rico e com poder polítco. Este sistema, que em
certo momento representou uma oportunidade de progresso, tem-se transformado a cada
geração em um empecilho à melhoria da vida de todos os povos, com a guerra, o racismo e a
exploração desabrida. Até mesmo a absorção do trabalho nas empresas tende a se reduzir.
Diz Kozminov:
“A TENDÊNCIA À BAIXA DA TAXA DE LUCRO. À medida que o capitalismo se desenvolve, eleva-se a
composição orgânica do capital. Cada capitalista, ao substtuir os operários por máquinas, tem como aspiração
baratear a produção, ampliar a venda de suas mercadorias e com isso auferir superlucros. Quando as
conquistas técnicas de algumas empresas alcançam ampla difusão, produz-se uma elevação da composição
orgânica do capital na maioria das empresas. E isto leva à queda da taxa geral de lucro.”

Uma vez que os salários do trabalhador são limitados para não concorrer com o lucro da
empresa, os capitalistas só têm interesse no consumo dos próprios capitalistas, que têm a
quantdade de dinheiro necessária à compra das mercadorias, efetvando a mais-valia como
lucro. No entanto, o consumo e o ganho dos capitalistas são insufcientes para garantr a
expansão permanente do lucro do capital. Recorde-se de Ostrovitanov:
“Outro motvo que impulsionou a acumulação do capital foi a feroz concorrência entre os
capitalistas, no decurso da qual os mais poderosos, que desfrutam de uma melhor situação, vencem
os outros que dispõem de menores recursos. A concorrência obriga todo o capitalista que não queira
ver-se arruinado, a aperfeiçoar os seus meios técnicos e a ampliar a produção. Deter o progresso da
técnica e o desenvolvimento da produção significa deixar-se ficar para trás; e quem se atrasa é
superado pelos seus concorrentes. Portanto, a concorrência obriga todo o capitalista a incrementar o
seu capital, e para isso ele não dispõe de outro meio que não seja acumular constantemente uma
parte da mais-valia.”
“Assim, pois, a reprodução ampliada no capitalismo, significa a acumulação do capital.”
Vê-se, portanto, que o conjunto contraditório das leis de desenvolvimento da exploração
capitalista não apresenta por si mesmo uma tendência à melhoria gradual das condições de
vida do operário e do trabalhador em geral. Como afançou Marx, só a organização polítca
dos trabalhadores é um instrumento efcaz para se contrapor à exploração, porque não basta
a luta econômica. A principal classe interessada na superação do capitalismo é o proletariado
e cabe a ele unir democratcamente todas as camadas e forças sociais que têm interesses

140
antcapitalistas para abrir caminho a uma sociedade melhor, onde os direitos da maioria
sejam assegurados. A luta democrátca das forças socialmente majoritárias assegura a
oportunidade de menos violência social e transformações revolucionárias no ânmbito da vida
em geral. Os capitalistas, quanto mais poderosos, menos interessados são em reformas
insttucionais. Em sua maioria, nem se dispõe a abater o latfúndio. A associação entre o
capital e o atraso lança dezenas de milhões de pessoas na miséria, só no caso do Brasil. Mas
as explicações burguesas não têm fundamento. Diz Kozminov:
“Os economistas burgueses tentam refutar a teoria de Marx do valor pelo trabalho, alegando o fato
de que nos diferentes ramos não há coincidência entre os preços de produção e o valor das
mercadorias. Entretanto, na realidade a lei do valor conserva toda a sua força nas condições
capitalistas, pois o preço de produção representa apenas uma forma modifcada do valor.”
“Isto é comprovado pelas seguintes circunstâncias:”
“Em primeiro lugar, alguns industriais vendem suas mercadorias acima do seu valor, enquanto
outros as vendem abaixo do valor; mas todos os capitalistas, considerados em conjunto, realizam
toda a massa do valor de suas mercadorias. Na escala de toda a sociedade, a soma dos preços de
produção é igual à soma do valor de todas as mercadorias.”
“Em segundo lugar, a soma dos lucros de toda a classe dos capitalistas é igual à soma da mais-valia
produzida por todo o trabalho não pago do proletariado. A grandeza da taxa média de lucro depende
da grandeza da mais-valia- produzida em toda a sociedade.”
“Em terceiro lugar, a redução do valor das mercadorias acarreta a redução dos seus preços de
produção, e o aumento do valor das mercadorias conduz à elevação dos preços de produção.”
“Desse modo, na sociedade capitalista atua a lei da taxa média de lucro, a qual consiste em que as
diferentes taxas de lucro, dependentes da diversidade na composição orgânica do capital, nos
diferentes ramos da produção, nivelam-se a uma taxa comum (média) de lucro, como resultado da
concorrência. A lei da taxa média de lucro, do mesmo modo que todas as leis do modo de produção
capitalista atuam espontaneamente, em meio a inumeráveis desvios e oscilações.”
“Na luta pela aplicação mais lucratva do capital, desencadeia-se uma encarniçada concorrência
entre os capitalistas, os quais aspiram a inverter seus capitais naqueles ramos que lhes proporcionem
a obtenção de maiores lucros. Na caça ao alto lucro, processa-se uma transferência de capitais de um
ramo para outro, em resultado do que se estabelece uma taxa média de lucro e se realiza a
distribuição do trabalho e dos meios de produção entre os diferentes ramos da produção capitalista.
O preço de produção é aquela grandeza média em torno da qual, em últma análise, oscilam os
preços de mercado das mercadorias, isto é, os preços pelos quais as mercadorias são de fato vendidas
e compradas no mercado.”

141
Como se vê, a contradição entre o capital e o trabalho não pode ser resolvida no quadro da
sociedade capitalista. Só o advento da sociedade socialista pode encaminhar a vida social
para um horizonte sem exploração do homem pelo homem. Como atestam Kozminov e
Marx:
“Entretanto, com a passagem à reanimação e ao ascenso, acumulam-se de novo, inevitavelmente,
violações das condições de reprodução, desproporções, contradições entre o crescimento da
produção e os limites estreitos da procura solvente. Em consequência disso, depois de um intervalo
mais ou menos determinado, eclode inevitavelmente uma nova crise de superprodução.”
“Embora sejam muito diferentes e não coincidam entre si os períodos durante os quais se inverte
capital, as crises, apesar disso, sempre consttuem o ponto de partda para grandes e novas inversões
de capital. Consequentemente, se encararmos a sociedade em conjunto, a crise gera, em maior ou
menor grau, uma nova base material para o ciclo seguinte de rotações.”
“Nos ramos decisivos da indústria, a duração da vida dos meios de produção fundamentais,
levando-se em conta não só o desgaste fsico como também o desgaste moral, é de cerca de dez anos,
em média. A renovação periódica maciça do capital fixo é o fundamento material da periodicidade
das crises, que se repetem regularmente no decurso da história do capitalismo.”
“Cada crise prepara terreno para novas crises. Com o desenvolvimento do capitalismo, aumenta a
profundidade e a força destruidora das crises.”
Também no Brasil, as crises capitalistas se manifestam, em média, a cada dez anos: 1923;
1929-32; 1941-43; 1951-53; e, certamente, as teremos de volta no ano que vem, 1963. Os
ideólogos e teóricos burgueses não podem admitr o caráter cíclico dos desajustes da
sociedade capitalista, e adotando teorias de baixo nível de explicação atribuem ao clima, ao
mau governo, a traços pessoais dos governantes, etc. o motvo para as crises econômicas,
tanto de caráter geral (como 1929-32, 1948-49), como cíclicas. Eles não podem admitr que o
ciclo do capital fxo apresente problemas periódicos de reprodução e que tais problemas
estão relacionados com o baixo nível de salário dos trabalhadores e à exploração capitalista.
Como disse Kozminov:
“As crises econômicas revelam claramente o caráter rapace do capitalismo. Durante cada crise,
enquanto milhões de pessoas se encontram em condições de extrema penúria, condenadas à miséria
e à fome, são destruídas massas enormes de mercadorias que não encontram saída – de trigo, de
batatas, de leite, de gado, de algodão. São fechados ou demolidos usinas inteiras, estaleiros, altos-
fornos, são destruídas culturas cerealistas e técnicas, são derrubadas plantações de árvores
frutferas.”

142
“Nos anos de crise (1929/1933), nos Estados Unidos, foram demolidos 92 altos-fornos, 72 na Inglaterra, 28 na
Alemanha e 10 na França. A tonelagem dos navios destruídos nestes anos atngiu mais de 6,5 milhões de
toneladas de registro.”
“A ação destrutva das crises agrárias pode ser vista pelos seguintes dados. Nos Estados Unidos, de 1926 a
1937, mais de 2 milhões de granjas foram vendidas compulsoriamente, em pagamento de dívidas. A renda
proveniente da agricultura reduziu-se de 6,8 bilhões de dólares em 1929, a 2,4 bilhões em 1932. Nesse mesmo
período, a venda de máquinas e equipamentos agrícolas diminuiu de 458 milhões de dólares para 65 milhões de
dólares anuais, ou seja, em 7 vezes, e o consumo de adubos artficiais reduziu-se quase à metade.”
“O governo dos Estados Unidos adotou todas as medidas para a redução da produção agrícola. Em 1933,
foram destruídos por meio de re-aração, 10,4 milhões de acres de culturas algodoeiras, foram comprados e
exterminados 6,4 milhões de porcos e o trigo foi queimado nas fornalhas das locomotvas.”
“No Brasil, foram destruídos cerca de 22 milhões de sacas de café e, na Dinamarca, 117 mil cabeças de gado.”
“As crises acarretam inúmeros males à classe operária, às massas fundamentais do campesinato, a
todos os trabalhadores. Provocam o desemprego em massa, que condena ao ócio forçado, à miséria
e à fome, centenas de milhares e milhões de pessoas. Os capitalistas utlizam o desemprego para
aumentar a exploração da classe operária e rebaixar o nível de vida dos trabalhadores.”
“O número de operários ocupados na indústria de transformação dos Estados Unidos, durante a crise de 1907,
reduziu-se em 11,8%. Durante a crise de 1929/1933, o número de operários da indústria de transformação
norte-americana diminuiu de 38,8%, e a soma de salários pagos caiu de 57,7%. Segundo dados de estatstcos
norte-americanos, no período de 1929 a 1938, como resultado do desemprego, foram perdidos 43 milhões de
homens-ano.”

3 – As Crises Econômicas.
Ao contrário do que dizem os propagandistas a serviço do capital, o sistema capitalista
padece de desencontros estruturais enquanto modo de produção e distribuição que, diante
da organização polítca e democrátca da maioria trabalhadora, o levará à extnção. O
desajuste fundamental de sua estrutura vem da contradição entre a indústria fabril e a
exploração da terra como capital, herdada do sistema latfundiário. Ensina Kozminov:
“A extensão limitada das terras e sua ocupação por economias privadas condicionam o monopólio
da exploração capitalista da terra, ou monopólio sobre a terra como objeto de economia.”
“Mais ainda. Na indústria, o preço de produção da mercadoria é determinado pelas condições
médias de produção. De outra maneira são formados os preços da produção das mercadorias
agrícolas. O monopólio de exploração capitalista da terra como objeto de economia faz com que o
preço comum regulador da produção (isto é, o custo de produção mais o lucro médio) dos produtos
agrícolas seja determinado pelas condições de produção, não nas melhores e sim nas piores terras

143
cultvadas, de vez que a produção das terras melhores e médias é insuficiente para atender a procura
da sociedade. Se o capitalista-arrendatário, que inverte o seu capital nas piores áreas de terra, não
recebesse o lucro médio, ele transferiria esse capital para qualquer outro ramo de atvidade.”
“Os capitalistas, que exploram as terras melhores e médias, produzem mercadorias agrícolas mais
baratas, ou, em outras palavras, o seu preço individual de produção é inferior ao preço geral de
produção. Aproveitando-se do monopólio da terra como objeto de exploração, estes capitalistas
vendem suas mercadorias pelo preço geral de produção e auferem desse modo, um lucro
suplementar. É esse lucro que forma a renda diferencial. A renda diferencial surge não porque haja a
propriedade privada da terra; ela se forma em consequência do fato de que as mercadorias agrícolas
produzidas em diferentes condições de produtvidade do trabalho são vendidas por um mesmo preço
de mercado, preço que é determinado pelas condições de produção nas piores terras. Os capitalistas-
arrendatários são obrigados a entregar a renda diferencial ao proprietário de terra, retendo consigo
o lucro médio.”
“A renda diferencial é o excedente de lucro sobre o lucro médio, excedente auferido nas economias
onde são mais favoráveis as condições de produção; a renda diferencial representa entre o preço
geral de produção, determinado pelas condições de produção nas piores áreas de terra, e o preço
individual de produção nas terras melhores e médias.”
Assim, a exploração desigual e a busca do lucro máximo da parte dos capitalistas, leva à luta
pela maximização dos preços de suas mercadorias e para redução, ou minimização dos
salários pagos ao trabalhador, ou da renda que têm de deixar para os camponeses pequenos
e médios. Os bancos chegam a aplicar uma polítca deliberada e consciente nesse sentdo.
Diz Kozminov:
“Este lucro suplementar, da mesma forma que toda a mais-valia na agricultura é criado pelo
trabalho dos operários agrícolas. As diferenças no grau de fertlidade da terra são apenas a condição
para a mais alta produtvidade do trabalho nas melhores terras. Entretanto, no capitalismo cria-se a
falsa aparência de que a renda apropriada pelo dono da terra é, supostamente, um produto da terra
e não do trabalho. Na realidade, porém, a única fonte da renda da terra é o trabalho suplementar, a
mais-valia. ‘Para uma exata concepção da renda é preciso, naturalmente, antes de tudo compreender
que a renda origina-se não do solo, mas do produto da agricultura, isto é, do trabalho, do preço do
produto do trabalho, por exemplo, do trigo, do valor do produto agrícola, do trabalho invertdo na
terra e não da própria terra’.”
“Há duas formas de renda diferencial.”
“A renda diferencial I está ligada às diferenças no grau de fertlidade do solo e à localização das
áreas de terra em relação aos mercados de venda.”

144
Prossegue Kozminov em seu esclarecimento:
“A renda diferencial I também está relacionada com as diferenças na localização das áreas de terra.
As áreas situadas nas proximidades dos pontos de venda (cidades, estações ferroviárias, portos
marítmos, silos, etc.), economizam considerável quantdade de trabalho e de meios de produção no
transporte dos produtos, em comparação com aquelas que se acham mais distantes desses pontos.
Vendendo sua produção pelos mesmos preços, as economias situadas próximas aos mercados de
venda obtém um lucro suplementar, que forma a renda diferencial decorrente da localização.”
“A renda diferencial II surge como resultado da inversão suplementar de meios de produção e de
trabalho numa mesma área de terra, isto é, da intensifcação da agricultura. Diferentemente da
economia extensiva, que cresce mediante a ampliação da área cultvada ou das pastagens, a
economia intensiva desenvolve-se através do emprego de máquinas aperfeiçoadas, de adubos
sintétcos, de obras de beneficiamento, da introdução de espécies de gado mais produtvos, etc.
Permanecendo invariável a técnica, a intensificação da agricultura pode ser obtda através da
inversão de uma maior quantdade de trabalho naquela área de terra. Como consequência, é obtdo
um lucro suplementar, que forma a renda diferencial II.”
Ou seja, a sobrevivência do latfúndio bloqueia a renda diferencial de tpo II, diminuindo o
lucro e a efciência do sistema capitalista. Mais nos esclarecem Kozminov e Marx:
“A exploração intensiva capitalista da agricultura tem por objetvo a obtenção de um lucro maior. Na
caça a um alto lucro, os capitalistas exploram a terra de uma maneira predatória. A produção dessas
ou daquelas culturas agropecuárias modifica-se na dependência das futuações dos preços de
mercado. Tal circunstância impede uma correta realização da rotação de culturas, que consttui o
fundamento do elevado nível técnico da agricultura. A propriedade privada da terra impede a
introdução de grandes obras e benfeitorias, cuja amortzação só pode efetuar-se depois de alguns
anos. Dessa maneira, o capitalismo dificulta a introdução de um sistema racional na agricultura.
‘Todo progresso da agricultura capitalista não é apenas um progresso na arte de espoliar o
trabalhador, mas também na arte de espoliar o solo; todo progresso na elevação de sua fertlidade
num determinado período de tempo é, ao mesmo tempo, um progresso na destruição das fontes
permanentes dessa fertlidade’.”
“Os defensores do capitalismo, tentando dissimular as contradições da agricultura capitalista e justficar a
miséria das massas afirmam que a agricultura estaria submetda à ação de uma ‘lei da fertlidade decrescente
do solo’, também supostamente uma lei eterna e natural e segundo a qual todo trabalho suplementar invertdo
na terra produziria menor resultado que o anterior.”
“Esta invencionice da economia polítca burguesa tem como ponto de partda a falsa suposição de que a
técnica na agricultura permanece invariável, e de que os progressos técnicos verificados consttuem uma
exceção. Na realidade, porém, as inversões suplementares de meios de produção numa mesma área de terra

145
estão vinculadas ao desenvolvimento da técnica, à introdução de métodos novos e melhorados de produção
agropecuária, o que acarreta a elevação da produtvidade do trabalho agrícola. A verdadeira causa do
esgotamento da fertlidade natural na agricultura capitalista não é a ‘lei da fertlidade decrescente do solo’,
fruto da imaginação dos economistas burgueses, mas sim as relações capitalistas e, antes de tudo, a
propriedade privada da terra, que freia o desenvolvimento das forças produtvas na agricultura. Na realidade, o
que aumenta no capitalismo não é a dificuldade na produção dos produtos agrícolas, mas a dificuldade de que
os operários os adquiram em face da contração de sua capacidade aquisitva.”

O latfúndio se desenvolveu no Brasil com o começo da colonização (1550-1650), avançando


século após século pela facilitada condição que tem apresentado de adaptar-se às tarefas
impostas pela divisão internacional do trabalho. O uso da terra como fator de produção
pelos colonialistas obedecia a três funções: (a) exploração do ali existente; (b) introdução e
exploração de distntos animais; (c) uso da área favorável ao cultvo. Isso permitu o
crescimento rápido da economia exportadora, mas, devido ao caráter duplo da terra, levou
ao monopólio da mesma e consequente entrave do desenvolvimento social. A terra pode ser
(1) capital-terra, possuindo assim valor-de-uso e valor-de-troca; a terra pode ser (2) material-
terra, produto natural, com valor-de-uso, sendo assim usada pelos indígenas, pelos
lavradores pobres, etc. Para impedir essa segunda propriedade natural e econômica da terra,
os sesmeiros, os colonizadores, estabeleceram a propriedade privada sobre a terra,
expulsando a seu bel-prazer, camponeses, pobres, indígenas, etc. Nas condições de atraso
que fomenta o latfúndio acabou por se tornar um “produtor de gente”,, uma vez que pessoas
são sua principal exportação.
A paralisia provocada pela função latfundiária na economia é a fonte do ritmo lento da
produção agrícola e de sua baixa absorção de tudo que é novo. A redução drástca (500 Ha
para cada propriedade) ou extnção do latfúndio eliminaria o atraso no campo, com o
avanço da pequena e média propriedades familiares, o aumento da renda local, aumento da
produção para o mercado interno, etc. A presença do latfúndio acarreta enorme acúmulo de
força de trabalho sem uso, pelas necessidades da prontdão partcipatva que o mesmo
requer. Portanto, a linha tátca e o programa de nosso partdo apoia qualquer proposta de
reforma agrária que reduza o poder e a presença do latfúndio. Desde o Império que se luta
no Brasil pela reforma agrária, mas ela tem sido bloqueada pelo poder polítco do latfúndio
e daquelas forças com ele associadas. Ensina Kozminov; ensina Marx:
“No capitalismo, a indústria é a esfera dominante da produção social, que predomina sobre as
outras esferas e determina seu desenvolvimento. O desenvolvimento da indústria capitalista conduz à

146
reorganização da agricultura em bases capitalistas. À medida que a agricultura é atraída à órbita das
relações capitalistas, ela cai, cada vez mais, sob a ação das leis da reprodução capitalista, que levam
inevitavelmente às crises econômicas de superprodução. As crises de superprodução na agricultura
são denominadas crises agrárias.”
“A inevitabilidade das crises agrárias é condicionada pela mesma contradição fundamental do
capitalismo, que consttui o fundamento das crises industriais. Ao lado disso, as crises agrárias
possuem algumas partcularidades: frequentemente elas têm um caráter mais prolongado, mais
dilatado, em comparação com as crises industriais.”
“A crise agrária do últmo quarto de século XIX, que abrangeu os países da Europa ocidental, a Rússia, e depois
também os Estados Unidos, começou na primeira metade da década de 70 e prolongou-se, de uma ou outra
forma, até meados da década de 90 do século XIX. Ela foi provocada pelo fato de que em consequência do
desenvolvimento do transporte marítmo e da ampliação da rede ferroviária, começou a entrar no mercado
europeu, em grande quantdade, o trigo mais barato proveniente da América, da Rússia e da Índia.”
“A produção de trigo custava mais barato na América em decorrência do cultvo de novas terras férteis e da
existência de terras livres, pelas quais não se cobrava a renda absoluta. A Rússia e a Índia podiam exportar trigo
para a Europa ocidental a preços baixos porque os camponeses russos e indianos, sufocados por tributos
superiores às suas forças, eram obrigados a vender o trigo a preços ínfimos. Os arrendatários capitalistas e os
camponeses europeus, em face da elevada renda, aumentada pelos grandes proprietários de terra, não podiam
suportar essa concorrência. Depois da Primeira Guerra Mundial, com a enorme redução do poder aquisitvo da
população, desencadeou-se na primavera de 1920 uma aguda crise agrária, que golpeou com força partcular
os países não-europeus (Estados Unidos, Canadá, Argentna, Austrália). A agricultura ainda não se havia
recuperado desta crise quando, no fim de 1928, manifestaram-se evidentes sintomas de uma nova crise agrária
que se iniciava no Canadá, nos Estados Unidos, no Brasil e na Austrália. Essa crise abarcou os países
fundamentais do mundo capitalista que exportavam matérias-primas e gêneros alimentcios.”
“A crise abrangeu todos os ramos da agricultura, entrelaçou-se com a crise industrial de 1929 a 1933 e
prolongou-se até o começo da Segunda Guerra Mundial. Após a Segunda Guerra Mundial, iniciou-se novamente
a crise agrária nos maiores países que exportam produtos agrícolas – Estados Unidos, Canadá, Argentna,
Austrália, e numa série de ramos da agricultura dos países da Europa ocidental.”

Em virtude de suas múltplas contradições, a mecanização contemporânnea da agricultura,


prevista por Marx, que indicou que o capital agrário se tornaria apenas uma forma do capital
industrial, ao aumentar enormemente o volume da produção agrícola, derrubou os preços
pela concorrência e estendeu para o campo a crise de superprodução. Explica Kozminov:
“Explica-se o caráter dilatado das crises agrárias pelas seguintes causas principais:”
“Em primeiro lugar, os proprietários de terra, por força do monopólio da propriedade privada sobre
a terra, também durante as crises agrárias obrigam os arrendatários a pagar, nas proporções
anteriores, o arrendamento fixado no contrato. Em face da queda dos preços das mercadorias

147
agrícolas, a renda agrária é paga à custa da redução posterior do salário dos operários agrícolas, às
custas do lucro e, por vezes, até mesmo às custas do capital adiantado pelos arrendatários. Em
consequência disso, torna-se muito difcil a saída da crise por meio da introdução de técnica
aperfeiçoada e da redução do custo de produção.”
“Em segundo lugar, no capitalismo, a agricultura é um ramo atrasado em comparação com a
indústria. A propriedade privada da terra, as sobrevivências de relações feudais, a necessidade de
pagamento da renda absoluta e diferencial aos proprietários da terra – tudo isto impede o livre afuxo
de capitais para a agricultura, retarda o desenvolvimento de suas forças produtvas. A composição
orgânica do capital na agricultura é mais baixa do que na indústria; o capital fixo, cuja renovação
maciça é a base material da periodicidade das crises industriais, desempenha na agricultura um
papel menor do que na indústria.”
“Em terceiro lugar, os camponeses, pequenos produtores de mercadorias, esforçam-se durante as
crises para conservar o volume anterior da produção, a fim de manter-se a qualquer preço no pedaço
de terra que é seu ou arrendado, e o fazem à custa de trabalho desmedido, subalimentação,
exploração predatória do solo e do gado. Isto aumenta ainda mais a superprodução de produtos
agrícolas.”
“Assim, a base comum do caráter dilatado das crises agrárias é o monopólio da propriedade privada
sobre a terra, as sobrevivências feudais a ele ligadas e o atraso relatvo da agricultura em
comparação com a indústria.”
Assim, dentro dos desencontros do sistema capitalista, o capital industrial, além de
enfrentar os problemas sequentes que lhe criam o capital fnanceiro, deve debater-se
também com as desproporções advindas do capital agrário. O peso das crises põe em risco a
unidade de ação do capital. Explica Kozminov:
“O peso principal das crises agrárias recai sobre as massas fundamentais do campesinato. A crise
agrária arruína as massas de pequenos produtores mercants; promovendo a ruptura das relações de
propriedade estabelecidas, ela acelera a decomposição do campesinato e o desenvolvimento das
relações capitalistas na agricultura. Ao mesmo tempo, as crises agrárias exercem uma infuência
destruidora na agricultura dos países capitalistas, provocando a redução da área cultvada e da
quantdade de gado.”
Portanto, os desajustes estruturais do capital, ao se expandir e reproduzir por diferentes
atvidades, acarreta o aprofundamento periódico de suas contradições, levando-o às crises.
Diz Kozminov:
“As crises agravam em alto grau a insegurança da existência dos trabalhadores, seu receio pelo dia
de amanhã. Não encontrando trabalho durante anos, os proletários perdem sua qualificação; após o

148
término da crise, muitos deles já não podem voltar à produção. Pioram as condições de moradia dos
trabalhadores, aumenta o número de pessoas sem teto que vagueiam pelo país em busca de
trabalho. Nos anos de crise, eleva-se bruscamente o número de suicídios de pessoas levadas ao
desespero, cresce a mendicidade e a delinquência.”
“As crises conduzem ao agravamento das contradições de classe entre o proletariado e a burguesia,
entre as massas fundamentais do campesinato e os latfundiários, usurários e camponeses ricos que
os exploram.”
A crise geral tem suas próprias característcas. Explica Kozminov:
“Consttuindo uma explosão violenta de todas as contradições do modo de produção capitalista, as
crises econômicas levam inelutavelmente a um aprofundamento e agravamento posteriores destas
contradições.”
“Em regra, as crises capitalistas de superprodução possuem um caráter geral. Iniciando-se em
qualquer ramo de produção, elas abrangem rapidamente toda a economia nacional. Nascendo em
um ou em alguns países, elas se estendem a todo o mundo capitalista.”
“Cada crise conduz a uma brusca redução da produção, à queda dos preços por atacado das
mercadorias e das cotações das ações da bolsa, à diminuição do volume do comércio interno e
externo. O volume da produção cai ao nível existente, vários anos atrás. No século XIX, os países
capitalistas, durante as crises, tveram o nível de sua atvidade econômica reduzido ao de 3 a 5 anos
atrás, e no século XX ao nível de dezenas de anos atrás.”
Os países capitalistas mais desenvolvidos em suas relações mercants e internacionais
procuram descarregar o grosso da crise nos países deles dependentes, gerando-se uma
espécie de “exportação das crises”,. Ao mesmo tempo, os governos e os propagandistas de
tais países procuram apresentar a crise, como resultado da imperícia dos governos
dependentes ou semicoloniais; como produto da “sacrifcada ajuda”, que tais países, mais
acumuladores, estariam prestando aos países do chamado “Terceiro Mundo”,, etc. Como diz
Kozminov:
“As mais amplas massas do proletariado, condenadas pelas crises a imensas privações, impregnam-
se de consciência de classe e de decisão revolucionária. A incapacidade da burguesia para dirigir as
forças produtvas da sociedade quebranta a fé das camadas pequeno-burguesas da população na
solidez da ordem capitalista. Verifica-se o agravamento da luta de classes na sociedade capitalista.”
“Durante as crises, o Estado burguês corre em auxílio dos capitalistas com subsídios monetários, que
são pagos afinal de contas pelas massas trabalhadoras. Utlizando o aparelho de violência e coerção,
o Estado ajuda os capitalistas a realizarem uma ofensiva contra o nível de vida da classe operária e

149
dos camponeses. Isto agrava o empobrecimento das massas trabalhadoras. Ao mesmo tempo, as
crises revelam a impotência do Estado burguês em face das leis espontâneas do capitalismo.”
“As crises consttuem o índice mais evidente de que as forças produtvas criadas pelo capitalismo
ultrapassaram os marcos das relações de produção burguesas, motvo por que estas últmas se
tornaram um freio para o crescimento posterior das forças produtvas.”
“A crise demonstra que a sociedade contemporânea poderia produzir uma quantdade de produtos
incomparavelmente maior, a fim de melhorar a vida de todo o povo trabalhador, se a terra, as
fábricas, as máquinas, etc., não fossem usurpadas por um punhado de proprietários privados, que
extraem milhões da miséria popular. Cada crise torna mais próxima a derrocada do modo de
produção capitalista.”
“Os economistas burgueses tentam por todos os meios ocultar a verdadeira natureza e as causas
das crises, porquanto, nas crises se manifestam de modo partcularmente claro e agudo, as
contradições insolúveis do capitalismo, que evidenciam a inevitabilidade de sua ruína. Tentando
dissimular a inevitabilidade das crises no capitalismo, eles habitualmente as consideram como
resultado de causas acidentais, que poderiam ser eliminadas – segundo pensam – com a conservação
do sistema de economia capitalista.”
“Com este objetvo, os economistas burgueses proclamam, como causa final das crises, a violação
‘casual’ da proporcionalidade entre os ramos da produção, ou o atraso ‘temporário’ do consumo em
relação à produção, propondo assegurar tpos de ‘consumo’ como a corrida armamentsta e a guerra
para curar o capitalismo das crises. Todavia, tanto a desproporcionalidade na produção como a
contradição entre a produção e o consumo são formas de manifestação inevitáveis da contradição
fundamental do capitalismo, que não pode ser eliminada enquanto ele subsista.”
Durante as crises, o desespero de classe dos capitalistas é levado ao paroxismo. Eles utlizam
o Estado capitalista para fcar com as dúvidas das empresas da burguesia e sanear as
mesmas, usando os recursos dos impostos pagos pela maioria empobrecida. Procurando
intmidar a pequena burguesia e as novas camadas médias geradas pela exploração
imperialista internacional, assustando-as com o desemprego, a queda das fontes de
rendimento e uma inventada ameaça de que a crise haja resultado do excesso de elevação
de renda dos assalariados. Com base na calúnia, na mentra e na injúria, os lacaios do capital
buscam dividir a sociedade e impedir o avanço das forças democrátcas, em partcular evitar
as formas de associação da aliança operário-camponesa. Indica Kozminov:
“Desenvolvendo as forças produtvas e socializando a produção, o capitalismo cria as premissas
materiais do socialismo. Juntamente com isso, o capitalismo engendra seu coveiro – a classe
operária, que assume o papel de chefe e dirigente de todas as massas trabalhadoras e exploradas. O

150
desenvolvimento da indústria é acompanhado pelo crescimento numérico do proletariado, pelo
aumento de sua coesão, consciência e organização. O proletariado se ergue, cada vez mais
decididamente, na luta contra o capital. O desenvolvimento da sociedade capitalista, que leva ao
agravamento das contradições antagônicas a ela inerentes e ao agravamento da luta de classes,
prepara as premissas necessárias para a vitória do proletariado sobre a burguesia.”
“A expressão teórica dos interesses radicais da classe operária é o marxismo – o socialismo
científco, que consttui uma concepção do mundo íntegra e harmoniosa. O socialismo cientfico
ensina o proletariado a unir-se para a luta de classe contra a burguesia. Os interesses de classe do
proletariado coincidem com os interesses da maioria esmagadora da sociedade, pois a revolução
socialista significa a destruição de toda a exploração.”
Se examinada do ponto de vista de seus elementos componentes, a vida de uma unidade
social qualquer (empresa, repartção pública, família...) sofre uma série de futuações
indesejáveis, alheias ao interesse daquela unidade, e que é produto de suas relações com o
meio complexo em que se situa. Tais futuações apresentam um perfl próprio, quando
comparadas a outras dentro de unidades de tempo similares (trimestres, anos, quatriênios,
etc.) Por isso, cada um desses subconjuntos típicos pode ser chamado de conjuntura. A
percepção da crise está associada, portanto, à ideia de conjuntura: a uma fase de elevação
da produção e dos lucros, tem-se uma conjuntura expansiva. A um outro momento, de
queda dos lucros e consequente redução da produção, acarretando desemprego, tem-se a
percepção de uma conjuntura recessiva ou depressiva, etc. A economia capitalista padece o
tempo todo dessas conjunturas de alta e de baixa, que podem expressar movimentos cíclicos
diversos: ciclos de 3 anos; de 7 a 10 anos; de cerca de 15 anos; de 21 anos, etc. Esta
perturbação profunda é resultado de tal economia apresentar a propriedade privada dos
meios de produção. Cada capitalista ou cada monopólio age de acordo com sua taxa de lucro
e seus interesses imediatstas, não estabelecendo uma polítca setorial ou de conjunto para a
expansão do capital fxo necessário ao equilíbrio da produção.
Uma vez que tais necessidades são deixadas em seu conjunto ao acaso, os fatores
perturbadores terminam por decidir da sorte dos mercados, no lugar do que seria o
estabelecimento de polítcas racionais e pré-elaboradas, as quais certamente diminuiriam o
efeito das crises e das futuações.
A indiferença dos capitalistas quanto ao efeito das crises se deve também a que muitos
deles costumam “lucrar com as crises”,. Os mais fracos quebram e os mais ricos fcam com
seus patrimônios. Os trabalhadores perdem seus direitos e seus salários caem muito. O
151
Estado abandona dívidas dos capitalistas ou lhes fornecem concessões e subsídios para que
tentem produzir. Dessa maneira, a crise não é necessariamente um mau negócio para
muitos. Mas, como observou Marx, os trabalhadores perdem na crise o que eventualmente
ganharam na expansão. Só nos séculos XIX e XX, o capitalismo sofreu 20 crises importantes,
entre outras: 1821; 1825; 1836; 1847; 1857; 1866; 1873; 1882; 1890; 1900; 1907; 1913;
1920; 1929; 1938; 1946; 1949; 1953; 1958; 1961... o número contnuará a aumentar no
futuro...
Desproporção dos investmentos, erros de cálculos bancário-fnanceiros, perdas ferroviárias,
perdas em guerras, falências empresariais... são inúmeros os pretextos para que se
desencadeiem as crises. A causa verdadeira de todas elas, no entanto, é a propriedade
privada de bens de produção, que leva (1) à busca de lucros exagerados e (2) à postergação
nas polítcas necessárias do capital fxo. Os capitalistas, contudo, não podem renunciar aos
seus ganhos imediatos e pratcar uma polítca econômica que defendesse o sistema e não a
eles próprios.
Para os trabalhadores e as pessoas comuns, o grande problema acarretado pelas crises e as
futuações é o desemprego e o desabastecimento. Na crise, cada país capitalista procura
vender muito e comprar pouco, piorando a situação dos seus “parceiros”, e aprofundando a
crise. Dessa forma, embora o capitalismo como um todo forme um sistema, as crises
periódicas reduzem a sua integridade a um mínimo, valendo a polítca do “salve-se-quem-
puder”,. Nessas conjunturas, os países pobres são os que mais perdem nas trocas
internacionais. E dentro de cada país, os trabalhadores e os pobres são os que mais têm sua
renda e seu consumo reduzidos.
O Estado em cada potência capitalista também procura “cooperar”, com seus capitalistas
fazendo encomendas desnecessárias e preços excessivos. No lugar de encomendar coisas
necessárias (bens para saúde, educação, moradia, alimentação) encomenda coisas
desnecessárias (aviões de guerra, navios de guerra, bombas, inclusive atômicas, etc.). Assim,
os impostos e taxas pagas pelo conjunto da população vão parar nos bolsos dos magnatas
que possuem as indústrias de guerra. Tal é o caso do chamado “complexo industrial-militar”,
dos EUA, denunciado pelo próprio presidente Eisenhawer.
Os teóricos do capitalismo, os economistas liberais e os clássicos, sempre deram pouca
importânncia às futuações e à crise econômica. Para eles, o mercado era uma máquina
pratcamente perfeita e haveria um “retorno automátco”, ao equilíbrio. Sob o império das

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doutrinas liberais, contudo, o que se viu foi o capitalismo pratcamente caminhar para o
desastre. Na crise geral de 1929-1932, que combinou dois tpos de crise em uma só, a
economia dos EUA quase acabou. Na perspectva de contnuidade de tão colossais desastres,
os ideólogos do capital promoveram uma volta de 180 graus e passaram a defender (a) a
intervenção permanente do Estado na economia, através de “polítcas econômicas”,; (b) a
liberação dos oligopólios, que passaram a “programar”, a economia dos países capitalistas, de
acordo com seus próprios interesses. Claro que isso conduziu à segunda guerra mundial e à
guerra da Coreia. Contudo, no entendimento dos capitalistas, a guerra é um mal menor,
porque nelas se ganha muito dinheiro... Portanto, os agentes do capital de todos os tpos não
se importam muito com os ciclos econômicos que perturbam a produção e o consumo.
Preocupam-se mais com a garantr o seu ganho médio em qualquer circunstânncia, mesmo
que para tal tenham que recorrer ao desemprego, à fome dos outros, à repressão e à guerra.
Os capitalistas só se importam com a renda, o lucro e o consumo deles próprios e dentro da
crise eles possuem os meios para preservar as suas posições prévias. Seria de fato
extraordinário que o refexo das contradições fundamentais do sistema que os gera e os
mantém como tal pudesse preocupá-los por muito tempo. Seria como uma pulga preocupar-
se com o balanço da cadeira de cinema em que vive.

4 – A Tendência Histórica do Desenvolvimento Capitalista.


Vê-se com clareza, portanto, que o regime capitalista, prisioneiro de suas próprias
contradições, não pode resolver o problema do nível de vida das massas trabalhadoras,
tampouco do povo em geral, cuja capacidade produtva ele sabota. Oscilando entre
expansões que geram camadas minoritárias de muito ricos e crises, que precipitam na
miséria, massas de milhões, o sistema capitalista não tem nada de novo a oferecer que não
seja concentração de renda para poucos e pobreza e miséria para muitos. Não é um regime
que tenha como perspectva promover o bem-estar da maioria.
É de se compreender, portanto, que em todos os países, e também no Brasil, um número
crescente de trabalhadores, intelectuais e patriotas se interesse pela busca de um caminho
novo, com intensa partcipação democrátca, que possa debater e educar as massas para a
consttuição de uma sociedade nova. Uma sociedade sem exploração fundamental, e que dê
oportunidade a todos a partr de suas capacidades próprias. Como diz a terceira tese do
nosso Programa:

153
“Se as forças patriótcas e populares atuarem unidas nessa luta, se houver uma poderosa
mobilização de massas e, partcularmente, dos setores mais firmes e consequentes da frente única – a
classe operária e os camponeses – a resposta do povo à reação golpista poderá levar a um avanço
decisivo do progresso democrátco, à derrota das forças reacionárias e das manobras conciliadoras à
formação de um governo nacionalista e democrátco.”
A luta democrátca da maioria dos brasileiros para trocar a sociedade de exploração, atraso
e miséria que aí está por uma sociedade melhor em que a cooperação popular possa
construir, é a luta pela consecução da Revolução Brasileira. Pode-se eliminar os focos de
atraso, como o latfúndio semifeudal, abrindo a via para um amplo desenvolvimento social.
Diz o nosso Programa em sua quarta tese:
“Os objetvos da revolução brasileira em sua atual etapa histórica serão completamente alcançados
com a passagem do Poder estatal para as mãos das forças revolucionárias ant-imperialistas e
antfeudais, sob a direção da classe operária. Tais objetvos ultrapassam o âmbito das reformas
denominadas de estrutura ou de base, cujo início é possível, desde já, nos quadros do atual regime,
como resultado de intensificação das lutas do povo brasileiro contra a dependência do País.”
“As reformas de estrutura ou de base destnam-se a iniciar o rompimento dos marcos atuais de
subordinação ao imperialismo e aos interesses retrógrados dos latfundiários, trazendo em si o
conteúdo de um novo curso de desenvolvimento econômico e polítco da nação brasileira.”
Como deliberou a conferência da direção nacional, a adoção do regime parlamentarista
como uma solução negociada da crise de agosto-setembro, não implicou, contudo, a
formação de um governo capaz de representar os interesses de renovação:
“Até agora, porém, as reformas propostas pelo atual governo não encerra o mesmo conteúdo das
reformas exigidas pelos interesses nacionais. As propostas governamentais têm tdo como objetvo
conciliar os interesses de setores da burguesia com a manutenção dos privilégios do imperialismo e
do latfúndio, numa tentatva de protelar indefinidamente a solução profunda dos problemas do
País.”
O bloco pró-imperialista, através de seus agentes no sistema polítco, procura ganhar tempo
para apagar os efeitos de sua derrota, na aventura golpista de agosto-setembro próximo
passado. O golpe, cuidadosamente artculado, tnha por objetvo (1) assegurar o poder
discricionário para o aventurismo do presidente Jânnio Quadros, uma espécie de Mussolini
tão sem programa como o próprio Mussolini; (2) na hipótese de fracasso dessa primeira
tentatva de uma ala golpista, retornou a velha ala golpista, da UDN e da direita militar,
derrotada no contragolpe de 11 de novembro de 1955; (3) na impossibilidade da Junta

154
Militar Denys-Heck-Moss se manter no poder sem guerra civil, apelaram então para a adoção
às pressas de um regime parlamentarista, que expressa a artculação golpista no Congresso
Nacional, apresenta propostas de reformas que não correspondem aos anseios das forças
populares vitoriosas. É necessário apoiar um programa de reformas:
“a) Reforma do sistema cambial, comportando:
- Monopólio estatal do comércio de exportação, das operações de câmbio e controle do comércio de
importação.
- Suspensão temporária do pagamento das amortzações de empréstmos, remessas de lucros,
“royaltes”, juros para o exterior, até a superação das dificuldades cambiais.”

“b) Reforma da polítca do comércio exterior através de providências como:


- Polítca de defesa dos preços externos dos produtos primários, denúncia dos acordos do trigo.
- Monopólio de exportação do café.
- Controle e planificação estatal das importações.”

“c) Reforma da polítca sobre o capital estrangeiro por meio de: -


- Controle dos capitais estrangeiros aplicados no País.
- Emancipação das empresas estrangeiras concessionárias de energia elétrica e telecomunicações.
- Eliminação das atvidades dos trustes internacionais; encampação das refinarias partculares.”

“d) Reforma da polítca financeira e tributária, englobando:


- Lançamento de um empréstmo compulsório interno.
- Unificação de todos os orçamentos da União.
- Corte da subvenção s empresas aéreas privadas e estatzação das mesmas.
- Aumento de impostos sobre beneficiários de altas rendas.
- Elevação do imposto sobre a renda até atngir pelo menos 50% da renda tributária federal.
- Criação do imposto sobre as grandes fortunas.”

“e) Reforma do sistema bancário:


- Aumento do controle da rede bancária privada.
- Proibição dos bancos estrangeiros de receberem depósitos nacionais.”

“f) Reforma agrária radical, através de medidas tais como:


- Eliminação do latfúndio, limitação de propriedade rural a 500 hectares.

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- Desapropriação e distribuição das propriedades latfundiárias, ao invés da colonização de terras
públicas.
- Desapropriação das terras pertencentes às empresas estrangeiras.
- Pagamento de indenização a longo prazo, juros baixos e sem reajustamentos.
- Desapropriação das terras sujeitas a arrendamentos com parceria para entrega aos camponeses
que as cultvam.”

O desenrolar da situação polítca indica que o atual governo “parlamentarista”,, artculado


pelos golpistas e os conciliadores no Congresso, indica-se como incapaz de promover o
conjunto de reformas que o país precisa, para conjurar a crise que se aproxima.
“O governo – diz a Resolução do PCB – acena com reformas de caráter limitado que atendam os
interesses da burguesia nacional. Entretanto, cedendo à pressão das forças reacionárias, não dá
passos concretos para a realização das reformas de base e, pelo contrário, encaminha projetos que
não respondem às necessidades nacionais.”
A polítca de conciliação não pode abrir mão do programa conjunto das forças populares.
Reformas superfciais, ou de fachada não irão conjurar a crise que o país vive, nem impedir a
crise econômica que se aproxima, e que tornará a situação ainda mais grave. Diz a nossa
direção nacional:
“A polítca de conciliação se realiza em detrimento dos interesses nacionais e populares e conduz,
inevitavelmente, ao maior agravamento dos problemas que o País enfrenta.”
Ou seja, a oposição que nosso partdo faz ao atual Gabinete, não se cifra apenas no
interesse das propostas do próprio partdo, mas na defesa do programa da frente única:
“Estamos em oposição ao governo atual porque lutamos por um governo definitvamente
nacionalista e democrátco, livre de compromissos com as forças entreguistas e retrógradas. Nossa
oposição se coaduna, portanto, com o firme apoio aos aspectos positvos da polítca externa do
governo, às restrições adotadas por este em relação ao capital estrangeiro e às concessões que fez
aos trabalhadores, como resultado da luta de massas.”
O nosso partdo defende, portanto, a contnuidade da luta de massas, para obter por meios
polítcos-legais a substtuição do gabinete atual por um governo de tpo nacionalista e
democrátco:
“A conquista de um governo nacionalista e democrátco resultará de uma mudança na correlação
das forças polítcas, de uma intensa luta de todos os brasileiros interessados no progresso e na
libertação nacional, e não da simples substtuição de alguns homens no Poder. Para que seja formado

156
um governo desse tpo, é necessário mudar o atual regime, o sistema de forças, que compõe o
governo; e derrotar a polítca de conciliação com o imperialismo e o latfúndio. Um governo
nacionalista e democrátco não pode ser formado tendo por base o compromisso entre a burguesia
nacional e as forças reacionárias, expressa no acordo PTB-PSD, que serve de fundamento ao atual
governo do Sr. João Goulart.”
“É de grande importância o papel da pequena burguesia urbana no processo da luta emancipadora.
Força social muito numerosa no Brasil, a maioria da pequena burguesia urbana sofre com o atraso do
País e vê o seu nível de vida reduzido pela infação, sentndo, assim a constante ameaça de
proletarização.”
“Distnguindo-se da burguesia entreguista, que serve de agente e de apoio social interno da
dominação imperialista, a burguesia nacional tem interesse objetvo na emancipação da economia
nacional e na realização da reforma agrária. Ao mesmo tempo, é uma classe exploradora, cujos
interesses se opõem ao proletariado e às massas trabalhadoras em geral. ‘Sendo uma classe social
com tendência constante à conciliação, a partcipação da burguesia nacional na frente única é
inconsequente e sujeita a futuações acentuadas, que se manifestam de modo desigual nas attudes
dos diversos setores nacionalistas burgueses’.”
Por estas razões, é importante entender a hegemonia não como uma condição prévia, mas
como o resultado de um trabalho polítco consciente entre as grandes massas do povo,
explicando cada ponto do programa popular e conseguindo o apoio da força dos
trabalhadores, para construir a hegemonia. Diz nossa linha:
“A hegemonia do proletariado na frente única é condição indispensável para uma direção
consequente do movimento, para realização das tarefas radicais da etapa ant-imperialista e
antfeudal da revolução e para assegurar a transição desta à etapa das transformações socialistas.”
Contrariamente ao que afrmam os nossos inimigos, o nosso partdo tem sua própria
interpretação da crise brasileira. Não se trata, contudo, de impor o nosso ponto de vista
como o ponto de partda para um programa comum de frente única. Segundo a experiência
do partdo, expressa em sua linha polítca, uma frente única à base de opiniões positvas, da
escolha de objetvos comuns a realizar, e não buscando aquilo que divide e que desune.
Como costuma dizer o camarada Prestes:
“Quem quer unir, procura aquilo que une. E quem quer desunir, procura aquilo que desune.”
Este é o ponto de vista do nosso partdo. É evidente que a nossa concepção da crise não
pode ser aceita pelos nossos aliados. Eles também têm suas concepções. Contudo, a nossa
concepção é que nos orienta na luta pela frente única. É com base nela que orientamos as

157
massas, ao interpretar cada situação concreta em que ela se manifesta. Estamos convictos
que:
(1) A crise que o Brasil vive é uma crise que se agudiza de tempos em tempos e que se
manifesta também no plano polítco. A dualidade da base material do Brasil, em que o
imperialismo, a burguesia comercial, e o latfúndio se apresentam fortemente enlaçados, é
de uma base econômica dual, sempre a manifestar rachaduras, atraso organizatvo e
produtvo, etc.
(2) Por esta razão, a revolução industrial e a mudança técnica se manifestam com lentdão no
país, não se apresentando como um processo endógeno, mas como o produto da compra de
técnica externa, a custos elevados. Periodicamente, em virtude de sua dependência das
importações, o país perde a capacidade de fazer a sua economia crescer.
(3) Nesses momentos, a crise se verifca ser permanente, ou seja, um retorno da últma crise
ocorrida. A crise social é, assim, permanente, e ela vê-se alimentada por crises econômicas
que trazem consigo crises polítcas.
(4) Assim, as taxas de crescimento da economia, que dependem da ampliação das taxas de
lucro, veem-se estranguladas por um fnanciamento insufciente (interno e externo). Este
tpo de crise também se manifesta em outros países latno-americanos e é resultado da
aliança entre o imperialismo e o latfúndio.
(5) Nos períodos em que estrangula o investmento, as classes dominantes procuram elevar
as exportações e diminuir as importações de primeira necessidade, esfomeando o povo,
aumentando o desemprego e transferindo assim a crise para os trabalhadores e os pobres.
(6) A única solução possível é a industrialização do país. No entanto, a burguesia nacional
não tem forças para realizar as reformas necessárias, sozinha. E daí a importânncia da polítca
da frente única.
Assim, para efetuar uma polítca de frente única, é preciso conhecer a natureza social das
forças que podem partcipar de tal frente e educá-las politcamente para que tenham uma
visão materialista da vida social, tomando as medidas necessárias para um avanço conjunto
das forças progressistas aliadas. Não se pode fortalecer a frente comum, “puxando o tapete”,
de nossos aliados. A luta de classes está unida como um sistema em cada sociedade, com
suas diferentes formas. O conhecimento de sua natureza tende a eliminar o subjetvismo, ou
a reduzi-lo, e fazer avançar o programa comum de ação. Unidade, mais unidade, mais
unidade. Eis a prova da necessidade histórica do partdo polítco da classe operária, que não

158
impõe condições prévias, exceto independência organizatva para partcipar da frente única.
Disse o camarada Kuusinen:
“A revolução polítca da classe operária pode processar-se em diferentes formas. Ela pode realizar-se
pelo caminho da insurreição armada, como ocorreu na Rússia, em outubro de 1917. Em condições
partcularmente favoráveis, é possível também a transição pacífica do poder ao povo, sem insurreição
armada e sem guerra civil. Quaisquer que sejam, porém, as formas em que se verifique a revolução
polítca do proletariado, ela representa sempre o grau superior do desenvolvimento da luta de
classes. Como resultado da revolução, estabelece-se a ditadura do proletariado, isto é, o poder dos
trabalhadores, dirigido pela classe operária.”
“Tendo conquistado o poder, a classe operária enfrenta a questão do que fazer com o aparelho do
velho Estado, com a polícia, os tribunais, os órgãos administratvos, etc. Nas revoluções anteriores, a
nova classe, tendo chegado ao poder, adaptava às suas necessidades o velho aparelho estatal e
governava com a sua ajuda. Isto era possível, uma vez que as revoluções conduziam à substtuição do
domínio de outra classe também exploradora.”
“A classe operária não pode seguir por semelhante caminho. A polícia, a gendarmeria, o exército, os
tribunais e outros órgãos estatais, que por séculos serviram às classes exploradoras não podem
passar simplesmente ao serviço daqueles a quem antes oprimiam. O aparelho estatal não é uma
máquina comum, indiferente a quem a dirige: pode-se substtuir o maquinista, mas a locomotva,
como antes, arrastará o trem. No que se refere à máquina estatal burguesa, o seu caráter é tal, que
ela não pode servir à classe operária.”
“A composição do aparelho estatal burguês e a sua estrutura são adequadas à execução da função
fundamental deste Estado: manter os trabalhadores submetdos à burguesia. Eis porque Marx dizia
que as revoluções anteriores apenas aperfeiçoavam a velha máquina estatal, ao passo que a tarefa
da revolução operária consiste em quebrá-la e substtuí-la pelo Estado proletário.”

5 – Conclusões.
Nesta aula examinamos as contradições do sistema capitalista enquanto fato
socioeconômico e sociopolítco. Compreendemos que as classes trabalhadoras são capazes
de criar um mundo melhor do que este criado pelo capital. Aprendemos que, para os pobres,
os expropriados, os operários do campo e da cidade tentar prosperar é como remar no seco,
porque a sociedade do capital não está voltada para servir a maioria.
Estudamos também a importânncia das crises econômicas e qual a visão que a classe
trabalhadora brasileira tem do quadro específco de nossa crise, social e econômica.

159
Compreendemos que a tendência histórica do capitalismo, quanto à maioria da população,
é a estagnação na pobreza, embora um punhado de pessoas se torne extremamente rica, até
um ponto desnecessário. Entendemos também que é possível aos trabalhadores elaborarem
e defenderem um programa polítco, rompendo o monopólio de opinião que caracteriza as
classes dominantes e seus meios de divulgação.

Perguntas.
1. Como se dá acumulação capitalista?
2. Que entende por acumulação primitva?
3. Qual a diferença entre salário nominal e salário real?
4. Por que o salário é a “medida da miséria”,?
5. Como os economistas burgueses embelezam o capitalismo contemporânneo?
6. O que é burguesia nacional?
7. Que entende por frente única?
8. Explique porque vivemos em uma economia monopolista.
9. Qual a relação entre imperialismo e capital estrangeiro?
10. Por que a burguesia utliza o trabalho compulsório?

160
Aula 5

161
5 – Imperialismo. Etapa Superior do Capitalismo.
O conceito de “imperialismo”, é bastante antgo. Ele deriva da polítca do Estado romano na
Antguidade, que teve seu sistema republicano deteriorado pela adoção, por sua classe
dominante, de uma polítca guerreira de conquistas de (a) novos territórios, para explorar ou
distribuir para os seus; (b) uma polítca também de escravização em massa das populações
vencidas, para que trabalhassem (c) nas terras e empresas conquistadas. A fm de possibilitar
o sucesso dessa polítca expansiva, os chefes romanos criaram um sistema de ditadura
militar, em que um membro da classe dominante governava todos os exércitos. O bastão de
comando deste ditador era o “imperium”, e, portanto, simbolizava tanto as conquistas como
sua administração. O portador do “imperium”, era o “imperator”,, que gerou no ocidente
europeu o termo “imperador”,.
Por associação de ideias, a polítca expansionista para a conquista de territórios e escravos
tornar-se a “polítca imperialista”,, e os historiadores assim classifcaram os Estados
subsequentes que tenderam a ocupar terras conquistadas, formando “impérios”,. No século
XIX, graças à primazia inglesa na revolução industrial, a Inglaterra formou um enorme
império, garantda pelas suas frotas de guerra e mercante, e espalhado por todo o mundo.
A partr de 1870, com a derrota da França para a Prússia, iniciou-se uma corrida
armamentsta entre as grandes potências capitalistas, que trataram de redividir o mundo, em
proveito próprio. A evolução dos transportes e dos armamentos favoreceu então esta
polítca. O economista inglês Hobson escreveu um trabalho em que provava a formação, nas
condições da revolução industrial, de um novo imperialismo, que para ele seria um conjunto
de polítcas baseadas (1) na fusão entre o sistema bancário-fnanceiro e as grandes
indústrias, criando em consequência (2) uma camada de polítcos interessados em guerras
de agressão, de pilhagem, conquistas e imigração para essas colônias e semicolônias assim
tomadas. Mais tarde, o médico e economista social-democrata Rudolf Hilferding escreveu
um livro (1906), O Capital Financeiro, em que estudou do ponto de vista marxista, este “novo
imperialismo”,. Hilferding concluiu que não se tratava de simples polítca, mas sim de uma
nova estrutura em formação no sistema capitalista, que estava a eliminar a fase de livre
concorrência e gerar empresas gigantes e internacionais, baseadas no capital fnanceiro (a
fusão entre grandes bancos e grandes indústrias). A dirigente marxista Rosa Luxemburgo
escreveu (1911) um trabalho, tornado também clássico, em que estudou o papel dos
mercados externos no processo da acumulação capitalista. Vladimir Lênine (1916) escreveu o

162
seu trabalho sobre o imperialismo como a nova etapa do capitalismo, onde se aguçam todos
os traços de exploração e opressão antes verifcados.

1 – O Imperialismo: defnição. Traços Característcos.


Na base econômica do capitalismo, manifesta-se a sua contradição fundamental, entre o
caráter privado da propriedade e da distribuição e o caráter social da produção.
Trabalhadores de um lado, exploradores de outro, a contradição fundamental se torna
universal, na época da dominação imperialista: Sigamos aqui Kozminov.
“Entre os fatores mais importantes que determinam a pauperização do proletariado figura a
extensão do desemprego (forçado) e a sua duração.”
“O desemprego (forçado) é uma verdadeira desgraça para a classe operária. O operário não tem
nenhum outro meio de vida além da venda da sua força de trabalho. Ao ser privado de trabalho,
enfrenta a ameaça da fome. São muitos os operários desempregados que não têm onde dormir por
não possuírem dinheiro para pagar um síto onde pernoitar. O crescimento do desemprego (forçado)
condena à miséria, milhões de operários, que não encontram lugar na produção capitalista. Os
desempregados não têm outro remédio senão aceitar as condições de trabalhos mais desvantajosas.”
“Ao mesmo tempo, o aumento do exército industrial de reserva vem reforçar a exploração e piorar a
situação dos operários no atvo. Os capitalistas aproveitam-se da existência de desempregados para
reduzir abaixo do valor da força de trabalho os salários dos operários que trabalham. O
desempregado (forçado) faz descer, além disso, o nível de vida da classe operária por outra razão – os
membros da família sem trabalho são sustentados à custa dos que estão empregados. Isto significa
que quanto maior é o desemprego (forçado) menos meios de subsistência cabem a cada operário
incluindo os atvos. A existência do desemprego (forçado) coloca em precária situação os operários
que trabalham e acentua a sua insegurança no amanhã, cresce o seu temor de ficar na rua. Por estas
razões, os capitalistas estão interessados em que exista o desemprego (forçado), que pressiona
constantemente o mercado do trabalho e lhes assegura mão de obra barata.”
Como chamou a atenção Lênine, os monopólios e as potências imperialistas que eles
controlam, não podem recuar diante das guerras, quando a taxa de lucro se expressa “em
dois ou três dígitos”,. Isso, é evidente, não melhora as condições de vida da maioria da
sociedade:
“Para o agravamento da situação da classe operária contribuem enormemente as crises
econômicas, as guerras, e o incremento do militarismo. As crises econômicas provocam um forte
alargamento do desemprego forçado e uma brusca descida dos salários dos operários no atvo.
Alguns economistas burgueses tratam torpemente de apresentar as guerras e o ascenso do
163
militarismo como fatores favoráveis aos trabalhadores, afirmando que durante as guerras melhora a
situação dos operários. São intenções encaminhadas para levar os operários a apoiar a polítca
agressiva das potências imperialistas. Mas estas tentatvas caem perante a própria evidência dos
fatos. As guerras e a militarização da economia trazem consigo o aumento dos impostos e a caresta
de vida, acentuam a intensidade do trabalho e prolongam a jornada, aumentam a insuficiência da
alimentação, alargam as enfermidades e elevam o coeficiente de mortalidade, tudo isto sem falar do
extermínio em massa dos trabalhadores que a guerra provoca. E estes fatores contnuam a pesar na
situação dos trabalhadores para além do termo da guerra.”
“Não se pode considerar o problema da pauperização absoluta sem ter em conta a situação dos
trabalhadores nos países colonizados e dependentes. O nível de vida da população nos países
colonizados é sumamente baixo; a miséria extrema e o coeficiente extraordinariamente alto de
mortalidade, resultado das insuportáveis condições de trabalho e a fome crônica apresentam aqui
um caráter de massa.”
Acicatado pela contradição fundamental, forma-se a estrutura do imperialismo como nova
fase histórica do capitalismo, passando a concorrência para um novo patamar:
“À medida que o capitalismo se vai desenvolvendo acentua-se a socialização capitalista do trabalho
e a especialização. Fazem-se novos progressos na divisão social do trabalho. Ramos industriais que
antes eram mais ou menos independentes convertem-se numa cadeia de ramos de produção
entrelaçados e interdependentes. Os nexos econômicos entre as diferentes empresas, entre as
regiões, e até entre os países, desenvolvem-se em proporções extraordinárias.”
“A grande produção impõe-se, quer na indústria quer na agricultura. As forças produtvas, ao
desenvolverem-se, fazem surgir instrumentos e métodos de produção requerendo o trabalho
coordenado de muitas centenas e milhares de operários. A produção concentra-se cada vez mais.
Porém, esta socialização crescente da produção favorece uns quantos patrões que aspiram a
incrementar os seus lucros. O produto do trabalho social de milhões de homens converte-se em
propriedade privada dos capitalistas.”
“O regime capitalista traz no seu seio, por conseguinte, uma profunda contradição, a saber, a de que
a produção vai adquirindo cada vez mais um caráter social, ao passo que a propriedade privada
sobre os meios de produção contnua a ser propriedade privada capitalista incompatvel com o
caráter social de produção. A contradição entre o caráter social da produção e a forma privada,
capitalista, de apropriação do produto consttui a contradição fundamental.”
Os economistas burgueses gastam muita tnta para embelezar o imperialismo, ora
apresentando-o como um capitalismo planifcado, de que foram extrpados, a concorrência,
a bagunça na produção, a exploração etc... Ora apresentam o imperialismo como uma época

164
de ganhos fnanceiros, em que, democratcamente, os operários enriquecem com a compra
de títulos e ações. Recapitulemos, pois, as três formas de existência do capital industrial,
para entender melhor a época do imperialismo como um fenômeno estrutural:
“A condição de existência do modo de produção capitalista é a circulação mercantl desenvolvida,
isto é, a troca de mercadorias através do dinheiro. A produção capitalista encontra-se
indissoluvelmente ligada à circulação.”

“Todo o capital principia a sua carreira sob a forma de uma dada soma de dinheiro, aparecendo
inicialmente como capital monetário. O capitalista compra com dinheiro certos tpos de mercadorias:
1) meios de produção, e 2) força de trabalho. Este ato de circulação pode exprimir-se pela seguinte
fórmula: “

T
D M
Mp

D signifca dinheiro, M mercadoria, T força de trabalho e Mp meios de produção . Em


consequência desta transformação na forma do capital, o seu possuidor passa a dispor do
necessário para a produção. Antes disso, possui capital sob a forma de dinheiro; agora,
possui um capital da mesma grandeza, mas já sob a forma de capital produtvo.”, O dinheiro
nada poderia se não pudesse encontrar a sua antítese, a força de trabalho do operário. Será
sempre através da exploração do trabalho vivo do operário que o dinheiro (papel ou ouro)
poderá se converter em criador de materialidade, ou seja, capital produtvo:
“Por conseguinte, a primeira fase do movimento do capital consiste na transformação do capital
monetário em capital produtvo.”
“Depois disto, começa o processo de produção, no qual se verifica o consumo produtvo das
mercadorias compradas pelo capitalista. Este processo consiste na prestação de trabalho pelo
operário, na laboração das matérias-primas, no consumo do combustvel e no desgaste das
máquinas. O capital volta a mudar de forma; como resultado do processo de produção, o capital
adiantado, isto é, investdo, materializa-se numa determinada quantdade de mercadorias, revestndo
a forma de capital mercantl. No entanto, e em primeiro lugar, não são já as mesmas mercadorias
que o capitalista comprou ao iniciar o seu negócio, mas sim artgos acabados; em segundo lugar, o
valor desta quantdade de mercadorias é superior ao valor inicial do capital, na medida em que nesse
valor já está incluída a mais-valia produzida pelos operários.”

165
“Esta fase do movimento do capital pode expressar-se pela seguinte fórmula:

T
M ... P ... M’
Mp

“A letra P significa produção, os pontos marcados antes e depois desta letra indicam que o processo
de circulação se interrompeu para dar lugar ao processo de produção, e M’ significa o capital em
forma de mercadorias cujo valor aumentou em consequência do trabalho adicional dos operários.”
“Portanto, a segunda fase do movimento do capital consiste na transformação do capital produtvo
em capital mercantl.”
“No entanto o movimento do capital não se detém neste ponto. As mercadorias produzidas têm de
ser realizadas. Em troca das mercadorias vendidas, o capitalista obtém uma determinada soma de
dinheiro.”

Sendo: D dinheiro
M a mercadoria
F a força de trabalho ou (T)
Mp os meios de produção

Tem-se que, pela modifcação necessária na forma do capital, o capitalista logra colocar à
sua disposição tudo o que necessita para assegurar o processo produtvo. Ou seja, o capital
desloca-se da forma monetária para ser capital produtvo. Assim, o processo de produção
opera o consumo produtvo das mercadorias que foram compradas pelo capitalista. Os
operários gastam aí seu trabalho, reelaboram as matérias-primas, consome-se o combustível
ou energia elétrica, as máquinas sofrem o desgaste do processo, etc. Ao mudar uma vez mais
sua forma, o capital se converteu numa massa de novas mercadorias, ou seja, capital
mercantl. Estes tpos fabricados e acabados têm um valor superior ao valor do capital de
início do processo. O capitalista deve então vender (realizar) as mercadorias, obtendo por
elas uma soma de dinheiro.
M’ ---- D’
Sendo D’ o capital em forma monetária (nova forma) está acrescido de uma grandeza que
corresponde à mais-valia. Diz Ostrovitanov:

166
“Este ato de circulação pode representar-se do seguinte modo:
M’ ---- D’
“A letra D’ significa aqui o capital monetário, acrescentado da quantdade de mais-valia obtda.”
“O capital muda de forma pela terceira vez: ele adota de novo a forma de capital monetário. Porém,
depois desta fase, o possuidor do capital tem nas suas mãos uma soma de dinheiro superior à do
início. Atngiu-se o objetvo da produção capitalista, que não é outra senão extrair a mais-valia.”
“Assim, a terceira fase do movimento do capital consiste na transformação do capital mercantl em
capital monetário.”
“Depois de receber o dinheiro da venda das suas mercadorias, o capitalista investe-o novamente em
meios de produção e força de trabalho, indispensáveis para contnuar a produzir, e assim todo o
processo se repete.”
“Estas, são, portanto, as três fases percorridas sucessivamente pelo capital no seu movimento. Em
cada uma destas fases, o capital cumpre uma função correspondente. A transformação do capital
monetário em elemento do capital produtvo assegura a fusão dos meios de produção, pertencentes
ao capitalista, com a força de trabalho dos operários assalariados, sem a qual não se poderia efetvar
o processo produtvo. A missão do capital produtvo consiste na criação, a partr do trabalho
assalariado dos operários, de uma certa quantdade de mercadorias dotadas de novo valor e,
consequentemente, de mais-valia. A missão do capital mercantl consiste na possibilidade dada ao
capitalista para, em primeiro lugar, readquirir, pela venda das mercadorias, o capital adiantado para
a produção e, em segundo lugar, converter em dinheiro a mais-valia formada no processo de
produção.”
“O capital industrial, no seu movimento, atravessa estas três fases. Por capital industrial, entende-
se todo o capital utlizado na produção de mercadorias, independentemente da sua aplicação na
indústria ou na agricultura. ‘O capital industrial é a única forma de existência do capital na qual a sua
função não é somente a apropriação da mais-valia ou do produto suplementar, mas também a sua
criação’.”
Assim, neste terceiro movimento, o capital ao mudar de forma para dinheiro novamente
materializou o seu acrescentamento. O dinheiro que foi ganho com a venda das mercadorias
é agora investdo na compra de meios de produção e de força de trabalho que são
necessários, e todo o processo volta a ocorrer, noutro período de tempo. O capital deve
percorrer estes três movimentos, e forma um ciclo. A transformação do capital monetário
nos elementos do capital produtvo garante que se unifquem os meios de produção
(capitalistas) com a força de trabalho (assalariados). Através dos trabalhadores, o capital

167
produtvo partcipou da criação de uma massa de mercadorias de novo valor, portanto,
incluindo a criação de mais-valia:
“Este condiciona, portanto, o caráter capitalista da produção; a sua existência leva implícita a
contradição de classe entre capitalistas e operários assalariados.”
“Por conseguinte, o capital industrial realiza sempre o seu movimento em forma cíclica.”
“Chama-se de ciclo do capital à transformação sucessiva do capital de uma forma para outra, ao
seu movimento, que abrange as três fases. A primeira e a terceira destas três fases efetuam-se na
esfera da circulação, a segunda na esfera da produção. Sem circulação, quer dizer, sem a
transformação das mercadorias em dinheiro e a transformação inversa de dinheiro em mercadorias,
seria inconcebível a reprodução capitalista, isto é, a renovação constante do processo de produção.”
“O ciclo do capital, no seu conjunto, pode expressar-se pela seguinte fórmula:
T
D M P M’ D’
Mp

“As três fases do ciclo do capital encontram-se intmamente ligadas entre si e dependem umas das
outras. O ciclo do capital só se realiza normalmente sempre e quando as diversas fases se sucedem,
sem solução de contnuidade.”
“Se o capital estagna na primeira fase, isso significa a existência infrutfera de um capital monetário.
Se a estagnação se verifica na segunda fase, os meios de produção mantêm-se paralisados e a força
de trabalho permanece inatva. Se a paralisação do capital se dá na terceira fase, as mercadorias por
vender acumulam-se nos armazéns e obstruem os canais da circulação.”
“No ciclo do capital reveste-se de uma importância decisiva a segunda fase, na qual o capital adota
a forma de capital produtvo; nesta fase opera-se a produção das mercadorias, do valor e da mais-
valia. Nas outras fases não se cria nem valor nem mais-valia; nelas, o capital limita-se a mudar de
forma.”
“As três fases do ciclo do capital correspondem às três formas do capital industrial; 1) capital
monetário; 2) capital produtvo; 3) capital mercantl.”
“Todo o capital reveste-se simultaneamente estas três formas. O patrimônio de qualquer empresa
capitalista industrial é formado, em cada momento, por meios monetários para fazer face às
necessidades da empresa, meios de produção, que os operários utlizam para fabricar os produtos, e
mercadorias já prontas para a venda. Na altura em que uma das partes do capital é capital
monetário que se vai convertendo em produtvo, outra parte é capital produtvo que se está a
converter em capital mercantl, e outra capital mercantl que se vai transformando em capital

168
monetário. Cada uma das partes reveste e abandona sucessivamente as três formas do capital. É
deste modo que se passam as coisas, não apenas no que diz respeito a cada fração do capital em
separado, mas também em relação aos capitais vistos em conjunto ou, dito por outros termos,
enquanto capital global da sociedade. Por isso, o capital, diz-nos Marx, só pode conceber-se como
movimento, e não como uma coisa estátca.”
Como foi explicado por Hilferding, Rosa Luxemburgo e Lênine, o imperialismo signifca a
anexação de novos mercados – primitvos ou não – para o capital monopolista efetuar a sua
expansão e se reproduzir nas três formas do capital industrial, apresentadas. Portanto, o
imperialismo deixa de signifcar uma polítca direta de apropriação de terras, mercadorias e
de escravos – como era no passado – para signifcar uma reprodução induzida do sistema do
capital, agora em escala mundial. Como diz Ostrovitanov:
“O capitalismo monopolista instalou-se definitvamente nos fins do século XIX e começos do XX.
Levou-se a cabo em todos os países desenvolvidos a passagem ao capitalismo monopolista.
Concomitantemente, no entanto, o desenvolvimento do imperialismo revestu característcas
especiais em cada país. Assim, enquanto na França o imperialismo apresentou característcas de um
imperialismo usurário, em Inglaterra adquiriu um nítdo caráter colonial.”
“Cabe a V.I. Lênine o mérito histórico de ter analisado, com base na teoria marxista, o imperialismo
como fase superior e últma do capitalismo, quer dizer, como a antecâmara da revolução socialista do
proletariado. Na sua obra clássica O imperialismo, estádio supremo do capitalismo e noutros
trabalhos, escritos principalmente no decurso da Primeira Guerra Mundial, Lênine fez o balanço do
desenvolvimento do capitalismo mundial durante o meio século posterior ao aparecimento de O
Capital de Marx. Baseando-se nas leis de origem, desenvolvimento e decadência do imperialismo,
descobertas por Marx e Engels, Lênine traçou uma profunda análise cientfica da natureza econômica
e polítca do imperialismo, das leis que regem e das suas insolúveis contradições.”
“Segundo a clássica definição de Lênine, os traços econômicos fundamentais do imperialismo são: 1)
a concentração da produção e do capital atngiu um tal desenvolvimento, que provocou o
aparecimento dos monopólios, os quais desempenham um papel decisivo na vida econômica; 2)
opera-se a fusão do capital bancário com o industrial e surge, tendo este por base, o ‘capital
financeiro’, a oligarquia financeira; 3) além da exportação de mercadorias, a exportação de capitais
assume partcular importância; 4) formam-se associações monopolistas internacionais de
capitalistas, que repartem o mundo e 5) termina a partlha territorial do mundo entre as potências
capitalistas mais importantes.”
Um ponto crucial do imperialismo contemporânneo é, portanto, a exportação de capitais
para assegurar a reprodução do sistema. Não se trata “apenas”, de pilhar matérias-primas ou

169
escravizar força de trabalho. Trata-se de (1) elevar a concorrência a um novo nível
(competção entre monopólios); (2) de dominar o mercado nacional (concorrência dentro do
mercado de origem); trata-se de (3) concorrer contra as empresas que não são monopolistas
(em geral, locais); trata-se de (4) apossar-se do máximo de mais-valia e de lucros.
Quanto mais se concentra a indústria, com o surgimento da produção maciça de carvão, aço
e petróleo, e equipamento de transporte (trens, caminhões, navios), mais se reforçou a
formação de monopólios bancários. As novas proporções dos consórcios industriais levou
rapidamente a fusões e uniões (1870-1940), originando uma estrutura de empresas em cada
país que controla a maior parte da produção, e a direção para aonde vai o desenvolvimento
do capital. Esses grupos coloniais lutam e fazem acordos entre si, diminuindo os Estados de
seus países de origem e periodicamente redistribuem entre si os países coloniais,
semicoloniais e dependentes. Diz Kozminov:
“A concentração da indústria e a formação dos monopólios bancários conduzem à modificação
essencial das inter-relações entre os bancos e a indústria. Com o aumento das proporções das
empresas, adquirem importância cada vez maior os grandes créditos a longo prazo, concedidos pelos
bancos aos capitalistas industriais. O crescimento da massa de depósitos que se encontra à
disposição dos bancos abre amplas possibilidades para essa aplicação a longo prazo dos recursos dos
bancos na indústria.”
“A forma mais difundida de colocação dos recursos monetários dos bancos na indústria é a compra
de ações de diversas empresas. Os bancos contribuem para a formação de sociedades por ações,
tomando a si a reorganização de empresas de capitalistas isolados sob a forma de sociedades
anônimas e a criação de novas sociedades anônimas (incorporação). A venda e a compra de ações se
realizam, em escala cada vez maior, por intermédio dos bancos.”
“Os interesses dos bancos e das empresas industriais entrelaçam-se cada vez mais estreitamente.
Quando um banco financia algumas grandes empresas de determinado ramo, está interessado no
acordo monopolista entre elas e contribui para tal acordo. Por este meio, os bancos fortalecem e
aceleram, muitas vezes, o processo de concentração e centralização do capital e a formação dos
monopólios.”
“A transformação dos bancos, de simples intermediários, num punhado de monopolistas
onipotentes, consttui um dos processos fundamentais de transformação do capitalismo da época da
livre concorrência em capitalismo monopolista.”
O desenvolvimento do capital fnanceiro prioriza os lucros monetários sobre as
necessidades do processo produtvo e deixa de reconhecer os mercados nacionais como

170
barreiras. Os monopólios ignoram deliberadamente a posição de seus concorrentes e tratam
de ganhar para si todos os mercados, locais ou regionais, onde encontram debilidades na
resistência. As operações invasivas fnanceiras se tornam cada vez mais complicadas. Explica
Kozminov:
“Como resultado do fato de que os bancos se tornam coproprietários de empresas industriais,
comerciais e de transportes, ao adquirirem suas ações e obrigações, e os monopólios industriais, por
sua vez, possuem ações dos bancos a eles ligados, verifica-se o entrelaçamento, a união dos capitais
monopolistas bancário e industrial. Surge um novo tpo de capital – o capital financeiro.”
“O capital fnanceiro é o capital unificado dos monopólios bancários e industriais. A época do
imperialismo é a época do capital financeiro. Ao definir o capital financeiro, Lênine assinalou três
aspectos mais importantes: ‘A concentração da produção; os monopólios dela decorrentes; a fusão ou
a união dos bancos com a indústria – eis a história do aparecimento do capital financeiro e o
conteúdo deste conceito’.”
“A união do capital bancário com o capital industrial manifesta-se claramente sob a forma da união
pessoal dos dirigentes dos monopólios bancários e industriais. As mesmas pessoas encabeçam as
grandes uniões monopolistas nos negócios bancários, na indústria, no comércio e em outros ramos
da economia capitalista.”
Ainda no século XIX, Bismarck, primeiro-ministro alemão, reclamava que a formação dos
monopólios em seu país, havia transformado os governantes de dirigentes de Estado em
meros “caixeiros-viajantes”, das empresas monopolistas. De fato, em toda parte, o poder
econômico dos monopólios corrompe os membros dos diferentes governos e as eleições
locais, assumindo direta ou indiretamente o exercício do governo. Com o governo em suas
mãos, os monopólios criaram o “capital monopolista do Estado”,, em que os fundos públicos
e o poder do Estado são utlizados prioritariamente para servir aos interesses das grandes
empresas. Diz Kozminov:
“Na Alemanha, antes da Primeira Guerra Mundial, seis maiores bancos berlinenses possuíam seus prepostos
como diretores de 344 empresas industriais e como membros da administração em mais 407, ou seja, ao todo,
em 751 sociedades. Por outro lado, nos órgãos dirigentes destes seis bancos encontravam-se 51 grandes
industriais. Posteriormente, esta união pessoal atngiu um desenvolvimento ainda maior. Em 1932, pertenciam
aos órgãos dirigentes dos três principais bancos berlinenses 70 grandes representantes da indústria. Nos
Estados Unidos, em 1950, um pequeno grupo de 400 industriais e banqueiros ocupava um terço dos 3.705
postos dirigentes nas 250 maiores corporações (sociedades anônimas), que possuíam 42% de todos os capitais
do país.”

171
“O capital financeiro submete cada vez mais não somente a indústria, mas também a agricultura.
São variadas as formas desta submissão. Em todos os países capitalistas, realiza-se a união dos
monopólios bancários com a grande propriedade territorial. Em escala crescente, os bancos
concentram em suas mãos a propriedade da terra. A especulação com terrenos, partcularmente nos
arredores das cidades que crescem com rapidez, é uma das operações altamente lucratvas do capital
financeiro. A revenda de terrenos por elevados preços monopolistas enriquece os bancos e os grandes
proprietários. O sistema de crédito hipotecário dá aos bancos a possibilidade de arruinar os pequenos
e médios proprietários e concentrar em seu poder as terras a eles pertencentes. O capital bancário
entrelaça-se estreitamente com as organizações monopolistas no terreno da produção, do transporte
e da venda dos produtos agrícolas.”
As potências imperialistas e seus monopólios não têm qualquer interesse social no
desenvolvimento das semicolônias e países dependentes que controlam. Suas estratégias
são aplicadas de modo a ignorar a unidade nacional local, o equilíbrio das estruturas sociais e
econômicas, etc. Da mesma maneira que o velho colonialismo, o imperialismo pode adotar
polítcas locais de agressão e de extermínio, por interesses simplesmente geopolítcos ou de
acumulação.
“Em cada país capitalista, um punhado de grandes banqueiros e industriais monopolistas têm em
suas mãos todos os ramos vitalmente importantes da economia, dispondo da maioria esmagadora da
riqueza social. A gestão dos monopólios capitalistas inevitavelmente se converte no domínio da
oligarquia fnanceira (a palavra grega ‘oligarquia’ significa literalmente ‘domínio de poucos’).”
“O domínio da oligarquia financeira no terreno econômico realiza-se antes de tudo por meio do
chamado ‘sistema de partcipação’. Este sistema consiste em que um grande homem de negócios ou
um grupo de homens de negócios tem em suas mãos a sociedade anônima fundamental (‘sociedade-
mãe’), que encabeça o consórcio; esta sociedade, por sua vez, possuindo o lote de ações, que
assegura o controle, domina as ‘sociedades-filhas’, dependentes dela; estas, por meio análogo,
administram as ‘sociedades-netas’, e assim por diante. Por meio deste sistema os negocistas
financeiros têm a possibilidade de dispor de enormes somas de capital alheio.”
“Com a ajuda de um sistema de partcipação amplamente ramificado, oito maiores grupos financeiros dos
Estados Unidos – Morgan, Rockefeller, First Natonal City Bank, Dupont, Mellon, Cleveland, Chicago e Bank of
America – ocupam posição dominante em toda a economia do país. A soma dos atvos controlados por estes
oito grupos financeiros, segundo dados de 1955, era igual a 218,5 bilhões de dólares. Desta forma, 65,3 bilhões
pertenciam ao grupo Morgan, 61,4 bilhões a Rockefeller, e 22 bilhões de dólares ao grupo de Chicago.”

O desenvolvimento dos monopólios compreendeu, assim, duas fases: (a) pelo crescimento
maior de um grupo de empresas em detrimento de outras, pelo processo da livre

172
concorrência (1860-1914); (b) pela consolidação, no plano internacional de uniões
monopolistas de certas nações, ou misturadas, de várias nações (1920-1960); lutas, é claro,
destruidoras entre tais uniões, com duas “guerras mundiais”,. Lembra Ostrovitanov:
“A livre concorrência que regia a fase pré-monopolista do capitalismo, determinava o rápido
processo de concentração da produção em empresas cada vez maiores. A ação da lei da
concentração e da centralização do capital acarretava inevitavelmente o triunfo de umas quantas
grandes e poderosas empresas, em comparação com as quais as empresas pequenas e médias
desempenhavam um papel cada vez mais subalterno. Por sua vez, a concentração da produção
preparava a passagem da época da supremacia da livre concorrência à época da supremacia dos
monopólios.”

2 – A Formação dos Monopólios.


A formação, portanto, dos monopólios foi uma etapa histórica do desenvolvimento do
capital. Os reformistas ingenuamente se mantém até hoje com a opinião de Hobson, de que
o imperialismo se dê no plano subjetvo, na escolha polítca dos membros do governo. No
entanto, o exame minucioso da polítca dos governos das potências imperialistas deixa certos
traços muito claros: (a) nenhum governo, não importa o partdo, adota polítcas que não
sejam imperialistas, ou que deixem de atender as exigências dos monopólios locais; (b)
governo algum se recusa a partcipar das alianças guerreiras e das guerras em que “seus”,
monopólios estejam interessados; (c) governo algum reduz ou elimina a prátca de utlizar o
comércio internacional como ferramenta de exploração e de agressão. Diz Ostrovitanov:
“Ao chegar a um certo grau de desenvolvimento, a concentração da produção conduz
inevitavelmente ao monopólio. As empresas de grandes proporções paralisam a concorrência,
arruínam-na e engendram a tendência para o monopólio. Paralelamente, é mais fácil o acordo entre
umas dezenas de empresas gigantescas do que entre centenas ou milhares de pequenas empresas. O
monopólio substtui deste modo, a livre concorrência.”
“Nesta substtuição reside a essência econômica do imperialismo. Nos diversos países capitalistas
existem diferenças quanto às formas dos monopólios ou relatvamente à época em que tenham
aparecido, mas a formação dos monopólios por virtude da concentração do capital é uma lei comum
a todos os países, ao chegar à fase contemporânea do desenvolvimento do capitalismo.”
“Os monopólios são enormes empresas capitalistas ou agrupamentos de empresas capitalistas, nas
quais se concentra uma parte tão considerável da produção ou da venda de um determinado tpo de
produtos, que lhes permite restringir a concorrência e estabelecer um monopólio de preços elevados

173
sobre as mercadorias. E, ao venderem as mercadorias a preços elevados, os monopólios asseguram a
obtenção de altos lucros monopolistas.”
“As formas das organizações monopolistas são variadas. Entre elas figuram já acordos a curto prazo sobre os
preços de venda, que recebem diferentes nomes, tais como convenção, ‘corner’, ‘ring’, etc. As formas
fundamentais de monopólios são os cartéis, os sindicatos, os trusts e os consórcios.”
“Chama-se cartel a um agrupamento monopolista cujos membros, mantendo as suas respectvas empresas
como unidades independentes, se põem de acordo acerca das condições de venda e prazos de pagamento,
repartem os mercados de venda, determinam a quantdade de mercadorias que têm de produzir e fixam os
preços. A quantdade de mercadorias que cada um dos componentes do cartel tem direito a produzir e a vender
chama-se quota; quem infringir a quota tem de pagar uma multa, que passa a fazer parte da caixa do cartel.”
“O sindicato é um agrupamento monopolista de empresários independentes, em que a venda de mercadorias
e, por vezes, a compra das matérias-primas, se efetua através de uma repartção comum.”
“O trust é o monopólio onde se aglutna a propriedade de todas as empresas, e onde os seus
compartcipantes se convertem em acionistas de uma grande empresa comum, desfrutando dos lucros
proporcionalmente às ações que possuem. À frente do trust existe um conselho de administração, encarregado
de dirigir toda a produção, a venda dos produtos e as finanças das empresas anteriormente independentes. Os
trusts consttuem frequentemente associações mais amplas, os consórcios.”
“O consórcio é a reunião de várias empresas de diversos ramos de produção, casas comerciais,
bancos, companhias de transportes e seguros, baseando-se na sujeição financeira comum a um
grupo poderosíssimo de capitalistas, que dominam todas as empresas englobadas no comércio.”
“Os monopólios ocupam as posições dominantes na economia dos países capitalistas. Têm nas suas
mãos a indústria pesada e muitos ramos da indústria ligeira, o transporte ferroviário, marítmo e
fuvial, os bancos, o comércio interno e externo, os seguros, e impõem o seu jugo à agricultura.”,
Em virtude das elevadas taxas e massa de lucros que os monopólios conseguem auferir, a
sua polítca não pode recuar diante de nada. Eles corrompem as autoridades dos países de
origem, fazem o mesmo com os dirigentes dos países hospedeiros. São capazes de ordenar
assassinatos, destruição de propriedade alheia, de povoados, etc, para obter aquilo que
necessitam. Isso pode ir desde um terreno para plantação, exploração de águas e rios,
abertura ou controle de minas, etc. O efeito irracional de suas escolhas é bem maior que o
lado racional:
“Afirmam os economistas burgueses, no seu afã de embelezar o capitalismo contemporâneo, que a
expansão dos monopólios evita ao regime burguês os males da concorrência, a anarquia da produção
e as crises. A realidade é, porém outra: longe de suprimir a concorrência, a anarquia da produção e
as crises, o domínio do imperialismo vem agudizar ainda mais todas as contradições do capitalismo.”

174
“Lênine demonstrou que o imperialismo não pode reconstruir o capitalismo de alto a baixo. Apesar
do papel dominante dos monopólios, subsistem em todos os países numerosas empresas capitalistas
pequenas e médias e uma grande massa de pequenos produtores, de camponeses e artesãos.”
“Os monopólios criados em alguns ramos da indústria acentuam o caráter caótco próprio de todo o
conjunto da economia capitalista.”
“Os monopólios que derivam da livre concorrência, não a eliminam, antes existem acima dela e ao
seu lado, originando assim uma série de contradições, atritos e confitos partculares bruscos e
agudos.”
As crises gerais e cíclicas do capitalismo impedem um crescimento ordenado e proporcional
das diferentes economias, destacando-se por isso a mais feroz competção; a depender da
competência de cada elite dirigente. O domínio da oligarquia fnanceira em cada metrópole
do capital leva a que polítcas implacáveis sejam desenhadas no centro do sistema, em
detrimento dos países semicoloniais e dependentes.
“Nos Estados Unidos da América, as maiores empresas, com uma produção mínima de 1 milhão de dólares,
representavam, em 1904, 0,9% do número total de empresas; trabalhavam nelas 25,6% do total de operários e
eram responsáveis por 38% da produção industrial global. Em 1939 tnham passado para 5,2% do número de
empresas, absorviam 55% de todos os operários em atvidade e cabiam-lhe 67,5% da produção industrial global
do país. Um grupo ainda mais reduzido de 500 gigantescas corporações industriais com um atvo de mais de
100 milhões de dólares cada uma, abarcava em 1955, cerca de metade do volume global da produção industrial
e obtnha 68% do total de lucros.”
“Na França, em 1954, mais de 48% dos salários totais eram pagos pelas maiores empresas, que
representavam somente 0,14% do número total de empresas do país.”
“Na Inglaterra, a importância dos monopólios aumentou partcularmente depois da Primeira Guerra Mundial,
época em que começaram a formarem-se os cartéis da indústria têxtl e da hulha, da siderurgia e de uma série
de novos ramos industriais. A ‘Imperial Chemical Industries’ controla cerca de nove décimos da produção de
artgos químicos fundamentais e quase toda a produção de substâncias explosivas, corantes e de azoto do país.
Este trust mantém estreitas relações com os ramos mais importantes da indústria inglesa e, em partcular com
os consórcios da indústria de guerra. Os monopólios especializados na exploração das colônias desempenham
um papel importante, principalmente o consórcio da indústria do sabão e da margarina chamado ‘Unilever’. Os
monopólios petrolíferos ‘Royal Dutch Shell’ e ‘Britsh Petroleum’ (o seu nome, até 1954, era ‘Companhia
Petrolífera Anglo-Iraniana’), possuem indústrias petrolíferas e partcipam na extração do petróleo numa série
de países do Próximo e Médio Oriente, Sudeste Asiátco e América Latna.”
“Na Alemanha, os cartéis começaram a espalhar-se nos fins do século passado. No período entre as duas
guerras mundiais dominavam a economia do país o trust do aço “Vereinigte Stahlwerke” para o qual
trabalhavam 200.000 operários e empregados, o trust químico “Interessen-Gemeinschaf Farbenindustrie” com
10.000 operários e empregados, os monopólios da indústria hulheira, o consórcio de canhões Krupp e os

175
consórcios eletrotécnicos “Allgemeine Elektrizitätsgesellschaf” (AEG) e “Siemens”. Na Alemanha Ocidental, às
grandes sociedades (com um capital de mais de 10 milhões de marcos) correspondia, em 1952, 74% de todo o
capital das companhias por ações. Em 1955, esse número passou para 80%. Na indústria mineira, as maiores
empresas absorvem 90% de todo o capital acionista, na siderurgia 81% e na indústria do petróleo 99%. Na
indústria eletrotécnica, oito grandes empresas possuem 82% de todo o capital acionista. Duas delas – a “AEG” e
a “Siemens” – juntamente as empresas que estão sob o seu “controle”, absorvem 75% de todo o capital-ações
da indústria eletrotécnica.”

Após a primeira guerra mundial (1914-1918) na prátca desapareceu o sistema da livre


concorrência no nível pré-monopolista. O desenvolvimento dos monopólios levou àquele
confito, de que resultou uma tentatva britânnica – com o apoio norte-americano – de
eliminação da indústria alemã e tentatva também de colocar aquele país em situação
neocolonial (como Brasil, Argentna, Austrália, etc.). A Alemanha foi submetda às quotas de
produção e exportação, mas o governo da mesma reagiu, destruindo a moeda local (o
marco) e adotando o nazismo (polítca revanchista). A monopolização em larga escala das
economias capitalistas desenvolvidas, nas condições da crise geral combinada com a crise
cíclica (1929-1932) e (1938-1939), conduziu assim ao segundo confito mundial (1939-1945).
Devido à ampla destruição das forças produtvas, o fm do confito foi também o fm da
proeminência das contradições interimperialistas. Tais contradições passaram agora (1945-
1962) para um segundo plano, com o completo domínio norte-americano em escala
mundial. A única potência capaz de confrontar o domínio norte-americano é a União
Soviétca, que comanda o campo socialista. No entanto, a União Soviétca é uma potência
pacífca, que sofreu enormes perdas na segunda guerra, e se dedica exclusivamente à paz, ao
progresso econômico e social.
Por isso, as potências imperialistas, atreladas agora como forças auxiliares ao carro de
guerra dos EUA, procuram sabotar por todos os meios o desenvolvimento pacífco das
sucessivas conjunturas internacionais. Através de um conjunto de alianças militares
regionais, os países sob o comando dos EUA cercam e provocam os países pacífcos, que se
dedicam à causa da reconstrução nacional, desencadeando aqui e ali guerras localizadas. O
objetvo do bloco imperialista é trocar a chamada “guerra fria”, pela “guerra quente”,, para
impedir o progresso material dos países socialistas e dos países que se tornaram
independentes do bloco colonial e semicolonial.
O nosso partdo batalha incansavelmente pela paz, pela democracia e pelo progresso
material de todos os povos. Por isso, não pode deixar de critcar a polítca guerreira do bloco

176
imperialista, tendo à frente os EUA. A polítca do imperialismo é apoiar-se e apoiar dentro de
cada país as forças do atraso, da exploração do povo e da iniquidade.
A polítca imperialista e de seus agentes no Brasil, quase levou o país, na crise passada de
agosto-setembro, à guerra civil. O governo Jânnio, a Junta Militar, a grande imprensa, etc,
foram subservientes aos desígnios pró-imperialistas. Tais desígnios não descartam a
destruição do país, sua divisão, etc, à maneira do que tem feito na Ásia e na África, e que já
fez na América Latna (México, Guatemala, Panamá, Nicarágua, etc). Nosso partdo é uma
força vigilante, em defesa da pátria e do progresso econômico-social. A frente única
brasileira, sob o comando do movimento nacionalista e democrátco, tem forças sufcientes
para impedir a destruição do Brasil pelos interesses dos monopólios imperialistas. O nosso
partdo jamais abandonará esta causa.
As potências imperialistas utlizam o comércio internacional como seu cavalo de Tróia para
subjugar ou manter subjugada cada economia dependente ou semicolonial. Três, os
instrumentos do comércio imperialista para reforçar a dominação: (a) fnanciamento das
importações e das exportações; (b) troca desigual de mercadorias; (c) exportação de capitais
e de técnica. Através do fnanciamento das importações e exportações, as potências
imperialistas impõe os produtos que quer vender e que quer comprar, os preços do mesmo,
etc., manipulados de forma a empobrecer ainda mais o seu “parceiro”,. Através da troca
desigual de mercadorias, paga menos pelo trabalho embutdo nas mercadorias que compra e
vende mais caro o trabalho embutdo que vende. Através da exportação de capitais, se
apropria dos bens e das empresas do país colonizado ou neocolonizado, perpetuando ali a
pobreza e o atraso, através da infação do dinheiro, o controle da procura e a elevação dos
preços. Um país não pode alcançar o progresso social sob a dominação imperialista. E os
monopólios com suas polítcas expansivas, são o principal instrumento dessa dominação. Diz
Ostrovitanov:

“Na Inglaterra, a importância dos monopólios aumentou partcularmente depois da Primeira Guerra Mundial,
época em que começaram a formarem-se os cartéis da indústria têxtl e da hulha, da siderurgia e de uma série
de novos ramos industriais. A “Imperial Chemical Industries” controla cerca de nove décimos da produção de
artgos químicos fundamentais e quase toda a produção de substâncias explosivas, corantes e de azoto do país.
Este trust, mantém estreitas relações com os ramos mais importantes da indústria inglesa e, em partcular com
os consórcios da indústria de guerra. Os monopólios especializados na exploração das colônias desempenharam
um papel importante, principalmente o consórcio da indústria do sabão e da margarina chamado “Unilever”. Os
monopólios petrolíferos “Royal Dutch Shell” e “Britsh Petroleum” (o seu nome, até 1954 era “Companhia

177
Petrolífera Anglo-Iraniana”) possuem indústrias petrolíferas e partcipam na extração do petróleo numa série de
países do Próximo e Médio Oriente, Sudeste Asiátco e América Latna.”

Na Alemanha, os cartéis começaram a espalhar-se nos fins do século passado. No período entre as duas
guerras mundiais dominavam a economia do país o trust do aço “Vereinigte Stahlwerke” para o qual
trabalhavam 200.000 operários e empregados, o trust químico “Interessen-Gemeinschaf Farbenindustrie’ com
100.000 operários e empregados, os monopólios da indústria hulheira, o consórcio de canhões Krupp e os
consórcios eletrotécnicos “Allgemeine Electrizitätsgesellschaf” (AEG) e “Siemens”. Na Alemanha Ocidental, as
grandes sociedades (com um capital de mais de 10 milhões de marcos) correspondiam, em 1952, 74% de todo o
capital das companhias por ações. Em 1955, esse número passou para 80%. Na indústria mineira, as maiores
empresas absorvem 90% de todo o capital acionista, na siderurgia 81% e na indústria do petróleo 99%. Na
indústria eletrotécnica, oito grandes empresas possuem 82% de todo o capital acionista. Duas delas – a “AEG” e
a “Siemens” – juntamente as empresas que estão sob o seu “controle”, absorvem 75% de todo o capital-ações
da indústria eletrotécnica.”

3 – O Papel dos Bancos e a Oligarquia Financeira.

Até a chamada primeira guerra mundial, o sistema bancário inglês dominava o mundo. Era
isso o resultado de centenas de anos de domínio mundial da esquadra e da economia
britânnica (1715-1914). Na fase de acumulação imperialista antecedente à primeira grande
guerra, (1880-1914), o domínio bancário britânnico foi desafado pelo crescente capital
fnanceiro da Alemanha, da França e dos EUA. No entanto, mesmo após a primeira guerra, a
Grã-Bretanha ainda intentou manter-se como elemento dominante, o que materialmente já
não era possível. A desorganização do sistema fnanceiro e monetário havia sido muito
extensa; surgiram novas nações na Europa, com a desagregação dos poderes russo, italiano,
austríaco e alemão. O Japão, que se manteve fora do confito, tomou uma attude agressiva
no Pacífco, etc. As moedas das principais potências haviam até ali seguido o padrão-ouro
britânnico, e a Grã-Bretanha já não dispunha de recursos para fnanciar o reerguimento
burguês de todas essas nações. Assim, as trocas comerciais sofreram difculdades, bem como
a circulação internacional de capitais. Com o predomínio econômico absoluto dos EUA
através da chamada “segunda revolução industrial”, (1880-1929) e economia norte-
americana (80% do mundo industrial) tnha que substtuir a economia britânnica também com
sua rede de bancos.

178
No entanto, na crise geral de 1929-1932, o sistema bancário norte-americano, dirigido por
concepções liberais falidas, quase desapareceu (3.200 bancos “quebraram”,). Assim, no pós-
segunda guerra, com a derrota das demais potências imperialistas, coube aos EUA
reorganizar o mercado mundial em proveito próprio. Foram criadas as Nações Unidas, o
Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial (BIRD), o Banco Interamericano, etc. Ou
seja, um novo sistema insttucional regulatório, capaz de assegurar o comércio mundial e o
domínio norte-americano, com as demais potências como ‘sócios menores’, em escala
mundial. Tal sistema já demonstra, contudo, elementos perturbatórios, porque os EUA
recebem recursos de toda parte para expandir sua economia, não pode expandi-la
proporcionalmente e vê-se obrigado a “emprestar barato”, os recursos que amealhou, por
sua posição central. Diz Ostrovitanov:

“Afirmam os economistas burgueses, no seu afã de embelezar o capitalismo contemporâneo, que a


expansão dos monopólios evita ao regime burguês os males da concorrência, a anarquia da produção
e as crises. A realidade é, porém outra: longe de suprir a concorrência, a anarquia da produção e as
crises, o domínio do imperialismo vem agudizar ainda mais todas as contradições do capitalismo.”

“Lenine demonstrou que o imperialismo não pode reconstruir o capitalismo de alto a baixo. Apesar
do papel dominante dos monopólios, subsistem em todos os países numerosas empresas capitalistas
pequenas e médias e uma grande massa de pequenos produtores, de camponeses e artesãos.”

“Os monopólios criados em alguns ramos da indústria acentuam o caráter caótco próprio de todo o
conjunto da economia capitalista.”

“Os monopólios, que derivam da livre concorrência, não a eliminam, antes existem acima dela e ao
seu lado, originando assim uma série de contradições, atritos e confitos partculares bruscos e
agudos.”

Através de sua polítca no Banco Mundial e nas redes bancárias satélites formadas em cada
região do mundo atual, os monopólios, principalmente os norte-americanos, desenham o
crédito, o processo de endividamento e a viabilidade de cada projeto local de
desenvolvimento, assegurando por completo os interesses imperialistas. Diz Ostrovitanov:

“Os interesses dos bancos e das empresas industriais entrelaçam-se cada vez mais. Os bancos que
financiam várias grandes empresas de um determinado ramo estão interessados em que estas

179
cheguem a um acordo monopolista, incentvam-no, reforçando e acelerando deste modo
enormemente o processo de concentração do capital e de formação monopolista.”

“A passagem dos bancos da categoria de simples intermediários à de monopolistas onipotentes


consttui um dos processos fundamentais da conversão do capitalismo de livre concorrência em
capitalismo monopolista.”

Na condição de principal potência credora, os EUA manipulam a sua balança comercial, de


modo a recuperar as economias das potências imperialistas derrotadas e isolar o campo
socialista através da chamada “Cortna de Ferro”,. Desse modo, utliza sua hegemonia
econômica como instrumento provocador de atraso e de guerra. Utlizando uma polítca de
créditos aos seus subordinados de curto prazo, os norte-americanos mantêm seus “aliados”,
na rédea curta, impondo-lhes tratados militares e polítcas antssoviétcas e antssociais.
Trata-se, portanto, de uma polítca estruturante do imperialismo. Como isso se dá? Recorde-
se de Ostrovitanov:

“Quando os bancos se transformam em coproprietários das empresas industriais, comerciais e de


transportes, adquirindo as suas ações e obrigações, enquanto que, pelo seu lado, os monopólios
industriais possuem ações dos bancos a si ligados, dá-se a fusão do capital monopolista bancário com
o capital monopolista industrial e surge um novo tpo de capital: o capital financeiro. Capital
financeiro é o capital dos monopólios industriais fundido com o dos monopólios bancários. A época
do imperialismo é a época do capital financeiro.”

“Na sua definição de capital financeiro, Lenine sublinhava três aspectos essenciais: ‘Concentração da
produção; monopólios gerados por ela; fusão ou entrelaçamento dos bancos com a indústria: tal é a
história do aparecimento do capital financeiro e o conteúdo deste conceito’.”

Nesse processo de fusão e consttuição do capital fnanceiro, os monopólios tendem a se


apossar dos Estados de seus países de origem, formando o capital monopolista de Estado.
Nesse caso, as empresas públicas estão a serviço do capital fnanceiro e dos monopólios.

Os créditos, portanto, fornecidos a outros governos, à outras empresas, a outros países,


priorizam os interesses dos monopólios. Nessa situação, mais do que nunca, qualquer crise
monetária ou fnanceira de um país subordinado pode se tornar uma “crise norte-
americana”,. E qualquer crise fnanceira norte-americana pode se tornar uma “crise
internacional”,. As crises de 1958 e de 1961 provaram que o dólar e seu movimento

180
expansivo se situam já à beira do colapso. Portanto, verifca-se que a economia internacional
foi toda reestruturada sob uma falsa base, ou seja, o dólar-ouro. Diz Ostrovitanov:

“Da mesma maneira que a concentração industrial, a concentração bancária conduz ao monopólio.
Os bancos mais poderosos absorvem e submetem os pequenos por meio da compra de ações,
abertura de créditos, etc. Os grandes bancos, uma vez conquistada uma posição monopolista, fazem
entre si acordos de divisão das zonas de infuência. Formam-se os agrupamentos bancários
monopolistas. Cada um destes agrupamentos manda em dezenas e, às vezes, em centenas de bancos
menores, que, de fato, se convertem em filiais dos grandes. Através de uma extensa rede de
sucursais, os grandes bancos reúnem nas suas caixas os recursos de uma grande quantdade de
empresas. Quase todo o capital monetário da classe capitalista e os aforros de outras camadas da
população ficam deste modo, à disposição de pequenos grupos de magnatas bancários.”

“Nos Estados Unidos da América, os vinte bancos mais poderosos absorviam em 1900, 15%, em 1929, 19%,
em 1939, 27%, e em 1952, 29% da quantdade total dos depósitos bancários de todo o país. Na Inglaterra, o
total dos balanços dos cinco principais bancos ascendia em 1900, 28%, em 1916, a 37%, em 1929, a 73% e em
1929, a 79% da soma global dos balanços de todos os bancos ingleses de depósito. Em França, em 1952, 66%
da soma global depositada em todos os bancos franceses repartam-se entre seis bancos de depósito. Na
Alemanha Ocidental os três maiores bancos dispunham em 1954, de 59% do total de dinheiro depositado em
todos os bancos de crédito.”

É evidente que nesse grau de concentração a crise econômica se torna o horizonte


periódico da acumulação de capital. A economia mundial é hoje em cada potência um
apêndice do monopólio e em seu conjunto um apêndice dos monopólios norte-americanos.
Por outro lado, o fracasso do nacionalismo das grandes metrópoles nas últmas duas guerras
as levou à subordinação aos objetvos norte-americanos e à polítca das guerras localizadas
(Vietnam, Indochina, Coréia, Argélia, etc.). Com tais guerras os monopólios procuram
consolidar seus ganhos e anexar novos territórios recém-libertados. Explica Ostrovitanov:

“O meio principal de que se vale a oligarquia financeira para dominar a vida econômica é o
chamado “sistema de partcipação”. Um financeiro importante ou um grupo deles têm em seu poder
a sociedade básica (a “sociedade-mãe”), que encabeça o consórcio; esta, por sua vez, como possui o
“controle” das ações, maneja as “sociedades-filiais” delas dependentes, as quais, por seu turno e por
meios análogos, dispõem doutras companhias subordinadas, e assim sucessivamente. Este sistema
permite aos magnatas financeiros dispor de enormes somas de capital alheio.”

181
“Valendo-se de um ramificadíssimo sistema de partcipação, os oito grupos financeiros mais importantes dos
Estados Unidos da América – Morgan, Rockefeller, First Natonal City Bank, Dupont, Mellon, grupo de Cleveland,
grupo de Chicago e Bank of America – ocupam a posição dominante em toda a economia do país. A soma dos
atvos orientada por estes oito grupos financeiros, segundo os dados de 1955, elevava-se a 218.500 milhões de
dólares. Destes correspondiam ao grupo de Morgan 65.300, ao de Rockefeller 61.400 e ao de Chicago 22.000
milhões de dólares.”

“A oligarquia financeira, valendo-se do seu monopólio efetvo, obtém lucros enormes cada vez
maiores a partr das fundações (quer dizer, da criação de sociedades anônimas), da emissão de ações
e obrigações, da colocação de empréstmos do Estado e dos vantajosos pedidos oficiais. O capital
financeiro, concentrado numas quantas mãos, absorve um crescente tributo da sociedade.”

“A oligarquia financeira é também o poder dominante na vida polítca. A polítca interior e exterior
dos governos burgueses serve os interesses egoístas dos maiores monopólios.”

Sob as condições hegemônicas do imperialismo norte-americano, a tendência tem sido para


a artculação das distntas oligarquias fnanceiras em operações unifcadas e artculadas. O
esforço para a unifcação de estratégia se dá tanto no plano polítco-militar, quanto no plano
fnanceiro e de exploração internacional. As potências capitalistas perdedoras da segunda
guerra mundial se encontram endividadas com os EUA e desprovidas de capacidade
estratégica própria, razão pela qual são cada vez mais substtuídas nos mercados e nas
guerras locais pelas forças dos EUA. Os capitais norte-americanos dominam as exportações
de capitais.

4 – A Exportação de Capitais.

Assim, as grandes empresas monopolistas são hoje a estrutura de base do capitalismo


avançado. Cada uma dessas empresas elabora uma estratégia de expansão e dominação
internacionais, levando seus respectvos governos nacionais a apoiá-las com diplomacia e
guerras. O centro corporatvo espalha suas fliais onde julga necessário, modifcando para tal
as leis e os governos das diferentes localidades. A hegemonia do capital fnanceiro coloca na
máxima tensão as polítcas imperialistas de agressão e de sujeição. Diz Ostrovitanov:

“A exportação de capitais para o estrangeiro tem como finalidade obter elevados lucros
monopolistas. Isto se leva a cabo sob duas formas fundamentais: mediante a concessão de

182
empréstmos aos governos, aos municípios e aos bancos de outros países e mediante a criação no
estrangeiro de empresas industriais, comerciais e bancárias de concessões, construção de caminhos
de ferro e compra ao desbarato de empresas já existentes, nos países debilitados (por exemplo, como
consequência da guerra).”

“A exportação de capitais, é determinada, em primeiro lugar, pela dominação nos monopólios em


todos os países desenvolvidos e, em segundo lugar, pela situação monopolista de alguns países mais
ricos, nos quais a acumulação do capital alcançou enormes proporções. Nestes países formou-se nos
primórdios do século XX, uma formidável massa de capital “excedente”.”

“O “capital excedente”, nos países com um desenvolvimento capitalista, tem um caráter relatvo, já
que neles o baixo nível de vida das massas opõe um obstáculo ao desenvolvimento ulterior da
produção e se acentua cada vez mais o atraso da agricultura relatvamente desigual dos diversos
ramos da economia. Se o capitalismo pudesse suprimir a oposição entre a cidade e o campo,
impulsionar a agricultura e elevar o nível de vida das massas trabalhadoras seria inconcebível a
existência de “capital excedente”. Porém, neste caso, o capitalismo deixaria de sê-lo, já que tanto a
desigualdade do desenvolvimento como baixo nível de vida das massas populacionais são condições e
premissas básicas deste modo de produção. Daí, o caráter relatvo do capital excedente nos países de
capitalismo desenvolvido. A necessidade de exportação de capitais deve-se ao fato de que nalguns
países o capitalismo tenha “amadurecido excessivamente” e (tendo em conta o desenvolvimento
incipiente da agricultura e a miséria das massas) não disponha do terreno suficiente para o
investmento “lucratvo” do capital.”

“Em busca de altos lucros, o capital “excedente” emigra para o estrangeiro. O capital exporta-se
preferentemente para os países atrasados, nos quais os capitais escasseiam, os salários são baixos,
as matérias-primas baratas e o preço da terra relatvamente reduzido. O capital monopolista
encontra nestes países todas as condições para obter imensos lucros, como efetvamente acontece. A
exportação de capitais acha-se intmamente relacionada com o aumento de exportação de
mercadorias: os monopólios exportadores de capital impõem de uma maneira geral aos países
devedores as suas mercadorias, em condições favoráveis para os primeiros. Os monopólios impõem o
seu jugo aos mercados de vendas e às fontes de matérias-primas dos países devedores.”

O desenvolvimento de um mercado mundial de bens, sob o controle das polítcas


monopolistas, leva os países dependentes e semicoloniais a deformarem ainda mais suas
estruturas produtvas e sociais, produzindo coisas para o comércio internacional, mas em
desacordo para suas necessidades. Certos países produzem milhões de toneladas de

183
mercadorias de que só vendem uma parte para o exterior e se transformam em sucata sem
serventa, a perder o valor, em suas economias internas. Enquanto isso, as fliais dos
monopólios externos se tornam cada vez mais agressivas e se apossam a baixo preço das
empresas locais que atuam no mercado interno. Os monopolistas consideram que tais
polítcas expansivas são uma bênção para as vítmas. Diz Ostrovitanov:

“Paralelamente à exportação de capitais para os países atrasados, exportam também para os países
de indústria desenvolvida. Assim sucede nos períodos de progresso partcularmente rápido destes
países, que coloca a necessidade de um afuxo de capitais externos (tal foi por exemplo o caso dos
Estados Unidos antes da Primeira Guerra Mundial) ou ao saírem debilitados de uma guerra (como
Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial, ou aos países capitalistas da Europa ocidental, a partr
da Segunda).”

“Os economistas e polítcos burgueses apresentam a exportação de capitais como uma “ajuda” ou
um “bem” que os países capitalistas desenvolvidos concedem aos países atrasados. Na realidade, a
exportação de capitais, que acelera o desenvolvimento das relações capitalistas nos países atrasados,
conduz, ao mesmo tempo, à completa servidão e ao saque destes países pelos monopólios
estrangeiros. A exportação de capitais é uma das bases sobre as quais assenta o sistema de opressão
imperialista, no qual um pequeno número de países ricos explora grande parte do mundo. Como
resultado da exportação de capitais, o mundo capitalista divide-se num punhado de estados usurários
e numa imensa maioria de estados devedores.”

As ações do imperialismo e de seus monopólios são, portanto, profundamente


desestabilizadora da base econômica dos países dependentes e semicoloniais, uma vez que
desperdiça recursos locais para fabricar agentes sociais do imperialismo e consolidar as
estruturas ligadas ao atraso crônico. A oligarquia fnanceira, através dos sistemas de bancos,
de seguros e de transportes, na prátca perpetua a condição de atraso ou
subdesenvolvimento dos países que vem a controlar, perpetuando a divisão econômica do
mundo, entre países ricos e países empobrecidos. Assim, a quebra do isolamento das
economias locais não se faz para elas em proveito de um desenvolvimento balanceado. Diz
Ostrovitanov:

“Além das colônias existem, na época do imperialismo, diversos tpos de países semicoloniais e
dependentes. São países debilmente desenvolvidos, objeto de exploração colonial por parte das
potências imperialistas e que dependem econômica e politcamente destes Estados, embora

184
conservem uma independência formal. ‘É tpico desta época, não só a existência de dois grupos
fundamentais de países: os possuidores de colônias e os colonizados, mas também diversas formas de
países dependentes, polítca e formalmente soberanos, mas, na prátca, envolvidos numa rede de
dependência financeira e diplomátca’.”

“O capitalismo, ao estender-se por todo o mundo, originou a tendência para a ligação econômica
entre os diversos países, para a destruição do isolamento nacional e para unificação gradual de
territórios imensos para formar um todo único. O caminho seguido pelo capitalismo monopolista
para levar a cabo a unificação econômica gradual de imensos territórios é a submissão das colônias e
dos países dependentes pelas potências imperialistas. Esta unificação opera-se mediante a criação de
impérios coloniais, baseados numa impiedosa opressão e exploração das colônias e dos países
dependentes pelas metrópoles.”

“No período do imperialismo culmina a formação do sistema capitalista da economia mundial,


baseado em relações de dependência, em relações de submissão dos países débeis relatvamente aos
fortes. Os países imperialistas, valendo-se da intensa exportação de capitais, da ampliação das
“esferas de infuências” e das conquistas coloniais, têm gradualmente estendido o seu domínio aos
povos das colônias e dos países dependentes. “O capitalismo transformou-se num sistema mundial de
opressão colonial, de estrangulamento financeiro da imensa maioria da população do planeta por um
punhado de países ‘adiantados’.”

A tendência de unifcação dos mercados sob as relações capitalistas, colocando à disposição


dos monopólios, reservas enormes de serviços, de capacidade de produção, de insumos e de
força de trabalho, permite aos mesmos reduzir seus custos e ampliar a fata de mais-valia
que recebem. Diante disso, é evidente o impacto no processo de pauperização dos
trabalhadores. Seria falso atribuir que de tal resulta uma melhoria para todos, para a
burguesia e o proletariado. A luta dos monopólios para inviabilizar a autonomia das nações
economicamente mais atrasadas é apenas em causa própria, visando ampliar suas estruturas
de riqueza e de poder. Os monopólios procuram apresentar-se como “internacionais”,, mas
de fato possuem sempre um país de origem, que está no comando do mesmo, através de
funcionários, cultura de procedimento e escolhas. Diz Ostrovitanov:

“Os monopólios internacionais começaram a aparecer na segunda metade do século XIX, nas décadas de 60 a
80. Nos fins do século o seu total não ultrapassava 40. Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial havia cerca de
100 cartéis internacionais em todo o mundo; no começo da Segunda Guerra Mundial o seu número
ultrapassava 300.”

185
“Antes da Primeira Guerra Mundial, o mercado do petróleo achava-se repartdo entre o trust norte-americano
“Standard Oil”, dominado por Rockefeller, e o consórcio “Royal Dutch Shell”, no qual predominava o capital
inglês. O mercado dos produtos eletrotécnicos reparta-se entre os monopólios: “AEG”, alemã, e “General
Electric Co.”, norte-americana, sob o “controle” do grupo Morgan.”

“Os acordos monopolistas internacionais estenderam-se inclusivamente, a setores como o do fabrico de


armamento. Os mais poderosos consórcios deste tpo - “Armstrong Vickers” na Inglaterra, “Schneider-Creusot”
em França, “Krupp” na Alemanha, “Bofors” na Suécia – acham-se vinculados entre si por uma grande
quantdade de ligações desde há muito tempo. Os monopólios internacionais desempenharam um importante
papel na preparação da Segunda Guerra Mundial. Os mais poderosos monopólios dos Estados Unidos,
Inglaterra e França, ligados por intermédio de acordos, do tpo cartel, com os trusts da Alemanha, inspiravam e
dirigiam a polítca dos círculos governamentais destes países, polítca encaminhada para o estmulo e
instgação da agressão hitleriana, que conduziu à guerra.”

“Depois da Segunda Guerra Mundial, têm surgido grandes monopólios internacionais, nos quais partcipam
diretamente uma série de Estados. Entre eles figura em partcular a chamada “União Europeia” do Carvão e
Aço” (CECA), da qual fazem parte a República Federal Alemã, a França, a Itália, a Bélgica, a Holanda e o
Luxemburgo.”

Dessa maneira, a exportação de capitais permite formar em outras nações estruturas


alheias ao interesse local, capazes de sugar suas riquezas e a sua capacidade de construção
de um outro futuro. Tais empresas estrangeiras têm seu próprio desígnio e, caso o governo
local não apresente frmeza em suas estratégias de autonomia e desenvolvimento, elas
poderão assumir por completo a direção da vida nacional local. As cadeias dos monopólios
vão se artculando como uma erva daninha e poderão asfxiar por completo o caráter
nacional da vida social e polítca local. Atualmente no mundo, aproxima-se da dezena de
milhar o número de fusões de empresas e oligopólios, pondo em risco a capacidade de
decisão de cada governo capitalista, até mesmo de alguns países centrais, como Itália, Japão
e Espanha. Indica Ostrovitanov:

“Em França, toda a produção de alumínio acha-se atualmente concentrada nas mãos de uma única
companhia. Uma só firma orienta 80% de toda a produção de corantes. Há três companhias que dominam 75%
da construção de barcos, 72% da indústria cimento, 93% da produção de jantes e pneumátcos e 65% da
indústria açucareira, 93% da produção de automóveis ligeiros achavam-se, em 1953, nas mãos das empresas
de quatro grandes sociedades. Cinco grandes companhias açambarcaram 70% a 75% de toda a produção de
aço e 90% da indústria de refinação de petróleos.”

186
“Na Itália, no Japão, e inclusivamente em países tão pequenos como a Bélgica, Suécia e Suíça, as organizações
de monopólios detém o comando da indústria.”

5 – Os Monopólios Internacionais e a Divisão Econômica do Mundo. A Divisão Territorial do


Mundo e a Exploração Colonial.

Os imperialistas e seus agentes redividiram o mundo antes da primeira guerra mundial,


quando tomaram enormes territórios de países colonialistas mais fracos ou de governos
locais pior armados (1870-1914). No entanto, esta redivisão não satsfaz muitas potências, do
que resultou a primeira grande guerra (1914-1918). A partr do Tratado de Versalhes, as
potências vencedoras fzeram outra redivisão do mundo, que não agradou aos poderosos do
primeiro confito mundial, dando-se assim o segundo confito (1939-1945).

Após o segundo confito, a potência vencedora, os EUA, trataram de assumir o controle


total da polítca de alianças guerreiras, estabelecendo bases militares por todo o mundo. Os
EUA lograram impor às potências perdedoras um esquema em que as disputas econômicas
são ajustadas por acordo entre os monopólios, sendo permitdas apenas guerras locais, que
têm por objetvos reaver antgas colônias ou impedir a vitória de movimentos de libertação.
Ensina Ostrovitanov:

“Os defensores da burguesia apresentam a dominação imperialista sobre as colônias como uma
‘missão civilizadora’, cujo fim, segundo eles, é conduzir os países atrasados pela senda do progresso e
do desenvolvimento independente. Porém, na realidade, o que o imperialismo faz, é condenar as
colônias e países dependentes ao atraso econômico, subjugar com uma opressão sem precedentes
centenas de milhões de seres que consttuem a população destes países, privá-los de direitos e
condená-los à miséria e à ignorância. A anexação das colônias pelas potências imperialistas traz
consigo um reforço sem precedentes da opressão nacional e da discriminação racial. Como disse
Lenine, o capitalismo, que no período da luta contra o feudalismo tnha sido um libertador de nações,
converte-se, ao chegar à fase imperialista, num monstruoso opressor de nações.”

Os grandes monopólios fazem acordo por ramo de atvidade, dividindo o mundo de acordo
com áreas de atvidade e interesse, dessa forma impondo preços únicos às suas vítmas e
reduzindo a concorrência a um mínimo. Como explica Ostrovitanov:

187
“Como já se disse, a substtuição da livre concorrência pelo domínio dos monopólios origina novos
traços em relação ao período do imperialismo pré-monopolista. Estes novos traços do imperialismo
surgem como desenvolvimento e a contnuação das qualidades fundamentais do capitalismo em
geral. A passagem ao imperialismo não significa a abolição das leis do capitalismo e não faz mais do
que modificar os seus efeitos. Nos trabalhos de Lenine destnados a esclarecer a essência do
imperialismo, assinalavam-se as característcas da ação das leis econômicas do capitalismo na sua
fase do desenvolvimento monopolista. ‘O imperialismo – escreve Lenine – na realidade não reconstrói
nem pode reconstruir o capitalismo de cima para baixo. O imperialismo complica e agudiza as
contradições do capitalismo, ‘choca’ os monopólios com a livre concorrência, pois não pode suprimir
a troca, o mercado, a competção, as crises, etc’.”

“A lei econômica fundamental do capitalismo, a lei da mais-valia, reina em todas as fases do


capitalismo. Na fase do imperialismo, esta lei chega, em relação com o domínio dos monopólios, ao
seu máximo desenvolvimento. É sabido que, na sociedade capitalista, o lucro não é mais do que a
expressão metamorfoseada da mais-valia.”

Cada potência atua através de seus monopólios para vender nas áreas sob seu controle o
mais caro possível e comprar ali o mais barato, no nível em que pode baixar os preços.
Exigindo dos mineiros, dos camponeses, etc., o máximo de produção ao mais baixo preço,
utliza ainda o excesso de produção local para baixar os custos além da fronteira de
subsistência dos trabalhadores. Explica Ostrovitanov:

“Os monopólios compram os produtos agrícolas aos mais baixos preços; porém, isso não significa,
de modo algum, que os consumidores da cidade fiquem beneficiados com esta baixa de preços. Entre
os camponeses e o consumidor da cidade encontram-se os intermediários, os comerciantes
organizados em agrupamentos monopolistas, que arruínam os camponeses e os consumidores
urbanos.”

“A exploração dos países economicamente atrasados e dependentes, pela burguesia dos estados
imperialistas consttui um traço indefectvel do capitalismo monopolista.”

“O imperialismo não pode viver e desenvolver-se sem a afuência ininterrupta dos tributos dos países
alheios. Estes tributos são o fruto da feroz exploração a que se acham submetdas as massas
trabalhadoras do mundo colonial. Os monopólios enriquecem-se por meio da troca não equivalente,
quer dizer, vendendo às colônias e aos países dependentes as suas mercadorias a preços
consideravelmente superiores àquilo que valem e comprando as mercadorias que ali se produzem a
preços desmedidamente baixos, que não cobrem o seu valor. Os monopólios obtêm grandes lucros

188
dos empréstmos concedidos às colônias com altos juros, assim como das operações de transportes,
seguros e bancárias. Lenine sublinhava que a essência econômica e polítca do imperialismo radica
em que um punhado de grandes monopólios obtém milhares de milhões de superlucros, ‘cavalga às
costas’ da população de centenas de milhões de pessoas dos países atrasados e batem-se entre si
pela repartção do bolo.”

“Um importante instrumento para a elevação monopolista dos preços é a polítca alfandegária dos Estados
burgueses. Na época da livre concorrência eram os países mais débeis que recorriam principalmente às altas
tarifas alfandegárias, pois necessitavam de defender a sua indústria da concorrência estrangeira. Na época do
imperialismo, pelo contrário, as altas tarifas aduaneiras servem aos monopólios como meio para se lançarem
na ofensiva, para a luta pela conquista de novos mercados. Os altos direitos alfandegários ajudam a sustentar
os preços de monopólio dentro do país.”

“Outro meio de que os monopólios se valem constantemente, para a conquista de novos mercados
estrangeiros é o dumping, ou seja, a venda de mercadorias do estrangeiro a preços muito baixos,
consideravelmente inferiores aos do mercado interno, que por vezes não cobrem sequer os custos de produção.
A ampliação do mercado estrangeiro de venda por meio de ‘dumping’ permite sustentar preços elevados dentro
do país sem reduzir a produção; as perdas devidas à exportação a baixos preços são cobertas pela elevação dos
preços no mercado interno. Os monopólios, uma vez conquistado o mercado externo, começam a vender as
mercadorias aos altos preços de monopólio.”

Dessa forma, a cada nova repartção do mundo entre os monopólios não melhora a
situação dos povos explorados, como faz propaganda a imprensa burguesa. Muito pelo
contrário. Os novos senhores estudam os métodos de seus antecedentes, consideram-nos
“atrasados”, e introduzem novas exigências e novas polítcas para aumentar o lucro máximo e
reforçar a escravidão disfarçada da população local. Entretanto, dão curso a polítcas de
associação com os exploradores locais e a polítcas “culturais”,, que vieram apenas destruir os
laços sociais da população local.

6 – O Lugar Histórico do Imperialismo. A Crise Geral do Sistema Capitalista.

O imperialismo novo, de que se trata na época atual (1880-1962), é a nova etapa de


desenvolvimento do capitalismo. Elevando a concorrência entre os monopólios a um novo
patamar, o imperialismo contemporânneo interfere diretamente na vida polítca dos
diferentes povos, arruinando até mesmo a vida dos trabalhadores das metrópoles a que
pertencem. O imperialismo é o carro-chefe da exploração e da guerra em escala
189
internacional e pretende manter e ampliar a miséria e a exploração dos povos da Terra por
meios legais ou simplesmente pela dominação aberta e a guerra.

Vivemos na época da desagregação em escala mundial do sistema colonial herdado pelo


imperialismo. No contexto das duas guerras mundiais e das guerras locais, o sistema colonial
se decompõe tão rapidamente que coloca tarefas novas para a dominação imperialista. A
Grã-Bretanha, por exemplo, inventou o “sistema de comunidade”,, onde concede liberdade
polítca parcial às antgas colônias, controla-lhes o aparelho militar e mantém a exploração
econômica. Menos brilhante e inspirada, a França segue-lhe os passos, embora haja sido
derrotada militarmente na Indochina e não consegue vencer a revolução na Argélia. Quanto
ao imperialismo norte-americano, este ainda crê que possa substtuir todas as potências e
destruir o campo socialista, através de uma guerra termonuclear. É, assim, muito grave a
situação internacional. Diz Ostrovitanov:

“Os defensores do imperialismo propagam a lenda enganadora segundo a qual o atraso econômico
e cultural em que se encontram os países colonizados se deve à sua indolência, à sua incapacidade
para se governarem por si próprios, etc. Partndo deste princípio, consideram os povos subjugados da
Ásia e da África ‘raças inferiores’, condenadas pela sua própria natureza a permanecer sob o poder da
pretensa ‘raça superior’ dos senhores brancos. Nada mais contrário à realidade que estas invenções,
que exprimem o ódio ao homem e à humanidade. Na verdade, o desenvolvimento histórico dos povos
da Ásia começou muito antes do aparecimento dos povos europeus na cena da história. A única causa
que durante os últmos séculos tem posto os maiores obstáculos ao desenvolvimento econômico e
polítco de muitos países da Ásia e da África fazendo deles países atrasados, é uma situação que lhes
foi imposta contra a sua vontade, a monstruosa situação a que os submeteram os colonizadores.”

“Os Estados imperialistas recorrem à conquista e ao saque das colônias numa tentatva de
superarem as contradições crescentes dos seus países. As riquezas gigantescas extraídas das colônias
permitem à burguesia corromper alguns setores de operários qualificados com a ajuda dos quais se
esforça por desmantelar o movimento operário. Ao mesmo tempo a exploração das colônias contribui
para uma maior agudização das contradições do sistema no seu conjunto.”

A repartção colonial, assim, vê-se obrigada a ceder espaço a um novo tpo de repartção, a
repartção neoliberal. Nesse “novo”, modelo, uma parte dos recursos saqueados é
“devolvida”, à vítma, sob a forma de criação de uma burguesia local intermediária da
dominação imperialista. Chama a atenção Ostrovitanov:

190
“Como resultado das conquistas territoriais levadas a cabo nos anos 1876 a 1914, quase toda a
África, Ásia e América Latna se tornaram colônias e semicolônias de alguns estados imperialistas.”

“Nas vésperas da Segunda Guerra Mundial, dos 57 milhões de quilômetros quadrados de terras coloniais, 9,9
milhões pertenciam à Itália, Holanda, Dinamarca, Bélgica, Portugal e Espanha. A Inglaterra tnha 47 milhões de
habitantes e as suas colônias mais de 480 milhões, quer dizer, dez vezes mais que a metrópole; a França com 42
milhões de habitantes tnha nas suas colônias 70 milhões; a Holanda com uma população de nove milhões
dominava nas suas colônias 67,7 milhões de habitantes; a Bélgica com uma população de 8 milhões dispunha
de colônias com um total de 14 milhões de habitantes.”

“Toda a gente sabe – escreveu Lenine - que as colônias foram conquistadas a ferro e fogo, que a
população das colônias é barbaramente tratada, explorada de mil maneiras (pela exportação de
capitais, concessões, etc.), enganando-a na venda de mercadorias, submetendo-a ao poder da nação
“dominante”, etc.”

“O colonialismo (senhorio imperialista das colônias) entorpeceu durante muito tempo o


desenvolvimento das forças produtvas nos países onde vive a imensa maioria da humanidade,
privando-a das condições necessárias para o seu progresso econômico.”

“A mais-valia produzida nos países do mundo colonial pelo duro trabalho obrigatório de centenas de
milhões de pessoas é extorquida na sua quase totalidade pelos monopolistas estrangeiros e destna-
se em grande parte ao consumo improdutvo das classes dominantes das colônias. Ao mesmo tempo,
o capital que afui às colônias destna-se a reforçar ainda mais os seus laços de dependência
relatvamente às potências imperialistas.”

Vê-se, portanto, que o neocolonialismo deve intensifcar as relações coloniais, lançando


desta feita, mão das relações de “mercado”, do tpo imperialista, para compensar eventuais
concessões que devam ser feitas nas duas pontas do sistema de exploração. Isso de maneira
alguma gera um “sistema mais humano”, de exploração. Diz Ostrovitanov:

“Para o agravamento da situação da classe operária contribuem enormemente as crises


econômicas, as guerras e o incremento do militarismo. As crises econômicas provocam um forte
alargamento do desemprego forçado e uma brusca descida dos salários dos operários no atvo.
Alguns economistas burgueses tratam torpemente de apresentar as guerras e o ascenso do
militarismo como fatores favoráveis aos trabalhadores, afirmando que durante as guerras melhora a
situação dos operários. São intenções encaminhadas para levar os operários a apoiar a polítca
agressiva das potências imperialistas. Mas estas tentatvas caem perante a própria dos fatos. As
guerras e a militarização da economia trazem consigo o aumento dos impostos e a caresta de vida,

191
acentuam a intensidade do trabalho e prolongam a jornada, aumentam a insuficiência da
alimentação, alargam as enfermidades e elevam o coeficiente da mortalidade, tudo isto sem falar do
extermínio em massa dos trabalhadores que a guerra provoca. E estes fatores contnuam a pesar na
situação dos trabalhadores para além do termo da guerra.”

“Não se pode considerar o problema da pauperização absoluta sem ter em conta a situação dos
trabalhadores nos países colonizados e dependentes. O nível de vida da população nos países
colonizados é sumamente baixo; a miséria extrema e o coeficiente extraordinariamente alto de
mortalidade, resultado das insuportáveis condições de trabalho e a fome crônica apresentam aqui
um caráter de massa.”

“No capitalismo, o nível de vida dos camponeses pobres não é o mais alto, mas pelo contrário,
frequentemente, mais baixo que o dos operários assalariados. Na sociedade capitalista estão
condenadas à ruína as grandes massas de camponeses e artesãos.”

Lênine ensinou que nas condições do mundo atual, em que os monopólios dominam em
escala universal e o mercado capitalista assume um caráter internacional por eles unifcado,
cada revolução local, não importa a etapa local que cumpra, faz parte da revolução socialista
mundial e tende a levar à luta pelo socialismo. As revoluções nacionais e as democrátco-
populares em toda parte se chocam imediatamente com as forças imperialistas e tende a
lhes impor uma confrontação de grandes proporções.

As guerras locais, desencadeadas pelos imperialistas para recuperar suas antgas colônias,
tem-se desdobrado sob a forma socialista de guerras de emancipação nacional. Cuba logra
derrotar, no contnente latno-americano, uma invasão armada organizada pelo governo
norte-americano. Com razão, a conferência internacional dos partdos comunistas e
operários (1960) caracterizou a etapa atual da luta como uma viragem situacional importante
a favor das forças socialistas. Como chamou a atenção Revunenkov:

“Como réplica das maquinações e intrigas dos colonizadores, os povos da Ásia e da África unem-se
cada vez mais estreitamente e atvam sua luta pela independência e liberdade nacionais. Essa
disposição manifestou-se e foi publicamente demonstrada na conferência de solidariedade de
quarenta e cinco países da Ásia e da África – conferência reunida no Cairo, nos fins de 1957. A
conferência acentuou a fidelidade dos povos dos dois contnentes aos princípios de Bandung e sua
disposição e decisão de terminar, de uma vez para sempre, com o colonialismo; a conferência
proclamou, perante o mundo inteiro, o direito de todos os povos à liberdade e à independência.”

192
“A luta comum contra o colonialismo une estreitamente os povos árabes. Nos últmos tempos,
desenvolveu-se um movimento em favor da criação de um Estado árabe único. A iniciatva foi tomada
pelos parlamentos do Egito e da Síria, que se manifestaram, de maneira unânime, a favor dessa
criação. A 1º de fevereiro de 1958, no Cairo, o presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, e o da Síria,
Shukri Kwatli, firmaram uma declaração sobre a unificação do Egito e da Síria, sob a denominação de
República Árabe Unida (RAU). O novo Estado terá um único Parlamento, um só governo e um só
exército. Simultaneamente, foi declarado que os dois países deixavam as portas abertas para a
adesão de qualquer outro Estado árabe, que o desejasse, seja em forma de aliança, seja em forma
federatva, para a defesa comum dos povos árabes contra a agressão imperialista.”

“O reino do Iêmen já anunciou a disposição de aderir à RAU, sobre a base federatva. Está previsto o
estabelecimento de uma completa unificação do Iêmen e da RAU, no que se refere ás questões de
polítca exterior, economia e instrução pública.”

Os imperialistas utlizam assim as velhas forças sociais que têm produzido o atraso
econômico, social e polítco em toda parte, a aliança do latfúndio com a burguesia
comercial, apoiada em parte da pequena burguesia, para dividir cada nação e impedir o
avanço no rumo do progresso material e social. Com base na divisão da sociedade e na luta
encarniçada para se manter no poder, tais forças locais encontram o apoio irrestrito dos
monopólios e dos governos das potências imperialistas. Mas o conjunto dessas forças
encontra cada vez maior difculdade para impedir a mudança social e polítca.

A mudança na correlação de forças no pós-guerra como efeito da derrota do eixo


nazifascista, se tem dado tanto no plano local de cada nação, como em escala internacional.
Diz o camarada Kozminov:

“Os novos fenômenos próprios da crise geral do capitalismo – agravamento do problema dos
mercados, o crônico funcionamento das empresas abaixo da sua capacidade e o desemprego crônico
em massa, as guerras mundiais e a crescente militarização da economia – conduzem a modificações
essenciais no desenvolvimento do ciclo capitalista. O agravamento do problema do mercado, o
crônico funcionamento das empresas abaixo de sua capacidade e o desemprego crônico em massa
atuam no sentdo da redução do ciclo, do aprofundamento das crises econômicas, do aumento da
duração das fases de crise e depressão, da redução das fases de ascenso e reanimação.”

“As guerras e a militarização da economia, em consequência do crescimento dos exércitos e da


produção de armamentos, criam habitualmente uma procura suplementar de armamentos e de

193
objetos de consumo para as forças armadas, favorecendo, com isto, a temporária diminuição do
desemprego e da capacidade ociosa das empresas. A militarização da economia pode levar a uma
temporária reanimação da conjuntura e deter o desenvolvimento da crise em início ou tornar mais
lenta a chegada de nova crise econômica. Mas as guerras e a militarização da economia não podem
salvar a economia capitalista das crises.”

“Ao causar enorme destruição de forças produtvas, as guerras mundiais dão uma orientação
unilateral ao desenvolvimento da economia nacional, acentuam, com isto, a desigualdade e a
desproporcionalidade da economia capitalista, conduzem à redução do nível de vida da população,
ao agravamento das contradições entre a produção e o consumo, preparando a chegada de novas
crises, ainda mais profundas.”

A violência das crises capitalistas do século XX não pode sequer ser comparada com as
crises ocorridas no século XIX. Isto porque, havendo o capitalismo destruído todos os
sistemas sociais pré-existentes, viu-se sozinho no cenário internacional. Seu caráter
anárquico tornou-se uma força geral. Com a formação do campo socialista, sua necessidade
de guerra aguçou-se ainda mais. Diz Kozminov:

“O desenvolvimento da produção capitalista, no período entre as duas guerras mundiais, refete a


ação destes fatores. Neste período, a duração do ciclo diminuiu um tanto, em média, a força
destruidora das crises cresceu, a duração das fases de crise e depressão aumentou, ao passo que as
fases de ascenso e reanimação reduziram-se.”

“No período entre as duas guerras mundiais, de 1919 a 1938, houve três crises econômicas: em
1919/1921, em 1929/1932, em 1937/1938.

“A profundidade da queda da produção aumentou consideravelmente.”

“A produção da indústria de transformação dos Estados Unidos caiu, ao tempo da crise de


1920/1921 (do ano do mais alto ascenso antes da crise ao ano da mais profunda queda) em 23%, ao
tempo da crise de 1929/1933, em 48,3%, ao tempo da crise de 1937/1938, em 23,3%.

“A mais profunda e aguda crise na história do capitalismo foi a crise econômica de 1929/1933. Nesta
crise, manifestou-se com grande força a infuência da crise geral do capitalismo. A crise atual –
afirmou E. Thaelman, caracterizando a crise de 1929/1933 – tem o caráter de crise cíclica nos marcos
da crise geral do sistema capitalista, na época do capitalismo monopolista. Aqui devemos
compreender a interação dialétca entre a crise geral e a crise periódica. Por um lado, a crise
periódica adquire formas agudas inauditas, uma vez que se processa no terreno da crise geral do

194
capitalismo e se determina pelas condições do capitalismo monopolista. Por outro lado, as
devastações, provocadas pela crise periódica, por sua vez, aprofundam, aceleram a crise geral do
sistema capitalista.”

“A crise econômica de 1929/1933 abrangeu todos os países do mundo capitalista, sem exceção. Em
vista disso, tornou-se impossível que uns países manobrassem à custa de outros. A crise golpeou com
a maior força o maior país do capitalismo moderno, os Estados Unidos da América. A crise industrial
nos principais países capitalistas se entrelaçou com a crise agrária, o que conduziu ao
aprofundamento da crise econômica em conjunto. A produção industrial em todo o mundo capitalista
caiu em 37%, sendo que caiu ainda mais em alguns países isolados. O volume do comércio mundial se
reduziu em um terço. As finanças dos países capitalistas chegaram a completa desorganização. A
quantdade de desempregados atngiu enormes proporções.”

“A porcentagem de desempregados totais, no momento da maior queda da produção, segundo dados oficiais,
era, nos Estados Unidos, de 32%, e na Inglaterra, de 22%. Na Alemanha, a porcentagem dos desempregados
totais, entre os membros dos sindicatos, atngiu, em 1932, a 43,8%, e dos desempregados parciais, a 22,6%. Em
cifras absolutas, o número de desempregados totais, em 1932, era o seguinte: nos Estados Unidos, segundo
dados oficiais, 13,2 milhões de pessoas; na Alemanha, 5,5 milhões; na Inglaterra, 2,8 milhões. Em todo o mundo
capitalista, em 1933, existam 33 milhões de pessoas inteiramente desempregadas. Enormes proporções atngiu
o número dos semidesempregados. Assim, nos Estados Unidos, o número dos semidesempregados era, em
fevereiro de 1932, de 11 milhões de pessoas.”

Ao mesmo tempo em que áreas cada vez maiores são entregues à exploração fabril,
mineradora e agrícola das empresas capitalistas, pior se mostra a coordenação entre
produção e distribuição, entre apropriações de mais-valia por uma minoria a nível de renda
insufciente para a maioria absoluta. Os ideólogos do capitalismo afrmam que a miséria e a
pobreza não podem ser eliminadas. Diz Kozminov:

“A exploração dos camponeses pelos monopólios se combina com numerosas sobrevivências da


exploração servil e, sobretudo, com a parceria, sob a qual o arrendatário é obrigado a entregar ao
proprietário da terra considerável parte da colheita pelo arrendamento da terra e dos instrumentos
de trabalho.”

“Nos Estados Unidos, a parte das grandes e gigantescas economias, com área de mais de 500 acres, que
consttuíam, em 1954, menos de 7% de todas as economias, cresceu, na área total de 44,9%, em 1940, a 57,3%,
em 1954, enquanto a parte das economias gigantes, com área superior a 1.000 acres, elevou-se neste período,
de 34,3% a 45,9%. Segundo dados do censo de 1950, 44% de todas as economias (com uma produção mercantl
no valor de 1.200 dólares) produziram menos de 5% de toda a produção mercantl, ou seja, conduziram uma

195
economia de consumo primitva, pouco produtva, tempo em que 103 mil grandes granjas (com uma produção
mercantl no valor de 25 mil dólares e mais), consttuindo menos de 2% de todas as economias, davam 26% de
toda a produção mercantl agrícola dos Estados Unidos. Segundo dados do censo de 1954, 134 mil grandes
granjas (com uma produção mercantl no valor de 25 mil dólares e mais), consttuindo 2,8% de todas as
economias, davam 31,3% de toda a produção mercantl agrícola dos Estados Unidos. Na França, em 1956, às
pequenas economias, com área de até 10 hectares, consttuindo 52,2% de todas as economias, pertenciam
somente 15,7% de toda a terra cultvada, ao tempo em que 4,8% de grandes economias possuíam 30,4% da
terra. Na Alemanha ocidental, as pequenas economias, com área até 5 hectares, que consttuíam, em 1949,
55,8% de todas as economias, possuíam somente 11% de toda a terra, ao tempo em que 0,7% de grandes
economias possuíam 27,7% da terra.”

“A soma total da renda da terra cresceu, nos Estados Unidos, de 760 milhões de dólares, em 1937, a 1,7
bilhões de dólares, em 1954. Na Itália, algumas centenas de latfundiários recebem anualmente 450 bilhões de
liras de renda da terra, enquanto o salário de 2,5 milhões de jornaleiros agrícolas é de cerca de 250 bilhões de
liras. A dívida total dos granjeiros norte-americanos aos bancos e outras insttuições de crédito cresceu, de 1946
a 1957, em 2,5 vezes, atngindo, a 1º de janeiro de 1958, a 20,2 bilhões de dólares. O imposto sobre os bens da
população granjeira, em 1957, era 2,7 vezes superior ao de 1942.”

A polítca dos governos imperialistas é a manutenção artfcial dos ganhos das grandes
empresas e dos monopólios, ignorando os desequilíbrios e a miséria, e avalizando a
manutenção e até a elevação (!) do preço das mercadorias, assegurando nas crises médias,
tão longe quanto possível, o ganho dos capitalistas. Nas crises mais profundas, é óbvio, nada
ou quase nada logra fazer. Diz Kozminov:

“O volume total da produção industrial no mundo capitalista, em 1938, foi de 9% inferior ao de 1937, sendo
que nos Estados Unidos foi de 21%; na Inglaterra, em 6%; na França, em 7%. Em relação a 1929, o volume total
da produção industrial, em 1938, era o seguinte: nos Estados Unidos, 81,4%; na França 76,1%; na Itália, 98,5%.”

“A crise de 1937/1938 distnguiu-se da crise de 1929/1933, em primeiro lugar, porque não surgiu
após uma fase de forescimento da indústria, como aconteceu em 1929, mas após certa reanimação.
Além disso, a crise de 1937/1938 sofria a infuência da militarização da economia, que se desenvolvia
numa série de países. Ela surgiu no período em que o Japão desencadeava a guerra na China, a
Alemanha e a Itália trasladavam sua economia para os trilhos da economia de guerra e quando os
muitos outros países capitalistas se reorganizavam de modo militarizado. Em consequência disso, a
crise de 1937/1938 não abrangeu uma série de países (Alemanha, Itália, Japão). A crise foi
interrompida pela Segunda Guerra Mundial.”

196
“Nas condições da crise geral do capitalismo, tornam-se mais frequentes e mais profundas as crises
agrárias. Em seguida à crise agrária dos anos de 20, iniciou-se em 1928, uma nova e profunda crise
agrária, que durou até a Segunda Guerra Mundial. A superprodução relatva de produtos agrícolas
provocou uma forte queda dos preços, o que piorou a situação do campesinato.”

“Nos Estados Unidos, em 1921, o índice de preços para os granjeiros baixou a 58,8% com relação ao nível de
1920, e, em 1932, a 43,9%, com relação ao nível de 1928. A produção agrícola, nos Estados Unidos, reduziu-se,
em 1934, a 70,7%, com relação ao nível de 1928, e a 69,9%, com relação ao nível de 1920. Caíram os ingressos
dos camponeses.”

“A decomposição do capitalismo, no período da sua crise geral, manifesta-se na redução geral dos
ritmos de crescimento da produção. Os ritmos médios anuais de crescimento da produção industrial
do mundo capitalista foram os seguintes: no período de 1890 a 1913, 3,7%; no período de 1913 a
1958, 2,4%. Ao mesmo tempo, acentuou-se fortemente a desigualdade de desenvolvimento da
produção capitalista.”

As polítcas dos agentes capitalistas para bloquear o progresso social e lançar na miséria,
culturas de milhões de indivíduos no mundo todo, alegando que estes já viviam na miséria
antes do capitalismo, tem como resultado um crescente movimento de massas ant-
imperialistas e defensoras do progresso social e econômico. As diferentes formas da crise
capitalista não podem ser melhoradas por uma análise equivocada, como aquela que fazem
os arautos do capital. Diz Kozminov:

“A contnua diferenciação do campesinato e a ruína das economias granjeiras acentuam-se em


consequência da atual crise agrária, que atngiu proporções muito amplas nos Estados Unidos e no
Canadá. A crise agrária abrangeu também a Argentna, a Austrália e uma série de países da Europa
ocidental, da Ásia sul oriental e da América Latna. Em certos países, a crise golpeou determinados
ramos da agricultura: na Itália e na França – a vitcultura, na Grécia – a cultura fumageira, nos países
da Ásia sul oriental – a rizicultura.”

“Um traço distntvo, da crise agrária nos principais países capitalistas consiste na superprodução de
mercadorias agrícolas, sob as condições de redução da procura solvente entre os trabalhadores, em
virtude do crescimento do desemprego, da elevação dos preços dos gêneros alimentcios no varejo,
do ascenso do custo de vida.”

A crise agrária da América Latna (1958-19...) signifcou a estagnação de vendas de produtos


exportáveis e até de drástca redução de preços de alguns. A attude dos bancos centralizados do

197
capital (FMI, BIRD, BID, etc.) foi de recomendar aos países latno-americanos a redução do crédito e
do amoedamento, o corte dos orçamentos públicos, a liberação do cânmbio (como fez Jânnio Quadros)
etc. Ou seja, que adotassem uma polítca de desastre, para facilitar o ganho no mercado local dos
monopólios externos. Diz Kozminov.

“Sobre a profundidade da atual crise agrária testemunha o fato de que a superprodução de


produtos agrícolas, numa série de países capitalistas, é consideravelmente maior do que ao tempo da
crise de 1929/1933. Assim, por exemplo, nos países transoceânicos, as reservas intermitentes de trigo
superam o nível de 1929/1930 em 3,2 vezes. A fim de manter os preços infacionados, os órgãos
estatais compram enorme quantdade de cereais, de algodão, de batatas, de produtos pecuários.”

“Neste partcular, a mais clara manifestação das contradições do capitalismo é a destruição de


enormes massas de produtos agrícolas, que não encontram escoamento e se acumulam sob a forma
de reservas, enquanto se reduz o consumo das amplas massas trabalhadoras e os Estados capitalistas
tomam medidas no sentdo de ‘estmular’ a redução da produção.”

“Em 1956, o Congresso dos Estados Unidos aprovou o programa do Banco da Terra sobre a redução
da área cultvada em 20 milhões de hectares e de sua conversão em terras devolutas. Medidas para a
redução da área semeada são tomadas no Canadá e na Austrália. A fim de diminuir as desmedidas
reservas de gêneros alimentcios, os Estados Unidos exportam uma parte da produção por preços de
dumping, consideravelmente inferiores ao preço de custo. Tal dumping ainda mais acentua a crise
agrária nos outros países capitalistas.”

“No curso da atual crise agrária, processa-se a intensificação da concentração da produção


capitalista. Nos principais países capitalistas, após a Segunda Guerra Mundial, aumenta a
mecanização da agricultura, que atngiu nível partcularmente alto nos Estados Unidos, cresce a
aplicação de adubos minerais, aperfeiçoam-se os métodos agrotécnicos nas grandes granjas, que
produzem a massa principal da produção mercantl. Enquanto isto, segundo dados de 1954, cerca de
47% das granjas, nos Estados Unidos não possuíam tratores e conduziam uma economia
semiconsumidora, pouco produtva. A concentração da produção é acompanhada da ruína da massa
de pequenas economias camponesas, em escala desconhecida no passado.”

7 – A Situação Atual do Sistema Imperialista Mundial.

O fato de o governo dos EUA se atribuir o papel de gendarme mundial tem traços que
partcularizam a época atual: (a) o perigo de guerra aumentou em relação ao entre-guerras

198
(1919-1938), uma vez que há uma só cabeça e um só estado-maior; (b) a dominação norte-
americana se expressa como uma presença militar em que cada região ou país pode tornar-
se vítma de uma agressão imperialista direta; (c) aumenta a oportunidade para os
movimentos democrátcos e libertários formarem alianças regionais e surpreenderem a
dominação imperialista.

A nova presença unifcada das forças imperialistas tem-se caracterizado por um crescente
desprezo pela luta democrátca e pelos regimes democrátcos locais. É evidente a polítca
imperialista de preparação de golpes-de-Estado e de formação de regimes de exceção, por
toda parte. Os resultados eleitorais e as diferenças polítcas dos grupos partdários das
metrópoles têm-se revelado cada vez menos importantes para o jogo internacional, uma vez
que a polítca imperialista não é mais diferenciada ou diversifcada como no entre-guerras.
No entanto, o fascismo contnua a ser um perigo presente, agora manipulado pelo
imperialismo norte-americano. Como diz Kozminov:

“Como não se encontrasse em condições de dominar pelos velhos métodos do parlamentarismo e da


democracia burguesa, numa série de países - Itália, Alemanha, Japão e alguns outros – a burguesia
estabeleceu regimes fascistas. O fascismo é a ditadura terrorista aberta dos grupos mais reacionários
e agressivos do capital financeiro. O fascismo estabelece como fim, internamente, destruir a
organização da classe operária e esmagar todas as forças progressistas, ao passo que, externamente,
o seu fim é preparar e desencadear a guerra de conquista pelo domínio mundial. O fascismo alcança
esses fins por métodos de terror e de demagogia social.”

“A crise econômica mundial de 1929/1933 e a crise de 1937/1938 conduziram ao brusco


agravamento das contradições, tanto dentro dos países capitalistas, como entre eles. Os Estados
imperialistas buscaram a saída destas contradições no caminho da preparação da guerra por uma
nova redivisão do mundo.”

O aumento potencial do perigo de agressão imperialista requer uma arte polítca pratcada
superior, das forças democrátcas e populares, que não se deixem envolver em provocações
capazes de serem exploradas pela imprensa burguesa e sua prátca de injúrias, mentras e
calúnias, fomentando o ódio social e as divisões polítcas.

Em nossa época, a luta polítca e ideológica é intensa, entre os dois campos, no nível
internacional e dentro de cada país. A complexidade de vida social, a crescente divisão social

199
do trabalho, etc., exigem das forças populares um nível tremendo de tensão, tanto para não
serem caracterizadas pelos fatos históricos que ocorrem, e que têm um caráter objetvo,
quanto para não perderem a oportunidade concreta de mudança histórica, que aqui e ali
ocorrem.

O imperialismo e seus agentes vivem fomentando golpes-de-Estado. Na presente situação,


intentaram impedir, na crise de agosto-setembro, a posse do presidente consttucional do
Brasil. Artculando os grupos de extrema direita, tentam criar situações artfciais, como
desabastecimento, campanhas de ódio e calúnia, etc., para vencer as eleições deste ano ou
acumularem forças para o golpismo. É isso que analisa a Resolução Polítca:

“Submetdo, como se acha nosso País, à dominação do capital estrangeiro e do latfúndio, a atual
etapa da revolução no Brasil, conforme definiu a Revolução Polítca do V Congresso do Partdo, é ant-
imperialista e antfeudal. A luta pelo socialismo nas condições do Brasil impõe, por conseguinte, o
cumprimento das tarefas essenciais da etapa ant-imperialista e antfeudal. Com isto, precisamente,
serão criadas as condições para passar à etapa das transformações socialistas.”

Não se pode avançar para o socialismo sem consolidar as forças presentes na ampla
mobilização popular. Deve-se obter a consttuição de um governo nacionalista e democrátco,
que seja capaz de efetuar ao menos parte das reformas ansiadas pelo povo brasileiro e
defnidas pelas forças polítcas progressistas. A luta polítca consciente e organizada de
crescentes massas de trabalhadores é o principal meio para promover as mudanças
necessárias na vida polítca brasileira e se antecipar a novas tentatvas golpistas da reação
polítca e social. Só por este caminho é que se tornará materializada a promessa de Engels:

“Quando os meios de produção passarem a ser propriedade comum, a família individual deixará de
ser a unidade econômica da sociedade. A economia doméstca converter-se-á em assunto social,
como, igualmente, os cuidados com as crianças e a sua educação. A sociedade cuidará, com o mesmo
empenho, de todos os filhos, sejam legítmos ou naturais. Desparecerá, assim, o temor das
‘consequências’, que é hoje o mais importante motvo social – tanto do ponto-de-vista moral, como do
ponto-de-vista econômico – que impede uma jovem solteira de se entregar livremente ao homem que
ama.”

A felicidade integral só pode ser obtda a partr de uma sociedade dirigida pelos próprios
trabalhadores. Só eles como força dirigente poderão se livrar de todos os preconceitos e

200
perseguições contra eles fabricados e dirigidos por todas as classes dominantes. O fm da
dominação capitalista e imperialista marcará a abertura para uma sociedade de
trabalhadores, onde o trabalho não será um meio de exploração, mas o caminho da
libertação. O planejamento econômico e social permitrá um progresso gradual, sem a
vicissitude das crises e do desemprego. Nesta nova sociedade, a lembrança da exploração
imperialista será colocada como uma característca do que foi passado e não voltará.

8 – Conclusão.

Nesta aula aprendemos a diferença entre o imperialismo como etapa do capital fnanceiro e
da ditadura dos monopólios, dentro do capitalismo. Entendemos que o imperialismo não é
uma simples escolha polítca, como se acreditava a princípio, mas o desenvolvimento
histórico efetuado desde o regime da livre concorrência. Estudamos assim os seus traços
mais característcos. Aprendemos um pouco sobre a formação dos monopólios e como os
mesmos exploram os trabalhadores, o campesinato, e como logram roubar da burguesia não
monopolista.

Compreendemos o papel dos bancos e da oligarquia fnanceira, no processo de exploração


em cada país e nas diferentes situações internacionais, ao longo da história recente.
Entendemos o lugar da exportação de capitais e da divisão e redivisão do mundo pelo grande
capital. Vimos como o imperialismo enfrenta os problemas derivados das sucessivas crises
econômicas. Adquirimos uma noção da crise geral do capitalismo, a necessidade permanente
de guerras que ela acarreta e a polítca agressiva atual das potências imperialistas, sob a
direção incontestada do imperialismo norte-americano.

201
Perguntas.

1. Que entende por antgo imperialismo?

2. Que compreende como novo imperialismo?

3. Qual a contribuição dos teóricos socialistas para caracterizar o novo imperialismo?

4. O que é capital fnanceiro?

5. O que é monopólio?

6. O que é oligarquia fnanceira?

7. Que são crises econômicas parciais?

8. Que são crises econômicas gerais?

9. Qual o lugar histórico do imperialismo?

10. Dê alguns traços da polítca imperialista atual.

202
Aula 6

203
6 – O Regime Socialista.

Muitas pessoas pensam que o regime socialista não deveria existr, porque foi inventado por
intelectuais, e os intelectuais não regulam bem da cabeça. Na verdade, não é assim. Todo
regime de organização social que existe ou existu, foi criado por necessidades da prátca
social, como uma reformulação espontânnea da base econômica, e aperfeiçoada por
pensadores que se puseram a observá-lo. Há milhares ou centenas de anos, os homens
faziam as coisas por uma mistura de intuição e desespero, que resultava da pressão das
necessidades. Em geral, a explicação que se dava tnha pouco a ver com o que ocorria, mas,
ainda assim, era tda como razoável. Assim agiam na Antguidade e na Idade Média. As
explicações eram quase sempre mítcas. Por exemplo, na Revolução Inglesa (século XVII), em
que a pequena burguesia derrubou o rei e ensaiou uma ditadura burguesa, os
revolucionários acreditavam que a monarquia estava infuenciada pelo vício e por Satã, e que
era necessário tomar o poder para restaurar a pureza da “igreja original”, (Cristo e os doze
apóstolos). Eles não conseguiam se apresentar o problema real que estavam vivendo
(derrubada da monarquia e fundação de uma república); e dessa forma mistfcavam o que
precisavam fazer como um ato religioso.

Pensar o socialismo como uma hipótese alternatva à sociedade que se estava vivendo
ocorreu muitas vezes. Platão (428-348 a.C), Campanella (1568-1639), Denis Diderot (1713-
1784), Jean Jacques Rousseau (1712-1778), entre outros, formularam propostas para uma
reforma social que correspondia, em suas condições, a uma proposta de adoção de um
regime socialista. Mas, como disse Marx, “a sociedade não se propõe senão problemas que
pode resolver”,. Daí que nas condições do surgimento de um novo mundo de produção,
baseado no trabalho assalariado, se hajam criado muitos elementos que tornam possível o
advento de uma nova sociedade, desta feita de tpo socialista. O descarte de centenas de
milhões de indivíduos da parte do capital como relação social fundou pela primeira vez no
mundo as condições materiais para a transição rumo a uma sociedade mais justa, ou seja, a
criação do regime socialista.

A revolução francesa foi a primeira grande transformação polítca no mundo que foi
teorizada antes de acontecer. O avanço das ciências sociais, tal permitu.

204
À medida que se desdobrava a revolução francesa, com vários episódios daquele processo
que Marx chamou “revolução interrompida”, (1789-99; 1830; 1848; 1871), ia fcando mais
claro que os lemas da mesma, “liberdade, igualdade e fraternidade”,, não se podiam dar nos
limites de uma ditadura burguesa, melhor ou piormente disfarçada. O estudo dessas três
condições do estandarte revolucionário levou um sem número de intelectuais e militantes a
desdobrarem tais divisas em programas polítcos efetvos de diferentes classes e camadas
sociais.

As lutas operárias de mais de um século levaram assim, ao aperfeiçoamento do programa


que pode levar ao socialismo, à defnição do que é o socialismo e quais são, portanto, os
instrumentos para efetvá-lo. Na “Nova Gazeta Renana”,, Marx encontrou o caminho para
levar a revolução democrátca ao poder. Se a burguesia, tão logo quanto alcança o poder,
“procura se aliar aos inimigos da véspera”,; se a pequena burguesia se divide e chega a vacilar
diante do poder do inimigo; a aliança operário-camponesa, entre os trabalhadores e os
camponeses pobres, explorados, é o motor que pode consolidar a revolução democrátca,
impedindo recuos. Ela pode levar ao socialismo.

O programa socialista se baseia nas proposições objetvas das classes trabalhadoras nas
revoluções de 1848-49 e 1870-71. Foi também enriquecido com as proposições de todas as
lutas de trabalhadores entre 1870 e 1918. Este patrimônio de proposições e lutas levou à
criação da primeira internacional (Associação Internacional de Trabalhadores, 1864-1876), da
segunda internacional (1889-1916) e da terceira internacional (1919-1939). O acúmulo de
conhecimento da natureza e das formas da causa socialista se consttui em colossal
patrimônio. Sem se arvorar o mesmo em propriedade deste ou daquele partdo ou
movimento, os socialistas de todas as correntes lutam para aprofundar e consolidar
semelhante patrimônio, através das lutas das novas gerações e pela experiência recente
(1917-1962) de construção de várias sociedades socialistas.

205
1 – O Surgimento do Regime Socialista.

Além dos governos social-democratas, inspirados no programa da segunda internacional,


criou-se com a revolução de outubro no antgo Império Russo um novo caminho e
experiência de construção socialista, de valor universal. A revolução russa de 1917 venceria
seus inimigos abertos numa guerra civil, onde a reação czarista contou com o apoio de 22
nações interventoras.

Semelhante agressão às forças revolucionárias da Rússia e de outras nações do antgo


Império resultou pratcamente na destruição do país. Em 1922, criou-se a União das
Repúblicas Socialistas Soviétcas. A palavra “soviet”, em russo quer dizer “conselho”, e as
“repúblicas dos conselhos”, deixam claro já de partda a natureza colegiada de seu sistema de
poder. A visão materialista não pode considerar a forma da república como algo superior ao
seu conteúdo. Ou seja, o sistema de governo soviétco é o mesmo que existe dentro da
estrutura do partdo comunista, que o anima e sustenta. A “assembleia”, ou “conselho”, é o
órgão máximo da estrutura de poder socialista, sendo as estruturas escolhidas de “baixo para
cima”,, pelo voto das diferentes camadas de partcipação de classe.

O sistema de conselhos (soviets) foi apoiado e criado pelas massas populares no curso das
revoluções russas de 1905 e de 1917 (revoluções de fevereiro e de outubro). Os delegados
das diferentes estruturas componentes do movimento social são enviados a uma assembleia
de todos os escalões, que então se transforma pelo voto dos membros em um órgão diretvo.
Tal assembleia se dirige como uma direção coletva, pois os socialistas governam sempre
através de “comitês”, ou de “conselhos”,. Tal decisão polítca tem que ser discutda e votada, e
indicados aqueles que serão responsáveis pela sua aplicação. Tais delegados da maioria a ela
prestam contas periódicas do andamento de seus respectvos trabalhos.

A União Soviétca foi posta sob o cerco pelas potências capitalistas desde sua formação,
tendo os cidadãos soviétcos enfrentado sozinhos enormes difculdades para iniciar sua
construção socialista, levando, no nível econômico, de 1922 a 1939, para recuperar o nível de
produção alcançado em 1913. No entanto, já em 1941 era atacada pela Alemanha, Itália e
seus subordinados no “Eixo”, (Hungria, Romênia, Bulgária, etc.) numa guerra encarniçada em
que estes nazifascistas mataram 22 milhões de cidadãos, destruíram 800 mil aldeias e mais
de 200 cidades. Após a devastação da guerra, a União Soviétca não só triunfou militarmente

206
contra tantos inimigos, como construiu uma aliança sólida com inúmeros povos e países que
lograram se livrar das guerras do nazifascismo.

Muitos países tomaram o caminho do socialismo, adotando formas de governo


democrátco-populares que correspondem à sua correlação de forças sociais e polítcas
internas, sua experiência histórica e os objetvos atuais dos seus elementos dirigentes. Todos
esses países têm experiências para relatar e ensinar aos combatentes socialistas de todos os
contnentes. Devemos estudar as experiências da Polônia, da Tchecoslováquia, da Hungria,
da Romênia, da Bulgária, da Albânnia, da Iugoslávia, da Alemanha Democrátca, da China
Popular, do Vietnam Popular, da Coreia Popular, da Mongólia Popular, de Cuba... Todos esses
movimentos socialistas que chegaram ao poder e se esforçam na luta pela construção de
uma sociedade nova têm algo a dizer para nos ensinar, no caminho da luta pela construção
da democracia e do socialismo no Brasil.

Na compreensão do que é o regime socialista, deve-se ter tno para separar duas coisas
distntas. Uma é a doutrina socialista, construída a partr da experiência histórica
internacional da aliança operário-camponesa, com outras forças democrátcas e
revolucionárias. Outra é o desdobramento da luta no campo real das classes antagônicas, e
as idas e vindas próprias da luta de classes e do desenvolvimento histórico-concreto. Ambas
as coisas não podem ser confundidas. A história é um processo real. Qualquer doutrina, por
mais pura que seja não pode purifcar automatcamente o processo histórico. As forças
sociais em presença lutam por diferentes objetvos e não se pode assegurar com antecipação
qual será o desfecho real deste ou daquele episódio. Assim como um jogador não pode ter
certeza a priori do resultado do jogo de que vai partcipar, assim, nenhuma classe ou grupo
social pode ter um seguro ou garanta prévia do desfecho de dada situação. São muitos
fatores envolvidos, que dão um caráter desconhecido a cada processo social específco.

Devemos não só estudar e aprender dos outros, como estudar e aprender de nós mesmos.
Os nossos defeitos e taras sociais não podem desaparecer da noite para o dia. Todos os
problemas sociais, psicológicos, produtvos, materiais, etc., não podem ser resolvidos em dez
ou cinquenta anos. O que se pode é enveredar pelo caminho do acerto geral, e da correção
gradual de cada erro. E este caminho, é o caminho do socialismo.

207
Não se pode, portanto, aceitar a ideia de que a origem do socialismo seja apenas o ódio de
um punhado de intelectuais e sindicalistas ao maravilhoso sistema do capital. Este possui
suas contradições, seus problemas insolúveis, e como tal dá origem a lutas legítmas,
inclusive do interesse que outras classes possam ter de vir a exercer o poder polítco e social.
As experiências da humanidade se refetem no desenvolvimento da ciência social e pode-se
observar claramente a marcha do progresso, embora os obscurantstas se aferrem a negá-lo.
O progresso existe. Ele é fruto da luta de centenas de milhões em toda parte para construir
um mundo melhor, e as classes dominantes do sistema capitalista não poderão para sempre
impedir as transformações necessárias. Como diz Caio Prado Jr:

“O socialismo consttui uma ordem social que decorre natural e espontaneamente do capitalismo
onde tem seus germes e onde se elaboram as forças que o determinam. Em outras palavras, o
socialismo é a resposta dos fatos e a solução que a história dá aos problemas e contradições gerados
no próprio seio do capitalismo. É de certo modo uma derradeira e conclusiva fase do capitalismo em
que este vai dar quando se esgotam suas possibilidades de adequadamente solucionar as
contradições verificadas em seu interior; quando ele se mostra incapaz de superar as dificuldades e
problemas que suscita a sua própria dinâmica e evolução, e então se desagrega e transforma.
Desagregação e transformação essas que vão dar no socialismo.”

“É somente numa perspectva dessas que se pode compreender o socialismo e o regime estabelecido
nos países socialistas. E trar partdo da experiência que nos proporcionam. É graças, aliás, a essa
natureza do socialismo, a saber, ao fato de ele consttuir essencialmente a superação das
contradições presentes no capitalismo, que foi possível prevê-lo em seus traços principais e
fundamentais quase um século antes de sua realização, como efetvamente ocorreu com Marx e
Engels.”

Nesse sentdo, o socialismo faz parte do caminho para sair de uma sociedade
desequilibrada, montada sobre a miséria e a exploração. Não se trata de endeusar a
experiência alheia, mas de saudá-la e apoiá-la. É como ir-se a uma escola: sempre há de
avançar-se ali mais do que se não se vivesse aquela experiência. A cobrança dos que querem
ver o socialismo “paraíso terrestre”,, expressa a falta de confança em que os trabalhadores
possam efetvamente entender de seu ofcio de humanização e lograr construir um mundo
melhor. Como diz Caio Prado Jr:

208
“Note-se que essa situação deriva precisamente da natureza profunda do capitalismo na atual fase
imperialista de sua evolução. E é por isso irremovível e insolúvel dentro dos quadros do sistema. Na
raiz da incapacidade congênita do capitalismo de promover o desenvolvimento real adequado dos
países subdesenvolvidos, se encontra a própria estrutura e dinâmica do sistema em sua forma atual.
A saber, a considerável concentração, em escala internacional, de todas as atvidades econômicas; e
subordinação delas, direta ou indiretamente, a reduzidos grupos monopolistas que são por natureza
e necessidade orgânica, expansionistas e absorventes, drenando em proveito próprio e exclusivista os
recursos e forças produtvas de todo âmbito do sistema.”

2 – Característcas do Sistema Socialista.

Não se deve entender o caminho socialista e, portanto, a sociedade que vai caracterizar,
como uma receita única. Em primeiro lugar, quando uma dada sociedade supera a crise
interior, com um desfecho no processo de luta de classes favorável aos trabalhadores, pode-
se dizer que ela está no “caminho para o socialismo”,. Este socialismo será expressão de um
processo histórico concreto, e não cópia deste ou daquele país que se encaminhou antes
para o socialismo. Então, pode-se dizer, entre outras coisas, que o socialismo em cada país
depende de uma série de elementos: (a) do desenvolvimento histórico do capital onde se
processou a revolução; (b) da correlação de forças concretas no plano polítco, quando se
deu a transição; (c) do nível de desenvolvimento das forças produtvas e de sua oposição às
relações de produção; (d) da situação geopolítca e geográfca do país onde se deu a
revolução; etc. Estamos citando quatro componentes, mas podemos citar dez; no entanto, o
grau de percepção envolvido será o mesmo.

(A) Desenvolvimento Histórico da Exploração Capitalista. - Todos percebem que é um fator


decisivo. Um país onde o setor fabril-industrial ocupa 30 ou 40% da economia é muito
diferente de outro em que a produção artesanal consttui 20 ou 30% do valor do produto
social. No entanto, na época do imperialismo, sabe-se que as formas nacionais de revolução
democrátca podem evoluir rapidamente para uma conjuntura ou situação em que o bloco
socialista tome o poder. Como frisou Lênine, o poder do imperialismo se rompe no “elo mais
fraco”, na situação mundial de crise geral. Assim, como em 1917, este “elo mais fraco”, foi a
Rùssia Czarista, em 1957, foi Cuba e em 1961, poderia haver sido o ex-Congo Belga (o país
mais rico em recursos no mundo). Portanto, uma quantdade enorme de “combinações”, de
209
situação pode ocorrer que colocam cada país numa via específca para o socialismo, o que só
enriquece o caráter surpreendente e necessariamente desconhecido da revolução no mundo
atual. Diz Caio Prado Jr:

“O essencial a meu ver é considerar o mundo socialista não como algo a ser julgado, e sim como
experiência a se aproveitar. Experiência que abre perspectvas para a solução das questões pendentes
que se propõem em nosso mundo capitalista. A nova ordem que lá se constrói longe do que a
propaganda antssocialista em regra insinua, e frequentemente mesmo afirma sem rebuços, a saber,
que se trata de nada mais que imposição brutal e violenta – ‘ditatorial’ no sentdo ordinário – de um
artficial sistema polítco, econômico e social produto de ambições de mando, de poder polítco, da
prepotência de um punhado de fanátcos que seriam os comunistas, longe disso, a sociedade e as
novas formas de vida coletva, estruturadas ou em vias de estruturação nos países socialistas são o
resultado de forças históricas profundas de que os dirigentes daqueles países, e em partcular os seus
respectvos partdos comunistas, não são mais que os agentes e instrumentos.”

(B) Correlação de Forças Concretas no Plano Polítco. – A revolução socialista é um livro


começado, mas com enorme quantdade de páginas a serem escritas. No estudo de caso de
cada resolução que ocorreu nos últmos 200 anos, têm-se enorme repertório de
ensinamentos sobre os fuxos de movimentos de massa, seus eventuais refuxos, as forças
que se apresentam e o processo rápido de sua transformação, etc. Lênine chamava a atenção
para o “momento”, revolucionário; o ponto chave que não pode ser perdido no planejamento
da tomada do poder. É sabido que a revolução de outubro contém um ensinamento
universal, ou seja, um roteiro com as etapas, as conjunturas, a natureza das forças, etc. Isso
não quer dizer que o atempamento das alianças, a estrutura do Estado envolvido, o caminho
da tomada do poder, etc., estejam para cada caso, contdos na “experiência geral russa”,. Tal
seria um modo errôneo de pensar. Como disse Palmiro Togliat; apesar de tudo que sabemos
sobre a revolução, ainda se tem que fazê-la no plano concreto de cada país. Para dar um
exemplo, veja-se o caso clássico da revolução chinesa em 1926-27. A frente única com o
Kuomintang (a) crescia vigorosamente; (b) as vitórias militares se sucediam; (c) o PCC, dentro
do Kuomintang, não criava difculdades para as facções nacionalistas de direita e de
esquerda; (d) Chen Du Xiu, dirigente do PCC acreditava e apoiava o avanço nacionalista... No
entanto, pode-se entender que os êxitos rápidos e sucessivos, até inesperados, das forças
revolucionárias, levou o espírito aventureiro de Chiang Kaishek a trair a frente única e
desencadear os massacres de 1927, cujo centro de todos foi Shanghai. Ou seja, o êxito das

210
forças revolucionárias, surpreendentemente levou à ruptura, devido ao banditsmo de
Chiang Kai e seus asseclas, que superestmaram suas forças no longo prazo. O erro de Chen
Du Xiu foi acreditar na indestrutbilidade da aliança com a burguesia nas condições de vitória,
quando a hegemonia estava com a burguesia nacional.

Por outro lado, a desvantagem (ruptura e massacres das forças comunistas) transformou-se
em vantagem, obrigando o PCC a se afastar do Kuomintang e, planejando então uma guerra
de guerrilhas de longo prazo para criar a sua própria hegemonia no campo revolucionário. A
dialétca materialista ensina que as coisas não são o que aparentam ser, mas, aquilo em que
elas terão de se transformar.

(C) – Forças Produtvas e Relações de Produção. – A natureza das reformas democrátcas


que podem imediatamente ser implementadas com a tomada do Estado burguês depende
do nível de desenvolvimento das forças produtvas e o grau de oposição que as mesmas
aplicam sobre as relações de produção. Uma sociedade fabril-industrial como a Argentna, o
México e o Brasil, embora sejam países dependentes em graus diferentes de
desenvolvimento, oferecem graus também diferentes da profundidade possível e da
combinação favorável das reformas que podem ser feitas, e o cronograma adequado para as
massas. Da mesma forma, situar-se-ia em plano diferente uma economia mercantl simples
de uma outra sociedade, onde as forças pró-socialismo houvessem triunfado. Portanto, as
“receitas”, devem ser “passadas”,, mas não devem ser “copiadas”,. Como diz Caio Prado Jr.:

“Na medida e enquanto os confitos e lutas se resolvem no âmbito do sistema, ou são mantdos
dentro de certos limites, o capitalismo se sustenta e vai prolongando sua existência, embora através
de crises econômicas que se fazem cada vez mais polítcas e sociais, levando inclusive à guerra ou
ameaça permanente de guerra. Não é isso aliás que vemos em nossos dias?”

“Restringem-se com isso progressivamente as perspectvas do sistema e do regime social e polítco


que o sustenta, cada vez menos capacitados para enfrentarem e superarem as contradições que
interiormente os dilaceram. É esse precisamente o estado a que chegou o capitalismo. Ao mesmo
tempo em que alcança o apogeu do seu desenvolvimento e do de suas forças produtvas, acumulam-
se e se acentuam as dificuldades geradas por esse mesmo desenvolvimento e para as quais as
soluções se fazem cada vez mais difceis. Onde partcularmente se exibe a degenerescência do
sistema e sua incapacidade, em confronto com fases passadas de sua evolução, de promover o
progresso econômico, é a estagnação e mesmo, perda de substância que se observam em todo

211
mundo capitalista além dos restritos setores onde se localizam seus centros principais. Refiro-me,
sobretudo à periferia subdesenvolvida do mundo capitalista (Ásia, África, América Latna) onde a
evolução do sistema é acompanhada pela crescente penetração de estruturas financeiras de âmbito
internacional (de que os monopólios e trustes imperialistas são o exemplo mais fagrante) que
introduzem na economia dos países e povos subdesenvolvidos e no processo de sua industrialização,
graves fatores de perturbação que seriamente comprometem o seu desenvolvimento e progresso,
quando não os impedem inteiramente. O nosso país oferece a esse respeito o mais fagrante dos
exemplos.”

Essa sucessão de “modernizações”, impostas pela busca do lucro máximo pela exploração
imperialista não contribuem necessariamente para o desenvolvimento das forças produtvas,
muito pelo contrário. Podem ser fonte de novas deformações, como se dá, por exemplo, com
a especialização cubana em cana-de-açúcar, a especialização guineana em cacau, a
especialização marroquina em minérios, etc. São todas “especializações”, em excesso, que
criaram dependências locais extremamente débeis, do ponto de vista econômico, da divisão
internacional do trabalho.

Caso (ou quando) o bloco socialista de forças tome o poder, as “forças produtvas”,
minguarão da noite para o dia e hão de revelar de uma incomplettude absoluta, em relação
às “relações de produção”, na verdade, vigentes, coloniais ou semicoloniais, comandadas por
agentes do imperialismo. A necessidade social trará isso à tona.

(D) Situação Geopolítca e Geográfca. – Uma revolução “por acaso”, ocorrida na situação
atual, será também tornada típica em função da relação lattude-longitude que esse país
ocupa, sua área nacional, ambiente de meio e situação demográfca, etc. Cuba e China não
são, por exemplo, em nada similares deste ponto de vista. A enorme população e território
da China pratcamente “quebraram as pernas”, da ambição japonesa de conquista; a fronteira
soviétca favoreceu a organização revolucionária dos chineses. O excesso de desfavor
geopolítco de Cuba favoreceu a “surpresa revolucionária”, do “26 de julho”,, mas sua posição
geográfca tornou possível a invasão da “Baía dos Porcos”,. Desta forma, os fatores materiais
como posição geográfca, tpo de produção, densidade populacional, etc., oferecem
característcas completamente diferentes a cada experiência socialista, tornando cada
revolução atual uma lição única.

212
Pode-se sem erro afrmar que as característcas do socialismo são tão variadas, quanto
variados são os povos da terra, não havendo razão para crer que os naturais de um país ou
de uma cultura não sejam capazes de criar de modo próprio as soluções de que necessitam.
Como diz Caio Prado Jr.:

“O socialismo representa historicamente, isto é, se revela na experiência histórica de nossos dias,


como resposta às questões que se propõem no desenvolvimento do capitalismo e no estágio por ele
alcançado em nossos dias. Que é assim, verifica-se no mundo do socialismo. A uma economia, qual a
capitalista, fundada no estmulo do lucro individual, o socialismo substtui o incentvo do interesse
coletvo. Aos desajustamentos da produção e do consumo entregues às vicissitudes da concorrência e
da oscilação dos preços, e que dão nas crises, o socialismo substtui o equilíbrio obtdo com o
planejamento. Às limitações e obstáculos que o capitalismo opõe ao pleno forescimento das forças
produtvas e equitatva distribuição do produto social, o socialismo substtui o máximo de produção
para o atendimento até o limite do possível de todas as necessidades de todos os indivíduos.”

Chega-se, portanto, ao ponto, aonde todos os diferentes socialismos que vêm sendo criados
pelas revoluções populares obedecem a um programa abstraído da experiência das massas
que “já fzeram”, suas revoluções, ou que estão, na verdade, no processo de fazê-las. Este
programa abstrato compreende:

1 – Estabelecimento de um programa de governo que corresponde às necessidades


detectadas pelo movimento social das massas que chegam ao poder;

2 – Nacionalização da terra e de todos os bens de produção de grande porte (fábricas,


máquinas, estradas, portos, navios, aviões, etc.);

3 – Distribuição dos meios e bens de produção às massas populares organizadas, através do


sistema insttucional por elas – as massas trabalhadoras – adotado;

4 – Formação de coletvos de trabalhadores e de pequenos proprietários em todos os níveis


da base econômica e em todo o sistema insttucional preexistente; criação das novas
insttuições necessárias; nacionalização dos bancos e seguros;

5 – Criação de conselhos em todas as empresas, estruturadas linhas administratvas, escolas,


unidades insttucionais, etc., para o governo de cada uma dessas insttuições ou entes;

213
6 – Criação de linhas hierárquicas de novo tpo, de acordo com as decisões de massa e dos
órgãos dirigentes;

7 – Eliminação total do desemprego, do trabalho gratuito e de outras formas de opressão;

8 – “De cada um, de acordo com seu trabalho”,; república e democracia para todos;

9 – Providenciar prioritariamente para que cada cidadão tenha um posto-de-trabalho, um


teto e alimentação.

Muitas pessoas, ao ler um programa para a criação da base econômica e social socialista,
pergunta onde fca “sua liberdade”, pessoal. Alguns têm em mente preservar o direito
burguês à prátca de crimes: isso felizmente será suprimido. No entanto, as liberdades
necessárias serão preservadas. Veja um exemplo, sempre perguntado, da gestão socialista. O
que acontecerá com um jornal burguês, quando da revolução? Ele é nacionalizado e
entregue ao conselho eleito de seus trabalhadores (que inclui todos os trabalhadores dali...)
para ser gestonado. Tal conselho é responsável pela polítca a seguir na editoriação e deve
seguir o interesse público e o programa revolucionário. Portanto, a liberdade dos jornalistas
será responsável, necessária e concreta. Como diz Caio Prado Jr.:

“O socialismo, sobretudo considerado, como deve ser, nas suas perspectvas voltadas para a
sociedade comunista, é a resposta a todas as questões que a humanidade de hoje se propõe – o que
não prejulga evidentemente as questões que porventura e certamente se proporão depois. Mas isso é
outro assunto que não passa por enquanto, nem pode passar do plano da profecia de que ninguém
sensatamente irá preocupar-se. Fiquemos naquilo que diz respeito ao mundo capitalista em que
vivemos e que nele se propõe e demanda resposta. E essa resposta, encontramo-la, sem dúvida
alguma no mundo socialista e na larga experiência histórica, de que ainda somos alheios, dos países
e povos incluídos nesse mundo.”

“Não se justfica assim qualquer attude de prevenção e hostlidade de princípio contra o mundo do
socialismo de cuja tão rica experiência histórica nos devemos necessariamente valer. Não para
servilmente a copiar, e sim aproveitá-la convenientemente. Tanto mais que entre as grandes lições
dessa experiência estão aquelas que nos permitrão evitar os escolhos em que esbarraram, como
tnham de esbarrar os pioneiros e a vanguarda do socialismo, obrigados como foram a desbravar um
terreno ainda indevassado e virgem.”

214
Livres do sentmento de cópia e de julgamento, cada qual pode assumir sua própria
responsabilidade e partcipar da ação coletva de reconstrução de uma sociedade como a
nossa, onde os erros produzidos pelo preconceito, pelo ódio e pela ganânncia podem ser
corrigidos, e o governo geral pode ser orientado pelo estudo científco e o debate em uma
escala de massas. Não se trata de reproduzir o passado, mas de construir o futuro. No
entanto, não se trata também de supor que a história será abolida e erros não serão
cometdos. É próprio dos homens cometerem erros. Mas deve ser próprio da ação
consciente corrigi-los. Como diz Caio Prado Jr.:

“Que conclusão vamos dar a estas sumárias considerações feitas a propósito de alguns
poucos, se bem que principais, aspectos do mundo socialista? Não sei se atngi meu objetvo
que foi, como esclareci de início, tão-somente dar uma ideia geral daquilo que se está
realizando nos países do socialismo no sentdo de construir uma nova ordem social e novas
formas de conveniência humana, e em que consistem essa ordem e novas formas.”,

3 – As Relações Sociais no Socialismo.

Em todas as sociedades as relações sociais são determinadas pelas classes e camadas que a
compõem. Uma sociedade difcilmente se reduz a um modo de produção em estado simples
e puro. Ela refete também restos sociais de suas estruturas precedentes, até em classes
inteiras “sobreviventes”, de modos anteriores (exemplo: a pequena burguesia). No caso do
socialismo, a estrutura de classes existente depende da evolução histórica desde a situação
anterior e como ela modifcou-se com o processo revolucionário. Em geral, as sociedades
capitalistas atrasadas apresentam a preservação de blocos sócio-históricos de relação de
poder que as tpifcam e expressam o grau de imobilismo e de concepção social, que não
cabe nos manuais de sociologia. Cada sociedade deve ser esmiuçada analitcamente pelos
teóricos do partdo revolucionário, para entenderem-se os seus caminhos e descaminhos, as
formas concretas de associações que oferecem uma oportunidade ao progresso, etc. Dessa
forma, em cada sociedade socialista irá se expressar um sistema polítco diferenciado, que
revela e conduz à formação de uma nova ideologia social, com mudanças também profundas
nas psicologias das classes e camadas que a compõe.

215
Velhas classes, com experiência de sobrevivência de várias gerações de formações sociais
não deixarão prazenteiramente o cenário da história, nem necessariamente jogarão papéis
efêmeros e equivocados, como analisado por Marx no “18 Brumário”,. Estas classes
“tradicionais”, pela arte de sobrevivência formam a cada geração, milhares de quadros para
atuar na base econômica e social. O papel desses quadros nem sempre se refete de modo
consciente na cabeça dos mesmos, o que, de certa forma, permitria reeducá-los e
redirecionar a sua ação.

Tais quadros não se limitam “apenas”, a frear o desenvolvimento de novos hábitos e novas
insttuições. Partcipam da formação dos quadros da sociedade nova, sendo tão mais nociva
a sua ação quanto sua velha ideologia (burguesa ou pequeno-burguesa) inconscientemente
se mascara de ideologia “tolerante”, ou de ideologia “revolucionária”,. O camarada Mao Tsé-
Tung cunhou a expressão “inimigos no seio do povo”, para retratar esta situação. O trabalho
ideológico do partdo operário não tem nem terá descanso no processo de descobrir formas
inimigas de partcipar da “construção”, socialista. Nem tem limites para travar esta luta
sempre no campo ideológico, priorizando a educação e o trabalho ideológico, o diálogo, a
paciência, o desmascaramento e a persuasão. Não se trata, para a causa socialista, de punir
as pessoas, mas reeducá-las e torná-las socialmente úteis. O caminho do trabalho ideológico
é longo e permanente. Quadros formados pelo inimigo, ainda que reeducados, podem
periodicamente sofrer “recaídas”,. A ideologia burguesa se consttui um “paludismo social”,. O
trabalho do partdo é trazer as pessoas para o lado da causa popular e não empurrá-las para
o campo inimigo do povo, o que, não raro, muitas pessoas são. Trata-se de ganhá-las sempre
para o nosso campo.

Além dessa tarefa subjetva, o partdo e os dirigentes de um Estado socialista devem lutar
para manter aberto e construir canais objetvos de diálogo e colaboração, dentro e fora do
Estado, entre as diferentes classes e grupos sociais, onde suas experiências e opiniões sejam
estmadas e levadas em consideração, como uma via pacífca de cooperação. Deve-se para
tal teorizar e construir uma sucessão de caminhos de aproximação, que correspondam às
necessidades e desdobramentos de cada etapa efetva no rumo da construção socialista. Este
nível de cooperação objetva é muito difcil de ser avaliado, porque não pode ser medido em
metas quanttatvas materializáveis como, por exemplo, a produção econômica.

216
Os quadros socialistas numa sociedade lutam sempre para maximizar o benefcio e não para
maximizar lucros das empresas onde trabalham. No processo da construção socialista, não é
necessário haver bens em excesso, nem desperdício do produzido, sendo, portanto
necessário organizar a produção econômica com prioridade para as necessidades básicas de
todas as classes, antes de se dedicar à produção de supérfuos. Muitas pessoas das antgas
classes dominantes ou da vizinhança social das mesmas critcam o socialismo existente por
não oferecer uma enorme variedade de produtos que estmariam poder escolher, nem
liberar as importações para lhes saciar a demanda de mercadorias que preferem, por
motvos culturais. No entanto, deve-se compreender que a amplitude de oferta de bens de
uma mesma função pode-se consttuir irracionalidade, quase sempre capaz de satsfazer
mentes de costumes burgueses ou pessoas culturalmente alienadas. Não há motvo para um
país que se dedique à reconstrução social e econômica para importar calças Lee, batons
franceses, uísque escocês, etc. Tal decisão, além de satsfazer apenas a uma minoria de
elitstas, consumiria recursos importantes que faltariam para equipamentos, remédios,
educação, etc. Nesse sentdo, promover o diálogo entre todas as classes e camadas não pode
signifcar o abandono do programa prioritário para a sociedade nova. É daí que faz sentdo o
termo “ditadura do proletariado”,. No regime burguês, a propriedade burguesa dos meios de
produção não pode ser tocada para satsfazer necessidades “operárias”, ou “camponesas”,.

Da mesma forma, a propriedade dos meios de produção para os trabalhadores de nada


valeria se fosse direcionada a priorizar a satsfação das necessidades burguesas. Aqui então
se tem a “ditadura do proletariado”,. As necessidades da aliança operário-camponesa têm
absoluta prioridade; ônibus antes do automóvel; roupas para todos antes de roupa da moda;
tratores antes de lanchas de passeio; bicicletas e triciclos em escala massiva, etc.

O objetvo, portanto, das relações sociais socialistas não pode ser (1) manter os antgos
privilégios nem (2) tornar insuportável a vida de qualquer setor social, mas de outra forma,
buscar e resolver os problemas cruciais que alimentam a miséria, a fome, a ausência de
oportunidades e abrir assim caminho a crescente melhoria econômica e igualdade social.
Com o esforço de racionalização de todos os empreendimentos, duas instânncias se tornam
decisivas para o progresso econômico e social: (a) o fortalecimento e o aprofundamento do
movimento social, única força capaz de enfrentar de modo duradouro todos os problemas;
(b) o estabelecimento de um sistema de planejamento da vida econômica e social em todos

217
os níveis, com ampla partcipação popular, para evitar a malversação, o desperdício, e as
carências desnecessárias.

No sistema capitalista, os camponeses pobres, os operários rurais e os empregados dos


serviços de infraestrutura podem ser obrigados a viver em condições mais miseráveis ainda
que os operários fabris. No Brasil, por exemplo, nas cidades maiores, 18% da população é
favelada. Muitos desses favelados são trabalhadores fabris. Pode-se então compreender o
grau de miséria a que o campo está submetdo. Os preços pagos aos agricultores pelos
produtos são multplicados por quatro ou cinco vezes, quando tais produtos são vendidos na
área urbana. Tal signifca para a construção socialista, por exemplo, um colossal esforço para
eliminar o agravo econômico e social de tais polítcas dos exploradores.

Num país atrasado como o nosso, o défcit de equipamento produtvo na área urbana se
multplica várias vezes por um fator, quando se fala na área rural, onde o latfúndio ainda
prevalece sobre as fazendas capitalistas. Esta ausência de capital fxo requer poupanças
públicas enormes para ser eliminada num espaço de cinquenta anos. O país, que cresce
atualmente (1930-1960) a uma taxa de 6,2% ao ano, precisará elevar esta taxa e necessitará
de uma poupança anual de 30 a 35% do PIB. Isso não poderá ser obtdo sem um amplo
entendimento das prioridades do país por todas as classes e camadas sociais, entendimento
que deve apoiar-se sobre uma sólida aliança operário-camponesa. O sistema latfundiário,
viciado num passado de escravidão, não apoia qualquer solução progressista e, portanto,
deve ser eliminado nesta solução da etapa ant-imperialista e antfeudal. Na linha do IV
Congresso, dava-se prioridade para um caráter antfeudal e ant-imperialista. No entanto, as
massas rurais deixaram evidente nos últmos quinze anos, que elas seguem a mobilização da
classe operária urbana, e não o contrário. A colocação da ênfase mobilizatória e organizatva
na classe operária urbana teve o efeito colateral de mobilizar as massas rurais. Isso porque
(a) centenas de milhares de trabalhadores urbanos vieram recentemente do meio rural e seu
discurso e experiência sócio-polítca exerce em seus parentes que lá fcaram grande
infuência; (b) dezenas de milhares de trabalhadores voltam periodicamente para o campo
levando para lá sua experiência polítca adquirida nos sindicatos, nas fábricas e nos serviços
urbanos industriais; (c) nas cidades, a repressão é muito mais monopólio do Estado, não se
passando atos tão terríveis de violência direta como aquelas que sofrem os trabalhadores e
os camponeses sem-terra nas fazendas e nos latfúndios. No campo, ainda vigora a barbárie.

218
É, portanto, razoável supor que no futuro socialista, o ambiente urbano no Brasil contnuará
a comandar as transformações mais profundas da sociedade e de sua vida polítca. Será nas
cidades que se produzirão e se inventarão os equipamentos e as tecnologias demandadas na
área rural, pré-requisitos sem os quais difcilmente se poderão obter a paz social e os
aumentos de produtvidade capazes de reduzir o diferencial cidade-campo. Esta percepção é
um elemento importante para o fortalecimento dos laços de cooperação e de luta comum
das massas urbanas e rurais.

No processo da construção socialista, enormes investmentos serão dedicados ao avanço da


agropecuária, ao equipamento do meio rural com silos, armazéns, depósitos, máquinas,
estradas, unidades médicas e veterinárias, etc. Os debates, os encontros, as visitas dentre
membros das diferentes camadas e classes urbanas e rurais terão que ser intensifcados,
para elevar a consciência social da população trabalhadora e consolidar as metas do
processo de transformações. Por exemplo: as redes educacionais e de saúde pública são
pratcamente inexistentes no Brasil rural e elas implicam um custo tremendo, com retorno
apenas no longo prazo. A criação de indústrias de fertlizantes, máquinas agrícolas e
condicionamento da produção para venda colocam enormes tarefas de cooperação social
entre classes e racionalização de procedimentos hoje ainda inexistentes.

Um dos pontos positvos do processo de construção socialista para a harmonia e


colaboração entre classes derivará do colossal avanço que será dado no processo
educacional formal do país. Por exemplo, no lugar dos acanhados cem mil universitários que
hoje possuímos, a construção socialista exigirá dezenas de milhões de universitários,
formação técnica de nível médio, etc. Isso pratcamente há de acarretar para o país um salto
produtvo a cada seis ou sete anos, quando comparado com a situação atual.

Depois de uns vinte ou trinta anos de construção, a elevação do nível de renda na


agricultura terá sido capaz de contribuir inclusive para a elevação ainda maior do nível de
vida urbano, onde se concentrará a maior parte de produção industrial. Com uma larga
formação industrial na área rural, as diferenças entre as classes há de diminuir e a vida em
geral tornar-se-á mais harmoniosa.

Como disse Mao Tsé-Tung, as quatro pré-condições para a construção socialista são: (1) ter
a barriga cheia; (2) ter um teto sobre a cabeça; (3) ter roupa para vestr; (4) ter um círculo

219
para se educar. Estas pré-condições podem certeiramente ser criadas pelo movimento social
do povo brasileiro, com base na aliança operário-camponesa. É uma vitória que pode ser
obtda em 15 ou 20 anos. A partr daí, estará garantdo o sucesso da construção socialista.

É importante que se compreenda o caráter interpretatvo e não preditvo ou científco


dessas imaginações sobre o curso provável de uma transformação socialista em nosso país.
São opiniões, e como tal não são melhores que outras opiniões que podem ser imaginadas
por outros militantes socialistas. Deve-se sonhar sobre os problemas que temos, para que o
desenvolvimento da realidade não venha nos surpreender. Como disse Caio Prado Jr., não
podemos adivinhar o futuro. O que não exclui a possibilidade de que se imagine o futuro. De
que se sonhe com um futuro melhor do que o presente. Marx disse que os países
industrializados mostram para onde vão os países que estão se industrializando. Nesse
sentdo, o estudo dos países que fazem hoje a construção socialista, pode ser uma pista
adequada para imaginarmos uma versão do socialismo que um dia haverá em nosso país. A
correlação de forças, no entanto, e as transformações no mundo é que dirão o quê, como e
quando.

Um argumento em geral levantado pelos conservadores contra a mudança da base


econômica e social é que é melhor “fcar com o certo”, do que com o “duvidoso”,. Se o regime
é capitalista, ele é o melhor do que se pode ter, porque sem ele seria ainda pior. É uma
argumentação fácil de manter, principalmente pelos que estão se “dando bem”, com a
exploração capitalista. Este argumento não serve para os pobres, para os trabalhadores e
para os jovens. Pior ainda, no regime do capital, as coisas não estão paradas, mudam o
tempo todo, aumentando a exploração e a miséria da maioria. Nesse caso, por que a maioria
também não pode fazer mudar?

Para os pobres, mudar sempre pode ser uma coisa boa. Pode abrir-se uma oportunidade
para melhorar o padrão de vida. Na verdade, eles estão enfrentando mudanças, para tentar
melhorar de situação. Mudam da área rural para a cidade, mudam dos cortços para as
favelas, mudam de um trabalho para outro, etc. Por que não mudar de sistema polítco e
social?

Para o trabalhador, ele percebe nitdamente o processo de sua exploração no posto de


trabalho. Ele vê a riqueza que cria todos os dias e da qual não partcipa. Porque não mudar

220
de sistema polítco e social? Para o jovem, quase sempre seus sonhos se veem frustrados. A
absoluta maioria não tem fonte de renda; quando trabalham, a renda raramente é para si,
mas para a família de seus pais; isso difculta casar e consttuir sua própria família; a absoluta
maioria não tem acesso à educação, ao lazer, a um tratamento dentário, etc. Por que não
mudar de sistema polítco e social?

Estes três grupos percebem com toda a clareza que já vivem em uma sociedade ou
transição, onde apenas a burguesia se reproduz como camundongos... Por que então não
assumirem eles próprios o controle da vida social e econômica e promover as mudanças
necessárias?

Nessa medida, as relações sociais no socialismo começam antes da revolução socialista.


Operários, pequenos burgueses progressistas, camponeses médios, camadas médias,
camponeses pobres, etc., todos têm interesse que a mudança da base econômica e social
contnue, se alargue e se aprofunde no interesse da maioria. Todas essas classes e camadas,
contudo, sabem que nada virá a seu favor, caso elas próprias não se ponham a mover e se
organizem e mobilizem para comandar o processo de mudança.

4 – O Estado Socialista: a Ditadura do Proletariado.

Vejamos uma questão muito simples: dizem que a democracia burguesa não é burguesa, é
democracia para todos. No entanto, até o trabalhador menos consciente sabe à perfeição
que deve evitar ir às delegacias de polícia, aos tribunais, prestar queixas contra ricos e
poderosos, etc. Por que o trabalhador sabe disso? Porque a experiência pessoal dele, a
experiência social da família dele e a experiência histórica da classe dele dizem a ele que não
será bem-sucedido em qualquer disputa legal com membros da burguesia e até da pequeno-
burguesia. Como disse Marx, embora as leis no capitalismo tenham um caráter genérico, elas
para a burguesia valem imediatamente, mas para os trabalhadores sempre necessitam “ser
regulamentadas”,. A grosseria da ditadura de classe é tão brutal que, no Brasil, quaisquer
insttuições populares, até religiosas, são reguladas pela “delegacia de costumes”, e a
“delegacia de ordem social”, (ramo da polícia polítca). Ou seja, qualquer tpo de sociedade é
uma ditadura de uma classe determinada ou de um bloco de classes dominantes, seja ela

221
uma democracia ou não. No caso do socialismo, é uma democracia cuja base de classe
(quem manda?) é a aliança operário-camponesa. Diz Caio Prado Jr.:

“Não há assunto que dê lugar a mais equívocos e mal-entendidos que as insttuições polítcas dos
países socialistas. A começar pela interpretação dada à designação do regime neles estabelecido:
‘ditadura do proletariado’, que é frequentemente confundido com aquilo que nos países capitalistas
se designa por ‘ditadura’ simplesmente, ou seja, o poder discricionário de um indivíduo. A confusão é
propositada e maliciosamente alimentada pelos adversários do socialismo, e salta-se daí para as
mais absurdas e ridículas conclusões. Ora não existe ponto algum de contato entre as insttuições
polítcas dos países socialistas e esse tpo de ditadura. Tanto pela sua estrutura como pelo seu
funcionamento, as insttuições socialistas, como logo veremos, são essencialmente democrátcas,
entendida a democracia em sua acepção clássica de ‘governo do povo, para o povo e pelo povo’.”

Numa sociedade dirigida por comitês eleitos diretamente por representantes, por sua vez,
eleitos nos locais de trabalho e de residência, é evidente que aqueles que estão no poder
representam um programa e um interesse. Representam mais, na verdade, do que uma
pessoa desconhecida que se candidata, paga a propaganda e sua roupa chique, com a ajuda
de empresas e “desaparece”, para o eleitor no dia seguinte da eleição. No capitalismo, tudo é
movido a dinheiro. Para ir à justça, é preciso dinheiro, roupas adequadas, advogados pagos.
Para se eleger, o dinheiro deve vir de alguma empresa ou grupo econômico, etc. É raro
eleger-se um membro do sindicato dos estvadores, dos têxteis, etc. Por quê? Para fazer a
campanha, se requer muito dinheiro. Também para manter um jornal de trabalhadores, etc.
O dinheiro paga e corrompe a democracia capitalista. O caráter privado dos meios de
produção na base econômica do sistema capitalista não permite o pleno desenvolvimento da
democracia no capitalismo. É só a luta consciente dos trabalhadores, mobilizados em massas
de milhões de pessoas, que pode assegurar um certo grau de liberdade e de luta
reivindicatória à maioria da população. Como se sabe:

“O desenvolvimento das forças produtvas da sociedade conduzia ao aparecimento da propriedade


privada e da desigualdade econômica entre os homens. Surgiram as classes e os antagonismos entre
elas. A partr de então foi impossível resolver em comum os assuntos da sociedade, uma vez que as
diferentes classes tnham interesses opostos e irreconciliáveis. Surgiu assim, a necessidade de
proteger a propriedade privada e a exploração de uma classe por outra e de manter subordinadas as
massas oprimidas que consttuíam a maioria da sociedade. Para tal, foi criado o Estado, ‘O Estado é o
produto e a manifestação do caráter inconciliável das contradições de classe. O Estado surge

222
precisamente onde, quando e na medida em que as contradições de classe objetvamente não podem
ser conciliadas’ – escrevia V.I. Lênine.”

“O Estado tem um caráter de classe. Na sociedade antagônica ele encontra-se nas mãos da classe
economicamente dominante e é utlizado por esta antes de mais, para esmagar os seus adversários.
V.I. Lênine escrevia: ‘O Estado é uma máquina para a opressão de uma classe por outra, uma
máquina para manter submetdas a uma só classe outras classes subordinadas’.”

O caráter de classe do Estado faz com que sua democracia, caso haja (os Estados burgueses
pós-feudais), fca limitada pelo interesse de classe que deve proteger. Isso é uma
característca objetva e não depende de pessoas isoladas, mas do conjunto da situação. Por
isto Lênine reconhece a necessidade da ditadura do proletariado (na essência do Estado
democrátco socialista) para garantr os objetvos da aliança operário-camponesa em que se
baseia:

“Para que é necessária a ditadura do proletariado? Em resultado da revolução socialista, o Estado


burguês destruído é substtuído pela ditadura do proletariado.”

“A ditadura do proletariado é o poder dos trabalhadores, dirigido pela classe operária, cujo objetvo
é a edificação da sociedade socialista.”

“Todo o Estado é a ditadura de uma ou outra classe. O poder polítco dos trabalhadores é a ditadura
da maioria esmagadora e, portanto, é a democracia mais completa que pode existr numa sociedade
de classes.”

“A ditadura do proletariado é uma lei geral para todos os países que empreenderam o caminho das
transformações socialistas. Sem ela, a construção do socialismo é impossível. V.I. Lênine escrevia:
‘Quem não compreendeu a necessidade da ditadura de toda a classe revolucionária para a sua
vitória, não compreendeu nada na história das revoluções ou não quer saber nada neste domínio’.”

Quando mais se avançar na construção socialista, mais a sociedade irá se reeducando, no


sentdo de renunciar ao princípio corrupto de “levar vantagem a qualquer preço”,; um
crescente número das pessoas irá se libertando do medo e das formas de opressão,
aceitando o convite pacífco e sem competção negatva com o seu semelhante. Nesse
sentdo, as pessoas se tornarão mais humanas e menos bárbaras. A consciência não é pré-
garantda a ninguém. Ela deve ser despertada e desenvolvida. (Lênine):

223
“O proletariado é revolucionário só na medida em que tem consciência desta ideia de hegemonia e a
leva à prátca. O proletário que tem consciência dessa tarefa é um escravo que se revolta contra a
escravidão. O proletário que não tem consciência da ideia da hegemonia de sua classe, ou que abjura
dessa ideia, é um escravo que não compreende sua situação escrava; no melhor dos casos, é um
escravo que luta pela melhoria de sua situação de escravo, mas não pela derrocada da escravidão.”

Assim, a simples formação de um governo democrátco ou a luta pela construção do


socialismo não pode garantr “a priori”, a vitória do que é certo e do que é justo. Trata-se de
uma luta no plano das ideias, da ideologia polítca, da ideologia social, da maneira de viver:

“Qualquer manifestação de consciência social adquire, inevitavelmente, um caráter de classe. O


conjunto de opiniões polítcas, jurídicas, morais, artstcas e outras de determinada classe, consttui
sua ideologia.”

“Como explicar o caráter de classe da ideologia? O que leva cada classe a criar sua própria
ideologia, só a ela inerente? A explicação reside na posição desigual, ocupada por cada classe, numa
sociedade onde elas são antagônicas, cada uma com finalidades e tarefas sociais diferentes.
Mediante determinado sistema de opiniões, cada classe expressa e fundamenta sua posição na
sociedade, defende seus interesses, procura alicerçar os fins que persegue e resolver as tarefas
devidas.”

Num Estado de trabalhadores, não se pode defender os mesmos interesses e viver da


mesma forma que em um Estado burguês. A sociedade deve ser transformada e criar uma
nova maneira de viver, que não é aceita pelos valores da burguesia. Ensinam Rosenthal e
Straks:

“A classe avançada acha-se vitalmente interessada no descobrimento e na aplicação de novas leis


objetvas da sociedade, já que isto augura a sua libertação do jugo que pesa sobre ela, e a efetvidade
de seu papel dirigente na sociedade. Esta classe ou estas classes sociais consttuem a força que rompe
a resistência das classes caducas da sociedade. O que significa, em suma, que, na sociedade dividida
em classes, a aplicação das leis sociais se efetva em agudo processo de luta de classes.”

A revolução não é um ato polítco que começa no dia a e termina no dia b. Não. Ela deve
criar um novo tpo de governo, a partr daí criar um novo tpo de Estado e promover as
pessoas, as classes e os grupos de interesse revolucionário para criar estruturas novas.

224
Como ensinou Engels, a violência não é resultado da organização polítca dos trabalhadores.
Pelo contrário: esta organização, quando se efetva, logra reduzir todos os tpos de violência
em todos os níveis da sociedade. No entanto, o desenvolvimento histórico até aqui não tem
se dado sem violência das classes exploradoras. Diz Engels:

“Qualquer operário socialista de qualquer nacionalidade que seja sabe perfeitamente que a
violência só ampara a exploração, mas não a origina; que sua exploração tem raiz nas relações entre
o capital e o trabalho assalariado e que estas relações surgiram de bases puramente econômicas, e
não por via da violência. (...) A propriedade privada não surge, em absoluto, na História, nem muito
menos como fruto do roubo ou da violência. A propriedade privada existe já, ainda que limitada a
certos objetos, nas antgas comunidades primitvas de todos os povos civilizados. Começa
desenvolvendo-se já no seio dessas comunidades, a princípio na troca com a gente de outras
comunidades, sob a forma de mercadoria. E quanto mais se acentua, nos produtos da comunidade, a
forma de mercadoria ou, o que dá no mesmo, quanto maior é a proporção em que esses artgos se
produzem não para a troca, quanto mais vai esta deslocando, ainda no seio da própria comunidade,
a originária e natural divisão do trabalho, mais se acentua também a desigualdade no estado de
fortuna dos diferentes membros da comunidade, mais se vai minando e socavando o velho regime de
propriedade comum do solo e mais rapidamente caminha a comunidade para sua dissolução, para
converter-se em aldeia integrada por lavradores proprietários de suas parcelas.”

O trabalhador não tem qualquer interesse na violência, porque o trabalhador não ampara a
exploração e a desigualdade. É apenas obrigado a viver com a violência gerada pelas relações
capitalistas e reforçada pela experiência de todas as sociedades anteriores montadas na
exploração. Engels detalha de modo cabal o desenvolvimento entre burguesia e violência:

“O revólver triunfará, pois, sobre a espada e, desse modo, até o mais pueril axiomátco terá de
reconhecer que a violência não é mero ato de vontade, senão que pressupõe condições prévias muito
reais para seu exercício, a saber: instrumentos, o mais perfeito dos quais supera o mais imperfeito;
que, além disso, estes instrumentos tveram de ser produzidos, o que equivale a dizer que o produtor
dos instrumentos de violência, vulgo armas, triunfa sobre o produtor dos mais imperfeitos, e que, em
poucas palavras, o triunfo da violência se baseia na produção de armas, e esta, por sua vez, na
produção em geral e, portanto, no ‘poder econômico’, na ‘situação econômica’, nos meios materiais
postos à disposição da violência.”

“A violência é, hoje em dia, o exército e a marinha de guerra e ambos custam, como sabemos por
dolorosa experiência, ‘montões de dinheiro’. Mas a violência é incapaz de criar dinheiro; no máximo,

225
pode arrebatar o já criado, e tampouco isto serve de grande coisa, como sabemos também por
dolorosa experiência dos milhares de milhões franceses. Em últma instância, será sempre, pois, a
produção econômica a que fornece o dinheiro; por onde voltamos a encontrar que a violência está
condicionada pela situação econômica, que é a que tem de dotá-la dos meios necessários para
equipar-se com instrumentos e conservá-los. Mas a coisa não termina aqui. Nada há que tanto
dependa da situação econômica prévia como, precisamente, o exército e a marinha. O armamento, a
composição do exército, a organização, a tátca e a estratégia dependem, antes de tudo, do grau de
produção imperante e do sistema de comunicações. Não foram as ‘livres criações da inteligência’ de
chefes militares geniais que atuaram de modo revolucionário, mas a invenção de armas mais
perfeitas e as mudanças experimentadas pelo material soldado; a infuência do chefe genial reduz-se,
no melhor dos casos, à adaptação dos métodos de luta às novas armas e aos novos lutadores.”

“Nos começos do século XIV, a pólvora passou dos árabes aos europeus do Ocidente e revolucionou
como sabe qualquer menino de escola, todos os métodos da guerra. Mas a introdução da pólvora e
das armas de fogo não foi, de modo algum, um ato de violência, mas um progresso industrial e,
portanto, econômico. A indústria não perde o seu caráter de indústria porque os seus produtos se
destnem a destruir objetos, e não a criá-los. E a introdução de armas de fogo não só infuiu nos
métodos de guerra, mas também nas relações polítcas de poder e servidão. Para conseguir pólvora e
armas de fogo faziam falta indústria e dinheiro, e ambos os elementos estavam em mãos dos vizinhos
das cidades. Por isso as armas de fogo foram, desde o primeiro momento, armas das cidades e da
monarquia ascensional, apoiada nestas, contra a nobreza feudal. As muralhas de pedra dos castelos
dos nobres, até então inexpugnáveis, sucumbiram ante os canhões dos burgueses, e as balas dos
arcabuzes da burguesia perfuraram as armaduras cavalheirescas. E, ao fundir-se a cavalaria dos
nobres com os seus arneses, fundiu-se também a dominação da nobreza; com o desenvolvimento da
burguesia, a infantaria e a artlharia se converteram, pouco a pouco, nas armas mais decisivas;
obrigado pela artlharia, o ofcio das armas teve de criar uma nova subseção plenamente industrial: a
da engenharia.”

Portanto, o aperfeiçoamento da “indústria de matar”, é uma partcularidade da sociedade


burguesa e do Estado burguês. Vem daí esses hipócritas e se espantam com o fato estrutural
de um Estado socialista, que seja uma ditadura de classe, em seu arcabouço, a serviço da
aliança operário-camponesa e, portanto, “não está bem”,... O fundamento histórico e
objetvo dos fatos são abandonados e o problema apreciado “apenas”, do ponto de vista
“moral”,. Diz Plekhanov:

226
“A atvidade humana define-se, aqui, ela própria, não como uma atvidade livre, mas como uma
atvidade necessária, quer dizer: subordinada a leis e podendo ser objeto de um estudo cientfico.
Assim, portanto, o materialismo histórico, assinalando constantemente que o meio é modificado
pelos homens, oferece, ao mesmo tempo, pela primeira vez, o meio de considerar o processo dessa
modificação do ponto de vista da ciência. E eis por que estamos no direito de dizer que a
interpretação materialista da História fornece os prolegômenos indispensáveis a toda doutrina
sociológica que pretenda o ttulo de ciência.”

Os marxistas sempre recusaram o ponto de vista da prioridade pseudo-moralista de “classes


civilizadas”, ou “cultvadas”, e outras “destrutoras da civilização”,, por serem formadas por
pobres ou por “estrangeiros”, (“bárbaros”,, no caso do Império Romano...). Estes pontos de
vista acreditam que as armas e os exércitos estão bem na mão das classes do passado
(latfundiários, burgueses), mas que não fcam bem nas mãos das classes do futuro (aliança
operário-camponesa). Logo, não pode haver um Estado fundado por classes pobres, mas só
fundado por classes ricas. Na verdade, os blocos de classe estão por toda a parte na história
e não são uma invenção dos marxistas. Diz Gramsci:

“A proposição contda na introdução à Crítca da Economia Polítca, segundo a qual os homens


tomam conhecimento dos confitos de estrutura no terreno das ideologias, deve ser considerada
como uma afirmação de valor gnosiológico, e não puramente psicológico e moral. Disto decorre que o
princípio teórico-prátco da hegemonia possui também uma importância gnosiológica; neste campo,
portanto, deve-se buscar a contribuição teórica máxima de Ilitch à filosofia da práxis. Ilitch teria feito
progredir, efetvamente, a filosofia como filosofia, na medida em que fez progredir a doutrina e a
prátca polítca. A realização de um aparato hegemônico, enquanto cria um novo terreno ideológico,
determina uma reforma das consciências e dos métodos de conhecimento, um fato filosófico. Em
linguagem crociana: quando se consegue introduzir uma nova moral adequada a uma nova
concepção do mundo, termina-se por introduzir também esta concepção, isto é, determina-se uma
reforma filosófica total.”

“A estrutura e as superestruturas formam um ‘bloco histórico’, isto é, o conjunto complexo –


contraditório e discordante – das superestruturas é o refexo do conjunto das relações sociais de
produção. Disto decorre: só um sistema totalitário de ideologias refete racionalmente a contradição
da estrutura e representa a existência das condições objetvas para a inversão da práxis. Se se forma
um grupo social 100% homogêneo ideologicamente, isto significa que existem 100% as premissas
para esta inversão da práxis, isto é, que o ‘racional’ é real atva e atualmente. O raciocínio se baseia

227
sobre a necessária reciprocidade entre estrutura e superestrutura (reciprocidade que é precisamente
o processo dialétco real).”

Seria profundamente ingênuo supor que um Estado revolucionário poderia tomar o


caminho da construção socialista, ao lado de potências imperialistas, como o caso alemão ou
cubano, sem precaver-se da tempestade de agressões de todas as formas de que será vítma,
desde os Estados controlados pelos monopólios. Ao longo de todo o processo, enquanto
exista o imperialismo, há o risco de um resultado funesto para as forças progressistas.
Recordam Rosenthal e Straks:

“Assim, por exemplo, Lênine, ao descobrir a essência do imperialismo, assinala os seus traços
econômicos fundamentais: 1) a concentração da produção e do capital atngiu um ponto tão alto de
desenvolvimento que fez surgir os monopólios, que desempenham papel decisivo na vida econômica;
2) opera-se a fusão do capital bancário com o industrial e surge, à base deste capital financeiro, a
oligarquia financeira; 3) a exportação de capitais, diferente da exportação de mercadorias, adquire
partcular importância; 4) formam-se agrupamentos monopolistas internacionais de capitalistas, que
dividem o mundo entre si; e 5) chega ao fim a divisão territorial do mundo entre as potências
capitalistas mais importantes. Dando a todos esses traços a forma lógica da definição, Lênine chega a
esta conclusão: ‘O imperialismo é o capitalismo na fase de desenvolvimento na qual tomou corpo a
dominação dos monopólios e do capital financeiro, adquiriu importância de primeira ordem a
exportação de capital, começou a repartção do mundo pelos trustes internacionais e terminou a
repartção do território do mesmo entre os países capitalistas mais importantes.’ (...) O conceito
leninista do imperialismo, por ser concreto e multlateral, expressa o que é o imperialismo de modo
mais profundo e mais completo que a simples descrição de uma de suas formas concretas.”

A existência do imperialismo e suas operações tornam máximas as desigualdades sociais e


nacionais, sendo que o cerne da polítca imperialista é a destruição nacional e cultural dos
países dominados. Dando valor exclusivamente a seus ganhos e à imposição de sua própria
cultura como mercadoria, o imperialismo está preparado para valer-se até da guerra, no
intuito de destruir qualquer Estado socialista ou simplesmente progressista. O mundo, para o
imperialismo, é apenas o teatro onde comete seus crimes e falcatruas. Tentar explicar em
nossa época qualquer confito, excluindo da análise a partcipação do imperialismo – como
fazem os socialdemocratas – é perder o próprio fo da explicação do mundo atual. Dizem
Rosenthal e Straks:

228
“O internacionalismo proletário exige que os interesses gerais do movimento operário fundam-se
com os interesses partculares da classe operária de cada país. (...) Quem luta pela felicidade de seu
povo não pode deixar de simpatzar com a luta que outros povos sustentam pela sua felicidade. (...)
Lênine considerava como tarefa fundamental do partdo proletário a necessidade de estudar, de
descobrir e captar o específico, o partcular, o nacional, no modo concreto de cada país resolver uma
tarefa internacional comum.”

Ora, um Estado democrátco, popular ou socialista não poderá sobreviver se suas forças
militares não forem educadas na doutrina socialista, se os dirigentes das mesmas não forem
quadros revolucionários, se a prátca de sua existência excluir a solidariedade internacional
das classes trabalhadoras, o internacionalismo proletário. A presença do que é morto, requer
a ação do que é vivo. Disse Marx:

“Em todas as outras esferas, estamos, como todo o oeste da Europa contnental, apertados pelo
desenvolvimento da produção capitalista e, também, pela falta desse desenvolvimento. Entre os
males da época atual, temos de suportar uma longa série de males hereditários, provenientes da
vegetação contnua de modos de produção que viveram, com o seguimento das relações polítcas e
sociais, contra o tempo que eles geram. Sofremos não somente da parte dos vivos, mas ainda da
parte dos mortos. O morto sufoca o vivo! ”

Os restos do capitalismo e as putrefações das sociedades anteriores que ele teve por bem
preservar servirão como difculdades a uma sociedade socialista, talvez por mais de uma
centena de anos, após o desaparecimento do imperialismo. É ilusório supor que dessas
ruínas que já começam a se produzir não advenham todos os tpos de venenos materiais e
ideológicos para tornar velho e doento o que se propõe novo e sadio. A fdelidade e o
aperfeiçoamento da doutrina socialista requer uma luta constante; e a ditadura do
proletariado no sistema socialista é parte indesligável dessa luta.

“Todas as nações chegarão ao socialismo – escrevia V.I. Lênine – isso é inevitável, mas não chegarão
todas de maneira absolutamente idêntca, cada uma levará a sua originalidade numa ou noutra
forma de democracia, numa ou noutra variedade da ditadura do proletariado, num ou noutro ritmo
das transformações socialistas dos diferentes aspectos da vida social.”

“A primeira forma histórica de ditadura do proletariado foi a Comuna de Paris. Ela existu muito
pouco tempo: de 18 de março a 28 de maio de 1871, e foi esmagada pelos esforços conjugados da

229
contra-revolução externa e interna. Apesar de sua curta existência, a Comuna de Paris legou ao
proletariado uma importante experiência histórica.”

“A revolução socialista vitoriosa na Rússia criou outra forma de ditadura do proletariado: o poder
dos Sovietes. Esta forma de organização estatal resultou das necessidades da luta dos trabalhadores
e foi criada pelas próprias massas. Quais são as partcularidades distntvas dos Sovietes? Os Sovietes
eram organizações de classe que ofereciam unicamente aos operários, camponeses e intelectuais
trabalhadores a eles aderentes a possibilidade de elegerem e de serem eleitos. No período de
transição, os Sovietes eram eleitos diretamente nas fábricas, empresas, unidades militares, etc., ou
seja, não segundo o princípio territorial, mas segundo o da produção.”

4 – As Leis Gerais e as Partcularidades Nacionais.

O desenvolvimento histórico da humanidade se faz através de inúmeras humanidades


concretas neste e naquele país, humanidades locais que apresentam característcas comuns,
traços universais, mas também traços singulares, que não se manifestam em outros
agrupamentos humanos, mas neste ou naquele apenas. Por isso, criam-se nos homens tanto
ideias verdadeiras sobre a humanidade quanto ideias falsas sobre o lugar social da
diferenciação e seu papel. É claro que se pode e se deve aprender das característcas gerais
até de fatos ainda não ocorridos em nossa sociedade, mas sim em outras, mantendo,
contudo, os olhos abertos para o desenvolvimento da realidade de que partcipamos. Diz
Lênine:

“A História, em geral, e das revoluções, em partcular, é sempre mais rica de conteúdo, mais variada
de formas e aspectos, mais viva e mais ‘astuta’ do que imaginam os melhores partdos, as
vanguardas mais conscientes das classes mais avançadas. E isso é compreensível, pois as melhores
vanguardas exprimem a consciência, a vontade, a paixão e a imaginação de dezenas de milhares de
homens acicatados pela mais aguda luta de momentos de exaltação e de tensão especiais de todas as
faculdades humanas, pela consciência, vontade, paixão e imaginação de dezenas de milhões de
homens, enquanto que a revolução é feita em classes. Daí se depreendem duas conclusões prátcas
muito importantes: 1) a classe revolucionária, para realizar sua missão, deve saber utlizar todas as
formas ou aspectos, sem a menor exceção, da atvidade social (terminando depois da conquista do
poder polítco, às vezes com grande risco e imenso perigo, o que não terminou antes dessa

230
conquista); 2) a classe revolucionária deve estar preparada para substtuir uma forma por outra, do
modo mais rápido e inesperado.”

Esses riscos e perigos não podem apenas se manifestar tal qual já foram ocorridos, mas
expressar as formas partculares com que se transforma a sociedade local e o aprendizado de
todas as classes ali existentes, com os fenômenos sociais ocorridos e a ocorrer em outros
países.

Um movimento social só pode ser conduzido a partr de suas próprias condições de


existência e ele vem a serpentear entre as estruturas e superestrutura da sociedade
específca onde se dá, marcada por inúmeros traços únicos que expressam, por exemplo, o
grau civilizatório das classes dominantes, o desempenho do Estado local nas crises, a
personalidade dos chefes no poder em dado momento, etc. Como disse Lênine:

“Mas os revolucionários que não sabem combinar as formas ilegais de luta com todas as formas
legais são péssimos revolucionários. Não é difcil ser revolucionário quando a revolução já estourou e
está em seu apogeu, quando todos aderem à revolução simplesmente por entusiasmo, modismo e,
inclusive, às vezes, por interesse pessoal de fazer carreira. Custa muito ao proletariado, causa-lhe
duras penas, origina-lhe verdadeiros tormentos, ‘desfazer-se’, depois do triunfo, desses
‘revolucionários’. É muitssimo mais difcil – e muitssimo mais meritório – saber ser revolucionário
quando ainda não existem as condições para a luta direta, aberta, autentcamente revolucionária,
saber defender os interesses da revolução (através da propaganda, da agitação e da organização) em
insttuições não revolucionárias, numa situação não revolucionária, entre massas incapazes de
compreender imediatamente a necessidade de um método revolucionário de ação. Saber ou a
modificação partcular dos acontecimentos suscetíveis de levar as massas à grande luta
revolucionária, verdadeira, final e decisiva, é a principal missão do comunismo contemporâneo na
Europa Ocidental e na América. (...) Afinal de contas, a cisão é melhor que a confusão, que impede o
desenvolvimento ideológico, teórico e revolucionário do Partdo e seu amadurecimento, assim como
seu trabalho prátco unitário, verdadeiramente organizado, que realmente prepare a ditadura do
proletariado.”

Lênine se referia ao processo de formação da Terceira Internacional (1918-1922), com a


necessidade de separar-se das estratégias e da prátca da Segunda Internacional. A luta,
portanto, se desdobra num contexto internacional e num contexto nacional e as questões
nacionais e gerais devem ser cuidadosamente conhecidas e analisadas. Fatos que se dão no

231
contexto internacional podem trazer difculdades ou facilidades tanto para a estratégia local,
quanto para o trabalho no plano tátco. A força de um dado movimento social pode
multplicar-se ou se debilitar, considerando as relações entre ambos os contextos. É
necessário combinar a sabedoria no plano local com os ensinamentos que decorrem da
situação mundial. Disse Lênine:

“A liberdade polítca não libertará imediatamente os operários da miséria, mas lhes fornecerá
armas para lutar contra ela. Não existe nem pode existr outro meio de lutar contra a miséria senão
a união dos próprios operários. Não há possibilidade de união para milhões de homens enquanto
não houver liberdade polítca. (...)”

“Por isso, é preciso diferenciar muito bem este primeiro passo dos outros passos, assim como de
nosso últmo passo principal. O primeiro passo, no campo, é a libertação completa do camponês, a
concessão de plenos direitos, a organização de comitês camponeses para a recuperação das parcelas.
Nosso últmo passo, tanto na cidade como no campo, consistrá em confscar todas as terras e todas
as fábricas dos latfundiários e da burguesia e estabelecer a sociedade socialista. Entre o primeiro e
o últmo passo teremos de travar não poucas lutas, e quem confundir o primeiro passo com o
últmo preuudica esta luta e inconscientemente coloca uma venda nos olhos dos camponeses
pobres. (...) Os que dizem aos camponeses que o primeiro e o últmo passo podem ser dados juntos,
enganam o mujique. Aqueles que afirmam tal coisa esquecem a grande luta entre os próprios
camponeses, a grande luta entre os camponeses pobres e os camponeses ricos. (...)”

“Em todo o caso, ocorra um ou outro caso, nossa primeira tarefa, nossa tarefa principal indefectvel
será: fortalecer a aliança dos proletários e semiproletários do campo com o proletariado da cidade.
Para esta aliança, necessitamos, agora mesmo, imediatamente, de plena liberdade polítca para o
povo, igualdade completa de direitos para os camponeses e a supressão do avassalamento feudal.
E, quando esta aliança se forjar e se consolidar, então desmascararemos todas as mentras de que se
vale a burguesia para iludir o camponês médio; daremos, então, rápida e facilmente, contra toda a
burguesia e todas as forças do governo, o segundo, o terceiro e o últmo passo; marcharemos, então,
com firmeza, para a vitória, e conseguiremos rapidamente a libertação completa de todo o povo
trabalhador. (...)”

Para se dar cada passo no plano interno é necessário conhecer a realidade local, a qual só
nos pode ser dada pelos membros do povo trabalhador. Com as necessidades e o
conhecimento da vida do povo trabalhador, podemos elaborar nossa estratégia para chegar à
vitória no plano local e inseri-la em cada etapa previsível do desdobramento de forças no

232
plano internacional. Habilitados assim como materialistas a acompanhar a marcha efetva da
história, podemos fazer a história trabalhar para os nossos objetvos, dando um passo
correto de cada vez.

Lênine chamou à atenção que quanto maiores sejam as vitórias dos pobres trabalhadores,
mais unida e implacável será a burguesia na arte de combatê-los. Isso requer, portanto, um
elevado grau de consciência e disciplina do movimento trabalhador para assegurar cada
êxito parcial de suas metas na luta. Disse Lênine:

“A revolução distngue-se da luta corrente porque o número de pessoas que tomam parte no
movimento é dez, cem vezes maior, e neste sentdo cada revolução implica sacrifcios não só para
alguns, mas para toda a classe. (...) Mas, certamente, na Rússia, os camponeses saíram ganhando,
com a revolução, mais do que a classe operária. Disto não pode haver a menor dúvida. Do ponto de
vista teórico, isto indica, é claro, que nossa revolução era, em certo sentdo, burguesa. Quando
Kaustky esgrimiu contra nós esse argumento, pusemo-nos a rir. É natural que sem expropriar, a
grande propriedade agrária, sem derrubar os grandes latfundiários e sem repartr a terra, a
revolução é somente burguesa, e não socialista. Não obstante, fomos o único partdo que soube levar
a revolução burguesa até o fim, e facilitar a luta pela revolução socialista.”

A elaboração de um plano tátco, correto, expressa a integração em elevado grau entre as


condições gerais que se impõem ao processo revolucionário local e as necessidades
consideradas fundamentais desse próprio processo. A vitória não sorrirá àquelas falhas de
planejamento que não permitam acumular forças a cada passo da luta. Disse Lênine:

“Todas estas teses do marxismo foram demonstradas e repetdas com todos os detalhes, tanto em
geral como especificamente em relação à Rússia. E destas teses se conclui que é uma ideia
reacionária procurar a salvação da classe operária em alguma coisa que não seja o maior
desenvolvimento do capitalismo. Em países como a Rússia, a classe operária sofre não tanto pelo
capitalismo como pela insuficiência do desenvolvimento do capitalismo. Por isso, a classe operária
está absolutamente interessada no desenvolvimento mais amplo, mais livre, mais rápido do
capitalismo. É absolutamente benéfca à classe operária a eliminação de todas as reminiscências do
passado, que entorpecem o desenvolvimento amplo, livre e rápido do capitalismo. A revolução
burguesa é precisamente a revolução que, de modo mais decidido, varre os restos do antgo, as
reminiscências do feudalismo (às quais pertence não só a autocracia, mas também a monarquia) e
que de modo mais completo garante o desenvolvimento mais amplo, mais livre e mais rápido do
capitalismo.”

233
“Por isso, a revolução burguesa é extremamente benéfca para o proletariado. A revolução
burguesa é absolutamente necessária aos interesses do proletariado. Quanto mais completa e
decidida, quanto mais consequente for a revolução burguesa, tanto mais garantda estará a luta do
proletariado contra a burguesia pelo socialismo. Esta conclusão pode parecer nova, estranha e
paradoxal unicamente aos que ignoram o a-bê-cê do socialismo cientfico. E desta conclusão, diga-se
de passagem, depreende-se, igualmente, a tese de que, em certo sentdo, a revolução burguesa é
mais benéfca para o proletariado do que para a burguesia. Eis aqui justamente em que sentdo essa
tese é indiscutvel: à burguesia convém apoiar-se em algumas sobrevivências do passado contra o
proletariado, por exemplo, na monarquia, no exército permanente, etc. À burguesia convém que a
revolução não elimine completamente todas as sobrevivências do passado, e sim que deixe de pé
algumas delas: isto é, que esta revolução não seja inteiramente consequente, não seja levada até o
final, não seja decidida e implacável. (...)”

“A própria situação da burguesia, como classe, na sociedade capitalista, engendra, inevitavelmente,


sua inconsequência na revolução democrátca. A própria situação do proletariado, como classe,
obriga-o a ser democrata consequente. A burguesia, temendo o progresso democrátco, que ameaça
com o fortalecimento do proletariado, olha para trás. O proletariado nada tem a temer, exceto suas
cadeias, e adquire, com a ajuda da democracia, todo um mundo. Por isso, quanto mais consequente é
a revolução burguesa, em suas transformações democrátcas, menos se limita ao que beneficia
exclusivamente a burguesia. Quanto mais consequente é a revolução burguesa, tanto mais garante as
vantagens do proletariado e dos camponeses na revolução democrátca. (...)”

Ou seja, Lênine aqui nos ensina com toda clareza que o melhor a fazer é o que deve ser feito
e não aquilo que se desejaria fazer. Tal decorre da análise necessária da correlação entre o
geral e o partcular, decorrer do conhecimento e da inclusão do que é singular em cada caso
histórico – concreto. A eliminação do subjetvismo e a análise minuciosa das condições
objetvas permite o conhecimento da sucessão de passos necessários. É a única forma de
apressar a história e não a assunção de afrmações grandiloquentes. Somente o método
marxista pode armar o movimento social com o conhecimento crítco que deriva da análise
da história. Diz Engels; referindo-se ao método dialétco de Hegel:

“Na Fenomenologia, na Estétca, na História da Filosofa vemos sempre refetda essa grandiosa
concepção da História, encontramos sempre a matéria tratada historicamente, em determinada
conexão com a História, embora esta conexão apareça invertda de modo abstrato.”

234
“Esta concepção da História, que fez época, foi a premissa teórica direta da nova concepção
materialista, e já isso criava também um ponto de ligação para o método lógico. Se, mesmo do ponto
de vista do "pensamento puro”, esta dialétca esquecida conduziria a tais resultados, e se, ademais,
acertara contas com toda a lógica e a metafsica anteriores a ela, indubitavelmente tnha de haver
nela alguma coisa mais que sutleza sofstca e pedante. Mas, empreender a crítca desse método,
trabalho que fez e ainda faz recuar toda a filosofia oficial, não era coisa de pouca monta.”

Marx e Engels dedicaram-se então (1843-1860) à tarefa de inverter o método dialétco de


Hegel, criando com ele o materialismo histórico, que permitu a construção de uma nova
forma de analisar e compreender o meio social, tal como se lê em Ideologia Alemã, O
Capital, Ant-DDhring, etc. O desenvolvimento do método dialétco permite entender cada
situação em sua atualidade, enquanto ocorre, e prever, portanto, o desdobramento das
forças ali detectadas. Diz Engels:

“Mesmo depois de descoberto o método, e de acordo com ele, a crítca da economia polítca podia
ser empreendida de dois modos: o histórico e o lógico. Como na História, do mesmo modo que no seu
refexo literário, as coisas se desenvolvem, também, a grandes traços, do mais simples para o mais
complexo, o desenvolvimento histórico da literatura sobre a economia polítca fornecia um fio natural
de engrazamento para a crítca, pois, em termos gerais, as categorias econômicas apareciam aqui na
mesma ordem do seu desenvolvimento lógico. Esta forma apresenta, aparentemente, a vantagem de
maior clareza, posto que nela se acompanha o desenvolvimento real das coisas, mas, na prátca, a
única coisa que se conseguiria, no melhor dos casos, seria popularizá-la. A História se desenvolve,
com frequência, aos saltos e em ziguezagues, e seria preciso acompanhá-la assim, em toda a sua
trajetória, com o que não só se colheriam muitos materiais de escassa importância, mas também se
teria de romper, muitas vezes, a ilação lógica. Ademais, a história da economia polítca não poderia
ser escrita sem a da sociedade burguesa, com o que a tarefa se tornaria interminável, já que faltam
todos os trabalhos preparatórios. O único método indicado era o lógico, portanto. Mas este não é, na
realidade, senão o método histórico, despojado apenas de sua forma histórica e das contngências
perturbadoras. Ali onde começa a História deve começar também a cadeia do pensamento, e o
desenvolvimento ulterior desta não será mais que a imagem refexa em forma abstrata e
teoricamente consequente da trajetória histórica, uma imagem refexa corrigida, mas corrigida de
acordo com as leis que a própria trajetória histórica fornece; e, assim, cada fator pode ser estudado
no ponto de desenvolvimento da sua plena maturidade, na sua forma clássica.”

235
Assim, Engels, no texto “Contribuição à Crítca da Economia Polítca de Karl Marx”, contnua
nos descrever a elaboração do método marxista:

“Com esse método, partmos sempre da relação primeira e mais simples que existe historicamente,
de fato: aqui, portanto, da simples relação econômica, isto é, da primeira relação econômica que
encontramos. Logo, iniciamos a sua análise. No simples fato de tratar-se de uma relação, já vai
implícito que há dois lados que se relacionam entre si. Cada um desses dois lados é estudado
separadamente, de onde logo se depreende a sua relação recíproca e a sua interação. Encontramos
contradições que exigem solução. Mas, como aqui, não seguimos um processo abstrato de
pensamento, que se desenrola apenas na nossa cabeça, mas uma sucessão real de fatos, ocorridos
real e efetvamente em alguma época, ou que ainda contnuam ocorrendo, essas contradições terão,
também, surgido na prátca e nela terão, também, encontrado, provavelmente, sua solução. E se
estudarmos o caráter dessa solução, veremos que esta se verifica criando nova relação, cujos dois
lados contrapostos precisaremos desenvolver em seguida, e assim sucessivamente.”

“A economia começa pela mercadoria, pelo momento em que se trocam uns produtos por outros,
seja por obra de indivíduos isolados, seja por comunidades de tpo primitvo. O produto que entra em
intercâmbio é uma mercadoria. Mas o que converte em mercadoria é, pura e simplesmente, o fato de
que a coisa, ao produto, vai ligada uma relação entre duas pessoas ou comunidades, a relação entre
o produtor e o consumidor, que, aqui, já não se confundem na mesma pessoa. Eis aqui o exemplo de
um fato peculiar, que atravessa toda a economia, e que produziu lamentáveis confusões na cabeça
dos economistas burgueses. A economia não trata de coisas, mas de relações entre pessoas e, em
últma instância, entre classes; embora estas relações estejam sempre ligadas a coisas e apareçam
como coisas. Embora um ou outro economista já tvesse vislumbrado, em casos isolados, esta
conexão, foi Marx quem a descobriu quanto ao seu alcance para toda a economia, simplificando e
esclarecendo assim os problemas mais difceis, a tal ponto que, hoje, até os próprios economistas
burgueses podem compreendê-los. (ENGELS: ‘A Contribuição à Crítca da Economia Polítca de Karl
Marx’, in Obras Esc., págs. 310/311,I.)”

A descoberta de aparentes atos individuais como uma vida de relações entre as classes
pratcamente referendou as ciências sociais e retrou o conhecimento da vida real do terreno
das intrigas para o terreno das objetvações. Como diz Rosenthal:

“Donde a conclusão seguinte: pois que é partndo da forma a mais desenvolvida e relatvamente a
mais acabada de um fenômeno que se pode compreender melhor, em sua essência íntma, sua lógica,
sua lei, é preciso, portanto, dispor os dados históricos de certo modo, que não concorda sempre com o

236
curso geral da História. O histórico é a própria vida. O lógico é a essência da vida, desembaraçada
pela pesquisa teórica. A força da démarche lógica é de revelar essa essência do histórico, esta linha
principal do desenvolvimento, expurgada de tudo o que obscurece (...). Mas, ao mesmo tempo, como
o lógico é um histórico apurado, o método lógico não pode e não deve seguir cegamente todas as
peripécias históricas, e quando uma seleção é necessária, em vista de reproduzir mais profundamente
a realidade no pensamento, ele seleciona do curso histórico concreto e dispõe as categorias não mais
segundo a História, mas segundo a lógica do desenvolvimento. (...) Quando, fazendo uma paisagem,
ele omite detalhes inúteis, elementos acidentais, isto não visa desnaturar o quadro objetvo, mas
expressar com mais precisão o que há de característco, de tpico, na natureza que representa. De
outro modo: sua attude é comandada pelo próprio objeto representado. Um mau retratsta,
procurando reproduzir o mais fielmente possível os traços de um rosto, faz o seu melhor esforço para
que tudo seja semelhante: os cabelos, a tez e mil outros detalhes acidentais. O verdadeiro pintor, ao
contrário, esforça-se por extrair e traduzir a essência, o fundo mais íntmo de seu modelo, e, para esse
fim, não procura sublinhar este ou aquele detalhe acidental. É claro que o segundo pintor, e não o
primeiro, é que representa mais fielmente a realidade. (...)”

“A história cientfica da evolução da sociedade visa representar os acontecimentos com suas leis e
sua lógica, determinados pelo próprio curso objetvo do desenvolvimento. No complexo
encadeamento, muitas vezes caótco, dos acontecimentos, ela põe em destaque a linha lógica
principal da evolução que decorre das leis objetvas da História. Não há, portanto, por esse lado,
nenhuma diferença de princípio entre os dois métodos de pesquisa, o histórico e o lógico. Um e outro,
sendo cientficos, tem por missão estudar os fenômenos em seu determinismo. Mas, à diferença do
método lógico, o método histórico ‘veste’ a linha lógica fundamental com o sangue e a carne dos
acontecimentos concretos, seguindo passo a passo esses acontecimentos, refetndo toda a
contnuidade histórica de seu aparecimento e de seu desenvolvimento. (...)”

Enquanto que ao trabalhador, desavisado à sua situação, parece derivar o mal da maldade
pessoal de seu patrão, o trabalhador politzado, armado com o método marxista, sabe à
perfeição que todos os patrões, bons e maus, são objetvamente exploradores pela natureza
do sistema capitalista. A retrada do problema do ânmbito das relações pessoais o coloca
certamente no ânmbito da relação das classes sociais e permite ao trabalhador armar-se de
uma estratégia e uma tátca para a mudança do mundo (e não “apenas”, de sua situação
pessoal). Como diz Rosenthal:

237
“A verdadeira ciência histórica, assim, não nasce do registro ou da descrição dos fatos singulares do
passado, senão do descobrimento das leis que regem o desenvolvimento da sociedade.”

A compreensão de que as relações pessoais se fundamentam nas relações de classe é um


passo adiante enorme no processo da luta social, porque permite clarifcar o horizonte
polítco das contradições e estabelecer o privado da luta polítca, o que exige vida
democrátca e amplia o espaço da luta por mais democracia. Isso em absoluto não é
compreendido pela burguesia e pelos fascistas, que não podem tolerar a presença do
proletariado na cena polítca. Como diz Rosenthal:

“Por histórico entende-se a realidade objetva, que existe independentemente da consciência, do


sujeito cognoscente; a realidade que se desenvolve historicamente e acha-se em estado constante de
mudança. A categoria do histórico refete o caráter histórico e mutável do mundo objetvo. O lógico é
uma forma de conhecimento, o refexo da realidade, a cópia intelectual ou imagem dela; é, também,
determinada forma do movimento do pensamento para o objeto. (...) O lógico e o histórico acham-se
em unidade e devem considerar-se em íntma relação. A isso há que acrescentar que se trata de
unidade em que o histórico, quer dizer, o mundo objetvo em desenvolvimento, determina o lógico, e
na qual o lógico é refexo do histórico, é derivado em relação a ele.”

A possibilidade de liberar logicamente a cabeça das pessoas para o entendimento do


mundo é a premissa para o entendimento das “diferentes camadas”, de realidade que
consttuem o mundo. É a descoberta de tornar um operário o intelectual que desvela o seu
lugar no mundo e se vê capaz de partcipar da construção de uma vida nova. A compreensão
do que é geral e do que é partcular é a porta aberta a esta nova vida. Diz Marx:

“Em geral, as criações históricas completamente novas estão destnadas a serem tomadas como
reprodução de formas velhas e mesmo mortas da vida social, com as quais podem ter certa
semelhança. (...) Em todas as revoluções, ao lado dos verdadeiros revolucionários, aparecem homens
de outra têmpera. Alguns, sobreviventes de revoluções passadas, que conservam sua devoção por
elas, sem visão do movimento atual, donos ainda, porém, de sua infuência sobre o povo, por sua
conhecida honradez e valenta ou, simplesmente, por força da tradição; outros são simples charlatães
que, em virtude de repetr, ano após ano, as mesmas objurgatórias estereotpadas contra o governo
do dia, conseguiram fazer-se passar por revolucionários de pura cepa.”

238
5 – A Superioridade do Socialismo Sobre o Capitalismo.

O socialismo é superior ao capitalismo no sentdo em que dele decorre, isto é, para que o
socialismo se haja colocado na agenda do mundo, foi necessário viver-se e superar-se, no
plano da experiência concreta, o capitalismo. Também é verdade que uma nova sistemátca
de vida não se implanta do dia para a noite, mas através do emaranhado de ziguezagues da
história. O capitalismo como sistema ofereceu-se à vida social na economia mercantl, mas
levou cinco séculos para triunfar. A luta pela sua implantação enriqueceu o conhecimento e a
experiência histórica da humanidade e não foi, nem poderia ser uma experiência que se
pudesse dispensar. De forma semelhante, vivemos hoje o começo do período de transição do
capitalismo para o socialismo e vemos a superioridade do socialismo já nas pessoas que,
geração após geração, lutam para esclarecer os objetvos do socialismo, aperfeiçoar onde
seja possível a experiência da vida no sistema capitalista; e fazer deslanchar e crescer a via
socialista da humanidade. Indubitavelmente, o mundo marcha para o socialismo.

A luta pela partcipação consciente das massas populares e dos quadros socialistas para
formar a consciência socialista dentro da sociedade do capital é um dos germes decisivos
capazes de propiciar o nascimento da nova sociedade. O quadro socialista luta
permanentemente contra a cupidez de muitos e o egoísmo; contra o desejo de não poucos,
partcularmente elemento das classes dominantes, de que nada mude e a desigualdade e a
miséria contnuem a reinar. O reforço da escassez, do uso desigual dos recursos para ampliar
a desigualdade, é a grande arma dos ideólogos capitalistas para preservar seu regime e levar
as massas do povo a colaborar com ele. Infelizmente, devido ao desenvolvimento desigual
crescente entre as nações, fundamentado na concentração de riqueza e recursos., tem-se
que a revolução – na época do imperialismo – se dá sempre no “elo mais fraco”,. Os países
que não são centrais e que são mais ferozmente explorados são aqueles onde tende a se
efetvar a luta revolucionária, o que agrava sobremaneira, diante da vitória, as difculdades
para se tomar a construção socialista. A aparente casualidade demonstra assim as suas
necessidades históricas. Como diz Rosenthal:

“Ao desenvolvimento histórico real são inerentes muitos elementos casuais que, com frequência,
escondem a verdadeira essência, o refexo lógico prescinde de semelhantes elementos casuais e
inumeráveis fatos secundários e nos mostra os fenômenos sob a forma pura e clara em extremo com
que se manifestam, com seus traços mais essenciais.”

239
A exploração extrema, assim, debilita as estruturas da sociedade de exploração. Ao lado da
prosperidade e da riqueza de parte da população, cada sociedade capitalista exibe a
inferioridade de seu sistema, com milhões de desempregados, de enjeitados sociais,
multdões de miseráveis sem teto, alimento e assistência à saúde, caminhando pelas ruas.
Essas característcas não são necessariamente herdadas de “sociedades anteriores”,, porque
tal não se viu nem em aldeias de indígenas, nem na sociedade mercantl. Como frisou Stálin:

“Nos países capitalistas a industrialização se fez, habitual e principalmente, pelo roubo aos outros
países, pelo roubo às colônias ou aos países derrotados, ou com ajuda de empréstmos substanciais e
mais ou menos escravizantes do exterior.”

“Todos sabem que durante séculos a Grã-Bretanha recolheu capital de todas as suas colônias e de
todas as partes do mundo e foi capaz, dessa maneira, de investmentos adicionais em sua indústria.
Isso, incidentalmente, explica por que ela se tornou, em certo momento, a ofcina do mundo.”

“Todos sabem também que a Alemanha desenvolveu sua indústria com a ajuda, entre outras coisas,
dos cinco bilhões de francos que recebeu como indenização da França, depois da guerra franco-
prussiana.”

“Um aspecto no qual nosso país difere dos países capitalistas é que ele não pode e não deve pratcar
o roubo colonial, ou o saque de outros países em geral. Esse caminho, portanto, está fechado para
nós.”

“O que resta, então? Apenas uma coisa, desenvolver a indústria, industrializar o país, com a ajuda
de acumulação internas...”

“Mas quais as principais fontes dessas acumulações? Como disse, há apenas duas fontes: primeiro, a
classe operária, que cria valores e faz progredir nossa indústria; segundo, os camponeses.”

“A situação com os camponeses, sob esse aspecto, é a seguinte: eles não só pagam ao Estado os
tributos habituais, diretos e indiretos, como também pagam em excesso, nos preços relatvamente
altos dos produtos manufaturados – e isso em primeiro lugar; e os camponeses são em maior ou
menor grau pagos de menos nos preços dos produtos agrícolas – e isso em segundo lugar.”

“Isso representa um tributo adicional imposto aos camponeses para a promoção da indústria, que
beneficia todo o país, inclusive a eles. Isso representa mais ou menos um “tributo” ou um
superimposto, que somos obrigados a cobrar de tempos em tempos, para preservar e acelerar nossa
atual taxa de desenvolvimento industrial, para assegurar uma indústria a todo país...”

240
“Não se pode negar que seja uma situação desagradável. Mas não seríamos bolchevistas se
fechássemos nossos olhos ao fato de que, infelizmente, nossa indústria e nosso país não podem, no
momento, dispensar esse tributo adicional sobre os camponeses.”

Ou seja, na sociedade socialista, vedado o roubo de povos estrangeiros, é da riqueza criada


pelos operários e camponeses que se forma o fundo de acumulação para gerar o capital fxo
necessário a assegurar a expansão da produção e o aumento da produtvidade. Este fato,
apontado pelos capitalistas como um dos defeitos do socialismo é, na verdade, um elemento
de superioridade do sistema socialista: a eliminação do roubo e da pilhagem a nível
internacional.

Para os capitalistas, o segundo defeito do socialismo é seu esforço para manter empregada
toda a população. No capitalismo, ao aumento da acumulação corresponde enormes
expansões na composição orgânnica do capital, para poupar trabalho vivo e ampliar o
desemprego da força de trabalho. A função porque o capitalismo reforça o desemprego é
para aumentar o lucro e fazer cair os salários dos trabalhadores além da fronteira de
subsistência. Portanto, este “defeito”,, manter o trabalhador empregado é outro fator de
superioridade do socialismo sobre o capitalismo.

Mas o capitalismo não se otmiza através do desemprego apenas na indústria. Ele elimina o
emprego na economia agrícola, utlizando o maquinário, os pestcidas e os fertlizantes como
substtutos de procedimentos da força de trabalho, que se vê daí, desempregada. Diz Marx:

“Tão logo a produção capitalista se apossa da agricultura, e na medida em que o faz, a procura de
força de trabalho agrícola cai de maneira absoluta, enquanto a acumulação do capital empregado na
agricultura aumenta, sem que essa repulsão seja, como nas indústrias não agrícolas, compensada
por uma maior atração. Parte da população agrícola fica, portanto, constantemente na iminência de
passar para o proletariado urbano ou industrial, e à procura de circunstâncias favoráveis a essa
transformação... Mas o fuxo constante para as cidades pressupõe, no próprio campo, uma população
excedente, latente e constante, cujas proporções só se tornam evidentes quando seus canais de saída
se abrem de maneira excepcional. O trabalhador agrícola fica, portanto, reduzido aos menores
salários, e sempre atem um pé mergulhado no pântano da miséria.”

Quanto ao socialismo, dá-se direção diferente na economia agrícola. As fazendas socialistas


e as chácaras camponesas são estruturadas para colocar a técnica e os procedimentos a

241
serviço da condição humana, da defesa dos interesses da família camponesa e da população
urbana. A produtvidade não é obtda pela eliminação produtva do trabalhador. Nesse caso,
a elevação da renda rural não é vista apenas como um “custo”,. A “inferioridade”, socialista é
uma vez mais condição superior, posta a serviço do ser humano (aquilo que os economistas
burgueses chamam “produto marginal zero”,). Como diz Mao Tsé-Tung, “quem entende da
produção agrícola são os camponeses, e não os economistas”,. Lênine chamou a atenção que
no capitalismo, a lei do mundo agrícola é o “salve-se quem puder”,:

“... estão presentes todas as contradições inerentes a toda economia mercantl e todo tpo de
capitalismo: concorrência, luta pela independência econômica, a tomada das terras (compráveis e
rentáveis), a concentração da produção nas mãos de uma minoria, a transferência forçada da
maioria para as fileiras do proletariado, sua exploração por uma minoria através do capital comercial
e da contratação de trabalhadores rurais. Não há um único fenômeno econômico entre os
camponeses que não tenha essa forma contraditória, especificamente peculiar ao sistema capitalista,
isto é, que não expresse uma luta e um antagonismo, que não encerre vantagem para alguns e
desvantagens para outros. É o que ocorre com o arrendamento de terra, com a compra de terra, e
com as “indústrias” em seus tpos diametralmente opostos. É o que ocorrer também com o progresso
técnico na agricultura.”

Portanto, o brutal processo de exploração dos trabalhadores rurais, operários ou


camponeses, explica porque o socialismo, ao resultar da aliança operário-camponesa, não
poderia tomar o caminho de “superioridade”, do capitalismo no campo, e ampliar a miséria
daqueles trabalhadores. Diz Kozminov:

“Todo o curso do desenvolvimento do modo de produção capitalista e da luta de classes na


sociedade burguesa conduz inevitavelmente à substtuição revolucionária do capitalismo pelo
socialismo. O capitalismo engendra a grande produção mecânica, que é a premissa material da
passagem ao socialismo. O desenvolvimento do capitalismo prepara a força social, que o proletariado
representa, incumbida de realizar esta passagem.”

“Em virtude da sua situação econômica, o proletariado é a única classe capaz de unificar em torno
de si todos os trabalhadores para a liquidação do capitalismo e a vitória do socialismo. Como foi dito
acima, atnge a agudeza sem precedentes, na época do imperialismo, o confito entre as forças
produtvas em crescimento e as relações de produção burguesas, que se tornam grilhões para estas
forças produtvas. A lei da correspondência das relações de produção ao caráter das forças
produtvas exige a liquidação das velhas relações de produção burguesas e a criação de novas

242
relações de produção socialistas. Daí decorre a necessidade objetva da revolução proletária,
socialista.”

“A revolução socialista se distngue, por princípio, de todas as revoluções que a precederam. Na


passagem do regime escravista ao feudalismo e do regime feudal ao capitalista, uma forma de
propriedade privada era substtuída por outra forma de propriedade privada, ao poder de uns
exploradores se sucedia o poder de outros exploradores.”

Portanto, as forças socialistas, ao promover a revolução agrária, não poderiam permitr que
o modelo instaurado no campo mantvesse ou restaurasse a escravidão do trabalhador rural,
tomando, sim, as medidas polítcas necessárias à sua libertação, ao entregar-lhe o poder
sobre a organização social do campo (conselhos de trabalhadores) e utlizando a técnica e a
pesquisa a serviço do progresso social. Diz Kozminov:

“A revolução proletária coloca como seu fim a substtuição da propriedade privada dos meios de
produção pela propriedade social e a liquidação de toda exploração do homem pelo homem. A
revolução proletária não encontra formas preparadas de economia socialista. A formação socialista,
baseada na propriedade social dos meios de produção, não pode crescer nas entranhas da sociedade
burguesa, baseada na propriedade privada. Tendo estabelecido o poder dos trabalhadores, com a
classe operária à frente, a tarefa da revolução proletária, em que o poder é utlizado como alavanca
para a reconstrução da velha economia e a organização da nova economia.”

“Uma vez que a economia socialista não pode surgir nos marcos da sociedade burguesa, sob o
domínio do capital, para a substtuição do regime capitalista pelo socialista é necessário, em cada
país, um partcular período de transição, que se inicia com o estabelecimento do poder proletário e
se conclui com a realização da tarefa da revolução socialista – a construção do socialismo, da
primeira fase da sociedade comunista. ‘Entre a sociedade capitalista e a comunista encontra-se o
período de transformação da primeira na segunda. A este período corresponde também um período
polítco de transição, e o Estado deste período não pode ser outra coisa senão a ditadura
revolucionária do proletariado’.”

“O período de transição abrange toda uma época histórica, no decurso da qual se processa a radical
reorganização de todas as relações sociais, é liquidada a velha base capitalista e criada uma nova
base socialista, assegurando-se o desenvolvimento das forças produtvas, necessário à vitória do
socialismo. Neste partcular, utlizam-se as premissas materiais, organizatvas e culturais da
construção socialista, que foram criadas pelo desenvolvimento do capitalismo: a grande produção, os
bancos, as conquistas cientficas e técnicas, etc. No período de transição, o proletariado adquire a

243
têmpera e a prátca, que se exigem para a realização de sua função dirigente no governo do país e na
construção socialista. Na luta contra as tradições derivadas da propriedade privada, contra a
infuência burguesa, processa-se a reeducação das massas pequeno-burguesas, de todo o povo, no
espírito do socialismo.”

O partdo operário, a aliança operário-camponesa e o poder socialista não poderiam deixar


de tornar a fábrica uma escola de socialismo ou evitar reformar as relações do campo de
modo coerente com o novo poder. Dessa maneira, as “desvantagens”, do socialismo se dão
por igual em todas as suas partes componentes em relação à exploração capitalista. Isso por
quê? Porque o socialismo não tem por objetvo crescer com base na exploração do próximo.
Não pode permitr “o homem, lobo do homem”,. Diz Kozminov:

“Partndo de teses fundamentais do marxismo e da prátca revolucionária do proletariado, Lênine


criou uma teoria desenvolvida sobre o período de transição do capitalismo ao socialismo, armando a
classe operária e todos os trabalhadores com o conhecimento cientfico dos caminhos concretos da
edificação do socialismo.”

“A revolução proletária venceu em primeiro lugar na Rússia. A Rússia de antes da revolução possuía
um nível de desenvolvimento capitalista suficiente para a vitória da revolução proletária. A par disso,
a Rússia resultou ser o ponto modal de todas as contradições do imperialismo, o que intensificou
fortemente o processo de revolucionarização do proletariado e de coesão das massas camponesas
em torno dele. Em outubro de 1917, o proletariado da Rússia, tendo à frente o Partdo Comunista,
armado da teoria leninista da revolução socialista, em aliança com o campesinato pobre, derrubou o
poder dos capitalistas e latfundiários e estabeleceu a sua ditadura. A Grande Revolução Socialista de
Outubro, pela primeira vez na história da humanidade, abriu a estrada real para o socialismo,
mostrou o exemplo do que deve ser, pelo conteúdo fundamental, a revolução proletária em qualquer
país.”

“Neste partcular, é necessário ter em vista que, ao lado da unidade no principal e fundamental, a
revolução socialista em cada país, que se afasta do sistema do imperialismo, inevitavelmente possui
suas formas e métodos partculares e concretos de construção do socialismo, que decorrem das
condições históricas, nacionais, econômicas, polítcas e culturais do seu desenvolvimento, das
tradições populares, bem como da situação internacional formada em tal ou qual período.”

“Os países da democracia popular solucionaram a tarefa de transição ao socialismo de acordo com
as condições específicas de cada país, numa situação histórica radicalmente modificada e muito mais

244
favorável, quando o socialismo já venceu plena e definitvamente na URSS, quando existe o sistema
socialista mundial.”

“A transição ao socialismo – com todas as diferenças de formas concretas desta transição –


inevitavelmente representa um processo revolucionário de substtuição do domínio da burguesia pelo
domínio das massas trabalhadoras, com a classe operária à frente, e a substtuição da propriedade
privada dos meios de produção pela propriedade social. A diferença do reformismo, com a sua
pregação da ‘integração do capitalismo no socialismo’, o marxismo-leninismo ensina que, em vista da
oposição das bases das sociedades burguesa e socialista, do antagonismo de interesses entre o
trabalho e o capital, a passagem ao socialismo é impossível sem a revolução proletária, sem a
direção polítca por parte da classe operária (ditadura do proletariado).”

Como se vê, a principal crítca dos porta-vozes do capital ao sistema socialista é a


“superioridade”, em produtvidade de todos os ramos da produção capitalista à produção
socialista. É evidente que, como o capitalismo se baseia na competção negatva
(destruidora) e no lucro, que nele não há interesse humano, sugando cinicamente os
trabalhadores. Quanto ao socialismo, o avanço da produção se baseia na direção colegiada
(Estado+trabalhadores) e não usa artfcios como o desemprego para apresentar índices
maiores de produtvidade. Sem “espremer”, as massas, o socialismo se expande por uma
progressão normal, que evita a exploração. Tal produtvidade socialista tem que ser “menor”,
que a capitalista. Só em momentos crítcos, através da mobilização, com o stakhanovismo, o
socialismo pede maiores sacrifcios de seus trabalhadores para acumular crescimento. Disse
Stálin à época:

“Pergunta-se por vezes se não é possível reduzir o ritmo um pouco, conter o movimento. Não,
camaradas, não é possível! O ritmo não deve ser reduzido! Pelo contrário, devemos acelerá-lo na
medida de nossas forças e possibilidades. Isso nos é imposto pelas nossas obrigações para com os
trabalhadores e camponeses da URSS. Isso nos é imposto pelas nossas obrigações para com a classe
operária de todo o mundo.”

“Reduzir o ritmo significaria atrasar-se. E os que se atrasam são vencidos. Mas não queremos ser
vencidos. Não, nós nos recusamos a ser vencidos! Uma característca da história da velha Rússia
foram as contnuas derrotas que sofreu pelo seu atraso. Foi batda pelos khans mongólicos. Foi
batda pelos beys turcos. Foi batda pelos senhores feudais suecos. Foi batda pelos aristocratas
poloneses e lituanos. Foi batda pelos capitalistas britânicos e franceses. Foi batda pelos barões
japoneses. Todos a venceram – devido ao seu atraso, atraso militar, atraso cultural, atraso polítco,

245
atraso industrial, atraso agrícola. Venceram-na porque isso era vantajoso e podia ser feito
impunemente. Todos se recordam das palavras do poeta pré-revolucionário. ‘Sou pobre e abastada,
poderosa e imponente, Mãe Rússia.’ Aqueles senhores conheciam os versos do velho poeta. Eles a
venceram, dizendo: ‘Sou pobre e imponente’, por isso podeis ser batda e saqueada impunemente. É
essa a lei dos exploradores – vencer os atrasados, vocês são fracos – portanto, estão errados;
portanto, podem ser batdos e escravizados. Vocês são poderosos – portanto, tem razão; portanto,
devemos ter medo de vocês.”

“É por isso que não podemos contnuar atrasados.”

“Não tnhamos pátria, no passado, nem poderíamos ter. Mas agora que derrubamos o capitalismo e
o poder está em nossas mãos, nas mãos do povo, temos uma pátria e devemos defender a sua
independência. Quereis que nossa pátria socialista seja batda e perca sua independência? Se não
quereis isso, deveis acabar com o seu atraso o mais depressa possível e desenvolver um ritmo
verdadeiramente bolchevista na construção de sua economia socialista. Não há outra maneira. É por
isso que Lênine disse, às vésperas da Revolução de Outubro: ‘Perecer, ou alcançar e ultrapassar os
países capitalistas adiantados. ’ Estamos 50 ou 100 anos atrás em relação aos países adiantados.
Devemos cobrir essa distância em 10 anos. Ou fazemos isso ou pereceremos.”

É evidente aqui que Stálin apela para a partcipação consciente dos trabalhadores para
elevar a produção. Apela para o fator subjetvo. Sem a partcipação das pessoas, a URSS, à
época um Estado isolado e cercado pelas forças do capital, só poderia sobreviver com o
sacrifcio dos próprios soviétcos.

Organização (planejamento), mobilização popular, eis a força de seus cidadãos em que se


baseou para sair do atraso para o industrialismo em quarenta anos, apesar de todos os tpos
de agressão sofridos. A história e a luta de classes, a violência implacável das classes
dominantes contnua a ocorrer, mesmo depois da conquista do poder pelas forças
proponentes do socialismo. É uma luta sem descanso, em que cada povo que opta pela
solução socialista tem que seguir em frente. Disse Liu Shao Chi, em 1958:

“Os líderes devem combinar o entusiasmo revolucionário com um sentdo prátco. Devem ser
capazes não só de apresentar metas elevadas, mas também de adotar medidas efetvas, em tempo,
para assegurar a realização das metas. Eles não devem usar palavras ocas e blefar. As metas que
formulamos devem ser passíveis de realização com o trabalho árduo. Não se deve divulgar ou

246
planejar aquilo que não é realmente alcançável, pois o fracasso diminui o entusiasmo das massas e
alegra os conservadores.”

Vê-se ressaltados, na construção da base econômico-social do socialismo, os fatores


ideológico e psicológico dos trabalhadores, os componentes subjetvos da construção. Não
se trata de uma conspiração de gerentes para obter mais mais-valia. Trata-se de levantar o
espírito ideológico das grandes massas para promover as mudanças necessárias. É um
regime do povo trabalhador e só pode através dele poder alcançar suas vitórias. Como disse
Trótski (1930):

“... demonstrar que as tarefas democrátcas das nações burguesas atrasadas, em nossa época levam
à ditadura do proletariado, e que esta coloca na agenda as tarefas socialistas. Era essa a ideia central
da teoria. Se a opinião tradicional sustentava que o caminho para a ditadura do proletariado passava
por um longo período democrátco, a doutrina da revolução permanente, por sua vez, afirmava que
para os países atrasados o caminho para a democracia passa pela ditadura do proletariado.”

A ditadura do proletariado, ao eliminar a pauta do consumo e da produção burgueses, abre


caminho para um desenvolvimento independente. Diz Kozminov:

“A experiência histórica da Revolução de Outubro confirmou a justeza da tese leninista de que a


revolução socialista pode iniciar-se a vencer não obrigatoriamente no país dotado do mais alto nível
de desenvolvimento do capitalismo. Lênine indicava que, para a vitória da revolução socialista num
país, é suficiente que possua um nível médio de desenvolvimento capitalista, como acontecia na
Rússia de antes da revolução, e que, nestas condições, a classe operária, apoiando-se no seu poder
polítco, pode, juntamente com todos os trabalhadores, no decurso do período da transição, superar o
atraso econômico e cultural do país.”

“Para a vitória da revolução socialista na Rússia, foi necessário ao menos um nível médio de
desenvolvimento capitalista para que ela pudesse ser o único país da ditadura do proletariado. Agora,
porém, quando na URSS o socialismo está vitorioso e se formou o sistema socialista mundial de
economia, as tarefas da revolução socialista podem ser resolvidas com êxito, com a ajuda dos países
socialistas avançados, também nos países de fraco desenvolvimento capitalista, onde predominam
formas pré-capitalistas de economia.”

“Lênine fundamentou cientficamente a possibilidade do caminho não capitalista de


desenvolvimento, sob determinadas condições históricas e com o papel dirigente da classe operária,
nos países atrasados no sentdo econômico-social, que ainda não passaram pelo estádio capitalista

247
de desenvolvimento. Libertando-se do jugo do imperialismo, estes países podem eludir o prolongado
e doloroso processo de desenvolvimento capitalista e, evitando o estádio capitalista, como resultado
da transformação da revolução democrátca-burguesa em socialista, passar gradualmente para o
caminho da construção socialista. Tal possibilidade lhes é aberta pela ajuda dos países avançados,
onde venceu a revolução proletária. Com esta ajuda desenvolve-se, nos países atrasados, a grande
indústria estatal, que se transforma em base material da reorganização socialista de toda a economia
nacional.”

6 – A Transição do Socialismo ao Comunismo.

Marx não gostava de profecias e costumava dizer que o proletariado, sendo uma classe
muito mais numerosa que a burguesia, produziria em Estado capaz de, pela primeira vez na
história, representar a maioria. De fato, a aliança operário-camponesa compõe a maioria do
povo e o Estado socialista, a partr desse fato, é o primeiro Estado que representa em si a
ditadura da maioria. Ao longo da história, todos os Estados conhecidos não representam
ditaduras de classe majoritária. Por isso, o Estado socialista deve lutar sem cessar: (a) para
aumentar a partcipação popular em todas as suas instânncias e em todos os seus atos; (b)
deve lutar para descobrir novas formas democrátcas de partcipação, nacional e
internacional, na construção da sociedade nova. Disse Kozminov:

“A ditadura do proletariado assegura a criação de um tpo de organização social do trabalho


superior à do capitalismo. Nisto consiste a principal fonte da força do regime socialista e de sua
vitória sobre o regime capitalista.”

“A ditadura do proletariado é uma verdadeira democracia. Ela expressa os mais profundos


interesses dos trabalhadores, amplia cada vez mais as possibilidades materiais de aplicação destes
direitos pelas massas. Nas condições da ditadura do proletariado, os trabalhadores, pela primeira vez
na história, se tornam senhores do seu país. “O socialismo vivo, criador, é criação das próprias massas
populares.” A ditadura do proletariado significa a mais direta e atva partcipação das vastas massas
de trabalhadores na direção da produção, no trabalho dos órgãos estatais, na direção de todas as
esferas da vida social do país. Se as revoluções burguesas, ao fortalecer a nova forma capitalista de
exploração, não podem reunir, por longo tempo, em torno da burguesia, as massas trabalhadoras, já
a revolução proletária, ao liquidar toda a exploração, unifica estas massas com o proletariado numa
aliança duradoura. A aliança da classe operária com o campesinato, sob a direção da classe operária,

248
orientada contra as classes exploradoras, é o princípio superior da ditadura do proletariado. Sem esta
aliança não é possível a conservação da ditadura do proletariado e a edificação da economia
socialista.”

“Em todas as suas formas precedentes, o Estado esmagava a maioria explorada no interesse da
minoria exploradora. A ditadura do proletariado esmaga a minoria exploradora no interesse da
maioria trabalhadora. A ditadura do proletariado é o prolongamento da luta de classes do
proletariado, nas novas condições e sob as novas formas, contra os exploradores no interior do país e
contra as forças agressivas do cerco capitalista.”

“Entretanto, a ditadura do proletariado não é somente a violência sobre os exploradores e não é


mesmo principalmente a violência.”

“Os partdos marxista-leninistas dão preferência às formas menos dolorosas de transição ao


socialismo e – ao contrário do que tentam representá-los os inimigos do comunismo – não são,
sempre e em todos os casos, partdários da violência, da guerra civil, das insurreições armadas, das
formas mais agudas de luta de classes. Lênine frisava que a classe operária preferiria tomar o poder
em suas mãos pacificamente. A aplicação ou a não aplicação da violência revolucionária e o grau de
agudeza da luta de classes dependem do grau e das formas de resistência das classes exploradoras.
Como demonstra a experiência histórica, as classes exploradoras, não desejando ceder o poder ao
povo, aplicam a violência contra o poder popular e, com isto, impõem ao proletariado uma luta de
classes aguda, que chega até a guerra civil.”

Portanto, a ditadura do proletariado não só é democrátca por representar a maioria, como


é democrátca por oferecer a possibilidade da solução pacífca das contradições no seio do
povo, sem que se recorra à violência. Sendo um regime que se alicerça sobre o trabalho
produtvo dos trabalhadores e sua partcipação polítca, o socialismo se apoia, além disso,
para se desenvolver, na produção científca e técnica. Da acumulação de novos meios criados
pela ciência e pela técnica, poderá no futuro o socialismo produzir sua própria técnica, a qual
há de diferir substancialmente da técnica conhecida atual, que é um instrumento da
produção de mercadorias. Grande esforço (certamente maioria) da técnica atual é
desperdiçado pela competção entre mercadorias similares, com vistas a maximizar o lucro
dos monopólios. É claro que o socialismo vê-se obrigado a partr da técnica que existe, mas
no curso de duas (60 anos) ou três (90 anos) gerações de construção socialista, o sistema

249
começará a produzir uma tecnologia nova, a qual não foi ainda produzida nas condições
capitalistas. Diz Kozminov:

“O papel do aspecto violento da ditadura do proletariado em comparação com outros seus aspectos
depende da situação concreta, que se forma nesta ou naquela etapa da revolução num país dado.
Propriedade muito mais profunda e permanente da revolução é a organização das massas
trabalhadoras, sua educação no espírito da nova disciplina do trabalho, consciente e socialista, que
tem por objetvo a edificação da nova sociedade. A essência da ditadura do proletariado também
consiste na atvidade construtva, criadora, organizadora e educadora. A principal tarefa da classe
operária, dos trabalhadores, na revolução socialista, como ensina Lênine, ‘é o trabalho positvo ou
criador da implantação de uma rede extraordinariamente complexa e delicada de novas relações de
organização, que abrangem a produção e a distribuição planificadas de produtos’.”

“As formas do Estado socialista são diversas, de acordo com as partcularidades da revolução, que se
formam em tal ou qual país. O poder soviétco foi a forma de ditadura do proletariado descoberta
por Lênine resultante do poder criador revolucionário da classe operária russa, forma tornada
necessária nas condições histórico-concretas da Rússia, como primeiro país que levou a efeito uma
vitoriosa revolução socialista. Nas novas condições do desenvolvimento mundial, após a vitória do
socialismo na URSS e a derrota do fascismo na Segunda Guerra Mundial, venceu, numa série de
países da Europa e da Ásia, o regime de democracia popular, que representa uma variedade da
ditadura do proletariado. ‘A transição do capitalismo ao comunismo, naturalmente, não pode deixar
de apresentar uma grande abundância e variedade de formas polítcas, mas a essência será, neste
caso, inevitavelmente uma: a ditadura do proletariado’.”

“A direção de todo o processo de construção planificado da economia socialista pertence, nos países
de ditadura do proletariado, aos partdos comunistas e operários. Armados com a teoria do
marxismo-leninismo e com o conhecimento das leis do desenvolvimento econômico da sociedade,
estes partdos organizam e orientam as massas populares para a solução das tarefas da construção
socialista.”

O desenvolvimento do marxismo-leninismo indica a formação de dezenas de milhões de


quadros no socialismo, com orientação socialista, científca, voltados para a solução dos
problemas existentes na sociedade e na natureza. O avanço do conhecimento em escala
nunca vista e internacional, colocará na agenda a criação da base material da fase superior
da sociedade socialista. Colocará na ordem do dia o advento da materialidade comunista.
Esta por si corresponderá a uma nova compreensão do mundo, e o processo de desalienação

250
do mundo das coisas seguirá avançada. Eliminada a escassez de dezenas de itens hoje raros,
os seres humanos poderão iniciar-se na base da vontade, sem, contudo dar prioridade à
dança dos egoísmos e das competções. O homem começará a ser humano em escala de
humanidade.

Não podemos visualizar a sociedade comunista, porque para tal faltaria embasamento no
mundo real. Mas pode-se, sim, fazer uma ideia onde o socialismo pode materializar o
homem novo, pelas oportunidades que este novo sistema construiu: (a) abundânncia de
alimentos, com crescente oferta a preços cadentes; (b) infraestrutura e equipamentos sociais
em escala crescente até o grau de colosso com impossibilidade de atendimentos negatvos;
(c) empregos vitalícios; planejamento absoluto do emprego da força de trabalho; (d)
tendência à absolutzação dos direitos sociais; (e) gradual eliminação dos diferenciais de
renda, ambiente e nacionalidades.

(A) Abundância no Abastecimento. – Após algumas décadas de socialismo mundial, a fome


estará abolida. Haverá crescente oferta de recursos, com cálculo dos consumos variados,
para evitar desperdícios.

(B) Saciedade de Infraestrutura e de Equipamentos Sociais. – A construção socialista


libertará as massas populares da escassez, da miséria e da irracionalidade do uso do tempo,
fenômenos entrelaçados no sistema capitalista. Redes, redes e redes libertarão o homem
comum. Redes de ônibus, de trens, de meios de transporte pessoal e dos bens de
produção... redes de comunicação. Áreas edifcadas para o uso individual, familiar e uso
social. Todos os tpos de equipamentos necessários cientfcamente calculados para suprir
todas as demandas... A construção socialista pouco a pouco trará à saciedade todas as
necessidades humanas básicas de dada geração e permitrá introduzir as mudanças exigidas
por uma nova geração.

(C) Empregos Vitalícios. – É objetvo da construção socialista o emprego de todos os


cidadãos por todo o tempo necessário à criação da renda que consome, e do excedente
social necessário à expressão social ulterior.

251
(D) Ampliação Crescente dos Direitos Sociais. – Depois de assegurar a Renda a todos os que
trabalham, é objetvo da construção socialista assegurar a todos alimentação, teto,
assistência a saúde e ao lazer.

(E) A Gradual Eliminação das Diferenças Materiais. - No processo de passagem à saciedade


ulterior, os diferenciais materiais, econômicos e sociais ver-se-ão gradualmente eliminados.

É evidente que as promessas do socialismo nasceram da utopia de centenas de


trabalhadores e pensadores, os quais se tornaram mais consistentes com a revolução
francesa, como Diderot, Rousseau, Baboeuf, Saint Simon, Owen, Blanqui e tantos outros.
Seria errôneo, no entanto, não levar em consideração a esperança de milhões de homens
sintetzadas nesses pensadores e supor que os desejos da humanidade estejam em uma
outra parte. Como diz A. Carvalho, “sonhar com o futuro é uma fonte de materializar o
futuro.”, Ou seja, com base nos nossos conhecimentos e nossa experiência, podemos
imaginar um futuro possível a partr de uma sociedade atual, onde a exploração seja
eliminada. Diz Kozminov:

“Grande importância para a criação da base técnico-material do comunismo tem o desenvolvimento


acelerado da indústria química, partcularmente da produção de materiais sintétcos e de artgos
confeccionados com eles. Na etapa atual, cresceu grandemente o papel da química no
desenvolvimento das forças produtvas e no aproveitamento das riquezas naturais. A química se
apresenta como um dos fatores mais importantes do progresso técnico, provocando, nos mais
diversos ramos, a passagem a uma tecnologia nova, consideravelmente mais progressista. A química
permite abastecer, em escalas bem vastas, a indústria, o transporte, os serviços públicos, de materiais
de alta qualidade, duráveis, leves e econômicos, criando as condições para o enorme aumento dos
recursos de matérias-primas e combustveis, para a fabricação em massa de equipamento produtvo.
A produção em grande escala de novos tpos de materiais sintétcos possibilita elevar o nível técnico e
a poupança em todos os ramos da economia nacional, bem como ampliar rapidamente a produção
de objetos de consumo popular, baratos e de alta qualidade. Grandes possibilidades se abrem para o
emprego destes materiais na construção, em especial na residencial, e na produção de móveis.
Importância primordial para o crescimento da produção agrícola tem a expansão da produção de
adubos minerais.”

“No plano setenal, prevê-se o acelerado desenvolvimento da indústria química: o volume total da sua
produção aumentará aproximadamente em três vezes, a produção de fibras artficiais – em 4 vezes (inclusive

252
das fibras sintétcas – em 12 a 13 vezes), das massas plástcas e gomas sintétcas – em mais 7 vezes, dos adubos
minerais – em aproximadamente 3 vezes.”

“Importante papel na criação e no desenvolvimento da base técnico-material do comunismo


desempenhará, partcularmente na perspectva ulterior, a introdução na prátca das conquistas da
ciência biológica, da bioquímica e da biofsica. O aproveitamento prátco dos resultados do
desenvolvimento da ciência biológica na agricultura permitrá elevar grandemente o nível cientfico
da gestão da lavoura e da pecuária, multplicando sua produtvidade.”

Vê-se que no primeiro país a iniciar a construção socialista há observações importantes


sobre o potencial de implantação nesse novo regime, da base técnica e material de uma
sociedade comunista. Kozminov dá indicações do potencial das novidades na química e na
biologia para criar no longo prazo uma nova agropecuária:

“A edificação da base técnico-material do comunismo significa a criação de forças produtvas, que


permitam realizar a transição à sociedade comunista, sem classes, eliminando as diferenças de classe
entre os operários e os camponeses. Mas isto pressupõe, por sua vez, a substtuição das duas formas
de propriedade social pela propriedade comunista única, o que está indissoluvelmente ligado à
liquidação da diferença essencial entre a cidade e o campo.”

“A fusão da propriedade cooperativo-colcosiana com a propriedade estatal numa só

propriedade de todo o povo não se reduz a uma simples medida econômico-organizativa,

mas significa a solução do profundo problema de superação da diferença essencial entre

a cidade e o campo.”

“Para a superação das diferenças essenciais entre a cidade e o campo é necessário realizar
transformações radicias no terreno das forças produtvas e das relações de produção da aldeia
colcosiana, nas condições de vida materiais, sociais e culturais do campesinato colcosiano. A criação
da base técnico-material do comunismo inclui a transformação do trabalho agrícola numa variedade
do trabalho industrial. Isto significa que, não somente na indústria, como também na agricultura,
será inteiramente levada a efeito a mecanização complexa, a eletrificação e a quimização da
produção. A introdução na produção agrícola de sistemas de máquinas de crescente perfeição
assegurará a mecanização complexa de todos os ramos da agricultura e a ampla aplicação de
automatzação da produção. As novas e poderosas estações elétricas fornecerão enorme quantdade
de energia elétrica não apenas para a indústria, mas igualmente para a produção agrícola. Ao lado
delas, terá grande importância, no decurso do próximo período, a construção de estações elétricas

253
menores, colcosianas e, em partcular, intercolcosianas. A quimização da lavoura assegurará a
obtenção de colheitas abundantes e estáveis em todas as culturas agrícolas.”

Na experiência soviétca, que se recupera ainda dos efeitos das destruições da invasão nazi-
fascista, há indicações do caminho que o sistema das formações produtvo-sociais no campo
virá a tomar, com o crescimento da economia e a consolidação dos interesses coletvos.
Sobre a transformação da propriedade camponesa nas aldeias, Kozminov comenta:

“Modifica-se gradualmente a fisionomia da aldeia colcosiana. De ano para ano, intensifica-se a


construção de casas confortáveis para os colcosianos, com a planificação racional das povoações
colcosianas. Gradualmente, realiza-se a eletrificação das habitações colcosianas, instalações de rádio
e de telefone são introduzidas em todos os colcoses. Cresce rapidamente a rede de escolas, clubes,
cinemas e bibliotecas. Nos colcoses, organizam-se empresas e insttuições sociais, que servem às
necessidades dos colcosianos: padarias, refeitórios, lavanderias, insttuições médicas, casas de
repouso, maternidades, internatos, creches. A emancipação das mulheres do trabalho pesado na
economia doméstca permite a sua mais completa incorporação na atvidade social.”

“No setênio corrente, à base do ulterior crescimento da produção agrícola, será alcançado o
melhoramento essencial das condições de vida e de cultura da população rural. Já no futuro, as
aldeias colcosianas serão transformadas em confortáveis povoações de tpo urbano, com a utlização
de todas as conquistas dos modernos serviços públicos, doméstcos e culturais.”

A transformação das estruturas passadas, desprovidas agora dos mecanismos sistemátcos


de exploração do próximo, coloca na agenda o desenvolvimento multlateral, com o avanço
da paz, da educação e da cultura. As diferenças entre a cidade e o campo hão de desaparecer
no longo prazo:

“Todos estes processos conduzirão a uma situação em que os colcoses se transformarão cada vez
mais em empresas de tpo comunista.”

“A liquidação da diferença essencial entre a cidade e o campo de modo algum implica na decadência
do papel das grandes cidades. A distribuição planificada da indústria por todo o país e a aproximação
das empresas industriais às fontes de matérias-primas são acompanhadas pela construção de novas
cidades. Como focos de um desenvolvimento superior da cultura material e espiritual e como centros
da grande indústria, as cidades contribuem para que o campo atnja o nível da moderna cultura
urbana. A este respeito, conserva-se o papel progressista da cidade socialista. Modifica-se
radicalmente a fisionomia das velhas cidades. A reconstrução socialista das cidades tem, por fim,

254
eliminar o amontoamento da população e sanear as condições da vida urbana, através da
arborização das cidades e a utlização de todas as modernas conquistas da administração municipal.”

“Ao mesmo tempo, a indústria será cada vez mais disseminada, inclusive nas localidades rurais. Nas
aldeias, por sua vez, os colcoses, sovcoses e as organizações estatais locais criarão empresas
industriais. Por um lado, as aldeias colcosianas se converterão em povoações de tpo urbano, ao
passo que, por outro lado, a população urbana das grandes cidades se disseminará cada vez mais
além dos seus limites, nas localidades rurais. Em torno das grandes cidades se criará um círculo de
pequenas ‘cidades-satélites’.”

Ou seja, o planejamento socialista aproveita o desenvolvimento material ocorrido, tomando


seus êxitos como indicações para a introdução de novas medidas, com potencial
multplicador, que possam convergir para os objetvos já estabelecidos:

“No processo da gradual transição do socialismo ao comunismo, fortalece-se cada vez mais a
amistosa aliança entre os operários e camponeses, sob a direção da classe operária. Ambas estas
classes possuem interesses essenciais comuns e um fim comum: a edificação do comunismo. A
consolidação da propriedade comunista única dos meios de produção será a base da definitva
extnção das fronteiras entre a classe operária e o campesinato colcosiano.”

Com um nível muito elevado dão capacidades de produção e de distribuição igualizadora, e


o acesso cada vez maior ao conhecimento científco e técnico, as brutais desigualdades entre
as classes hoje existentes tenderam a gradualmente desaparecer. Diz Kozminov:

“O comunismo significa a liquidação da diferença essencial entre o trabalho intelectual e o trabalho


manual. O fundamento material para isto é a criação da nova base técnica da sociedade, que se
apoiará na completa automatzação da produção. A passagem à multlateral automatzação da
produção e o desenvolvimento de novos campos da técnica implicará na modificação do tpo de
trabalhadores da produção. Em ligação com isto, deixarão de existr as bases materiais da divisão da
sociedade em trabalhadores intelectuais e manuais, e igualmente cessará a existência de uma
camada social partcular – a intelectualidade. A própria produção, pelo seu caráter, exige
trabalhadores do tpo de engenheiros e técnicos. Já no processo da passagem à completa
automatzação da produção, reduz-se cada vez mais a necessidade do trabalho não qualificado e
pouco qualificado, enquanto se eleva a exigência de quadros qualificados e altamente qualificados. A
técnica, que se aperfeiçoa na indústria e na agricultura – eletrificação, mecanização complexa,
quimização, etc. – exige em grau crescente dos trabalhadores da produção um alto nível de instrução,
tanto geral como especial, de técnica de engenharia ou de agronomia. Sem isto, é impossível

255
assegurar a produtvidade do trabalho social, que é necessária para a passagem ao comunismo. Daí
decorrer a necessidade objetva do rápido ascenso cultural da sociedade, da gradual liquidação da
diferença essencial entre o trabalho manual e o trabalho intelectual.”

“A diferença essencial entre o trabalho manual e o trabalho intelectual encontra sua expressão no
fato de que a maioria dos trabalhadores possui um nível técnico-cultural inferior ao nível dos
trabalhadores técnicos e engenheiros, enquanto a maioria dos colcosianos tem um nível inferior ao
dos trabalhadores agrônomos.”

Ou seja, eliminando as fortes diferenças, tenderão também a desaparecer as diferenças:

“Na liquidação da diferença essencial entre o trabalho manual e o trabalho intelectual, desempenha
destacado papel a emulação socialista, da qual partcipa a esmagadora maioria da classe operária e
do campesinato colcosiano. Massas cada vez mais consideráveis de operários dominam com
perfeição a moderna técnica e tecnologia da produção, cresce o número de racionalizadores e
inventores. Ao manifestar iniciatva criadora no aperfeiçoamento dos processos produtvos, os
vanguardeiros da produção dão o exemplo de combinação do trabalho manual e intelectual. As
brigadas de trabalho comunista incluem nas suas obrigações não somente a conquista de altos
índices produtvos, o trabalho social atvo, o comportamento modelar na vida social, mas também a
vitoriosa assimilação de conhecimentos, a elevação do nível técnico-cultural.”

“Quando for alcançada a multlateral automatzação da produção e os operários e colcosianos


elevarem o seu nível técnico-cultural ao nível dos trabalhadores engenheiros, técnicos e agrônomos,
realizar-se-á um novo ascenso da produtvidade do trabalho, jamais visto na história, o qual permitrá
a criação da abundância de todos os bens materiais.”

“Na medida do ascenso da produtvidade do trabalho social, serão criadas as condições econômicas
para a redução cada vez maior da jornada de trabalho e o aumento do tempo livre. Isto, por sua vez,
dará a possibilidade aos membros da sociedade de dedicar muito mais tempo à atvidade social, à
assimilação de conhecimentos e da cultura, ao esporte, ao turismo, ao desenvolvimento das suas
forças fsicas e faculdades intelectuais.”

7 – Conclusão.

Nesta aula aprendemos algo sobre o surgimento do regime socialista, como uma proposta
no nível do anseio das massas por um mundo novo e, logo, como uma experiência na prátca,

256
com o estabelecimento da Comuna de Paris (1871) e, mais tarde, a vitória da revolução russa
(1917-18) e a consttuição da União Soviétca (1922). Com a derrota do campo nazi-fascista
na segunda guerra mundial (1939-1945), tornou-se possível em escala mundial o
fortalecimento do campo popular, com novas revoluções (1945-1959) e a formação de um
campo libertário de nações.

Aprendemos também alguns traços do sistema socialista que se formou o lugar das
partcularidades nacionais e locais, bem como os traços gerais da luta socialista.
Compreendemos que todos os tpos de Estado, mesmo os que têm formas democrátcas,
consttuem no seu conteúdo a ditadura de uma ou mais classes. E que o Estado socialista, em
seu conteúdo, é uma ditadura dos operários e dos camponeses, porque prioriza os seus
interesses.

Vimos porque o Estado socialista é melhor que os Estados que o precederam na história: ele
é um Estado que trabalha para a maioria, para os trabalhadores e os pobres. Pudemos
imaginar alguns elementos da sociedade futura, com base na observação da prátca socialista
e o potencial do desdobramento de seus êxitos.

Perguntas.

1. Como surgiu a teoria socialista?

2. Por que a doutrina socialista deve ser levada a todas as classes da sociedade, com
prioridade para os operários e camponeses?

3. Como imagina as relações sociais no socialismo?

4. Qual a relação entre democracia e ditadura de classe?

5. Que entende por “lei geral”, e “lei partcular”, nas ciências sociais?

6. Cite uma superioridade do socialismo sobre o capitalismo.

7. Como a tecnifcação da produção socialista se refete na estrutura de classes?


8. Como o socialismo abole a exploração no trabalho em massa?
9. Que acontecerá com a instrução escolar no socialismo?
10. Como o socialismo vê os direitos sociais?

257
*

Aula 7

258
7 – A Nova Era Em Que Vivemos.

Estamos a viver uma época extraordinária: pela primeira vez na história da humanidade o
homem tem a oportunidade de escolher conscientemente um mundo melhor. São traços de
nossa época: (a) um avanço ininterrupto da ciência e da técnica; (b) um avanço sem
precedentes da educação e do treinamento, formais; (c) o desmascaramento do capital, de
sua forma imperialista e de suas atvidades; (d) consequentemente, da luta dos povos contra
o moribundo colonialismo, o neocolonialismo e a dominação imperialista; (e) de crescentes
movimentos sociais, em toda parte, pela paz, pela liberdade nacional e pelo socialismo.

(A) – Avanço ininterrupto da Ciência e da Técnica. – A instauração do sistema do capital e a


ocorrência da revolução industrial com ela relacionada abriu um caminho de
desenvolvimento ininterrupto da ciência e da técnica, podendo ambas, cada vez mais, serem
postas a serviço da humanização da condição humana e não apenas do aumento do lucro. As
grandes empresas capitalistas, que possuem departamentos de pesquisa e desenvolvimento
de produtos, colocam apenas uma parte de suas invenções em circulação, porque a maioria
delas resultaria em mercadorias mais baratas e mais saudáveis. No entanto, tais empresas
creem que prejudicariam os lucros. Por exemplo, se há um remédio que vende muito, do
ponto de vista de lucros, por que substtuí-lo por um produto novo melhor e mais barato?
Por que substtuir um carro ou um vagão de trem por outro melhor e mais barato? Assim,
nas condições privadas das relações de produção, grande parte do progresso técnico e
científco fca subestmado por interesse econômico ou pelo direito de patentes. No sistema
socialista, pouco a pouco semelhante bloqueio da nova técnica e da nova ciência poderia ser
reduzido ou até eliminado. É o que se vê nos países socialistas atuais.

(B) – Avanço Sem Precedentes da Educação e do Treinamento Formais. – Nos atuais países
que tomaram a via do socialismo, o investmento em educação, treinamento técnico e saúde
pública não tem precedentes na história. Isto transformou nossa época em uma nova era dos
direitos sociais, desconhecido antes da prátca socialista: voto feminino; igualdade legal dos
sexos; direito de associação dos trabalhadores e pequenos proprietários; quotas de
representação polítca para todas as minorias nacionais e sociais, etc. Dessa forma, a
competção do capitalismo para manter-se vivo entre as massas do povo, copiando muitas

259
reformas do socialismo, está levando as massas trabalhadoras a mais conhecimento e mais
poder social. O capitalismo acena com o consumo de inutlidades para dividir politcamente o
povo.

(C) – O Desmascaramento do Capital e das Artmanhas Imperialistas. – Um número


crescente de trabalhadores e de pessoas de fora das classes trabalhadoras começa a
entender em nossa época a natureza falseadora e as estratégias de engodo e engano das
massas, de todas as instânncias capitalistas e imperialistas. A luta dos trabalhadores em toda
parte permite fazer despertar politcamente massas de milhões de indivíduos, obrigando a
burguesia a lançar mão de novos métodos para manter e enganar em escala de massa. Na
periferia do sistema capitalista, recorre a burguesia imperialista à guerra localizada e ao
massacre de pobres e trabalhadores, para manter os privilégios das minorias dominantes.

O trabalho incansável das forças progressistas entre as massas tem despertado não só
movimentos de consciência, como luta polítca contra os dominadores. Assim, o debate
polítco se faz cada vez mais quanto aos temas centrais, o interesse de classe, a exploração e
a dominação da maioria por uma minoria atva da burguesia.

(D) – A Luta dos Povos Contra o Colonialismo, o Neocolonialismo e o Imperialismo. – Os


colonialistas e seus aliados imperialistas não ttubeiam em utlizar qualquer método para
humilhar e inferiorizar os povos e grupos que mantém sob a dominação, valendo-se da velha
e das novas formas de exploração para manter países inteiros sob controle. O
envenenamento dos líderes, o assassínio aberto dos mesmos e a violação dos acordos
polítcos feitos são moeda corrente de sua prátca, como recentemente no episódio da prisão
e assassinato de Patrice Lumumba, no ex-Congo Belga. É corrente no discurso das entdades
africanas, por exemplo, o uso da palavra “escravidão”,. Diz a Associação Cultural de Chagga,
na Tanganica (5-10-1951):

“Ficamos entregues à insensibilidade de nossos empregadores e a ambição de uma competção sem


freios, de tal modo que pequeno número de ricos pôde lançar um jugo pouco diferente da própria
escravidão sobre a massa dos africanos pobres.”

A petção encaminhada pela Associação ao Conselho de Tutela das Nações Unidas, não
deixa dúvida quanto ao que se trata:

260
“Esta associação opõe-se fortemente às finalidades da Junta de Utlização do Trabalho e pede sua
dissolução. Essa Junta, criação do governo, é mais um mercado de escravos do que uma
centralização da força de trabalho. Os africanos são recrutados em todo o Território por meios que
estão longe de ser voluntários. Esses infelizes africanos são transportados a distâncias superiores a
mil quilômetros de sua terra natal em condiçees de causar espanto. O gado é mais bem tratado do
que esses trabalhadores.”

Sekou Touré, examinando o caso da exploração imperialista da Guiné, demonstrou que o


sistema colonial não é uma simples drenagem de matérias primas, mas uma máquina de
destruição social e nacional, hoje postas na mão do imperialismo:

“... pretendia, ainda mais, manter para si o direito exclusivo da venda de produtos manufaturados.
Por isso, opunha-se a qualquer tentatva de industrialização. Podemos fazer um inventário de todas
as indústrias de transformação existentes nos países sob domínio colonial, comparar sua produção
de artgos manufaturados com as necessidades das populações, e veremos então claramente que não
há uma equação entre a procura e a oferta. Nesse setor, o sistema colonial reservava para si o
privilégio, quase monopólio, do mercado de bens de consumo nos países colonizados.”

O papel dos monopólios na economia africana foi sufcientemente indicado por Jack
Woddis:

“Dados recentes mostram que 85% de todas as importações de Gana estão nas mãos de firmas
europeias (principalmente britânicas), outros 10%, nas mãos de asiátcos (indianos, sírios e
libaneses), deixando no máximo 5% para os naturais do país. Assim, no setor do comércio, uma das
principais esferas dos empreendimentos capitalistas africanos e ponto de partda para o crescimento
dessa classe, não é possível fugir à realidade do domínio do monopólio ocidental. Só recentemente
uma delegação de homens de negócios da Nigéria do Norte procurou o Ministro do Comércio da
Nigéria do Norte, solicitando que o governo tomasse medidas para impedir que firmas estrangeiras
partcipem do comércio a varejo nos mercados e aldeias locais. Essas manifestações de confito entre
o imperialismo e os capitalistas africanos ocorrem constantemente.”

“Mas não é apenas com o controle do comércio dentro dos territórios africanos que os imperialistas
restringem o crescimento do capitalismo africano. Pelo seu domínio dos mercados mundiais,
conseguem manipular os preços de forma que se refete desfavoravelmente sobre os territórios
africanos. Forçados a ‘vender barato e comprar caro’, os territórios africanos são roubados de
milhões de libras por ano, nessa troca desigual. Esse roubo sem disfarces – eufemistcamente
mencionado como ‘termos desfavoráveis de comércio’ – permite aos monopólios ocidentais lucros

261
enormes, e é uma das causas fundamentais da pobreza africana. E essa pobreza consttui mais uma
preocupação para a burguesia natva, pois o poder aquisitvo extremamente baixo do povo limita
severamente o mercado que os produtores africanos desejam expandir.”

Vê-se nitdamente que as prátcas coloniais são simplesmente herdadas pela máquina
imperialista e “aperfeiçoadas”,, como seu no caso da Ásia e da América Latna. Do bloqueio à
formação do mercado local, as empresas imperialistas passam a nele penetrar e, por fm
estabelecem ali frmemente os seus monopólios. Esclarece Jack Woddis (1959):

“Mesmo num território como a Nigéria, o maior Estado africano, com cerca de 35 a 40 milhões de
habitantes, dispondo de uma burguesia nacional relatvamente forte e em vias de se tornar
politcamente independente, o crescimento do capital africano é constantemente dificultado pelas
companhias britânicas, que mantêm um monopólio firme da maioria dos setores da atvidade
econômica. Essas companhias são auxiliadas pelo domínio generalizado da máquina governamental,
consttuída de funcionários britânicos e que, segundo se afirma insistentemente na Nigéria, favorece
tais companhias.”

“Um pomo de discórdia recente foi a navegação. A Nigéria insttuiu a Nigerian Natonal Shipping
Line, mas essa empresa incorporou-se à West Africa Conference Lines, numa attude que despertou
considerável indignação no país. Critcando a situação disse o West African Pilot (de 27 de abril de
1949).”

“... ... fizemos uma má escolha de associados para a nossa linha de navegação... ... por motvos que
são evidentes a todos. Há dez anos vimos pregando sobre a ameaça à economia de nosso país,
consttuída pelas empresas de navegação chamadas “de conferência”. Dizíamos que seu monopólio
do transporte oceânico e da produção governamental era contrário aos nossos interesses.”

“Diz o jornal que, ao associar-se à West Africa Shipping Lines, a Nigerian Natonal Line permitu que
os funcionários britânicos orientassem seus passos.”

O caso desta companhia de navegação é típico. Os neocolonialistas não se furtam a manter


seus privilégios, trazendo a população submissa pelo terror à sua “justça”,, intrusão,
assassinato, etc. Explica Jack Woddis:

“Esta é uma das razões pelas quais a africanização do Governo dos departamentos, ou províncias, é
uma exigência mais forte e insistente em toda a África, mesmo nos países que já obtveram sua
independência polítca.”

262
“Dessa forma, pelo sistema colonial prejudicada, limitada e cerceada pelo sistema colonial, a classe
dos capitalistas africanos conseguiu fortalecer-se, especialmente no período após-guerra. Na Nigéria,
por exemplo, além da agricultura, comércio, e atvidades bancárias, uma parte considerável do
transporte rodoviário está nas mãos dos africanos, embora talvez em pequena escala. (Isso ocorre
também em Gana). As firmas estrangeiras na Nigéria ainda dominam o transporte de carga, tanto
para a importação como para a exportação, embora as empresas africanas dominem o transporte de
passageiros e do comércio interno. Apesar da concorrência estrangeira, diz Hawkins, o capitalista
africano firmou-se, notadamente no campo do transporte rodoviário, e também no comércio a
varejo, na construção e nas empreitadas. Hawkins mostra como as medidas no sentdo da
independência deram novas oportunidades às empresas africanas ‘que cresceram em tamanho e
número’. Começaram a desenvolver-se algumas indústrias leves, como a recauchutagem de pneus,
indústrias de madeira, de materiais de construção e a indústria editorial, na qual ‘vários africanos se
destacaram’.”

“O crescimento da burguesia africana é também acentuado em Gana e em certas regiões da África


Ocidental Francesa, notadamente na Costa do Marfim. Também pode ser observado em Uganda e,
em proporções menores, em Quênia e Tanganica, onde não devemos esquecer o efeito de
consolidação da terra, que possibilitou o aparecimento de uma classe de fazendeiros independentes
que cultvavam café e outras plantações comerciais. No Congo, na União Sul-Africana, na Federação
da África Central, tem sido extremamente difcil o aparecimento de capitalistas africanos. Mesmo
assim, empresas africanas iniciaram suas atvidades, apesar das limitações polítcas e legais. Diz
Hawkins: ‘Na União Sul-Africana, por exemplo, firmas de transporte de propriedade de africanos
iniciaram seus serviços num mercado criado pelo desenvolvimento de áreas urbanas africanas’.”

Ou seja, a burguesia africana em cada local, para crescer, deve enfrentar a dominação dupla
dos restos do colonialismo e do novo imperialismo, que se manifestam com um poder
externo, o neocolonialismo. Acrescenta Jack Woddis de modo esclarecedor:

“De modo geral, porém, a burguesia africana é fraca, frente ao imperialismo, especialmente no
leste, no centro e no sul da África.”

“Mas a despeito de sua fraqueza, é um elemento que entrou na arena polítca, que começou a
desempenhar um papel importante no movimento nacional. De fato, na maioria dos territórios, está
exercendo um papel destacado e uma infuência polítca que excede, de muito, sua força numérica ou
mesmo econômica. Até nos territórios em que a burguesia é mais fraca, e a tendência é que os
médicos, professores e advogados liderem os movimentos, essas camadas de profissionais liberais e

263
pequenos burgueses refetem muito mais as aspirações e as aparências de uma futura burguesia
nacional do que da classe trabalhadora e camponesa, que consttui a maioria e a principal força do
movimento nacional.”

“Essa infuência da burguesia nacional sobre o movimento, inclusive, em proporção considerável,


sobre a classe trabalhadora e os sindicatos, é em parte oriunda do fato de que os governantes
imperialistas lhe dão certo estmulo, na esperança de que ela se preste mais facilmente às
concessões, e em parte devido ao estágio atngido pelo movimento trabalhista africano, que ainda
não pôde organizar seu partdo polítco nem desenvolver um espírito de classe bem definido e
maduro, e inteiramente independente da luta ant-imperialista.”

Coloca-se, pois, aos povos da África tarefa semelhante daquela que se coloca para os povos
da América Latna. É preciso formar amplas alianças, com base na aliança operário-
camponesa em cada país, para derrotar o contubérnio do imperialismo com as forças locais
mais retrógradas. Esta luta assume múltplas formas e é de enorme importânncia na luta pela
hegemonia intelectual e cultural. Como explica no caso africano, Ezekiel Mphahlele:

“O colono branco teme e resiste ao africano instruído e faz tudo para humilhá-lo, negar-lhe
as aspirações despertadas pela educação, reduzi-lo economicamente abaixo do nível dos
analfabetos, e politcamente ao mesmo nível. Dessa forma, numa comunidade multrracial, o
negro não pode ser aprendiz ou artesão, dentsta ou farmacêutco, porque nem as leis nem
os sindicatos brancos o permitrão... ... O médico não poderá examinar pacientes brancos
num hospital. O funcionário que tem curso secundário ou comercial torna-se apenas um
moço de recados. Na melhor das hipóteses, dão-lhe um lápis e um caderno para anotar o
estoque do armazém de atacados.”,

Esta tendência à humilhação intelectual e cultural das populações e dos quadros locais
também se vê na América Latna, onde tudo é produzido ou oriundo do exterior é dito
“bom”, e tudo procedente do trabalho local é considerado “ruim”, ou “defciente”,. Diz Jack
Woddis:

“As humilhações, insultos e indignidades sofridos diariamente pelos intelectuais africanos não
podem deixar de infuir no sentdo de levá-los a partcipar das lutas de todo o povo. Quando os
médicos brancos da Rodésia do Norte foram trabalhar na Niassalândia, em seguida à Federação,
insistram em que não se permitsse mais aos médicos africanos usar aventais brancos, como haviam
feito até então. Frequentemente o médico africano, com vários anos de experiência, vê uma recruta

264
inexperiente passar à sua frente – com um salário, várias vezes superior ao seu. A luta pela
africanização dos governos provinciais em Gana, Nigéria e Sudão – e que logo se manifestará
também em outros territórios – consttui uma longa história de resistência teimosa dos interesses
enraizados contra o fim de uma situação de privilégio branco, baseada apenas na discriminação
racial.”

A propósito do ódio racial e da discriminação organizada politcamente dos quadros locais –


traço típico do neoliberalismo - diz Maphahlale:

“O africano esclarecido olha à sua volta e segundo seu grau de sensibilidade percebe o sentdo de
sua posição em relação às massas. Empenha-se em certos objetvos intelectuais e culturais a fim de
ajustar-se e afastar quaisquer obstáculos que abalem sua dignidade. Num determinado momento, a
brutal necessidade econômica de sobreviver se impõe aos motvos polítcos e culturais.”

“É esse o caminho que percorre o africano educado do sul do Saara e em Quênia, onde os problemas
da coexistência entre negros e brancos são semelhantes, sob muitos aspectos. Sofrem os natvos a
resistência de um grupo minoritário que se entrincheirou econômica e politcamente e que não pode
aceitar a concorrência de um número esmagadoramente maior de negros. O natvo é considerado
como uma ameaça. É perseguido, banido, deportado ou limitado à sua aldeia natal. Em muitos casos,
ele abandona a luta, entregando-a a outros mais resistentes.”

Os colonialistas não poderiam desenvolver semelhantes prátcas, se não fossem apoiados e


incentvados por seus governos e suas empresas, desde as respectvas metrópoles. Como
muito bem caracteriza Sekou Touré:

“A educação que nos era dada tendia a neutralizar-nos, despersonalizar-nos, ocidentalizar-nos, a


apresentar nossa própria cultura, nossos conceitos sociais e filosóficos – numa palavra, o nosso
humanismo – como expressão de um primitvismo selvagem semi-inconsciente, a fim de criar em nós
os múltplos complexos que nos levariam a ser mais franceses do que os próprios franceses. Além
disso, era oferecida a essa elite intelectual uma série de vantagens e garantas inteiramente
estranhas à vida da imensa maioria do povo e que consttuíam, comparadas com a situação deste,
uma situação privilegiada.”

Portanto, as diferentes formas de dominação e exploração da burguesia são resultados do


processo histórico e com ele evoluem, cumprindo novas funções e reartculando as velhas
estruturas para servir às novas necessidades que se vão criando, no plano local e no plano
internacional. Trata-se de veneno ideológico da pior espécie, acreditar que a burguesia

265
voluntariamente renuncie a velhas formas de dominação e exploração e venha de “moto-
próprio”, introduzir “melhorias”, para as massas que explora aqui e ali. As diferentes
burguesias apenas “acumulam”, todos os malefcios que sua dominação histórica gera, só
podendo mudar seus “hábitos”,, diante da ação revolucionária das grandes massas dos
diferentes povos.

(E) – A Luta Crescente dos Movimentos Sociais. – A peste fascista que teve que ser
erradicada durante a segunda guerra mundial, pela luta armada de diferentes povos, deixou
uma lição da qual todos devem aprender. A burguesia é uma classe que não reconhece os
“rebentos”, de seus semelhantes, como o leão que, ao integrar-se em uma nova família,
assassina àqueles que seriam seus “enteados”,. O fascismo é uma ideologia pequeno-
burguesa que a burguesia utliza “não apenas”, para combater o proletariado, mas também
para combater a própria burguesia e a pequeno-burguesia. Nesta luta desesperada para
controlar sozinha o poder, a burguesia não reconhece “amigos”,. Por isso, a luta em comum,
ao lado dos trabalhadores, para combater o imperialismo, é cheia de traições, engodos e
mistfcações. No entanto, a direção do movimento trabalhador não pode em momento
algum cair no subjetvismo e buscar “queimar etapas”, na luta. O melhor antídoto contra as
vacilações e traições próprias de setores das classes dominantes é a organização em
profundidade do movimento social dos trabalhadores e do povo pobre. A organização
popular em profundidade é capaz de absorver todos os golpes que caracterizam a
mentalidade golpista, repondo a hegemonia para o movimento popular, ao fm de cada
etapa superada pela vida. Como diz Revunenkov:

“No últmo período da Segunda Guerra Mundial, nos países da Europa central e do sudeste,
eclodiram revoluções populares democrátcas, que brotaram, de maneira imediata e direta, da luta
de libertação nacional contra os ocupantes germano-fascistas. A hegemonia nessas revoluções foi
exercida pela classe operária, dirigida pelos partdos comunistas e operários, tendo como aliado o
campesinato trabalhador.”

“A premissa fundamental para a vitória das revoluções democrátco-populares nos países da Europa
central e do sudeste foi o esmagamento do fascismo alemão, no qual desempenhou papel decisivo a
União Soviétca.”

“Em seu desenvolvimento, as revoluções democrátco-populares, nos países da Europa, passaram


por duas etapas. Na primeira, davam-se, de preferência, soluções aos problemas antfascistas, ant-

266
imperialistas e ant-feudais. Para essas soluções foram precisos de um ano a um ano e meio.
Entretanto, países como a Bulgária, no qual não havia latfundiários, o tempo necessário foi menor,
tendo sido alcançado o fundamental, nos fins de 1944.”

“À medida que eram dadas soluções aos referidos problemas e em que crescia a consciência e a
organização da classe operária, as revoluções democrátco-populares passavam gradualmente para a
segunda etapa, na qual eram resolvidos, de preferência, os problemas da revolução socialista. Essa
últma etapa terminou, na Europa, entre 1947 e 1948.”

É preciso entender que o avanço revolucionário no processo da Segunda Guerra não foi
uma excepcionalidade, mas o fruto da decomposição da sociedade do capital. O colapso da
China, da Coréia e de Cuba demonstra que a sociedade do capital está em crise profunda e a
oportunidade se dá para todo movimento social que se aprofunda na tarefa de libertar o seu
próprio país.

1 – A Relação Entre os Fatores Internos e Externos no Desenvolvimento da Sociedade.

O mundo em que vivemos é uma totalidade e os fatos que se dão em qualquer parte estão
relacionados e afetam outros acontecimentos que aparentemente os ignoram. Nas
condições do mundo do capital, as inter-relações se tornaram mais estreitas que nunca. Sem
estmular a escravidão nas Américas, certamente a Grã-Bretanha houvesse demorado mais
para fazer sua revolução industrial. Sem a presença do imperialismo, a China talvez ainda
enfrentasse um processo de congelamento social. Todas as doutrinas do mundo estão se
infuenciando mutuamente e caminhando numa dada direção, como o sistema solar se
interdepende e “viaja”, para a estrela Sírius. É somente a polícia polítca e os líderes liberais
que estranham o marxismo declarar-se um pensamento internacional e, portanto,
“antpatriótco”,. Não são antpatriótcos os membros do liberalismo, celebrarem congressos
internacionais, ou descer neste ou naquele país para dar “gratuitamente”, seus “conselhos”,...

A interdependência de tudo que existe é, defnitvamente, fenômeno global. Mas a


burguesia, que é internacional, não quer reconhecer a condição igual para as classes que ela
explora ou submete. Assim, o método dialétco reconhece o caráter interdependente dos
fenômenos sociais, e o movimento mútuo do que é “externo”, e o que é “interno”, a um
fenômeno. Esta reciprocidade, “externo-interno”, abarca tudo que existe e é preciso
267
considerar sua afetvidade para fazer uma análise correta das forças que movem um
fenômeno, natural ou social. Comentam Rosenthal e Straks:

“No mundo objetvo, o conteúdo é o aspecto interno dos objetos. Este aspecto representa um
conjunto de elementos e processos que consttuem o fundamento da existência e do desenvolvimento
das coisas. A forma é a organização, a estruturação do conteúdo. Nos fenômenos que pertencem à
esfera do conhecimento, a forma é a expressão do conteúdo. (...) O modo de produção social
apresenta dois aspectos – as forças produtvas e as relações de produção – que atuam como
conteúdo e forma, vinculados entre si. (...) A forma, por conseguinte, não é só algo de superficial, mas
algo interno, que penetra e transpassa o conteúdo, dotado de forma em cada um de seus elementos.
O conteúdo e a forma penetram-se, reciprocamente; o conteúdo tem uma forma e a forma possui um
conteúdo. Ao mesmo tempo, o conteúdo e a forma não são um par de contrários imutáveis e imóveis.
Cada um destes polos opostos, enlaçados em um conjunto de relações mútuas com outros
fenômenos, pode desempenhar o papel de forma ou de conteúdo. As relações de produção, por
exemplo, são a forma das forças produtvas. Mas, se considerarmos as relações de produção em
outra conexão mútua, a saber, como base, em sua interdependência com a superestrutura, a base
atuará então como conteúdo, como objeto que se refete na consciência social, e a superestrutura
desempenhará aqui a função de forma. (...) A ciência e a prátca demonstraram que os caracteres
hereditários modificam-se no processo de interdependência entre os organismos e o meio ambiente.
Se destacarmos o papel do meio, temos que explicar as mudanças que surgem nos organismos
recorrendo à ação de uma força místca, sobrenatural.”

É legítmo, portanto, o espaço para tentar compreender o mundo a partr da razão, a partr
do enriquecimento mútuo do conhecimento e da lógica. Esta interação que constrói a
humanidade gradualmente como um ser histórico, requer o entendimento, o estudo, a
análise e o esclarecimento. Como insistem Rosenthal e Straks:

“O desenvolvimento dialétco objetvo de todos os fenômenos da natureza e da vida social dá como


resultado que todo equilíbrio, toda concordância entre objetos isolados, entre os aspectos internos de
cada objeto, e também entre a forma e o conteúdo sejam puramente relatvos e temporários. Uma
concordância imóvel e absoluta, concebida metafisicamente, ‘não pode existr, no desenvolvimento
da natureza nem no estado da sociedade’. (...) Entre os oportunistas, dão-se dois tpos de
tergiversações, ao abordar o problema de relações mútuas entre o conteúdo e a forma. Uma delas
consiste em subestmar o papel atvo que a forma desempenha que se traduz em considerá-la como
algo passivo, que segue automatcamente o movimento do conteúdo. Baseando-se nisso, chega-se à
conclusão de que não existe contradição entre a forma e o conteúdo.”

268
O estudo da dialétca assegura, portanto, a necessidade de compreender a mudança que
habita em cada fenômeno natural ou social, e a multplicidade e riqueza de vistas que o
mesmo oferece a partr de suas diversas relações. Daí a importânncia do debate e da
educação polítca para os militantes de vanguarda, a fm de que possam compreender o que
se passa e possam seguir descobrindo o que é novo com a modifcação das situações. Diz
Yajot:

“Resulta, assim, que a forma e o conteúdo são um todo único. Em qualquer objeto ou processo,
acham-se sempre estreitamente vinculados. (...) A dependência da forma em relação ao conteúdo
não significa que um conteúdo concreto possa originar uma só forma. Assim, mostram claramente, os
exemplos da vida social, em que a forma é originada pelo conteúdo, vinculado sempre a
determinadas condições históricas concretas. (...) Resulta, pois, que não só o conteúdo infui na
forma, mas que, vice-versa, a forma infui no conteúdo. E essa infuência pode ser dupla. Se a forma
corresponde ao conteúdo, contribui para seu desenvolvimento. Mas se a forma não corresponde ao
conteúdo, dificulta-o, freia seu desenvolvimento. De todos os modos, seu papel é sempre atvo: infui
no conteúdo. (...) O antagonismo entre a forma e o conteúdo não surge de repente, mas desenvolve-
se gradualmente. No princípio, aparecem, entre eles, só pequenas diferenças. Não será difcil
compreender porque: no conteúdo, o desenvolvimento adquire novos traços, mas a forma não pode
se modificar cada dia e contnua a mesma até certo momento. As diferenças, entretanto, vão se
acumulando paulatnamente, e em determinada etapa transformam-se em oposição entre a forma e
o conteúdo. Surgem, então, já, entre eles, contradições, entram em confito, tornam-se antagônicos.
Tais contradições resolvem-se, nas distntas esferas da vida, de maneira também distntas.”

O ensinamento do materialismo dialétco requer o acompanhamento permanente do


movimento dos fenômenos, para manter-se num processo de conhecimento a se enriquecer
e não apresentar interpretações dos fenômenos que se congelaram no tempo.

Deste ponto de vista, compreender a natureza e compreender a sociedade ambos


requerem um estudo, uma análise e uma caracterização cambiante ao longo do tempo. O
trabalho de compreensão da relação dos fatores internos e externos no desenvolvimento
social não difere, pois, de qualquer outro trabalho científco. Na vida polítca do partdo,
todos os escalões veem-se envolvidos numa análise permanente dos aspectos gerais,
internacionais, que infuenciam as questões nacionais, em grau ou natureza, e que, por sua
vez, através destas, impactam sobre as condições locais, também permanentemente
submetdas à análise e interpretação.
269
Assim, o trabalho de elaboração de uma linha adotada não decorre exclusivamente na
colocação pela direção de um conjunto de teses, capaz de focar dada realidade em dada
época. Pelo processo de discussão coletva, semelhante linha é reelaborada coletvamente, e
enriquecida pela experiência que se adquire, passo a passo, de sua prátca. Diz Lênine:

“Apenas com a vanguarda, é impossível triunfar. Lançar a vanguarda sozinha à batalha decisiva,
quando toda a classe, quando as grandes massas ainda não adotaram posição de apoio direto e essa
vanguarda ou, pelo menos, de neutralidade simpátca, e não são totalmente incapazes de apoiar o
adversário, seria não só uma estupidez, mas um crime. E para que, realmente, toda a classe, para
que, realmente, as grandes massas dos trabalhadores e dos oprimidos pelo capital cheguem a ocupar
essa posição, a propaganda e a agitação, por si, são insuficientes. (...) Mas quando se trata da ação
prátca das massas, de movimentar – se me é permitdo usar essa expressão – exércitos de milhões de
homens, dispor todas as forças da classe de determinada sociedade para a luta fnal decisiva, não
conseguireis nada através unicamente dos hábitos de propaganda, com a simples repetção das
verdades do comunismo ‘puro’. E é porque, nesse caso, a conta não é feita aos milhares, como faz o
propagandista membro de um grupo reduzido e que ainda não dirige massas, e, sim, aos milhões e
dezenas de milhões. Nesse caso, é preciso perguntar a si próprio não só se convencemos a vanguarda
da classe revolucionária, mas também se estão em movimento, as forças historicamente atvas de
todas as classes de tal sociedade, obrigatoriamente de todas, sem exceção, de modo que a batalha
decisiva esteja completamente amadurecida, de maneira que 1) todas as forças de classe que nos são
adversas estejam suficientemente perdidas na confusão, suficientemente lutando entre si,
suficientemente debilitadas para uma luta superior a suas forças; 2) que todos os elementos
vacilantes, instáveis, inconsistentes, intermediários, isto é, a pequena burguesia, estejam
suficientemente desmascarados diante do povo, suficientemente cobertos de opróbrio pela sua
falência polítca; 3) que nas massas proletárias comece a aparecer e a expandir-se com poderoso
impulso o afã de apoiar as ações revolucionárias mais resolutas, mais valentes e abnegadas contra a
burguesia. É então que está madura a revolução, que nossa vitória está assegurada, caso tenhamos
sabido levar em conta todas as condições levemente esboçadas acima e tenhamos escolhido
acertadamente o momento. (...)”

O trabalho de detalhamento analítco e enriquecimento da linha polítca em princípio


elaborada pelo corpo diretvo do partdo se fortalecem com o aperfeiçoamento dessa linha
pela militânncia e a entrega consciente dessa linha adotada ao movimento de massas. Será o
movimento social a força capaz de lhe dar consistência e corrigir-lhe os eventuais erros,
transformando-a em um instrumento capaz de aproximar a vitória. Diz Stálin:

270
“1. A reviravolta de 1904-1905 (a guerra russo-japonesa pôs a nu, por um lado, toda a instabilidade
da autocracia e, por outro, a potência do movimento proletário e camponês) e as Duas Tátcas, de
Lênine, como plano estratégico dos marxistas corresponde a esta reviravolta, a qual deveria conduzir
à revolução democrátco-burguesa (nisso reside a essência da reviravolta). Não uma transação
liberal burguesa com o czarismo sob a hegemonia dos democratas consttucionalistas, mas uma
revolução democrátco-burguesa sob a hegemonia do proletariado. (Nisso reside a essência do plano
estratégico). Esse plano parta do pressuposto de que a revolução democrátco-burguesa na Rússia
impulsionaria o movimento socialista do Ocidente, desencadearia ali a revolução e facilitaria a
passagem da Rússia, da revolução burguesa, à revolução socialista (v. também as atas do III
Congresso do Partdo, os discursos de Lênine no Congresso e também as análises do conceito de
ditadura, feitas tanto no Congresso como no opúsculo “A vitória dos democratas consttucionalistas”.
É indispensável calcular as forças, internas e internacionais, empenhadas na luta, e em geral fazer a
análise da economia e da polítca do período de reviravolta. A Revolução de Fevereiro encerrou este
período com a realização de, pelo menos, dois terços do plano estratégico das Duas Tátcas.”

Ou seja, uma linha polítca correta no essencial tende a se enriquecer quando é


compreendida pelas massas, que dela fazem um instrumento para educar parcelas
crescentes dos povos e avançar com esta experiência, para concretzá-la através de vasta luta
e inúmeras reviravoltas. Mas essa elaboração de uma linha basicamente correta se dá
levando-se em conta o conjunto dos elementos implicados – “externos”, e “internos”, – e,
aprendendo com a mesma, da prátca de luta do movimento de massas. É preciso tornar a
linha polítca um instrumento de quebra da passividade; e tal ela só pode ser se nela se
inscreve a experiência das massas oprimidas. Diz Stálin:

“A diferença entre a ‘gloriosa’ Revolução de Fevereiro, feita pelo povo, pela burguesia e o capital
anglo-francês (do ponto de vista internacional essa revolução não trouxe nenhuma mudança séria à
situação, pois, ao entregar o Poder aos democratas consttucionalistas, foi a contnuação da polítca
do capital anglo-francês) e a Revolução de Outubro, que mudou tudo.”

“As ‘Teses’ de Lênine, como plano estratégico correspondem à nova reviravolta. A ditadura do
proletariado como saída. Este plano parte do pressuposto: ‘Começaremos a revolução socialista na
Rússia, derrubaremos a nossa burguesia, desencadearemos assim a revolução no Ocidente e, em
seguida, os camaradas do Ocidente ajudar-nos-ão a levar a cabo a nossa revolução’. É indispensável
uma análise da economia e da polítca, internas e internacionais, neste período de reviravolta
(período de ‘dualidade do Poder’, coligações, complô do general Kornilov como indício do fim do

271
poder de Kerenski, efervescência nos países ocidentais, suscitada pelo descontentamento contra a
guerra.)”

3. A Revolução de Outubro de 1917, (reviravolta não só na História russa, mas também na História
mundial), a instauração da ditadura do proletariado na Rússia, (Outubro-Novembro-Dezembro de
1917, e primeiro semestre de 1918), como ruptura da frente social internacional contra o
imperialismo mundial, ruptura que determina uma viragem para a liquidação do capitalismo e a
insttuição da ordem socialista em escala mundial, e como era que dá início à guerra civil em lugar da
guerra imperialista (decreto sobre a paz, decreto sobre a terra, decreto sobre as nacionalidades,
publicação dos tratados secretos, programa do trabalho de construção, discurso de Lênine perante o
II Congresso dos Sovietes, opúsculo de Lênine: “A Tese do Poder Soviétco”, edificação econômica).”

Assim se dá que no mundo social a interpenetração do externo-interno leva a alterações


profundas daquilo que se passa, e a capacidade de entender, de ajustar-se à realidade para
poder avançar não pode ser posta de lado. Diz Stálin:

“9. As bases comuns da estratégia e da tátca, comunistas. São três essas bases:

a) Tomar como base a seguinte conclusão, extraída da teoria do marxismo e confirmada pela prátca
revolucionária: nos países capitalistas o proletariado é a única classe revolucionária até ao fim,
interessada na libertação completa da humanidade do capitalismo e destnada, por conseguinte, a
chefiar todas as massas oprimidas e exploradas na luta pelo derrube do capitalismo, em virtude do
que todo o trabalho deve orientar-se no sentdo de assegurar a ditadura do proletariado.

b) Tomar como base a seguinte conclusão, extraída da teoria do marxismo e confirmada pela prátca
revolucionária: a estratégia e a tátca do Partdo Comunista de qualquer país só podem ser justas
quando o Partdo não se encerra nos limites dos interesses do “seu” país, da “sua” pátria, do “seu”
proletariado, mas, pelo contrário, levando em conta as condições e a situação do próprio país, põe
em primeiro plano os interesses do proletariado internacional, os interesses da revolução nos outros
países; isto é, só quando, substancialmente, pelo espírito que a orienta, for profundamente
internacionalista, realize “o máximo possível num país (no seu país) para desenvolver, apoiar e
despertar a revolução em todos os países” (v. A Revolução Proletária e o Renegado Kautski, de
Lênine).”

c) Tomar como ponto de partda a negação de todo o doutrinarismo (de direita e de esquerda) ao
modificar a estratégia e a tátca, ao elaborar novos planos estratégicos e novas tátcas (Kautski,
Axelrod, Bogdánov, Bukharin); negar o método contemplatvo e o método das citações e dos

272
paralelos históricos, dos planos quiméricos e das fórmulas mortas (Axelrod, Plekhánov); reconhecer
que não se pode “repousar” sobre o ponto de vista do marxismo, mas apoiar-se nele, que não “basta
explicar o mundo”, mas “transformá-lo”, que não se deve “contemplar pelas costas o proletariado”,
nem marchar a reboque dos acontecimentos, mas dirigir o proletariado e ser a expressão consciente
de um processo inconsciente (v. A Espontaneidade e a Consciência, de Lênine, e a conhecida
passagem do Manifesto Comunista, de Marx, em que se diz que os comunistas são a parte mais
clarividente e progressista do proletariado).“

“Ilustrar cada um desses princípios fundamentais, especialmente o segundo e o terceiro, com fatos
extraídos da experiência do movimento revolucionário na Rússia e no Ocidente.”

A compreensão do processo revolucionário que vive como parte de um processo mundial


de transformação é assim importante condição para acompanhar o movimento da realidade
e as viragens, muitas vezes súbita, na correlação de forças ou na fase da luta. Mas
semelhantes reviravoltas nas disposições de “forças e de ânnimos”, não se dão apenas a nosso
favor, mas podem dar-se também contra nós. O crescimento do movimento de massas
muitas vezes ocorre que se interrompe.

Diz Shajnazarov:

“Examinado o processo de desenvolvimento, vimos que existe determinada conexão mútua entre os
lados contrapostos entre as fases inferiores e superiores de desenvolvimento. O movimento e o
desenvolvimento são impossíveis sem a ação mútua dos lados e fenômenos contrapostos, sem
interconexão com as condições de vida circundantes. (...) Se estudamos a fundo qualquer esfera do
mundo circundante, encontraremos, em seu desenvolvimento, determinada ordem natural e
regularidade, sucessão e sistematzação. (...) Em qualquer esfera da realidade, existem profundos
vínculos objetvos que determinam o caráter e a direção de seu desenvolvimento, que permitem
concebê-la como um todo único.”

É esta capacidade para compreender o entrelaçamento dos fenômenos como um “todo


único”, que nos dá a oportunidade de escapar das surpresas que o real pode, para nós, vir a
armar. O quadro marxista deve preparar-se intensamente para os movimentos da realidade
que estão inscritos no processo vivido e que pouco tem de acaso. Diz Stálin:

273
“10. Objetvos:

a) Conquistar para o comunismo a vanguarda do proletariado (isto é, forjar os quadros, criar o


Partdo Comunista, elaborar o programa, os princípios da tátca). A propaganda como forma
fundamental de atvidade.

b) Conquistar para a vanguarda as amplas massas de operários e, em geral, de trabalhadores


(conduzir as massas às suas posições de luta). Forma fundamental de atvidade: ações prátcas das
massas, como prelúdio dos combates decisivos.

11. Normas:

a) Dominar, sem exceção, todas as formas de organização de proletariado e todas as formas (campos
de ação) do movimento, da luta. Formas de movimento: parlamentares e extraparlamentares, legais
e ilegais.

b) Aprender a adaptar-se à rápida substtuição de umas formas de movimento por outras, ou a


combinar certas formas com outras, aprender a combinar as formas legais com as ilegais, as
parlamentares com as extraparlamentares.

É preciso estar preparado, portanto, para eventuais desenvolvimentos desfavoráveis da


situação, e saber ancorar nossas forças através de um sistema de alianças. Ensinou Lênine:

“O capitalismo deixaria de ser capitalismo se o proletariado ‘puro’ não estvesse rodeado de uma
massa de elementos de variadíssimas graduações, elementos que representam a transição do
proletário ao semiproletário (e que obtém grande parte de seus meios de existência vendendo sua
força de trabalho). Do semiproletário ao pequeno camponês (e ao pequeno artesão, ao biscateiro, ao
pequeno patrão em geral), do pequeno camponês ao camponês médio, etc., e se no próprio seio do
proletariado não houvesse setores com maior ou menor desenvolvimento, divisões de caráter
territorial, profissional, às vezes religioso, etc. De tudo isso se depreende, imperiosamente, a
necessidade – uma necessidade absoluta – que tem a vanguarda do proletariado, o Partdo
Comunista, de recorrer à manobra, aos acordos, aos compromissos com os diversos grupos
proletários, com os diversos partdos dos operários e dos pequenos patrões. Toda a questão consiste
em saber aplicar essa tátca para elevar, e não para rebaixar, o nível geral da consciência, de espírito
revolucionário e de capacidade de luta e de vitória do proletariado.”

274
2 – A Importância da Uma Justa Avaliação da Situação Internacional para a Elaboração de
Uma Justa Linha Polítca.

Nos últmos cem anos (1860-1960), criou-se a perspectva de um poder polítco dos
despossuídos dos meios de produção, massas pobres fundamentalmente consttuídas de
operários (fabris e rurais) e camponeses, (principalmente com pouca ou nenhuma terra).
Estas massas que despertaram politcamente consttuem a maioria absoluta de todas as
sociedades nacionais e de toda a humanidade. Por esta razão, apresentar o direito de
silenciar o debate e a organização destas massas de povo como “democracia”, e qualifcar de
“antdemocrátca”, a organização, a manifestação e luta polítca desta ampla maioria é
absolutamente ridículo. As massas populares que despertam e se unem à luta polítca, criam
um novo potencial para o desenvolvimento da democracia. Assim, como ao longo da história
a democracia já foi escravista, e tem sido recentemente burguesa, assim tende ela a se
transformar num regime social em que as amplas maiorias de trabalhadores serão os que
decidirão.

Em diferentes regiões e países despertam forças polítcas novas, capazes de produzir a


ampliação do movimento social trabalhador e encontrar novas saídas para a vida social. No
Brasil, a derrota das forças reacionárias em 1955, a garanta de posse e a efetvação do
governo JK, a derrota dos golpistas nas jornadas de agosto-setembro de 1961, tudo tem
apontado para uma conjuntura doméstca favorável a mudanças, que acompanham o
movimento da conjuntura internacional, evidentemente favorável ao progresso. Diz a
declaração do PCB:

“Em seu V Congresso, afirmavam os comunistas brasileiros existr em nosso País, a possibilidade real
de que a revolução ant-imperialista e antfeudal atnja seus objetvos por um caminho pacífico. Esta
possibilidade se relaciona com o debilitamento do campo imperialista e a infuência decisiva do
campo socialista na situação internacional e com os seguintes fatores internos: unidade e
fortalecimento do movimento operário, nos planos, polítco, orgânico e ideológico; organização,
unificação e combatvidade cada vez maiores dos camponeses, formação de uma consciência ant-
imperialista e democrátca em importantes setores das forças armadas, partcularmente entre os
sargentos; afirmação da tendência à ampliação das liberdades democrátcas, apesar das tentatvas
golpistas e da resistência encarniçada dos setores retrógrados e pró-imperialistas.”

275
“Estes fatores conjugados podem atuar no sentdo de isolar os inimigos do povo brasileiro e de
impedir que recorram às armas. Isto permitria assegurar o triunfo pacífico da revolução, ou seja, a
tomada revolucionária do Poder estatal por meios pacíficos.”

Uma justa avaliação da situação internacional é elemento importante para elaborar a tátca
de ação correta, que seja capaz de melhor favorecer o desdobramento das etapas
estratégicas pelas quais se tem de passar. Uma reviravolta na situação internacional pode
dar-se seja favorável, seja desfavorável ao plano tátco de ação, de modo a requerer o ajuste
adequado à linha polítca em prátca. Não basta a uma linha polítca que ela haja sido
aprovada pela maioria do partdo. Ela também deve ser correta, ou seja, expressar os ajustes
tátcos impostos pelas viragens internas e internacionais. Nesse sentdo, a direção polítca do
partdo deve vigiar e analisar constantemente os desdobramentos de força internos e
externos, para manter sempre balanceada a análise de forças empreendida e expressa na
linha polítca. Nesse sentdo, não deve ser descartada a priori a possibilidade de uma
evolução desfavorável da conjuntura. Diz a declaração:

“Nas circunstâncias do nosso País, não está afastada a possibilidade de se tornar necessário o
caminho não pacífico de conquista do Poder, caminho em que a luta armada consttui a forma
principal de luta.”

“Os setores entreguistas e mercenários muitas vezes estmulados pelos setores conciliadores,
pretendem suprimir as liberdades democrátcas existentes e podem tomar a iniciatva de desencadear
a violência generalizada contra as forças populares, visando a insttuir no País um regime terrorista
de extrema-direita.”

Numa situação como a atual, em que nem o partdo, nem o proletariado, não desfrutam da
hegemonia na frente comum, não podemos garantr sozinhos, através de nosso plano tátco,
a evolução da conjuntura de forma favorável. No entanto, a polítca correta é seguir a
acumular forças, tanto nossas quanto de nossos aliados; resistr com frmeza às ações
agressivas das forças obscurantstas; ampliar os canais da luta democrátca e não criarmos
difculdades, necessárias apenas ao sucesso dos elementos reacionários. Evitando as
provocações e as distorções polítcas engendradas pelos elementos reacionários, é possível
ampliar, fortalecer e conduzir a vitórias parciais o campo da democracia, das soluções
nacionalistas e da frente social unida. Como diz a declaração do partdo, a vitória parcial
certamente abrirá o caminho a novas vitórias:

276
“As forças mais consequentes da frente única, em partcular a classe operária, contnuarão a luta por
medidas mais enérgicas e profundas contra o imperialismo e a reação interna. A fim de defender as
conquistas já alcançadas e prosseguir nas transformações exigidas pelo desenvolvimento do País,
será necessário, portanto, um processo de radicalização da composição e da polítca do governo
nacionalista democrátco, o que conduzirá à perda de posições de elementos conciliadores e
vacilantes.”

“Dessa maneira, num prazo dependente das circunstâncias concretas, será possível alcançar a
mudança essencial na correlação de forças, que permitrá o salto revolucionário, com a restauração
de um novo Poder Estatal capaz de levar à prátca as transformações radicais da etapa ant-
imperialista e antfeudal da revolução brasileira.”

Uma grande difculdade dos países subdesenvolvidos é possuírem quadros capazes de


analisar o estado da situação de modo permanente; de possuírem quadros que desenvolvam
uma visão de conjunto entre (1) os fatos do subdesenvolvimento, (2) de onde provém o
subdesenvolvimento e as polítcas (3) de aproximação e vizinhança que lhe são
“fraternalmente”, impostas pelas grandes potências. A habilidosa polítca de apaziguamento
e de indução ao endividamento local é pratcada pelas potências, que empurram a economia
do país subdesenvolvido a um elevado consumo daquilo que não produz. O resultado é
aquilo que se conhece como “dependência das importações”,. Países que poderiam manter-
se perfeitamente sem comércio exterior, têm nesse a fonte de seus desequilíbrios e de
processos de produção completamente ultrapassados.

O marxismo-leninismo caracteriza esta estratégia que o poderoso utliza para explorar o


fraco de “estratégia de engodo”,. O coelho persegue para sempre a cenoura que não pode
alcançar. Um país pobre precisa comprar ou produzir tratores, caminhões e trens, mas
compra ou produz automóveis, colônias de férias e estações de serviço automotvo. Os
recursos são desviados para bens de consumo diretos, que são objeto de consumo das
classes dominantes e da pequena burguesia, mas que deixam quase no mesmo nível de
antes o padrão de consumo e de vida da maioria trabalhadora. Quando se trata de reduzir o
endividamento que resulta do consumo supérfuo, são tomadas medidas fscais e cambiais
que descarregam o grosso do processo do endividamento como restrições à alimentação,
saúde pública e educação dos trabalhadores e do povo pobre. Tais polítcas consolidam a

277
poderosa aliança dos fornecedores imperialistas e das classes dominantes locais dos países
subdesenvolvidos.

Faz parte dessa aliança, a intervenção direta ou o apoio militar e repressivo contra a
população trabalhadora local, seja o caso de manifestações polítcas, ou tentatvas de
libertação contra semelhante jugo. Nesse caso, a culpa é sempre da vítma. O
desenvolvimento dessas situações em escala mundial confrma a tese marxista da relação
externa-interna de todas as estratégias, solidamente fundidas e aplicadas desde sua base de
classe. Cinicamente, os agentes do imperialismo fngem não contnuar por meios repressivos
e militares as suas estratégias polítcas, “admirando-se”, quando os marxistas reconhecem
que a estratégia militar é apenas a contnuação da estratégia polítca. A famigerada “ajuda”,
do ponto IV é cabal exemplo da unicidade repressiva internacional, sob a liderança do
imperialismo norte-americano. Desde a revolução francesa (1789-1799) deixou de existr a
chamada “estratégia pura”,. Clausewitz comprovou em sua obra (Da Guerra) a
interpenetração dos objetvos econômicos, polítcos e consequentemente militares em todos
os Estados contemporânneos, e nas classes que são capazes de gerá-los e orientá-los.

A necessidade que têm as classes dominantes dos países atrasados ou subdesenvolvidos de


atar cegamente o seu destno com as potências que as tutelam e exploram “seus”, territórios,
criou uma espécie de “antecipação histórica”, para o movimento operário e o povo pobre que
luta nas colônias, semicolônias e países dependentes. Estas forças sociais se veem obrigadas
a enfrentar forças repressivas globais, treinadas e armadas com a últma geração de
instrumentos repressivos, forjados nos centros imperialistas. Daí a importânncia de os
dirigentes desses movimentos locais compreenderem a verdadeira natureza das lutas
contemporânneas. Todas as lutas de nossa época entre opressores e oprimidos faz parte da
revolução mundial contra o capitalismo e pelo socialismo. Ainda que não se compreenda
esse fenômeno, sua natureza não muda. É preciso conhecer (1) o Estado em que se luta; (2)
conhecer o inimigo que nele está entrincheirado; (3) conhecer dele os aliados; e (4)
apetrechar-se com a teoria mais avançada, para ter chance de vitória. Ignorar a verdadeira
luta que se trava não traz consigo maiores oportunidades, mas uma condução mais difcil da
mesma.

278
O planejamento e a execução da estratégia da burguesia é um fenômeno global e
centralizado. Seria grave ilusão supor que concepções fragmentárias de mundo possam
obter êxito na luta contra a burguesia imperialista. Também o povo trabalhador e sua
vanguarda operária têm que planejar sua estratégia e executá-la de modo responsável e
consequente. Deve-se entender com clareza a etapa estratégica em que o país se encontra;
deve-se ter uma análise detalhada da correlação de forças de classe; deve-se ter clareza dos
objetvos estratégicos de cada etapa da luta, ou seja, da direção principal para onde o
movimento segue. Deve-se proceder à organização básica do proletariado e sua vanguarda.
Devem-se elaborar corretamente as palavras de ordem nas fases de propaganda e agitação.
O plano estratégico deve dar curso à formação dos quadros necessários, e permitr a
elaboração das tátcas positvas e negatvas. O trabalho de construção não deve ser
empreendido com estreiteza, mas visar o máximo necessário dos resultados. A ênfase no
trabalho de base deve ser cuidadosa, alcançando todos os objetvos necessários aos
empreendimentos tátcos. A organização judiciosa do movimento social é que dá
fexibilidade à luta e assegura as vitórias no plano das reivindicações parciais e da tátca
geral. É preciso trabalhar, portanto, sem descanso, na educação do movimento de massas.

A luta do proletariado, e do conjunto dos trabalhadores a eles aliados, como se sabe, possui
duas frentes. Uma frente externa, e outra interna. A frente externa é aquela que lhe é
objetva, está fora do proletariado e não pode ser por ele conduzida. Trata-se da esfera
objetva. O campo interno é aquele campo que é subjetvo ao proletariado, ou seja, suas
escolhas de estratégia e as tátcas correspondentes estão no seu domínio e podem por ele
ser modifcadas ou alteradas. No campo objetvo, apresentam-se os interesses de outras
classes, aliadas ou inimigas do proletariado, que têm suas próprias lideranças e organizações
e seguem um caminho próprio no desenvolvimento da sociedade. O resultado das ações das
diferentes classes, camadas e grupos sociais não se dá no todo, como desejava cada
elemento envolvido na luta social. Da mesma forma, o desfecho social de cada momento de
luta não é igual àquilo que desejava o proletariado, mas é o resultado de um conjunto de
situações contraditórias que modifcam total ou parcialmente aquilo que sua tátca ou
estratégia pretendia. Isto quer dizer que a vontade do partdo de vanguarda, a vontade do
proletariado, a vontade das forças trabalhadoras, a vontade da aliança operário-camponesa,
não é necessariamente igual ou até semelhante ao desenvolvimento social que resulta do

279
desfecho em cada situação ou fase da luta de classes. Por isto se requer da classe
trabalhadora e de suas lideranças uma visão materialista do mundo, uma compreensão
madura do processo histórico e a capacidade de analisar cada conjuntura e aprender da
mesma, corrigindo eventuais erros, reforçando o acerto e mapeando os traços partculares
surgidos e a duração dos mesmos. A maturidade polítca é essencial à luta do proletariado.

Ele próprio, o partdo e as massas trabalhadoras, têm em sua composição subjetva


elementos favoráveis e desfavoráveis à compreensão e à atuação em dadas circunstânncias,
que refetem suas expectatvas históricas e os defeitos e as qualidades de sua liderança. Por
isto, a luta do partdo é para melhorar contnuamente a capacidade e as característcas de
seu núcleo dirigente, para torná-lo capaz de efetuar uma análise científca, marxista-
leninista, do movimento da realidade e, portanto, capaz de cumprir o papel de educador e
formador ideológico das massas a que dirige.

As forças do atraso social, de permanência do status quo e das classes dominantes,


recorrem de modo constante a qualquer meio para impedir mudanças sociais e impedir à
melhoria das condições de vida do proletariado e do povo trabalhador. Caso o proletariado e
seu partdo não sejam capazes de compreender seus erros, de corrigir suas insufciências e
avançar no conhecimento efetvo do movimento da realidade, eles serão vítmas de
sucessivas derrotas impostas por seus inimigos de classe. O grau de consciência do
proletariado deve elevar-se sem cessar para acelerar o direcionamento necessário dos
processos históricos. Caso a consciência do proletariado fque estagnada ou recue, a direção
necessária dos processos históricos haverá de atrasar-se de modo correspondente.

Isto quer dizer que se as forças progressistas, dentro delas o proletariado, não forem
capazes de aplicar com êxito seus planos tátcos, a situação histórica pode retroceder, e no
futuro podem-se impor novas fases e novas tarefas à luta dos trabalhadores, que hoje
poderiam ser evitadas. O marxismo-leninismo, enquanto teoria aplicada às situações
históricas diferentes permite elaborar em cada caso um caminho correto para a luta
revolucionária, analisando a marcha de cada estrutura social e oferecendo elementos
analítcos para a formação de um núcleo dirigente capaz de interpretar o que é novo em
cada situação. O marxismo indica corretamente que a classe ou classes que têm

280
possibilidades de desenvolver uma sociedade melhor no futuro próximo, e quais as classes
decadentes que só podem produzir miséria, acumulação para poucos, e o caos na vida social.

Os programas nacionais dos partdos marxistas-leninistas indicam de maneira correta em


cada situação o caminho do proletariado em dado período do desenvolvimento do
capitalismo (conjuntura), propondo alianças e reformas socioeconômicas possíveis
(programa mínimo) e para todo o curso possível do desenvolvimento capitalista (programa
máximo). A análise correta das forças em presença, nas situações locais, nacionais ou
internacionais, permite indicar a gradação das lutas e a direção geral que o movimento de
classe deve seguir. O movimento estratégico do proletariado permite elaborar a teoria
necessária à condução da classe e de seus aliados fundamentais, qualifcar o momento
histórico e formar os quadros capazes de compreendê-lo e conduzi-lo a um desfecho
favorável. Ou seja, a construção do movimento estratégico é o resultado necessário e
legítmo da compreensão subjetva da natureza do desdobramento das forças sociais e
polítcas em presença.

A estratégia expressa o programa. Ela avalia a extensão e a profundidade das forças sociais
em luta, internas (“nacionais”,) e externas (“internacionais”,). Ela prevê os futuros possíveis da
Nação e das forças progressistas dentro dela, diante de um leque possível de desfechos. O
caminho a ser escolhido pelo movimento revolucionário é aquele que potencialmente mais
economiza forças e alcança com tal relatvamente os melhores resultados para o nosso
campo. A compreensão da natureza social de cada força envolvida e da pauta de seus
interesses fornece os meios necessários para a sua mobilização polítca. Dessa maneira, as
escolhas tátcas – sejam positvas ou negatvas – apresentam uma escala de prioridades para
o acúmulo crescente de forças. Economia de forças, acumulação de forças, asseguramento
da direção principal, defnem o centro tátco da ação do proletariado numa conjuntura
determinada. Dessa forma, a distribuição de forças na aplicação dos diferentes
desdobramentos tátcos é elemento essencial para a obtenção parcial e necessária da
iniciatva estratégica de classe.

A identfcação correta da etapa da revolução, e da fase que se vive da etapa, é uma


necessidade completa do ponto de vista científco, para que a análise da situação
corresponda a uma natureza de ser marxista, isto é, colocar-se a serviço do proletariado. No

281
campo das forças progressistas, muitas concepções são elaboradas e contém ainda um
conteúdo progressista, sem expressarem, contudo, a compreensão mais consequente e o
ponto de vista do proletariado.

Muitos elementos, ideólogos e teóricos, adversários da exploração capitalista, desejam se


colocar à cabeça do proletariado, quando na verdade, suas concepções e programas
correspondem a outras classes ou camadas, como a pequena burguesia urbana, o
campesinato médio, etc. Por esta e outras razões, é necessário que o partdo trave uma luta
ideológica incansável e permanente contra todas as formas de oportunismo e fraqueza
analítca.

Nenhum elemento que partcipa na luta polítca, nenhum quadro que alimenta sua ação no
espírito revolucionário está a salvo de erros de análise e síntese, está a salvo de entender o
processo do mundo real com uma qualidade inferior. A garanta de uma análise correta, ou
mais próxima do correto, está, para um quadro marxista-leninista, no (a) estudo dos clássicos
do marxismo; no (b) aprofundamento do seu conhecimento pessoal das categorias do
materialismo dialétco e do materialismo histórico. Armado com estas poderosas
ferramentas, o quadro marxista-leninista pode capacitar o partdo a reduzir seus erros e a
ampliar seus acertos.

Por exemplo: na difcil fase da ditadura de Dutra, disfarçada de regime democrátco


burguês, a direção do partdo incorreu em certos erros de apreciação quanto à fase que se
tratava da revolução democrátca. A direção valorizou em excesso a capacidade repressiva do
governo reacionário de Dutra, e buscou – através da linha do Manifesto de Agosto –
mobilizar as centenas de milhares de membros e apoiadores do PCB para desencadear a luta
armada no campo, criando um Exército de Libertação Nacional. Era claro que o caráter da
etapa da revolução era compreendido corretamente, que se tratava de uma fase nacional e
democrátca. No entanto, a fase em que se encontrava esta etapa foi mal compreendida: não
se tratava de uma fase de revolução agrária, apoiada em uma luta ant-imperialista. Tratava-
se já da fase que se vive atualmente, ou seja, uma luta ant-imperialista e antfeudal. Na
aliança latfúndio-imperialismo, o imperialismo já havia se tornado a parte forte, sustentando
de “fora para dentro”, a burguesia comercial e o latfúndio. Consequentemente, em pleno
êxodo rural para as grandes cidades, tornava-se mais difcil formar um exército popular no

282
campo, quando o grau de acumulação capitalista, com taxas de crescimento industrial de 10
a 12%, arrastava o excedente populacional para buscar trabalhos nas cidades. Por outro lado,
tal deslocamento acirrava as lutas entre o capital e o trabalho no ambiente das cidades. O
erro no entendimento correto da fase em que se vivia a luta revolucionária levou ao
isolamento do partdo, e ao isolamento do governo Vargas (1951-1954), que acabou
derrubado no suicídio de Getúlio. Isto permitu a formação dos governos reacionários de
Café Filho e Carlos Luz, que trataram de liquidar a industrialização nacional, através da
famigerada Instrução 113, do Ministro Gudin.

Quando o partdo corrigiu o seu erro de interpretação, pôde retomar, desde a Declaração
de Março de 1958, um rumo mais correto, em que passou a apoiar as medidas positvas da
burguesia e da pequena burguesia de traço nacional. Nesta nova fase de luta, é correta a
compreensão que se tem do caráter da fase, que expressa o grau da correlação de forças
concreto na etapa nacional e democrátca da revolução socialista. Portanto, a percepção
correta, pela avaliação externa-interna, do grau da correlação de forças, permite não só
conhecer a direção geral para onde se move a realidade (estratégia), mas exige também uma
caracterização correta da fase da etapa que se vive, o que permite alcançar resultados
melhores e de mais envergadura, no processo de luta de classes.

O conhecimento das formas fundamentais com que se tem processado a luta de classes no
plano histórico do país, permite avaliar as insttuições existentes e criar as insttuições
necessárias a fazer avançar a polaridade tátca-estratégia, com a adoção do centro tátco que
mais favoreça o desenvolvimento do plano estratégico. A linha, a tátca adotada para o
momento da fase, deve sempre permitr o máximo de acumulação de forças na direção geral
do curso do processo. As vias concretas que aí podem ser seguidas dependem da unidade e
do desacordo do campo inimigo, de suas próprias ações tátcas e estratégicas, às quais não
se deve deixar perpetuar como iniciatvas. São as amplas massas do povo que devem ser
mobilizadas por suas reivindicações mais profundas e trazidas para o cenário da luta polítca,
estragando assim os esforços do inimigo para manter-se com a iniciatva nas mãos. O
combate na frente social deve expressar o plano estratégico, deve preparar potencialmente
os êxitos estratégicos demandados e vindouros.

283
3 – A Nova Época em que Vivemos.

O que caracteriza a época contemporânnea são alguns traços únicos, não existentes antes
em outras épocas: (1) a ascensão da burguesia ao poder polítco e a formação das
democracias burguesas; (2) a revolução industrial, com a substtuição da manufatura pela
maquinofatura e o crescimento sem cessar das forças produtvas; (3) em consequência, a
formação do proletariado industrial, e o despertar de sua consciência polítca; (4) a formação
de um novo regime sociopolítco, o socialismo, com base na aliança operário-camponesa.

Estes fatos caracterizam a época em que vivemos como aquela mais progressista da história
humana, que contém os germens de um progresso material contínuo e da libertação da
humanidade das trevas da ignorânncia e do erro sistemátco. Isso implica também dizer que,
do ponto de vista do interesse das classes ser contraditório e até antagônico quanto à base
socioeconômica, esta é também uma época de enormes lutas e confitos, porque aqueles
que tudo possuem não hão de querer ceder e repartr algo com aqueles que pouco ou nada
têm.

(1) O Poder Polítco da Burguesia. – As revoluções do século XVIII e XIX permitram derrotar
as forças feudais e seu latfúndio explorador de pobres em inúmeros países, criando-se
formas democrátcas muito avançadas, em comparação com as sociedades pré-capitalistas.
No entanto, pode-se ver também que tão logo a burguesia se apossa do poder, ela inicia
manobras para reduzir a vida democrátca a uma mera formalidade, inacessível aos pobres, e
desprovida de oportunidades de ascensão social para as outras classes e camadas. Como
disse Marx, na democracia burguesa os direitos da burguesia são considerados um fato
natural (como explorar os trabalhadores), mas os direitos dos trabalhadores devem ser
“regulamentados”,, o que raramente ocorre...

(2) A Revolução Industrial. – A invenção da maquinofatura abriu o caminho a sucessivas


revoluções na técnica, que transformaram o processo de produção e as relações sociais entre
as classes de modo drástco. No entanto, também aqui a burguesia tem procurado impedir a
repartção da nova riqueza criada com os trabalhadores e com o povo em geral. Passou a
bloquear a adoção de novas invenções e a introdução de inovações que não colaborem com
a miséria da maioria ou que favoreçam a redistribuição do poder e da riqueza. A burguesia
tem procurado usar a revolução industrial, para com ela apenas explorar as grandes massas

284
de trabalhadores na cidade e no campo, bloqueando sua necessária melhoria das condições
de vida.

(3) Formação do Proletariado e Avanço da Consciência Proletária. – O surgimento do


proletariado industrial e o desenvolvimento da sua consciência social e polítca tem mudado
de modo drástco as condições de vida sob o capitalismo. Em muitos países, a elevação da
consciência dos trabalhadores tem levado a burguesia a renunciar à vida democrátca,
instaurando em seu lugar ditaduras abertas e terroristas a serviço do grande capital
(fascismo, nazismo, franquismo e outras formas ditatoriais). A experiência da segunda guerra
mundial colocou em relevo a importânncia polítca do movimento trabalhador, com a aliança
operário-camponesa, capaz de eliminar tais ditaduras fascistas, até mesmo através da luta
armada. No caso em que a extrema direita, lance mão do golpe de estado para liquidar as
liberdades democrátcas e os movimentos sociais, é legítma a opção para resistr das forças
progressistas. Como diz a declaração do PCB:

“Em tal situação as forças ant-imperialistas e antfeudais têm o direito e o dever de empregar a luta
armada para derrotar a violência de contrarrevolução.”

No caso do emprego sistemátco pelas forças antnacionais do golpismo e da violência


contra as liberdades polítcas e o movimento trabalhador, torna-se legítmo às forças
democrátcas o emprego de novas formas de luta para garantr sua luta e existência:

“O caminho da luta armada não deve ser compreendido como fruto da conspiração de pequenos
grupos, porém, como resultado da experiência polítca profundamente vivida pelas massas. A luta
armada, neste caso, surgirá como exigência da própria luta de massas e se combinará a outras
formas de luta na cidade e no campo, sem desprezar as mínimas possibilidades de atuação aberta e
legal que ainda existam sob o domínio da reação.”

“A experiência já demonstrou que, no Brasil, podem ocorrer bruscas reviravoltas na situação polítca,
que venham a exigir rápidas mudanças de tátca. Ao ter em vista a possibilidade de realização da
revolução pelo caminho pacífico, a frente nacionalista e democrátca acumula forças, que precisam
estar polítca e ideologicamente preparadas a fim de mudar a tátca e empregar a luta armada, se as
circunstâncias impuserem a necessidade do caminho não pacífico para a conquista do Poder
revolucionário.”

285
É evidente que o caminho trabalhado e desejado pelas forças democrátcas exclui a
violência sistemátca e a supressão dos direitos a se manifestar e exercer o poder de outros
grupos. No entanto, a experiência histórica demonstra a existência de elementos
desesperados nas classes dominantes, que se recusam a negociar, a fazer concessões, e a
conviver em ambiente democrátco. Nesse caso, as forças populares não podem tolerar
golpes de forças minoritárias que busquem exercer o poder apenas no interesse do grande
capital.

O centro tátco das forças nacionalistas e populares é a formação de um governo


nacionalista e democrátco, capaz de representar os desejos da maioria.

A tátca vê-se expressa nas palavras-de-ordem de cada movimento de massas, levado


adiante por categorias profssionais, por área de moradia, ou forças sociais homogêneas ou
heterogêneas. As diretvas do partdo devem ver-se expressas no contexto de tais palavras-
de-ordem, popularmente legítmas e levadas por toda parte de modo permanente e
crescente. O trabalho ideológico deve dar uma coluna vertebral à luta das grandes massas.
Dessa forma, os movimentos e jornadas de luta que caracterizam a ação das massas, com
seu acaso de vaivéns, tende a se impor passo a passo às forças inimigas, derrotando-as e as
desmoralizando. Em cada reviravolta das lutas setoriais, ou lutas abertas de rua, as camadas
do povo tenderão a compreender cada vez melhor o elo entre seus pequenos e grandes
problemas, o elo entre a luta pelas soluções parciais e a luta pelo desfecho social e nacional.
São as vitórias polítcas parciais dos diferentes movimentos de massa que se sucedem ou se
alternam no dia a dia que dão o ritmo de avanço do conjunto do movimento social. A luta de
classes tende a se ampliar e se desdobrar num mar de movimentos sucessivos. As condições
de momento, tempo e lugar conduzem diferentes campanhas autêntcas de pequenos
setores e de grandes setores sociais a uma convergência geral, determinada pelas
necessidades do movimento estratégico, que é o requerido pela própria realidade social.

Em cada momento tátco, são levadas as massas crescentes à luta, que parte de
necessidades básicas, mas pouco a pouco ganham em intensidade e expressão. O problema
para o poder reacionário é que ele nunca pode dar qualquer solução às reivindicações
populares, aos motvos mais simples das lutas das grandes massas. O poder reacionário
expressa apenas a força e os interesses das classes dominantes. Se ele ceder qualquer coisa

286
para o povo pobre e trabalhador, começa a cavar sua própria sepultura, porque as classes
dominantes, descontentes, irão desttuí-lo. Ele nesse caso deixou de ser “um poder
reacionário”,. A desmoralização dos quadros das classes dominantes é um fenômeno
contínuo, diante das massas que lutam. O desacordo e a confusão podem chegar a tomar
conta de todo o comando do campo reacionário, com as classes dominantes se dividindo -
por temor ao movimento de massas - segundo seus interesses básicos. Por outro lado, cada
vitória no centro tátco da luta revolucionária se transforma em um êxito estratégico,
podendo levar até mesmo a uma nova fase de luta (mudança importante na correlação de
forças). Somente uma direção comunista, treinada por anos de luta e consolidada pela
formação polítca da classe operária pode conduzir, com chance de vitória, a luta popular
pelo poder, através das diferentes fases e etapas da luta pela revolução socialista. Neste
processo de luta, não se pode desdenhar o papel dos aliados dos amplos setores na frente
única. Seria um absurdo supor que haja outros setores sociais sem interesse no desfecho
revolucionário da luta. A visão diferente não é necessariamente uma visão negatva, e o
partdo, com o proletariado, deve manter, desenvolver e honrar suas alianças.

As diferentes classes e grupos têm opinião ou perspectvas diferentes sobre a relação


propaganda-agitação-ação. O movimento social assume quase sempre a dimensão de uma
força espontânnea, principalmente em momento de rápido crescimento de mobilização
popular. Adotar divisas e consignas acertadas para levar grandes massas de povo a despertar
politcamente é difcil. No entanto, quando tal ocorre, vê-se que rapidamente diferentes
camadas avançam, com graus diferentes de radicalização e partcipação, o que torna ainda
mais difcil coordenar palavras-de-ordem, unitárias, no movimento da relação propaganda-
agitação-ação. O movimento de massas cria as suas próprias leis no processo em
desenvolvimento, não se limitando a reproduzir fatos ou tendências que já haviam ocorrido.
Nesse sentdo dos acontecimentos, a história é sempre nova e imprevisível. Por exemplo, na
fase atual da luta, a palavra-de-ordem “por um governo nacionalista e democrátco”, se
consttui o centro da tátca do partdo e do proletariado. Quando lançada em 1958, tal
palavra-de-ordem se colocava ao nível geral da propaganda polítca, convidando, pois, todas
as forças sociais interessadas nas mudanças a se concentrarem em torno de uma proposição
programátca única de governo. Naquelas condições, apenas uma fração do governo
Kubistchek podia apoiar a apoiar-se nessa proposição, o que consolidou a divisão no seio

287
daquele governo e permitu na luta eleitoral de 1960, apresentar-se uma chapa das forças
nacionalistas e democrátcas (Lot-Jango). Embora a mobilização muito maior da direita haja
vencido aquelas eleições, teve que fazê-lo com uma candidatura pequeno-burguesa
inconsequente, vacilante (Jânnio Quadros). Jânnio elegeu-se e cumpriu seus compromissos com
a direita multnacional, buscando destruir o modelo de repartção de renda e a base material
da plataforma nacionalista (repressão ao movimento popular, polítca econômica
entreguista, com as Instruções 204 a 209, etc.). No entanto, a fragilidade do governo Jânnio
diante da luta de massas levou-o a tentar o golpe e a cair. No bojo de sua queda, formou-se
uma Junta Militar e a palavra-de-ordem do “governo nacionalista democrátco”,, já de posse
das grandes massas, foi fator de mobilização, tornando possível a “Cadeia da Legalidade”, e a
derrota do movimento golpista.

Diante do perigo da guerra civil, em agosto-setembro de 1961, a palavra-de-ordem da


proposição de um “governo nacionalista e democrátco”, uniu no país massas de milhões de
pessoas do povo, passando, pois da fase de propaganda para a fase de agitação. Centenas de
milhares de brasileiros correram a se alistar para enfrentar os golpistas de direita, criando
assim, a perspectva de tornar-se a proposição o centro tátco da luta de classes, já no plano
da ação. O recuo temporário dos golpistas os salvou do poder fulminante da mobilização
causada por esta palavra-de-ordem. Em tal situação, seria errôneo da parte do campo
popular não aceitar o recuo das forças reacionárias e enveredar pela guerra civil. O recuo da
reação consttuiu uma vitória sufciente para o campo das forças populares, que somou
crescentes forças e pôde encaminhar o desenvolvimento do movimento de massas pelas
formas-de-luta não violentas, consolidando as suas bases e as suas alianças. Ensinou Lênine:

“A lei fundamental da revolução, confirmada por todas as revoluções, e em partcular pelas três
revoluções russas do século XX, consiste no seguinte: para a revolução não basta que as massas
exploradas e oprimidas tenham consciência da impossibilidade de contnuar vivendo como vivem e
exijam transformações; para a revolução, é necessário que os exploradores não possam contnuar
vivendo e governando como vivem e governam. Só quando os “de baixo” não querem e os “de cima”
não podem contnuar vivendo à moda antga é que a revolução pode triunfar. Em outras palavras,
esta verdade exprime-se do seguinte modo: a revolução é impossível sem uma crise nacional geral
(que afete explorados e exploradores). Por conseguinte, para fazer a revolução é preciso conseguir,
em primeiro lugar, que a maioria dos operários (ou, em t odo o caso, a maioria dos operários
conscientes, pensantes, politcamente atvos) compreenda a fundo a necessidade da revolução e
288
esteja disposta a sacrificar a vida por ela; em segundo lugar, é preciso que as classes dirigentes
atravessem uma crise governamental que atraia à polítca inclusive as massas mais atrasadas (o
sintoma de toda revolução verdadeira é a decuplicação ou centuplicação do número de homens aptos
para a luta polítca, homens pertencentes à massa trabalhadora e oprimida, antes apátca), que
reduza o governo à impotência e torne possível sua rápida derrubada pelos revolucionários.”

Na luta pela consecução de seus objetvos de classe, o partdo e o proletariado não podem
se comportar como não tvessem estratégia e como se não pudessem abandonar ganhos
tátcos momentânneos e, talvez, até aparentes, dadas as circunstânncias. O movimento social
não pode ser entregue a vantagens temporárias quaisquer, precipitar-se num turbilhão de
fatos de cujo caminho não tenha o controle, ou que venha a perdê-lo em breve momento. O
partdo deve saber parar “sobre a marcha”, e consolidar seus ganhos e suas alianças. Disse
Lênine:

“Mas os revolucionários que não sabem combinar as formas ilegais de luta com todas as formas
legais são péssimos revolucionários. Não é difcil ser revolucionário quando a revolução já estourou e
está em seu apogeu, quando todos aderem à revolução simplesmente por entusiasmo, modismo e,
inclusive, às vezes, por interesse pessoal de fazer carreira. Custa muito ao proletariado, causa-lhe
duras penas, origina-lhe verdadeiros tormentos, ‘desfazer-se’, depois do triunfo, desses
“revolucionários”. É muitssimo mais difcil – e muitssimo mais meritório – saber ser revolucionário
quando ainda não existem as condições para a luta direta, aberta, autentcamente revolucionária,
saber defender os interesses da revolução (através da propaganda, da agitação e da organização) em
insttuições não revolucionárias e, muitas vezes, simplesmente, entre massas incapazes de
compreender imediatamente a necessidade de um método revolucionário de ação. Saber ou a
modificação partcular dos acontecimentos suscetíveis de levar as massas à grande luta
revolucionária, verdadeira, final e decisiva, é a principal missão do comunismo contemporâneo na
Europa Ocidental e na América. (...) Afinal de contas, a cisão é melhor que a confusão, que impede o
desenvolvimento ideológico, teórico e revolucionário do Partdo e seu amadurecimento, assim como
seu trabalho prátco unitário, verdadeiramente organizado, que realmente prepare a ditadura do
proletariado.”

Na luta revolucionária não há atalhos. O partdo não deve se precipitar por um caminho que
pareça mais fácil, e levar por tal caminho o conjunto ou uma parte do movimento popular.
Ele deve saber manter-se fel à sua estratégia de classe, na certeza que ela expressa

289
possibilidades maiores de acumulação de forças e independência de ação. Como disse
Lênine:

“A História, em geral, e das revoluções, em partcular, é sempre mais rica de conteúdo, mais variada
de formas e aspectos, mais viva e mais ‘astuta’ do que imaginam os melhores partdos, as
vanguardas mais conscientes das classes mais avançadas. E isso é compreensível, pois as melhores
vanguardas exprimem a consciência, a vontade, a paixão e a imaginação de dezenas de milhares de
homens acicatados pela mais aguda luta de momentos de exaltação e de tensão especiais de todas as
faculdades humanas, pela consciência, vontade, paixão e imaginação de dezenas de milhões de
homens, enquanto que a revolução é feita em classes. Daí se depreendem duas conclusões prátcas
muito importantes: 1) a classe revolucionária, para realizar sua missão, deve saber utlizar todas as
formas ou aspectos, sem a menor exceção, da atvidade social (terminando depois da conquista do
poder polítco, às vezes com grande risco e imenso perigo, o que não terminou antes dessa
conquista); 2) a classe revolucionária deve estar preparada para substtuir uma forma por outra, do
modo mais rápido e inesperado.”

O partdo e o proletariado devem honrar suas alianças, mas não podem colocar-se a
reboque de seus aliados, oscilando ora à esquerda, ora à direita, como não raro acontece
com as organizações pequeno-burguesas na luta. O partdo deve estudar tais desempenhos
de outras classes na agudização das crises polítcas, compreender o que nesse
comportamento é novo e situar no plano das possibilidades para a ação tais opções
potenciais de grupos aliados ou adversários. Mas não pode deixar-se iludir por eles. Deve
pratcar a sua própria arte tátca ou estratégica, conforme o requerido pelas circunstânncias.
Seria um grave erro, confundir elementos subjetvos numa viragem circunstancial, com uma
efetva reviravolta no plano da correlação de forças. Disse Lênine:

“A revolução distngue-se da luta corrente porque o número de pessoas que tomam parte no
movimento é dez, cem vezes maior, e neste sentdo cada revolução implica sacrifcios não só para
alguns, mas para toda a classe. (...) Mas, certamente, na Rússia, os camponeses saíram ganhando,
com a revolução, mais do que a classe operária. Disto não pode haver a menor dúvida. Do ponto de
vista teórico, isto indica, é claro, que nossa revolução era, em certo sentdo, burguesa. Quando
Kaustky esgrimiu contra nós esse argumento, pusemo-nos a rir. É natural que sem expropriar a
grande propriedade agrária, sem derrubar os grandes latfundiários e sem repartr a terra, a
revolução é somente burguesa, e não socialista. Não obstante, fomos o único partdo que soube levar
a revolução burguesa até o fim, e facilitar a luta pela revolução socialista.”

290
4 – A Possibilidade de Impedir uma Nova Guerra Mundial.

Os dirigentes e teóricos das potências imperialistas sistematcamente erram os seus


cálculos de risco internacional e possibilidade de materializar guerras, ao longo da história.
Além de errarem seus cálculos, têm eles a postura irresponsável de que “um pouco de
guerra”, é uma coisa boa, para reduzir o excesso de população e impedir o progresso do
inimigo. Ou seja, sua maneira de ver as pessoas e as coisas é desumana e irresponsável. Na
verdade os chefes imperialistas consideram uma polítca “normal”, agredir países fracos ou
pobres, como forma de estmular a economia do país agressor. A guerra gera uma demanda
por produção de itens básicos, alimentos processados, tecidos, equipamentos, etc., que
permite aos capitalistas: (1) enviar os homens “desempregáveis”, como exército para
combater o “inimigo”,; (2) congelar os salários dos trabalhadores por “necessidades
patriótcas”,; (3) completar a produção com o emprego de mão de obra feminina, a que
pagam menos. Este é o chamado “keynesianismo de guerra”,.

Com a crise econômica de 1929-1932, muitas potências imperialistas (exceto a França)


viram suas economias internacionalizadas desabar. Nos EUA, o presidente Roosevelt teve
que aplicar ampla intervenção do Estado para salvar o capitalismo em crise. Nessa tarefa, foi
assessorado pelo economista inglês John Keynes. Comenta Paul Baran:

“Tornou-se necessária, então, a ação governamental para mitgar pelo menos os aspectos mais
violentos da situação. Através de obras públicas, auxílios aos desempregados, subsídios aos
fazendeiros, pensões aos veteranos da guerra, o governo teve que intervir para impedir que a
depressão econômica conduzisse ao colapso da ordem capitalista. Era preciso encontrar um
escoadouro compatvel com a preservação do sistema capitalista para a energia das forças sociais
que eram tradicionalmente a favor da intervenção governamental, para o desespero crescente dos
setores não capitalistas menos infuenciados pela ideologia da automatcidade e da neutralidade do
Estado (ou que se podiam revelar mais dispostos a se desligarem dela pelo impacto da realidade que
os circundava). O New Deal desempenhou nos Estados Unidos exatamente este papel. Graças ao
reconhecimento e à proteção governamental dos sindicatos, à insttuição de mecanismos de amparo
sistemátco aos fazendeiros à algumas leis sobre previdência social e a uma supervisão moderada dos
mercados financeiros – e este foi um preço bastante baixo – o Presidente Roosevelt, em seu primeiro
período de governo, pôde impedir grandes transformações polítcas e sociais que poderiam abalar os
alicerces do próprio capitalismo.”

291
“Tão séria foi a crise, tão profunda a falência das noções de automatcidade e de não intervenção
estatal, que mesmo a empresa monopolista teve que fazer adaptações em sua própria filosofia.
Evidentemente, isto não aconteceu da noite para o dia; ainda hoje, parcela considerável da
comunidade das grandes empresas evidencia sinais de que não foi afetada pelo terremoto da década
de 1930. Em seus principais escalões, entretanto, a grande empresa passou a adotar, bem
rapidamente, novas posições ideológicas. Essa transição foi grandemente facilitada pelo fato notável
de que ela não implicou, na realidade, mudança ideológica autêntca.”

Com a experiência das crises de 1929-32 e de 1938-39, os polítcos imperialistas dos EUA
aprenderam a descarregar na guerra, mesmo de grandes proporções, as difculdades
econômicas e sociais com que se debatem. Tão logo terminou a segunda guerra mundial, as
potências imperialistas tveram que enfrentar a grave crise de 1948-49. A mesma foi
resolvida desencadeando a guerra da Coréia (1950-53), que permitu às grandes economias
capitalistas medidas de reorganização. Após o confito coreano, os imperialistas
consideraram a sua “doutrina de guerra localizada”, um grande êxito. É a maneira de manter
o “antestatsmo”, e trar vantagem do dinheiro recolhido nos impostos para fnanciar os
monopólios mais ferozes. Diz Baran:

“De fato, tendo atngido o ápice da pirâmide social, a grande empresa não poderia encontrar
fórmula ideológica melhor adaptada às suas exigências do que o princípio da total liberdade do
indivíduo para aproveitar, ao máximo, as oportunidades que se lhe apresentassem. Esse princípio,
combinado à circunstância de que a interferência social nos esforços individuais deveria ser evitada
ao máximo, não apenas sanciona a desigualdade, os privilégios e a exploração, mas dá às vítmas da
desigualdade, dos privilégios e da exploração uma profunda sensação de inevitabilidade ou, mesmo,
de justça do seu destno. Nos países capitalistas adiantados, não apenas a classe operária foi
profundamente afetada por esta ideologia, mas os empreendedores compettvos, os fazendeiros e
outros membros da pequena burguesia se revelaram incapazes de a ela resistr. Embora estvessem
sendo gradatvamente devorados pela grande empresa, embora estvessem perdendo tanto seus
lucros como sua independência, contnuaram considerando-se membros da classe capitalista, como
camada privilegiada bastante superior ao mero proletariado. Esta partcipação, efetva ou ilusória,
nos privilégios e nos frutos da exploração – mesmo quando esta parcela diminuía a olhos vistos –
privou a pequena burguesia de toda independência moral e polítca, transformou-se em instrumento
dócil, nas mãos de seus senhores monopolistas.”

292
Assim, os monopolistas podem usar a desculpa da defesa da democracia liberal, para
provocar confitos maiores ou menores em países que buscam se industrializar ou escapar da
exploração capitalista. Já observava Bukharín:

“Ora, se a pressão da força militar assegura concessões e privilégios de toda espécie, o


funcionamento ulterior do capital exige ainda uma ‘proteção’ partcular. Outrora, o centro de
gravidade situava-se na exportação mercantl, e os exportadores só arriscavam suas mercadorias,
isto é, seu capital circulante. Hoje, a coisa passa-se de outra maneira. Imensas somas funcionam em
‘terras estrangeiras’, a maioria das vezes sob a forma de capital de fundos investdos em vastas
empresas: estradas de ferro. Cobrindo milhares de verstas, onerosas empresas elétricas, grandes
plantações, etc. Os capitalistas do país exportador têm forte interesse na ‘defesa’ de suas riquezas e
estão dispostos a tudo para manter a possibilidade de prosseguir em sua acumulação.”

“Se, por outro lado, o país explorado é militarmente fraco, a “penetração pacífica” do capital
transforma-se em pouco tempo, em ocupação igualmente “pacífica” ou em partlha, a menos que
não desencadeie ainda um confito entre os países em competção pela posse das esferas de
investmento do capital. A este respeito, serve de exemplo tópico o caso de Turquia, em razão da
concorrência franco-alemã. A ttulo de ilustração, limitamo-nos a citar dois excertos de imperialistas
franceses e alemães, publicados bem antes da guerra: ‘O império turco encontra-se submerso por
hordas germânicas de comerciantes e caixeiros-viauantes.’ ‘Dessa forma, pouco a pouco, a rede dos
bancos alemães ganham todo o império otomano, sustentando a indústria, açambarcando os
meios de transporte, entrando em concorrência com os estabelecimentos fnanceiros
estrangeiros... Em suma, graças à um poderoso apoio polítco, estes bancos esforçam-se para todo
o Levante’.”

“Tal é a indignação que manifesta o burguês assentar defnitvamente a infuência germânica em


francês diante da existência da ‘hordas germânicas’.”

Embora os imperialistas se queixem uns dos outros e tomem as semicolônias uns dos
outros, por razão de matérias primas e mercados, eles realizam periodicamente divisões do
mundo entre si. De modo que os governos e empresas dos países dependentes ou das
semicolônias não podem vender ou comprar num hipotétco mercado livre. Os países
dominados são assim “regulados”, por aqueles outros que os controlam. Sartorius, o teórico
do imperialismo alemão, declarou no começo do século XX:

293
“A industrialização do mundo é um fato que a polítca econômica é obrigada a levar em
consideração... Não está ao alcance de ninguém estancar a marcha da evolução, e, se um governo
proibisse os seus nacionais de fundar estabelecimentos no estrangeiro, os negocistas de outros países
seriam os únicos beneficiários dessa medida. É por isso que a melhor attude a tomar agora é entrar
no jogo. O mundo econômico não permanece fixo em um determinado lugar. Cada mudança promove
outra. Um povo forte tem sempre a possibilidade de intervir. O ‘carpe diem’ adquire aqui todo seu
valor.”

A “entrada no jogo”, cresceu, se fortaleceu e transformou-se na guerra planejada. As


potências imperialistas possuem planos de guerra em que fazem desdobramentos de todas
as hipóteses possíveis de guerras, com alianças de todos e cada um deste e daquele lado. Os
EUA, por exemplo, desde 1920, possuem tais “jogos de guerra”,. Em um deles, se prevê a
guerra dos EUA contra todos os demais (...). Como comenta Paul Baran:

“Uma entdade completamente diferente é aquela consttuída por um conjunto de noções inadequadas,
parciais e tendenciosas conscientemente impingidas nos espíritos dos homens, graças aos esforços de uma
classe, que procura atngir certos fins incentvando sua aceitação mais ou menos geral. Na época do capitalismo
monopolista – época na qual as crenças, os valores e as convicções sucumbem progressivamente ao ataque
pragmatsta – a ideologia conduz, rapidamente, ao condicionamento das massas, a seu ajustamento etc.,
deixando, assim, o seu estudo de ser feito pela sociologia do conhecimento e passando para o domínio da
manipulação da pesquisa de opinião. Engels percebeu com agudez que a ‘ideologia é um processo realizado
conscientemente, de fato, pelo chamado pensador, mas com uma falsa consciência. Os motvos reais que o
impelem permanecem desconhecidos para ele, se não, não seria de forma alguma um processo ideológico’.”

Assim, embora os monopólios não cheguem a criar uma ideologia social, eles pela força do
dinheiro e da agressão, controlam a grande mídia, e conseguem impor seus objetvos de
lucro disfarçados de “espírito guerreiro”, e “patriotsmo”,, deixando a burguesia não
monopolista a seu reboque.

Semelhante distorção da realidade serve para encobrir a “estratégia de guerra localizada”,,


com que mantém os povos na defensiva e arrancam “castanhas do fogo com as mãos
alheias”,. A guerra de independência da Argélia, a retomada da agressão no Vietnam e a
brutal intervenção da NATO, no Congo, e nas colônias portuguesas são disso exemplar
amostra. Os imperialistas, com sua proverbial irresponsabilidade, correm celeremente para a
terceira guerra mundial, como se viu no caso do bloqueio de Cuba. Diante disso, cabe a
pergunta: é possível evitar a terceira guerra mundial?

294
Uma estratégia revolucionária correta pode, sim, evitar o terceiro confito de caráter global.
Em primeiro lugar, o imperialismo – apesar de seu militarismo e seu poder gerado na
“corrida armamentsta”, – não é invencível. No plano concreto de luta, quem decide da sorte
das potências imperialistas é o povo de cada país, incluindo-se nisso o povo de cada potência
imperialista. Os chefes imperialistas gostam da guerra porque não enviam seus parentes para
lá. Da mesma forma agem os oligopolistas. Portanto, amplas campanhas pacifstas e de
desmobilização do ímpeto guerreiro desempenham papel importante. Essas campanhas
devem se basear na verdade histórica, e afetar as campanhas de mentra e falsifcação dos
chefes imperialistas. Para eles, foram sempre eles que venceram em todas as partes. A
verdade, no entanto, é outra. Como disse o general da força aérea soviétca, Rudenko:

“Um aspecto importante das operações da Força Aérea Soviétca foram as vagas de bombardeiros de longo
alcance contra objetvos estratégicos muito a fundo nas retaguardas do inimigo. Estas vagas foram primeiro
lançadas no mês inicial da guerra. O General Rudenko observa que a Força Aérea Norte Americana só pôde
iniciar os bombardeios estratégicos na Europa em 1942.”

“... O General Rudenko subscreve que o crédito de se ter derrotado os exércitos fascistas da Alemanha,
inclusive sua força aérea, pertence às forças armadas soviétcas. Alguns polítcos e a imprensa militar
estrangeira, verdadeiros teóricos das questões militares, diz ainda Rudenko, tentam destruir a verdade
histórica, exagerando o papel das forças armadas norte-americanas e britânicas na Segunda Grande Guerra –
em resumo, as operações da Força Aérea Estratégica dos Estados Unidos. De fato, de acordo com as estatstcas
norte-americanas, o esforço da Força Aérea Norte Americana contra a Alemanha Fascista representa menos de
um terço de todo o esforço de guerra. Além do mais, os objetvos estritamente industriais na Alemanha Fascista
receberam somente um décimo do total das bombas lançadas pelos aviões americanos.”

“Não se deve esquecer que a força aérea anglo-americana operava sob condições muito favoráveis. Em
primeiro lugar, encontrou menos resistência de parte do inimigo porque muitos dos aviões nazistas haviam sido
abatdos nas frentes germano-soviétcas. Acima de tudo, foi nestas frentes que as tropas soviétcas destruíram
75.000 dos 80.000 aviões que a indústria nazista produzira durante os três anos de guerra. Em segundo lugar, a
base industrial dos Estados Unidos nunca esteve sujeita às ações inimigas.”

“O General Rudenko assinala ainda que a estratégia aérea norte-americana durante a Segunda Grande Guerra
mostrou ser deficiente. A teoria pseudocientfica de que a guerra poderia ser ganha pelos bombardeios aéreos
serviu para provar sua inverdade. Tal teoria é inteiramente alheia à arte militar soviétca.”

O general Ponomarenko assim comenta dois anos de ação da guerrilha soviétca, na luta
contra os invasores alemães:

295
“Em dois anos de guerrilha, nas retaguardas dos invasores alemães (de acordo com as informações
recebidas) aqueles elementos aniquilaram mais de 300.000 inimigos, dos quais 30 eram generais,
6.336 oficiais e 1.520 aviadores. Durante o mesmo período, 3.000 trens inimigos foram destruídos ou
descarrilados e 3.263 pontes de ferrovias ou rodovias voadas pelos ares; 1.191 tanques e outros
veículos motorizados, 476 aviões, 378 canhões, 618 carros de estado-maior, 4.027 caminhões e 895
depósitos e casas de armazéns foram destruídos...”

Quando se buscam informações históricas, torna-se evidente o caráter de “tgre de papel”,


do agressor imperialista. No entanto, nenhum dirigente polítco sensato há de preferir a
guerra, a violência sistemátca, às soluções polítcas negociadas, ao ponto de vista humanista
com base em concessões e acordos. Seria ingênuo, porém, achar que só uma das partes na
luta pode impedir o golpe, a traição, o desespero. Não nos esqueçamos da divisa favorita de
Hitler:

“Os tratados foram feitos para serem rompidos.”

Os chefes imperialistas têm enorme difculdade em aceitar o bom senso. Sua visão idealista
e subjetvista os impele para a ação unilateral e para acreditar piamente no engodo e na
surpresa. Como comentou Novik, falando do Alto Comando alemão:

“Sua estratégia era defectva no que, de modo geral, subestmava as forças e possibilidades do inimigo, supra
estmando as próprias. Em contradição a este aspecto aventureiro do lado germano-fascista, a estratégia de
Stálin fundava-se numa base cientfica, dando significado certo não ao que era temporário, de momento, mas
aos fatores permanentes para operar...”

“O mesmo espírito de aventura na estratégia (como ocorreu com Falkenhayn e Ludendorf) existu no comando
de Hitler, na últma guerra. Da ‘Blitzkrieg’, após a derrota da frente soviétco-germânica, passou para a
estratégia de acabar com a guerra, tentando sem sucesso ações de força em frentes já combalidas. De fato,
esta confusão e esta desorientação, se podem observar não somente na Alemanha. Nos anos de 1939-40, o
Estado-Maior Francês deu início à guerra justamente baseado numa estratégia, tentando artficialmente dar à
guerra um aspecto posicional. Mas, a essência da questão é a mesma...”

Portanto, o conhecimento histórico permite a formação dos dirigentes marxistas no


conhecimento real da doutrina militar marxista, no conhecimento efetvo da doutrina de
guerra dos capitalistas e assim capacitar-se a defender a paz e a organização independente
polítca dos trabalhadores e dos camponeses. O dirigente marxista não deve ignorar os
aspectos potenciais da luta de classes, nem pretender voltar-lhe as costas. A desmistfcação

296
da máquina de guerra da burguesia é elemento indispensável à solução madura das
contradições.

Além da (a) luta pela paz e (b) a preparação dos dirigentes populares em todas as formas de
luta, a insistência (c) nas soluções negociadas é importante para impedir a abordagem
antpopular e golpista do imperialismo e seus agentes. A defesa do direito de cada povo à
autodeterminação é a pedra angular da luta contra o golpe de Estado e a intervenção
imperialista. Os imperialistas procuram se agarrar no caráter objetvo das relações internas-
externas entre os diferentes Estados para negar o direito e a capacidade de cada povo a
decidir de seu destno. Eles defendem o direito de intervir em cada país, embora – é claro –
não reconheçam o direito de qualquer outro país de intervir nas potências imperialistas.
Nesse caso, apenas a nação imperialista é uma nação – Estado, capaz de existr de modo
independente e traçar sua própria marcha no contexto histórico. No entanto, como disse
Lênine:

“Nós, os marxistas sempre nos orgulhamos do fato de que por uma estrita avaliação da massa das forças e
relações mútuas entre as classes, temos determinado a seleção desta ou daquela forma de luta.”

“A que deve todo marxista atender quando examina a questão da forma de luta? Em primeiro lugar, o
Marxismo distngue-se de toda forma primitva de socialismo pelo fato de que ele não conduz a qualquer
fórmula partcular de luta; ele reconhece as formas as mais variadas... Nos diferentes momentos da evolução
econômica, dependendo de várias condições polítcas, nacionais, culturais e sociais, as diversas formas de luta
assumem certa proeminência, surge a principal forma de luta, enquanto, por seu turno, as formas secundárias e
suplementares, assumem seu aspecto partcular, diferente.”

Isso quer dizer que o dirigente marxista não pode renunciar a entender e a partcipar da
sociedade em que vive por medo da intervenção imperialista ou de golpe-de-estado. O
pensamento marxista atribuiu a tais acontecimentos um caráter histórico objetvo, resultante
da crise social e dos desdobramentos de uma crise polítca. O uso da violência pelas classes
dominantes e o recurso à intervenção estrangeira na luta contra as classes em ascensão
dentro de um país ocorreu repetdas vezes na revolução burguesa dos séculos XVIII e XIX.

A defesa da obscuridade e do atraso na polítca internacional não é um fenômeno recente,


mas a própria burguesia teve que enfrentar tais fatos, quando era uma classe progressista.
Não se pode conjurar a luta de classes e os confitos internacionais serão através da frme
adoção de polítcas racionais e do asseguramento dos direitos da maioria.

297
5 – A Situação do Mundo Favorece Nossa Luta.

Depois de a humanidade haver sofrido as desgraças de engodos imperialistas, que


prometam a países e povos melhorias infndáveis, caso trocassem de colonizador (1ª e 2ª
guerras mundiais), a presente geração tornou-se muito mais esperta e capaz de combater os
discursos racistas de “superioridade étnica”,, e o canto da sereia dos novos oportunistas
colonizadores.

A população mundial tende a apoiar os movimentos de libertação nacional e, portanto, em


acreditar num caminho próprio para o seu progresso enquanto povo e enquanto nação.
Desse modo, a situação do mundo favorece a nossa luta. As massas operárias em toda parte
desconfam hoje das promessas expansionistas das burguesias locais. Elas tendem a confar
nas soluções pensadas por suas próprias lideranças e confar no apoio mútuo de seus
semelhantes em todas as partes para promover melhorias e avanços. Diz Marx:

“Os operários não têm pátria. Não se lhes pode trar aquilo que não possuem. Como, porém, o
proletariado tem por objetvo conquistar o poder polítco e erigir-se em classe dirigente da nação,
tornar-se ele mesmo a nação, ele é, nessa medida, nacional, embora de nenhum modo no sentdo
burguês da palavra.”

“As demarcações e os antagonismos nacionais entre os povos desaparecem cada vez mais com o
desenvolvimento da burguesia, com a liberdade do comércio e o mercado mundial, com a
uniformidade da produção industrial e as condições de existência que lhes correspondem. A
supremacia do proletariado fará com que tais demarcações e antagonismos desapareçam ainda mais
depressa. A ação comum dos diferentes proletariados, pelo menos nos países civilizados, é uma das
primeiras condições de sua emancipação.”

É por isso que os comunistas pratcam o internacionalismo proletário, apoiando as causas


justas de todos os proletariados e de todos os povos do mundo, indiferentemente da língua,
etnia, império ou cultura a que pertençam. Diz Lênine:

“... o internacionalismo proletário exige que, em primeiro lugar, os interesses da luta proletária em
um país se subordinem aos interesses da luta proletária em escala mundial e, em segundo lugar,
qualquer nação que esteja a alcançar a vitória sobre a burguesia seja capaz e desejosa de realizar o
sacrifcio dos interesses nacionais em benefcio da derrota do capitalismo internacional.”

298
A solidariedade de classe e o espírito de luta comum devem sempre ser colocados acima de
objetvos pessoais e de grupos, caso se deseje fazer avançar o progresso social para todos e a
libertação nacional. Diz Prestes:

“Procuramos desenvolver as tradições da luta nacional-libertadora e antfascista travada pela


gloriosa Aliança Nacional Libertadora de 1935. Em nosso Partdo, levantamos bem alto sua conhecida
tradição de fidelidade inabalável à União Soviétca e à Unidade do movimento comunista mundial,
tendo por base o internacionalismo proletário e o marxismo-leninismo.”

No espírito de defesa da revolução mundial e do progresso social, o PCB não abriga em suas
fleiras nacionalismo nem chauvinismo. No entanto, combate frmemente pela causa do
nacionalismo democrátco, para eliminar os inimigos sociais e materiais do povo brasileiro, a
grande burguesia pró-imperialista, o latfúndio e os agentes íntmos do imperialismo. Para
travar esta luta, o PCB não se afasta dos partdos comunistas de todo o mundo.

“A unidade dos partdos marxistas-leninistas é a expressão suprema da unidade e solidariedade da


classe operária de todos os países. Esta unidade tem uma base objetva, e esta base é a comunidade
de interesses de classe do proletariado, de todos os trabalhadores, independentemente do país em
que vivam e da nacionalidade a que pertençam. O movimento comunista internacional é a forma
superior em que se manifesta tal comunidade. A unidade de suas fileiras está cimentada pelo objetvo
comum da classe operária: o triunfo do comunismo no mundo inteiro. Entre todos os comunistas
existe, ademais, uma unidade espiritual: sua ideologia comum: o marxismo-leninismo. Por distntas
que sejam as condições em que travam sua luta, os comunistas têm um inimigo comum: o
imperialismo internacional.”

Assim se pronunciou Henry Winston, dirigente comunista norte-americano, quanto à


unidade internacional dos trabalhadores:

“O movimento comunista não é um fenômeno de um só país. Todos os lutadores da liberdade, que


combatem para o fim da exploração do homem pelo homem, fazem parte de uma causa comum, que
é a unidade do movimento operário internacional. E tal movimento não se reduz às estreitezas e
limitações nacionais, mas pertence a toda a humanidade.”

Karl Marx, em interessante citação do editor da “Revista Trimestral”,, faz o seguinte


comentário:

299
“O capital – escreve o redator do Quaterly Review – evita o ruído e a luta, sendo receoso por
natureza. Isso é verdade, mas não inteiramente. O capital tem medo quanto o lucro falta ou é muito
magro, tendo, como a natureza, horror ao vácuo. Um lucro adequado torna-o audacioso. Com dez
por cento de juro assegurados, faz-se dele o que se quer; com 20% enche-se de vida; com 50%, torna-
se decididamente incontvel. Por 100%, é capaz de esmagar sob suas botas todas as leis humanas,
não havendo crime que não se dispunha a cometer, mesmo sob a mais grave ameaça.”

A sede de lucro iguala o capitalista da esquina com o grande monopolista. Ambos almejam
tudo para si. No entanto, quando enfrentam uma ação bem entrosada e dirigida das forças
do campo popular, não lhes cabe outro recurso senão bater provisoriamente em retrada. O
único limite que a ambição dos capitalistas conhece é a ação polítca organizada do
proletariado. Necessitando dos trabalhadores para materializar os seus lucros, os capitalistas
como um todo se veem obrigados à negociação polítca, quando o movimento trabalhador
sabe ser polítco. Indica Kuusinen:

“O movimento comunista é internacional por sua própria essência. Todavia, a luta pelos ideais
comunistas de cada partdo deve ser travada sobre um terreno nacional. Isto pode, em determinadas
condições, engendrar o perigo de uma contraposição artficial dos interesses nacionais aos
internacionais. Pode parecer, às pessoas que não se libertaram das estreitezas e limitações nacionais,
que as condições do seu país são algo excepcional e a luta da classe operária deveria, ali, distnguir-se
radicalmente do que tem lugar em outros países. Tais pontos de vista e tendências favorecem aos
imperialistas, interessados na quebra da unidade do movimento operário internacional.”

Se o movimento operário demonstra maturidade e capacidade de organização para manter,


ampliar e levar adiante as alianças que impedem o seu isolamento, as classes dominantes
veem-se obrigadas a negociar. Como disse Lênine:

“O nacionalismo burguês de qualquer nação oprimida tem um conteúdo geral democrátco dirigido
contra a opressão, a esse conteúdo damos o nosso incondicional apoio.”

É sempre possível aos combatentes da causa popular encontrar um terreno comum com as
forças ant-imperialistas e caminhar sobre este terreno comum para isolar o campo
imperialista. Esta é uma característca de nossa época.

Conhecendo as característcas cada vez mais fortes da lei de desenvolvimento desigual, os


comunistas levam em consideração o caráter nacional das lutas democrátcas e reformadoras

300
no mundo atual, partndo sempre de sua própria realidade local, para isolar as forças pró-
imperialistas. Diz Afanasyev:

“O patriotsmo comunista é algo de qualitatvamente novo. Combina o amor e a devoção à Pátria


com o internacionalismo proletário de toda a comunidade socialista, a solidariedade fraternal dos
trabalhadores de todas as naçees, e o respeito pelo povo e todos os demais Estado, pequenos ou
grandes. O patriotsmo comunista é incompatvel com o nacionalismo, ideologia do isolamento
nacional, da hostlidade entre os povos e da desigualdade e desunião entre os trabalhadores. O
código moral da sociedade comunista proclama a amizade e a fraternidade do povo da União
Soviétca e a intolerância do ódio nacionalista e racial.”

Na defesa das novas ideias, o partdo proletário centra sua ação na mudança polítca do
sistema dominante, apoiando-se em – e apoiando – todas as forças que buscam soluções
polítcas novas e libertadoras. Disse Marx:

“Sem dúvida – dir-se-á – as ideias religiosas, morais, filosóficas, polítcas, jurídicas, etc.,
modificaram-se no curso do desenvolvimento histórico, mas a religião, a moral, a filosofia, a polítca,
o direito mantveram-se sempre através dessas transformações.”

“Além disso, há ‘verdades eternas’, como a liberdade, a justça, etc., que são comuns a todos os
regimes sociais. Mas o comunismo quer abolir a religião e a moral, em lugar de lhes dar uma nova
forma, e isso contradiz todo o desenvolvimento histórico anterior.”

“A que se reduz essa acusação? A história de toda a sociedade até nossos dias consiste no
desenvolvimento dos antagonismos de classes, antagonismos que se têm revestdo de formas
diferentes nas diferentes épocas.”

“Mas qualquer que tenha sido a forma desses antagonismos, a exploração de uma parte da
sociedade por outra é um fato comum a todos os séculos anteriores. Portanto, nada há de espantoso
que a consciência social de todos os séculos, apesar de toda sua variedade e diversidade, se tenha
movido sempre sob certas formas comuns, formas de consciência que só se dissolverão
completamente com o desaparecimento total dos antagonismos de classes.”

“A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações tradicionais de propriedade; nada
de estranho, portanto, que no curso de seu desenvolvimento, rompa do modo mais radical, com as
ideias tradicionais.”

301
Não é possível avançar para uma sociedade nova sem aprofundar os pontos de ruptura que
as massas revelam das crenças e da ideologia social em que começa a descrer, sem mostrar o
elo indescritível entre a mentra, a miséria e as velhas crenças.

A propaganda fascista procura apresentar os comunistas como uma seita secreta, uma
organização de assassinos da liberdade ou até de mastgadores de sabão. No entanto,
qualquer trabalhador medianamente politzado sabe que os comunistas pratcam realmente
o que dizem e defendem em toda parte os interesses mais amplos dos trabalhadores e do
povo. Cada vez mais pessoas, que têm vivido a experiência de pequenos confitos, como a
luta fabril, ou grandes confitos, como as ditaduras fascistas e a guerra mundial,
compreendem que podem confar plenamente nos comunistas, na análise que fazem do
mundo real, e na frmeza com que lutam por objetvos comuns. Este processo de
esclarecimento e avanço das lutas polítcas é tão notável que, atualmente, a luta contra os
comunistas se alimenta apenas de calúnia e atos de violência. Os órgãos do governo norte-
americano gastam bilhões de dólares anualmente para perseguir, caluniar e buscar isolar os
comunistas, nas lutas polítcas dos diferentes países. Como dizia Bukharín, ao se referir às
polítcas imperialistas:

“Pois a ‘polítca pacífica’ que se pratcava, antes da guerra, e que se pratcará depois, sempre foi
apoiada na ameaça do emprego da força armada.”

Pode-se acrescentar que a “ameaça de emprego”, tem-se transformado rapidamente no


“emprego da força”,, através da intervenção norte-americana em numerosos países de todos
os contnentes, a instalação ali de bases militares, e a formação de “quintais”,, como a
América Latna, onde se imiscuem na ação dos governos locais, controlando a polícia,
ministérios, etc. A agressividade da polítca imperialista, em partcular do imperialismo
norte-americano, busca interromper o avanço dos processos de democratzação em geral, e
em cada caso partcular, transformar em uma “ameaça militar”,, qualquer governo local
progressista, ou que esteua em vias de chegar a sê-lo (como o caso do Brasil). A luta do
movimento democrátco e popular, portanto, para isolar o imperialismo e seus agentes na
sociedade local, passa por um amplo movimento de frente única com setores ant-
imperialistas. Como diz nossa linha polítca:

302
“A fim de derrotar o inimigo comum é necessário a frente única das várias forças interessadas na
emancipação e no progresso do Brasil. A aliança dessas forças resulta da exigência da própria
situação objetva.”

Como diz Lênine, a mobilização e a luta de todas as forças sociais interessadas se fazem
necessárias:

“... em segundo lugar, exige que se levem em conta todas as forças, todos os grupos, partdos,
classes e massas que atuam dentro do país considerado, em vez de determinar a polítca baseando-se
exclusivamente nos desejos e opiniões, no grau de consciência e de preparação para a luta de um só
grupo ou partdo. (...) Proceder de outro modo significa dificultar a marcha da revolução, pois se não
se produz uma modificação nas opiniões da maioria da classe operária, a revolução torna-se
impossível; e essa modificação se consegue através da experiência polítca das massas, e nunca
apenas com a propaganda.”

A classe operária, nem sua direção, não devem estabelecer como pré-condição para
partcipar da luta ant-imperialista a imposição de seu programa, ou hegemonia na frente
única. Ela deve partr das exigências mais básicas do movimento ant-imperialista em geral e
levar este movimento a novos patamares de luta e organização. Como diz a Conferência de
1957:

“Apoiando-se na maioria do povo e dando uma réplica decidida aos elementos oportunistas,
incapazes de renunciar à polítca de compromisso com os capitalistas e os latfundiários, a classe
operária tem a possibilidade de levar à derrota as forças reacionárias e antpopulares, conquistar
uma sólida maioria no parlamento, transformar o parlamento de arma, que serve aos interesses de
classe da burguesia, em arma, que sirva ao povo trabalhador, desenvolver uma ampla luta de massas
extraparlamentar, quebrar a resistência das forças reacionárias e criar as condições necessárias para
a realização pacífica da revolução socialista. Tudo isto será possível somente através de amplo e
incessante desenvolvimento da luta de classe dos operários, das massas camponesas e das camadas
médias urbanas contra o grande capital monopolista, contra a reação, por profundas reformas
sociais, pela paz e o socialismo.”

“Nas condições em que as classes exploradoras empregam a violência contra o povo, é indispensável
ter em vista outra possibilidade – a transição não pacífica para o socialismo. O leninismo ensina e a
experiência histórica confirma que as classes dominantes não entregam o poder voluntariamente. O
grau de exacerbação e as formas de luta de classes nestas condições dependerão não tanto do

303
proletariado, quando da força de resistência dos círculos reacionários à vontade da esmagadora
maioria do povo, de aplicação da violência por esses círculos nesta ou naquela etapa, da luta pelo
socialismo.”

Apesar das lutas e dos esforços das forças de mais elevada consciência polítca, podem ser
criadas situações, pelos círculos mais reacionários e até externos ao país, que procurem
precipitar a violência sistemátca, valendo-se mesmo da intervenção militar externa, como o
caso recente do Sudeste asiátco. Com a desculpa de “assessoria militar”,, “ajuda aos amigos”,,
etc., as forças imperialistas chegam à agressão corrente com meios externos, fenômenos
bem conhecidos na América Latna. Nesse caso, as forças progressistas têm que adaptar-se a
esta situação externa.

6 – Conclusão.

Nesta aula sete, fzemos uma breve refexão sobre nossa época, as difculdades que ela
arrasta do passado e sobre as oportunidades que o posicionamento polítco honesto, franco
e de base científca, como deve ser próprio de um trabalhador, apresenta para uma mudança
radical. Aprendemos um pouco de como se analisam os problemas sociais e como essa
análise não pode ser neutra, mas deve servir aos interesses da maioria da sociedade.
Fizemos um balanço de nossa época do ponto de vista dos interesses daqueles que
trabalham, daqueles que são pobres, e que são a absoluta maioria. Compreendemos porque
não devemos nos acovardar, mas defender a democracia como um desenvolvimento social e
não meras eleições formais de elementos burgueses. Entendemos que há forças favoráveis à
mudança no mundo, apesar das elites privilegiadas e monopolistas de tudo que é
propriedade.

304
Perguntas.

1. Como se situa cada país diante da evolução social mundial?

2. Que entende por entrelaçamento de fatores internos e externos da análise social?

3. Qual a relação entre posição polítca e classe social?

4. Cite algumas forças internacionais progressistas.

5. O que caracteriza a época em que vivemos?

6. Cite algumas forças sociais retrógradas no Brasil.

7. Qual a natureza polítca do atual governo brasileiro?

8. Qual o papel dos chamados “organismos internacionais”,?

9. Como os imperialistas utlizam a “guerra localizada”,?

10. É possível conjurar a intervenção estrangeira e o golpe de estado?

305
CURSO MÉDIO DO P.C.B
2º VOLUME
(AULAS 8 A 14)

306
Aula 8

307
8 – A Exploração Imperialista no Brasil.

O Brasil atual foi formado – como toda a América Latna – com base no direito de conquista
por potências europeias. As populações antgas que viviam no Brasil – como em toda a
América – foram exterminadas pelos colonizadores. Eles para tal utlizaram uma polítca
agressiva, que tnha em vista destruir mesmo, tais populações. Lançaram mão da distribuição
de roupas infectadas e bebidas alcoólicas; de escravização; de homicídios em escala de
massa pura e simplesmente. Estudos antropológicos creem que apenas 4% da população
sobreviveu e foi utlizada pelo colonizador como instrumento de colonização.

Não havia também a intenção de se criar no Brasil e em outros lugares uma sociedade. A
intenção era extrair riquezas naturais e explorar as terras para exportar bens agrícolas. Para
isso, trouxeram negros da África, que transformaram em escravos submetdos a todo tpo de
maus tratos. A sociedade que surgiu, portanto, o fez à revelia das intenções do colonizador.
Já que passou a existr, também se passou a explorá-la, com a mesma fnalidade que se
exploravam os rios, as minas, as propriedades agrícolas. Portugal, a potência que inventou o
Brasil, era pequeno e cada vez menos uma potência. Criou-se assim um governo português
do Brasil independente, em parte, de Portugal, o “Império do Brasil”,, uma semicolônia que
durou de 1822 até 1889.

O Brasil – assim – fazia parte dos domínios informais ingleses, quando a Inglaterra tornou-se
a principal potência imperialista. Contudo, com a ascensão do imperialismo norte-
americano, o Brasil “transitou”, do controle econômico e fnanceiro inglês para o controle
norte-americano (1889-1940)

Nessas condições, as elites brasileiras eram consttuídas: (1) por uma burguesia mercantl,
principalmente nas cidades; (2) por uma classe latfundiária externa e desigual, que exercia o
monopólio da terra contra camponeses pobres e trabalhadores semiescravos; (3) por uma
camada burguesa recente (1850-1950), de proprietários capitalistas urbanos e agrários.
Apoiando estas classes dominantes, uma pequena burguesia pobre e numerosa, espalhada
por todo o território nacional.

Tem-se, portanto, que o Brasil não engendrou uma burguesia pelas suas próprias
transformações sociais e tecnológicas. A “revolução industrial”, que tem ocorrido no Brasil

308
obedece a necessidades das metrópoles, com o avanço da divisão internacional do trabalho
e até aqui se tem feito – com breve exceção – sob o comando de necessidades externas. A
“breve exceção”,, como caracteriza M. Alves, se deve ao recuo internacional da dominação
imperialista (1919-1939), por efeito dos seguintes elementos: (a) primeira guerra mundial,
com destruição temporária de algumas potências imperialistas; (b) prosseguimento da
“segunda revolução industrial”, apenas nos EUA, colocando este país como potência
imperialista hegemônica; (c) crises de 1929-32 e 1938-39, destruindo amplamente forças
produtvas capitalistas; (d) recuo temporário da dominação imperialista no mercado
mundial; (e) advento de uma industrialização generalizada do tpo substtutvo de
importações (Japão, Itália, Romênia, Tchecoslováquia, México, Brasil, Argentna, etc.); (f)
impacto destruidor da segunda guerra mundial.

Estes seis fatores, à cabeça de outros, retraram a dominânncia interna de numerosos países
dependentes das mãos das potências imperialistas. A formação da União Soviétca (1917-
1922) e de um “campo socialista”,, após a guerra mundial recente (1939-1945) impediu a
consolidação da dominação imperialista norte-americana em escala mundial e tem inspirado
suas polítcas agressivas, que visam destruir o processo de industrialização, na “periferia do
grande capital”,.

Esta conjuntura internacional agravou sobremodo a luta pelo poder polítco no Brasil. Caso
o Brasil venha tomar o caminho independente, o mesmo pode vir a dar-se – segundo
teóricos imperialistas – com outros países da América Latna (teoria da queda do dominó).
Por isto, a feroz luta e o intervencionismo norte-americano, para impedir reformas
progressistas na sociedade.

1 – A Exploração de uma Nação por uma Potência Estrangeira.

Nesses anos em que os brasileiros se viram “abandonados pelo comércio internacional”,


(1930-1958), com queda em suas rendas em divisas, perda da capacidade de importar,
escassez de bens, etc., eles aprenderam passo a passo a produzir no país todo tpo de bens
de que tem necessitado. Deixaram pouco a pouco o sentmento de inferioridade e se viram
capazes de promover certo progresso e certo bem estar.

309
Esta experiência se solidifcou em um programa polítco de certos grupos sociais e partdos
polítcos, consolidando-se como uma frente única nacionalista e democrátca, que tem por
objetvo industrializar o país e desenvolvê-lo socialmente. A formação dessa consciência
nacional e democrátca deu-se em paralelo com a formação da classe operária como fator
polítco independente e o desenvolvimento de um partdo da classe operária (PCB, 1922-
1962). Tudo isso desagrada profundamente às classes dominantes e aos agentes
imperialistas. Mas a classe operária não pode deixar de existr. Como diz Konstantnov:

“A luta de classes tem sua expressão mais acabada na luta entre os partdos polítcos, que
expressam, por sua vez, os interesses de determinadas classes e dirigem a batalha que estas travam.
Por sua composição, os partdos representam um setor da classe a que pertencem precisamente o
mais atvo. (...) Os partdos diferenciam-se das classes pelo seguinte: a) nunca abarcam a classe em
seu conjunto, mas somente um setor ou parte dela (a própria palavra, partdo provém do latm pars,
parte); b) são o resultado da união consciente dos representantes mais atvos de uma classe, com
vistas a alcançar determinados objetvos polítcos de classe, enquanto as classes surgem
espontaneamente, como resultado do desenvolvimento econômico da sociedade. Daí aparecer o
partdo depois de consttuir-se a classe. Graças aos partdos, as classes tomam consciência de seus
interesses vitais, organizam-se politcamente e se consolidam, o que exerce infuência decisiva na
trajetória posterior da luta de classes.”

Esta lei do desenvolvimento social é válida para as classes trabalhadoras e também para as
classes burguesas, razão porque é puro desequilíbrio mental querer que existam partdos
burgueses, mas que os mesmos não existam para outras classes. A repressão burguesa é
assim, apenas expressão de sua ditadura. Konstantnov acrescenta:

“A luta de classes representa um fenômeno sujeito a leis e é a força motriz do desenvolvimento das
sociedades de classe. A grande lei, descoberta por Marx e Engels, que rege o processo histórico das
sociedades divididas em classes consiste em que ‘todas as lutas históricas, ainda que se desenvolvam
no terreno político, religioso, filosófico ou em outro terreno ideológico qualquer, não são, na
realidade, mais que a expressão, mais ou menos clara, de lutas entre classes sociais, e que a
existência, e, portanto também os choques dessas classes, estão condicionados, por sua vez, pelo grau
de desenvolvimento de sua situação econômica, pelo modo de sua produção e de sua troca,
condicionado por esta’. Dita lei, no dizer de Engels, tem, para a ciência histórica, para a compreensão
do desenvolvimento da sociedade dividida em classes, a mesma importância que a lei da
transformação da energia para as ciências naturais.”

310
Os imperialistas norte-americanos compreendem perfeitamente bem quais são as reformas
que devem ser feitas para um país progredir ou para um país estagnar. No caso japonês, os
EUA obrigaram, na década de 1860, o Japão a “abrir os portos às nações amigas”, (no caso, os
EUA), para se apossar do seu comércio. Aliaram-se ali aos grandes latfundiários e
comerciantes, contra o povo japonês, auxiliando as classes dominantes locais a se manterem
no poder. No entanto, em virtude do expansionismo japonês (1900-1945), os norte-
americanos empurraram este país para uma guerra suicida contra os EUA. Após esmagado o
Japão, as classes dominantes locais viram seu latfúndio ser extnto, porque os EUA
promoveram uma reforma agrária para multplicar a pequena burguesia japonesa e
democratzar, no sentdo burguês, o parlamento japonês. Ao mesmo tempo, tomaram
medidas para esmagar o movimento operário japonês.

Quando os imperialistas norte-americanos apoiam o latfúndio no Brasil, estão adotando a


polítca que inviabiliza o desenvolvimento econômico e social do Brasil. Disse Marx:

“... e é por isso que, como já constatava Fourier, há, nos países civilizados, uma parte relatvamente
importante do solo que é contnuamente subtraída à agricultura.”

“A propriedade fundiária age, então, como barreira que impede, tanto tempo quanto não lhe seja
atribuída uma renda, o avanço do capital em terras ainda não cultvadas ou ainda não arrendadas –
mesmo que essas terras pertençam a uma categoria que não proporcione renda diferencial (isto é,
renda obtda em consequência da qualidade dos terrenos, etc.) e ainda que fosse suficiente, se a
propriedade fundiária não reclamasse seu tributo, um leve aumento do preço do mercado para
cobrir-lhe o custo de produção (isto é, as despesas com a produção mais o lucro médio) e para tornar
a cultura economicamente possível.”

Manter a terra fora da produção para o mercado bloqueia não só a renda dos camponeses
ou de eventuais agricultores, como reduz o volume da oferta dos bens agropastoris no
mercado, elevando seus preços. Isso consequentemente também expande a miséria (no
campo e na cidade), reduz a renda dos trabalhadores e impede a industrialização adicional.
Um país como os EUA, que nasceu de uma revolução nacional contra a Inglaterra, não pode
ser tão ingênuo ao ponto de desconhecer a quem está prejudicando, quando apoia a
sobrevivência do latfundiário em outro país mais atrasado. Acrescenta Bukharín:

311
“Ora, se o aumento dos preços dos artgos da indústria manufatureira produz quase sempre uma
diminuição de procura, cuja curva varia rapidamente segundo o movimento dos preços, o mesmo não
se dá no domínio da distribuição dos produtos agrícolas, onde a procura é representada por um valor
menos variável.”

“(Não se deve esquecer que a produção das matérias primas destnadas à indústria manufatureira é,
na maioria dos casos, um plano auxiliar da produção dos bens alimentcios: a produção de couro está
ligada à produção de carne, o mesmo acontecendo com a de tripas e, de uma certa maneira, de lã,
etc.). Eis porque a concorrência exerce por si mesma um papel menos importante na produção
agrícola, apesar do desenvolvimento relatvamente fraco dos monopólios propriamente ditos. A lei da
produção em massa, a acumulação acelerada do capital, etc., são característcas muito mais próprias
da indústria que da agricultura.”

“Desse modo, à desproporção existente entre os setores de produção, da economia capitalista em


geral – desproporção que resulta da estrutura econômica anárquica do capitalismo e que se mantém,
não obstante a aparição dos cartéis, dos trustes, etc. – vem, ainda, juntar-se uma desproporção
específica, sempre maior, entre a indústria e a agricultura, a qual se tornou partcularmente evidente
nos últmos tempos.”

Ou seja, as necessidades da industrialização estão a requerer o desbloqueio da propriedade


agrícola, a repartção dos latfúndios, para obter em alguns anos um movimento de elevação
da renda camponesa e seu impacto favorável para eliminar a lacuna entre o crescimento
industrial e o crescimento agropecuário.

Assim, também no caso dos EUA, a exploração de uma nação por outra não é algo que não
se perceba ou não se pode perceber. Os EUA consttuem uma potência imperialista
perfeitamente consciente enquanto classe dominante, que promove o pior para os outros
em nível internacional. Não se trata de uma classe dominante de cinderelas ou de belas
adormecidas. Estão ali conscientes de que a industrialização da América Latna lhes daria um
parceiro para excelentes trocas, mas uma América Latna submissa e atrasada, mero
“quintal”, não pode criar-lhes exigências ou contrapartes de qualquer espécie. Para eles, é
melhor mantê-la como mero depósito de recursos, de que venham a lançar mão no futuro.
E, evidente, nessa opção não há qualquer melhoria previsível para países como Brasil ou
Argentna. Cabe, pois, a necessidade de o povo brasileiro reconhecer que uma nação que
explora outra não pode tomar ou sugerir medidas que levem ao progresso desta outra.

312
Os primeiros crítcos do imperialismo contemporânneo, ou seja, baseado na expansão e
domínio do capital fnanceiro, não perceberam que estavam diante de uma mudança
estrutural na sociedade capitalista; não perceberam que a etapa da livre concorrência havia
chegado ao fm, e agora (então) se iniciava uma nova era em que, como disse Bismarck, “os
governos eram simples caixeiros viajantes”, dos monopólios (1870-1914). Hilferding (1906)
comprovou que se tratava de uma nova estrutura e Lênine (1915) resumiu-lhe as
característcas que deviam no futuro ser aprofundadas, tornando típica tal estrutura. Rosa
Luxemburgo (1911) fez um estudo como era importante para a reprodução na etapa histórica
do imperialismo a reprodução fnanceira nos mercados, primitvos ou não, externos ao
centro imperialista. No entanto, os social-democratas da Segunda Internacional contnuavam
a seguir a interpretação limitada de que o imperialismo fosse apenas uma escolha polítca de
direita. Nesse caso, um “governo de esquerda”, poderia eliminar as prátcas imperialistas. Diz,
por exemplo, Karl Kautsky:

“O imperialismo é um método bem definido da polítca capitalista; esta é possível sem


procedimentos violentos, da mesma forma que o capitalismo é concebível com um dia de trabalho,
não mais de 10 ou 12 horas, mas de 8 horas. No quadro capitalista, o proletariado contrapõe, à
tendência da burguesia a aumentar o dia de trabalho, sua tendência proletária a diminuí-lo, assim
como é necessário contrapor, à tendência da burguesia imperialista à violência, a tendência pacífica
do proletariado.”

Esta incrível “conclusão”, de Kautsky recebeu a seu tempo o seguinte comentário de


Bukharín:

“Assim, assegura Kautsky, o problema pode ser resolvido no regime capitalista.”

“Parecendo radical, à primeira vista, trata-se de uma teoria fundamentalmente reformista. Mais
adiante, analisaremos em detalhe a possibilidade de um capitalismo “pacífico” do tpo Kautsky
(“super-imperialismo”). Limitemo-nos, por ora, a uma objeção de ordem geral e formal, a saber: não
é possível inferir, do fato de ser o imperialismo uma questão de relação de forças, que ele possa
desaparecer nos quadros do regime capitalista, como aconteceu com o dia de 15 horas, os salários
anormais, etc. Se a questão fosse resolvida tão simplesmente, poder-se-ia traçar a seguinte
perspectva: sabe-se que o capitalismo pressupõe a apropriação da mais-valia pelos capitalistas: todo
novo valor decompõe-se em duas partes: N = V + m; esta repartção, considerada quanttatvamente,
depende da relação das forças sociais (o antagonismo de interesses já foi definido por Ricardo).

313
Mediante uma resistência crescente da classe operária, é bem possível que V aumente em detrimento
de m e que a totalidade de N seja repartdo numa proporção mais favorável aos operários. Mas,
considerando que o aumento progressivo da parcela que cabe ao proletariado é determinada pela
relação de forças, e que esse aumento não tem nenhum limite fixado previamente, ao reduzir a parte
dos capitalistas às proporções de simples salário, a classe operária liquidará o capitalismo,
transformando os capitalistas em simples empregados ou, indo mais longe, em pensionistas da
coletvidade. Este quadro idílico é, manifestamente, uma utopia reformista. Assim como o “super-
imperialismo” de Kautsky é igualmente utópico.”

Hoje poderíamos acrescentar que, se o imperialismo fosse apenas essa polítca,


determinada por elementos subjetvos, já teria ocorrido a algum governo de alguma
potência capitalista haver revogado, pelo menos durante seu período de quatro ou cinco
anos no poder, a “polítca imperialista”,. No entanto, apesar das difculdades para expansão
imperialista após a catástrofe da Primeira Grande Guerra (1914-1918), tal expansão não
deixou de existr. Ela se centralizou, eliminou as hegemonias rivais e se tornou um fator de
roubo internacional e de guerra maior ainda do que nos tempos em que foi descoberta ser
uma estrutura. Comenta Bukharín:

“Contudo, Kautsky e seus partdários pretendem que o próprio processo do desenvolvimento


econômico contribuiu para o desenvolvimento dos elementos sobre os quais o super-imperialismo
poderia apoiar-se. A interpenetração internacional do capital tende precisamente a suprimir a
concorrência entre os diferentes grupos capitalistas nacionais. Esta tendência ‘pacífica’ é ainda
reforçada por um impulso que vem de baixo. E assim, o imperialismo rapace dará lugar ao manso
super-imperialismo.”

“Examinemos a questão a fundo. Em linguagem econômica, é necessário situá-la da seguinte forma:


como se poderia realizar a entente (a fusão) dos trustes capitalistas nacionais? Pois, na realidade, o
imperialismo nada mais é que a manifestação da concorrência entre trustes capitalistas nacionais,
em uma economia mundial desenvolvida: supomos, ainda, um certo nível de força produtva, de
formas organizadas de vida econômica, certas relações de classe e, consequentemente, uma certa
perspectva para os elementos econômicos, etc.; mesmo a forma e o meio de luta, a organização do
poder, a técnica militar, etc., pressupõe mais ou menos um valor determinado, ao passo que a
definição ‘polítca de conquista’ aplica-se indiferentemente aos corsários marítmos, às caravanas de
comércio e ao imperialismo. Em outras palavras, essa definição não define absolutamente nada,

314
enquanto que a ‘polítca de rapina do capital financeiro’ caracteriza o imperialismo como um valor
historicamente definido.”

Lênine chamou a atenção que uma taxa de lucro de “dois dígitos”, (por exemplo, 20%)
“justfca”, do ponto de vista dos monopólios, não ceder, invadir, armar exércitos e manter
esquadras, porque os “dois dígitos”, podem pagar tudo isso e ainda deixar para o consumo
dos capitalistas muitos ganhos. Por isso, o imperialismo não ttubeia diante das guerras, ou
até mais, “diante de uma sistemátca de guerras”,, que é exatamente o que se tem visto
depois da Segunda Guerra Mundial (luta pela repartção do mercado).

Como disse Bukharín:

“Pelo fato de ser a época do capitalismo financeiro um fenômeno historicamente limitado, nada
autoriza, no entanto, que se a considere como um deus ex machina. Na realidade, ela é a sequência
histórica da época do capital industrial, do mesmo modo que esta últma é a contnuação da face
comercial capitalista. É por isso que as contradições fundamentais do capitalismo, que, graças, ao seu
desenvolvimento, reproduzem-se cada vez mais intensamente, encontram em nossa época uma
expressão partcularmente violenta, o mesmo acontecendo com a estrutura anárquica do capitalismo
que se manifesta na concorrência. O caráter anárquico da sociedade capitalista baseia-se no fato de
que a economia social não é uma comunidade organizada, movida por uma vontade única, mas um
sistema de economias ligadas pela troca, no qual cada uma produz por sua conta e risco, sem jamais
poder adaptar-se mais ou menos à capacidade de procura e oferta das demais economias individuais.
Daí a luta entre economias e sua com concorrência capitalista. As formas dessa concorrência podem
ser muito variadas. Sendo a polítca imperialista uma forma de luta pela concorrência, iremos
examiná-la, no próximo capítulo, como um caso partcular da concorrência capitalista, isto é, a
concorrência na fase do capital financeiro.”

Muitos teóricos, examinando a história recente do imperialismo, tendem a negar a sua


existência ou, pelo menos, sua contnuidade como estrutura. Tais teóricos subestmam (a) o
caráter histórico do desenvolvimento do imperialismo; e (b) a existência das contradições
interimperialistas. Em primeiro lugar, o imperialismo, como um fenômeno histórico, não
pode seguir um desdobramento lógico, como se se tratasse de uma força “suprarracional”,. A
teoria do imperialismo é retrada de uma massa de fatos ocorridos que, como tal, contém as
vitórias e os revezes das ações imperialistas. O imperialismo não se desdobra como um
tapete na história. Ela sofre “zigs”, e “zags”,, em virtude do enfrentamento em que se bate

315
contra outras forças sociais. Por exemplo, as diferentes potências imperialistas, ao intentar
destruir seus rivais, fosse no curso da primeira (1914-1918) ou segunda (1939-1945) guerras
mundiais, não contavam perder tantas forças produtvas; não contavam com tanta
resistência e derrotas; não contavam com o despertar e a luta de numerosos povos. Por isso,
a expansão imperialista sofreu graves percalços entre 1914-1945. Seu desenvolvimento não
foi uma “gloriosa campanha de êxitos”,. Daí não se pode concluir que ele não exista, ou que
deixou de existr.

O fato de que o imperialismo não possa subsistr sem vítmas, não quer dizer que ele não
possa ser derrotado pelas vítmas que escolhe. O capital, para existr, necessita da existência
do trabalho. Isso não quer dizer que o trabalho, uma vez tornado assalariado, só possa existr
na presença do capital. Assim também, as vítmas do imperialismo podem vencê-lo, subsistr
e se desenvolver sem ele. Mas o imperialismo não pode subsistr sem suas vítmas. Daí
entender-se que a polítca do lucro máximo necessite do desenvolvimento desigual para
alimentar-se. Daí se entender que os monopólios imperialistas não podem subsistr sem os
lucros de “dois dígitos”,, ainda que tal conduzisse à destruição de nações e até do planeta
inteiro. Diz Bukharín:

“Marx e Engels viam no Estado a organização da classe dominante, esmagando a ferro e fogo a
classe oprimida e supunham que, na sociedade futura, não haveria mais classe. É certo que, para a
época transitória da ditadura do proletariado, quando, momentaneamente este consttui a classe
dominante, insistam (com razão) sobre a necessidade de um aparelho estatal especial para liquidar
as classes expulsas do poder.”

O Estado capitalista, ainda que possa “regular”, algumas necessidades do imperialismo, não
pode “bandear-se para o outro lado”, e servir a “todas as classes de uma sociedade”,. Em
determinadas crises, pode fngir que o que faz é com relatva independência da classe
dominante, somente para consolidar no estratégico os interesses da mesma classe
dominante. Diz Bukharín:

“O sobrelucro obtdo pelo Estado imperialista vem acompanhado de um salário elevado para certas
camadas da classe operária, em primeiro lugar os operários qualificados.”

316
“Também outrora ocorreu esse fenômeno. Frederico Engels mencionou-o muitas vezes, ao analisar a
hegemonia da Inglaterra, no mercado mundial e o conservantsmo do operariado inglês daí
resultante.”

“Como resultado do relatvo interesse, por parte do proletariado metropolitano, na espoliação das
colônias, desenvolveram-se e consolidaram-se certos vínculos entre ele e a organização patronal do
Estado burguês imperialista. Na literatura socialista, tal psicologia encontrou sua expressão na teoria
‘estatal’ dos oportunistas social-democratas. A ‘sabedoria de Estado’, que se procurava pôr em relevo
a torto e a direito, consttuiu um completo abandono do marxismo revolucionário.”

2 – Aumento da Presença Norte-americana.

É sabido que o capital não se expande igualmente por todo o território de uma nação, ou
por partes desse território. O capital se distribui de forma desigual, no espaço e no tempo,
de acordo com os interesses de sua reprodução. Da mesma maneira, o capital é abundante
onde e quando a taxa de lucro e a massa de remuneração sejam elevadas e se faz escasso
onde a mesma taxa ou os ganhos sejam menores ou estão em baixa. Por tais motvos, o
capital procura manter focos ou regiões de insumos baratos, seja a força de trabalho ou as
matérias primas necessárias. E para aí se move o capital, procurando explorar o máximo de
fatores favoráveis e manter o atraso local, para obter um ganho extra e tornar os ricos que
ele representa mais ricos. Comenta Bukharín:

“O Capital supõe o Trabalho. O Trabalho supõe o Capital. O modo capitalista de produção consttui
uma relação bem definida entre os homens, entre as classes sociais, a ponto de uma pressupor a
existência de outra e vice-versa. Deste ponto de vista, capitalistas e operários consttuem os
membros, as partes integrantes, os polos de uma só e mesma sociedade capitalista. Considerando
que a sociedade capitalista existe, há interdependência entre essas duas classes antagônicas,
interdependência que se traduz sob a forma de uma solidariedade relatva de interesses que, no
fundo, se contrariam. Essa solidariedade de interesses é momentânea e de maneira alguma durável,
como a que une os membros de uma única e mesma classe. A economia polítca burguesa, e, depois
dela, seus adeptos ‘socialistas’, fazem passar por essencial aquilo que é efêmero, momentâneo,
acidental na luta de classes sobre o terreno social. As árvores os impedem de ver a foresta, e eles
terminam, fatalmente, por se tornar simples servidores do capital financeiro.”

317
“Esclareçamos isso com um exemplo. Ninguém ignora que, no início do capitalismo, quando a classe
operária apenas começava a formar-se e separar-se de seus donos, quando as ‘relações patriarcais’
predominavam entre patrão e operário, este últmo identficava seus interesses com os de seu
explorador.”

Portanto, do ponto de vista das potências exportadoras de capital, elas podem (a) explorar
mercados primitvos ou subdesenvolvidos; e até (b) promover, com uma faixa salarial um
tanto melhor, a simpata dos neocolonizados (ou colonizados) pelo capital estrangeiro. Na
verdade, trata-se, porém, de eliminar eventuais concorrentes e assegurar um lucro
especialmente maior para o capital ali aplicado, do que haveria se ele fosse aplicado de outro
modo. Segundo os próprios britânnicos, suas empresas ao redor do mundo nunca tnham
lucros inferiores a 50% ao ano (1850-1950), sobre o capital aplicado.

Pode-se entender que, quando o capital norte-americano começou a substtuir o capital


inglês no Brasil (1900-1940), semelhante “passagem de guarda”, já era boa para o capital
norte-americano e não tão boa para o capital britânnico. Isso porque os EUA, com o sucesso
de sua “segunda revolução industrial”,, já haviam deixado a Grã-Bretanha para trás. No
começo, quando ocorrem tais substtuições ou “trocas de guarda”,, quem chega é muito mais
sedutor do que quem parte (se é que “parte”,...). Em geral, possui uma técnica mais
avançada, que permite fazer certas “concessões”, à vítma do progresso comandado “desde
fora”,. Diz Bukharín:

“Que representa, por exemplo, a “estreiteza corporatva” das trade-unions inglesas? No fundo,
vemos aí a mesma ideia: nossa produção, nosso ramo de produção, que englobam operários e
industriais, deve antes de tudo prosperar e não se pode admitr nenhuma ingerência de elementos
estranhos.”

“Em nossos dias, constatamos algo análogo no ‘patriotsmo de aldeia’ que impera dentro das
empresas partcularmente qualificadas, de que é bom exemplo, as usinas Ford, conhecido ‘pacifista’
americano (e, ao mesmo tempo, fornecedor de guerra). Os operários são ali objeto de verdadeira
seleção, ganham mais, beneficiam-se de prêmios de todo tpo e partcipam dos lucros, com a
condição expressa de se fixarem à usina. O resultado é que os operários mistficados ‘devotam-se’ a
seu patrão.”

“Em escala mais ampla, chegaremos à mesma constatação, se observarmos o protecionismo


operário, com sua polítca de defesa da ‘indústria nacional’, do ‘trabalho nacional’, etc. Boa parte dos

318
operários australianos e norte-americanos está imbuída dessa ideologia: ‘temos nossa indústria
nacional’ na qual ‘nós’ (isto é, os capitalistas e os operários) somos igualmente interessados, pois
quanto maiores forem ‘nossos’ lucros, mais elevados serão os salários.”

Dessa maneira, se vê criada no Brasil uma indústria automobilístca “nossa”,, em que a única
empresa nossa é a Fábrica Nacional de Motores. As demais são empresas estrangeiras ou
sócias delas. Consequentemente o “nosso”, progresso é aí muito relatvo: criam-se empregos
e “saber fazer”,, mas perde-se por outro lado o controle estratégico sobre o futuro daquele
ramo de produção. E aí, este capital estrangeiro terminará por mostrar sua face imperialista:
irá impedir a introdução de técnicas novas, impedir a expansão da taxa de salários, controlar
o mercado de técnicas doméstcas, infuir nas decisões doméstcas do tpo econômico e
polítco, etc. O preço a pagar pelo ganho da “expansão local”, pode tornar-se demasiado se o
governo local for fraco e o movimento popular reprimido.

Comenta Bukharín:

“Tal é o resultado da polítca colonial das grandes potências. Não foram nem os operários do
contnente, nem os operários ingleses que pagaram seu preço, mas os povos coloniais. Tudo o que o
capitalismo representa de sangue, de lodo, de horror e de vergonha, todo o cinismo, toda a crueldade
da democracia moderna, lançou-se sobre as colônias. Em compensação, os operários europeus
ganharam com isso, de imediato, obtendo salários mais elevados, graças à ‘prosperidade industrial’.”

“O ‘progresso’ relatvo da indústria da Europa e da América foi, pois, condicionado pela válvula de
segurança que lhe assegurou a polítca colonial. Assim, a exploração dos ‘terceiros’ (produtores pré-
capitalistas) e do Trabalho colonial acarretou um aumento de salário para os operários europeus e
norte-americanos.”

“A este respeito, é importante notar que, na luta pelas colônias – luta por mercados e fontes de
matérias primas, por esferas de investmentos e mão de obra barata – os ‘trustes capitalistas
nacionais’, estveram longe de obter sucesso uniforme. Enquanto a Inglaterra, a Alemanha, a América
do Norte avançavam a todo pano no mercado mundial, a Rússia e a Itália, a despeito dos esforços de
seus imperialistas, revelaram-se muito ‘fracas’. Destarte, algumas grandes potências imperialistas
apresentaram-se como pretendentes ao monopólio mundial, surgindo, perante as demais, como
‘acima de concorrência’.”

É a lei do desenvolvimento desigual, porque as forças se veem, ao longo da história,


premiadas de maneiras diferentes. Portugal e Espanha, por exemplo, construíram domínios
319
coloniais imensos, para serem pilhados logo por lobatos recém-chegados. Como dizem os
comentaristas de futebol, não basta ter uma boa equipe, é preciso ter sorte também. É certo
que o acaso joga aqui, como entre outras coisas, certo papel. Mas a atuação sistemátca é o
fator determinante. Classes dominantes experimentadas sabem combater em todas as
frentes e formam e treinam seus quadros às dezenas de milhares. Não podem ser
enfrentados com sucesso por sociedades paternalistas, que distribuem seus postos de
comando com base no nepotsmo e evitam o avanço da técnica e do conhecimento racional.

Os quadros das empresas imperialistas são treinados em “jogos”, estratégicos altamente


agressivos e recebem – na maioria das vezes – seus postos, baseados na competência
individual. Para fazer face aos mesmos, se requer forte experiência em trabalho coletvo,
forte vida democrátca e um sistema de formação baseado na verdade e no conhecimento
histórico. Os norte-americanos, por exemplo, veem se infltrando no Brasil desde 1880. Já na
década de 1860, quando o seu país se achava ainda em formação, intentaram meios de pôr
suas mãos na região amazônica. O Império de D. Pedro II inventou, para enfrentá-los, uma
tátca habilidosa, que combinava (a) bajulação e (b) ação independente e preventva.
Contudo, é óbvio, como o Brasil está baseado na (1) ignorânncia e (2) despreparo de seus
cidadãos, os norte-americanos valeram-se das próprias prátcas dúbias do comando
brasileiro para irem, lentamente, se apossando do país. Do governo Roosevelt para cá (1933),
as pressões e “chaves-de-braço”, se transformaram em agressão encoberta, sendo que os
governos brasileiros cedem em tudo que lhes é exigido. Não é exagero reconhecer que
fazemos parte do quintal latno-americano e que os presidentes Kubistchek e Quadros, tão
logo eleitos, lá correram para “ouvir conselhos”, e “beijar mãos”,.

Nosso projeto de “poder nacional”, e “desenvolvimento nacional independente”, corre hoje


grande risco. O nosso partdo se mantém em alerta, mobilizando o conjunto da classe
trabalhadora para resistr aos trabalhos de desagregação e dominação ianques, como, por
exemplo, a formação massiva de lideranças sindicais brasileiras pela AFL-CIO, com
interferência nos cursos lá programados, da CIA e FBI.

Infltrar o país a ser “neutralizado”, com agentes internos treinados na metrópole é uma
tátca antga, mas sempre bem sucedida. Inúmeras empresas privadas de jornalismo,

320
inúmeros altos funcionários públicos do país, têm nomes nas listas de pagamento da CIA,
como “agentes infltrados”, que são. Como diz Aristóteles Moura:

“Vimos, anteriormente, elementos e formas do sistema que as empresas americanas integram.


Personalidades ianques as estudam detdamente, informando que o governo ianque as incentva; que
sua proteção é um dos objetvos principais da polítca exterior dos Estados Unidos; que o governo
desse país divide com as empresas a capacidade de infuenciar o curso dos assuntos externos. No
Capítulo VIII citamos dois acordos firmados pelo nosso governo com o dos Estados Unidos, um em
1939, outro, em 1956, em que ao prometer empréstmos ao Brasil, o governo de Washington estpula
a concessão de favores e facilidades às empresas de seu país, estabelecidas aqui.”

“Com esse apoio externo e com o que aqui constrói, o sistema funciona dentro de processo próprio,
cria situações, condiciona fatos e produz consequências sobre o meio de que faz parte. O que nos
falta no Brasil é ter ideia clara dessas situações e consequências, de como se projetam nitdamente no
campo técnico, no social e mesmo polítco.”

“Por exemplo, não se conhecem com precisão as taxas de lucro e de transferência das empresas; não
se conhecem bem as formas monopolistas que adotam, embora se saiba que as adotam em larga
escala; não se conhece em pormenor a vida de cada grupo financeiro, embora não se ignorem certas
normas que utlizam habitualmente. E seria atentar contra as regras mais gerais pretender esvaziar
as empresas americanas de conteúdo polítco, apresentando-as apenas por seus aspectos técnicos.
Em casos de monta, como o da Standard, da ICOMI, da GMC e outros, é fácil encontrar de imediato a
polítca exterior americana interferindo em nossos planos de desenvolvimento econômico. Mas, com
os dados em mão, é impratcável distnguir a ação de cada uma das empresas. Seu número no Brasil
anda perto de 400.”

O Brasil fcou em situação muito delicada a partr da chamada “Revolução de 1930”,. O


governo e os empresários dos EUA passaram a monitorar de perto o processo de
industrialização brasileiro. A usina siderúrgica comprada por Vargas a Hitler, foi mandada
para o fundo do mar, em incidente não esclarecido. O Brasil só chegaria a possuir uma
siderúrgica de peso como barganha com Roosevelt, cedendo-lhe bases no Nordeste e
enviando tropas para a Itália. O corpo de ofciais enviado com a F.E.B. foi vítma da intensa
doutrinação “democrátca”,, mas na verdade “pró-norte-americana”,. Inúmeros desses ofciais
militares se tornaram golpistas contumazes, tentando – em nome da democracia – derrubar
nossa incipiente democracia fundada em 1946.

321
Durante o golpe que derrubou Vargas e levou-o ao suicídio, o governo brasileiro (Café Filho,
Carlos Luz) caiu nas mãos da embaixada norte-americana, que de fato governava o país. O
ministro da Fazenda dos golpistas, senhor Eugênio Gudin, deu a famigerada portaria 113 da
SUMOC, para desnacionalizar o processo de industrialização. Apesar da posse do presidente
eleito, Juscelino Kubistchek, o Brasil vive cada vez mais sob a ingerência econômica e polítca
do governo norte-americano, com uma sucessão de tentatvas de golpes-de-estado (cinco
tentatvas nos últmos sete anos...) e golpes, que obviamente estão a serviço da
desnacionalização do país e da “guerra fria”,. O governo dos EUA procura tomar o Estado
brasileiro, para fazer dele instrumento atvo. Diz Konstantnov:

“As classes exploradoras consttuem reduzida minoria da população; exerce, entretanto, seu domínio
sobre uma maioria imensa. Então, como pode uma minoria da sociedade submeter à maioria e
dominá-la? O poder econômico dos exploradores consttui o fundamento de seu domínio. A
propriedade do senhor feudal sobre a terra, meio de produção mais importante, na época do
feudalismo, e a propriedade do capitalista sobre as fábricas, as minas, as ferrovias, os bancos; eis o
que lhes permite colocar as massas trabalhadoras em situação de dependência. Não basta, no
entanto, o poderio econômico dos exploradores, para manter o domínio da minoria sobre a maioria. É
preciso, também, uma força organizada, capaz de esmagar a resistência dos oprimidos e mantê-los
subjugados. Esta força é o Estado.”

“O Estado representa a organização de classe do poder polítco que defende e assegura os pilares
em que assenta o domínio de tal ou qual classe. Os homens nunca viveram à margem da sociedade,
mas esta nem sempre se organizou em forma de Estado, em todas as fases do desenvolvimento
histórico, mas somente ao dividir-se a sociedade em classes.”

Após recuperar-se das crises econômicas de 1929-32 e 1938, os EUA impuseram sua
vontade às demais potências imperialistas. Com a vitória na segunda grande guerra, o
governo e as grandes empresas norte-americanas se tornaram extremamente agressivos,
intervindo em toda parte, colocando bases militares e derrubando governos. No entre-
guerras (1919-1938), comentava Bukharín:

“Vimos anteriormente, a intensidade do desenvolvimento das forças produtvas nos últmos dez
anos. Os países do além-mar, principalmente os Estados Unidos, desenvolveram sua própria indústria
e, consequentemente, sua própria procura de produtos agrícolas. A Áustria-Hungria, por exemplo,
converteu-se em pouco tempo em país cujas importações de trigo e de outros produtos de consumo

322
ultrapassam as exportações. O surto geral das forças produtvas do capitalismo mundial, nesse
período, deslocou e transformou de tal maneira as relações entre a produção industrial e a produção
agrícola que, ainda aí, as modifcaçees quanttatvas ultrapassaram os limites além dos quais se
situam as modifcaçees quanttatvas; é precisamente por isso que a época da alta dos preços,
enquanto aumento universal e geral dos preços dos produtos da agricultura é um fenômeno da nova
fase do capitalismo. O aumento do preço das matérias primas afeta diretamente a taxa de lucro, uma
vez que, em igualdade de condições, a taxa de lucros aumenta ou diminui em sentdo inverso ao
movimento do preço de matérias primas.”

Essas movimentações agressivas das potências imperialistas se tornaram hoje muito piores,
pois as mesmas buscam reconstruir as forças produtvas destruídas durante a guerra, ao mais
baixo custo possível. E isso só pode se dar pelo estrangulamento econômico dos países
dependentes e semicoloniais, pelo assalto econômico e militar de seus recursos e da pouca
industrialização que lograram efetvar durante as grandes crises imperialistas do século XX
(1914-1945). No Brasil não se dispõe sequer de uma lista completa das empresas
estrangeiras e de quais as empresas que se tornaram estrangeiras depois da infame portaria
113 da SUMOC. Diz Aristótels Moura:

“É impratcável porque não conhecemos com clareza o funcionamento da maioria delas, seus
objetvos reais e os artfcios que adotam. É verdade que algumas em virtude das atvidades que
exercem ou do pequeno volume de seus negócios, não se ajustam aos programas imediatos da
polítca exterior dos Estados Unidos. Vender rolamentos de aço no Brasil, como faz a Tinken Roller
Bearing Co., ou fabricar aqui sacos de papel (Bates Valve Bag Corporaton) – não o sabemos – talvez
em nada interesse atualmente ao Departamento de Estado dos Estados Unidos. Além disso, como diz
o Sr. Adolfo Berle Jr., e é perfeitamente admissível, de vez em quando certas empresas americanas
contrariam a polítca de seu governo nos países em que se acham.”

“Todavia se, desse modo, surgem exceções, mantém-se coeso o sistema geral em que as empresas
vivem no País. No processo em que ele se manifesta, desenvolvem-se, evidentemente, ações
destnadas a assegurar os interesses que são comuns às entdades que o compõem; por exemplo:
disponibilidades cambiais bastantes para a transferência de lucros, taxas de câmbio favoráveis a essa
transferência; legislação tributária que não reduza suas rendas garanta de retorno de capitais;
garantas contra a nacionalização, direito à administração sem controles estatais de preços, lucros,
quantdade a produzir ou a vender, importar ou exportar; legislação trabalhista e aduaneira de seu
agrado.”

323
“Esse conjunto de interesses só pode ser assegurado, conforme os casos e situações, através de atos
legislatvos federais, estaduais e municipais, através de decisões do Poder Judiciário e de atos
executvos dos três níveis do governo. Todo o corpo do Poder Público se vê, assim, em face dos que,
brasileiros ou americanos, pleiteiam aquele conjunto de interesses.”

3 – O Assalto do Capital Financeiro.

O grande problema das empresas industriais e comerciais dos países imperialistas – a


presença imperialista – é que elas não se reduzem a produzir bens industriais e vendas no
comércio. Elas são instrumento de seus governos e também instrumentam seus governos
para exercer um domínio ideológico, cultural, de orientação estratégica, de deformação dos
costumes locais. É um claro fator de desagregação da sociedade local e de sua natureza.

Por detrás dessa “poeira de empresas”, que aparecem apenas como compradoras e
vendedoras vêm o que os imperialistas possuem de pior, que é o seu capital fnanceiro.
Quando Kubistcheck resolveu construir Brasília, lançou mão dos recursos nacionais
disponíveis em grande quantdade para tal. O país estava em grave crise econômica, mas
dela foi retrado graças à expansão da demanda por produtos e mão de obra doméstca. Qual
foi o “conselho”, do governo norte-americano? Tratava-se de uma empreitada maluca, que
devia ser abandonada o quanto antes. Semelhante obra terminaria com a possibilidade de
“equilíbrio fscal”, para o Estado brasileiro e era simplesmente danosa.

Os economistas ortodoxos a serviço do governo e das empresas norte-americanas fngem


acreditar que seja necessário existr um “equilíbrio fscal”,, isto é, que o governo não deva
gastar mais do que “ganha”,... Ora, essa ideia é infantl e até absurda. O governo de uma
nação não pode se comportar como uma dona de casa que vai ao açougue. O governo norte-
americano jamais se portou de acordo com semelhante “conselho”,. O governo norte-
americano imprime o seu próprio dinheiro e lhe atribui um fundo ouro correspondente que
o mesmo não possui. É um governo que se endivida através de créditos coloniais e venda de
títulos, para suprir todas as suas necessidades no mundo real. Possui duas mil bases no
exterior e atrasa os pagamentos que deve como bem lhe aprouver. Com isso, os EUA é a
maior potência do planeta.

324
Se o camarada Stálin não imprimisse o seu próprio dinheiro e mandasse fabricar os bens
que se necessitassem, os soviétcos ainda estariam catando castanhas na neve e não
mandando satélites ao espaço. A existência de um poder nacional é que garante a
possibilidade de desenvolvimento da base socioeconômica. A teoria do “equilíbrio fscal”, é
uma teoria a serviço dos muitos ricos na sociedade, que gastam para si o dinheiro dos
impostos e se recusam a gastar o dinheiro – que já se foi – para minorar a miséria dos
pobres. É uma teoria dos esfomeadores do povo e dos rebaixadores de salários. Por que os
preços sobem sem cessar? Porque, para os ricos, não há qualquer “equilíbrio fscal”, que seja
necessário.

Com anedotas desse calibre, os economistas dos bancos de “ajuda”, aos “países pobres”,
querem justfcar a necessidade de seus “empréstmos”, a “juros baixos”,... (banco Mundial,
banco Interamericano, etc.). Ai de quem tomar-lhes emprestado... Primeiro virão as listas das
exigências “não econômicas”,, baseadas na “boa vizinhança”,... depois, trincarão nos juros...
Ensina Aristóteles Moura:

“ 1 – É notório que as relações comerciais e polítcas do Brasil com os Estados Unidos, na presente
fase histórica, são excepcionais. Não são equiparáveis às que mantemos com qualquer outro país.”

“ 2 – O volume de capitais das empresas americanas estabelecidas no Brasil é superior ao das


empresas de qualquer outra nacionalidade. É superior ao total das empresas dos países europeus. Do
total dos empréstmos registrados até 1956, pela Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC),
que consttuem a grande maioria, 60% correspondem a empréstmos dos Estados Unidos, sem contar
os do Fundo Monetário Internacional e do Banco Internacional (BIRD), controlados pelo governo
americano. Considerando estes, a percentagem eleva-se a 74%. Os empréstmos dos países europeus
não atngem 20%, notando-se que, no total dos empréstmos ingleses, equivalentes a 117,9 milhões
de dólares (6% do total), estão incluídos 96,1 milhões de dólares dos antgos empréstmos em
apólices, contraídos antes de 1930.”

“ 3 – A concentração do financiamento externo em fontes americanas leva, por vezes, o governo


americano a pronunciar-se à maneira de co-executor de nossa polítca econômica. No capítulo sobre
os empréstmos citamos fatos que o comprovam.”

“ 4 – Os Estados Unidos atualmente predominam politcamente sobre a maioria dos países


capitalistas. Essa posição internacional em boa parte lhe é assegurada por seus empréstmos e por
suas empresas. Para um país, como o nosso, que aspira por inteira emancipação econômica e

325
polítca, é urgente e relevante analisar em detalhe os instrumentos que propiciam a dependência em
que se acha.”

“ 5 – O estudo dos capitais estrangeiros, evidentemente, deve ser iniciado hoje pelo estudo dos
capitais americanos, como, há algumas décadas, o seria pelo dos capitais ingleses.”

“ 6 – O desenvolvimento econômico de nosso País, na fase em curso, depende pesadamente de seu


comércio exterior. A maior parte desse comércio se realiza com os Estados Unidos. Empresas
americanas aqui estabelecidas – capitais americanos – interferem largamente em nossas exportações
e importações.”

“ 7 – A maior campanha nacionalista, uma das maiores em qualquer sentdo entre as realizadas no
País, foi a do petróleo. Até em porteiras de fazendas de regiões menos povoadas encontrava-se o
letreiro “O PETRÓLEO É NOSSO”. Foi uma campanha sobretudo contra capitais americanos.”

“Há, pois, razões para que o estudo desses capitais, de suas formas e de sua ação, tenha prioridade
sobre o dos capitais ingleses, alemães ou de outras nacionalidades.”

“A dependência em que vivemos da polítca exterior dos Estados Unidos, não decorre exclusivamente
da ação de suas empresas e empréstmos. Estes instrumentos muito se apoiam no comércio exterior,
mas o sistema de relações Brasil-Estados Unidos é de grande amplitude. Dele fazem parte acordos
diversos, como o de Assistência Militar, os atômicos, o Administratvo (estudos de reservas minerais e
de seu aproveitamento) e missões militares e de assistência técnica de outras espécies.”

É evidente que todos aqueles que têm um “assento”, assegurado no Estado brasileiro tem
uma simpata – oculta ou aberta – pela dominação norte-americana. Eles pensam terão –
com a entrega do país – como ganhar uma fagulha do “bem-estar”, que costumam ver nos
flmes de Hollywood. Eles esquecem que o imperialismo vende acima de tudo sonhos. Que o
nosso país, como semicolônia, teria que gastar dez vezes mais para ter a metade do bem-
estar de que desfrutam os americanos mais prósperos. Isso se vê visitando as estatístcas do
grande irmão do norte. Quarenta por cento da população é bem pobre. Este 40% é
consttuído de trabalhadores. Mesmo na maior potência do mundo, é isso que os capitalistas
reservam aos trabalhadores. Nem no centro da sociedade do capital, os pobres fcam com
muita coisa. Quanto à periferia do mesmo, a “distribuição”, da riqueza é ainda mais escassa.
Diz Paul Baran:

326
“O capitalismo, na maioria dos países subdesenvolvidos, sofreu, assim, forte deformação de seu
processo de crescimento; tendo passado por todas as penas e frustrações da infância, não pôde
nunca experimentar o vigor e a exuberância da mocidade, começando, ainda jovem, a apresentar os
sintomas dos graves distúrbios que caracterizam a senilidade e a decadência. Ao peso morto da
estagnação tpica de uma sociedade pré-industrial veio juntar-se o impacto paralisador do
capitalismo monopolista. O excedente econômico de que os consórcios monopolistas se apossam em
quantdades enormes, nos países subdesenvolvidos, não é empregado nem na ampliação das
próprias empresas que ensejaram a sua conquista nem tampouco na instalação de novas firmas. A
parte desse excedente que não é distribuída entre os acionistas estrangeiros, tem destno semelhante
àquele que encontra nas mãos da aristocracia rural: serve para manter a vida luxuosa de seus
detentores, sendo gasta na construção de suntuosas residências nas cidades e no campo, na
manutenção de vasta criadagem e em despesas de consumo supérfuo, etc. A parcela que resta após
esses gastos excessivos é empregada na aquisição de terras para arrendamento, no financiamento de
atvidades comerciais de todas as naturezas, na usura e na especulação. E, last but not least, somas
vultosas são remetdas para o exterior onde vão consttuir um seguro contra a depreciação da moeda
nacional ou, então, reservas destnadas a assegurar a seus proprietários a fuga ou retrada, em
condições satsfatórias, no caso de ocorrência de perturbações polítcas e sociais.”

Portanto, a rede bancária consttui excelente equipamento para garantr os laços de


exploração entre a burguesia local e aquela dos centros imperialistas. No caso do Brasil, por
exemplo, a burguesia local mantém no exterior, somas que garantriam por uma dezena de
anos, se investdas na produção, o crescimento do país a uma taxa de sete por cento. No
entanto, com a fuga dessas somas de ganho, e as importações de bens para a classe
dominante, dá-se o veio principal do surto infacionário. A infação permite: (a) reajustes
constantes, acima das médias do custo; (b) desvalorização da força de trabalho nacional; (c)
garanta de ganhos extras com o aumento da produtvidade; (d) antecipar-se a perdas
potenciais; etc.

Mas os capitalistas, como se não entendessem de economia, proclamam que o que causa
infação é o “excesso de demanda”, (certamente, a comida dos pobres) e os salários
elevados... A seu tempo, comenta Kautsky:

“Na indústria rural, explorada capitalistcamente, encontramos o mais longo e mais extenuante dia de
trabalho, ao lado da mais ínfima remuneração pelo trabalho executado, da maior ocorrência de trabalho
infantl e feminino e das mais miseráveis condições de habitação e trabalho; em síntese: as condições mais

327
ultrajantes que podem ser encontradas dentro do nosso sistema de produção. Esta é a mais infamante forma de
exploração capitalista e o mais degradante método de proletarização do campesinato. Todas as tentatvas de
ajudar os pequenos camponeses que já não são mais capazes de viver exclusivamente do trabalho agrícola,
através do encorajamento da indústria rural, determinam, após curto e duvidoso período de melhora, uma
queda inevitável na mais profunda e desesperançada miséria.”

Como se vê, nesses 63 anos desde o comentário, não mudou grande coisa a favor dos
explorados. Por detrás dos bancos, das manobras das grandes indústrias, habita o capital
fnanceiro. E não pretende – é óbvio – deixar os ganhos das atvidades de seus prepostos em
mãos de suas vítmas. Diz Paul Baran:

“Chegamos, assim, ao terceiro ramo do setor não agrícola do sistema econômico dos países
subdesenvolvidos: a empresa estrangeira. As empresas total ou parcialmente estrangeiras cuja
produção se destna ao mercado interno do país subdesenvolvido, não apresentam nenhum
problema especial. Aplica-se também a elas o que foi dito anteriormente sobre a indústria em geral.
Enquanto uma parte do excedente econômico de que se apropriam é gasta, localmente, no
pagamento, por exemplo, de administradores altamente remunerados, outra parte, justamente a de
maior vulto (incluem-se aqui as poupanças pessoais desses administradores), é transferida para o
exterior. A contribuição desse tpo de empresa à formação de capital nos países subdesenvolvidos é,
portanto, menor do que a das firmas nacionais.”

“Mais complexo – mas também mais importante – é o papel desempenhado pelas grandes
empresas estrangeiras radicadas em países subdesenvolvidos que produzem mercadorias para
exportação. Representam elas não apenas a quase totalidade dos interesses estrangeiros nas áreas
atrasadas, envolvendo grandes inversões de capital, como também são responsáveis por parcela
substancial da produção (tanto nacional como mundial) de tais mercadorias. A fim de se ter uma
noção mais precisa do impacto que essas empresas têm sobre o desenvolvimento econômico dos
países subdesenvolvidos onde operam, é útl examinar, separadamente, os diferentes aspectos de
suas atvidades: a) a importância do investmento realizado pela empresa estrangeira; b) o efeito
direto de suas operações correntes; c) sua infuência genérica sobre o país subdesenvolvido.”

A massa de salários paga pelas empresas imperialistas nos países atrasados é uma parte
insignifcante de seus custos: em alguns países chega a 3%, em outros, 5 ou 6%. No entanto,
nas metrópoles, os salários ocupam uma parcela de quatro a seis vezes maior que nas áreas
periféricas do capital. A estratégia do capital fnanceiro verifca-se ser: (a) pagar menor

328
massa salarial nos centros imperialistas, exportando capital para produzir alhures; (b) pagar o
mínimo possível, nos países atrasados onde se instala.

Seria completamente ingênuo supor que os agentes do capital fnanceiro ajam assim
porque sejam malvados ou porque tratam com estrangeiros. O “capital fnanceiro”, é uma
estrutura que se apossa das pessoas que caem na sua esfera de domínio. É ele, com relação
social, que determina o que as pessoas – aparentemente no comando – devem fazer.
Aqueles que não correspondem às necessidades da relação coisifcada são cuspidos fora pelo
sistema, são rapidamente destruídos. A objetvação dos homens como coisas, faz com que as
coisas comandem os homens. É uma relação alienada. O burguês banqueiro ou não, é mero
funcionário do capital. Como diz Konstantnov:

“Marx explica nitdamente o que entende por correlações internas, pela noção de lei. Estes são, em
suma, conceitos idêntcos. A lei exprime as conexões internas e essenciais dos fenômenos. A propósito
da baixa tendencial da taxa de lucro, define a lei como “a conexão interna e necessária entre duas
coisas”. (...) Vê-se, portanto, que, para Marx, toda ligação de causa e efeito não é uma conexão
interna, essencial. A correlação interna é, ao mesmo tempo, necessária. A lei exprime a conexão
interna e não necessária dos fenômenos. (...) Assim, a lei objetva não é nada mais que o liame de
causa e efeito, a correlação em que certos fenômenos engendram necessariamente outros
fenômenos, em que um grau do desenvolvimento condiciona necessariamente um outro grau. A lei é
a forma sob a qual estas conexões internas agem, realizam-se. Sendo o liame interno essencial dos
fenômenos, a lei determina o desenvolvimento dos fenômenos, que se desenrola com uma
necessidade natural, e rege o processo da natureza e da sociedade. (...) Frisando a objetvidade das
leis, sua independência da vontade e da consciência dos homens, a impossibilidade de as “revogar”
arbitrariamente, Marx não diminui de maneira alguma o papel do conhecimento dessas leis e o
alcance da atvidade consciente dos homens. De um lado, a sociedade não pode queimar as etapas
naturais do desenvolvimento, determinadas pelas leis objetvas; nesse sentdo, os atos e o
comportamento dos homens são ditados pelas condições de sua vida, pelas leis de uma formação
econômica e social dada; de outro lado, graças ao conhecimento das leis objetvas, a sociedade pode
reduzir e suavizar as dores do parto; dito de outra forma, agindo segundo essas leis, ela pode acelerar
a evolução e ajudar a necessidade histórica a se realizar nos fatos. A teoria econômica de Marx é tão
distanciada quanto possível de todo elemento de fatalismo, de passividade; ela não contém a mais
reduzida minimização da atvidade revolucionária criadora das massas. (...) À essência, a lei expressa
sempre o elemento universal de uma série de fenômenos individuais.”

329
Portanto, não se podem alimentar ilusões, do tpo “jogo honesto”, com o imperialismo,
“honrar seus compromissos com o capital fnanceiro”,, etc. O “outro lado”, conhece apenas o
movimento de seus interesses próprios. Não pode mudar sua natureza para agradar o
“freguês”, da vez. Se vende batatas podres, não vão esperar elas “melhorarem”, para vendê-
las. Como diz Hilferding:

“Dessa forma, a exportação de capital atua também em favor de uma polítca imperialista.”

“A exportação de capital, especialmente desde quando se deu em forma de capital industrial e


financeiro, acelerou enormemente a reviravolta de todas as velhas relações sociais e a submersão do
mundo no capitalismo. O desenvolvimento capitalista não se deu de modo autóctone em cada país
isoladamente; pelo contrário, com o capital foram simultaneamente importadas produção capitalista
e relações de exploração, e isso sempre no grau alcançado no país mais avançado. Assim como hoje
uma indústria recém-criada não se desenvolve a partr de princípios e técnicas artesanais para chegar
a ser uma gigantesca empresa moderna, mas é fundada de antemão como empresa altamente
capitalista, assim o capital, hoje, também é importado por um novo país com o respectvo grau de
perfeição e desenvolve por isso seu efeito revolucionário com ímpeto muito maior e em prazo muito
mais curto do que exigiu, por exemplo, o desenvolvimento capitalista da Holanda e da Inglaterra.”

“A revolução no sistema de transportes marcou época na história da exportação de capital. As


estradas de ferro e a navegação a vapor têm em si uma importância colossal para o capitalismo,
devido à redução do tempo de circulação. Com isso, primeiro libera-se o capital de circulação e,
depois, eleva-se a taxa de lucro. O barateamento da matéria-prima reduz o preço de custo e amplia o
consumo. Logo, as estradas de ferro e os navios a vapor criam aqueles grandes espaços econômicos
que possibilitam os gigantescos estabelecimentos modernos, com sua produção em massa. Mas,
sobretudo as ferrovias foram o meio mais importante para a abertura dos mercados estrangeiros.
Somente por meio delas foi possível a utlização em proporções tão colossais, dos produtos desses
países pela Europa e a ampliação tão rápida do mercado internacional. Contudo, mais importante
ainda foi o fato de a exportação de capital ter-se tornado agora necessária em proporções maiores
para a construção dessas ferrovias, construídas quase exclusivamente com capital europeu,
nomeadamente com o inglês.”

“A exportação de capital era monopólio da Inglaterra e, ao mesmo tempo, assegurava a esse país o
domínio do mercado mundial. Por conseguinte, econômica e industrialmente, a Inglaterra não
precisava temer a concorrência dos demais. Daí, a liberdade de mercado contnuar sendo seu ideal.
Em contrapartda, a superioridade da Inglaterra necessariamente levou os demais países a manter e

330
ampliar ainda mais seu domínio sobre os territórios já conquistados, para que ficassem protegidos da
prepotente concorrência inglesa, pelo menos dentro de suas fronteiras.”

“Mas a situação mudou assim que foi quebrado o monopólio da Inglaterra, e o capitalismo inglês,
insuficientemente organizado e pouco eficaz, devido ao livre-comércio, teve no capitalismo americano
e no alemão, concorrentes mais fortes. A evolução em direção ao capital financeiro criou nesses
países um forte impulso para a exportação de capital. Vimos como o desenvolvimento do sistema
acionário e dos cartéis cria lucros de fundador que afuem aos bancos, como capital que busca
investmento. Acresce que o sistema protecionista comprime o consumo interno e força com isso a
exportação.”

O poder, pois, do capital fnanceiro é imenso. Isto o leva a identfcar-se com o coração das
classes dominantes nos países dependentes, semicoloniais, etc. Os seus representantes
formam a famosa “rosca”, no poder (aqueles que comem roscas juntos), com membros da
elite bancária, civil e militar local. Mesmo sob a fachada democrátca, os membros da “rosca”,
costumam decidir sozinhos, enviando depois suas “soluções”, para as diferentes esferas do
poder local formalizar tais soluções. Na verdade, consttuem uma forma de poder fascista.
Diz Hilferding:

“Abstraindo da obtenção de trabalho assalariado livre ou de trabalho forçado nas regiões


propriamente coloniais, abstraindo da liberação relatva sempre atva do trabalho branco pelo
avanço técnico nas metrópoles capitalistas – a qual se tornaria absoluta, com o retardamento da
expansão – uma restrição mais acentuada da expansão capitalista nas regiões de colonização de
trabalho branco teria como consequência que o capitalismo se dirigisse em proporções ainda maiores
às regiões agrárias ainda atrasadas da própria Europa, procurando superar os obstáculos polítcos e
abrindo com isso áreas onde sua implantação, através da destruição da indústria caseira local e da
liberação da população agrária, fornecesse, em escala maior, material para o aumento da
emigração.”

“Contudo, se os novos mercados colonizados já não são meras áreas de venda, mas sim esferas de
investmento de capital, isso implica também na mudança de comportamento polítco dos países
exportadores de capital.”

“O mero comércio – enquanto não era vinculado ao comércio colonial por meio de roubo e saque,
mas consista em comércio com uma população branca ou amarela, apta a resistr e relatvamente
desenvolvida – deixou durante muito tempo, intatas na sua base, as relações polítcas e sociais desses

331
países e limitou-se somente às relações econômicas. Enquanto existr um poder estatal que possa
manter a ordem, o domínio direto é menos importante. Isso se altera com o aumento da exportação
de capital; trata-se, então, de interesses muito maiores. O risco é muito maior quando são
construídas estradas de ferro, instalações portuárias, se compram terras, abrem-se e exploram-se
minas, do que quando são simplesmente compradas e vendidas mercadorias.”

“O atraso da legislação torna-se assim uma barreira cuja superação o capital financeiro exige de
forma cada vez mais agressiva e mesmo por meios violentos. Isso leva a confitos cada vez mais
agudos entre os países capitalistas desenvolvidos e o poder estatal das regiões atrasadas a tentatvas
cada vez mais prementes no sentdo de impingir a essas regiões uma legislação correspondente ao
capitalismo, seja conservando ou destruindo os poderes até então existentes. Simultaneamente, a
concorrência pelas áreas de investmento recém-criadas implica em novos antagonismos e confitos
entre os próprios países capitalistas desenvolvidos. Mas, nos países recém-abertos, o capitalismo
importado acirra por sua vez os antagonismos e excita a crescente resistência dos povos que
despertam para a consciência nacional contra os invasores. Esta pode facilmente recrudescer a
tomada de medidas perigosas contra o capital estrangeiro. As velhas relações sociais são totalmente
revolucionadas, rompe-se a milésima vinculação agrária das ‘nações sem história’, que inclusive são
submersas no turbilhão capitalista. O próprio capitalismo confere paulatnamente aos subjugados os
meios e os caminhos para sua libertação. A meta que outrora era o mais alto ideal das nações
europeias – a criação do Estado nacional coeso, como meio de alcançar a liberdade econômica e
cultural – torna-se também a meta dessas nações subjugadas. Esse movimento de libertação ameaça
o capitalismo europeu precisamente nas suas regiões de exploração mais valiosas e mais auspiciosas
e, sempre mais, ele só poderá manter seu domínio mediante permanente multplicação de meios
coercitvos.”

Ou seja, Hilferding chama a atenção para que as inovações introduzidas despertaram ou


despertarão nos neocolonizados (ou colonizados) o desejo de copiar a liberdade dos
opressores. Como estes só lhes pode conceder relatva autonomia polítca, mas não
liberdade econômica, o impacto das mudanças promovidas pelo capital fnanceiro há de –
em certo momento – conduzir ao confito aberto. Daí a importânncia da “inovação”, dos meios
coercitvos e disponíveis contra a população ali dominadas.

332
4 – A Luta (Externa) Contra Reformas Progressistas na Sociedade Local.

Um país pobre (com poucos meios de produção) depende grandemente dos ganhos de seu
comércio com o estrangeiro para assegurar o seu abastecimento básico e investr na
expansão de seus meios de produção. Sabemos, por exemplo, que o Brasil não tem uma
técnica própria, criada pelos brasileiros, para produzir, mas que até aqui se limita a importar
equipamentos e técnicas e aqui reproduzi-los, com o fm de aumentar sua produção.

Dessa maneira, não há uma “revolução industrial brasileira”,, mas apenas a introdução da
revolução industrial europeia no Brasil, com efeitos sociais diferenciados. O primeiro desses
efeitos é que as mudanças técnicas não provocam reestruturação nas classes dominantes,
mas apenas do lado da massa pobre do país, os camponeses, trabalhadores avulsos e
empregados de serviço. A classe operária se forma das transformações na massa dos
pobres, mas raramente com latfundiários falidos, pequenos burgueses empobrecidos, etc.
Isso signifca que as classes dominantes têm grande estabilidade histórica no país, com
hábitos consolidados de domínio das insttuições e habilidade para manter ou formar
alianças sociais e econômicas externas para manter-se no poder.

Tal fenômeno em parte explica a difculdade de introduzir reformas progressistas no país, ao


longo de sua história. A independência polítca foi uma farsa patrocinada por um dos grupos
portugueses que disputavam o país. A abolição da escravatura foi imposta gradualmente pela
Grã-Bretanha. A proclamação da república foi – em parte – uma revanche dos antgos
senhores de escravos, quando o ideal autêntco republicano se viu extnto.

A sucessão de fraudes montada pelas classes dominantes ao longo da história do Brasil é


extensa de enumerar. As classes dominantes locais têm mostrado a habilidade de mostrar (a)
submissão aos inimigos externos e (b) ferocidade contra as reivindicações populares. Deste
modo, tem tdo a capacidade de mostrar sempre os “aspectos desfavoráveis”, de qualquer
proposta de reforma progressista, nascida no país, aos seus “aliados externos”,, ou seja, na
verdade, inimigos do povo brasileiro.

No momento atual (1950-1962), um grande número de reformas tem sido solicitado, pelos
meios legais, ao sistema insttucional vigente. Diz, por exemplo, o relatório do Banco do
Brasil de 1960:

333
“A comparação do saldo positvo da entrada de capitais – 500 milhões de dólares nos últmos cinco
anos – com o déficit de nossa balança mercantl naquele mesmo período – 250 milhões – levaria à
conclusão de que, mesmo se fosse economicamente admissível tão singelo cotejo aritmétco, a
diferença de 250 milhões na entrada de capitais não corresponderia às exigências da expansão da
economia nacional.”

Tem-se aqui colocada às classes uma visão infantl de economia em que cabe às forças do
exterior a responsabilidade pelo (a) equilíbrio do nosso Balanço de Pagamento e pela (b)
capacidade nacional de investmentos. Esta visão infantl do mundo acha que é obrigação do
imperialismo saldar “nossas”, contas e ainda nos dar um dinheiro de bolso para a compra de
equipamentos. Como se explica que nossas classes dominantes se portem como um bezerro
desmamado? Certamente a resposta está em que nunca se independentzaram. Nem foram
substtuídas por dentro por outras camadas que apresentassem uma dinânmica e objetvos
outros, ainda que próprios.

Como disse Lênine, pouco nos importa que o crescimento do país seja feito pelo capital
estrangeiro ou pelo capital nacional. O que importa é que o proletariado deve preparar-se
para desenvolver o país. Para tal, a aliança operário-camponesa deve aliar-se a qualquer um
que julgue pretender tal desenvolvimento. Até mesmo o capital estrangeiro, regulamentado
pelos interesses sociais nacionais, pode e deve partcipar desta tarefa. Não somos hosts ao
capital estrangeiro. Somos, sim, adversários da confusão e da ausência programátca. Não há
como o país obter saldos sucessivos na Balança Comercial, sem restringir os gastos que não
são essenciais. Que a população coma, se eduque e possua meios para produzir são
essencialidades, mas não o são outras maneiras de gastar. É necessário elevar o investmento
interno e promover as reformas que permitrão à economia seguir se expandindo. A
eliminação dos três mercados de cânmbio pela Instrução 204 não favorece uma polítca
comercial mais próxima às necessidades reais, mas lança apenas sobre a população um
reajustamento desequilibrado dos custos de oferta, que aguça os confitos entre o trabalho e
o capital. A “liberdade de movimentos”, instaurada pela Instrução 204 desencadeou
verdadeira fuga de capitais, no lugar de atrair os de fora para que viessem aqui investr
produtvamente, como foi proclamado pelos seus autores. Por que, ao defender os
interesses dos muito ricos, a polítca econômica de Gudin e de Quadros não deixa nada de
bom para os pobres? Bukharín esclarece:

334
“... razees para a desarmonia da sociedade capitalista se encontra na estrutura de classe dessa sociedade .
Considerada em sua essência, a sociedade capitalista abrange não uma, mas duas sociedades. Ela consiste dos
capitalistas, de um lado, e de trabalhadores e camponeses pobres, do outro. Entre essas duas classes há uma
hostlidade permanente e irreconciliável; é a isso que chamamos de guerra de classes... (No socialismo, por
outro lado) terá ocorrido a liberação da enorme quantdade de energia humana hoje absorvida pela luta de
classes. Basta pensar em como é grande o desperdício de energia nervosa, força e trabalho – luta polítca,
greves, revoltas e sua repressão, julgamentos nos tribunais, atvidades policiais, autoridade estatal, atvidades
diárias das duas classes hosts. A guerra de classes consome hoje enorme quantdade de energia e meios
materiais. No novo sistema, essa energia será liberada: as pessoas já não lutarão entre si. A energia liberada
será dedicada ao trabalho de produção.”

A metodologia dos economistas burgueses considera apenas os interesses dos proprietários


dos meios de produção. Para eles, só devem se importar com a elevação dos preços das
mercadorias caso haja uma insurreição popular. Se o povo não se levanta em armas, é
porque pode ainda comprar. Rosenthal comenta a metodologia correta de análise:

“Quando se empreende o estudo dos fenômenos ainda desconhecidos, tem-se diante o mundo
exterior, que se apresenta em toda a sua complexidade. É um todo concreto, cujas multformes
relações não são ainda compreendidas em sua unidade e em sua ligação interna. Para ver claro nessa
complexa diversidade e não tomar as ligações externas e acidentais, por ligações internas e
necessárias é preciso decompor esse todo complexo em suas partes e elementos consttuintes, extrair
da massa dos aspectos e dos elementos do todo os que são mais importantes, os que são
determinantes, procurar e descobrir o que há de essencial e de comum, nos fenômenos, os aspectos
múltplos, e que os reúne em um só todo. Isto se pode fazer pela análise. A tarefa da análise é,
precisamente, de se elevar do singular ao geral, do concreto ao abstrato, do lado imediato ao
mediato, do contngente ao necessário, da aparência dos fenômenos à sua lei.”

Os economistas a serviço do grande capital não enxergam as massas populacionais de


trabalhadores como seres humanos. Já vimos que, quando os mesmos pratcam a
escravidão, consideram os escravos uma espécie de gado de trabalho. Por isso que em seus
cálculos do ótmo econômico existem apenas patrões, proprietários. Esse modo de raciocinar
afeta também os seus colegas do sistema externo – FMI, Banco Mundial, Banco
Interamericano, Aliança para o Progresso, etc. -. Não conseguem, pois, humanizar suas
propostas de reformas conservadoras. Na verdade, só a revolução proletária pode colocar os
trabalhadores como centro das proposições de planejamento. Disse Marx:

335
“A revolução a que aspira ao socialismo moderno consiste, falando brevemente, na vitória do
proletariado sobre a burguesia e numa nova organização da sociedade, mediante a liquidação das
diferenças de classe. Para isso, faz-se mister, além da existência do proletariado, que há de realizar
essa revolução, a existência da burguesia, em cujas mãos as forças produtvas da sociedade atngem
esse desenvolvimento, que torna possível a liquidação definitva das diferenças de classe. Entre os
selvagens e os semisselvagens também não costuma haver diferenças de classe, e por esse estágio
passaram todos os povos. Mas, nem sequer pode ocorrer-nos restabelecê-lo, ainda que não seja
senão porque desse mesmo estágio surgem, necessariamente, com o desenvolvimento das forças
produtvas da sociedade, as diferenças de classe. Só ao atngir determinado grau de desenvolvimento
das forças produtvas da sociedade, muito elevado mesmo para as nossas condições presentes, torna-
se possível elevar a produção até alcançar um nível em que a liquidação das diferenças de classe
represente verdadeiro progresso, tenha consistência e não traga consigo o estancamento ou,
inclusive, a decadência no modo de produção da sociedade.”

O partdo operário e a maioria dos trabalhadores apoiam as reformas progressistas que


possam mover as estruturas carcomidas da sociedade do capital num país dependente tendo
em vista fazer avançar soluções polítcas de aproximação para fortalecer as posições das
grandes massas de povo, de suas lideranças, de seus aliados. Contudo, isso não signifca
aceitar quaisquer tpos de proposições quanto às reformas. Reformas que servem aos
monopólios contra a burguesia doméstca; que serviam aos muito ricos e prejudiquem os
trabalhadores e os pobres, não podem ser apoiados pelo bloco popular. As reformas devem
fazer andar para frente a sociedade e não ser usadas para travar o progresso, a redistribuição
de renda e as formas democrátcas. Disse Lênine:

“A lei fundamental da revolução, confirmada por todas as revoluções, e em partcular pelas três
revoluções russas do século XX, consiste no seguinte: para a revolução não basta que as massas
exploradas e oprimidas tenham consciência da impossibilidade de contnuar vivendo como vivem e
exijam transformações; para a revolução é necessário que os exploradores não possam contnuar
vivendo e governando como vivem e governam. Só quando os ‘de baixo’ não querem e os ‘de cima’
não podem contnuar vivendo à moda antga é que a revolução pode triunfar. Em outras palavras,
esta verdade exprime-se do seguinte modo: a revolução é impossível sem uma crise nacional geral
(que afete explorados e exploradores). Por conseguinte, para fazer a revolução é preciso conseguir,
em primeiro lugar, que a maioria dos operários (ou, em todo o caso, a maioria dos operários
conscientes, pensantes, politcamente atvos) compreenda a fundo a necessidade da revolução e
esteja disposta a sacrificar a vida por ela; em segundo lugar, é preciso que as classes dirigentes

336
atravessem uma crise governamental que atraia à polítca inclusive as massas mais atrasadas (o
sintoma de toda revolução verdadeira e a decuplicação ou centuplicação do número de homens aptos
para a luta polítca, homens pertencentes à massa trabalhadora e oprimida, antes apátca), que
reduza o governo à impotência e torne possível sua rápida derrubada pelos revolucionários.”

Portanto, o nosso objetvo na luta pelas reformas não é fazer adormecer a maioria dos
trabalhadores, mas trazê-los ao debate e à luta. Não pode ser, portanto, aceitar qualquer
tpo de reforma, partcularmente aquelas preparadas na cozinha do imperialismo (Aliança
para o Progresso), mas fazer reformas que abram caminho ao desenvolvimento das forças
produtvas. É preciso ensinar a lutar e a triunfar massas de milhões de trabalhadores. Disse
Lênine:

“Apenas com a vanguarda, é impossível triunfar. Lançar a vanguarda sozinha à batalha decisiva,
quando toda a classe, quando as grandes massas ainda não adotaram posição de apoio direto a essa
vanguarda ou, pelo menos, de neutralidade simpátca, e não são totalmente incapazes de apoiar o
adversário, seria não só uma estupidez, mas um crime. E para que, realmente, toda a classe, para
que, realmente, as grandes massas dos trabalhadores e dos oprimidos pelo capital cheguem a ocupar
essa posição, a propaganda e a agitação, por si, são insuficientes. (...) Mas quando se trata da ação
prátca das massas, de movimentar – se me é permitdo usar essa expressão – exércitos de milhões de
homens, dispor todas as forças da classe de determinada sociedade para a luta fnal e decisiva, não
conseguireis nada através unicamente dos hábitos de propaganda, com a simples repetção das
verdades do comunismo ‘puro’. E é porque, nesse caso, a conta não é feita aos milhares, como faz o
propagandista membro de um grupo reduzido e que ainda não dirige massas, e sim aos milhões e
dezenas de milhões. Nesse caso, é preciso perguntar a si próprio não só se convencemos a vanguarda
da classe revolucionária, mas também se estão em movimento as forças historicamente atvas de
todas as classes de tal sociedade, obrigatoriamente de todas, sem exceção, de modo que a batalha
decisiva esteja completamente amadurecida, de maneira que 1) todas as forças de classe que nos são
adversas estejam suficientemente perdidas na confusão, suficientemente lutando entre si,
suficientemente debilitadas para uma luta superior a suas forças; 2) que todos os elementos
vacilantes, instáveis, inconsistentes, intermediários, isto é, a pequena burguesia, estejam
suficientemente desmascarados diante do povo, suficientemente cobertos de opróbrio pela sua
falência; 3) que nas massas proletárias comece a aparecer e a expandir-se com poderoso impulso o
afã de apoiar as ações revolucionárias mais resolutas, mais valentes e abnegadas contra a burguesia.
É então que está madura a revolução, que nossa vitória está assegurada, caso tenhamos sabido levar

337
em conta todas as condições levemente esboçadas acima e tenhamos escolhido acertadamente o
momento. (...)”

Por esta razão, o nosso partdo não se volta para quaisquer proposições demagógicas de
reforma, principalmente aquelas nascidas no governo norte-americano, que desejam apenas
domestcar as propostas progressistas e torná-las inócuas. Nessas propostas contnuam a
sustentar as reformas de base da frente nacionalista. A luta pelas reformas não pode ser
transformada num conchavo de burocratas daqui e dali, que imporão um programa
conservador, baseado no modelo da complementaridade já assentada pela divisão
internacional do trabalho. Não! Nossas propostas são um meio de mobilizar as massas do
povo, e levá-las a dar uma palavra pelo tpo de reformas de estrutura que necessitam. Disse
Lênine:

“... em segundo lugar, exige que se levem em conta todas as forças, todos os grupos, partdos,
classes e massas que atuam dentro do país considerado, em vez de determinar a polítca baseando-se
exclusivamente nos desejos e opiniões, no grau de consciência e de preparação para a luta de um só
grupo ou partdo. (...) Proceder de outro modo significa dificultar a marcha da revolução, pois se não
se produz uma modificação nas opiniões da maioria da classe operária, a revolução torna-se
impossível: e essa modificação se consegue através da experiência polítca das massas, e nunca
apenas com a propaganda.”

O partdo, forma politcamente o conjunto das forças populares na luta pelas soluções
positvas, tomando cada necessidade do povo como instrumento para organizá-lo. Isso não
quer dizer que a maioria desses problemas possa ser resolvido no quadro do governo
instalado, mas sim que a luta polítca é o único caminho pelo qual estes problemas chegarão
um dia a ser resolvidos. O grau de atraso da sociedade brasileira é muito grande. A
preocupação das classes dominantes com a população existe apenas para reprimi-la. Até
mesmo a ideia de implementar falsas reformas é-lhes recente. As classes dominantes faz
muito pouco aprenderam semelhante engodo na embaixada dos EUA. Daí a necessidade de
os lutadores do campo popular em aprofundar a luta pelas reformas de base. As pessoas
comuns do povo devem tomar conhecimento do elo entre a satsfação de suas necessidades
básicas e o potencial de mudanças que a reforma da estrutura da sociedade pode acarretar.
Como disse Engels, é preciso entender o que se passa:

338
“A segunda descoberta importante de Marx consiste em haver esclarecido definitvamente a relação
entre o capital e o trabalho; em outros termos, em haver demonstrado como se opera, dentro da
sociedade atual, com o modo de produção capitalista, a exploração do operário pelo capitalista.
Desde que a economia polítca assentou a tese de que o trabalho é a fonte de toda riqueza e de todo
valor, era inevitável esta pergunta: como se concilia isso com o fato de que o operário não percebe a
soma total do valor criado por seu trabalho, mas tenha de ceder uma parte dele ao capitalista? Tanto
os economistas burgueses como os socialistas esforçaram-se para dar a essa pergunta uma resposta
cientfica sólida. A solução é a seguinte: o atual modo de produção capitalista tem como premissa a
existência de duas classes sociais: de uma parte, os capitalistas, que se acham na posse dos meios de
produção e de subsistência, e, de outra parte, os proletários que, excluídos dessa posse, têm apenas
uma mercadoria a vender, sua força de trabalho, mercadoria que, portanto, não tem remédio senão
vender, para entrar na posse dos meios de subsistência. Mas o valor de uma mercadoria é
determinado pela quantdade de trabalho socialmente necessário invertdo em sua produção e,
também, portanto, em sua reprodução: por conseguinte, o valor da força de trabalho de um homem
médio, durante um dia, um mês, um ano, é determinado pela quantdade de trabalho plasmada na
quantdade de meios de vida necessária para o sustento dessa força de trabalho, durante um dia, um
mês, um ano. (...) Por onde se conclui que o operário, a serviço do capitalista, não se limita a repor o
valor de sua força de trabalho, que lhe é pago, mas que, além disso, cria uma mais-valia que, no
momento, é apropriada pelo capitalista, e que, em seguida é repartda, segundo determinadas leis
econômicas, entre toda a classe capitalista. Essa mais-valia consttui o fundo básico de onde emana a
renda da terra, o lucro, a acumulação do capital, numa palavra, todas as riquezas consumidas ou
acumuladas pelas classes que não trabalham. Comprovou-se, desse modo, que o enriquecimento dos
atuais capitalistas consiste na apropriação do trabalho alheio não pago, nem mais nem menos que os
escravistas ou o dos senhores feudais, que exploravam o trabalho dos servos, e que todas essas
formas de exploração só se distnguem pelo modo diverso de apropriar-se do trabalho não pago.”

A luta pelas reformas na sociedade capitalista é um poderoso instrumento para despertar


e elevar a consciência polítca das massas populares. Os capitalistas entendem os serviços e o
funcionamento da sociedade como mera fonte de lucros. Nesse sentdo, sua consciência
social ainda é mais baixa do que aquela das sociedades pré-capitalistas. Desejam eles buscar
o lucro de tudo, ganham em tudo, mesmo na saúde pública, na venda de remédios, na
educação em massa, etc. Semelhante brutalidade impregna as relações sociais sob o capital,
e as pessoas simples do povo chegam a crer que não há outra solução possível. No entanto, a

339
sociedade começa a mudar, quando o povo percebe que a brutalidade não é o caminho da
solução social dos problemas. Diz Kozminov:

“Ao critcar este ponto de vista, Lênine formulou com toda a clareza a essência da concepção
materialista sobre a relação entre o ser social e a consciência social. ‘O ser social e a consciência
social não são idêntcos, da mesma maneira que não o são o ser em geral e a consciência em geral. O
fato de os homens, ao entrarem em contato uns com os outros, o fazerem como seres conscientes,
não significa de maneira nenhuma que a consciência social seja idêntca ao ser social’.”

“Na atvidade histórica social dos homens dirigida para a transformação radical da sociedade,
surgem, às vezes, divergências entre a consciência social, sob a forma de ideologia revolucionária que
motvou e estmulou a atvidade revolucionária, e os resultados objetvos da revolução. Devido a esta
atvidade, tornam-se realidade objetva, ou seja, formas do ser social, as relações que, além de se
formarem independentemente da consciência e da vontade dos dirigentes e da maioria dos
partcipantes da revolução, contradizem as suas intenções conscientes. É natural surgir a questão:
porquê acontece assim? É unicamente porque os dirigentes e os partcipantes da revolução não
souberam impor, com suficiente energia, os seus ideais e a sua vontade na luta contra o inimigo? Ou
isto significa que na sociedade já atuavam realmente tendências objetvas, se formavam realmente
determinadas relações na economia e se davam determinadas mudanças objetvas no sistema de
produção e na estrutura de classes? É assim que os marxistas colocam a questão. A resposta é clara:
os resultados da revolução são preparados, antes de tudo, pelos processos sociais reais e objetvos.”

“Para a teoria revolucionária tnha e contnua a ter grande importância o seguinte princípio clássico
da doutrina materialista sobre a sociedade e da sua teoria sobre as convulsões revolucionárias:
‘Quando se estudam tais revoluções é preciso distnguir sempre entre as transformações materiais
ocorridas nas condições econômicas de produção que podem ser verificadas com o rigor próprio das
ciências naturais – e as formas jurídicas, polítcas, religiosas, artstcas ou filosóficas, em resumo, as
formas ideológicas sob as quais os homens tomam consciência desse confito e lutam por resolvê-lo.
Assim, como não se pode julgar um indivíduo pela ideia que ele faz de si próprio, também não se
pode julgar uma época de revolução pela consciência que ela tem de si mesma. Pelo contrário, é
preciso explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo confito que existe entre as
forças produtvas sociais e as relações de produção’.”

340
5 – Como Enfrentar a Estratégia do Atraso.

O Brasil é um país que possui enormes riquezas em seu território, uma população numerosa
sem ser em excesso para o modo capitalista de produção. Portanto, é um país que poderia
produzir para todos aqueles que aqui vivem. Todas as famílias poderiam ter uma casa
decente, ter acesso aos bens demandados, à educação, a uma saúde pública efciente e
gratuita, etc. No entanto, a maioria absoluta dos brasileiros vive na miséria e outra parte
considerável numa pobreza próxima à miséria. Por que tal ocorre?

Isso ocorre por causa da construção do Brasil ao longo da história. O país foi criado de fora
para dentro. Não havia a intenção de criar-se aqui uma sociedade, mas apenas fazendas
agrícolas baseadas no trabalho escravo, com vistas a levar a produção para a Europa, etc.
Dessa forma, os investmentos que aqui se faziam eram para criar riqueza social em outras
partes. Daí haver-se fundado uma sociedade em grau extremo de miséria social. Em virtude
da estabilização e crescimento em excesso – para o modo capitalista – da população na
Europa, foram tais excedentes populacionais também enviados para aqui (a chamada Nova
Imigração), desencadeando-se então um processo interno (e não externo, como antes) de
acumulação primitva de capital. Umas regiões foram postas a explorar outras (1880-1960),
gerando-se uma base de produção cheia de defeitos e distorções, quando comparada com o
modelo original europeu que a gerou. Como diz Marx:

“O objetvo fundamental de toda a forma social de produção, a manutenção da sociedade pelo trabalho, a
satsfação das necessidades, aparece aqui completamente alterado e colocado de cabeça para baixo, visto que
a produção para o lucro, e já não mais para o homem, tornou-se a lei sobre toda a terra, [em outras palavras] o
subconsumo, a insegurança permanente do consumo e, por momentos [hoje, talvez dissesse, por prazo
indeterminado], o não consumo da grande maioria da humanidade, tornaram-se regra.”

Assim, o sistema capitalista, em si mesmo um modelo deformado pela concentração da


riqueza num polo e a miséria do outro, teve que “herdar”, os defeitos gerados no Brasil pelo
processo internacional que tornara possível o próprio sistema no centro. O traço
fundamental estrutural dessas deformações é o comando da base econômico-social pela
chamada aliança latfúndio - burguesia comercial – imperialismo. Esse arco de poder torna
característco o processo de desenvolvimento do Brasil e se tornou partcularmente crítco
com a crise do sistema imperialista de 1929 a 1945. O tpo de latfúndio mantdo no Brasil é
um resto histórico do tpo feudal, implantado no país pelo Portugal colonizador. Sua

341
superestrutura é feudal, mas a mão de obra nele utlizada era escravizada, trazida da África
e/ou aprisionada aqui, no próprio território. Isso gerou no país o modelo de atraso (em
relação ao centro do sistema) até hoje existente, baseado em semelhantes forças de atraso
(latfúndio – burguesia comercial – imperialismo). Para enfrentar as forças do atraso, afrma
nosso partdo:

“ – A reforma agrária é passo fundamental para o progresso da economia nacional.

- Pode ser assegurada a melhoria do nível de vida do operariado.

- Faz-se urgente a adoção de medidas ant-infacionárias.

- A industrialização do Nordeste e o desenvolvimento da Amazônia devem ser efetvados dentro da


causa geral da emancipação nacional.

- O Estado deve concentrar seus esforços contra o analfabetsmo e incentvar o ensino cientfico e
técnico e solucionar os problemas de saúde pública.

- Há necessidade de reformar a consttuição e de adotar medidas como a legalização do PCB, a


liberação das organizações sindicais, a revogação da lei de Segurança, etc.”

Nosso partdo escolhe assim o caminho do esclarecimento público, do uso do aparato legal
democrátco existente para canalizar as reivindicações progressistas e a consttuição de um
sistema de alianças que expresse as necessidades e a vontade da maioria dos brasileiros. O
partdo reconhece as limitações e os erros que tem cometdo, manifestando tal
publicamente em suas teses:

“ – O PC vem se esforçando para corrigir todas as falhas do trabalho interno, tanto na aplicação dos
princípios de centralismo democrátco como nos setores de educação ideológica, finanças e à
organização das empresas.

- O trabalho ideológico de propaganda ressente-se de grande debilidade e não foi ainda


organizada a ação comunista entre a juventude.

- Os comunistas precisam lançar-se decididamente ao trabalho no seio das massas.

- É preciso evitar o exagerado centralismo e o excesso de planos e de tarefas, sem condições reais
para os mesmos.

- É preciso intensificar o trabalho ideológico.

342
- As condições atuais são favoráveis ao fortalecimento e à legalização do Partdo.

- O Partdo precisa depurar-se, mas mostrar que é capaz de sobreviver a muitas vicissitudes.”

No ambiente internacional, para combater as forças do atraso, afrma nosso partdo:

“ – A derrota do capitalismo na esfera da produção material levará o socialismo a exercer o papel


predominante no desenvolvimento social.

- O imperialismo norte-americano consttui no após-guerra, o principal inimigo da paz mundial e


da independência dos povos.

- Se o imperialismo desencadear nova guerra mundial será inteiramente destruído.

- A coexistência pacífica é uma forma da luta de classes.

- Contnuam a desenvolverem-se as lutas pela emancipação nacional e a independência polítca de


inúmeros povos antes dominados pelo imperialismo.

- Os norte-americanos criaram a Aliança para o Progresso, estmulam a ALALC e procuram isolar


Cuba para manter o seu domínio.”

A luta do partdo se desenvolve como parte do processo histórico, apresentando vitórias e


derrotas, acertos e erros, porque não é possível para seus elementos dirigentes acertarem o
tempo todo, ou evitar os efeitos na luta real, de outros interesses e de outras classes. Na luta
contra o atraso, o partdo procura defender as classes sociais a que representa. Diz o
Camarada Togliat, examinando a prátca do partdo italiano, capaz de ensinar a partdos
menos fortes, como o nosso:

“Como devemos desenvolver ulteriormente a linha de nosso Partdo? Devemos contnuar na busca e
realização de um caminho nosso, de um caminho italiano de desenvolvimento para o socialismo. Mas
gostaria de corrigir os camaradas que disseram – como se se tratasse de uma coisa simplesmente
pacífica – que caminho italiano de desenvolvimento para o socialismo quer dizer caminho
parlamentar e nada mais. Isso não é verdade. Quem disse que ‘caminho italiano’ quer dizer caminho
parlamentar? Caminho italiano é um caminho de desenvolvimento para o socialismo que leva em
conta as condições já realizadas e as vitórias já alcançadas. Dado que essas vitórias criaram uma
ampla base de desenvolvimento no terreno democrátco, de fortalecimento da democracia e de sua
evolução no sentdo de determinadas e profundas reformas sociais. Se não se coloca a questão desse
modo, se se faz uma sumária identficação exterior entre ‘caminho italiano’ e ‘caminho parlamentar’,

343
podem-se criar, por um lado, ilusões perigosas, enquanto por outro podem-se ter também graves
desilusões. O camarada que trabalha nas fábricas, que conhece o peso do poder patronal; o cidadão
que chegou a conhecer a natureza e o peso do poder patronal; o cidadão que chegou a conhecer a
natureza e o peso do poder das classes dirigentes capitalistas na atual sociedade, e, por outro lado,
vê o que é hoje nosso Parlamento, pode chegar à conclusão de que por esse caminho não se chegará
jamais a uma transformação radical. Portanto, é preciso colocar corretamente a questão.”

“O caminho que seguimos até agora foi um caminho consequentemente democrátco. Ao trabalhar
e lutar através desse caminho, porém, encontramos ásperas resistências. Tivemos de combater
duramente para defender os interesses dos trabalhadores, sua liberdade e sua vida, para arrancar
alguma melhoria e algumas pequenas reformas. Em certos momentos, chegou-se mesmo a colocar a
questão de ter de combater para salvar a legalidade de nosso grande movimento, que alguns
acreditavam poder ameaçar. Sabíamos que se tratava de vãs ilusões de reacionários, mas eram vãs
ilusões porque éramos fortes e resistamos; e em torno de nós, na luta e também no sacrifcio,
agrupava-se a grande massa de trabalhadores. A utlização do parlamento é uma das possibilidades
de desenvolvimento de uma ação consequentemente democrátca para obter profundas reformas de
estrutura. Porém, para que essa possibilidade possa se realizar, são necessárias determinadas
condições. É necessário um parlamento que seja verdadeiramente um espelho do país; é necessário
um parlamento que funcione; e é necessário um grande movimento popular que faça emanar do país
as exigências que, em seguida, poderão ser satsfeitas por um parlamento no qual as forças

populares tenham obtdo uma representação bastante forte. Não é suficiente, para que o
parlamento seja espelho do país, que se apresente com uma representação proporcional. É
necessário que seja destruído – e amplamente destruído – todo aquele sistema de imposições, de
coerções, de intmidações, de terrorismo espiritual, ao qual se recorre na Itália, em medida cada vez
maior, com o objetvo de impedir que o voto parlamentar corresponda à consciência e às
necessidades das massas trabalhadoras que votam. Devemos ter presente o que Lênine dizia sobre o
caráter ilusório da democracia burguesa. Podemos hoje pôr fim, em parte e até mesmo em grande
parte, a esse caráter ilusório; ou seja, podemos criar um terreno verdadeiramente democrátco sobre
o qual se possa desenvolver vitoriosamente a luta pelo socialismo, assim como previam os clássicos
do marxismo. Mas, para que se crie esse terreno, para que esse terreno exista e seja amplo, também
para isso é necessária uma forte luta das massas, uma ampla ação no país.”

Ou seja, na luta pela consecução dos objetvos legítmos de nosso povo, deve-se saber levar
em consideração as partcularidades de nossa luta, as característcas de nosso povo e de
nossos aliados. Devemos estar conscientes das limitações de nossas forças e de nossos

344
aliados. No passado recente (1946-1954), cometemos muito o erro de superestmar as
nossas forças e subestmar o poder das forças do atraso. Não se pode subestmar o inimigo.
Atualmente, com a vitória das forças populares em Cuba e o agravamento da luta armada na
Venezuela e na Colômbia, os EUA tomaram uma posição extremamente intervencionista na
América Latna: (a) de um lado, organizaram a chamada Aliança para o Progresso, através da
qual pretendem coordenar as mudanças que desejam tolerar no contnente; e (b) passaram
a intervir atvamente em cada país, artculando ali as forças pró-golpe antdemocrátco e
inclusive o papel das mesmas em eventuais processos eleitorais. Nesse sentdo, as forças do
atraso têm se tornado mais agressivas e desafadoras, procurando colocar toda a discussão
dos problemas numa área de confito não negociável, uma área de extremismo e
enfrentamento aberto. Nesse contexto, se observam ferozes campanhas antcomunistas e a
formação de agrupamentos terroristas de direita, quase sempre acobertados em sua ação
por algum tpo de força policial.

Vê-se, portanto, a importânncia de elevar o nível de partcipação das massas mais amplas do
povo, compreende-se o papel libertador de uma vasta luta de massas, como ensina Togliat.
As forças do atraso apostam na criminalização dos atos de manifestação popular. Apostou na
repressão pura e simples das manifestações da maioria, para lograr intmidá-la e silenciá-la.
Para as forças de direita, reduzir insttucionalmente e até nas ruas a prátca das
manifestações e do debate polítco é essencial, com vistas a levar ao retrocesso. Ensina
Togliat:

“Tome-se o mapa do mundo capitalista, assinale-se em vermelho os países onde existe um válido e
real regime de democracia, em negro, os de aberta trania, em cinzento os que estão no meio, ou
seja, os países onde existe um certo conjunto de insttuições democrátcas, mas limitadas, vacilantes,
nada capazes de assegurar um verdadeiro ‘governo do povo, pelo povo e para o povo’. A parte
assinalada em vermelho será bem pequena, tanto para o período anterior à Primeira Guerra Mundial
(basta pensar na democratcidade, naquele período, da Alemanha de Guilherme II, da Áustria de
Francisco José, da Rússia, dos Balcãs, da Espanha), quanto para o período entre as duas guerras
(quando o negro fascista e o cinzento para-fascista cobrem toda a Europa) e para os dias de hoje.”

“E agora voltemos a atenção para os países que, em nosso mapa, podem se conservar, em qualquer
dos três períodos diferentes, coloridos de vermelho. Vale para tais países, antes de mais nada, a
crítca radical a que Lênine submeteu todos os ordenamentos polítcos capitalistas, deixando bastante

345
claro que, em tais ordenamentos, os direitos de liberdade e a igualdade entre os cidadãos têm um
limite intransponível, já que nunca são iguais, nem na prátca da vida civil e polítca e nem sequer, em
muitos casos, perante a lei, explorado e o explorador.”

Quando as classes dominantes tornam-se divididas em função de crises persistentes e as


difculdades para sair adiante, partcularmente quando em setor das forças no poder se
torna simplesmente numa casta parasitária, vivendo até do que consegue extrair de outros
grupos dominantes, muitas vezes isso coloca na ordem-do-dia a hipótese de reformas. No
caso brasileiro, o capital industrial em grande parte, desvinculado do latfúndio e da
burguesia comercial, enfrenta objetvamente perdas constantes de acumulação, por via do
Estado, para esses dois outros subsetores e, na luta de mercado, para o imperialismo. Este
choque é um fenômeno objetvo, resultante de como o comércio internacional se desdobrou
no período 1929-1960, e não depende da opinião dos indivíduos no plano de sua existência.
Isto coloca dois programas do ponto de vista da dominação. Coloca duas linhas estratégicas
para a presente etapa da vida do Brasil e só uma delas pode prevalecer: (1) ou o país segue a
linha das reformas de base; ou (2) segue a linha do entreguismo, do conservadorismo, a linha
de impedir as reformas de estrutura. Por isso a importânncia atual do golpe-de-estado para a
direita; por isso a importânncia de se obter um governo nacionalista e democrátco, para as
forças populares. Conquistar o Estado é, hoje, uma questão decisiva. Por quê? Diz
Ostrovitanov:

“Todo o Estado explorador tem duas funções principais (orientações de atvidade) que revelam a
essência. A função interna consiste em manter submetdas as massas exploradas e oprimidas e
exprime-se na polítca interna do Estado. Esta atvidade realiza-se mediante a violência aberta com a
utlização de um exército enorme de funcionários, de serviços secretos, tribunais, procuradorias,
prisões, etc. A função externa do Estado consiste na defesa dos seus interesses nas relações com
outros países a nível internacional, em assegurar a sua defesa ou na agressão militar e polítca em
relação a outros Estados. A função externa do Estado manifesta-se pela sua polítca externa e
diplomacia. Ela depende da função interna e é a sua contnuação.”

“Os Estados que existem atualmente e os que existram no passado diferenciam-se qualitatvamente.
A cada tpo de relações de produção corresponde um tpo histórico determinado de Estado. O tpo de
Estado exprime a sua essência de classe. Elas diferenciam-se, principalmente, pelos interesses da
classe que representam. A história conhece os seguintes tpos fundamentais de Estado: o escravista, o

346
feudal, o capitalista e o socialista. A par dos tpos fundamentais existem, também, os tpos não
fundamentais de Estado.”

Vê-se, portanto, que sem um Estado que tenda para ser nacional e democrátco em sua
natureza é pratcamente impossível reformar a base econômico-social. E o caminho para a
construção de um Estado de tpo novo passa pela obtenção de um governo nacionalista e
democrátco.

Em virtude do atraso social do Brasil no campo, a formação de um governo nacionalista e


democrátco trará consigo a reforma agrária. Semelhante reforma de base libertará o
camponês brasileiro de sua atual prisão no sistema latfundiário e permitrá crescer de modo
decisivo a mobilização e a organização da aliança operário-camponesa. Diz Kozminov:

“Lênine ensina que a classe operária, ao dirigir o campesinato, deve sempre distnguir no camponês,
dois aspectos: o trabalhador e o proprietário privado. O camponês médio é dúplice por sua natureza;
como trabalhador, é atraído pelo proletariado; como pequeno proprietário, é atraído pela burguesia.
Tanto a burguesia, como o proletariado esforçam-se para conquistar para o seu lado as massas do
campesinato médio. Neste processo, a classe operária dirige-se aos interesses essenciais do
camponês com o trabalhador, ao passo que a burguesia tenta aproveitar os interesses do camponês
como proprietário privado. Partcularmente enquanto o campesinato baseia a sua existência na
propriedade privada e na pequena produção mercantl, existem, no período de transição, algumas
contradições entre a classe operária e o campesinato trabalhador, nas questões, por exemplo, dos
preços e da proporção dos impostos. Mas estas contradições não são antagônicas e insuperáveis. Os
interesses da classe operária e das massas trabalhadoras do campesinato coincidem nas questões
essenciais; ambas as classes estão profundamente interessadas na liquidação da exploração e na
vitória do socialismo, o que conduz ao ascenso do seu bem-estar. Nisso consiste a base da duradoura
aliança de duas classes amigas: a classe operária e o campesinato.”

No processo de consolidação das reformas de base, o governo nacionalista, e democrátco


conduzirá a transformações nas tarefas e na natureza do Estado, criando no lugar do Estado
repressivo e enganador atual um estado mais próximo da causa popular, um Estado nacional,
capaz de buscar trilhar um caminho democrátco e independente. A duração desse tpo de
Estado e a profundidade de seu papel revolucionário estarão depositadas exclusivamente
sobre a relação de forças concretas entre o proletariado e o povo revolucionário, de um lado,

347
e das forças reformadoras, mas menos revolucionárias que a aliança operário-camponesa, do
outro lado. Diz Kozmínov:

“Todavia, como ensina Lênine e como foi confirmado agora pela experiência histórica, em cada país,
no período de transição do capitalismo ao socialismo, existem as seguintes formas fundamentais de
economia social: o socialismo, a pequena economia mercantl e o capitalismo. A estas formas de
economia social correspondem as seguintes classes: a classe operária, a pequena burguesia
(partcularmente o campesinato) e a burguesia. Os principais traços da economia, as inter-relações de
classe e, consequentemente, também, os fundamentos essenciais da polítca econômica no período
de transição, são comuns para todos os países, em que pesem todas as peculiaridades das formas
concretas da economia e da polítca econômica em cada um desses países.”

“A situação das classes no período de transição, em comparação com a sua situação sob o
capitalismo, modifica-se radicalmente.”

“A classe operária, de oprimida sob o capitalismo, torna-se classe dominante, que detém em suas
mãos o poder que possui, juntamente com todos os trabalhadores, os meios de produção socializados
pelo Estado. A situação material da classe operária melhora sistematcamente, eleva-se o seu nível
cultural.”

“O campesinato: as massas de camponeses pobres e médios recebem do Estado a terra, a libertação


do jugo latfundiário, a defesa contra a exploração dos camponeses ricos, multlateral ajuda
econômica e cultural.”

“A pequena produção mercantl camponesa inevitavelmente engendra elementos capitalistas;


processa-se a diferenciação do campesinato em pobres e ricos. A diferenciação do campesinato, no
período de transição, tem outro caráter que sob o capitalismo: cresce o peso específico do
campesinato médio em comparação com a época pré-revolucionária, enquanto diminui o peso
específico dos camponeses pobres e ricos. O camponês médio se torna a figura central da
agricultura.”

6 – Conclusão.

Nesta aula aprendemos um pouco mais sobre o papel da presença estrangeira na sociedade
de um país, sem que tal país esteja no comando de um poder nacional. Podem-se criar
difculdades para desenvolver em liberdade, ação e escolha de destno. Uma nação soberana

348
deve comandar todos os setores de sua formação e cabe a seus flhos escolher e modelar sua
vida social e sua cultura. A entrega da economia de um país dependente a grandes potências
pode levar à sua desagregação ou à perda de seu destno como nação soberana. Não somos
hosts a aprender de outros povos e países, mas devemos rejeitar ser colonizados ou
neocolonizados. O Brasil também não impede que qualquer estrangeiro aqui se instale desde
que respeite a autonomia polítca do mesmo e suas leis. Sabemos que tal não é a opinião de
todos os governos estrangeiros. Muitos pensam apenas em seus interesses e sua cobiça.
Buscam saquear o país, usando-o como reserva estratégica. Desprezam o patriotsmo e a
inteligência nacionais. O Brasil precisa defender-se desses falsos amigos, garantndo o
desenvolvimento nacional e independente.

Perguntas.

1 – Que é imperialismo?

2 – Que se entende por “presença imperialista”,?

3 – Que são “agentes internos”,?

4 – Como atuam os agentes internos?

5 – Qual é a aliança do atraso no Brasil?

6 – Como a reação pró-imperialista luta contra o bloco nacional e popular?

7 – Qual a centralidade de um governo nacionalista e democrátco?

8 – Qual o papel hoje de um golpe-de-estado?

9 – Como se organiza a mobilização de amplas massas do povo?

10 – Como se desenvolve a aliança operário-camponesa?

349
Aula 9

350
9 – O Problema Agrário no Brasil.

Enquanto que a inclusão de territórios como o Brasil ajudou a Europa no processo de


acumulação de capital, no próprio Brasil, ao mesmo tempo em que ele era construído como
uma parte da Europa, a revolução agrícola e industrial que ele ajudava nela fomentar, era a
ele de fato negada. A partcipação na acumulação primitva, através da divisão internacional
do trabalho, legou ao país um tpo de estrutura aberta e dependente do exterior, que lhe
impediu tanto uma revolução agrícola como uma revolução industrial própria.

A classe latfundiária aqui formada (1540-1900) jamais se sentu à vontade para proceder a
reformas de estrutura, apenas visualizando a si mesma como um elemento complementar
das demandas das metrópoles. Isso sempre difculta aos brasileiros enxergar-se (a) como um
povo; e estabelecer-se (b) como uma nação soberana. No entanto, as próprias necessidades
externas criadas para a divisão do trabalho (1914-1962) vêm empurrando as estruturas do
país para que se transformem, no sentdo de melhor poderem servir às antgas metrópoles.

O sistema de fazendas criado no sul e no sudeste refete os colapsos da estrutura anterior,


onde a ênfase estava na produção de açúcar e algodão. A industrialização da Grã-Bretanha e
de boa parte da Europa criou novas necessidades de mercado, reduzindo a importânncia
estrutural da agricultura de exportação das colônias e semicolônias e pondo de lado trabalho
escravo. A Europa entrou em outra fase. A produção semicolonial passou a ser efetuada por
trabalhadores europeus excedentes, obrigados a emigrar, e que espalhavam pelo mundo
todo. O Brasil viu-se assim empurrado para a produção capitalista em propriedades rurais –
“a fazenda”, -, sem necessidade, contudo, de reformar a sua estrutura agropecuária, ou seja,
a necessidade de efetuar uma revolução agrícola externa e profunda.

No entanto, esta era a necessidade de milhões de pobres e desvalidos, jogados para fora da
relação imperialismo-latfúndio. As estruturas vigentes no Brasil são – da ótca do
desenvolvimento – obsoletas. E as piores insttuições estão na área rural. A pobreza do
campo no Brasil é de tal monta que as pessoas trabalham seminuas, como num campo de
concentração em que faltasse até as ferramentas de trabalho. Uma oportunidade para o
enriquecimento da população foi perdida quando, com a abolição da escravatura,
impediram-se os negros ex-escravos de se tornarem pequenos e médios proprietários rurais.
Na verdade, como efeito da abolição e da proclamação da república – sob a forte imigração

351
europeia – até uma camada de negros pequenos proprietários que se havia consttuído
desapareceu. Os latfundiários tentaram mesmo escravizar os novos imigrantes, através do
regime do colonato, mas não foram bem sucedidos. As fazendas se reproduziram dentro de
um sentdo neocolonial (1870-1929), sendo abertas, exploradas e abandonadas em grande
quantdade, para aproveitar a fertlidade das terras ainda pouco utlizadas. Por isso,
melhorias para os trabalhadores, para o sistema de transporte, para o benefciamento das
culturas e para a organização comercial beiravam sempre o inexistente. As riquezas formadas
com a exploração intensiva da força de trabalho e dos terrenos eram imobilizadas como
propriedades urbanas, atvidades bancárias especulatvas ou levadas como “economias”, para
o exterior. Apesar da intensidade da produção, a população do país seguiu sempre na
pobreza e a renda obtda em processo de concentração. Como disse Marx:

“Nenhum capitalista, voluntariamente, emprega um novo método de produção – diz Marx – se isso
leva a diminuir a taxa de lucro, por mais produtvo que [o método] possa ser ou por mais que
aumente a taxa de mais-valia.”

Os capitalistas locais se limitavam ao nível de concorrência entre eles que era imposto de
fora para dentro, de acordo com as necessidades dos imperialistas. Diz Marx:

“Por isso, terá sempre de haver discrepância entre as dimensões limitadas do consumo em base capitalista e
uma produção que procura constantemente ultrapassar o limite que lhe é imanente. [...] Não se produzem
meios de subsistência demais em relação à população existente. Pelo contrário, o que se produz é muito pouco
para satsfazer, de maneira adequada e humana, a massa da população. Não se produzem meios de produção
em excesso para empregar a população trabalhadora potencial. Ao contrário [...] os meios de trabalho e os
meios de subsistência periodicamente produzidos são demasiados para funcionar como meios de exploração de
trabalhadores a uma dada taxa de lucro. [...] Não se produz riqueza demais. Mas de tempos em tempos, a
riqueza que se produz é demasiada em suas formas capitalistas antagônicas.”

Assim, foi somente nos momentos de crise europeia (1882-1886; 1903-1905; 1914-1916;
1920-1922; 1929-1932 etc.) que se deu oportunidade a alguma diferenciação ou mudança
imposta por necessidade na estrutura agropecuária. A importânncia da economia agrícola foi
diminuindo, com relação à produção para o mercado doméstco, com o crescimento da
população e da industrialização. Como aponta Kozminov:

“Sobre a profundidade da atual crise agrária testemunha o fato de que a superprodução de


produtos agrícolas, numa série de países capitalistas, é consideravelmente maior do que ao tempo da

352
crise de 1929/1933. Assim, por exemplo, nos países transoceânicos, as reservas intermitentes de trigo
superaram o nível de 1929/1930 em 3,2 vezes. A fim de manter os preços infacionados, os órgãos
estatais compram enorme quantdade de cereais, de algodão, de batatas, de produtos pecuários.”

“Nesse partcular, a mais clara manifestação das contradições do capitalismo é a destruição de


enormes massas de produtos agrícolas que não encontram escoamento e se acumulam sob a forma
de reservas, enquanto se reduz o consumo das amplas massas trabalhadoras e os Estados capitalistas
tomam medidas no sentdo de ‘estmular’ a redução da produção.”

“Em 1956, o Congresso dos Estados Unidos aprovou o programa do Banco da Terra sobre a redução da área
cultvada em 20 milhões de hectares e de sua conversão em terras devolutas. Medidas para a redução da área
semeada são tomadas no Canadá e na Austrália. A fim de diminuir as desmedidas reservas de gêneros
alimentcios, os Estados Unidos exportam uma parte da produção por preços de dumping, consideravelmente
inferiores ao preço de custo. Tal dumping ainda mais acentua a crise agrária nos outros países capitalistas.”

“No curso da atual crise agrária, processa-se a intensificação da concentração da produção


capitalista. Nos principais países capitalistas, após a Segunda Guerra Mundial, aumenta a
mecanização da agricultura, que atngiu nível partcularmente alto nos Estados Unidos, cresce a
aplicação de adubos minerais, aperfeiçoam-se os métodos agrotécnicos nas grandes granjas, que
produzem a massa principal da produção mercantl. Enquanto isto, segundo dados de 1954, cerca de
47% das granjas, nos Estados Unidos, não possuía tratores e conduziam uma economia semi
consumidora, pouco produtva. A concentração da produção é acompanhada da ruína da massa de
pequenas economias camponesas, em escala desconhecida no passado.”

1 – A Crise Agrária.

As crises agrárias de 1929-1932 e 1938-1939 tveram forte componente agrário, reforçado


pela enorme mecanização do campo nos EUA, como resultado da chamada segunda
revolução industrial. Com máquinas baratas e numerosas, quando comparado à situação
anterior, os fazendeiros aumentaram em muito a produção e dispensavam milhões de
empregados. Com a queda da renda dos trabalhadores, os produtos não encontravam
compradores e os créditos não podiam ser pagos. Nos países atrasados, caiu drastcamente o
preço das monoculturas exportadas e a crise atngiu o conjunto da renda local. Assim,
agravou-se o acirramento da concorrência ao avanço da industrialização. Houve, portanto,

353
um deslocamento de forças na arena internacional, que foi reforçado pelo resultado da
segunda guerra mundial.

No Brasil, tal consttuiu-se uma oportunidade para o avanço legal da pequena e média
propriedade rural (sul do país, São Paulo, Minas), reforçando a dualidade agrária e a divisão
econômica e social dentro da classe latfundiária (avanço da burguesia e da pequeno-
burguesia agrárias).

O imperialismo avançou na comercialização dos produtos do agro local (1933-1962) e o


sistema latfundiário exportador aumentou sua dependência do Estado e das concessões de
polítca econômica, reforçando a chamada “socialização dos prejuízos”,. Quando comparada
as conjunturas 1870-1914 e 1930-1962 (atual), a situação é bem melhor atualmente. Embora
haja fome, desemprego e toda gama de irracionalidades, o Brasil depois da crise de 1929 é
muito melhor que aquela época da miséria, fome e infação que foi o fm do Segundo
Reinado e a chamada República Velha. Contudo, faz-se necessário a reforma do agro para
permitr o avanço do processo de industrialização com um custo social menor do que o que
se tem verifcado. Em 1890 ou 1920, o Brasil importava maciçamente alimentos, o que
consumia as divisas necessárias à compra de técnicas e de máquinas. Enquanto que sempre
houve difculdade para a agricultura em se manter concorrendo nas exportações, a
agricultura de mercado interno vem crescendo sem cessar a várias décadas, apesar do ritmo
lento. Tem-se, portanto, um caráter quase permanente da crise agrária: (a) baixa capacidade
de reação da agricultura exportadora; (b) crises periódicas da mesma no nível do ganho e
necessidade de ser fnanciada “desde fora”, do setor; (c) distorções por monopólio da terra,
com falta de terrenos férteis para a agricultura de mercado interno. Semelhantes vícios
estruturais impedem o pleno desenvolvimento das forças produtvas no país. Kozminov nos
recorda o conceito marxista de crise:

“O período entre o começo de uma crise e o começo de outra crise denomina-se ciclo. O ciclo
consiste de quatro fases: crise, depressão, reanimação e ascenso. A fase fundamental do ciclo é a
crise, que consttui o ponto de partda do novo ciclo.”

“A crise é a fase do ciclo em que a contradição entre o crescimento das possibilidades produtvas e a
redução relatva da procura solvente manifesta-se de forma tempestuosa e destruidora. Nesta fase
do ciclo, revela-se a superprodução de mercadorias que não encontram saída; ocorre uma queda

354
brusca nos preços; a carência aguda de meios de pagamento é seguida pelo ‘crack’ da bolsa, que
provoca bancarrotas em massa; tudo isto conduz à diminuição brusca da produção, ao crescimento
do desemprego, à redução dos salários. A depreciação de mercadorias, o desemprego, a destruição
direta de máquinas, de equipamentos e de empresas inteiras significam uma enorme devastação das
forças produtvas da sociedade. Por meio do arruinamento e da liquidação de muitas empresas, por
meio da destruição de parte das forças produtvas, a crise adapta violentamente, e num prazo certo,
as proporções da produção às proporções da procura solvente. ‘As crises sempre representam apenas
a solução violenta e temporária das contradições existentes, são explosões violentas que
restabelecem num instante o equilíbrio violado’.”

Pode-se, portanto, observar que, além da crise das fazendas capitalistas com sua burguesia
agrária, o Brasil possui um sistema latfundiário que consiste numa espécie de apêndice
morto, uma espécie de “crise permanente”, nas condições da agricultura e da pecuária.
Prossegue Kozminov:

“A depressão é a fase do ciclo que surge imediatamente depois da crise. Esta fase do ciclo se
caracteriza pelo fato de que a produção industrial se encontra em estado de estancamento, os preços
das mercadorias são baixos, o comércio marcha debilmente, existe abundância de capital monetário
livre. No período da depressão, criam-se as premissas para a reanimação e o ascenso posteriores. Os
estoques de mercadorias acumulados em parte são destruídos e em parte são liquidados a preços
baixos. Os capitalistas se esforçam por encontrar saída para a situação de estancamento da
produção, por meio de redução do custo de produção. Eles alcançam este objetvo, em primeiro lugar,
mediante o aumento da exploração dos operários, o rebaixamento dos salários e a elevação da
intensidade do trabalho; em segundo lugar, mediante o reequipamento das empresas, a renovação
do capital fixo, a introdução de aperfeiçoamentos técnicos, com o objetvo de tornar a produção
lucratva com os preços baixos que resultaram da crise. A renovação do capital fixo impulsiona o
crescimento da produção numa série de ramos. As empresas que fabricam equipamento conseguem
encomendas e, por sua vez, promovem a procura de diversos tpos de matérias-primas e materiais.
Assim se abre a saída da depressão e ocorre a passagem à reanimação.”

“A reanimação é a fase do ciclo no curso da qual as empresas recobrem-se da comoção e os


capitalistas passam à ampliação da produção. Gradualmente, o nível da produção atnge as
proporções anteriores, os preços se elevam, crescem os lucros. A reanimação conduz ao ascenso.”

“O ascenso é a fase do ciclo no decorrer da qual a produção ultrapassa o ponto mais alto atngido
no ciclo anterior, nas vésperas da crise. Durante o ascenso são construídas novas empresas

355
industriais, estradas de ferro, etc. Os preços sobem, os comerciantes tratam de comprar mercadorias
na maior quantdade possível, tendo em vista a futura elevação dos preços, e deste modo incitam os
industriais a uma ampliação ainda maior da produção. Os bancos concedem empréstmos, de bom
grado, aos industriais e comerciantes. Tudo isto cria a possibilidade de ampliar as proporções da
produção e do comércio muito além dos limites da procura solvente. Assim surgem as condições para
a crise de superprodução seguinte.”

“Antes da irrupção da crise, a produção atnge o nível mais alto, mas as possibilidades de venda
parecem ainda maiores. A superprodução já existe, mas de forma oculta. A especulação faz os preços
subirem e infa desmesuradamente a procura de mercadorias. Os excedentes de mercadorias
acumulam-se. Em grau ainda maior, o crédito oculta a superprodução: os bancos contnuam a
conceder créditos à indústria e ao comércio, sustentando artficialmente a ampliação da produção.
Quando a superprodução atnge o grau mais alto, eclode a crise. Depois, todo o ciclo se repete.”

“O curso cíclico da reprodução capitalista encontra sua expressão concreta na conjuntura


econômica. Denomina-se conjuntura a situação geral da economia em determinado período, neste ou
naquele país, em uma ou outra região, ou no mundo capitalista em conjunto. Os índices da
conjuntura são dados sobre o movimento da produção, as grandes construções, o desemprego, o
nível de salário, o comércio (interno e externo), os preços, as operações bancárias e da bolsa, o nível
dos juros, etc. As modificações da conjuntura têm como seu fundamento geral a mudança das fases
do ciclo capitalista.”

“Cada crise impulsiona a renovação maciça do capital fixo. Esforçando-se para restabelecer a
lucratvidade de suas empresas em face da brusca rebaixa dos preços, os capitalistas intensificam a
exploração dos operários, introduzem novas máquinas e tornos, empregam novos métodos de
produção. À custa da intensificação da exploração da classe operária, do arruinamento dos pequenos
produtores, da absorção de muitas empresas dos concorrentes, os grandes capitalistas realizam
novas inversões de capital. Desse modo, a saída da crise é criada pelas forças internas do modo de
produção capitalista.”

Deve-se, portanto, observar que, nas condições da agropecuária brasileira, não se dá uma
“renovação maciça”, do capital fxo, sendo até mesmo precárias as instalações e
equipamentos, mesmo no subsetor da burguesia agrária. Isso revela o caráter ainda de baixo
teor de capital da exploração do agro no Brasil, em virtude dos restos que mantém das
explorações pré-capitalistas. Diz Kozmínov:

356
“Embora sejam muito diferentes e não coincidam entre si os períodos ante os quais se inverte o
capital, as crises, apesar disso, sempre insttuem o ponto de partda para as grandes e novas
inversões de capital. Consequentemente, se encaramos a sociedade em conjunto, a crise gera, em
maior ou menor grau, uma nova base material para o ciclo seguinte de rotações.”

“Nos ramos decisivos da indústria, a duração da vida dos meios de produção fundamentais,
levando-se em conta não só o desgaste fsico como também o desgaste moral, é de cerca de dez anos,
em média. A renovação periódica maciça do capital fixo é o fundamento material de periodicidade
das crises, que se repetem regularmente no decurso da história do capitalismo.”

“Cada crise prepara terreno para novas crises. Com o desenvolvimento do capitalismo, aumenta a
profundidade e a força destruidora das crises.”

“No capitalismo, a indústria é a esfera dominante da produção social, que predomina sobre as
outras esferas e determina o desenvolvimento. O desenvolvimento da indústria capitalista conduz à
reorganização da agricultura em bases capitalistas. À medida que a agricultura é atraída à órbita das
relações capitalistas, ela cai, cada vez mais, sob a ação das leis da reprodução capitalista, que levam
inevitavelmente às crises econômicas de superprodução. As crises de superprodução na agricultura
são denominadas crises agrárias.”

“A inevitabilidade das crises agrárias é condicionada pela mesma contradição fundamental do


capitalismo, que consttui o fundamento das crises industriais. Ao lado disso, as crises agrárias
possuem algumas partcularidades: frequentemente elas têm um caráter mais prolongado, mais
dilatado, em comparação com as crises industriais.”

“A crise agrária do últmo quarto do século XIX, que abrangeu os países da Europa ocidental, a Rússia, e depois
também os Estados Unidos, começou na primeira metade da década de 70 e prolongou-se, de uma ou outra
forma, até meados da década de 90 do século XIX. Ela foi provocada pelo fato de que, em consequência do
desenvolvimento do transporte marítmo e da ampliação da rede ferroviária, começou a entrar no mercado
europeu, em grande quantdade, o trigo mais barato proveniente da América, da Rússia e da Índia.”

“A produção de trigo custava mais barato na América em decorrência do cultvo de novas terras férteis e da
existência de terras livres, pelas quais não se cobrava renda absoluta. A Rússia e a Índia podiam exportar trigo
para a Europa ocidental a preços baixos porque os camponeses russos e indianos, sufocados por tributos
superiores às suas forças, eram obrigados a vender o trigo a preços ínfimos. Os arrendatários capitalistas e os
camponeses europeus, em face da elevada renda, aumentada pelos grandes proprietários de terra, não podiam
suportar essa concorrência. Depois da Primeira Guerra Mundial, com a enorme redução do poder aquisitvo da
população, desencadeou-se na primavera de 1920, uma aguda crise agrária, que golpeou com força partcular
os países não europeus (Estados Unidos, Canadá, Argentna, Austrália). A agricultura ainda não se havia

357
recuperado desta crise quando, no fim de 1928, manifestaram-se evidentes sintomas de uma nova crise agrária
que se iniciava no Canadá, nos Estados Unidos, no Brasil e na Austrália. Essa crise abarcou os países
fundamentais do mundo capitalista que exportavam matérias-primas e gêneros alimentcios.”

“A crise abrangeu todos os ramos da agricultura, entrelaçou-se com a crise industrial de 1929 a 1933 e
prolongou-se até o começo da Segunda Guerra Mundial. Após a Segunda Guerra Mundial, iniciou-se novamente
a crise agrária nos maiores países que exportam produtos agrícolas – Estados Unidos, Canadá, Argentna,
Austrália, e numa série de ramos da agricultura dos países da Europa ocidental.”

Numa estrutura semicolonial ou dependente unem-se, portanto, as característcas


“clássicas”, ou “puras”, do capitalismo desenvolvido com aqueles traços gerados localmente
pela sobrecolocação de estruturas novas sobre estruturas velhas, que o caráter externo da
dominação contribui para impedir que sejam removidas. Estas estruturas “velhas”, se
misturam com as “novas”,, tornando o capitalismo subdesenvolvido um “monstrengo”, que
tem difculdades tanto para demonstrar uma dinânmica própria, como para assimilar o mais
avançado e seguir adiante.

É comum que os analistas do agro brasileiro digam que o “único produto que presta do
latfúndio é gente”,. Na verdade, a crise pratcamente permanente em que vive o latfúndio
faz com que ele ocupe uma quantdade enorme de trabalhadores na coleta ou recoleção de
produtos naturais, dando-se de tempos em tempos um excesso de população interna no
sistema, que é alijada então sob a forma migratória – em geral – para as plantações do sul ou
para as cidades. Portanto, um dos traços da crise agrária brasileira é o movimento migratório,
que sob o disfarce de “seca”, move a população de uma área para outra. Prossegue
Kozmínov:

“Explica-se o caráter dilatado das crises agrárias pelas seguintes causas principais: Em primeiro
lugar, os proprietários de terra, por força do monopólio da propriedade privada sobre a terra,
também durante as crises agrárias abrigam os arrendatários a pagar, nas proporções anteriores, o
arrendamento fixado no contrato. Em face da queda dos preços das mercadorias agrícolas, a renda
agrária é paga à custa da redução posterior do salário dos operários agrícolas, à custa do lucro e, por
vezes, até mesmo à custa do capital adiantado pelos arrendatários. Em consequência disso, torna-se
muito difcil a saída da crise por meio da introdução de técnica aperfeiçoada e da redução do custo de
produção.”

358
“Em segundo lugar, no capitalismo, a agricultura é um ramo atrasado em comparação com a
indústria. A propriedade privada da terra, as sobrevivências de relações feudais, a necessidade de
pagamento da renda absoluta e diferencial aos proprietários de terra – tudo isto impede o livre afuxo
de capitais para agricultura, retarda o desenvolvimento de suas forças produtvas. A composição
orgânica do capital na agricultura é mais baixa do que na indústria; o capital fixo, cuja renovação
maciça é a base material da periodicidade das crises industriais, desempenha na agricultura um
papel menor do que na indústria.”

“Em terceiro lugar, os camponeses, pequenos produtores de mercadorias, esforçam-se durante as


crises para conservar o volume anterior da produção, a fim de manter-se a qualquer preço no pedaço
de terra que é seu ou arrendado, e o fazem à custa de trabalho desmedido, subalimentação,
exploração predatória do solo e do gado. Isto aumenta ainda mais a superprodução de produtos
agrícolas.”

“Assim, a base comum do caráter dilatado das crises agrárias é o monopólio da propriedade privada
sobre a terra, as sobrevivências feudais a ele ligadas e o atraso relatvo da agricultura em
comparação com a indústria.”

Logo, a estes traços gerais da crise agrária, junta a estrutura brasileira, suas próprias
deformações. A dualidade da sua estrutura (propriedade capitalista x latfúndio pré-
capitalista) requer uma reforma das relações de produção de grandes proporções, capaz de
libertar o campo e os seus trabalhadores do atraso mais arraigado, permitndo o avanço de
formas mais democrátcas na produção e na comercialização (cooperatvas). As periódicas
crises do açúcar, na época da escravidão e na época atual, as sucessivas crises do café, pelo
excesso irracional da produção estmulado desde o exterior, as crises da capacidade de
compra e de autofnanciamento do setor, as crises de abastecimento das cidades (1958-
1962), etc., tudo indica as difculdades que o agro brasileiro apresenta para (1) fornecer
matérias primas para a industrialização e (2) ganhar montantes adequados de divisas para o
conjunto da economia.

O monopólio da terra – já se disse – é o fundamento das sucessivas crises agrárias. Os


proprietários rurais intentam por todos os meios evitar a democratzação da propriedade
agrária. No nível polítco, em todo o país, registram-se como legítmas as “invasões”, as
“posses”, de terrenos pratcados pelos membros das classes dominantes. Quanto à
população pobre, além dos cartórios e repartções ofciais não registrarem suas ocupações

359
ou posses de terreno, são exigidas certdões de propriedade (jamais concedidas!) para o
fornecimento de créditos ou impedir-lhes a expulsão pelos fazendeiros e latfundiários. Dessa
maneira, é um desestímulo adicional à modernização das prátcas agrícolas que se mantenha
o camponês sem ou com pouca terra, marginalizado do direito à propriedade. Como explica
Kozmínov:

“As mais amplas massas do proletariado, condenadas pelas crises a imensas privações, impregnam-
se de consciência de classe e de decisão revolucionária. A incapacidade da burguesia para dirigir as
forças produtvas da sociedade quebranta a fé das camadas pequeno-burguesas da população na
solidez da ordem capitalista. Verifica-se o agravamento da luta de classes na sociedade capitalista.”

“Durante as crises, o Estado burguês corre em auxílio dos capitalistas com subsídios monetários, que
são pagos afinal de contas, pelas massas trabalhadoras. Utlizando o aparelho de violência e coerção,
o Estado ajuda os capitalistas a realizarem uma ofensiva contra o nível de vida da classe operária e
dos camponeses. Isto agrava o empobrecimento das massas trabalhadoras. Ao mesmo tempo, as
crises revelam a impotência do Estado burguês em face das leis espontâneas do capitalismo.”

“As crises consttuem o índice mais evidente de que as forças produtvas criadas pelo capitalismo
ultrapassaram os marcos das relações de produção burguesas, motvo por que estas últmas se
tornaram um freio para o crescimento posterior das forças produtvas.”

“A crise demonstra que a sociedade contemporânea poderia produzir uma quantdade de produtos
incomparavelmente maior, a fim de melhorar a vida de todo o povo trabalhador, se a terra, as
fábricas, as máquinas, etc., não fossem usurpadas por um punhado de proprietários privados, que
extraem milhões da miséria popular. Cada crise torna mais próxima a derrocada do modo de
produção capitalista.”

“Os economistas burgueses tentam por todos os meios ocultar a verdadeira natureza e as causas
das crises, porquanto nas crises se manifestam de modo partcularmente claro e agudo, as
contradições insolúveis do capitalismo, que evidenciam a inevitabilidade das crises no capitalismo,
eles habitualmente as consideram como resultado de causas acidentais, que poderiam ser eliminadas
– segundo pensam – com a conservação do sistema de economia capitalista.”

Assim, no caso do agro, os defeitos do capital se associam aos defeitos do latfúndio para
manter e aperfeiçoar o monopólio da terra. O latfúndio, na sua luta contra os “posseiros”,,
camponeses sem-terra, procura sempre empurrar o movimento camponês para o terreno da
violência, para obter o seu isolamento polítco e desencadear contra ele a repressão em larga

360
escala do Estado capitalista. O camponês sem-terra é apresentado como violento, suas
assembleias são invadidas e troteadas, seus líderes, acusados de “guerrilheiros”,, são
assassinados por toda a parte, até com a colaboração de forças do poder público. Esta
criminalização do movimento camponês é feita pelo latfúndio e seus asseclas, entre os quais
os governantes imperialistas. No entanto, a melhor polítca para o capital seria ajudar na
industrialização do campo.

2 – A Industrialização da Agricultura.

Marx chamou à atenção o fato de que o crescimento generalizado na maquinofatura em


todos os ramos, através da chamada revolução industrial, colocaria também para o agro o
problema de adotar massas enormes de capital fxo e de técnica que haveriam de intervir no
ritmo natural da produção rural. O capital, ao revolucionar repetdas vezes o sistema
agropecuário, terminaria por impor “um tempo fabril”, à produção agropecuária. Desse
modo, todo o campo teria que ser reestruturado, de acordo com as regras de uma fábrica,
tornando-se as formas pré-capitalistas ou mercants do capital rural uma nova natureza, a
natureza burguesa, pois o “capital agrícola”, é uma forma de capital industrial (fabril). Esta
explicação complexa de Marx nem sempre é compreendida pelos ideólogos do capital que,
em consequência, atribuem a Marx e ao nosso partdo um suposto “desconhecimento”, das
coisas do campo. Não podem compreender a unicidade da crise capitalista e o caráter hoje
secundário do latfúndio no plano mundial. Diz Kozmínov:

“A fim de dissimular a inevitabilidade das crises no capitalismo, os economistas burgueses


constroem numerosas ‘teorias da conjuntura’, nas quais as oscilações da conjuntura, que refetem o
curso cíclico da reprodução capitalista, são explicadas pela maior quantdade possível de ‘fatores’, de
ordem casual ou derivada. Nos intervalos entre as crises, os defensores da burguesia se manifestam
habitualmente com afirmações grandiloquentes de que chegou o fim das crises e de que o
capitalismo ingressou no caminho do desenvolvimento sem crises. Entretanto, a crise seguinte
demonstra toda a falsidade de semelhantes assertvas. A vida revela invariavelmente a mais
completa inconsistência de todas as receitas para curar o capitalismo das crises.”

É através das crises, aliás, que o capitalismo pode crescer e se renovar, toda vez que consiga
derrotar a ação revolucionária das grandes massas. Isso também não é entendido pelos

361
ideólogos do capital, que preferem fngir que nada está a se passar no movimento histórico.
Diz Kozmínov:

“Depois que o capitalismo se tornou o regime dominante, o processo de concentração da


propriedade em poucas mãos avançou a passos gigantescos. O desenvolvimento do capitalismo
conduz ao arruinamento dos pequenos produtores, que passam às fileiras do exército dos operários
assalariados. Ao lado disso, aguça-se a luta de concorrência entre os capitalistas, como resultado da
qual um capitalista elimina muitos outros. A concentração do capital significa a concentração de
imensas riquezas nas mãos de um círculo cada vez mais estreito de pessoas.”

“Desenvolvendo as forças produtvas e socializando a produção, o capitalismo cria as premissas


materiais do socialismo. Juntamente com isso, o capitalismo engendra seu coveiro – a classe
operária, que assume o papel de chefe e dirigente de todas as massas trabalhadoras e exploradas. O
desenvolvimento da indústria é acompanhado pelo crescimento numérico do proletariado, pelo
aumento de sua coesão, consciência e organização. O proletariado se ergue, cada vez mais
decididamente, na luta contra o capital. O desenvolvimento da sociedade capitalista, que leva ao
agravamento das contradições antagônicas a ela inerentes e ao agravamento da luta de classes,
prepara as premissas necessárias para a vitória do proletariado sobre a burguesia.”

“A expressão teórica dos interesses radicais da classe operária é o marxismo – o socialismo


científco, que consttui uma concepção do mundo íntegra e harmoniosa. O socialismo cientfico
ensina ao proletariado a unir-se para a luta de classe contra a burguesia. Os interesses de classe do
proletariado coincidem com os interesses do desenvolvimento progressivo da sociedade, fundem-se
com os interesses da maioria esmagadora da sociedade, pois a revolução socialista significa a
destruição de toda a exploração.”

Portanto, a ilusão que têm os latfundiários de que o avanço da industrialização no campo


conduz “ao comunismo”, não é apenas uma ilusão: é também manifestação de ignorânncia. A
consciência dos trabalhadores avança com o crescimento de seu número e sua força no
sistema capitalista. Permanecer no atraso não é garanta alguma que as transformações
revolucionárias não alcançarão as relações atrasadas. A expansão industrial em todo o
mundo se acelerou, por conta da deterioração dos preços dos produtos primários, agravada
pela crise de 1929-1932, e o impacto da segunda guerra mundial. O aumento da oferta de
máquinas e equipamentos e a queda de seus preços relatvos impõem mudanças
transformadoras também para o agro colonial e semicolonial, mudanças que ignoram
disposições subjetvas. O consumo da agricultura em grande parte vem das indústrias e o
362
capital necessita da demanda por consumo do setor agrícola (tanto bens fnais quanto
intermediários). Grandes unidades produtvas são hoje indústrias processadoras e aquele
queijinho feito à mão se afgura produto rumo ao passado. Monopólios produtores de
defensivos químicos e adubos artfciais impõem normas aos governos para a colocação de
seus produtos. O setor agropecuário já não pode se manter muito tempo isolado, mesmo
que disponha de poder polítco. Ele tende em toda parte a se tornar agroindústria
modernizada, nas mãos do capital industrial. Com reforma agrária, portanto, há uma
oportunidade dessa mudança criar capital doméstco; sem reforma agrária, é certo que criará
capital estrangeiro, com sacrifcios e pobreza maior da população local e mercado interno
menor. Dessa forma, nos países capitalistas mais avançados, bilhões de dólares estão sendo
investdos nos negócios agropecuários e nas pesquisas correlatas, de forma que o latfúndio
no longo prazo já está condenado pelo grande capital a perecer, podendo para este
preservar-se como uma forma sem povo, uma “fábrica”, rural, com proprietários externos. Os
grandes grupos econômicos necessitam de insumos básicos e o sistema latfundiário, além
de seu aliado, pode também ser concebido como uma reserva potencial de recursos, na
verdade, uma fronteira de mercado primitvo. Caracterizada a seu tempo esta necessidade,
adeus estrutura social e polítca do latfúndio...

Isso porque, diante do crescimento populacional e da renda, ainda que esta esteja
mundialmente em processo de concentração, o setor agropecuário em todas as partes há de
ver-se obrigado a elevar em muito sua produtvidade (modelo das granjas norte-americanas).
A “produtvidade”, do latfúndio só pode ser preservada enquanto for parte da reserva de
recursos para as empresas dos imperialistas.

O problema dos inimigos do povo trabalhador não é que leiam o mundo somente
considerando seus próprios interesses. O problema é que não admitem quaisquer direitos
para aqueles a quem exploram, mantendo-os, enquanto podem, num regime de miséria e
terror. A suposição de um preço real de mercado para as terras, de um valor para as
benfeitorias sobre elas, etc., são apenas suposições. No entanto, para os inimigos do povo
são verdades absolutas, que não cabe discutr nem negociar. Qualquer reunião ou associação
de trabalhadores rurais é considerada hostl, tornada ilegal pelas instânncias do latfúndio e
dissolvidas com o sangue dos trabalhadores. O fato de que existam no Congresso mais de 40
projetos propondo reforma agrária; o fato de que a tentatva de reforma agrária conte com

363
mais de cem anos, nada disso é motvo para preocupar os latfundiários e seus asseclas no
poder polítco e na justça. O preço da terra é uma fcção, quando o trabalho sobre ela
inexiste ou é reduzido, e a terra mantda enquanto monopólio. Se se retra o preço de
monopólio da terra, o preço da maioria da terra disponível no Brasil se torna ridículo
enquanto capital. Atualmente, toda a terra agricultada ou trabalhada no Brasil é menor que
o estado do Piauí, o que revela não faltar terra no país, mas o explorador do trabalho sobre a
terra a utliza como uma reserva para um futuro longínquo. Na verdade, mesmo as fazendas
capitalistas no país, apesar de utlizarem um trabalho rural quase gratuito, reduzem ao
máximo a contratação ou utlização de mão de obra.

O que podem utlizar do exterior com relatvo sucesso são as máquinas, e o saber-fazer local
só é grande na produção exportadora (café, açúcar, cacau, atvidades extratvas, etc.). A
agropecuária para o mercado interno recentemente ultrapassou em valor o subsetor de
atvidades exportadoras e, portanto, está na base de partda para gerar um conjunto de
técnicas que elevem a nível internacional a produção local de alimentos. Esta agricultura e
pecuária dedicadas à expansão do consumo dos trabalhadores brasileiros necessitam de uma
reestruturação agrária, que através de distribuição democrátca de grande parte da terra sem
uso, monopolizada, absorvesse os 5,5 milhões de famílias camponesas sem terra. Estas
famílias estariam então, após quatro ou cinco anos, se incorporando como produtoras de
bens agropecuários e permitndo uma reestruturação democrátca do acesso à terra e da
produção para os centros urbanos.

O confsco de terras não utlizadas difere do argumento reacionário de que aqueles que
monopolizam as terras são os seus proprietários. Não é absurdo dizer que 90% dos
comprovantes de propriedade e posse são falsos em todo o país, porque tais terras hoje
“privadas”, eram públicas em 1900. O mapa da distribuição territorial em cada estado do
Brasil comprova este fato. A terra começou a ser apropriada como bem privado no Brasil a
partr da chamada Lei de Terras (1850) e sua “distribuição”, por apropriação indébita se
tornou importante com as ondas da Nova Imigração, a partr de 1900. Difundiu-se então o
hábito de vender o que não lhe pertencia e “produzir”, a documentação para tal. Isso em
nada difere de outras partes do mundo. O roubo e a pilhagem são os fundamentos do
capitalismo. Mas quando a população do país cresce e se necessita de produção para o

364
mercado interno, então apropriar-se das terras públicas para impedir que outros nela
produzam se consttui – evidentemente – um crime.

A produção agropecuária do país se dá em tais condições que é necessário desviar bilhões


de cruzeiros de impostos só para assegurar ano a ano a sua reprodução. Apesar de o
trabalhador rural ou o camponês sem-terra viverem na miséria, o custo de uma batata aqui é
o dobro do que é na Argentna. Portanto, o “valor de mercado”, das propriedades aqui é uma
fcção. Tudo no setor agropecuário vem do setor público e se mantém com dinheiro público.
É pura “conversa mole para boi dormir”,, falar-se em “pagamento integral do valor de
mercado”, para terrenos improdutvos ou mantdos fora da produção. Na verdade, o governo
deveria repassar para a nova propriedade estabelecida com a reforma agrária, uma parte
proporcional dos recursos corretamente utlizados para fabricar o investmento “privado”, no
setor agropecuário. Os dois modelos (reformado ou não reformado) deveriam ser postos a
concorrer entre si, na produção para o mercado interno. O acesso dos pobres à terra fará
com que eles – por interesse próprio – procurem criar na agropecuária a maior riqueza
possível, para dela desfrutar. E isso é que pode gerar maior produção para o mercado
consumidor e “maior valor de mercado”,: não o monopólio atual. Os recursos que hoje
seriam consagrados a comprar partes da terra apropriada indevidamente – na verdade, terra
pública – deveriam, outrossim, ser empregados na criação das infraestruturas das novas
propriedades, das necessárias estações de máquinas, silos das cooperatvas resultantes da
reforma, nas vias de acesso e transportes, etc. Dessa maneira, o dinheiro empregado na
agropecuária, no lugar de ser uma doação do povo à classe dominante, poderá ser
convertdo num empreendimento democrátco de riqueza.

Grande parte da classe dos latfundiários cria fazendas imaginárias em enormes áreas
roubadas ao poder público, o qual na verdade está na mão de seus amigos e parentes. Com
essas fazendas imaginárias obtém crédito para produção a juros até negatvos. O dinheiro
obtdo é empregado em outras atvidades: bancos, exportação de capital, especulação
imobiliária, etc. Os empréstmos são posteriormente pagos, a “produção agropecuária”,
inexiste, e – não raro – os empréstmos não são mesmo pagos. Quanto ao governo, silencia
sobre isso e não apresenta as estatístcas dos montantes de semelhantes “imperfeições”,. Na
verdade, as classes dominantes estão sempre lesando o fsco ou distribuindo os impostos
entre eles mesmos. No entanto, quando se fala em reforma agrária, imediatamente aparece

365
um “custo da quebra da produção”,, do “valor de mercado”, das terras e coisas que tais. Mas é
melhor o custo da atual estrutura agrícola? Ou o povo só vai pagar se houver uma “reforma
agrária”,? O conjunto dos argumentos revela a ótca do poder: se as classes dominantes
recebem, não há custos, mas se setores do povo recebem, aí há custos... A pior distorção no
preço da terra é, sem dúvida, o preço do monopólio; segue-se o fnanciamento da produção
a fundo perdido... O custo desses ganhos capitalistas, por si só, já justfcam uma reforma
agrária. O agro francês é uma prova das vantagens democrátcas de um amplo setor
camponês na economia agropecuária, de seu caráter nacional e de sua contribuição para
evitar futuações econômicas e estabilizar a existência das famílias. A reforma agrária é
premissa para uma vida social mais democrátca. Lutar para que a estrutura agrária não se
democratze mostra a insinceridade das classes dominantes quanto ao desenvolvimento das
formas democrátcas.

À medida que a industrialização avança, torna-se necessário maior racionalidade produtva


no setor agropecuário, porque dali tem de vir os insumos da produção primária em
quantdade crescente. Uma economia que sofre certo grau de industrialização, mas
apresenta um agro bloqueado, logo bloqueará seu processo de industrialização. Se ali em
seu setor primário não se efetuam reformas progressistas das relações de produção, seu
custo se tornará insuportável, com espiral de elevação de preços, impacto sobre a economia
em geral e correção contnuada dos salários, para seguir a elevação em excesso dos preços.

O preço elevado dos gêneros de primeira necessidade ou, a outra face disso, a sua
produção em quantdades insufcientes, bloqueia um crescimento efetvo do consumo e das
exportações. Portanto, deixa-se de ganhar os montantes necessários de divisas, capazes de
sustentar o crescimento das importações; o processo de industrialização; e a capacidade de
realocar a força de trabalho. Diz Rosa Luxemburgo:

“O interesse do capital, que exige uma produção cada vez mais rápida e maior, cria a cada passo os limites do
seu [próprio] mercado que colocam um obstáculo à impetuosa tendência da produção para o alargamento, [do
que] resulta que as crises industriais e comerciais são inevitáveis (...) [e] a cada passo do seu próprio
desenvolvimento, a produção capitalista se aproxima irresistvelmente da época em que ela não poderá
desenvolver-se senão cada vez mais lenta e dificilmente, [envolvendo esta evolução uma] contradição
fundamental: quanto mais a produção capitalista substtui os modos de produção mais atrasados, tanto mais
estreitos se tornam os limites do mercado criado para a procura do lucro, em relação à necessidade de
expansão das empresas capitalistas existentes.”

366
Parece paradoxal que a aliança latfúndio – burguesia comercial – imperialismo na prátca se
oponha a um mais amplo desenvolvimento do capital. A necessidade de “produzir cada vez
mais rápido”, e em maiores quantdades não se dá se as relações de produção atrasadas não
forem removidas. No entanto, a cultura da velha sociedade que o latfúndio representa não
coincide – embora privatsta – com desenvolvimento livre capitalista. A aliança latfúndio –
imperialismo funciona como um sistema de produção elitsta, concentrador, que, ao velho
estlo, busca ganhar no preço de uma pequena produção. Preços elevados em excesso e
poucos compradores, renda concentrada. Esta é a lógica da sociedade dominada pelo
latfúndio. Nem produzir mais rápido, como permite o progresso técnico, nem em maiores
quantdades. Tal aliança retém, de forma pré-capitalista, enorme quantdade de trabalho
vivo numa produção relatvamente pequena. Diz Marx:

“Se se considera o enorme desenvolvimento da produtvidade do trabalho social, mesmo que seja nos últmos
trinta anos, comparando este período com todos os anteriores – especialmente se consideramos a massa
gigantesca de capital fixo que, além das máquinas propriamente ditas, entra em todo o processo social de
produção – vemos que a dificuldade com que se tem entretdo até agora os economistas – a de explicar a queda
da taxa de lucro – se transmuta na dificuldade inversa, ou seja, a de explicar por que essa queda não é maior e
mais rápida. Devem estar em jogo fatores adversos que estorvam e anulam o efeito da lei geral, conferindo-lhes
apenas o caráter de tendência. Por isso, demos à baixa da taxa geral de lucro a qualificação de tendência à
baixa.”

Na situação da aliança com o latfúndio, há até mesmo a difculdade de gerar uma burguesia
agrária, capaz de introduzir grandes quantdades de maquinário na produção agropecuária,
desenvolver a indústria rural e situar-se diante dos problemas de um mercado saturado pelo
nível de renda. O latfúndio bloqueia a industrialização do agro.

3 – Limites do Crescimento Agropecuário.

O caráter privado das relações baseadas na exploração social torna-se partcularmente


danoso no setor agropecuário. A burguesia, como classe de apropriadores privados, é
inconsequente do ponto de vista de sua partcipação nas revoluções democrátcas, lesando
até seus próprios interesses. No exame das revoluções dos séculos XVIII e XIX, quando
setores burgueses derrotaram o latfúndio e suas formas estatais, ela como classe
prontamente tendeu a afrouxar as transformações revolucionárias do agro, traindo seus

367
aliados entre o campesinato e as massas pobres do povo. Em muitos casos, procedeu-se a
alianças imediatas contra o inimigo da véspera, como nas revoluções de 1830 e 1848-49. Esta
tendência da burguesia a conciliar e até a se aliar com o latfúndio é o fundamento atual das
alianças entre os imperialistas e o poder latfundiário nos países atrasados. Dessa maneira –
apesar da necessidade histórica – a burguesia conciliadora tem tdo difculdades de fazer
avançar as forças produtvas no campo, e em estender ao mesmo método técnico e científco
de produção, elevando a atvidade rural no nível demandado pela oferta capitalista.

Na maioria dos países atrasados, mesmo o setor nacional da burguesia apresenta


difculdades polítcas para encaminhar reformas das relações de produção no agro,
eliminando o latfúndio improdutvo ou fazendo avançar a propriedade camponesa
(pequeno-burguesa). As formas de cooperação e de gestão que as massas rurais têm
introduzido em vários países no campo não têm recebido o apoio necessário de setores
democrátcos da burguesia, que partcipam na luta ant-imperialista. Isso limita
drastcamente o desenvolvimento agropecuário.

No caso brasileiro, inúmeras propostas de reforma agrária se encontram hoje no congresso,


propondo diferentes soluções – mas que apontam na mesma direção – para as relações de
produção rurais. O nosso partdo tem-se manifestado no plano polítco em apoio à
aprovação de um desses projetos de reforma agrária. Temos o convencimento de que –
iniciadas as transformações – elas se tornarão na prátca mais profundas. Até mesmo a
proposta de trocar títulos da dúvida pública por parte de propriedades tem aspectos
positvos. No entanto, o nosso partdo também é contrário a se transformar a reforma
agrária num circo onde (a) se compram propriedades inúteis; e onde (b) se enriqueçam os
especuladores de sempre.

A reforma agrária tem de ser entendida como (1) expressão de um movimento social que
liberta os camponeses sem-terra e (2) uma oportunidade para democratzar a propriedade
rural e orientá-la para o progresso econômico-social.

A reforma das relações de produção deve permitr a criação de infraestrutura para suportar
a viragem da produção agrária e a criação de novos polos produtvos. Uma rede de
cooperatvas com direção partcipatva e democrátca deve ser acompanhada de estruturas
básicas, como silos, estações de máquinas, combinações de estruturas produtvas, etc. O

368
sistema deve compreender bancos populares, centros de formação e treinamento, etc. Dessa
forma, o objetvo estratégico da reforma é criar uma classe camponesa de médios e
pequenos proprietários fortes, com dimensão polítca e nacional. Substtuir, portanto, o
latfúndio como fator de poder por um campesinato nacional como fator de poder. Esta
reforma agrária não logrará seus resultados caso se afaste da luta permanente pela
industrialização da agricultura. Para tal, a revisão contnuada das polítcas adotadas deve ser
assegurada por instânncias de um foro democrátco de poder específco. Cabe a direções
sociais comandar o aprofundamento das transformações agrárias. Os mecanismos de
controle social nos subsistemas próprios deve favorecer a criação de renda com interesse
social (e não parasitária). A subestrutura bancária específca deve ser organizada para
garantr a acumulação própria de capital (expansão do capital fxo, produtvo).

De fato, uma reforma agrária não deve “simplesmente”, eliminar o latfúndio para criar um
“capitalismo sem cérebro”, como subsetor do agro, mas ir, além disso, e estabelecer o
interesse social produtvo das novas propriedades resultantes e traçar a via democrátca de
seu apoio e acompanhamento. Não se pode permitr que a área reformada, se transforme
numa pista de corrida para formar novos latfúndios. Isso seria totalmente falso.

Nas condições da produção capitalista, o investmento em benfeitorias, técnicas e novos


insumos são desprezados pela (a) drenagem dos recursos para fora do campo; (b) compra de
terrenos e lotes para concentrar as propriedades. Semelhantes traços reduzem o ritmo do
progresso agropecuário e tendem a reproduzir a inércia pré-existente e os “costumes
tradicionais”, dos latfúndios e dos açambarcadores. As distribuições da terra reformada
devem, portanto, (1) evitar o minifúndio; (2) tecnifcar a produção e (3) reforçar os
mecanismos de cooperação entre os produtores em todos os níveis.

Compras de terras, pagamento de arrendamentos e fuga de capital para fora do agro


prejudicam na agricultura capitalista espontânnea o investmento produtvo. Como tal, impõe
limites baixos ao crescimento agrícola e não podem ser incorporados ao modelo de uma
reforma agrária. A propriedade privada do solo, como fator limitante da produção capitalista
no agro, deve em toda linha ser substtuída na área reformada pela cooperação.

Como demonstrou Ricardo, a produção capitalista no agro adota o custo mais elevado para
a produção levada ao mercado, dando um ganho maior aos capitalistas que têm custos

369
menores. Um dos traços da economia agrária de transição é a contabilização judiciosa dos
custos e o controle científco das margens de ganho para as cooperatvas. O repasse
contnuado do aumento nominal dos preços dos produtos não deve ser pratcado numa
economia nova. Em síntese, sem querer “resolver”, as necessidades da área reformada a
priori, queremos aqui apenas indicar a necessidade de estruturá-la de forma democrátca.

Nosso partdo apoia todo encaminhamento democrátco em seu conteúdo para efetuar a
reforma agrária. Um grave perigo para os países latno-americanos, partcularmente o Brasil,
é ocorrer um crescimento muito distorcido do capitalismo, sem a democratzação das
relações agrárias. A sociedade, neste caso, seria fortemente antdemocrátca em seu sistema
de poder. Renda cada vez mais concentrada, empregos poucos e péssimas remunerações. O
processo capitalista de integração da produção de mercadorias, que avança na dependência
da lei de desenvolvimento desigual, se manifesta na divisão internacional do trabalho nas
duas frentes (a) produção de bens industriais e (b) produção de bens agropecuários. Faz
parte da divisão internacional do trabalho ignorar nos preços as transformações da
industrialização do agro e até preteri-las, apresentando os seus produtos (mercadorias) como
simples insumos primários. Esta é uma das razões que contribuem para a baixa acumulação
no agro, drenando os seus recursos de investmento e postergando para uma necessidade
futura das empresas imperialistas a integração da produção agropecuária de mercadorias.
Semelhante subestrutura atua como uma força de bloqueio ao desenvolvimento do capital
agrícola nos países dependentes e semicoloniais.

Por isso se veem os trabalhadores agrícolas muitas vezes vítmas de pressões baixistas em
seus já baixos salários (no Brasil, 1/3 dos salários urbanos). São empurrados para a migração,
para os centros urbanos, aumentando no campo a ociosidade da terra e o encarecimento da
produção e rebaixando na cidade o salário urbano, pelo excesso de oferta da mão de obra.
No setor capitalista do agro, a migração do trabalhador rumo à cidade é enfrentada com (1)
tecnifcação crescente e (2) emprego maior de máquinas. No setor pré-capitalista,
intensifca-se o saque à natureza e o vazio populacional das propriedades. Tudo isso
evidencia o caráter anacrônico da apropriação privada da terra, principalmente quando a
mesma não está diretamente entregue a quem a trabalha. O recuo da produção agrícola,
nesses casos, é acompanhado pela expansão da criação de gado.

370
Os proprietários capitalistas das cidades resistem à reforma agrária porque o atraso do agro
não tem um refexo direto nos seus próprios ganhos. Caso a produção seja menor no agro, os
capitalistas aumentam o custo da intermediação, fcando com a parte do leão do valor do
produto. Se no comércio só há um quilo da batata para vender e não três, o capitalista o
venderá pelo preço de três, graças à situação de monopolizar a oferta. Esta “indiferença do
capitalista individual”, expressa o fato de que em número crescente também querem se
tornar – e se tornam – proprietários de terras. Isso em parte explica sua tolerânncia e aliança
com o latfúndio, que o capitalista encara como uma propriedade futura sua.

Todas essas contradições que se cruzam contribuem para limitar o crescimento da produção
agrícola nos países atrasados e para que a instabilidade da produção agrícola seja uma fonte
de infação e incerteza para o crescimento urbano. Resistem a mexer na propriedade do solo
porque (1) esperam que o solo venha em breve a ser seu; (2) após “mexer no solo”, enquanto
propriedade latfundiária, qual o tpo de propriedade a seguir se tornaria “vítma”, da
democratzação? Assim, os capitalistas têm difculdade de compreender que direito de
propriedade territorial como um todo – como qualquer outra propriedade - pertence à
Nação e deve ser cedido e distribuído não para concentrar ou reservar riqueza, mas para
criar riqueza e distribuí-la.

Ademais, o monopólio privado do solo reforça a separação entre a propriedade do terreno


e a aplicação do trabalho ao terreno. No curso de algumas gerações, se o trabalhador
agrícola desfruta ainda de liberdade pessoal (sistema capitalista na superestrutura jurídica),
ele tenderá a deixar o campo pela cidade. Nem todos os proprietários de terra poderão no
longo prazo contornar esta perda de mão de obra, pela expansão compatível de capital fxo.
O resultado será a concentração da propriedade da terra em grandes fazendas capitalistas,
com uma força de trabalho tecnifcada e/ou transumante. Assim, no longo prazo, o
proprietário que nada cede ao seu trabalhador tende a desaparecer, em proveito de uma
fazenda “racionalizada”, com proprietários ausentes. O problema aí que, quanto mais
poderoso for o “proprietário agrícola”, (exemplo, empresas internacionais), menor interesse
terá na produção para o mercado local, ou doméstco. O movimento de integração
agroindustrial, que tende a se consolidar em escala internacional, se mostra com um
“retorno”, do capital fnanceiro, através dos bancos e demanda de empresas, para assumir a
produção dos produtos primários como mercadoria em escala mundial. A recente crise do

371
comércio exterior da América Latna (1958 - ? ) deixa evidente o “retorno”, do capital
fnanceiro ao mercado internacional. Também o indicam os acordos de Lomé (1956).

Se o capital fnanceiro externo logra bloquear um processo de reforma agrária em um país


contnental como o Brasil, estar-se-ia diante do aguçamento da crise geral do capitalismo,
com a necessidade dos centros imperialistas de não deixar qualquer esfera de interesse para
ser decidida pelas instânncias de poder nos países dependentes e semicoloniais. Ora, temos
visto a crise geral a se agravar, como testemunham Cuba, Egito, Congo e Indonésia. Os
esforços do imperialismo norte-americano para efetuar um golpe de estado no país levam a
reforçar a compreensão que tais forças possuem, ou seja, tratar-se o Brasil de “uma reserva
do imperialismo”,. Sendo a América Latna, o seu quintal, a Aliança para o Progresso indica
que uma outra Cuba não pode ser tolerada. Daí a “internacionalização”, pela imprensa norte-
americana dos choques no agro brasileiro e a apresentação da luta pela reforma agrária aqui
como resultado de uma conspiração internacional. Evidentemente, politzar a possibilidade
de reformas que são necessárias ao país faz parte da luta do imperialismo e do latfúndio
para impedi-las. Não se pode, portanto, deixar de lado que, apesar do limite do crescimento
agrícola no Brasil, o governo dos EUA entende como essencial evitar aqui a reforma agrária,
para que o país contnue frágil e pobre. Vinte por cento das terras em produção no Brasil são
arrendadas e a tendência atual é para o crescimento ainda maior dos arrendamentos. Esta
renda paga aos proprietários da terra é retrada seguramente do setor e aplicada
maximamente em atvidades urbanas. O fato de o arrendamento se encontrar em expansão
indica uma valorização da terra e de seu produto. Indica também a ausência de uma polítca
de governo que busque consolidar a pequena e a média propriedade rural, aceitando-se o
arrendamento como algo bom e natural. A tendência, portanto, é prosseguir a escassez de
investmentos no agro, limitando o crescimento de sua produção, com impacto negatvo
sobre a produção industrial urbana.

A reforma agrária efetuada dentro do arco das exigências populares para a democratzação
da terra permitria a introdução no Brasil do subsistema de propriedade agrária insttucional,
criando-se os mecanismos e insttuições necessárias para capitalizar o agro, sem
comprometer a sobrevivência de cada unidade produtva média ou pequena, por via da
intermediação “bancos de economia popular”, mais “sistema cooperatvo”,. Dessa forma, uma
polítca de longo prazo para todo o setor poderia estabilizar o investmento direto, sem

372
comprometer a sobrevivência das unidades produtvas. A multplicação do produtor direto
cooperatvado, dentro de um subsistema capaz de fnanciar suas atvidades certamente
reduziria em muito a evasão da renda no campo, que se verifca na atualidade.

À medida que a renda criada aumenta, e a população aumenta, aumenta a concentração de


renda, irá aumentar também o número de indivíduos na classe dominante, e sua fome por
propriedades de todos os tpos. Como as relações capitalistas não permitem destacar tais
irracionalidades, o resultado é que aumenta a demanda por terras para habitação e lazer, ao
lado de um aumento da demanda por terras para propriedades no agro. Consequentemente,
o que se tem visto no pós-guerra é um crescimento do preço da terra, mais rápido que o
crescimento do custo de vida e o crescimento do PIB e da população. A terra comerciada é
vista como uma fonte cristalizada de renda e como uma reserva de valor imune à infação. A
elevação geral dos preços e a manipulação das taxas de juros, a procura pela maximização
dos lucros, etc., leva à desvalorização de todas as moedas, aquelas dos países pobres mais do
que os outros. Os ricos buscam, portanto, se proteger através de bens que não podem
aumentar de quantdade, ou aumentar muito pouco: por exemplo, terras e ouro. A terra é
um bem que não pode ser estendido. A segunda revolução industrial, com seus veículos a
combustível, estações de serviços, estradas de rodagem, casas em bairros distantes do
centro, etc., tomou da produção agrícola para a especulação imobiliária, áreas enormes em
toda parte. O fenômeno chegou com o pós-guerra no Brasil. As terras agricultáveis se
transformam em áreas de habitação e de lazer e a produção agrícola deve, portanto, ser
trazida de mais longe, com custos adicionais e preços mais elevados.

A valorização do solo torna a terra escassa e cara para o agricultor, partcularmente o médio
e o pequeno. Os que especulam com terras aumentam a fata de seus ganhos. A terra sai da
esfera produtva para atvidades parasitárias (terrenos mantdos improdutvos como reserva
de valor). Consequentemente, os produtos da terra se tornam menos acessíveis para os
assalariados. No capitalismo, não há como separar a especulação da valorização imobiliária.
Ela contamina tudo, tornando objetos caros até os barracos de uma favela.

As pessoas mais ricas, concentradoras de renda, compram inúmeras propriedades para que
se valorizem ao longo do tempo, sem qualquer intenção de lhes dar função produtva. Hoje,
no Brasil, é comum verem-se famílias das classes dominantes com várias casas,

373
apartamentos, sítos, fazendas, etc., pratcamente desprovidos de funcionalidade outra
senão a especulação imobiliária. Somente na cidade do Rio de Janeiro, há 25 mil imóveis
desalugados e desabitados, mantdos pelos seus proprietários como “reservas”, para “fazer o
preço”, do espaço imobiliário. Semelhantes inconsistências elevam os custos sociais, pioram
as condições de vida da maioria das pessoas, freiam o processo de acumulação e, portanto,
limitam o crescimento da renda urbana e rural.

4 – Poder Agrário e a Luta Democrátca.

No Brasil, a tendência para a “acamponezisação”, do agro iniciou-se com o colapso da


escravidão, quando os “colonos”, introduzidos para substtuir os escravos trataram de formar
associações e de escapar das fazendas para ter uma vida própria (1903-1922). O total de
pessoal ocupado na agricultura diminuiu 3% de 1940 para 1950, mas aumentou 42,4% de
1950 a 1960, O motor do crescimento recente de pessoal ocupado na agricultura é
interpretado como (a) crescente difculdade de melhoria de vida, na ida para as cidades e (b)
aumento da demanda dos produtos oriundos do agro. A mudança na composição do
emprego agrícola demonstra o crescimento do trabalho familiar, na unidade produtva; ou
seja, um número de pessoas não remuneradas crescente a trabalhar.

Este “acamponesamento”, parece ser um fenômeno persistente. O antgo proprietário se


“cansa”, das oscilações da taxa de lucro e vende a propriedade; ou, em outra tendência, a
propriedade vai sendo repartda entre seus descendentes. Ao fm, no lugar de uma
propriedade maior no velho estlo, aparecem pequenas fazendas, baseadas no trabalho
familiar, pertencendo cada uma a um núcleo familiar. Este tpo de estrutura camponesa
crescente pode bem conviver com os novos camponeses que viessem a resultar de uma
reforma agrária, aliando-se a estes para consttuir uma forte economia rural produtva.

A experiência histórica demonstra que os camponeses médios e pequenos são uma força
democrátca. Esta tendência à mudança no agro brasileiro deve ser encarada como uma
oportunidade para desenvolvimento da luta pela democracia no campo e para a modifcação
do poder agrário. A unidade familiar de trabalho da terra a utliza simultaneamente para a
produção e o consumo. Trata-se de uma forma pré-capitalista, que resistu historicamente ao

374
latfúndio e dele se desvencilhou. O ressurgimento aqui e ali desta forma socioeconômica
rural revela a força social da massa camponesa e sua aliança, potencial ou materializada, com
a classe operária. Os trabalhadores da cidade têm o maior interesse no livre
desenvolvimento do campesinato médio e pequeno, com o reforço de seus investmentos
para gerar renda, através da formação de excedentes agropecuários que sejam levados ao
mercado. No caso brasileiro, não se coloca na etapa atual, problemas à manutenção e ao
crescimento das fazendas capitalistas, mas sim, a necessidade de apoiar o campesinato
médio e pequeno para aumentar a produção excedente para o mercado interno. No exame
da distribuição dos estabelecimentos por área da propriedade, naqueles de menos de 100
hectares a partcipação do trabalho familiar e de agregados tende a crescer em detrimento
do uso do trabalho assalariado. É aqui hábito centenário agregar dependentes na família e
tratá-los como tal, em virtude da escassez forte de mão de obra. As fazendas capitalistas se
situam na faixa de 100 a 500 hectares e ali predomina o trabalho assalariado. Mesmo nessa
faixa, o trabalho pré-capitalista é intenso, com a presença de formas pré-capitalistas de
renda. Isso signifca, conforme o grau em cada unidade produtva das formas pré-capitalistas,
a presença se tornar latfundiária, ou se predomina o assalariamento, tratar-se de granja
capitalista. Essa diferença vai-se expressar na maior produtvidade e na maior taxa de lucro
da fazenda capitalista. Não se deve aqui confundir o pagamento patronal em espécie, com o
pagamento do “inquilino”,, que é um produtor independente. Nem com o pagamento em
renda produto, trabalho ou dinheiro, com que o camponês sem-terra se subordina ao “dono
da terra”,. Os latfúndios retêm paradas 75% das terras agricultáveis, daí sua eventual
“cessão”, a camponeses sem-terra, sob a forma de rendas a serem pagas do tpo pré-
capitalista. Assim, a apropriação monopolista da terra pelas frações agrárias e latfundiárias
das classes dominantes bloqueia o movimento migratório na área rural e limita a dimensão
esperada do crescimento do agro. Não permitem a democratzação das propriedades. Mas
não se trata de um fenômeno “brasileiro”, ou isolado. Diz Kozmínov:

“A exploração dos camponeses pelos monopólios se combina com numerosas sobrevivências da


exploração servil e, sobretudo, com a parceria, sob a qual o arrendatário é obrigado a entregar ao
proprietário da terra considerável parte da colheita pelo arrendamento da terra e dos instrumentos
de trabalho.”

375
“Nos Estados Unidos, a parte das grandes e gigantescas economias, com área de mais de 500 acres, que
consttuem, em 1954, menos de 7% de todas as economias, cresceu, na área total de 44,9%, em 1940, a 57,3%,
em 1954, enquanto a parte das economias gigantes, com área superior a 1.000 acres, elevou-se neste período,
de 34,3% a 45,9%. Segundo dados de censo de 1950, 44% de todas as economias (com uma produção mercantl
no valor de 1.200 dólares) produziram menos de 5% de toda a produção mercantl, ou seja, conduziram uma
economia de consumo primitva, pouco produtva, ao tempo em que 103 mil grandes granjas (com uma
produção mercantl no valor de 25 mil dólares e mais), consttuindo menos de 2% de todas as economias,
davam 26% de toda a produção mercantl agrícola dos Estados Unidos. Segundo dados do censo de 1954, 134
mil grandes granjas (com uma produção mercantl no valor de 25 mil dólares e mais), consttuindo 2,8% de
todas as economias, davam 31,3% de toda a produção mercantl agrícola dos Estados Unidos. Na França, em
1956, as pequenas economias, com área até 10 hectares, consttuindo 52,2% de todas as economias,
pertenciam somente 15,7% de toda a terra cultvada, ao tempo em que 4,8% de grandes economias possuíam
30,4% da terra. Na Alemanha ocidental, as pequenas economias, com área até cinco hectares, que consttuíam,
em 1949, 55,8% de todas as economias, possuíam somente 11% de toda a terra, ao tempo em que 0,7% de
grandes economias possuíam 27,7% da terra.”

“A soma total da renda da terra cresceu, nos Estados Unidos, de 760 milhões de dólares, em 1937, a 1,7
bilhões de dólares, em 1954. Na Itália, algumas centenas de latfundiários recebem anualmente 450 bilhões de
liras de renda da terra, enquanto o salário de 2,5 milhões de jornaleiros agrícolas é de cerca de 250 bilhões de
liras. A dívida total dos granjeiros norte-americanos aos bancos e outras insttuições de crédito cresceu, de 1946
a 1957, em 2,5 vezes, atngindo, a 1º de janeiro de 1958, a 20,2 bilhões de dólares. O imposto sobre os bens da
população granjeira, em 1957, era 2,7 vezes superior ao de 1942.”

“A contnua diferenciação do campesinato e a ruína das economias granjeiras acentuam-se em


consequência da atual crise agrária, que atngiu proporções muito amplas nos Estados Unidos e no
Canadá. A crise agrária abrangeu também a Argentna, a Austrália e uma série de países da Europa
ocidental, da Ásia sul oriental e da América Latna. Em certos países, a crise golpeou determinados
ramos da agricultura: na Itália e na França – a vitcultura, na Grécia – a cultura fumageira, nos países
da Ásia sul oriental – a rizicultura.”

“Um traço distntvo da crise agrária nos principais países capitalistas consiste na superprodução de
mercadorias agrícolas, sob as condições de redução da procura solvente entre os trabalhadores, em
virtude do crescimento do desemprego, da elevação dos preços dos gêneros alimentcios no varejo,
do ascenso do custo de vida.”

O poder agrário é totalmente dependente da polítca e das necessidades do monopólio


internacional, para se desempenhar e para obter ganhos que o levam a se expandir,
mantendo a estrutura que já existe. Tal dependência gera uma situação de intransigência do

376
poder agrário, porque – as aparências enganam – na verdade, ele está comandado de fora do
país para dentro do país. Diz Kozmínov:

“Sobre a profundidade da atual crise agrária testemunha o fato de que a superprodução de


produtos agrícolas, numa série de países capitalistas, é consideravelmente maior do que ao tempo da
crise de 1929/1933. Assim, por exemplo, nos países transoceânicos, as reservas intermitentes de trigo
superam o nível de 1929/1930 em 3,2 vezes. A de manter os preços infacionados, os órgãos estatais
compram enorme quantdade de cereais, de algodão, de batatas, de produtos pecuários.”

“Neste partcular, a mais clara manifestação das contradições do capitalismo é a distribuição de


enormes massas de produtos agrícolas, que não encontram escoamento e se acumulam sob a forma
de reservas, enquanto se reduz o consumo das amplas massas trabalhadoras e os Estados capitalistas
tomam medidas no sentdo de ‘estmular’ a redução da produção.”

“Em 1956, o Congresso dos Estados Unidos aprovou o programa do Banco da Terra sobre a redução da área
cultvada em 20 bilhões de hectares e de sua conversão em terras devolutas. Medidas para a redução da área
semeada são tomadas no Canadá e na Austrália. A fim de diminuir as desmedidas reservas de gêneros
alimentcios, os Estados Unidos exportam uma parte da produção por preços de dumping, consideravelmente
inferiores ao preço de custo. Tal dumping ainda mais acentua a crise agrária nos outros países capitalistas.”

“No curso da atual crise agrária, processa-se a intensificação da concentração da produção


capitalista. Nos principais países capitalistas, após a Segunda Guerra Mundial, aumenta a
mecanização da agricultura, que atngiu nível partcularmente alto nos Estados Unidos, cresce a
aplicação de adubos minerais, aperfeiçoando-se os métodos agrotécnicos nas grandes granjas, que
produzem a massa principal da produção mercantl. Enquanto isto, segundo dados de 1954, cerca de
47% das granjas, nos Estados Unidos, não possuíam tratores e conduziam uma economia semi
consumidora, pouco produtva. A concentração da produção é acompanhada da ruína da massa de
pequenas economias camponesas, em escala desconhecida no passado.”

“Assim, nos Estados Unidos, segundo dados da estatstca corrente, de 1940 a 1958, arruinaram-se 1.596 mil
granjas, sendo que de 1950 a 1958 se arruinaram 894 mil. Em 1956, a renda líquida dos granjeiros norte-
americanos, em comparação com a renda média anual de 1946 a 1948, reduziu-se, a preços constantes, em 6,5
bilhões de dólares, ou seja, em 40%.”

“Tudo isto dá testemunho da situação cada vez pior das massas fundamentais do campesinato nos
países capitalistas.”

A situação é mais grave nos chamados “países novos”,, ou seja, aqueles em que as
sociedades pré-existentes foram destruídas (é o caso da América Latna). Nesse caso, as
377
estruturas pré-existentes ao advento do capital monopolista já apresentavam “defeitos”, do
ponto de vista da busca de desenvolvimento das metrópoles que as montaram. O propósito
na “montagem”, de semelhantes sociedades coloniais não era “montar”, uma sociedade, à
“imagem e semelhança”, da metrópole. Era somente consttuir grandes unidades produtvas
exportadoras, onde não tnha papel social algum o “elemento humano”, eventualmente ali
colocado. Desse modo, nessas “sociedades”,, a formação de um campesinato e de uma classe
trabalhadora assalariada partu de níveis abaixo da fronteira de subsistência.

Não foi, pois, seguido o “caminho clássico”, indicado por Rosa Luxemburgo:

“A separação da agricultura e do artesanato, a eliminação das indústrias rurais da economia rural,


consttuem um últmo e muito importante capítulo da luta contra a economia natural. Na origem de
sua carreira histórica, o artesanato era uma ocupação ligada à agricultura, que junto aos povos
civilizados sedentários era considerada subsidiária. A história do artesanato europeu na Idade Média
é a história de sua emancipação da agricultura, de sua separação do domínio feudal, de sua
especialização e de sua consttuição em um ramo independente da produção organizada nas cidades,
sob a égide das corporações. Apesar da transformação posterior da produção artesã em manufatura
e, mais tarde, na grande indústria capitalista, o artesanato permanece, nas formas, estreitamente
ligado à agricultura. Na economia rural, o artesanato desempenhou um papel importante como
trabalho ligado à economia doméstca, acompanhado, sobretudo do trabalho agrícola, nos períodos
de folga, para satsfazer as necessidades doméstcas. O desenvolvimento da produção capitalista
extrpou da economia rural todos os seus setores industriais existentes, para concentrá-los na maciça
produção industrial. Como exemplo tpico, temos a história da indústria têxtl. O mesmo também se
deu, muito embora de modo menos ostensivo, com todos os ramos industriais da agricultura.”

As “sociedades novas”, indicam um modelo “frankenstein”,, onde partes “montadas”, para


dado propósito se juntam a outros “momentos de montagem”,, na tpologia da chamada
economia de “ciclos de exportação”,, que os historiadores utlizam na explicação do Brasil.
Nesses casos, as necessidades que se manifestam no movimento capitalista de integração da
produção de mercadorias se impõem através da divisão internacional do trabalho, a requerer
novos tpos de arranjos internacionais. Estas imposições têm desfecho no enfrentamento
com eventuais forças internas que hajam criado uma dinânmica própria. Esta dinânmica se
expressa como o desenvolvimento de um mercado interno na sociedade local, que pode pôr
em foco forças sociais que lutam por um poder nacional próprio. A polítca do capital

378
fnanceiro para destruir a tentatva de poder local é (1) dominar-lhe o agro e suas
exportações e (2) endividar o país em questão. Diz Rosa Luxemburgo:

“No período imperialista, os empréstmos exteriores desempenham o papel principal na


independência de Estados capitalistas modernos. As contradições da fase imperialista se manifestam
sensivelmente nas contradições do sistema moderno de empréstmos exteriores. Estes são
indispensáveis para a emancipação dos Estados que aspiram ser capitalistas e são ao mesmo tempo,
o meio mais seguro dos Estados capitalistas antgos exercerem sua tutela sobre os modernos,
controlarem sua economia e fazerem pressão sobre sua polítca exterior e sobre polítca alfandegária
e comercial. São o meio principal para abrir ao capital acumulado dos países antgos novos campos
de investmento e, ao mesmo tempo, criar naqueles países novos competdores; aumentar, em geral,
o espaço de que dispõe a acumulação do capital e ao mesmo tempo estreitá-lo.”

“Essas contradições do sistema de empréstmos internacionais são uma demonstração clássica de


até que ponto as condições de realização e capitalização da mais-valia se acham separadas no tempo
e no espaço. A realização da mais-valia só exige a difusão geral da produção de mercadorias,
enquanto sua capitalização exige, pelo contrário, o deslocamento progressivo da produção simples de
mercadorias pela produção capitalista. Com isso, tanto a realização como a capitalização da mais-
valia vão-se reduzindo progressivamente a limites mais estreitos. O emprego do capital internacional
na construção da rede de estradas de ferro mundial refete esse deslocamento. Desde o ano 30 até o
ano 60 do século XIX, a construção de estradas de ferro e os empréstmos necessários para ela
serviram principalmente para o deslocamento da economia natural e a difusão da economia de
mercado. Tal ocorreu com as estradas de ferro norte-americanas construídas com capital europeu e,
do mesmo modo, com os empréstmos ferroviários russos do ano 70. Em compensação, a construção
de estradas de ferro na Ásia e na África há aproximadamente vinte anos serve, quase exclusivamente,
aos fins da polítca imperialista, à monopolização econômica e à submissão polítca dos países
atrasados do capitalismo.”

Não foi outro o papel das ferrovias fnanciadas para transportar o café, entendidas por
historiadores mentalmente colonizados como o símbolo do progresso. Os fazendeiros eram
estmulados a produzir mais e mais café, concorrendo entre si, se endividando e fazendo cair
o preço de exportação do produto. O mesmo se deu com o cacau, na A. Latna e na África. O
imperialismo não prega prego sem estopa. Diz Rosa Luxemburgo:

379
“O desenvolvimento da rede de estradas de ferro refete aproximadamente a penetração do capital.
A rede de estradas de ferro desenvolveu-se com maior rapidez no quarto decênio do século XIX na
Europa, no quinto na América, no sexto na Ásia, no sétmo e oitavo na Austrália, no oitavo na África.”

“Os empréstmos públicos para a construção de estradas de ferro e os armamentos militares


acompanham todas as fases da acumulação de capital: a introdução da economia de mercado, a
industrialização dos países e a revolução capitalista da agricultura, assim como a emancipação dos
novos Estados capitalistas. As funções dos empréstmos na acumulação do capital são variadas:
transformação do dinheiro de camadas não capitalistas, dinheiro equivalente a mercadorias
(economias da pequena classe média) ou dinheiro como fundo de consumo do séquito da classe
capitalista, transformação do capital monetário em capital produtvo por meio da construção de
estradas de ferro e de aprovisionamentos militares, transporte do capital acumulado em países
capitalistas antgos a países modernos.”

Assim, o reforço da dependência ou da condição colonial fortalece a dominação das


metrópoles e do capital fnanceiro, enquanto que o Estado local, que expressa o poder
agrário, não passa, nas últmas consequências, de um arremedo de Estado. Diz Rosa:

“À primeira vista, essas operações consttuem o cúmulo da insensatez. Um empréstmo substtuía


rapidamente outro; os juros dos empréstmos antgos eram pagos com novos empréstmos, e os
pedidos gigantescos feitos ao capital industrial inglês e francês pagavam-se com capital tomado por
empréstmo na Inglaterra e na França.”

“Na realidade, o capital europeu, enquanto a Europa movia a cabeça e se assombrava com a
insensata prodigalidade de Ismail, fazia no Egito fantástcos negócios, sem precedente, negócios que
eram para o capital uma edição moderna das vacas gordas da Bíblia.”

“Antes de mais nada, cada empréstmo era uma operação usurária, na qual a quinta, a terça parte, e
ainda mais, da soma aparentemente emprestada ficava em poder dos banqueiros europeus. Os juros
tnham que ser pagos de uma maneira ou outra. De onde vinham os meios para isso? Sua fonte tnha
que ser o Egito, e essa fonte era o felá egípcio, a economia camponesa. Esta fornecia, em últma
instância, os elementos mais importantes dos grandiosos empreendimentos capitalistas. Fornecia o
terreno, já que as chamadas propriedades privadas do quediva, que em prazo muito curto
alcançaram dimensões gigantescas e que consttuíam a base das obras hidráulicas, da especulação
algodoeira e açucareira, eram produto de roubo e saque em incontáveis aldeias. A economia
camponesa fornecia também a massa operária, e o fazia gratuitamente. Não era necessário
sustentá-la enquanto durava sua exploração. A vassalagem dos felás era a base dos milagres técnicos

380
feitos pelos engenheiros europeus e máquinas europeias nas obras hidráulicas, meios de transporte,
no cultvo da terra e na indústria do Egito. Nas obras do Nilo, em Kaliub como no canal de Suez, na
construção de estradas de ferro e na de diques, nas plantações de algodão e nas fábricas de açúcar,
trabalhavam incontáveis felás, que eram lançados de um trabalho a outro, segundo a conveniência,
e explorados sem nenhum limite. Se as limitações técnicas dos trabalhadores forçados apareciam,
constantemente, no tocante a seu emprego para fins capitalistas modernos, esses inconvenientes
compensava-se, abundantemente, pela condição ilimitada da exploração e pelas formas de vida e
trabalho com que aqui contava o capital.”

“Mas a economia camponesa não fornecia tão somente terreno e operários, mas também dinheiro.
Disso cuidava o sistema tributário, que sob a ação da economia capitalista esmagava o felá. A
pequena construção em terras camponesas, que se elevava cada vez mais, chegava, em fins da
década de 1860, a 55 marcos por hectare, enquanto a grande propriedade só pagava 18 marcos por
hectare, e a família real nada pagava por suas enormes propriedades privadas. A isso se agregavam
contribuições especiais, como, por exemplo, 2,50 marcos por hectare para a conservação de obras
hidráulicas que favoreciam, quase exclusivamente, as propriedades do vice-rei. Por cada palmeira, o
felá pagava 1,35 marco; por cada cabana, 75 pfennigs. Acrescentava-se ainda um imposto pessoal de
6,50 marcos, que todo varão de mais de dez anos devia pagar. No total, os felás pagavam na época
de Mehemet Ali 50 milhões, na de Said 100 milhões, na de Ismail 163 milhões de marcos.”

“Quanto mais se endividava o Egito na Europa, tanto mais dinheiro precisava trar da economia
camponesa. Em 1869, elevaram-se em 10% todas as contribuições, em 1870 a contribuição territorial
elevou-se em oito marcos por hectare. No alto Egito, as aldeias começaram a despovoar-se,
destruíram-se cabanas, deixou-se de cultvar o solo para fugir à contribuição. Em 1876, s contribuição
sobre palmeiras aumentou em 50 pfennigs. Aldeias inteiras dispuseram-se a cortar suas palmeiras.
Impediu-se-lhes a tros que o fizessem. Em 1879, além de Siut, morreram, ao que parece de fome,
10.000 felás que não puderam pagar a contribuição pela irrigação de seus campos, e depois de haver
matado o gado para fugir a seu imposto.”

Se os imperialistas agiram e agem assim no Egito, uma civilização de 6.000 anos, o que não
é feito na América Latna, destruída e “reconstruída”, a meros 400 anos? As classes sociais
aqui existentes, geradas ao acaso e à revelia das sociedades de dominação, são vistas apenas
como guarda-volumes de um patrimônio que não pode ser seu. O poder do agro, como tudo
mais em um país dependente, é o refexo de outro poder real, o capital fnanceiro, em uma
metrópole do capital. A rebelião dos colonizados e dos dominados é o único caminho para a

381
construção de uma sociedade nova, capaz de comandar sua dinânmica interna. Diz Rosa
Luxemburgo:

“Percebe-se, à primeira vista, que também aqui se trata de modificações na forma material e na
reprodução. Ao invés de uma massa de meios de produção e de subsistência para os consumidores
camponeses, o capital produzirá material de guerra para o Estado. De fato, a transformação é
profunda. Sobretudo o Estado pode mobilizar, graças ao mecanismo dos impostos, as somas
descontadas do poder de compra dos consumidores não capitalistas, que serão quanttatvamente
muito maiores do que aquelas que teriam para seu próprio consumo.”

“Na realidade, o sistema fiscal moderno é que, em grande parte, é responsável pela introdução
forçada da produção de mercadorias entre os camponeses. A pressão fiscal obriga os camponeses a
transformar em mercadorias uma parte cada vez maior de seu produto, mas ao mesmo tempo
converte-o, cada vez mais, em comprador; lança o produto da economia rural em circulação e
transforma o camponês em comprador forçado de produtos capitalistas. Por outro lado, admitndo-se
ainda a economia rural de um poder de compra superior ao que atngiria em outro caso.”

“As somas que os camponeses ou as classes médias economizaram para depositar nas caixas
econômicas e nos bancos, que esperam ser investdas, estão no presente, disponíveis nas caixas do
Estado, consttuindo-se em objeto de demanda e oferecendo possibilidades de investmento para o
capital. Além disso, ao invés da multplicidade e dispersão das demandas mínimas de diversas
categorias de mercadorias que não coincidem no tempo e podem ser satsfeitas pela produção de
mercadorias simples, e que por isso mesmo não interessam à acumulação capitalista, tem-se uma
demanda concentrada e homogênea do Estado. Mas a satsfação dessa demanda pressupõe a
existência de uma indústria em grande escala e, portanto, de condições favoráveis para a produção
da mais-valia e da acumulação. Por outro lado, o poder de compra da grande massa de
consumidores, concentrado sob a forma de pedidos de material de guerra feitos pelo Estado, não
corre o perigo das arbitrariedades, das oscilações subjetvas do consumo individual; a indústria de
armamentos será, sem dúvida, de uma regularidade quase automátca, de um crescimento rítmico. É
o próprio capital que controla esse movimento automátco e rítmico da produção para o militarismo,
graças ao aparelho legislatvo parlamentar e à imprensa que se encarrega de criar a chamada
opinião pública. Isso porque esse campo específico da acumulação capitalista parece, a princípio, ser
de uma capacidade ilimitada de expansão. Enquanto qualquer outra ampliação do mercado e da
base de operação do capital depende, em grande parte, de elementos históricos, sociais, polítcos,
que se encontram fora da infuência do capital, a produção para o militarismo consttui uma esfera
cuja ampliação sucessiva parece encontrar-se ligada à produção do capital.”

382
“As necessidades históricas que acompanham a concorrência mundial intensificada para a conquista
de condições de acumulação transformam-se assim, para o próprio capital, num magnífico campo de
acumulação. O capital utliza-se mais energicamente do militarismo para assimilar, através do
colonialismo e da polítca mundial, os meios de produção e as forças de trabalho dos países ou das
camadas não capitalistas. Ao mesmo tempo, nos países capitalistas, esse mesmo militarismo trabalha
no sentdo de privar as camadas não capitalistas de seu poder de compra, isto é, os representantes da
produção de mercadorias simples, assim como os operários; isso para restringir o nível de vida desta
últma camada e aumentar em grandes proporções, à custa de ambos, a acumulação do capital. Só
que, em ambos os aspectos, ao atngir certo nível, as condições da acumulação se transformam para
o capital em condições de sua própria ruína.”

5 – A Reforma Agrária.

Para nós, brasileiros, em sua maioria, a reforma agrária é uma mudança de estrutura
necessária a permitr a economia e a sociedade se tornarem mais ricas ao mais baixo custo.
Para as potências estrangeiras que nos exploram impedir a reforma agrária é manter no país
um agropoder atrasado, com a possibilidade de comprar barato poucos itens de nossa
produção agrícola e nos submeter pela oferta agrícola que nos falta ou que deixamos de
produzir. Na estratégia dessas potências devemos contnuar no mesmo lugar no “pau-de-
sebo”, do progresso internacional. Elas têm outras preferências para o desenvolvimento,
enquanto nós fazemos parte de suas “reservas”,.

O sistema capitalista concentra numa parte a abundânncia, noutra, penúria, escassez. Para
eles, que nos faltem matérias primas e produtos que nosso agro poderia produzir é um
problema inexistente. Podem nos vender excedentes, podem nos fnanciar para comprá-los;
podem intervir em nossa economia e nosso governo, com a sua ação externa de “grande
irmão”,. No entanto, todas essas alternatvas são dispensáveis. Devemos tomar medidas para
reorganizar o nosso país, não de acordo com as necessidades estratégicas de certos países,
mas partndo de nossas reais necessidades. O conteúdo polítco das reformas preconizadas
pela frente nacionalista e democrátca prioriza as necessidades dos brasileiros, suas
possibilidades reais, e o caminho de menor custo para que o Brasil possa crescer e ocupar
um lugar melhor, que deve ser o seu. Seria ingênuo supor que o imperialismo e seus grandes
grupos econômicos – partcularmente os que controlam a produção agropecuária – não têm

383
um “projeto”, para o Brasil, em que não se inclui a maioria dos brasileiros. Para eles,
podemos contnuar deitados eternamente em “berço esplêndido”,. Seria ingênuo supor que a
reforma agrária seja um “problema interno”, brasileiro e que os direitos dos pequenos e
médios trabalhadores camponeses, o direito dos sem-terra e assalariados rurais não sejam
matéria “subversiva”,. Como comentou Rosa Luxemburgo:

“Por conseguinte, Marx atribui especialmente as crises não a perturbações da proporção entre capital
disponível e população operária disponível, mas a perturbações na troca entre países capitalistas e não
capitalistas; mais ainda, trata provisoriamente essa troca como a base predeterminada da acumulação.”

E umas linhas mais adiante: “De outro modo, como faltaria demanda para aquelas mercadorias de que carece
a maioria do povo, e como seria possível ter que buscar essa demanda no estrangeiro, em mercados
longínquos, para poder pagar os próprios trabalhadores do país a importação dos meios de subsistência
necessários’? ”

“Aqui Marx diz claramente de que depende o grau de ocupação dos operários nos países capitalistas: da
possibilidade de achar saída para as mercadorias capitalistas ‘em mercados longínquos’.”

A economia capitalista é um todo interligado. Achar que a sobrevivência do latfúndio do


Brasil não expressa as necessidades da divisão internacional do trabalho seria manifestar
ingenuidade. Não se podem reformar as estruturas de base no Brasil, sem encontrar a
resistência externa; sem combater frontalmente a presença imperialista no país. E isto só um
governo nacionalista e patriótco pode fazer. Diz Rosa:

“Só pela expansão constante a novos domínios da produção e novos países foram possíveis a existência e o
desenvolvimento do capitalismo. Mas a expansão, em seu impulso mundial, conduz a choques entre o capital e
as formas sociais pré-capitalistas. Portanto, violência, guerra, revolução, catástrofe são, em suma, o elemento
vital do capitalismo do princípio ao fim.”

“A acumulação do capital prossegue e estende-se à custa de classes e sociedades não capitalistas, destruindo-
as com um ritmo cada vez mais rápido. Domínio extensivo: tal é a tendência geral e o resultado do processo de
produção capitalista. Isso obtdo entra em vigor o esquema marxista: a acumulação, isto é, a posterior
expansão do capital é impossível, o capitalismo entra em um beco sem saída; não pode prosseguir atuando
como veículo histórico do desenvolvimento das forças de produção; alcança seu limite objetvo econômico. A
contradição que se oferece no esquema marxista da acumulação, dialetcamente considerada, é a contradição
viva entre o impulso ilimitado da expansão do capital que se põe a si mesmo pelo aniquilamento contnuo das
demais formas de produção; entre as enormes forças produtvas, que seu processo de acumulação desperta em
toda a Terra, e a estreita base que se traça a si mesmo pelas leis da acumulação. O sistema marxista da
acumulação – bem entendido – precisamente por ser insolúvel é o prognóstco exato da queda econômica

384
inevitável do capitalismo como resultado do processo de expansão imperialista, cuja missão especial é realizar a
suposição marxista: o domínio absoluto e individual do capital.”

“Ocorrerá, na realidade, esse momento? Certamente, isso é apenas uma ficção teórica, justamente porque a
acumulação do capital não é apenas um processo econômico, mas polítco.”

“O imperialismo, ao mesmo tempo em que é um método histórico para o prolongamento da existência do


capital, é o meio mais seguro para marcar objetvamente o caminho mais curto do fim de sua existência. Isso
não quer dizer que tal objetvo final tenha que ser alcançado. A tendência desse objetvo últmo da evolução
capitalista se expressa em formas que convertem, num período de catástrofes, a fase final do capitalismo. (A
Acumulação do Capital, pág. 361)”

“Quanto mais violentamente o capitalismo acabe com a existência de classes não capitalistas, fora e dentro do
país, e quanto mais diminua as condições de vida de todas as classes trabalhadoras, tanto mais transformar-se-
á a história da acumulação do capital no mundo em uma cadeia ininterrupta de catástrofes econômicas
periódicas que se apresentam em formas de crises, tornarão impossível a contnuação da acumulação e farão
imprescindível a revolta da classe operária internacional contra o regime capitalista, isso antes que tropece
economicamente com o limite natural que colocou a si mesmo. (Loc. Cit., pág. 389)”

“Aqui, como no resto da história, a teoria presta um serviço completo mostrando-nos o sentdo lógico para o
qual se encaminha objetvamente. Esse estado final não poderá ser alcançado, do mesmo modo que nenhum
dos períodos anteriores da evolução histórica pode realizar-se até suas últmas consequências. À medida que a
consciência social, desta vez encarnada no proletariado socialista, intervenha como fator atvo no cego jogo das
forças, menos necessidade tem de realizar-se. As sugestões mais fecundas e o melhor incentvo para essa
consciência não são dados pela exata concepção da teoria marxista.”

Percebe-se, pois, com toda clareza, a necessidade que o imperialismo tem de manter
estruturas atrasadas por toda parte, mercados primitvos, com os quais deve se relacionar
através da divisão do trabalho e obter ganhos extremamente desiguais. Embora tal seja
perfeitamente compreensível para a estratégia leninista, inúmeros equívocos são cometdos
por aqueles que não aceitam nosso ponto de vista que a luta democrátca pelas reformas faz
parte hoje da revolução socialista em escala mundial. A reforma agrária dá uma centralidade
à luta por todas as reformas. Sem ela, o país não pode avançar pela via do progresso e
prosseguirá inerte, aberto à exploração imperialista. Comentando Marx, cita Rosa
Luxemburgo:

“E, a fim de evitar qualquer dúvida, como se houvesse adivinhado seu ‘sábio’, discípulo, acrescenta: ‘Não
tratamos do caso no qual se acumula mais capital do que o que se emprega na produção; o capital, que, por
exemplo, se deposita em forma de dinheiro no banco. Daí, os empréstmos ao estrangeiro, etc.; em suma, a

385
especulação por meio da colocação de capitais. Tampouco, consideramos o caso no qual é impossível vender a
quantdade de mercadorias produzidas, crises, etc. Isso pertence ao capítulo da concorrência. Assim só temos
que investgar as formas do capital nas diversas fases de seu processo, sempre supondo que as mercadorias
são vendidas a seu preço’. (Loc. Cit., pág. 252. Grifado por mim.)”

“Isto é, Marx pressupõe a ampliação do capital, a possibilidade da acumulação, e limita-se a investgar em


quais manifestações se resolve, em tal ou qual caso, o processo. Uma delas é o emprego de novos
trabalhadores, para o que é necessário, naturalmente, o crescimento da população operária. Disso Bauer deduz
que para que se verifique a acumulação se verifica porque a população operária cresce. O sentdo e fim
objetvos da acumulação e seu ‘mecanismo’ são acomodar-se ao crescimento da população trabalhadora.”

E mais adiante, diz Rosa em seu texto:

“Qualquer leitor que conheça o primeiro volume da obra fundamental de Marx pode examinar, por si mesmo,
sem dificuldade, toda a construção de Bauer; não é preciso senão abrir a obra no capítulo XXIII para ler na pág.
612 (da 1ª edição):”

“Para a indústria moderna, com seu ciclo de um decênio, seria uma bela lei aquela que não regulasse a oferta
e a demanda do trabalho pela expansão e contradição do capital, isto é, por suas necessidades de colocação
em cada caso, mas sem que, ao contrário, fizesse que o movimento do capital dependesse do movimento
absoluto da massa populacional. Mas este é o dogma econômico.” “Marx refere-se ao antgo ‘dogma’ da
Economia Polítca burguesa, o chamado fundo de salário que considerava o capital disponível em cada caso
pela sociedade como uma grandeza dada, perfeitamente determinada, enquanto a população operária
ocupada dependesse unicamente de seu crescimento natural. Marx luta constantemente contra esse dogma e,
ao fazê-lo, corrige severa e sucessivamente seu ‘sábio’ adepto.”

Assim, na pág. 605 explica-lhe: “A demanda de trabalho não é idêntca ao crescimento do capital, o
incremento do trabalho não é idêntco ao crescimento da classe operária de modo que atua, uma
sobre a outra, duas forças independentes. O capital atua simultaneamente em ambos os sentdos.
Se sua acumulação aumenta globalmente por um lado, a demanda de trabalho aumenta por outro o
número de trabalhadores, ‘que deixa em liberdade’, etc.”

“Como vimos no ‘mecanismo’ de Bauer, o exército industrial de reserva surge como uma
consequência de uma acumulação muito lenta que não acompanhou o crescimento da população.
Bauer diz categoricamente: ‘O primeiro efeito da baixa acumulação é a formação de um exército
industrial de reserva’. (Neue Zeit, loc. Cit., pág. 869). Por conseguinte, quanto menor for a
acumulação do capital, tanto maior será o exército industrial de reserva. Esse é o ponto de vista de
Bauer. Mas Marx acrescenta pouco depois:”

386
“Quanto maior for a riqueza social, o capital em função, a attude e energia de seu crescimento e,
portanto, também, a magnitude absoluta do proletariado e a força produtva de seu trabalho, tanto
maior será o exército industrial de reserva.”

Ou seja, o sistema capitalista, em seu processo de reproduzir o capital, que é uma relação
social que torna os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, não pode se
importar com a forma em que se dá o “excesso populacional”, fabricado pelas suas relações
sociais, mas apenas se importa com a maior massa de mais valia possível e a maior taxa de
lucro possível. Se os miseráveis estão na porta da fábrica ou arrancando raízes para comer
em um latfúndio, pouco se lhe dá.

Evidentemente, tal não pode ser a ótca do movimento trabalhador. Não pode ser a ótca do
movimento popular. A miséria dos países pobres funciona na “caridade internacional”, como
um regulador adicional para o encalhe de mercadorias, nos centros imperialistas. Se o “país
pobre”, necessita de dez cadeiras, o “país rico”, compra uma cadeira em uma loja sua, entrega
a mesma ao “país pobre”, lança o preço de mercado com que a comprou na dívida do “país
pobre”,. Esse método só tornará o pobre mais pobre e o rico mais rico. No entanto, ele
facultará a intervenção da “metrópole”, na “semicolônia”, através do processo de
endividamento e suas consequências polítcas. Por que não mudar as estruturas do “país
pobre”, para que ele possa fabricar cadeiras? Isso mudaria, é claro, toda a situação. Mas nada
restaria da divisão internacional do trabalho. O imperialismo não pode permitr às suas
vítmas o livre desenvolvimento das forças produtvas. Devem agarrar-se para além dos
limites às relações de produção que já existem, de preferência as mais atrasadas. Outro não
é o sentdo dos ensinamentos de Lênine e de Rosa Luxemburgo. Deixar dormir os povos dos
países atrasados; impedir-lhes toda e qualquer reforma de estrutura, é o sonho dourado das
potências imperialistas. Como disse o camarada Stálin:

“A tarefa dos comunistas é destruir o velho sono secular dos povos oprimidos do Este, incutr no espírito dos
trabalhadores e camponeses de tais países a ideia libertadora da revolução, levantá-los para a luta contra o
imperialismo e, de tal forma, privar o mundo imperialista de suas ‘retaguardas’ e ‘inesgotáveis’ reservas.”

A única coisa que se pode acrescentar é, não só os povos do Leste, mas também do Oeste.
As transformações são tão necessárias lá quanto aqui. Um governo capaz de iniciar o
processo de reforma agrária dará um impulso a uma nova correlação de forças no quadro do
país. O atraso nas relações agrárias é a fonte mais poderosa da miséria das massas e o

387
imperialismo não deseja ver a reforma agrária encaminhada porque gradualmente perderia
como efeito o controle dos mercados internos e exportador brasileiros. Os países capitalistas
desenvolvidos controlam a oferta internacional de alimentos e tal oferta se encontra nas
mãos dos monopólios. Não existe a menor oportunidade de um país atrasado desenvolver-se
sem comandar sua produção interna de alimentos e matérias primas.

Assim, o mercado de alimentos é hoje poderoso instrumento do capitalismo monopolista


de Estado. Como elemento estratégico, permite aos países desenvolvidos ditar as polítcas
sociais e demográfcas para os países atrasados através das Nações Unidas (O.N.U.). Esta
organização é a principal estrutura que regula o mundo para os capitalistas dos Estados
Unidos. Ela está disfarçada de organização “plural”, e internacional. A “pluralidade”, dela já se
conhece pela guerra da Coréia, o massacre da Argélia, a intervenção recente no Vietnam e
no Congo. A ponta de lança atual desta organização é o controle populacional dos países
atrasados.

Nosso partdo não considera que a obtenção de terras para a execução da primeira etapa de
uma reforma agrária deva ser feita gastando bilhões do erário público, duramente
arrecadado através de taxas e impostos. Os gastos do governo com a reforma agrária devem
ser feitos com o cadastramento dos agricultores e partes de propriedades que serão
envolvidas, criação de centros técnicos e materiais de apoio, etc. A obtenção de terras é um
problema polítco. Elas devem sair, em cada etapa da reforma agrária, dos 75% de terras fora
de uso em mãos do sistema latfundiário. No Pará, por exemplo, uma única “empresa
agrícola”, possui uma área maior do que a Bélgica. É evidente que esta área nunca será
“agricultável”, para esta companhia. Trata-se de monopólio de terra, reservas garantdas para
um futuro desconhecido. O congresso precisa aceitar algum tpo de reforma agrária, para
que se inicie democratcamente algum procedimento de redistribuição das terras agrícolas
do país. O avanço da produção rural via reforma agrária mudaria por completo a produção
material em uma ou duas décadas, saindo o país da condição atual de quase miséria para
uma pobreza decente. A agricultura é uma invenção dos trabalhadores agrícolas. Não é
muito inteligente julgar que somente a massifcação de capital na mesma possa levar à
melhoria de seus resultados, como se faz na agricultura de exportação. A prátca social, a
observação e a invenção dos próprios agricultores é tão ou mais importante que os recursos
externos. No entanto, só a organização democrátca da propriedade e da produção agrícola

388
podem fornecer os meios para ampla troca de experiências e evolução positva da produção.
O produtor individual não raciocina nem produz da mesma maneira que o capitalista. Diz Isac
Rubin:

“Mas, numa economia mercantl simples, os produtores não são conscientes da categoria lucro. Eles
não encaram seus meios de produção como capital que deve render uma dada taxa de lucro, mas
como condições para acionar o trabalho que confere a cada produtor de mercadorias a possibilidade
de colocar seu trabalho em igualdade de condições com o de outros produtores de mercadorias, isto
é, em termos ou condições em que iguais quantdades de trabalho vivo proporcionam valor igual.”

“Suponhamos agora que os capitalistas, e não os pequenos produtores mercants, são dominantes
na economia. As demais condições permanecem inalteradas. O valor do produto global e o valor dos
fundos individuais em que ele se divide permanecem inalterados. A diferença é que o fundo para
consumo e produção expandidos (ou mais-valia) não permanece nas mãos de produtores diretos, mas
nas mãos de capitalistas. O mesmo valor social total é distribuído de maneira diferente entre as
classes sociais. Como o valor do produto de esferas individuais de produção não se alterou, a mais-
valia está distribuída nas mesmas proporções que antes entre as esferas e os capitalistas individuais.
Os capitalistas em cada uma das cinco esferas obtêm: 20, 30, 40, 15 e 5. Mas eles calculam essas
massas de mais-valia sobre o capital investdo total, que é de 100 em cada esfera. Como resultado, as
taxas de lucro são diferentes. Elas só podem ser diferentes devido à ausência de concorrência entre as
esferas individuais de produção.”

“Finalmente, passemos do capitalismo hipotétco para o capitalismo real, onde existe concorrência
de capital entre diferentes esferas de produção. Aqui, são impossíveis taxas de lucro diferentes,
porque isso provocaria um movimento de capital de uma esfera a outra, até que todas as esferas
tvessem a mesma taxa de lucro. Em outras palavras, a distribuição da massa anterior de mais-valia
entre as diferentes esferas e entre capitalistas individuais será agora diferente; será proporcional aos
capitais investdos nessas esferas. A distribuição da mais-valia se modifica, mas o valor total do fundo
de consumo e reprodução ampliados permanece inalterado. A massa anterior de mais-valia se
distribuiu agora entre os capitalistas individuais segundo o tamanho de seus capitais. A taxa média
de lucro é obtda desta maneira. É determinada pela relação entre a mais-valia total e o capital
social total.”

Um país da dimensão do Brasil, com quase 800 milhões de hectares e uma população de 77
milhões de habitantes, um PIB de 20 bilhões de dólares, pode perfeitamente não só suprir-se
localmente de todas as necessidades básicas, como até fazer parte do “celeiro do mundo”,. A

389
manutenção de estruturas ultrapassadas, contudo, que benefciam apenas um número
escasso de pessoas, serve de barreira ao desenvolvimento econômico e social. Informa o
Banco do Brasil:

Imposto de Importação e de Renda.

Bilhões de cruzeiros.

IMPORTAÇÃO RENDA TOTAL

1957 2,7 27 29,7

1958 13 32 45

1959 19 46,4 65,4

1960 22 62,2 84,2

Cifras arredondadas.

Trata-se de um país, apesar do processo infacionário, com uma massa de recursos que
pode ser encarada positvamente, sem pessimismo, como uma alavanca para avançar no
desenvolvimento. No entanto, o governo Jânnio, no lugar de se dedicar às tarefas do
desenvolvimento, propiciou um “choque econômico”, no país, através da nova polítca da
SUMOC, com a famigerada portaria 204, de “verdade cambial”,. (13-05-1961). Em
consequência, as importações de trigo, petróleo, equipamentos básicos, papel de imprensa e
fertlizantes elevaram em muito seus preços fnais aos consumidores internos,
desencadeando-se uma alta generalizada nos preços, com a chamada “corrida infacionária”,.
Isso prova a necessidade de o governo, através do poder executvo e o congresso,
implementarem reformas das relações de produção atrasadas, que bloqueiam a
democratzação da propriedade e a consequente elevação da produção doméstca. A
maneira de lançar o custo da dominação externa e interna sobre o povo nada muda. Faz-se
necessário tomar medidas que modifquem de fato ao menos parte das estruturas do país,
para estmular o desenvolvimento. A economia agrária deve consttuir parte imediata desse
esforço de mudança.

390
6 – Conclusão.

Nesta aula aprendemos que a situação do trabalho e da produção no campo não é um


fenômeno isolado, que interesse apenas aos brasileiros. O latfúndio é uma forma histórica
atrasada, que não poderia subsistr sem o apoio de forças estrangeiras, tanto as
sobreviventes daquelas que o engendraram há centenas de anos, quanto o capital fnanceiro,
que engorda nele se cevando.

Aprendemos que a reforma agrária é profundamente democrátca, e em nada prejudica a


burguesia capitalista produtva, os camponeses médios e os camponeses sem-terra, muito ao
contrário. Compreendemos que a miséria no Brasil deriva da baixa produtvidade rural, de
seu caráter extensivo nas culturas e intensiva em trabalho. A liquidação do atual poder
agrário e a transformação da agropecuária iria rapidamente elevar a qualidade e a
quantdade da produção rural, baixar os preços relatvos dos produtos e tornar a população
mais bem alimentada e mais rica.

Perguntas.
1 – Que entende por poder agrário?
2 – Quais as classes que têm interesse na mudança no campo brasileiro?
3 – O que é a agricultura familiar?
4 – Qual o traço principal de uma reforma agrária?
5 – Por que a transformação da agropecuária brasileira tem um caráter democrátco?
6 – O que pode defnir como tendência ao acamponesamento do campo?
7 – Por que o agro deve ter insttuições próprias bancárias, de máquinas e de tecnologia?
8 – Que tpo de governo pode iniciar a reforma agrária?
9 – Como o capital fnanceiro promove o atraso em um país?
10 – Como o agro atrasado promove a infação na economia?

391
Aula 10

392
1 0 – O Desenvolvimento Econômico do País.

A economia burguesa se divide em dois campos: (1) os partdários da chamada economia


psicológica ou ahistórica e (2) os partdários da economia social. Os seguidores da escola (1)
surgiram no século XIX, como uma reação à escola marxista e tveram como seus principais
centros de elaboração teórica e divulgação Viena, Bruxelas e Londres. Mais tarde, as
universidades norte-americanas seguiram suas tendências. Seus principais ramos são os
neoclássicos e os marginalistas, de que derivaram diversos grupos entremeados. Os
neoclássicos procuraram restaurar a economia clássica critcada por Marx. Para isso, alijaram
o conhecimento histórico, o método histórico e enveredaram por um posicionamento muito
pobre. O grupo (2), dos partdários da economia social, teve um desenvolvimento mais
competente. Embora sem apresentar uma unidade de pensamento, têm muitos méritos. A
maioria respeita um fundamento histórico de disciplina. Na totalidade, se recusam a
descrever os processos econômicos como produto de supostas racionalidades psicológicas
baseadas num indivíduo imaginário (o famoso Robinson Crusoé como modelo). Adotam a
estrutura de classes da sociedade como base de análise e procuram desenvolver métodos
empíricos para calcular os fenômenos, como a lei das probabilidades. A boa parte desses
economistas estuda as insttuições vigentes como refexos e interveniente da base
socioeconômica.

Neste século em nosso país, vigorou sempre um esforço para fortalecer o segundo grupo,
até a segunda guerra mundial (1889-1950). De lá para cá, por infuência norte-americana,
avançaram no comando dos órgãos públicos os seguidores da primeira corrente, quase todos
de formação fnancista e que ignoram ou buscam ignorar o caráter de tratar com a realidade,
que deve caracterizar a abordagem econômica. Quadros que serviram a Getúlio Vargas em
sua ditadura, e que então pertenciam ao segundo campo citado de administradores,
bandearam nos governos Dutra e Café Filho para o primeiro campo e hoje governam sob a
inspiração da bandeira norte-americana. A visão desses indivíduos tornou-se em absoluto
prejudicial ao país e ao povo. Ao enfrentar o caráter global dos problemas econômicos do
mundo atual, não se situam no campo do povo brasileiro, mas no campo da guerra fria, em
que veem o Brasil como uma reserva do imperialismo para combater o socialismo, a que
chamam “cortna de ferro”,.

393
1 - O Processo de Industrialização.

Os partdários da economia social na América Latna formam um campo sólido de


pensadores, liderados por Silva Herzog, Noyola Vasquez e Raul Prébisch. No Brasil, seus
expoentes são Rômulo de Almeida e Celso Furtado. Esses economistas têm elaborado
programas econômicos nacionais para diferentes países latno-americanos. Rômulo de
Almeida é o autor da Petrobrás, materializada pelas lutas das forças nacionalistas, nas quais
teve forte partcipação o nosso partdo. Celso Furtado é o conhecido encaminhador da
SUDENE.

Com base numa análise de conjuntura rigorosa de membros atvos da parte nacionalista, o
bloco de forças popular tem um programa que analisa solidamente as peculiaridades da
economia brasileira e é capaz de apresentar sugestões em todos os aspectos da luta pelo
desenvolvimento econômico-social. Isso deixa irritados os líderes da reação, que não
podendo ou não desejando apresentar um programa para as reformas necessárias ao país,
limitam-se a impedir mudanças e desencadear campanhas difamatórias. O programa da
direita é manter tudo como está e, quando possível, regredir um pouco, rumo ao passado.
Notável jornalista comentou que, se puderem, os direitstas voltam para a caverna. Nosso
partdo tem o ponto de vista contrário. Para nós, trata-se de implantar o progresso, melhorar
a vida das pessoas, ampliar as liberdades. Como a direita não pode competr conosco em
melhorias sociais, em soluções positvas para os problemas, toma o caminho da mentra, da
difamação e do ódio. A direita é ódio em estado puro. Não consegue fazer concessões ao
programa dos nacionalistas progressistas e democratas. Já conosco é totalmente diferente.
Estamos sempre prontos ao diálogo. Não pretendemos impor o nosso programa a ninguém,
lutamos apenas pelo direito de divulgá-lo entre as massas do povo. Sempre nos dispomos ao
debate com quaisquer forças, com base no respeito e no aconselhamento mútuo. Por isso,
temos boas relações com todas as forças de esquerda, forças democrátcas e patriótcas. No
estabelecimento de apoio a um programa comum, esclarecemos o porquê de nossas
diferenças e procuramos apontar com simplicidade e honestdade onde por acaso se
equivocam nossos companheiros de frente única. Não podemos colocar as nossas opiniões
acima dos interesses imediatos do povo brasileiro. Apoiamos qualquer mudança para
melhor, mesmo que a ideia não tenha partdo de nós, ou de nossos aliados.

394
O Brasil é um país que vinha se industrializando, desde que abandonou a carga inútl de
uma sociedade escravista (1888-1929). Tivemos surtos de industrialização, durante a
primeira guerra mundial, e na fase 1924-1929. No entanto, foi com a crise do mercado
mundial e o recuo temporário da economia imperialista (1929-1945) que o país avançou em
sua industrialização com mais força. O recuo da capacidade de compras no exterior com a
crise de 1929, a perda do poder aquisitvo doméstco, etc., obrigaram o governo e as classes
dominantes (parte delas) a novas adaptações, que desenvolveram as relações de mercado
interno e melhoraram as condições de vida das classes a ele correlacionadas. Esta
industrialização recente do Brasil foi percebida pelas forças pró-imperialistas no após-guerra
e estes elementos veem procurando: (a) assumir o controle do processo industrial
doméstco, através de sua internacionalização; e (b) impedir reformas, ajuda externa,
medidas organizatvas, etc., que façam prosseguir o crescimento da economia.

O capital industrial não monopolista, que não pertença ao capital fnanceiro, só pode
sobreviver se estver em expansão. A manipulação da economia em favor do capital
fnanceiro mata o crescimento da economia e leva consequentemente à estagnação. Por isso
a luta do setor entreguista (latfúndio, burguesia comercial) para a abertura em excesso da
economia e a resultante inviabilização do crescimento industrial. A luta pela sobrevivência
desse setor de burguesia nacional, nas condições atuais de correlação de forças, converge
para os interesses das massas populares e recebe, portanto, o apoio de nosso partdo, no
plano da mobilização e das reformas.

A juventude brasileira despertou com o processo recente de industrialização, com a vitória


da democracia na segunda guerra mundial e espera consequentemente que o Brasil contnue
mudando e seja capaz de oferecer condições de vida e de trabalho muito melhores que as
atuais. O desejo de progresso é hoje generalizado. Economicamente, apesar do progresso
obtdo no período 1933-1960, o país ainda se encontra no 4º grupo de renda, aquele dos
países de renda per capita entre 201 e 350 dólares (norte-americanos). Com o potencial que
possui, o país pode alcançar uma posição muito melhor, o que resultaria das reformas de
base há muito ansiadas. Seria elevar a qualidade de vida, o consumo de energia, reduzir a
mortalidade infantl e o analfabetsmo, etc. De 1953 a 1962, o país cresceu 5,2% em média
anual. Já crescemos mais no passado e poderíamos voltar a fazê-lo como efeito das reformas
de estrutura. Por exemplo, se o país crescer a uma taxa média anual de 7%, em 10 -11 anos,

395
dobraríamos o nosso PIB e a grande maioria teria melhorado sensivelmente de padrão de
vida.

Sabemos que a industrialização do país é o único caminho que pode propiciar esta
oportunidade de ampla melhoria de condições de vida. Isto é-nos ensinado pela história
recente de outros povos, com a revolução industrial, e com nossa própria experiência, na
fase recente de colapso do comércio internacional. Deve-se, portanto, empreender um forte
movimento de massas em apoio de nosso processo de industrialização, defesa do emprego
industrial e luta frme pelo processo de reforma agrária, que abrirá caminho a mais
industrialização.

No recente governo do presidente Jânnio, ao eliminar sumariamente o cânmbio múltplo, o


argumento foi que seria eliminado o défcit fscal do país, com elevação das receitas e
pratcamente o “enriquecimento”, das atvidades do café e do cacau. Dizia o governo que a
melhoria do setor exportador reduziria a dependência das importações e estmularia o
crescimento econômico. Todos se lembram da afrmação de Jânnio:

“No caso do petróleo e derivados, um acréscimo de 100% na taxa cambial respectva, 100%, o
dobro, que, acompanhado por um acréscimo proporcional na arrecadação do imposto único a favor
do Governo, e, assim, a favor do povo”, deveria “provocar um aumento de apenas 2% no custo do
gênero de primeira necessidade.”

Quanto à situação do trigo, declarou o então presidente:

“A alta de preços não se elevaria acima de três ou 4% no máximo e que era apenas de 18% a cota
de partcipação daquele produto importado no preço do pão.”

“Lembrava ainda que o aumento do câmbio para 200 cruzeiros iria provocar o ‘aumento do preço do
papel de imprensa’. Nesse momento, apresentou aos telespectadores um exemplar do jornal ‘O
Estado de São Paulo’, e disse laconicamente: ‘Este é um exemplar de um jornal de nossa Pátria, no
domingo. Parece um volume de 130 ou 140 páginas declaradas, com subsídio que todo o povo paga
inclusive sua metade de analfabetos.”

“A elevação do custo de 100 para 200 cruzeiros em dólar deverá proporcionar ao País uma receita
adicional de 60 bilhões de cruzeiros, embora legalmente destnada à defesa e à recuperação das
lavouras de café e de cacau e aos investmentos em rodovias.”

396
Quanto à gasolina, insista Jânnio:

“Na hipótese mais desfavorável, a gasolina representa somente 15% do custo total dos transportes
rodoviários, no qual foi considerado o tráfego em estradas pavimentadas, que são aquelas em que o
gasto de combustvel é proporcionalmente mais elevado.”

“E exemplificava que ‘a uma distância da ordem de dois mil quilômetros, o frete’ representava ‘em
média 13 a 14% de valor das mercadorias carregadas. Se for dobrado o preço da gasolina, o custo
dos produtos conduzidos por caminhão, que são os mais fortemente atngidos pelo reajustamento
dos preços de petróleo e derivados, não deverá subir além de 12%.”

Infelizmente, tais promessas não se viram cumpridas. Jânnio prometa reformas, mas não
esclarecia o conteúdo das mesmas. Disse ainda:

“O desenvolvimento econômico só é admissível em ambiente de justça social. A lei anttruste, a de


reforma bancária, a de lucros extraordinários, a do imposto sobre a renda e a da remessa de lucros,
alguns exemplos, vão ser propostas ou revistas pelo Governo; e, dentro de pouco tempo, estarão
encaminhadas ao Congresso Nacional.”

“Que todos se detenham nas suas ambições; que todos sofram seu egoísmo, que todos sofram sua
cupidez. Que todos, sobretudo os poderosos, e na produção das suas riquezas e do seu prestgio,
ofereçam a sua contribuição à coletvidade, à empresa democrátca, ao povo, à Pátria, ao Deus da
nossa fé. Até à vista, brasileiros.”

A imprensa e os poderosos apoiaram Jânnio. Disse o Diário de Notícias:

“A alteração da polítca cambial evidencia o sentdo da orientação do Presidente Jânio Quadros no


campo econômico-financeiro. Ajustam-se às medidas em relação ao orçamento da União. As
restrições adotadas no campo orçamentário complementam-se, por assim dizer, com a elevação do
câmbio de custo, que deverá proporcionar uma receita adicional de 60 bilhões de cruzeiros.”

Não explicava que tais 60 bilhões sairiam dos bolsos das pessoas comuns, em troca dos
supostos mesmos bens que vinham comprando antes a preços inferiores. Não cogitava na
queda do consumo, nem que a maioria da elevação dos preços iria – como sempre – parar
no bolso dos atravessadores (eles próprios deputados ou membros do governo).

397
Otávio de Bulhões, da SUMOC, declarava:

“A manutenção da taxa de câmbio abaixo do nível real representava um privilégio que só se


sustentava através da emissão de papel-moeda, últmo recurso de que podia lançar mão o Governo
para cobrir a diferença do subsídio dado à importação.”

E insiste o Diário de Notícias:

“As repercussões da medida foram cuidadosamente estudadas para que o Governo agisse
conscientemente, sem deixar de atentar para os seus efeitos sobre o nível dos preços.”

Se o governo Jânnio havia “atentado”, para o desempenho do nível dos preços, então não
falou a verdade quanto às portarias 204 e suas sucedentes. Dizia o redator econômico do
Correio da Manhã:

“A elevação do câmbio de custo de 100 para 200 cruzeiros deverá levar ao Erário outros 60 bilhões
de cruzeiros. Além disso, o aumento do dólar fiscal deverá acarretar uma elevação superior a 10
bilhões de cruzeiros na arrecadação alfandegária da União e, por sua vez, a elevação do câmbio de
custo implicou o aumento da incidência do imposto único sobre combustveis e lubrificantes, levando
para os cofres da União outras dezenas de bilhões de cruzeiros. Finalmente, o esquema preconizado
para exportações de café e de cacau deverá fornecer cerca de 30 bilhões de cruzeiros, uma vez que a
grande maioria desses produtos exportáveis, até meados do ano, é de propriedade da União.”

Tirando as exportações, tudo sairia do bolso da pessoa da rua. Como isso iria melhorar sua
vida? Dizia mais desconfado o Jornal do Brasil:

“A majoração de 100% no custo de câmbio e a própria forma como foi anunciada, procuram
transmitr à coletvidade o tom emocional em que ela foi gerada, provocando, certamente,
inquietações e tamanha tensão que talvez venham a ser anulados aqueles efeitos corretvos a que se
propõe. De 1958 a 1959, o reajustamento do custo de câmbio de 50 a 100 cruzeiros foi realizado em
três etapas e, ainda assim, ocasionou um impacto de 50% no custo de vida.”

“Sua Excelência cobra ao presente – contnuava o ‘Jornal do Brasil’ – um preço que não só está
muito acima das possibilidades imediatas do responsável final, que é o povo, como discutvel também
seria admitr a justeza, da cobrança que se exige de uma só vez.”

Tais medidas não impediram a transferência de capitais, juros e de lucros para fora do país,
como alegara o então presidente Jânnio. O equilíbrio “fscal e monetário”, parece que se

398
recusou a surgir por efeito das portarias da SUMOC. Sucederam-se as “instruções cambiais”,;
e os que tnham poder foram buscar suas exceções:

“ Instruçees da Superintendência da Moeda e do Crédito.”

“Anexo nº II Instrução nº 204, de 13 de março de 1961


Anexo nº III Instrução nº 205, de 12 de maio de 1961
Anexo nº IV Instrução nº 206, de 22 de maio de 1961
Anexo nº V Instrução nº 208, de 27 de junho de 1961
Anexo nº VI Instrução nº 215, de 25 de setembro de 1961
Anexo nº VII Instrução nº 218, de 9 de outubro de 1961
Anexo nº VIII Instrução nº 220, de 18 de novembro de 1961
Anexo nº IX Instrução nº 221, de 15 de dezembro de 1961
Anexo nº X Instrução nº 226, de 18 de maio de 1962
Anexo nº XI Instrução nº 227, de 18 de maio de 1962”

Segundo a própria SUMOC, a Instrução 204 assim se explica:

“ 7. Visava-se a estabelecer um sistema em que as importações de menor essenciabilidade pagassem


um ágio em favor daquelas que gozavam de um câmbio favorecido. E quanto aos produtos
exportáveis, que o deságio sofrido pelos das primeiras categorias compensassem o maior contravalor
pago aos das últmas.”

“ 8. Com a infação dos meios de pagamento, as taxas começaram a distanciar-se progressivamente


entre si de tal modo que, no primeiro semestre de 1961, a distorção dos preços atngia níveis
apreciáveis. A gasolina, por exemplo, que se beneficiava do câmbio favorecido, custava preço módico
aos seus usuários, enquanto seu custo verdadeiro recaía sobre os consumidores em geral, através da
elevação do preço das utlidades e mercadorias importadas pela categoria especial e, principalmente,
geral, as quais, em virtude dos ágios pagos nos leilões de divisas, atngiam alto custo. Os
exportadores, por sua vez, reclamavam o contravalor em cruzeiros pago por dólar, considerando-o
demasiado baixo em vista da perda de poder de compra da moeda nacional, desestmulador de suas
atvidades.”

“ 9. Em março de 1961, o Governo dispôs-se a rever sua polítca cambial, com vistas a restabelecer o
mercado livre de câmbio. Baixou, por isso mesmo, a Instrução nº 204, de 13.3.61, posteriormente
modificada e complementada. Em consequência, o mercado de câmbio do país passou a apresentar a
fisionomia espelhada nos tópicos adiante.”

399
“ 10. A venda de divisas em público pregão, nas Bolsas de Valores, passou a vigorar apenas para as
importações de mercadorias da categoria especial, entendidas estas como os bens de consumo
restrito e outros bens de qualquer natureza, cuja produção interna fosse satsfatória, cabendo ao
Conselho de Polítca Aduaneira listá-los.”

“ 11. Sobre as importações dessa categoria passou a incidir um recolhimento ao Banco do Brasil S.A.,
em moeda nacional, de importância equivalente ao contrato, contra a entrega de letras de emissão
daquele estabelecimento de crédito a 150 (cento e cinquenta) dias, a favor do importador e vencendo
juros de 6% a.a. Mais tarde foi o recolhimento elevado para 150% (cento de cinquenta por cento) e
depois reduzido para 80% (oitenta por cento). Quando as letras do Banco do Brasil S.A. foram
extntas, os recolhimentos passaram a ser resttuíveis em dinheiro, sem juros, no prazo de 5 meses, ou
em Letras do Tesouro (Série B), vencíveis em 1 ano e 8% de juros. Hoje em dia, o teto está fixado em
80%, para resttuição em dinheiro no prazo de 240 dias, ou 60% em Letras do Tesouro (Série B),
vencíveis no prazo de 1 ano e 8% de juros. As importações de petróleo, trigo, equipamentos básicos,
papel de imprensa e fertlizantes, contudo, estão isentas desses recolhimentos.”

“ 12. Objetvam as Autoridades Monetárias com esses recolhimentos: a) – retrar fundos do setor de
importação, com vistas a, diminuindo passageiramente suas disponibilidades, aliviar a pressão da
procura sobre o mercado de câmbio; b) – transferir tais fundos para o banco oficial, para
atendimento de necessidades do Tesouro; c) – frear ou desacelerar, por via de consequência, a
expansão dos meios de pagamento.”

“ 13. O mercado de câmbio preferencial ou de taxa fixa sofreu nestes três anos gradual e progressivo
processo de eliminação até alcançar paridade com a taxa de mercado livre.”

Quanto à leitura do tópico 13, ela também poderia ser feita dizendo que, ao só restar o
“cânmbio livre”,, a taxa levou três anos para futuar até ele. E qual a metodologia que a SUMOC
adota para alcançar seus objetvos? Pode-se entender melhor com a leitura do tópico 5:

“ 3. As modificações da estrutura econômica, em realidade, no caso brasileiro, conquanto previstas


ou previsíveis em inúmeras hipóteses, se têm processado com surpresas em muitos setores. De
quando em quando se faz presente a necessidade de criar um estmulo, de evitar o entorpecimento de
determinado ramo de atvidade, de não deixar se sufoque no nascedouro uma atvidade pioneira
capaz de frutficar. Ao lado disso, não tendo sido ainda viável controlar eficazmente a infação; diante
de fatos concretos e insofismáveis, como a explosão demográfica (mais de 3 milhões de indivíduos
acrescendo anualmente a população, e mais de 1 milhão deles incrementando a força de trabalho do
país); com um território rico de possibilidades econômicas, porém com um mercado interno de

400
capitais extremamente rarefeito em relação àquelas possibilidades; com uma área de dimensões
contnentais, e uma topografia acidentada, que torna difceis, caros e demorados os projetos de
fortalecimento da infraestrutura econômica; tudo isso faz com que a Administração Pública Superior
se veja permanentemente a braços com desajustes que a obrigam a recorrer a métodos e processos
de adaptação, muito mais que a métodos e processos de inovação, que pressupõe pesquisa e
planejamento, conhecimento técnico geral e especializado, censos e estatstcas rapidamente
atualizados, sistema de comunicações eficiente, etc.”

“ 4. A atualização de nossos códigos básicos e a modernização de nossos insttutos de Direito têm


sido preocupação séria da Administração Pública Superior, e trabalhos de grande envergadura estão
prontos ou em fase de formulação, objetvando a reforma dos Códigos Comercial, Civil, e outros. Um
projeto de reforma bancária está sob exame do Congresso Nacional, contemplando a estrutura e o
funcionamento dos Estabelecimentos bancários no país. Uma reforma tributária de âmbito federal,
com base num Código Tributário, já foi presente ao Poder Legislatvo, de par com outras proposições
de caráter normatvo geral pertnentes a diversos outros setores da economia nacional.”

“ 5. Basicamente temos de confessar nossa carência de capital e de técnica, esta a atngir


pratcamente todos os setores, inclusive a administração pública e privada.”

“ Para contornar as dificuldades que surgem a cada passo, temos de valer-nos da improvisação, do
empirismo, mas muito mais do bom-senso e das lições do passado, o que se não ajuda a justficar os
erros em que temos incorrido, pode de algum modo explicar ou tornar compreensível o esforço das
equipes dirigentes no sentdo de dar seguimento a um anseio generalizado de nosso povo, que é o de
progresso econômico, de novas conquistas sociais, de afirmação de uma nacionalidade coesa e forte
nos trópicos americanos.”

“ 6. Seria quase impratcável tentar resumir todo o conjunto de alterações que, de 1960 até aqui,
foram introduzidas em nossa legislação monetária, cambial, creditcia e bancária, tendo em conta
que elas ocorreram muito mais em pontos secundários ou de menor interesse relatvo.”

Infelizmente os louváveis esforços da SUMOC nem sempre foram compreendidos pelos dela
benefciários, como se expressou o deputado Océlio de Medeiros:

“A apressada expansão da nossa polítca exterior, não para a conquista de novos mercados, mas
apenas para desvio dos nossos mercados tradicionais, criando a possibilidade de uma competção
que é usada apenas como um expediente para a obtenção de maiores auxílios do Governo
americano, pois não temos outros excedentes além do café e a oferta de outros excedentes para

401
atender à pressão da demanda externa, está na dependência de medidas internas de estmulo à
produção, que, neste ano, ainda não se fizeram sentr.”

“Até o presente momento só se conhecem os aspectos negatvos da polítca defacionária do


Ministro Clemente Mariani. Essa polítca só veio beneficiar os que acumularam nos bancos
partculares de depósitos os excessos dos lucros resultantes das emissões e dos gastos infacionários
do Governo passado. Favoreceu os agiotas, os ricos, que se tornaram mais ricos pela valorização dos
seus acúmulos em moeda corrente, os que amealharam cruzeiros infacionários e entesouraram
dólares conseguidos, na maioria das vezes, pelas fraudes cambiais, além daqueles que puderam
desviar os seus depósitos para a compra das letras de importação.”

“Enquanto isso, milhares de comerciantes e industriais necessitados batem às portas dos bancos a
esmolar créditos em bases comerciais e financeiras com amortzações de desespero. Milhares de
pessoas estão com ttulos e promissórias vencidos, à espera da ordem patriarcal de reforma; os juros
se acumulam sem poderem ser saldados. As carteiras de empréstmos e financiamentos não operam,
com a desculpa de que os bancos estão em fase de balanço.”

Faltou ao deputado indicar que vários daqueles banqueiros que iriam conceder os
empréstmos em condições leoninas fnanciaram a campanha de Jânnio, são seus ministros ou
seus apoiadores. A burguesia comercial controlou frmemente o governo Jânnio, após operar
“negócios da China”, no governo JK. A força do bloco imperialismo – burguesia comercial –
latfúndio é difcil de quebrar, mas não será com medidas pensadas pelos membros desse
bloco que o Brasil vai caminhar para o desenvolvimento econômico e social e para um perfl
internacional independente.

No caso econômico atual mais complexo, pode-se interpretar a instrução 204 e algumas de
suas sucedentes como bloqueadoras do consumo interno, desejando atvar em 1961 uma
queda da capacidade de importar semelhante àquela de 1930-1932. Não obstante, a medida
em nossos dias, além de artfcial e não objetva, o que já suscita resistência, se efetvada
(como foi o caso) atnge também o processo industrial, dependente externo de máquinas,
equipamentos, bens intermediários e técnicas. É o que a SUMOC parece querer dizer,
quando se refere a empirismo. Nesse caso, estamos fazendo uma interpretação benévola,
não entreguista, da atuação da SUMOC junto ao governo Jânnio. De fato, é muito mais difcil
prosseguir a industrialização do que coadjuvá-la em seus passos iniciais.

402
No entanto, diferentemente da década de 1930, nem o café, nem o cacau, nem o processo
de industrialização têm hoje, cada qual, o fascínio de atrair grandes investmentos por efeito
de exportações. O café e o cacau têm fortes concorrentes no plano externo. O setor
industrial, mais ainda. No caso da indústria, a Europa e o Japão estão a completar a sua
recuperação e difcilmente estão interessados em colaborar com concorrentes potenciais de
seus produtos coloniais, ou de suas indústrias recém-recuperadas. A grande esperança da
industrialização brasileira é voltar-se para dentro, para seu público consumidor, através de
reformas de ampliação da renda que permitam que o brasileiro se torne consumidor. Pouco
a pouco o impulso da expansão será retomado, depois do difcil período do pós-guerra
coreano (1953-1962). O Brasil deve se inserir em nova perspectva de crescimento, aliando-
se à sua população e desenvolvendo novas complementaridades dentro da América do Sul.
Esta visão é mais realista do que esperar apenas por investmentos norte-americanos e
europeus.

As perdas em moeda estrangeira não serão resolvidas, imaginando saltos radicais de


produtvidade ou choques econômicos fscais e cambiais no estlo SUMOC. Nada há a esperar
daí, senão a reprodução do atraso. A desvalorização da moeda nacional contnua a elevar os
preços dos bens industriais importados e a oportunidade para expandir o mercado interno
contnua a existr, desde que se expanda o crédito doméstco e a produção local dos insumos
por ele, crédito, favorecida.

É preciso, pois, periodicamente reconstruir as fontes de acumulação de lucros. É um debate


intenso e uma luta polítca aberta para ganhar o capital industrial doméstco para esse
caminho de novas medidas. Nessa luta, a SUMOC tem sido uma entdade reacionária. Por
exemplo, o começo da reforma agrária abre uma frente de suprimento adicional para a
mecânnica pesada, a indústria de materiais elétricos, a construção civil e a indústria
automotva (tratores, máquinas, etc.).

O discurso da SUMOC de que o avanço da industrialização requer “equilíbrio fscal e


monetário”, e conjuntura internacional favorável contradiz a experiência histórica, a vida
vivida. Os EUA, por exemplo, após a crise de 1929-1932, recuperou-se apenas quando
aplicou gastos excessivos, renunciando na prátca ao “equilíbrio fscal e monetário”,. Quanto
ao Brasil, pode-se dizer o mesmo dos anos 40 e 50. O exemplo mais recente foi a elevação

403
dos gastos no governo JK, medida que permitu escapar à crise contnental de 1958 até aqui.
Na verdade, com a exceção da Inglaterra, todos os países que se desenvolveram tveram um
período longo de endividamento e desequilíbrio, a ponto de inúmeros especialistas em
desenvolvimento econômico atribuir o mesmo ao desequilíbrio, e não ao equilíbrio hoje
preconizado pelos teóricos que pratcam uma coisa e aconselham outra.

2 – As Deformações do Processo de Desenvolvimento.

Todo processo de desenvolvimento da base econômico-social é feito com o sacrifcio da


população, em partcular os mais pobres e os trabalhadores. No caso brasileiro, a
industrialização valeu-se de uma conjuntura internacional desfavorável ao estado de coisas
então vigente, valendo-se de estímulos dados ou inventados pelo governo da “revolução de
30”,, que sofria a hostlidade das forças conservadoras ao efetuá-los. Pesados custos,
portanto, tveram tais estímulos para a população comum e muito pouco para as classes
dominantes.

O Brasil logrou com isso lançar uma expansão considerável das indústrias de bens de
consumo (1933-1953), a que somou em certa medida uma expansão da indústria pesada
(1944-1958). Implantou-se assim, o que tem sido chamado indústria substtuidora de
importações. A expansão das obras da infraestrutura, da siderurgia pesada e do setor
elétrico, com novas empresas nacionais, conduziu o processo de industrialização a um ponto
onde agora são requeridos volumes muito maiores de investmento. Neste ponto, o custo do
capital estrangeiro e até sua “raridade”, parece haver se tornado excessivo. É bem verdade
que isso é expressão de um ciclo (fm de uma expansão começo de uma crise). No entanto, a
temperatura polítca de um país atrasado não pode suportar a realidade das crises
econômicas.

No Brasil, as crises polítcas tendem a preceder as crises econômicas no período de


industrialização. A necessidade de intensa acumulação de capitais leva à manipulação em
excesso do mecanismo cambial. Ordenhar uma vaca de hora em hora não aumenta a
quantdade do leite obtdo. Entre 1948 e 1953, importou-se grande quantdade de
equipamento industrial ao cânmbio de custo (Cr$ 18,32), com perda de poder aquisitvo

404
correlato da moeda local no mercado interno. Dessa forma, os produtos industriais elevaram
seus preços no mercado interno sem outras obrigações ou concorrência. Não obstante, da
massa de ganhos, a parte maior foi para os bolsos dos bancos e dos estabelecimentos
comerciais, por atvidades atravessadoras, fcando a menor parte dos ganhos com o capital
industrial, que logo apresentou difculdades de investmento. Favoreceu-se também a
penetração do capital estrangeiro que assumisse a forma de capital industrial, com as
Instruções 70 a 113 da SUMOC.

Volume das Importações em Bens de Capital.


1947 – 270 milhões de dólares
1952 – 573 milhões de dólares

Essa polítca fortemente favorável à industrialização foi reforçada com o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE). Havendo em funcionamento no país a Fábrica Nacional
de Motores (FNM), enormes recursos públicos têm sido facilitados para o estabelecimento
de um setor de produção (parcial) automotva (principalmente automobilístca). Assim,
favores fscais, fnanciamentos, favores cambiais e de tributação, etc., foram concedidos aos
setores privados, ao lado da criação de empresas públicas industriais. Estas últmas
produzem bens que são utlizados como insumos de sua produção (combustível, eletricidade,
etc.) Veja-se na tabela abaixo, com dados da F.G.V.:

405
ÍNDICES ECONÔMICOS NACIONAIS – Base: 1953 = 100

PRODUÇÃO INDUSTRIAL
TRANSFORMAÇÃO
Número de Ordem

ComunicaçõesMaterial Elétrico e

Material de Transporte
De minerais não metálicos

Papel e Papelão

Couros e Peles
Metalúrgica
Total Geral

Mobiliário
Mecânica
PERÍODO

Borracha
Madeira

Química

Têxtl
Total

Dados 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27
Anuais
1 1944 . . . . . . . . . . . . . .

2 1945 . . . . . . . . . . . . . .

3 1946 . . . . . . . . . . . . . .

4 1947 60 59 50 40 . . . . . 59 54 81 37 78

5 1948 67 66 61 50 . . . . . 64 58 89 56 82

6 1949 74 73 66 60 . . . . . 74 66 91 61 88

7 1950 82 82 72 76 . . . . . 85 77 93 69 93

8 1951 88 87 75 84 . . . . . 90 84 99 92 90

9 1952 92 92 83 88 . . . . . 90 90 94 84 95

10 1953 100 100 100 100 . . . . . 100 100 100 100 100

11 1954 109 109 120 108 . . . . . 108 114 101 112 118

12 1955 120 121 129 109 100 100 100 . 100 114 117 99 262 124

13 1956 128 129 142 126 115 159 112 . 104 131 110 110 350 124

14 1957 136 136 141 117 110 156 249 . 95 124 115 114 357 109

15 1958 158 159 144 139 119 261 366 . 111 143 130 125 417 146

16 1959 178 172 159* 156* . 313* 530* . . 151* 154* 124* 429* 152*

17 1960 197 198 170* 164* . 385* 721* . . 163* 174* 138* 489* 166*

18 1961 219 220 182* 182* . 477* 800* . . 177* 171* 148* 538* 177*

* Dados provisórios - Fonte: FGV

Vê-se nitdamente que a evolução dos diferentes ramos é desigual, o que expressa não só
diferenças nas taxas de investmento e de lucros, como a tendência do capital para
concentrar-se nas atvidades mais lucratvas, provocando em seguida sua queda. O
crescimento desproporcional entre ramos é um dos fatores principais do crescimento
desequilibrado de tpo de capitalista, e o desenvolvimento do mesmo – de tempos em
tempos – em uma crise periódica, chamada academicamente “crise cíclica”,. No capitalismo

406
industrial, as crises cíclicas se dão em média a cada dez anos. No Brasil, as classes
dominantes costumam atribuir tais depressões objetvas a dois supostos fatores cambiais: (a)
“erros do governo”,; e (b) excesso de dinheiro na mão dos trabalhadores e dos pobres e, em
consequência, “excesso de consumo”, (...).

Não é o momento para que se possa rir de semelhantes interpretações. As decisões da


direita são tomadas com base nisso mesmo, e todas as forças democrátcas e progressistas
são chamadas para lograr colocar o debate no lugar correto. O problema central do nível do
investmento é a formação do capital fxo. O crescimento desproporcional dos ramos leva à
carência de investmentos produtvos nos sub-ramos que mais necessitam crescer, para
evitar “engarrafamentos”,, em que tais sub-ramos não logrem de fato fornecer os insumos
para os outros que crescem mais rapidamente. Não obstante, estes sub-ramos que fcam
bloqueados por escassez de investmentos dão menos lucro porque transferem em geral
fatas do que seriam os seus lucros para os ramos de produtos fnais, que elevam muito mais
seus preços de venda. Por exemplo, os automóveis fcam com uma fata que seria da
indústria do aço, as lojas de venda fcam com o que seria da indústria de eletricidade, etc.
Daí a necessidade de o governo assumir uma série de atvidades e de investmentos, para
desbloquear os “engarrafamentos”, que se sucedem aqui e ali, e levam à estagnação do
crescimento e à crise econômica. Portanto, o governo precisa permanentemente investr na
formação de capital fxo.

Mas como o governo terá recursos para investr se: (a) o capital estrangeiro remete lucros
desproporcionais aos ganhos que produz?; (b) os especuladores e atravessadores elevam os
juros e os custos de capital, colocando no exterior os seus grandes lucros?; (c) as exportações
ganham cada vez menos por tonelada exportada?; etc. O governo, para internar eventuais
ganhos do comércio exterior e manter a economia funcionando, vê-se obrigado a emitr
quantdades crescentes de dinheiro. Os recursos não infacionários (ágio e venda de moeda
estrangeira obtda por empréstmo) tende, de fato, a decrescer:

(como % da receita governamental)


1958 – 55%
1959 – 62%
1960 – 103%
1961 – 16%
407
Assim, o governo é obrigado a aumentar a emissão de dinheiro (como % da receita pública
federal):

1958 - 20%
1959 – 22%
1960 – 23%
1961 – 34%

Uma vez que tais emissões “causam”, ou “expressam”, infação, a capacidade


correspondente de compra (ou pagamento) do governo federal também decresce em termos
reais, apesar de elevar-se em termos nominais. E quanto ao “ganho das exportações”,? Veja-
se sua relatvidade na tabela abaixo:

Exportação brasileira (preço médio da tonelada exportada)

ANOS VALOR EM US$ QUANTIDADE EM PREÇO MÉDIO


MIL DÓLARES MIL TON. VALOR P/ TON. ÍNDICE
1948 1.159 4.658 249 67
1949 1.076 4.744 287 77
1950 1.330 3.819 348 93
1951 1.736 4.652 373 100
1952 1.392 4.091 340 91
1953 1.539 4.378 352 94
1954 1.562 4.290 364 98
1955 1.423 6.186 230 62
1956 1.482 5.751 258 69
1957 1.392 7.731 180 48
1958 1.242 8.297 150 40
1959 1.281 9.884 130 35
1960 1.269 10.608 120 32

Isso demonstra um comércio exterior, como examinou Raul Prébisch, em “crise estrutural”,,
ou seja, ocupa um valor cada vez menor na divisão internacional do trabalho. Claro que isso
é uma escolha das potências imperialistas, que formam o preço de compra dos países
atrasados. Um queijo francês ou holandês é “um produto industrial sofstcado”,, enquanto
uma saca de café é um “produto primário”,, mero “produto do terreno”,... Com esta
valorização, pagam cada vez menos pelos produtos que pouco ou nada produzem, mas
muito consomem. O Estado capitalista, é claro, buscará – como sempre – jogar o peso de
cada perda, de cada crise, nas costas dos trabalhadores e dos pobres. Mas tais difculdades

408
não são produzidas pelos trabalhadores. Eles estão, como sempre, trabalhando. Tais crises
advêm da estrutura capitalista de um país atrasado. Veja-se, daí, a situação do balanço
comercial brasileiro, com as mercadorias entregues na praça de seus compradores:

Balanço comercial brasileiro (valor em milhões de dólares) FOB

ano exportação importação saldo


1950 1.359 947 412
1951 1.770 1.703 67
1952 1.416 1.702 -286
1953 1.539 1.126 423
1954 1.558 1.408 150
1955 1.419 1.099 320
1956 1.483 1.046 437
1957 1.392 1.285 107
1958 1.244 1.179 65
1959 1.282 1.210 72
1960 1.270 1.293 -23
1961 1.405 1.292 113

A queda dos preços dos produtos exportados impede que o país possa melhorar sua posição
no balanço de pagamentos. Tal situação resulta da aliança imperialismo-latfúndio, porque a
estratégia do imperialismo é manter o país na pobreza para utlizá-lo como uma “reserva”,.

O resultado da inércia das autoridades diante de problemas tão complicados é a piora das
condições de vida dos trabalhadores e dos pobres com a necessidade de que saiam às ruas,
para a luta polítca e econômica, em jornadas quase diárias. É a necessidade de que os
trabalhadores façam greves, para tentar repor sua condição anterior, já bastante deteriorada.

409
ÍNDICES ECONÔMICOS REGIONAIS – GUANABARA – Base: 1953 = 100

CUSTO DA VIDA

Serviços Públicos
Número de Ordem

CivisÁrea licenciada p/ Construções


Aluguel

Vendas e Consignações
Custo da Construção
Móveis e Utensílios

Farmácia e Higiene
Consumo

Serviços Pessoais
Alimentação

Energia Elétrica
Vestuário
PERÍODO

Total

Total Indústria

Dados 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Anuais
1 1944 34 28 41 39 50 43 40 56 42 29 63 87 64

2 1945 40 35 51 39 57 55 48 59 46 33 66 94 78

3 1946 46 42 59 42 71 66 52 61 56 43 68 93 74

4 1947 56 52 65 49 86 74 60 63 64 45 73 97 53

5 1948 58 55 71 49 89 75 64 64 68 49 80 108 43

6 1949 61 58 75 49 91 79 71 76 72 54 87 78 41

7 1950 67 63 78 59 91 87 77 78 76 63 92 88 56

8 1951 75 71 84 70 94 96 84 79 84 79 97 97 87

9 1952 87 85 88 87 95 98 94 91 91 84 99 99 103

10 1953 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

11 1954 122 121 122 120 132 121 116 118 122 133 116 120 77

12 1955 151 151 142 137 185 149 138 158 143 156 124 128 51

13 1956 182 187 166 160 204 192 160 204 173 188 138 140 64

14 1957 212 215 193 191 227 236 205 257 205 207 149 146 86

15 1958 243 246 215 223 245 254 220 313 232 283 162 157 98

16 1959 338 357 296 267 362 380 349 424 311 331 171 162 95

17 1960 437 466 384 317 506 530 464 556 365 458 174 174 81

18 1961 583 627 563 372 645 700 686 735 525 645 195 188 83

Fonte: F.G.V

Vê-se, observando a coluna (1), que só nos últmos 10 anos (1952-1961), os trabalhadores e
pobres da Guanabara sofreram uma elevação média do custo de vida de cerca de 21% ao
ano. Portanto, os seus salários deveriam haver sido acrescidos de 21% ao ano, para que
permanecessem no mesmo patamar. Só no últmo ano, das portarias econômicas do sr.

410
Jânnio, o custo de vida elevou-se em 33,4%, o que pode-se considerar um agravamento da
situação. Em semelhante contexto, proclamar, como fazem as classes dominantes, o
reajustamento dos salários como “alta salarial”, é profundamente demagógico e golpista,
atribuindo aos pobres os defeitos de seu sistema e de suas polítcas. Somente nos custos de
alimentação, os trabalhadores amargaram um aumento de 22,12%, ou seja, só os
atravessadores e açambarcadores, com suas manobras, podem explicar semelhantes altas.

Todos sabem que um trabalhador superexplorado produz pior. Todos sabem que um
trabalhador cujo salário é muito baixo não pode comprar. Portanto, as forças sociais que
promovem a miséria conspiram contra o crescimento do mercado interno e o
desenvolvimento social. Daí a importânncia de um governo a serviço da maioria dos
brasileiros, de um governo democrátco que seja também nacionalista. Os economistas da
alta burguesia dizem que não se pode “misturar”, economia com polítca e que o povo deve
“fazer sacrifcios”, e “esperar”, que o governo a serviço exclusivo das classes dominantes
“resolva”, o “problema”,. Pura música para enganar os sentmentos patriótcos da maioria.
Eles não resolvem os problemas porque, na verdade, lucram com isso.

No lugar da atual maneira de governar, que é (1) esfolar os pobres e (2) lamber a bota do
imperialismo e do latfúndio, é preciso estabelecer um novo tpo de governo, que possua
uma visão estratégica do país e de seu lugar no futuro. Ao lado de um projeto de poder
nacional, é necessário um sistema fexível de planejamento, montado não para esfomear o
povo, mas para revolucionar a base socioeconômica do país. Um projeto capaz de levar em
consideração as necessidades doméstcas de formação bruta de capital fxo e – ao mesmo
tempo – considerar as necessidades básicas da população brasileira. Veja-se a formação de
capital produtvo no país:

Taxa de Formação Bruta de Capital


(em bilhões de cruzeiros )
Formação de Capital Fixo
Governo Privado
Ano Total Cr$ % Cr$ % Variação de Estoque
1947 25 6 45 15 8 23 9 84 2 -28
1948 29 3 70 23 3 23 0 76 7 -07
1949 29 2 95 29 4 22 8 70 6 -41
1950 28 9 11 8 35 1 21 8 64 9 -47
1951 57 8 12 3 25 0 36 9 75 0 86
1952 71 4 14 6 26 8 39 8 73 2 17 0
1953 58 5 16 4 29 4 39 4 70 6 27
1954 113 9 22 2 24 3 69 2 75 7 22 5
1955 112 7 23 8 24 0 75 4 76 0 13 5
1956 133 1 29 0 24 8 88 0 75 2 16 1

411
1957 170 4 51 0 37 0 86 9 63 0 32 5
1958 206 4 73 9 40 8 107 1 59 2 25 4
1959 354 1 93 1 32 3 194 9 67 7 66 1
1960 423 8 136 5 38 4 219 1 61 6 68 2
Como se vê, nos últmos dez anos (1951-1960), a formação bruta de capital fxo cresceu a
uma taxa média nominal de 22% ao ano. “Coincide”,, pois, com a taxa de elevação do custo
de vida, como se não soubéssemos que, no capitalismo, a “manteiga se converte em
canhão”,. Tiram da boca do trabalhador e do pobre para equipar as empresas e o país. Mas
este não é o único modelo. É possível um outro modelo, que expresse a força e a organização
do modelo popular e democrátco. É possível crescer a taxas ainda maiores, apoiando-se nas
demandas das grandes massas e no controle do fuxo de capitais. É possível um caminho
para fazer o Brasil crescer que não dependa da ampliação da miséria da maioria. É certo que
a iniciatva privada foge dos investmentos de longo prazo ou, como dizem, “de baixa taxa de
retorno”,. No entanto, sem a efetva elaboração de um conjunto de programas coordenado e
balanceado, não será possível levar o Brasil pela via do desenvolvimento, efetvamente
econômico e social.

3 – A Partcipação do Estado Independente no Desenvolvimento Econômico.

A formação de um governo nacionalista e democrátco abre caminho à elaboração de um


conjunto de polítcas econômicas voltadas no imediato para (1) a elevação da formação
bruta de capital fxo; com a respectva formação de novos níveis de poupança interna, como
resultado e (2) a busca de uma elevação da produção para o consumo básico da população,
com expansão de certas característcas do mercado interno. A decorrência geral desta
reorientação polítca será; (a) o abandono das opções para integração internacional imediata
(como vem sendo posta) e (b) a priorização das metas doméstcas, com relevo para a
elaboração de uma estratégia de poder nacional.

Nesta etapa de luta nacional e democrátca, necessariamente há de assumir um papel


importante, a consttuição de um sistema de planejamento econômico e social. Num
primeiro momento, serão integrados todos os programas em andamento em todos os
setores do país, sendo os mesmos, então, compatbilizados e, unifcadas suas fontes de
recurso. Um exame do estado atual do andamento dos mesmos programas permitrá
verifcar o grau de sua execução possível. No momento seguinte, serão levantadas todas as

412
necessidades estratégicas, sua hierarquia imposta pelo mundo real, e postos a andar seus
comissionamentos e arte de execução.

O Brasil é um país que já acumula experiência de programação e pode estabelecer com


facilidade um processo de artculação e integração entre todos os seus programas vigentes.
Este organismo de coordenação, logo poderá lançar mão de um sistema de planejamento
mais amplo, capaz de maximizar a aplicação dos recursos disponíveis. O sistema de
planejamento introduzido abarcará a vida econômica e social, sendo indicatvo em certos
planos, e aplicatvo em outros. Portanto, o sistema de planejamento não tem por objetvo
conduzir todas as atvidades. O planejamento indicatvo levará o caráter apenas de uma
previsão racional da evolução da atvidade, e sugestões para as forças nela atvas.

A experiência histórica observável das atvidades de planejamento em um Estado


independente indicam a possibilidade de uma sociedade que adote tal caminho antecipar
numerosas atvidades econômicas e sociais, dentro de regras balanceadas de programação,
orçamentação e implementação. As forças sociais interessadas veem-se organizadas e
mobilizadas para partcipar de todas as fases dos projetos a elas atribuídos, em todos os
níveis de procedimento. Trata-se de uma outra maneira de encarar as tarefas de
materialização dos projetos de interesse social.

É importante desde a partda entender-se que o tamanho e a complexidade do sistema e


das medidas de planejamento a serem introduzidos na fase de avanço de um governo
nacionalista e democrátco irá depender por completo da correlação de forças a existr no
plano polítco, no momento das tarefas de transição para uma democracia mais avançada.
Por isso, não tem sentdo descrever com maior detalhe como se estabelecem e funcionam
tais insttuições, etc. Evidentemente, cada partdo da frente única tem o seu “próprio
modelo”, a estabelecer, e que também “é o melhor”,. Na vida prátca, no entanto, estas
questões serão resolvidas da maneira que for possível, e as forças não hegemônicas terão
que se adaptar e partcipar da solução que vier a ser dada.

Diferentes países adotam diferentes métodos de planejamento, para sua economia, seja
capitalista, seja socialista. A Índia, a Grã-Bretanha, a França, a Suécia, a Polônia, a Hungria, a
Tchecoslováquia, a China, o Vietnam, a União Soviétca, etc., cada país estabelece “sua
escola”, e aperfeiçoa sua metodologia de pesquisa e de trabalho. Até os grandes oligopólios,

413
como havia predito Lênine tomaram o caminho de planejar em detalhe todas as suas
operações econômicas. Não há porque o Brasil nessa questão “encastelar-se no passado”, e
fcar para trás. Diz Oskar Lange:

“Neste rápido curso de aulas lidaremos apenas com alguns aspectos selecionados da Econometria,
obedecendo tal seleção a dois critérios distntos. Primeiramente, discutremos os problemas que têm
desempenhado o papel mais importante no desenvolvimento da Econometria, que foram
incorporados à literatura especializada e que consttuem parte da formação geral nesse setor. Em
segundo lugar, daremos especial atenção àqueles problemas econométricos e métodos de pesquisa
que possam ter aplicação prátca no planejamento e na direção da economia socialista.”

“Que é Econometria e qual o objetvo de suas pesquisas? Resumindo ao máximo, podemos dizer
que Econometria é a ciência que lida com a determinação, por métodos estatístcos, das leis
quanttatvas concretas que ocorrem na vida econômica.”

“Desta definição resulta que a Econometria difere tanto da teoria econômica como da estatstca
econômica.”

“A Econometria difere da teoria econômica, porque tenta retratar estatstcamente, com ajuda de
relações quanttatvas concretas, aquelas leis com as quais a teoria econômica se ocupa de modo
geral e esquemátco. Vamos esclarecer esse ponto com dois exemplos.”

“A Economia Polítca estuda, entre outras coisas, as leis dos processos de reprodução e determina as
leis (relações) que interligam certas grandezas de crescimento dos meios de produção e dos meios de
consumo. A Econometria, por outro lado, tenta determinar o caráter quanttatvo dessas relações em
condições econômicas concretas, como, por exemplo, na Polônia, em 1957.”

“De modo similar, a teoria econômica estuda a infuência que as mudanças na renda nacional ou no
preço de um determinado artgo exercem sobre a procura. Chega-se, desse modo, à conclusão de
que, quando a renda nacional se eleva, a procura pela maioria dos bens também cresce. A procura de
determinado artgo, em geral, também se eleva quando seu preço é reduzido. Em conexão com esses
estudos é introduzido o conceito de elastcidade da procura em relação ao nível da renda nacional ou
ao preço do artgo em consideração, determinando-se assim relações gerais entre as grandezas em
foco.”

“A Econometria tenta estabelecer as relações que existem entre as grandezas mencionadas no


segundo exemplo quanttatva e concretamente na situação econômica dada. Podemos, com o
emprego de métodos econométricos, estudar, por exemplo, que infuência teve a mudança de preço

414
dos periódicos na Polônia, em 1957, na quantdade de exemplares vendidos, ou que infuência terá o
crescimento da renda nacional planejado para 1958, na procura de carne.”

“Os problemas de Econometria são resolvidos por meio de pesquisas e métodos estatstcos. A
estatstca econômica, portanto, provê o econometrista com material factual, que lhe permite
determinar as leis quanttatvas que ligam as grandezas em estudo. O esquema das pesquisas
econométricas num dado problema pode permanecer o mesmo, porém os números referentes às
grandezas estudadas em condições históricas diversas são, naturalmente, diferentes.”

“Daí resulta, portanto, que a Econometria está ligada à teoria econômica e à estatístca econômica
e tenta por métodos matemátcos e estatístcos dar expressão concreta e quanttatva às leis gerais
e esquemátcas estabelecidas pela teoria econômica.”

Portanto, pelas palavras de Lange vê-se a importânncia que ele atribui à pesquisa
econométrica também para a economia socialista, ou até melhormente aplicável na
economia socialista, uma vez que o primeiro traço da economia socialista é eliminar o
prejuízo ao trabalho que é o crescimento desproporcional entre os ramos (determinado que
é pelo lucro). Na União Soviétca, os métodos predominantes no planejamento são
matriciais. Na Hungria, terra de brilhantes economistas, desenvolveu-se o cálculo econômico
por diferenças fnitas, etc. Em resumo: cada país tem a habilidade e a capacidade para
aprender com os outros e seguir seu próprio caminho, sem fcar estagnado nas opções do
passado. Diz Lange:

“As tentatvas de uma aproximação quanttatva das leis (relações) de que falam as teorias
econômicas, por meio de métodos estatstcos – em verdade, estudos econométricos – são muito
anteriores à denominação introduzida por R. Frisch para esse tpo de trabalho.”

“A Econometria, como método distnto de estudo da vida econômica, surgiu antes da Primeira
Guerra Mundial, e se desenvolveu com especial velocidade logo após a guerra. Em 1932, foi
organizada a Sociedade Econométrica Internacional, que edita uma revista denominada
“Econométrica”, dedicada a esse ramo de ciência.”

“A Econometria tem-se desenvolvido, principalmente nos países capitalistas. Na década dos vinte, os
estudos econométricos foram também empreendidos na União Soviétca, porém foram abandonados
por volta de 1930. A origem e desenvolvimento da Econometria nos países ocidentais, justamente no
período de fortalecimento crescente do capitalismo monopolista e de Estado, não é obra do acaso.
Isto se exemplifica pelo fato de que os problemas fundamentais das primeiras pesquisas

415
econométricas estavam ligados às necessidades da polítca econômica tanto do Estado capitalista
como das grandes empresas privadas.”

Lange lista os campos de problemas que foram tratados no planejamento das empresas
capitalistas para escapar à desordem e às futuações de seu mercado:

“As pesquisas econométricas a princípio se circunscreviam aos três seguintes grupos de problemas:

“1. Os primeiros estudos econométricos tnham como objetvo a previsão das futuaçees da
conuuntura na economia capitalista. Essas intenções resultaram da concepção, segundo a qual, uma
previsão correta dos ciclos econômicos possibilitaria a cada uma das empresas capitalistas se adaptar
a tempo a tais previsões, e assim evitar as perdas decorrentes das crises, ou, até mesmo, de poder
explorar melhor a situação e aumentar os lucros durante o período de conjuntura favorável. Alguns
economistas foram mesmo além no seu raciocínio e acharam que, com uma previsão habilmente
preparada do curso da conjuntura seria possível remover ou atenuar as crises econômicas e
exercer infuência no desenvolvimento da conjuntura.”

“Esse tpo de estudos econométricos já é, em grande parte, coisa do passado. Seu desenvolvimento
durante o período de entre-guerras estava, fora de dúvida, relacionado com certos conceitos sobre a
estabilização da economia capitalista pela intervenção estatal na vida econômica. Essas concepções
consttuíram as primeiras tentatvas para efetuar uma guinada na economia polítca burguesa,
consistndo essa reviravolta na rejeição do velho princípio de não intervenção do Estado nos assuntos
econômicos (laisser faire) e a transição para uma nova polítca de partcipação atva do Estado na
economia nacional.”

“2. O segundo tpo de problemas econométricos estava relacionado com a pesquisa de mercado e
consista, sobretudo, em pesquisar a elastcidade da procura e, até certo ponto, a elastcidade da
oferta. Esses problemas também se acentuaram devido às necessidades correntes do capital
monopolista e da polítca de intervenção do Estado capitalista.”

“Em condições de competção livre, o produtor individual não exerce nenhuma infuência, uma vez
que sua produção consttui uma fração muito pequena de toda a produção do mercado. A retração
ou expansão da produção de um produtor individual pratcamente não afetam a configuração dos
preços do mercado. Os preços são determinados por um processo próprio do mercado e o produtor
individual pode, apenas, adaptar suas atvidades às condições variantes do mercado.”

“A situação é inteiramente diferente em condições de monopólio. O monopolista conduz a polítca de


preços, uma vez que, como único ou um dos poucos produtores, exerce infuência na oferta global do

416
bem considerado e, portanto, afeta diretamente seu preço. Estando em situação de ditar os preços
quase à vontade, o monopolista atende a assegurar o lucro mais alto possível, através de
ajustamentos apropriados no volume de sua produção e dos seus preços. Um exemplo disto é a
polítca dos cartéis que, em certos casos, restringem deliberadamente a produção, elevando em
consequência os preços, e apesar da queda no volume produzido auferem lucros mais elevados.”

“Por conseguinte, tanto para o monopolista quanto para o oligopolista, (chamamos de oligopolista
cada um dos vários produtores que podem infuenciar no preço de dado produto no mercado com
seu volume de produção), torna-se uma questão especialmente significatva, a determinação da
elastcidade da procura de seus produtos e do preço ótmo, ou aquele que torna máximos os lucros da
empresa. Isto explica por que o grande interesse pelas pesquisas econométricas das relações de
mercado surgiu precisamente durante o período de desenvolvimento do capitalismo monopolista.”

“O Estado, seguindo uma polítca de intervenção, deve também possuir informações sobre a oferta e
a procura dos bens, a configuração dos preços, o poder de absorção do mercado, etc. Os E.U.A.
adotam uma polítca de ampla intervenção na agricultura. As informações desse tpo são, portanto,
indispensáveis, por exemplo, quando se quer determinar em que medida um aumento de 10% no
preço do trigo infuencia o aumento da produção (oferta) desse cereal. Problemas dessa natureza, por
sua vez, requerem novas pesquisas econométricas, consistndo, no caso dado, em determinar a
elastcidade da oferta de trigo.”

Lange, que foi professor catedrátco de Economia nos EUA, argumenta com clareza o uso do
conhecimento científco como guia para corrigir o lucro dos monopólios e não prejudicar os
pobres. Portanto, porque os socialistas e os progressistas em geral não podem utlizar tais
conhecimentos a serviço da maioria da população? Prossegue Lange:

“3. O terceiro setor de pesquisas econométricas básicas é usualmente conhecido pelo nome de
programação. Abrange problemas referentes à economia nacional como um todo, ou grandes
complexos dela, sendo a meta de tais proposições, estudar os efeitos de certas decisões econômicas.”

“Suponhamos, por exemplo, que o Estado decidiu produzir adicionalmente ½ milhão de toneladas de
aço. A realização desse plano, que diz respeito à economia nacional como um todo, requer muitas
outras decisões coordenadas posteriormente. O problema de coordenar atvidades interdependentes
consttuiu precisamente o estmulo e o ponto de partda para o desenvolvimento da teoria
econométrica da programação.”

417
“Esse tpo de pesquisa econométrica apareceu recentemente e se desenvolveu depois da Segunda
Guerra Mundial e isto, igualmente não se deu por mera coincidência. O problema dos “pontos de
estrangulamento” surgiu repetdas vezes na economia de guerra. Podia ser, por exemplo, que o
programa de expansão da indústria aeronáutca ficasse repentnamente retardado devido à falta de
alguns fatores indispensáveis à produção de aviões, o que impedia o cumprimento do programa em
sua totalidade. Os métodos econométricos de programação surgiram precisamente devido a tais
problemas de coordenação de atvidades na economia de guerra.”

“A teoria da programação atraiu, em seguida, o interesse das grandes empresas capitalistas para as
quais o problema de coordenação dos suprimentos de matéria-prima, mão de obra qualificada, etc., é
de primordial importância. Este tpo de pesquisa econométrica resulta das necessidades do
capitalismo monopolista-estatal.”

“Surge o problema de até que ponto a programação consttui um método de pesquisa econométrica
que possa ser empregado na direção de uma economia socialista. A fim de responder a essa
pergunta, devemos antes de tudo notar que Programação é um certo método de planejar a economia
nacional ou parte dela. Em nosso planejamento, diversos métodos foram empregados, métodos esses
que estavam longe de ser perfeitos e eram, muitas vezes, simplesmente improvisados. Parece-nos que
tentatvas para aplicar métodos econométricos de programação em nosso planejamento poderiam
contribuir no sentdo de aperfeiçoá-lo.”

“As pesquisas econométricas das relações de mercado podem também ser aplicadas em nossas
condições, se bem que dentro de certos limites. Sabemos por experiência, por exemplo, que foi
necessário cancelar depois de algum tempo as reduções mal calculadas de preços, que foram feitas
em algumas mercadorias, de vez que o aumento desmesurado na procura tornou impossível
satsfazê-la. As pesquisas econométricas no tocante às relações entre preço e procura, poderiam ter
evitado essa sorte de erros.”

A questão do “ponto de estrangulamento”, levantada por Lange, exemplifcando a situação


da economia de guerra dos EUA, também ocorre com grande frequência nos países
atrasados. Um programa de coordenação das atvidades industriais poderia valer-se em
grande extensão de tais métodos e tais experiências. Avançar, pois, no sentdo do
planejamento não é uma preocupação apenas dos socialistas, mas de todo elemento
responsável que deseje introduzir maior racionalidade na vida social e econômica. Lange,
referindo-se à importânncia de descobrir em cada caso a forma da função matemátca que
descreve o acréscimo do investmento, conclui:

418
“Isso porque, na realidade, as ‘porções’ adicionais de investmento destnadas a um dado setor
podem trazer efeitos produtvos expressos por um coeficiente diverso daquele anteriormente
determinado para a massa fundamental de investmentos no setor dado.”

“Deve-se também assinalar que, em casos específicos, vale a pena adotar essa suposição
aproximatva. A questão é estabelecer a diferença entre a elaboração concreta e detalhada do plano
de investmentos e de produção e a análise geral e complexa das relações de grupo no arcabouço da
construção dos planos econômicos nacionais.”

“No processo de planejamento são necessários instrumentos que permitam numa avaliação mais
rápida, embora menos acurada, das decisões que mudam a escala e as proporções da divisão da
produção, dos investmentos, etc. Naturalmente, esses mesmos instrumentos não são aplicáveis à
detalhada concretzação dos objetvos do plano.”

“Os métodos de cálculo considerados na Introdução à Econometria podem fornecer precisamente


tais instrumentos. Daí resulta a utlidade deles tanto para os objetvos prátcos do planejamento e a
necessidade de preparar a base numérica e os aparelhos de calcular para a aplicação prátca desses
métodos.”

Como insistr, portanto, que o conhecimento existe para estabelecer um processo avançado
de planejamento, tanto na empresa oligopolista, no mercado capitalista, nas empresas
públicas, como nas economias nacionais independentes ou socialistas. Achar que o
planejamento é render-se ao comunismo é uma má flosofa, porque o mundo
contemporânneo requer cada vez mais a aplicação do saber para avançar. Sem impor a
ninguém o nosso modo de pensar, estamos prontos a debater com os nossos aliados, o
caminho, ou um caminho, para fazer avançar a sociedade brasileira no rumo das reformas,
da riqueza, da distribuição da mesma e do bem-estar social. Tais objetvos só podem ser
colimados e alcançados com um longo trabalho de persuasão, de educação das forças sociais
mais avançadas e com um estabelecimento de poder nacional, que se expresse numa polítca
nacional independente.

A adoção de um sistema de planejamento no Brasil, como se mostrou, corresponde ao


estabelecimento dos sistemas indicatvo e normatvo, com a prévia coordenação dos
diferentes programas já existentes. A pressão da realidade, desde 1930, vem conduzindo o
Brasil por esforços parciais de racionalização, partcularmente no nível econômico.
Programas de todo tpo, como de saúde pública – por exemplo, combate à malária – e de

419
infraestrutura – por exemplo – aparelhamento dos portos, etc. Essas dezenas de programas
recebem dinheiro público de diferentes maneiras e de diferentes fontes. É preciso avaliar e
juntar todos esses programas numa rede de efciência. Esta é uma premissa para o
planejamento geral da economia. A racionalização da massa de programas pede um sistema
geral de planejamento.

O estabelecimento de semelhante sistema colocaria na agenda central os três problemas


superfcialmente enfrentados até aqui: (a) aumento (e qualifcação) da força de trabalho; (b)
criação da escala de incrementos brutos do capital fsico; e (c) distribuição da força de
trabalho para elevação da produtvidade do trabalho. Estas tais tarefas caminham juntas e se
resolvem mutuamente, mas só podem ser abordadas com êxito por um sistema de conjunto
de planejamento. Limitar-se, como no chamado “Plano de Metas”, do governo JK, a
acompanhar as tendências históricas médias de cada atvidade não é exatamente um
processo de plano. Como comentou Lange:

“À base das observações acima, surge a questão de, em que medida podemos supor que esses
instrumentos de cálculo são úteis para os objetvos da planificação.”

“Antes de mais nada, deve-se assinalar que os coeficientes bij determinados à base de dados do
passado, não consttuem um fundamento competente para a planificação. Isso resulta de algumas
razões fundamentais.”

“ primeiro – a relação entre os investmentos realizados e os aumentos da capacidade produtva de


um produto concreto depende da escolha da técnica de produção desse artgo, e as possibilidades
dessa escolha se ampliam na medida do progresso técnico;”

“ segundo – a técnica de cálculo descrita obriga-nos a operar com grupos de produtos (e mesmo
com setores inteiros ou ramos da economia), enquanto que as relações setoriais médias dependem
da estrutura variada dos produtos de cada setor;”

“ terceiro – as relações que ligam o valor dos investmentos realizados ao dos aumentos de
produção dependem do nível e da estrutura dos preços, o que acarreta complexos problemas de
trazer os dados do passado a um nível comparável às condições do período futuro.”

“Assim, deve-se tomar como ponto de partda, o fato de que os cálculos baseados em coeficientes
estatstcos consttuem apenas uma aproximação muito imperfeita da avaliação do futuro. Disso
resulta uma outra conclusão, a de que os cálculos relatvos ao futuro devem se basear em
coeficientes planejados. Com relação a um produto concreto, eles resultam dos dados planejados

420
para cada projeto de investmento. Com relação ao setor – consttuem a média ponderada resultante
das decisões individuais de escolha de uma série de projetos de investmento.”

Na presente crise do comércio da região (América Latna), os preços das exportações locais
– (cacau, café, couros, trigo, etc.) – têm caído de modo insistente (1958-1962), ao mesmo
tempo em que nos EUA os economistas chamam a atenção que o fm da segunda guerra
(1945) iniciou uma nova etapa na integração mundial, liderada pelos EUA. A questão é como
encarar esta “nova etapa”, como algo positvo, e não como uma ameaça. Caso o nosso país
fque congelado na mesma posição em que está, a “nova etapa”, estará fazendo avançar um
grupo de países, tornando seus custos menores, e manterá outro grupo (no qual estamos)
com preços de exportação menores, menos renda e, no máximo, a mesma posição na divisão
internacional do trabalho. A elevação do valor da divisa e a diminuição do poder de compra
da moeda local provoca tensão de diferentes tpos, com oscilações no mercado do dinheiro,
altas de preço ao consumidor, etc., prejudicando as atvidades econômicas. O discurso é para
“elevar a poupança”,. Seria a causa o “consumo excessivo”, dos habitantes locais. Tais
habitantes devem “poupar mais”,, porque poupando mais, com salários menores, “aumenta a
poupança e o capital industrial”,. Nada se diz sobre o caráter infacionário das elevadas
obrigações contraídas no exterior nos anos anteriores. Nada se diz do papel das remessas de
lucros, das compras suntuárias, das contas das classes dominantes no exterior, etc. Calcula-se
que mais de 90% dos pagamentos feitos pelo setor público vai para poucos seletos grupos
econômicos do setor privado, que se põe a gritar por “mais”,. O fnanciamento infacionário
do défcit público aponta para uma perda de efciência em breve, com consequentes
concordatas e até falências, efeitos sobre o volume de produção e sobre o nível de ocupação.
A sensibilidade ante os acontecimentos se vê com “a crise nas ruas”,, no momento atual a
crise polítca (queda de Jânnio, golpe, posse de Goulart sem poderes presidenciais). Sem
solução de médio prazo, chegar-se-á assim à crise econômica também.

O setor exportador brasileiro, com a melhora da economia norte-americana nos últmos


seis meses, obriga a esperança do fm da crise comercial da área e uma retomada expansiva
no “quantum”, das exportações, que se refetria nos anos vindouros como elevação de
preços dos bens daqui exportados. A produção agropecuária tem caído na Europa dita
oriental e oferece assim uma oportunidade à colocação de produtos brasileiros. O acordo
entre os países industriais para facilitar a movimentação dos capitais norte-americanos tem

421
sido visto como (a) uma tentatva de reter os capitais norte-americanos para outras regiões
do mundo; (b) um apoio à libra esterlina contra o ataque dos especuladores, que contribui
para consolidar o dólar; (c) redução das pressões sobre o balanço de pagamento dos EUA,
apoiando seu movimento de expansão, para fora da recessão.

O desemprego nos EUA (6,7% em 1961) está caindo, o que é visto pelos especialistas como
um sinal de que a recuperação econômica é sustentada: tem aumentado tanto o consumo
privado como as despesas do governo. Daí o otmismo de seus economistas quando dizem
que o “pós-guerra”, acabou, e o processo de integração se dirigirá agora com mais força para
a economia dos países atrasados.

Em 1961, a economia do país foi submetda a dois choques consideráveis. O primeiro deles
resultou da escolha polítca de Jânnio, para “estabelecer a verdade cambial”, (portarias da
SUMOC 204 e várias sucedentes). Com o avanço da crise polítca, a que também se somam
os efeitos óbvios das novas portarias, deu-se a queda ou derrubada do governo (agosto-
setembro), com o golpe militar, a Junta do Governo e a perspectva de uma guerra civil.
Aqueles que critcavam a polítca de gastos em excesso planejados de JK tveram o seu
momento de gastos totalmente desordenados, ante a possibilidade de guerra civil:
estouraram o orçamento público (...) Como resultado, a economia sofreu, em termos reais,
enorme expansão. Isso talvez devesse fazer refetr a posteriori os mentores da polítca de
“arrocho fscal”, de Jânnio e de seus amigos golpistas. Falar uma coisa e fazer outra parece que
lhes ensina o conteúdo do poder...

Ofertas de Empregos em São Paulo. 1953/1962


Números índices: 1953 = 100
ANO GERAL PRODUÇÃO
1953 100 100
1954 162 124
1955 152 146
1956 179 188
1957 167 163
1958 284 378
1959 223 248
1960 337 530
1961 342 480

422
Segundo a pesquisa de variação de emprego em São Paulo, principal centro industrial, a
instabilidade do ano de 1961, afetou com oscilação o nível de emprego. O que por certo
indica haver sido um ano com grande consumo de “stocks”,, o que, por outro lado, deve
estmular o aumento de emprego em 1962. Mesmo assim é de esperar que os problemas do
setor industrial se agravem durante o ano (1962), como competção aumentada das
importações, falta de liquidez e luta dos trabalhadores por reajustamentos salariais
nominais. Tem-se assim uma perspectva de aceleração da infação e redução do ritmo de
crescimento do produto bruto, agravamento da escassez de divisas e perturbação do nível de
importação dos itens básicos, ao longo do ano. Também em virtude da pouca solidez do
novo regime, parlamentar, adotado, haverá um afrouxamento das polítcas de ajustamento
do governo que contribuirão para níveis de infação mais elevadas.

4 – Consideração do Desenvolvimento Econômico.

É, portanto, preciso considerar a discussão da “luta popular”, não como uma questão de
egoísmos ou cobiças individuais e grupais, como faz a burguesia, mas como uma questão
correlata ao desenvolvimento econômico e social, sem o que o “poder”, carece de sentdo
respeitável. É preciso melhorar as condições de vida das pessoas na maioria das classes
sociais, pois, o regime atual é de fome, desemprego, baixa renda e falta de perspectvas para
a absoluta maioria (uns 90% da população). Uns 70 milhões de brasileiros vivem mal ou
muito mal. Na verdade, a produção do país deveria ser o dobro ou o triplo per capita, para
que se tvesse uma evolução adequada de preços, para viver com o atual nível de salários.
Para obter-se um volume maior de produção seria necessário reformular por completo a
economia atual:

(1) Aumento da força de trabalho, através do registro dos que querem trabalhar e seu
envio a alguma atvidade produtva;

(2) Estruturação de uma rede de formação e treinamento para o trabalho, que permitsse
situar a oferta ociosa de trabalho em preparação adequada;

(3) Levantamento das necessidades técnicas e promoção das respectvas tecnologias


assim demandadas;

423
(4) Reforma agrária, com reestruturação das relações de propriedade e incorporação de
mais terra à utlização, considerando a quebra do monopólio da mesma;

(5) Medidas para elevar a produtvidade da terra;

(6) Mapeamento dos recursos naturais e incorporação de novas atvidades com os


mesmos;

(7) Intensifcação das novas metodologias de organização produtva;

(8) Implementação de reformas outras econômicas e sociais correlatas à elevação da


produtvidade do trabalho;

(9) Etc.

A listagem das tarefas que se impõem deixa evidente que as mesmas não podem ser
levadas a efeito por um punhado de funcionários, ou mesmo de organizações
representatvas. É uma tarefa que requer a operação conjunta de todos os interessados, pois
o objetvo é comum. A interdependência das tarefas requer coordenação, mobilização, ação,
solidária e profundidade de compromisso. O desenvolvimento é um processo que não requer
apenas a industrialização dos problemas a sua compreensão. Requer um esforço contínuo
para manter o foco e resolver as distntas “camadas de problemas”, que a abordagem do
fenômeno trará à tona. Transformações econômicas e sociais não são coisas simples. Elas
requerem para todos, mudança no comprometmento e no estlo de vida.

(1). Melhoria na Força de Trabalho. – A população brasileira atual cresce a uma taxa de cerca
de 3% ao ano, o que signifca um auge e que no futuro esta taxa tenderá a cair. No entanto,
tal crescimento coloca inúmeros problemas de desenvolvimento econômico e social, com a
necessidade de prestar “àqueles que chegam”, serviços básicos, os quais – assistência
médica, alimentação, moradia, escolaridade, etc., só serão socialmente pagos ou retribuídos
depois de duas décadas. Uma criança que nasce hoje só começará a “pagar de volta”, os seus
custos sociais lá por 1982. E nós não temos informação realista sobre o que vai se passar até
lá. Essa situação entra em choque com a enorme “reserva de trabalho”,, sob a forma de
empregos não remunerados e sub-remunerados que se tem – no presente – no campo e na
cidade.

424
Daí a importânncia da obtenção crescente de empregos assalariados, para que a população
seja transformada em trabalhadores e produzam de modo sistemátco, saindo da exploração
capitalista de formas pré-capitalistas de mercados produtvos e, consequentemente,
aumente sua produtvidade. Desempenho satsfatório de alimentação, vestuário e
alojamento requer relação de trabalho baseadas em dinheiro, de preferência o
assalariamento (relação estável que leva à defnição social). O “forte”, do trabalho rural é
deixar o “trabalhador”, como um homem desprovido de contratos civis e, portanto, “livre”,,
para ser ocasionalmente explorado em todas as circunstânncias (menos o assalariamento).

As potências imperialistas, para salvar sua “reserva”,, o latfúndio, sugerem constantemente


que o controle da natalidade é a forma principal de obter uma elevação do nível de renda
per capita nos países atrasados. Tais potências excluem o valor social das revoluções
libertárias, da criação do poder nacional, do desenvolvimento local, etc. Para elas, as
populações dos países atrasados são massas inúteis, desprovidas de alternatvas, exceto
aquelas indicadas pelas metrópoles.

(2). Formação Treinamento e Qualifcação do Trabalho. – A organização do trabalho cria os


postos-de-trabalho e tais postos especializam a força de trabalho, elevando maximamente
sua tecnicidade específca, a qual está associada com determinados equipamentos. Assim, a
melhoria constante da capacidade técnica da população atva permite produzir cada vez
mais, e com facilidade crescente, ainda que com o mesmo equipamento. Melhorias e
adaptação no equipamento, ainda mais em condições democrátcas que levem em
consideração a opinião do trabalho, elevam muitas vezes a produtvidade do trabalho. Este é
o segredo do progresso econômico e social. Quanto mais produtvo o trabalho, mais rica se
torna a sociedade.

Assim, no nosso caso, o combate do analfabetsmo, com programas de massa que libertem
milhões de brasileiros dessa situação – jovens e adultos – deve ser o primeiro passo para
criar enormes programas de inclusão e integração da força de trabalho, hoje potencial e
dispersa, num mercado de trabalho de relações industriais. Por toda parte, o acesso ao saber
é a principal porta para o crescimento econômico e a melhoria das condições de vida.
Segundo E. Denílson, assim se distribuíram em termos percentuais do produto (função de
produção) as fontes de crescimento econômico nos EUA:

425
Fontes do crescimento econômico dos E.E.U.U.
Percentagem sobre o total.
Fonte 1909-1929 1929-1957
Aumento total da renda nacional real. 100 100
Aumento da força de trabalho. 39 27
Melhor educação e treinamento. 13 27
Maior estoque de bens de capital. 26 15
Melhor tecnologia. 12 20
Outros, principalmente economias de escala. 10 11

Vê-se que a formação e melhoria da força de trabalho foi o principal fator do crescimento
da economia dos EUA e não, como erroneamente se supõe os aportes de capital.
Naturalmente como um só país aberto à migração, os EUA receberam dezenas de milhões de
imigrantes adultos, em seu auge produtvo, que atribuíram com sua partcipação, montantes
de lucros ao capital que não poderiam ser obtdos de outra forma. A lição fca, assim, para
nós brasileiros: a riqueza que pouca ainda se possui se deve à força do movimento
migratório, criando um saber-fazer dentro do país, e tornando mais produtvo o capital local.
Da mesma forma, a inclusão e formação de milhões de brasileiros hoje excluídos do fulcro
principal de produção, elevará não só o seu nível de partcipação e conhecimentos, como
conduzirá a produção de riqueza a outros patamares.

(3). Inovação Tecnológica e Expansão dos Meios de Produção. – Um poder polítco com
objetvos nacionais pode fazer um imediato inventário das insufciências de meios técnicos e
com base nesta agenda de imediato empreender um aumento signifcatvo, qualitatvo e
quanttatvo dos meios de produção. Uma situação gritante que se verifca no Brasil é a
permanência da enxada e do ferro-de-alavanca como “meios de produção”, ainda
generalizados. A indústria de produção de máquinas e de insumos para os meios de
transporte e peças de infraestrutura tem que ser fortemente em caráter prioritário. Uma
simples máquina pode elevar a produtvidade do trabalho nela aplicada, dezenas de vezes. O
Brasil quase sempre tem os recursos para se industrializar em cada família de maquinários, e
no alfabeto completo de todas as suas ofertas. Uma força de trabalho sem máquinas e
equipamentos pertence ao passado. Necessitamos de todas as famílias de tratores,
guindastes, usinas, fornos, meios de transporte e comunicação, veículos, etc. A revolução

426
industrial para aqui trazida é pobre por refetr a nossa colocação – preconceituosa – num
dado degrau da divisão internacional do trabalho.

O desenvolvimento da indústria brasileira até aqui (1932-1962) foi centrado na produção de


bens de consumo. Trata-se, contudo, hoje, de expandir a produção de bens de produção, ou
seja, valorizar a produção de “máquinas que façam máquinas”,. Da mesma maneira que a
terra se tornou um monopólio, um grupo pequeno de empresas quer agora deixar a
indústria de bens de equipamentos, a produção de máquinas e ferramentas com baixa
concorrência, sem novos parceiros, à sua mercê. A necessidade progressista de produzir,
introduzir e utlizar a maior quantdade possível de bens de produção entra em choque com
esse sonho de “reserva de mercado”,. “Nós chegamos primeiro, espere-nos crescer”,, não
pode se aplicar aqui.

O caminho para a acumulação de meios de produção é o fnanciamento público da


produção dos mesmos, sem se deixar tolher pelas futuações da demanda privada, visando a
massifcação e concentração de equipamentos em todos os ramos. Este é o caminho que
induz à generalização do processo industrial.

Brasil
Acumulação de meios de produção (investmento)
(Percentagem anual média em relação ao PNB)

Períodos Setor Privado Setor Público Total


1947-1950 11,5 3,9 15,4
1951-1954 11,4 3,8 15,2
1955-1958 9,7 4,0 13,7
1959-1962 11,4 5,2 16,6
1947-1955 11,4 3,7 15,1

Pode-se dizer que a marca essencial do atraso na produção econômica dá-se nas
ferramentas e nos equipamentos que se utliza, nos recursos de meios colocados à
disposição da produção industrial. O aumento dos estoques de bens de produção deve
aumentar sem cessar, para obter ritmos cada vez mais notáveis de produção industrial. Uma
nação que não possa acumular meios de produção e opte – por exemplo – pelo turismo, no
lugar da industrialização, irá certamente no decorrer de certo prazo perder o controle dos
fatores estratégicos para o seu desenvolvimento. Os recursos destnados à acumulação de

427
meios produtvos devem aumentar, porque é uma poupança consagrada à futura
independência.

O esforço para a criação de um capital industrial doméstco e a adaptação de todo o sistema


insttucional para apoiar este objetvo foi trazido até aqui com relatvo sucesso. Contudo,
parece esgotado o quadro habilitado pelas reformas iniciais dos anos 30, impondo-se agora
um conjunto necessário de novas reformas, porque é evidente que as atuais relações de
produção se esgotaram para remendos ou para deixar passar o avanço. Faz-se hoje,
necessário, como ponto de retomada, modifcar a situação do agro, problema que não é só
brasileiro, mas de toda a região latno-americana. A presente crise do comércio exterior da
região coloca de modo gritante o problema das monoculturas ultrapassadas, que carreiam
cada vez menos divisas e custam mais divisas para se manter.

A estrutura ultrapassada do agro brasileiro bloqueia de três maneiras visíveis, a expansão


da produtvidade da área das terras cultvadas: (a) pelas culturas extensivas; (b) pela baixa
renovação técnica das áreas utlizadas; (c) pela exploração intensiva da mão de obra. Estas
característcas não cooperam para a expansão do capital industrial e sua penetração
adequada no agro. Sabemos também que o capital industrial que caracteriza o país não é lá
essas coisas. Vimos já a “estranha coincidência”, de que o aumento do custo de vida
apresente a mesma taxa de formação do capital fxo. Como diz o capoeirista, “tra daqui,
bota lá”,... Mas uma reestruturação do agro tenderia a melhorar a situação no
desenvolvimento urbano. Os números do aproveitamento das terras no Brasil poderiam ser
bastante melhorados, inclusive com reforestamento:

Brasil. Censo de 1950.


Distribuição das terras segundo os diversos tpos de aproveitamento.

Área Percentagem
(milhares de hectares) da área total
1. Superfcie total ........................................................ 851.196 100
2. Superfcie ocupada por estabelecimentos agrícolas: 232.211 27,0
- lavouras .................................................................... 19.095 2,2
- pastagens ................................................................... 107.633 12,6
- matas ........................................................................ 55.999 6,5
- incultas ...................................................................... 34.311 4,0
3. Superfcie não ocupada ............................................ 618.985

428
Menos de 3% das terras utlizadas consagradas à produção agrícola tem que resultar em
oferta insufciente de alimentos para a população, com os espetáculos de fome e barbárie
contra os que protestam visíveis no período 1956-1962. Com a reforma agrária, podem-se
desenvolver as pequenas e médias propriedades rurais e elevar em muito a oferta agrícola
para o mercado interno.

É evidente que se os métodos da exploração agropecuária fossem intensivos, talvez não


fosse necessário alterar a estrutura da propriedade. Mas não é isso que se passa. O nível
técnico atual da produção é de tpo trabalho – intensivo. Então, será necessário reorganizar a
propriedade rural, criando nela novos setores sociais, que permitndo avançar do trabalho-
intensivo (ponto de partda atual) apontem para métodos intensivos em equipamentos. O
modo de aproveitar as terras pode dispensar a contínua incorporação de terras virgens à
produção.

Para tal, se requer um trabalhador tecnicamente apetrechado, com as máquinas e


ferramentas necessárias, os conhecimentos para utlizá-los, etc. Este trabalhador não vai
surgir como um passe de mágica. Ele é o resultado de um conjunto de polítcas de formação,
de treinamento e de investmento, que irão introduzir a ciência na produção rural. Olhando-
se para a situação atual, os fazendeiros e os latfundiários limitam-se a “cansar”, uma terra e
avançar sobre outra, que incorporam “como sua”,. É mais barato montar uma fazenda, do que
ciclicamente recuperá-la. O monopólio da terra favorece esta prátca.

A estabilização da pequena e da média propriedade haverá de impor novas regras ao


“conceito de propriedade no uso da terra”,. A simples anexação de terras virgens, destruição
das matas, etc., terá que ser evitada. O sistema cooperatvo, ao avançar, exigirá regras para
capitalizar as terras, a infraestrutura, etc., transformando o campo numa área de produção
mais racionalizada. Por um largo período, os investmentos custarão muito mais do que o
campo poderá pagar, mas a fonte dos mesmos há de ser desde o conjunto da economia
nacional. Fará parte do processo de criação de riquezas socialmente distribuídas. O segredo
está em equipar o agro de meios de produção democratcamente acessíveis, fornecer a
assistência técnica à produção e aos equipamentos da produção pelo mesmo caminho
democrátco.

429
A democracia para nós não se reduz a um discurso ou a uma eleição. Ela é o caminho pelo
qual as mais amplas massas operam cada transformação necessária. Nesta rota, pode-se
aprender tanto dos outros como de nossa própria experiência. Veja-se a tabela abaixo,
elaborada pela FAO:

Rendimento médio dos principais cultvos. (1958/59 e 1960/61)


100 quilogramas por hectare.
Europa Américas América Ásia
Cultvo (excluída do Norte do Sul (excluída a Mundial
a URSS) e Central China)
Trigo 18,3 15,6 10,6 8,7 12,3
Milho 20,5 27,8 13,8 9,2 20,3
Arroz 44,5 27,5 17,8 16,8 19,7
Batatas 148,1 184,1 62,8 95,7 111,5
Algodão 3,0 5,1 2,0 1,5 3,2
Sem a mecanização da atvidade agropecuária em todos os setores (milhões de máquinas,
na verdade), o capital industrial não pode atngir o volume necessário à sua auto-sustentação
na economia, nem liberar o excedente social demandado para revolucionar por completo o
ambiente das cidades. Uma cidade na Idade Média era um conjunto de casas com ruas e
ruelas. Uma cidade na era da revolução industrial em marcha deve ser uma máquina
complexa, rica de trabalho urbano, com vários planos intercomunicados e habilitados para
uma vida humana de trabalho e desfrutamento. Não é a ligação entre duas favelas, como as
nossas cidades. É uma invenção nova, com trens subterrânneos, jardim e hospitais colossais,
para facilitar o bem-estar de todos.

Os defensores do conservadorismo acham que o desfrutamento da vida é um assunto para


as pessoas que têm dinheiro e que podem voar para Londres, Paris e Nova Iorque. É assim
que eles próprios fazem. “Não se dá pérolas aos porcos”,, é o que dizem. Nosso partdo,
pensa e age de modo completamente diferente. Tudo o que existe deve ser concedido a
todos. O Brasil tem riqueza potencial sufciente para que os brasileiros vivam tão bem como
se vive nessas belas cidades. É preciso trabalho, coragem para mudar e organização. Essas
forças novas só podem vir daqueles que pouco tem e que acreditam na necessidade da
mudança. Por exemplo, com o maquinário necessário, é possível transferir os homens do
campo para a cidade. Vejam-se os dados do historiador Carlo Cipolla:

430
População atva ocupada na agricultura.
(em percentagem)

Em torno de
1850 1900 1950
Estados Unidos 64 38 13
França 55 43 30
Grã-Bretanha 22 9 5
União Soviétca 85 80 45
Alemanha - 35 24
Itália - 60 42
Brasil - - 61
Turquia - - 86

Nas condições do mundo atual, em que se pode aprender das experiências alheias, não há
porque levar-se cem anos, empiricamente, para avançar na direção correta. Se você sabe
para aonde ir, escolhe o caminho mais rápido. É isso que ensina a lei, observada pelo
marxista, do desenvolvimento desigual: quem aprende, chega primeiro. O Brasil pode ser
organizado para avançar rapidamente na direção correta. Já sabemos, pelo ensinamento da
experiência histórica, que quanto mais equipamento se introduzir no campo, mais riqueza
será criada. Quanto mais riqueza for criada, mais crescerá o volume do capital industrial.
Quanto maior o volume do capital industrial, mais ricas serão as populações da cidade.

Veua – o correlato de Cipolla para o caso brasileiro:


Posição Relatva do Brasil.
Percentagem da agricultura no produto interno.
Em torno de
1770 1870 1950
Estados Unidos - 30 5
França - 45 16
Grã-Bretanha 45 15 4
União Soviétca - 55 22
Alemanha - 30 15
Itália - 57 29
Brasil - - 30

É evidente que o Brasil, em termos de progresso econômico, está hoje (1962) na mesma
posição aproximada que estava em 1950. Esta é a posição que os EUA estavam em torno de
1870 (há 92 anos...). É por isso que nós somos um país atrasado e eles não. É por isso que

431
devemos aprender do exemplo deles, e tomar conta de nossa própria vida. Imagine então
qual será o enorme tamanho do produto agrícola, quando ele, em vez de ser 30% ou 70% do
nosso PIB, for 10% ou 5%! O Brasil será uma potência econômica.

Infelizmente no Brasil, quem fala quem tem acesso à imprensa, e quem governa o país, são
os “inimigos do povo”,! Não se trata de uma fgura de retórica. São as classes dominantes que
se estão nas tntas para a situação da absoluta maioria. Em vez de debater os temas, elas
preferem silenciar os que discordam.

No nível de desenvolvimento que o mundo houe chegou não se pode mais renunciar a
adotar a revolução industrial. O argumento do Sr. Eugênio Gudin, ministro da Fazenda do
“governo” Café Filho, é que “sai mais caro” industrializar-se do que comprar dos ricos. Ele
acha que em vez de fnanciarmos os srs. Rocha e Devisate para produzir os sapatos caros
que usamos, devíamos comprar os sapatos mais baratos e melhores que os italianos
fazem. Só que os sapatos dos srs. Rocha e Devisate criam empregos no Brasil, criam capital
industrial no Brasil, e as importaçees do Sr. Gudin criam emprego na Itália.

Índice da produção industrial


Volume (1938 = 100)

Anos Europa Ocidental Estados Unidos


1901 44 35
1913 69 66
1929 86 124
1937 102 127
1955 177 291

O capital monopolista de Estado é uma estrutura criada a partr da tomada de um Estado


qualquer de uma economia desenvolvida por um grupo de monopólios. De um lado, têm por
objetvo maximizar a racionalização da exploração dos trabalhadores e da obtenção de
lucros. O efeito disso é uma estrutura econômica muito avançada. De outro lado, ao
estender as polítcas de maximização a colônias e semicolônias, o capital monopolista de
Estado torna a vida social dessas regiões um verdadeiro inferno: deslocação de populações,
destruição de rios e forestas, eliminação do caráter nacional dos governos locais, etc. Em
nome da integração, os territórios semi-ocupados pelo capital se tornam rapidamente
impróprios para o desenvolvimento social. A desorganização da estrutura insttucional dessas

432
regiões atrasadas é uma necessidade para o capital monopolista, a fm de ter as suas
medidas e os seus projetos implantados em tempo recorde, para satsfazer suas
necessidades na sede.

O planejamento dos monopólios para as regiões dominadas são quase sempre variantes do
crime, do roubo e pilhagem. O que é “racional”, para a metrópole do capital, raramente
mantém a racionalidade quando importa a terceiros.

Os ideólogos do capital costumam ignorar todas as crítcas da ação neocolonial, ou a


minimizá-las. No entanto, as lutas sociais e polítcas nos territórios submetdos à devastação
tendem a crescer, e os monopólios “prestam ajuda”, aos governos locais antnacionais para
reprimir a população e “promover”, as “reformas”, do capital monopolista. Os promotores da
dominação imperialista no território local, como prêmio se perpetualizam no poder, através
de manobras polítcas, golpe de estado, etc. Forças estrangeiras nunca podem pensar um
país ou território do ponto de vista dos interesses locais em seu conjunto, ou de sua
população. A existência de um poder nacional é indispensável para planejar os interesses de
um povo, hoje submetdo, mas amanhã feito soberano. O direito de cada povo à sua
autodeterminação é uma premissa inalienável dos povos do mundo. Um governo não pode
dizer a outro o caminho que este outro deve seguir. Muito menos pode impor-lhe pela força
ou pela violência este suposto caminho melhor.

O Estado não é um mecanismo sem classes e neutro, que atua em interesse de todos na
sociedade. Ele é historicamente montado por uma ou mais classes, para governarem a
sociedade através dele, e se tornar(em) assim classe(s) dominante(s). O Estado fraco e
atrasado pode fazer concessões a outros Estados, sem prejudicar de todo sua própria classe
dominante. No entanto, estas concessões atngirão os direitos daqueles que ali vivem e não
pertencem à classe dominante. Nesse caso, não há porque outras classes aceitarem como
carneiros a imposição de minorias organizadas para que piorem suas vidas.

Por exemplo, a melhoria e expansão dos meios de produção é um direito de todos os povos,
para organizar e melhorar a sociedade de cada qual e escapar da miséria e da doença. Uma
estratégia de um monopólio não se preocupa com este tpo de interesse, irracional para os
seus ganhos. Assim, as sociedades locais, dominadas pelo capital monopolista – geralmente

433
externo – não podem melhorar suas condições no período de expansão ou, pior ainda, nos
períodos de crise econômica.

Todos os países têm o direito de adotar formas da revolução industrial que interessem ao
desenvolvimento de seu poder nacional, sem viverem acorrentados a normas externas da
divisão internacional do trabalho, que lhes distribuem apenas tarefas complementares. Por
exemplo, o Brasil deve pôr café e cacau na mesa dos países avançados; a Guatemala,
bananas; Cuba, açúcar, etc. Esta organização que deu efciência à revolução industrial da Grã-
Bretanha, dos EUA e da França está hoje ultrapassada. Os países subordinados devem
escolher seus próprios caminhos. O processo de especialização da produção que foi imposto
a todos e a cada qual pelo colonialismo é, na verdade, o responsável pelo atraso que têm
hoje. É notável que os países colonizadores, em termos relatvos, “se deram bem”,. Ou seja,
as transformações que as antgas metrópoles sofreram dentro de si foram muito mais
autônomas do que aquelas sofridas pelas antgas colônias:

Renda “per capita” nos setores de produção.


(ao redor de 1953)

% ocupação Renda per % ocupação Renda per


no setor capita no nos demais capita nos
primário setor primário setores demais setores
Europa Norte Ocidental 20 380 80 760
América Latna 50 130 50 390
Médio Oriente 70 90 30 225
Extremo Oriente 80 55 20 120

Vê-se que na transformação do processo de divisão de tarefas no comércio internacional, os


países atrasados fcaram com a parte da tarefa que já tnham, e que tendem com isso a
contnuar atrasados. Somente a independência de um poder nacional local, portanto, a
serviço da sociedade local, pode gerar as novas estratégias necessárias para trar cada um
desses países da situação de atraso. A produção em massa, a nova mecânnica da produção,
deve ser pensada e produzida para solucionar o problema de uma sociedade atrasada. Por
isso, ela seria uma das últmas prioridades a ser adotada por uma outra sociedade, avançada.

Portanto, a questão do estabelecimento de um poder nacional é questão central para


redirecionar o conjunto das polítcas de uma sociedade como a brasileira, efetuando

434
reformas e permitndo o desenvolvimento do capital industrial que, em boa parte para as
condições de um país atrasado, tem que ser consttuído com investmentos do setor público.
Diz Oskar Lange:

“... que comparado ao estágio de atraso herdado, o investmento público e a criação de um setor
nacionalizado com caráter de capitalismo estatal são um passo adiante nas ações subdesenvolvidas.
A criação de um setor capitalista estável através do investmento público significa um certo grau de
industrialização e desenvolvimento econômico geral, que de outro modo não teria sucesso. Também
implica na diminuição da dependência do capital natvo ao capital monopolista estrangeiro e,
portanto, medidas concomitantes de libertação do país da dominação do imperialismo de Estado
numa nação subdesenvolvida é globalmente um fenômeno progressista.”

A formação de um, governo progressista é a base para o estabelecimento de reformas de


fundo no país. É o que potencialmente permite também a reforma do Estado e reorientá-lo
para objetvos que sejam nacionais. Não é possível mudarem-se as polítcas de fundo sem
uma alteração da correlação de forças dentro do Estado. E essa nova correlação de forças só
pode ser construída a partr de um governo progressista, de fundamentos democrátcos e
nacionalistas. Nkrumah diz, com certo pessimismo:

“Independência em si não muda este mundo; apenas cria a atmosfera polítca correta para um
esforço real de regeneração nacional. Não supre um país, entretanto, de todo o instrumental
econômico e social. Hoje em dia espera-se milagre dos líderes, como um resultado simples da
aquisição de independência. Se a independência é o primeiro alvo, o desenvolvimento vem em
seguida e nenhum líder africano ou asiátco escapa a esta pressão.”

É evidente que a independência só pode ser efetvada no quadro de um amplo movimento


de massas, no ambiente de um debate polítco democrátco, capaz de envolver o povo nas
tarefas de transformação da sociedade. O governo deve ser um instrumento para fazer
avançar a partcipação das massas populares, e não uma engenhoca que tenha a pretensão
de substtuí-las. A pressão das massas a exigir reformas é legítma, mas o governo deve
dedicar-se plena e sinceramente a efetuar tais reformas. Como disse o planejador indiano
V.K. Rao: Referindo-se ao caminho dos países logo industrializados, frisou a importânncia de
possuir um caminho:

“A estratégia era então a de manter os dividendos do lucro tão altos quanto possível e contnuar
reinvestndo ou aumentar esses lucros até que esta economia desenvolvida atngisse um estágio que

435
tornasse possível dar aos trabalhadores alguns dividendos deste incrementado volume de produção.
Não há dúvida de que há muito de uma pesada lógica atrás desse processo, mas para as pessoas
simples que viveram naquele período isto significou exploração e negação de algumas liberdades
fundamentais. As condições miseráveis sob as quais o trabalho funcionava, no estágio de transição
do pré-desenvolvimento ao desenvolvimento, assim como a negação daqueles instrumentos da
liberdade ao trabalhador, com os quais poderia organizar-se para melhorar sua condição, são
amplas evidências desse fato. Constava também desse processo a negação de direitos polítcos, de
voto e de franquias de maioridade, estando assim impedidos de infuenciar o governo para melhorar
suas condições de trabalho e salários. Foi a exploração do trabalho que formou uma base importante
para a acumulação de capital que financiou a revolução industrial e tornou possível a transição da
estagnação econômica ao desenvolvimento. Em outras palavras, o arranco econômico acompanhou-
se da ausência de liberdades democrátcas.”

Ou seja, num ambiente em que as forças a serviço da burguesia eram dominantes, o


caminho escolhido pela burguesia foi intensifcar a exploração dos trabalhadores. O avanço
da luta democrátca permite hoje aos países atrasados escolher outro caminho, que não
aquele seguido pela burguesia há 150 anos, e que nos países atrasados não foi em nada
alterado.

No caso brasileiro, o caminho alternatvo à exploração burguesa passa pela reforma do


Estado, e a libertação das forças produtvas do país, controladas hoje que são pelo
imperialismo e o latfúndio. Nosso programa mínimo é uma plataforma clara, em apoio das
forças nacionalistas e democrátcas. Recentemente, Prestes enumerou as tarefas atuais:

“ a) Repulsa às imposições do FMI e aos planos da Aliança para o Progresso;

b) Limitação drástca da remessa de lucros dos monopólios estrangeiros e ampliação do monopólio


estatal do petróleo;

c) Nacionalização das empresas estrangeiras concessionárias de serviços públicos, com indenização


pelo custo histórico, assim como de outras empresas imperialistas que operem em setores
fundamentais da economia do país;

d) Realização de uma reforma agrária radical, estabelecendo a entrega das terras dos latfúndios às
massas camponesas, com a indenização das terras desapropriadas em ttulos da dívida pública e
segundo o valor tributado;

436
e) Medidas concretas contra a infação e a caresta, rigoroso controle do câmbio e do comércio
exterior;

f) Revogação das leis reacionárias, que violam os direitos do cidadão, como a Lei de Segurança
Nacional. Legalidade para o Partdo Comunista;

g) Reforma da lei eleitoral, com eliminação das discriminações antdemocrátcas, como as do artgo
58; restrições à infuência do dinheiro nas eleições e direito de voto para analfabetos e soldados;

h) Polítca externa independente, de ampliação de nosso comércio exterior, pacífica entre os países de
diferentes regimes sociais em favor do desarmamento e da paz mundial;

i) Combate aos grupos terroristas, eliminação dos focos de provocação golpista nas forças armadas e
garanta das liberdades democrátcas para todos os cidadãos.”

“A fim de alcançar este objetvo, é necessário fortalecer a união de todas as forças nacionalistas e
democrátcas; a classe operária, os camponeses e as massas populares, que consttuem a base do
movimento pela libertação e o progresso do país, e a burguesia ligada aos interesses nacionais. Um
governo nacionalista e democrátco, capaz de adotar medidas efetvas contra os inimigos da nação,
deverá ser um governo de coalizão onde estejam representadas as forças integrantes da frente única,
inclusive aquelas que dão a maior contribuição na luta ant-imperialista e antfeudal: os operários, os
camponeses, a intelectualidade revolucionária, as camadas médias. Não poderia inspirar confiança
ao povo, nem realizar um programa efetvo de frente única, um governo do qual partcipasse apenas
a burguesia ligada aos interesses nacionais, cujas tendências ao compromisso com o inimigo são
evidentes.”

“A conquista de um governo nacionalista e democrátco exige que as massas travem uma luta
constante tendo como objetvo principal isolar e derrotar as forças que representam o imperialismo e
o latfúndio e, neste sentdo, utlizem os choques entre os dois setores das classes dominantes. Isto
não deve significar um apoio passivo às posições da burguesia ligada aos interesses nacionais,
porque esta camada da burguesia, ao mesmo tempo que utliza o movimento de massas, a fim de
exercer pressão sobre as forças retrógradas, tende a entrar em conciliação com estas às custas do
povo.”

Em qualquer país atrasado, não basta ter um programa e atualizá-lo, ouvindo a marcha do
movimento popular. É preciso trabalhar incansavelmente para trazer massas de milhões de
pessoas para as jornadas de luta e esclarecer a todo o movimento que as reformas
insttucionais, que podem ampliar a independência e o progresso do país não se farão

437
sozinhos. Só o povo organizado pode efetuá-las. Também é verdade que o Brasil tem
percorrido um longo caminho de transformações, que não pode ser desprezado. É um erro
negar as vitórias que o país tem tdo recentemente na luta pelo desenvolvimento. Contudo,
também seria um erro não reconhecer um certo grau de bloqueio que se vê atualmente ao
êxito da polítca de substtuição de importações. Isto resulta tanto de mecanismos objetvos,
como as futuações do capital seguindo os lucros, como de polítcas sabotadoras, como as
adotadas pelos governos Café Filho e Jânnio Quadros. No quadro atual de impasse, resultante
da adoção do parlamentarismo, a situação de ausência de estratégia tende a se agravar.
Polítcas que não sabotassem a indústria poderiam ajudar.

Examinando as Contas Nacionais do país nos últmos 12 anos (1949-1960), observa-se que o
produto nacional bruto cresceu 11,08 vezes em termos nominais (valores não defacionados). É um
desempenho considerável, que requer agora mudanças nas relações de produção para contnuar a
ocorrer. O PNB cresceu a uma taxa média anual de 24,43%, colocando o Brasil como um dos países
atrasados que mais crescem no mundo. Uma parte desse resultado é de ordem objetva, devido à
abundânncia de recursos materiais, o grau reduzido de sua exploração, a expansão do mundo
industrialmente no pós-guerra, etc. Outra parte, no entanto, expressa o esforço para acertar das
forças que representam em nosso país o capital industrial, entre as quais a burguesia ligada ao
desenvolvimento.

CONTAS NACIONAIS E INSUMO – PRODUTO


I – PRODUTO NACIONAL RENDA NACIONAL E RENDA PESSOAL – 1949/60

ESPECIFICAÇÃO ESTIMATIVAS (Cr$ 1.000 000 000)

1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960

Produto Nacional Bruto 213,4 251,1 304,0 349,6 425,2 550,6 685,9 877,5 1.049,9 1.300,0 1.774,3 2.363,6

Menos: Depreciação do 10,7 12,6 15,2 17,5 21,3 27,5 34,3 43,9 52,5 65,0 88,7 118,2
Capital Fixo
Produto Nacional 202,7 238,5 288,8 332,1 403,9 523,1 651,6 833,6 997,4 1.235,0 1.685,6 2.245,4
Líquido
Menos: 23,0 26,5 36,3 40,1 47,5 72,6 79,3 111,3 137,0 203,3 294,4 383,4
Tributos Indiretos
Mais: Subsídios 0,3 0,6 0,4 0,5 0,5 0,7 1,0 4,4 4,9 14,5 12,6 17,2

Renda Nacional 180,0 212,6 252,9 292,5 356,9 451,2 573,3 726,7 865,3 1.046,2 1.403,8 1.879,2

Menos: Lucro Retdo 2,9 3,4 6,0 9,6 13,9 22,1 25,5 29,6 31,5 54,3 64,1 97,9

Impostos Diretos Pagos 2,5 2,9 3,9 5,5 6,4 7,8 11,4 14,7 16,2 17,4 29,0 39,1
por Empresas
Receita Imobiliária do 0,4 0,5 0,5 0,6 0,6 0,8 0,9 1,1 1,2 1,5 1,9 2,2
Governo
Contribuição para a 3,6 4,3 5,4 6,7 7,4 8,9 11,9 17,9 25,6 31,4 43,6 56,5
Previdência Social
Mais: Transferências 5,6 6,8 8,8 11,6 15,4 19,0 24,3 36,4 47,2 56,9 83,5 109,7

438
Renda Pessoal 176,2 208,3 245,9 281,7 344,0 430,6 547,9 699,8 838,0 998,5 1348,7 1.793,2

Menos: 5,0 6,2 8,4 9,2 11,2 14,6 17,4 22,5 25,8 34,4 41,0 51,6
Impostos Diretos Pagos
por indivíduos
Renda Pessoal 171,2 202,1 237,5 272,5 332,8 416,0 530,5 677,3 812,2 964,1 1.307,7 1.741,6
Disponível
Fonte – Fundação Getúlio Vargas Insttuto Brasileiro de Economia.

Quanto mais efcientes forem as polítcas econômicas adotadas, mais contribuirão para o
desenvolvimento, uma vez que melhoram o desempenho das forças envolvidas na produção.
Polítcas que favorecem o aumento das importações e cortem auxílios para a produção local
– por exemplo - reduzem o ritmo da industrialização, quando não sabotam simplesmente
esforços anteriores adotados. Já nos referimos à crença de Jânnio de que “restabelecer a
verdade cambial”, traria o equilíbrio ao comércio exterior brasileiro. Admita-se que, em tese,
a opinião daquele governo estvesse correta. Ainda seria correto com (a) uma crise
econômica de estagnação do comércio exterior regional (desde 1958)?; b) seria correto com
a crise ainda vigente nos EUA, nosso maior comprador? Seria mais prudente avaliar o
conjunto da situação (bem desfavorável), no lugar de atribuir as difculdades a “erros”, do
governo anterior (ainda que erros houvesse). As característcas defcientes da estrutura
capitalista não são “erros do governo”,, porque eles expressam a própria estrutura. Nesse
caso, o único “erro do governo”, é lutar para manter a estrutura capitalista... Os conhecidos
economistas Keynesianos Richard Ruggles e Nancy Ruggles assim se expressam para explicar
a função da contabilidade nacional de tpo capitalista, na análise econômica do produto
nacional bruto:

“Um dos principais objetvos das contas nacionais consiste em fornecer informações sobre a
estrutura e funcionamento do próprio sistema econômico. Para este fim é útl dividir a economia em
várias partes, de modo a poderem ser observadas as suas relações internas. As partes em que se
divide a economia serão designadas neste capítulo por “setores”. As contas para estes setores serão
sempre definidas de tal modo que, tomadas em conjunto, refetem toda a atvidade econômica
corrente que se realiza.”

“São possíveis muitas formas de decomposições setoriais da economia. Não há nada implícito no
conceito que limite o número de setores a adotar. Para alguns fins, seria vantajoso dividir a economia
apenas em dois setores: mas, para outros fins, seria necessária uma subdivisão maior da atvidade
econômica, com centenas de setores, todos relacionados uns com os outros por cadeias diretas ou
indiretas de transações. Além disso, para diferentes problemas econômicos, seria vantajosa a

439
classificação de diferentes tpos de setores. Os que estão interessados no desenvolvimento regional
podem desejar uma decomposição regional que mostre o crescimento e a transformação de uma
região relatvamente a outra, e as transações que se verificam entre as várias regiões. Com vista a
planear a defesa nacional seria muito útl uma decomposição por atvidades que evidenciasse as
relações entre as indústrias pesadas e as outras atvidades da economia.”

“Neste capítulo é utlizada uma decomposição da atvidade econômica por setores funcionais. Esse
tpo de decomposição setorial é coerente com as contas nacionais normalmente adotadas, tanto nos
Estados Unidos como noutros países, e proporciona um sistema de contas que pode ser usado para
descrever a fixação dos preços e os níveis de produção e emprego no conjunto da economia. Serão
usados três setores: (1) o setor produtvo; (2) o setor dos consumidores; e (3) o setor público. Estes
setores abrangem a atvidade econômica de toda a economia, no sentdo de que todos os possíveis
intervenientes no processo econômico se podem enquadrar nestes três grupos. Os setores são
funcionais, visto que a sua classificação atende à função da transação e não à natureza do indivíduo
ou organismo envolvido nessa transação.”

Como se vê, a difusão da Contabilidade Nacional faz parte de um esforço para planifcar a
economia capitalista. Ela se iniciou no ocidente pouco antes da revolução russa e também a
União Soviétca criou um sistema de Contabilidade Nacional.

Trabalhando-se assim com um sistema analítco, em que a economia teórica ou de um


dado país é subdividida em tantos setores e subsetores quanto se deseue, para fns
analítcos, as contas da produção da empresa e da economia permitem chegar a quadros
explicatvos do tpo abaixo, em que Ruggles & Ruggles apresentam o produto nacional
bruto dos EUA, em 1953:

Quadro 12. Conta Consolidada de Produção da Economia, 1953.


(em bilhees de dólares) (*)
Atribuições Origem
Depreciações ....................................................... 27,2 Despesas de consumo dos partculares ..... 229,6
Impostos, excluindo os impostos sobre lucros Despesas públicas em bens e serviços ....... 77,2
das sociedades .................................................. 30,1 Despesas brutas em bens de produção
Contribuições para a segurança social ................ 8,7 duráveis .................................................. 51,6
Ordenados e salários ........................................... 200,4 Variação líquida das existências ................. 1,5
Rendimento das empresas em nome individual 49,0 Exportações e rendimentos da propriedade
Juros pagos aos partculares e ao setor público 15,9 recebidos do exterior ............................... 21,3
Impostos sobre lucros das sociedades ............... 21,1 Menos: Importações e rendimentos da
Lucros pagos aos partculares e ao setor público 9,4 propriedade pagos ao exterior ............. 16,4
Lucros não distribuídos ........................................ 7,9
Saldos de exploração das empresas públicas ...... 0,8
Transferências pagas pelas empresas ................... 1,0
Menos: Subsídios ................................................... 0,2

440
Juros da dívida pública .............................. 7,4
Discrepânncia estatístca .......................................... 1,0
Rendimento Nacional Bruto ................................... 364,9 Produto Nacional Bruto ................................ 364,9

(*) Os totais podem não corresponder à soma das parcelas devido a arredondamentos.
FONTE: V. Quadro 21.

O modelo seguido pelo Centro de Contas Nacionais da F.G.V. para efetuar as contas do Brasil
é bastante próximo deste. Como se vê, trata-se de distribuir numa contabilidade de partdas
duplas, subsetores escolhidos como representatvos de agregações formadoras da grandeza
da renda nacional. Como dizem Richard e Nancy Ruggles:

“O total do valor adicionado como um todo foi designado, no lado das origens da conta, por
“produto nacional bruto”. Esta designação indica que é a soma de todos os produtos originados na
economia, com inclusão das despesas brutas em vez das despesas líquidas em bens de produção
duráveis. Por outras palavras, este agregado inclui acréscimo total de bens de capital verificado no
período, não tendo assim em conta a diminuição de capital ocorrida, quer em consequência do seu
envelhecimento, quer do seu desgaste provocado pelo próprio processo produtvo. Será feita no cap.
6 uma análise deste ponto, ao proceder-se ao exame mais pormenorizado dos agregados das contas
nacionais. No lado das atribuições da conta, os juros líquidos e os lucros de todos os produtos foram
designados por “uuros pagos aos partculares e ao setor público” e “lucros pagos aos partculares e
ao setor público”. Os juros e os lucros pagos ao exterior foram já incluídos nas importações e
rendimentos da propriedade pagos ao exterior. O total deste lado da conta é inttulado “rendimento
nacional bruto” para designar o rendimento (bruto de depreciações) originado pela atvidade
produtva da economia. A decomposição apresenta no quadro 12 mostra como o produto nacional
bruto foi utlizado no ano de 1953. Do total de 364,9 bilhões de dólares, 229,6 bilhões, ou seja, 63%
do total representaram o valor dos bens consumidos pelos partculares. O custo dos bens e serviços
do setor público totalizou 77,2 bilhões de dólares, ou seja, 21%. O valor de produção dos bens de
capital foi de 51,6 bilhões, isto é, 14% do total. As exportações excederam as importações em 4,9
bilhões, pelo que as exportações líquidas se cifraram em 1% do total. Finalmente, o aumento das
existências foi de 1,5 bilhões de dólares, indicando que o total da produção excedeu o total das
vendas em 1,5 bilhões, ou seja, menos de 0,5% do total.”

“A conta de produção consolidada da economia baseia-se, portanto, na combinação e consolidação


das contas de produção das unidades produtvas e evidencia o total do valor de mercado da produção
nacional. O lado das origens da conta de produção consolidada da economia mostra a relação entre o
total da produção realizada e a produção vendida aos vários compradores. O lado das atribuições da
conta de produção consolidada mostra como o rendimento resultante do produto nacional bruto é

441
repartdo pelos vários tpos de pagamentos. As transações correntes que se registraram durante um
período de tempo são, pois, combinadas e consolidadas de modo a revelar os tpos de atvidade
produzida realizada na economia.”

No processamento empírico das contas do produto – como em tudo mais – fazem-se alguns
procedimentos expeditos, que, contudo não falseiam seja a direção da informação a
processar, seja o resultado numérico aproximado das grandezas. Ruggles & Ruggles explicam:

“Neste capítulo explicou-se, em termos do conceito de valor adicionado, a conversão numa conta de produção
da economia das demonstrações de resultados das empresas e das contas de receitas e despesas do setor
público e de outras unidades produtvas que não vendem os seus produtos. O valor adicionado pela indústria
transformadora é um conceito usado pelo Census of Manufactures para mostrar a produção realizada pela
atvidade transformadora das empresas. Segundo o critério ali adotado, não são considerados os custos e as
receitas que não respeitam à atvidade transformadora. O produto bruto originado é essencialmente o mesmo
conceito, com exceção de ser aplicado a todas as formas da atvidade produtva. Assim, será vantajoso fazer
uma análise específica do produto bruto das insttuições financeiras, empresas em nome individual e de certas
outras unidades produtvas.”

“Ao calcular o produto bruto, verifica-se em muitos casos que é mais simples considerar-se a contribuição
produtva da empresa como sendo o total das contribuições dos fatores de produção e de outras atribuições
relevantes feitas pela empresa. Este método é o recíproco do método do valor adicionado, pois aquilo que este
obtém como resíduo, pela dedução ao valor total da produção dos custos de bens e serviços comprados a
outras empresas, é construído, rubrica a rubrica, no método do produto bruto originado. No caso simples
ilustrado pela conta de produção indicada no Quadro 5 ambos os métodos conduzem ao mesmo resultado.”

“No cálculo do produto bruto das insttuições financeiras surgem problemas relatvos ao tratamento dos juros
e lucros. Os juros e lucros recebidos por tais insttuições excedem muitas vezes os juros e lucros por elas pagos.
Se fosse seguido o processo delineado nas seções antecedentes, então poderia ser negatvo o produto bruto
destas insttuições. Esse resultado é uma consequência da omissão de certas transações imputadas. A seção
seguinte trata da adição destas imputações às contas e mostra o cálculo do produto bruto nestes casos.”

“As insttuições financeiras, tais como bancos, companhias de seguros e companhias de construção e crédito,
são completamente diferentes das outras empresas. Vendem normalmente os seus serviços de forma indireta.
Um banco comercial, por exemplo, recebe depósitos que pode, por seu turno, emprestar ou utlizar na compra
de ttulos que lhe proporcionem rendimento. Como compensação do uso de tais depósitos, o banco comercial
presta serviços bancários. Um depositante pode emitr cheques sobre a sua conta e se esta for volumosa é-lhe
permitdo emitr um grande número de cheques sem ter de suportar quaisquer encargos por esse serviço. Por
outro lado, se a sua conta for pequena está sujeito a despesas por cada cheque emitdo. Assim, o banco
compensa os seus clientes pela utlização dos seus depósitos permitndo-lhes a emissão do seu dinheiro.

442
Pagando aos depositantes juros sobre todas as quantas depositadas e, ao mesmo tempo, debitando cada
depositante por um encargo de acordo com o número de cheques emitdos, o banco podia tornar explícitas, em
vez de deixar implícitas, todas as transações efetuadas. O resultado deste procedimento será idêntco ao da
prátca corrente, mas tornaria mais explícita, a função do banco visto que podia ver-se rapidamente que o
banco vende um produto – pagamento de cheques às empresas e aos partculares que nele têm contas de
depósito.”

O sistema de Contas Nacionais faculta, portanto, descobrir os elementos racionais ocultos


nos procedimentos quotdianos da prátca econômica e, como resultado, estender em muito
a análise em detalhe dos movimentos ou fuxos de uma situação econômica.
Consequentemente, também contribui para uma interpretação mais rigorosa das relações de
produção e consumo, permitndo por a nu, as estruturas econômicas de repartção de
riqueza, tal como funcionam. Logo, permitem desenvolver métodos dinânmicos e empíricos
de prever desenvolvimentos alternatvos de potencialidades do real, que se deram, ou que
estão a se dar. O planejamento marxista se enriquece com a ampla franja de
desenvolvimento metodológico que os estudiosos marxistas podem aplicar, na análise do
capitalismo e do socialismo.

5 – Conclusão.

Estudamos nessa aula como a fonte possível de saída do atraso para os países pobres é
copiar de forma inteligente e criadora, a revolução industrial dos países que se tornaram
ricos. Aprendemos que sem tomar o caminho do crime e da pilhagem, como a maioria
daqueles países fzeram, é possível encontrar esta saída para fora da miséria e da doença.

Sabemos que o caminho é o socialismo, mas aprendemos que há inúmeras vias de


passagem em que se pode desenvolver o capital industrial e construir uma sociedade mais
democrátca do que a nossa, mais igualitária do que a nossa.

Aprendemos que tudo no Brasil pode ser melhorado, que não é o mesmo que supor que
nada haja sido feito. O desenvolvimento hoje está bloqueado, mas a força das massas e a
luta polítca pode obter um governo, democrátco e nacionalista, capaz de mudar as polítcas
econômicas.

443
Aprendemos que nada há a esperar de bom do tpo de governo que está aí. Sabemos que
polítcas econômicas expressam a natureza do poder, e os ricos e poderosos do imperialismo
e latfúndio nada guardam de bom para o movimento popular.

Perguntas.

1. Que entende por desenvolvimento nacional?

2. Que papel desempenha o poder nacional para o desenvolvimento econômico e social?

3. Qual a importânncia da reforma agrária nas reformas de base?

4. Que tpo de governo pode mudar as polítcas econômicas?

5. Qual o papel do capital industrial na transformação econômica?

6. Como o agro pode tornar-se industrializado?

7. Como mudar a correlação de forças em favor de um governo nacionalista e democrátco?

8. Descreva a necessidade atual de mudar pela industrialização a base socioeconômica.

9. Que entende por contabilidade nacional?

10. Como a contabilidade nacional permite analisar o produto nacional bruto?

444
Aula 11

445
11 – As Classes o Regime Polítco e o Estado.

Em outra aula já falamos sobre a formação das classes e como elas estão ligadas ao
surgimento e ao desenvolvimento do Estado. Hoje vamos abordar estas relações por um lado
um pouco diferente. Embora os jornais, as revistas, e o rádio apresentem diariamente as
teorias de classe admitdas pela burguesia, as pessoas comuns em geral fngem que não
entendem o caráter objetvo desse problema. As pessoas gostam de pensar a si mesmas
como favorecidas por Deus ou pelo acaso, e em nada oprimidas, reprimidas ou, pior,
exploradas por alguém ou por um sistema.

É clássico o caso de um relatório sobre a pobreza numa área da França (década de 1820)
que, o entrevistador pergunta a uma velhinha que morava em uma casa, quebrada e sem
teto, com um punhado de outros miseráveis:

E – Como a senhora vê essa situação de miséria?

V – Isso é o caso desses rapazes. Eu, felizmente, não sou miserável: tenho meu próprio feixe de palha,
para dormir...

Vê-se que o ser humano é capaz da mais sofstcada ginástca para mascarar a realidade.
Contudo, o primeiro passo para entender uma situação e sair dela é admitr que tal situação
existe. É somente uma postura materialista, que admite a evidência da realidade, que pode
servir de ponto de partda para a mudança. Se miseráveis são os outros, nada tenho a
reivindicar. Muito menos a exigir...

As pessoas são convencidas pelo que possuem de que nada possuir é um castgo; que tal
castgo é dado por Deus; que a riqueza é fruto da sorte, do acaso, etc. Quem estuda ou
conhece a História sabe que nada se passa assim. As pessoas egoístas, que se dedicam a
roubar, a pilhar, a matar o próximo, dão origem aos ricos e às classes dominantes; às vítmas,

446
dão origem às classes trabalhadoras. O capital é produto do roubo e da pilhagem
acumulados através dos séculos. A coisa mais rara é haver alguém rico porque inventou uma
máquina ou um remédio. Esse número de “ricos legítmos”, não chega a 2% do total dos
ricos. E os ricos são aproximadamente 10% de cada sociedade... Por essa razão, as pessoas
não gostam de se identfcar pela estrutura real das classes sociais. Em público, os membros
das classes dominantes se declaram “um trabalhador próspero”,, um “trabalhador de sorte”,,
um “remediado”,, uma “pessoa que economiza”,, etc. Conversa fada para boi dormir... Os
ricos entre si se orgulham da sua riqueza, sabem que são dominadores e se dedicam a todo
tpo de extravagânncias e até crueldades... Em sua maioria são personalidades taradas...

E quanto ao pobre? Ora, ele também gosta de religiosamente apresentar-se como


“remediado”,, como homem da “classe média”,, como “homem de sorte”,... Ou seja, ele se
recusa a tomar consciência de seu lugar na estrutura social. Portanto, nada tem a exigir nem
a reivindicar para mudar a situação econômica e social atual... Por isso, para ter um pouco de
clareza na situação, os anunciantes (agências de propaganda) e o governo trabalham com
segmento de renda, onde há “classes”, A, B, C, D e E... Ora, que seriam esses C, D e E?

O termo “classe média”, vem da Inglaterra. Ele era usado (e é...) para designar pessoas ou
famílias (ou setores sociais) proprietários, com casa, coches, sítos, empregados (logo, a
burguesia...), mas desprovidas de títulos de nobreza ou poder polítco. Ou seja, estavam “no
meio”,, não eram aristocratas, nem pobres. Então, como é que uma pessoa que paga aluguel
de moradia, pode ser da classe média? Como é que alguém que não tem uma fábrica ou uma
ofcina que lhe produza riqueza pode ser da classe média? Como é que uma pessoa que
recebe salário (operário) pode ser da classe média?

A diferença que existe entre trabalhadores gerou o mito de uma classe média de
assalariados lá antes da primeira guerra mundial (1880-1914). O trabalhador sujo de graxa e
de macacão é “operário”,... O trabalhador de camisa e gravata, sentado num escritório é
“classe média”,... Com esta mentra deliberada, os patrões dividiram a classe operária e
inventaram uma “classe média”, que só existe no desejo, no mundo dos sonhos das pessoas
que ajudam a enganar a si próprias...

447
1 – As Classes.

Um dos motvos pelos quais muitas pessoas religiosas odeiam o marxismo é porque ele
destrói mentras, enganações, e coloca as pessoas diante da dura realidade. Na verdade,
essas pessoas – embora religiosas – não são pessoas boas... Elas gostam de deixar as outras
enganadas, para obter proveito próprio. O verdadeiro sentmento religioso é altruísta, deseja
o bem do próximo e leva ao humanismo, de forma semelhante ao marxismo. Não quer
enganar ninguém. Para mudar algo errado, é preciso reconhecer que está errado. Já
enumeramos as classes sociais de nossa época que existem na sociedade brasileira.

Portanto, não há razão para alguém alegar que “não sabe”, onde se encontra na estrutura
social. Diferentes escolas de pensamento (sociológico, econômico, polítco) alegarão outros
esquemas e o público em geral só fca mais confuso: às vezes sinceramente, às vezes em
proveito de sua própria alienação. O nosso caso é outro: não queremos nos aproveitar de
nenhuma confusão. Lênine disse: para levar o conhecimento marxista ao proletariado, é
preciso levar tal conhecimento a todas as classes da sociedade. Sim, não se pode esclarecer o
trabalhador isoladamente. E às vezes, ele compreende mais lentamente que seus inimigos,
devido a uma escolaridade mais baixa ou nenhuma. Por isso, os marxistas são partdários do
livre debate. Não escondem suas verdades. Não querem mitfcar nem enganar.

As classes – nós sabemos – são produtos de divisões necessárias antnômicas em cada


sociedade, no processo de criação e distribuição de riquezas. Para os historiadores marxistas,
tais classes não se defnem pela fachada insttucional de uma sociedade, mas por aquilo que
os marxistas descobrem ali serem “relações de produção”,. Daremos um exemplo: se numa
dada sociedade, uma doença cardíaca X era denominada “piado de peito”,, o médico não irá
classifcá-la como “piado de peito”,, mas “doença cardíaca X”,, embora naquela sociedade
nunca a hajam chamado assim. A ciência não pode abrir mão de um conhecimento, em
proveito da aparência de conhecimento de um conhecimento anterior. Ao descobrir o
processo antnômico da formação das classes, é obrigação do historiador identfcar as
classes que existam numa dada sociedade, independentemente das formas superestruturais
que à época escondiam tais fenômenos.

Os teóricos burgueses declaram – alguns deles havendo lido Marx – que as classes sociais só
existem ligadas ao mercado capitalista e, portanto, não havia classes sociais no passado – ou

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seja, a sociedade burguesa, para eles, em vez de ser uma sociedade partcular determinada
em sua existência por certas partcularidades, é o “ponto de chegada”, de sociedades
anteriores desprovidas de movimento e racionalidade, uma espécie de “feira de animais”,, ou
“jardim zoológico”,, todas aquelas. Semelhante bobagem procura negar o caráter antnômico,
determinado e temporário de cada modo de produção na história e, portanto, negar a
transitoriedade do modo de produção capitalista.

As sociedades de classe formam uma generalidade. A sociedade capitalista é uma delas. O


que nela está, é desdobramento do embrião de outras, antecedentes. Daí que as classes
como antnomia, existram antes, e a luta de classes consequentemente também.

A análise de evolução histórica, com base na dialétca materialista, permite elaborar como
materialismo histórico a teoria capaz de explicar o movimento específco de cada sociedade.
O Brasil como tal, em estrutura social, formou-se nos últmos 70 anos. Com o fm da
escravidão e o avanço rápido da colonização agrária e da migração (de fora para dentro e do
norte para o sul) formaram-se as classes sociais atuais e o mercado capitalista local (1890-
1960). É característco da sociedade capitalista as classes se relacionarem “livremente”,
através do mercado, embora no caso ainda subsistam liames pré-capitalistas e mercados
primitvos ainda não absorvidos no processo de acumulação do capital. Livremente, porque
os indivíduos componentes das classes podem se relacionar ou não; mas as classes
necessariamente têm de fazê-lo. Um trabalhador assalariado pode deixar de sê-lo (“livre
contrato”,), mas a classe trabalhadora assalariada, não. Um burguês pode recusar a contratar
mão de obra (“livre contrato”,), mas o conjunto da burguesia, não. Tais relações de
necessidade podem colocar os indivíduos na fronteira-limite do acaso (dar-se ou não dar-se o
fato), mas isso não pode ocorrer com o todo. Kozmínov explica as classes na sociedade
feudal:

“A sociedade feudal dividia-se em duas classes fundamentais: os senhores feudais e os camponeses.


A classe dos senhores feudais não consttuía um todo homogêneo. Os senhores feudais mais fracos
pagavam tributos aos grandes senhores, ajudavam-nos nas guerras, mas, em compensação,
desfrutavam de sua proteção. O protetor chamava-se suserano e o protegido, vassalo. Por sua vez,
os suseranos eram vassalos de outros senhores feudais mais poderosos. Assim era consttuída a
hierarquia feudal.”

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“Os latfundiários feudais, como a classe dominante que eram, estavam à frente do Estado.
Consttuíam um estado – a nobreza. Os nobres possuíam as honras da situação de primeiro estado e
desfrutavam de amplos privilégios polítcos e econômicos.”

“O clero (o eclesiástco e o monástco) também se situava entre os maiores proprietários de terras.


Possuía territórios vastssimos, habitados por uma população numerosa de camponeses dependentes
e de servos; ao lado da nobreza, desfrutava da condição de estado dominante.”

“O campesinato consttuía a ampla base sobre a qual repousava a “pirâmide feudal”. Os


camponeses eram subordinados ao latfundiário e achavam-se submetdos ao poder supremo do
maior senhor feudal – o rei. O campesinato era uma camada privada de direitos polítcos. Os
latfundiários podiam vender os seus servos e utlizavam amplamente esse direito. Os latfundiários
feudais submetam os camponeses a castgos fsicos. Lênine chamou a servidão de “escravidão
feudal”. A exploração dos camponeses servos era quase tão brutal quanto a exploração dos escravos
no mundo antgo. Entretanto, de toda maneira, o servo podia trabalhar parte do tempo em sua
própria parcela de terra, podia, em certa medida, pertencer-se a si mesmo.”

“A principal contradição de classe na sociedade feudal era a contradição entre os senhores feudais e
os camponeses dependentes. A luta do campesinato explorado contra os latfundiários feudais
prolongou-se por toda a época do feudalismo e assumiu a maior agudeza no fim dessa época,
quando a exploração feudal chegara ao extremo.”

“Nas cidades que se libertavam da dependência feudal, o poder encontrava-se em mãos dos
citadinos ricos – os comerciantes, os usurários, os donos de terras da cidade e os grandes
proprietários de imóveis. Os artesãos agremiados, que consttuíam o grosso da população urbana,
frequentemente manifestavam-se contra as camadas altas da cidade, conseguindo a partcipação no
poder urbano, ao lado da aristocracia urbana. Os pequenos artesãos e oficiais lutavam contra os
mestres agremiados e os comerciantes.”

“No fim da época feudal, a população urbana já estava muito dividida em camadas. De um lado
formavam os comerciantes e os ricos mestres agremiados e do outro as amplas camadas de oficiais e
aprendizes, a pobreza da cidade. As camadas mais baixas da cidade lutavam contra as forças
unificadas da aristocracia urbana e dos senhores feudais. Esta luta fundia-se numa torrente única
com a luta dos servos contra a exploração feudal.”

Negar a dinânmica de classes nas sociedades que precedem a sociedade capitalista é


importante arma para atribuir o caráter acidental ou subjetvo aos confitos de interesse no

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capitalismo. Dessa forma, os que reclamam ou protestam da exploração são qualifcados
como “desajustados”,, “extremistas”,, “inaptos para o trabalho”,, etc. Por que atribuir a
“supostas classes”, ou “interesses gerais”, ações de indivíduos? Negar a estrutura dinânmica e
contraditória da sociedade permite eliminar a análise e colocar em seu lugar, “otmistas”, e
“pessimistas”,. Kozmínov examina a estrutura de classe no capitalismo:

“O desenvolvimento das forças produtvas da sociedade feudal chocava-se cada vez mais com os
estreitos marcos das relações de produção feudais. O campesinato, que se achava sob o jugo da
exploração feudal, não estava em condições de fazer crescer a produção agrícola. A produtvidade do
trabalho forçado dos camponeses era extraordinariamente baixa. Na cidade, o crescimento da
produtvidade do trabalho dos artesãos chocava-se com os obstáculos criados pelas normas e pelos
estatutos corporatvos. O regime feudal caracterizava-se por ritmos lentos de desenvolvimento da
produção, pela rotna e pelo domínio das tradições.”

“As forças produtvas que se desenvolviam dentro da sociedade feudal entraram em contradição
com as relações de produção feudais. A lei da correspondência das relações de produção ao caráter
das forças produtvas exigia a passagem do feudalismo ao capitalismo.”

“Durante o feudalismo, pouco a pouco, desenvolvia-se a produção mercantl. Ampliava-se o


artesanato urbano e cada vez mais se incorporava ao domínio da troca os produtos da economia
camponesa.”

“A economia dos pequenos artesãos e camponeses, baseada na propriedade privada e no trabalho


individual, e que cria produtos para a troca, chama-se produção mercantl simples.”

“Como já vimos, o produto destnado à troca chama-se mercadoria. Diferentes produtores de


mercadorias gastam na produção de uma mesma mercadoria quantdades diferentes de trabalho. Tal
fato depende das diferentes condições em que eles têm de trabalhar: os produtores de mercadorias
que possuem instrumentos mais aperfeiçoados gastam menos trabalho do que outros na produção
de uma mesma mercadoria. Ao lado da diversidade dos instrumentos de trabalho, também têm
importância as diferenças de força, de habilidade, de destreza do produtor, etc. Ao mercado, porém, é
indiferente saber em que condições ou com que instrumentos foi produzida tal ou qual mercadoria.
Por uma mesma mercadoria paga-se no mercado uma mesma soma de dinheiro, independentemente
das condições individuais de trabalho em que ela tenha sido produzida.”

“Por isso, os produtores mercants, cujo dispêndio individual de trabalho é superior à média
existente, por trabalharem em piores condições, ao venderem suas mercadorias cobrem apenas uma

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parte desse dispêndio de trabalho e se arruínam. Inversamente, os produtores mercants que
despendem menos trabalho individual do que a média, pelo fato de suas condições de produção ser
superior, ao venderem suas mercadorias veem-se em situação vantajosa e enriquecem.”

Ou seja, o movimento contraditório dos interesses de classe leva à formação de novas


camadas e daí classes na sociedade, que por isso se transforma em outra direção, que não
podia ser esperada pelas classes antecedentes:

“Cada capitalista cuida apenas do seu próprio enriquecimento. Mas, como resultado final das ações
dispersas dos diferentes empresários, aperfeiçoa-se a técnica e se desenvolvem as forças produtvas
da sociedade capitalista. Ao mesmo tempo, a caça à mais-valia impele cada capitalista a ocultar dos
concorrentes suas conquistas técnicas, engendram os segredos comerciais e tecnológicos. Fica, pois,
patente que o capitalismo opõe determinados limites ao desenvolvimento das forças produtvas.”

“O desenvolvimento das forças produtvas no capitalismo processa-se sob uma forma contraditória.
Os capitalistas só empregam novas máquinas quando isto determina a elevação da mais-valia. A
introdução de novas máquinas é a base para elevar por todos os meios o grau de exploração do
proletariado; o progresso da técnica realiza-se ao preço de incontáveis privações e sofrimentos de
muitas gerações da classe operária. É assim, da maneira mais rapace, que o capitalismo trata a
principal força produtva da sociedade – a classe operária, as massas trabalhadoras.”

Vê-se, pois, com toda clareza que a evolução histórica da luta de classes com interesses em
confito requer tempo considerável para criar novas classes e suas contradições, enquanto
que o desaparecimento da sociedade anterior arrasta numa luta sem fm para se efetuar. Por
exemplo, como deixar de relacionar o hábito da burguesia brasileira, de esfomear seus
trabalhadores, negar-lhes casa e educação, negar-lhes saúde pública, numa escala
generalizada, sem recordar que há apenas 74 anos a escravidão era um regime legal? Além
da burguesia nascente, há outras camadas e classes em ação por aqui. Diz Kozmínov:

“No capitalismo, os latfundiários consttuem a classe dos grandes proprietários de terras, que, em
geral, arrendam a terra aos capitalistas-arrendatários ou aos pequenos produtores-camponeses, ou,
ainda, organizam em suas terras a grande produção capitalista, com emprego do trabalho
assalariado.”

“O campesinato, em sua massa fundamental, é a classe dos pequenos produtores, que exploram sua
economia com o próprio trabalho e empregando meios de produção que lhes pertencem. Nos países
capitalistas, o campesinato consttui parte considerável da população. As camadas fundamentais do

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campesinato são exploradas pelos latfundiários, camponeses ricos, comerciantes e usurários. No
curso do processo de diferenciação, do campesinato saem constantemente elementos que, de um
lado, vão engrossar a massa do proletariado e, de outro, tornam-se camponeses ricos, capitalistas.”

“Ademais, existem na sociedade capitalista numerosas camadas da pequena burguesia urbana e


também da intelectualidade trabalhadora. O Estado burguês, que veio substtuir o Estado feudal em
consequência da revolução burguesa, consttui nas mãos dos capitalistas um instrumento de
submissão e opressão da classe operária, do campesinato e de todos os trabalhadores. O Estado
burguês é o comitê executvo da classe dos capitalistas. As formas dos Estados burgueses são muito
variadas, mas, por sua essência, todos estes Estados são uma ditadura da burguesia. As consttuições
burguesas têm por objetvo a consolidação da ordem social desejável e vantajosa para as classes
possuidoras. O Estado burguês declara sagrada e inviolável a propriedade privada sobre os meios de
produção – a base do regime capitalista. O Estado burguês garante a propriedade privada capitalista
sobre os meios de produção, assegura a exploração dos trabalhadores e reprime sua luta contra o
regime capitalista.”

Assim, todas as classes ou camadas a compor ou decompor de classes, pretéritas ou atuais,


são forças que carregam consigo sua leitura de mundo, com que olham para o passado ou
para o futuro. A interpretação do sentdo dos atos que ocorrem na vida social é complexa, e
não há porque deles esperar uma única versão. Há muitas ideias e lutas entrecruzadas,
portanto, numa sociedade de classes.

O menos correto será interpretar os choques como resultado de indivíduos ou atos sem
sentdo. Associações e separações de interesse, ao contrário, hão de desempenhar certo
papel, por detrás de indivíduos ou mecanismos insttucionais. Classes, seus subgrupos,
camadas de restos societários, vêm para a arena do quotdiano, buscam apoio para fazer
triunfar o que lhes é melhor, procuram várias formas de luta para impor sua vontade. Iludir o
próximo faz parte da luta. Falar verdades que podem ser metades ou verdades inteiras,
depende também do interlocutor. No entanto, a polarização de posição tende a se fazer em
torno das classes fundamentais, em torno de seus programas, de suas contradições e de suas
alianças.

Desse modo, pode-se compreender que as alianças, oposições e antagonismos entre as


classes de uma dada sociedade tendem a se estender por certo período histórico, cem ou
mais anos, com “vitórias”, e “derrotas”, parciais desta ou daquela classe, deste ou daquele

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bloco de classes. Tais fenômenos tornam típica a vida polítca e social de uma dada
sociedade. O impacto dessas lutas se refete na base econômica e social e infui sobre a
forma como se manifesta a lei do desenvolvimento desigual. Um país pode adiantar-se ou
atrasar-se em dado plano – econômico, social, polítco – em função do resultado dos seus
choques de classe. Outra questão importante para o Leninismo é que os choques de classe
se dão objetvamente, manifestando-se como confitos de ordem social, independentemente
do grau de amadurecimento da consciência de classe de cada uma das classes fundamentais.
Os ideólogos burgueses creem que não há confito de classes, a menos que os trabalhadores
sejam educados politcamente. Isto é totalmente falso. A consciência de classe não é
adquirida apenas – no processo histórico – pela classe operária, mas por todas as classes.
Quanto mais elevada, a consciência polítca, mais a luta de classes assume um caráter
polítco. É claro que, para a burguesia, é a luta polítca que importa e não os confitos sociais.

Através da luta polítca, as classes dominadas manifestam o desenvolvimento já atngido de


sua consciência social, logrando ver a si própria e os outros seres sociais que lhe são distntos
a que interesses na realidade defendem. Além disso, como resultado desse processo de
aprendizado na luta, as classes exploradas elevam sua consciência a novos patamares,
produzindo no dia a dia, pontos avançados de seu programa, na luta pela solução positva de
seus problemas. Isso chega a um ponto em que a luta polítca se torna intolerável para as
classes dominantes, que apontam assim os curtos limites da “vida democrátca”, que podem
permitr. Quanto às forças majoritárias, expressando-se na luta como massas crescentes,
descobrem novas formas de ação polítca, de vida coletva, de direção coletva das jornadas,
etc. O processo de luta polítca, diante de massas conscientes, se torna uma fonte de
desespero para as classes dominantes, que buscam então encontrar alguma forma de golpe
de estado para livrar-se “temporariamente”, do regime democrátco, e “pôr a casa em
ordem”, através de massacres às forças populares. Não há democracias burguesas estáveis,
senão naqueles lugares onde o desenvolvimento da consciência de classe dos oprimidos foi
bloqueado e aperfeiçoou-se o que Marx chamou “cretnismo parlamentar”,: os grupos
burgueses se revezam no poder, repartndo de formas diferentes, de acordo com o jogo
polítco, o excedente social que logram arrebatar do povo em geral.

Portanto, o que preocupa a direção do partdo operário não é a posição de “cartas


marcadas”, que os pobres e os trabalhadores têm no processo de produção. É antes

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despertar o trabalhador para entender-se como sujeito de sua própria história, e vir
partcipar da luta polítca de seu tempo.

2 – O Regime Polítco.

O país retornou a um regime legal com a Consttuição de 1946. Os anos 30 foram instáveis,
devido à crise de 1929-1932, e à intensa luta polítca que se seguiu à instauração do regime
Vargas, com a chamada revolução de 1930 (1930-1945). Houve, nesse período, duas
reformas consttucionais, com as consttuições de 1934 e de 1937. Vargas foi sempre o
principal líder do capital industrial. Como Perón, Mussolini, Hitler, Inquardt e outros,
escolheram todos apoiar o capital industrial ou monopolista de seus países, à custa dos
imperialismos a eles adversos. Getúlio fez parte desta escola: esperava que a crise
interimperialista lhe facilitasse avançar na industrialização do Brasil. Como oportunista que
era, foi pouco a pouco marchando para a direita, na esperança de uma guerra intereuropeia
que levasse à vitória do nazifascismo. Então, ele poderia comprar de Hitler todos os bens
industriais de produção que os EUA ou a Grã-Bretanha jamais lhe venderiam. Por isso a
consttuição do Estado Novo foi baseada no fascismo.

Com a vitória da União Soviétca e dos EUA na segunda guerra mundial, o eixo nazifascista
foi desfeito e Getúlio deposto, para dar uma fachada democrátca ao país. A Consttuição de
1946, embora resulte de um clima de entusiasmo popular antfascista, não foi elaborada por
uma maioria democrátca, mas por uma maioria nazifascista que devia apresentar agora
fexibilidade e criar uma fachada democrátca. Os bandidos que dominaram a Consttuinte de
1946 eram os mesmos da ditadura de Vargas, que se viram obrigados pela nova conjuntura a
deixar atuar no Congresso uma bancada das forças democrátcas. O PCB, por exemplo, ponta
de lança de tais forças democrátcas, que buscava a mais ampla aliança para efetuar reformas
democrátcas, foi logo atacado e posto na ilegalidade, por exigência dos EUA de Truman e
pelo nazifascista Eurico Dutra.

O PCB lutou duramente contra Dutra, perdendo por assassinato quase uma centena de
militantes (1946-1949). Contribuiu, com sua luta, para a vitória de Getúlio em 1950, que, no
lugar do entreguista, lacaio do imperialismo Dutra, representava os interesses do capital
industrial e uma tentatva de conciliação entre a burguesia nacional e o proletariado urbano.
O governo Dutra (1946-1951) foi de tal modo incompetente que levou a uma crise do

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comércio exterior do Brasil, pratcamente zerando a capacidade de compra do país (1950-
1951). Getúlio passou todo seu últmo governo (1951-1954) a combater a crise, sendo, por
fm, obrigado a suicidar-se. Desde sua fundação o nosso partdo tem-se batdo de modo
heroico e incansável contra o poder do latfúndio e do imperialismo no país. Tem tentado
apoiar as medidas do setor da burguesia interessada na industrialização do país, sem
abandonar por isso a organização independente da classe operária, e das grandes massas
camponesas e de pessoas pobres. Na luta pelas reformas e pela democracia, o PCB já teve
assassinados milhares de militantes, sem arriar suas bandeiras, mas lutando sempre para
corrigir seus erros e levar em frente a causa popular. Como disse Prestes, no 40º aniversário
do partdo (1922-1962):

“Comemorando o aniversário de nosso Partdo este ano, no quadro de um amplo ascenso


democrátco das lutas do povo contra a miséria, pelas liberdades, por uma reforma agrária radical,
contra a dominação imperialista norte-americana, pela solidariedade ao glorioso povo cubano. Essas
lutas põem na ordem do dia, a possibilidade da conquista de um governo nacionalista e democrátco
– reivindicações propostas pelos comunistas às demais forças que integram a ampla frente de
libertação nacional.”

“A história de nosso Partdo é a história da luta pela assimilação do marxismo-leninismo e por sua
justa aplicação, em forma criadora, à realidade brasileira, em permanente colaboração com as
massas e através de uma constante autocrítca. Nosso Partdo amadureceu na luta contra todos os
desvios de direita e de esquerda, contra o sectarismo, o dogmatsmo e o revisionismo, sempre fiel à
unidade do movimento comunista internacional, fiel aos princípios do marxismo-leninismo, do
internacionalismo proletário e às teses das Declarações Comunistas e Operários, realizadas em 1957
e 1960.”

“Em seus quarenta anos o Partdo formou várias gerações de quadros polítcos aguerridos; partndo
do estudo cada vez mais aprofundado das teses gerais do marxismo-leninismo, definiu o caráter da
revolução em nosso país e o caminho da revolução brasileira nas atuais condições do mundo e do
Brasil, consagrados pela Convenção Nacional de setembro de 1960.”

“No curso desses quarenta anos de atvidade e de lutas, foram numerosas e dolorosas as perdas em
combate. Aos camaradas que tombaram que contribuíram para fazer do nosso Partdo o que ele hoje
é, seja a ele simplesmente aderindo, resistndo com tenacidade ao inimigo, lutando por derrotá-lo e
para avançar, pelo pensamento e pela ação, com o sacrifcio da liberdade, da família, do conforto

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pessoal, oferecendo-lhe toda vida, devemos a todos lembrar e a todos prestar o preito de nossa
homenagem e respeito.”

“Com a vontade e a certeza de tornar cada vez maior sua força de partdo polítco moderno da
classe operária, de dirigente da luta pela democracia e pela paz, pela emancipação completa do
Brasil e pelo socialismo, os comunistas brasileiros em comunhão com todo o povo comemoram este
quadragésimo aniversário da fundação de seu Partdo. No curso dos quarenta anos de sua existência,
de sua atvidade, de suas lutas, o Partdo Comunista acumulou um grande patrimônio de riqueza
moral e revolucionária, de fidelidade aos princípios da liberdade e da democracia, de capacidade de
interpretação e de modificação da história, que não tem comparação possível na vida de nenhum
outro partdo polítco de nosso país. Este balanço, que atesta e exalta a inteligência polítca, o espírito
revolucionário, a paixão combatva da classe operária brasileira e de sua vanguarda, consttui a
garanta para todos os brasileiros de que o Partdo Comunista será capaz de realizar seu papel
histórico na luta pela emancipação econômica do Brasil, pelo seu progresso social, até o triunfo do
socialismo e a construção da sociedade comunista em nosso país.”

O partdo não pode, portanto, ser visto como algo estranho às necessidades e à luta do
povo brasileiro. Formado por seus flhos mais humildes, é um de seus movimentos mais
autêntcos. Sempre se manifestaram com clareza sobre todas as difculdades e crises nos
últmos 40 anos, sem esconder sua defesa da classe operária, do povo brasileiro e de sua
independência nacional. Nas crises mais duras, o partdo jamais escondeu sua opinião. Por
exemplo, na crise recente de agosto-setembro critcou a emenda parlamentarista:

“Os comunistas denunciam energicamente à classe operária e ao povo a infame tentatva de


conciliação com o grupo golpista reacionário, contdo na proposta da emenda parlamentarista.
Qualquer conciliação com o grupo golpista é um crime porque põe em risco todas as conquistas da
nação, a realização de uma polítca interna de desenvolvimento progressista do país e de melhoria
das condições de vida do povo.”

No auge da repressão policial e militar, o partdo saiu à rua em defesa da greve geral e à
reação popular contra os golpistas. Centenas de seus militantes e simpatzantes foram então
agredidos e presos pelas forças a serviço da reação em todo o país. Mas o povo triunfou:

“Nestas condições, os comunistas prosseguem sua luta pela formação de um governo nacionalista e
democrátco, único capaz de enfrentar com êxito a solução dos problemas do povo e de imprimir um
rumo independente e progressista ao desenvolvimento da nação.”

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“Somos favoráveis à realização do plebiscito, reconhecendo a significação democrátca de uma
consulta que permita ao eleitorado decidir a respeito das modificações introduzidas na Consttuição
da República pelo Congresso Nacional. Não é essa, porém, a questão decisiva do momento. O
principal agora é mobilizar massas para que exijam do novo governo e do Congresso Nacional o
desarmamento dos golpistas, sua desttuição de todos os postos de mando e a punição de todos
aqueles, como o sr. Lacerda e seus apaniguados, que cometeram violências e crimes contra o povo.
Cabe-nos também mobilizar massas para que exijam o imediato estabelecimento de relações
diplomátcas com a União Soviétca e demais países do campo socialista. O combate à caresta de
vida ocupa um lugar importante na mobilização de massas, visando a exigir do novo governo uma
polítca financeira livre das imposições do Fundo Monetário Internacional e que assegure a elevação
do salário real dos trabalhadores, o imediato congelamento de preços dos artgos de consumo
popular e medidas prátcas contra a infação. Cumpre-nos ainda mobilizar massas para exigir a
defesa das empresas estatais, a suspensão imediata da remessa de lucros para o Exterior, a liberdade
e autonomia sindicais, a reforma agrária e garantas para a livre organização dos trabalhadores do
campo.”

“Partcipando juntamente com o povo em todas as lutas por suas reivindicações, pelo bem-estar, o
progresso e a independência da nação, os comunistas contnuam batendo-se pela mais ampla
solidariedade ao povo cubano e tudo fazem pela salvaguarda da paz mundial. É indispensável
igualmente intensificar a coleta de assinaturas tendo em vista solicitar dentro do menor prazo
possível, ao Superior Tribunal Eleitoral, o registro do Partdo Comunista Brasileiro.”

Apesar de todos os esforços da reação, não é possível separar o partdo das causas
populares, nem das grandes massas do povo brasileiro. A Resolução de Outubro de 1961
defne com clareza como o partdo caracterizou o governo parlamentar Jango-Tancredo
Neves, e a necessidade de avançar na direção das reformas de base:

“Os comunistas brasileiros, depois de examinar os acontecimentos polítcos que se seguiram à


renúncia do sr. Jânio Quadros, chegaram às conclusões contdas na presente Resolução.”

“As causas da crise polítca que abalou a Nação residem na crise de estrutura, cada vez mais
profunda, da sociedade brasileira. Tornam-se crescentemente agudas as duas contradições
fundamentais que reclamam solução na atual etapa histórica do nosso desenvolvimento: a
contradição entre a Nação e o imperialismo e seus agentes internos, e a contradição entre as forças
produtvas em crescimento e o monopólio da terra, expressando-se esta últma, essencialmente,
como a contradição entre os latfundiários e as massas camponesas.”

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“A caresta de vida e a crescente exploração das massas trabalhadoras vêm determinando o
agravamento também da contradição entre o proletariado e a burguesia.”

“Infuem no aguçamento dessas contradições, de um lado, a crescente pressão que o imperialismo


norte-americano exerce sobre as classes dominantes e o governo brasileiro no sentdo de manter e
ampliar a dependência econômica e polítca a que nos submete e, de outro lado, a elevação da
consciência polítca das massas e o crescimento de suas lutas. A infuência da revolução cubana se faz
sentr, com grande força, na radicalização do processo democrátco em nosso país.”

“O governo do sr. Jânio Quadros não deu solução a nenhum dos problemas fundamentais de nosso
povo. Sua polítca contribuiu, ao contrário, para o agravamento das contradições da sociedade
brasileira.”

“No terreno econômico-financeiro, procurou o sr. Jânio Quadros levar à prátca a polítca ditada pelo
Fundo Monetário Internacional, impondo ao povo, enormes sacrifcios e determinando um sensível
agravamento da dependência financeira norte-americana. Através das missões Moreira Sales e
Roberto Campos, obteve nos Estados Unidos moratória e novos empréstmos num total aproximado
de um bilhão e setecentos milhões de dólares, à custa de compromissos polítcos contrários aos
interesses nacionais.”

“O Sr. Jânio Quadros colocou nos postos-chaves das Forças Armadas representantes dos setores mais
reacionários e direitstas, os quais consttuíram, com seu conhecimento e conivência, um dispositvo
militar dirigido contra o movimento operário e popular, mas que também tomava posição contra os
aspectos positvos da polítca externa do governo.”

“Em virtude de promessas feitas durante a campanha eleitoral e pressionado pelas massas e forças
progressistas, o Sr. Jânio Quadros levou à prátca uma polítca externa que, sob os diversos aspectos e
em certa medida, teve efetvamente característcas novas. Consttuiu um fator decisivo para impedir o
isolamento na América Latna do governo de Fidel Castro e facilitou a luta pela autodeterminação do
povo cubano. Estabeleceu relações diplomátcas com a Bulgária, a România, a Hungria e a Albânia,
determinando que o mesmo se fizesse em relação à União Soviétca. Tudo isso refeta os interesses
da Nação e consttuía sério apoio à causa da paz mundial.”

Um dos principais trunfos que a reação maneja é o isolamento das lutas de cada país,
formando bolsões de trabalhadores em luta que não são capazes de ver o conjunto de sua
causa, muito menos o desenvolvimento da situação mundial. Abrir caminho às relações
diplomátcas com todos os países é poderoso instrumento da desanuviação da luta polítca

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em escala mundial e de compreensão clara da marcha para o progresso. Diz a Resolução de
Outubro:

“Agravaram-se, por todos estes motvos, as contradições que se manifestavam no governo do Sr.
Jânio Quadros. Diante dos círculos belicistas dos Estados Unidos, que intensificam a “guerra fria” a
pretexto da defesa de Berlim, o restabelecimento de relações diplomátcas do Brasil com a União
Soviétca consttuía um gesto de paz que se opunha aos interesses dos provocadores de guerra norte-
americanos e de seus agentes no país. A pressão das forças mais reacionárias e entreguistas sobre o
governo brasileiro aumentava consideravelmente. A crise de governo tornava-se inevitável. O Sr.
Jânio Quadros, ao invés de apoiar-se no povo para resistr, preferiu a fuga e a capitulação com a
renúncia, entregando o poder aos golpistas, comprovando assim a essência reacionária e entreguista
do seu governo. E traiu os milhões de eleitores que lhe deram a vitória nas urnas.”

“Com o poder nas mãos, os golpistas tentaram liquidar a legalidade consttucional e implantar no
país uma ditadura reacionária. Contra o golpe levantaram-se as massas populares. Em diversos
pontos do país, poucas horas após a renúncia, operários, estudantes e populares ganhavam a rua e
manifestavam sua disposição de luta em defesa da legalidade consttucional. As greves e
manifestações de massas contribuíram muito, e em alguns lugares decisivamente, para a rápida
ampliação do poderoso movimento de opinião pública que isolou os golpistas e os tornou em seguida
impotentes, com a attude em defesa da legalidade de parte considerável das Forças Armadas.”

“O movimento em defesa da legalidade consttucional foi a forma amplíssima por que se manifestou
a força do movimento democrátco brasileiro, o sentmento de independência e o desejo de progresso
que ganham os mais amplos setores da população do país. Desde o primeiro momento, o povo
manifestou seu ódio ao opressor norte-americano sob diversas formas, inclusive apedrejando a
Embaixada dos Estados Unidos no Rio de Janeiro. Nosso povo soube também compreender que os
golpistas se levantavam contra os aspectos positvos da polítca externa do Sr. Jânio Quadros e,
lutando contra o golpe de Estado, em defesa da legalidade consttucional, lutava igualmente por um
governo que aplicasse uma polítca de relações comerciais e diplomátcas com os países socialistas,
de solidariedade aos povos que lutam contra o colonialismo, e, muito partcularmente, em defesa da
autodeterminação do povo cubano, contra qualquer intervenção nos negócios internos de Cuba, em
apoio do governo revolucionário de Fidel Castro.”

“Foi partcularmente importante o papel do proletariado, que representou força decisiva para a
unidade, ampliação e consolidação do movimento de massas. A classe operária utlizou diversas

460
formas de luta, destacando-se, entretanto, a greve polítca, que refete um nível mais alto alcançado
pelo movimento operário.”

“O movimento camponês demonstrou também que avança e se fortalece. Em alguns pontos, os


camponeses se arregimentaram em defesa da legalidade, manifestando sua decisão de resistr à
reação, partcipando atvamente de manifestações e dispondo-se a empreender lutas mais altas
contra a tentatva de implantação de uma trania militar.”

“Dentre os setores da pequena burguesia, foram os estudantes que desempenharam o papel polítco
mais atvo. A unidade e o desassombro dos estudantes, decretando a greve geral em todo o país,
contribuíram para a ampliação e firmeza da luta.”

“A burguesia partcipou da luta em parcela considerável. Enquanto, porém, uma parte se


aproximava do povo e se dispunha a lutar ao lado dele, outra revelava sua nítda tendência ao
compromisso com os golpistas, desenvolvendo, na frente única, constantes esforços no sentdo de
paralisá-la, de fazê-la retroceder e capitular.”

“A maioria das assembleias legislatvas estaduais e numerosas câmaras de vereadores tomaram


posição em defesa da legalidade consttucional e contra as arbitrariedades e pela ampliação da luta.”

“Os militantes dos partdos polítcos se colocaram, em geral, ao lado da legalidade consttucional,
malgrado a omissão ou resistência das direções. Estas, com exceção de alguns diretórios estaduais do
PTB e do PSB, pouco contribuíram para a mobilização de massas contra os golpistas, sendo que as
direções nacionais e mesmo alguns diretórios estaduais do PTB e do PSB chegaram a conclamar as
massas à passividade, em notas públicas.”

“Na luta contra o golpe também partcipou amplamente a imprensa, contribuindo para esclarecer e
orientar a opinião pública e resistndo, por vezes com bravura, às investdas violentas da reação.
Destacou-se o papel representado pelas radiodifusoras que formaram a Cadeia da Legalidade.”

“Os comunistas estveram na vanguarda das lutas de classe operária e dos demais patriotas e
democratas, levantaram desde o primeiro momento a justa palavra-de-ordem de defesa da
legalidade consttucional e posse imediata, na presidência da República, do Sr. João Goulart.
Contribuíram, dessa forma, de maneira decisiva, para aglutnar as forças que se levantaram contra os
golpistas.”

“Foi assim que, ao calor das lutas, se congregaram as mais amplas forças sociais e polítcas em
torno da defesa da legalidade consttucional. Nessa frente única, as forças mais consequentes
estavam animadas da ideia de emancipação nacional e do desejo de ver efetvadas as reformas de

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base indispensáveis ao progresso do país. Tendo fins limitados, a frente única incluía desde os
patriotas consequentes, que desejavam o completo esmagamento dos golpistas e a conquista de um
governo capaz de dar solução aos problemas nacionais básicos, até setores da burguesia que tem
seus interesses entrelaçados com os grupos imperialistas e outras forças retrógradas. Tais forças, ao
mesmo tempo em que defendiam os interesses do imperialismo e seus agentes internos, desejavam
evitar uma ditadura de direita, porque levaria ao aprofundamento da luta de massas e à guerra civil,
cujas consequências temiam.”

“As classes dominantes, apesar das dificuldades que tveram de vencer, ainda conseguiram manter o
controle da situação. Através da maioria reacionária predominante no Parlamento, conciliaram à
custa do povo, impedindo, com a manobra da emenda parlamentarista, que a vitória alcançada
contra os golpistas tvesse maior profundidade.”

A Resolução, como se vê, faz um balanço dos acontecimentos principais da crise agosto-
setembro de 1961, mostrando a frmeza de nosso partdo na defesa dos interesses nacionais
e dos interesses sociais da maioria da população. É evidente de que o golpe haver sido
derrotado não assume uma garanta defnitva de vida diplomátca. A aliança das classes
dominantes em sua feição reacionária já pratcou ou tentou outros golpes no passado,
inclusive nos anos recentes. A derrota para eles serve apenas como uma pausa para avaliar
os seus erros, reagrupar suas forças e tentar novamente. Para enfrentá-los, a direção do
campo popular deve transformar em organização o quanto seja possível das forças que se
mobilizaram para impedir o golpe. Deve aprofundar a polítca de ampla organização das
forças populares, forjando novas organizações de massa e promovendo novos líderes, saídos
da multdão. Este novo esforço organizatvo deve ser feito em torno da luta para a obtenção
de um governo de base nova, nacionalista e democrátco, capaz de desencadear no país as
reformas de base. Só assim pode-se romper o quadro tátco atual, em que a formação dos
gabinetes ou governos não expressa os verdadeiros anseios da população.

O nosso partdo, na declaração sobre o governo parlamentarista Jango-Tancredo Neves,


chama a atenção para a violação profunda do desenvolvimento democrátco, primeiro, com a
mudança do regime polítco para retrar os poderes do presidente legítmo. Segundo, com a
formação de um gabinete que contnua semelhante golpe de estado, colocando os golpistas
como governantes e o bloco do presidente legítmo como coadjuvante. Esta situação polítca
deixa o país sem cabeça, acéfalo, tátca clássica dos golpistas quando não podem governar

462
eles mesmos. O quadro do atual regime é, portanto, de falsear a vontade popular, expressa
nas urnas e depois nas ruas, quando bateu os golpistas nas jornadas de agosto-setembro.

Para os golpistas, a derrota que sofreram nas ruas, a divisão das forças armadas, etc., são
apenas “contratempo”,, de que devem se livrar o mais rapidamente possível. A primeira
tarefa para os golpistas é impedir que os elementos de seu bloco, que violaram a lei e a
consttuição, fquem impunes. Em seguida, trata-se de aperfeiçoar sua máquina de calúnias e
difamação, contando as coisas pelo contrário: eles são os defensores da democracia.

Infelizmente, a maneira como foi organizada a república de 1946, como uma contnuidade
dos regimes farsantes anteriores, permite que tais elementos fquem impunes, e aqueles que
lutaram em defesa da democracia sejam criminalizados. A reforma jurídica é importante
trabalho a ser efetuado, quando se consolidar um poder de tpo nacional e democrátco. É
difcil crer que se pode levar a alguma mudança com a predominânncia conservadora, ou até
mesmo sem ela, mas ao sabor da burocracia que lhe pertence. Walter Lippmann,
personagem conservador, comentou isso do plano quinquenal da Índia:

“O que me perturbou foi a disparidade entre os objetvos revolucionários do Terceiro Plano


Quinquenal e a brandura quase vitoriana e normalidade do sistema polítco indiano. Eu me pergunto
se a revolução gigantesca pode ser levada a efeito por polítcos parlamentares e servidores civis sem
o idealismo e a disciplina de um movimento de massa organizado.”

As “boas intenções”, das coligações com elementos conservadores, que desejam reformas,
na verdade, apenas no discurso e na prátca buscam conduzir as coisas do modo que se
faziam antes, não abre caminho a qualquer mudança para melhorar. A burocracia
convencional, que o regime polítco conservador apresenta como um meio de acelerar as
mudanças revela-se na prátca ser o contrário, bloqueando a marcha do que é novo e
reforçando as difculdades. Enquanto isso, na sombra de tais manobras, o bloco reacionário
se reorganiza e prepara uma nova tentatva de golpe, que irá justfcar com “a ameaça das
reformas”,. Quando chegar o momento de testar se alcançaram possuir o volume de forças
adequado, os elementos reacionários, usando a parte da máquina governamental ainda em
suas mãos, irão perpetrar uma nova provocação, um ato extemporânneo qualquer, atngindo
dado setor profssional ou social, para justfcar a violação da lei e o assalto ao governo. A
repetção dos seus métodos chegaria à monotonia, não fosse a sociedade como um todo

463
despreparada para percebê-los e conhecer-lhes a natureza. Com o engodo e a mistfcação,
apoiados pela grande imprensa e as potências externas, se faz gato-sapato da oposição
pública. Parte das classes dominantes, da pequena burguesia e outras camadas
intermediárias não conseguem distnguir entre um lápis e uma vara de bambu, sendo
constantemente trapaceadas em seus próprios interesses por seus “representantes”,, ou pelo
núcleo mais escolado da reação. Diante disso, como diz a Resolução do V Congresso, trata-se
para nós de reforçar a frente única e preparar o movimento popular para resistr aos ataques
vindouros da repressão:

“O movimento ant-imperialista e democrátco no Brasil, em sua fase atual, se ressente de vacilações


e inconsequências porque ainda não assumiu o caráter de um poderoso movimento de massas e à
sua frente se encontram setores burgueses e pequeno-burgueses. Só poderá adquirir maior vigor e
consequência à medida que a classe operária dele partcipar atvamente e lutar por assumir a sua
vanguarda, em aliança com as massas camponesas e outras camadas populares.”

“À proporção que se aprofunda a luta ant-imperialista e democrátca e se colocam diante da frente


única, objetvos mais radicais, certos setores nacionalistas burgueses se inclinam a uma polítca de
conciliação com o imperialismo e as forças reacionárias. A fim de impulsionar o movimento, as forças
mais consequentes da frente única devem intensificar as ações ant-imperialistas e democrátcas,
imprimir-lhes um caráter cada vez mais firme e denunciar as hesitações dos setores conciliadores.
Para fortalecer e ampliar a frente única, para transformá-la num poderoso movimento de massas, é
necessário desenvolver em seu seio as forças que pugnem, ao lado das soluções nacionalistas, pelas
transformações democrátcas. A par da luta pelos interesses vitais das massas – sobretudo dos
operários, dos camponeses e das camadas médias – como condição essencial para alargar e reforçar
as bases da frente única, mediante a partcipação atva das massas trabalhadoras e populares.”

“A classe operária, através de sua vanguarda comunista, não condiciona sua partcipação na frente
única a uma prévia direção do movimento. A hegemonia do proletariado deve ser conquistada como
resultado de um processo de luta árduo e paulatno, durante o qual a classe operária forja sua
unidade, estabelece uma sólida aliança com os camponeses – seu aliado fundamental – e defende
acertadamente os interesses comuns de todas as forças que partcipam da frente única. A direção do
movimento passará às mãos da classe operária, à medida que os elementos conciliadores forem
isolados, como consequência de suas attudes de compromisso em relação ao inimigo, e as massas se
convencerem, por sua própria experiência, de que somente o proletariado, sob a direção do Partdo

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Comunista, é capaz de conduzir até o fim a luta pela libertação nacional e pelas transformações
democrátcas.”

É necessário, no processo de construir as forças nacionalistas e democrátcas, conhecer as


vacilações de nossos aliados e até chegar a prevê-las, sem confundir, no entanto, tais
fraquezas com uma postura inimiga, ou um reforço deliberado e consciente das posições do
inimigo. Diz a Resolução do V Congresso:

“A fim de derrotar o inimigo comum, é necessária a frente única das várias forças interessadas na
emancipação e no progresso do Brasil. A aliança dessas forças resulta de exigências da própria
situação objetva.”

“Como o imperialismo norte-americano e seus agentes internos consttuem o inimigo principal, a


frente única é muito ampla do ponto de vista de sua composição de classe. Pelo conteúdo das
modificações que se propõe introduzir na sociedade brasileira e pela natureza das forças que a
integram, é uma frente nacionalista e democrátca. Na fase atual do processo de sua formação, a
frente única não se apresenta sob a forma de uma organização que abranja todas as forças ant-
imperialistas e democrátcas, nem se propõe ainda a realização completa dos objetvos
revolucionários. Desenvolve-se na luta por objetvos nacionais e democrátcos de caráter parcial.
Manifesta-se em múltplas formas concretas de unidade de ação ou organização. Entre estas, a mais
importante, atualmente, é o movimento nacionalista.”

“O movimento nacionalista agrupa setores de diversas classes e camadas, atrai entdades, partdos,
correntes e personalidades das mais variadas orientações polítcas na luta por soluções patriótcas,
como a defesa do petróleo e de outras riquezas nacionais, o controle e a regulamentação do capital
estrangeiro, a ampliação do intercâmbio com os países socialistas, a proteção à indústria nacional,
assim como por mudanças na polítca e na composição do governo num sentdo nacionalista e
democrátco.”

A necessidade de acumular forças na luta pelas reformas exige a habilidade de evitar


choques de grandes proporções, mas, ao contrário, sustentar a linha de resistência que as
forças progressistas oferecem, ao bloquear ações do bloco pró-imperialismo e latfúndio.
Assim, as mudanças na polítca e na composição dos sucessivos governos se dão, requerendo
a habilidade de aproveitar brechas na frente do inimigo e reforçar nossas posições e as de
nossos aliados:

465
“Sendo composta de forças sociais diversas, que se unem em torno de interesses comuns, mas
conservam também interesses opostos, a frente nacionalista e democrátca encerra contradições.
Enquanto o proletariado, os camponeses e as massas populares são firmes na luta pela libertação
nacional e pelas transformações democrátcas, a burguesia ligada aos interesses nacionais não têm
firmeza na luta ant-imperialista, tende aos compromissos com o inimigo, e certos setores burgueses
assumem attude vacilante em relação à reforma agrária. Há, finalmente, setores de latfundiários e
capitalistas que podem adotar, eventualmente, posições nacionalistas, mas querem conservar a
estrutura agrária atual e preconizam um regime polítco reacionário.”

“A classe operária deve aliar-se à burguesia ligada aos interesses nacionais e a outras forças, e,
simultaneamente, lutar contra as tendências conciliatórias e antdemocrátcas que nelas se
manifestam. Ao mesmo tempo em que pugna pela causa comum, contra a espoliação imperialista
norte-americana, o proletariado precisa defender seus interesses específicos e os das massas
trabalhadoras e populares, desenvolver a luta de classes contra os exploradores da cidade e do
campo e bater-se por amplas liberdades democrátcas que facilitem a ação independente das massas,
objetvando desse modo, reforçar as posições do setor mais consequente e firme da frente única. O
proletariado necessita fortalecer-se como classe, organizar-se e adquirir consciência revolucionária,
impedir que as vacilações da burguesia atnjam suas fileiras.”

A partcipação de elementos conscientes na defesa do programa conjunto é indispensável


para despertar as massas para esta oportunidade real de libertação, para enfrentar a reação
em profundidade, em toda a frente social, e obter uma sucessão de vitórias parciais. Disse
Lênine:

“A partcipação mais atva e mais ampla das massas numa manifestação não só não sairá
prejudicada, como, pelo contrário, terá muito mais probabilidade de êxito se uma “dezena” de
revolucionários profissionais, motvados, bem adestrados, pelo menos tão bem quanto nossa polítca,
centralizar o trabalho clandestno em todos os aspectos: publicação de volantes, elaboração do plano
aproximado, escolha dos dirigentes para cada distrito da cidade, cada bairro fabril, cada
estabelecimento de ensino, etc., (dirão, já sei que minhas concepções são “antdemocrátcas”, mas
refutarei mais adiante pormenorizadamente esta objeção nada inteligente). A centralização das
funções mais clandestnas pela organização dos revolucionários não debilitará, mas sim reforçará a
amplitude e o conteúdo da atvidade de uma grande quantdade de outras organizações destnadas
ao grande público, e, por conseguinte, o menos regulamentadas e clandestnas possível: sindicatos
operários, círculos operários de instrução e de leitura de publicações ilegais, círculos socialistas,
círculos democrátcos para todos os demais setores da população, etc., etc. Tais círculos, sindicatos e

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organizações são necessários por toda parte; é preciso que sejam os mais numerosos, e suas funções
as mais variadas possíveis, mas é absurdo e prejudicial confundir estas organizações com a dos
revolucionários, suprimir as fronteiras que há entre elas, extnguir na massa a consciência, já por si
incrivelmente obscurecida, de que para “servir” a um movimento de massas é necessário dispor de
homens que se consagrem especial e inteiramente à ação social-democrata, e que esses homens
devem forjar-se com paciência e tenacidade até converter-se em revolucionários profissionais.”

Seria de todo ingênuo conduzir nossa linha de ação como se o atual regime polítco fosse
algo perfeito ou perpétuo. Perfeito ele não pode ser, pois foi criado com a matéria prima das
passadas dominações e explorações ao povo brasileiro. Perpétuo não pode tornar-se, porque
é um valhacouto da reação, e se oferece algumas brechas para o protesto e a organização
democrata, a violência com que as forças retrógradas reagem a qualquer crítca indicam-lhe
o caráter de regime provisório. Por isso, as forças democrátcas não podem deixar de critcá-
lo e buscar torná-lo mais democrátco. A partcipação da luta operária no nível econômico e
no nível polítco fortalece a vida democrátca. Disse Lênine, quanto às greves:

“Mas a greve abre os olhos dos operários, não só quanto aos capitalistas, mas também no que se
refere ao governo e às leis.”

A asserção, portanto, de que a classe operária não deve defender seus interesses, mas
apenas os da frente comum nacional carece de sentdo.

A luta econômica e polítca dos trabalhadores é elemento essencial de sua sobrevivência


enquanto classe e elemento de sua maturação polítca. Disse Lênine:

“Como é grande a infuência moral das greves, como é contagiante a infuência que exerce nos
operários ver seus companheiros, que, embora temporariamente, se transformam de escravos em
pessoas com os mesmos direitos dos ricos! Toda greve infunde vigorosamente nos operários a ideia
de socialismo: a ideia da luta de toda a classe operária por sua emancipação do jugo do capital. É
muito frequente que, antes de uma grande greve, os operários de uma fábrica, uma indústria ou uma
cidade qualquer não conheçam sequer o socialismo, nem pensam nele, mas que depois das greves
difundam-se entre eles, cada vez mais, os círculos e as associações e seja maior o número dos
operários que se tornam socialistas.”

“A greve ensina os operários a compreenderem onde repousa a força dos patrões e onde a dos
operários, ensina a pensarem não só em seu patrão e em seus companheiros mais próximos, mas em
todos os patrões, em toda a classe capitalista e em toda a classe operária.”
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Um regime polítco burguês que entrasse em colapso devido a manifestações e greves dos
trabalhadores e dos pobres apenas deixaria indicado – com toda clareza – que não possuía
formas democrátcas, nem que havia chegado a tal etapa da evolução. Tratar-se-ia apenas de
uma fachada de democracia, e não de uma verdadeira democracia burguesa, capaz de conter
elementos democrátcos potenciais para o avanço de outras classes. Disse Lênine:

“Assim, as greves ensinam os operários a unirem-se, as greves fazem-nos ver que somente unidos
podem aguentar a luta contra os capitalistas, as greves ensinam os operários a pensarem na luta de
toda a classe operária contra toda a classe patronal e contra o governo autocrátco e policial.
Exatamente por isso, os socialistas chamam as greves de “escola de guerra”, escola em que os
operários aprendem a desfechar a guerra contra seus inimigos, pela emancipação de todo o povo e
de todos os trabalhadores do jugo dos funcionários e do jugo do capital.”

Togliat deixa claro que em nossa época a democracia não é um apanágio da burguesia,
mas de toda classe operária que luta. Na luta para a derrota dos feudais, na luta para o
estabelecimento de todas as democracias, a classe operária sempre esteve na primeira fla. O
incontável número de vítmas das guerras de classe a ela e a classe camponesa pertencem,
sendo, portanto, o regime democrátco uma criação da luta do povo, consagrado com o
sangue dos trabalhadores. É falsa a gritaria de certa burguesia, daí, que se vê nas
manifestações dos trabalhadores um risco para a vida democrátca. Diz a Resolução do V.
Congresso:

“A luta dentro da frente única difere da luta que as forças nacionalistas e democrátcas travam
contra o imperialismo norte-americano e seus agentes internos. Enquanto neste últmo caso o que se
tem em vista é isolar o inimigo comum e destruí-lo, dentro da frente única visamos tornar mais
coesas as forças que lutam por objetvos comuns, motvo por que as contradições de interesses e
divergências de opinião dentro da frente única podem ser enfrentadas sem romper a unidade embora
não devam ser ocultas e venham a causar choques e atritos.”

A luta pelo amadurecimento da consciência não é um fenômeno que se passa apenas com a
classe trabalhadora, mas que deve se passar com todas as classes da sociedade. A luta pelo
debate, pelo esclarecimento, portanto, é uma esfera de luta legítma, e busca contaminar
círculos crescentes da vida social, com o entendimento correto dos fenômenos sociais,
aumentando o nível das soluções negociadas em cada questão parcial. É falso se supor que
uma classe trabalhadora forte não negocia. Todas as classes na sociedade manobram,

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ensinou Lênine, para defender os seus próprios interesses. Não é um “defeito”, apenas da
classe trabalhadora, ou desta ou daquela classe. Como diz a Declaração de Moscou de
novembro de 1960:

“Nossa época, cujo conteúdo fundamental é consttuído pela passagem do capitalismo para o
socialismo, iniciada pela Grande Revolução Socialista de outubro, é a época e luta de dois sistemas
sociais opostos, a época das revoluções de libertação nacional, a época da ruína do imperialismo, da
inquietação do sistema colonial, a época do ingresso de um número cada vez maior de povos no
caminho socialista, a época do triunfo do capitalismo, a do comunismo em escala universal.”

As característcas de nossa época exigiu a luta da classe operária e do povo pobre em geral
para mudar a face do mundo, criando por toda parte sociedades melhores. Isso signifca
conduzir a luta dentro de cada sociedade e de seu regime polítco para torná-la e torná-lo
mais humanos e capazes de expressar o interesse da maioria. Nas condições do mundo de
hoje, não são somente as classes dominantes que podem decidir da vida de inúmeros países,
e do conjunto das classes sociais que a cada qual pertence. Outras classes e frações de classe
têm também uma palavra a dizer sobre as estratégias a serem adotadas em cada país. No
Brasil, a classe operária tem optado por desenvolver uma frente ant-imperialista. Diz a
Resolução do V Congresso:

“A sociedade brasileira encerra duas contradições fundamentais que exigem solução radical na atual
etapa histórica de seu desenvolvimento. A primeira é a contradição entre a Nação e o imperialismo
norte-americano e seus agentes internos. A segunda é a contradição entre as forças produtvas em
crescimento e o monopólio da terra, que se expressa, essencialmente, como contradição entre o
latfundiário e as massas camponesas.”

Isto quer dizer que não é possível desenvolver as forças produtvas, de modo a benefciar o
conjunto de nosso povo, sem mudar as estruturas agrárias, principalmente o latfúndio, que
mantém o país no atraso. No entanto, não é possível romper o poder do latfúndio sem
derrotar sua grande força de apoio, o imperialismo e seus meios de dominação.

4 – O Estado: Dominação e Opressão.

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Já indicamos que o Estado é uma máquina de opressão criada em cada sociedade por uma
ou mais de uma classe dominante, no curso de dado processo histórico, para impor o
funcionamento da sociedade, de acordo com o exclusivo interesse daqueles que o criaram.
Por exemplo, um membro de uma classe dominante demarca, digamos, dois mil hectares de
terra pública e a faz registrar como sua propriedade em um cartório. Uma família de
camponeses pobres, que está a cem anos explorando um lote de terra, tenta registrar tal lote
em seu nome, como sua propriedade. O cartório se recusa a fazê-lo. Tempos depois, o
proprietário do primeiro caso expulsa a família do segundo caso do lote, com a ajuda da
polícia. O que quer dizer isto tudo? O óbvio. O cartório, a polícia, etc., estão a serviço da
classe dominante – fazem parte da máquina do Estado – e os direitos do pobre quando
existem, só existem no papel. Assim, além de oprimir aberta e diretamente os pobres, o
Estado viabiliza a dominação da classe dominante. Diz Kozmínov:

“O Estado burguês reprime as massas populares por intermédio do seu aparelho administratvo, da
polícia, do exército, dos tribunais, dos cárceres, dos campos de concentração e outros meios de
violência. Complemento necessário a esses meios de violência é a ação ideológica, com a ajuda da
qual a burguesia mantém seu domínio. Trata-se da imprensa burguesa, do rádio, do cinema, da
ciência e da arte burgueses, da igreja.”

“De vez que os interesses da classe dos capitalistas contrapõem-se violentamente aos interesses da
esmagadora maioria da população, a burguesia vê-se obrigada a dissimular por todos os meios o
caráter de classe do seu Estado. A burguesia tenta apresentar esse Estado como se ele pairasse acima
das classes, como se fosse de todo o povo, sob o aspecto de um Estado de “democracia pura”. Na
realidade, porém, a “liberdade” burguesa é a liberdade para o capital explorar o trabalho alheio: a
“igualdade” burguesa é uma aparência que oculta a desigualdade de fato existente entre
exploradores e explorados, entre a sociedade e a fome, entre os proprietários dos meios de produção
e a massa de proletários, que possui apenas sua força de trabalho.”

“À medida que cresce a grande produção capitalista aumenta o número de proletários, que cada vez
mais tomam consciência dos seus interesses de classe, desenvolvem-se politcamente e organizam-se
para a luta contra a burguesia. Lênine indicou que “a classe operária não pode travar a luta por sua
libertação sem se empenhar em infuir sobre os assuntos estatais, sobre a direção do Estado e sobre a
promulgação das leis”. O proletariado utliza-se das formas da democracia burguesa para consolidar
suas posições econômicas e polítcas, para ampliar sua infuência sobre as outras camadas

470
trabalhadoras, com o fim de liquidar a dominação da burguesia e conquistar a verdadeira
democracia.”

“O proletariado é a classe trabalhadora que está vinculada à forma avançada da economia – a


grande produção. Graças à sua função econômica na grande produção, o proletariado é o chefe de
todas as massas trabalhadoras e exploradas. O proletariado industrial, como a classe mais
revolucionária, mais avançada e organizada da sociedade capitalista, está chamando a unir em torno
de si as massas trabalhadoras do campesinato e todas as camadas exploradas da população para a
luta pela liquidação da exploração capitalista e pela transformação da sociedade sobre bases
socialistas.”

A luta dos trabalhadores e do povo pobre é, portanto, legítma, para se livrar de todo tpo
de dominador, de opressor, de explorador. Contudo, seria mera ingenuidade se o
trabalhador, ao descobrir a verdadeira função do Estado burguês, ou feudal-burguês, saísse
gritando pela rua, como nosso cientsta que saiu da banheira gritando “Eureka!”, Não! O
trabalhador não pode ser tão tolo. Ele apenas iria atrair a polícia contra si. Para lutar, o
trabalhador precisa ganhar para seu movimento de consciência outros trabalhadores,
pessoas pobres, camponeses sem terra e com pouca terra (que também são trabalhadores).
Ele não pode lutar sozinho contra a máquina do Estado e ainda, por detrás do Estado, uma
ou mais classes dominantes. Ele precisa se organizar. Ele precisa se preparar polítca e
ideologicamente, para uma luta de vida toda. Diz Lênine:

“A questão a respeito de se é mais fácil apanhar “uma dezena de homens inteligentes” que “uma
centena de imbecis” reduz-se à questão que analisei mais atrás de se é compatvel uma organização
de massas com a necessidade de manter um rigoroso regime clandestno. Nunca poderemos dar a
uma organização ampla o caráter clandestno indispensável para uma luta firme e contnua contra o
governo. E a concentração de todas as funções clandestnas nas mãos do menor número possível de
revolucionários profissionais não significa de modo algum que estes últmos “pensarão por todos”,
que a multdão não tomará parte atva no movimento. Pelo contrário, a multdão fará surgir de seu
seio um número cada vez maior de revolucionários profissionais, pois então saberá que não basta que
alguns estudantes e operários que lutam no terreno econômico se reúnam para consttuir um
“comitê”, mas que é necessário forjar-se através de anos, como revolucionários profissionais, e
“pensará” não só nos métodos artesãos de trabalho, mas exatamente nessa formação. A
centralização das funções clandestnas da organização não implica, de modo algum, na centralização
de todas as funções do movimento.”

471
Ou seja, o trabalhador precisa montar ou utlizar uma série de insttuições; associações de
bairro, clubes, sindicatos, etc., com os quais poderá lutar por dias melhores. E, sobretudo
precisa criar suas comissões de trabalhadores, de pobres, seus “comitês”, de revolucionários,
fora do alcance das garras assassinas do Estado capitalista. Diz Kozmínov:

“Os modos de produção escravista e feudal caracterizavam-se por uma estratficação da sociedade
em diferentes classes e estados, o que criava uma complexa estrutura hierárquica da sociedade. A
época burguesa simplificou as contradições de classe e substtuiu as diferentes formas de privilégios
hereditários e de dependência pessoal pelo poder impessoal do dinheiro, pelo ilimitado despotsmo
do capital. No modo de produção capitalista a sociedade cinde-se cada vez mais em dois campos
hosts, em duas classes contrapostas – a burguesia e o proletariado.”

“A burguesia é a classe que possui os meios de produção e utliza-os para a exploração do trabalho
assalariado. A burguesia é a classe dominante na sociedade capitalista.”

“O proletariado é a classe dos operários assalariados, privados dos meios de produção e por isso
obrigado a vender sua força de trabalho aos capitalistas. À base da produção mecanizada, o capital
submeteu completamente a si o trabalho assalariado. Para a classe dos operários assalariados, a
condição proletária tornou-se uma sina para a vida inteira. Devido à sua situação econômica, o
proletariado é a classe mais revolucionária.”

“A burguesia e o proletariado, que são as classes fundamentais da sociedade capitalista, têm


interesses opostos e irreconciliavelmente hosts. O desenvolvimento do capitalismo torna mais
profundo o abismo entre a minoria exploradora e as massas exploradas.”

“Juntamente com a burguesia e o proletariado, existem no regime capitalista as classes dos


latfundiários e dos camponeses. Estas classes procedem do regime feudal, anterior, mas em certa
medida modificam o seu caráter nas condições do capitalismo.”

Muitos partdários da causa nacional lamentam porque os comunistas não acreditam na


conversão total do Estado capitalista à “boa causa”,, e defendem a tese de uma revolução
proletária inevitável, como resultado da marcha democrátca da maioria das forças sociais. É
preciso entender que os comunistas não defendem tais ideias por fanatsmo ideológico, mas
sim por evidente indicação do desenvolvimento social no mundo todo. As leis do
desenvolvimento da sociedade são objetvas e não dependem da vontade desta ou daquela
corrente progressista. É a pessoa que deve curvar-se ante o caráter material do mundo, e

472
buscar entendê-lo. Não será o mundo que irá curvar-se às ideias de uma pessoa e submeter-
se a elas. (Embora para certos alucinados esta pessoa exista...). Diz Kozmínov:

“As leis do desenvolvimento social são objetvas. Não só são independentes da vontade e da
consciência dos homens, mas, ao contrário, determinam sua vontade, sua consciência e atvidade.
(...) As leis sociais têm caráter diverso: umas ocorrem em todas as formações econômico-sociais,
outras são próprias das formações baseadas em classes antagônicas, e outras, por últmo, são leis
privatvas de determinadas formações econômico-sociais.”

“Leis, como a da ação determinante do modo de produção sobre a estrutura e o desenvolvimento da


sociedade, a da ação determinante das forças produtvas sobre as relações de produção, da ação
determinante da base econômica sobre a superestrutura social e mais algumas são as leis sociais
mais gerais, que regem todas as formações econômico-sociais, ainda que exerçam sua ação de forma
distnta, de acordo com as condições históricas concretas da formação de que se trata. São as leis
mais gerais, quer dizer, leis sociológicas que regem todas as fases do desenvolvimento social,
mudando suas maneiras de manifestarem-se nas diferentes formas históricas concretas. Foram
descobertas e formuladas por Marx e Engels, baseando-se no estudo das seguintes formações sociais:
o regime da comunidade primitva, a sociedade escravista, o feudalismo e, partcularmente, à base de
análise multfacétca, a formação capitalista. Diversamente das leis que regem todas as formações
econômico-sociais, a lei da luta de classes como força propulsora da História é própria e específica
somente das sociedades em que existem classes antagônicas. Esta lei não vigorou durante as
centenas de milhares de anos de existência do regime da comunidade primitva, e deixará de vigorar
ao desaparecer a divisão da sociedade em classes.”

Tal interpretação signifca a importânncia de buscar entender o mundo – natural e social – a


partr das condições postas por ele próprio, ou seja, descobrir o que é relevante para
entender-se a marcha dos fenômenos. Lutar por um mundo melhor não é apenas vazão ao
desejo que se passa na cabeça de um invejoso qualquer, como entende a classe dominante.
É expressar a necessidade material de mudar o mundo, própria das forças produtvas. Diz
Konstantnov:

“A natureza exterior e o crescimento da população somente são condições do desenvolvimento da


sociedade. Mas a causa primeira, a fonte de todas as mudanças operadas na vida social repousa, em
últma instância, no incremento das forças produtvas. Lênine dizia que o desenvolvimento das forças
produtvas era o critério fundamental do progresso social. Pois bem, que são forças produtvas? Quais
são seus elementos componentes? Fazem parte das forças produtvas os meios de trabalho e a força

473
de trabalho. Marx assinala que de todos os meios de trabalho têm importância decisiva os meios
mecânicos, quer dizer, os instrumentos de produção, ao conjunto dos quais se pode chamar sistema
ósseo e muscular da produção. O meio ou instrumento de trabalho é o objeto ou conjunto de objetos
que o homem interpõe entre si e o objeto que trabalha e que lhe serve para facilitar sua atvidade
sobre o mesmo. Ao valer-se das propriedades mecânicas, fsicas e químicas dos corpos, o homem os
obriga a atuar como instrumentos de seu poder sobre a natureza. Entre os atuais instrumentos de
produção figura toda classe de máquinas, mecanismos, aparelhos e instrumentos diversos, etc.”

“Na produção, não só se necessita de instrumentos de trabalho, mas também dos homens
chamados a produzi-los e utlizá-los. Os meios de trabalho, em qualquer período histórico, resultam
da atvidade produtva passada dos homens. Junto com os meios de trabalho, com os instrumentos de
produção, os homens consttuem a força produtva; mas, ao mesmo tempo, os homens, os
produtores dos bens materiais, os trabalhadores, são a força produtva determinante e primordial.
(...) O trabalho vivo conserva e ao mesmo tempo transfere à produção atual o trabalho invertdo
anteriormente e materializado nos meios de produção. (...) A este trabalho anterior, materializado,
acrescenta-se, no processo de produção, outro, novo, o trabalho vivo, que se encarna nos produtos
acabados. As forças produtvas sociais, portanto, consistem nos meios de trabalho criados pela
sociedade, nos instrumentos de produção, assim como nos homens que possuem determinada
experiência produtva e certos hábitos de trabalho e produzem os bens materiais. (...)”

O Estado burguês não pode ser domestcado pela pessoa de polítcos burgueses civilizados
ou até decentes, porque o Estado é uma máquina com vida própria, posta a serviço da classe
que o criou. Ele possui lógica, mas possui sobretudo historicidade, que coloca suas raízes
fundo em necessidades passadas. Pode-se mudar o grau da natureza através de revoluções
democrátcas parciais, mas só se pode mudar a sua natureza como resultado de uma
completa revolução social. Nesse caso, o Estado existente é destruído e posto em seu lugar o
novo Estado, da nova classe dominante. Por isso é importante que os dirigentes do
movimento popular não atribuam ao Estado existente, tarefas que ele não pode cumprir. O
movimento popular não pode deixar de lado o seu programa, com base numa suposta óbvia
“racionalidade”, do Estado em momentos de grave crise, de divisão da classe dominante.
Nosso programa diz, entre outras coisas:

“ – Reforma agrária radical, através de medidas tais como:

- Eliminação do latfúndio, limitação de propriedade rural a 500 hectares.

474
- Desapropriação e distribuição das propriedades latfundiárias, ao invés da colonização de terras
públicas.

- Desapropriação das terras pertencentes às empresas estrangeiras.

- Pagamento de indenização a longo prazo, juros baixos e sem reajustamentos.

- Desapropriação das terras sujeitas a arrendamentos com parceria para entrega aos camponeses
que as cultvam.

- Polítca de defesa dos preços externos dos produtos primários, denúncia dos acordos do trigo.

- Monopólio de exportação do café.

- Controle e planificação estatal das importações.”

“- Reforma da polítca sobre o capital estrangeiro por meio de:

- Controle dos capitais estrangeiros aplicados no País.

- Emancipação das empresas estrangeiras concessionárias de energia elétrica e telecomunicações.

- Eliminação das atvidades dos trustes internacionais; emancipação das refinarias partculares.”

“ – Reforma da polítca fnanceira e tributária, englobando:

- Lançamento de um empréstmo compulsório interno.

- Unificação de todos os orçamentos da União.

- Corte de subvenção às empresas aéreas privadas e estatzação das mesmas.

- Aumento de impostos sobre beneficiários de altas rendas.

- Elevação do imposto sobre a renda até atngir pelo menos 50% da renda tributária federal.

- Criação do imposto sobre as grandes fortunas.

“ – Reforma do sistema bancário:

- Aumento do controle da rede bancária privada.

- Proibição dos bancos estrangeiros de receberem depósitos nacionais.”

475
Devemos entender que a luta pelas reformas há de se desenvolver melhor se cada setor da
frente única buscar encaminhar a sua própria interpretação das mesmas, negociando aqui e
ali enquanto forças progressistas. Nenhum grupo, nem classe alguma que apoia as propostas
reformistas têm condição para sozinho manter na agenda polítca a luta pelas reformas com
orientação progressista. Tampouco pode o programa das reformas se sustentar sem um
crescente apoio das massas populares, que o alimentará, e pode torná-lo realidade. Só a
mais ampla luta de massas pode assegurar as reformas, daí a importânncia permanente da
mobilização e organização de amplas massas do povo. Como disse Prestes, no comício de 1º
de maio (1962):

“Façamos deste Primeiro de Maio, em todo o país, uma grande jornada de luta em defesa das
liberdades democrátcas, pelo direito de voto aos analfabetos, soldados e marinheiros, pelo registro
eleitoral do Partdo Comunista. A legalidade completa do Partdo Comunista é exigência democrátca
cada vez mais inadiável em nosso país.”

“Façamos deste Primeiro de Maio uma jornada nacional de protesto contra o assassínio de
camponeses no Nordeste.”

“Reforcemos a organização da classe operária e a unidade de suas fileiras intensificando as


manifestações junto ao Congresso Nacional, tendo em vista a aprovação dos projetos de lei que
insttuem o 13º mês de salário, a ttulo de abono de Natal, e o salário-família, e desenvolvendo a
solidariedade a todos os movimentos reivindicatórios. Apoiemos as lutas dos trabalhadores do campo
e ajudemo-los a se organizarem. A aliança operário-camponesa consttui base indispensável à
unificação de todos os patriotas e democratas, ao poderio da Luta de Libertação Nacional, que pode e
deve congregar todos os que almejam a vitória da revolução nacional e democrátca em nosso país.”

“Unidos, lutemos pela substtuição do atual governo por um governo nacionalista e democrátco,
que realize as reformas de base reclamadas pelos superiores interesses da nação.”

“A luta, a organização e a unidade da classe operária, das grandes massas camponesas e de todo o
povo, assegurarão a vitória.”

“Salve o Primeiro de Maio e a solidariedade internacional do proletariado!”

“Salve a luta dos trabalhadores de todo o mundo pela paz, a democracia e o socialismo!”

“Viva o povo brasileiro unido! Pelos comunistas de todo o Brasil.”

476
Este chamamento à unidade de todo o povo de libertação nacional caracteriza a
importânncia de (a) construir-se um poder nacional, a serviço dos interesses reais do povo
brasileiro; (b) a importânncia da efetvação de reformas em benefcio da maioria do povo,
tendo à frente a reforma agrária. Prestes ressalta a importânncia da aliança operário-
camponesa, como fator de aprofundamento da luta pela ampliação da democracia – direitos
para todos os trabalhadores – e pelas reformas de base.

A efetvação da reforma agrária, coadjuvada por outras reformas da estrutura com uma
visão progressista dos problemas existentes, terá sobre a economia e a sociedade brasileiras
efeitos revolucionários. Diferentes setores sociais, hoje bloqueados em suas transformações,
poderão iniciar as mudanças ali necessárias, sem esperar por uma potencial ajuda
governamental. A área de manobra das forças do atraso ver-se-ia notavelmente reduzida. Diz
o partdo:

“Na luta por esses objetvos revolucionários, os comunistas levam em conta que, na situação
presente, é a exploração imperialista norte-americana que consttui o principal obstáculo ao
desenvolvimento independente e progressista da nação.”

“O principal inimigo da revolução brasileira é consttuído pelo imperialismo norte-americano e por


seus agentes internos.”

As forças pró-imperialistas temem que eventualmente reformas estruturais; feitas com o


objetvo de ampliar a vida democrátca e a partcipação de hoje milhões de brasileiros
excluídos, permita ao país avançar materialmente, sem a sua “ajuda”, e sua exploração
econômica e fnanceira. Por isso, lançam mão de seus agentes internos na sociedade
brasileira, no setor empresarial e também no setor público, para distorcer qualquer proposta
progressista, qualquer medida que tenha um efeito de melhoria para o país. Por isso se
qualifca a presença do imperialismo como inimiga da nação brasileira. O caso da pesquisa de
petróleo e da luta pela criação da Petrobrás é nisso bem signifcatvo. Daí a importânncia do
papel mobilizador e de apoio à organização do povo que exerce a agitação e a propaganda
dos temas nacionais fundamentais, conduzidas pelo partdo:

“Muito precisamos, no entanto, ainda fazer para colocar a agitação e a propaganda na altura das
necessidades atuais de nosso Partdo, quando aumentam suas responsabilidades diante do crescente

477
descontentamento popular e da intensificação e ampliação das lutas de massas. Na verdade, não
vamos ainda às grandes massas de milhões.”

“Um trabalho de agitação e propaganda eficiente exige a assistência permanente dos organismos
dirigentes do Partdo que devem fornecer os materiais necessários, reunir frequentemente os
propagandistas e agitadores para a consulta e troca de experiências, visando sempre melhorar os
métodos e as formas de seu trabalho.”

“Quanto à imprensa é indispensável tomar algumas medidas enérgicas para melhorar rapidamente
seu conteúdo e assegurar sua maior difusão. A imprensa precisa ter à sua frente, direções
responsáveis, ideologicamente firmes, com espírito de iniciatva e capazes de aplicar sem graves erros
a polítca do Partdo aos fatos concretos de cada dia que devem ser levados ao conhecimento das
massas, devidamente explicados e respondidos. Nossa imprensa deve ser combatva e polêmica,
saber convencer, mas também desmascarar. As organizações do Partdo devem dedicar maior
atenção à difusão de nossa imprensa, acabar com a subestmação da imprensa, assegurar a ligação
necessária indispensável da imprensa do Partdo com as bases e as massas.”

4 – A Conjuntura Polítca.

Os polítcos burgueses e seus cientstas sociais gostam de trabalhar o conceito de


“conjuntura”, como uma quebra eventual no movimento das estruturas, e que dessem uma
caracterização própria, exclusiva, a dado período de tempo, tornando peculiares seus
potenciais desdobramentos. A ideia não pode ser desprezada, porque consttui um esforço
de análise da parte de doutrinas quase sempre desprovidas de observação mais profunda,
como se caracterizam as ciências “comportamentais”, burguesas. Sempre é boa uma
tentatva de entender o movimento das coisas.

Com uma economia de “sobe-e-desces”,, como é a economia capitalista, as “conjunturas”,


obviamente se sucedem num sem-fm: conjuntura do pós-guerra; crise de 1948-49; pré-crise
da guerra da Coreia; crise do pós-guerra coreano; crise do comércio exterior; crise de 1959-
61; etc... No entanto, aqueles que aceitam admitr o conceito de “conjuntura”,, estão ao
menos partcipando da luta para explicar o que se passa, attude que inúmeros ideólogos
burgueses nem assumem, limitando-se a falar ou escrever “em tese”,...

478
Também se observa uma tendência entre os analistas burgueses de conjuntura para (1)
excluir a análise dos países pobres do quadro, centrando-se apenas nos países
desenvolvidos; (2) reduzir a conjuntura econômica à “conjuntura polítca”,, ou seja, explicar
tudo a partr de acontecimentos polítcos, o que não pode ser assim. Esta concepção é
reforçada com a teoria do “ciclo eleitoral”,, em que o fato das eleições periódicas das
democracias representatvas vê-se responsabilizado pelas oscilações econômicas e mudanças
de polítca econômica (!). Deixando as piadas à parte, é possível determinar-se a
caracterização das conjunturas e discut-las enquanto tal, sem qualquer prejuízo dos
problemas estruturais conhecidos.

Desse ponto de vista, o Brasil saiu da crise de 1953-1956, com as polítcas adotadas para a
expansão da economia pelo governo JK. Tal governo foi critcado e duramente atacado pela
reação, pelas forças pró-imperialistas, que não desejavam polítcas para o crescimento
econômico, aumento de ganhos para o setor industrial, elevação nominal de salários, etc.
Para o Brasil, economia pobre a lutar contra a estagnação, recomendavam os príncipes da
tradução do inglês em matéria societária: que se adotasse o “equilíbrio fscal”,, combinado
com a “restrição monetária”,, para impedir a redistribuição de renda e assegurar a mesma
àqueles “que já possuíam”, (!). Felizmente, o governo JK fez “ouvidos de mercador”, a tais
sugestões e seguiu sua própria polítca – evidentemente menos ruim – do que generalizar a
miséria e o desemprego.

A conjuntura desfavorável ao comércio exterior latno-americano tem sido evidentemente


séria. Já têm durado quatro anos a crise regional, e vai-se pelo quinto. O país teria fcado
estagnado, não houvesse o sr. Juscelino seguido sua própria polítca. A eleição do sr. Jânnio
(1960), contudo, empurraria o país pela ladeira do ajustamento preconizado pelo F.M.I., a
que tanto havia procurado resistr JK. Com uma dívida externa que é menos de 10% do PIB, a
direita grita e vê na situação do país a necessidade de arrochar os pobres e efetvar uma
polítca de crescente esfomeamento. Balela. A dívida não é grande, as difculdades da
conjuntura resultam de fenômenos objetvos e a situação só pode ser minorada até a
mudança objetva de conjuntura (fm da depressão externa). O país é um exportador
primário e não tem o domínio estratégico de seu comércio exterior. A reação deseja
aproveitar a crise para elevar suas rendas à custa da miséria do trabalhador. Daí o colar de
soluções que descarrega nas costas do povo todos os pontos negatvos da crise. O

479
parlamentarismo, fruto do golpe de agosto passado, serve como uma luva para a reação
executar o seu programa de miséria e ocultar suas digitais. Por isso, afrma o Partdo:

“Esta polítca de conciliação favorece o imperialismo norte-americano e as forças reacionárias, que


se utlizam dela para manter suas posições e impedir as mudanças necessárias ao progresso do país.
Intensifica-se em todas as frentes a atvidade dos inimigos da nação. A embaixada dos Estados
Unidos consttui-se em centro distribuidor de recursos financeiros aos governadores entreguistas
como Carlos Lacerda, Juraci Magalhães, Cid Sampaio e outros. Fundos da “Aliança para o Progresso”,
do BID e de outras insttuições ianques, além das “caixinhas” do IPES, do IBAD e de outras
organizações reacionárias, são postos a serviço de intensa campanha antcomunista, com o objetvo
de dividir o movimento operário, as entdades estudants, enfim, a frente única das forças que se opõe
ao imperialismo e ao latfúndio.”

“Os grupos retrógrados controlam com rigor crescente todos os instrumentos de propaganda,
intmidam jornalistas, compram jornais, corrompem aberta e cinicamente. Utlizam-se
partcularmente dos elementos mais reacionários da alta hierarquia eclesiástca e do clero católico,
para explorar os sentmentos religiosos de alguns setores da população e envolvê-los em sua
conspiração reacionária. Pressionam o Governo, por todos os meios, no sentdo de modificar a
polítca externa de relações com os povos e empregam os recursos mais escusos e todo tpo de
provocações visando conseguir a ruptura de relações com Cuba e, especialmente, com a União
Soviétca. Utlizam-se dos postos que conservam no aparelho do Estado, sobretudo nas forças
armadas, para conseguir manifestações de apoio às posições polítcas mais reacionárias. Dispondo de
maioria no Parlamento, tratam de impedir a aprovação de qualquer medida efetva em favor dos
interesses nacionais, ao mesmo tempo em que levantam, agora, de maneira hipócrita, a bandeira da
defesa da legalidade consttucional, porque as massas se mobilizam para exigir do poder legislatvo,
as reformas indispensáveis ao progresso do país.”

“O agravamento da situação polítca não pode deixar de refetr-se no interior das forças armadas,
onde se manifesta uma divisão cada vez mais evidente entre os chefes militares, ao mesmo tempo em
que se intensifica a atvidade polítca entre a oficialidade e a tropa. As recentes manifestações
ostensivas dos ministros militares e de generais pertencentes ao dispositvo militar do Governo, no
sentdo de antecipação do plebiscito, assim como as últmas declarações de alguns generais
reacionários contra as “ameaças comunistas” e em defesa da “legalidade consttucional”, que
consideram ameaçadas, revelam o sentdo do choque que se esboça na área militar. Os fatos indicam
que não está excluída a possibilidade de pronunciamentos militares, capazes de gerar confitos
importantes.”

480
Toda vez que o poder estabelecido tem difculdade de impor sua vontade em toda a linha
sonha e assume a possibilidade de um golpe-de-estado. Esta visão corrupta de solução
polítca desdenha da capacidade de negociação e chega a uma situação crua, em que um
grupo impõe sua vontade ao centro, por meios ilegais. Nesse caso, estão sempre defendendo
interesses da dominação. A única hipótese de um golpe não ser reacionário é que ele
decorra do colapso de uma das forças em luta, de uma classe dominante dividida. Nesse
caso, ele não seria um golpe preventvo. O golpe preventvo, como se vê agora em
preparação, descamba sempre para uma vertente reacionária.

Infelizmente, as democracias burguesas têm demonstrado esta debilidade ao longo de sua


história, a tendência para solucionar suas crises através dos golpes de Estado. A tendência é
ainda mais característca nos países atrasados, onde os golpes não apresentam a máscara de
tranquilidade dos golpes dos grupos monopolistas nos países industrializados. A verdadeira
democracia só pode se fundar na partcipação popular ampla e isso implica colocar-se uma
parte dos mecanismos de poder na mão das entdades de massa, e outra parcela no Estado
popular e democrátco. Diz o nosso Partdo:

“Apoiando-se na maioria do povo e dando uma réplica decidida aos elementos oportunistas,
incapazes de renunciar à polítca de compromisso com os capitalistas e os latfundiários, a classe
operária tem a possibilidade de levar à derrota as forças reacionárias e antpopulares, conquistar
uma sólida maioria no parlamento, transformar o parlamento de arma, que serve aos interesses de
classe da burguesia, em arma, que sirva ao povo trabalhador, desenvolver uma ampla luta de massas
extraparlamentar, quebrar a resistência das forças reacionárias e criar as condições necessárias para
a realização pacífica da revolução socialista. Tudo isto será possível somente através de amplo e
incessante desenvolvimento da luta de classe dos operários, das massas camponesas e das camadas
médias urbanas contra o grande capital monopolista, contra a reação, por profundas reformas
sociais, pela paz e o socialismo.”

“Nas condições em que as classes exploradoras empregam a violência contra o povo, é indispensável
ter em vista outra possibilidade – a transição não pacífica para o socialismo. O leninismo ensina e a
experiência histórica confirma que as classes dominantes não entregam o poder voluntariamente. O
grau de exacerbação e as formas de luta de classes nestas condições dependerão não tanto do
proletariado, quando da força de resistência dos círculos reacionários à vontade da esmagadora
maioria do povo, de aplicação da violência por esses círculos nesta ou naquela etapa, da luta pelo
socialismo.”

481
Como comprovam as jornadas de agosto-setembro, os elementos reacionários se
entrincheiram nos postos de segundo e terceiro escalão do Estado e se negam a deixar tais
postos, quando os governos reacionários que eles representam se veem derrubados pela
marcha da crise. Os elementos conservadores os encobrem então com seu poder, assumindo
uma fachada conciliadora, em que cedem algumas posições sem maior importânncia às forças
progressistas e fngindo dar apoio a um caminho legal para satsfazer ao apelo das massas
por reformas. Na verdade, não querem nada reformar, apenas ganhar tempo para que o
movimento de massas esvazie-se ou que logrem eles preparar um novo golpe. Tudo isso
chamam de “jogo democrátco”,. Analisa o nosso partdo, na Resolução sobre o governo
Jango-Tancredo Neves:

“Este desfecho foi possível porque na frente única predominava a infuência da burguesia, que é
vacilante e conciliadora. As forças fundamentais – a classe operária, os camponeses e sua vanguarda
– não estavam suficientemente preparadas para dirigir a luta.”

“Entretanto, a crise polítca muito contribuiu para despertar a consciência cívica de milhões de
brasileiros. Poderosas forças patriótcas e democrátcas elevaram seu nível polítco, estreitaram sua
unidade e ganharam nova confiança em si mesmas. O movimento democrátco de massas cresceu
consideravelmente. O desencadeamento de greves polítcas, as manifestações de rua, a formação de
inúmeros comitês democrátcos de resistência, o surgimento de batalhões patriótcos e o intenso
alistamento, principalmente no Rio Grande do Sul e em Goiás, de homens do povo dispostos a pegar
em armas – são um atestado de que se eleva rapidamente o nível da consciência polítca e
revolucionária das massas. O processo democrátco não foi interrompido. Avança no sentdo de novas
conquistas.”

“O novo governo, com o sr. João Goulart na presidência da República e o sr. Tancredo Neves na
presidência do Conselho de Ministros, formou-se à base da conciliação, do compromisso com o
imperialismo e o latfúndio. É um governo heterogêneo, incluindo em seu seio desde conhecidos
agentes do imperialismo ianque, como o sr. Moreira Sales, até membro da Frente Parlamentar
Nacionalista, como o sr. Gabriel Passos. Refete os confitos entre interesses de grupos dos partdos
polítcos nele representados. Nasceu, além disso, comprometdo com os golpistas, que pretende
apaziguar. E estes, que tudo fazem para conservar posições importantes no aparelho do Estado,
partcularmente nas Forças Armadas, contnuam conspirando e aguardam apenas um momento
favorável para insistr em suas tentatvas libertcidas. Trata-se, pois, de governo débil e instável.”

482
“A polítca do governo está expressa no Programa do Conselho de Ministros apresentado ao
Parlamento. Prosseguindo na linha de conduta do governo Jânio Quadros, o Programa insiste na
mesma polítca de estabilização monetária ditada pelo FMI. Em relação ao capital estrangeiro, deixa
com mãos livres os trustes imperialistas da eletricidade, dos minérios, da indústria automobilístca, da
distribuição do petróleo. Promete a estes trustes novas concessões, “tarifas realistas”, etc. Abre novos
campos para a associação entre capitais imperialistas e capitais nacionais.”

“Além de reduzir o papel da Eletrobrás apenas ao de uma empresa coordenadora e mentora da


expansão da polítca de energia elétrica, o Programa contém graves ameaças à Petrobrás. É
preconizada a exploração de concessões petrolíferas no exterior, em detrimento das prospecções
realizadas em nosso território, assim como a “associação da Petrobrás com outras companhias
nacionais e estrangeiras”, o que representa um atentado fagrante à orientação nacionalista da
polítca do monopólio estatal.”

“Embora o Programa se pronuncie por uma “ampla reforma agrária”, as medidas nele sugeridas
não podem levar à transformação profunda do sistema latfundiário, reclamada imperiosamente pelo
desenvolvimento do país. Na realidade, o Programa trata de reduzir a reforma agrária a medidas
extremamente limitadas, como a “ocupação de terras devolutas” a “abertura de frentes de
colonização em áreas novas” e “reformas fscais destnadas a punir a prosperidade improdutva”.
Apela exclusivamente para o aumento da produtvidade e para uma vaga “humanização do homem
do campo”, sendo visível o propósito de ludibriar as massas camponesas.”

Os elementos conservadores que se desempenham como apaziguadores, como


conciliadores bem intencionados entre “duas forças extremas”,, mostram sua insinceridade
pelo total desprezo pelo campo popular, preocupando-se com o mesmo ante apenas o
“despertar das consciências”, e o risco de que venham a perder algo mais além dos anéis.
Fingem que ambos os campos estão sendo intransigentes, quando na verdade manobram
para ganhar tempo na ação preparatória das forças reacionárias. Diz a Resolução Jango-
Tancredo Neves:

“No que concerne à polítca externa, o Programa tem posição dúbia e vacilante, pois se, de um lado,
reafirma fidelidade aos princípios de não intervenção a autodeterminação dos povos, rejeitando a
“prévia vinculação a blocos de naçees ou compromissos de ação conuunta”, de outro lado ressalta a
disposição de cumprir os “compromissos regionais contdos na Carta da OEA e no Tratado do Rio de
Janeiro.”

483
“O novo governo é assim, em sua essência, reacionário e entreguista. Chocar-se-á inevitavelmente
com o descontentamento das massas trabalhadoras e populares, vítmas da infação, que se acelera,
e da caresta, das manobras feitas à custa do povo, dos compromissos que agravam a dependência
do país aos monopólios ianques e ao Departamento de Estado. Contra o governo não poderão deixar
de colocar-se todos os patriotas e democratas, que como revelaram os acontecimentos que se
seguiram à renúncia do sr. Jânio Quadros, estão dispostos a lutar pela solução dos problemas básicos
da Nação.”

“O sr. João Goulart, dadas as peculiaridades do sistema parlamentarista brasileiro, é também


responsável pela polítca e pela conduta do governo. Em vista dos acontecimentos, digo, dos
compromissos que o vinculam ao movimento nacionalista e aos trabalhadores, está em condições de
infuir no sentdo de que seja modificado o governo e se realizem, sem maiores delongas, as reformas
de base incluídas no programa do PTB, de que seja defendida a democracia sem quaisquer vacilações
e assuma o Brasil uma posição efetvamente independente no cenário mundial, ao invés de conciliar
com os generais golpistas e de capitular, como vem fazendo, diante do imperialismo norte-americano,
dos piores exploradores do povo e dos representantes dos latfundiários.”

“Os comunistas se colocam, assim, em oposição a esse governo, ao mesmo tempo em que tudo
farão para contnuar na vanguarda das lutas reivindicatórias dos trabalhadores e de todas as ações
em defesa dos superiores interesses da Nação.”

“Os problemas que levaram à crise polítco-militar não foram resolvidos. Ao contrário, se agravam. E
a situação das massas trabalhadoras se tornou ainda mais difcil e penosa, com acentuado
encarecimento do custo de vida.”

Vê-se a atualidade da Resolução, porque os chamados parlamentaristas não apresentavam


até aqui a força necessária a cumprir seu Programa de governo. Pelo contrário, a luta no
Congresso tornou-se o centro da vida polítca, com debates intermináveis e fracas medidas
executvas. O dinheiro da corrupção vindo desde o exterior vem comandando os
posicionamentos do processo eleitoral, com uma feroz campanha antcomunista e
antnacionalista. O Congresso, em parte comprometdo com essas manobras vindas de fora,
esquece que deve antes representar a população brasileira.

Segue o texto da Resolução, que, na verdade, previu até aqui o desdobramento da


conjuntura:

484
“Por isso mesmo, os trabalhadores mobilizam suas forças, preparam e desencadeiam lutas
reivindicatórias de grande envergadura. Elevado é o número de greves em todo o território nacional,
revelando a combatvidade, a organização e o alto grau de consciência a que chegaram os
trabalhadores, dispostos a defender seus direitos com firmeza e energia, não permitndo que recaiam
sobre seus ombros as consequências da situação que o país atravessa.”

“Reagrupam-se as forças polítcas. As forças mais consequentes da frente única de resistência


democrátca não aceitaram a conciliação com o golpismo e se mobilizam, agora em nível novo e mais
alto, com característcas mais radicais. A Declaração de Goiânia e a Frente Nacional de Libertação
possibilitam a estruturação em todo o país de poderoso movimento em prol da emancipação de
nossa pátria e da defesa da democracia. Os comunistas, que partcipam atvamente, sem qualquer
exclusivismo, do movimento nacionalista e democrátco, e que se orgulham da atvidade que
desenvolveram durante a crise polítco-militar, contribuirão com entusiasmo para a unificação de
todos os patriotas e democratas.”

“As forças mais reacionárias e entreguistas, embora hoje em condições menos favoráveis, cuidam de
conservar seus postos no aparelho do Estado, reartculam-se abertamente, mantendo assim vivo o
perigo de novas tentatvas golpistas. Usam a velha e desmoralizada bandeira do antcomunismo para
tentar isolar os comunistas e golpear os democratas e nacionalistas, todos aqueles que defendem os
interesses do povo e desejam a libertação do país. O recrudescimento da campanha antcomunista
refete o desespero nas fileiras de nossos inimigos, em consequência das vitórias já alcançadas no
terreno da unidade das forças democrátcas e ant-imperialistas.”

“As forças da conciliação e do compromisso com o imperialismo e o latfúndio contnuam a fazer seu
jogo duplo, de que o Programa e a conduta do governo João Goulart-Tancredo Neves consttuem
exemplo.”

“Apresenta-se desta maneira um quadro em que as perspectvas são de novas lutas e, também, de
novas vitórias. A frente de massas cabe aos comunistas saber orientá-las para que se unam e lutem
organizadamente, em defesa de suas reivindicações imediatas e por uma mudança para melhor no
processo de desenvolvimento da vida econômica e polítca do país.”

O que se tem visto nos últmos oito meses confrma o sentdo para onde se desenvolve a
crise polítca e social, que tende a se agravar com a proximidade de uma crise econômica.
Confrmam os lineamentos da Resolução sobre o governo Jango-Tancredo Neves. Uma vez
que o desdobramento provável da conjuntura é conhecido, as forças nacionalistas teriam que
agir de acordo com as necessidades tátcas impostas por esse conhecimento. No entanto, há

485
uma persistência de elementos progressistas, comprometdos com a causa popular, em
buscar ainda uma linha de menor resistência para o choque que terá que vir. Dizia a
Resolução:

“Os acontecimentos comprovam, com crescente vigor, que se torna necessário um poder polítco
diferente, consttuído de forças efetvamente dispostas a romper com a dependência ao imperialismo
e liquidar o latfúndio, abrindo, assim, o caminho para o progresso da Nação e o bem-estar do povo.
Os comunistas prosseguem a luta pela formação de um governo nacionalista e democrátco, o
governo de coalizão, representatvo das forças patriótcas e democrátcas, desde o proletariado até a
burguesia ligada aos interesses nacionais. É o único governo capaz de enfrentar com êxito a solução
dos problemas atuais e de imprimir um rumo independente e progressista ao desenvolvimento da
Nação, iniciando sem demora a nacionalização das empresas norte-americanas, realizando a reforma
agrária radical que ponha fim ao latfúndio e entregue a terra aos camponeses, enfrentando
concretamente os graves problemas do Nordeste e das demais regiões atrasadas do país, ampliando
uma polítca externa efetvamente soberana, assegurando o desenvolvimento independente da
economia nacional e o bem-estar dos trabalhadores e do povo.”

“Esse governo pode ser conquistado como resultado da luta de massas e da modificação na
correlação de forças polítcas. Ao combater a polítca de compromissos com o imperialismo e a
reação, os comunistas consideram necessária a união de todas as forças patriótcas e populares para
a luta pela mudança do atual Conselho de Ministros e pela formação de um Conselho de Ministros
nacionalistas e democrátco, através da pressão sobre o Congresso Nacional e outras formas de luta
de massas.”

Ao pedir a intensifcação da luta pela formação de um governo nacionalista e democrátco,


a Resolução apontava para a importânncia das eleições que se realizarão este ano, e que já
levaram o latfúndio ao desespero, não só trazendo dinheiro “doado”, nos EUA para fnanciar
sua campanha eleitoral, como prosseguindo na campanha de esfomeamento do povo, com o
desaparecimento do arroz, da carne e do feijão. Essas ações desesperadas, contudo, não
podem garantr a vitória da reação nas urnas. Diz a Resolução:

“É enorme a importância das eleições que se realizarão no próximo ano, para a renovação da
Câmara de Deputados e de dois terços do Senado, para governador em diversos Estados, para
Assembleias Legislatvas, prefeitos e Câmaras Municipais. Nosso objetvo deverá ser o de obter
importantes modificações na composição polítca do Parlamento, nos executvos estaduais e nas
Assembleias Legislatvas. É preciso eleger governadores nacionalistas que se oponham ao golpismo,

486
homens que sirvam de firme ponto de apoio na luta pelas liberdades democrátcas e pela libertação
do país; eleger deputados e senadores nacionalistas, progressistas e democratas, à altura da tarefa
que se impõe ao Parlamento nos dias atuais. Devemos organizar desde já a luta pela vitória das
forças nacionalistas e democrátcas nas eleições de 1962, assegurando uma maioria nacionalista no
Parlamento e elegendo uma combatva bancada comunista.”

“No momento atual, o combate à caresta de vida ocupa lugar importante na mobilização das
massas, visando a exigir do governo uma polítca financeira livre das imposições do Fundo Monetário
Internacional e que assegure a elevação do salário real dos trabalhadores, o imediato congelamento
dos preços dos artgos de consumo popular e medidas prátcas contra a infação. Da maior
importância se reveste a luta pela suspensão imediata da remessa de lucros para o exterior. Torna-se
necessário reformar a Consttuição em um sentdo democrátco, tendo em vista eliminar os
dispositvos que dificultam a realização de uma reforma agrária radical e outras reformas básicas,
assim como garantr o direito de voto aos analfabetos e soldados. A defesa das liberdades
democrátcas, da liberdade e autonomia sindicais e do direito de greve, são questões que exigem a
vigilância e a mobilização das massas. Devem ser abolidas as discriminações antdemocrátcas da Lei
Eleitoral. É igualmente necessário exigir do governo e do Congresso Nacional a desttuição dos
golpistas de todos os postos de mando e a punição de todos aqueles que cometeram e contnuam
cometendo violências e crimes contra o povo. Cabe-nos ainda mobilizar massas para que exijam o
imediato restabelecimento de relações diplomátcas com a União Soviétca e demais países do campo
socialista, bem como a execução dos acordos comerciais firmados com os mesmos países.”

“A gravidade da situação internacional, ante a utlização, pelas potências ocidentais, da República


Federal Alemã e seu poderio bélico e industrial, como cabeça-de-ponte visando a uma guerra
mundial, torna indispensável a intensificação da luta em defesa da paz. E a luta pela paz exige
igualmente que organizemos e ampliemos o movimento de solidariedade ao povo cubano, que se
encontra na vanguarda dos povos da América Latna em luta contra o opressor norte-americano e
que é, por isso, o mais direta e imediatamente visado, estando vitalmente ameaçado.”

“A crise polítca colocou com novo vigor, não apenas para os comunistas, mas para todos os
patriotas e democratas, a importância do papel do movimento comunista. Os acontecimentos
confirmaram a justeza da nossa linha polítca e revelaram que os comunistas já alcançaram um nível
polítco e ideológico mais elevado, destacando-se a combatvidade na maioria dos militantes e o
espírito de iniciatva de numerosos dos quadros dirigentes.”

“Foi também possível verificar que melhoraram nossas ligações com as massas, partcularmente com
a classe operária e com o movimento estudantl.”

487
“Entretanto, se já demos um bom passo no processo de acumulação de forças em que nos
encontramos, foi um passo apenas e muito precisamos ainda fazer para nos elevar à altura das
possibilidades e das necessidades. Não temos dado a necessária atenção ao trabalho polítco dos
comunistas nas empresas e isto nos dificulta vencer a infuência reformista no movimento sindical e
dar base sólida ao movimento sindical de cúpula.”

Os levantes e quebra-quebras parciais que a população tem enfrentado, até com vítmas
fatais desencadeadas pela repressão militar, tem se devido à ação dos açambarcadores que,
escondendo os alimentos básicos, provocam novas elevações descabidas de preços,
protestos e as ações repressivas. Procuram assim criar um clima de enfrentamento, de
massas descontroladas, para exacerbar os fracos de espírito e empurrá-los para o golpe
militar. Aproveitam-se assim da insufciente organização da aliança operário-camponesa para
desfechar um golpe. Diz a Resolução do ano passado, sobre o governo Jango-Tancredo
Neves:

“A subestmação de nosso trabalho no campo, contribui para que o movimento se desenvolva em


ritmo ainda lento e consttua o setor mais débil do movimento patriótco e democrátco em nosso
país.”

“É necessário chamar a atenção para duas incompreensões quanto à nossa linha polítca, as quais
têm acarretado erros na atuação de alguns camaradas. A primeira consiste na absolutzação da
possibilidade da saída pacífica de nossa revolução, isto é, na exclusão da possibilidade de uma saída
não pacífica da revolução brasileira. A outra incompreensão é o entendimento de que o caminho
pacífico significa um processo idílico, sem choques e confitos sociais, e que, por tal motvo, não
devemos aguçar as contradições de classe e aprofundar a luta contra o inimigo.”

“Estamos agora diante de novas e maiores tarefas. Para levá-las a termo é indispensável que
cuidemos cada vez mais de reforçar o movimento comunista, desenvolver sua atvidade entre as
massas e assegurar sua unidade para aumentar sua capacidade de ação. Os últmos acontecimentos
exigem e ao mesmo tempo facilitam a superação das tarefas de construção do movimento
comunista. Será essa a melhor forma de capitalizarmos a vitória democrátca de nosso povo e o
sentmento de satsfação e orgulho que ganha nossas fileiras.”

“Devemos acelerar agora o processo de registro eleitoral de nosso Partdo, consttuindo as Comissões
de patrocínio nos Estados e Municípios, intensificando o movimento de massas e a coleta de
assinaturas de eleitores.”

488
“Para livrar nosso país dos monopólios norte-americanos e de seus agentes internos, temos ainda de
travar duros combates. Para eles devemos estar preparados. Como ensina o grande Lênine, a história
em geral e a das revoluções em partcular nos oferecem elementos teóricos e prátcos para superar as
debilidades e erros cometdos pelos revolucionários de 1935; a realidade é sempre muito mais rica do
que imaginam os melhores partdos de vanguarda, donde a dupla conclusão do que o proletariado, e
partcularmente seu Partdo, precisam saber utlizar todas as formas de luta e achar-se em condições
de substtuir, de maneira rápida e inesperada, uma forma de luta por outra. Devemos estar sempre
preparados para enfrentar todas as consequências do aguçamento da luta de classes e das crises
polítcas e, portanto, para rápidas mudanças nas formas de luta. Persistndo na luta contra as
tendências de direita, devemos contnuar combatendo com firmeza o oportunismo da esquerda que
pretende desconhecer a importância da acumulação de forças e da ampla utlização, que devemos
saber fazer, das formas legais de luta.”

5 – Conclusão.

Em nossa 11ª aula retomamos o conceito de classe social para discutr suas relações com o
regime polítco de uma sociedade, no caso a brasileira, e situar os limites que tal regime
impõe ao processo de luta de classes. Vimos que sob a consttuição de 1946, não é proibido
formar no plano legal, blocos polítcos, o que – apesar das limitações do poder estabelecido
– tem permitdo ao movimento nacionalista e democrátco alcançar crescente infuência
polítca.

Vimos também que o regime polítco atual visa à perpetuação das classes dominantes
atuais, pois não admite o revezamento no poder com forças populares, negando direito de
voto a analfabetos, a subordinados militares, etc. Grande parte da população não está
representada no quadro do atual regime, nem pode se fazer representar. Aprendemos
também que a forma como o poder está estruturado não permite a punição dos golpistas e
dos conspiradores, nem daqueles que abusam do poder econômico.

489
Perguntas.

1. Qual o principal instrumento da representação polítca das classes na sociedade


capitalista?

2. Que é um bloco de classes?

3. Que entende por frente única?

4. O que é uma resolução polítca?

5. Como funciona o atual regime parlamentarista?

6. Que entende por golpe de estado?

7. Que entende por revolução democrátca parcial?

8. Classifque os tpos de Estado que podem resultar da atual crise brasileira.

9. Como Prestes vê a atual aliança operário-camponesa?

10. Quais as tátcas possíveis para bloquear a possibilidade de um golpe de estado?

490
Aula 12

491
12 – O Caráter da Revolução Brasileira.

O PCB, através de um longo processo de análise, lutas e debates, chegou a defnir


corretamente a etapa em curso da revolução brasileira. Primeiro, é preciso entender-se que
os comunistas não apoiam a necessidade de uma revolução no Brasil porque desejem imitar
a União Soviétca ou a China. Os comunistas apoiam a tese da revolução brasileira porque ela
é evidente por si mesma, a luta revolucionária está em curso há uma centena de anos, e ela
não depende da vontade dos comunistas ou da burguesia. A revolução não é uma invenção
dos comunistas.

Em primeiro lugar, a revolução é um processo objetvo, em que se acumulam em campos


opostos forças sociais e necessidades econômicas, que não encontram solução no quadro do
regime existente, e terminam por destruir tal regime.

Em segundo lugar, o capitalismo é um sistema que se torna universal, através de uma série
de revoluções democrátcas, desencadeadas primeiro pelas massas camponesas e, em
seguida, por um setor social dela destacado, a burguesia agrária (aproximadamente 1300 a
1900 d.C). A burguesia herdou assim o programa democrátco da massa camponesa e da
pequena burguesia, assumindo não raro o poder que estas outras duas classes haviam
conquistado na luta.

Em terceiro lugar, a burguesia, como uma classe exploradora, cedo abandonou o programa
democrátco para aliar-se ao seu inimigo derrotado, o latfúndio, com a fnalidade de criar um
Estado restaurador, que deixasse as grandes massas - como explorados – fora do poder
polítco e econômico (revolução francesa (1789-1799; 1830; 1848); (revolução norte-
americana: 1776-1815); (revoluções na Europa: 1790-1849).

O recuo e a traição do poder burguês, em virtude da contnuidade das transformações da


base econômica e da sociedade em geral, produzidas pela revolução industrial (1760-1840;
1870-1929), teve que passar as tarefas democrátcas não cumpridas pela burguesia para

492
outras classes, no caso o novo proletariado industrial e o campesinato pobre. No caso dos
países atrasados, conforme ensinam Marx, Engels e Lênine, para chegar ao socialismo é
necessário abrir caminho com uma revolução democrátca e nacional, ampla em suas forças.
Lênine nos ensina que na época do imperialismo, tal revolução democrátca é parte da
revolução socialista mundial.

Nosso partdo, analisando judiciosamente todas as tentatvas que tem feito em seus 40
anos de existência, chegou à conclusão que o aspecto principal da contradição requer a
aceitação do caráter urbano do centro da luta, e não, como vinha encaminhando até 1954,
uma insurreição combinada nas cidades e no campo. O nível de organização das forças
sociais progressistas no campo é ainda muito baixo, sendo o aparato repressivo ali até de
caráter privado, o que expõe as famílias camponesas a uma repressão direta e imediata, sob
vistas grossas do Estado (quando este não partcipa diretamente das chacinas). Em virtude
de imenso território do país e da ausência de fronteiras de apoio, o caráter da luta se defne
como “ant-imperialista e antfeudal”, e não, como antes, “antfeudal e ant-imperialista”,.

O imperialismo e seus agentes internos, sem os quais o latfúndio se torna fraco,


concentram seu poder nas cidades, mas podem objetvamente ser batdos neste teatro pelas
crescentes forças democrátcas e nacionalistas, com a densidade das massas operárias e do
povo pobre. O imperialismo e seus agentes internos não têm força potencial para bater
sucessivas e crescentes mobilizações populares nas grandes cidades, como comprovam as
jornadas de 2 a 5 de julho deste ano. Diz o Jornal Últma Hora (06-07-1962):

“Em clima de greve e diante das violências policiais, o povo explodiu em revolta, saqueando e
destruindo casas comerciais na Zona Norte da Guanabara, Nilópolis, Niterói, Caxias e São João de
Merit, onde os choques entre populares e a polícia converteram em batalha campal o teatro das filas
do abastecimento. Em Caxias, principalmente, a rebelião popular deixou um saldo de cerca de 25
mortos e mais de mil feridos, números imprecisos, em face da falta de informações oficiais e que se
acredita possam superar esses cálculos. Estma-se, extraoficialmente, em cinco mil o número de
feridos e em 40 o número de mortos, só na Baixada Fluminense.” (Últma Hora, 6-7-1962)

Isto demonstra o acerto de nossa linha polítca, que caracteriza a centralidade do cenário
urbano de luta. O Comando Geral de Greve imediatamente se solidarizou com a luta das
massas, decretando greve geral no país. Veja-se o manifesto do mesmo no dia 05:

493
“Comando Geral da Greve”

“Manifesto à Nação”

“A classe trabalhadora alcançou grandiosa vitória ao realizar, pela primeira vez na história do
movimento sindical brasileiro, uma greve geral em todo o território nacional. O 5 de julho, data da
afirmação da luta libertadora, já agora se tornará, também, uma data histórica do proletariado
brasileiro, que reúne em torno de sua ação as forças progressistas de nosso povo.”

“O nosso movimento, conforme reiteradas manifestações anteriormente dadas a público, tem


objetvos claros e definitvos, consubstanciados nos itens do programa que apresentamos à Nação,
para cuja realização consideramos imperiosa a consttuição de um governo democrátco e
nacionalista. Neste propósito forçoso é reconhecer que a nossa greve de 24 horas consttuiu firme e
serena advertência aos quadros dirigentes do País, do amadurecimento polítco e progressista
tomada de consciência da classe trabalhadora. Demonstramos, de maneira inequívoca, que os
trabalhadores, como também os demais setores patriótcos do povo brasileiro – civis e militares – não
estão dispostos a assistr passivamente aos jogos de interesse que, em seu nome, são feitos na defesa
de grupos nacionais e estrangeiros que exploram a nação brasileira. Demonstramos, na prátca, que
a classe trabalhadora é hoje uma força organizada independente, disposta a lutar com todas as
camadas sociais do nosso povo para tornar efetvas as reformas de base, consolidar e ampliar as
liberdades democrátcas e sindicais, defender e ampliar a polítca externa que vem sendo executada.
Por isso mesmo não silenciamos sobre as violências pratcadas contra os grevistas e populares que
pacificamente defendiam suas prerrogatvas democrátcas, exigindo que sejam imediatamente
libertados os que sofreram atentados à sua liberdade, bem como punidos aquelas autoridades que
cometeram essas violências e, até mesmo, assassinaram populares em via pública.”

“A formidável demonstração de unidade e combatvidade dada pelos trabalhadores, que já se


haviam pronunciado pela greve em suas assembleias sindicais, foi a melhor resposta que se poderia
dar aos pronunciamentos golpistas, antdemocrátcos e antpopulares dos conhecidos agentes do
latfúndio e do capital estrangeiro em nossa terra.”

“Obtdos esses resultados imediatos, resolvemos determinar a suspensão da greve às 14 horas de


hoje, dia 5, em todo o território nacional. Com esta trégua que concedemos, apontamos às forças

494
progressistas as amplas perspectvas da formação do governo democrátco e nacionalista que
reclama a Nação.”

“Não discutmos, agora, a forma de governo – parlamentarismo ou presidencialismo. Num ou


noutro, o que exige o povo brasileiro – e os trabalhadores como sua combatva parcela – é um
governo que seja capaz de realizar as reformas indispensáveis ao País e, de imediato, adotar medidas
prátcas e eficazes contra os sonegadores de gêneros alimentcios e a fome que atnge os lares
brasileiros.”

“Como está claro, nossa luta não terminou. Impõe-se, portanto, que todas as organizações
procedam ao imediato exame de sua atuação na presente greve, corrijam as possíveis falhas
constatadas, reforcem o comando e a mobilização de suas forças e permaneçam atentas ao
desenvolvimento polítco do País, de forma a podermos, com presteza e eficiência, voltar a cumprir o
patriótco papel que nos está destnado, caso as condições assim o determinem.”

“Companheiros!”

“Devemos manter bem nítdo em nosso pensamento o sentdo de nossa luta grevista. Cada um de
nós soube honrar a classe trabalhadora e saberemos contnuar sendo dignos combatentes nesta luta
pelos objetvos e programa de nossa heroica e vitoriosa GREVE GERAL.” Rio de Janeiro, 5 de julho de
1962”

As jornadas da luta de massas de 02 a 06 de julho colocaram por toda a parte a reação na


defensiva. Desesperados, voltam suas esperanças para a eleição de outubro, em que
esperam vitoriar-se despejando quantdades nunca vistas, de dinheiro vindo dos Estados
Unidos. O povo ali também saberá rechaçá-los. A reação põe cada vez mais sua esperança na
preparação de novo golpe de estado, uma vez que enfrenta uma mobilização crescente das
forças populares, e não vê outra forma de combatê-la que não o uso da violência. Já o nosso
partdo – dentro da frente única – luta por soluções legais e negociadas dentro da crise
polítca e social, sem visar a destruição pela violência do campo inimigo de forças. Dizem as
Teses de nosso V Congresso (1960):

“1ª Tese – Situação internacional em que se desenvolve a revolução brasileira – Essa tese
desenvolvia os seguintes pontos principais:
- O mundo se encontra na fase de transição do capitalismo para o socialismo.
- O socialismo progride contnuamente.
- O sistema capitalista está em plena decadência.

495
- A irrupção de uma guerra mundial se torna cada vez mais difcil.
- Há certas possibilidades de conquista pacífica do poder pelo proletariado.
- Os partdos marxistas-leninistas mantêm os seus princípios e lutam contra o sectarismo e o
revisionismo.
- Agravam-se as condições polítcas e econômicas na América Latna.
- A situação mundial favorece a ascensão do socialismo no Brasil.”

“2ª Tese – Característcas principais do desenvolvimento da Economia Nacional. Resume-se nos


aspectos principais a seguir enumeradas:

- O Brasil tornou-se politcamente independente, mas contnua economicamente submetdo.

- O capital imperialista contnua a explorar a economia brasileira.

- A estrutura agrária do País é arcaica.

- Atualmente o processo principal da vida econômica brasileira é o da industrialização.

- No Brasil o capitalismo do Estado tende a assumir formas progressistas e nacionais.

- A infação característca do processo econômico atual impõe pesados sacrifcios aos trabalhadores.

- Aprofunda-se o desequilíbrio econômico regional no País.

- O processo do desenvolvimento brasileiro agrava as condições sociais e aumenta a dependência


econômica.”

O exame da primeira e da segunda tese leva diretamente ao problema que temos hoje nas
ruas e no Congresso. As classes dominantes seguem em sua polítca de sempre, de só
expandir a economia, arrancando novos pedaços de mais-valia extraordinária dos
trabalhadores, evitando tanto quanto possível reinvestr um capital fxo a partr desses
recursos obtdos, mas sim fazê-lo com impostos adicionais sobre o trabalho e a pobreza. A
especulação aberta leva ao desaparecimento da comida, com choques de rua. Trata-se
claramente de uma aposta no desastre.

“3ª Tese – As classes sociais, o Estado e as Insttuiçees no Brasil. Desenvolvia os aspectos seguintes:

- As classes sociais no Brasil compreendem: as latfundiárias, a burguesia, a pequena burguesia


urbana, os camponeses, o semi-proletariado e o proletariado. A classe mais numerosa é o
campesinato e a mais revolucionária, o proletariado.

496
- O governo brasileiro manifesta contradições que refetem em todas as esferas de atvidades.

- Os partdos polítcos brasileiros estão adquirindo estrutura cada vez mais nacional.

- Os sindicatos, a Igreja e as Forças Armadas e as organizações estudants exercem grande infuência


na vida nacional.”

“4ª Tese – As contradiçees da sociedade brasileira e o caráter da atual etapa da Revolução. São os
seguintes temas estudados:

- As duas principais contradições da atual sociedade são a existente entre a nação e o imperialismo
norte-americano, e a entre os latfundiários e as massas camponesas.

- A revolução no Brasil, em sua etapa atual, é ant-imperialista, antfeudal, nacional e democrátca.

- O golpe principal atualmente deve ser contra o imperialismo norte-americano.

- Contra esse imperialismo se opõem o proletariado, a pequena burguesia urbana, a burguesia e


alguns setores de latfundiários por interesses econômicos de concorrência.

- O proletariado é a única força capaz de imprimir orientação revolucionária ao movimento ant-


imperialista e democrátco.

“5ª Tese – A Frente Única Nacionalista e Democrátca. Essa tese desenvolve os pontos abaixo
sintetzados:

- O movimento nacionalista é atualmente o mais apto a associar setores de diversas classes e


camadas, e atrair entdades, partdos, correntes e personalidades de mais variada condição social e
orientação polítca.

- A frente única encerra contradições internas.

- Os comunistas não condicionam a sua partcipação na frente única a uma prévia direção do
movimento.

- Os comunistas devem ser fator de unificação na frente única.

- A unidade da classe operária é condição básica para que ela assuma o seu papel de direção.”

“6ª Tese – O caminho para um Poder das forças ant-imperialistas e antfeudais. É o seguinte o
resumo geral dessa tese:

497
- O governo Juscelino Kubitscheck realizou uma polítca de conciliação, responsável por graves
concessões ao imperialismo norte-americano e por medidas econômico-financeiras antpopulares.

- A conquista do governo nacionalista e democrátco pode ser alcançada pela pressão pacífica das
massas, pela vitória eleitoral ou pela imposição das massas populares, unidas a setores do
Parlamento, das Forças Armadas e do governo.

- Um governo nacionalista e democrátco dependerá do apoio das massas.

- A revolução pode ser conduzida pelo caminho pacífico.

- Para esse fim é preciso conquistar reformas profundas.

- A escolha das formas de revolução, pacífica ou armada, depende da reação adversária.”

“7ª Tese – Uma polítca de Soluçees Nacionalistas e Democrátcas. Seu resumo é o seguinte:

- Os comunistas se empenham para a conquista de um governo nacionalista e democrátco.

- A polítca exterior do País se encontra em crise cuja solução só é a instauração de uma polítca
exterior independente.

- O proletariado tem profundo interesse no desenvolvimento da industrialização do País.

- Deve ser incentvado o comércio exterior, e restringidas as remessas de lucros, os gastos de divisas
e as importações.

- A reforma agrária é passo fundamental para o progresso da economia nacional.

- Pode ser assegurada a melhoria do nível de vida do operariado.

- Faz-se urgente a adoção de medidas ant-infacionárias.

- A industrialização do Nordeste e o desenvolvimento da Amazônia devem ser efetvados dentro da


causa geral da emancipação nacional.

- O Estado deve concentrar seus esforços contra o analfabetsmo e incentvar o ensino cientfico e
técnico e solucionar os problemas de saúde pública.

Há necessidade de reformar a consttuição e de adotar medidas como a legalização do PCB, a


liberação das organizações sindicais, a revogação da lei de Segurança, etc.

498
“8ª Tese – Análise Crítca da Atuação do Partdo. Essa é a tese fnal que examina a atuação do
Partdo. Seus pontos principais são os seguintes:

- Em toda a sua existência desde 1922 o Partdo Comunista se consttui na vanguarda do


proletariado.

- Por falta de adequação de sua polítca à situação nacional, o Partdo não soube manter com êxito
os ataques desencadeados. A partr de 1947 e 1948; tendo sido anulado o seu registro legal e
cassados os mandatos de seus parlamentares.

- O manifesto de agosto de 1950 foi a expressão do “esquerdismo” sectário, incoerente com a


realidade brasileira.

- Durante o governo de Vargas, malgrado o esquema da Frente Democrátca de Libertação Nacional,


o PC não foi capaz de empreender a correção de sua linha polítca.

- Diante do governo de Vargas, o erro do PC era caracterizá-lo como um governo de traição nacional,
sem reconhecer a presença das forças nacionalistas.

- O Programa do IV Congresso era errôneo e sectário formulando uma falsa tese da colonização
crescente do Brasil, estabelecendo a concepção de uma resolução a curto prazo, em uma impressão
negatvista e unilateral.

- Eram também errôneas a compreensão das contradições brasileiras e do papel da burguesia na


revolução.

- Havia uma noção “esquerdista” do processo revolucionário.

- A maior fonte de erros foi o “subjetvismo”.

- Amadureciam as contradições para maior adequação entre o Programa e a tátca, cujas


contradições tanto desorientavam aos militantes.

- Após o XX Congresso ficou evidente a fraqueza da direção do Partdo que se mostrou despreparado
polítca, teórica e ideologicamente.

- As modificações na direção do PC, com o Plano do Comitê Central em agosto de 1957, facilitaram a
adoção de nova linha polítca.

- A partr de 1958, os comunistas se guiaram pela declaração de março, lutando por fortalecer a
frente única, permitndo alcançar maior sucesso nas eleições desse ano.

499
- Apesar disso manifestaram-se ainda tendências sectárias de “esquerda” (isolacionistas) ou de
“direita” (reboquistas).

- O problema das relações internacionais foi solucionado com as correções de erros do passado e a
observância do princípio do internacionalismo proletário.

- O PC vem se esforçando para corrigir todas as falhas do trabalho interno, tanto na aplicação dos
princípios de centralismo democrátco como nos setores de educação ideológica, finanças e à
organização das empresas.

- O trabalho ideológico de propaganda ressente-se de grande debilidade e não foi ainda


reorganizada a ação comunista entre a juventude.

- Os comunistas precisam lançar-se decididamente ao trabalho no seio das massas.

- É preciso evitar o exagerado centralismo e o excesso de planos e de tarefas, sem condições reais
para os mesmos.

- É preciso intensificar o trabalho ideológico.

- As condições atuais são favoráveis ao fortalecimento e à legalização do Partdo.

- O Partdo precisa depurar-se, mas mostrar que é capaz de sobreviver a muitas vicissitudes.”

1 – As Contradições Fundamentais. Tarefas da Etapa da Revolução.

Como indicam as oito teses que em nosso V Congresso levaram à formulação da atual linha
polítca, a conjuntura internacional é favorável a um desdobramento menos violento da atual
etapa da revolução brasileira. Para ampliar as liberdades públicas e fazer avançar o processo
de industrialização, é necessária uma enorme pressão das forças nacionalistas e
democrátcas, com a luta enérgica do movimento popular. Nas condições da polítca atual do
Estado, todo peso do custo do desenvolvimento, ou até apenas do crescimento; é lançado
sobre o povo trabalhador, fcando as classes dominantes “apenas”, com os lucros
resultantes... É necessária uma mudança de governo, que expresse o grau da luta
democrátca. Um governo nacionalista e democrátco pode iniciar as reformas necessárias. A
consolidação deste tpo de governo abre caminho às reformas de base. É, portanto, o centro
tátco da nossa luta.

500
A retrada dos agentes imperialistas do governo irá debilitar a ingerência norte-americana
na condução do dia a dia da polítca nacional. As massas que se opõem ao imperialismo e ao
latfúndio aumentarão desse modo sua infuência polítca. O avanço das massas ganhará,
com este tpo de governo, um novo impulso de partcipação e de organização. A frente única
há de tornar-se mais profunda e mais sólida.

As Teses, a Linha Polítca e as Resoluções do partdo garantem o avanço da noção polítca e


da compreensão das forças conscientes na mobilização de crescentes camadas do povo. Só o
povo organizado pode levar a cabo as tarefas da etapa atual da revolução. Na luta em geral,
como na luta pela reforma agrária, o partdo tem o seu programa. No entanto, jamais impõe
o seu programa aos seus aliados debatendo ideológica e politcamente qual a sua natureza,
mas apoiando sempre as proposições de seus aliados na luta polítca, desde que contenham
soluções positvas. Por exemplo, a proposta do partdo de reforma agrária é radical, aprovada
no IV Congresso. No entanto, como se vê de seus pontos abaixo, o partdo não exige para ela
o apoio de seus aliados:

“ 38 – Confiscação de todas as terras dos latfundiários e entrega dessas terras, gratuitamente, aos
camponeses sem-terra ou possuidores de pouca terra e a todos que nelas queiram trabalhar, para
que as repartam entre si. A divisão das terras será reconhecida por lei, e a cada camponês será
entregue o ttulo legal de sua propriedade. A lei reconhecerá as posses e ocupações de terras dos
latfundiários e do Estado, anteriormente realizadas pelos camponeses, que receberão os ttulos
legais correspondentes.”

“ 39 – Abolição das formas semifeudais de exploração dos camponeses – meação, terça e todas as
formas de prestação de serviços gratuitos – abolição do vale e barracão, e obrigação de pagamento
em dinheiro a todos os trabalhadores agrícolas.”

“ 40 – Garanta de salário suficiente aos assalariados agrícolas, não inferior ao dos operários
industriais não especializados, como também garanta de terra aos que a desejarem.”

“ 41 – Garanta legal à propriedade dos camponeses ricos. A terra cultvada por eles ou por
assalariados agrícolas assim como seus outros bens serão protegidos contra qualquer violação.”

“ 42 – Anulação de todas as dívidas dos camponeses para com os latfundiários, os usurários, o


Estado e as companhias imperialistas norte-americanas.”

501
“ 43 – Concessão de crédito barato e a longo prazo aos camponeses para a compra de ferramentas e
máquinas agrícolas, sementes, adubos, insetcidas, construção de casas, etc. Ajuda técnica aos
camponeses. Amplo estmulo e ajuda ao cooperatvismo.”

“ 44 – Construção de sistemas de irrigação, partcularmente nas regiões do Nordeste assoladas pelas


secas de acordo com as necessidades dos camponeses e do desenvolvimento da agricultura.”

“ 45 – Garanta de preços mínimos para os produtos agrícolas e pecuários necessários ao


abastecimento da população de modo que permitam aos camponeses desenvolver suas atvidades
econômicas e aumentar a produtvidade de suas terras, salvaguardando-se ao mesmo tempo os
interesses da grande massa consumidora.”

“ 46 – Abolição das restrições injustas ao livre trabalho dos pescadores. Ajuda aos pescadores por
meio da concessão de créditos para a construção de casas, entrepostos, etc., e fornecimento de
instrumentos e embarcações para a pesca.”

O programa agrário do partdo é elaborado desde o ponto de vista do trabalhador. No


entanto, estando outras forças interessadas na reforma agrária, o partdo está convencido
que é melhor fazer avançar um programa unitário de reforma agrária do que lutar para
impor o seu ponto de vista. O partdo está convencido do caráter mobilizador das reformas e
da força invencível que o povo encerra. Sem monopolizar a opinião, o partdo apoia todas as
propostas progressistas de reforma agrária que tenham chance de ser aprovadas no
Parlamento. Portanto, se a proposta é progressista e se ela avançar recebe o nosso apoio. O
partdo não busca o poder para a classe operária na conjuntura atual, apoiando, portanto, o
conjunto da frente única para a obtenção de um governo nacionalista e democrátco:

“A fim de conseguir a formação de um governo nacionalista e democrátco, as forças patriótcas e


populares devem orientar sua atvidade em três direções principais que se entrelaçam em sua
aplicação:”

“a) – Lutar por reformas de estrutura, por soluções nacionalistas e democrátcas que atnjam
efetvamente o imperialismo e o latfúndio. Ao mesmo tempo que lutam pelas reformas de base, os
comunistas exigem do Poder Executvo medidas que podem ser tomadas independentemente de
aprovação legislatva vindo a substtuir um passo inicial no sentdo da realização de reformas
estruturais.”

502
“b) – Combater as concessões do atual Governo ao imperialismo e as forças reacionárias, as falsas
reformas de base que vem propondo e a sua polítca de conciliação com os inimigos da Nação. Um
poderoso movimento popular pode levar essa polítca ao fracasso, provocar choques no seio do
próprio Governo. Com a intervenção das massas, estes choques conduzirão ao isolamento e à derrota
dos grupos reacionários, abrindo caminho para a formação de um governo nacionalista e
democrátco.”

“c) – Lutar para desenvolver os aspectos positvos da polítca realizada pelo setor da burguesia
nacional no Poder. Na medida em que se conseguir, através da pressão de massas, manter e
desenvolver estes aspectos polítcos, é possível aprofundar as contradições com as forças
reacionárias, inclusive no seio do Governo, criar as condições para derrotá-las e impor novos avanços
no processo democrátco.”

A luta para obtenção de um governo nacionalista e democrátco fortalece o conjunto das


forças que compõem a frente única. O fato de as forças populares, nas jornadas de agosto e
setembro de 1961 haverem obrigado a Junta Militar a deixar o poder, apesar do golpe do
parlamentarismo, levou a luta pelas reformas a novo nível. Diz a Resolução do partdo:

“As classes dominantes, apesar das dificuldades que tveram de vencer, ainda conseguiram manter o
controle da situação. Através da maioria reacionária predominante no Parlamento, conciliaram à
custa do povo, impedindo, com a manobra da emenda parlamentarista, que a vitória alcançada
contra os golpistas tvesse maior profundidade.”

“Este desfecho foi possível porque na frente única predominava a infuência da burguesia, que é
vacilante e conciliadora. As forças fundamentais – a classe operária, os camponeses e sua vanguarda
– não estavam suficientemente preparadas para dirigir a luta.”

“Entretanto, a crise polítca muito contribuiu para despertar a consciência cívica de milhões de
brasileiros. Poderosas forças patriótcas e democrátcas elevaram seu nível polítco, estreitaram sua
unidade e ganharam nova confiança em si mesmas. O movimento democrátco de massas cresceu
consideravelmente. O desencadeamento de greves polítcas, as manifestações de rua, a formação de
inúmeros comitês democrátcos de resistência, o surgimento de batalhões patriótcos e o intenso
alistamento, principalmente no Rio Grande do Sul e em Goiás, de homens do povo dispostos a pegar
em armas – são um atestado de que se eleva rapidamente o nível da consciência polítca e
revolucionária das massas. O processo democrátco não foi interrompido. Avança no sentdo de novas
conquistas.”

503
Impõe-se, portanto, a todo elemento consciente retomar o trabalho de organização do
amplo movimento social que a luta democrátca logrou mobilizar, para dar-lhe maior
profundidade e expressão programátca. Caso a mobilização popular não seja transformada
em organização, outras oportunidades hão de dar-se em que o povo vai ganhar, mas verá sua
vitória roubada pela reação.

O partdo se comporta na frente única como uma força fraternal e vigilante. Estamos
sempre prontos a lutar por uma solução melhor e negociada, com uma polítca consequente
de evitar os choques que podem ser evitados, acumulando forças com paciência e de forma
tenaz. Desse modo, os nossos aliados sabem que não podem temer “crocodilagem”, de nossa
parte. Como explicou Lênine, o movimento de massas é como o mar chegando a uma praia.
Ele decresce e cresce não se podendo controlar desde “um laboratório”,, ou desde nossos
desejos. A reação costuma atribuir a luta do povo à ação dos comunistas. Ela não
compreende que a luta do povo não pode ser fabricada. O nosso movimento, a esquerda em
geral, sem privilégio deste ou daquele partdo, se limita a tentar organizar as lutas que
ocorrem e dar-lhe o menor custo social possível. Os acontecimentos de 02 a 06 de julho
disso dão testemunho. O elemento detonador daquelas manifestações não foi qualquer
grupo de esquerda. Antes terá sido a ação dos atravessadores, que escondeu a comida e
elevou de modo exorbitante os seus preços. Quando cresce a luta das massas, a reação – que
pouco aprende – se assusta e se esconde. Lança então mão da calúnia, para acusar os outros
pelos seus próprios erros.

Muitas pessoas buscam estudar, mas não entendem que a formação econômico-social não
é uma invenção teórica do partdo, mas um fato objetvo, algo que se dá no processo
histórico e como tal tem de ser descoberto e estudado. O acento de nossa caracterização da
etapa da revolução não é uma invenção de nossa direção, mas uma percepção da natureza
da realidade social, lentamente observada e aprendida. Mais uma vez, apesar das acusações
infundadas de nossos inimigos, não é o partdo que cria coisas, mas o movimento das coisas
que criou o partdo.

Em nossa luta para organizar o povo brasileiro, para organizar a classe operária e a classe
camponesa, para organizar a juventude e as mulheres brasileiras, temos cometdo uma
porção de erros. Nossos quadros são insufcientes, a derrota e as incompreensões nos

504
espreitam aqui e ali. Contudo, não lançamos mão dos nossos erros para nos justfcar. Em
todas as frentes, nosso trabalho é retomado e pouco a pouco, avança. Temos que explicar a
cada setor social qual é a verdadeira natureza de sua luta. Nosso trabalho de organização
deixa a desejar. Nossa agitação e propaganda são defcientes. Não é muito melhor nosso
trabalho ideológico e de educação. Temos problemas na construção do partdo em todas as
frentes. No entanto, quando erramos na avaliação polítca de dada situação ou conjuntura,
as difculdades se tornam muito maiores. Isso porque a realidade tem um caráter
acumulatório: o acerto leva ao acerto; o erro leva ao erro. Diz Prestes:

“O Partdo Comunista, com mais de 40 anos de vida, ainda é o partdo dos perseguidos, é o partdo
que ainda hoje não conquistou a legalidade completa.”

Diz nossa Declaração para o trabalho juvenil:

“O Comitê Central do Partdo Comunista Brasileiro, reunido em sessão plenária, após debater as
questões relatvas à polítca do Partdo para a juventude, resolve adotar a seguinte resolução:”

“A juventude corresponde um papel de primeira grandeza na luta em que se empenha o povo


brasileiro por sua libertação nacional, a democracia e o progresso social. Pelas qualidades que lhe
são inerentes, é a juventude a parcela mais combatva do povo, a mais apta à assimilação das ideias
sociais de vanguarda, e a que com maior ardor abraça e defende as nobres causas dos explorados e
oprimidos, contra os exploradores e opressores. Toda a experiência, passada e atual das lutas
polítcas e sociais de nosso povo, confirmam sobejamente essas qualidades de sua juventude.”

“As profundas transformações polítcas, sociais e econômicas necessárias para levar a cabo a
revolução brasileira só podem ser realizadas por uma força social – a frente única – que englobe em
seu seio as classes e camadas objetvamente revolucionárias em cada etapa da revolução. Essa força
social não chegará a ser, no entanto, suficientemente poderosa se dela não partcipar, com o
entusiasmo e a combatvidade que lhe são próprios, a juventude das classes e camadas que a
compuserem.”

“Conquistar a juventude brasileira para a revolução é assim, tarefa central do Partdo, parte
integrante e inseparável da tarefa de forjar a frente única revolucionária. Por isso mesmo, a ela deve
dedicar-se o conjunto do Partdo, todas as suas organizações e frentes de trabalho, e não apenas os
jovens, aos quais se atribua a inteira responsabilidade pela realização da mesma. A pouca atenção

505
dispensada atualmente pelo Partdo ao trabalho juvenil ou o relegamento deste à condição de tarefa
atribuída aos comunistas jovens, apenas, consttui grave erro que precisa ser com urgência corrigido.”

II

“O trabalho de massas do Partdo para a juventude, do mesmo modo que o destnado às demais
parcelas da população, tem por objetvo imediato levá-la a partcipar da luta geral do povo brasileiro
pela democracia e a libertação nacional. Devido, porém, as peculiaridades que possui a juventude,
em primeiro lugar àquelas que conduzem a se aproximarem na atvidade polítca os jovens operários,
estudantes e camponeses, o trabalho do Partdo para a juventude visa desenvolver no País um amplo
movimento juvenil nacionalista e democrátco, movimento que seja parte integrante e destacamento
mais combatvo da grande frente única ant-imperialista e agrária antfeudal de todo o povo."

“Um tal movimento se irá formando num processo de trabalho e de lutas, como resultado da
unidade de objetvos e de ação polítca das massas juvenis em torno de uma plataforma que
contemple as reivindicações e aspirações sentdas de cada camada da juventude, os grandes temas
polítcos atuais da humanidade, tais como os da defesa da paz, da democracia e do progresso social,
e as transformações revolucionárias preconizadas por nosso Partdo em sua plataforma para a frente
única.”

“Elementos de realização concreta dessa polítca já podem ser encontrados na aliança que se vem
estabelecendo na prátca entre o movimento estudantl universitário e o sindical, e entre ambos e o
movimento camponês, assim como na valiosa e ainda pouco considerada experiência de frente única
que se tem alcançado dentro do movimento universitário.”

Tem avançado rapidamente o entendimento dos diferentes grupos juvenis quanto aos
problemas que se colocam para a agenda de desenvolvimento do país. Dessa maneira,
apesar das campanhas de ódio da guerra fria, a tendência atual da juventude organizada é
para buscar soluções polítcas dos problemas, deixando de lado eventuais diferenças
ideológicas. No seio da juventude, o movimento de frente única avança, portanto, com
celeridade. Daí a Resolução do V Congresso:

“Considerando o importante papel que cabe à juventude na vida social e polítca do País, os
comunistas devem intensificar seu trabalho entre os jovens, organizando-os nos sindicatos, em clubes
esportvos, recreatvos e culturais, e em organizações de massas, ou em entdades especialmente
juvenis.”

506
O partdo mantém sua posição autocrítca quanto ao balanço que tem efetuado sobre o
conjunto e a partcularidade de seu trabalho polítco. É preciso avançar no trabalho juvenil:

“A experiência destes últmos anos demonstrou, outrossim, que o problema da organização da


juventude comunista requer uma solução específica. Embora tenha melhorado consideravelmente
nossa atvidade entre a juventude estudantl, partcularmente a universitária, ainda não fomos
capazes de traçar com a devida clareza a polítca dos comunistas para o trabalho entre as novas
gerações. No entanto, os jovens possuem reivindicações peculiares, motvo porque, através de formas
de organização adequadas à sua condição, poderão ser ganhos com mais facilidade para as ideias do
marxismo-leninismo. Conquanto o trabalho entre os jovens seja tarefa de todo o Partdo, é necessário
que a juventude de tendência comunista, filiada e não filiada ao Partdo, disponha de organização
autônoma, orientada pelo Partdo, com a missão de educar os jovens no espírito do marxismo-
leninismo, de torná-los atvos combatentes pela causa revolucionária e de realizar, em escala de
massa, a propaganda do socialismo.”

Quanto ao trabalho feminino, a extensão de nosso trabalho é ainda insufciente. Como disse
Marighella oito anos atrás:

“Nossa agitação e propaganda, enfim, não é voltada para as grandes massas femininas e, na
prátca, dado seu caráter sectário, nem mesmo consegue atngir uma parte considerável das
militantes comunistas.”

“Comumente nosso trabalho de agitação e propaganda entre as mulheres só aparece quando há


campanhas promovidas em escala internacional ou nacional, quando é preciso enviar delegadas para
fora do país ou em campanhas como a da anista, etc. Não deixa de ser justo, positvo e necessário
pôr em ação nossa agitação e propaganda entre as mulheres nessas campanhas. Mas é evidente que
consttui um erro grave o abandono crônico a que está sujeito o trabalho sistemátco de agitação e
propaganda em torno dos problemas locais e das reivindicações específicas e diárias das mulheres.
Agravamos, assim, o nosso desligamento permanente em relação às amplas massas femininas e suas
reivindicações mais elementares.”

“As militantes comunistas nas organizações de massa femininas concorrem, por vezes, para um bom
trabalho de agitação e propaganda dentro dessas organizações, ajudando a lançar prospectos,
folhetos, volantes, questonários sobre a caresta, etc., com o que são atngidos certos setores da
população feminina. O trabalho de agitação e propaganda para a Conferência Nacional da Mulher
Trabalhadora em certos casos, por exemplo, revelou-se justo, como aconteceu com o lançamento da
convocatória assinada por líderes sindicais e importantes personalidades, bem como com outros

507
materiais que chegaram a despertar grande interesse nas fábricas em São Paulo ou no Distrito
Federal. Mas de um modo geral este tpo de propaganda tem defeitos tão sérios como aqueles
apontados no trabalho de agitação e propaganda do Partdo entre as massas femininas.”

As defciências contnuam as mesmas. Devido ao período de luta ideológica no partdo


(1954-1958), aguçada pelas denúncias do XX Congresso do PCUS, o trabalho do partdo em
geral sofreu graves interrupções, com o abandono de tarefas e do processo de correção dos
métodos de trabalho. Esta crise foi superada ao longo de 1958 e também foram reatvadas as
medidas de organização em 1960-1961. De modo que não se podem separar as difculdades
na condução dos métodos de trabalho das difculdades nos métodos de direção. Prosseguia
Marighella, num tema que ainda é atual.

“O nosso trabalho de imprensa para as mulheres se ressente das mesmas falhas e debilidades de
nossa agitação e propaganda. Além de não atngir as amplas massas de mulheres, nossa imprensa
feminina tem uma circulação irregular, sua difusão é diminuta e instável. A única publicação
progressista feminina não vai além de 15 mil exemplares. Sua rede de agentes é quase
exclusivamente consttuída de comunistas, mesmo assim não ultrapassa a casa dos 200. As dívidas
acumulam-se nos CC.RR., mais importantes do país como Piratninga e Rio, sem falar no Rio Grande
do Sul, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e outros. Tal situação revela nossa imensa fraqueza no
terreno da imprensa feminina, fraqueza que se torna necessário reconhecer abertamente e ao mesmo
tempo eliminar com rapidez. Isto é absolutamente imprescindível, a fim de podermos enfrentar com
êxito a terrível propaganda pelo imperialismo norte-americano e seus agentes no país através do
rádio, da televisão, da imprensa, das histórias em quadrinhos e revistas de cinema, cuja infuência
sobre as mulheres, as moças, a infância e a juventude é grandemente perniciosa.”

“Onde estão as causas das nossas debilidades no trabalho de agitação e propaganda entre as
mulheres e em nossa imprensa feminina? Estas causas são várias e não diferem das causas
apontadas, que entravam nosso trabalho de massa entre as mulheres. Mas a causa principal, sem
dúvida, reside na subestmação do trabalho entre as mulheres, na indiferença com o que temos
encarado até agora no terreno da agitação e propaganda e da imprensa. Pertence ao CC, em
primeiro lugar, a responsabilidade por esta situação que agora procuramos resolver, partndo de
nossa própria autocrítca. Penso, por isso, que merece franco estmulo toda a crítca a este respeito
aqui trazida pelos camaradas delegados e delegadas a esta Conferência.”

508
“A realização com êxito das históricas tarefas hoje colocadas diante da classe operária e de sua
vanguarda exige vencer no mais breve prazo possível nossas debilidades na agitação e propaganda
entre as mulheres e na imprensa feminina.”

2 – A Contradição Principal. O Aspecto Principal da Contradição. O Inimigo Principal.

Entre as maquinações dos inimigos do socialismo encontra-se um vasto arsenal de teses


que afrmam o erro da teoria leninista da revolução por etapas e afrmam o acerto da teoria
Kautskiana da revolução gradual, ou seja, uma “escada processual”, onde se pudessem
acumular eternamente forças no rumo do socialismo. A teoria de Kautsky não é possível,
porque a burguesia não irá assistr à transformação gradual da sociedade capitalista em uma
sociedade socialista. A força do socialismo da IIª Internacional foi destruída pela burguesia
com a primeira guerra mundial.

Já a teoria da revolução a “partr do elo mais fraco”, baseia-se na partcularidade da


contradição, que dorme no seio de todos os fenômenos que existem. Marx apontou na
segunda fase da Gazeta Romana, que a lei de desenvolvimento desigual, empurrada pela
revolução industrial, estava aumentando a distânncia entre as economias dos diferentes
países, tornando uns desenvolvidos e outros atrasados. Por isso, a revolução mundial tendia
no futuro para manifestar-se como formas nacionais, sendo de importânncia vital para seu
desfecho potencial a formação da aliança operário-camponesa. Marx indicou que o fracasso
da radicalização (aprofundamento) da revolução de 1848, deu-se devido à debilidade e
lentdão da formação da aliança operário-camponesa.

Lênine retomou esta tese de Marx e deu-lhe plena consequência na época do novo
imperialismo, baseado na concentração das empresas, das colônias, e do capital, com a
formação de um novo capital fnanceiro. Lênine indicou o caráter estrutural do novo
imperialismo, e como a etapa histórica concorrencial ia fcando para o passado histórico.
Consequentemente, a partcularidade da contradição em nossa época está no fundamento
da estratégia leninista da revolução contemporânnea sob as formas nacionais, a partr do “elo
mais fraco”,: são partculares as contradições do mundo de hoje. Recordemos:

(1) Capitalismo x socialismo.

509
(2) Potências imperialistas x potências imperialistas.

(3) Países industriais x países atrasados.

(4) Forças produtvas x relações de produção.

(5) Classes locais x classes produtvas locais, etc.

A percepção desse “sistema de contradições”, dentro das relações mundiais não é uma
invenção teórica, mas uma descoberta que resulta da análise e da observação das lutas
sociais e econômicas dos diferentes povos e países. Não é uma invencionice dos comunistas.
Se a teoria das contradições é aplicada aos fenômenos humanos, eles adquirem lógica e se
tornam compreensíveis. No entanto, o ordenamento desses fenômenos, a hierarquização do
movimento de tais contradições, é elemento de ordem subjetva, porque o elemento
consciente de cada classe tratará o “sistema objetvo de contradições”, de acordo com os
interesses da classe que ele representa. Um burguês não pode ver o mundo com os olhos do
proletário. E vice-versa.

Desta maneira, nosso partdo tem que estudar as classes e grupos sociais desde sua
consttuição histórica no país e estudar suas contradições e interesses. De posse desse
conhecimento, tem que ordenar a partcularidade das contradições sociais e econômicas
desde o ponto de vista da aliança operário-camponesa, e não de outras forças. Dessa
maneira se chega à estratégia das classes trabalhadoras, que são a maioria da população do
país e se elabora o programa mínimo e o centro tátco de nossa luta.

Evidentemente, os inimigos dos trabalhadores não concordam com o tal método, nem com
o caminho da luta polítca dele derivado. Reconhecemos que eles têm todo o direito de
pensar assim. Daí a luta de classes: eles lutam pelo programa deles, e nós lutamos pelo
nosso programa.

Quando o nosso partdo fala em “sistema de contradições”,, fala do ponto de vista do povo
trabalhador: defne a principalidade (o que vem primeiro) das contradições do ponto de vista
dos trabalhadores. Em nossa linha polítca é assim que defnimos:

(1) A contradição entre a Nação brasileira e o imperialismo norte-americano;

(2) A contradição do campesinato (médio e pequeno) com o latfúndio;

510
(3) A contradição entre o proletariado (urbano e rural) e a burguesia.

Estas contradições existem objetvamente. O nosso interesse na luta de classes alinha o


proletariado, o campesinato e parte da burguesia no campo nacional e coloca o latfúndio e o
imperialismo no campo de antnação. Por que?

Porque só se pode fazer polítca com a partcularidade da contradição, porque é ela que se
manifesta no plano concreto da vida polítca do dia a dia. Os nossos inimigos dizem que para
combatermos o imperialismo, que é uma estrutura, devemos combater todos os
imperialistas (governos, nações e empresas), o “sistema imperialista”,, ao mesmo tempo...
Esse, por exemplo, é o ponto de vista de certos trotsquistas. Não concordamos com isso. O
sistema imperialista inclui o Brasil. Ele é a estrutura principal do capitalismo em nossa época.
Combater o imperialismo como estrutura é um ato teórico, da maior importânncia ideológica.
No plano polítco, não muda a relação de forças. O que muda a relação de forças – como
ensina, por exemplo, Mao Tsé Tung – é combater o aspecto principal da contradição principal
no plano polítco. Todos os imperialismos queriam a ruína e a escravização da China. No
entanto, o movimento revolucionário chinês devia escolher corretamente a quem combater
para libertar a China. E escolheu: derrotou o imperialismo japonês, a forma concreta mais
agressiva do imperialismo na China, e derrotou Chiang Kaishek, o principal agente interno do
imperialismo na China, que tratava de criar uma nova hegemonia do imperialismo norte-
americano na China.

No Brasil, o aspecto principal do combate contra a dominação estrutural do imperialismo é


combater hoje o imperialismo norte-americano. Antes de 1914, era combater o imperialismo
inglês. A embaixada norte-americana intervém em todos os assuntos polítcos e econômicos
brasileiros, dizendo o que pode e o que não pode ser feito. Nesse caso, escolher combater
politcamente a “estrutura imperialista”, é ganhar um concurso de piada...

Caso o imperialismo norte-americano desistsse de apoiar e manter o latfúndio e o


monopólio da terra no Brasil, o povo brasileiro poderia rapidamente implantar uma reforma
agrária, e criar um movimento transformador. Seria removido o principal fator de atraso da
nação. Nenhuma classe ou grupo social pode combater sozinho, a aliança entre o latfúndio,
sua criatura, a burguesia comercial e o imperialismo norte-americano. É por isso que é
necessária a criação de uma frente única ant-imperialista e antfeudal. É por isso que é

511
necessária uma revolução democrátca e nacional. Isso só pode se dar no plano polítco. Não
pode se dar no plano da crítca moral ou das ideias. Os brasileiros não podem resolver o
problema de todas as nações e de todos os imperialismos. Eles só podem resolver os
problemas que se dão no Brasil, por via do poder polítco. Diz nossa linha polítca:

“Os comunistas têm o dever de lutar à frente das massas camponesas por uma reforma agrária que
liquide o monopólio da propriedade da terra pelos latfundiários e fortaleça a economia camponesa,
sob formas individuais ou associadas. A fim de abrir caminho para essa reforma agrária radical é
necessário lutar por medidas parciais com a desapropriação de grandes propriedades incultas ou
pouco cultvadas, com base no preço da terra registrado para fins fiscais e loteamento das terras
entre pequenos agricultores sem-terra ou com pouca terra, mediante pagamentos módicos e a longo
prazo; por um forte aumento da carga tributária sobre as grandes propriedades e isenções fiscais
para as pequenas propriedades; pela utlização das terras do Estado para formar núcleos de
economia camponesa; pela entrega de ttulos de propriedade aos atuais posseiros e a defesa rigorosa
dos direitos dos camponeses contra a grilagem.”

A nação brasileira nunca terá um desenvolvimento independente, caso não crie um poder
nacional e decida seus assuntos por si mesma. Os imperialistas, através da divisão
internacional do trabalho, reservam funções semicoloniais para a economia brasileira,
impedindo-lhe a industrialização e mantendo o povo na miséria. É claro que o nosso
programa mínimo é melhor do que este caminho, que nos está reservado. Os EUA possuem
2.000 bases militares espalhadas pelo mundo. Eles não têm porque preconizar para o Brasil
um lugar diferente na divisão internacional do trabalho. O nosso partdo não tem rivalidade
alguma contra o povo norte-americano. Nosso compromisso é para desenvolver o Brasil. É
um compromisso com o povo brasileiro.

Após o resultado da segunda guerra mundial, não sabemos se as outras potências


imperialistas vão se recuperar a ponto de lutar entre si. Possivelmente, no futuro, lutarão nas
suas semicolônias apenas, uma tomando a colônia da outra, nas guerras localizadas. Usarão
como carne-de-canhão as populações locais, como antes de 1914. Isso em nada melhora a
nossa situação como semicolônia dos Estados Unidos. Devemos, portanto, lutar pelos nossos
próprios interesses.

Os teóricos do imperialismo norte-americano dizem hoje que estamos a caminho da


integração, que ela é a principal força da época atual. Isso quer dizer que – pelo menos eles –

512
concordam com nossa tese do perigo dos monopólios norte-americanos. Estes monopólios
desenham para nós um futuro sem nação. Por isto devemos lutar pela integridade nacional e
não pela integração com este ou aquele imperialismo.

É evidente que para levar-se à frente um movimento de frente única, algumas concessões
devem ser feitas. Isso é uma questão de relação entre tátcas de luta que se aplicam e os
objetvos estratégicos que se tem. No entanto, observa-se o papel mobilizador nacional da
frente única diante do desespero que o inimigo mostra, ao enfrentá-la. Analisando a
estratégia da revolução de outubro, diz Stálin:

“ 1. Estratégia e tátca polítcas: limites da ação e campo de aplicação. Se se reconhece que o


movimento do proletariado tem dois aspectos, um objetvo e o outro subjetvo, o campo de ação da
estratégia e da tátca limita-se, indubitavelmente, ao lado subjetvo do movimento. O lado objetvo
consiste nos processos de desenvolvimento que ocorrem fora e em torno do proletariado,
independentemente da vontade do proletariado e do seu Partdo, processos que, em últma análise,
determinam o desenvolvimento de toda a sociedade. O lado subjetvo consiste nos processos que se
operam no seio do proletariado, como refexo dos processos que aceleram o retardam o curso destes
últmos, mas que de modo algum os determinam.”

Caso se admitsse ser a tátca o “lado objetvo do processo de desenvolvimento” da


correlação objetva de forças, teríamos que admitr, com os nossos inimigos, que devêssemos
combater o imperialismo como força estrutural, e não um imperialismo específco como
força polítca. Nesse momento, estaríamos engarrafados na tese trotsquista de que a
revolução não se dá por etapas necessárias do plano de forças em presença, mas sim de
forças históricas estruturais... Tal resultaria se estudássemos teoria com os menchevistas...
Diz Stálin:

“ 2. A teoria do marxismo, estudando, sobretudo, os processos objetvos no seu desenvolvimento e


no seu declínio, define a tendência desse desenvolvimento, indica a classe ou classes que
inevitavelmente estão a emergir para o Poder, ou as que inevitavelmente estão para cair, as que
devem cair.”

“ 3. O programa do marxismo, baseando-se nas conclusões da teoria, determina o objetvo do


movimento da classe em ascensão, no caso específico o proletariado, durante um certo período de
desenvolvimento do capitalismo, ou durante todo o período capitalista (programa mínimo e
programa máximo).”

513
“ 4. A estratégia, seguindo as indicações do programa e baseando-se na avaliação das forças em
luta, internas (nacionais) e internacionais, determina o caminho, a direção geral, que o movimento
revolucionário do proletariado deve seguir para alcançar os maiores resultados, dada a correlação
das forças que estão a surgir e a desenvolver-se. Em conformidade com isso, a estratégia traça um
esquema de distribuição das forças do proletariado e dos seus aliados na frente social (deslocamento
geral). Não se deve confundir “o traçar de um esquema de distribuição das forças” com o trabalho
mesmo (concreto, prátco) de distribuição, de deslocamento das forças, que é realizado
conjuntamente pela estratégia e a tátca. Isto não significa que a estratégia se limita a indicar o
caminho e a traçar o esquema de distribuição das forças combatentes no campo do proletariado;
pelo contrário, em todo o período da revolução, ela orienta a luta e modifica a linha, a tátca do
momento, utlizando com habilidade as reservas de que dispõe, manobrando com o objetvo de
apoiar a tátca.”

Há, portanto, um elo indissolúvel entre a análise que se faz da relação de forças. O
estabelecimento da estratégia (o caminho, a direção geral...) e a tátca que se escolhe. Nada
disso pode obedecer à vontade de vencer ou à sensação de que é possível “queimar etapas”,.
Prossegue Stálin:

“ 5. A tátca, seguindo as indicações da estratégia e da experiência do movimento revolucionário,


tanto no próprio país como nos países vizinhos, levando em conta em cada momento determinado o
estado em que se encontram as forças, tanto no seio do proletariado e dos seus aliados (maior ou
menor grau de cultura, maior ou menor organização e consciência, presença de certas tradiçees e
de certas formas do movimento, formas fundamentais e auxiliares de organização) como no campo
do adversário, e aproveitando todo o desacordo e confusão existentes no campo do adversário, indica
as vias concretas a seguir, a fim de que o proletariado revolucionário conquiste as amplas massas e as
coloque em posição de combate na frente social (em execução do esquema de distribuição das
forças traçadas à base do plano estratégico), para preparar do modo mais seguro os êxitos da
estratégia. Em relação a isso a tátca dá ou modifica as palavras de ordem e as diretvas do Partdo.”

“ 6. A estratégia muda nos momentos das reviravoltas históricas, das viragens: abrange o período
que vai de uma reviravolta (viragem) a outra; daí orienta o movimento para um determinado
objetvo geral, que compreende os interesses do proletariado para todo esse período determinado e
tem como objetvo vencer a guerra de classes que ocupa todo esse período. Por isso, nesse período
permanece imutável.”

514
A derrota de um ou de outro campo de forças em presença provoca alterações estratégicas.
Portanto, ainda que a estratégia oriente o conjunto da ação (escolha das alianças com grupos
e classes, por exemplo), ela se modifca quando mudam as etapas previstas, ou a etapa em
desdobramento, da luta. A preparação da insurreição de 1935 era justa, mas a pressa com
que ela foi montada antecipou o desfecho desfavorável das forças, em favor de Getúlio e dos
elementos fascistas, que preparavam a fascistzação do Brasil. Seria tolice julgar que aquela
reviravolta colocava a oportunidade de recuperar a acumulação de forças antes obtda, ou
tentar uma vez mais preparar uma ofensiva. A derrota de nossa tátca (insurreicional) gerou
uma mudança na situação de natureza estratégica. Perdeu-se a oportunidade histórica
daquela etapa da revolução. Diz Stálin:

“A tátca, pelo contrário, é determinada pelos fuxos e refuxos que ocorrem em dada reviravolta, em
dado período estratégico, segundo a correlação das forças em luta, as formas da luta (do
movimento), o ritmo do movimento, o campo em que se desenrola a luta em cada momento
determinado, em cada zona dada; e como esses fatores, no período que medeia entre uma
reviravolta e outra, mudam de acordo com as condições de lugar e de tempo, a tátca, que não
abrange toda a guerra, mas apenas algumas das suas batalhas isoladas, as quais decidem da vitória
ou da derrota, muda (pode mudar) várias vezes durante o período estratégico. O período estratégico
é mais longo do que o tátco. A tátca subordina-se aos interesses da estratégia. Os êxitos tátcos
preparam de um modo geral, os êxitos estratégicos. A missão da tátca consiste em levar as massas à
luta, em dar-lhes as palavras de ordem, em conduzi-la a novas posições de tal modo, que a luta no
seu conjunto resulte na vitória, isto é, no êxito estratégico. Mas às vezes acontece que o êxito tátco
arruína ou retarda o êxito estratégico, e daí, não haver, nestes casos, necessidade de cuidar dos êxitos
tátcos.”

“Um exemplo. Nos começos de 1917, no período de Kerenski, a nossa agitação contra a guerra,
entre os operários e soldados, conseguiu indubitavelmente um resultado tátco negatvo, porque as
massas arrancavam os nossos oradores da tribuna, espancavam-nos e às vezes massacravam-nos; as
massas não afuíam ao Partdo, mas afastavam-se dele. Essa agitação, no entanto, apesar do seu
fracasso tátco, ajudou a alcançar um grande êxito estratégico, posto que as massas compreenderam
sem demora que a nossa agitação contra a guerra era justa, e isso acelerou e facilitou depois a sua
passagem para o lado do Partdo.”

“Ainda outro exemplo. A exigência da Internacional Comunista no sentdo de se separar dos


reformistas e dos centristas, de acordo com as vinte e uma condições, exigência que evidentemente

515
contém um certo elemento tátco negatvo, posto que diminui conscientemente o número dos
“partdários” da Internacional Comunista e a debilita temporariamente, em compensação tem uma
grande vantagem estratégica, livrando a Internacional Comunista dos elementos instáveis, fato que
indubitavelmente contribuirá para o seu fortalecimento e consolidação da sua coesão interna, isto é,
para consolidar a sua potência em geral.”

Não tem sentdo manter-se no plano tátco procurando chegar a um acordo com forças do
inimigo, que não tem qualquer interesse comum com nosso campo, para efetvar mesmo
reformas superfciais.

Devemos nos opor a estas posições que não levam forças para o programa representado em
nossa tátca, e esclarecer com paciência às massas que são elas – os adversários, ou até os
inimigos – que representam o engano e a mistfcação. Devemos apoiar o que é correto em
nosso programa e no programa de nossos aliados, porque isso futuramente, dentro em
breve, há de expressar-se como uma reviravolta em que as massas descobrem o que é
correto e apoiam o que é correto.

Seria uma tátca errada combater o imperialismo como um todo, como uma estrutura em
totalidade, ou em fatamento. Poderíamos na primeira semana atacar o imperialismo norte-
americano; na semana seguinte, o imperialismo belga; na terceira, o imperialismo francês,
etc. Isso não levaria a nada. Cumprimos o nosso plano tátco de acordo com nossa estratégia
escolhida, ou seja, combater o centro imperialista que efetvamente é responsável pela
manutenção da estrutura de atraso que aqui se encontra, e seus agentes internos.

Nosso centro tátco, a obtenção de um governo nacionalista e democrátco, expressará uma


reviravolta na correlação de forças a favor do nosso programa. Há de dar-se, portanto, uma
viragem na correlação de forças. Diz Stálin:

“ 7. Palavra de ordem de agitação e palavra de ordem de ação. Não se devem confundir; seria
perigoso. A palavra de ordem: “Todo o Poder aos Sovietes”, era uma palavra de ordem de agitação no
período que vai de abril a outubro de 1917; em outubro, tornou-se uma palavra de ordem de ação,
depois que o Comitê Central do Partdo, em princípios de outubro (dia 10), decidiu “tomar o Poder”.
O grupo de Bagdatev, na sua ação de Abril, em Petrogrado, fez confusão entre estas palavras de
ordem.”

516
“ 8. A diretva (geral) é um apelo direto à ação em determinado momento e em determinado lugar,
obrigatório para o Partdo. Se no começo de Abril (v. as “teses”), a palavra de ordem de “Todo o
Poder aos Sovietes” era uma palavra de ordem de propaganda, em Junho tornou-se uma palavra de
ordem de agitação e em Outubro (dia 10) uma palavra de ordem de ação, para assumir em fins de
Outubro a forma de diretva precisa. Refiro-me a uma diretva comum a todo o Partdo,
subentendendo-se que devem existr também diretvas locais, que desenvolvem a diretva geral.”

“ 9. As vacilações da pequena burguesia, quando se agudizam as crises polítcas (na Alemanha,


durante as eleições para o Reichstag; na Rússia, durante o período de Kerenski, em Abril, Junho,
Agosto e, também na Rússia, no período de Cronstadt, em 1921), devem ser estudadas atentamente,
utlizadas, levadas em consideração, mas é perigoso, funesto para a causa do proletariado, permitr
que elas o infuenciem. Não se pode mudar, por motvo dessas vacilações, as palavras de ordem de
agitação, mas é possível, e talvez necessário, mudar ou adiar uma determinada palavra de ordem (de
ação). Mudar a tátca “no espaço de 24 horas” significa precisamente mudar uma diretva e mesmo
uma palavra de ordem de ação, mas de modo algum uma palavra de ordem de agitação (v. a
suspensão da demonstração de 9 de Junho de 1917 e fatos semelhantes).”

O centro tátco da luta, como explica Stálin, pode ser conduzido pela mesma palavra de
ordem de agitação e propaganda, passando – por desdobramento da luta – de propaganda,
por exemplo, a agitação e de agitação, a um apelo à ação em determinado momento. Tudo
irá depender da disposição das massas para lutar (acumulação de jornadas) e da análise das
ações prováveis em que se desdobra o plano tátco – ofensiva ou não?-. O tpo de ação
provável cria um tpo de momento. Por exemplo, podem ocorrer as jornadas de 02 a 06 de
junho, ou jornadas que levam à troca de gabinete; ou à formação de um governo
nacionalista e democrátco. A condução da agitação e propaganda deve estar sempre
subordinada às variações da tátca, suas possibilidades e probabilidade pressentda pelo
círculo dirigente condutor. Diz Stálin:

“ 10. A arte do estrategista e do tátco consiste em transformar, hábil e oportunamente, uma


palavra de ordem de agitação numa palavra de ordem de ação e também em saber transformar,
oportuna e habilmente, uma palavra de ordem de ação em determinadas diretvas concretas.”

Não basta, portanto, a ciência de elaborar corretamente o quadro de forças, e situar nele os
nossos interesses e os nossos aliados. É necessária a arte da execução, a sensibilidade de
classe para perceber o zênite e o ocaso de cada situação, conduzir corretamente o campo

517
das forças populares às vitórias necessárias. Como frisa Stálin no caso da revolução russa, a
situação mudou várias vezes, requerendo percepção e habilidade para colocar-se em cada
reviravolta:

“ 1. A reviravolta de 1904-1905 (a guerra russo-japonesa pôs a nu, por um lado, toda a instabilidade
da autocracia e, por outro lado, a potência do movimento proletário e camponês) e as Duas Tátcas,
de Lenine, como plano estratégico dos marxistas corresponde a esta reviravolta, a qual deveria
conduzir à revolução democrátca-burguesa (nisso reside a essência da reviravolta). Não uma
transação liberal burguesa com o czarismo sob a hegemonia dos democratas consttucionalistas, mas
uma revolução democrátco-burguesa sob a hegemonia do proletariado. (Nisso reside a essência do
plano estratégico). Esse plano parta do pressuposto de que a revolução democrátco-burguesa na
Rússia impulsionaria o movimento socialista do Ocidente, desencadearia ali a revolução e facilitaria a
passagem da Rússia, da revolução burguesa, à revolução socialista (v. também as atas do III
Congresso do Partdo, os discursos de Lênine no Congresso e também as análises do conceito de
ditadura, feitas tanto no Congresso como no opúsculo “A vitória dos democratas consttucionalistas”).
É indispensável calcular as forças, internas e internacionais, empenhadas na luta, e em geral fazer a
análise da economia e da polítca do período de reviravolta. A Revolução de Fevereiro encerrou este
período com a realização de pelos menos dois terços do plano estratégico das Duas Tátcas.”

“ 2. A reviravolta de Fevereiro a Março de 1917, em direção à revolução soviétca (a guerra


imperialista varrendo o regime autocrátco, revelou a extrema debilidade do capitalismo e a absoluta
inevitabilidade da revolução socialista como única saída da crise).”

“A diferença entre a ‘gloriosa’ Revolução de Fevereiro, feita pelo povo, pela burguesia e o capital
anglo-francês (do ponto de vista internacional essa revolução não trouxe nenhuma mudança séria à
situação, pois, ao entregar o Poder aos democratas consttucionalistas, foi a contnuação da polítca
do capital anglo-francês) e a Revolução de Outubro, que mudou tudo.”

“As “Teses” de Lenine, como plano estratégico correspondem à nova reviravolta. A ditadura do
proletariado como saída. Este plano parte do pressuposto: “Começaremos a revolução socialista na
Rússia, derrubaremos a nossa burguesia, desencadearemos assim a revolução no Ocidente e, em
seguida, os camaradas do Ocidente ajudar-nos-ão a levar a cabo a nossa revolução”. É indispensável
a análise da economia e da polítca, internas e internacionais, neste período de reviravolta (período
de “dualidade do Poder”, coligações complô do general Kornílov como indício do fim do poder de
Kerenski, efervescência nos países ocidentais suscitada pelo descontentamento contra a guerra).”

518
“ 3. A Revolução de Outubro de 1917, (reviravolta não só na História russa, mas também na História
mundial), a instauração da ditadura do proletariado na Rússia (Outubro-Novembro-Dezembro de
1917 e primeiro semestre de 1918), como ruptura da frente social internacional contra o imperialismo
mundial, ruptura que determina uma viragem para a liquidação do capitalismo e a insttuição da
ordem socialista em escala mundial, e como era que dá início à guerra civil em lugar da guerra
imperialista (decreto sobre a paz, decreto sobre a terra, decreto sobre as nacionalidades, publicação
dos tratados secretos, programa do trabalho de construção, discurso de Lenine perante o II Congresso
dos Sovietes), opúsculo de Lenine: “A Tarefa do Poder Soviétco”, edificação econômica).”

Os quadros dirigentes, portanto, tem que ter perspectva das situações como um
cadeamento, uma sucessão histórica, em que certas classes e movimentos crescem e se
consolidam, enquanto outros, aqui e ali triunfantes tendem, na verdade, a desaparecer. É
preciso saber conduzir a luta e, em caso de derrota, saber manobrar, para lutar na nova
relação de forças. Preservar o partdo em quaisquer circunstânncias é a certeza de torná-lo
indestrutível. Como frisou Stálin:

“ 9. As bases comuns da estratégia e da tátca, comunistas. São três essas bases: (a) Tomar como
base a seguinte conclusão, extraída da teoria do marxismo e confirmada pela prátca revolucionária:
nos países capitalistas o proletariado é a única classe revolucionária até o fim, interessada na
liberação completa da humanidade do capitalismo e destnada, por conseguinte, a chefiar todas as
massas oprimidas e exploradas na luta pelo derrube do capitalismo, em virtude do que todo o
trabalho deve orientar-se no sentdo de assegurar a ditadura do proletariado.”

“(b) Tomar como base a seguinte conclusão, extraída da teoria do marxismo e confirmada pela
prátca revolucionária: a estratégia e a tátca do Partdo Comunista de qualquer país só podem ser
justas quando o Partdo não se encerra nos limites dos interesses do “seu” país, da “sua” pátria, do
“seu” proletariado, mas, pelo contrário, levando em conta as condições e a situação do próprio país,
põe em primeiro plano os interesses do proletariado internacional, os interesses da revolução nos
outros países; isto é, só quando, substancialmente, pelo espírito que a orienta, for profundamente
internacionalista, realize “o máximo possível num país (no seu país) para desenvolver, apoiar e
despertar a revolução em todos os países” (v. A Revolução Proletária e o Renegado Kautski, de
Lenine).”

“(c) Tomar como ponto de partda a negação de todo o doutrinarismo (de direita e de esquerda) ao
modificar a estratégia e a tátca, ao elaborar novos planos estratégicos e novas tátcas (Kautski,
Axelrod, Bogdánov, Bukhárin); negar o método contemplatvo e o método das citações e dos

519
paralelos históricos, dos planos quiméricos e das fórmulas mortas (Axelrod, Plekhánov); reconhecer
que não se pode “repousar” sobre o ponto de vista do marxismo, mas apoiar-se nele, que não “basta
explicar o mundo”, mas “transformá-lo”, que não se deve “contemplar pelas costas o proletariado”,
nem marchar a reboque dos acontecimentos, mas dirigir o proletariado e ser a expressão consciente
de um processo inconsciente (v. A Espontaneidade e a Consciência), de Lênine, e a conhecida
passagem do Manifesto Comunista, de Marx, em que se diz que os comunistas são a parte mais
clarividente e progressista do proletariado).”

“Ilustrar cada um desses princípios fundamentais, especialmente o segundo e o terceiro, com fatos
extraídos da experiência do movimento revolucionário na Rússia e no Ocidente.”

“ 10. Objetvos: (a) Conquistar para o comunismo a vanguarda do proletariado (isto é, forjar os
quadros, criar o Partdo Comunista, elaborar o programa, os princípios da tátca). A propaganda
como forma fundamental de atvidade.”

“(b) Conquistar para a vanguarda as amplas massas de operários e, em geral, de trabalhadores


(conduzir as massas às suas posições de luta). Forma fundamental de atvidade: ações prátcas das
massas, como prelúdio dos combates decisivos.”

O trabalho de construção, de recrutamento do partdo não pode esmorecer sob nenhuma


circunstânncia, seja na maré montante ou na maré vazante do movimento de massas. O
partdo é o elo, é a memória das lutas e jornadas da classe operária e não pode se
enfraquecer na qualidade de seus quadros. Somente um partdo forte em seus quadros
pode-se consttuir no cérebro e no cerebelo da classe operária. Só um partdo com quadros
de classe bem preparados pode sobreviver a diferentes situações, às reviravoltas inevitáveis
do processo de luta. O leninismo é a grande força subjetva da classe operária. E o partdo é o
seu instrumento. Como diz nossa resolução:

“Não é possível lutar efetvamente para isolar e derrotar as forças reacionárias e alijá-las do poder;
não é possível conquistar um governo nacionalista e democrátco que realize reformas efetvas sem
derrotar a polítca de compromisso, que favorece o inimigo, realizada por aquele setor da burguesia.
Para que seja efetvo o golpe principal contra o imperialismo e as forças reacionárias que o apoiam, é
necessário golpear também a polítca de concessões a estas forças, com as quais a burguesia, ligada
aos interesses nacionais, procura encerrar cada episódio da luta. A luta contra a conciliação só pode
ter êxito através da mobilização das grandes massas trabalhadoras e populares, que devem levantar
suas próprias bandeiras, exigir medidas efetvas contra o imperialismo, o latfúndio e a reação, e

520
combater constantemente os compromissos com o inimigo, realizados pelo setor vacilante da frente
única.”

“Na aplicação dessa tátca, é necessário combater duas tendências falsas e nocivas.”

“A tendência ‘esquerdista’ consiste em não determinar que o golpe principal deve ser desfechado
contra o imperialismo e seus agentes internos, em não distnguir entre as forças reacionárias e
entreguistas e o setor nacionalista burguês, em não perceber as contradições existentes entre estes
dois setores das classes dominantes e não procurar utlizar estes confitos para aprofundar a luta
contra o imperialismo e o latfúndio, para fazer avançar o movimento de massas e criar condições
favoráveis à formação de um governo nacionalista e democrátco.”

“A tendência direitsta consiste em identficar de modo absoluto as posições da classe operária e das
forças populares com os interesses do setor burguês representado pelo Sr. João Goulart, em perder de
vista o caráter dúplice e conciliador da burguesia ligada aos interesses nacionais e não travar uma
luta permanente contra a polítca de compromissos com o imperialismo e a reação, realizada por essa
camada burguesa.”

3 – A Interdependência das Contradições.

Os inimigos da luta revolucionária costumam supor que o mundo não possui contradições,
partcularmente a sociedade. Eles não conseguem imaginar como uma pedra um dia foi um
caldo, ou uma pasta. Não conseguem compreender como um rio foi um deserto, ou um
deserto de hoje foi um rio. Para tais pessoas, o mundo é feito de coisas imutáveis: os pobres
serão sempre pobres e os poderosos sempre poderosos. Acreditam até alguns deles que o
mundo foi feito há apenas cinco mil anos... Imaginam o que é para essas pessoas, uma
transformação brusca, revolucionária. Disse Hegel:

“Na natureza não existem saltos, se diz: e a concepção corrente quando quer compreender como
nascem e fenecem as coisas, crê ver nisso um gradual surgir e desaparecer. Tem sido demonstrado,
sem dúvida, que as mudanças do ser, em geral, não são somente a transição de uma grandeza a
outra, mas o trânsito do qualitatvo ao quanttatvo, e à inversa, a formação de algo distnto, uma
ruptura do gradual em algo qualitatvamente distnto, com respeito à existência anterior.”

Mas tanto a natureza quanto a sociedade, e consequentemente as pessoas, sofrem


mudanças bruscas. Há pessoas que dormitam por décadas, como uma planta, e de repente,

521
ao ler uma obra ou frequentar um círculo de debates, desperta de seu sono e se transforma
na prátca em outra pessoa... Na verdade, nada é imutável. Uma observação mais cuidadosa
do mundo indica como disse Hegel, que nada é o que parece ser e cada coisa irá se
transformar em seu contrário. Isto é, tudo que existe não depende só de si mesmo, e o
mundo se transforma aparentemente de modo perpétuo. Diz M. Rosenthal:

“A unidade dos contrários é temporal, passageira, relatva. A luta entre eles, pelo contrário, é
constante, absoluta. Qualquer objeto, qualquer fenômeno é submetdo a mutações em virtude das
contradições que traz implícitas. Se, por conseguinte, as contradições não fossem absolutas, não
fosse o conteúdo constante do desenvolvimento, não seria possível a mutação dos objetos, sua
conversão de uma forma noutra, não seria possível a evolução perpétua.”

“A unidade... dos contrários é condicional, temporal, transitória, relatva (isto é, não absoluta, não
eterna, M.R.). A luta dos contrários, que se excluem mutuamente é absoluta, como o são o
desenvolvimento e o movimento.”

Rosenthal arremata seu texto citando Lênine, que argumenta demonstrar o método
dialétco o caráter transitório de tudo aquilo que existe. Se dentro de cada coisa está
estabelecida a transformação dela em outra coisa, então é evidente que a contradição é
inerente a tudo que existe e que em breve tal deixará de ser o que é. Diz M. Rosenthal:

“A teoria dialétca do desenvolvimento em geral e seu traço mais importante, a lei da unidade e da
luta dos contrários, tem o maior valor prátco como instrumento de conhecimento e de luta
revolucionária. As obras de Marx, Engels, Lênin e Stálin servem de modelo clássico de aplicação da
dialétca materialista. Na “História do P.C. (b) da URSS”, assinala-se o imenso valor que tem a
extensão das conclusões do método dialétco ao estudo da vida social, sua aplicação à atvidade
polítca prátca do Partdo do proletariado. Em partcular, da lei dialétca do desenvolvimento, em
consequência da luta dos contrários, tram-se as seguintes conclusões:”

“Se o processo de desenvolvimento é um processo de revelação de contradições internas, um processo de


choques entre forças contrapostas, na base dessas contradições e com o fim de as superar, é evidente que a luta
de classes do proletariado consttui fenômeno perfeitamente natural e inevitável.”

“Isto quer dizer que o que se tem de fazer não é dissimular as contradições do regime capitalista, mas pô-las a
descoberto e desdobrá-las em toda sua extensão, não é amortecer a luta de classes, mas levá-la
consequentemente a termo.”

522
“Isto quer dizer que, em polítca, para não nos equivocarmos, temos de manter uma polítca proletária, de
classe, intransigente, e não uma polítca reformista, de harmonia de interesses entre o proletariado e a
burguesia, uma polítca oportunista de “evolução pacífica” do capitalismo ao socialismo.”

“Estas conclusões demonstram, de maneira clara e profunda, a conexão que existe entre a dialétca
revolucionária e a prátca revolucionária do Partdo proletário.”

“Os oportunistas de todos os matzes, a qualquer bandeira que se acolham, em qualquer país que se
encontrem, manifestam-se, invariavelmente, contra a dialétca, partcularmente contra a lei dialétca
da unidade e da luta dos contrários. Não podem suportar o espírito de luta, o espírito do
desenvolvimento revolucionário, que se enraíza no reconhecimento da contraditoriedade dos objetos
e da luta entre as tendências contrapostas, entre o velho e o novo, entre o que morre e o que cresce.
Não é em vão que Lênine, em seu resumo da “Ciência da lógica” hegeliana, faz notar em certa parte.”

“O ‘cuidado’ para com a natureza e a história (da parte dos filisteus) é a tendência a depurá-las de
contradições e de luta...”

Rosenthal argumenta como é importante para desmobilizar os trabalhadores e os pobres


apresentar para eles o mundo – em partcular o mundo social – como uma coisa que não
muda que sempre foi assim e sempre será. Então, só no “outro mundo”,, após a morte,
haverá melhorias e “alguém”, que nos dê todas as compensações, por atravessarmos este
“vale de lágrimas”,... Pura conversa fada.

Caso os trabalhadores e os pobres percebam que podem fazer do mundo em que vivem um
mundo melhor, então, os exploradores dos outros hão de se ver em grandes difculdades. Diz
Rosenthal:

“... o materialismo dialétco e histórico consttui o fundamento teórico do comunismo, a base teórica do Partdo
marxista e todo militante atvo do Partdo Comunista é obrigado a conhecer esses fundamentos teóricos e a
assimilá-los.”

“Estas palavras definem com precisão máxima a significação e o papel da filosofia marxista-leninista
na luta pelo comunismo. O domínio da teoria mais avançada e revolucionária, a defesa do
materialismo dialétco e histórico contra os múltplos adversários do marxismo-leninismo e seu
desenvolvimento ulterior, consttuíram o elemento mais importante na preparação de um novo
partdo, autentcamente marxista, no desenvolvimento do bolchevismo.”

523
“A ‘História do P.C. (b) da URSS’ assinala convincentemente que, sem o prévio domínio da teoria
revolucionária, nosso Partdo não teria podido converter-se em Partdo de novo tpo, não teria podido,
em outubro de 1917, conduzir a classe operária e os camponeses ao triunfo, à vitória do socialismo.”

“O Partdo Bolchevique não teria podido triunfar, em outubro de 1917, se seus quadros de vanguarda não
houvessem possuído a teoria do marxismo, se não tvessem sabido ver nessa teoria um guia para a ação, se não
tvessem sabido impulsionar a teoria marxista, enriquecendo-a com a nova experiência da luta de classes do
proletariado.”

“Em que se baseia a força desta teoria? Quais são as qualidades que se convertem na arma mais
eficaz de luta e de triunfo?”

“Num de seus artgos, Lênine escrevia que a força da teoria marxista consiste em sua justeza. ‘A
doutrina de Marx é onipotente porque é exata’. Esta conclusão concisa encerra sentdo muito
profundo.”

“A filosofia marxista-leninista dá interpretação cientfica justa e consequente às leis da evolução da


natureza e da sociedade. É o instrumento mais poderoso do conhecimento do mundo. Suas
conclusões baseiam-se no estudo exato da realidade objetva.”

“Os conceitos e leis do materialismo dialétco e histórico são cópias, refexos do mundo objetvo, que
existe independentemente do homem, das leis de sua evolução, nisto se baseia a força, o valor
inapreciável da filosofia do proletariado.”

“O conhecimento correto das leis da realidade não é, todavia, um objetvo em si mesmo. O


conhecimento das leis do desenvolvimento da sociedade serve para orientação nas complexas
condições da vida e da luta social, para conhecer em que direção evolui a sociedade e propor-se
objetvos, em consonância com a evolução da própria realidade, para poder agir acertadamente.”

“A interpretação correta da realidade, o saber explicar o sentdo dos acontecimentos, possibilita


‘prever a marcha dos acontecimentos e discernir não só como e para onde se desenvolvem os
acontecimentos no presente, mas também como e para onde se hão de desenvolver no porvir’.”

“Estas qualidades do materialismo marxista-leninista: 1) dar justa descrição objetva da realidade e


2) determinar acertadamente, sobre tal base, o curso dos acontecimentos, não só no presente, como
também para o futuro, têm enorme importância. É precisamente, do materialismo dialétco que
surge, lógica e inevitavelmente, o socialismo proletário de Marx, a teoria do comunismo cientfico.”

524
“Na época em que Marx e Engels atuaram, o poder da burguesia estava ainda sólido, o capitalismo
desenvolvia-se ainda em linha ascendente.”

“Já então, contudo, os grandes dirigentes do proletariado traçaram o quadro da evolução da


sociedade, não só no presente, mas também para o porvir.”

Isso signifca dizer que – do ponto de vista de classe – é possível conhecer a realidade que
nos cerca, e chegar-se ao conhecimento correto da mesma. Os obscurantstas de todo o tpo
fazem tábua rasa do que se pode conhecer, preferindo recorrer a explicações inexplicáveis.
Para negar o caráter cambiante do mundo, agarram-se a velhas teses das civilizações antgas
guiadas pelo calendário lunar e constroem teorias de um “eterno retorno”,. Mas não têm
como negar a conexão universal de todos os fenômenos. Diz Rosenthal:

“Não só a natureza viva, mas também a grande quantdade de outros fatos os mais diversos pode
servir de ilustração para a lei dialétca das conexões universais e da interdependência dos
fenômenos.”

“Durante muitas gerações, os homens pensaram que nossa terra consttuísse uma espécie de mundo
especial, provido pela divindade de virtudes especiais e felizes. A ciência demonstrou, no entanto, que
nosso planeta não é senão um dos milhões de corpos disseminados no espaço universal, superiores
em proporção a terra. A análise prismátca provou que as substâncias, que fazem parte da
composição da terra e dos seres que a povoam, das espécies orgânicas, fazem também parte da
composição de outros planetas, do sol, das estrelas. Isto demonstra a conexão e a unidade do nosso
com todos os demais planetas, a unidade de sua origem e de suas leis.”

“Quando os homens não podiam observar o universo dos múltplos planetas do ponto de vista de
suas conexões mútuas, eram inevitáveis interpretações religiosas sobre a terra criada por Deus, sobre
o fato de que o sol se acha formado especialmente para os homens terem luz e calor. A descoberta
das conexões e da ação recíproca entre o sol, a terra e os demais planetas, destruiu essas
interpretações, demonstrou que a terra, como alguns outros corpos, gira em redor do corpo central, o
sol; que, entre o sol e a terra, como entre a terra e a lua, existe ação recíproca na base das leis de
atração e repulsão; que as felizes partcularidades do planeta por nós povoado são também possíveis
noutros planetas, dado que essas partcularidades nasceram em longo processo de esfriamento da
terra, como resultado de longa série de transformações materiais.”

Inúmeros sábios têm demonstrado a correlação contraditória entre a necessidade e o


acaso. Slutsky, por exemplo, provou que – aquilo que é necessidade em nosso sistema solar –

525
manifesta-se como mero acaso do ponto de vista da galáxia em que estamos inseridos. Já
Descartes argumentava que, uma vez que somos feitos das mesmas matérias básicas do
universo, nossa razão pode compreender e descobrir-lhes os parânmetros. Diz Rosenthal:

“A riqueza e a variedade de formas do movimento, a múltpla beleza do mundo nos assombram. No


século XIX, a ciência estabeleceu, firmemente, que todas essas variedades são diversas formas do
movimento da matéria, estreitamente ligadas entre si, que se transformam umas nas outras e que
umas sem as outras carecem de sentdo.”

“Observamos uma série de formas de movimento; movimento mecânico, luz, calor, eletricidade, magnetsmo,
união e decomposição química, trânsito de estados de agregação, vida orgânica, todas as quais – fazendo
exceção por ora da vida orgânica – se transformam umas nas outras, se condicionam mutuamente umas às
outras, aparecem aqui como causa, ali, como efeito, ficando, além disto, toda a soma conjunta do movimento,
sob todas as mutações da forma, uma e a mesma...”

“A conexão universal e a ação recíproca regem também a vida social dos homens. O maior
merecimento de Marx e Engels está no fato de terem demonstrado, pela primeira vez na história do
pensamento humano, o processo, sujeito a leis, da evolução da sociedade humana, que se realiza
como necessidade férrea, necessidade histórico-natural. E uma das condições mais importantes e
essenciais da revolução por eles feita na ciência da sociedade foi tê-la concebido, a ela e a sua
evolução histórica, à luz da lei dialétca da conexão universal de todos os aspectos e fenômenos da
sociedade humana.”

“Para o metafsico, a sociedade compõe-se de indivíduos isolados, cada um dos quais age conforme
suas próprias leis. Se os homens se unem em sociedade e trabalham em conjunto, os metafsicos
veem a causa dessa unificação nalguma ideia, num contrato que os homens concluem entre si, etc.
Marx e Engels demonstraram que na realidade, o que existe entre os homens é uma conexão
necessária, que as necessidades da produção dos bens materiais, das condições materiais da vida dos
homens os ligam numa sociedade, lhes impõem a unificação, o trabalho em conjunto. Os homens
primitvos trabalhavam em comum, não porque concluíssem para tanto um contrato, mas porque, de
outro modo, não teriam podido lutar contra a natureza.”

“Desta forma, em cada sociedade, em qualquer fase de desenvolvimento em que se encontre, existe
conexão entre os homens, existem, inevitavelmente, relações de produção. Estas últmas, porém,
dependem das forças produtvas da sociedade, as quais, junto com as relações de produção
consttuem o modo de produção material, que determina toda a orientação do desenvolvimento da
sociedade.”

526
“Na base do fundamento econômico, surge determinado regime polítco, o Estado. Não é possível
considerar o Estado fora das relações, isoladamente do tpo das relações de produção. Os ideólogos
burgueses e reformistas procuram apresentar o Estado, na sociedade exploradora, como
reorganização acima das classes não ligada à classe dominante, não derivada das relações de
produção existentes. Marx, pelo contrário, demonstrou que o Estado, em cada época, é o
representante da classe dominante na sociedade dada, que exprime, precisamente, os interesses de
classe desta últma. O Estado depende, inteiramente, do tpo das relações de produção. O Estado
depende, inteiramente, do tpo das relações de produção. As relações feudais de produção criaram o
Estado da monarquia feudal e as relações burguesas de produção, a monarquia feudal e as relações
burguesas de produção, a monarquia consttucional ou a república democrátco-burguesa. Qualquer,
porém, que fosse a forma polítca, o Estado, feudal ou burguês, consttuiu sempre a ditadura das
classes exploradoras.”

A tentatva dos ideólogos burgueses de apresentar a sociedade contemporânnea como algo


absolutamente extraordinário dissociado do mundo natural e das leis do universo, está
fadada ao fracasso. O homem é um produto da natureza com sua sociedade, e não existe
“homem”, fora de sua sociedade, como não existe formiga isolada na foresta. Supor um
“indivíduo”, cuja liberdade cresça à revelia dos seus semelhantes e fora das leis que regem o
mundo natural é pura estupidez. Diz Rosenthal:

“Disto se deduz que a revolução socialista, que derruba o domínio da burguesia e estabelece novo
tpo de relações de produção, não pode deixar intacto o velho Estado burguês. Tem de destruir o velho
aparelho do Estado e criar um novo Estado, a ditadura do proletariado.”

“Não só o Estado, mas todas as superestruturas polítcas e ideológicas, o direito, a ciência, a arte, a
filosofia, etc., estão estreitamente ligadas ao regime econômico da sociedade, ao Estado, e se
condicionam mutuamente.”

“Antes de Marx e Engels, a evolução da consciência e da ideologia social foi considerada como
alguma coisa casual, cuja origem está no gênio ou na ignorância dos homens.”

“Marx e Engels demonstraram que a consciência social depende da existência social e, com isso,
puseram fim a toda místca na explicação do desenvolvimento da ideologia. Não é possível examinar
ideia ou doutrina alguma na sociedade classista sem ligá-las às condições sociais que as
engendraram. Isolar a ideia de sua conexão com os demais aspectos do processo social único e, em
últma instância, de regime das relações de produção dos homens, examiná-la do ponto de vista da
“justça eterna” significa ser, inevitavelmente, instrumento cego nas mãos das classes reacionárias.”

527
Há pensadores que julgam que suas “ideias brilhantes”, são únicas e não dependem de sua
época, ou dos problemas do momento em que vivem. Suas “ideias brilhantes”,, na verdade,
estão relacionadas aos interesses de grupos sociais e classes solidamente existentes e que
“precisam”, daquelas “soluções”,, seja para oprimir ou enganar outras, seja para libertar a si
próprias. Nada aparece – no plano da percepção das relações – subitamente no ar. Diz
Rosenthal:

“Os homens, apontou mais de uma vez Lênine, serão sempre vítmas do autoengano se não
aprenderem a ver, por detrás de umas e outras ideias e teorias, os interesses reais de classe. É mister
saber ligar as ideias e as teorias aos processos econômicos e polítcos que se efetuam na sociedade,
às tarefas que se propõem as diversas classes.”

“Assim, pois, os exemplos tomados do campo da vida e da luta social, assim como a nossa
consideração dos fenômenos da natureza, demonstram a existência da conexão universal e da
interdependência em toda a realidade, revelam essa conexão e essa interdependência como o traço
inalienável de todo fenômeno, de todo processo.”

“O valor teórico deste traço do método dialétco, que descobre a conexão universal existente entre
os fenômenos, é extraordinariamente grande. A ciência autêntca começa onde as interpretações e as
concepções sobre o mundo como um caos de casualidades são substtuídas pela interpretação do
mundo como um todo único e artculado, como um processo único, sujeito a leis.”

“A ciência, ao ter noção da ação recíproca das leis que regem a evolução da realidade, coloca-se
sobre base firme, irremovível, diante de todo preconceito religioso ou idealista.”

“O grande valor teórico da lei da conexão universal está em mostrar o desenvolvimento dos
fenômenos e dos processos em sua necessidade, em seu condicionamento mútuo, convertendo toda a
história do mundo num só processo sujeito a leis.”

“É isto, precisamente, que Lênine sublinha, ao falar da conexão dialétca dos fenômenos:”

“...a interdependência e a conexão mais estreita, indissolúvel entre “todos” os aspectos de cada fenômeno...
conexão que dá um único processo universal, sujeito a leis, do movimento...”

“No compêndio da “História do P.C. (b) da URSS”, sublinha-se também que o método dialétco
considera a natureza como ‘um todo artculado e único’.”

“Do ponto de vista metafsico do mundo, a realidade não pode ser apresentada sob a forma de
processo único, artculado e sujeito a leis. Todos os fenômenos, se quiser sustentar

528
consequentemente este ponto de vista, estão separados uns dos outros, não dependem uns dos
outros. O que existe agora não está condicionado pelo que exista antes e, por conseguinte, não pode
haver um único processo, sujeito a leis, do movimento.”

“Muito característcos são os pontos de vista metafsicos sobre a história de um dos populistas
russos, P. Lavrov. Lavrov considera que toda a história da sociedade humana é a soma de
experiências, uma cadeia de ensaios que se efetuam do ponto de vista de uma ou outra suposição
teórica. Assim, ao longo de toda a história, os soberanos, os imperadores, os ministros, os homens
públicos, os filósofos realizam estas ou aquelas experiências sociais, do mesmo modo que o fsico ou o
químico realiza experiências em seu domínio. Por isso, a tarefa da moderna, “autêntca” filosofia
consiste, segundo Lavrov, em selecionar, do conjunto de experiências, os elementos que mais
correspondem à natureza humana e às necessidades humanas, ao ideal eterno de justça, de
moralidade, para criar com ele nova fórmula cientfica do progresso histórico.”

“... Não é em vão, escreveu Lavrov, que se têm desenvolvido teorias econômicas e do Estado. Não foi em vão
que alquimistas do socialismo, os Platão e Morus, os Saint-Simon e Fourier, provaram sua pedra filosofal, seu
elixir da imortalidade. Não foi em vão que os soberanos e ministros de meados do século XVIII fizeram
experiências com a ajuda de reformas de cima. Não foi em vão que os revolucionários polítcos experimentaram
mediante uma série de resoluções parlamentares, transformações de consttuições e de Códigos. Todos os
ensaios teóricos e prátcos deram seus resultados, completamente definidos para o observador atento e
imparcial.”

“Todos estes dados, contnua a escrever Lavrov, são de todo suficientes para que aspirando
conscienciosamente à verdade, com uma comparação cuidadosa do análogo e omissão do disparatado, se
possa elaborar uma compreensão clara das principais verdades sociológicas, isto é, esclarecer ante nós as
necessidades naturais e sãs dos homens, que podem e devem ser satsfeitas, mediante justa vida em comum.”

“Não é difcil compreender que esta teoria é, nitdamente, metafsica em seu fundamento. Como
aborda Lavrov a história humana? Não como processo sujeito a leis, mas como um caos de
acontecimentos, como um fenômeno no qual reina a arbitrariedade. Nesse caos histórico, nesse reino
das casualidades, podeis fazer o que quiserdes, podeis arbitrariamente, combinar pedaços da
experiência histórica e construir esta ou outra fórmula do progresso histórico que, a vosso juízo,
corresponde mais à “justça eterna”. Lavrov e seus semelhantes teóricos separam os fenômenos de
sua conexão com os demais fenômenos da realidade. Não veem lei alguma na história da sociedade.”

“Resultados diametralmente opostos obtêm-se do estudo da realidade, quando se parte do critério


da conexão universal e da interdependência dos fenômenos.”

529
Ou seja, para o metafsico Lavrov, as coisas em nossa sociedade (ou em nosso planeta)
ocorrem todas ao acaso, sem expressar necessidades sociais ou naturais. Uma vez que esse
tpo de estudioso não busca descobrir os nexos causais dos fenômenos, o seu espírito pode
navegar à deriva, produzindo toda sorte de explicações que, no fundo, são bobagens. Para
eles, a ciência é uma espécie de jogo, de diversão, que não deve procurar resolver problemas
reais. Diz Rosenthal:

“Toda a natureza, a história de sua evolução, o aparecimento da vida, a evolução da vida de formas
inferiores até o homem, a unificação dos homens na comunidade primitva, a transformação dessas
comunidades, em virtude das leis internas do desenvolvimento social em sociedades classistas, as
transformações ulteriores da sociedade, tudo isso consttui ‘um todo artculado e único’, ‘um processo
universal único, sujeito às leis do movimento’.”

“Este modo cientfico, único justo, de abordar a realidade permite compreender e examinar os
fenômenos e os processos em sua necessidade histórica. Para o idealista e metafsico do tpo de
Lavrov, a existência, digamos, da sociedade escravagista ou capitalista é pura casualidade, que
poderia também não existr. A existência dessas sociedades é examinada do ponto de vista de umas
ou outras ideias, fora do respectvo vínculo com as condições materiais de cada época, fora das
conexões com uma determinada situação histórica. O ant-historicismo é o traço mais característco
da metafsica. Não é possível julgar a sociedade escravagista do ponto de vista de certas ideias,
embora sejam justas. Sua existência está relacionada com determinado nível das forças produtvas,
com os processos sociais, com a divisão do trabalho, etc., que tveram lugar na sociedade comunista
primitva e prepararam o nascimento da sociedade escravagista. O aparecimento dessa sociedade
era, por conseguinte, historicamente necessário, como é historicamente necessária, a substtuição do
regime capitalista pelo comunista.”

“O princípio da conexão universal e da interdependência mostra as causas reais e objetvas do


nascimento de tal ou qual regime social e condiciona um estudo histórico, um ponto de vista histórico
sobre as coisas.”

“O princípio da conexão universal e da interdependência, reina, inevitavelmente, a místca, a magia,


a crença em forças sobrenaturais, o casual é apresentado, inevitavelmente, como o necessário, o
aparente, como o essencial, como o principal.”

Todos os fenômenos, expressão das mesmas forças universais, estão obviamente


conectados e se transformam mutuamente. Portanto, o menos inteligente seria supor, como

530
fazem os idealistas, feudos distntos e impenetráveis para o desenvolvimento e a variação de
tudo que existe. Não espanta que, ao isolar o mundo em camadas independentes de
fenômenos, não consiga explicá-lo, sem atribuir a cada campo fenomênico explicações
mágicas ou místcas. Para tais explicações, por exemplo, o movimento do universo está
submetdo ao interesse humano. Diz M. Rosenthal:

“A religião sustenta-se, em certa medida, porque não coloca a origem dos fenômenos naturais ou
sociais em relação com a evolução que os precedem, com outros fenômenos reais, mas os atribui à
vontade de um ser supremo.”

“Na sociedade capitalista, onde reinam a anarquia e a concorrência, muitos fenômenos assumem
forma absolutamente misteriosa e sobrenatural.”

“Marx escreveu que os milagres e fantasmas envolvem os produtos do trabalho no reino da


produção de mercadorias. A origem efetva dos ganhos capitalistas fica obscurecida. À primeira
olhadela superficial, parece que o capital traz, diretamente, o ganho, que este é sua propriedade,
como a propriedade da pereira é dar peras.”

“Já no processo da produção direta, as relações entre os capitalistas e os operários são bastante
obscurecidas. Mas a passagem do capital a outras esferas, não ligadas, diretamente, ao processo de
produção, obscurece por completo as relações reais que existem entre os homens. Por exemplo, na
sociedade burguesa, há toda uma categoria de pessoas que não fazem senão entregar o respectvo
dinheiro a determinado juro e isso lhes serve de fonte de enriquecimento. O dinheiro, depois de certo
tempo, traz outro dinheiro aumentado muitas vezes.”

“Na realidade, porém, conforme se sabe a fonte de todo ganho é a exploração dos operários, a
criação de mais valia no processo da produção de mercadorias. Na sociedade capitalista, os diversos
campos de aplicação do capital estão isolados um ao outro, não há conexão direta alguma entre eles.
A esfera da circulação de mercadorias está separada da esfera de produção; o capital monetário tem
também, diretamente, a forma de uma existência autônoma, etc.”

Quando se trata os fenômenos considerando (1) sua natureza contraditória; (2) sua
interconexão universal, as coisas incompreensíveis se revelam muito mais conhecíveis. Na
verdade, as categorias flosófcas e científcas têm sido elaboradas ao longo da história
humana para facilitar o entendimento do mundo e não para torná-lo mais obscuro. O capital
é um produto do trabalho para acumular mais trabalho; não há lucro sem exploração, etc. No

531
entanto, ao se tratar essas coisas separadas umas das outras, como se, sob tal forma elas
existssem na sociedade ou em a natureza, elas não podem ser explicadas. Diz Rosenthal:

“É assim que, examinando o lucro fora de sua conexão com o processo de produção, no qual, em
consequência da exploração dos operários, se cria a mais valia distribuída entre todos os capitalistas,
se chega à místca, à dissimulação das causas efetvas do enriquecimento dos capitalistas.”

“O capital converte-se, segundo as palavras de Marx, em ‘coisa obscura, em mistério’.”

“Marx demonstrou a estreita ligação existente entre todas as esferas de aplicação do capital, as
verdadeiras fontes dos lucros e, graças a isso, pode-se conhecer o conteúdo real das relações
capitalistas.”

“Para compreender, por conseguinte, as coisas em sua necessidade, para que o necessário e o
substancial não sejam substtuídos pelo casual e pelo superficial, é necessário examinar as coisas em
suas conexões e ações recíprocas.”

“Vamos, agora, dirigir a atenção do leitor para um aspecto importante do problema que estamos
examinando.”

“Para o metafsico, a causa e o efeito estão separados um do outro por fosso intransponível; o que
age como causa não pode ser efeito; o que é efeito não pode agir como causa.”

“Na realidade, sabemos que entre os objetos existe ação recíproca: a causa converte-se em efeito, o
efeito em causa.”

“Podemos, porém, limitar-nos a deixar estabelecido que entre as coisas existe ação recíproca?”

“Vamos examinar, por exemplo, as causas do forescimento da personalidade humana, seu


desenvolvimento em todos os aspectos, no país do socialismo. Começamos, então, por estabelecer
que os operários e os camponeses derrubaram os capitalistas e latfundiários, liquidaram as classes
exploradoras e construíram uma economia socialista. As relações socialistas de produção são a causa,
a base sobre a qual cresce e se consolida o Estado socialista dos operários e dos camponeses. O tpo
socialista do Estado soviétco, porém, é por sua vez, causa da evolução maior, não vista até agora na
história, da democracia soviétca. A democracia socialista emancipa o homem, abre-lhe largo campo
para a aplicação de suas energias, para a manifestação de suas iniciatvas, para seu desenvolvimento
em todos os aspectos.”

532
O pensamento mistfcador das classes dominantes semeia obscurantsmo porque assim
pode melhor regular a ontologia formal, manter uma teoria do conhecimento cristalizada nas
formas passadas do tempo e absolutamente inútl para a efetvação dos processos em
mudança. Não pode, pois, admitr o laço da evolução com a revolução, da estabilidade com a
instabilidade, da ordem com a desordem, etc. Busca ver seu mundo sem a estrutura de um
conjunto, para atribuir as novidades a uma falha moral e não ao movimento das coisas. Diz
Rosenthal:

“Vemos, então, que a causa e o efeito se transformam um no outro. Chegamos à conclusão de que
as relações socialistas de produção, por intermédio do regime polítco soviétco, por meio da
democracia socialista, são a causa do forescimento de personalidade humana. O forescimento da
personalidade humana na U.R.S.S. exerce, por sua vez, enorme infuência sobre o desenvolvimento da
economia socialista, sobre o ritmo de seu desenvolvimento. Por exemplo, uma das condições decisivas
do movimento stakanovista foi o aparecimento de nova e alta técnica socialista. O movimento
stakanovista, porém, o aparecimento de homens que, conforme a expressão de Stálin domina
plenamente, a técnica de sua especialidade e sabem dela extrair o máximo do que dela se pode
extrair, é, por sua vez, a causa de um crescimento maior ainda da técnica socialista da produtvidade
do trabalho, etc.”

“Esquecer esta ação recíproca, objetva e importantssima, dos fenômenos significa fechar o
caminho a uma compreensão justa, cientfica das coisas.”

“O marxismo-leninismo não pode limitar-se à comprovação do fato da existência da ação recíproca.


Plekanov disse, com razão, que limitar a análise à comprovação do fato da ação mútua dos
fenômenos é um ‘ponto morto de ação recíproca’.”

“Tal limitação leva, inevitavelmente, a considerar como iguais todas as causas, todas as conexões.”

“À semelhante conclusão chegou, por exemplo, um dos mais destacados representantes do


materialismo francês do século XVIII, Holbach, que reconhecia a ação recíproca dos fenômenos.”

“Se pelos efeitos julgamos as causas, nenhuma haverá no universo: numa natureza em que tudo está unido,
em que tudo se move e se altera, se compõe e se descompõe, se forma e se destrói, não pode haver um só
átomo que não desempenhe um papel importante e necessário.”

“Os fenômenos mais inesperados e mais insignificantes, disse Holbach, podem converter-se em
causas das transformações maiores da sociedade.”

533
“O mau funcionamento do fgado de um fanátco, o calor do sangue no coração de um conquistador,
a má digestão de qualquer monarca, o capricho de uma mulher, são causas suficientes para
desencadear uma guerra, para enviar milhões de homens ao combate, para destruir fortalezas,
reduzir a pó cidades, para submergir os povos na miséria e no luto, para provocar fome e endemias e
estender o desespero e a calamidade por uma longa série de séculos.”

“Idêntca conclusão se poderia trar, por exemplo, do seguinte fato:”

“As ideias, em últma instância, nascem à base das condições materiais de vida dos homens. As
ideias, porém, por sua vez, exercem poderosa infuência sobre as condições materiais. Nessa base,
poder-se-ia, então, concluir: as condições de vida dos homens e suas ideias têm igual valor, uma
mesma força.”

“Na realidade, não é assim. A existência social determina a consciência social e, por maior que seja o
papel das ideias, o valor de primeira ordem na evolução da sociedade corresponde às condições
materiais da vida, à base econômica, às forças produtvas e às relações de produção.”

“Por isto, o método dialétco não se limita à comprovação do princípio da conexão universal e da
ação mútua das coisas, mas exige sempre o exame dos fundamentos dessa ação recíproca, as causas
decisivas, mais importantes, do nascimento deste ou daquele fenômeno.”

“Tal fundamento, na ação mútua entre as relações socialistas de produção e o desenvolvimento da


consciência socialista, são as relações socialistas de produção.”

“Poder-se-ia também pensar que o método dialétco, ao descobrir o vínculo universal dos
fenômenos, exigisse também o exame de toda a cadeia de causas, de todos os vínculos e relações das
coisas em si. Não é assim, porém. A conexão dos fenômenos é tão universal e geral que, para o exame
das causas de um fenômeno qualquer, haveria necessidade de citar quantdade enorme de coisas e
acontecimentos, que, diretamente, não têm relação alguma com o fenômeno em questão, não têm
importância decisiva.”

“Por isto, o método dialétco requer a análise das causas decisivas, que condicionam este ou aquele
fenômeno, o exame das conexões e relações orgânicas mais importantes.”

No entanto, se examinamos friamente a maioria dos “cientstas burgueses”,, eles sequer


simulam estar em busca da verdade; quase sempre enunciam que a verdade não existe;
mostram maior desprezo quanto a examinar provas; colocam abertamente seus interesses
na frente de tudo. No entanto, Lênine escreve:

534
“Do conuunto de todos os aspectos do fenômeno, da realidade e suas relaçees mútuas, eis de que se
compõe a verdade.”

Contudo, aqueles que verdadeiramente desejam conhecer e transformar o mundo não se


deixam dominar por sofsmas, como a confusão da parte com o todo. A busca do
conhecimento choca-se no processo de seu desenvolvimento com a percepção da
contradição no seio de todas as coisas, com a necessidade de descobrir as contradições e de
explicar fenômenos. Todo aquele que admite o caráter objetvo da realidade não se deixa
intmidar por falsos mistérios e outras mascaradas. No movimento do mundo, os contrários
se excluem reciprocamente e se encontram em estado de permanente luta. No tempo
próprio em que se passam como estrutura de um ou vários fenômenos, os contrários se
unem e representam a unidade dos contrários que apresentam a estrutura do mundo
conhecido e por conhecer.

Portanto, tudo que existe é um estabelecimento de dada unidade de contrários, o


estabelecimento temporário de uma reciprocidade, aspectos ou tendências dos contrários
que não podem subsistr enquanto tal uns sem os outros.

4 – A Contnuidade do Processo Revolucionário.

Quando a burguesia apela para a violência como uma forma de deter a marcha da
consciência operária, não tem em conta a provisoriedade do efeito de seu ato criminoso e
antcivilizatório. Os ideólogos burgueses acreditam piamente no massacre como a forma de
condução dos processos históricos. Hitler, o grande quadro da burguesia no século XX, estava
aí até ontem, com seus campos de concentração. A burguesia, classe, tantas vezes criminosa,
acredita no crime como forma de solução dos problemas históricos. Os ideólogos burgueses
seriam bem mais modestos, se estudassem a categoria contnuidade e ruptura, do
materialismo histórico. As categorias refetem o processo do mundo no movimento da
consciência. O conhecimento aparentemente desordenado (ordem e desordem) do mundo,
se “estoca”, na consciência dos homens, generalizado sob a forma de categorias. Os
idealistas, entretanto, acreditam que seus processos de pensamento se constroem desde
nada. Contrariamente a esta suposição, as categorias se dão como graus do desenvolvimento
do conhecimento social e da prátca. Assim, a crença da burguesia de que assassinando toda

535
uma geração de quadros da classe operária “matam também”, a revolução é uma balela que
expressa apenas a sua crueldade enquanto classe. O processo revolucionário, é claro,
depende do fator consciente. Mas tal fator resulta de necessidades objetvas e não pode ser
eliminado pelo crime de classe, como os campos de concentração. A contnuidade e a
ruptura dos processos naturais e sociais, como a revolução, se dão expressando condições
objetvas e não eliminam as contradições inerentes a tal processo antes de seu desfecho. As
categorias são, portanto, formas de refexo do universal, e o universal não se extngue por
uma singularidade ou uma partcularidade.

As categorias como lógica e como teoria do conhecimento expressam pontos centrais, graus
do movimento da percepção e da elaboração do conhecimento, desde os patamares mais
baixos de consciência, até os mais elevados. A transformação da qualidade em quantdade e
da quantdade em qualidade relaciona-se estreitamente com a variação dos referidos graus,
intervindo pelo movimento da ação consciente na realidade.

O marxismo-leninismo, enquanto ciência de classe, não se deixa enganar pelos grunhidos e


ameaças de uma classe decadente, pelos crimes antes e durante a guerra fria, nem pela
propaganda ameaçadora das bombas atômicas e da intervenção militar. “O imperialismo e
todos os reacionários são tgres de papel”,. O homem comum é capaz de distnguir os
processos partculares de sua vida quotdiana e reuni-los, à medida que os constrói e vive,
em uma representação geral, capaz de lhe facultar uma consciência complexa e livre do
engodo e das mistfcações.

Como diz Ernst Bloch:

“Lênine renovou o autêntco marxismo – e não em últmo termo – pelo retorno ao “núcleo” da
dialétca hegeliana (“a contradição como raiz de todo movimento e toda vida”) e à Lógica mesma de
Hegel. Lênine, ocupado em 1914, com o estudo profundo desta obra, insiste, como se sabe: ‘Não se
pode compreender bem O Capital de Marx, sobretudo o primeiro capítulo, se não se estudou a fundo
e se compreendeu toda a Lógica de Hegel. Por conseguinte, desde há meio século, nenhum marxista
entendeu Marx’. Assim, portanto, o marxismo ortodoxo, restaurado por Lênine, pressupõe este
conhecimento de Hegel, à diferença de um marxismo vulgar, esquemátco e sem tradição que,
naturalmente, ao isolar a Marx – como sob uma pistola – não faz mais que isolar a si próprio de
Marx. A União Soviétca não cultva nenhum hegelianismo, mas uma investgação de Hegel em
função do marxismo, para que se possa entendê-lo segundo a indicação de Lênine. O filósofo da

536
dialétca, para o qual a burguesia do século XIX fazia cara feia ou motvo de brincadeira, vive agora
no centro do processo de que se tornou senhor. E o critério para discernir em sua filosofia o vivo ou o
morto não consiste já em tal ou qual opinião liberal acerca dele, mas em sua fecundidade
revolucionária.”

Portanto, o marxismo-leninismo expressa a experiência histórica da classe operária na luta


pelo poder, o que lhe permite conhecer a contnuidade e a ruptura na luta revolucionária. O
marxismo expressa nas categorias estabilidade – instabilidade parte das formas que se dão
no tempo enquanto movimento do mundo. A matéria fui contnuamente e se transforma,
no entanto, mesmo se transformando, ela se manifesta enquanto generalidade em repouso.
Vê-se, portanto, que tal estabilidade não é imutabilidade, ausência de nova qualidade ou
quantdade, ausência de movimento. É um conceito errôneo dos flósofos idealistas (parte
deles) supor que o repouso é ausência de transformações, imobilidade. Da mesma maneira,
nos processos sociais, verifcam-se momentos de aceleração das mudanças ou de sua relatva
estabilidade. Nada disso em aparência exclui uma ausência de variação ou de acumulação de
forças de mudança. Como diz Rosenthal:

“É assim que o Partdo, fazendo uso sempre da arma do método dialétco, assegura o
desenvolvimento com êxito da construção da sociedade socialista.”

“Agora, podem-se trar algumas conclusões que derivam do exposto neste capítulo.”

“A conexão universal e a interdependência, contrariamente às afirmações da metafsica, são a lei


necessária de toda a realidade. Fora das conexões e da ação recíproca, os objetos não teriam podido
existr. A conexão e a ação recíproca fazem de todo o movimento que se efetua na natureza um
processo único. Sem ter em conta o condicionamento mútuo dos fenômenos e processos, não é
possível compreendê-los em sua necessidade, em sua evolução sujeita a leis. A ciência autêntca
começa onde a realidade objetva é estudada e examinada como processo necessário e sujeito a leis.”

“A consideração de todo o conjunto das conexões e relações decisivas dos fenômenos é a condição
indispensável para um conhecimento correto e, por conseguinte, também para uma ação
revolucionária justa.”

A evolução da luta polítco-social conduz ao processo de transformação do grau de


consciência dos trabalhadores, mas também de todas as forças envolvidas. Do ponto de vista
da revolução proletária, qualquer que seja a forma com que se apresenta na correlação de

537
forças, é decisivo o papel do elemento consciente nas forças em presença. As massas,
quando se cansam da exploração das classes dominantes, vão à luta. O processo da luta
eleva o nível de sua consciência polítca. Quando as condições objetvas já estão dadas (crise
econômica e social, divisão das classes dominantes, etc.), também é necessário que se deem
as condições subjetvas. Não se dá uma luta revolucionária sem uma vanguarda que atue
como elemento aglutnador e condutor das classes e camadas oprimidas. No caso histórico
da revolução proletária, impõe-se a existência de um partdo como vanguarda da classe, o
partdo operário. Este partdo deve estar preparado para a condução da classe operária e da
classe dos camponeses pobres e médios. As condições subjetvas estão dadas quando o
núcleo dirigente deste partdo tver entendimento seguro da etapa da luta e do programa
mínimo capaz de intensifcá-la. As condições subjetvas estão dadas quando o núcleo
dirigente do partdo for capaz de ganhar todo o partdo para a luta revolucionária, dentro da
orientação estratégica e tátca corretas. Nessas condições, o núcleo dirigente da classe é
capaz de convencer outros núcleos dirigentes das classes e camadas aliadas, para arrastá-las
para uma luta sem tréguas contra o inimigo comum.

Com a mobilização das amplas massas do povo, as condições subjetvas avançam dia a dia.
A força teórica e organizadora das classes revolucionárias deve convencer a massa enorme
de suas classes, operária e camponesa. Fazer a revolução requer a mobilização de milhões. É
necessário pôr essa massa a se mover e dirigir-se assim conscientemente rumo ao seu
objetvo.

Finalmente, a existência das condições subjetvas se torna efetva pela preparação dos
meios materiais necessários para derrotar os inimigos das classes revolucionárias. A
formação e o emprego desses meios infigem derrotas parciais aos inimigos de classe. A luta
revolucionária das massas abre o caminho, pela crescente consciência polítca, à criação das
novas insttuições que a correlação de forças requer, conselhos, agrupamentos,
destacamentos de luta, planos de ação, etc. Defne-se a forma de tomada do poder e toma-
se o poder. Examinando as condições da revolução russa, diz Revunenkov:

“Durante a época imperialista, cresceu, muito brusca e acentuadamente, a desigualdade do


desenvolvimento dos vários países capitalistas, o que tornou inevitáveis as guerras imperialistas que
se repetem periodicamente, pela divisão das colônias e das esferas de infuência. Tais guerras vão

538
adquirindo, em grau crescente, caráter destruidor, causando inumeráveis calamidades para os povos
e as massas trabalhadoras.”

“Tudo isso aumenta o ódio das massas ao sistema capitalista e acelera o amadurecimento da
revolução socialista, a qual consttui o único meio de salvar a humanidade das guerras de extermínio
e da opressão social e nacional.”

“O imperialismo contribuiu assim para que a passagem ao socialismo se tornasse uma necessidade
prátca e madura, para o desenvolvimento da sociedade. O primeiro país que abriu à humanidade o
caminho para o socialismo foi a Rússia.”

“A Rússia não era o país mais desenvolvido da época do imperialismo. Achava-se consideravelmente
atrasada, sob o aspecto técnico-econômico, em relação a uma série de países da Europa ocidental e
dos Estados Unidos da América do Norte. O capitalismo monopolista na Rússia estava entrelaçado
com fortssimas sobrevivências feudais, tais como o regime latfundiário e o absolutsmo tzarista. A
Rússia tzarista era “um cárcere de povos”. Ao mesmo tempo, crescia a dependência econômica da
Rússia em relação às potências imperialistas mais poderosas, e, em primeiro lugar, a Inglaterra e a
França. Precisamente, porém, pelo fato de a opressão capitalista combinar-se com a opressão
nacional e com a dos latfundiários e de a Rússia ir tornando-se tributária do capital estrangeiro,
resultou consttuir-se no ponto nodal de todas as contradições do imperialismo e seu elo mais
vulnerável. Formara-se ali a classe operária mais revolucionária do mundo, a cuja frente estava o
partdo dos bolchevistas, criado por Lênin, um partdo novo, radicalmente diferente dos partdos
reformistas da II Internacional. Assim, nos princípios do século XX, o movimento revolucionário
mundial deslocou-se para a Rússia.”

“A primeira revolução russa de 1905/1907 já tnha posto um ponto final no desenvolvimento


relatvamente “pacífico” do capitalismo na Europa e na Ásia. Essa revolução deu início ao período de
lutas revolucionárias da época imperialista, elevando a classe operária russa à vanguarda do
proletariado revolucionário de todo o mundo.”

A experiência partcular vitoriosa dos povos da Rússia permitu elevar a experiência da luta
revolucionária de outros povos a um caráter de generalidade, elaborando-se por esta forma
o caminho universal para a revolução socialista, com a revolução russa de outubro-novembro
de 1917. A experiência da revolução russa indicou o acerto da teoria do “elo mais fraco”,,
permitndo a difusão do leninismo em escala mundial, como caminho da revolução em nossa
época. Diz Revunenkov:

539
“A primeira grande guerra mundial de 1914/1918, foi um poderoso acelerador da revolução
socialista. Tal guerra, engendrada pelo imperialismo, ocasionou enormes calamidades para a
humanidade. Nela foram mortos ou morreram em consequência de ferimentos recebidos nos
combates dez milhões de pessoas, e mais de 20 milhões ficaram inválidos ou mutlados. As despesas
militares gerais de todos os países beligerantes alcançaram a incrível soma de 350 bilhões de
dólares.”

“A Primeira Guerra Mundial provocou o ódio das grandes massas trabalhadoras em relação ao
imperialismo, ocasionando, na maioria dos países beligerantes, uma profunda crise revolucionária. A
classe operária russa, guiada pelo partdo bolchevista, aproveitou com êxito o debilitamento do
sistema imperialista provocado pela guerra e, unido aos camponeses, realizou a revolução
democrátco-burguesa, em fevereiro de 1917, derrubando o tzarismo. Entretanto, o poder no país foi
usurpado pelo governo provisório burguês, que não deu ao povo nem paz, nem terra. No mês de
outubro desse mesmo ano (1917), o partdo bolchevista, dirigido por Lênine, levantou a classe
operária e o campesinato para a luta pela Revolução Socialista.”

“A 7 de novembro, na então capital da Rússia – Petrogrado – teve lugar o levante armado de


operários e soldados. O governo provisório foi derrubado e o II Congresso Pan-Russo dos Sovietes,
instalado nesse mesmo dia, proclamou a passagem do poder do país para os sovietes dos deputados
operários, soldados e camponeses. A 8 de novembro, o Congresso dos Sovietes aprovou o célebre
decreto de Lênin sobre a paz, abrindo assim o caminho para uma saída revolucionária da guerra e
lançando as bases para a polítca exterior pacífica do Estado soviétco.”

“Na mesma data, foi aprovado o histórico decreto sobre a terra, que realizava os seculares anelos do
campesinato, ao suprimir a apropriação e a posse da terra pelos latfundiários e boiardos. O
Congresso elegeu o primeiro governo soviétco de operários e camponeses, encabeçado por Lênine.”

“Como resultado da Revolução de Outubro, na Rússia, um dos maiores países do mundo, foi
derrocado o poder dos capitalistas e dos latfundiários e criado o poder socialista de operários e
camponeses. Pela primeira vez na história multssecular da humanidade (salvo durante a breve
existência da Comuna de Paris), o poder do Estado passou às mãos dos trabalhadores. Com o Estado
socialista, foi criado um novo tpo de Estado – o da ditadura do proletariado – que representa uma
forma superior de democracia, a democracia para os trabalhadores, para a maioria esmagadora do
povo.”

“A Revolução de Outubro consttuiu a transformação social mais profunda em toda a história da


humanidade. Em todas as revoluções do passado, a questão limitava-se à passagem do poder de uma

540
classe exploradora para outra; variavam apenas as formas de exploração, mas a exploração
contnuava. A Revolução de Outubro significava o fim de toda a exploração do homem pelo homem, o
fim de toda a opressão nacional.”

Vê-se, portanto, que a burguesia das grandes potências imperialistas julgou destruir o
movimento operário, desencadeando a primeira guerra mundial e empurrando cada
proletariado nacional para o matadouro em uma guerra nunca vista. Julgaram ter o
momento para o extermínio do movimento operário internacionalista. Mas o que
obtveram? Apenas uma ruptura no nível da luta de classes, com a rápida passagem para
uma luta revolucionária ainda mais dura, resultante da revolução russa. As categorias
marxistas da contnuidade e da ruptura verifcaram-se aqui em toda a sua dialetcidade. Os
inimigos do povo trabalhador colheram logo novas derrotas, tendo que recorrer às ditaduras
fascistas para sobreviver. Diz Revunenkov:

“A Revolução de Outubro inaugurou uma era de revoluções socialistas nos países do campo
imperialista. Não foi menor o infuxo da Revolução de Outubro sobre as massas populares dos países
coloniais e dependentes. Sob sua infuência começou a poderosa ascensão do movimento nacional-
libertador nos países do Oriente, tendo sua expressão mais patente no Movimento Ant-imperialista
de 4 de Maio de 1919, na China; a revolução nacional burguesa de 1920, na Turquia, as insurreições
na Índia, no Egito e em outros países.”

“A Revolução de Outubro abriu a época das revoluções nacional-libertadoras nos países coloniais e
dependentes. Projetou-se não somente no âmbito das relações econômico-sociais, como também, nas
mentes dos homens, impondo uma revolução nas ideologias. Assestou um golpe demolidor no
oportunismo e no revisionismo dentro do movimento operário, demonstrando claramente o acerto e
a grande força vital do marxismo-leninismo. Produziu, nos proletários mais avançados e nas mentes
dos intelectuais, tanto no Ocidente como no Oriente, uma apaixonada tendência no sentdo das
concepções das grandes ideias marxista-leninistas e sua aplicação criadora aos problemas
partculares de cada país. Caracterizando a infuência da Revolução de Outubro sobre os elementos
avançados da China e de outros países, escrevia Mao Tsé-tung, chefe da Revolução Socialista Chinesa:
‘As salvas da Revolução de Outubro trouxeram até a China o marxismo-leninismo. Ela ajudou aos
elementos progressistas do mundo inteiro e aos da China, também, a aplicar a doutrina proletária,
para determinar o destno do próprio país e para rever seus problemas partculares. A conclusão a
que se chegou, foi de que deveríamos avançar pelo caminho apontado pelos russos’.”

541
“Sob a infuência da Revolução de Outubro, começou a separação dos grupos de esquerda, dentro
dos partdos social-democratas, dos elementos reformistas, e a criação dos partdos comunistas nos
países capitalistas. Já em 1918, surgiram partdos comunistas na Finlândia, na Hungria, na Polônia,
na Áustria, na Alemanha e na Argentna. Em muitas outras nações da Europa, da Ásia e da América
apareceram agrupações comunistas.”

“Por iniciatva do Partdo Comunista Russo (bolchevista), reuniu-se no mês de março de 1918, em
Moscou, a primeira conferência mundial dos partdos comunistas e das agrupações esquerdistas
social-democrátcas. Essa conferência adotou a histórica resolução de criar a III Internacional
Comunista (Comintern).”

“O Comintern proclamou, como seu objetvo, a conquista, para o comunismo, da maioria da classe
operária e demais camadas de trabalhadores, em todos os países do mundo; a organização da luta
para a derrubada do regime da escravidão capitalista e pelo estabelecimento da ditadura do
proletariado.”

“A formação do Comintern foi o mais patente testemunho das transformações que se verificaram no
movimento operário internacional, sob a infuência da Revolução de Outubro. O domínio dos
reformistas e da ideologia reformista dentro do movimento operário dos países ocidentais foi
socavado e debilitado. Chegara a época da tumultuosa difusão da ideologia revolucionária do
marxismo-leninismo no movimento operário de todos os países.”

“No transcurso dos anos seguintes, surgiram partdos comunistas na maioria dos países do mundo, e
entre eles: Estados Unidos da América do Norte, Inglaterra, França, Itália, Espanha, China, Japão.
Alguns desses partdos, tais como os da China, da França e outros, converteram-se em partdos
polítcos da maioria dos operários, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. O Comintern prestou
grande ajuda aos jovens partdos comunistas dos países capitalistas e dependentes. Os méritos do
Comintern ante o movimento operário internacional foram muito grandes: restabeleceu e ampliou os
vínculos entre os trabalhadores dos diversos países, destruídos durante a Primeira Guerra Mundial;
ajudou os partdos comunistas jovens, dos países capitalistas, a assimilar a teoria marxista-leninista e
a aprender a aplicá-la de maneira criadora, de acordo com as condições concretas de cada país;
colaborou na educação e na formação dos quadros dirigentes de muitos partdos comunistas.”

A IIIª Internacional desempenhou um papel positvo em escala internacional (1921-1945).


Ela formou quadros leninistas, por seu trabalho prátco e por seu trabalho de educação, em
uma centena de países. Serviu de estímulo ao desenvolvimento de inúmeras organizações
nacionais e de classe, em todos os contnentes. Embora nem todas essas organizações

542
adotassem o marxismo ou leninismo, um grande número delas vem desempenhando papéis
progressistas e libertários. Tais insttuições aprenderam, portanto, muito, com a revolução de
outubro. Diz Revunenkov:

“A Revolução de Outubro é o exemplo clássico da revolução socialista; suas característcas


fundamentais consttuem os traços gerais e tpicos da vitória da revolução socialista.”

“Entre as característcas fundamentais dessa revolução, sobre a qual Lênine escrevia que possui
“valor e significação não só local, não somente russo, mas, também, internacional”, cabe destacar: a
direção das massas trabalhadoras por parte da classe operária, dirigida pelo partdo marxista-
leninista; a conquista pela classe operária do poder polítco; o estabelecimento da ditadura do
proletariado numa ou noutra forma; a aliança da classe operária com as massas fundamentais do
campesinato e com todas as outras camadas de trabalhadores; a liquidação da opressão nacional e o
estabelecimento da igualdade de direitos e de amizade fraternal entre todos os povos da União das
Repúblicas Socialistas Soviétcas; a liquidação da propriedade capitalista e a instauração da
propriedade socialista, social, dos meios de produção fundamentais; a defesa decisiva das conquistas
da revolução social, contra as tentatvas dos inimigos de classe, internos e externos; a solidariedade
dos operários de todos os países na luta pelo triunfo das ideias do socialismo e do comunismo – o
internacionalismo proletário.”

“A Revolução de Outubro abriu e traçou o caminho real para o socialismo, para toda a humanidade.
Exerceu e contnua exercendo infuência decisiva sobre a totalidade da marcha da história mundial.
Depois da Segunda Guerra Mundial, empreenderam o caminho da Revolução de Outubro os
trabalhadores de toda uma série de países da Europa e da Ásia.”

Sem pretender o monopólio da verdade de classe ou revolucionária, os partdos marxistas-


leninistas consideram o caminho da revolução de outubro um caminho universal para a
revolução social em nossa época. Não é possível ser bem-sucedido na luta contra o
imperialismo, contra o latfúndio e contra todas as formas da burguesia, sem o estudo
consciencioso da revolução russa e de todas as revoluções contemporânneas que ela inspirou,
como as revoluções chinesa, vietnamita, coreana, iugoslava, cubana, etc. Sem a sólida
cooperação e experiência dos partdos marxistas em toda parte, o internacionalismo
proletário seria convertdo em letra morta. A possibilidade de vitória da revolução em nossa
época em toda parte é resultado da gloriosa revolução russa e da direção e do ensinamento
polítco grandioso do camarada Lênine.

543
5 – Transformação da Revolução Nacional e Democrátca em Revolução Socialista.

Muitos indivíduos veem uma barreira intransponível entre uma revolução nacional e
democrátca (RND) e uma revolução socialista (RS). No entendimento dos leninistas,
semelhante barreira não existe. Os inimigos do leninismo consideram que a teoria do plano
de forças e da correlação de forças expresse uma determinação evolucionista da base
econômica. Nada mais errado. Caso se analise rigorosamente, a ciência polítca e a ciência de
organização marxista foram criadas por Lênine. Quando Marx escreveu o 18 Brumário, está
ali o embrião da ciência polítca marxista. Mas a insurreição operária da Comuna de Paris não
seguiu um modelo marxista de ciência polítca, simplesmente porque ainda não exista tal
modelo. O grande revolucionário Luís Augusto Blanqui organizou a ditadura do proletariado,
mas não pode impedir as improvisações levadas a cabo pelos destacamentos da classe
operária, em função da inexistência de um plano detalhado e prévio que se antecipasse à
própria insurreição (1871). Pode-se dizer, a insurreição foi imposta pelas circunstânncias.

Estudando Blanqui, de quem era admirador; estudando Eugênio Varlin, Marx e Engels;
estudando a experiência do movimento narodniki; com base neste cuidadoso estudo, Lênine
aprofundou a teoria da insurreição operária e da tomada do poder, criando a ciência polítca
marxista-leninista do “quadro de forças”,, que permite elaborar o plano estratégico de
qualquer revolução democrátca e conduzir à revolução socialista em nossa época. Lênine
formulou com clareza o lugar da estratégia, da arte operacional e da tátca, e os fez ensinar
na Academia Militar de Moscou aos dirigentes do PCUS, da IIIª Internacional e a movimentos
democrátcos de diferentes países.

Lênine demonstrou que as revoluções democrátcas da época do imperialismo, da época da


ditadura dos monopólios e do capital fnanceiro, são – na verdade – formas da revolução
socialista. É, portanto, possível passar de qualquer revolução democrátca e nacional de
nossa época, rapidamente, para a revolução socialista, desde que haja ali o partdo operário
e o núcleo dirigente leninista, armado com a teoria da relação de forças. O movimento
revolucionário marxista-leninista elaborou em nossa época um roteiro completo de todas as
formas da revolução e do processo de transformação de suas forças motrizes. Diz
Revunenkov; ele analisa a luta democrátca do povo francês, no entre-guerras:

544
“Sob a infuência da crise econômica aguçou-se a luta de classes no país. Os empresários,
aproveitando o beco-sem-saída em que se achavam os trabalhadores, diminuíam os salários e
aumentavam o dia de trabalho. A classe operária respondia com greves, demonstrações, e ‘marchas
da fome’. Os círculos governamentais recorriam, com frequência crescente, à violência. Em muitos
lugares, a polícia descarregava suas armas de fogo contra os grevistas e contra os desempregados.
Crescia entre os operários, os camponeses e a pequena burguesia o descontentamento pela ação dos
monopólios e pela arbitrariedade das autoridades.”

“Nas eleições parlamentares de 1932, tornou-se evidente o brusco deslocamento para a esquerda da
maioria esmagadora da população do país. O triunfo nas urnas coube aos radicais, aos socialistas e
aos grupos afins. Os partdos de direita tveram que abandonar o poder. O novo governo foi
encabeçado pelo líder dos radicais, Edouard Herriot.”

“O governo de Herriot renunciou à orientação ant-soviétca seguida pelo seu antecessor. Em


novembro de 1932, foi assinado entre a França e a União Soviétca um pacto de não agressão. Foram
tomadas também providências para a ampliação do comércio franco-soviétco.”

“A reação francesa, derrotada nas eleições, tentou liquidar o regime parlamentar e implantar no
país uma ditadura fascista.”

“Em 6 de fevereiro de 1934, teve lugar em Paris um putsch (golpe) fascista. Bandos armados dos
Croix de Feux e dos Cavaleiros do Rei e outras organizações fascistas dirigiram-se ao Palácio dos
Bourbons, para invadir e dissolver a Câmara dos Deputados. Os operários, entretanto, responderam
ao apelo do Partdo Comunista e travaram luta com os fascistas. A polícia também abriu fogo contra
estes, que fugiram em debandada.”

“A derrota infigida aos fascistas nas ruas de Paris, a 6 de fevereiro, infundiu ânimo aos operários e a
todos os democratas franceses e demonstrou que os trabalhadores estavam em condições de barrar
o caminho do fascismo.”

A vitória dos trabalhadores franceses nas jornadas de 06 de fevereiro de 1934 derrotou a


tentatva fascista de assalto ao poder. Vê-se aí que o “grau”, de democracia burguesa e de
“civilização”, em nada impede os grupos de extrema-direita de tentar assaltar o poder e
varrer com isso todas as formas de luta democrátca. O partdo comunista francês então,
diante do perigo fascista, começou a trabalhar para a construção de uma frente única, de
natureza democrátca. Diz Revunenkov:

545
“Em face da ameaça fascista, o Partdo Comunista propôs ao Partdo Socialista uma polítca de ação
comum, proposta essa que não pôde ser recusada por Léon Blum e os demais dirigentes socialistas.”

“Em 12 de fevereiro de 1934, realizou-se na França uma greve geral de protesto contra o fascismo e
em defesa da República, tomando parte nela mais de quatro milhões e meio de pessoas. Em Paris e
em outras cidades houve demonstrações de massa de trabalhadores, marchando juntos, comunistas
e socialistas.”

“Depois desses acontecimentos, o movimento em favor da criação de uma frente única da classe
operária ganhou um vigor excepcional. Em cada localidade, os comunistas e os operários socialistas
criavam comitês de frente única. Em julho de 1934, os partdos comunistas e socialistas firmaram um
pacto de unificação de suas ações na luta contra o fascismo e contra a guerra.”

“Nesse ínterim, a reação burguesa recrudescia. Eliminados os radicais do poder, os elementos pró-
fascistas que aí permaneceram empreenderam uma perseguição atroz contra os comunistas e demais
elementos de esquerda. No âmbito da polítca exterior, a reação francesa estmulava abertamente os
agressores fascistas. O povo francês protestava resolutamente contra essa polítca antnacional. O
Partdo Comunista desenvolveu uma ampla agitação no país no sentdo de que a França realizasse
uma polítca de segurança coletva, de amizade e colaboração com a União Soviétca. As proposições
comunistas receberam o apoio generalizado do povo e, sob essa pressão popular, o governo pró-
fascista de Flandin, assinou em maio de 1935, um pacto de ajuda mútua com a União Soviétca. Não
obstante, desde o princípio, esse pacto foi sabotado a minado, retrando-lhe todo o valor.”

“As circunstâncias impunham a necessidade da unificação de todas as forças democrátcas e


patriótcas.”

“Por iniciatva do Partdo Comunista, teve lugar em maio de 1935, em Paris, uma consulta de
partdos e agrupamentos de esquerda, sendo adotada a resolução de criar uma Frente Popular única,
para a luta contra o fascismo e contra a guerra. Foi elaborado um programa para essa Frente
Popular, firmado pelos representantes do Partdo Comunista, do Partdo Socialista, dos radicais, e
também das associações revolucionárias e reformistas. Esse programa exigia a dissolução das ligas
fascistas, a criação de um sistema de segurança coletva, a introdução da semana de quarenta horas
de trabalho, a ajuda aos camponeses, etc.”

O esforço da luta dos elementos democratas mais consequentes para reduzir o espaço de
manobra dos elementos fascistas e seus aliados viu-se premiado com a criação da Frente de
Esquerda, que não tnha mais apenas um caráter tátco de formação de um governo

546
verdadeiramente democrata e, portanto, sem elementos fascistas em sua composição. A
tátca escolhida era correta.

A IIIª Internacional atuou no sentdo de preparar quadros revolucionários de muitos países


para dar um desenvolvimento consequente à luta revolucionária nos países de que eram
originários. Naturalmente, a composição sociológica e polítca, a frmeza ideológica, não são
os únicos requisitos de um aperfeiçoamento. O militante revolucionário tem que superar na
prátca por conta própria as defciências de uma inadequada percepção psicológica e da
construção do “momento”, da luta, e que não podem ser transferidos por via verbal ou de
país a país. Qualquer quadro revolucionário, não importa a qualidade dos debates em que
esteve envolvido, ainda há de ver-se a braços com a especifcidade do mundo real em que se
torna militante, tendo que construir a arte local do processo junto com o núcleo dirigente
que ali se logrou formar. E nenhum quadro pode ser melhor do que o núcleo dirigente a que
está ligado. Os erros como os acertos, se transmitem em uma cadeia acumulatva.

O exemplo clássico de tais difculdades pode ser encontrado na história do proletariado


alemão, do proletariado polonês, ou na China. No caso chinês, o apoio da Internacional a Sun
Yatsen foi desde a primeira hora. No entanto, quem poderia prever que no próprio núcleo
familiar de Sun, no próprio núcleo dirigente do Kuomintang houvesse traidores do porte de
Chiang Kaishek? A revolução não pode se resolver senão que pelos caminhos do mundo real.
O partdo comunista da China teve que trilhar uma nova fase de estratégia, corrigir todo seu
plano tátco, após os traiçoeiros acontecimentos dos massacres de Chiang Kaishek. Diz
Revunenkov:

“Na noite de 11 de dezembro, começou a sublevação dos operários da cidade de Cantão, organizada
pelos comunistas. Os sublevados apoderaram da cidade e consttuíram um governo de operários
revolucionários: a anulação de convênios de que constassem direitos desiguais; a confiscação das
terras dos latfundiários e a entrega gratuita delas aos camponeses; a introdução do dia de trabalho
de oito horas.”

“Entretanto, essa comuna de Cantão manteve-se apenas durante três dias. Contra ela foram
enviadas poderosas forças do Kuomintang e a rebelião foi esmagada, começando então uma
impiedosa repressão sangrenta contra os vencidos: somente em três dias, foram executados, em
Cantão, mais de sete mil homens.”

547
“O fracasso da heroica comuna de Cantão demonstrou que o proletariado chinês ainda não
dispunha, naquele período, de suficientes forças pra organizar sublevações nos grandes centros
urbanos.”

“As tropas de guerrilheiros de Chu Teh, que operavam com o Kuomintang, viram-se obrigadas a se
retrar para o norte. Em abril de 1928, nos cerros de Ching Kanshan, realizou-se a unificação das
unidades guerrilheiras, formadas por Mao Tsé-tung, com as tropas de Chu Teh. Assim surgiu o famoso
4º corpo do Exército Vermelho da China, do qual foi designado comandante, Chu Teh, e comissário
polítco, Mao Tsé-tung.”

“A sublevação de Nanchang e a formação das primeiras unidades do Exército Vermelho, como


também das primeiras bases revolucionárias, representou o começo da segunda guerra civil
revolucionária.”

“O centro de gravidade da atvidade revolucionária se tnha trasladado para as regiões rurais,


começando então o período de unificação das forças revolucionárias.”

A luta armada na China durou 25 anos. Foi uma guerra prolongada. A revolução teve que
combater em duas frentes: (a) uma guerra civil de diferentes formas; (b) uma guerra contra
as intervenções das forças imperialistas externas. No entanto, a revolução chinesa triunfou. E
por que triunfou? Pela frmeza de sua direção comunista na condução das massas
organizadas do povo; pelo acerto geral de sua estratégia, de suas tátcas e de seu programa.
Como diz Revunenkov:

“A partr de 1928, começou o rápido crescimento das bases revolucionárias nas províncias de Tzian-
Si, Fu-Tzian, Hunan, Ju-Bey, Huan-Si e outras. A princípio, essas bases careciam de estabilidade. As
forças do Kuomintang empurravam as unidades do Exército Vermelho, que eram obrigadas a passar a
outras regiões. Gradualmente, porém, as forças do Exército Vermelho iam crescendo, suas tropas,
antes isoladas e separadas entre si, se unificavam formando grandes concentrações, ao mesmo
tempo em que as bases revolucionárias tornavam-se comparatvamente mais sólidas. Nos territórios
libertados, o poder passava às mãos dos operários, isto é, era exercido por sovietes de deputados
operários e camponeses. De acordo com sua essência de classe, esse poder revolucionário
representava uma forma especial da ditadura democrátca do proletariado e do campesinato,
resolvendo os problemas da revolução ant-imperialista e antfeudal. Assim é que, nos territórios onde
se estabeleciam as bases revolucionárias, as terras pertencentes aos latfundiários eram confiscadas
e entregues aos camponeses pobres; as empresas dos capitalistas chineses ficavam em mãos dos
respectvos proprietários; os poderes do povo prestavam ajuda econômica aos empresários médios e

548
pequenos. Com isso, foi limitada a exploração capitalista dos trabalhadores. Nos territórios libertados
foi estabelecido o dia de oito horas de trabalho, os salários foram aumentados, concedidas férias
anuais remuneradas e um dia de descanso semanal. As mulheres foram colocadas em pé de
igualdade com os homens no que se refere aos salários. Um grande esforço era feito no sentdo do
desenvolvimento da instrução pública.”

“Essa polítca de justça econômico-social para com o povo ia concentrando em torno da classe
operária, não somente as mais amplas massas do campesinato, como também a pequena burguesia
urbana.”

“Em 11 de dezembro de 1931, na cidade de Chzhui-Tzin reuniu-se o Primeiro Congresso dos Sovietes,
estando nele representadas todas as bases revolucionárias da China. Esse congresso elegeu um
governo central operário-camponês das regiões libertadas, tendo à frente Mao Tsé-tung.”

“O poder popular na China central e meridional crescia e se fortalecia em meio à encarniçada luta
contra a reação do Kuomintang. No período de 1930/1932, Chiang Kaishek organizou quatro
campanhas contra as regiões libertadas. Entretanto, o Exército Vermelho, com o apoio e a ajuda
generalizada do povo e manobrando com muita habilidade, desbaratou e venceu todas essas
campanhas.”

“Em 1933, o poder popular já controlava um vasto território na China central e meridional com uma
população de cinquenta milhões de habitantes. As fileiras do Exército Vermelho chinês contavam
então trezentos mil combatentes.”

A consolidação da linha correta dentro do PCC, a frmeza do partdo para corrigir seus erros,
colocou frmemente em suas mãos o processo da revolução chinesa, com base na aliança
operário-camponesa e seu exército popular de libertação, o Exército Vermelho chinês. A
direção chinesa soube criar os instrumentos necessários à materialização da vitória popular,
quando tal parecia a muitos, impossível.

Outro exemplo clássico da vitória revolucionária guiada pelo marxismo-leninismo é o da


Iugoslávia. A formação do partdo comunista iugoslavo enfrentou, desde os primeiros
momentos, uma ditadura monárquica sanguinária, cujos prisioneiros polítcos contavam-se
aos milhares e onde os interrogatórios policiais – a exemplo da Alemanha nazista e da
Polônia – costumavam terminar com o “suicídio”, dos presos. É evidente que esta feroz
ditadura não pôde oferecer qualquer resistência à época da invasão nazista, a não ser a fuga
de seus chefes para a Inglaterra.
549
O povo iugoslavo viu-se então escravizado pela máquina de guerra nazista, fornecendo
matérias primas, força de trabalho deportada, recursos estratégicos como minerais, gado,
cereais, etc. Diz Revunenkov:

“Centenas de milhares de sérvios, croatas, eslovenos e montenegrinos foram deportados para a


Alemanha e forçados a trabalhar.”

“As classes governantes traíram o povo iugoslavo. Uma parte da burguesia e dos latfundiários
abandonou o país, unindo-se em torno do governo no exílio, em Londres. As forças armadas desse
governo (os chétniks) lutavam menos contra os ocupantes do que contra os guerrilheiros. Outra parte
das classes exploradoras passou a colaborar com o invasor.”

“Somente o Partdo Comunista permaneceu como fiel defensor dos interesses do povo iugoslavo. Por
sua iniciatva, desenvolveu-se um amplo movimento guerrilheiro no país. Em 1942, à base dos
destacamentos de guerrilheiros, foi criado um exército regular popular libertador, que já então
controlava metade do território iugoslavo. No fim da guerra, esse exército somava uns oitocentos mil
combatentes, completamente adestrados e equipados.”

“Durante a luta nacional-libertadora, criavam-se comitês de libertação nacional, que se consttuíam


em órgãos do poder popular local. Consttuiu-se também o órgão legislatvo superior, a Assembleia
Geral Popular de Libertação Nacional. Em 29 de novembro de 1943, na segunda reunião da
Assembleia Geral, foi organizado o governo provisório da Iugoslávia, sob a chefia de Iósip Broz Tito.
Ao mesmo tempo, ficou resolvido dar organização federatva ao novo Estado Iugoslavo.”

“Os ocupantes nazistas sofreram grandes perdas na Iugoslávia, que se elevavam a quatrocentos e
cinquenta mil soldados e oficiais, mortos nos campos de batalha.”

“Em maio de 1945, a Iugoslávia ficou completamente livre das tropas fascistas. Essa vitória, porém,
custara, ao povo iugoslavo, enormes sacrifcios: um milhão e setecentos mil homens (11% da
população) pereceram na luta pela independência de sua pátria.”

“O exército da União Soviétca desempenhou também um grande papel na libertação da Iugoslávia


dos ocupantes estrangeiros.”

Como se vê, a experiência da revolução russa foi útl também aos povos da Iugoslávia para
organizar sua resistência, criar insttuições capazes de expulsar o invasor e retomar
livremente o processo de reconstrução de uma pátria livre, segundo o seu próprio
entendimento e suas próprias regras. Diz Revunenkov:

550
“Terminada a guerra, começou a desenvolver-se na Iugoslávia um processo acelerado de
reconstrução. Foram erigidas e instaladas cerca de 200 empresas industriais. No processo de
edificação da economia socialista da Iugoslávia desempenhou um grande papel a ajuda da União
Soviétca e de outros países do campo socialista. A Iugoslávia importava da URSS e dos países
europeus de democracia popular muita maquinaria e mercadorias. Entretanto, em decorrência das
ações criminosas do agente do imperialismo internacional, Béria, as relações fraternais mútuas entre
a URSS e a Iugoslávia foram perturbadas, em 1948. A Iugoslávia, isolada do campo socialista,
mergulhou numa situação muito grave, da qual procuraram trar partdo, os imperialistas norte-
americanos, tentando fazer degenerar o regime democrátco-popular e a restauração do capitalismo
no país. O povo iugoslavo soube, porém, nesse momento difcil, conservar a independência de seu
país. Em 1953, por iniciatva do comitê central do Partdo Comunista e do governo da União Soviétca,
as relações soviétco-iugoslavas começaram a melhorar. Em 1955, realizaram-se na cidade de
Belgrado negociações das delegações dos dois governos, no sentdo da criação de uma sólida base
para a consolidação da amizade entre os dois povos.”

“Após a libertação do país, realizou-se a reforma agrária, sendo confiscados mais de um milhão e
meio de hectares de terras dos latfundiários, dos monastérios e dos colaboracionistas. Mais de
metade das terras confiscadas foi entregue aos guerrilheiros, aos inválidos de guerra, aos
camponeses sem-terra e aos que dispunham apenas de pequenas áreas. O resto da terra foi
declarado propriedade do Estado.”

“Em 1946, foi decretada a nacionalização da indústria. Os recursos naturais, as fontes de energia, a
média e a grande indústria, os bancos, os meios de comunicação converteram-se em propriedade do
Estado. O comércio exterior passou também para o controle do Estado. As concessões estrangeiras,
que dominavam mais de metade da indústria iugoslava, foram abolidas. Assim, noventa por cento do
total da indústria passaram para as mãos do Estado.”

“Com a efetvação dessas medidas, o povo iugoslavo criou as premissas materiais e polítcas para a
construção das bases do socialismo no país.”

Diante do avanço das lutas dos trabalhadores em dezenas de países, com crescente
capacidade para derrotar a cara fascista dos regimes podres em que viviam, pratcamente
com as liberdades públicas canceladas, fez-se evidente a importânncia de elaborar uma
estratégia correta de luta e uma tátca capaz de corresponder ao quadro real das forças
existentes. Entender o aspecto principal da contradição principal, ao escolher combater as
forças fascistas no governo e no poder, ao escolher combater contra os exércitos fascistas

551
invasores e não apontar o golpe principal da ação revolucionária contra a burguesia local
como um todo. A compreensão correta do caráter democrátco da luta levou à derrota do
nazifascismo e muitas vezes à tomada do poder pelas forças da democracia e do socialismo.
E quando isso não foi possível? Quase sempre não foi outra a causa que a intervenção das
forças imperialistas britânnicas e norte-americanas, que correram para salvar as burguesias
que haviam colaborado ou partcipado da fascistzação e da ocupação estrangeira em tais
países. Diz Revunenkov:

“Após a terminação da guerra, os trabalhadores da Itália começaram a luta pela democratzação da


vida polítca do país. Essa luta, porém realizou-se em meio das condições criadas pela ocupação
anglo-norte-americana. O partdo da burguesia italiana, que ocupava a direção do governo, era o
democrata-cristão, que contava com o apoio dos exércitos anglo-norte-americanos.”

“Os elementos democrátcos agrupavam-se em torno dos partdos comunista e socialista, entre os
quais foi firmado um novo acordo sobre a unidade de ação.”

“Em junho de 1946, as forças democrátcas proclamaram a República na Itália. Em correspondência


com os resultados das eleições à Assembleia Consttuinte, formou-se um governo encabeçado pelo
líder democrata-cristão De Gasperi, e com a partcipação de comunistas e socialistas. Por iniciatva
dos comunistas, foi aprovada a lei que dispunha sobre a entrega das terras não cultvadas aos
camponeses necessitados delas ou aos que as possuíam em quantdade muito pequena; também
foram melhoradas as condições de arrendamento para os camponeses arrendatários. Em fevereiro de
1947, foi assinado o tratado de paz com a Itália, que assegurava a sua soberania. Os exércitos de
ocupação deviam, segundo aquele tratado, retrar-se do país.”

“Dentro em breve, reacionários italianos, estmulados e açulados pelos imperialistas anglo-norte-


americanos, passaram à ofensiva. Em maio de 1947, os comunistas e os socialistas foram eliminados
do governo.”

“Em dezembro desse mesmo ano, foi aprovada a nova Consttuição da Itália, de caráter
democrátco-burguês. De acordo com aquela Consttuição o poder legislatvo era dividido entre duas
câmaras: a Câmara dos Deputados e o Senado. O presidente era eleito pelo período de sete anos,
pelas duas câmaras. Na Consttuição tveram expressão, algumas exigências das massas populares;
direito ao trabalho, necessidade da reforma agrária e da nacionalização parcial da indústria.”

552
“Os imperialistas norte-americanos, que arquitetam planos de conquista e de domínio mundial,
começaram, no período do após-guerra, a gravar artficialmente a situação internacional e a infundir
aos povos a ideia da inevitabilidade de uma nova guerra.”

“Em março de 1947, o presidente Harry Truman, dos Estados Unidos, propôs ao Congresso de seu
país prestar ajuda militar à Turquia e à Grécia, as quais – segundo ele – estavam ameaçadas pelos
países do campo socialista. Nesse sentdo, os Estados Unidos puseram à disposição desses dois países
a soma de quatrocentos milhões de dólares. O programa formulado por Truman significava um apelo
aberto à preparação de uma guerra contra a União Soviétca e os países da democracia popular;
previa uma ampla intervenção dos Estados Unidos nos assuntos internos de outros países; esse
programa recebeu o nome de ‘doutrina Truman’.”

“O passo seguinte da agressiva polítca exterior dos Estados Unidos foi a proclamação do Plano
Marshall. Em junho de 1947, os Estados Unidos declararam, pelo seu secretário de Estado, Marshall,
que prestariam a ajuda aos países europeus, para a restauração de suas economias. A URSS
desmascarou os objetvos reais do Plano Marshall, mediante o qual os Estados Unidos queriam criar
uma base econômica para organizar um bloco militar contra os países do campo socialista. A União
Soviétca e os países da democracia popular negaram-se a partcipar do Plano Marshall, porém,
dezesseis países europeus aceitaram a “ajuda” norte-americana. Os Estados Unidos aproveitaram o
Plano Marshall a fim de se imiscuir nos assuntos internos de alguns países europeus, arrastá-los e
incorporá-los a alianças militares. Uma parte considerável dessa “ajuda” foi recebida pela República
Federal Alemã.”

“O Plano Marshall atuou durante os anos de 1948/1951, sendo em seguida substtuído pelo
programa de “segurança mútua contra o perigo”. De ano para ano, a “ajuda” econômica diminuía,
aumentando, porém, de maneira cada vez maior, o fornecimento de armas aos países dependentes
dos Estados Unidos.”

6 – Conclusão.

Aprendemos nesta aula 12, algo sobre o caráter da revolução brasileira. Compreendemos as
categorias da contnuidade e da ruptura como característcas que expressam o mundo
objetvo e que, portanto também se manifestam nos fenômenos sociais. Aprendemos que as
contradições fundamentais se colocam objetvamente nos processos, cabendo à noção
subjetva defnir como elas se expressam como tarefas da etapa da revolução, desde um
ponto de vista de classe.

553
Pudemos a partr daí entender como uma contradição fundamental se expressa, no plano
da relação de forças em presença, como contradição principal, ou seja, aquela que tem que
ser resolvida para dar passo às transformações revolucionárias. Com isso, entendemos o
conceito de inimigo principal, que não deve ser entendido como todos os inimigos sociais do
povo trabalhador. O marxismo-leninismo propõe resolver uma contradição por vez, no plano
polítco, adotando a teoria da principalidade na transformação dos fenômenos. O inimigo
principal só pode ser entendido se entendemos o aspecto principal da contradição principal,
que se manifesta no plano da ação polítca. Sem conhecer a teoria marxista-leninista da
hierarquia das contradições, um aprendiz do marxismo entende de revolução quase o
mesmo que um ideólogo da burguesia. Assim, ao compreendermos a interdependência das
contradições, pudemos também compreender a possibilidade de transformação da
revolução nacional e democrátca em revolução socialista.

Perguntas.
1. Que entende por revolução democrátca?
2. Que entende por revolução socialista?
3. Que entende por “hierarquia das contradições sociais”,?
4. Que é contradição fundamental?
5. Que é contradição principal?
6. Que signifca aspecto principal da contradição?
7. Que entende por “relação de forças”,?
8. Que entende por plano do quadro de correlação de forças?
9. Por que Lênine fundou as ciências marxistas da Polítca e da Organização?
10. Qual o papel da “guarda vermelha”, na transformação da etapa da revolução?

554
Aula 13

555
13 – A Frente Única Nacionalista e Democrátca.

Num país atrasado, os monopólios locais que controlam a economia são todos de caráter
comercial e quase sempre têm força, sozinhos, para dominar o governo local e a sua polítca.
Para tal, se unem a outras forças partdárias do atraso, no caso do Brasil, os monopólios
estrangeiros e o latfúndio. Essa aliança de bancos, empresa imperialista e latfundiários e
seus agentes formam camarilhas que se instalam no poder então, governando a ferro e fogo.
Não toleram oposição democrátca ou programátca, criminalizando sempre seus
adversários, valendo-se do nepotsmo no controle do poder e de leis distorcidas e corruptas.
Quase sempre ao se examinar a consttuição ou o sistema de leis desses países atrasados,
verifcam-se ali inscritos costumes perversos, preceitos medievais, que buscam eternizar o
passado e restaurar-lhe politcamente as forças. Trata-se de um tônico que as elites usam
contra o povo. Com base nesses sistemas legais passadistas e até imorais, as classes
dominantes exercem o seu poder. Um exemplo desses absurdos foi a cassação da legalidade
do PCB (07-05-1947).

O tpo de Estado que controla um país atrasado raramente tem natureza democrátca.
Controlado por uma fração burguesa dependente do exterior, a maioria de seus quadros vem
do latfúndio, sendo elementos desprovidos de educação e de espírito patriótco ou
democrátco. Em virtude da natureza de tal Estado e dos governos que o dirigem, ocorre a
aberração de que mesmo, setores da burguesia, partcularmente a burguesia nova, que surge
do crescimento econômico, veja-se excluída dos esquemas do poder, ou da possibilidade
legal de chegar ao poder. Veja-se o caso da derrubada de Vargas (1954), ou das três
tentatvas de golpe contra JK.

556
No entanto, num estado democrátco burguês normal, os grupos mais infuentes têm a
oportunidade de formar alianças e disputar – via processo eleitoral – o controle dos
governos, dando-se ora o revezamento de grupos no poder, ora até mesmo a infuência da
pequena burguesia e de setores de trabalhadores. No caso dos países atrasados, a hipótese
de alternânncia no poder degenera inevitavelmente em golpes de estado, tornando-se o
“regime democrátco”, fraco, uma peça de fachada e excluídas as forças que expressam a
industrialização ou o desenvolvimento econômico. Este fato leva a fraturas no poder das
classes dominantes, formando-se quase sempre o bloco de uma burguesia nacional,
representada politcamente por elementos pequeno-burgueses radicalizados e empresários
descontentes, da área local do capital industrial. A burguesia nacional, nos países atrasados,
desempenha um papel ant-imperialista, embora historicamente seja criatura da expansão
imperialista, formada sob as condições coloniais ou neocoloniais. A brecha no sistema que
sua existência representa não pode ser deixada de lado pela organização do movimento
popular.

Em virtude do caráter destruidor das contradições no sistema capitalista, à burguesia


nacional não está destnada uma sorte melhor que seu desaparecimento – periódico ou não
– nas condições de uma derrota polítca de grande envergadura. Alguns teóricos marxistas
argumentam que - mesmo sob a ditadura dos monopólios – a burguesia nacional se faz e
refaz periodicamente, como expressão das necessidades de expansão de capital industrial
local, cujos bens não podem ser todos importados. Outros teóricos marxistas acreditam ser –
pelo desenvolvimento da integração imperialista – cada vez menor o espaço para a
reprodução dos Estados nacionais no futuro e, consequentemente, a possibilidade de existr
ou sobreviver burguesias nacionais nos países atrasados.

Seja como for, ela no momento é um dado da história do Brasil que se estende por 120
anos, e que talvez não deseje perecer como classe. Desde a crise de 1929-32, a burguesia
nacional tem se saído com bastante êxito e não contribui para a luta popular esquecer seus
elementos dirigentes ou tentar ignorar-lhes o jogo polítco pelo poder.

Na medida em que avança a organização do movimento operário e o mesmo contribui para


o crescimento de um novo movimento camponês, o debate fraternal e as alianças polítcas e
eleitorais com quadros da burguesia nacional também têm avançado. O desespero da reação

557
pró-imperialista diante dessa nova frente de alianças indica o acerto que ela representa e seu
potencial de mobilização e de organização. Como ensina o nosso partdo:

“ – À medida que se agravam as contradições da economia brasileira, a acumulação capitalista é


também agravada pela espoliação imperialista e pela estrutura latfundiária da agricultura.

- Um dos principais resultados do desenvolvimento econômico do País em que predomina o


latfúndio e o reforço do parasitsmo social e o enriquecimento exagerado dos latfundiários.

- A intervenção estatal na economia brasileira se realiza sempre em benefcio do imperialismo e do


latfúndio.

- A infação crônica alarma as classes dominantes que procuram uma saída à custa do sacrifcio dos
trabalhadores.

- A exploração capitalista faz-se sentr, de modo constante, sobre o conjunto da classe operária.

- Acentuaram-se também com o desenvolvimento capitalista as desigualdades regionais.

- O agravamento das contradições e os sintomas da desagregação dos aparelhos do Estado fazem


sentr a necessidade de reformas profundas.

- Os comunistas tveram destacado papel nas últmas crises polítcas, consttuindo fator de
aglutnação da frente única.

- Apesar do avanço, a frente única não foi suficientemente poderosa para mudar a correlação das
forças e impor uma derrota à reação.

- As forças reacionárias vêm sendo derrotadas, mas conservam posições importantes e as utlizam
para intensificar a sua atvidade antnacional.

- Os comunistas consideram como objetvo tátco principal a conquista das reformas de base e do
governo nacionalista e democrátco capaz de realizá-las.

- Os comunistas devem realizar uma polítca de frente única com a burguesia nacional, fortalecendo
o campo nacionalista e democrátco, atraindo os setores neutros e vacilantes, para golpear
decisivamente o adversário.

- A formação de um governo nacionalista e democrátco pode ocorrer como resultado da ação das
massas populares.

- A frente nacionalista e democrátca dispõe de condições para infuir decisivamente no processo


eleitoral.”

Apesar das difculdades e dos vaivéns da luta polítca atual, o partdo chama todas as forças
democrátcas a melhorar a sua partcipação na frente única. O partdo está certo que é
possível avançar:

“ - A revolução brasileira é parte da revolução internacional.

558
- O desenvolvimento capitalista aprofundou as contradições brasileiras que se entrelaçam.

- A hegemonia do proletariado só adquire força quando forma e consolida a aliança operário-


camponesa.

- O caminho pacífico, oportuno nas mais variadas formas de luta, exige que se chegue, em certas
circunstâncias, a choques violentos com a reação.

- O caminho da luta armada não deve ser compreendido como ponto da conspiração de pequenos
grupos, porém, como resultado de experiência polítca das massas.

- A luta pelas reformas de base permite aos comunistas aprofundar as contradições, ganhar
posições e propiciar a implantação de um governo nacionalista e democrátco.

- Após realizadas as tarefas da fase ant-imperialista e antfeudal, a revolução brasileira passará


para a fase das transformações socialistas.”

A defesa aberta de nosso programa mínimo e de nossa compreensão do processo da frente


única oferece um amplo debate sobre o caminho necessário à solução dos confitos atuais.
Diz o partdo:

“A fim de derrotar o inimigo comum é necessária a frente única das várias forças interessadas na
emancipação e no progresso do Brasil. A aliança dessas forças resulta da exigência da própria
situação objetva.”

O partdo, portanto, defende um programa de amplas reformas de base, que permite a


reestruturação do país, com a colocação do mesmo na rota do desenvolvimento econômico
e social, com o combate às desigualdades regionais, em que umas regiões têm mais
oportunidades do que outras etc. Os brasileiros devem vir a ser tratados como são, um único
povo e um povo único. Não é possível contnuar o processo de crescimento econômico que
ignore a estrutura social e não se oriente pelo conjunto de interesses em pauta. O debate
contnuado dentro da frente única tem sido importante para consolidar a proposta de um
poder nacional para o desenvolvimento nacional. Diz o partdo:

“ – Os objetvos da revolução brasileira, na sua fase atual, serão alcançados quando o poder estatal
passar para as mãos das forças revolucionárias ant-imperialistas e antfeudais sob a direção da
classe operária.

- Os comunistas lutam pela reforma radical nos seguintes setores:

- sistema cambial;
- comércio externo;
- capital estrangeiro;
- finanças e tributos;
- sistema bancário;

559
- transportes.
- Os comunistas lutam por uma reforma agrária radical cujo objetvo é eliminar o latfúndio e
fortalecer a economia camponesa.

- Há necessidade de levar a efeito um programa para sanar as desigualdades regionais no


desenvolvimento econômico.

- Devem ser realizadas profundas reformas nas insttuições polítcas e na legislação.

- Essas reformas são inseparáveis da elevação do nível de vida das massas trabalhadoras.

- A reforma urbana é outro objetvo dos comunistas.”

É de memória recente que o presidente Jânnio resolveu jogar no colo dos trabalhadores e
dos pobres o peso das difculdades cambiais com a chamada instrução 204 da SUMOC. Em
julho do ano passado, seu Ministro da Fazenda, Clemente Mariani, resolveu “desapertar a
tarraxa”, da 204 com a instrução 208, que alterava a necessidade de depósito para
fechamento de contrato de cânmbio. Ou seja, na prátca, só os trabalhadores e os pobres
restavam como “últma fonte pagadora”, do sistema. No entanto, embora Jânnio esperasse
uma “retribuição”, da burguesia no Congresso, aprovando seu “pacote”, de medidas (lei
anttruste, lei da remessa de lucros para o exterior, reforma de códigos, reforma do imposto
de renda), o que obteve foi a mais desatada oposição ao “pacote”,, que já havia negociado. A
resposta foi a CONCLAP (Conselho Superior das Classes Produtoras) enviar-lhe o texto
(tornado secreto) de uma diretriz econômico-fnanceira que ele (Jânnio) deveria seguir... O
documento dizia-se, falava em “saneamento dos costumes polítcos”,, revisão das despesas
governamentais, e até na possibilidade de “um ataque”, à nova ordem ali proposta... Esta é a
mentalidade das classes dominantes locais, que julgam não haver outro entendimento ou
interesse no país senão o delas próprias... Aliás, as únicas classes e camadas a entenderem o
que é certo e o que é errôneo no país... Diz-se que no documento secreto o governo foi
tachado de “tendência totalitária estatal de controle das atvidades privadas”,... Estaria se
referindo à reforma do imposto de renda?

O presidente Jânnio Quadros certamente se surpreendeu da inefcácia executva de seu


método de colocar-se acima das classes e dos programas de classes e de frentes de classe,
para fazer-se porta-voz de promessas obscuras, capazes de serem lidas da direita para a
esquerda e da esquerda para a direita... O espertnho e demagogo elegeu-se presidente, mas

560
a questão é a que forças ele poderia servir, apoiado onde se apoiou. A sua ideia de jogar com
o apoio da burguesia nacional e das massas populares ao arbítrio de suas próprias escolhas
logo se revelaria fraco. Os seus “amigos da véspera”, não queriam a adoção de pontos
nacionalistas na prátca do programa secreto de governo. Muitos supunham que a CONCLAP
ainda teria pruridos de enfrentar o presidente nos primeiros dois meses de governo. Tal não
se deu. Jânnio foi afrontado logo a partda com a “diretriz”, do “empresariado”,. Sim,
“empresariado”, porque estes senhores só representam seus próprios grupos econômicos e o
triste hábito de devorar sozinhos os recursos de que dispõe o país. A média burguesia
industrial, eles não representam nem querem representar. Representar talvez a cúpula de
seus próprios empregados, que por certo se benefcia dos lucros que os membros da cabeça
da CONCLAP amealham...

Onde foram – para a CONCLAP – parar as propostas de reforma, saídas da caneta do Sr.
Jânnio?

Certamente, na lata do lixo... Para ela, a entdade, não se fala em reforma agrária, em
limitação de remessas de lucros, em lei anttruste, em reforma urbana, em partcipação dos
empregados no lucro das empresas, etc. Todas tais propostas devem ser tratadas como
meras iscas eleitorais para pescar votos e, como tal, devem logo ser esquecidas... No ato, a
resposta de Jânnio, foi dada e fcou conhecida, marcando certamente o fm de seu potencial
governo. Ele disse, segundo a imprensa:

“Quando assumi a Presidência, este país era o caos. Não estou usando uma figura, uma imagem
literária. Encontrei um caos econômico, um caos financeiro, um caos administratvo. Tenho de aplicar
medidas drástcas e ásperas, a fim de conduzir este país à sanidade. São-me indiferentes os aplausos
e os apupos. Os senhores compreendem: aos 44 anos, atngi a Presidência da República, máximo a
que um homem poderia aspirar. Agora, minha única ambição é a de servir, apenas a de servir, e de
servir bem.”

“Homens poderosos já me procuraram para expressar sua dessatsfação com o meu governo.
Expliquei-lhes que só haveria dois meios de tolher os meus passos: depor-me ou assassinar-me, o que
não me parece fácil. Só venceremos o caos, só alcançaremos a sanidade, com o sacrifcio de todos. Ou
juntamos todas as nossas forças ou acabaremos perecendo todos juntos. Os sacrifcios terão de ser
distribuídos proporcionalmente. Os que têm maior capacidade se sacrificarão mais, os que têm
menor, se sacrificarão menos. Medidas iminentes serão adotadas, impondo esses sacrifcios. Se os

561
senhores me apoiarem, ser-me-á fácil levar a bom termo a tarefa de sanidade nacional. Se os
senhores não me apoiarem, provavelmente falharei, mas desconfio que não falharei sozinho, porque
outros terão falhado também.”

“Sou um defensor da livre iniciatva, e só transijo com a intervenção do Estado nos casos ligados à
segurança nacional e às necessidades do desenvolvimento. Recomendem os senhores aos seus
companheiros da produção e do comércio a maior prudência com relação aos preços dos gêneros de
primeira necessidade, como meio indispensável de defesa da livre iniciatva. Será suprimido o
controle de preços. Mas registrarei os preços dos gêneros de primeira necessidade no dia em que
acabar a COFAP, e compararei seu nível com aquele que ocorrer posteriormente. Se os resultados
forem desfavoráveis, terei de adotar medidas para corrigi-los e, se necessário, irei às últmas
consequências.”

“O receio do dia de amanhã exerce efeitos altamente perturbadores sobre a vida do País. Leva cada
um a se jogar contra o outro, na expectatva de melhor se garantr para o futuro. Urge extnguir esse
receio, a fim de que se estabeleça entre todos o clima de compreensão indispensável ao progresso
nacional. Neste país imenso, com tantas coisas a fazer, é necessário valorizar o trabalho manual e o
trabalho intelectual. Em países como a Índia, a China, o Egito, as duas Alemanhas, a Rússia e os
Estados Unidos, trabalha-se de sol a sol. Só com o trabalho árduo e intenso será possível realizar o
engrandecimento nacional. Infelizmente, existem entre nós pessoas que não querem trabalhar e
ainda se vangloriam disso. Podem estar certos de que combaterei sem tréguas essa categoria de
gente, até eliminá-la do quadro social brasileiro.”

“Compraremos e venderemos a todos que queiram comprar ou vender a nós. Estudarei o caso do
café, para uma solução de acordo com os verdadeiros interesses do comércio e da produção em
conjunto, que nem sempre coincidem com os do cafeicultor. Ao fim do governo, desejo que o cruzeiro
seja uma moeda forte, respeitada, e não aviltada como está, motvo de vergonha para todos os
brasileiros.”

“Conto com a colaboração dos senhores, para as novas medidas que serão adotadas pelo governo.”

1 – Necessidade objetva da Frente Única.

A experiência histórica da luta popular em numerosos países, principalmente após a


vitoriosa revolução russa, tem demonstrado que as forças polítcas não devem se deixar
isolar, ou não devem lutar isoladas por seus objetvos, umas separadas das outras. A

562
percepção da natureza objetva das contradições permite conhecer quais os objetvos que
são comuns entre as forças que lutam por mudanças. Com base na objetvidade de tais
interesses comuns, e dando prioridade a um cenário onde haja mudanças, as forças
partdárias do que é novo devem se unir sob uma bandeira única, fazendo – é óbvio –
concessões entre si, mas priorizando a mudança. É tolice não se unir para obter um objetvo
com outros que tenham o mesmo objetvo. É infantl não se reunir com outro partdário da
mudança, não estar capaz de estudar uma pauta das mudanças que sejam necessárias e não
adquirir as forças necessárias para promover a mudança. A frente única nasce, portanto, da
necessidade objetva de todo um campo de opinião, as forças populares e seus aliados, que
separados são fracos, mas unidos são fortes. Assim, a frente única é, não só uma tátca geral,
mas o elo de concretzação da arte operacional que une nossas tátcas com nossa estratégia.

Os inimigos do leninismo fazem a maior confusão com aquilo que não entendem e
procuram acusar os leninistas dos erros que eles cometem como não entender o caráter da
revolução nem a arte de como efetuá-la. Infelizmente, a miopia que trazem tem uma base de
classe e pouco se pode fazer para esclarecê-los. A luta democrátca é de enorme amplitude.
Nenhum bloco tem mais interesse no desenvolvimento democrátco da vida social que a
aliança operário-camponesa. Esta base democrátca é bastante forte para incluir outras
classes e camadas, sem o temor do desenvolvimento natural da luta pela hegemonia dentro
da frente única. Para os inimigos da revolução é muito importante impedir a frente única ou
desmoralizar aqueles que dela partcipam.

Assim, o programa mínimo dos comunistas inclui os interesses do capital industrial. Seja sob
as formas pública, privada ou socializada, o capital industrial tem um papel importante à
frente para desenvolver a capacidade de produção nacional, ampliar o número do
proletariado e transformar o campo. Seria tolice ignorar a contribuição potencial que a
burguesia nacional pode dar a um programa de transformação do país. Diz Mao Tsé-Tung:

“A burguesia nacional é de grande importância na etapa atual. Temos ainda pela frente o
imperialista, inimigo muito feroz. A indústria moderna da China representa, entretanto, apenas uma
parte muito pequena da economia nacional... Para fazer frente a opressão imperialista e elevar a sua
economia atrasada a um nível mais alto, a China deve utlizar todos os elementos do capitalismo da
cidade e do campo que sejam benéficos e não prejudiciais à economia nacional e à vida do povo, e

563
devemos unir-nos com a burguesia nacional para uma luta comum. Nossa polítca atual é limitar o
capitalismo, e não destruí-lo.”

A cooperação entre forças que tem objetvos comuns implica tanto partdos polítcos, ou
parte deles, como entdades de massa de diferentes naturezas. O amadurecimento de
lideranças e a consttuição de uma base prátca comum faz avançar a frente única de modo
notável, criando condições para tornar suas lideranças cada vez mais consequentes no
processo da luta. Diz a declaração de 1957:

“Apoiando-se na maioria do povo e dando uma réplica decidida aos elementos oportunistas,
incapazes de renunciar à polítca de compromisso com os capitalistas e os latfundiários, a classe
operária tem a possibilidade de levar à derrota as forças reacionárias e antpopulares, conquistar
uma sólida maioria no parlamento, transformar o parlamento de arma, que serve aos interesses de
classe da burguesia, em arma, que sirva ao povo trabalhador, desenvolver uma ampla luta de massas
extraparlamentar, quebrar a resistência das forças reacionárias e criar as condições necessárias para
a realização pacífica da revolução socialista. Tudo isto será possível somente através de amplo e
incessante desenvolvimento da luta de classe dos operários, das massas camponesas e das camadas
médias urbanas contra o grande capital monopolista, contra a reação, por profundas reformas
sociais, pela paz e o socialismo.”

“Nas condições em que as classes exploradoras empregam a violência contra o povo, é indispensável
ter em vista outra possibilidade – a transição não pacífica para o socialismo. O leninismo ensina e a
experiência histórica confirma que as classes dominantes não entregam o poder voluntariamente. O
grau de exacerbação e as formas de luta de classes nestas condições dependerão não tanto do
proletariado, quando da força de resistência dos círculos reacionários à vontade da esmagadora
maioria do povo, de aplicação da violência por esses círculos nesta ou naquela etapa, da luta pelo
socialismo.”

Quanto mais ampla a partcipação das massas populares, mais seguramente irão os
companheiros consequentes na frente única compreender a natureza das transformações
em curso. Os objetvos comuns à partda se tornam mais claros, e aumenta o
condicionamento mútuo dos resultados a conquistar pela frente comum. A causa popular
não será abandonada, mas sim fortalecida. Como diz a linha do V Congresso:

564
“A fim de derrotar o inimigo comum é necessária a frente única das várias forças interessadas na
emancipação e no progresso do Brasil. A aliança dessas forças resulta da exigência da própria
situação objetva.”

Quando as condições objetvas permitem criar uma concepção comum da luta que se deve
travar, a prátca de tal luta se refete, aumentando a compreensão daquelas condições
objetvas, e permitem conhecer o processo de seu desdobramento, avançando-se ainda
mais. A experiência de luta, quando da derrubada pela direita do governo legal de Jânnio, é
disso clara demonstração. Diz o partdo sobre a Frente da Libertação Nacional:

“Com a criação da Frente da Libertação Nacional foram dados os passos para a unificação das
forças interessadas no progresso e na emancipação do país. Entretanto, os esforços para a
organização da FLN, em grande parte, vêm sendo realizados quase exclusivamente na cúpula e não
encontramos correspondência em uma ação efetva para organizá-lo no seio das massas. A aplicação
das resoluções do Encontro de Libertação Nacional deve conduzir à organização de ações ant-
imperialistas e ao fortalecimento da unidade de todos os patriotas e democratas.”

O nosso partdo considera que uma boa coordenação da polítca de frentes é o elemento
essencial para assegurar a luta pelo centro tátco do número crescente de organizações de
frente única. A polítca fundamental necessária ao êxito das organizações populares é a
manutenção de seu processo expansivo, através da formação adequada dos quadros que as
implementam, no plano interno. Quanto às atvidades externas, cada organização deve ter a
oportunidade de se destacar na frente de luta, de acordo com seus preceitos, sem violar os
compromissos tátcos de conjunto. Diz a resolução do V Congresso:

“A fim de derrotar o inimigo comum, é necessária a frente única das várias forças interessadas na
emancipação e no progresso do Brasil. A aliança dessas forças resulta de exigências da própria
situação objetva.”

“Como o imperialismo norte-americano e seus agentes internos consttuem o inimigo principal, a


frente única é muito ampla do ponto de vista de sua composição de classe. Pelo conteúdo das
modificações que se propõe introduzir na sociedade brasileira e pela natureza das forças que a
integram, é uma frente nacionalista e democrátca. Na fase atual do processo de sua formação, a
frente única não se apresenta sob a forma de uma organização que abranja todas as forças ant-
imperialistas e democrátcas, nem se propõe ainda a realização completa dos objetvos
revolucionários. Desenvolve-se na luta por objetvos nacionais e democrátcos de caráter parcial.

565
Manifesta-se em múltplas formas concretas de unidade de ação ou de organização. Entre estas, a
mais importante, atualmente, é o movimento nacionalista.”

“O movimento nacionalista agrupa setores de diversas classes e camadas, atrai entdades, partdos,
correntes e personalidades das mais variadas orientações polítcas na luta por soluções patriótcas
como a defesa do petróleo e de outras riquezas nacionais, o controle e a regulamentação do capital
estrangeiro, a ampliação do intercâmbio com os países socialistas, a proteção à indústria nacional,
assim como por mudanças na polítca e na composição do governo num sentdo nacionalista e
democrátco.”

Vê-se aqui desde logo excluída qualquer intenção de nosso partdo para monopolizar, seja a
condução do processo da luta, seja a interpretação dos objetvos necessários quanto ao
interesse das diferentes partes. A construção conjunta de um trabalho polítco requer a
cooperação de todas as partes interessadas e o exercício da crítca construtva. Os objetvos
hão de ser conquistados um a um, pelo conjunto crescente das forças ant-imperialistas e
democrátcas. Diz a nossa linha polítca:

“Sendo composta de forças sociais diversas, que se unem em torno de interesses comuns, mas
conservam também interesses opostos, a frente nacionalista e democrátca encerra contradições.
Enquanto o proletariado, os camponeses e as massas populares são firmes na luta pela libertação
nacional e pelas transformações democrátcas, a burguesia ligada aos interesses nacionais não tem
firmeza na luta ant-imperialista, tende aos compromissos com o inimigo, e certos setores burgueses
assumem attude vacilante em relação à reforma agrária. Há finalmente, setores de latfundiários e
capitalistas que podem adotar, eventualmente, posições nacionalistas, mas querem conservar a
estrutura agrária atual e preconizam um regime polítco reacionário.”

“A classe operária deve aliar-se à burguesia ligada aos interesses nacionais e a outras forças, e,
simultaneamente, lutar contra as tendências conciliatórias e antdemocrátcas que nelas se
manifestam. Ao mesmo tempo em que pugna pela causa comum, contra a espoliação imperialista
norte-americana, o proletariado precisa defender seus interesses específicos e os das massas
trabalhadoras e populares, desenvolver a luta de classes contra os exploradores da cidade e do
campo e bater-se por amplas liberdades democrátcas que facilitem a ação independente das massas,
objetvando desse modo reforçar as posições do setor mais consequente e firme da frente única. O
proletariado necessita fortalecer-se como classe, organizar-se e adquirir consciência revolucionária,
impedir que as vacilações da burguesia atnjam suas fileiras. Para isso, deve salvaguardar dentro da
frente única sua independência ideológica, polítca e organizatva, condição essencial para que possa

566
assumir a hegemonia do movimento e conduzi-lo à realização consequente dos objetvos ant-
imperialistas e democrátcos, criando assim as premissas para a transição ao socialismo.”

“A luta dentro da frente única difere da luta que as forças nacionalistas e democrátcas travam
contra o imperialismo norte-americano e seus agentes internos. Enquanto neste últmo caso o que se
tem em vista é isolar o inimigo comum e destruí-lo, dentro da frente única visamos tornar mais
coesas as forças que lutam por objetvos comuns, motvo por que as contradições de interesses e
divergências de opinião dentro da frente única podem ser enfrentadas sem romper a unidade embora
não devam ser ocultas e venham a causar choques e atritos.”

É, portanto, o caminho da frente única um caminho de lutas e atritos, onde a confança


mútua deve ser pacientemente construída. Como entre as pessoas, que mesmo diferentes
podem se dar muito bem, determinadas classes e camadas podem estudar com cuidado seus
interesses verdadeiros, ajustar os interesses comuns na etapa dada de luta e obter vitórias
que melhoram a posição de cada qual. A confança mútua só pode resultar de um longo
processo de cooperação polítca. Ela não nasce da noite para o dia. Para a sociedade, é
necessário risco e sacrifcios. Diz o V Congresso:

“O movimento ant-imperialista e democrátco no Brasil, em sua fase atual, se ressente de vacilações


e inconsequências porque ainda não assumiu o caráter de um poderoso movimento de massas e à
sua frente se encontram os setores burgueses e pequeno-burgueses. Só poderá adquirir maior vigor e
consequência à medida que a classe operária dele partcipar atvamente e lutar por assumir a sua
vanguarda, em aliança com as massas camponesas e outras camadas populares.”

“À proporção que se aprofunda a luta ant-imperialista e democrátca e se colocam diante da frente


única, objetvos mais radicais, certos setores nacionalistas burgueses se inclinam a uma polítca de
conciliação com o imperialismo e as forças reacionárias. A fim de impulsionar o movimento, as forças
mais consequentes da frente única devem intensificar as ações ant-imperialistas e democrátcas,
imprimir-lhes um caráter cada vez mais firme e denunciar as hesitações dos setores conciliadores.
Para fortalecer e ampliar a frente única, para transformá-la num poderoso movimento de massas, é
necessário desenvolver em seu seio as forças que pugnem, ao lado das soluções nacionalistas, pelas
transformações democrátcas. A par da luta pelos interesses gerais da Nação, é necessário travar a
luta pelos interesses vitais das massas – sobretudo dos operários, dos camponeses e das camadas
médias – como condição essencial para alargar e reforçar as bases da frente única, mediante a
partcipação atva das massas trabalhadoras e populares.”

567
“A classe operária, através de sua vanguarda comunista, não condiciona sua partcipação na frente
única a uma prévia direção do movimento. A hegemonia do proletariado deve ser conquistada como
resultado de um processo de luta árduo e paulatno, durante o qual a classe operária forja sua
unidade, estabelece uma sólida aliança com os camponeses – seu aliado fundamental – e defende
acertadamente os interesses comuns de todas as forças que partcipam da frente única. A direção do
movimento passará às mãos da classe operária, à medida que os elementos conciliadores forem
isolados, como consequência de suas attudes de compromisso em relação ao inimigo, e as massas se
convencerem, por sua própria experiência, de que somente o proletariado, sob a direção do Partdo
Comunista, é capaz de conduzir até o fim a luta pela libertação nacional e pelas transformações
democrátcas.”

No curso dos últmos cinco anos, quando se incrementa o impulso à polítca de frente única,
o partdo e todas as forças suas aliadas tenderam a acumular forças crescentes, indicando o
acerto de sua polítca. No plano da luta sindical, na frente cultural, na luta intelectual, etc., as
forças progressistas ganharam todos os choques importantes ou, quando não o fzeram –
exemplo da adoção do parlamentarismo – resultaram vencedoras no desdobramento tátco.
O avanço vitorioso através de tátcas negatvas demonstrou o acerto geral da polítca do
partdo; diz a linha polítca:

“O desenvolvimento da frente única e de suas ações polítcas de massas exige a consttuição de


coligações ou a realização de acordos com partdos polítcos, diretórios, alas e personalidades desses
partdos para a luta conjunta por reivindicações nacionalistas e populares no âmbito nacional,
estadual e municipal, dentro ou fora dos períodos eleitorais. Estmulando essas iniciatvas e delas
partcipando, os comunistas estão sempre dispostos a marchar ombro a ombro com os elementos e
as alas nacionalistas que existem, em maior ou menor proporção, em todos os partdos polítcos, em
torno de objetvos patriótcos e democrátcos. Devemos ter em vista igualmente acordos polítcos de
caráter duradouro, principalmente com partdos que tenham infuência na classe operária e nas
massas trabalhadoras.”

“Com o desenvolvimento das lutas do povo brasileiro pela libertação nacional e pelas reivindicações
populares, criam-se condições para a formação de um governo de coalizão que represente no Poder
estatal, as forças integrantes da frente nacionalista e democrátca. A luta por soluções positvas e
imediatas para os problemas do povo e a luta por um governo nacionalista e democrátco capaz de
realizá-las, consttuem, do ponto de vista tátco, a tarefa central da classe operária e dos comunistas.”

568
“Esse governo pode ser conquistado dentro dos quadros do atual regime, como resultado da luta de
massas e da mudança na correlação de forças polítcas. Na situação atual do País, um governo
nacionalista e democrátco pode ser formado como consequência da pressão das massas
trabalhadoras e populares e das correntes ant-imperialistas e democrátcas no sentdo de mudar a
polítca e a composição do governo, fortalecendo e ampliando o setor nacionalista nele existente.
Pode ser formado também através da mobilização das massas para alcançar a vitória dos candidatos
nacionalistas e democrátcos nos pleitos eleitorais. E, no caso de tentatvas antdemocrátcas por
parte dos entreguistas e reacionários, um governo nacionalista e democrátco pode surgir da ação
das massas populares, unidas aos setores nacionalistas das forças armadas, do Parlamento e do
governo, com o objetvo de impor ou restabelecer pela força os direitos do povo.”

“As circunstâncias partculares de cada conjuntura polítca é que poderão determinar o caminho
concreto para a formação de um governo nacionalista e democrátco. Além disso, uma orientação
patriótca e popular pode ser realizada por um ou por sucessivos governos que se apoiem na frente
nacionalista e democrátca e seja sua expressão.”

O arco enorme de tarefas despertadas pelo acerto da linha patriótca indica a necessidade
de formação maciça de quadros sobre a marcha, para suprir os diferentes setores e frentes
do elemento humano necessário ao trabalho de construção polítca. O calcanhar de aquiles
de todo o trabalho atual de mobilização polítca é a falta massiva de quadros de todas as
tendências da frente única, para passar do trabalho de mobilização para o trabalho de
organização. O trabalho de massas requer dezenas de milhares de quadros. Como disse o
partdo, na criação da Frente de Libertação Nacional (FLN):

“O povo brasileiro saúda como um fato de enorme significação polítca o lançamento da Frente
Nacional de Libertação que se destna como proclama a Declaração de Goiânia, a unir todos os
patriotas e democratas brasileiros para a luta pela emancipação nacional e a verdadeira democracia
em nosso país.”

“Desde há muitos anos vinha-se impondo, como uma necessidade imperiosa, a estruturação de uma
frente capaz de congregar todos os homens e mulheres que aspiram à independência e ao progresso
de nossa pátria, ao bem-estar e à felicidade de nosso povo. Os comunistas, em partcular, sempre
advertram para essa necessidade e, em nenhum momento, mesmo tendo de enfrentar as piores
violências, calúnias e perseguições, deixaram de dar o melhor de suas forças para que a ideia dessa
unidade se convertesse em fato concreto.”

569
“Os trabalhadores saberão encontrar, sem dúvida, as formas mais adequadas de organizar-se, na
cidade e no campo, a fim de garantr ao movimento nacionalista e democrátco – que ganha agora
enorme impulso, com a criação da FNL – o apoio das massas que o tornará invencível.”

“A declaração da Frente de Libertação Nacional proclama os seguintes fins: defesa das liberdades
democrátcas e da Consttuição, luta pela independência econômica do Brasil, liberdade de comércio
com todos os países e polítca exterior absolutamente independente. A Frente exorta o povo a lutar
pela nacionalização das companhias estrangeiras, como a Light and Power, e a Bond and Share, pela
limitação da remessa de lucros ao estrangeiro, a nacionalização dos depósitos nos bancos
estrangeiros, pela nacionalização das companhias estrangeiras, caráter econômico. É um programa
de solução de problemas brasileiros pelos brasileiros.”

Para manter o extraordinário empuxo que caracteriza atualmente a expansão do


movimento de frente única, faz-se necessário tensionar todas as forças nas polítcas de
recrutamento e de formação de militantes para as organizações nacionalistas e democrátcas
que estão a se criar e a se expandir. É uma tarefa de hércules. Nenhuma das forças
envolvidas no programa da frente única pode, na fase atual, descurar-se de semelhante
tarefa gigantesca no caminho do trabalho de organização.

2 – O Movimento Nacionalista.

A luta polítca no Brasil é camaleônica, com bruscas metamorfoses de parte dos


representantes mais perigosos das classes dominantes que, valendo-se de súbitas mudanças
de cor, procuram confundir os patriotas e os membros da opinião pública menos avisados.
São especialistas em vender “gato por lebre”,, onde reservam para si o papel de “heróis da
pátria”, e para os verdadeiros patriotas o papel de “vende-pátrias”,... A vantagem de uma
polítca de frente única com programa e compromissos permanentes é que deixa
semelhantes “camaleões”, desempregados. Daremos um exemplo da luta contra os
“camaleões”,.

Jânnio Quadros foi à televisão justfcar sua medida absurda da portaria 204, com a reforma
cambial, declarando naquela ocasião que a Petrobrás estava pratcamente falida, e que havia
pedido meio bilhão de cruzeiros ao Banco do Brasil, para pagar compromissos atrasados.
Com o novo modelo cambial, a empresa se recuperaria.

570
Ou seja, enquanto os capitalistas pedem dinheiro para investr aos bancos públicos, uma
empresa pública não pode fazê-lo, sem ser classifcada pelo presidente da república, como
estando “em ruínas”,... As informações de Jânnio vinham de “seu”, presidente da Petrobrás,
Geoníso Barroso, que deixava assim seu antecedente, o general Idálio Sardenberg na “rua da
amargura”,...

No entanto, a “informação”, não correu tão bem assim. Sardenberg divulgou um “manifesto
à nação”,, em que defendeu seu trabalho. Nele dizia:

“ O Excelentssimo Sr. Presidente da República, ao analisar o problema da reforma cambial, em suas


palestras dirigidas à Nação, fez referências à situação da Petrobrás, dando a impressão de que era
precária a situação da Empresa, que estaria mesmo ameaçada de falência.”

“Tendo exercido a presidência da Petrobrás nos dois últmos anos 1959/1960, vejo-me obrigado a
apresentar perante a opinião pública nacional a realidade sobre a Petrobrás, não só no próprio
interesse da Empresa, como no legítmo direito de defesa do meu nome.”

“Após admitr que a intenção do Presidente da República “fosse mostrar que, mantdos congelados
os preços dos seus produtos, quando subiam os de todos os equipamentos e serviços, as rendas
auferidas pela Petrobrás não cresciam na mesma proporção em que se expandia a sua produção”,
dizia o General Idálio Sardenberg que já havia defendido “uma elevação módica dos preços dos
combustveis líquidos” perante o Conselho Nacional do Petróleo. E acentuava: ‘Apesar desta
circunstância, posso afirmar que a Petrobrás não está falida e nem sequer enfrenta dificuldades de
maior monta’.”

Sardenberg em seguida historiou o desenvolvimento da empresa, para prosseguir na defesa


do direito da mesma de obter empréstmo. Ele prosseguiu:

“O adiantamento de 1,5 bilhão: não empana este quadro de desenvolvimento e solidez o fato de
haver a Petrobrás, pretendido realizar uma operação fnanceira junto ao Banco do Brasil, porquanto
um exame do Balanço Geral da Companhia, encerrado a 31 de dezembro de 1960, mostra a
excepcional situação econômica e fnanceira da Empresa.”,

Depositado no Banco do Brasil c/ ágios a utlizar 2,2 bilhões


Adiantamento e financiamentos 1,3 bilhões
Faturas a receber 5,8 bilhões
Valores a receber 0,4 bilhões

571
Em caixa 3,5 bilhões
TOTAL 13,2 bilhees

“Declarava o General Idálio Sardenberg que o empréstmo de 1,5 bilhões de cruzeiros, solicitado ao
Banco do Brasil, se destnava a “cobrir o aumento de capital de giro resultante da formidável
expansão de sua produção, a qual passou, durante o ano de 1960, de 23 milhões de barris de óleo cru
e de 100 mil barris diários para 165 mil barris por dia, exigindo um acréscimo de 3 bilhões de
cruzeiros em seu capital circulante.”

“Ao contrário do que parece – assinalava o ex-presidente da Petrobrás – teriam informado o Sr.
Presidente, não foi essa operação solicitada recentemente ao Banco do Brasil e sim em agosto do ano
transato. Naquela época, aproximando-se a entrada em processo, das ampliações realizadas nas
Refinarias, foi estmado que as operações de compra de matérias-primas, transporte, venda e
pagamento de imposto único, relacionados com o aumento da capacidade das refinarias, exigiriam
uma disponibilidade adicional, cuja mobilização imediata poderia afetar o largo programa de
investmentos altamente rentáveis que se estavam realizando.”

“Para assegurar o máximo de vantagem à Empresa, foi resolvido manter o ritmo dos investmentos e
atender ao incremento do capital de giro mediante duas providências, a saber: - Aumentar a
velocidade de giro do capital por meio de redução do prazo de pagamento das faturas expedidas (o
que foi realizado).”

“Obtenção de adiantamento do Banco do Brasil a ser recebido em parcelas iguais de 500 milhões de
cruzeiros, a ser saldado no prazo de seis meses do recebimento de cada parte, com os recursos
acumulados pela Empresa naquele Banco (o que foi providenciado).”

“Assim esperava – prosseguia o General Idálio – que o Governo, interessado no seu


desenvolvimento, não só concedesse a operação pioneira, que se propunha como mandasse estudar
meios de ampliar o apoio bancário ao movimento comercial da Companhia.”

“A cifra de 1,5 bilhão de cruzeiros impressiona, certamente, a opinião pública, não afeita ao
tamanho das cifras movimentadas pela Petrobrás. Na realidade, porém, essa quanta não representa
senão 3% do faturamento do ano passado e 2% do faturamento previsto, ainda, com os preços
antgos, para o ano corrente.”

“Na condução dos negócios da Petrobrás podem ter tdo erros e sofrido contratempos, que a ambos
estamos sujeitos. Dediquei, entretanto, à Petrobrás, o máximo dos meus esforços compensados pelos

572
sucessos alcançados, os quais superam largamente pequenos erros acaso cometdos e os
contratempos superiores à vontade humana.”

“E concluía o General Idálio Sardenberg:”

“Está a Petrobrás definitvamente consolidada e somente o jogo de infuências estranhas poderá


ameaçá-la.”

“O Manifesto do ex-presidente da Petrobrás teve grande repercussão, pois, na realidade, era um


desmentdo às palavras de Jânio Quadros. No dia 15 de abril, o General Idálio Sardenberg recebeu
ordem de prisão do Comando do I Exército, sendo recolhido ao Forte de Copacabana sob a custódia
do General Waldemar Pio dos Santos, Comandante da Artlharia de Costa. Vinte e quatro horas
depois, os matutnos e vespertnos da Cidade notciavam em manchetes de primeira página.”

Com a prisão do General Sardenberg, não faltou a repercussão na imprensa, nas forças
armadas e no congresso. Alguém – fazendo-se de defensor da Petrobrás – dera uma
informação falsa ao presidente da república, insinuando que um dos objetvos de “reforma
cambial”, era o “custo necessário”, para salvar a Petrobrás. Do discurso do deputado Celso
Brant no congresso, cabe destacar:

“Por que razão, assessores do Sr. Jânio Quadros, que são violentamente contra a Petrobrás, Roberto
Campos, Lucas Lopes, Garrido Torres, Otávio Gouveia de Bulhões, passaram a ser os grandes
patrocinadores, os grandes amigos da Petrobrás? Ora, alguma coisa deve haver nisso. E a razão é
muito simples. Desejavam eles imprimir ao povo brasileiro, e também ao Presidente da República, a
Instrução 204, que só interessa aos grupos opressores americanos e, para contrabalançar o efeito
negatvo, precisavam de alguma coisa popular. Foram, então, buscar a Petrobrás e disseram: vamos
levar o povo brasileiro à miséria para salvar a Petrobrás. Se esses dados oferecidos pelo General
Sardenberg são verdadeiros – contnuava Celso Brant – aqueles que foram fornecidos pela sua
assessoria são mentrosos e quem deveria ser preso não era o General Sardenberg, mas as assessores
de S. Excelência, que mentram para o Sr. Presidente da República, contra os interesses do País.”

Declarou na ocasião o deputado Clemens Sampaio:

“Sardenberg não falou como militar, mas como cidadão que, tendo durante dois anos exercido um
cargo civil de alta responsabilidade, se apressou em prestar contas de sua gestão quando ela foi
posta em causa. Punido não deveria ser o General Sardenberg, mas os assessores de vista curta que
tão mal informaram o Presidente. E o próprio Sr. Jânio Quadros deveria ter cuidado de não fazer,

573
perante a Nação, afirmações tão infundadas e derrotstas, que poderiam abalar a situação de uma
empresa que é um orgulho do Brasil.”

Quem quiser que acredite na “vista curta”,. A polítca do camaleão tem endereço certo.
Finge defender o que quer atacar. Enquanto “defende”,, desmoraliza. O parque industrial do
Brasil, consttuído e em consttuição, é vítma de todo tpo de “defesa”, e ataques, 24 horas
por dia. Os patriotas a serviço do camaleão visam destruí-lo e não se cansam em suas
artmanhas.

O grande instrumento promotor e defensor da industrialização do Brasil é o movimento


nacionalista e democrátco e não os aventureiros de ocasião, que pareciam estar pregando a
ferradura, quando na verdade a estão arrancando. É difcil imaginar um desempenho pior do
que aquela da “assessoria nacionalista”, do Sr. Jânnio, a menos que deixem de considerá-la
como “nacionalista”,. Caso se prefra chamá-la “entreguista”, ou “antpatriótca”,, então o seu
desempenho se revelará “excelente”,...

Também no senado repercutu o “linchamento polítco”, do general Idálio Sardenberg,


conhecido nacionalista, pelo presidente Jânnio e seus assessores. Assim se pronunciou o
senador Barros de Carvalho:

“Quando o Sr. Presidente da República foi à televisão e menosprezou a dignidade do ex-presidente


da Petrobrás, expondo-o aos olhos do povo brasileiro como mau administrador, de administrador
relapso, S. Excelência não ignorava que se referia a um General do Exército Brasileiro. Ao proceder
por essa forma, implicitamente, S. Excelência deixou esse General na obrigação de se defender. É
como se lhe tvesse concedido essa liberdade, tanto mais quanto esse General não se ia defender do
exercício de uma função militar, mas de uma função civil, que o desobrigava de se manter dentro dos
rígidos preceitos da hierarquia militar.”

Ao que acrescentou o senador Caiado de Castro:

“ – O General Idálio Sardenberg, segundo o Regulamento, não podia ter punição pública, pela
primeira falta cometda. Existe, nobre Senador – dirigindo-se a Nogueira da Gama – uma lei que criou
a “Ordem do Mérito Militar”; e o integrante dessa ordem, ao sofrer uma punição, esta deverá ser de
caráter reservado. Ele podia mesmo sofrer pena de 3, 4, 10, 20 ou 30 dias de prisão, porém, não
assista ao Presidente da República o direito de transgredir um dispositvo desse Regulamento, dando
publicidade exagerada à punição que aplicara ao General Sardenberg.”

574
Vê-se, portanto, a rapidez com que devem ser atngidos com o raio do liberalismo todos
aqueles que não se curvam às polítcas do engano, da mistfcação da opinião pública e do
desserviço à causa nacional. Os mesmos assessores – civis e militares – que rapidamente
atropelaram o general Sardenberg seriam aqueles que quatro meses depois iriam depor o Sr.
Jânnio e entregar o país a uma Junta Militar. Ou seja, o Sr. Jânnio só tnha poder quando se
tratava de atacar o movimento nacionalista e democrátco. No entanto, não tnha poder
algum, quando tratou de obter uma reforma seguindo sua própria vontade. O jornal O
Globo, porta-voz da CIA que apoiava logo a deposição de Jânnio, vociferou no episódio do
general Sardenberg:

“O Presidente mandou prender o General Idálio Sardenberg, ex-presidente da Petrobrás. Violência?


De nenhum modo. Trata-se de uma punição disciplinar, pois aquele distnto oficial respondeu ou
pretendeu responder à parte do últmo discurso do Sr. Jânio Quadros, no qual o Presidente critcou a
administração da entdade estatal.”

“Que deveria fazer o General Sardenberg, em defesa da sua administração na Petrobrás, se quisesse
apenas restabelecer a verdade dos algarismos e não ostentar-se contra a autoridade do Presidente?
Uma única coisa: em vez de um Manifesto à Nação (?), incompatvel com sua situação militar, fácil
ter-lhe-ia sido substtuir o espalhafato de um documento polêmico, por uma carta ao Chefe da Nação,
contendo todas as suas razões discrepantes, e rematando pelo pedido de licença para divulgar a
carta pelos jornais.”

3 – A Importância da Unidade de Ação.

Nos últmos dez anos, o nosso partdo construiu ou reconstruiu 2.300 comitês de
trabalhadores em unidades produtvas, sendo a maioria deles comitês de fábrica. Organizou
450 associações de camponeses, sindicatos rurais ou núcleos de sem-terra. Todo esse esforço
e enorme trabalho é absolutamente insufciente para levar as bandeiras que correspondem a
toda a aliança operário-camponesa. Os comitês de base, como os comitês de fábrica, têm
por fnalidade fazer viver o sindicato ou associação respectva ali onde a massa vive e
trabalha. O trabalho de tais comitês é indispensável para (1) mover a classe na defesa de
seus interesses e (2) construir a unidade de ação – categorial, setorial ou de toda a classe –
como um movimento único.

575
Nosso partdo promove a unidade de todo o sistema de representação sindical ou de classe,
independentemente de força que exerça a liderança nesta ou naquela entdade. O partdo
faz questão de construir o programa unitário de cada unidade de trabalhadores, a partr das
reivindicações mais simples e ali mais sentdas. De nada adiantará promover um programa
avançado no local e não obter a unidade do movimento que ali se dá.

O esforço do trabalho tátco visa promover camadas sucessivas de organização unitária


desde a base mais ampla, até os órgãos de cúpula. Cada processo local de construção de um
programa unitário de ação funciona como um tjolo de um trabalho de construção muito
maior.

A construção da unidade desde a base é a tátca de organização que se consttui o miolo de


nosso trabalho polítco de massas. Em todas as frentes e em todas as direções em que o
trabalho se vê consttuído, a unidade polítca desde a base é o seu centro. Como se pode
proceder para construir um movimento unitário em escala de milhares ou até milhões de
pessoas? O segredo está no grau de educação polítca do militante do partdo e na
capacidade que ele aprende a desenvolver para transmitr às massas, no curso do trabalho
polítco, a capacidade de organizar, a paciência para persistr e a tenacidade para levar a cabo
cada tarefa deliberada.

Cada camada de trabalhadores organizada é unitária: ela tem um aspecto principal, a


unidade que volta contra seus inimigos de classe. A unidade intermédia se baseia na unidade
da base, subindo por toda a pirânmide centralizada até a cúpula. A tátca do inimigo nunca
pode colher o movimento do trabalhador desunido, ou sem unidade programátca. O
princípio de frente do marxismo-leninismo é a compacidade monolítca. Esta compacidade
só pode ser obtda quando a arte polítca de direção local do partdo obtver o máximo de
concentração de massa possível em cada pequeno choque de desgaste das ações
reacionárias ali tramadas. O partdo local deve ter a habilidade de criar uma superioridade
decisiva no seio das massas, pela defesa correta do programa mínimo de base, estabelecido
pela própria massa local.

Em cada situação local, também deve o partdo prestar ajuda às forças aliadas na frente
única, ajudando na análise das situações, fornecendo informação polítca, colocando os
meios de que eventualmente disponha a serviço de toda a frente única e não exclusivamente

576
para si próprio. Deve ajudar a formação de organismos e direções da frente única, pelos
aliados de outras tendências.

É preciso lembrar-se de que se está na luta para organizar dezenas de milhões e tais tarefas
não se fazem sozinhas. O impulso inicial formador de cada ação polítca deve ser mantdo, e
a luta contra o inimigo deve ser travada em cada local com toda determinação, de outro
modo irá ele recuperar a iniciatva. Não há consolidação sem desenvolver o ímpeto da ação,
sem o apoio da massa, sem sustentar no local a forma necessária do golpe principal. Para
chegar a consolidar a posição da frente única em dada frente, faz-se mister agrupar ali todas
as forças que se podem mobilizar, submetendo o inimigo a um desgaste absoluto, no plano
polítco: cada objetvo parcial local do movimento de massas deve ser obtdo na luta que se
trava. Ensinou Lênine:

“A conquista do Poder polítco pelo proletariado é um progresso gigantesco deste últmo


considerado como classe; e o Partdo se encontra na obrigação de consagrar-se mais, de um modo
novo e não por métodos antgos, à educação dos sindicatos, a dirigi-los, sem esquecer, entretanto,
que esses sindicatos são e serão entretanto, durante muito tempo uma “escola de comunismo”
necessária, a escola preparatória dos proletários para a realização de sua ditadura, a associação
indispensável dos trabalhadores para o passo progressivo da direção de toda a economia do País,
primeiro nas mãos da classe operária (e não de profissões isoladas) e depois nas mãos de todos os
trabalhadores.”

Não se pode chegar à conquista do poder polítco sem ampla educação polítca na prátca. É
de cada reivindicação levada a cabo, de cada fato da luta econômica, de cada fato da luta
polítca e do conjunto de todo o movimento que a aliança operário-camponesa se torna um
fator de poder. É somente como uma força que planeja ações polítcas quotdianas e as
conduz que a classe operária irá se habilitar para a conquista do poder. Diz nossa linha
polítca:

“A unidade da classe operária é condição básica para que ela possa desempenhar o papel dirigente
no movimento ant-imperialista e democrátco. Esta unidade se processa, fundamentalmente, através
do movimento sindical, em cujas fileiras se associam os trabalhadores para a luta por suas
reivindicações econômicas e sociais. Os sindicatos e demais organizações profissionais não devem
servir a objetvos que dividam os operários, mas consttuir todas as tendências ideológicas e polítcas

577
que atuam no movimento sindical e dos trabalhadores ainda desorganizados e sem filiação
partdária, que consttuem a maioria.”

Portanto, é a unidade da classe trabalhadora que deve ser obtda no dia a dia de sua luta
econômica e polítca. Este é o ponto de onde nasce tudo, a fonte de todos os acertos.

Prossegue a linha do partdo:

“A fim de obter a unidade de ação, é necessário utlizar as conquistas da legislação social vigente e
procurar concretzá-la e aperfeiçoá-la, infuindo sobre o parlamento com a pressão de massas para
conseguir a aprovação de novas leis. Os comunistas atuam na organização sindical existente e
utlizam a Consolidação das Leis do Trabalho, procurando unir e organizar os trabalhadores na luta
por suas reivindicações.”

“A unidade só terá bases sólidas e duradouras se o movimento sindical contar com a partcipação
atva das massas trabalhadoras, se não for um movimento apenas de cúpula. A organização dos
trabalhadores nos próprios locais de trabalho, nas empresas, é o passo decisivo para estreitar os
laços entre os sindicatos e a massa de associados, bem como para organizar as massas ainda não
sindicalizadas. Uma preocupação constante deve ser também a organização sindical das categorias
de trabalhadores ainda desorganizados.”

“O movimento sindical se desenvolve à medida que se fortalece a unidade de ação dos


trabalhadores nos sindicatos, federações e confederações. Devido à inexistência de uma estrutura
sindical de tpo horizontal, os pactos, conselhos e outras formas de acordo intersindicais
desempenham importante papel, na coordenação das lutas do proletariado. Tais formas de acordo
intersindicais não podem, porém, ser colocados em contraposição à atual estrutura sindical existente
no país, nem servir de pretexto para desviar o movimento sindical dos sindicatos e federações
confederações. Ao contrário, os pactos intersindicais, para cumprir plenamente seu papel unitário,
devem contribuir, sem qualquer exclusivismo, para que sejam encontradas as formas de organização
que permitam coordenar melhor o movimento operário dentro da estrutura sindical legal. Atuando
nos quadros dessa estrutura, o proletariado vem criando formas intersindicais de organização e, no
curso de suas lutas, conseguirá aperfeiçoar a estrutura de tpo vertcal, coroando-a com a insttuição
legal da forma horizontal de organização desde o município e o Estado até a central unitária que será
a expressão da unidade nacional dos trabalhadores, meta para a qual deve marchar o movimento
operário brasileiro.”

578
Ao mesmo tempo em que pugna pelos seus objetvos específicos, o movimento operário está
chamado a desempenhar um papel da maior relevância na luta pela libertação nacional e pelas
transformações democrátcas. Além da defesa dos interesses profissionais dos trabalhadores, cabe às
organizações sindicais assumir uma posição cada vez mais atva em defesa dos interesses nacionais e
integrar-se no movimento ant-imperialista exercendo pressão na esfera parlamentar e
governamental e partcipando de iniciatvas conjuntas com outros setores nacionalistas e
democrátcos.”

É preciso estar consciente, portanto, de que o trabalho da construção da unidade é um


elemento crucial de educação polítca e ideológica da classe operária, que, partndo dos
comitês de fábrica e de empresa, constrói um edifcio completo unitário capaz de assegurar
para a classe trabalhadora tanto um papel independente enquanto classe na luta polítca
como criar condições para que o jogo polítco do Estado burguês não se possa fazer sem a
presença operária.

Diz o partdo:

“A tarefa principal dos comunistas no trabalho das massas consiste em fortalecer a unidade e a
organização da classe operária para que ela desempenhe o papel dirigente no movimento ant-
imperialista e democrátco. A fim de cumprir essa tarefa, os comunistas devem intensificar e
aperfeiçoar cada vez mais a sua atuação no movimento sindical.”

A unidade sindical desde a base fabril-empresarial, a organização da classe trabalhadora nos


bairros e áreas de moradia criam as condições para a unidade na frente única e para o
crescente papel dirigente da classe trabalhadora. Diz a linha do partdo:

“Os Sindicatos e demais organizações profissionais não devem servir a objetvos que dividem os
operários, mas consttuir instrumentos de unidade de ação dos trabalhadores de todas as tendências
ideológicas e polítcas que atuem no movimento sindical e dos trabalhadores ainda desorganizados e
sem filiação partdária. Para obter a unidade de ação os comunistas atuam na organização sindical
existente e utlizam a Consolidação das Leis do Trabalho, procurando organizar os trabalhadores na
luta por suas reivindicações. Ao mesmo tempo em que defendem as conquistas da legislação social,
devem chamar as massas e concretzá-la, aperfeiçoá-la e ampliá-la.”

579
Não há, portanto, trabalho da construção que não passe pela gradual e sistemátca
artculação da unidade dentro da classe trabalhadora e da classe trabalhadora com seus
aliados. Diz nossa resolução:

“Cumpre aos comunistas lutar para que o movimento sindical não seja uma atvidade apenas de
cúpula, porém, conte com a partcipação atva das massas trabalhadoras. A organização dos
trabalhadores nos próprios locais de trabalho, nas empresas, é o passo decisivo para estreitar os
laços entre os sindicatos e a massa de associados, bem como para organizar as massas não
sindicalizadas. Preocupação constante deve ser a organização sindical das categorias de
trabalhadores ainda desorganizados. Os comunistas devem atuar no sentdo de coordenar melhor o
movimento operário dentro da estrutura sindical legal. Trabalhando para aperfeiçoar a forma vertcal
de organização, esforçam-se para que seja insttuída legalmente a forma horizontal de organização,
desde o município e o Estado até a Central Unitária, que deve ser a expressão da unidade nacional e
pelas transformações democrátcas. Os comunistas lutam para que as organizações sindicais, além
da defesa dos interesses profissionais dos trabalhadores, assumam uma posição cada vez mais atva
em defesa dos interesses nacionais e se integrem no movimento ant-imperialista, partcipando de
iniciatvas conjuntas com outros setores patriótcos.”

Sem sabotar as formas insttucionais por ora existentes, deve-se estender o trabalho de
mobilização, orientação polítca e organização para os amplos setores de massa que ainda
não partcipam das estruturas criadas, apoiando, ao mesmo tempo, as formas de
organização que estas massas menos estruturadas prefram criar e manter.

A colossal vitória do proletariado brasileiro, com a greve dos marítmos, portuários e


ferroviários de 7 de novembro de 1960, é uma prova da linha justa da unidade de ação e da
frente de classes, na luta contra o imperialismo e o latfúndio. Disse na ocasião Jover Telles:

“O dia 7 de novembro consttuiu-se num importante marco da história do movimento operário no


Brasil. Nesse dia, quando ainda se ouvia o eco da memorável greve nacional dos estvadores, da
greve geral dos trabalhadores em carris urbanos do Estado da Guanabara, e da greve geral dos
gráficos e dos metalúrgicos de São Paulo, os marítmos, portuários e ferroviários, concentrados em
três pontos diferentes da cidade, dirigiram-se em passeata, conduzindo faixas e cartazes, a bandeira
nacional e as fâmulas de seus sindicatos, rumo ao Teatro João Caetano, onde, após terem realizado o
enterro simbólico do deputado Meneses Côrtes, decretaram em monumental assembleia a
defagração da greve geral pela aprovação da paridade de vencimentos entre civis e militares.”

580
“Durante três dias, o movimento paredista, que envolveu cerca de 400 mil trabalhadores de setores
vitais da economia nacional, paralisou o transporte marítmo, o das principais ferrovias, e os serviços
portuários de todo o País. Mais uma vez, os portuários, ferroviários e marítmos, que “não têm o
direito de fazer greve”, desmoralizaram e derrotaram o famigerado decreto antgreve 9 070 e a Lei de
Segurança Nacional, numa demonstração evidente de que as imposições da vida não podem ser
enquadradas nos Cânones reacionários forjados pelas classes dominantes.”

“Diante do vigor revelado pelos trabalhadores, o Governo entrou em crise. Sucederam-se as


reuniões ministeriais. Brasília deixou de ser, temporariamente, o centro polítco da nação, e a luta
das massas passou a ser o fator determinante dos acontecimentos. O pânico apossou-se das classes
dominantes. Ministros foram substtuídos e o diretor do DOPS teve de ser exonerado. A greve pela
paridade de vencimentos adquiriu um colorido polítco, aprofundou o processo de polarização das
forças em presença no tabuleiro polítco do País. Em face da pressão dos trabalhadores, todos os
partdos polítcos tveram de definir-se, bancadas parlamentares lançaram notas marcando sua
posição, a Câmara dos Deputados passou a reunir-se em caráter permanente, as forças armadas
foram colocadas em prontdão e sucederam-se as reuniões dos comandos militares, policiais em
todos os Estados. Os trabalhadores fortaleceram a confiança na força de sua unidade e de sua
organização. Para todas as classes e camadas progressistas da população brasileira tornou-se mais
claro o papel hegemônico da classe operária, o que reforçou o respeito e a confiança do povo na
capacidade dirigente do proletariado. Nessa batalha, o proletariado soube expressar o sentmento de
indignação de todo o povo contra a polítca entreguista, reacionária e de fome, executada pelo atual
Governo.”

A capacidade de luta da classe se expressa na resposta por ela dada para a polítca de
esfomeação das classes dominantes e de cerceamento às liberdades democrátcas. A
construção da unidade de classe desde a base é a classe da vitória de 7 de novembro, que
certamente abriu uma nova fase na luta polítca no país. A classe trabalhadora, com sua
unidade, virou uma página da história de dominação e exploração. Mostrou uma classe
operária única, com comando próprio, atuando não para os outros, mas para si mesma.

Prosseguiu o comentário de Novos Rumos:

“Prova de que o Governo não conseguiu intmidar os operários é o fato de terem os trabalhadores
de diversas empresas nos Estados voltados ao trabalho muitas horas depois de ter cessado a greve no
Rio. Os operários não se guiaram pelo alarde atemorizador do rádio e de certa imprensa. Somente
voltaram ao trabalho após terem recebido a palavra de ordem do Comando Geral de Greve. Na

581
assembleia realizada na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, os marítmos, ferroviários e portuários já
tnham decidido voltar ao trabalho quando foram cercados pela polícia militar e civil. Diante de mais
essa provocação, os trabalhadores declararam-se novamente em greve e exigiram a retrada das
forças policiais. E somente depois da retrada da polícia resolveram suspender a greve.”

“Os trabalhadores suspenderam a greve. Voltaram ao trabalho. Recuaram organizadamente com


suas forças de combate intactas, mais unidas, organizadas e mais temperadas e levando como
troféus da batalha uma série de vitórias. Com a força de sua ação unitária, de sua organização, da
solidariedade que receberam e do apoio do povo, os trabalhadores conseguiram:”

“1 - Impedir o estabelecimento do estado de síto e garantr, assim, a vigência das liberdades


consttucionais.”

“2 – Fazer aprovar, na Câmara dos Deputados, o projeto de Paridade de Vencimentos.”

“3 – Obrigar a polícia a desinterditar a sede dos sindicatos por ela ocupados.”

“4 – Libertar os companheiros presos no curso da greve.”

“5 – Anular as medidas punitvas já decretadas pelo Governo e garantr a reintegração dos


trabalhadores em seus respectvos postos.”

“A maior vitória, no entanto, consiste na consolidação da unidade de ação e orgânica dos marítmos,
portuários e ferroviários, obtda na luta. A grande vitória representada pela unidade nacional desses
três setores fundamentais da classe operária reveste-se de grande importância e será, por isso
mesmo, defendida como a menina do olho dos trabalhadores. Nesse sentdo, a últma assembleia
decidiu que o Comando Geral da Greve fique com poderes para defagrar a greve, do novo, se o
Governo não assegurar a aprovação da lei que trata da paridade de vencimentos entre civis e
militares.”

“Como se vê, os trabalhadores não puseram um ponto final na sua gloriosa jornada. Mantêm-se
mobilizados e prontos para, se necessário, desencadear nova ação.”

Assim, a greve da luta pela paridade com sua jornada vitoriosa de 7 e 8 de novembro
(1960), foi um golpe devastador nas ilusões até então vigentes das classes dominantes de
contnuar a governar sozinhos, sem ouvir ou considerar outros interesses sociais. A formação
nesta jornada do PUA (Pacto de Unidade e Ação) expressou a tátca superior empregada para
se formar uma classe operária com comando único, capaz de aplicar uma polítca de unidade

582
de classe e de luta desde a base até a cúpula. O movimento sindical tornou-se ali – de novo –
sujeito da história polítca brasileira contemporânnea.

4 – A Polítca Independente da Classe Operária dentro da Frente Única.

O camarada Lênine, com seu entendimento sempre genial, comentou sobre a guerra civil,
na Rússia e em outras partes, logo após a revolução russa e o fm da primeira guerra
mundial:

“A guerra civil é sempre uma guerra entre duas partes do povo. Uma parte segue os seus
verdadeiros líderes e defende os seus próprios interesses. Outra parte segue e defende os interesses
das classes dominantes.”

E diz Frunze:

“Na verdade, as classes dominantes não teriam jamais o efetvo, o número necessário de
combatentes para se empenhar num golpe de estado ou numa guerra civil, se uma parte do povo,
enganada pela mentra, a mistficação e o servilismo, não se colocasse a serviço das classes
dominantes. Tais classes exploradoras se mantêm no poder única e exclusivamente explorando o
apoio de massas atrasadas, cuja consciência própria ainda não despertou, e que se deixam conduzir
pelo barulho do sino ou o tlintar das moedas.” Este comentário de Miguel Frunze, completa, sem

dúvida, a observação de Lênine.

Daí a importânncia do trabalho ideológico do partdo e da agitação e propaganda leninista,


no intuito de fazer refetr e despertar setores da população atrasados e sem consciência de
classe. São massas de dezenas de milhões mantdos na escravidão material e espiritual. Por
isso, as classes dominantes não desejam qualquer debate, qualquer movimento social plural,
qualquer linha de atvidade cultural popular. As classes dominantes são profundamente
obscurantstas. Durante o século XIX e até a primeira guerra mundial, elas se opuseram em
quase todos os países à escola primária gratuita e obrigatória, à vacinação gratuita, às
medidas de higiene, etc. Foi somente com o advento da União Soviétca (1922) que se
começou a admitr no Ocidente o voto feminino, a jornada de oito horas, o descanso
semanal remunerado, etc. Os capitalistas tveram que adotar estas medidas para que seus
trabalhadores “não invejassem”, o modelo soviétco.

583
É de se entender, portanto, que a vanguarda dos trabalhadores, fruto do avanço de sua
consciência e seu estado-maior, não pode nem poderia nunca pratcar a luta polítca pelo
poder, deixando de fazê-lo pelo caminho da polítca em absoluto independente da classe
operária. Mesmo na aliança operário-camponesa, mesmo dentro de uma frente geral com
outras classes e camadas que desejam a ampla reforma da sociedade, a classe operária não
abre mão de quaisquer necessidades enquanto classe, ou seja, não abre mão de decidir
sobre o processo de sua organização. Este mesmo princípio assegura a classe operária a
todos os seus aliados: existência independente. A partr desta base libertária, a classe
operária preconiza a busca de pontos comuns, de interesses convergentes, com os quais se
possam construir o progresso nacionalista e democrátco, base para a obtenção de um
governo nacionalista e democrátco.

Como diz o partdo:

“A classe operária, este ano, atuou mais organizadamente. Em sua maioria, as greves, realizadas
foram precedidas de assembleias preparatórias com grande partcipação de massa, contaram com
programas reivindicatórios previamente elaborados, com a ampla atvidade dos piquetes de greve e
com comandos livremente eleitos e, por isso mesmo, com o prestgio e a autoridade necessárias junto
às massas. Isto possibilitou ao proletariado atuar mais disciplinadamente, com o máximo de firmeza
na luta para obter suas exigências e, simultaneamente, com a indispensável fexibilidade, a fim de
evitar as provocações urdidas pela reação, objetvando o desgaste de suas forças. Os trabalhadores
souberam avançar e recuar quando preciso sempre de forma organizada, mantendo consolidando e
ampliando suas forças, com vistas às novas batalhas que deverão enfrentar. Isso demonstra que o
proletariado acumula experiência e adquire a consciência de que na luta por seus interesses deve
contar, fundamentalmente, com a força de sua unidade de organização, de sua solidariedade e
disciplina no combate. – Manifestações de rua. Outra característca consiste em que, no curso das
greves, os trabalhadores vêm realizando grandes manifestações de rua – passeatas, concentrações,
comícios, etc. – nas quais, ao lado de suas reivindicações econômicas, levantam bandeiras polítcas,
tais como a da limitação da remessa para o exterior dos lucros das empresas estrangeiras, da
nacionalização dos frigoríficos e das empresas de energia elétrica norte-americanas, da reforma
agrária, da nacionalização dos bancos estrangeiros de depósitos, do restabelecimento das relações
diplomátcas e comerciais com a União Soviétca e a China Popular, da defesa e da ampliação da
Petrobrás, da solidariedade à Revolução Cubana e à luta emancipadora do povo argelino, a da
interdição das armas atômicas e de hidrogênio, pelo desarmamento universal e completo, etc. Nesse
sentdo, se é verdade que a maioria das lutas do proletariado se reveste no início, de um caráter
584
essencialmente econômico, adquire no processo um conteúdo polítco, por força da ação reacionária
do poder consttuído, chegando, muitas vezes, a choques violentos, entre operários e o aparelho de
repressão do Governo, como aconteceu recentemente em São Paulo, por ocasião da greve dos
trabalhadores da CMTC e da dos metalúrgicos, e no Estado do Rio, na greve dos trabalhadores de
Cabo Frio e de Caxias.”

“Os comunistas consttuem, no movimento sindical brasileiro, uma força de primeiro plano e a sua
atuação tem contribuído, de modo decisivo, para elevar o grau de unidade, de organização e a
consciência do movimento operário. Fazendo esforços para romper com o sectarismo que nos isolava
das grandes massas trabalhadoras, temos conseguido neutralizar a ação das forças antunitárias no
movimento operário, reforçando nossas posições e ampliando o campo de nossos aliados, para
desespero dos elementos reacionários interessados em manobras divisionistas. Vai ficando para trás
o tempo em que os tubarões do sindicalismo brasileiro, mancomunados com as forças obscurantstas
do imperialismo e da reação interna, podiam facilmente enganar as massas e impor a elas sua
vontade. Vivemos na grande época da transição do capitalismo ao socialismo.”

Todas estas transformações se fundamentam no permanente trabalho ideológico, de


educação, de agitação e de propaganda das organizações comunistas, socialistas e do
movimento popular. O trabalho sistemátco das forças progressistas é condição essencial
para o avanço da classe trabalhadora e da frente única.

Quando a crise econômica não traz consigo a crise polítca, então a crise polítca há de
trazer consigo a crise econômica. O Brasil, pelas suas classes dominantes, não reconhece aos
pobres e trabalhadores sequer o direito à vida. A maioria da população vive na miséria,
expressando uma crise societária, permanente já na época da escravidão e que por inépcia
dos dominadores, se arrasta até hoje. A maioria dos elementos das classes dominantes
nunca se sentu natural do país. Em suas cabeças, vieram aqui fazer fortuna. Quando
enriquecerem, voltarão para seus países de origem. Isso signifca que o equipamento social
instalado no país é mínimo. A retrada de riquezas, a remessa de ouro e moeda estrangeira é
máxima e não aparece sequer nas estatístcas. Ao contrário da Alemanha do entre-guerras
que, explorada, desejava se livrar do imperialismo externo em todas as suas classes sociais,
no Brasil, as classes dominantes organizam a exploração do povo comum e veem o
imperialismo externo como sua proteção.

585
Esta postura completamente desmoralizada da dominação, tem cooperado para o recente
despertar polítco das grandes massas do povo. As classes dominantes respondem com o
golpismo. Desde 1945, o fm da segunda guerra mundial, ocorreram oito golpes de Estado,
bem ou mal sucedidos (em 17 anos!). As classes dominantes do país revelam-se sempre
totalmente incompetentes para resolver de uma maneira nacional ou patriótca os
problemas do país. Egoístas e corruptas, tais classes dominantes pratcamente são estéreis,
não gerando quadros capazes de alta administração e de planos, dentro de uma perspectva
de governo nacional ou de poder nacional. Este ambiente prolongado de miséria no país não
tem contribuído para o despertar revolucionário, porque, como disse Marx, ninguém que
passa o dia com fome e trabalhando consegue pensar em outra coisa. A maior parte da
população acha isso tudo natural, e tende a aceitar as coisas como são. No entanto, desde o
suicídio de Vargas (1954), tem havido um despertar polítco de certas classes e camadas
(burguesia nacional, camadas passivas do Estado, pequena burguesia urbana, camponeses
sem terra, operários fabris). De 1958 para cá, partcularmente o estudantado e o
proletariado urbano têm se orientado para a revolução. A juventude tem se interessado
pelas revoluções russa, chinesa e cubana. Diz Revunenkov:

“A Revolução de Outubro foi a transformação mais extraordinária não apenas da história da Rússia,
mas de toda a história da humanidade: inaugurou uma nova era, a do naufrágio do capitalismo e da
afirmação de uma nova sociedade, a sociedade socialista. Foi o resultado legítmo e lógico do
desenvolvimento do sistema mundial do capitalismo; expressou não somente as necessidades dos
povos da Rússia, mas, também, as necessidades, havia muito tempo amadurecidas, de toda a
humanidade. E nisso reside a fonte de sua infuência inesgotável sobre a marcha da história
universal.”

“Sob o infuxo direto e imediato da Revolução de Outubro, teve lugar uma série de revoluções e
ações revolucionárias dos trabalhadores, em vários países capitalistas: a revolução de 1918 e a
criação de sovietes, na Alemanha; a revolução proletária de 1919, na Hungria; a ocupação de fábricas
e usinas pelos operários, no norte da Itália, em 1920, e outras.”

Um fato também que não se manifesta desde o fm do chamado Império, a pequena


burguesia tem manifestado esperança ao se aliar aos trabalhadores urbanos e resistr aos
movimentos de repressão das classes dominantes. Quando a pequena burguesia – pelo
menos em parte – vê na luta do proletariado uma saída para suas próprias difculdades, as

586
classes dominantes tendem a se dividir, a situação histórica a se acelerar. O governo burguês
perde rapidamente credibilidade (Café Filho; Jânnio Quadros; “parlamentarismo”,) e deve ser
substtuído por outro. A crise, assim, se instala dentro do sistema de governo, e a divisão das
classes dominantes se acelera (condição essencial para uma crise revolucionária). Outro
elemento importante que expressa a desmoralização do sistema de dominação é o apelo das
classes dominantes ou de parte dela para o desabastecimento. Pratcamente, ao açambarcar
víveres e “organizar o desabastecimento”,, neste caso aqui para “desmoralizar”, o governo, as
classes dominantes empurram os trabalhadores e os pobres para invadir os armazéns e se
apossar dos víveres. Isso signifca que uma parte ponderável das classes dominantes não tem
mais poder no governo e deseja “dar um golpe”,, procedendo a sucessivas tentatvas de
estabelecer a desordem. Querem na verdade empurrar o país para um estado de guerra civil,
com o fto de impor a sua vontade.

A tentatva de uma ou mais das classes dominantes de “virar a mesa”,, apostando no caos,
expressa a necessidade das forças de dominação de mudarem as formas-de-luta, com vistas
a recuperar o controle da situação polítca. Quando a dominação polítca sofre sucessivas
derrotas, frente aos seus inimigos (no caso, burguesia nacional e proletariado) no plano da
luta polítca, busca então um golpe de estado, obter um massacre, desencadear uma guerra
civil rápida, etc., meios pelos quais – mudando para a forma-de-luta-armada – logre
recuperar a iniciatva perdida e ao menos o poder governamental. A primeira defesa dos
trabalhadores é reforçar a unidade sindical e combinando lutas de rua, luta parlamentar e
greves – principalmente a greve geral – fazer recuar a aglutnação golpista.

No entanto, o único fator que pode assegurar uma vitória duradoura para as forças
populares é a mobilização e a organização de milhões de trabalhadores – uma imensa
maioria – em apoio ao programa do campo popular, capaz de atuar como força de dissuasão
para as pretensões golpistas de todo tpo. Esta é a oportunidade que a atual conjuntura
internacional abre na história do país, uma oportunidade de evolução relatvamente pacífca
das crises social, polítca e da vindoura crise econômica.

A classe operária se transforma em força potencialmente hegemônica dentro do povo,


quando ela se torna capaz de desencadear uma greve geral. Enquanto fator polítco, se torna
elemento apto ao exercício do poder. A formação do PUA com êxito completo e a greve de 7

587
- 8 de novembro (1960), transformaram a classe operária brasileira em fator de poder. As
classes dominantes julgaram que tal fator – sendo recente – podia ser ignorado, caso, com a
posse de Jânnio, aprofundassem a polítca de esfomeamento, de açambarcamento, tentando
ou jogando as massas operárias contra as forças armadas ou vice-versa. Os massacres da
Baixada Fluminense foram disso o maior ensaio, mas antes o governo Jânnio caiu e o golpe
militar, apesar de, (1) empossar a Junta e (2) criar um parlamentarismo de ocasião, não
sobreviveu à espetacular mobilização popular, feita pela frente única nacionalista e
democrátca. Deu-se como resultado uma deslocação na relação de forças. Aproximam-se
choques decisivos. Uma vez que os gabinetes que podem ser reproduzidos não poderão mais
apoiar-se diretamente na classe operária como elemento passivo, e a classe operária já está
armada do poder devastador da greve geral, os sucessivos gabinetes que a polítca de
conciliação poderá produzir estão fadados a cair, um após outro, levando o pseudo-
parlamentarismo ao colapso. Assim, a situação polítca irá se deteriorar com crescente
velocidade. Diz o partdo:

“Mas a principal batalha polítca verificou-se no curso dos meses de agosto e setembro. Nesses
meses, os patriotas e democratas, os estudantes e os operários, tveram de pôr em tensão todas as
suas forças para neutralizar e derrotar os intentos libertcidas dos imperialistas ianques e de seus
paus-mandados natvos visando paralisar o processo democrátco no País, através da implantação de
uma ditadura terrorista. Em virtude da luta das massas trabalhadoras, dos estudantes e demais
forças patriótcas e democrátcas do Exército e de outros setores do povo, é que foi possível derrotar
os generais golpistas e assegurar a legalidade consttucional. Foi partcularmente importante o papel
do proletariado, embora ainda não tenha desencadeado todo o potencial de força de que dispõe,
para conseguir a unidade, a ampliação e a consolidação do movimento de resistência. A defagração
de numerosas greves polítcas – somente no Estado do Rio partciparam mais de 130 mil operários, as
manifestações de rua, a formação de milhares de comitês democrátcos de resistência, o surgimento
de dezenas de batalhões patriótcos e o alistamento em massa de centenas de milhares de homens do
povo dispostos a tomar das armas para lutar são uma comprovação de que se eleva rapidamente o
nível de consciência polítca e revolucionária das massas. A derrota dos golpistas foi uma grande
vitória de nosso povo. Estabeleceu premissas para um maior ascenso dos movimentos ant-
imperialistas, democrátco e operário.”

“A polarização das forças polítcas verificadas no curso da crise de agosto, a elevação do grau de
consciência polítca das massas e o estmulo da vitória tornaram possível o surgimento da Frente de

588
Libertação Nacional, na qual formam os trabalhadores, que se esforçam para enraizar suas bases nas
empresas, nos bairros e nos sindicatos.”

O crescente poder da classe operária como fator polítco independente (1958-1962)


signifca uma maré montante da luta popular. Esta maré alta não é possível prever-se até
onde ela poderá elevar-se ou se pode vir a reverter mais ou menos com rapidez. Nas
presentes circunstânncias, a tendência da pequena burguesia e de outras camadas médias é
dividir-se, com parte considerável delas saindo do campo polítco onde se encontra e
tendendo para o nosso lado. Caso a classe operária e o povo pobre contnuem a se
radicalizar e a se mobilizar, a conjuntura tenderá a se tornar revolucionária. Quando a
pequena burguesia espera que a solução de seus problemas venha da luta do operariado, o
conjunto do processo de luta se orienta de modo revolucionário. Isso nos coloca diante da
prátca acelerada de nossa sexta tese no V Congresso:

“6ª Tese – Fortalecer o Partdo marxista-leninista da classe operária.”

“ – O V Congresso consolidou a unidade do Partdo e ganhou-o para a luta polítca avançada.”

“- O fortalecimento do Partdo deve ser a preocupação constante em todas as atvidades e


organizações partdárias.”

“- O trabalho da frente única exige a correção de várias falhas, como maior atenção ao campesinato
e compreensão da burguesia nacional.”

“- A luta ideológica é uma das bases fundamentais do sucesso da ação partdária.”

“- É necessário construir um Partdo Comunista dirigente de grandes massas.”

“- O trabalho de educação é um aspecto essencial da construção do Partdo.”

“- O trabalho de agitação e propaganda é outro fundamento para que o Partdo possa dirigir
grandes massas.”

“- O PC integra o movimento comunista internacional.”

“ - O PCB reivindica o direito de plena existência legal.”

O partdo precisa se reforçar e se preparar em todos os níveis para os acontecimentos que


se aproximam. Na medida em que a conjuntura tende à frente abrir uma saída revolucionária

589
para as crises que convergem, a mobilização das massas – por mais basilar que pareça –
tende de fato a assumir um caráter revolucionário. Isso quer dizer que a evolução da
conjuntura se assemelhará às águas de um redemoinho, não dependendo mais dos discursos
ou da vontade dos remadores. É por isso que se impõe a preparação prévia para
semelhantes desdobramentos potenciais. Lembremos o comentário de J. Bruhat, sobre
Marx, na Ideologia Alemã:

“Por uma outra direção também o materialismo histórico chega até o real, ao concreto. Para uma
época determinada, não se deve tomar como causa real do desenvolvimento histórico a consciência
que os homens fazem dessa história.”

“Releiamos uma passagem de A ideologia Alemã:”

“Uma época afigura-se a si própria como sendo determinada por motvos puramente “polítcos” ou
“religiosos”, se bem que a religião e a polítca não sejam senão formas desses motvos reais, seu
historiador aceita essa opinião. O que esses homens determinados “imaginam” ou “se representam”
a respeito de sua prátca real, torna-se, por transformação, a única potência determinante e atva
que domina e determina a prátca dos homens. Quando a forma grosseira sob a qual a divisão do
trabalho se apresenta entre os egípcios e os hindus, provoca entre esses povos, nos seus Estados e
sua religião, o sistema de castas, o historiador crê que o sistema das castas é o poder que produziu
essa forma social grosseira.”

“Não se deve tomar pelo real aquilo que é apenas uma aparência do real, ou, mais exatamente,
aquilo que é apenas uma forma de expressão do real. O erro é frequente. É o erro no qual Fustel de
Coulanges incidiu quando quis explicar o mundo antgo unicamente pelas crenças religiosas. É o erro
no qual têm caído os historiadores que não querem ver na Reforma senão um movimento religioso,
em últma análise. É o erro em que incidem atualmente os que querem explicar a democracia
americana fiando-se exclusivamente nas declarações de princípios dos “democratas” norte-
americanos, sem procurar examinar o conteúdo dessas democracias.”

5 – Conclusão.

Nesta décima terceira aula, aprendemos que a frente única é uma necessidade objetva de
várias classes e camadas na sociedade, para enfrentar as classes dominantes; e que nos

590
tornaremos mais capazes quando descobrirmos isso e colaborarmos para as marchas
necessárias do desenvolvimento histórico, no lugar de querer que as coisas se passem de
acordo com nosso fgado. Compreendemos que o movimento nacionalista e democrátco
tem se desenvolvido – e se mostrado forte – quando as pessoas deixam de lado seus
preconceitos e se aliam com outros que têm os mesmos objetvos e os mesmos inimigos.
Tivemos importante ideia do que é a unidade de ação, base da frente única e do
desenvolvimento independente da classe operária. Fizemos uma pequena discussão das
gloriosas jornadas de novembro de 1960, que criaram o PUA, e as jornadas de agosto-
setembro de 1961 e da luta popular na Baixada Fluminense. Podemos agora entender como
a tátca da unidade de ação, aliada à tátca da frente única, contém os germes de novos
avanços.

Perguntas.

1. Que entende por comitê de fábrica ou de empresa?

2. Como se cria o movimento de massas?

3. Que é unidade desde a base até a cúpula?

4. Que se entende por tátca de unidade de ação?

5. Que se compreende por tátca de frente única?

6. Quais as tarefas principais da etapa atual da revolução?

7. Que caracteriza o proletariado como agente histórico independente?

8. Que é movimento nacionalista e democrátco?

9. Que é polítca de esfomeamento?

10. Como a reação luta contra o movimento trabalhador?

591
Aula 14

592
14 – A Tátca Leninista. O Centro da Tátca dos Comunistas. O Governo Nacionalista e
Democrátco.

O movimento de massas nasce das ações mais simples – e aparentemente menos heroicas
– de organização. Elaborada a linha polítca justa, estabelecidas as tátcas corretas que
decorrem do plano de relação de forças, deve cada partdo revolucionário de classe levar o
conjunto da sua linha polítca prioritariamente à juventude da classe, ao movimento de
classe, às massas mais pobres do povo, não importa o grau de atraso e de abandono em que
as classes progressistas se encontrem.

Só a organização do movimento de massas desde a base e por suas reivindicações mais


simples é – na verdade – importante. As massas de trabalhadores e de pobres tudo podem.
Basta despertá-los para a vida polítca e para os seus verdadeiros interesses de classe. A
burguesia não tem solução para este problema das massas, porque ela é uma classe
exploradora, que enriquece com a miséria da massa e que, portanto, nada de importante
pode ceder. O trabalho do partdo e das forças democrátcas é formar círculos populares de
mobilização e de esclarecimento. Explicar pacientemente às massas do que se trata, do A a Z,
e através de A a Z. Esse trabalho de propaganda entre as massas deve ser feito com todo
cuidado, evitando infltração da polícia polítca e feito de “orelha a orelha”,. Não há como
reprimir o trabalho feito ao pé de ouvido. As pessoas do povo devem ser pacientemente
esclarecidas. Quando elas começam a ter sua consciência despertada, deve ser levada a um
círculo popular de mobilização, que a ajudará a se organizar como pessoa e como força

593
polítca viva. Não se pode combater a opressão e a miséria sem a mobilização de massas de
milhões de pessoas. Para mudar a sociedade é preciso politzar toda a sociedade.

Não se pode declarar comunista um indivíduo que não está organizado com uma parcela da
massa popular. Assim como não existe “homem”, fora da “sociedade”,, não existe comunista
fora da massa popular. O partdo é o peixe, e as massas populares são as águas. O partdo
não sobrevive fora das massas.

As massas, quando despertadas, fazem a história. As massas em movimento obrigam toda a


sociedade a mudar a sua direção. Comparada com um ou dez indivíduos, ainda que sejam
sábios, a sabedoria das massas populares é infnita. As massas do povo compreendem
rapidamente – quando explicado – quem são os seus inimigos. Elas chegam logo a penetrar a
astúcia de seus inimigos e a prever as suas manobras e as novas palhaçadas que têm eles em
perspectva. As massas esclarecidas se tornam invencíveis.

O primeiro interessado em todas as manifestações por reivindicações e por melhorias é o


homem comum, é o trabalhador, e é a pessoa pobre. Ao contrário do que dizem as
“autoridades”, repressoras, ninguém vai à rua para promover o crime ou o quebra-quebra.
No entanto, é importante para os polítcos e “autoridades”, a serviço das classes dominantes
criminalizar toda e qualquer manifestação que não sirva aos seus interesses imediatos. Daí, a
repressão, a proibição de manifestar-se, a “escolha”, de trajetos e horários pela polícia, etc.
São os meios que tem para impedir a crítca à ordem estabelecida e para impedir a adesão
da maioria às manifestações que expressam os seus interesses de maioria.

Em virtude da violência até crescente com que os governos enfrentam qualquer


discordânncia levada à praça pública, é importante para as forças progressistas convocar a
juventude em geral para partcipar dos atos de reclamação de direitos e lutas por melhorias
e reformas. A juventude é numerosa e forte e não se deixa intmidar pelo uso da força e da
violência, por parte de “autoridades”, que, na verdade, violam a lei. Daí a importânncia que o
trabalho entre a juventude para a formação polítca e ideológica tem para o nosso partdo.
Diz Ostrovitanov:

“Em que consiste a necessidade histórica da ditadura do proletariado?”

594
“O proletariado necessita dela, antes de mais, para poder esmagar a resistência das classes hosts.
Privadas do domínio polítco, as classes exploradoras não se conformam com a derrota e a perda dos
seus privilégios e opõem resistência tenaz ao novo poder. Recorrem, frequentemente, à ajuda dos
imperialistas estrangeiros que odeiam ferozmente a revolução e que procuram esmagar onde quer
que ela se realize. Esmagar a resistência dos exploradores e defender a revolução e a sua causa
contra os inimigos internos e externos é uma importante tarefa da ditadura do proletariado. A
experiência histórica das revoluções vitoriosas e derrotadas demonstra que a revolução tem de saber
defender-se. Isto significa que a ditadura do proletariado é a contnuação da luta de classe dos
trabalhadores nas novas condições e formas históricas.”

Não faz qualquer sentdo “zelar”, por uma democracia em que aqueles que não apoiam o
governo não podem ir às ruas protestar ou angariar apoio de outras forças sociais. Em que
aqueles que apresentem qualquer reivindicação sejam tratados a coice e a pontapé pelas
“autoridades”,, como se de um animal se tratasse. As forças populares não podem tolerar
este tpo de attude e devem mesmo preparar-se para dar uma resposta à altura, quando
submetdas às estripulias das chamadas “forças de ordem”,. Neste sentdo, é importante a
organização desde a base do movimento popular. Cada rua, cada quarteirão, cada bairro,
cada empresa deve ser cuidadosamente instruída e preparada politcamente desde os seus
próprios interesses de reivindicação, de independência e de luta. Sem que as classes
dominantes troquem a forma de luta para a luta armada, o limite possível da violência
policial é de 1:10, ou seja, um policial com cassetetes, bombas, pancadarias, etc., só pode
conter até 10 manifestantes. Quando os manifestantes ultrapassam esta proporção, a força
policial terá que usar armas de fogo ou abandonar o terreno. O partdo tem uma larga
experiência internacional de crises polítcas, de lutas urbanas e rurais contra a polícia e forças
armadas, etc. Pode-se dizer que a experiência do partdo é quase tão larga quanto à da
burguesia, uma classe exploradora com experiência de 300 anos em massacres. Por isso, o
partdo sabe que o discurso burguês sobre a democracia é um discurso de ocasião, para
desmobilizar os trabalhadores e os pobres.

Devido a tais fatos, é importante entender-se a verdadeira natureza da luta de ruas na


ascensão rumo ao poder. Como dizem os revolucionários mexicanos, “a luta parcial permite
arrancar pata por pata da senhora Barata”,. E a barata sem patas não pode caminhar. A força
do movimento popular se desdobra do trabalho ideológico e de propaganda polítca, de
orelha a orelha, de pessoa a pessoa, e se estende à organização polítca do movimento de
595
massas. Através de uma agitação e propaganda cuidadosamente coordenada, as massas se
tornam pouco a pouco independentes de seus inimigos de classe. Este trabalho colossal tem
que ser feito pessoa a pessoa, casa por casa, rua por rua.

Diz Lênine:

“Para se levar o socialismo à classe trabalhadora, tem que se levar o socialismo a todas as classes
da sociedade.”

Aqueles trabalhadores e aqueles pobres que compreenderam a importânncia de se mobilizar


para lutar; que compreenderam que as classes dominantes jamais lhes fará a menor
concessão, estes trabalhadores e pobres do povo devem então ser instruídos nos princípios
da autodefesa do movimento de massas, para que não sejam massacrados, quando se
reúnam ou quando saiam às ruas, em suas legítmas manifestações. Somente um
proletariado e um povo pobre, capazes de ocupar os espaços públicos, capazes de tomar as
ruas para si, e de nelas permanecer, capaz de organizar greves parciais e a fabulosa greve
geral contra os exploradores, se transforma num fator polítco de envergadura. Quem não
domina as ruas, quem perde a batalha pela posse das ruas, não pode almejar o poder
polítco. E isso é uma verdade para qualquer classe progressista.

Para manifestações totalmente pacífcas, em recintos fechados ou quase fechados como


praças e campos de futebol, a relação é 1:30, ou seja, um elemento da polícia “dissuade”, 30
manifestantes, ou os mantêm “sob controle”,. Estas regras do controle repressivo mostram
claramente a impossibilidade que possuem as classes dominantes para controlar as maiorias,
caso elas tenham a consciência despertada. A dominação na verdade se faz através do
“consentmento silencioso”, da grande maioria, que se sabe injustçada mas considera os
membros das classes dominantes mais inteligentes, “gente bem-nascida”,, e que, portanto,
“têm direitos”,. Quando a massa desperta da letargia que lhe causam a ideologia polítca e a
ideologia social, dominantes, então se acaba também a vida paradisíaca dos exploradores.

Já no Manifesto, Marx e Engels apontavam as difculdades de elevar-se o nível de


mobilização e organização dos trabalhadores na baixa cíclica, quando os capitalistas têm
redução em suas taxas de lucro e despedem em massa trabalhadores, para compensar a
queda dos lucros. O trabalhador vê-se arruinado durante o desemprego, concentrando sua
energia em encontrar formas de sobrevivência para sustentar-se e à sua família. No entanto,

596
Marx, Engels, Luís Blanqui e outros sempre indicaram o potencial revolucionário da baixa
cíclica, que, no entanto, fca dependente de um nível elevado de maturidade da classe
trabalhadora para se organizar revolucionariamente e lutar quando o emprego desaparece.
Na baixa cíclica, os capitalistas mais poderosos concluem a ruína dos mais fracos e se
apossam dos seus bens. Dá-se o fenômeno de ampliar-se a brecha entre as diferentes
camadas das classes dominantes e objetvamente a solidariedade burguesa de classe diminui
muito. É “um salve-se quem puder”, que os mais poderosos atravessam rindo e lucrando,
enquanto muitos vão à beira da ruína. Muitos teóricos do movimento trabalhador apontam
que a grande burguesia até gosta das baixas cíclicas, porque nelas se aproveita para todo tpo
de saque e de pilhagem.

No entanto, apesar da fsionomia objetva favorável à luta popular nesse período, a


observação histórica demonstra paralelamente o recuo do movimento trabalhador em sua
força, diante do desemprego maciço. Estrategicamente também se observa a compreensão
que a burguesia tem de reduzir o emprego fabril e de infraestrutura ao mínimo, porque
nestes postos de trabalho os trabalhadores “descobrem”, o poder polítco e como funciona a
sociedade.

Por isso é importante para a direção revolucionária não dar valor em excesso às futuações
da situação econômica, no seu trabalho de construção do potencial revolucionário. O
trabalho ideológico e o trabalho polítco devem ser perfeitos todo o tempo, em quaisquer
condições e sob quaisquer necessidades. O partdo é uma organização polítca de classe e
seu trabalho é construir a classe operária enquanto fator polítco e ideológico, arrebanhar
sem cessar seus aliados potenciais num campo de força que se acumula a cada dia,
permitndo – no longo prazo – ao campo popular o cumprimento de qualquer tarefa.
Recrutando e organizando os trabalhadores e os pobres, cria-se o potencial de vitória que a
partcipação da maioria faz aparecer no horizonte polítco. A maioria absoluta não pode se
comportar como se fosse uma minoria.

Na frente de construção do movimento de massas, todas as batalhas polítcas e ideológicas


contra o inimigo de classe devem ser estabelecidas, devem ser aceitas e devem ser travadas.
Através do trabalho cultural, a cultura popular deve ser estabelecida, desenvolvida e tornada
sólida. São poderosas armas de mobilização todas as formas de arte popular, com destaque

597
para o teatro, a dança e a produção musical. As insttuições já criadas pelas massas devem
ser prestgiadas e consolidadas, com as polítcas de unidade desde a base. No entanto, novas
entdades devem ser criadas, com uma linha estratégica de consolidação dos valores
nacionais e humanos. Partcularmente a juventude deve ser convocada para as frentes de
arte, criação, desportos e educação popular.

O trabalho minucioso e conjunto nas frentes de juventude, sindical, organizatva de massas,


em todas as entdades, contribui para reduzir os erros oportunistas e os desvios ideológicos e
os desvios ideológicos dentro da frente única. A luta para cumprimento das diretvas dadas é
a mesma luta para inserir-se profundamente na vida quotdiana das amplas massas do povo
e para conduzi-la na direção tátca e estratégia mais corretas. Isso é possível quando
cumprimos nossas obrigações como militantes comunistas, defnidas pelo nosso partdo:

“1 - Ter a mais profunda abnegação pela causa da classe operária e fidelidade ao Partdo,
abnegação e fidelidade essas provadas na luta, nas prisões, ante os tribunais, frente a frente com o
inimigo de classe, e também abnegação e fidelidade na nova situação, no trabalho legal de massas,
provadas no trabalho quotdiano, sem desfalecimento, nos sacrifcios contnuos, no contato constante
com as massas, enfrentando o inimigo de classe encoberto sob mil disfarces demagógicos, para
esclarecer as massas, organizá-las, conquistá-las para a linha do Partdo. Eis porque atribuímos tanta
importância ao passado e ao presente de lutas de cada companheiro.”

“2 - Ter a mais estreita ligação com as massas. Devem ser elevados aos postos de direção aqueles
companheiros que sabem tomar o pulso da vida das massas, que sabem auscultar seus sentmentos,
conhecer sempre seu estado de espírito e suas necessidades mais sentdas, e ainda, que sejam
capazes de modificar esse estado de espírito. Será tanto maior a autoridade dos nossos dirigentes
quanto mais a massa enxergar neles seus verdadeiros líderes, convencendo-se da capacidade deles
na base da experiência e abnegação de que eles são possuidores. Eis porque atribuímos tanta
importância à origem e à função social dos camaradas.”

“3 - Ter a capacidade de orientar-se por si mesmo em qualquer situação, e não temer a


responsabilidade de decidir sobre qualquer questão. Realmente, não pode ser considerado dirigente
quem teme assumir responsabilidades, quem não sabe demonstrar iniciatva e acha que deve se
limitar a fazer somente aquilo que especificamente lhe deram para fazer. Só é verdadeiro dirigente
aquele que não se deixa levar pela menor sombra de pânico quando as coisas se tornam perigosas ou
qualquer nuvem negra que surge no horizonte, aquele que não perde a cabeça na hora da derrota e
que não se envaidece na hora do triunfo. Só é verdadeiro dirigente aquele que conserva a cabeça fria

598
e demonstra uma firmeza inabalável na aplicação das decisões tomadas. Os dirigentes se formam e
se criam da melhor maneira quando se veem forçados a resolver por sua própria conta os problemas
concretos de luta, e sentem toda a responsabilidade que isto determina. Devem, portanto, os
dirigentes eleitos ser homens que não têm medo das dificuldades, que têm toda a sensibilidade e a
fexibilidade para conduzir o Partdo através de todos os obstáculos, homens que não percam o rumo
desviando-se da nossa linha polítca, e que não percam o ritmo isolando-se das massas. Eis porque
atribuímos tanta importância ao preparo dos companheiros, à sua autoridade, à sua coragem polítca
e ao seu equilíbrio no trabalho prátco.”

“4 – Ter a disciplina partdária e têmpera bolchevique tanto na luta contra os nossos inimigos quanto
na irreconciliabilidade para com todos os desvios da linha de conduta do nosso Partdo. Eis porque
atribuímos tanta importância à contnuidade do desenvolvimento dos companheiros e à sua energia
em defender o Partdo.”

“5 - Ter a capacidade de trabalhar coletvamente e soldar as forças do Partdo em uma unidade


monolítca. Isto é da maior importância, porque quanto mais difceis e complexos os problemas que
se apresentam ante o nosso Partdo, tal como ocorre no momento atual, maior necessidade temos de
melhorar o trabalho coletvo, de intensificar o espírito de equipe. O individualismo pequeno-burguês,
a centralização do trabalho em mãos de um determinado companheiro como consequência de
métodos de trabalho errados, só podem ser altamente prejudiciais. Além do mais, por mais que
sejam suas qualidades, o trabalho de direção individual por ele executado só trará em seu bojo os
germes do caudilhismo, como também jamais poderá ser do mesmo alto nível de um trabalho de
direção executado coletvamente, como fruto de discussões democrátcas dentro de cada organismo.
Por outro lado, o mesmo que se aplica aos indivíduos, também se aplica em parte aos organismos. E
por isso mesmo, precisamos nas direções do Partdo homens capazes de soldar as forças do Partdo
em unidade monolítca, que não permitam a hipertrofia de um determinado setor com prejuízos de
outros, que congreguem todas as vontades numa vontade única férrea, determinada, de marchar até
a vitória. Eis porque atribuímos tanta importância aos companheiros que sabem por todo o seu
trabalho em movimento e que têm um grande espírito de unidade, bem como uma natural modésta,
um verdadeiro espírito do Partdo.”

Todo membro do partdo é preparado para ser um dirigente, na frente interna, na frente
externa, em ambas as frentes. Não é possível pertencer ao partdo e renunciar a melhorar
sempre a renunciar à sua partcipação na formação e ampliação dos movimentos de massa.
Daí a luta para assimilar, aperfeiçoar e aplicar a tátca e a estratégia traçadas pelo partdo. Diz
Stálin:

599
“Confundir a palavra-de-ordem com as diretvas ou a palavra-de-ordem de agitação com a palavra-
de-ordem de ação é tão perigoso quanto são perigosas, e às vezes até funestas, as ações prematuras
ou tardias. Em abril de 1917, a palavra-de-ordem de ‘Todo o Poder aos Sovietes’ era uma palavra-de-
ordem de agitação. A célebre manifestação de Petrogrado, em abril de 1917, com a palavra-de-
ordem de ‘Todo o Poder aos Sovietes’, demonstração que se realizou em torno do Palácio de Inverno,
foi uma tentatva, uma tentatva prematura e por isso desastrosa, de transformar essa palavra-de-
ordem de agitação com a palavra-de-ordem de ação. Teve razão o Partdo ao condenar os
promotores daquela manifestação, pois sabia que ainda não existam as condições indispensáveis
para transformar essa palavra-de-ordem em palavra-de-ordem de ação, que uma ação prematura do
proletariado poderia conduzir ao desbaratamento das suas forças.”

“Existem, por outro lado, casos em que o Partdo se vê na contngência de retrar ou modificar ‘em
24 horas’ uma palavra-de-ordem (ou uma diretva) já aprovada e que era oportuna, para salvar as
suas fileiras de uma emboscada preparada pelo inimigo, ou para adiar temporariamente a aplicação
de uma diretva até momento mais propício. Um caso dessa espécie ocorreu em Petrogrado, em
junho de 1917, quando a manifestação de operários e soldados, metculosamente preparada e fixada
para 9 de junho, foi ‘inesperadamente’ suspensa pelo C.C. do nosso Partdo, em vista de mudança
operada na situação.”

“A tarefa do nosso Partdo consiste em transformar hábil e oportunamente as palavras-de-ordem de


agitação em palavra-de-ordem de ação, ou as palavras-de-ordem de ação, em diretvas precisas e
concretas, ou, se exige a situação, dar prova da fexibilidade e decisão indispensáveis para suspender
a tempo a aplicação de determinadas palavras-de-ordem mesmo, que sejam populares, mesmo que
sejam oportunas.”

Assim, o membro do partdo tem que ter a habilidade de combinar a mobilização das
massas com o acompanhamento do caráter correto das diretvas para a luta, sem cair em
jogadas demagógicas, iludir as massas ou fugir à responsabilidade de sua condução à luta.
Por exemplo, neste ano que corre, temos a obrigação de mobilizar as massas para prosseguir
na luta pelos objetvos já estabelecidos, enquanto uma parte de nossa capacidade de ação se
destna à partcipação no processo eleitoral que se dará em outubro. Não se pode descurar
desta segunda frente, eleitoral, sob a pena de confundir nossos outros ganhos tátcos
imediatos com êxitos estratégicos. Como dizia Talensky:

“A força da estratégia stalinista repousa, em sua base, numa correta avaliação da relação real das
oportunidades, forças, tendências, levando-as em conta não estatcamente e sim de modo dinâmico, de

600
desenvolvimento. Precisamente este cálculo realístco de todos os fatores operacionais garante a eficiência da
estratégia stalinista, fixando seus propósitos decisivos.”

Portanto, a avaliação correta da relação de forças, em virtude da constante mudança de


situação, requer um procedimento permanente de análise, para assegurar a obtenção
desejada do efeito com o menor dispêndio possível de forças. Essa arte tátca de atuação só
pode ser criada e aplicada por uma direção centralizada e única, hábil e fexível, capaz de
apreciar cada momento e adaptar a luta de massas ao efetvo curso de desenvolvimento da
situação. Ensina Stálin:

“Finalmente, há também momentos em que é preciso ignorar os sucessos tátcos, incorrendo


deliberadamente em perdas desse gênero a fim de assegurar à estratégia, louros no futuro. Isto
ocorre frequentemente na guerra quando um dos lados, desejando salvar as tropas e furtá-las ao
embate principal de forças superiores do inimigo, dá início a um plano de retrada e se rende sem dar
batalha, entregando cidades inteiras e regiões a fim de ganhar tempo e reunir e forças para
determinadas batalhas no futuro. Eis o caso na Rússia, em 1918, por ocasião do ataque alemão,
quando nosso Partdo foi obrigado a aceitar a paz de Brest, que resultou uma enorme perda do ponto
de vista do efeito polítco naquele momento, a fim de preservar a aliança com os camponeses,
sedentos de paz e obter uma pausa alentadora, de modo a criar um novo exército e garantr, por
estes meios, ganhos estratégicos em outra oportunidade.”

“Em outras palavras, a tátca não pode se subordinar a interesses do momento; não deve ser
orientada por considerações de efeito imediato e polítco; ainda menos, se deve deixar embair por
castelos no ar – a tátca precisa adaptar-se às tarefas e possibilidades da estratégia.”

Ou seja, grandes êxitos momentânneos podem se revelar uma fonte de futuros desastres,
caso o teste da realidade objetva indique não estar a ocorrer as mudanças subjetvas
necessárias ao acúmulo demandado de forças, para fazer frente às batalhas que se
desdobram no horizonte e que se aceleram como processo.

1 – A Possibilidade de um Novo Curso de Desenvolvimento Econômico e Polítco.

Nesse caso – evolução rápida da situação; versus evolução lenta do recrutamento e da


formação de quadros -, pode-se ver abrir uma outra fase na etapa de luta, pela insufciência
das condições subjetvas para levar a cabo as tarefas, tal qual elas se impunham. No quadro

601
atual, há possibilidade de êxito, dependendo fortemente da ação que empreendam os
quadros da burguesia nacional, que podem dar maior ou menor profundidade à prátca do
programa reformador.

Não esqueçamos como as variações na correlação de forças podem permitr criar fatos
polítcos ou não, que nos sejam favoráveis ou desfavoráveis. Não estamos sozinhos no
processo de luta, e o conjunto de todos os esforços – favoráveis e desfavoráveis – que são
empregados, marca a pauta das ações possíveis. Lenine chegou a esperar entre maio e julho
de 1917 a hipótese de uma transição pacífca, que se fazia potencial, devido a uma
conjuntura totalmente nova, que evoluía rapidamente, como resultado da revolução de
fevereiro. Na “Carta aos Camaradas”,, Lenine apreciou as novas condições com a ampla
viragem das massas para os bolcheviques, o que mudava favoravelmente as condições
subjetvas.

O quadro geral da situação brasileira é favorável ao debate das mudanças necessárias. A


prova disso é o aparecimento na imprensa de uma tendência mais dissimulada, que procura
lançar mão do palavreado da Esquerda, que hoje está na boca das multdões. Conhecidos
lacaios do imperialismo, que até dois anos atrás falavam abertamente contra a
industrialização do país, hoje são favoráveis a um “desenvolvimento balanceado”,. O
imperialismo, que só insista no famoso “Ponto IV”,, hoje fala em “integração”,, “aliança”, e
outras metáforas para o neocolonialismo. À medida que na América Latna os povos tendem
a despertar e pensar por conta própria, a orquestra de sempre toca a música preferida pelo
ouvido popular. Todo esse empenho aponta para uma direção que não corresponde à prátca
conhecida dos agentes do atraso. Ao fazer “um discurso democrátco”,, procuram jogar cinza
nos olhos dos setores menos experientes ou vacilantes na luta polítca. Tão logo esses
afrouxem a pressão, tão logo o campo nacional vacile, virá o cacete no lombo, a tradicional
polítca do “carry a big stck”,... Há, pois, uma oportunidade para a mudança. Os aliados
débeis e mais equivocados devem ser fortalecidos e esclarecidos. A mobilização popular
deve prosseguir. O processo ascendente do movimento de massas não é inquietante senão
para os inimigos do povo. O partdo operário deve intensifcar em todos os níveis o seu
trabalho de mobilização e de organização, para que as massas mais amplas possam partcipar
com intensidade da formação do programa máximo que pode conduzir às reformas. Nesse
ponto, o partdo reconhece a persistência de suas inefciências:

602
“O aspecto mais deficiente de nosso trabalho de frente única reside na atenção, ainda muito
insatsfatória que damos ao aliado fundamental da classe operária, ou seja, o campesinato. Apesar
dos inegáveis progressos assinalados nos últmos anos, contnuamos muito aquém das necessidades,
o que refete, sobretudo, concepções espontaneístas de fundo oportunista em nosso Partdo. Isto é,
tanto mais grave nos Estados cuja economia é predominantemente agrária e, em geral, nas zonas do
interior, onde muitas vezes, o Partdo vive voltado para a sede dos municípios, sem se dedicar
precipuamente à organização e politzação da massa camponesa, e às lutas por suas reivindicações. É
indispensável que nos municípios do interior, o Partdo considere tarefa fundamental o trabalho com
a massa camponesa. As direções, por sua vez, a começar pelo Comitê Central, precisam libertar-se do
espontaneísmo e superar na prátca a subestmação do trabalho com os camponeses, estudando seus
problemas e tomando medidas concretas para o seu desenvolvimento. Não podemos deixar de levar
em conta que, com o despertar da massa camponesa para a luta pelas reivindicações específicas,
diversas correntes, de orientação burguesa e pequeno burguesa, vêm se empenhando atvamente
para organizar os trabalhadores rurais e colocá-los sob sua liderança polítca e ideológica. A
intensificação do trabalho no campo adquire, assim, para as comunistas um sentdo de urgência que
se prende ao objetvo de conquistar para o proletariado a hegemonia na frente nacionalista e
democrátca.”

Os elementos reacionários atribuem o crescimento do movimento popular a “erros”, dos


governos Vargas, Kubistchek, Jânnio, e Goulart, que “têm prometdo”, desenvolvimento
econômico e social, despertando assim a “inveja”, de elementos “desprovidos de mérito”, e
desajustados em escala de milhões. Para eles, falar em “desenvolvimentsmo”, é mexer em
casa de marimbondos. Tais elementos estão completamente defasados do mundo atual. O
desenvolvimento da ciência e da técnica, o avanço dos transportes e das comunicações
quebrou o mundo tacanho, anterior à segunda guerra, em que mentalmente ainda vivem
tais elementos reacionários. A segunda guerra mudou o caráter do Estado, obrigando-o a
uma maior permeabilidade a programas democrátcos, que permitam a uma sociedade em
rápida urbanização infuir na reforma das insttuições, das relações de produção, da base
econômica. O mundo em que os reacionários querem viver é uma acomodação de volta a
antes de 1929, com aquela mesma divisão internacional do trabalho, e o silêncio completo
das maiorias populares. Aquele mundo fndou-se com a grande crise, com a segunda guerra
mundial. Os governos que se recusam a reformar as estruturas de seus países são hoje
colocados sob grande pressão popular e podem evidentemente ser trocados por outros mais
progressistas. Diante disso, as forças reacionárias, embora dentro do governo e do Estado,

603
começam a sonhar com ditaduras abertamente fascistas, o que não leva em ponto a
considerar os direitos adquiridos dos trabalhadores e os programas verdadeiros de
desenvolvimento econômico e social. A aposta desses elementos reacionários é expulsar o
capital industrial do círculo do governo e governar apenas o trio imperialismo-burguesia
mercantl-latfúndio. Contudo, em virtude da correlação de forças real, existente na
sociedade, isso não é tão fácil de fazer. Somente através de um golpe de estado muito
violento podem as forças do atraso, recuperar de todo o poder polítco. Não podem fazê-lo
em condições de vida democrátca. Depois da derrota parcial que hão de sofrer na próxima
eleição (outubro), poderão menos ainda. Daí cifrar-se toda a esperança do trio reacionário
no golpismo, que se tornará ainda mais a sua estratégia depois da futura derrota eleitoral.
No ano vindouro, as forças golpistas tentarão novamente um golpe de estado.

A tátca do partdo operário para enfrentar a catástrofe que seria o monopólio do poder de
Estado nas mãos da reação é fazer avançar o movimento popular, apoiar um conjunto de
medidas em prol das reformas de base que a burguesia nacional, reunida em torno do
governo Goulart, lograr encaminhar. Voltamos a insistr que semelhante iniciatva no campo
democrátco – governar para si – só se pode dar através da consttuição de um governo
nacionalista e democrátco, implantado que seja, no parlamentarismo de fachada, ou pela
restauração do poder presidencialista. Sem um governo que se torne capaz de expressar as
necessidades de avanço do capital industrial e da melhoria de vida do povo, a crise há de se
aprofundar e com ela a falta de perspectva e o desespero. É nisto que aposta a reação, para
obter o poder de modo absoluto: o prosseguimento da conciliação.

A dependência que o país tem de uma economia de importações não pode ser rompida a
não ser no longo prazo. A aceleração do processo industrial nos últmos anos (1946-1961),
necessita de largas importações de equipamentos e insumos e os créditos externos são
necessários. No entanto, o governo norte-americano, através do FMI e do Banco Mundial,
condiciona o fornecimento de créditos ao alinhamento absoluto com sua polítca, o que
evidentemente é um exagero. Desta forma, o país não tem podido contar com os recursos
externos para buscar o “equilíbrio”, tão exigido... por nossos “amigos”, que nos negam os
recursos...

604
Se devemos fazer tudo por nós mesmos, qual seria a vantagem de nos alinharmos de modo
absoluto com a polítca dos EUA? Certamente, manter intactas as estruturas que fomentam o
atraso do país... Na verdade, esta é uma polítca imperialista que tem por objetvo bloquear o
desenvolvimento do capital industrial local, quando o mesmo não se faça como uma forma
do próprio capital estrangeiro. Esta polítca de debilitação do desenvolvimento do capital
industrial local é um envolvimento estratégico do próprio governo de Washington, que chega
a intervir na polítca de empréstmos da burguesia média norte-americana (levada a efeito
pelo Banco Interamericano), opondo a ela a polítca de crédito de “tubarões”, do Banco
Mundial. Uma vez que não podem fazer o Brasil retornar ao antgo sistema de intercânmbio
comercial, bloqueiam como podem o desenvolvimento do capital industrial nacional.

Vê-se aqui que o “centro imperialista”, como nação cuida de seus futuros interesses tão bem
quanto cuida dos seus interesses atuais. Na divisão internacional capitalista do trabalho,
reserva um lugar “futuro”, para o Brasil, e este lugar não é o de nação independente e
progressista. Este lugar é apenas de uma “neocolônia”,, como até recentemente foi Cuba,
lugar em que o dominado desempenha fcar com todos os altos custos, sofrer desemprego
estrutural e não partcipar do que seriam as suas decisões estratégicas. O partdo operário
discorda dessa perspectva de “futuro”, implícita na estratégia do centro imperialista. O nosso
sentdo de estratégia é aquele que ponderou Stálin:

“A tarefa principal da estratégia é a determinação da direção básica segundo a qual se deva fazer seguir o
movimento da classe, e segundo a qual se torne mais fácil ao proletariado fazer sentr a sua ação contra o seu
oponente para realização dos propósitos ditados pelo seu programa. O plano da estratégia é o plano de
organização do golpe principal, na direção em que ele possa produzir o máximo de resultados.”

O partdo operário está sempre aberto a discutr os resultados que podem decorrer de sua
demanda estratégica como qualquer força atua no plano nacional, para tornar o movimento
nacionalista e democrátco mais forte e capaz, com menos sacrifcios para o país, com maior
economia de forças, tomar a direção necessária para a independência e o desenvolvimento.
Deixar-se confundir pela semânntca dos agentes do imperialismo não abre caminho ao
desenvolvimento nacional independente. Jogar com a suposta estratégia de barrar sucessivas
vezes a tentatva do inimigo de manter a iniciatva tampouco pode se considerar um
movimento estratégico. É preciso libertar-se da conciliação com o trio reacionário, que

605
pretende ganhar tempo para reagrupar suas forças e desencadear uma nova tentatva de
golpe de estado.

A burguesia mercantl, aliada ao latfúndio e ao imperialismo, sempre teve uma visão


estátca de Brasil, em que o povo é um elemento passivo e que não se trata sequer de um
“povo”,, mas de uma “população”,. Isso porque, responsável que foi esta parte da burguesia,
com os latfundiários, do sistema de escravidão que vigorou formalmente no país até meros
74 anos atrás, ela não se conforma em admitr a maioria dos brasileiros como sendo
humanamente igual a ela e, portanto, consttuírem um povo. Daí deriva toda sorte de
estripulias que comete. Uma delas foi não aceitar a reforma da estrutura monetária
efetvada por Vargas, com a multplicidade das taxas cambiais. Com a portaria 204 da
SUMOC, tratou de dar “volta atrás”, com a roda da História, criando difculdades para o
capital industrial e a população em geral, conduzindo o país à crise que já se vê no horizonte.
A difculdade que os setores atrasados do capital têm para aceitar reformas é a fonte das
sucessivas crises que vêm agravar as baixas cíclicas. O fm do sistema de cânmbios múltplos
(1961) mostrou-se de tal modo prejudicial que o próprio governo teve que emitr outras
portarias (destaque para a 208), a fm de minorar o efeito desastroso. Mas o estrago está
feito. Temporariamente – espera-se – o país abandonou o caminho do crescimento
econômico, por uma suposta polítca de “equilíbrio de fatores”,, que os países metropolitanos
receitam, mas não pratcam. A polítca do “equilíbrio”, consiste em desfnanciar o
desenvolvimento, com desembolsos pesados por causa da dívida externa (ano passado, 1,2
bilhões de dólares) e bloqueio ao autofnanciamento pela omissão doméstca de recursos
(busca de “equilíbrio”, fscal).

O resultado da polítca cambial do Sr. Jânnio é o atual quadro de chantagem a que se vê


submetdo o governo, quando tenta regularizar seu fuxo de divisas. O aumento do
contrabando, do açambarcamento e da escassez de divisas são peças de um mesmo jogo,
que procura reartcular uma oportunidade nova para o golpe de estado. As forças
reacionárias não aceitam negociar e procuram uma maneira para “virar a mesa do jogo”,. É
correto, portanto, interpretar-se que o movimento nacionalista e democrátco deve seguir
em frente com sua proposta de reformas. Abre-se a possibilidade de um novo curso de
desenvolvimento para o país. Quanto mais as forças nacionalistas esperarem por um acordo
mais irá se agravar a situação. O estrangulamento do fnanciamento compensatório é uma

606
forma de controlar os gabinetes parlamentares atuais e impedir que elaborem uma polítca
de longo curso. A ausência de divisas, a pressão infacionária correlata e os baixos salários
criam um poder de compra baixo, que não pode seguir expandindo o mercado interno. É
preciso priorizar algumas reformas, que deem um novo impulso à expansão econômica. Sem
um processo de democratzação da renda, a economia atende para a estagnação. Com um
pouco mais de renda real, os detentores de renda poderiam fnanciar a compra de casas,
geladeiras, bens em geral, dando um novo impulso, que a atual falta de compradores vê
faltar.

O grau de pobreza da população, portanto, leva rapidamente a economia do país a uma


“crise de superprodução”,, o que permite aos elementos reacionários responsabilizarem o
atual governo pelos desmandos que eles próprios têm cometdo. A crise econômica é, assim,
o momento ideal para aqueles que “trabalham”, pela causa do golpe de estado.

A oportunidade das forças populares é a sua consolidação enquanto movimento


nacionalista e a criação de um governo nacionalista e democrátco, para iniciar as reformas
de base no país. A crise econômica-fnanceira só pode ser evitada, dando-se um passo
adiante (expansão e reformas) e não dando-se um passo atrás (“equilíbrio”, fscal e cambial),
como preconiza a extrema direita, que controla o “parlamentarismo”, de fachada. Recorde-se
do comentário de Stálin, sobre a crise de poder na Rússia, depois da revolução de fevereiro
de 1917:

“No período da guerra russo-japonesa, quando a instabilidade da autocracia se tornou mais ou


menos evidente às grandes massas da classe operária, essa palavra-de-ordem se transformou em
palavra-de-ordem de agitação, porque já se propunha ganhar massas de milhões de trabalhadores.
No período que precedeu a Revolução de Fevereiro de 1917, quando o tsarismo já estava
definitvamente desacreditado aos olhos das massas, a palavra-de-ordem de ‘Abaixo a autocracia’ se
transformou de palavra-de-ordem de agitação em palavra-de-ordem de ação, porque o seu objetvo
era mobilizar massas de milhões de trabalhadores para o assalto contra o tsarismo. Durante as
jornadas da Revolução de Fevereiro, essa palavra-de-ordem já se transformara em diretva do
Partdo, isto é, num apelo aberto à conquista, dentro de um prazo fixado, de certas posições do
sistema tzarista, posto que se tratava de derrubar o tsarismo, de destruí-lo. A diretva é um apelo
direto do Partdo à ação em momento e lugar determinados, obrigatório para todos os membros do

607
Partdo e habitualmente secundado pelas grandes massas trabalhadoras, se o apelo formula de
modo justo, exato, as reivindicações das massas, se é verdadeiramente oportuno.”

É preciso saber avaliar, portanto, os elementos componentes de cada situação e não


congelar-se tmidamente nas posições anteriores, temendo perder o que já foi alcançado. É
preciso estabelecer com clareza a conquista do centro da tátca que se aplica, ou seja, deve-
se obter criar um governo nacionalista e democrátco, para conduzir o país para fora da crise,
que tende a se agravar. Sem esta conquista, sem a materialização clara dessa diretva, só
restaria uma posição passiva, a de esperar pela próxima tentatva de golpe de estado.
Quanto a isso, é o que a direita pode fazer, tentar aumentar o poder que ainda possui,
livrando-se das frações nacionalistas e democrátcas no aparelho de Estado. Semelhante
golpe será tentado de qualquer jeito, façam-se reformas e mudanças no governo ou não.

2 – O Centro de Nossa Tátca: a Luta por um Governo Nacionalista e Democrátco.

O rápido crescimento da mobilização de massas acarreta também um movimento


organizatvo de amplitude, onde prevalece uma certa dúvida quanto ao caminho a tomar, ou
seja, quais as formas de organização verdadeiramente úteis ao avanço da luta de massas.
Não se devem subestmar os trabalhadores. Sua união, as coletvidades que formam,
consttuem um organismo vivo, sejam os comitês de fábrica, os comitês de bairro, as
comissões de trabalho, etc. O importante é discutr com todos esses núcleos que vem se
formando, o caráter do programa mínimo na luta atual, com a centralidade da luta pela
conquista de um governo nacionalista e democrátco. É no momento, secundária a discussão
quanto às relações entre o partdo operário e referidos núcleos, que têm se desenvolvido de
forma espontânnea. O caráter polítco da formação e desenvolvimento dos núcleos
nacionalistas deve ser ressaltado e mantdo, porque é do interesse polítco atual das massas
populares a que eles pertencem. Eles não pertencem a qualquer partdo polítco. As lutas
autônomas das diferentes camadas das massas populares devem ser conduzidas por suas
direções específcas, ampliando assim o caráter espontânneo da luta pelos objetvos
nacionais. Somente o movimento popular, desenvolvendo-se a partr de sua própria
experiência, pode alcançar a envergadura necessária à obtenção de suas vitórias parciais.

608
Somente a dinânmica dos núcleos de base do movimento popular pode levá-los a se
reproduzir numa escala que movimente grandes massas. Nenhuma agrupação polítca de
tpo partdário pode responder sozinha por semelhante tarefa. O que pode, sim, é auxiliar
em seu processo de estruturação. Como diz Luiz Corvalán:

“Obviamente, o movimento de massas tem altos e baixos e nele há debilidades. Às vezes é difcil
empreender e coordenar a luta, porque ainda há dispersão de força se o inimigo também trabalha.
Mas, apesar disso, é forte e desenvolve-se progressivamente. As lutas são cada vez mais amplas e
combatvas.”

“Quaisquer que sejam os fins imediatos de cada ação de massas, pode-se afirmar que todas elas
fazem parte, objetvamente, do movimento geral, social e polítco, que aspira a abrir caminho pela via
pacífica. As massas vão aprendendo, mediante essa luta, a conhecer seus amigos e seus inimigos e a
compreender que a solução de seus problemas está vinculada a uma mudança radical, a
transformações profundas, à consttuição de seu próprio governo.”

As massas populares não são consttuídas de pessoas especiais. São as pessoas mais
comuns, que não gostariam de se envolver em problemas públicos, muito menos aproximar-
se de ou debater com “autoridades”,. O que leva tais pessoas do povo a se envolver nos
“assuntos públicos”, é o despertar de uma certeza de que nada será resolvido a seu favor, ou
em favor daqueles que lhes são semelhantes. De corrente, as classes dominantes não temem
nem respeitam as massas populares. No entanto, quando tais dominadores percebem que
suas artmanhas e as palhaçadas dos velhacos a seu serviço deixam de surtr efeito, logrando
não mais enganar as massas, então se preocupam. Põe-se a imaginar a maneira mais
efciente de, como o amestrador dos ursos, usar as doses adequadas de chicote e açúcar.

As classes dominantes não podem enganar as massas populares para sempre. Seus truques
fcam desmascarados, dá-se um despertar da consciência coletva. Nessa situação, os
dominadores tremem de medo, porque podem perder seus privilégios e todos os proveitos
de seus crimes. Exemplifcando a luta popular, diz Luiz Corvalán:

“A luta das massas adquire variadas formas de expressão. Além da greve, os trabalhadores
costumam ocupar fábricas, fazem marchas de muitos quilômetros pelas estradas de acesso às
cidades principais, realizam desfiles de rua e comícios públicos, invadem as dependências e os jardins
do Congresso Nacional, recorrem a todos os meios que têm ao seu alcance. Os camponeses utlizam
também como método de luta a greve e a marcha do campo para a cidade, chegando às vezes à

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ocupação da terra. Os estudantes caracterizam-se pela frequência e grandeza de suas manifestações
de rua, combinadas com a ocupação das escolas. As províncias mais atngidas pela crise paralisam
frequentemente todas as suas atvidades e hasteiam a bandeira a meio pau, em sinal de protesto, a
bandeira nacional.”

Através da ampliação da luta de massas, pode-se chegar a consttuir no plano polítco a


possibilidade de alterar seriamente a relação de forças, permitndo uma modifcação
favorável a conseguir um governo progressista, no caso brasileiro, um governo nacionalista e
democrátco. Diz Santago Alvarez:

“Os marxistas-leninistas qualificam de situação revolucionária o estado polítco-social que


forçosamente precede à revolução e no qual os de ‘cima’ não podem contnuar governando ‘ao velho
estlo’ e os de ‘baixo’ não querem contnuar vivendo como até então, quando surge a crise polítca em
escala nacional, que afeta exploradores, e as massas se somam à luta. Cria-se a situação
revolucionária como resultado do extremo agravamento das contradições da sociedade dividida em
classes antagônicas. O surgimento da situação revolucionária neste ou naquele país é um índice da
maturidade das premissas objetvas (econômico-sociais e polítcas) da revolução.”

Importante traço da conjuntura atual (1958-1962) é o ascenso do movimento de massas e o


fortalecimento rápido de todas as organizações e entdades populares que se situam no
campo da luta pela democracia e a ampliação das liberdades. Apesar das diferentes
proposições no campo das forças populares, todas as correntes que as formulam têm
experimentado uma ampliação dos seus fliados e seguidores, fato a demonstrar o interesse
pela luta e o despertar da consciência de milhares e milhares. Nossa posição é que a
ampliação do nosso campo de forças é importante fator para o avanço da luta e das
propostas colocadas na agenda e que de nenhuma maneira a eventual discordânncia de
pontos programátcos ou soluções parciais consttui uma desvantagem duradoura. Temos
certeza que todas as bandeiras do campo popular podem ser desfraldadas. O importante é a
cooperação no plano tátco e a perseverança na ação polítca, de forma quotdiana. O
trabalho conjunto tende a reduzir as divergências e a construir a confança mútua. Por isso é
muito importante: (1) fortalecer os núcleos de base nacionalista e democrátca em todas as
partes; (2) vincular todas as reivindicações e todas as jornadas de luta, à luta por um governo
de novo tpo, um governo nacionalista e democrátco, capaz de encaminhar as soluções
necessárias centrais a desencadear o desenvolvimento econômico e social.

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Onde quer que um punhado de pessoas – organizadas politcamente ou não – se
disponham reunir e debater os problemas nacionais e meditar quais as soluções
demandadas, dispostas portanto a cooperar como seja possível pela ampliação das
liberdades democrátcas e solução das mais sentdas reivindicações populares, aí deve se
colocar um elemento da frente popular apto a trabalhar pela consecução de tais objetvos.
Organizar o povo não é uma tarefa exclusiva dos membros de nosso partdo, mas de todo
aquele elemento consciente da causa nacional, de suas tarefas e de suas necessidades.
Como diz a Resolução do partdo:

“A revolução brasileira se processa na era da transição do capitalismo para o socialismo, quando um


terço da humanidade vive sob o regime socialista. A superioridade crescente do socialismo sobre o
capitalismo no plano mundial, o desenvolvimento ascendente do movimento de libertação dos povos
e o consequente debilitamento do sistema imperialista exercem poderosa infuência favorável ao
crescimento das forças ant-imperialistas e democrátcas no Brasil.”

“O poderio do sistema socialista mundial, que tem à frente a União Soviétca, consttui um forte
apoio à causa dos países subdesenvolvidos como o Brasil. Pela primeira vez na história, criou-se para
o nosso país a possibilidade de obter equipamentos, créditos e assistência técnica sem a necessidade
de submeter-se às imposições de caráter econômico, polítco e militar das potências imperialistas.
Este fator novo atua no Brasil com um estmulo à luta das forças patriótcas e progressistas por uma
polítca exterior independente e de paz.”

Nessas novas condições do mundo contemporânneo é natural que se desenvolvam novas


forças progressistas e aumente o seu nível de organização e de partcipação. Seria tolice,
pois, julgarmos que nós nos encontramos sós na luta pela reforma social e pela mobilização
das amplas massas de trabalhadores e de pobres. Contribuir para a ampla formação de
núcleo de partcipantes nacionalistas e democratas de variada opinião ideológica é muito
importante. E a luta por um governo capaz de solucionar as atuais tarefas da sociedade
brasileira é o centro tátco à convergência de todas as lutas parciais que vem se travando.
Como diz nossa Resolução:

“A nova situação mundial, em que são cada vez mais poderosas e infuentes as forças que defendem
a causa da paz, refete-se em nosso país estmulando a resistência ao imperialismo norte-americano e
à luta por uma polítca externa de paz e amizade com todos os povos, inclusive com a União Soviétca,
a República Popular da China e demais países socialistas.”

611
O governo dos Estados Unidos põe-se a serviço de suas grandes empresas monopolistas
que almejam o domínio mundial e juntos ditam regras para todos os países que caem sob
seu poder ou sua infuência. No caso do Brasil, procuram impedir o desenvolvimento
independente de nossa estrutura agrária e de nosso capital industrial, empurrando a
economia do país para uma posição de reserva de matérias primas, sem fontes energétcas
próprias (petróleo, eletricidade) e daí sem possibilidade de se desenvolver e resolver os
problemas de sua população. Assim, a infuência dos EUA no Brasil procura manter e
aprofundar nossas deformações estruturais: Diz a Resolução do partdo: “lutemos contra o
imperialismo norte-americano.”

“A fim de derrotar o inimigo comum, recomenda a Resolução que é necessária a frente única das
várias forças interessadas na emancipação e no progresso do Brasil. A aliança dessas forças resulta
de exigências da própria situação objetva.”

Calcula-se, portanto, ao lado de todas as forças progressistas, democrátcas e nacionalistas


que defendem um poder nacional e a escolha de um caminho próprio para o nosso
desenvolvimento é colocar-se numa polítca de frente única para a obtenção de um governo
capaz de cumprir tais objetvos. Diz nossa Resolução:

“Como o imperialismo norte-americano e seus agentes internos consttuem o inimigo principal, a


frente única é muito ampla do ponto de vista de sua composição de classe.”

A atual tentatva das forças retrógradas de manter artfcialmente uma polítca


parlamentarista, baseada no Congresso, para o país, tem conduzido o país diretamente ao
agravamento dos componentes de crise. A polítca parlamentarista empurra também a
economia para uma grave e profunda crise, já indicada por elementos cíclicos. Portanto,
parlamentarismo é crise: são sinônimos. Embora um sistema insttucional não decida do
todo das situações polítcas, ele só serve e só pode servir aos objetvos das forças que o
criaram – sua história – e expressa as limitações para a qual foi desenhado expressar. No caso
deste sistema parlamentarista, foi desenhado por golpistas para servir aos objetvos do
atraso e do golpismo: (1) não permitr que os movimentos e pressões populares sejam
sentdos pelos parlamentares; (2) bloquear o funcionamento do poder executvo, com um
presidente fraco insttucionalmente, que não pode manifestar o desejo da maioria na
composição do gabinete de governo; e (3) formar gabinetes parlamentaristas conservadores

612
e eclétcos, incapazes de expressar um programa e, portanto, garantndo a tátca
parlamentarista, que é fazer nada, esvaziando as propostas de reforma.

1. – Insensibilidade às Pressões Populares. – Encontrando-se o país em situação difcil,


com uma polítca das classes dominantes de insensibilidade à fome e ao desemprego, a
coalizão de partdos conservadores (PSD – UDN – PR – PDC – PSP – PRP) pode criar inúmeras
combinações para formar gabinetes, ignorando as eventuais frações progressistas
minoritárias dentro de cada partdo. Dessa forma, os gabinetes reacionários que podem
fabricar, disfarçados de centristas, chegam a um número infnito. Esta tátca para bloquear a
discussão das reformas só pode ser combatda por uma forte pressão popular, capaz de
reforçar dentro de cada partdo sua eventual fração progressista.

2. – Bloqueio do Poder Executvo. – Ao formar gabinetes retrógrados disfarçados de


centristas, os elementos da maioria reacionária do congresso podem manobrar livremente
para ignorar o programa de reformas e a opinião do presidente da república. O “primeiro-
ministro”, pode assim agir como suposto “elemento conciliador”,, que no cargo procura
compensar o “radicalismo”, de um presidente petebista. O bloqueio, evidentemente, se
estenderá até o fm do mandato do presidente legítmo, como é o recorte que lhe foi dado
pelo golpe do parlamentarismo.

3. – Gabinetes “Dissuatórios”. – A fnalidade deste falso parlamentarismo é atribuir vida


às nulidades polítcas, que em seu serviço permanente às classes dominantes tornaram-se
completamente desmoralizadas pelas suas ações, diante do povo. Com sua lógica
“parlamentarista”,, a função do gabinete é tornar burocratzada e lenta qualquer atvidade de
debate legal de qualquer reforma. É o que se chama “tátca de dissuasão”,.

Para enfrentar a “tátca dissuatória”,, a frente única nacionalista necessita escapar à polítca
de conciliação, escapar ao “canto da sereia”, dos “conciliadores”, e reforçar sua unidade
programátca e de ação. Diz nossa Resolução:

“Sendo composta de forças sociais diversas, que se unem em torno de interesses comuns, mas
conservam também interesses opostos, a frente nacionalista e democrátca encerra contradições.
Enquanto o proletariado, os camponeses e as massas populares são firmes na luta pela libertação

613
nacional e pelas transformações democrátcas, a burguesia ligada aos interesses nacionais não tem
firmeza na luta ant-imperialista, tendo compromissos com o inimigo, e certos setores burgueses
assumem attude vacilante em relação à reforma agrária. Há, finalmente, setores de latfundiários e
capitalistas que podem adotar, eventualmente, posições nacionalistas, mas querem conservar a
estrutura agrária atual e preconizam um regime polítco reacionário.”

Luta-se, portanto, em duas frentes: (a) mobilização e organização de massas populares


crescentes, com base no programa nacionalista e democrátco; (b) reforço do debate, da
elaboração programátca e da consolidação das forças insttucionais que expressam a frente
única. Diz nossa Resolução:

“A conquista de reformas econômicas e polítcas de caráter ant-imperialista e popular é possível


desde já, nos quadros do atual regime, dependendo, essencialmente, do crescimento das lutas de
massas, do poderio da frente nacionalista e democrátca e do papel que desempenharem as forças
revolucionárias mais consequentes; sobretudo a classe operária tem como objetvo golpear as
posições do imperialismo norte-americano e de seus agentes internos, acumular as forças
revolucionárias, modificar a correlação de forças em favor do povo e preparar as condições para a
realização completa das transformações radicais exigidas pela atual etapa histórica.”

É preciso intensifcar, portanto, o trabalho entre as massas e entre os elementos já


componentes ou dirigentes do processo de frente única. Dentro de cada insttuição da vida
social, dentro dos atuais partdos polítcos reacionários ou conservadores, é preciso
contatar e apoiar as frações mais progressistas ou interessadas no processo de reformas. É
preciso lutar para evitar o isolamento dos elementos progressistas em toda parte,
partcularmente nas ações concretas da luta de massas e em seus vínculos com a vida de
representação polítca. É preciso conquistar ponto por ponto a diminuição da presença do
imperialismo norte-americano em nossa vida econômica e polítca:

“É necessário lutar para abolir os privilégios concedidos ao capital imperialista mediante, entre
outras, as seguintes medidas: rigorosa restrição às remessas de lucros, royaltes e juros, e do
retorno de capital estrangeiro; encampação das subsidiárias da Brazilian Tracton (Light) e da Bond
and Share; extensão do monopólio estatal à distribuição em grosso, dos derivados de petróleo;
interdição aos bancos estrangeiros para receberem depósitos no País e proibição aos capitais
estrangeiros que atuarem no ramo de seguros; polítca nacionalista de defesa de nossos minérios;
encampação dos frigoríficos estrangeiros.”

614
3 – O Coroamento da Atual Etapa da Revolução Democrátca.

A atual conjuntura está se desenvolvendo com extrema rapidez e tudo indica que se
aproximam – com o aprofundamento da crise – intensas batalhas na luta pelo poder
polítco. Quando se perspectva o desenvolvimento da crise atual, é evidente que o
desenvolvimento das condições subjetvas dá-se com muito mais lentdão que o das
condições objetvas, em que as classes dominantes apresentam difculdades para controlar
a situação polítca e econômica e para atuar de modo sincronizado nas suas medidas e
reações. Este rápido desenvolvimento da conjuntura tem levado a setores da frente única à
vacilação e, mesmo, tatcamente, a se afastar da mesma (afastamento do grupo de JK,
divisão da ala “esquerda”, do janismo, etc.). Como comenta nosso partdo:

“A luta dentro da frente única difere da luta que as forças nacionalistas e democrátcas travam
contra o imperialismo norte-americano e seus agentes internos. Enquanto neste últmo caso o que
se tem em vista é isolar o inimigo comum e destruí-lo, dentro da frente única visamos tornar mais
coesas as forças que lutam por objetvos comuns, motvo por que as contradições de interesse e
divergências de opinião dentro da frente única podem ser enfrentadas sem romper a unidade,
embora não ser ocultadas, e venham a causar choques e atritos.”

Semelhantes vacilações expressam as difculdades da condução da luta polítca no plano


quotdiano, e podem ser vistas com as oscilações de ânnimo normais na luta pelo poder. Por
outro lado, a intensifcação da partcipação popular leva a que certos pontos programátcos
desta ou daquela força se vejam superados, partcularmente quando as mesmas têm
difculdade para se adaptar, se renovar e seguir adiante. A mais ampla mobilização da classe
operária com base na unidade sindical introduz elementos de racionalização no jogo
polítco, diminuindo o papel dos personalismos e ampliando as frentes de luta, como fator
da negociação das forças mais amplas. Isso por certo causa muitas irritações. No entanto, o
aprofundamento da luta requer mais racionalidade. E com isso se amplia o papel dos
comunistas como negociadores entre as partes, dentro da frente única. Como declarado
pela Seção Sindical:

“Os comunistas consttuem, no movimento sindical brasileiro, uma força de primeiro plano e a sua
atuação tem contribuído, de modo decisivo, para elevar o grau de unidade, de organização e a

615
consciência do movimento operário. Fazendo esforços para romper com o sectarismo que nos
isolava das grandes massas trabalhadoras, temos conseguido neutralizar a ação das forças
antunitárias no movimento operário, reforçando nossas posições e ampliando o campo de nossos
aliados, para desespero dos elementos reacionários interessados em manobras divisionistas. Vai
ficando pra trás o tempo em que os tubarões do sindicalismo brasileiro, mancomunados com as
forças obscurantstas do imperialismo e da reação interna, podiam facilmente enganar as massas e
impor a elas sua vontade. Vivemos na grande época da transição do capitalismo ao socialismo.”

Com o avanço da unidade sindical e da unidade operária, o partdo operário tem se


tornado a principal força na moldagem das ações tátcas dentro da frente única. Diz a Seção
Sindical:

“A classe operária, este ano, atuou mais organizadamente. Em sua maioria, as greves, realizadas
foram precedidas de assembleias preparatórias com grande partcipação de massa, contaram com
programas reivindicatvos previamente elaborados, com a ampla atvidade dos piquetes de greve e
com comandos livremente eleitos e, por isso mesmo, com o prestgio e a autoridade necessárias
junto às massas. Isto possibilitou ao proletariado atuar mais disciplinadamente, com o máximo de
firmeza na luta para obter suas exigências e, simultaneamente, com a indispensável fexibilidade, a
fim de evitar as provocações urdidas pela reação, objetvando o desgaste de suas forças. Os
trabalhadores souberam avançar e recuar quando preciso, sempre de forma organizada, mantendo,
consolidando e ampliando suas forças, com vistas às novas batalhas que deverão enfrentar. Isso
demonstra que o proletariado acumula experiência e adquire a consciência de que na luta por seus
interesses imediatos e mediatos deve contar, fundamentalmente, com a força de sua unidade de
organização, de sua solidariedade e disciplina no combate. – Manifestações de rua. Outra
característca consiste em que, no curso das greves, os trabalhadores vêm realizando grandes
manifestações de rua – passeatas, concentrações, comícios, etc. – nas quais, ao lado de suas
reivindicações econômicas, levantam bandeiras polítcas, tais como a da limitação da remessa para
o exterior dos lucros das empresas estrangeiras, da nacionalização dos frigoríficos e das empresas
de energia elétrica norte-americanas, da reforma agrária, da nacionalização dos bancos
estrangeiros de depósitos, do restabelecimento das relações diplomátcas e comerciais com a União
Soviétca e a China Popular, da defesa e da ampliação da Petrobrás, da solidariedade à Revolução
Cubana e à luta emancipadora do povo argelino, e da interdição das armas atômicas e de
hidrogênio, pelo desarmamento universal e completo, etc.”

Desde 1958, a partcipação das massas sindicalizadas na luta polítca se ampliou de modo
considerável. As ações cresceram rapidamente da frente econômica, da luta pela ampliação

616
dos direitos sociais e a efetva aplicação do C.L.T., para a frente polítca, com a tomada da
maioria das direções sindicais por elementos progressistas, nacionalistas e verdadeiramente
democratas. Nas condições do mundo atual, a preservação e a ampliação dos direitos
democrátcos é um interesse prioritário das massas trabalhadoras, enquanto que as classes
dominantes buscam – cada vez mais – o caminho do golpismo, o caminho da violação dos
direitos da maioria do povo. Nos últmos anos, nosso partdo tem logrado ampliar muito a
base polítca de forças que lutam pela preservação e ampliação da democracia. Ao mesmo
tempo, o partdo operário tem conseguido mobilizar grandes massas sindicalizadas (na
ordem de milhões), para partcipar das jornadas de luta da classe operária, e da luta pela
obtenção de um governo nacionalista e democrátco.

Desde que o semifascista Dutra decretou o fm da Confederação dos Trabalhadores do


Brasil (CTB) e das uniões sindicais estaduais, a classe operária havia fcado sem um
instrumento legal central para mobilizar o operariado e os pobres de todo o País (maio de
1947). Na cabeça fascistoide de Dutra, peão da guerra fria, a classe operária estava
liquidada para sempre. No entanto, seu “ato heroico”, durou apenas 13 anos, porque a
classe operária com sua luta quotdiana construiu o Pacto da Unidade de Ação (PUA),
vitorioso desde 1960. As classes dominantes, por mais que golpeiem o movimento
operário, não conseguem reduzir suas lutas ao direito de emprego e de encaminhar
correções salariais ante a infação. O partdo da classe operária e todas as organizações que
representam e defendem os interesses do povo pobre jamais abandonarão seu esforço para
criar e manter estruturas polítcas que representem a maioria da população. A União Geral
dos Trabalhadores (UGT) veio em 1954, coordenar as lutas econômicas dos trabalhadores,
consttuindo-se em importante escola para a formação de quadros operários
independentes na luta polítca. Apesar do fechamento da UGT em 1955, suas estruturas
prosseguiram o trabalho semiclandestno de coordenação das atvidades polítcas dos
sindicatos e dos núcleos dos trabalhadores na base, em todo o país, permitndo o
surgimento vitorioso do PUA, em 1960. Com amplo entendimento e apoio da maioria
absoluta das direções sindicais, conglomeradas em torno da Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Indústria (CNTI), formando-se assim, o Comando Geral dos Trabalhadores
(CGT). No C.G.T., a CNTI está representada pelos seus dirigentes Clodsmith Riani e Dante
Pelacani. Só a CNTI compreende 2 milhões de afliados, o que prova onde a classe operária

617
se encontra. O PUA está representado por Oswaldo Pacheco, seu presidente, o comandante
Mello Bastos (Sindicato dos Aeroviários), Hércules Corrêa (Comissão Permanente das
Organizações Sindicais). Demistóclides Batsta (Ferroviários da Leopoldina) e Rafael
Martnelli (Federação Nacional dos Ferroviários). Também são membros do comando do
CGT, Aluísio Palhano (Confederação dos Trabalhadores Bancários), Benedito Cerqueira
(Sindicato dos Metalúrgicos) e Roberto Morena. Dessa maneira, vê-se restabelecida a
direção única sindical e polítca da classe operária, o que lhe faculta tratar de forma
independente o processo da luta pelas reivindicações dos trabalhadores e do povo pobre
em geral, como seu legítmo representante. Como instrumento operário de poder polítco
independente, o C.G.T. se soma à luta por um governo nacionalista e democrátco.

Desta forma, o partdo operário e as forças a ele aliadas se coordenam para possibilitar
tanto a unidade das associações e entdades desde a base, como também enquanto
cúpulas dirigentes. A classe operária se encontra hoje unida por completo e tal estmula a
unidade de outras classes e camadas sociais progressistas, para que se estruturem
politcamente e apresentem as suas reivindicações. Diz Oto Kuusinen:

“Apesar de toda a importância que têm as condições externas, internacionais, o fator decisivo na
formação da situação revolucionária reside sempre nas condições internas do país, na tensão das
contradições de classe e no nível alcançado pela luta de classes.”

“A base objetva do desenvolvimento dos processos revolucionários nos países capitalistas é o


constante aprofundamento de todas as suas contradições antagônicas. Na terceira etapa da crise
geral do capitalismo, essas contradições, agravadas sensivelmente pela revolução cientfico-técnica
dos nossos dias, adquirem novos traços, manifestam-se em formas específicas e encontram sua
expressão mais geral no agravamento da contradição que opõe o punhado de monopolistas que se
encontra no poder à maioria esmagadora do povo. Essa contradição afeta atualmente todos os
aspectos básicos da vida social dos países capitalistas e dá origem a uma série de fatores constantes
que estmulam o desenvolvimento do processo revolucionário.”

O Brasil, um país atrasado no desenvolvimento de suas relações capitalistas, apresenta


graves deformações em sua estrutura, devido à presença e até a montagem de muitas delas
pelo interesse explorador imperialista. Desta forma, o país, além de vítma dos monopólios
antgos de tpo comercial que consistem em (a) produzir o mínimo para (b) vender o mais
caro possível, é também vítma crescente dos monopólios ultramodernos e externos, que

618
visam minimizar seus custos, transferindo para o Brasil atvidades desfavoráveis; e utlizar o
país como uma reserva estratégica do próprio desenvolvimento dos centros capitalistas.
Como diz o nosso partdo:

“O movimento sindical se desenvolve à medida que se fortalece a unidade de ação dos


trabalhadores nos sindicatos, federações e confederações. Devido à inexistência de uma estrutura
sindical de tpo horizontal, os pactos, conselhos e outras formas de acordos intersindicais
desempenham importante papel, na coordenação das lutas do proletariado. Tais formas de acordo
intersindicais não podem, porém, ser colocados em contraposição à atual estrutura sindical
existente no país, nem servir de pretexto para desviar o movimento sindical dos sindicatos e
federações e confederações. Ao contrário, os pactos intersindicais, para cumprir plenamente seu
papel unitário, devem contribuir, sem qualquer exclusivismo, para que sejam encontradas as formas
de organização que permitam coordenar melhor o movimento operário dentro da estrutura sindical
legal. Atuando nos quadros dessa estrutura, o proletariado vem criando formas intersindicais de
organização e, no curso de suas lutas, conseguirá aperfeiçoar a estrutura de tpo vertcal, coroando-
a com a insttuição legal da forma horizontal de organização desde o município e o Estado até a
central unitária que será a expressão da unidade nacional dos trabalhadores, meta para a qual deve
marchar o movimento operário brasileiro.”

O potencial de luta antmonopólio da classe operária não pode ser subestmado. Um


movimento sindical forte está naturalmente presente e consciente dentro das empresas
monopolistas. Desta trincheira pode a classe operária organizar a luta contra a espoliação
internacional. As estruturas externas de exploração emprestam com suas deformidades
dois traços partculares às economias atrasadas: (1) impedem o desenvolvimento da
economia nacional e (2) reforçam e expandem todas as forças locais passadistas, fazendo,
portanto, a sociedade doméstca não só fcar impedida de progredir, como a tornando
capaz de recuar no tempo histórico. Esta combinação de propulsão ao atraso tem os efeitos
mais devastadores que o colonialismo pode causar na vida de um povo.

No entanto, para as classes dominantes locais, tais efeitos são maravilhosos. Desprovidas
de identdade polítca e cultural com o próprio povo de que derivam, julgam-se tais classes
dominantes o “inglês da Índia”,, ou seja, o elemento europeu que veio “civilizar”, esta
população de bárbaros. Desde essa ótca, saqueia o que pode para colocar no estrangeiro. E
não compreende qualquer solidariedade ou comunidade com o povo explorado. Em
condições tão desfavoráveis, é quase tarefa exclusiva do povo trabalhador local, vigiar e
619
compreender as ações imperialistas no plano local, e tomar as medidas necessárias à
criação de um poder local nacional.

Por isso, a unidade do movimento sindical é o elemento central para a construção da


unidade operária em geral, e o desenvolvimento da aliança operário-camponesa. A partr
desse poderoso movimento de consciência, pode a classe operária se propor a construção
de alianças sólidas no plano da luta democrátca e nacional e aspirar à conquista de um
papel hegemônico na luta, pelo seu próprio desempenho de vanguarda dentro da frente
única. Diz a nossa linha polítca:

“Os Sindicatos e demais organizações profissionais não devem servir a objetvos que dividem os
operários, mas consttuir instrumentos de unidade de ação dos trabalhadores de todas as
tendências ideológicas e polítcas que atuem no movimento sindical e dos trabalhadores ainda
desorganizados e sem filiação partdária. Para obter a unidade de ação, os comunistas atuam na
organização sindical existente e utlizam a Consolidação das Leis do Trabalho, procurando organizar
os trabalhadores na luta por suas reivindicações. Ao mesmo tempo em que defendem as conquistas
da legislação social, devem chamar as massas a concretzá-la, aperfeiçoá-la e ampliá-la.”

A partr deste trabalho de base de mobilização e de organização, o partdo operário pode


criar as estruturas necessárias a um desempenho crescente do movimento nacionalista e
democrátco, levando a reação a posturas defensivas e tornando viável a aproximação da
obtenção de um governo de novo tpo.

Diz nossa Resolução polítca:

“A tarefa principal dos comunistas no trabalho das massas consiste em fortalecer a unidade e a
organização da classe operária para que ela desempenhe o papel dirigente no movimento ant-
imperialista e democrátco. A fim de cumprir essa tarefa, os comunistas devem intensificar e
aperfeiçoar cada vez mais a sua atuação no movimento sindical.”

Portanto, o caminho da unidade sindical, da unidade operária, da consolidação da aliança


operário-camponesa e da consolidação da frente única é um caminho longo e tortuoso, que
passa naturalmente pela habilidade operária, pela paciência, pela persuasão e pela
tenacidade de classe, para ver-se construído. A unidade e a frente única exigem o
aperfeiçoamento da confança mútua. Não será com desequilíbrios, desconfanças e
desespero que se produzirá a argamassa necessária à vitória. É preciso entender que o

620
problema central da luta no Brasil é a construção das condições subjetvas, pois as
condições objetvas no geral estão dadas, e se agravam de quando em quando,
periodicamente, oferecendo a oportunidade da formação e do desenvolvimento das
condições subjetvas necessárias. Diz a nossa Resolução:

“Cumpre aos comunistas lutar para que o movimento sindical não seja uma atvidade apenas de
cúpula, porém, conte com a partcipação atva das massas trabalhadoras. A organização dos
trabalhadores nos próprios locais de trabalho, nas empresas, é o passo decisivo para estreitar os
laços entre os sindicatos e a massa de associados, bem como para organizar as massas não
sindicalizadas. Preocupação constante deve ser a organização sindical das categorias de
trabalhadores ainda desorganizados. Os comunistas devem atuar no sentdo de coordenar melhor o
movimento operário dentro da estrutura sindical legal. Trabalhando para aperfeiçoar a forma
vertcal de organização, esforçam-se para que seja insttuída legalmente a forma horizontal de
organização, desde o município e o Estado até a Central Unitária, que deve ser a expressão da
unidade nacional dos trabalhadores. Cabe ao movimento operário um papel decisivo na luta pela
libertação nacional e pelas transformações democrátcas. Os comunistas lutam para que as
organizações sindicais, além da defesa dos interesses profissionais dos trabalhadores, assumam
uma posição cada vez mais atva em defesa dos interesses nacionais e se integrem no movimento
ant-imperialista, partcipando de iniciatvas conjuntas com outros setores patriótcos.”

Os militantes do partdo operário, de suas organizações aliadas e de camaradagem, os


membros de todas as correntes que partcipam da frente única devem compreender a
importânncia atual do elemento subjetvo no processo de luta. Devem melhorar por toda
parte e em todos os níveis o seu desempenho pessoal, lutar para eliminar os erros e
aperfeiçoar os acertos e as qualidades. É somente neste ambiente de luta e sacrifcio que
poderão levar o conjunto das forças populares de pequeno êxito em pequeno êxito, até a
vitória de sua tátca.

4 – O Papel Decisivo da Hegemonia do Proletariado.

Para cada etapa do deslocamento do plano estratégico, o partdo operário deve reeducar
por completo os seus quadros, para que os mesmos se capacitem a conduzir de maneira
nova os membros do partdo, e esses se tornem capazes de levar às massas mais amplas as
novas tarefas da luta, resultante das transformações necessárias ocorridas na vida polítca
621
e, por extensão, na vida das pessoas. Muitos membros do partdo e até mesmo quadros
terão enormes difculdades para se adaptar à nova conjuntura. Nesse caso, é preciso deixá-
los ir e proceder a novo recrutamento e qualifcação que os venha a substtuir. Como disse
Stálin:

“A revolução em sua marcha pode ser comparada à marcha de um trem. Muitos embarcarão ao
longo das estações. Este descerá aqui, aquele acolá. São nossos companheiros de viagem,
indivíduos, às vezes camadas sociais inteiras. Nem todos, assim, seguirão conosco a mesma
viagem.”

Não há demérito algum que determinados companheiros não consigam lutar o tempo
todo de suas vidas. O que deram à causa das transformações já basta, e toda a classe lhes
agradece. Contudo, a classe não pode se deter. A aliança operário-camponesa não pode se
curvar diante de uma mudança da correlação de forças, ou de uma mudança na forma de
luta. O partdo pode ser derrotado, mas não pode ser vencido. A classe operária pode ser
derrotada, mas não pode ser vencida. A História deve seguir sua marcha inexorável. Ensina
Lênine:

“Caracteriza uma situação revolucionária:

1º - As forças dominantes estão divididas, confusas e debilitadas;

2º - Os elementos vacilantes e instáveis estão desmoralizados;

3º - As massas revolucionárias estão adotando attudes mais audaciosas e resolutas.”

Quando a situação se agrava, as classes dominantes se veem obrigadas a intentar mudar a


forma de luta, para impor a sua vontade – mais uma vez – ao povo trabalhador. Diz Lênine:

“Todos hão de convir que seria insensata e até mesmo criminosa a conduta de um exército que não
dispusesse a conhecer e utlizar todos os tpos de armas, todos os meios e processos de luta que o
inimigo possui ou pode possuir. Mas essa verdade é ainda mais aplicável que à arte militar. Em
polítca é ainda mais fácil saber de antemão que método de luta será aplicável e vantajoso para nós,
nessas ou naquelas circunstâncias futuras. Sem dominar todos os meios de luta podemos correr o
risco de sofrer uma derrota fragorosa – às vezes decisiva – se modificações independentes da nossa
vontade na situação das outras classes puserem na ordem do dia uma forma de ação na qual somos
partcularmente débeis. Se dominamos todos os meios de luta, nossa vitória estará garantda.”

622
A classe operária, portanto, não determina a priori o seu lugar na frente de luta, nem o
desfecho da luta, porque, escolhida a estratégica e determinada por esta a tátca mais
consequente, a classe operária e seu estado-maior devem construir ainda os elementos
pedidos pela arte operacional, para assegurar-se previamente dos elementos que a levarão
à vitória. Recordemos as condições das jornadas de agosto-setembro (1961), que
depuseram Jânnio e conduziram à posse de Goulart e ao golpe do parlamentarismo:

“Em virtude da luta das massas trabalhadoras, dos estudantes e demais forças patriótcas e
democrátcas do Exército e de outros setores do povo, é que foi possível derrotar os generais
golpistas e assegurar a legalidade consttucional. Foi partcularmente importante o papel do
proletariado, embora ainda não tenha desencadeado todo o potencial de força de que dispõe, para
conseguir a unidade, a ampliação e a consolidação do movimento de resistência. A defagração de
numerosas greves polítcas – somente no Estado do Rio partciparam mais de 130 mil operários, as
manifestações de rua, a formação de milhares de comitês democrátcos de resistência, o surgimento
de dezenas de batalhões patriótcos e o alistamento em massa de centenas de milhares de homens
do povo dispostos a tomar das armas para lutar são uma comprovação de que se eleva rapidamente
o nível de consciência polítca e revolucionária das massas. A derrota dos golpistas foi uma grande
vitória de nosso povo. Estabeleceu premissas para um maior ascenso dos movimentos ant-
imperialistas, democrátco e operário.”

“A polarização das forças polítcas verificadas no curso da crise de agosto, a elevação do grau de
consciência polítca das massas e o estmulo da vitória se tornaram possível o surgimento da Frente
de Libertação Nacional, na qual formam os trabalhadores, que se esforçam para enraizar suas bases
nas empresas, nos bairros e nos sindicatos.”

Na luta da frente única para obter a expansão da democracia e um poder polítco que sirva
aos objetvos nacionais, não se podem impor condições prévias à partcipação de cada
força. A disposição das forças em presença depende de (a) circunstânncias históricas e
sociais, (b) qualidade dos núcleos dirigentes das diferentes forças aliadas, (c) acerto tátco e
estratégico de cada uma das forças da frente e (d) decorrente desdobramento do processo
de luta. Os dirigentes do partdo operário não podem desvirtuar o caminho da revolução,
nem deixar apagar-se a chama da revolução. Como disse recentemente a direção do
partdo:

623
“O desenvolver dos fatos polítcos e sociais nos primeiros meses deste ano e, principalmente, a crise
de governo que se processou nos dias do mês de julho, comprovam, no fundamental, o acerto da
orientação traçada e aplicada pelos comunistas, bem como suas previsões, após os acontecimentos
de agosto/setembro de 1961.”

“Os comunistas afirmaram então que se consttuíra um governo de conciliação com o imperialismo
e com o latfúndio e de apaziguamento para com os golpistas. Que tal governo não daria solução
para os problemas colocados na ordem-do-dia pela realidade objetva. Que, em consequência, ao
contrário de se resolverem, agravar-se-iam todas as contradições da atual sociedade brasileira –
agravamento suscitado pelo aprofundamento da crise de estrutura em que se debate o País. E que,
como é lógico, isso conduziria ao aguçamento da luta de classe. Que diante dessa perspectva cabia-
nos intensificar a luta para romper com a dependência ao imperialismo e liquidar o latfúndio. Que
era preciso levantar com bastante vigor a luta pela consttuição de um governo nacionalista e
democrátco, governo de coalizão, representatvo das forças patriótcas e democrátcas, desde o
proletariado até a burguesia ligada aos interesses nacionais, capaz de enfrentar com êxito a solução
dos problemas atuais e de imprimir um rumo independente e progressista ao desenvolvimento da
Nação, iniciando sem demora a nacionalização das empresas norte-americanas, realizando a
reforma agrária radical que ponha fim ao latfúndio e entregue a terra aos camponeses,
enfrentando concretamente os graves problemas do Nordeste e das demais regiões atrasadas do
País, ampliando e consolidando a democracia, levando à prátca uma polítca externa efetvamente
soberana, assegurando o desenvolvimento independente da economia nacional e o bem-estar dos
trabalhadores e do povo. Os comunistas afirmaram, ainda que enquanto o nosso povo não
conseguisse libertar-se do jugo imperialista e liquidar o monopólio latfundiário da terra, novas
crises de governo seriam inevitáveis.”

“O conjunto da polítca desenvolvida, no quadro da Aliança para o Progresso, pelo governo Jango-
Tancredo, não obstante os aspectos positvos no terreno da polítca exterior conduziu o Brasil e o
povo brasileiro a uma difcil situação.”

No processo de luta, alcançadas as unidades sindical e operária, vê o partdo operário


avançar com celeridade as massas trabalhadoras na compreensão polítca e na mobilização
partcipatva, fenômenos que, em geral, crescem muito mais rapidamente que a formação
de quadros ou a capacidade de organização das classes revolucionárias fundamentais. Isso
se dá porque a massa operária que acorre à luta é formada predominantemente por

624
elementos jovens, que carecem da experiência capaz de expressar no plano organizatvo a
vida independente do povo trabalhador. Diz Stálin:

“A juventude é livre do peso do passado e assimila melhor do que ninguém os preceitos leninistas. É
justamente por causa disso, por assimilar melhor do que ninguém os preceitos leninistas, é que a
juventude está convocada a impulsionar os desanimados e vacilantes. É certo que os jovens não
possuem os conhecimentos necessários. Mas, conhecimentos se adquirem. Hoje não os possui, mas
amanhã tê-los-ão. Por esse motvo o problema se baseia em aprender e aprender até assimilar o
leninismo. Camaradas da Juventude Comunista: aprendei, assimilai o bolchevismo e empurrai os
vacilantes! Falai menos e trabalhai mais, e vereis como tudo marcha facilmente!”

Trata-se, portanto, de um trabalho ideológico para transmitr de múltplas formas o


ensinamento da preparação da luta e da organização para os que chegam, novos, ao
processo de luta. Lênine confava absolutamente na partcipação da juventude, destemida,
desprovida de vícios, capaz de assimilar a experiência de organização, desde que diante de
uma direção capaz. Diz Lênine:

“Necessitamos de jovens capazes... Há uma quantdade imensa de homens, mas é preciso recrutar
mais ampla e audazmente, mais audaz e amplamente, todavia mais audaz e mais amplamente,
entre a juventude, sem temê-la... A juventude decidirá do resultado de toda a luta, tanto a
juventude estudantl como – em medida maior ainda – a juventude operária.”

Daí a importânncia da independência polítca da direção central sindical e dos conselhos de


classe que asseguram a partcipação estratégica da classe operária. A direção polítca
independente de classe assegura que se assumam no processo da luta as formas operárias
de desdobramento da tátca, tendo como lança a greve geral, uma ou várias, como seja
necessário. Nem sempre é possível se chegar à greve geral. Mas somente a independência
de classe pode assegurar os procedimentos necessários ao encadeamento da luta de classe.
A repressão burguesa intentará sempre bloquear as condições em que a classe
trabalhadora possa elaborar sua própria decisão polítca. Por outro lado, os dirigentes da
classe operária hão de procurar construir a situação favorável à ação polítca do
proletariado. Assim tem sido e assim será. Como diz nossa Resolução polítca:

“Considerando o importante papel que cabe à juventude na vida social e polítca do País, devem os
comunistas intensificar seu trabalho entre os jovens, organizando-os nos sindicatos, em clubes

625
esportvos, recreatvos e culturais, e em organizações de massas, ou em entdades especialmente
juvenis.”

A mobilização da juventude corresponde, portanto, à conquista da iniciatva e à


instauração da audácia, as quais devem assimilar a linguagem e a experiência
revolucionárias. Os operários de cada fábrica, grande ou pequena, devem ser alcançados
pela educação de classe, pela propaganda e pela agitação de classe. Deve-se travar a luta
ideológica aí, de modo intenso, contra o conformismo, apresentado pela burguesia com
diversas roupagens. Os procedimentos operários de luta devem ser discutdos amplamente
entre as massas, fornecendo-lhes uma compreensão clara da tátca proletária. É preciso
educar ideologicamente, ultrapassando então os limites da compreensão sindical e
chegando ao nível polítco de toda a conjuntura. Como é tese do partdo:

“A experiência destes últmos anos demonstrou, outrossim, que o problema da organização da


juventude comunista requer uma solução específica. Embora tenha melhorado consideravelmente
nossa atvidade entre a juventude estudantl, partcularmente a universitária, ainda não fomos
capazes de traçar com a devida clareza a polítca dos comunistas para o trabalho entre as novas
gerações. No entanto, os jovens possuem reivindicações peculiares, motvo porque, através de
formas de organização adequadas à sua condição, poderão ser ganhos com mais facilidade para as
ideias do marxismo-leninismo. Conquanto o trabalho entre os jovens seja tarefa de todo o Partdo, é
necessário que a juventude de tendência comunista, filiada e não filiada ao Partdo, disponha de
organização autônoma, orientada pelo Partdo, com a missão de educar os jovens no espírito do
marxismo-leninismo, de torná-los atvos combatentes pela causa revolucionária e de realizar, em
escala de massa, a propaganda do socialismo.”

O recrutamento e a mobilização das massas de estudantes e jovens operários em escala de


milhares e, logo, de milhões, permite à classe trabalhadora alcançar a superioridade
numérica necessária na prátca polítca, conformando o ambiente subsequente das lutas
polítcas. Com esta fundamentação massiva, o movimento popular há de transformar-se no
elemento hegemônico na luta polítca, inviabilizando que as manobras reacionárias
contnuem a ser – como hoje são – sucessivas. Há de então ampliar-se de modo crescente o
movimento popular, tornando uma efetva oportunidade a consttuição da hegemonia do
proletariado na frente única. A hegemonia na frente única deve, portanto, ser construída.
Diz o partdo:

626
“Aos comunistas cabe conduzir a luta ideológica do proletariado dentro do movimento juvenil,
como vanguarda consciente que são dessa classe e intérprete de seus superiores interesses. É seu
dever difundir entre os jovens as ideias sociais do marxismo-leninismo, apresentar-lhes as soluções e
os caminhos preconizados pelo Partdo para os problemas gerais de todo o povo e para aqueles
específicos da juventude, e esforçar-se para que, por essa via, a juventude e o movimento aceitem e
adotem as ideias, a polítca a direção do Partdo, consttuindo-se naquela força entusiástca e
combatva capaz de levar a revolução brasileira até as suas últmas consequências, até o socialismo.
Essa a tarefa mais importante do trabalho polítco do Partdo na juventude.”

A importânncia da gradual construção da hegemonia do proletariado pode ser entendida


com poucas palavras: com a hegemonia, é certo que teríamos um governo nacionalista e
democrátco e que, portanto, as reformas assim seriam iniciadas. Sem a hegemonia do
movimento operário, tem-se o atual ambiente de conciliação, de deserções e de vacilações
contnuadas e não raro, elevadas até a teoria... No entanto, semelhantes questões não se
resolvem com o fgado, mas com a aplicação inteligente da compreensão materialista do
mundo. A hegemonia deve ser construída, não há outro caminho. Diz o partdo:

“Conquistar a juventude brasileira para a revolução é, assim, tarefa central do Partdo, parte
integrante e inseparável da tarefa de forjar a frente única revolucionária. Por isso mesmo, a ela deve
dedicar-se o conjunto do Partdo, todas as suas organizações e frentes de trabalho, e não apenas
nos jovens, aos quais se atribua a inteira responsabilidade pela realização da mesma. A pouca
atenção dispensada atualmente pelo Partdo ao trabalho juvenil ou o relegamento deste à condição
de tarefa atribuída aos comunistas jovens, apenas, consttui grave erro que precisa ser com
urgência, corrigido.”

É preciso compreender que o atual equilíbrio da relação de forças atual não poderia ser
obtdo sem a partcipação da burguesia nacional e de seus aliados e amplos setores da
pequena burguesia urbana e rural. Por isso, a intensidade da luta deve levar as
característcas de tais forças que são hegemônicas; e que eventuais disputas dentro da
frente única devem ser resolvidas racionalmente, com negociação e concessões mútuas.
Não se pode mudar as característcas do processo de luta da noite para o dia. Tudo requer
não apenas mobilização, mas, sobretudo organização, com uma soberba arte operatva. O
processo é longo, a caminhada não pode ser fácil:

627
“Simultaneamente com a conquista da juventude para as fileiras da revolução nacionalista e
democrátca e para as ideias comunistas visa também o trabalho juvenil do Partdo recrutar
milhares de jovens para suas fileiras partdárias e para as organizações juvenis comunistas. Essa
organização social viva que é, necessita o Partdo, para não envelhecer e definhar, assimilar
constantemente novos e novos militantes que lhe darão a vitalidade e as condições humanas
necessárias para crescer, fortalecer-se e estreitar cada vez mais suas ligações com as massas, e é
precisamente na juventude que ele vai buscar os militantes mais ardorosos e abnegados. O trabalho
de massas do Partdo para a juventude, por essa razão, deve ser realizada de tal maneira que desta
fua para as fileiras comunistas uma corrente ininterrupta de novos militantes e que a juventude se
consttua no principal manancial onde o Partdo aure e multplique as suas forças.”

Ou seja, a etapa estratégica da revolução democrátca é sobretudo uma etapa de


acumulação de forças revolucionárias de preparação da economia de forças e do
asseguramento do movimento das forças fundamentais da transformação democrátca na
direção necessariamente única e correta.

A grande burguesia exerce o controle dos meios de informação da sociedade com mão de
ferro. Até mesmo os prontuários dos seus adversários e inimigos na polícia polítca são
objeto de fabricação, coalhados de mentras, calúnias e falsidades contra o nosso partdo e
as pessoas progressistas em geral. Essa lama em que se revolvem as classes dominantes,
acobertadas pela treva da guerra fria, atnge todos os setores da sociedade, que se
debatem num mundo de ilusões produzidas. Não é fácil, portanto, a tarefa de
esclarecimento a ser levada para diferentes classes sociais, tratando-se de verdadeiro
combate nas trevas.

Semelhante situação exige de nossa parte uma vigilânncia constante e uma audácia
realmente revolucionária. Vigilânncia para detectar e corrigir nossos erros prontamente, ao
mesmo tempo em que somos capazes de perceber as novas formas de atuação do inimigo
que vão sendo criadas e introduzidas na luta polítca. Audácia para elaborarmos nós
próprios, outras formas de atuação, antecipando-nos ao veneno inimigo, partcularmente
nas frentes ideológicas e cultural da luta. Recordemos a autocrítca de Marighella sobre a
propaganda na frente do trabalho feminina:

“É imenso o atraso de nosso trabalho de agitação e propaganda orientado para as grandes massas
de mulheres do povo brasileiro.”

628
“Nossa agitação e propaganda entre as massas femininas é ainda muito geral e pouco
convincente, não se relaciona sistematcamente com os problemas específicos e as reivindicações
das mulheres.”

“Falta à nossa agitação e propaganda a capacidade de mobilizar novas formas e meios, capazes de
despertar para a ação das grandes massas de mulheres, preocupadas em encontrar uma saída para
a terrível situação de injustça que se encontram. Nossa agitação e propaganda serve-se de uma
linguagem de difcil compreensão, inadequada ao nível de cultura, ainda pouco desenvolvido da
imensa massa de mulheres, vítmas do analfabetsmo e dos preconceitos sustentados para mantê-
las na ignorância. Nossa propaganda escrita é por demais sobrecarregada com o emprego de textos
muito grandes, não é diversificada e não pode ser isto a atngir várias camadas da população por
onde se distribuem as mulheres.”

Se não somos capazes de analisar as nossas falhas com rigor e profundidade, também não
seremos capazes de corrigi-las. Daí a importânncia de envolver as próprias massas populares
na elaboração do programa mínimo de luta desde a base, desde as reivindicações mais
simples, desde a luta pelos direitos mais elementares do trabalhador ou do morador. Os
impostos serão apenas uma fonte a mais de lucro para a burguesia, se o Estado não
encontrar uma consciência viva na multdão em defesa dos direitos dela, capaz esta
multdão de obrigar, com sua luta, ao Estado de ladrões e assassinos a entregar a ela o que
a ela pertence. Para isso é necessário aperfeiçoar todo o aparato de preparação das
jornadas de luta repetdas vezes, e preparar sempre com esmero a pauta seguinte de
embates.

É importante que a vanguarda do povo não esqueça, em momento algum, que a condução
do povo trabalhador ao poder não é apenas o resultado de uma compreensão moralmente
justa e com base científca da realidade social, mas também uma arte, um ofcio. E tal arte
deve ser elaborada e conduzida por homens que existem, que não são um igual ao outro
em suas capacidades, mas ainda iguais em humanidade. Há mil maneiras de conduzir a
arte da revolução e apenas na aparência uma revolução se trata do mesmo que a outra. Os
dirigentes revolucionários – homens que devem estar dotados de excepcional intuição. –
elaboram as soluções necessárias ao caminho concreto de cada revolução.

A primeira grande percepção do dirigente revolucionário é não deixar-se iludir pela


aparência da democracia da Europa “ocidental”, (e EUA), mera forma do poder burguês.

629
Quem acredita no aparato jurídico da “cretnice parlamentar”,, se condutor do povo, há de
levá-lo à derrota. A fachada burguesa pode ser democrátca porque subtrai à partda os
direitos fundamentais dos pobres e dos trabalhadores. O que reserva para eles, além do
trabalho mal remunerado, é a cadeia “democrátca”,... Quanto aos carrascos a serviço da
burguesia, são todos “homens de bem”,...

No caso brasileiro, nem sequer as concepções polítcas e jurídicas das classes dominantes
são democrátcas. Trata-se de amálgama putrefato, uma mistura de prátcas da aristocracia
portuguesa do século 18 com prátcas escravistas, verdadeiro insulto à inteligência
popular... Adular semelhante democracia é próprio dos conservadores, dos inimigos
declarados do povo. Por isto que a causa popular passa inevitavelmente pela ampliação das
liberdades públicas, pela reforma do aparato jurídico hoje nas mãos das forças opressoras...

Lenine sempre viu no Estado dos países atrasados uma fortaleza de tudo que era velho e
antpovo, um fortm onde se entrincheiram todos os déspotas e psicopatas do regime
dominante. Não se pode reformar tal Estado burguês e oligárquico sem desalojar dali
semelhantes elementos putrefatos. O povo não tem, nem pode ter acesso a seus tribunais
de classe, feitos para corroborar os crimes que cometem as polícias a seu serviço.

A segunda grande percepção do dirigente revolucionário é esclarecer a todos os


trabalhadores e a todos os pobres de quem é quem na máquina dos dominadores. É apenas
pelo entendimento polítco que os trabalhadores e os pobres hão de tornarem-se aptos a
lutar por um mundo melhor, deixando de lado suas ilusões e preparando-se para construir
algo melhor com suas próprias mãos. Como diz nossa linha polítca:

“Os comunistas têm o dever de lutar à frente das massas camponesas por uma reforma agrária
que liquide o monopólio da propriedade da terra pelos latfundiários e fortaleça a economia
camponesa, sob formas individuais ou associadas. A fim de abrir caminho para essa reforma agrária
radical é necessário lutar por medidas parciais com a desapropriação de grandes propriedades
incultas ou pouco cultvadas, com base no preço da terra registrado para fins fiscais e loteamento
das terras entre pequenos agricultores sem-terra ou com pouca terra, mediante pagamentos
módicos e a longo prazo; por um forte aumento da carga tributária sobre as grandes propriedades e
isenções fiscais para as pequenas propriedades; pela utlização das terras do Estado para formar
núcleos de economia camponesa; entrega de ttulos de propriedade aos atuais posseiros e a defesa
rigorosa dos direitos dos camponeses contra a grilagem.”

630
Entendemos, portanto, que não é esperado pela hegemonia na frente de luta e
alimentando ilusões nas soluções parciais que se obtêm mudanças. Pelo contrário, é
travando a luta quotdiana pelas soluções parciais que se obtêm mudanças e se conquista a
hegemonia. Abaixo as ilusões, portanto, e viva a luta!

O quadro do partdo, ao consolidar uma visão crítca nos membros do partdo operário,
cria as condições para que se leve a toda a massa popular semelhante visão crítca do
sistema explorador. Diz, por exemplo, nosso programa agrário:

“38 - Confiscação de todas as terras dos latfundiários e entrega dessas terras, gratuitamente, aos
camponeses sem-terra ou possuidores de pouca terra e a todos que nelas queiram trabalhar, para
que as repartam entre si. A divisão das terras será reconhecida por lei, e a cada camponês será
entregue o ttulo legal de sua propriedade. A lei reconhecerá as posses e ocupações de terras dos
latfundiários e do Estado, anteriormente realizadas pelos camponeses, que receberão os ttulos
legais correspondentes.”

“39 - Abolição das formas semifeudais de exploração dos camponeses – meação, terça e todas as
formas de prestação de serviços gratuitos – abolição do vale e barracão, e obrigação de pagamento
em dinheiro a todos os trabalhadores agrícolas.”

“40 – Garanta de salário suficiente aos assalariados agrícolas, não inferior ao dos operários
industriais não especializados, como também garanta de terra aos que a desejarem.”

“41 – Garanta legal à propriedade dos camponeses ricos. A terra cultvada por eles ou por
assalariados agrícolas assim como seus outros bens serão protegidos contra qualquer violação.”

“42 – Anulação de todas as dívidas dos camponeses para com os latfundiários, os usurários, o
Estado e as companhias imperialistas norte-americanas.”

“43 – Concessão de crédito barato e a longo prazo aos camponeses para a compra de ferramentas
e máquinas agrícolas, sementes, adubos, insetcidas, construção de casas, etc. Ajuda técnica aos
camponeses. Amplo estmulo e ajuda ao cooperatvismo.”

“44 – Construção de sistemas de irrigação, partcularmente nas regiões do Nordeste assoladas


pelas secas, de acordo com as necessidades dos camponeses e do desenvolvimento da agricultura.”

“45 – Garanta de preços mínimos para os produtos agrícolas e pecuários necessários ao


abastecimento da população de modo que permitam aos camponeses desenvolver suas atvidades

631
econômicas e aumentar a produtvidade de suas terras, salvaguardando-se ao mesmo tempo os
interesses da grande massa consumidora.”

“46 – Abolição das restrições injustas ao livre trabalho dos pescadores. Ajuda aos pescadores por
meio da concessão de créditos para a construção de casas, entrepostos, etc., e fornecimento de
instrumentos e embarcações para a pesca. Etc.”

Ao partcipar da frente única, é evidente que não desejamos impor nosso programa a
outras forças, podendo aprovar propostas de outros setores que tenham apoio majoritário.

5 – Conclusão.

Aprendemos nesta aula número 14, que a situação atual do mundo, em que se enfrentam,
de um lado, as forças favoráveis ao capital, comandadas pelos monopólios internacionais e
do outro, as forças nacionais-progressistas, os trabalhadores e os pobres de todo o mundo,
comandados pelos partdos socialistas e comunistas, é favorável a um quadro de mudanças
profundas. Para que tal se dê, é necessária a unidade desde a base do movimento
trabalhador, da aliança operário-camponesa, e de todas as forças nacionais locais ant-
imperialistas. É possível obter um novo curso de desenvolvimento econômico e polítco na
América Latna e no mundo, e o Brasil é parte desta oportunidade de mudanças.

Aprendemos que no nosso país, nossa classe operária reconquistou nos anos recentes a
sua liberdade polítca, e construiu o PUA, o CGT e um sistema de aliança de forças que a
coloca cada vez mais no centro dos acontecimentos polítcos. Com tal sistema de alianças, a
classe operária luta para obter um poder nacional que inexiste no país, através da criação
de um governo nacionalista e democrátco.

Aprendemos que a luta atual pode conduzir os trabalhadores e os pobres do país a vitórias
polítcas que abram o caminho a vitórias econômicas e sociais jamais aqui obtdas.
Compreendemos a importânncia do instrumento que leva a isso, a construção no dia-a-dia
da hegemonia do proletariado na frente única.

632
Perguntas.

1. Que é hegemonia polítca de uma classe?

2. Que é uma classe dominante?

3. Como o povo trabalhador e pobre constrói a sua unidade?

4. Para quê serve a unidade popular?

5. Para quê serve uma polítca de alianças entre classes sociais diferentes?

6. Que entende por tátca nacionalista e democrátca?

7. Qual o caráter atual de nossa luta?

8. Como o movimento operário constrói sua independência?

9. Por que a unidade operária prepara a hegemonia proletária na frente única?

10. Que entende por tátca leninista?

633
CURSO MÉDIO DO P.C.B
3º VOLUME
(AULAS 15 A 20)

634
Aula 15

635
15. Os Caminhos da Revolução Brasileira.

Vivemos em uma época revolucionária. F. Engels caracterizou que a ascensão da


burguesia, auxiliada pela pequena burguesia radical, ao poder polítco (1640; 1688; 1789;
etc.) criou um novo ciclo de desenvolvimento, não só polítco, como econômico e social. A
revolução polítca na Inglaterra (1640 – 1715) acarretou a chamada revolução industrial
(1760 – 1840), através da qual a economia britânnica e, logo, mundial, foram arrastadas a um
novo dinamismo, através da industrialização, a maquinofatura, como um fenômeno
permanente. A industrialização se propagou por um grande número de países e territórios,
gerando nesses lugares como classes sociais universais a burguesia e o proletariado. Defne
Engels:

“Por burguesia compreende-se a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de
produção social, que empregam o trabalho assalariado.”

Portanto, a burguesia é a classe oposta ao proletariado: burguesia paga salários para obter
força de trabalho e o proletariado vende a força de trabalho, sendo pago com um modo de
operação econômica defnida, que é o salário. A burguesia não surgiu de repente, mas
evoluiu de camadas exploradas pelos senhores feudais, pouco a pouco, como caracteriza
Engels:

“Estamento oprimido, em suas origens, tributário da nobreza feudal dominante, recrutado entre
servos e vassalos de todo gênero, a burguesia, lutando constantemente com a nobreza, foi
conquistando uma posição após outra, até apoderar-se, nos países mais adiantados, do poder e
ocupá-lo em lugar daquela; na França, derrocando diretamente a nobreza, na Inglaterra
aburguesando-a cada vez mais e convertendo-a em sua própria cúspide ornamental”

No Brasil, a burguesia formou-se primeiro como uma tênue camada com as sobras
deixadas pela acumulação colonial (1835-1930), para depois impor-se como classe no

636
processo de acumulação local. Nesse processo de abertura do sistema de poder colonial do
chamado Segundo Reinado e da primeira República (1840 – 1930), deu-se o que chamamos
“Revolução brasileira”,. Ele se caracteriza pela luta da burguesia enquanto classe, para
ascender e exercer um poder estatal próprio e não compartdo; e caracteriza também a luta
do proletariado para criar um poder nacional, baseado numa aliança democrátca, e criar
um novo Estado para implantar o socialismo (1882 – até hoje, 1962).

A teoria liberal, com seus fundamentos baseados na teoria de conhecimento estátca e


formalista, semeia enorme confusão sobre a natureza dinânmica das transformações sociais,
que não consegue compreender com suas banalizações. Ela confunde formas anteriores ao
capitalismo com o próprio capitalismo, vendo assim capital na base do assalariamento
como sinônimo de capital à base de escravidão, etc. Para ela, havia capitalismo na Grécia
antga, no Egito, na Índia antga, etc. Sua teoria confusa, no entanto, serve aos objetvos
obscurantstas dos partdários do capitalismo. A confusão entre capital comercial, capital
usurário, capital industrial, etc., torna o conhecimento econômico dos liberais, mera crença
de tpo religioso. Marx defne o ponto de partda do capital da sociedade capitalista:

“A circulação de mercadorias – esclarece Marx – é o ponto de partda do capital. Ela não aparece
senão onde a produção mercantl e o comércio já atngiram um certo grau de desenvolvimento. A
história moderna do capital data da criação do comércio e do mercado dos dois mundos no século
dezesseis.”

Marx esclarece que tal ponto de partda leva à generalização da destruição da pequena
propriedade, formando massas de pobres prontos ao assalariamento, concentra a riqueza e
a propriedade dos meios de produção, formando a burguesia, e transformando o capital
numa relação social geral:

“Trata-se apenas de um ponto de partda: ‘Para que o capital possa se formar e dominar a
produção é necessário já um certo desenvolvimento do comércio, portanto, da circulação de
mercadorias e de sua produção. Nenhum artgo pode, com efeito, entrar, como mercadoria, na
circulação a menos que seja produzido para a venda, isto é, como mercadoria. Mas a produção de
mercadorias não aparece como caráter normal e dominante da produção senão na produção
capitalista’.”

637
Marx esclarece que a indústria só se torna “livre”, ao destruir as relações de produção do
tpo feudal em que se enquadrava:

“A indústria corporatva da Idade Média procurava impedir o mestre, o chefe de corporação, de se


transformar em capitalista, limitando num máximo estrito o número de operários que ele tnha o
direito de empregar. O possuidor de dinheiro ou de mercadorias não se torna capitalista, na
realidade, senão quando a soma mínima que adianta para a produção ultrapassa já de muito o
máximo da Idade Média. Aqui, como nas ciências naturais, confirma-se a lei constatada por Hegel,
lei segundo a qual simples mudanças na quantdade, depois de certo grau, acarretam diferenças na
qualidade.”

Marx explica como o capital se forma, ao ultrapassar os limites de sua utlização como
valor de uso, ou seja, dinheiro. Ele se torna uma relação de produção histórica.

“Além do seu valor de uso, como dinheiro, adquire um valor de uso tradicional, o de funcionar
como capital. O seu valor de uso consiste, precisamente, no lucro que produz, uma vez transformado
em capital. Nessa qualidade de capital, possível, suscetvel de produzir lucro, torna-se uma
mercadoria de gênero especial. Em outros termos: o capital como capital torna-se mercadoria.”

“Para que o possuidor de dinheiro – esclarece Marx – encontre no mercado a força de trabalho a
ttulo de mercadoria é necessário, entretanto, que diversas condições sejam previamente satsfeitas.
A troca de mercadorias, por si mesma, não acarreta outras relações de dependência, além das que
decorrem de sua natureza. Nesses dados, a força de trabalho não pode se apresentar no mercado
como mercadoria senão quando é oferecida e vendida pelo seu próprio possuidor. Este, portanto,
deve dela dispor, isto é, ser livre proprietário de seu poder de trabalho, de sua própria pessoa. O
possuidor do dinheiro e ele se encontram no mercado e entram em relação um com o outro, como
mercadores com os mesmos direitos. Não diferem senão nisso: um compra e o outro vende e, por
isso, são pessoas juridicamente iguais.”

“Para que esta relação persista, é necessário que o proprietário da força de trabalho não a venda
jamais senão por um tempo determinado, porque se ele a vende em bloco, de uma vez por todas,
vende-se a si próprio e, de livre que era, transforma-se em escravo; de mercador, em mercadoria. Se
ele quer manter a sua personalidade, não deve pôr a sua força de trabalho senão temporariamente
à disposição do comprador, de tal sorte que, alienando-a, não renuncia por isso à sua propriedade
sobre ela.”

638
“A segunda condição essencial para que o homem dos escudos chegue a comprar a força de
trabalho é que o possuidor desta, em lugar de poder vender mercadorias nas quais o seu trabalho se
realizou, seja forçado a oferecer e pôr à venda, como uma mercadoria, sua força de trabalho, ela
própria, a que não reside senão no seu organismo” (...) “A transformação do dinheiro em capital
exige, portanto, que o possuidor de dinheiro encontre no mercado o trabalhador livre, e livre sob o
duplo ponto de vista. Primeiramente, o trabalhador deve ser uma pessoa livre, dispondo à vontade
de sua força de trabalho como uma mercadoria que lhe pertence; secundariamente, ele não deve
ter outra mercadoria para vender; ser, por assim dizer, livre de tudo, completamente desprovido das
coisas necessárias à realização de seu poder de trabalho.”

Quando os ingleses obrigam a classe dominante de 1850 a aplicar a Bill Aberdeen, que
localmente tornou-se a lei Eusébio de Queiroz, a drástca redução do comércio de escravos
obrigou os proprietários locais de meios de produção a aceitar cada vez mais os salários
como contrato de trabalho. Aí surge a burguesia no país (1850 – 1888), que avança
lentamente para relações capitalistas, contratando mão de obra através da chamada “Nova
Imigração”, (1860 – 1960). A burguesia brasileira é assim uma criatura do imperialismo, o
que não impede a sua divisão entre o capital mercantl, aferrado a relações pré-capitalistas
(produzir pouco e ganhar muito) e capital industrial (produção massiva originando preços
cadentes).

De acordo com as circunstânncias históricas, o efeito combinado da crise geral do sistema


capitalista com as crises cíclicas próprias do padrão local de acumulação pode ampliar ou
reduzir a brecha entre os dois campos do capital, que caracterizam a burguesia brasileira.
Quando ambos os movimentos coincidem em suas pressões desacumuladoras, como no
momento que ora se segue, então a tendência para a ruptura das classes dominantes em
dois projetos distntos se torna bem visível.

1 – Os Caminhos da Teoria Marxista-Leninista.

A teoria marxista-leninista, fundada sobre o caráter dialétco da realidade social e natural,


compreende que nada no mundo é imutável. Só o transitório é eterno. Como tal, é
poderoso instrumento colocado pelos fundadores do socialismo científco nas mãos dos
trabalhadores e dos pobres de todo o mundo. Todo o indivíduo que quiser afastar de si uma

639
enxurrada de mitos, ilusões e mentras, com que as classes dominantes enchem a cabeça
do povo pobre, tem no conhecimento da teoria marxista-leninista a oportunidade de se
libertar e de superar a si próprio. Diz Lênine:

“Burguês, quer dizer proprietário. Burguesia quer dizer o conjunto de proprietários. Um grande
burguês é um grande proprietário. Um pequeno burguês é um pequeno proprietário. Os termos
burguesia e proletariado significam o mesmo que proprietários e operários, ricos e pobres, gente
que vive do trabalho e gente que trabalha para os outros em troca de um salário.”

A ciência social burguesa não consegue sequer admitr estas obviedades aqui
caracterizadas por Lênine. Aliás, elas são perceptíveis, tornaram-se o óbvio, como resultado
do trabalho científco e polítco de homens como Marx, Engels e Lênine. As pessoas que
nunca leram suas obras, que nunca estveram em contato com seus seguidores, contnuam
acreditando em duendes e papai noel.

A burguesia e restos de outras classes exploradoras a ela aliadas veem-se obrigadas a


periodicamente atacar, prender e assassinar os lutadores sociais das diferentes correntes
progressistas, partcularmente os marxistas-leninistas. Em toda parte queimam livros aos
milhões de exemplares para “preservar”, os trabalhadores e os pobres em seu mundo de
trevas e no cárcere da religião. É só assim que podem efetvamente combater o marxismo e
os marxistas.

Do outro lado, o partdo operário luta para difundir a doutrina correta, que é a
combinação do estudo marxista da realidade com o trabalho intelectual coletvo. Só o
estudo individual e o debate coletvo para aprofundar o conhecimento e elaborar soluções
novas podem levar o trabalhador ao caminho da liberdade. Podem levá-lo à oportunidade
de se tornar um homem novo, capaz das tarefas que se abrem para o futuro.

Pela atvidade criadora de nossa consciência, podemos compreender ou elaborar qualquer


tpo de ideia, sem que seja necessário que a mesma corresponda à realidade, ou que seja
possível de ser materializável. Podemos pensar “cachorro azul”,, ou outra associação
qualquer. No entanto, o que importa são ideias que possam ser postas a serviço da
sociedade, em um ou vários de seus problemas ou aspectos.

640
Estas ideias são produzidas pelos trabalhadores em geral, na ciência, na técnica e na
execução de projetos que melhoram a vida de parte da humanidade. No entanto, no
momento de os trabalhadores opinarem sobre a organização da sociedade em seu ponto de
vista materialista, os polítcos das classes dominantes preferem exercer o monopólio do
silenciamento e decidir por si mesmos. E, claro, as proposições de tais polítcos visam
apenas aumentar o lucro, diminuindo os custos – com crescente desemprego – e
produzindo soluções de baixa qualidade.

Essa visão burguesa do mundo resiste aos interesses da maioria e, portanto, abomina o
marxismo-leninismo. Daí a enorme enxurrada de calúnias que é dirigida aos comunistas e à
sua doutrina. No entanto, o leninismo é um instrumento nas mãos dos pobres e
trabalhadores, para que lutem pela sua liberdade, ante a exploração da burguesia. A
explicação social, por exemplo, da destruição em larga escala da produção individual, a
acumulação primitva de capital, dá sentdo à formação de colônias por toda parte, com a
escravização de milhões de indivíduos e extermínio de sociedades inteiras. Para a doutrina
liberal, semelhante barbaridade dá-se ao acaso, sem sujeito histórico, sem responsáveis,
sem nada... No entanto, se você visitar um presídio, lá vai estar cheio de pobres,
naturalmente “responsáveis”, por tudo que acontece...

O fato é que as classes dominantes dominam e os trabalhadores e os pobres são suas


vítmas. A sociedade capitalista se assemelha a um hospício onde quem fala a verdade é
punido e quem fala mentras recebe a chave do prédio. Só a covardia moral pode tornar
uma pessoa conivente com isso. Mas o que nos diz o marxismo? Assim diz Lênine,
mostrando que há uma saída:

“A conquista do Poder polítco pelo proletariado é um progresso gigantesco deste últmo


considerado como classe; e o Partdo se encontra na obrigação de consagrar-se mais, de um modo
novo e não por métodos antgos, à educação dos sindicatos são e serão, entretanto, durante muito
tempo uma “escola de comunismo” necessária, a escola preparatória dos proletários para a
realização de sua ditadura, a associação indispensável dos trabalhadores para o passo progressivo
da direção de toda a economia do País, primeiro nas mãos da classe operária (e não de profissões
isoladas) e depois nas mãos de todos os trabalhadores’.”

641
E o instrumento dessa educação dos trabalhadores rumo ao exercício do poder polítco e
ao conhecimento científco é o partdo da classe operária e a teoria marxista-leninista. O
partdo não exige de ninguém que nele ingresse seja marxista-leninista. Exige apenas que
este ingressante concorde com a linha polítca (Resolução do Congresso partdário) do
partdo e seja leal ao partdo e seus camaradas, não se colocando dentro dele a serviço do
inimigo. Só precisam ser marxistas aqueles que desejam ser quadros do partdo, isto é, seus
formadores e dirigentes.

Ao mesmo tempo em que o partdo operário busca organizar atvidades capazes de criar
no país um sistema insttucional compatível com o mundo civilizado, ele deve vigiar as
polítcas da direita que estão voltadas sempre para o retrocesso polítco, como se seu real
objetvo fosse restaurar o regime de escravidão, vigente antes de 1888. A dualidade, no
caso, não é do PCB, mas devido ao caráter híbrido (latfúndio + burguesia) das classes
dominantes. A própria burguesia industrial, mais nacional, corre o risco de um golpe de
estado em que seja obrigada a “internacionalizar-se”, (desaparecer...). A situação é de tal
modo cavernícola, que isso tem que ser esclarecido à citada burguesia pelos intelectuais do
partdo... proletário! Simplesmente, diante da estrutura dual, não sabem para onde
caminham... Como diz Vieira Pinto (flósofo):

“Nas condições coloniais, a estupidez deixa de ser um privilégio dos pobres, e afeta muito mais
àqueles que cursaram a escola duplamente alienada.”

Daí que o problema no Brasil não seja apenas levar aos trabalhadores o sindicato, as
cooperatvas de produção e de consumo, a partcipação eleitoral, etc., mas igualmente
valorizar a organização polítca desde a base para efetuar a mais ampla luta de massas
possível, para garantr a possibilidade de obterem-se soluções positvas para os problemas
cruciais. É necessário enfrentar os problemas econômicos graves de subsistência dos
trabalhadores e dos pobres; os problemas da organização independente da aliança
operário-camponesa; enfrentar os polítcos golpistas, que visam o massacre do povo
organizado e o retrocesso geral dos direitos e partcipação. Para os trabalhadores e os
pobres, é necessário ideologia, polítca e organização. É preciso desenvolver a habilidade e
a determinação que os trabalhadores mostram, junto aos pobres, em sua luta pela
sobrevivência. Como diz Lênine:

642
“Não se deve deixar tudo à discrição. Não se deve exigir da sorte em demasia.”

O partdo operário deve, portanto, atuar com energia em ambas as frentes, permitndo
condições teóricas e organizatvas ao povo trabalhador e pobre para travar as suas lutas
com a melhor possível informação e educação de classe. Não é função do partdo,
desmoralizar as massas, antes, o contrário. Mas os dirigentes da classe operária devem ter
em mente que a mobilização não basta. Ela não esgota a preparação das condições
subjetvas. É preciso um esforço gigantesco para seguir o desenho criado pela mobilização
em termos de organização. É preciso organizar em profundidade as forças do povo
trabalhador e pobre. Só uma organização profunda – surpreendente – dos trabalhadores e
dos pobres que pode no plano de ação polítca dissuadir a reação.

Por outro lado, não se pode “presumir”, a efciência da capacidade mobilizadora e


organizadora da classe, traço tão ao gosto da improvisação, como se deu favoravelmente –
neste caso – nas jornadas passadas de agosto-setembro (1961), mas deve-se entregar ao
sistema operatvo as integrações possíveis sobre a possibilidade de êxito aqui e ali. A
estruturação até o cansaço dos canais de mobilização da frente popular é o ponto nodal
para assegurar uma efetva mobilização, em caso da necessidade de ação polítca imediata.

O fundamento de uma mobilização efciente é, sem dúvida, a capacidade de atuação, a


compreensão polítca dos quadros e membros do partdo operário e de seus aliados na
frente de luta. Se estes elementos estão preparados, atvos e conscientes, então existe a
possibilidade de uma mobilização surpreendente das forças populares. É então possível
despertar o entusiasmo para a luta e eliminar o impacto dos eventuais equívocos. No
esforço de mobilização, o partdo operário deve deixar claro para as massas do povo que
somente ele pode resolver a situação a seu próprio favor, e que não devem deixar-se
enganar por promessas ou discursadores de ocasião. Uma vez que hajam logrado galgar as
ruas em número decisivo, devem eles próprios assumir a ação que levam a cabo e tomar as
decisões em suas mãos. Não se deve conduzir o povo às ruas, numa luta encarniçada para
enganá-la com promessas ou negociações de últma hora. É preciso que o povo entenda
que deve assumir o controle das ruas, defender o controle das ruas e sustentar tal controle
para poder se apresentar no cenário como um ator polítco que merece respeito. É preciso
fazer vacilar - ou até bater em retrada - o inimigo. Não é o partdo operário que deve se

643
apresentar como força visível nas ruas e questonar a polítca reacionária ou de conciliação.
Tal, do ponto de vista repressivo, não teria valor algum. Quem deve se apresentar e tomar
as ruas é a massa irreconhecível de milhares, dezenas de milhares, ou milhões de
trabalhadores, prontos a escarrar na cara da reação ou varrê-la das ruas. Só o entusiasmo
verdadeiro do proletariado pode colocar em fuga os inimigos dos pobres. E uma parte
considerável da pequena burguesia e das camadas médias deve vir com ele. Como diz o
documento do Movimento Unifcado da Revolução Brasileira (MURB):

“Todos apelam para a unidade. A CGT, a FPN, a UNE, a UBES, FMP, as lideranças operárias,
camponesas, estudants, militares e religiosos, revolucionários e progressistas, os parlamentares
nacionalistas e polítcos mais ligados aos movimentos populares, Brizola, Arrais, Prestes, Almino,
Sérgio, Neiva, Temperani, Pelópidas, Eloy, pe. Alípio, pe. Lage, Osvino, Garcia, para citar os mais
atuantes e destacados, todos querem unidade. Nós também queremos unidade. Mas a unidade em
torno de que forças? Das forças revolucionárias e progressistas. E unidade para que? Para se
efetvar a Revolução Brasileira. ‘A Revolução tornou-se, hoje, hoje, inevitável em muitos países da
América Latna. Tal fato não é determinado pela vontade de ninguém. É resultado das espantosas
condições de exploração em que vive o homem americano, do desenvolvimento da consciência
revolucionária das massas, da crise mundial do imperialismo e do movimento universal de luta dos
povos subjugados’. (2ª Declaração de Havana). O povo brasileiro já pode tomar uma decisão
histórica capaz de eliminar para sempre os seus dois cruéis inimigos – o imperialismo e o latfúndio –
e de elevar, em espaço de tempo relatvamente curto, os seus índices de vida, desde que utlize em
proveito próprio todas as riquezas de que é dotado. Mas para tomar essa decisão precisa de
unidade. E de organização. Para evitar os movimentos espontâneos sem objetvos bem definidos,
que se podem perder, retardando a marcha da Revolução Brasileira.”

“Queremos A Revolução Brasileira, isto é, a mudança da estrutura polítca, econômica e social do


País. Quem vai fazer essa Revolução? A direita, o centro ou a esquerda? Serão as massas. Mas as
massas unidas. As massas organizadas. As massas conscientes do seu papel histórico. Exigindo as
reformas. Mas que reformas? Simples reformas de base? Não. Reformas de base radicais. Sim.
Porque as de base pura e simplesmente, querem a direita e o centro, uns com a Consttuição
reformada, outros, sem isso. De reformas de base já falava o imperialismo em Punta Del Leste. De
reformas de base fala o latfúndio. Impõe-se, assim, que se acrescenta o adjetvo radical a cada
reforma de base para que seja reforma de verdade e nunca uma mistficação, um engodo, uma
mentra, para enganar as massas.”

644
“A primeira dessas reformas, a mais reclamada pelo nosso povo, nos campos, nas fábricas, nas
escolas, nos quartéis, nos comícios populares, por toda a parte, é a reforma agrária radical. Quem
deve opinar, em primeiro lugar, sobre a reforma? Os camponeses. Sim, porque são eles que
trabalham a terra e nela vivem, nela sofrem e por ela morrem. Os camponeses já disseram, em Belo
Horizonte, no seu I Congresso Nacional, entre 15 e 17 de novembro de 1961, através de todas as
organizações camponesas existentes no País, das Ligas Camponesas, da ULTAB, do MASTER, dos
Sindicatos Rurais, das Federações e Confederações e também da Comissão Nacional pela Reforma
Agrária, o que mais lhes interessa, aquilo que sentem e o que é justo que se faça. E o disseram pela
boca de 1.600 delegados de todo o País, diante de grande massa popular, representantes da classe
operária, da intelectualidade, dos estudantes, do Presidente da República em pessoa, do Primeiro
Ministro, de outros Ministros de Estado, de dezenas de deputados federais e estaduais, do
governador e do vice-governador de Minas Gerais e do Prefeito de Belo Horizonte.”

Mais uma vez está-se a viver no Brasil (e em outros países da América Latna) uma situação
em que as classes dominantes, divididas, se veem de fato desorganizadas pela voracidade
sua e de seus sócios imperialistas. Por outro lado, as massas populares veem-se despertas e
dispostas a lutar, saindo de um estado de relatva paralisia (1954 – 1962). Esta disposição à
luta expressa indignação contra a polítca de esfomeamento. As massas têm demonstrado
espírito de sacrifcio nas jornadas de luta mais recentes (1960 – 1962). Por fm, a pequena
burguesia e as camadas médias têm se voltado para a aliança com o campo popular. O
relatvo isolamento das classes dominantes as têm levado ao desespero e a tentatvas
precoces de mudar a forma de luta, com violência aberta. A grande difculdade no campo
popular e a lentdão relatva com que se criam as condições subjetvas (insufciência de
quadro para as tarefas que se multplicam).

Ainda que se dessem favoravelmente as condições subjetvas, isso autorizaria o avanço da


frente popular, mas não poderia se consttuir uma garanta de sua vitória. Estará assim
assegurada certa liberdade de manobra para a frente popular, mas os componentes
indefnidos da situação contnuariam a ser numerosos. É importante compreender que não
se pode “importar”, o sistema tátco das formas de luta que se dará, e o mesmo não pode
ser induzido senão quando comece a se efetvar empiricamente. Estas e outras questões
devem ser apreciadas e compreendidas primeiro no nível de direção do partdo operário.
Não se pode dar um passo a frente sem operacionalmente estar-se preparado para
sustentá-lo. Como diz Galatnov:

645
“A relação de forças é o critério que determina o avanço ou a retrada em toda situação – e
nenhuma situação pode ser considerada como estátca. No caso de relação de forças favorável, isto
é, que permite (ou se julga permitr) avanços bem-sucedidos, é de obrigação calcular tal perspectva
em potencial (com a simples reserva de que a tátca potencial precisa ser unicamente levada em
conta se atender às exigências estratégicas). Esta ênfase, na questão do avanço, na polítca
bolchevista, é uma das razões de ênfase dada ao princípio da ofensiva na doutrina soviétca. De
modo semelhante, a retrada é admitda (excluindo-se os retraimentos locais no sentdo de ‘permitr’
a definição da relação precisa de forças) somente no caso de uma vantagem de parte do inimigo,
dentro dessa relação de forças.”

Não caberia, portanto, perpetuar o entendimento da viragem tátca, porque, se faltam


elementos no plano subjetvo, a precipitação pode levar a erros já cometdos no passado. A
relação de forças muda, e pode mudar bem rápido. No entanto, o devido representante de
forças, numa polítca consequente de economia das mesmas, pode oferecer novas
oportunidades e novas “marés montantes”,. Diz Lênine:

“A guerra é a contnuação da polítca por outros meios (especialmente violentos). Essa asserção muito
conhecida pertence a um dos mais profundos escritores em assuntos militares, Clausewitz. Os Marxistas têm
justamente considerado sempre esta tese básica teórica dos pontos de vista do significado de qualquer guerra.
Marx e Engels sempre definiram as diversas guerras deste ponto de vista.”

A violência não depende do movimento popular. Pode-se até admitr choques, devido ao
caráter repressivo da luta polítca aplicada pela oligarquia e a burguesia. Isso não implica
dizer que o campo popular considere natural que a luta polítca degenere em formas
violentas de ajuste de contas entre classes e guerra civil. O movimento popular – é óbvio –
envida todos os esforços polítcos para evitar a degeneração da conjuntura. Insistmos,
contudo, que este não é o ponto de vista das forças golpistas. Elas, o tempo todo negam a
resolver qualquer problema social ou polítco, alegando que dariam “mau exemplo”, e
demonstrariam “fraqueza”,. Desta maneira, encaminham todas as reivindicações para
choques violentos com a polícia, para justfcar desde aí a necessidade de golpes de estado.
Diz nossa linha polítca:

“Nas condições atuais do Brasil e do mundo, existe a possibilidade real de que a revolução ant-
imperialista e antfeudal atnja seus objetvos por um caminho pacífico.”

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“As condições que determinam essa possibilidade residem na presente situação internacional em
que infuem de modo decisivo a existência e fortalecimento do sistema socialista mundial e os êxitos
do movimento de libertação nacional, assim como no processo de democratzação em curso no país,
no ascenso do movimento operário, no fortalecimento da frente nacionalista e democrátca. Desde
que existe a possibilidade de um caminho pacífico, os comunistas tudo farão, no que deles dependa,
para transformar essa possibilidade em realidade.”

“O caminho pacífico da revolução não significa conciliação de classe, passividade ou espontaneísmo.


Significa unicamente a realização das tarefas revolucionárias sem que seja inevitável a insurreição
armada e a guerra civil. O avanço do movimento revolucionário por um caminho pacífico exige a
mobilização das massas, a ação enérgica dos trabalhadores e do povo para quebrar a resistência das
forças entreguistas e reacionárias. Exige a luta de massas, que não exclui os choques e confitos com
o inimigo. Para transformar em realidade a possibilidade de um caminho pacífico da revolução é
necessário desenvolver a luta de classes, condição indispensável ao fortalecimento da unidade e da
organização dos trabalhadores e ao crescimento de seu papel na vida polítca do país. É necessário
que as forças revolucionárias, partcularmente a classe operária, lutem incessantemente pelas
liberdades democrátcas e por sua ampliação como condição que favorece a ação independente das
massas.”

“A escolha dos meios para libertar a nação e transformar a sociedade brasileira não depende
somente do proletariado e das demais forças revolucionárias. Os inimigos internos e externos do povo
brasileiro resistrão, por todos os meios possíveis, à perda de suas posições. Em desespero de causa,
tais inimigos podem recorrer à violência para impedir a ascensão das forças revolucionárias ao Poder,
criando uma situação em que a revolução não teria outra possibilidade de uma solução pacífica,. O
proletariado e seus aliados não devem jamais perder de vista que, em certas circunstâncias, as suas
forças podem ser necessárias para tornar a revolução vitoriosa por um caminho não pacífico.”

2 – A Possibilidade da Via Pacífca no Brasil.

O fator decisivo para decidir da natureza da transição de uma forma de poder polítco – no
caso da aliança operário-camponesa – é a quantdade de massa popular que interfere em
apoio das forças progressistas, e não a intenção ou o desejo das forças reacionárias que
resistem à mudança. Enormes quantdades de massa popular partcipante mudam
necessariamente a natureza, a qualidade do poder polítco. Aplicando corretamente esta

647
percepção dialétca, Lênine, entre agosto e 18 de outubro (1917), também esperava uma
transição pacífca, com a queda do governo, bem desgastado, e o espetacular crescimento
que vinha obtendo o apoio militar aos Soviets (conselhos de trabalhadores) e a Guarda
Vermelha. Mas quais eram os fundamentos desta expectatva de transição pacífca? Além da
viragem das massas populares e seus delegados nas forças armadas para os bolcheviques
(agosto-outubro), tal movimento popular ia em expansão arrastando no campo e nas cidades
milhões de pessoas antes omissas à luta polítca. Ou seja, o volume crescente das massas
populares tornou inoperante tanto o governo provisório, com suas manobras de contnuação
da guerra, como a tentatva de golpe de Kornílov. Ao mesmo tempo, a força decisiva e
esmagadora das massas em processo de organização foi que levou seus delegados a
proporem o “próximo levante”, popular, na conferência da guarnição militar, efetuada em 18
de outubro de 1917. A tarefa é, portanto, não decidir teoricamente se haverá ou não
insurreição, transição pacífca ou armada, mas lançar às ruas contra a reação o maior
movimento de massas que seja possível. Como diz Kuusinen:

“Diversos movimentos das massas oprimidas e descontentes podem levar à revolução proletária, se
a vanguarda consciente da classe operária souber colocá-los nos trilhos da luta revolucionária. Não é
casual que Lênine apelasse tão insistentemente ao movimento comunista internacional para
concentrar todas as forças e a atenção ‘na procura das formas de passagem ou aproximação à
revolução proletária’.”

“O partdo marxista se vê obrigado a esta busca pela circunstância de que as grandes massas
trabalhadoras só podem elevar-se à luta pelo socialismo quando se convencem, por sua própria
experiência, de que a revolução é o único meio de resolver os problemas maduros na vida social. A
esta convicção devem chegar tanto as massas fundamentais da própria classe operária como, em
partcular, as grandes massas de camponeses e as camadas médias que, por força de sua situação na
sociedade, não aceitam imediatamente as ideias do socialismo.”

“Nos últmos decênios, abriram-se novas grandiosas perspectvas nesse sentdo, como consequência
do ascenso sem precedentes dos movimentos democrátcos de massas dirigidos contra o capital
monopolista e o imperialismo. Embora tais movimentos não se proponham objetvos socialistas,
estão ligados objetvamente à luta da classe operária pelo socialismo e, em determinadas condições,
podem fundir-se com esta luta em uma única torrente, diante da qual não poderá manter-se o poder
do capitalismo. Sobre a base desses movimentos, abrem-se novas possibilidades para a unidade de

648
ação da classe operária com todos os trabalhadores e outras camadas da população, que se
manifestam contra o jugo da burguesia monopolista.”

Também no Brasil esta característca universal da revolução de outubro tem se manifestado.


Quanto maiores as massas mobilizadas, mais tímida – no momento – a reação das forças
gorilescas. É evidente que tais extremistas de direita, golpistas empedernidos a serviço de
potências estrangeiras, se recuperam e preparam novas ações antdemocrátcas, como o
golpe do parlamentarismo. No entanto, suas maquinações podem ser destruídas por um
crescente movimento de massas. Ensina Oto Kuusinen:

“Como demonstrou a experiência histórica, as revoluções democrátcas na época do imperialismo


não se limitam a solucionar tarefas puramente democrátcas, manifestam a tendência de
desenvolver-se, a elevar-se a uma etapa mais alta.”

“Essa tendência foi percebida de modo genial por Lênine, que formulou, durante a primeira
revolução russa (1905), a teoria cientficamente fundamentada da transformação da revolução
democrátco-burguesa em revolução socialista.”

“Lênine baseou-se nas valiosas indicações já contdas nas obras dos fundadores do marxismo, Marx
e Engels, no Manifesto do Partdo Comunista, depois de observar que a revolução burguesa na
Alemanha transcorria nas condições de um capitalismo mais desenvolvido e com um proletariado
muito mais temperado do que por ocasião da revolução burguesa da Inglaterra no século XVII e da
França, no século XVIII, chegaram à seguinte conclusão: ‘A revolução burguesa alemã, por
conseguinte, só pode ser o prólogo imediato da revolução proletária’.”

“Posteriormente, em carta dirigida a Engels em 1856, Marx expôs a interessante ideia da


combinação da revolução proletária com o movimento camponês. ‘Na Alemanha – escreveu Marx –
tudo dependerá da possibilidade de apoiar a revolução proletária com uma segunda edição da guerra
camponesa’.”

“Os oportunistas da II Internacional não atribuíam importância a estas ideias de Marx. Somente
Lênine percebeu nelas o germe de uma nova tátca revolucionária. Partndo da análise da situação
real e baseando-se no pensamento de Marx, elaborou sua teoria da transformação da revolução
democrátco-burguesa em revolução socialista.”

“O principal nessa teoria é a ideia da hegemonia (papel dirigente) da classe operária na revolução
democrátco-burguesa; Era uma ideia nova, que se chocava com as concepções habituais até então.
Os social-democratas da Europa ocidental (e com eles os mencheviques russos) raciocinavam de

649
modo simplista: de vez que a revolução é democrátco-burguesa, a burguesia deve dirigi-la. Assim foi
na Europa ocidental, diziam, e assim será em todas as revoluções burguesas, onde quer que elas
ocorram. Só depois de um intervalo mais ou menos prolongado quando o capitalismo tver cumprido
até o fim sua missão de arruinar as camadas médias e o proletariado consttuir a maioria da
população chegará a vez da revolução proletária, que pode ser dirigida pela classe operária. Lênine
rompeu este petrificado que não correspondia às exigências do tempo e às possibilidades do
movimento operário. Demonstrou que, na época do imperialismo, entre a revolução burguesa e a
revolução proletária não é obrigatório um período de domínio da burguesia, e que em um país mais
ou menos desenvolvido a revolução democrátco-burguesa pode transformar-se em revolução
proletária.”

“A época do imperialismo proporciona os fundamentos suficientes para tal conclusão.”

“Em primeiro lugar, o sistema capitalista mundial, em conjunto, havia amadurecido para a
passagem ao socialismo. Nestas condições, um certo atraso dos países do Oriente não podia ser
obstáculo insuperável para essa transição.”

“Em segundo lugar, toda luta contra os restos do feudalismo, numa situação em que o imperialismo
conserva e sustenta as caducas relações feudais, mais cedo ou mais tarde se transforma em luta
decidida contra o imperialismo, isto é, à revolução socialista.”

“Em terceiro lugar, na época do imperialismo, surgiu um novo fator, que não exista no período das
revoluções democrátco-burguesas no Ocidente: em vários países, às vésperas da revolução
antfeudal, formou-se uma classe operária numerosa e combatva, que criou seu partdo polítco
independente.”

“Nestas condições, se a classe operária encabeçar a revolução democrátco-burguesa esta pode


transformar-se em revolução socialista.”

O combatente da revolução russa, que partcipou da tomada do palácio de inverno, Oto


Kuusinen, comenta sobre a experiência das revoluções democrátcas:

“O novo tpo de revolução democrátco-burguesa dirigida pela classe operária engendra, segundo a
teoria de Lênine, um novo tpo de poder estatal – a ditadura democrátca revolucionária do
proletariado e dos camponeses. Esta põe em prátca as medidas que correspondem aos interesses
comuns dessas classes: elimina a monarquia e proclama a república democrátca, entrega a terra aos
camponeses, insttui a jornada de trabalho de 8 horas, etc.”

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“Ao mesmo tempo, a classe operária, encontrando-se no poder, adota todas as medidas para que a
revolução democrátca se transforme em socialista. Nas condições da Rússia, isto exigia o
reagrupamento das forças de classe: a classe operária realiza a transformação socialista não mais em
aliança com todos os camponeses, porém, com a sua parte mais pobre, que tem tanto interesse como
os operários na passagem ao socialismo.”

“O desenvolvimento da revolução na Rússia, escrevia Lênin posteriormente, comprovou a teoria dos


bolcheviques. A revolução democrátco-burguesa na Rússia transformou-se realmente em socialista.”

“No que tem de fundamental e principal, a teoria leninista da transformação da revolução


democrátco-burguesa em socialista é aplicável a todas as revoluções democrátcas de nossa época.
Isto não significa, é claro, que toda revolução democrátca se transforme obrigatoriamente em
socialista, mas apenas que ela pode transformar-se, se a classe nela conseguir ocupar uma posição
dirigente. Assim nos indica, em partcular, a experiência das revoluções democrátco-populares
antfascistas que se desenvolveram no fim da Segunda Guerra Mundial nos países da Europa central e
sul-oriental, bem como a experiência das revoluções democrátcas de libertação nacional em países
da Ásia como na China, a Coreia e o Vietnan.”

“Tanto em um como em outro caso, as revoluções, que se iniciaram com um caráter democrátco
geral, não se detveram na etapa democrátca, e mais ou menos rapidamente, com maiores ou
menores dificuldades, transformaram-se em revoluções socialistas. Isto revela uma vez mais o quanto
é grande a importância daquela teoria leninista, que desencadeia a atvidade revolucionária da classe
operária e abre uma ampla perspectva para a passagem ao socialismo, tanto nos países
economicamente atrasados como nos países capitalistas desenvolvidos.”

“Deve-se ter em vista, certamente, que a época atual contém muitos fatores novos em comparação
com os tempos da primeira revolução russa. A revolução de tpo democrátco apresentava então, no
fundamental, um caráter antfeudal. Agora, em muitos países, ela se dirige desde o início não apenas
e não tanto contra as sobrevivências feudais, mas contra a ala mais reacionária e monopolista da
própria burguesia. Em outras palavras, a revolução democrátca é dirigida agora, em essência, contra
o mesmo inimigo a que visa a revolução socialista da classe operária. Isto significa que se deu uma
aproximação maior dos dois tpos de revolução. Nessas condições, a luta pela solução das tarefas
democrátcas e socialistas pode também não tomar a forma de duas revoluções distntas, mas
consttuir apenas duas etapas de um só processo revolucionário.”

Portanto, há uma oportunidade para o movimento operário em conquistar a hegemonia na


revolução nacional e democrátca; em partcipar da consttuição do poder nacional; em levar

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adiante a transformação da democracia popular em democracia socialista. Há uma
oportunidade – se a luta de massas for bem conduzida – em evitar-se uma guerra civil no
processo de transição para uma nova democracia. Diz Kuusinen:

“Assim ocorreu precisamente nas revoluções democrátco-populares dos países da Europa central e
oriental. A luta contra as sobrevivências do feudalismo não teve, ali, significado independente nem
determinou o caráter da revolução. O gume da revolução foi dirigido contra o imperialismo
estrangeiro e a grande burguesia e os latfundiários natvos, que se haviam associado àquele. Isto
conferiu à revolução, desde o início, um novo caráter, criou possibilidades partcularmente favoráveis
para a sua transformação em revolução socialista. Por isso, em alguns países pode-se observar
claramente a substtuição da etapa democrátca pela etapa socialista, enquanto que em outros
países não houve tal separação nítda; em uns países, o desenvolvimento para o socialismo ocorreu
de maneira mais suave e encontrou menos resistência, em outros foi acompanhado de brusco
aguçamento da luta de classes. Mas, ao mesmo tempo, manifestaram-se plenamente as leis gerais de
transformação da revolução, descobertas pelo marxismo-leninismo.”

“Nos países europeus de democracia popular, na primeira etapa, surgiu o poder democrátco do
povo, dirigido contra o fascismo e os traidores nacionais, que se encontravam entre a grande
burguesia, os latfundiários e o alto clero. A força dirigente do poder era a classe operária.”

“O poder popular, em primeiro lugar, liquidou até o fim as consequências do regime de ocupação
hitlerista e destruiu o domínio dos servidores do invasor – os latfundiários e a burguesia monopolista
– completando a libertação desses países do jugo do imperialismo, assegurando a independência
nacional e realizando amplas transformações democrátcas. Em segundo lugar, o poder popular
liquidou os vestgios do feudalismo que se conservavam em vários países e efetuou a reforma agrária
democrátca, em consequência da qual foi eliminada a classe dos latfundiários e a situação dos
camponeses trabalhadores melhorou consideravelmente.”

Ou seja, propor uma transição pacífca do velho para o novo não é uma degeneração
polítco-ideológica, como afrmam alguns apressados, mas uma hipótese de trabalho com
que as forças democrátcas e progressistas analisam o desdobramento da conjuntura em
qualquer processo de transformação social. É possível, com o desenrolar favorável da
correlação de forças. Nossa contribuição para tal desenvolvimento consiste na mobilização e
organização da massa de milhões de trabalhadores e camponeses para barrar a possibilidade
de golpes de estado que façam retroceder pela repressão o grau de partcipação das

652
maiorias sociais. E lutar para colocar na mão dessas maiorias as decisões polítcas rumo à
transformação.

3 – A Possibilidade da Via Não Pacífca no Brasil.

Uma das calúnias mais comuns propaladas pela direita é a de que os comunistas querem
dividir o Brasil, desejam a guerra civil, etc. Puras bobagens para enganar as pessoas incautas.
O que os comunistas notoriamente desejam é organização popular, para que os
trabalhadores e pobres possam lutar por seus direitos sociais e democrátcos. Não é justo
que uma família tenha quatro ou cinco casas, inclusive fora do país, e os pobres tenham
apenas um barraco feito com latas abertas ou tábuas podres recolhidas do lixo. Isso é a
injusta distribuição. Não se precisa nem de tão ricos, nem de tão pobres. E mais: semelhante
ponto de vista não é apenas dos comunistas, mas de milhões de outras pessoas, das mais
diferentes crenças, em todas as partes.

A luta contra a injusta distribuição é o maior problema da História, o motor da luta de


classes (e não vontades pessoais...). Na verdade, 1% detém 50 a 60% da riqueza, e isso
sempre foi assim. Contudo, hoje em dia, num mundo coalhado de máquinas ou
equipamentos, não há necessidade de pobreza ou de miséria, a menos que se encare o
mundo do ponto de vista exclusivamente do capital. E esta é a luta do partdo operário:
esclarecer as massas de outro ponto de vista que aquele do capital.

Então, se as pessoas lutam, se os trabalhadores e os pobres desejam alcançar uma


sociedade com uma distribuição de bens mais justa, correm os reacionários a ameaçá-los
com o golpe, guerra civil, massacres, etc. Ora, parece que ignoram ser a vida quotdiana dos
trabalhadores e dos pobres um verdadeiro massacre. Falta comida, roupa, saúde, transporte,
casa, educação, falta tudo para o povo pobre e os salários, quando “aumentados”, não
corrigem sequer a infação passada. É natural que os trabalhadores e os pobres não queiram
prosseguir desta forma. É natural que queiram mudanças para melhor. Diz Kuusinen:

“A guerra não é a fonte, nem a condição necessária das revoluções. Isto é demonstrado, em
partcular, pela experiência das revoluções de libertação nacional dos últmos tempos. Anteriormente,
tais revoluções, em regra geral, só podiam ter êxito numa situação de crise e de confusão causada

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pela guerra imperialista. Agora conhecemos exemplos de revoluções democrátcas vitoriosas em
tempo de paz, como a revolução no Iraque (1958) e a insurreição popular em Cuba (1959).”

“O marxismo-leninismo ensina que a revolução proletária é a consequência de um extremo


aguçamento das contradições sociais e polítcas. Entretanto, como já dissemos antes, na época atual,
semelhante aguçamento se tornou um estado crônico na maioria dos países do capitalismo
contemporâneo, que sofre profundíssima crise geral.”

“Nestas condições, para que as contradições internas do capitalismo se manifestem com enorme
força não é necessário esperar guerras ou quaisquer impulsos exteriores. Com o alto grau de
consciência e organização que atngiu em nossa época o movimento operário revolucionário, com a
existência de condições internacionais favoráveis, a explosão revolucionária pode ocorrer também
como resultado dos processos que se desenvolvem na vida econômica e polítca dos países
capitalistas.”

“O crescente enfraquecimento interno do capitalismo é a causa decisiva e inevitável de que os


trabalhadores, encontrando-se sob o jugo do capital, possam esperar novos e novos êxitos no
grandioso movimento por sua emancipação social.”

Portanto, a guerra civil é uma situação em que as forças retrógradas internas e externas se
unem para pôr fm à luta legítma de um povo, para corrigir em seu território a injusta
distribuição. As classes reacionárias em geral se socorrem no exterior de quadros e de meios
para massacrar o povo que mantnha até pouco dominado. Os estudos dos confitos do
século 19 e 20 mostram isso com toda clareza. Não é o movimento da causa popular que
causa guerra civil, mas a incapacidade das classes dominantes de aceitar reformas. Diz
Kuusinen:

“Toda revolução digna de ser chamada assim é a ação de amplas massas populares, que se erguem
numa luta sem tréguas, plenamente decididas a modificar a ordem social e as condições de sua
existência. Mas, quando se trata da luta de classes e povos inteiros, seria ingênuo pensar que se pode
levá-los à ação pelo capricho de quem quer que seja. Os povos e as classes erguem-se à luta sob a
infuência de motvos profundos, que tem origem nas condições objetvas de sua vida.”

“O leninismo elaborou os critérios gerais para julgar se as condições para a revolução estão
maduras, se a situação objetva propicia a luta das massas pelo poder. Na linguagem polítca, tal
situação favorável denomina-se situação revolucionária.”

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“Lênine indicava que a situação revolucionária se caracteriza por três indícios principais: ‘1) A
impossibilidade, para as classes dominantes, de conservar seu domínio sob a forma de antes; uma
crise na ‘cúpula’, crise de polítca de classe dominante, com a qual se abre uma fenda por onde se
infiltram o descontentamento e a indignação das classes oprimidas. Para que ocorra a revolução não
é suficiente, em geral, que ‘os de baixo não queiram viver como antes’, mas é preciso também que ‘os
de cima não possam viver como antes’. 2) Um agravamento acima do comum das privações e males
que afetam as classes oprimidas. 3) Uma elevação considerável, por força das causas indicadas, da
atvidade das massas, que em um período ‘pacífico’ se deixam explorar passivamente, mas que, em
tempos tempestuosos, são atraídas, tanto pela situação de crise como pela própria ‘cúpula’, a uma
ação histórica independente.”

“Sem estas modificações objetvas, independentes da vontade tanto de grupos e partdos como de
uma outra classe, a revolução – em regra geral – é impossível. O conjunto destas mudanças é o que
se denomina situação revolucionária.”

“Partcularmente importante é a observação de Lênine no sentdo de que, para chegar a uma


situação revolucionária, não basta que as massas estejam descontentes e indignadas. Além disso,
para que haja a revolução é necessário que as classes dominantes não possam viver e governar como
antes. Em outras palavras, a revolução é impossível sem uma crise que abarque toda a nação, isto é,
tanto os ‘debaixo’ como os ‘de cima’. Disto se conclui que o partdo revolucionário da classe operária
não pode construir sua tátca partndo apenas do estado de espírito das massas; deve ter em conta
também a conduta das classes dominantes.”

“A situação revolucionária surgiu quando a polítca dos círculos dominantes entrou em bancarrota e
chegou a um beco sem saída, quando nas massas populares cresceram e se amplia o
descontentamento e na ‘cúpula’ reina a confusão, quando, como se diz, futua no ar a ideia de
mudanças radicais. Isto ocorre geralmente nos períodos tempestuosos da história, quando a sorte das
classes e de povos inteiros depende de uma ou de outra mudança dos acontecimentos. As massas,
neste momento, encontram-se diante de uma opção: ou um caminho ou o outro, não havendo
terceira alternatva. Elas se levantam para a derrocada do poder existente porque se convencem, por
sua própria experiência da impossibilidade de outro meio para alcançar a satsfação de seus
interesses vitais e essenciais.”

Os quadros marxista-leninistas estudaram detalhadamente as característcas das lutas


sociais e polítcas para formular os traços gerais dos métodos de luta que, do ponto de vista
de sua materialização, decidem a sorte temporária de todos os povos. Os marxistas

655
consideram a guerra um estado extraordinário da vida social, em que cada facção beligerante
deseja contnuar sua polítca traçada, ignorando os interesses da outra ou das outras facções.
Ao prosseguir sob “formas especiais”, as ações polítcas o confito se generaliza e uma parte
deve impor, portanto, por quaisquer meios, sua vontade à outra (s). O caráter de classe da
polítca determina, assim, o caráter de classe do confito, mesmo que esse se torne uma
guerra. O marxismo entende que há três etapas estratégicas, quando se estabelece a análise
da relação de forças: defensiva, equilíbrio e ofensiva. Consequentemente, a tátca deve
compreender as fases: defesa, equilíbrio e ataque. Todas as etapas da estratégia e da tátca
são contraditórias, isto é, dialetcamente, compreendem dentro de si inferioridade, equilíbrio
e superioridade.

O ponto de vista classista do marxismo-leninismo parte sempre do ponto de mobilização


das massas por formas pacífcas, mas reconhece que não se deve conduzir as massas à luta
social e polítca para serem massacradas. Por isso, admite diferentes métodos de luta, com
formas de resistência democrátca contra a violência inimiga de classe. Estas formas de
resistência podem se dar no processo de luta por meio de uma ou várias greves gerais, ou
não; e pode-se dar em luta contra a mudança da forma ou das formas de luta pelas classes
dominantes, degenerando a situação revolucionária assim em diferentes formas de guerra
civil. Diz Kuusinen:

“Entre as causas objetvas que agravam a situação, o papel decisivo corresponde, via de regra, aos
fatores econômicos, ao sério pioramento das privações das classes oprimidas. Um reforçamento sem
precedentes da exploração, o desemprego, em massa, o aumento rápido do custo de vida, fenômenos
de crise na economia, que privam as massas de segurança no dia de amanhã e de perspectvas para o
futuro, são fatores que, sem dúvida, tornam muito provável a explosão da atvidade revolucionária
das massas. Entretanto, os marxistas nunca consideraram as causas materiais como únicos fatores
que radicalizam a consciência e a vontade das massas trabalhadoras.”

Portanto, é compreensível que as massas populares cheguem ao enfrentamento armado


com as forças retrógradas que dominam a sociedade, numa série de situações: (a) repressão
criminosa contra greves ou contra a greve geral; (b) esfomeamento sistemátco dos
trabalhadores e dos pobres; (c) massacres e genocídios dirigidos contra as forças populares;
(d) golpes de estado, revertendo as expectatvas sociais, etc. O povo comum jamais busca o

656
enfrentamento com a ordem repressiva. Contudo, a brutalidade das classes dominantes, que
nega a condição humana a pobres e trabalhadores, pode levar a semelhante situação.

Diz Kuusinen:

“Todavia, como indica Lênine, a revolução não surge de qualquer situação revolucionária, mas somente
quando as condições objetvas necessárias se unem às condições subjetvas. Um papel imenso é desempenhado
pela capacidade e pelo grau de preparação da classe operária para ação decisiva, que deve ser suficientemente
poderosa a fim de destruir ou enfraquecer o poder existente, pois este nunca, nem mesmo na época de crise,
‘cai’ por si mesmo, se não o ‘derrubam’.

“Precisamente na época das crises revolucionárias é que se comprova a maturidade polítca e a capacidade de
luta dos partdos da classe operária. Uma enorme responsabilidade pesa sobre o Partdo: ele deve aproveitar as
condições favoráveis e escolher acertadamente o momento em que seu apelo à ação decisiva será apoiado por
amplas massas. Lênine acentuou mais uma vez que, nestas horas, os chefes da classe operária devem possuir
não apenas a capacidade de analisar cientficamente a situação, mas também um sentdo revolucionário
especial.”

“Em partcular, Lênine adverta os partdos revolucionários contra um perigo, que não está excluído nos
períodos de desenvolvimento tempestuoso dos acontecimentos: o perigo de confiar apenas em suas próprias
forças, de tomar o estado de espírito e a decisão da vanguarda pelo estado de espírito de todo o povo.”

“Sem a direção do Partdo, a revolução é impossível. Entretanto, o Partdo não pode realizá-la apenas com
suas forças. Lênine adverta: ‘Somente com a vanguarda não é possível triunfar’. Seria não só estupidez, mas
um crime lançar apenas a vanguarda na luta decisiva, enquanto toda a classe, enquanto as grandes massas
não ocuparem a posição de apoio direto à vanguarda ou, pelo menos, de neutralidade favorável em relação a
ela, e de completa recusa em apoiar o inimigo. E para que efetvamente toda a classe, as grandes massas
trabalhadoras e os oprimidos pelo capital cheguem a tal posição, não é suficiente a propaganda e a agitação.
Para isto é necessário a própria experiência polítca dessas massas. Tal é a lei fundamental de todas as grandes
revoluções.”

“Estes são, em resumo, os conceitos do marxismo-leninismo sobre a situação revolucionária, que se consttui
em virtude de causas objetvas, mas que só pode ser utlizada com êxito para a ação revolucionária por um
partdo que compreenda as exigências do momento histórico, seja estreitamente ligado às massas e saiba
conduzi-las.”

“De situações revolucionárias em condições distntas podem surgir revoluções de diferentes tpos. Na
revolução democrátca, cria-se uma situação favorável para a subida ao poder de uma ampla coalizão popular;
a subida proletária, para a subida ao poder da classe operária e seus aliados, forma pela qual se realiza a
revolução e modo pelo qual chegará ao poder a coalizão popular ou a classe operária, dependem de muitas
circunstâncias.”

657
Compreende-se, portanto, que não bastam as intenções pacífcas do movimento dos
trabalhadores e seus aliados para obter-se uma solução pacífca para a mudança do sistema
de poder, seja no plano tátco, seja no plano estratégico. Isso depende de uma coleção de
fatores, entre os quais a attude e a disposição das classes dominantes é, certamente, o
prioritário. Diz Kuusinen:

“Diante de cada partdo da classe operária, quando orienta as massas para a revolução proletária,
surge antes de tudo a questão do caráter – pacífico ou não pacífico – que assumirá a transformação
socialista. Isto depende, em primeiro lugar, das condições objetvas: da situação dentro de um
determinado país, inclusive do nível de desenvolvimento da luta de classe, da tensão a que esta
chegou e da força de resistência das classes dominantes, assim como da situação internacional.”

“Deve-se ter em vista ainda que, em qualquer revolução, a escolha das formas de luta não
depende apenas de uma das partes. Na revolução socialista, ela não depende apenas da
classe operária, que se lança ao assalto contra o capitalismo, mas também da burguesia e de
seus serviçais, que defendem as muralhas cambaleantes do regime de exploração.”,

“A classe operária não aspira a solucionar os problemas sociais por meio da violência. Lênine sempre
acentuou que a classe operária preferiria como é natural, tomar o poder pacificamente... A burguesia
não leva em conta essa preferência e, pode impor aos operários revolucionários os mais agudos e
violentos métodos e formas de luta.”

As classes dominantes apostam sempre nas polítcas de desumanização dos trabalhadores e


dos pobres, procurando reduzi-los à condição de animais intmidados, com as armas da
fome, da miséria e da repressão policial. Através desses meios, busca convencer os milhões e
milhões de trabalhadores e pobres da inutlidade de qualquer resistência, da perpetuidade
do sistema de exploração e opressão. No entanto, até mesmo os trabalhadores menos
politzados compreendem que – apesar da violência – o poder das classes dominantes é
bastante falho. Elas não podem se opor com sucesso a um povo unido, dotado de um
comando único e combatendo com uma tátca única pelo poder polítco e social. Diz
Kuusinen:

“Ao expor as opiniões do marxismo sobre a insurreição armada, Lênine acentuava constantemente a
seriedade e a responsabilidade desta forma de luta, adverta os operários revolucionários contra
qualquer espírito de aventura, contra o jogo conspiratvo para ‘empolgar’ o poder. Sempre concebeu

658
a insurreição como uma ampla ação das massas trabalhadoras, dirigidas pela parte consciente da
classe operária.”

“Cinco meses antes da Revolução de Outubro, em maio de 1917, Lênine afirmava: ‘Nós não
queremos empolgar’ o poder, pois todas as experiências das revoluções ensinam que só é firme o
poder apoiado na maioria da população; precisamente este poder estável foi criado em consequência
da revolução socialista na Rússia em outubro de 1917.”

“Nos trabalhos de Lênine, é possível encontrar uma análise desenvolvida da insurreição armada, que
ele denominava ‘um tpo especial de luta polítca’. Lênine dava os seguintes conselhos aos
revolucionários:

1) Nunca brincar com a insurreição, e ao iniciá-la, saber firmemente que é preciso ir até o fim.

2) É necessário reunir uma grande superioridade de forças no lugar decisivo, no momento


decisivo, pois do contrário o inimigo, que dispõe de melhor preparação e organização, destruirá os
insurretos.

3) Uma vez iniciada a insurreição, é necessário atuar com a maior decisão e passar
obrigatoriamente, infalivelmente, à ofensiva. “A defensiva é a morte da insurreição armada”.

4) É preciso esforçar-se por colher de surpresa o inimigo, aproveitar o momento em que suas
tropas estão dispersas.

5) É preciso obter êxitos, ainda que pequenos, diariamente (poderíamos dizer a cada hora, se se
trata de uma cidade), mantendo a todo custo a ‘superioridade moral’.”

“A acertada aplicação dessas indicações de Lênine foi uma das condições do êxito da Revolução
Socialista de Outubro na Rússia, talvez a mais incruenta revolução da história. No assalto ao Palácio
do Inverno, que terminou com a queda do Governo Provisório e a passagem do poder aos sovietes,
morreram de ambos os lados, no total, apenas algumas dezenas de homens.”

“Ninguém afirma, evidentemente, que as revoluções proletárias em outros países terão


obrigatoriamente o mesmo caráter que na Rússia. Explicando o aspecto encarniçado que tomaram
posteriormente as batalhas revolucionárias na Rússia, Lênine assinalava duas circunstâncias:”

“Em primeiro lugar, os exploradores foram derrotados apenas em um país; imediatamente depois da
revolução, ainda possuíam uma série de vantagens em relação à classe e, por isso, ofereceram uma
resistência prolongada e desesperada, sem perder até o últmo minuto suas esperanças de uma
restauração.”

659
“Em segundo lugar, a revolução russa surgiu de ‘uma grande matança imperialista’, numa situação
de inusitado incremento do militarismo. Uma revolução como essa não podia passar ‘sem
conspirações e atentados’ contra-revolucionários por parte de dezenas e centenas de milhares de
oficiais pertencentes à classe dos latfundiários e dos capitalistas... E isto não podia deixar de
provocar uma ação contrária por parte do povo insurreto.”

“Outros países, indicava Lênine, irão ao socialismo por um caminho mais fácil.”

Dê-se como verdadeiro ou não o “caminho mais fácil”,, o partdo operário não pode deixar
de lado as legítmas reivindicações e conquistas da classe trabalhadora para acalmar e ceder
às exigências das classes dominantes. Ele deve seguir em sua missão de organizar os
trabalhadores, evitando provocações e confrontos desnecessários e assegurando a via mais
racional possível de solução dos profundos fenômenos sociais. Sua polítca de lealdade com
as massas populares e com seus aliados consttui a melhor garanta que pode oferecer sobre
a simplicidade e inteireza de seus propósitos. Ensina Lênine:

“Em todas as organizações, sindicatos e associações sem exceção, em primeiro lugar nas proletárias,
mas logo também nas da massa não proletária de trabalhadores e explorados (nas polítcas,
sindicais, militares, cooperatvas, culturais, desportvas, etc.), devem criar-se grupos ou células de
comunistas. Estes grupos de células serão de preferência, organizações abertas, mas também
deverão ser secretas em todos os casos em que a burguesia abrigou o propósito de proibi-las e de
prender ou desterrar seus membros. Estas células, estreitamente ligadas entre si e com os
organismos centrais do Partdo, permutando sua experiência, realizando um trabalho de agitação, de
propaganda e de organização e adaptando-se sem falta a todas as esferas da vida social, a todas as
categorias e setores da massa trabalhadora, devem educar-se a si mesmas com toda regularidade
através desta atvidade multlateral e educar o Partdo, a classe e as massas.”

E, mais adiante, afrma Lênine:

“É de extraordinária importância estabelecer pratcamente a necessária diferenciação entre os


métodos de trabalho, por um lado, com relação aos ‘líderes’ ou aos ‘representantes responsáveis’, a
cada instante, depravados irremediavelmente pelos preconceitos pequeno-burgueses e imperialistas
(estes líderes devem ser impiedosamente desmascarados e expulsos do movimento operário) e, por
outro lado, com relação às massas, que sobretudo depois da matança imperialista, se inclinam em
grande parte a escutar e admitr a doutrina sobre a necessidade da direção do proletariado, como
única saída da escravidão capitalista. No que se refere às massas, é preciso aprender a abordá-las de

660
maneira mais paciente e cautelosa, com o objetvo de chegar a compreender as partcularidades e os
traços originais da psicologia de cada camada, profissão, etc.”

4 – Conclusão.

Nesta aula número 15, aprendemos como a teoria marxista-leninista procura meditar e
resolver problemas reais da vida social e polítca da imensa maioria do povo, na verdade
escravizado pela exploração capitalista. Como se trata de uma teoria que expressa a
realidade do mundo perceptível, sem se tornar um obstáculo ao avanço científco, mas, na
verdade, buscando propiciar mudanças que favorizem tal avanço.

Aprendemos também sobre a objetvidade da luta de classes, das estratégias e tátcas das
diferentes classes e da ferocidade dos dominadores, na luta para barrar qualquer progresso
social do povo comum.

Compreendemos que não depende do partdo operário ou da frente única o caráter da

transformação da sociedade brasileira. Cabe às classes dominantes dar à últma palavra

sobre as reformas de base necessárias e do tpo de poder polítco que elas são capazes de

tolerar ou não, no país. Pouco a pouco, isso irá mudar.

Perguntas.

1 – Que entende por superioridade de forças do movimento popular?

2 – Como se pode evitar o golpe de direita hoje no Brasil?

3 – Quais são as forças sociais que darão ou tentarão o golpe no Brasil?

4 – Como deve atuar o movimento popular diante de um golpe de estado?

5 – Onde aplicar a superioridade de forças?

6 – Há possibilidade de via pacífca no Brasil?

7 – Há possibilidade de via não pacífca no Brasil?

661
8 – Resuma as formas de luta que conhece.

9 – Que entende por resistência democrátca?

10 – Que forças partcipam do processo de resistência democrátca?

Aula 16

662
16 – O Governo Atual e a Posição dos Comunistas.

O governo brasileiro atual não é o resultado apenas da luta dos movimentos da sociedade
em prol do progresso, tendo à frente a classe trabalhadora e a pequena burguesia
progressista. Ele resulta também – e muito – do desfecho externo da conjuntura
internacional, com a derrota das forças mais obscurantstas no cenário internacional. Os
imperialismos mais abjetos, capazes de lançar mão do genocídio em sua expansão, foram
derrotados na segunda guerra mundial (1939-1945). Esta vitória, contudo, no campo
capitalista teve efeito contrário à democratzação. Os imperialismos sobreviventes e
vencedores se esqueceram de pronto sua aliança com as forças progressistas para bater o
nazifascismo. Procuraram imediatamente apossar-se do mundo para si, no lugar de construir
uma ordem democrátca. Desta maneira, iniciou-se a chamada “guerra fria”,, aliás bem
quente, com agressões internacionais, violação dos acordos criados para pôr fm ao
nazifascismo, promoção das estrelas do nazifascismo a postos-chave na aliança ocidental,
tentatva de reconstrução do bloco colonial, etc. O carro-chefe dos imperialistas na últma
década é a intervenção nos países dominados que tentam se libertar, golpes de estado para
derrubar governos progressistas e guerras devastadoras localizadas.

Nesse ambiente internacional, contudo, não conseguem tais potências agressoras impedir
que o “elo mais fraco”, contnue a se manifestar e que ocorram passagens em numerosos
países de governos reacionários para governos progressistas, ou – para eles até pior – que
ocorram revoluções polítco-sociais pura e simplesmente, como Vietnam, China, Cuba,
Coreia, etc.

O recuo objetvo do imperialismo enquanto domínio mundial tem resultado de três fatos
inegáveis: (a) destruição maciça de forças produtvas e poder social da burguesia no primeiro

663
confito mundial; (b) o mesmo fenômeno, no segundo confito mundial; e (c) entre os dois
confitos, no entre-guerras, o enorme desenvolvimento desequilibrado no campo capitalista,
com o quase colapso dos valores de ganho no comércio mundial. Estes três fatores levaram a
um amplo desenvolvimento do capital industrial fora do controle dos grandes monopólios e
a um recuo relatvo do capital fnanceiro, que por ora vai-se recuperando e intenta retomar o
“tempo perdido”,. Para recuperar a posição de que dispunham, não ttubeiam em lançar mão
de qualquer meio.

1 – A Situação Polítca. A Necessidade de Reformas de Estrutura.

Na situação brasileira, sabemos que são necessárias reformas profundas de estrutura. As


classes dominantes do Brasil fcaram presas no passado colonial e dão por isso uma
contribuição muito pequena para o progresso social e econômico. Além do mais, o mundo
atual sofre um período de transformações sucedentes e o povo ou país que não puder
acompanhar este ritmo do sistema industrial fcará por longo tempo para trás, numa posição
conservadora e subalterna. O governo Vargas deu impulso à industrialização, mas o capital
industrial é fortemente hostlizado pelas classes dominantes tradicionais e os grupos de
interesses externos. Nessas condições, a burguesia nacional tem se valido do uso do Estado
para promover industrialização e mudanças, aumentando a carga de exploração na
sociedade dos trabalhadores e dos pobres.

Chega-se assim, após inúmeras disputas no período 1950-1962, a uma situação de


equilíbrio de forças, em que cada grupo polítco – representando determinados interesses –
manobra para impor sua posição aos demais. A aliança histórica entre o imperialismo, a
burguesia comercial e o latfúndio, se expressa em duas correntes bem distntas de
artculação: (a) um grupo de direita conservador, detentor de posições privilegiadas, que
procura manter o poder e governar dentro do máximo possível de legalidade consttuída,
através de manobras e postergações, evitando acordo que lhes tre o mínimo que seja. Um
outro grupo (b) de extrema direita, de poder econômico decrescente e sendo deslocado pelo
capital industrial, que preconiza medidas de golpe e violência para se manter no poder. No
campo da burguesia nacional, composto fsicamente por empresários industriais de base
nacional e empresários agrários inovadores, formaram-se três alas: (1) uma delas, à direita, a

664
mais à direita, acha que se deve ameaçar a oligarquia tradicional manipulando o movimento
popular, para obter concessões para si mesma, ou ela própria. (2) Uma ala de “centro”,, que
procura pressionar a aliança tradicional oligárquica, lançando contra ela o movimento
popular, mas que aceite certas reformas, que também a benefciam no médio prazo. (3) Uma
ala de “esquerda”, de burguesia nacional, formada por empresários e líderes da pequena
burguesia radical, que preferem uma aliança mais extensa com os movimentos populares e
efetuar reformas efcazes para si e para os seus eventuais aliados.

Diante dessas forças da dominação, o movimento popular tem que, no limite possível de
sua expressão organizada, também defender-se em cada ponto de sua plataforma de
propostas e efetuar manobras ou acordos que sejam úteis por um certo período de tempo e
de mudança de forças. O interesse fundamental das forças imperialistas é a
internacionalização da economia local, partcularmente o parque industrial e a retenção da
estrutura agrária como uma reserva. É bem verdade que no “tempo do imperialismo”, há um
processo de internacionalização ainda mais forte que aquele do período colonial. No
entanto, não se deve proceder como a burguesia tradicional, entreguista, que se interessa
apenas por lucros imediatos e não defende um projeto de nação. Nós defendemos a criação
de um poder nacional, capaz de coordenar um processo autônomo de desenvolvimento e
uma inserção atva na internacionalização do mundo, onde os interesses do nosso povo
sejam priorizados, quanto aos nossos recursos. Não é correto dissolver-se numa “corrente”,
das metrópoles imperialistas, que até hoje só se manifestaram como exploradores de outros
povos. Só a aliança operário-camponesa; só o movimento popular, podem garantr um futuro
para o Brasil em que os brasileiros tenham um livre desenvolvimento como pessoas. Diz
nossa linha polítca:

“A unidade da classe operária é condição básica para que ela possa desempenhar o papel dirigente
no movimento ant-imperialista e democrátco. Esta unidade se processa, fundamentalmente, através
do movimento sindical, em cujas fileiras se associam os trabalhadores para a luta por suas
reivindicações econômicas e sociais. Os sindicatos e demais organizações profissionais não devem
servir a objetvos que dividam os operários, mas consttuir instrumentos da unidade de ação dos
trabalhadores de todas as tendências ideológicas e polítcas que atuam no movimento sindical e dos
trabalhadores ainda desorganizados e sem filiação partdária, que consttuem a maioria.”

665
“A fim de obter a unidade de ação, é necessário utlizar as conquistas da legislação social vigente e
procurar concretzá-la e aperfeiçoá-la, infuindo sobre o parlamento com a pressão de massas para
conseguir a aprovação de novas leis. Os comunistas atuam na organização sindical existente e
utlizam a Consolidação das Leis do Trabalho, procurando unir e organizar os trabalhadores na luta
por suas reivindicações.”

Portanto, a defesa verdadeira dos interesses populares não vê tais interesses como simples
apelo demagógico às massas, para pressionar setores das classes dominantes. Tal defesa dá
prioridade aos interesses da maioria, e por fm, é capaz de chegar entender o caráter
profundo, estrutural, dos problemas sociais e econômicos. Daí a plataforma popular de luta
pelas reformas de base, que se refitam favoravelmente nas condições de vida da maioria.
Por isso, declarou nosso partdo, no curso e após a crise de agosto-setembro (1961):

“Nestas condições, os comunistas prosseguem sua luta pela formação de um governo nacionalista e
democrátco, único capaz de enfrentar com êxito a solução dos problemas do povo e de imprimir um
rumo independente e progressista ao desenvolvimento da nação.”

“Somos favoráveis à realização do plebiscito, reconhecendo a significação democrátca de uma


consulta que permita ao eleitorado decidir a respeito das modificações introduzidas na Consttuição
da República pelo Congresso Nacional. Não é essa, porém, a questão decisiva do momento. O
principal agora é mobilizar massas para que exijam do novo governo e do Congresso Nacional o
desarmamento dos golpistas, sua desttuição de todos os postos de mando e a punição de todos
aqueles, como o Sr. Lacerda e seus apaniguados, que cometeram violências e crimes contra o povo.
Cabe-nos também mobilizar massas para que exijam o imediato estabelecimento de relações
diplomátcas com a União Soviétca e demais países do campo socialista. O combate à caresta de
vida ocupa um lugar importante na mobilização de massas, visando a exigir do novo governo uma
polítca financeira livre das imposições do Fundo Monetário Internacional e que assegure a elevação
do salário real dos trabalhadores, o imediato congelamento de preços dos artgos de consumo
popular e medidas prátcas contra a infação. Cumpre-nos ainda mobilizar massas para exigir a
defesa das empresas estatais, a suspensão imediata da remessa de lucros para o Exterior, a liberdade
e autonomia sindicais, a reforma agrária e garantas para a livre organização dos trabalhadores do
campo.”

“Partcipando juntamente com o povo em todas as lutas por suas reivindicações, pelo bem-estar, o
progresso e a independência da nação, os comunistas contnuam batendo-se pela mais ampla
solidariedade ao povo cubano e tudo fazem pela salvaguarda da paz mundial. É indispensável

666
igualmente intensificar a coleta de assinaturas tendo em vista solicitar dentro do menor prazo
possível, ao Superior Tribunal Eleitoral, o registro do Partdo Comunista Brasileiro.”

Na presente situação, portanto, o partdo operário tem alertado ao movimento popular e a


toda a sociedade sobre o perigo de deixar prevalecer conciliações entre setores vacilantes da
burguesia nacional (a ala direita), que tende a aceitar o golpe do parlamentarismo como um
“fato consumado”, e “encaminhar”, as reformas que “sejam possíveis de negociar”, dentro do
parlamentarismo fabricado às pressas. Diz o partdo:

“Os comunistas denunciam energicamente à classe operária e ao povo a infame tentatva de


conciliação com o grupo golpista reacionário, contdo na proposta da emenda parlamentarista.
Qualquer conciliação com o grupo golpista é um crime porque põe em risco todas as conquistas da
nação, a realização de uma polítca externa independente e de uma polítca interna de
desenvolvimento progressista do país e de melhoria das condições de vida do povo.”

Durante o governo do gabinete Tancredo Neves, as forças de extrema direita se aliaram à


direita tradicional para tentar impedir que caminhasse a proposta de reatamento de relações
entre o Brasil e a União Soviétca. Os mesmos argumentos que haviam sido desfados
durante o governo Jânnio – e que certamente se encontram entre os motvos para a queda
daquele governo – foram agora trazidos de volta contra a normalização de relações. Como o
chanceler San Thiago Dantas houvesse chamado a atenção que Canadá, EUA, Uruguai,
Argentna, etc., mantém relações com a União Soviétca, despertou-se contra ele uma
campanha de ódio cuja fonte é bem conhecida. O Conselho Superior das Classes Produtoras
(sic) tem priorizado artcular para impedir a formação de um novo gabinete, tendo à cabeça
San Thiago Dantas. Uma vez mais, o movimento sindical e nosso partdo se manifestaram a
favor de uma livre indicação do presidente Goulart, quanto à formação de uma nova direção
do gabinete de ministros. O manifesto das organizações sindicais assim conclui:

“Os trabalhadores sabem hoje, melhor que ontem, a importância da firmeza de Vossa Excelência
mantendo a indicação do Sr. San Thiago Dantas. Por esta determinação, queremos testemunhar a
solidariedade do Movimento Sindical Brasileiro.”

“Consciente de seu papel no processo de completa independência e desenvolvimento do país, os


trabalhadores renovam seu apelo para que essa firmeza de posição seja mantda, indicando Vossa
Excelência um nome de alto gabarito, sem preocupações menores de ordem partdária e sem

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conciliação com aqueles grupos contrários às lutas progressistas do povo brasileiro. Estamos
dispostos a defender, a todo risco, um Conselho de Ministros Democrátco e Nacionalista.”

“Não temos a menor ilusão, e Vossa Excelência bem reconhece, de resolvermos os problemas que
afigem esta Nação – e já começam a desesperar seu povo, sem que tenhamos um Conselho de
Ministros, democrátco e, essencialmente, nacionalista. Com a ajuda dos trabalhadores e das demais
correntes progressistas do país, civis e militares, poderá tal Gabinete, Senhor Presidente, conduzir
esta Nação no justo sentdo dos interesses nacionais. Contnuamos, porque este é o desejo manifesto
dos trabalhadores, nossa pregação e nossa mobilização em todo o país para sustentar com a GREVE
GERAL, se preciso for, a consttuição de um Conselho de Ministros Democrátco e Nacionalista. As
Reformas de Base reclamadas pelo povo são os temas preferidos nos discursos dessa mesma eventual
maioria que obstaculiza, no Parlamento, a tramitação dos projetos inadiáveis. Cansado de tanta
demagogia, de tanta insensibilidade, de tanto impatriotsmo, o povo já está nas ruas clamando
contra a fome, a miséria, o analfabetsmo e do subdesenvolvimento. Não sabemos até que ponto
poderá ir a sua e a nossa liderança.”

“Na noite de ontem duas tendências definiram suas responsabilidades para com a Nação e o seu
futuro. Confiamos, Senhor Presidente, que muitas posições serão ainda revistas em função dos
legítmos interesses da Nação.”

O objetvo das forças retrógradas é simplesmente, através do parlamentarismo de ocasião,


deixar vazar a oportunidade de que se façam reformas, ou que se as votem dentro das regras
democrátcas. Querem tornar nulo o mandato do atual presidente da república, João
Goulart. Apostam que, após um dado período de desgaste, as massas populares se cansem
das lutas pelas reformas e deixe a exploração seguir seu curso tradicional. A extrema direita
vê, nesse processo, a oportunidade de usar o tempo jogado fora – sem reformas – para
preparar um novo golpe e conseguir materializá-lo. Conclui o manifesto das forças sindicais:

“Exigimos de Vossa Excelência a mantença de sua lealdade com os compromissos assumidos com o
povo e os trabalhadores.”

“Conclamamos a toda a Nação, dentro deste princípio, a se unir em torno desta exigência na hora
presente. Abdicar desta posição é renunciar ao futuro e nossos compromissos, os de Vossa Excelência
e os dos dirigentes sindicais, com o povo e com os trabalhadores, hão de nos fortalecer na luta contra
a reação e o obscurantsmo por um Conselho de Ministros Democrátco e Nacionalista.”

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Assim, a falta de vocação democrátca das forças dominantes no país não tolera qualquer
diferença, ou qualquer tentatva de se buscar novas saídas para a crise permanente em que o
país tem vivido preso ao atraso e na miséria. Fingindo ver comunismo em qualquer
proposição de mudança ou de reforma, buscam manter o país preso ao passado, satsfeitos,
os dominadores, em exercer o velho papel colonial. A esta visão atrasada, ousamos
contrapor:

“No momento atual, o combate à caresta de vida ocupa lugar importante na mobilização das
massas, visando a exigir do governo uma polítca financeira livre das imposições do Fundo Monetário
Internacional e que assegure a elevação do salário real dos trabalhadores, o imediato congelamento
dos preços dos artgos de consumo popular e medidas prátcas contra a infação. Da maior
importância se reveste a luta pela suspensão imediata da remessa de lucros para o exterior. Torna-se
necessário reformar a Consttuição em um sentdo democrátco, tendo em vista eliminar os
dispositvos que dificultam a realização de uma reforma agrária radical e outras reformas básicas,
assim como garantr o direito de voto aos analfabetos e soldados. A defesa das liberdades
democrátcas, da liberdade e autonomia sindicais e do direito de greve, são questões que exigem a
vigilância e a mobilização das massas. Devem ser abolidas as discriminações antdemocrátcas da Lei
Eleitoral. É igualmente necessário exigir do governo e do Congresso Nacional a desttuição dos
golpistas de todos os postos de mando e a punição de todos aqueles que cometeram e contnuam
cometendo violências e crimes contra o povo. Cabe-nos ainda mobilizar massas para que exijam o
imediato restabelecimento de relações diplomátcas com a União Soviétca e demais países do campo
socialista, bem como a execução dos acordos comerciais firmados com os mesmos países.”

“A gravidade da situação internacional, ante a utlização, pelas potências ocidentais, da República


Federal Alemã e seu poderio bélico e industrial, como cabeça-de-ponte visando a uma guerra
mundial, torna indispensável a intensificação da luta em defesa da paz. E a luta pela paz exige
igualmente que organizemos e ampliemos o movimento de solidariedade ao povo cubano, que se
encontra na vanguarda dos povos da América Latna em luta contra o opressor norte-americano e
que é, por isso, o mais direta e imediatamente visado, estando vitalmente ameaçado.”

Esses flhotes da John Birch Associaton, que recebem fundos inconfessáveis de sociedades
racistas do sul dos Estados Unidos, pretendem melhorar o mundo evitando o
desenvolvimento de relações igualitárias entre os diferentes países. É claro que não se
importam com que tais relações se deem com os ricos mandando e os povos pobres
obedecendo. Por isto, têm tomado todas as medidas polítcas para impedir que o governo

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legítmo governe através do parlamentarismo de ocasião, ou para que logre aprovar algumas
medidas capazes de minorar o sofrimento da maioria da população.

Com a renúncia de Tancredo Neves ao posto de primeiro-ministro no dia 26 de junho


(1962), o presidente Goulart encaminhou o nome do chanceler San Thiago Dantas ao
congresso, sendo o mesmo recusado por 174 votos contra 110, no dia 28. Trata-se do conluio
reacionário de sempre. Sua rejeição se baseou no fato de haver encaminhado o reatamento
de relações com a União Soviétca, e haver defendido em Punta Del Este o princípio de não
intervenção para o caso de Cuba. Alinhada a reação com a polítca externa dos EUA, não
consegue em um único item pensar por si mesma. No entanto, devemos insistr no
desenvolvimento de outras oportunidades:

“Existem no Brasil as condições objetvas necessárias para que a juventude seja mobilizada para
uma partcipação atva e de vanguarda na luta polítca. Vivemos numa época em que profundas
transformações ocorrem nas vidas dos povos. O socialismo está triunfante em uma terça parte da
humanidade e a revolução socialista já chegou às terras da América; desmoronam-se o sistema
colonial do Imperialismo, tornando clara a incapacidade desse últmo de manter conjugados por
muito mais tempo os povos ainda delas dependentes, enquanto os povos que lutam e conquistam a
sua independência polítca encontram no campo socialista o apoio eficaz e decidido de que
necessitam para defender-se das arremetdas imperialistas. Tudo isso marca uma nova etapa na
história da humanidade e abre amplas perspectvas para a luta do povo brasileiro por sua libertação
nacional e social.”

É na presente conjuntura da maior importânncia prosseguir na mobilização das forças


populares, partcularmente da juventude, para fazer face à preparação declarada das forças
golpistas. Tão logo se vejam frustradas em suas manobras parlamentares e parlamentaristas,
farão prevalecer as tentatvas de força para impedir o plebiscito; tão logo se vejam
derrotados na eleição de outubro (1962) e no plebiscito, nada mais lhes restará – uma vez
mais – que o golpe de estado. Sabemos que:

“Entretanto essa contradição – que existe e se desenvolve no seio da sociedade brasileira e que se
exprime nas várias formas de luta de classes entre operários e capitalistas, não exige, agora, a sua
superação de maneira radical, isto é, a socialização dos meios de produção, a eliminação da
burguesia e a instauração imediata da ditadura do proletariado. Há, porém, outras contradições que
exigem, agora, uma solução inadiável e definitva, como uma imposição do grau de aguçamento que

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já atngiram. Trata-se das contradições entre a nação e o imperialismo norte-americano e seus
agentes internos e entre as forças produtvas em desenvolvimento e as relações semifeudais
dominantes na agricultura.”

Isso, no entanto, não exclui a oportunidade de um inimigo principal, após sofrer numerosas
derrotas, tome o caminho dos atalhos e procure mudar a forma de luta, da luta polítca para
o golpe e a guerra civil. Nesse caso, como já explicamos numerosas vezes, não seriam as
forças populares que tomariam o caminho do uso da força e da violência, mas as próprias
forças retrógradas, ante o perigo de ver derrotado seu esquema de forças. Isso em nada
muda a etapa do desenvolvimento estratégico. Mas sim, colocará – caso ocorra – em xeque a
questão da hegemonia até aqui desempenhada pela burguesia nacional. Não será o
proletariado que vai colocar em xeque a hegemonia da burguesia nacional nessa fase de
desenvolvimento do movimento popular. Mas o golpe de estado e a possibilidade da guerra
civil estão nas mãos das forças retrógradas e golpistas e de seus oponentes, na burguesia
nacional, que tem liderado atualmente a frente única.

Nesse sentdo, a conjuntura está a ter uma evolução bem característca. Se o campo popular
não estabeleceu, ainda, nas presentes condições polítcas, a sua própria hegemonia no
processo, é de esperar que não irá fazê-lo no curto prazo. O desfecho da presente situação,
pois, que vem se agravando, será por isso decidido pelos dois elementos de força que acima
foram caracterizados.

É preciso se ter presente que a luta de massas é uma luta polítca, desencadeada pelos
oprimidos em defesa de seus interesses, e não pode ver-se objeto de decisões individuais ou
da explosão de vontade de pequenos grupos. A luta de massas avança como um todo e não
deve ser “surpreendida”, pela ação de poucos. Os dirigentes de massa, e os dirigentes
polítcos do partdo operário, por sua formação e seu nível ideológico, não embarcam em
provocações nem aventuras polítcas, alinhando-se rigorosamente com suas análises tátcas
para tomar suas decisões.

É importante que a direção do movimento de frente única tenha a habilidade necessária a


não permitr que se intensifquem de novo os interesses da dominação. É decisivo assegurar
oportunidades desiguais de acordo, para não oferecer garantas no processo de reformas
àquelas forças que trabalham abertamente pelo golpe de estado. No entanto, é importante

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igualmente manter a cabeça fria para não supor que a negociação com o inimigo interno é
mais importante que o desenvolvimento das próprias forças, ou de sua mobilização.

Aproximam-se intensas jornadas de luta, em que as forças populares hão de assumir papéis
cada vez mais decisivos no desenvolvimento polítco. A recente unifcação das organizações
que representam e expressam a classe operária (PUA, CGT, etc.) e o movimento nacionalista
(FMP, FPN, FLN, etc.) tornam explícita a vontade da maioria da população e semelhante
vontade tem se transformado em fator polítco de primeira ordem.

2 – A Posição das Forças Reacionárias Face às Reformas.

As forças retrógradas, que infelizmente dominam e governam este país, fngem que não
veem problemas estruturais no mesmo, que é “uma dádiva de deus”,...naturalmente para os
ricos. Para qualquer lado que um estudioso aqui se volte, encontrará coisas erradas, fruto
dos vícios de uma administração colonial até há pouco recente (1930), que desconsidera a
natureza humana dos pobres e trabalhadores. Até mesmo os analistas e técnicos a serviço do
Estado burguês e latfundiário, apontam os absurdos das estruturas instaladas e em
funcionamento. Para os reacionários, tudo a reformar aqui é o homem, de preferência o
pobre e o trabalhador, nunca eles mesmos, das “elites”,... Recorde-se que eles apoiaram e
ajudaram a eleger o presidente Jânnio, mas tão logo este demonstrou alguma sensibilidade e
se propôs a reformar algumas estruturas, “correram”, com ele... Assim comentou o Correio
da Manhã, jornal insuspeito de desvios esquerdizantes (outubro de 1961):

“Não esqueçamos nunca: foi a resistência do Governador Brizola que impediu a vitória do golpe dos
Cordeiros de Farias e dos Lacerdas. Agora, tentam (O Globo e Carlos Lacerda) denunciar o Rio Grande
do Sul, onde o comunismo é mais fraco do que em qualquer dos grandes Estados: os gaúchos nunca
elegeram um simpatzante deputado federal e não há nenhum comunista ou criptocomunista em sua
Assembleia. Mas os especuladores têm a desfaçatez de denunciar como comunista o Governo Brizola,
do qual fazem parte dois secretários integralistas. É o cúmulo.”

Neste mesmo editorial, de nome “O Brasil Traído”,, o jornal prossegue:

“Lacerda submeteu aos estrangeiros da SIP documentos secretos do Estado-Maior sobre a Guiana,
naturalmente acompanhados de interpretação falsificadora. Se Carlos Lacerda acredita que esses
documentos lhe justficam a censura, ele é, como costuma dizer, um ‘cretno chapado’. Se não
acredita, é um traidor do Brasil.”

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E acrescenta:

“Um apelo ao Conselho de Segurança Nacional: para que se ocupe com Carlos Lacerda, de
demonstrada inidoneidade para exercer cargo público. O lugar desse traidor da pátria é na prisão.”

Ou seja, o jornal pediu a prisão de Carlos Lacerda como traidor da pátria. Isso ocorre
porque, para a extrema direita, não existe (nunca existu) qualquer pátria brasileira. Para que
iriam então necessitar de um sistema de poder nacional? Tratam de seus assuntos internos
com seus “protetores”, no exterior, aqueles que lhes vendem armas para reprimir e
massacrar a população brasileira. Para eles, o Brasil não se trata de um país, mas de um
latfúndio colonial, onde têm escravos e outras propriedades.

Como havia declarado na crise de agosto-setembro o governador de Goiás, Mauro Borges:

“A verdade é que apenas os Srs. Jânio Quadros e João Goulart foram eleitos pela vontade livre e
soberana do povo brasileiro e somente eles poderão governar o Brasil até que se esgotem os seus
mandatos. Não há outra solução dentro do sistema jurídico brasileiro. Do exame desses fatos resulta
que só há um caminho digno, democrátco e consttucional, na letra e no espírito da lei. – a posse do
Vice-presidente João Goulart, no cargo vago de Presidente da República.”

Este seria o caminho legal e não aquele escolhido pelo general Cordeiro de Farias (chefe da
antga FEB e homem de confança dos norte-americanos), ao implantar no país uma Junta
Militar, para substtuir o presidente Jânnio, deposto por uma ação civil militar. No entanto, os
reacionários que controlam o país, o núcleo das classes dominantes, não podem aceitar
governos eleitos porque estes expressam em algum nível uma ligação com o povo, com os
trabalhadores, com os pobres, e talvez, - ainda que intmidados – tais governantes eleitos
venham ceder alguma coisa que reduza a exploração dessas massas.

O governo de Jânnio tnha assim seus dias contados desde que não seguiu o atalho do
antcomunismo visceral para negar qualquer direito ao povo brasileiro. Tinha seus momentos
marcados para o fm desde que não se curvou cegamente às “sugestões”, ou exigências das
famigeradas “classes produtoras”, e seu organismo antpatriótco (CONCLAP). Bastou uma
simples recusa às imposições deste “órgão de classe”,, para o governo Jânnio tomar um
tremendo “pito”,, publicado em toda a imprensa e explorado politcamente durante meses.
Após receber a CONCLAP, que tratou na reunião com um subordinado, assim respondeu
Jânnio:

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“Quando assumi a Presidência, este país era um caos. Não estou usando uma figura, uma imagem
literária. Encontrei um caos econômico, um caos financeiro, um caos administratvo. Tenho de aplicar
medidas drástcas e ásperas, a fim de conduzir este país à sanidade. São-me indiferentes os aplausos
e os apupos. Os senhores compreendem: aos 44 anos, atngi a Presidência da República, máximo a
que um homem poderia aspirar. Agora, minha única ambição é a de servir, apenas a de servir, e de
servir bem.”

“Homens poderosos já me procuraram para expressar sua dessatsfação com o meu Governo.
Expliquei-lhes que só haveria dois meios de tolher os meus passos: depor-me ou assassinar-me, o
que não me parece fácil. Só venceremos o caos, só alcançaremos a sanidade, com o sacrifcio de
todos. Ou juntamos todas as nossas forças ou acabaremos perecendo todos juntos. Os sacrifcios
terão de ser distribuídos proporcionalmente. Os que têm maior capacidade se sacrificarão mais, os
que têm menor, se sacrificarão menos. Medidas iminentes serão adotadas, ser-me-á fácil levar a bom
termo a tarefa de sanidade nacional. Se os senhores não me apoiarem, provavelmente falharei, mas
desconfio que não falharei sozinho, porque outros terão falhado também.”

A resposta de Jânnio aos membros da diretoria da CONCLAP tem elementos muito


interessantes. Em primeiro, fca claro que ele não se senta ou se considerava um
“empregado”, dos patrões capitalistas. Como presidente eleito, tenta falar em “igualdade de
condições”, com tais representantes do capital. Ou seja, Jânnio se considerava representante
também de outras forças que não apenas o capital, talvez representante do povo, pelo
menos daqueles que o elegeram. Isso, para os agentes do capital, soava muito mal. Esse é
um problema que pode aparecer com presidentes eleitos e não presidentes “designados”,.
Em segundo lugar, Jânnio fala em deposição ou assassinato, com uma franqueza que membros
da classe dominante não gostam de ouvir. Tal expressa independência do presidente em
relação a eles, ato de soberba, que somente eles – da “elite”, – podem ter ou apresentar. Essa
attude de desafo de Jânnio já bastaria para que começassem a se mover para pô-lo para fora
do palácio. E isso foi o que ocorreu. Sua frase ousada “os sacrifcios terão que ser distribuídos
proporcionalmente”, soa aos ouvidos dos “produtores”, como um insulto. Como vão eles se
sacrifcarem? Que faça um “ajuste fscal”,, à custa dos trabalhadores e dos pobres. Era isso um
ato de ruptura do presidente com toda a classe parasitária. Atrevimento que logo seria de se
cobrar com um golpe mal disfarçado. O arremate fraseológico de Jânnio era também
insuportável para membros das classes dominantes:

674
“Sou um defensor da livre iniciatva, e só transijo com a intervenção do Estado nos casos
ligados à segurança nacional e às necessidades do desenvolvimento. Recomendem os
senhores aos seus companheiros da produção e do comércio a maior prudência com relação
aos preços dos gêneros de primeira necessidade, como meio indispensável de defesa da livre
iniciatva. Será suprimido o controle de preços. Mas registrarei os preços dos gêneros de
primeira necessidade no dia em que acabar a COFAP, e compararei seu nível com aquele que
ocorrer posteriormente. Se os resultados forem desfavoráveis, terei de adotar medidas para
corrigi-los e, se necessário, irei às últmas consequências.”,

Como é que um reles presidente eleito, elemento por isso já suspeito, resiste a eliminar o
controle de preços da COFAP? Como é que ameaça com “últmas consequências”,? Dessa vez,
o autoritarismo tão ao gosto dos poderosos tornava-se insultuoso, quando podia ser
apontado para eles próprios. O fecho do presidente Jânnio revelou-se igualmente
desagradável:

“O receio do dia de amanhã exerce efeitos altamente perturbadores sobre a vida do País. Leva cada
um a se jogar contra o outro, na expectatva de melhor se garantr para o futuro. Urge extnguir esse
receio, a fim de que se estabeleça entre todos, o clima de compreensão indispensável ao progresso
nacional. Neste país imenso, com tantas coisas a fazer, é necessário valorizar o trabalho manual e o
trabalho intelectual. Em países como a Índia, a China, o Egito, as duas Alemanhas, a Rússia e os
Estados Unidos, trabalha-se de sol a sol. Só com o trabalho árduo e intenso será possível realizar o
engrandecimento nacional. Infelizmente, existem entre nós pessoas que não querem trabalhar e
ainda se vangloriam disso. Podem estar certos de que combaterei sem tréguas essa categoria de
gente, até eliminá-la do quadro social brasileiro.”

“Compraremos e venderemos a todos que queiram comprar ou vender a nós. Estudarei o caso do
café, para uma solução de acordo com os verdadeiros interesses do comércio e da produção em
conjunto, que nem sempre coincidem com os do cafeicultor. Ao fim do Governo, desejo que o cruzeiro
seja uma moeda forte, respeitada, e não aviltada como está, motvo de vergonha para todos os
brasileiros.”

“Conto com a colaboração dos senhores para as novas medidas que serão adotadas pelo Governo.”

Um presidente capaz de “advertr”, os seus “interpeladores”,! Isso não poderia fcar assim!
Tão logo se espalhou o documento da CONCLAP com que haviam ido ao palácio para
desacatar o presidente, espalhou-se também na imprensa a resposta – nada macia – deste.

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Afnal, talvez no palácio não estvesse um simples bufão contratado com tempo de serviço
marcado... Cumpria a toda pressa mandá-lo embora... Estando nas mãos da direita todas as
insttuições da economia e do Estado, bastava à CONCLAP e a seus amigos pôr a banda de
música na rua e chamar o general Cordeiro de Farias, homem da embaixada do Tio Sam, para
artcular o “bota-fora”,. E foi assim que se deu que Jânnio – legítmo presidente eleito! –
houvesse em sete meses perdido o “emprego”,...

É assim que pensa – como dizia Benedito Valadares, “se é que pensa”, – um membro das
classes dominantes, sem qualquer respeito por todas as outras forças por ventura, existentes
na sociedade. A comissão enviada do Conselho das Classes Produtoras(CONCLAP) deixou
Brasília indignada, e os dias do governo legal já se viam contados. Agindo assim com o
presidente da república, compreende-se como agem com comícios, manifestações,
sindicatos e reivindicações populares. No entanto, a CONCLAP achava “normal”, que seu
manifesto-programa, aliás, “documento”,, desse “instruções”, ao presidente da república.
Veja-se parte do teor:

“O Governo tem efetvado controles que exercem uma ação deformante sobre todo o sistema
econômico, notadamente no setor de preços e aluguéis. Propugnamos pelo restabelecimento da livre
concorrência com preços regulados pela lei da oferta e da procura, exceto em casos de evidente
calamidade pública.”

Ou seja, a CONCLAP “forma”, e o governo “deforma”,. A velha cantlena liberal... Mais


adiante:

“A COFAP e o conjunto de leis chamadas de ‘economia popular’ tem, na prátca, tentado desviar a
atenção pública das verdadeiras causas da subida dos preços. A atmosfera de ilusionismo e de
engodo por esses controles aumenta a tendência totalitária estatal das atvidades partculares.”

Aqui a CONCLAP descobria a “tendência totalitária”, do governo JK, e cobrava de Jânnio que
dela se afastasse, porque – é óbvio – os empresários não manipulam preços e a razão
exclusiva do processo infacionário está em outras partes. Mas prossiga-se à leitura:

“As medidas de exceção, erigidas em norma, desestmulam o produtor e deformam o processo de


entrosamento de produção, distribuição e consumo, gerando confitos e antteses entre produtores,
distribuidores e consumidores. Com os tabelamentos irreais, as empresas organizadas e, portanto,
mais produtvas, ficam em situação de desvantagem em relação aos que pratcam o câmbio negro,

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que sonegam impostos e exercem comércio clandestno de gêneros alimentcios que escapa à
fiscalização das autoridades sanitárias, consttuindo grave perigo para a saúde pública.”

Neste parágrafo, a CONCLAP acusa o governo, e possivelmente o Estado capitalista, de ser o


causador da luta de classes. Ou seja, é a ação do governo, ao intentar mediar desproporções
entre oferta e procura que gera “confitos e antíteses entre produtores, distribuidores e
consumidores (!)”, Também para a CONCLAP, da ação dos proprietários e “empresários”, não
se geram quaisquer distorções e todos – absolutamente todos – agem corretamente,
enquanto o governo age errado... Trata-se de uma maneira de pensar da qual a inteligência
foi abolida. Vender batatas ou cobrar aluguéis são funções nobres e igualmente úteis, não
podendo nelas ocorrer quaisquer desvios. Assim, segue a CONCLAP:

“A lei do inquilinato faz parte desse falso sistema de proteção à economia popular, uma vez que a
elevação dos aluguéis decorre da própria infação, provocada por medidas governamentais erradas.
Pretendendo o atual Governo promover uma polítca de desinfação, deverá ele retficar esse
defeituoso insttuto que se apresenta como protetor dos inquilinos, e que, como todos sabem,
ocasiona gravíssimas injustças, sobretudo a insttuições sociais que procuram na renda do seu
patrimônio imobiliário meios de custear seus serviços.”

“O controle de preços não resolve o problema do abastecimento de gêneros alimentcios. O novo


Governo precisará de assistência, não apenas dos técnicos dos organismos oficiais, mas, e
principalmente, dos homens de empresa, daqueles industriais e comerciantes que conhecem o
problema e estão interessados em solucioná-lo, pois sabem que a sobrevivência das empresas
organizadas depende da decisão do Governo em acabar com medidas empíricas, combater a
demagogia fácil e inconsequente e, acima de tudo, equacionar os problemas de abastecimento em
termos econômicos e sociais.”

Com a frouxidão própria dos dominadores, critcam os efeitos da polítca cambial que
haviam exigido do governo, de liquidação do cânmbio múltplo (“promover uma polítca de
desinfação...”,). Havendo só no Rio de Janeiro 25 mil apartamentos vazios para forçar a alta
dos aluguéis, voltam-se contra a “lei do inquilinato”,, porque esta oferece garantas mínimas
ao inquilino. Quanto ao problema do abastecimento, verifca-se no “controle dos preços”, e
não na insufciência da oferta de uma agricultura bloqueada para o crescimento. O governo é
acusado de tomar “medidas empíricas”, (?), exercer “demagogia fácil”, e “equacionar os
problemas de abastecimento em termos econômicos e sociais”, (!). A estupidez e o

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despautério da CONCLAP e de seus assessores não apresentam limites. No entanto, era o
presidente que devia ouvir semelhantes sandices, calado, vê-las publicadas nos jornais, ser
“linchado”, frente à “opinião pública”, e sequer responder, mas com tudo concordar. Mas o
que dizem os técnicos do Banco do Brasil sobre as safras de alimento?, banco que fnancia a
maior parte da produção agropecuária. (Relatório de 1960):

“Apesar do aumento médio referido, o volume fsico da produção agrícola de subsistência não vem
acompanhando razoavelmente as necessidades do consumo, e isso porque grandes são as perdas
causadas por deficiências de conservação nos locais de produção, nos transportes, bem como por
serem múltplas as dificuldades inerentes à comercialização das safras.”

E mais adiante, acrescenta:

“Tal problema vem afetando, de maneira generalizada, os países da América Latna, cujo deficit de
suprimento de alimentos básicos tem sido compensado, em parte, pelas importações, estas atendidas
com os recursos cambiais provenientes das vendas ao mercado mundial de produtos tpicos de
exportação, como é, aliás, o nosso próprio caso.”

“Embora insatsfatória a situação do setor agrícola de subsistência, percebe-se certa melhoria nas
técnicas de produção, de que o emprego de fertlizantes e maquinaria são índices seguros, além do
avanço da ecologia agrícola, da zootecnia e da fito-profilaxia, campos de pesquisas e atvidades
dificilmente redutveis à expressão numérica.”

Ou seja, as melhorias detectadas são frutos dos fnanciamentos, da técnica e da ciência;


sustentados na maioria dos casos pelo poder público e não pela CONCLAP. Mas a CONCLAP,
depois de “meter as patas umas pelas outras”, em seu “próprio terreno”,, resolve dar lições de
como governar ao presidente Jânnio:

“O melhor remédio contra a infação - dizia o manifesto - é o próprio desenvolvimento, aliado a uma
polítca financeira, que, ajustando-se às necessidades econômicas, se baseie na moralidade e na
idoneidade técnica. Essa polítca financeira que supõe o saneamento dos costumes polítcos, deverá
visar o equilíbrio das despesas públicas e a redução do ritmo das emissões.”

Depois de socorrer-se de Adam Smith, prossegue a CONCLAP:

“As despesas governamentais deverão ser revistas, não só com o fim de suprimir as despesas
desnecessárias ou suntuárias, mas também com o fim de se obter outras reduções que possam
decorrer da racionalização dos serviços, inclusive os existentes no exterior. As despesas das forças

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armadas absorvem parte considerável da receita federal. Essas despesas não poderão ser reduzidas
por meras considerações financeiras, uma vez que elas são essenciais à segurança nacional, que, por
sua natureza, se sobrepõe ao campo econômico. Mas, os homens de acendrado patriotsmo, de sólida
formação intelectual e moral que as dirigem e integram, são os mais capacitados do País para
reverem sua organização, tendo em vista transformá-las, tanto quanto permita o presente estágio da
evolução brasileira e universal, num corpo reduzido de técnicos, apto a promover rápida mobilização
dos recursos civis, para a eventualidade de um ataque.”

Ou seja, se o setor privado investe de modo insufciente na formação de capital fxo, o


governo deve reduzir suas despesas... para expandir a economia! Certamente, para os
"economistas" da CONCLAP, "economia" quer dizer aqueles trocos das despesas que as
donas de casa guardam, e não aquilo que a economia contemporânnea entende pelo termo.
Evidentemente, convocam também um professor de educação moral para ensinar aos
militares... "a poupar" na defesa nacional... Trata-se, portanto, de redação senil de um tema
juvenil...

3 - A Posição da Burguesia Ligada aos Interesses Nacionais.

A burguesia industrial no Brasil só se estabilizou há poucos anos (1958-1962), com a


integração do mercado nacional sob o seu comando. O desenvolvimento do setor de aciaria,
fruto da polítca varguista (1938-1958), foi seu elemento consolidador. Já dissemos que,
embora uma burguesia ligada à industrialização seja uma criatura da dominação imperialista,
o seu desenvolvimento entra em contradição com aqueles interesses, a que, no plano
subjetvo, gostaria de se associar. De pequeno em pequeno choque, os interesses
imperialistas, que comandam a oligarquia local, a impedem de governar de maneira plena e
moldar o “seu mercado”, segundo suas próprias estratégias.

Quanto à oligarquia e sua aliança de base, derrotada repetdas vezes, não lhe tem restado
outro caminho que opor-se ferozmente a qualquer reforma de base e à luta do movimento
popular. Tal característca do processo tem fendido o campo das classes dominantes e levado
a burguesia mais ligada aos interesses nacionais a aliar-se com a classe operária e à pequena
burguesia radical, em busca de soluções que lhe sejam favoráveis. Esta é uma oportunidade
histórica importante para efetuar mudanças.

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Após golpes e tentatvas de novos golpes, a oligarquia e seus aliados imperialistas julgam
que com a eleição de Jânnio obtvessem um governo antpovo estável, uma vez que o Sr. Jânnio
para eleger-se lançou-se candidato em oposição ao bloco nacionalista. No discurso de Jânnio,
mantveram-se inúmeros elementos do programa nacionalista. Os oligarcas, contudo,
julgaram que se tratava de mera matéria eleitoral, sem qualquer intenção - do candidato - de
cumprir semelhantes pontos em seu governo. A sua surpresa é que Jânnio de fato pensava
cumprir tais promessas, o que demonstra a profundidade do apoio social hoje consagrado ao
programa polítco da burguesia nacional. Não importa quem irá cumprir tal programa, ele
expressa um ponto de passagem do povo brasileiro rumo ao futuro, e não pode ser
banalizado. Uma vez “descobertas”, pela oligarquia estas intenções do governo Jânnio, saíram
a campo imediatamente para derrubá-lo. Não puderam, no entanto, esmagar a força social
atual do programa nacionalista. A ele se junta a força popular e democrátca das massas.
Disse “o Correio da Manhã”, (editorial “Três Advertências”,), sobre a resistência de Jânnio às
intenções patronais:

“Não combina com o cargo e o poder do Presidente da República jogar com palavras ameaçadoras.
Mas se o Sr. Jânio Quadros considera indispensáveis, julgando-se, por isso, com o direito de usá-las,
também, teria o dever de revelar quem são os citados poderosos. Os nomes bastariam, talvez, para
inutlizar-lhes a oposição. Mas pode-se adivinhar quem são; ou antes, de que direção da rosa-dos-
ventos vieram.”

Ou seja, a função do presidente da república é ser lecionado e desacatado por vagabundos


engravatados, desde que pertençam às classes dominantes. O povo, sem dúvida, pensa
diferente d’O Correio.

Mais adiante, prossegue o jornal:

“Pronunciando-se a favor do capitalismo policiado, o Sr. Jânio Quadros manifestou a solução certa
para um país subdesenvolvido, que não pede o capitalismo de velho estlo e não quer o Estado
policial.”

“Todo mundo tem medo do dia de amanhã. Todo mundo reivindica aumentos desta ou daquela
espécie para resguardar seu interesse partcular, numa hora em que estamos todos no mesmo barco,
precisando evitar o naufrágio. Essa crise psicológica só será superável pelo espírito de cooperação de
todos, de todos com o Presidente da República e do Presidente da República com todos.”

680
Vê-se claramente na opinião do jornal o desejo de uma “ditadura branda”,, da parte do
presidente legitmamente eleito, que fosse capaz de prosseguir as reformas no estlo Vargas
(do Estado Novo). Talvez isto seja apenas um sonho de parte da burguesia, “fazer omelete
sem quebrar os ovos”,, mas é de fato uma expectatva real que atravessa todo o país. O apoio
ao programa da burguesia nacional nunca havia sido tão extenso - nem nos tempos de
Vargas - e por isso as reformas esperadas poderiam até ter alguma profundidade como ponto
de partda. Todas as forças capazes de desejar o progresso do país reconhecem (a) tanto o
bloqueio do desenvolvimento, como (b) o caráter insufciente do crescimento, quando ele
ocorre. Por exemplo, assim está escrito no Relatório do Banco do Brasil, em sua análise
econômica (1960):

“Prosseguindo esta ligeira apreciação da economia brasileira, transcreveremos cifras


representatvas do transporte e energia, cuja expansão, apesar de ininterrupta, tem permanecido
aquém das exigências das indústrias de transformação e do alargamento do mercado interno.”

“Nas páginas 60 a 74 deste Relatório poder-se-á observar, com as minúcias dadas, o aspecto desses
dois setores básicos da economia, nos quais volumosas têm sido as inversões públicas e, em menor
escala, as de âmbito privado.”

O desenvolvimento insufciente das forças produtvas estrangula o crescimento industrial do


país e o faz contnuar perpetuamente dependente das importações. Há nisso uma clara
escolha da oligarquia e de seus aliados, o que tem levado à crescente resistência dos setores
ligados aos interesses nacionais e a um crescente crescimento do movimento popular.

O nosso partdo sempre explicou às massas que as vacilações do governo Jânnio são as
vacilações próprias da ala direita da burguesia nacional, que julga avançar fazendo
concessões em demasia aos seus inimigos. Assim, diz a resolução de outubro (1961) de
nosso partdo:

“Os comunistas brasileiros, depois de examinar os acontecimentos polítcos que se seguiram à


renúncia do Sr. Jânio Quadros, chegaram às conclusões contdas na presente Resolução.”

“As causas da crise polítca que abalou a Nação residem na crise de estrutura, cada vez mais
profunda, da sociedade brasileira. Tornam-se crescentemente agudas as duas contradições
fundamentais que reclamam solução na atual etapa histórica do nosso desenvolvimento: a
contradição entre a Nação e o imperialismo e seus agentes internos, e a contradição entre as forças

681
produtvas em crescimento e o monopólio da terra, expressando-se esta últma, essencialmente,
como a contradição entre os latfundiários e as massas camponesas.”

“A caresta de vida e a crescente exploração das massas trabalhadoras vêm determinando o


agravamento também da contradição entre o proletariado e a burguesia.”

“Infuem no aguçamento dessas contradições, de um lado, a crescente pressão que o imperialismo


norte-americano exerce sobre as classes dominantes e o governo brasileiro no sentdo de manter e
ampliar a dependência econômica e polítca a que nos submete e, de outro lado, a elevação da
consciência polítca das massas e o crescimento de suas lutas. A infuência da revolução cubana se faz
sentr, com grande força, na radicalização do processo democrátco em nosso país.”

“O governo do Sr. Jânio Quadros não deu solução a nenhum dos problemas fundamentais de nosso
povo. Sua polítca contribuiu, ao contrário, para o agravamento das contradições da sociedade
brasileira.”

“No terreno econômico-financeiro, procurou o Sr. Jânio Quadros levar à prátca a polítca ditada pelo
Fundo Monetário Internacional, impondo ao povo, enormes sacrifcios e determinando um sensível
agravamento da dependência financeira e econômica do Brasil aos poderosos grupos financeiros
norte-americanos. Através das missões Moreira Sales e Roberto Campos, obteve nos Estados Unidos
moratória e novos empréstmos num total aproximado de um bilhão e setecentos milhões de dólares,
à custa de compromissos polítcos contrários aos interesses nacionais. O Sr. Jânio Quadros colocou
nos postos-chaves das Forças Armadas representantes dos setores mais reacionários e direitstas, os
quais consttuíram, com seu conhecimento e conivência, um dispositvo militar dirigido contra o
movimento operário e popular, mas que também tomava posição contra os aspectos positvos da
polítca externa do governo.”

“Em virtude de promessas feitas durante a campanha eleitoral e pressionado pelas massas e forças
progressistas, o Sr. Jânio Quadros levou à prátca uma polítca externa que, sob diversos aspectos e
em certa medida, teve efetvamente característcas novas. Consttuiu um fator decisivo para impedir o
isolamento na América Latna do governo de Fidel Castro e facilitou a luta pela autodeterminação do
povo cubano. Estabeleceu relações diplomátcas com a Bulgária, a România, a Hungria e a Albânia,
determinando que o mesmo se fizesse em relação à União Soviétca. Tudo isso refeta os interesses
da Nação e consttuía sério apoio à causa da paz mundial.”

682
Como temos afrmado, a resolução aponta o movimento contraditório da polítca de Jânnio, e
as difculdades que teriam que resultar de sua polítca de conciliação, com a duplicidade de
seus compromissos. Prossegue, portanto, a resolução:

“Agravaram-se, por todos estes motvos, as contradições que se manifestavam no governo do Sr.
Jânio Quadros. Diante dos círculos belicistas dos Estados Unidos, que intensificam a ‘guerra fria’ a
pretexto da defesa de Berlim, o restabelecimento de relações diplomátcas do Brasil com a União
Soviétca consttuía um gesto de paz que se opunha aos interesses dos provocadores de guerra norte-
americanos e de seus agentes no país. A pressão das forças mais reacionárias e entreguistas sobre o
governo brasileiro aumentava consideravelmente. A crise de governo tornava-se inevitável. O Sr.
Jânio Quadros, ao invés de apoiar-se no povo para resistr, preferiu a fuga e a capitulação com a
renúncia, entregando o poder aos golpistas, comprovando assim a essência reacionária e entreguista
do seu governo. E traiu os milhões de eleitores que lhe deram a vitória nas urnas.”

“Com o poder nas mãos, os golpistas tentaram liquidar a legalidade consttucional e implantar no
país uma ditadura reacionária. Contra o golpe levantaram-se as massas populares. Em diversos
pontos do país, poucas horas após a renúncia, operários, estudantes e populares ganhavam a rua e
manifestavam sua disposição de luta em defesa da legalidade consttucional. As greves e
manifestações de massas contribuíram muito, e em alguns lugares decisivamente, para a rápida
ampliação do poderoso movimento de opinião pública que isolou os golpistas e os tornou em seguida
impotentes, com a attude em defesa da legalidade de parte considerável das Forças Armadas.”

“O movimento em defesa da legalidade consttucional foi a forma amplíssima por que se manifestou
a força do movimento democrátco brasileiro, o sentmento de independência e o desejo de progresso
que ganham os mais amplos setores da população do país. Desde o primeiro momento, o povo
manifestou seu ódio ao opressor norte-americano sob diversas formas, inclusive apedrejando a
Embaixada dos Estados Unidos no Rio de Janeiro. Nosso povo soube também compreender que os
golpistas se levantavam contra os aspectos positvos da polítca externa do Sr. Jânio Quadros e,
lutando contra o golpe de Estado, em defesa da legalidade consttucional, lutava igualmente por um
governo que aplicasse uma polítca de relações comerciais e diplomátcas com os países socialistas,
de solidariedade aos povos que lutam contra o colonialismo, e, muito partcularmente, em defesa da
autodeterminação do povo cubano, contra qualquer intervenção nos negócios internos de Cuba, em
apoio do governo revolucionário de Fidel Castro.”

“Foi partcularmente importante o papel do proletariado, que representou força decisiva para a
unidade, ampliação e consolidação do movimento de massas. A classe operária utlizou diversas

683
formas de luta, destacando-se, entretanto, a greve polítca, que refete um nível mais alto alcançado
pelo movimento operário.”

Os erros e limitações do governo Jânnio fzeram dele assim o representante da ala direita da
burguesia nacional, que (1) não desistu de suas proposições, mas (2) demonstrou fraqueza
para implementá-las, (3) batendo em retrada diante da pressão reacionária.

É evidente que o governo Jânnio, eleito por milhões de eleitores, não teve valor sufciente
para representá-los, mostrando o seu caráter vacilante. No entanto, a enorme mobilização
social, levada adiante, entre outras forças, pelo partdo operário, trouxe para o campo de
luta, novas massas do movimento popular. Prossegue a resolução:

“O movimento camponês demonstrou também que avança e se fortalece. Em alguns pontos, os


camponeses se arregimentaram em defesa da legalidade, manifestando sua decisão de Resistr à
reação, partcipando atvamente de manifestações e dispondo-se a empreender lutas mais altas
contra a tentatva de implantação de uma trania militar.”

“Dentre os setores da pequena burguesia, foram os estudantes que desempenharam o papel polítco
mais atvo. A unidade e o desassombro dos estudantes, decretando a greve geral em todo o país,
contribuíram para a ampliação e firmeza da luta.”

“A burguesia partcipou da luta em parcela considerável. Enquanto, porém, uma parte se


aproximava do povo e se dispunha a lutar ao lado dele, outra revelava sua nítda tendência ao
compromisso com os golpistas, desenvolvendo, na frente única, constantes esforços no sentdo de
paralisá-la, de fazê-la retroceder e capitular.”

“A maioria das assembleias legislatvas estaduais e numerosas câmaras de vereadores tomaram


posição em defesa da legalidade consttucional e contra as arbitrariedades e ampliação da luta.”

Ou seja, as jornadas de agosto-setembro de 1961, lograram passar diante das mentes mais
esclarecidas de nosso povo, um flme, onde se resume e se concentra a posição de cada
classe ou de cada grupo social, no processo da luta pelo desenvolvimento do país.
Encontram-se ali todos os elementos do drama de nosso país, que deverão - inevitavelmente
- se desdobrar com o aprofundamento da crise atual. A tátca que pode conduzir à vitória
requer que o setor mais consequente da burguesia nacional assuma as consequências de
uma direção dividida, tomando frmemente a condução do processo de luta, no lugar de

684
elementos conciliadores, como se deu com a recente formação do gabinete Tancredo Neves.
Diz a resolução de outubro:

“Na luta contra o golpe também partcipou amplamente a imprensa, contribuindo para esclarecer e
orientar a opinião pública e resistndo, por vezes com bravura, às investdas violentas da reação.
Destacou-se o papel representado pelas radiodifusoras que formaram a Cadeia da Legalidade.”

“Os comunistas estveram na vanguarda das lutas de classe operária e dos demais patriotas e
democratas, levantaram desde o primeiro momento a justa palavra-de-ordem de defesa da
legalidade consttucional e posse imediata, na presidência da República, do Sr. João Goulart.
Contribuíram, dessa forma, de maneira decisiva, para aglutnar as forças que se levantaram contra os
golpistas.”

“Foi assim que, ao calor das lutas, se congregaram as mais amplas forças sociais e polítcas em
torno da defesa da legalidade consttucional. Nessa frente única, as forças mais consequentes
estavam animadas da ideia de emancipação nacional e do desejo de ver efetvadas as reformas de
base indispensáveis ao progresso do país. Tendo fins limitados, a frente única incluía desde os
patriotas consequentes, que desejavam o completo esmagamento dos golpistas e a conquista de um
governo capaz de dar solução aos problemas nacionais básicos, até setores da burguesia que têm
seus interesses entrelaçados com os dos grupos imperialistas e outras forças retrógradas. Tais forças,
ao mesmo tempo que defendiam os interesses do imperialismo e seus agentes internos, desejavam
evitar uma ditadura de direita, porque levaria ao aprofundamento da luta de massas e à guerra civil,
cujas consequências temiam.”

“As classes dominantes, apesar das dificuldades que tveram de vencer, ainda conseguiram manter o
controle da situação. Através da maioria reacionária predominante do Parlamento, conciliaram às
custas do povo, impedindo, com a manobra da emenda parlamentarista, que a vitória alcançada
contra os golpistas tvesse maior profundidade.”

Apoiando-se na conciliação e no golpe de estado parcial, que com sucesso instalou um


parlamentarismo de ocasião, as forças reacionárias manipulam a ala vacilante da burguesia
nacional, no momento liderada por Tancredo Neves, para se perpetuar em suas posições no
aparelho de Estado, posições em que prepara outros golpes contra a vida democrátca. Diz a
resolução:

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“Este desfecho foi possível porque na frente única predominava a infuência da burguesia, que é
vacilante e conciliadora. As forças fundamentais - a classe operária, os camponeses e sua vanguarda
- não estavam suficientemente preparadas para dirigir a luta.”

“Entretanto, a crise polítca muito contribuiu para despertar a consciência cívica de milhões de
brasileiros. Poderosas forças patriótcas e democrátcas elevaram seu nível polítco, estreitaram sua
unidade e ganharam nova confiança em si mesmas. O movimento democrátco de massas cresceu
consideravelmente. O desencadeamento de greves polítcas, as manifestações de rua, a formação de
inúmeros comitês democrátcos de resistência, o surgimento de batalhões patriótcos e o intenso
alistamento, principalmente no Rio Grande do Sul e em Goiás, de homens do povo dispostos a pegar
em armas - são um atestado de que se eleva rapidamente o nível da consciência polítca e
revolucionária das massas. O processo democrátco não foi interrompido. Avança no sentdo de novas
conquistas.”

“O novo governo, com o Sr. João Goulart na presidência da República e o Sr. Tancredo Neves na
presidência do Conselho de Ministros, formou-se à base da conciliação, do compromisso com o
imperialismo e o latfúndio. É um governo heterogêneo, incluindo em seu seio desde conhecidos
agentes do imperialismo ianque, como o Sr. Moreira Sales, até membro da Frente Parlamentar
Nacionalista, como o Sr. Gabriel Passos. Refete os confitos entre interesses de grupos dos partdos
polítcos nele representados. Nasceu, além disso comprometdo com os golpistas, que pretende
apaziguar. E estes, que tudo fazem para conservar posições importantes no aparelho do Estado,
partcularmente nas Forças Armadas, contnuam conspirando e aguardam apenas um momento
favorável para insistr em suas tentatvas libertcidas. Trata-se, pois, de governo débil e instável.”

“A polítca do governo está expressa no Programa do Conselho de Ministros, apresentado ao


Parlamento. Prosseguindo na linha de conduta do governo Jânio Quadros, o Programa insiste na
mesma polítca de estabilização monetária ditada pelo FMI. Em relação ao capital estrangeiro, deixa
com mãos livres os trustes imperialistas da eletricidade, dos minérios, da indústria automobilístca, da
distribuição do petróleo. Promete a estes trustes novas concessões, ‘tarifas realistas’, etc. Abre novos
campos para a associação entre capitais imperialistas e capitais nacionais.”

“Além de reduzir o papel da Eletrobrás apenas ao de uma empresa coordenadora e mentora da


expansão da polítca de energia elétrica, o Programa contém graves ameaças à Petrobrás. É
preconizada a exploração de concessões petrolíferas no exterior, em detrimento das prospecções
realizadas em nosso território, assim como a ‘associação da Petrobrás com outras companhias
nacionais e estrangeiras’, o que representa um atentado fagrante à orientação nacionalista da
polítca do monopólio estatal.”

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4 - O Papel da Classe Trabalhadora e das Massas Populares.

O partdo operário, as massas trabalhadoras e populares em geral, têm suas


responsabilidades aumentadas na presente crise. Em virtude da forte polarização, é de
esperar um desfecho violento para a crise, sem que a conciliação logre um papel qualquer
positvo - como já indicamos - e sem chegar-se a uma solução negociada, capaz de permitr
um avanço através de reformas. A perspectva de um choque com as forças golpistas na
verdade aumentou com o desfecho da crise de agosto-setembro (de 1961). Os golpistas se
retraram porque seriam derrotados na guerra civil, mas, com a proteção dos elementos
conciliadores, fcaram com “mais posições do que deviam”,, preparando desde aí um futuro
golpe. O governo parlamentar de Tancredo serve de trincheira que acoberta o golpismo,
embora involuntariamente, devido a sua estratégia conciliadora. Diz a resolução de outubro:

“Embora o Programa se pronuncie por uma ‘ampla reforma agrária’, as medidas nele sugeridas não
podem levar à transformação profunda do sistema latfundiário, reclamada imperiosamente pelo
desenvolvimento do país. Na realidade, o Programa trata de reduzir a reforma agrária a medidas
extremamente limitadas, como a ‘ocupação de terras devolutas’, a ‘abertura de frentes de
colonização em áreas novas’ e ‘reformas fiscais destnadas a punir a propriedade improdutva’. Apela
exclusivamente para o aumento da produtvidade e para uma vaga ‘humanização do homem do
campo’, sendo visível o propósito de ludibriar as massas camponesas.”

“No que concerne à polítca externa, o Programa tem posição dúbia e vacilante, pois se, de um lado,
reafirma fidelidade aos princípios de não intervenção e autodeterminação dos povos, rejeitando a
‘prévia vinculação a blocos de nações ou compromissos de ação conjunta’, de outro lado ressalta a
disposição de cumprir os ‘compromissos regionais contdos na Carta da OEA e no Tratado do Rio de
Janeiro’.”

“O novo governo é, assim, em sua essência, reacionário e entreguista. Chocar-se-á inevitavelmente


com o descontentamento das massas trabalhadoras e populares, vítmas da infação, que se acelera,
e da caresta, das manobras feitas às custas do povo, dos compromissos que agravam a dependência
do país aos monopólios ianques e ao Departamento de Estado. Contra o governo não poderão deixar
de colocar-se todos os patriotas e democratas, que como revelaram os acontecimentos que se
seguiram à renúncia do Sr. Jânio Quadros, estão dispostos a lutar pela solução dos problemas básicos
da Nação.”

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“O Sr. João Goulart, dadas as peculiaridades do sistema parlamentarista brasileiro, é também
responsável pela polítca e pela conduta do governo. Em vista dos acontecimentos, digo, dos
compromissos que o vinculam ao movimento nacionalista e aos trabalhadores, está em condições de
infuir no sentdo de que seja modificado o governo e se realizem, sem maiores delongas, as reformas
de base incluídas no programa do PTB, de que seja defendida a democracia sem quaisquer vacilações
e assuma o Brasil uma posição efetvamente independente no cenário mundial, ao invés de conciliar
com os generais golpistas e de capitular, como vem fazendo, diante do imperialismo norte-americano,
dos piores exploradores do povo e dos representantes dos latfundiários.”

“Os comunistas se colocam, assim, em oposição a esse governo, ao mesmo tempo em que tudo
farão para contnuar na vanguarda das lutas reivindicatórias dos trabalhadores e de todas as ações
em defesa dos superiores interesses da Nação.”

“Os problemas que levaram à crise polítco-militar não foram resolvidos. Ao contrário, se agravam. E
a situação das massas trabalhadoras se tornou ainda mais difcil e penosa, com o acentuado
encarecimento do custo de vida.”

Assim, enquanto todos os problemas, como a polítca de esfomeamento, que afigem o


povo são tratados como inevitáveis, os “problemas”, que “afigem”, as classes dominantes
assumem prioridade um para o gabinete executvo. Difcilmente - embora se deva lutar para
tal - no quadro do regime parlamentarista de ocasião se poderá formar um gabinete
nacionalista e democrátco, capaz de encaminhar a solução para algum tpo de reforma. Isto
porque tal parlamentarismo - como já explicado - é um freio golpista, a serviço de um
congresso reacionário, destnado a bloquear qualquer encaminhamento progressista do
grupo do presidente Goulart. Tal fato aumenta a responsabilidade do movimento popular,
que deve incrementar sua mobilização para obter soluções polítcas positvas, que levam ao
encaminhamento de melhorias no quadro da presente crise. Diz a resolução de outubro:

“Por isso mesmo, os trabalhadores mobilizam suas forças, preparam e desencadeiam lutas
reivindicatórias de grande envergadura. Elevado é o número de greves em todo o território nacional,
revelando a combatvidade, a organização e o alto grau de consciência a que chegaram os
trabalhadores, dispostos a defender seus direitos com firmeza e energia, não permitndo que recaiam
sobre seus ombros as consequências da situação que o país atravessa.”

“Reagrupam-se as forças polítcas. As forças mais consequentes da frente única de resistência


democrátca não aceitaram a conciliação com o golpismo e se mobilizam, agora em nível novo e mais

688
alto, com característcas mais radicais. A Declaração de Goiânia e a Frente Nacional de Libertação
possibilitam a estruturação em todo o país de poderoso movimento em prol da emancipação de
nossa pátria e da defesa da democracia. Os comunistas, que partcipam atvamente, sem qualquer
exclusivismo, do movimento nacionalista e democrátco, e que se orgulham da atvidade que
desenvolveram durante a crise polítco-militar, contribuirão com entusiasmo para a unificação de
todos os patriotas e democratas.”

“As forças mais reacionárias e entreguistas, embora hoje em condições menos favoráveis, cuidam de
conservar seus postos no aparelho do Estado, reartculam-se abertamente, mantendo assim vivo o
perigo de novas tentatvas golpistas. Usam a velha e desmoralizadora bandeira do antcomunismo
para tentar isolar os comunistas e golpear os democratas e nacionalistas, todos aqueles que
defendem os interesses do povo e desejam a libertação do país. O recrudescimento da campanha
antcomunista refete o desespero nas fileiras de nossos inimigos, em consequência das vitórias já
alcançadas no terreno da unidade das forças democrátcas e ant-imperialistas.”

“As forças da conciliação e do compromisso com o imperialismo e o latfúndio contnuam a fazer seu
jogo duplo, de que o Programa e a conduta do governo João Goulart-Tancredo Neves consttuem
exemplo.”

“Apresenta-se desta maneira um quadro em que as perspectvas são de novas lutas e, também, de
novas vitórias. A frente de massas, cabe aos comunistas saber orientá-las para que se unam e lutem
organizadamente, em defesa de suas reivindicações imediatas e por uma mudança para melhor no
processo de desenvolvimento da vida econômica e polítca do país.”

“Os acontecimentos comprovam, com crescente vigor, que se torna necessário um poder polítco
diferente, consttuído de forças efetvamente dispostas a romper com a dependência ao imperialismo
e liquidar o latfúndio, abrindo, assim, o caminho para o progresso da Nação e o bem-estar do povo.”

O movimento operário e a mobilização popular não podem confar na polítca de


conciliação, porque a mesma, ao mesmo tempo que procura criminalizar as atvidades
populares e democrátcas, serve de escudo protetor para os grupos golpistas, que trabalham
à sua sombra e à margem da lei. Os comunistas devem prosseguir no seu trabalho de
mobilizar, alertar e organizar toda a população, inclusive para fazer frente ao intuito golpista.
Diz a resolução:

“Os comunistas prosseguem a luta pela formação de um governo nacionalista e democrátco, o


governo de coalizão, representatvo das forças patriótcas e democrátcas, desde o proletariado até a

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burguesia ligada aos interesses nacionais. É o único governo capaz de enfrentar com êxito a solução
dos problemas atuais e de imprimir um rumo independente e progressista ao desenvolvimento da
Nação, iniciando sem demora a nacionalização das empresas norte-americanas, realizando a reforma
agrária radical que ponha fim ao latfúndio e entregue a terra aos camponeses, enfrentando
concretamente os graves problemas do Nordeste e das demais regiões atrasadas do país, ampliando
uma polítca externa efetvamente soberana, assegurando o desenvolvimento independente da
economia nacional e o bem-estar dos trabalhadores e do povo.”

“Esse governo pode ser conquistado como resultado da luta de massas e da modificação na
correlação de forças polítcas. Ao combater a polítca de compromissos com o imperialismo e a
reação, os comunistas consideram necessária a união de todas as forças patriótcas e populares para
a luta pela mudança do atual Conselho de Ministros nacionalista e democrátco, através da pressão
sobre o Congresso Nacional e outras formas de luta de massas.”

"É enorme a importância das eleições que se realizarão no próximo ano, para a renovação da
Câmara de Deputados e de dois terços do Senado, para governador em diversos Estados, para
Assembleias Legislatvas, prefeitos e Câmaras Municipais. Nosso objetvo deverá ser o de obter
importantes modificações na composição polítca do Parlamento, nos executvos estaduais e nas
Assembleias Legislatvas. É preciso eleger governadores nacionalistas que se oponham ao golpismo,
homens que sirvam de firme ponto de apoio na luta pelas liberdades democrátcas e pela libertação
do país; eleger deputados e senadores nacionalistas, progressistas e democratas, à altura da tarefa
que se impõe ao Parlamento nos dias atuais. Devemos organizar desde já a luta pela vitória das
forças nacionalistas e democrátcas nas eleições de 1962, assegurando uma maioria nacionalista no
Parlamento e elegendo uma combatva bancada comunista."

“No momento atual, o combate à caresta de vida ocupa lugar importante na mobilização das
massas, visando a exigir do governo uma polítca financeira livre das imposições do Fundo Monetário
Internacional e que assegure a elevação do salário real dos trabalhadores, o imediato congelamento
dos preços dos artgos de consumo popular e medidas prátcas contra a infação. Da maior
importância se reveste a luta pela suspensão imediata da remessa de lucros para o exterior. Torna-se
necessário reformar a Consttuição em um sentdo democrátco, tendo em vista eliminar os
dispositvos que dificultam a realização de uma reforma agrária radical e outras reformas básicas,
assim como garantr o direito de voto aos analfabetos e soldados. A defesa das liberdades
democrátcas, da liberdade e autonomia sindicais e do direito de greve, são questões que exigem a
vigilância e a mobilização das massas. Devem ser abolidas as discriminações antdemocrátcas da Lei
Eleitoral. É igualmente necessário exigir do governo e do Congresso Nacional a desttuição dos

690
golpistas de todos os postos de mando e a punição de todos aqueles que cometeram e contnuam
cometendo violências e crimes contra o povo. Cabe-nos ainda mobilizar massas para que exijam o
imediato restabelecimento de relações diplomátcas com a União Soviétca e demais países do campo
socialista, bem como a execução dos acordos comerciais firmados com os mesmos países.”

Diante da profundidade da crise latno-americana atual, que já dura em seu comércio


exterior cinco anos, com graves efeitos no plano interno de cada economia, é de se
compreender a mobilização das forças democrátcas em cada país latno-americano e a
tentatva de encontrar uma saída polítca para fora da órbita pró-imperialista. A procura de
soluções nacionais em cada país tem assim se colocado na ordem-do-dia. No entanto, é
também evidente o crescente intervencionismo do imperialismo, que através de artculações
com as oligarquias locais, prefere o caminho do golpe de estado do que o risco das disputas
eleitorais. Diz a resolução:

“A gravidade da situação internacional, ante a utlização, pelas potências ocidentais, da República


Federal Alemã e seu poderio bélico e industrial, como cabeça-de-ponte visando a uma guerra
mundial, torna indispensável a intensificação da luta em defesa da paz. E a luta pela paz exige
igualmente que organizemos e ampliemos o movimento de solidariedade ao povo cubano, que se
encontra na vanguarda dos povos da América Latna em luta contra o opressor norte-americano e
que é, por isso, o mais direta e imediatamente visado, estando vitalmente ameaçado.”

“A crise polítca colocou com novo vigor, não apenas para os comunistas, mas para todos os
patriotas e democratas, a importância do papel do movimento comunista. Os acontecimentos
confirmaram a justeza da nossa linha polítca e revelaram que os comunistas já alcançaram um nível
polítco e ideológico mais elevado, destacando-se a combatvidade na maioria dos militantes e o
espírito de iniciatva de numerosos dos quadros dirigentes.”

“Foi também possível verificar que melhoraram nossas ligações com as massas, partcularmente
com a classe operária e com o movimento estudantl.”

“Entretanto, se já demos um bom passo no processo de acumulação de forças em que nos


encontramos, foi um passo apenas e muito precisamos ainda fazer para nos elevar à altura das
possibilidades e das necessidades. Não temos dado a necessária atenção ao trabalho polítco dos
comunistas nas empresas e isto nos dificulta vencer a infuência reformista no movimento sindical e
dar base sólida ao movimento sindical de cúpula.”

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“A subestmação de nosso trabalho no campo, contribui para que o movimento se desenvolva em
ritmo ainda lento e consttua o setor mais débil do movimento patriótco e democrátco em nosso
país.”

"É necessário chamar a atenção para duas incompreensões quanto à nossa linha polítca, as quais
têm acarretado erros na atuação de alguns camaradas. A primeira consiste na absolutzação da
possibilidade da saída pacífica de nossa revolução, isto é, na exclusão da possibilidade de uma saída
não pacífica da revolução brasileira. A outra incompreensão é o entendimento de que o caminho
pacífico significa um processo idílico, sem choques e confitos sociais, e que, por tal motvo, não
devemos aguçar as contradições de classe e aprofundar a luta contra o inimigo."

Por este caminho, o partdo operário aumenta sua vigilânncia e procura alertar e mobilizar
todas as forças nacionalistas e democrátcas, face ao momento que estamos vivendo:

“Estamos agora diante de novas e maiores tarefas. Para levá-las a termo é indispensável que
cuidemos cada vez mais de reforçar o movimento comunista, desenvolver sua atvidade entre as
massas e assegurar sua unidade para aumentar sua capacidade de ação. Os últmos acontecimentos
exigem e ao mesmo tempo facilitam a superação das tarefas de construção do movimento
comunista. Será essa a melhor forma de capitalizarmos a vitória democrátca de nosso povo e o
sentmento de satsfação e orgulho que ganha nossas fileiras.”

“Devemos acelerar agora o processo de registro eleitoral de nosso partdo, consttuindo as


Comissões de patrocínio nos Estado e Municípios, intensificando o movimento de massas e a coleta
de assinaturas de eleitores.”

“Para livrar nosso país dos monopólios norte-americanos e de seus agentes internos, temos ainda de
travar duros combates. Para eles devemos estar preparados. Como ensina o grande Lênine, a história
em geral e a das revoluções em partcular é preciso eliminar debilidades e erros como os cometdos
pelos revolucionários do passado. E a luta é sempre muito mais rica do que imaginam os melhores
partdos de vanguarda, donde a dupla conclusão de que o proletariado, e partcularmente seu
Partdo, precisam saber utlizar todas as formas de luta e achar-se em condições de substtuir, de
maneira rápida e inesperada, uma forma por outra. Devemos estar sempre preparados para
enfrentar todas as consequências do aguçamento da luta de classes e das crises polítcas e, portanto,
para rápidas mudanças nas formas de luta. Persistndo na luta contra as tendências de direita,
devemos contnuar combatendo com firmeza o oportunismo da esquerda que pretende desconhecer
a importância da acumulação de forças e da ampla utlização, que devemos saber fazer, das formas
legais de luta.”

692
Após a queda do gabinete Tancredo Neves, verifcou-se a verdade da previsão de nosso partdo que
aquele gabinete executvo nada acrescentaria de positvo na luta pelas reformas. Na luta que se
seguiu para formar um gabinete de corte nacionalista e democrátco, assim se pronunciou nosso
partdo (junho de 1962); assim se declarou na ocasião Prestes:

“Já dissemos que os politqueiros e reacionários estão se movimentando, nos bastdores, buscando
repetr os conchavos que levem a novo governo de conciliação. Trata-se, aliás, de cidadãos bastante
conhecidos. Cuidam eles de dividir entre si ministérios e vantagens, às costas do povo e às custas do
povo.”

“Mas, estamos vivendo dias diferentes, em que a infuência da opinião pública se torna cada vez
mais rigorosa. O povo quer ser ouvido e atendido. As forças patriótcas e democrátcas - os operários,
camponeses, estudantes, a intelectualidade, as camadas médias urbanas e os setores progressistas
da burguesia nacional - consttuem a esmagadora maioria da nação. Unidas e atuantes, essas forças
podem impor sua vontade, derrotar os conciliadores e a minoria reacionária e entreguista, exigir a
consttuição de um governo nacionalista e democrátco, efetvamente capaz de realizar as mudanças
que o povo reclama. Repitamos, porém: essas forças devem se unir e agir. Não há tempo a perder.
Urge pressionar o presidente da República e o Parlamento no sentdo de que seja escolhido um
primeiro-ministro e consttuído um Conselho de Ministros que se comprometam a levar à prátca as
medidas já apontadas. As organizações populares, estudants, camponesas e operárias já estão se
movimentando, mas a situação exige que suas ações sejam intensificadas. E as massas devem
manifestar-se em todos os locais e por todas as formas. Nas fábricas, usinas, fazendas, escolas,
repartções públicas e bairros. Por telegramas, cartas, moções, abaixo-assinados, visitas ao
presidente da República e ao Parlamento, comícios, passeatas. Todas as iniciatvas enfim devem ser
tomadas no sentdo de que as forças democrátcas e patriótcas, unidas, encontrem o caminho de
fazer chegar suas manifestações ao presidente João Goulart, que deve indicar o primeiro-ministro, e
ao Parlamento, e ao Parlamento, que deve aprovar estas indicações e a composição do Ministério.”

“Sobre nosso povo pesa a ameaça de outra tentatva golpista. Pesa também a ameaça de um novo
Gabinete igual ao atual ou pior ainda do que ele. Mas existe igualmente a possibilidade de conseguir
uma grande vitória, de conquistar um governo nacionalista e democrátco. É essa possibilidade que a
luta vigorosa das massas pode transformar em realidade. Estou certo de que os comunistas saberão
mais uma vez demonstrar, nessa luta, seu espírito de iniciatva, sua combatvidade, sua dedicação às
causas do nosso povo.”

693
É sabido que o chanceler San Thiago Dantas foi rejeitado na proposição do presidente para
se consttuir o primeiro-ministro de um gabinete que poderia ser capaz de iniciar as reformas
há tanto procuradas. A maioria reacionária do congresso rejeitou sua indicação pela frme
defesa que havia ele feito pela (1) preservação da independência de Cuba, sem intervenção
externa e (2) direito do Brasil de manter relação diplomátca com a União Soviétca. Essas
duas medidas serviram de pretexto para a “suspeita”, da maioria parlamentar, quanto a uma
possível “inspiração comunista”, da polítca de San Thiago Dantas. No entanto, a pergunta
subsiste: se Argentna, Uruguai, Canadá, EUA, etc., podem manter relações diplomátcas com
a U. Soviétca, por que o Brasil não poderia? Recusado, San Thiago Dantas teve a reação
acantonada no congresso o desplante de aprovar para o cargo de primeiro-ministro o
golpista e fazendeiro de gado... Auro de Moura Andrade! É compreensível, portanto, que os
trabalhadores e o movimento popular houvessem decretado uma greve geral contra tal
indicação, levando este elemento reacionário a desistr de suas pretensões. Recordemos
parte do manifesto enviado pela liderança sindical, no processo daquela vitoriosa greve que
serviu de advertência à polítca reacionária no congresso. O manifesto foi enviado ao
presidente da república:

“Os trabalhadores sabem hoje, melhor que ontem, a importância da firmeza de Vossa Excelência
mantendo a indicação do Sr. San Thiago Dantas. Por esta determinação, queremos testemunhar a
solidariedade do Movimento Sindical Brasileiro.”

“Consciente de seu papel no processo de completa independência e desenvolvimento do país, os


trabalhadores renovam seu apelo para que essa firmeza de posição seja mantda, indicando Vossa
Excelência um nome de alto gabarito, sem preocupações menores de ordem partdária e sem
conciliação com aqueles grupos contrários às lutas progressistas do povo brasileiro. Estamos
dispostos a defender, a todo risco, um Conselho de Ministros Democrátco e Nacionalista.”

“Não temos a menor ilusão, e Vossa Excelência bem o reconhece, de resolvermos os problemas que
afigem esta Nação - e já começam a desesperar seu povo, sem que tenhamos um Conselho de
Ministros, democrátco e, essencialmente, nacionalista. Com a ajuda dos trabalhadores e das demais
correntes progressistas do país, civis e militares, poderá tal Gabinete, Senhor Presidente, conduzir
esta Nação no justo sentdo dos interesses nacionais. Contnuamos, porque este é o desejo manifesto
dos trabalhadores, nossa pregação e nossa mobilização em todo o país para sustentar com a GREVE
GERAL, se preciso for, a consttuição de um Conselho de Ministros Democrátco e Nacionalista. As
reformas de Base reclamadas pelo povo são os temas preferidos nos discursos dessa mesma eventual

694
maioria que obstaculiza, no Parlamento, a tramitação dos projetos inadiáveis. Cansado de tanta
demagogia, de tanta insensibilidade, de tanto impatriotsmo, o povo já está nas ruas clamando
contra a fome, a miséria, o analfabetsmo e o subdesenvolvimento. Não sabemos até que ponto
poderá ir a sua e a nossa liderança.”

A frmeza do movimento trabalhador, expressão de sua unidade, que leva a que haja se
tornado um fator importante da vida polítca atual, foi posta à prova neste momento de
crise. E se não foi possível aprovar o gabinete San Thiago Dantas, foi também eliminado o
deboche reacionário que seria um gabinete Moura Andrade. O presidente fcou, portanto,
livre para uma nova indicação, elegendo-se o gabinete Brochado da Rocha.

5 - Conclusão.

Pudemos nessa aula 16 aprender um pouco mais sobre a situação polítca atual, e a relação
de forças em presença na crise brasileira. Vimos como diferentes forças polítcas organizadas
encaram o problema das reformas de base, umas contra, outras a favor. Sabemos também
que estas posições expressam expectatvas, quando o tema implica mudanças na distribuição
de riquezas criada e - principalmente - que pode ser criada no futuro próximo.

Além da luta pelas reformas de base, aprendemos sobre a attude completamente negatva
das forças retrógradas, que defendem apenas seus interesses e não desejam fazer quaisquer
concessões a outras forças sociais, no sentdo de melhorar a criação de riqueza e diminuir a
miséria. Vimos também o lugar polítco ocupado pela chamada burguesia nacional, suas alas
componentes e suas tentatvas de reorganizar o país.

Discutmos um pouco mais sobre a situação da classe operária e do movimento popular a


ela ligado, sua ação polítca nova e o papel de sua unidade como potencial para a formação
de um governo nacionalista e democrátco.

695
Perguntas.

1 - Qual o programa das forças reacionárias para as reformas de base?

2 - Qual o papel do gabinete Tancredo Neves?

3 - Qual o papel possível a um gabinete San Thiago Dantas?

4 - Qual o papel possível a um gabinete Moura Andrade?

5 - Qual o efeito da unidade sindical no plano atual da relação de forças?

6 - Qual o papel possível de um gabinete Brochado da Rocha?

7 - Como enfrentar o problema da próxima eleição em outubro (1962)?

8 - Como a reação vêm atuando para a eleição de outubro (1962)?

9 - Que alternatva tem a reação, quando não vencer as eleições de outubro?

10 - Quais as tarefas atuais do movimento operário e trabalhador?

696
Aula 17

697
17 - A Teoria Marxista-Leninista.

Os inimigos do marxismo, com o cinismo que lhes é característco, costumam mostrar-se


indignados com que nossos camaradas contemporânneos hajam ajuntado a palavra
“leninismo”, ao termo “marxismo”,. Por que sua indignação é absolutamente falsa?

Os termos “marxismo”,, “marxista”,, surgiram na primeira internacional, à época dos cinco


congressos gerais por ela efetuados (1866-1872). Como havia ali várias correntes de opinião,
os partdários desta e daquela corrente eram apelidados pelo nome de seu eventual
dirigente ideológico. Assim, partdários de Bakunín, “bakuninista”,, e partdário das
estratégias e tátcas de Marx e Engels, “marxistas”,, etc. Esses termos, é claro, acabaram
carregando consigo fortes cargos emocionais. O próprio Marx declarou, analisando erros de
seus seguidores, que se havia uma coisa que ele não era, era ser “marxista”,. Marx queria
dizer que não se deve apoiar tudo que seu dirigente apoia sem analisar antes, para evitar
erros e distorções. É claro que todos concordamos com essa crítca e quando erramos,
fazemos tal sem querer ou desejar. É, pois, legítma a denúncia do erro e sua correção. No
entanto, na década de (18)90, quando Engels organizou a seção de educação histórica e
econômica do comitê central do partdo social-democrata alemão, os economistas da seção,
que foram os primeiros professores sistemátcos da teoria socialista de Marx e da história do
movimento operário, tomaram para si e para o partdo os termos “marxista”, e “marxismo”,,
para marcar a diferença entre o pensamento e o método de Marx e Engels e outras correntes
do socialismo. Desta forma, outras correntes do socialismo foram também adotando nomes
diferenciados, como, por exemplo, “socialismo fabiano”,. Cada nome desses sublinha o
método que fundamenta e operacionaliza a referida proposta a ou b do socialismo.

Nada mais justo, portanto, para marcar a diferença de método e de estratégia, que
acrescenta ao “marxismo”, ou “marxista”, o termo “leninismo”, ou “leninista”,. Tal marca
signifca reconhecer uma variante do marxismo produzida por Lenine, o dirigente e formador
do partdo bolchevique e dirigente da revolução de outubro de 1917, teorizando o caminho

698
universal da revolução socialista no século, a partr do método e dos ensinamentos de Marx
e Engels. Kautsky, por exemplo, é um marxista; o menchevique Yuri Martov é um marxista.
Contudo, não seria justo confundi-lo com bolcheviques, que são partdários do marxismo de
Lenine. Portanto, quando se fala em teoria ou doutrina marxista-leninista, não estamos
falando em outras teorias ou doutrinas socialistas, mas naquela elaborada por Lenine e seus
seguidores.

1 - A Formação da Teoria Revolucionária Materialista.

Muitos pensadores contribuíram para a formação da teoria revolucionária materialista,


traço este característco do mundo contemporânneo. Até a época da revolução francesa, as
revoluções não eram previstas pelo pensamento social progressista. Elas ocorriam como uma
catástrofe, um acontecimento que expressaria uma violação das leis divinas, pecados
extremos, castgos dos céus pelos pecados da nobreza. A primeira revolução que foi pensada
antes de ocorrer como uma necessidade social premente foi a revolução francesa. Um
iluminista bem próximo do romantsmo, Diderot, e o mais importante pensador românntco
francês, Rousseau, foram capazes de formular uma teoria sobre aquela revolução, seu lugar
na História e a partcipação do povo como sua força criadora.

No curso da revolução francesa e depois dela, inúmeros intelectuais progressistas


formularam interpretações e teorias sobre a mesma e sobre os processos históricos, dando
origem a um pensamento revolucionário sistemátco, que não havia até então. Foram eles,
além de Diderot e Rousseau, Graco Baboeuf, Saint-Simon, Comte, Hegel, Feuerbach, Fourier,
Owen e muitos outros. As contribuições desses pensadores sociais foram examinadas e
aperfeiçoadas por Marx e Engels, que conseguiram consttuir o elo entre tais teorias tradas
da observação histórica e a prátca necessária dos movimentos sociais. Como caracteriza
Lenine:

“Marx e Engels foram os primeiros a demonstrar em suas obras cientficas que o socialismo não é
uma invenção de sonhadores, mas a meta final e o resultado inevitável do desenvolvimento das
forças produtvas dentro da sociedade contemporânea.”

699
Ou seja, do ponto de vista marxista, a elaboração do pensamento socialista e sua vinculação
com movimentos sociais na realidade quotdiana correspondeu a uma necessidade profunda
da vida social, não sendo apenas fruto da genialidade isolada de uns poucos alguns. Diz
Lenine:

“O marxismo é o sistema das ideias e doutrina de Marx. Marx é o contnuador e acabador genial das
três correntes espirituais do século XIX, que tveram por berço, os três países mais avançados da
humanidade: a filosofia clássica alemã, a economia polítca inglesa e o socialismo francês unido às
ideias revolucionárias francesas em geral.”

Ao vincular o pensamento produtor de teorias com as necessidades reais de mudança da


sociedade, Marx e Engels deram uma interpretação materialista ao mundo e aos processos
da sociedade. Criaram pela primeira vez um sistema completo e encadeado das
transformações sociais.

Como diz Kuusinen:

“Partndo do princípio da unidade material do mundo, os fundadores do marxismo passaram a


considerar a dialétca como a doutrina sobre a conexão universal, sobre as leis mais gerais do
desenvolvimento de toda a realidade. Com isso, a dialétca transformou-se, da doutrina idealista
hegeliana sobre o movimento do pensamento, na doutrina materialista sobre as leis gerais do
desenvolvimento do ser. A dialétca do desenvolvimento de nossos conceitos (dialétca subjetva)
tornou-se, desse modo, o refexo da dialétca do desenvolvimento do próprio ser (dialétca objetva)
no pensamento cientfico.”

“Cada ciência específica estuda as formas do movimento e as leis de diferentes esferas da realidade.
A dialétca é uma ciência partcular: estuda as leis mais gerais de todas as espécies de movimento,
transformação, desenvolvimento. A universalidade das leis da dialétca consiste em que atuam na
natureza e na sociedade, estando a elas subordinado o próprio pensamento.”

Assim, o pensamento pode descobrir as leis internas dos diferentes fenômenos porque está
ele também elaborado e se rege pelos mesmos elementos, de cujo encadeamento faz parte.
Inscritos sob as mesmas estruturas em movimento de mudança, natureza, sociedade e
pensamento são formas dialétcas da existência do universo. Diz Kuusinen:

700
“Marx e Engels, pela primeira vez, estenderam o materialismo à compreensão da vida social e
descobriram as forças motrizes materiais e as leis do desenvolvimento social, transformando assim a
história da sociedade em ciência.”

“Finalmente, os fundadores do marxismo converteram a doutrina filosófica materialista - antes uma


teoria abstrata - em um meio eficaz de transformação da sociedade, em arma ideológica da classe
operária na sua luta pelo socialismo e o comunismo.”

A genial descoberta de que o socialismo era a ideologia da classe trabalhadora em luta


contra a exploração pelo capital criou uma nova perspectva de vida para culturas de milhões
de pessoas no mundo contemporânneo e pratcamente pôs fm ao horizonte de chantagem
que a ideologia burguesa - amálgama que é - aplicava contra os pobres e os trabalhadores,
apresentando-se como única ideologia “progressista”, em luta contra a religião. Diz Kuusinen:

“A dialétca materialista marxista é a doutrina sobre o movimento e o desenvolvimento mais


profunda, multlateral e rica em conteúdo. Ela consttui o resultado da história multssecular do
conhecimento do mundo, a generalização do imenso material da prátca social.”

“A dialétca materialista e o materialismo filosófico estão indissoluvelmente ligados e se


interpenetram, como dois aspectos da doutrina filosófica do marxismo, que consttui um todo único.”

“A diferença entre eles consiste em que, ao falar do materialismo filosófico marxista, salientamos as
relações entre a matéria e a consciência, a concepção da matéria, a doutrina sobre a unidade
material do mundo, a análise das formas de existência da matéria, etc.; enquanto que, ao falar da
dialétca materialista, colocamos em primeiro plano a doutrina sobre a conexão universal e as leis do
movimento e do desenvolvimento do mundo objetvo e seu refexo na consciência do homem.”

O processo de criação da teoria revolucionária materialista é obra, assim, de dezenas de


pensadores, que ajudaram a remover o entulho ideológico das classes exploradoras que
encobriam esta preciosa verdade. Nessa tarefa, o flósofo alemão Georg Hegel desempenha
importante ponto de viragem. Ele recuperou - com seus estudos - o método dialétco, capaz
de sepultar a velha teoria formalista do conhecimento e encaminhar a compreensão do que
é novo, o mais próximo do desenvolvimento real. Diz Kuusinen:

“Ele demonstrou que o desenvolvimento se realiza não em um círculo fechado, mas


progressivamente, partndo das formas inferiores para as superiores, que no processo das alterações

701
quanttatvas dão lugar às qualitatvas e que contradições são a fonte desse desenvolvimento. Definiu
ainda os conceitos básicos (categorias) da dialétca e mostrou que são interconexos e intermutáveis.”

Assim, o método dialétco posto pelos hegelianos e marxistas como lógica e como teoria de
conhecimento, não é uma verdade absoluta. É a forma possível em nossa época de resumir
os encadeamentos com que se desenvolve o mundo que efetvamente existe, e que se
separa dos devaneios de qualquer um. Esse formidável resumo permite ao estudioso
aproximar-se do desenvolvimento real e percorrer caminhos conhecimentais de superação e
acrescentamento. É a verdade possível. Diz Engels:

“A dialétca revela o caráter transitório de todas as coisas e em todas as coisas, nada pode perdurar
diante dela, exceto o seu processo ininterrupto de metamorfose e a sua ascensão interminável do
mais baixo para o mais alto.”

Através da condensação do conhecimento real em método dialétco, é possível formular as


leis básicas que resumem os aspectos contraditórios dos fenômenos, e que nos servem como
ponto de partda seguro para obter mais conhecimento. Por exemplo, a lei de unidade e luta
entre os opostos não é fruto de uma “invenção pensamental”, de um flósofo, mas um
resumo generalista do que realmente tem sido observado no movimento do mundo, ou seja,
matéria em movimento. Ela não é “aplicada”,, como dizem os reacionários, pelos marxistas na
vida social. Ela é uma forma de expressão do movimento da própria vida social. A dialétca
não é um sistema “inventado”, sobre a vida; ela é um sistema descoberto no funcionamento
da vida. Diz Kuusinen:

“E assim, os objetos e fenômenos têm lados opostos que representam a unidade dos opostos. Estes
não coexistem meramente, mas se encontram em constante luta e contradição. A luta dos opostos é o
conteúdo intrínseco, a fonte do desenvolvimento da realidade.”

A percepção do caráter dialétco dos fenômenos sociais e pensamentais facultou aos


fundadores do marxismo a elaboração da ciência do materialismo histórico, disciplina e
método que serve de porta de entrada para o verdadeiro conhecimento das transformações
sociais. Diz Kuusinen:

“A reviravolta, executada por Marx e Engels na ciência social, expressou-se, antes de tudo, em que
eles demonstraram a inexistência na sociedade de quaisquer misteriosas forças transcendentais,
demonstraram que os próprios homens são os criadores da sua história. Foi vibrado, assim, golpe

702
mortal em todo o gênero de concepções místcas sobre a sociedade e indicado o caminho para a
concepção da história como processo natural, que não exige nenhuma intervenção do além.”

“Por outro lado, o marxismo estabeleceu que os homens não criam a sua história arbitrariamente,
mas na base das condições objetvas, materiais, que herdaram das gerações passadas. Foi vibrado,
assim, golpe mortal no voluntarismo e no subjetvismo e indicado o caminho para a concepção da
história como processo regido por leis.”

Como já explicado em outras aulas, a base econômico-social da sociedade expressa e limita


as insttuições possíveis de nela existr e de nela funcionar. Não adianta “importar”, um
sistema democrátco, produto de outras forças sociais, e pretender que o mesmo “funcione”,
numa sociedade dominada pelo latfúndio. As deformações que semelhante sistema ali
sofreria o transformariam em outra coisa, uma engrenagem monstruosa própria do
latfúndio. A mudança das coisas expressa necessidades objetvas. Como diz Afanasyev:

“O desenvolvimento da produção é uma necessidade objetva, uma lei da vida social. A história da
sociedade é o desenvolvimento dentro de certas leis da produção social, é o processo necessário da
substtuição dos modos de produção antgos por outros mais aperfeiçoados.”

Os poderosos, os dominadores, não podem deter para sempre a marcha da História. Uma
transformação inexorável corrói os fundamentos de tudo que existe, empurrando-o, sob
certas condições em direção à forma mais nova do que lhe é contrário. Diz Kuusinen:

“O estado das forças produtvas determina, como vimos, o caráter das relações de produção entre
os homens, isto é, o regime econômico da sociedade. Este regime econômico, por sua vez, representa
a base, sobre a qual surgem variadas relações sociais, ideias e insttuições. As ideias sociais (polítcas,
jurídicas, filosóficas, religiosas, etc.), as insttuições e organizações (o Estado, a Igreja, os partdos
polítcos, etc.), que surgem sobre determinada base, formam a superestrutura da sociedade. A teoria
da base e da superestrutura explica de que forma o modo de produção determina, em últma
instância, todos os aspectos da vida social, e demonstra a ligação entre as relações econômico-sociais
e todas as outras relações de uma sociedade dada.”

“Cada sociedade historicamente determinada tem sua base específica e a superestrutura, que lhe é
correspondente.”

Diz Afanasyev:

703
“O quadro oferecido pelos órgãos dos sentdos é extraordinariamente rico e pitoresco, sendo, apesar
disso, limitado e muito incompleto.”

“O conhecimento sensitvo só dá alguns aspectos exteriores das coisas. Pode-se contemplar uma
lâmpada elétrica, sem imaginar que a corrente elétrica seja um fuxo de elétrons que se movem com
determinada velocidade.”

“É também impossível perceber com os órgãos dos sentdos a enorme velocidade da luz, o
movimento das partculas “elementares” no átomo e muitos outros fenômenos complexos da
natureza e da vida social.”

“Em suma, o conhecimento sensual não revela a natureza interna das coisas, sua essência, as leis de
seu desenvolvimento. E nisso, precisamente, se baseia a tarefa fundamental do conhecimento. Só o
conhecimento das leis, da essência das coisas, pode servir de guia ao homem em sua atvidade
prátca. Aqui ocorre a ajuda do pensamento abstrato ou, como também é chamado, lógico.”

“O conhecimento lógico é uma fase qualitatvamente nova, superior, do desenvolvimento do


conhecimento. Seu papel é o de dar a conhecer as propriedades e traços principais do objeto.”

Ou seja, aquilo que o homem “vê”, é apenas a manifestação exterior do que efetvamente
vem a ser, não se esgotando a necessidade do conhecimento na aparência das coisas. Torna-
se necessário ir além dessa forma que se apresenta, e que é apenas parte do conteúdo,
nunca sua totalidade. A dialétca é assim, não apenas um método para se conhecer os
fenômenos, como um nível lógico que encara os fenômenos em seu processo de tornar-se,
ou vir a ser, outra coisa que não aquela que se nos apresenta. Todas as coisas que nós
percebemos, nós as representamos em nossos cérebros, no entanto, esses processos não
esgotam as coisas em seu movimento no mundo. O desvendamento da representação que se
faz permite a acumulação de informações processuais que nos facultam estender uma lógica
reconstrutva do fenômeno em referência. Diz Afanasyev:

“Na etapa do pensamento lógico se conhecem as leis do desenvolvimento da realidade, tão


necessários ao homem em seu trabalho prátco.”

“A forma fundamental do pensamento lógico é o conceito, que não refete dos objetos todos os
aspectos, mas apenas os essenciais, gerais, rechaçando todos os secundários, abstraindo-se deles.”

“Tomemos como exemplo o conceito ‘homem’. Nele não se refetem todos os traços de cada pessoa
em separado. Este conceito não abrange dados de nacionalidade, idade, lugar e tempo em que vive

704
esse homem, etc. Só lhe fixa o geral, o inerente a cada pessoa: a aptdão para o trabalho, para a
produção de bem materiais e para pensar. Da mesma maneira, abarcam o geral e o intrínseco dos
objetos os conceitos de ‘árvore’, ‘animal’, ‘classe’, ‘produção’, etc.”

Ou seja, sem a ferramenta do lógico, o conhecimento se torna desorganizado, empírico e


difcil de acumular e transferir. A ciência seria tão embrionária que ter-se-ia que chamá-la por
outro nome. No entanto, o lógico nos permite ordenar, classifcar, analisar e sintetzar,
tornando possível acumular o conhecimento e transferi-lo para outrem. Daí que o coletvo
humano, a humanidade, seja uma construção desse conhecimento organizado e plural.

Os reacionários costumam contrapor um “indivíduo”,, espécie de Robinson Crusoé, que em


sua “ilha”, construiu sozinho tudo que possui. Este padrão ideológico da ambição burguesa,
obviamente, nunca existu. Ninguém “constrói”, alguma coisa à revelia do povo a que
pertence, sem fazer parte da humanidade e sem apoiar-se no conhecimento elaborado por
outros e socialmente acumulado. Diz Afanasyev:

“Assim, uns comprovando os outros, os órgãos dos sentdos nos proporcionam, em geral, uma
impressão correta das coisas que lhes são acessíveis.”

“Além das sensações, são formas de conhecimento sensual a percepção e a representação.”

“Percepção é uma forma mais elevada da cognição sensual. Refete o objeto em toda a sua
integridade sensitva, com o conjunto de seus aspectos e partcularidades exteriores.”

“A representação é a reprodução, na consciência do homem, do que foi percebido anteriormente.


Podemos, por exemplo, reproduzir mentalmente a imagem de um antgo colega de escola, embora
não o vejamos há anos.”

É sobre esse ponto de partda – a condição humana - que a sociedade acumula o


conhecimento e, portanto, o mesmo deve ser garantdo a todos os seus membros,
independentemente da etnia ou classe social a que pertença. No entanto, verifca-se que a
burguesia, copiando outras camadas e classes dominadoras que a precederam, procura
tornar o conhecimento uma mercadoria, cujo acesso exclusivo seja garantdo pelo dinheiro, e
que o mesmo também se torne uma arma antssocial nas mãos daqueles poucos que
lograram adquiri-lo. Essa maneira de atuar é totalmente diversa da maneira de ver e de agir
dos membros do partdo operário e do movimento popular. Diferentemente das calúnias da

705
burguesia e de seus aliados, o movimento trabalhador se dedica a educar o povo em escala
de massa, fazendo dele um agente consciente dos processos sociais de transformação e
tornando possível o advento da sociedade socialista. O objetvo do partdo operário é levar
as massas a uma sociedade nova, orientada pelos princípios do comunismo. Como diz o
programa bolchevique:

“O Comunismo é um sistema social sem classes, com uma forma de propriedade pública dos meios
de produção e igualdade absoluta de todos os membros da sociedade; sob ele o desenvolvimento
completo do povo será acompanhado pelo crescimento das forças produtoras, através do progresso
contnuo na ciência e na tecnologia; todas as fontes de riqueza social jorrarão mais abundantemente
e será realizado o grande princípio. ‘De cada um conforme sua capacidade e a cada um conforme
suas necessidades.’ O Comunismo é uma sociedade altamente organizada de trabalhadores livres e
conscientes, na qual a autogestão social será estabelecida, onde o trabalho para o bem da sociedade
tornar-se-á uma exigência vital de cada um, uma necessidade reconhecida por todos, e a capacidade
de cada pessoa será utlizada para o maior benefcio do povo.”

2 – A Teoria Marxista-Leninista do Conhecimento e a Atvidade Transformadora pela


Prátca.

O marxismo-leninismo, portanto, baseia-se no marxismo criado por Marx e Engels e


compreende a organização do marxismo como ciência capaz de estudar o mundo social
contemporânneo e acompanhar-lhe o desenvolvimento. Representa, portanto, a experiência
acumulada pela humanidade, lida em uma versão que corresponde aos interesses dos
trabalhadores e do povo pobre em geral. É uma doutrina a serviço dos trabalhadores e dos
pobres, ou seja, a serviço da maioria da humanidade. Segundo o marxismo-leninismo, é
possível conhecer os problemas sociais, entendê-los e dar-lhes solução. Os leninistas estão
convencidos que o conhecimento pode ser criado, entendido, acumulado e posto a serviço
da humanidade. Estão, portanto, contra todo tpo de obscurantsmo. Mas o que é
conhecimento? Ensina Afanasyev:

“Conhecimento é o refexo atvo, orientado para um fim, do mundo objetvo e suas leis, no cérebro
humano.”

706
“A fonte de conhecimento é o mundo exterior que rodeia o homem. Infui nele e lhe causa sensações,
proporcionando-lhe noções e conceitos.”

“O homem vê os bosques, os campos, as montanhas, percebe o calor e a luz do sol, ouve o gorjeio
dos pássaros e percebe o odor das fores. Se estes objetos, existentes fora da consciência do homem,
não lhe exercessem nenhum estmulo, ele não teria a menor noção de sua existência.”

“Deve-se sublinhar, ainda, que o homem não se limita a perceber os objetos e fenômenos do mundo,
mas infui sobre eles de maneira atva e prátca, o que veremos adiante.”

“A base da teoria marxista da cognição é o reconhecimento do mundo objetvo, seus objetos e


fenômenos, em caráter de fonte única de nosso saber.”

“Os idealistas não acham que a realidade objetva seja a fonte de nossos conhecimentos. O objeto
da cognição na filosofia idealista é ora a consciência ou sensação de um indivíduo só (sujeito), ora
certa entdade místca existente fora da consciência do homem (‘ideia absoluta’, ‘espírito universal’,
etc.). Mais ou menos o mesmo preconizam os místcos; para eles o homem é incapaz de conhecer a
essência dos fenômenos da natureza e da vida social e só pode descrever e classificar os resultados da
obra divina, função que também executa por obra de Deus.”

Os pensadores conservadores e os reacionários se opõem à explicação científca dos


fenômenos, preferindo acreditar em anedotas ou histórias tradicionais escritas em livros
místcos e sagrados de todo tpo. Semelhantes ideias espalham o atraso por toda a parte e
freiam o desenvolvimento da humanidade. Há indivíduos e grupos organizados que
impedem a vacinação de seus membros, defendem o ensino religioso nas escolas públicas,
etc. Há até grupos organizados que se opõem ao uso de cirurgias e remédios alopátcos.
Renegar a ciência não pode ser o melhor caminho para a humanidade. Tampouco pode se
transformar a saúde e a educação em mercadorias, cujo acesso só possa ser concedido a
quem possa pagar.

A gradual elevação do conhecimento da humanidade criou a ciência para benefciar o


conjunto de cada sociedade, e não o contrário. O conhecimento é socialmente produzido e
seus frutos devem ser socialmente adquiridos.

Diz Afanasyev:

707
“Superando essas limitações, Marx e Engels criaram uma teoria materialista dialétca do
conhecimento, qualitatvamente nova.”

“O aspecto principal desta teoria é que o processo do conhecimento se baseia na prátca, na


atvidade material, produtva, dos homens, que conhecem os objetos e fenômenos no curso dessa
atvidade.”

“Na filosofia marxista, a prátca se manifesta como ponto de partda ou base do processo
cognoscitvo e como critério da verdade ou do correto dos conhecimentos.”

“ ‘O ponto de vista da vida, da prátca deve ser o ponto de vista primeiro e fundamental da teoria do
conhecimento. E conduz infalivelmente ao materialismo...’1, escreveu Lênine.”

“Precisamente na prátca, na atvidade da produção material dos homens, se manifesta a atvidade


e tendência a um fim do conhecimento humano.”

“Trabalhando sozinho, o homem não infui no mundo, mas sim trabalhando unido a outros homens,
em sociedade. Isso significa que, se o obueto do conhecimento, sua fonte, é o mundo material, o
suueito do conhecimento, seu portador, é a sociedade humana. Reconhecer a natureza social do
conhecimento é um importante traço distntvo da teoria marxista do conhecimento.”

“Do ponto de vista materialista dialétco, o conhecimento é um processo infinito de aproximação do


pensamento ao objeto que se quer conhecer, do movimento da ideia do desconhecer ao conhecer, do
saber incompleto e imperfeito ao saber mais completo e perfeito. Ao substtuir as teorias antquadas
por outras novas e determinar as velhas, o conhecimento avança, descobrindo mais e mais aspectos
da realidade.”

Não é, portanto, se voltando as costas às difculdades apresentadas pela vida que se pode
avançar e aperfeiçoar as soluções já produzidas. É todo o contrário. Persistndo na busca do
conhecer melhor, na busca do fazer melhor, que se avança rumo à superação de cada
difculdade. Esta attude de luta é a única compatível com a classe operária, é a única que
conduz à criação de um mundo cada vez melhor. Nele, os erros podem ser corrigidos e os
acertos podem ser ampliados. Trata-se, portanto, de aprofundar a prátca e dar-lhe um
caráter cada vez mais profundo, mais consequente. Diz Afanasyev:

“A prátca é a obra atva dos homens para transformar a natureza e a sociedade. Sua base é o
trabalho, a produção material. Ademais, na prátca inclui-se a luta polítca de classes e o movimento
de libertação nacional, a experiência cientfica, a experimentação.”

708
“A prátca apresenta caráter social. É, sobretudo, a atvidade de grandes grupos, de todos os
trabalhadores, dos que produzem bens materiais, e não de indivíduos em separado.”

“Na prátca, se transformam os objetos existentes na natureza, como também criam-se outros
artficiais. O homem produz enorme quantdade de materiais artficiais, que superam todos os
naturais em solidez, elegância e utlidade.”

“A prátca é o ponto de partda e a base do conhecimento. Por quê?”

“Sobretudo porque o próprio conhecimento surgiu da prátca e, principalmente, sob a infuência da


produção material.”

“O homem sempre se viu obrigado a trabalhar para conseguir os meios de vida.”

“No processo do trabalho, ele enfrentou as forças da natureza e, pouco a pouco, foi conhecendo-as.”

“O desenvolvimento posterior da natureza foi exigindo cada vez mais conhecimentos.”

“Já na remota antguidade, o homem tropeçou na necessidade de medir a superfcie das terras,
contar as ferramentas e o produto de seu trabalho. Em consequência apareceram os rudimentos da
matemátca.”

“O homem construía casas, pontes, caminhos, sistemas de irrigação e outras obras. Para isso,
precisava conhecer as leis da Mecânica.”

“Sob a infuência das necessidades prátcas, a faculdade cognoscitva do homem foi se


desenvolvendo paulatnamente e foram aparecendo as ciências, inclusive as sociais.”

“O próprio marxismo, como sabemos, brotou sobre a base granítca da prátca da luta
revolucionária do proletariado.”

“Ademais, a prátca impõe determinadas tarefas ao conhecimento e contribui para resolvê-las. Com
isso faz o conhecimento avançar.”

Portanto, o desenvolvimento do cérebro e de suas faculdades de entendimento é o


resultado direto da prátca social, não apenas considerada individualmente, mas, sobretudo
como um produto do coletvo humano, sempre a avançar no processo de humanização. Sem
prátca social, o entendimento não se alçaria a expressar uma lógica que capte ou
compreenda os seus movimentos interiores. A necessidade de acumular entendimentos e
pensamento organizado é a fonte do desenvolvimento lógico. Como diz Afanasyev:

709
“A base para o aparecimento do conceito é a prátca.”

“Antes de formular, por exemplo, o conceito de triângulo, quadrado e outras figuras geométricas, o
homem lidou em sua atvidade prátca com diversos objetos cuja forma era a de um triângulo, um
quadrado, etc.”

“Sobre a base da prátca se realiza a atvidade sintetzadora da razão e se interpretam os dados do


conhecimento sensual.”

“Ao infuir nos objetos do mundo material, o homem comparou-os, confrontando-os, e abstraindo
toda casualidade ou secundariedade, descobriu neles o geral e o essencial, descobriu sua importância
objetva no processo da produção material e o lugar que ocupam na vida e no trabalho humanos.”

“Precisamente no processo de criação constante e de contnua aspiração do homem a obrigar a


natureza a servir a seus próprios interesses, à produção, se formaram os conceitos de ‘corrente
elétrica’, ‘energia atômica’, ‘polimerização’ e muitos outros conceitos cientficos úteis à humanidade
contemporânea.”

“Também a análise e a síntese são importantssimas na formação de conceitos.”

“A análise é o desmembramento mental de um objeto ou fenômeno em seus elementos e partes


consttutvas, a fim de compreender o lugar que ocupam no fenômeno e destacar deles os essenciais,
os principais.”

Não pode haver trabalho científco sem a análise. A capacidade de na teoria e na prátca
“desmontar”, as partes componentes de um objeto ou de um fenômeno, submetendo as
mesmas a diferentes hipóteses relacionadas, fundamenta os processos de acumulação de
conhecimento. Sem análise, não se pode chegar a entender o funcionamento da parte oculta
dos fenômenos. Sem análise, não se pode chegar à síntese. Como diz Afanasyev:

“A síntese é a reunião das partes e aspectos do fenômeno e permite compreendê-lo em sua


totalidade, no conjunto de todos os seus traços e partcularidades.”

“A análise e a síntese são inseparáveis no conhecimento. Assim, ao investgar o tpo de produção


capitalista em O Capital, Marx dividiu-o em partes (produção, circulação, etc.) e estudou cada uma
delas. Depois, agrupando as partes já investgadas, conheceu o capitalismo em seu conjunto.”

710
“À primeira vista parece que o conceito, a abstração, é mais pobre que as percepções sensitvas
diretas. Na realidade, qualquer conceito, até o mais simples, refete a natureza de maneira mais
profunda, completa, acertada.”

“De maneira mais profunda e acertada, porque recolhe os aspectos internos da realidade
inacessíveis à cognição sensual direta.”

“De maneira mais completa, porque não se limita a fixar-se num objeto ou num pequeno grupo de
objetos, mas, numa infinidade deles.”

“O trânsito do sensual ao abstrato é um salto dialétco operado no processo do conhecimento, no


movimento que este percorre do inferior ao superior.”

“A essência deste salto repousa em que a razão humana efetua uma passagem do conhecimento do
fenômeno – exterior e superficial das coisas – ao descobrimento de sua essência, de sua natureza
interna.”

“Este salto se efetua sobre a base da prátca. Só a atvidade prátca dos homens, orientada a
transformar os objetos e fenômenos do mundo, permite penetrar em sua essência, distnguir o
principal do secundário, o interior do exterior. Quanto maior o grau de desenvolvimento da prátca,
mais poderosa é sua força transformadora, mais profundo e variado é o conhecimento do homem.”

“Os conceitos refetem o mundo em mutação, a prátca em constante desenvolvimento, devendo,


por isso, ser fexíveis e dinâmicos.”

“O dinamismo e a fexibilidade dos conceitos se manifestam ao precisar e aprofundar os conceitos já


existentes, assim como ao formar outros novos, que correspondam às novas condições objetvas, à
nova prátca.”

O processo de acumulação de conhecimentos conheceu um passo gigantesco com o


desenvolvimento dos conceitos e, consequentemente, o avanço da lógica e da capacidade de
distnguir a conexão entre os fenômenos. A linguagem se desenvolveu de forma
revolucionária, permitndo a transferência indireta de conhecimentos em larga escala.
Afanasyev comenta:

“Com os conceitos se consttuem outras formas de pensamento: julgamento e conclusão.”

“O uulgamento é uma forma de pensamento que afirma (por exemplo: ‘o socialismo é a paz’) ou
nega alguma coisa (por exemplo: ‘o marxismo não é um dogma’).”

711
“Vê-se que o julgamento está integrado por conceitos determinados. Nos julgamentos mencionados
são os conceitos ‘socialismo’, ‘paz’, ‘marxismo’ e ‘dogma’.”

“Ao mesmo tempo, é impossível desentranhar estes conceitos sem outros julgamentos como ‘o
socialismo é um regime social baseado na propriedade social’ e outros, donde se infere que o
conceito e o julgamento estão interligados.”

“Também os julgamentos estão entrelaçados entre si. Sua vinculação consttui uma forma peculiar
de pensamento lógico: a conclusão.”

“A conclusão é a obtenção de um novo julgamento (dedução) por julgamentos (premissas) dados.


Mediante as conclusões tradas dos conhecimentos que possuímos, podemos obter novos
conhecimentos; nisso está sua grande importância para a cognição.”

“Agrupando e unindo conceitos, julgamentos e conclusões, em combinações complexas, consttuímos


formas superiores do conhecimento, como a hipótese e a teoria.”

“A hipótese é uma suposição a respeito de fenômenos, acontecimentos ou leis. Exemplos: as


suposições acerca da origem da vida na terra, do aparecimento do sistema solar e outras.”

“As teorias científcas supõem um conhecimento profundo e multlateral de quaisquer processos ou


domínio determinado da realidade. Estes conhecimentos se comprovam pela experiência, pela
prátca. Tais são, na Física, a teoria contemporânea do núcleo atômico e da relatvidade; e, em
Biologia, a teoria materialista da herança.”

“A teoria cientfica do desenvolvimento da sociedade é o materialismo histórico.”

“Assim, pois, vemos que o conhecimento requer um grande caminho em seu desenvolvimento
dialétco, indo desde as sensações mais simples até as teorias cientficas mais complexas.”

Vê-se assim, o caminho a que levou a prátca social dos homens, transformando-os de
elementos dependentes da oferta do ambiente ao grau de construtores de ambientes
segundo os seus interesses. E graças ao contínuo desenvolvimento de suas faculdades
mentais, com a capacidade de elaborar conceitos, avaliações e conclusões, submeter a sua
própria prátca a uma análise e capacitar-se a modifcá-la. Como diz Afanasyev:

“Se o desenvolvimento da sociedade era devido a causas, qual era a principal, a base da vida
social?”

712
“Estas e outras numerosas perguntas não se deviam à casualidade: o homem vive em sociedade,
vincula-se a ela através de muitos laços, e os destnos da sociedade, assim como as vias por onde ela
se desenvolve, não poderiam deixar de lhe causar interesse.”

“Mesmo antes do aparecimento do marxismo, os sábios emitam algumas ideias corretas sobre o
curso do desenvolvimento social.”

“Os materialistas franceses do século XVIII afirmaram que o homem, suas opiniões e conduta eram
resultados da infuência que o meio social exercia sobre eles.”

“Os historiadores burgueses franceses (Guizot, Thierry, Mignet) consignaram a existência de classes
opostas e de sua luta na sociedade.”

“Os economistas ingleses (Smith, Ricardo) tentaram achar a base da existência das classes na
economia.”

“Os socialistas utópicos (Saint-Simon, Fourier, Owen) anteciparam traços esparsos da futura
sociedade comunista.”

“Os democratas revolucionários russos do século XIX, Belinski, Herzen, Chernischevski e outros,
contribuíram grandemente para a formulação da teoria do desenvolvimento social. Expressaram
pensamentos profundos para seu tempo, sobre o papel da economia no desenvolvimento social,
sobre o povo como criador da história, sobre a inconciliabilidade dos interesses de classe entre
explorados e exploradores, sobre o caráter de classe da Filosofia, da literatura, da arte, etc.”

Esta elevação da condição de um simples animal – apenas um a mais – ao topo de animal


pensante, capaz de intentar compreender o universo e transformar o planeta, passa pelo
desenvolvimento da consciência e pelo acúmulo de compreensão enquanto consciência
social. Lembra-nos Afanasyev:

“Da concepção idealista da história emanava outro defeito da sociologia pré-marxista. Partndo do
pressuposto de que as ideias governavam o mundo e considerando que os portadores de ideias eram
personalidades ilustres – reis, grandes capitães, sábios – os sociólogos anteriores a Marx chegaram à
errônea conclusão de que a história era feita pelos grandes personagens. Não viam o papel decisivo
que as massas populares, os trabalhadores, desempenhavam no desenvolvimento histórico.”

No entanto, não é isto que nos indica o caráter social da prátca. É da ação do povo, da ação
dos milhões de trabalhadores que se tece a cultura humana e o movimento de sua constante
recriação. Os sábios, os pesquisadores, pouco poderiam realizar sem este extraordinário
713
ambiente humano de transformação, que propõe novos problemas e novas soluções todos
os dias. Comenta Afanasyev:

“A consciência social é a vida espiritual dos homens, as ideias, teorias e opiniões que regem sua
atvidade prátca.”

“Ao afirmar que a existência social é o primário e a consciência social o secundário, Marx e Engels
partam do ponto de vista de que, antes de se preocupar com a ciência, a arte, a Filosofia, etc., o
homem precisa comer, beber, morar e vestr. Para que isso se dê, é necessário que ele trabalhe e
produza bens materiais, donde se infere que a produção dos meios de vida imediatos, materiais e, por
conseguinte, a correspondente fase econômica de desenvolvimento de um povo ou de uma época,
formam a base a partr da qual se desenvolvem as insttuições polítcas, as concepções jurídicas, as
ideias artstcas e, inclusive, as ideias religiosas dos homens.”

“O materialismo histórico se manifesta, por conseguinte, como a concepção materialista,


verdadeiramente cientfica, da história.”

“Destacar as relações econômicas de produção em principais e determinantes, entre as numerosas


relações sociais, permitu a Marx e Engels formular o conceito de formação econômico-social, o
conceito básico mais importante do materialismo histórico.”

O entendimento organizado do mundo só se deu de forma efcaz em época muito recente,


portanto, permitndo à ciência desempenhar um papel atvo imediato na melhoria da vida
econômica e social, em escala mundial. As forças obscurantstas, contudo, permanecem
ainda no comando do cenário de numerosos países, sabotando o progresso e fazendo
retroceder tudo que lhes cai às mãos. O avanço da aplicação correta da ciência e da técnica
se faz, pois, em espaço permanente de luta, que encontra resistências, falácias e distorções.
Diz Afanasyev:

“Todos os valores necessários aos seres humanos são produto do trabalho do povo.”

“O trabalho de milhões de homens unidos consttui a base indispensável da vida e do


desenvolvimento da sociedade.”

“O mérito de Marx e Engels está também na superação do caráter metafsico da velha sociologia e a
apresentação da dialétca objetva do desenvolvimento da sociedade. A história, em consequência,
deixou de ser um amontoado de fatos incoerentes e apareceu como um processo íntegro e ordenado,
que decorre segundo as leis dialétcas.”

714
A compreensão do caráter correto, materialista, do desenvolvimento da sociedade permitu
extrpar o conhecimento histórico-social de um emaranhado volumoso de crendices e
explicações fantasiosas, separando a lógica dos fatos de tortuosidades perversas e
necessárias apenas a perpetuar a dominação dos poderosos. A História como movimento
real baseado na contradição de interesses opostos se tornou compreensível. Lembra
Afanasyev:

“Só Marx e Engels souberam esclarecer todo o complexo e contraditório do desenvolvimento social.
Superaram os defeitos da sociologia precedente e criaram uma teoria qualitatvamente nova do
desenvolvimento social – o materialismo histórico – revolucionando as opiniões sobre a sociedade.”

“Qual é, pois, a essência dessa revolução?”

“Marx e Engels desterraram o idealismo da ciência social. Solucionaram acertadamente o problema


fundamental da Filosofia aplicado à sociedade e formularam a tese principal do materialismo
histórico: a existência social determina a consciência social.”

Com base no avanço da compreensão científca, inclusive no campo social, os elementos


burgueses têm-se visto obrigados a revisar inúmeros pontos de suas teorias e aproximar-se
de versões da ciência social historizada, embora nessas versões seu objetvo últmo seja
esterilizar as conclusões da opinião mais avançada, incluindo a marxista. Nos centros
científcos da burguesia, deixam-se de lado as velhas teorias racistas e procura-se elaborar
versões mais suts, capazes de mascarar as intenções racistas e colonialistas, substtuindo-as
por concepções ultra-individualistas. Diz Afanasyev:

“Numa sociedade dividida em classes hosts não pode haver uma única ideologia. Nela existe a
ideologia da classe exploradora e a da explorada, predominando a daquela que exerce o domínio
econômico e polítco. A luta ideológica, uma das formas da luta de classes, está sempre presente na
sociedade de classes antagônicas.”

Portanto, não há nada demais em haver várias ideologias na sociedade, ideologias polítcas
em luta para impor sua visão às outras, ideologias sociais para submeter a maioria à vontade
da classe dominante, etc. Isso é inseparável da vida social e da luta social. O que nós lutamos
contra é o uso da violência pelas classes dominantes, para impor seu “ponto de vista”,. As
classes existem. Tal implica em luta ideológica entre elas. Mas tal luta não justfca a violência
contra os trabalhadores, tal como a organizam as classes dominantes. Diz Kuusinen:

715
“No trabalho ‘Uma Grande Iniciatva’, Lênine deu a mais completa definição do que são as classes:
‘Denominam-se classes, grandes grupos de homens, que se diferenciam pelo seu lugar num sistema
da produção social historicamente determinado, pela sua relação (em maior parte fixada e
formalizada nas leis) para com os meios de produção, pelo seu papel na organização social do
trabalho, e, por conseguinte, pelos modos de obtenção e pela proporção da parte da riqueza social,
de que dispõem. As classes são grupos tais de homens, dos quais um pode se apropriar do trabalho
do outro, em virtude da diferença do seu lugar numa determinada formação de economia social’.”

3 – O Materialismo Histórico.

A maioria dos teóricos da burguesia não compreendem como o movimento histórico possa
ter “motores sociais”, que decorram da luta de interesses contraditórios. Para eles, a
evolução histórica, a “eventual transformação”, da sociedade, depende – não do conjunto da
prátca social – mas dos atos isolados dos grandes homens. Daí que possam dar-se ou não, e
que existam “sociedades com história”, e sociedades “sem história”,m O materialismo
histórico parte de ponto de vista de todo diferente, identfcando (1) na prátca dos homens
em sociedade, e (2) da luta de cada grupo por seu interesse, o “motor”,, o fator dinânmico do
movimento histórico. Diz Afanasyev:

“Disséramos, anteriormente, que a sociedade se desenvolve baseada em suas próprias leis e na


necessidade histórica. Entretanto, as leis sociais sempre se revelam na conduta e nos atos dos
homens, autores de sua própria história.”

“Que importância, pois, têm os homens no processo histórico? Qual o papel das massas populares e
dos indivíduos na história?”

“O materialismo histórico parte do princípio de que o povo é o criador do processo histórico.


Vejamos por que o povo é o criador da história e qual o papel do indivíduo no desenvolvimento
social.”

Uma vez que a população de cada sociedade é quem determina, com sua prátca, as
transformações que ali se dão, é evidente que o povo é o fazedor da sua história e não
alguma força imaginária ou mítca, presa no passado ou no fundo do universo. Os homens –
para o bem e para o mal – são os autores da história que vivem. São eles que criam os
Estados e as Nações, organizados em classes sociais ou em estruturas anteriores. Diz Stálin:

716
“Nação é uma comunidade estável, historicamente formada, que tem sua origem na comunidade de
língua, de território, de vida econômica e de conformação psíquica que se manifesta na cultura
comum.”

Assim, a prátca social em uma dada nação, a luta de interesses opostos ali para sua
materialização, explicam a evolução daquele contexto nacional, suas potencialidades e
possibilidades. Diz Kuusinen:

“A comunidade nacional não pode suprimir as diferenças de classe dentro da nação. Pelo contrário,
estas diferenças penetram toda a sua vida e a cindem em partes hosts. A comunidade nacional,
desta maneira, não apenas não exclui o antagonismo de classe, como, sem levá-lo em conta, não
poderá ser corretamente compreendido o próprio movimento nacional.”

“Por outro lado, a solidariedade de classe ultrapassa os marcos da nação isolada. Os capitalistas
norte-americanos, alemães, franceses, falam línguas diferentes. Mas todos são aproximados entre si
pelo fato de que pertencem à mesma classe e isso os une estreitamente contra o socialismo, o
movimento operário e a luta de libertação nacional dos povos coloniais. Exatamente da mesma
maneira, os operários pertencem a variadas nacionalidades e raças, mas permanecem, em primeiro
lugar, proletários, o que determina a comunidade dos seus interesses internacionais, dos seus fins e
de sua ideologia, diante do que passam para segundo plano as outras diferenças. Os operários
conscientes, compreendendo que a discórdia e o isolamento nacionais prejudicam os interesses
internacionais da classe operária, conduzem a luta contra quaisquer formas de discriminação
nacional ou racial.”

Assim, coisas aparentemente incompreensíveis, como as lutas de classes, a traição dos


indivíduos, os princípios morais, etc., deixam o terreno do nebuloso e se alinham – pelo
contrário – como fator explicatvo da evolução das pessoas, dos grupos e dos países. O
obscurantsmo vê-se em apuros para reconstruir explicações mítcas e impingi-las àqueles
que visam a luz do entendimento. Diz Kuusinen:

“A revolução socialista, em qualquer país capitalista abrange um período bastante longo de


transição do capitalismo ao socialismo. Ela começa com a revolução polítca, isto é, com a conquista
do poder estatal pela classe operária. Somente através do estabelecimento do poder da classe
operária pode decorrer a transição do capitalismo ao socialismo.”

“A missão histórica da revolução socialista consiste na liquidação da propriedade capitalista privada


sobre os meios de produção e das relações de produção capitalistas entre os homens, na sua

717
substtuição pela propriedade social, socialista, sobre os meios de produção e pelas relações de
produção socialistas. É impossível, porém, realizar esta substtuição, enquanto o poder pertence à
burguesia. O Estado burguês representa o principal obstáculo no caminho da transformação do
regime capitalista. Ele serve fielmente aos exploradores, protegendo sua propriedade. A fim de
arrebatar às classes dirigentes a sua propriedade e transferi-la a toda a sociedade, é preciso tomar o
poder polítco aos capitalistas e colocar no poder o povo trabalhador. O Estado da burguesia deve ser
substtuído pelo Estado dos trabalhadores.”

Sem o materialismo histórico, seria difcil para um membro da classe operária entender os
objetvos mais profundos de sua luta. Pensaria sempre que sua luta seja para obter alguma
correção da infação – que também não saberia o que é – em seu salário. O operário não
entenderia que a história tem um sentdo oculto, e tal sentdo aponta para sua classe social
como a potencial libertadora e criadora de uma nova humanidade. O operário não
entenderia que sua classe é um motvo de que tenha orgulho – e não vergonha – de ser
humilde e pobre. O operário não entenderia a contradição que dorme no miolo de todas
coisas. Diz Kuusinen:

“As relações socialistas não podem nascer nos marcos do capitalismo. Elas surgem depois da
tomada do poder pela classe operária, quando o Estado dos trabalhadores nacionaliza a propriedade
dos capitalistas sobre os meios e produção, sobre as fábricas, usinas, minas, meios de transporte,
bancos, etc., convertendo-se em propriedade social socialista. Está claro que seria impossível fazer
isto antes que o poder passasse às mãos da classe operária.”

O extraordinário valor explicatvo transformou o conhecimento histórico. Esse valor


explicatvo era pobre – para quase todas as ciências sociais – antes do materialismo histórico.
Marx e Engels criaram não só o caminho para a libertação dos operários como tornaram os
operários conscientes de que são os libertadores da humanidade do atraso, da exploração e
da ignorânncia. Surgiu a compreensão da aliança operário-camponesa. Surgiu a compreensão
do papel das massas como criadores da história. Por isso, disse Lênine:

“A doutrina de Marx é onipotente porque é verdadeira.”

O materialismo histórico não indica uma vida melhor após a morte. Ele indica como essa
vida melhor pode ser criada aqui na Terra. Diz Kuusinen:

718
“A composição do aparelho estatal burguês e a sua estrutura são adequadas à execução da função
fundamental deste Estado: manter os trabalhadores submetdos à burguesia. Eis por que Marx dizia
que as revoluções anteriores apenas aperfeiçoavam a velha máquina estatal, ao passo que a tarefa
da revolução operária consiste em quebrá-la e substtuí-la pelo Estado proletário.”

Os trabalhadores podem criar para si um Estado melhor do que esse que aí existe. E o
caminho para esta libertação é claramente indicado pelo materialismo histórico. Diz
Kuusinen:

“A revolução polítca da classe operária pode processar-se em diferentes formas. Ela pode realizar-se
pelo caminho da insurreição armada, como ocorreu na Rússia, em outubro de 1917. Em condições
partcularmente favoráveis, é possível também a transição pacífica do poder ao povo, sem insurreição
armada e sem guerra civil. Quaisquer que sejam, porém, as formas em que se verifique a revolução
polítca do proletariado, ela representa sempre o grau superior do desenvolvimento da luta de
classes. Como resultado da revolução, estabelece-se a ditadura do proletariado, isto é, o poder dos
trabalhadores, dirigido pela classe operária.”

“Tendo conquistado o poder, a classe operária enfrenta a questão do que fazer com o aparelho do
velho Estado, com a polícia, os tribunais dos órgãos administratvos, etc. Nas revoluções anteriores, a
nova classe, tendo chegado ao poder, adaptava às suas necessidades o velho aparelho estatal e
governava com a sua ajuda. Isto era possível, uma vez que as revoluções conduziam à substtuição do
domínio de uma classe exploradora pelo domínio de outra classe também exploradora.”

“A classe operária não pode seguir por semelhante caminho. A polícia, a gendarmeria, o exército, os
tribunais e outros órgãos estatais, que por séculos serviram às classes exploradoras não podem
passar simplesmente ao serviço daqueles a quem antes oprimiam. O aparelho estatal não é uma
máquina comum, indiferente a quem a dirige: pode-se substtuir o maquinista, mas a locomotva,
como antes, arrastará o trem. No que se refere à máquina estatal burguesa, o seu caráter é tal, que
ela não pode servir à classe operária.”

Nada disso seria compreensível sem a ajuda poderosa do método dialétco aplicado ao
desenvolvimento social e ao processo do pensamento. Sem o materialismo histórico, não se
poderia compreender a estratégia e a tátca do movimento operário e do movimento
popular. Diz Kuusinen:

“Os comunistas são orgulhosamente revolucionários em teoria e prátca. O termo ‘reformista’


significa para eles, sinônimo de ignorância e traição à realidade histórica. Um reformista é ignorante

719
a ponto de acreditar que mudanças sociais básicas podem processar-se lenta e gradualmente. Os
comunistas estão convencidos dessa impossibilidade, porque acreditam que a história e a natureza
estabeleceram a elaboração das mudanças pela revolução. Para o comunista, a revolução não é a
experiência dourada do futuro, que eles aguardam nostalgicamente. A mudança requer ação. Assim
como a noiva aguarda com ansiedade o dia das núpcias, a mãe anseia com afição o momento de dar
à luz, da mesma forma, com fulgor nos olhos, ofegante, a pulsação alterada e coração exultante, o
verdadeiro comunista espera e constrói o futuro e glorioso dia da revolução.”

“A crença comunista na inevitabilidade da revolução decorrer da dialétca. A menos que entendamos


a dialétca, seremos logrados em toda linha. A menos que entendamos a dialétca, não poderemos
contra-atacar a burguesia inteligentemente com a materialização do comunismo. Compreendendo-a
estaremos em condições de prever suas ações e de nos defender contra elas.”

A ciência do materialismo histórico permitu transformar a luta empírica das massas por
seus interesses em um movimento organizado, com cabeça, tronco e membros, capaz de
avançar e recuar, capaz de não se deixar deter por pequenas conquistas ou por grandes
derrotas. As massas deixaram de apenas partcipar como elemento objetvo nas lutas e nas
jornadas sociais, e tendem a adquirir um papel subjetvo, com crescente ação consciente no
processo histórico. Diz Kuusinen:

“Só é possível dirigir as massas levando em conta sua experiência e nível de consciência, sem se
separar de sua realidade, sem correr à frente. Em caso contrário, há o risco de que a vanguarda fique
em situação lamentável, perdendo o vínculo com as forças fundamentais afastadas dela.”

“Entretanto, levar em conta o nível de consciência das massas nada tem de comum com a
adaptação a este nível, com o nivelamento no atraso. Tal compreensão da ligação com as massas é
própria do oportunismo. Os comunistas compreenderam as coisas de modo diverso. Não futuam de
acordo com a vontade das ondas.”

“Ao generalizar a experiência da sua classe e do seu povo, ao compreendê-la à luz das lições da
história e da teoria marxista, o partdo marxista se baseia na vida, mas vai à frente do movimento
espontâneo, indica-lhe o caminho, porque sabe propor oportunamente a solução dos problemas, que
agitam o povo.”

“O Partdo pode dirigir as massas e instruí-las se ele próprio aprende com as massas, isto é, estuda
atentamente o que nasce na prátca popular, absorvendo a sabedoria do povo. Aprender com as

720
massas a fim de ensinar às massas – eis o princípio da direção marxista-leninista, que todos os
partdos comunistas seguem. Os comunistas chineses o denominam de ‘linha de massas’.”

As forças populares, como evidencia a experiência histórica, variam cada vez mais sua
partcipação polítca e buscam criar soluções parciais para os seus problemas, à revelia da
ação do Estado burguês e das ações repressivas e desestmulatvas das classes dominantes. O
povo revela, assim, sua poderosa consciência social. Diz Afanasyev:

“Para demonstrar o papel do povo como criador da história, faz-se necessário esclarecer o que é
povo, o que significa ‘massas populares’.”

“O povo não é uma coisa imutável, fora da história. Tampouco é um ‘rebanho’ ou ‘populacho’ vil e
disforme, hostl a toda civilização e progresso, como tentam pintá-lo os ideólogos das classes
exploradoras.”

“O povo está consttuído, sobretudo, pelos trabalhadores, e, na sociedade de classes antagônicas,


pelas massas exploradas.”

“Na sociedade escravista era formado, principalmente, pelos escravos: na feudal, pelos camponeses
e artesãos. Na sociedade capitalista conta-se como povo a classe operária, os camponeses, a
intelectualidade trabalhadora e outras camadas contribuintes do progresso social.”

“Na sociedade de classes antagônicas o povo é a parte fundamental da população, embora não seja
toda a população. Na moderna sociedade capitalista, por exemplo, a cúspide reacionária imperialista
opõe-se a ele.”

“Na sociedade socialista povo é toda a população do país: a classe operária, os camponeses e a
intelectualidade.”

Ao elaborar com sua prátca social o processo de transformação da sociedade, o povo é o


verdadeiro sujeito da História. É absolutamente inútl o esforço das classes dominantes para
separar o partdo operário, a aliança operário-camponesa do movimento popular, das
massas populares. Seria como separar em indivíduo do seu próprio cérebro. E as classes
dominantes não possuem poder para matar todo o povo e contnuar vivendom É por isso que
são elas que estão fadadas a desaparecer no processo histórico. Diz Afanasyev:

721
“Como já foi dito, a produção material serve de base à vida social, tendo como força produtva
principal os trabalhadores, as massas populares. Assim, o povo, os trabalhadores, são a força
decisiva do desenvolvimento social, o verdadeiro criador da história.”

“Como, então, se manifesta o papel do povo como criador da história?”

“As massas trabalhadoras fazem a história, sobretudo, com seu trabalho produtvo. De suas mãos
nascem todos os valores materiais: as cidades e os povos, as fábricas e as ferramentas, as estradas e
as pontes, os tornos e as máquinas, as roupas e os calçados, os comestveis e os utensílios
doméstcos, ou seja, tudo aquilo sem o que a existência da humanidade é inconcebível.”

“As massas populares são a força motriz fundamental do progresso técnico. Foram desenvolvendo e
aperfeiçoando escrupulosa e quase sempre inconscientemente, os instrumentos de trabalho, o que
provocou revoluções técnicas radicais, a transformação das forças produtvas. O desenvolvimento
destas trouxe a mudança do tpo de produção em seu conjunto. Assim, inclusive sob as mais duras
opressões em regimes de exploração, o trabalho dos homens sensíveis foi preparando as premissas
materiais para o progresso da humanidade, para passar a um novo regime social.”

“O papel das massas populares, no entanto, não se limita ao desenvolvimento das forças produtvas
e, com isso, a preparar as premissas materiais para a passagem a um novo regime social. São a força
principal que resolve o destno das revoluções sociais e dos movimentos polítcos e de libertação
nacional. A luta de classes e, sobretudo, a dos trabalhadores contra seus opressores, luta cuja forma
suprema é a revolução social, serve de motriz do desenvolvimento das sociedades de classes
antagônicas. As sublevações de escravos enfraqueceram a base da propriedade escravista e foram
uma causa importantssima da passagem ao feudalismo. Os camponeses e a população pobre urbana
foram uma das importantes forças motrizes das revoluções burguesas que obrigaram o feudalismo a
ceder seu lugar histórico ao regime capitalista, mais progressista.”

O amplo despertar da consciência de massas de dezenas de milhões se dá pela prátca


revolucionária, se dá pelo tomar nas próprias mãos o destno da sociedade e convertê-la em
algo melhor. As massas populares como sujeito da história tudo podem; podem varrer velhas
insttuições e criar um mundo de novas oportunidades. Massas conscientes não necessitam
perpetuamente de um Estado. Diz Lênine:

“Enfim, somente o comunismo torna o Estado absolutamente supérfuo, porque não há ninguém a
reprimir, ‘ninguém’ no sentdo de classe, no sentdo de luta sistemátca contra uma parte
determinada da população.”

722
O Estado não é um aparato para durar eternamente. Sua presença se contrapõe ao povo, se
opõe à existência de massas conscientes. Como disse Engels:

“Portanto, o Estado não tem existdo eternamente. Houve sociedades que se organizaram sem ele,
não tveram a menor noção de Estado ou de seu poder. Ao chegar a certa fase de desenvolvimento
econômico, que estava necessariamente ligada à divisão da sociedade em classes, esta divisão tornou
o Estado uma necessidade. Estamos agora nos aproximando, com rapidez, de uma fase de
desenvolvimento da produção em que a existência dessas classes não apenas deixou de ser uma
necessidade, mas até se converteu num obstáculo à produção mesma. As classes vão desaparecer e
de maneira tão inevitável como no passado surgiram. Com o desaparecimento das classes,
desaparece inevitavelmente o Estado. A sociedade, reorganizando de forma nova a produção, na
base de uma associação livre de produtoras iguais, mandará toda a máquina do Estado para o lugar
que lhe há de corresponder: ao museu das antguidades, ao lado da roda de fiar e do machado de
bronze.”

A história – através de avanços e recuos – prosseguirá sua marcha inexorável rumo ao


futuro, rumo à obtenção de uma humanidade mais livre e melhor. E o grande construtor
desse movimento histórico é o povo de cada país, não as classes que dominam e que por isso
estão fadadas a perecer. Como ensina Afanasyev:

“O povo faz a história, não segundo seus caprichos, mas em dependência das condições objetvas e,
sobretudo, do tpo historicamente determinado de produção dos bens materiais. Como a produção
material aperfeiçoa-se constantemente, desenvolvendo-se do inferior para o superior, também o
papel do povo se modifica no processo histórico. Com a partcularidade de que o papel do povo na
história aumenta na medida em que avança o desenvolvimento progressivo da humanidade.”

“Nas sociedades pré-socialistas, o povo não recolhia os frutos de seu trabalho e luta, o trabalho e a
luta do povo foram fatores decisivos que, em últma instância, conduziram à libertação dos
trabalhadores e à criação do regime socialista de vanguarda.”

“As massas populares contribuíram enormemente para o desenvolvimento da cultura espiritual da


sociedade. ‘O povo – escreveu Gorki – é a única e inesgotável fonte dos valores espirituais, o primeiro
filósofo e poeta pelo tempo, beleza e genialidade de sua obra, que criou todos os grandes poemas,
todas as tragédias do mundo, inclusive a maior delas: a história da cultura universal’.”

“O trabalho do povo e sua inspirada criação servem de fonte para a ciência e para a arte. De
homens sensíveis nasceram os sábios, escritores, pintores e outros mestres da cultura que enriqueceu

723
a humanidade. Assim, por exemplo, Lomonosov era filho de um pescador do litoral nórdico; Newton,
filho de um pobre granjeiro; os Cherepanov (pai e filho), construtores da primeira locomotva russa,
tnham sido servos, e assim sucessivamente. O povo cria assombrosos poemas e romances, canções e
danças, que nos deleitam profundamente. Os mais insignes artstas sempre e em todas as partes
buscaram os modelos de suas melhores criações nos veios inesgotáveis da criação popular.”

4 – A Consciência Social e o Processo Revolucionário.

As classes dominantes colocam a possibilidade de sua contnuidade no poder simplesmente


em poder, no momento crucial, desencadear a violência e massacrar a parte mais organizada
do povo. Para dar um exemplo, a polícia polítca do Rio de Janeiro (DOPS – DPPS), só em um
de seus departamentos (infltração), possui mais da metade (2.000 homens) de seu efetvo
total. Por que semelhante aparato preventvo? Para manter-se informada, para preparar
provocações, para “dar o bote”,, esta víbora polítca, contra a população trabalhadora. Estes
“infltrados”, estão, portanto, contaminando com sua presença duas mil organizações sociais.
Por que são necessários tantos bandidos para vigiar a população? A resposta é até simples.
Por causa da elevação do nível de consciência social. Como diz Afanasyev:

“Formação econômico-social é um conjunto de fenômenos e processos sociais (econômicos,


ideológicos, etnológico-familiar e outros) baseados em um tpo historicamente determinado de
relações econômicas, de produção, dos homens.”

“O desenvolvimento da sociedade é uma sucessão, sujeita a leis, de uma formação econômico-social


por outra mais perfeita.”

“O movimento progressivo da história da humanidade vai desde a rudimentar formação da


comunidade primitva à formação escravista, passando logo à feudal, à capitalista e, finalmente, à
comunista.”

“Criando o materialismo histórico, Marx e Engels demonstraram que são as massas populares, os
trabalhadores, que fazem a história.”

“O objeto do materialismo histórico é estudar a sociedade e as leis de seu desenvolvimento.”

724
“Estas leis são tão obuetvas, tão independentes da consciência do homem, como as leis do
desenvolvimento da natureza. E como estas, são cognoscíveis, o homem as utliza em sua atvidade
prátca.”

“Apesar desses traços comuns entre as leis da vida social e as da natureza, existe entre elas uma
diferença essencial.”

“As leis da natureza expressam a ação de forças cegas, inconscientes, enquanto as leis de
desenvolvimento social sempre se manifestam pelas ações dos homens, seres conscientes, que se
propõem determinados fins e procuram alcançá-los.”

“As leis da vida social consttuem objeto de estudo do materialismo histórico e também de outras
ciências: Economia Polítca, História, Estétca, Pedagogia, etc.”

“Estas ciências, no entanto, tratam um grupo determinado de fenômenos sociais, examinam a


sociedade sob um aspecto, sem dar a impressão do processo do desenvolvimento social em seu
conjunto. A Economia Polítca estuda as relações econômicas, de produção, estabelecidas entre os
homens; a História, o desenvolvimento da sociedade em diversas épocas e países concretos; a
Estétca, a esfera da arte, etc.”

“Diversamente das ciências concretas, o materialismo histórico estuda as leis mais gerais do
desenvolvimento social.”

O que a enorme máquina repressiva das classes dominantes busca é impedir que o
conhecimento dessas leis gerais da sociedade sejam conhecidas pelas pessoas comuns, o
povo, e que como tal sejam levadas em consideração quando cada pequeno grupo de
pessoas tomarem suas decisões. O que o aparato repressivo busca – mesmo a infltração
preventva – é impedir que o povo se auto-eduque politcamente, lançando mão do
materialismo histórico. A esperança de domínio das classes dominantes se cifra na
manutenção da ignorânncia, na difusão da corrupção, na repressão periódica e brutal.
Portanto, o grande inimigo prátco das classes dominantes é a educação das massas, é o
desenvolvimento da consciência social. Diz Afanasyev:

“A consciência social é o conuunto de ideias, teorias, opiniees sentmentos sociais, costumes e


hábitos que refetem uma realidade obuetva: a sociedade e a Natureza. A principal expressão dessa
consciência é a existência social dos homens. Como aquela, também esta é complexa e diversificada.
As ideias polítcas e jurídicas, a moral, a arte, a ciência, a Filosofia e a religião são distntas formas de

725
consciência social. Estas formas têm suas partcularidades de aparecimento e desenvolvimento,
refetndo diferentes aspectos da existência social. São diversas, também, suas tarefas.”

“O idealismo é incapaz de solucionar corretamente a questão do papel das ideias, da consciência


social, na vida da sociedade. Para os idealistas são as ideias que determinam a marcha do
desenvolvimento social, o que não corresponde à realidade.”

“Só o materialismo histórico, após solucionar adequadamente o problema fundamental da filosofia,


aplicado à sociedade, demonstrou que a consciência social dos homens é produto de sua existência
social. É nesta – na atvidade material, de produção, dos homens – que se deve buscar a fonte de
suas ideias, teorias e opiniões.”

“A história da sociedade demonstra de maneira convincente que, com a mudança da existência dos
homens, também sua consciência se modifica, desaparecendo velhas ideias que dão lugar a novas,
mais condizentes com as novas condições e demandas sociais. Assim, com a vitória do socialismo,
transformou-se radicalmente a existência humana: a propriedade socialista substtui a propriedade
privada capitalista. Logo, modificam-se as opiniões e ideias. Por exemplo; em lugar do individualismo,
pedra angular da moral capitalista, aparece o coletvismo, base da moral comunista.”

“Do mesmo modo, ao analisar qualquer outra forma de consciência social, veremos que sua fonte
está na vida material da sociedade.”

Portanto, as classes dominantes sabem quão importante é evitar que os trabalhadores e os


pobres discutam sua prátca social, examinem as condições de suas vidas, etc. Para as classes
dominantes, os trabalhadores e pobres não devem “descobrir”, assuntos polítcos, distnguir
seus interesses próprios, etc. Devem apenas “viver no passado”,, abraçando a ideologia social
fabricada pelas classes dominantes que “já se foram”,, etc. Mistcismo, obscurantsmo e
ignorânncia, esse deve ser o miolo da consciência social dos pobres, na leitura que fazem as
classes dominantes. O debate, a discussão polítca e o conhecimento do materialismo
histórico seriam veneno mortal contra as classes exploradoras na sociedade. As classes
dominantes sabem, portanto, cuidar de seus interesses. Mas não estão interessadas no
progresso do trabalhador e do pobre. Isso quer dizer que os trabalhadores e os pobres
devem abrir os olhos, deixar de “dormir no ponto”, e cuidar de seus próprios interesses.

Como se sabe, a ideologia possui um caráter de classe. Não se pode pegar “escombros”, das
classes adversas ou inimigas e usá-los como “remendos”, para melhorar nossas ideias ou

726
reformar a sociedade. O pensamento de uma classe se cristaliza sob a forma de ideologia e
esta ideologia impregna toda prátca social do conjunto daquela classe. As classes
dominantes procuram impingir aos trabalhadores e aos pobres os seus “valores”, de
dominação. O conjunto deles chama-se “ideologia social”,. O partdo de vanguarda da aliança
operário-camponesa luta para rechaçar ponto por ponto as mentras sociais que a ideologia
social da dominação expressam. Por exemplo: as classes dominantes procuram convencer o
trabalhador que 20 cruzeiros por hora de trabalho é “um pagamento justo”, e corresponde
ao “trabalho desempenhado”,. Ora, o trabalhador pode trabalhar por 20 cruzeiros a hora
porque não tem alternatva, mas se ele estver convencido de isso ser justo, então está
dominado pela ideologia social da classe dominante.

O que é verdade para os patrões não é verdade para os trabalhadores. Cada qual está
imerso na prátca social de sua classe e ideologicamente não podem chegar a um
denominador comum. Para um membro da classe dominante, é “natural”, o seu flho andar
calçado, ter educadores e ir ao dentsta, mas é “natural”, também para ele que os flhos dos
trabalhadores não tenham nada disso. Como podem chegar a um denominador comum na
análise dos problemas da sociedade? Nunca. Diz Afanasyev:

“O marxismo exige que a ideologia seja observada de maneira concreta e histórica e que se veja os
interesses de qual classe – progressista ou reacionária – ela expressa. Cada classe desempenha um
papel progressista no processo histórico-social enquanto seus interesses coincidam com o
desenvolvimento da realidade objetva. Uma vez esgotado seu papel e entrando seus interesses em
contradição com a marcha real do desenvolvimento, sua ideologia deixa de ser verdadeira e começa a
distanciar-se da realidade, em favor de seus próprios interesses.”

“Tomemos, por exemplo, a ideologia burguesa. Ela foi verdadeira e útl enquanto serviu à luta contra
o feudalismo. Mas, após a tomada do poder, esgotou suas possibilidades progressistas e se converteu
em freio do desenvolvimento social, deixando de refetr adequadamente a realidade. ‘Os
investgadores desinteressados, escreveu Marx, foram substtuídos por espadachins mercenários e os
estudos cientficos imparciais deram lugar à consciência turva e às perversas intenções da
apologétca’.”

“Cientfica e verdadeira até o fim é a ideologia marxista-leninista. Os interesses da classe operária e


a marcha objetva da história coincidem sempre, o que atesta sua veracidade em qualquer etapa de
seu desenvolvimento.”

727
As ideias sinistras e obscuras dos dominadores são, portanto, resultado de seu afastamento
do progresso social, das causas justas e o seu rápido afundamento no campo da rapinagem
do próximo e da espoliação do alheio. Os trabalhadores e os pobres nada podem trar daí.

O materialismo histórico permite conhecer os traços do desenvolvimento da consciência


social e ajuda a libertar o trabalhador que o estuda das garras do obscurantsmo e do
egoísmo em que é lançado pelas ideologias atrasadas das classes dominantes. Diz Afanasyev:

“Vimos como a existência social dos homens e sua atvidade material de produção determinam a
consciência social. Entretanto, a consciência também tem uma independência relatva em seu
desenvolvimento. Onde e como isso se manifesta?”

“A independência relatva do desenvolvimento da consciência social é a possibilidade de ultrapassar


ou ser ultrapassada pelo desenvolvimento da existência social, e na contnuidade de seu
desenvolvimento; consiste, ainda, em não se mostrar passiva em relação à existência, infuindo
atvamente sobre ela.”

“O atraso da consciência social se explica, primeiro, pela modificação que traz à existência dos seres
humanos e, consequentemente, à sua consciência. Esta circunstância está condicionada, também
pela vitalidade de ideias e opiniões velhas. Tal vitalidade não é casual: as classes dominantes
empregam todos os meios para que sua ideologia impregne corpo e alma de todos os membros da
sociedade. A burguesia imperialista contemporânea, por exemplo, usa todo o arsenal de infuência
ideológica (imprensa, cinema, rádio, televisão, etc.) para entorpecer a consciência dos trabalhadores
e desarmá-los ideologicamente. Por isso, com a vitória do novo regime, a consciência de algumas
pessoas ainda mantêm, por tempo prolongado, reminiscências da velha ideologia.”

“A consciência é capaz, não só de se atrasar em relação ao desenvolvimento da existência social,


como também, sob determinadas condições, de adiantar-se a ela. Ao analisar as leis da sociedade,
explicando as tendências gerais do desenvolvimento social, os indivíduos insignes e os sábios podem
prever o futuro; isto é, conseguem criar teorias que se adiantam consideravelmente a seu tempo e
oferecem à humanidade as vias de desenvolvimento projetadas no futuro. A teoria marxista do
comunismo cientfico é um magnífico modelo de previsão dos acontecimentos sociais.”

Portanto, a ideologia social vigente nada mais é que sucata, um emaranhado de ideias e
teorias velhas que deixaram de explicar o mundo, mas que as classes dominantes – não as
usando para si próprias – enfam na cabeça dos trabalhadores e dos pobres, para que esses
destruam a si mesmos. Por exemplo, a ideia de que “um insulto se paga com sangue”,, já foi

728
uma crença da ideologia dos dominadores no passado. No entanto, eles compreenderam a
inutlidade de tal tese, abolindo a agressão armada entre eles. Contudo, a imprensa, a
literatura burguesa, as novelas, etc., contnuam difundindo semelhante cretnice para que os
trabalhadores e os pobres se matem entre si. E a célebre “cara que mamãe beijou”, contnua
funcionando como parte da ideologia social. É uma arma das classes dominantes desunir os
trabalhadores e os pobres. Se formos examinar caso a caso, fcaremos estarrecidos com a
quantdade de lixo social que a ideologia social representa (e apresenta). É uma força
poderosa exercida pela dominação para destruir os trabalhadores e os pobres.

A importânncia da luta ideológica torna-se evidente. Caso não nos livremos das ideias
correntes das classes dominantes – principalmente do lixo que elas não usam mais – jamais
iremos conseguir pensar por conta própria, entender o mundo de um modo dialétco ou
assimilar o materialismo histórico. Não se pode pensar como a burguesia e o latfúndio e
servir aos interesses do povo trabalhador. Este é o drama de inúmeros jovens que tomam o
caminho da polítca profssional. Cheios de boas intenções, mas odeiam o comunismo e o
materialismo histórico, mesmo sem “abrir a embalagem”, e ler um pouco... Já se perderam
para suas próprias intenções de bondade infantl. Diz Afanasyev:

“Importante manifestação da independência relatva da consciência social é a contnuidade no


desenvolvimento da ideologia. Ao criar sua ideologia, a nova classe não renuncia às conquistas do
pensamento humano do passado: adota-as e as coloca a seu serviço.”

“A contnuidade no desenvolvimento das ideias tem imensa importância para a vida social. Se os
homens não pudessem aproveitar as conquistas da cultura espiritual do passado teriam que começar
tudo de novo: descobrir as leis mais antgas, buscar os meios para construir as máquinas e
mecanismos necessários, etc. Graças à contnuidade isso não se dá. Livres do ttânico trabalho
executado pelas gerações anteriores, os homens podem contnuar a obra de seus antepassados,
desenvolver e aperfeiçoar suas descobertas e elevá-las a um grau ainda mais alto.”

A nova cultura pode se construir sobre a cultura pré-existente porque ambas são produto
da prátca social do povo. No entanto, a ideologia social das classes dominantes deve ser
descartada como velharia útl à dominação e colocar-se-á em seu lugar a psicologia social do
povo trabalhador. Diz Afanasyev:

729
“Qualquer manifestação de consciência social adquire, inevitavelmente, um caráter de classe. O
conjunto de opiniões polítcas, jurídicas, morais, artstcas e outras de uma determinada classe,
consttui sua ideologia.”

“Como explicar o caráter de classe da ideologia? O que leva cada classe a criar sua própria
ideologia, só a ela inerente? A explicação reside na posição desigual, ocupada por cada classe, numa
sociedade onde elas são antagônicas, cada uma com finalidades e tarefas sociais diferentes.
Mediante um determinado sistema de opiniões, cada classe expressa e fundamenta sua posição na
sociedade, defende seus interesses, procura alcançar os fins que persegue e resolver as tarefas
devidas. Assim sendo, a ideologia burguesa defende os interesses da burguesia e aspira fundamentar
a eternidade dos princípios da propriedade privada capitalista e a exploração. O proletariado, por
outro lado, tem como tarefa a derrota do capitalismo e a construção do socialismo e do comunismo,
a sociedade sem classes e exploração. Esse objetvo torna imprescindível a existência de uma
ideologia socialista, qualitatvamente nova.”

A ideologia do proletariado, portanto, expressão dos interesses da aliança operário-


camponesa, é uma ideologia nova, em processo de construção. Expressa não somente a
experiência histórica da caminhada da maioria das forças sociais em processo de libertação,
como os elementos racionais que permitem ver e materializar o futuro que se aproxima.

A ideologia do povo trabalhador – o marxismo-leninismo – é, portanto, uma ideologia que


está ainda em aberto, em processo de construção, mas não se interessa por nela incluir as
“crítcas”, e os “ensinamentos”, que a burguesia lhe dirige. Ela se nutre da prátca social do
partdo operário e das massas trabalhadoras. Pode-se perguntar se o caráter de classe da
ideologia proletária pode ser verdadeiro, com a “deformação da realidade”, que ela necessita
para defender os trabalhadores e os pobres. Não é verdade que a ideologia libertadora do
povo é “injusta”, com as classes dominantes? Sim, ela é. E deve ser. Não se pode permitr às
classes dominantes seguirem vivendo e lucrando de acordo com seus critérios e sua
ideologia dominante. Com a revolução socialista, o proletariado passa a ser a classe
dominante e isso – para a burguesia – é a ditadura do proletariado. Como nas sociedades
pré-socialistas, a ditadura da burguesia pode ser uma democracia burguesa, a ditadura do
proletariado no socialismo pode ser uma democracia dos trabalhadores. Diz Lênine:

730
“A burguesia não pode ser derrubada se o proletariado não se transforma em classe dominante
capaz de reprimir a resistência inevitável, desesperada, da burguesia, e de organizar todas as massas
trabalhadoras e exploradas para um novo regime econômico.”

“O proletariado tem necessidade do poder do Estado, de uma organização centralizada da força, de


uma organização da violência, tanto para reprimir a resistência de todos os exploradores como para
dirigir a grande massa da população – campesinato, pequena burguesia semiproletários – na
‘instalação’ da economia socialista.”

A crença de que as classes dominantes têm em seu Estado um organismo aberto, amplo,
capaz de ser “bonzinho”, para todas as classes é uma mentra que faz parte da ideologia
social da burguesia. Robespierre, um líder revolucionário burguês que queria um Estado igual
para todos teve logo seu pescoço cortado, a cabeça arrancada. A burguesia, como classe
minoritária, quer o Estado como aparelho para enganar, roubar e reprimir as demais classes.
Diz Lênine:

“O Estado é a organização especial de um poder; é a organização da violência destnada a esmagar


uma certa classe. Qual é então a classe que o proletariado deve esmagar? Evidentemente apenas as
classes dos exploradores, quer dizer a burguesia. Os trabalhadores só têm necessidade do Estado
para reprimir a resistência dos exploradores: ora, somente o proletariado pode dirigir esta repressão,
realizá-la pratcamente, enquanto única classe revolucionária até o fim, única classe capaz de unir
todos os trabalhadores e todos os explorados na luta contra a burguesia, a fim de expulsá-la
totalmente do poder.”

“O domínio da burguesia só pode ser derrubado pelo proletariado, classe distnta cujas condições
econômicas de existência preparam para esta derrubada, e à qual elas oferecem a possibilidade e a
força de realizá-la. Enquanto a burguesia fraciona e dissemina o campesinato e todas as camadas
pequeno-burgueses, ela agrupa, une e organiza o proletariado.”

5 – Conclusão.

Durante nossa aula 17, revisamos algumas teses e ideias sobre a formação da teoria
revolucionária materialista nos últmos dois séculos. Vimos algo da contribuição de Marx e
Engels para sua feição contemporânnea e como Lênine organizou o método marxista para a
luta do operariado e do povo em geral na época da burguesia monopolista e imperialista.

731
Pudemos também avançar um pouco mais no caráter da teoria dialétca do conhecimento,
desenvolvida para retrar o entendimento do mundo do campo da compreensão formal e
estátca, e intentar refetr a dialetcidade de tudo que existe.

Entendemos a importânncia do materialismo histórico como método geral das ciências


sociais, para o desenvolvimento da consciência social e para a criação da nova ideologia – o
marxismo-leninismo – do povo trabalhador. O entendimento do processo revolucionário e o
papel criador das massas populares se torna mais acessível entendendo-se o lugar do
materialismo histórico.

Perguntas.

1 – Que entende por consciência social?

2 – O que é a teoria revolucionária materialista?

3 – Que entende por marxismo-leninismo?

4 – O que é povo?

5 – Que se pode defnir como materialismo dialétco?

6 – Que se pode defnir como materialismo histórico?

7 – Que é processo revolucionário?

8 – Cite as classes e camadas que consttuem o povo numa sociedade socialista.

9 – Cite as classes e camadas que consttuem hoje o povo no Brasil.

10 – Tente uma defnição para classe revolucionária.

732
Aula 18

733
18 – O Partdo Comunista.

O encontro dos camaradas Marx e Engels em Paris, no ano de 1844, consolida a tese de
Hegel e de Goethe de que a criação da nova sociedade passava pela ascensão polítca e
social da massa trabalhadora, partcularmente seu núcleo fabril. Nos anos 1838-1844
conheciam crescentes organizações de artesãos e operários um processo rudimentar de
elaboração de propostas socialistas, que foram se sofstcando sob a infuência das teorias
elaboradas pelos socialistas utópicos de então. Engels defendeu para Marx que só a classe
operária, como força dirigente da organização popular, poderia conduzir à conquista do
poder, e à criação de uma sociedade socialista. Esta ideia foi desde então desenvolvida por
ambos, até a maturidade do texto do Manifesto Comunista, completado em novembro-
dezembro de 1847. A organização socialista utópica “Liga dos Justos”, foi então transformada
- sob a secretaria de Marx e Engels – no embrião do movimento comunista internacional. O
jogo dialétco entre o desenvolvimento da teoria do socialismo pelos flósofos e a prátca
revolucionária crescente das massas trabalhadoras materializa a “centelha”, de que falou
Lênine, pondo-se a nova doutrina no movimento efetvo do mundo. Dizem Marx e Engels:

“O proletariado utlizará sua supremacia polítca para arrancar pouco a pouco todo capital à
burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do
proletariado organizado em classe dominante, e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total
das forças produtvas.”

“Isto naturalmente só poderá realizar-se, a princípio por uma violação despótca do direito de
propriedade e das relações de produção burguesas, isto é, pela aplicação de medidas que, do ponto

734
de vista econômico, parecerão insuficientes e insustentáveis, mas que no desenrolar do movimento
ultrapassarão a si mesmas e serão indispensáveis para transformar radicalmente todo o modo de
produção.”

Vê-se claramente que o partdo comunista, o partdo operário, é concebido por Marx e
Engels como um instrumento de classe explorada para eliminar organizatvamente a classe
dominante e construir a partr daí uma sociedade nova, um mundo diferente do mundo da
exploração. Esta descoberta da mudança como necessidade social era até então inédita, nos
termos em que foi colocada. O partdo operário como instrumento de mobilização, educação
e organização de um novo poder e de uma nova sociedade. Explica Lênine:

“Em sua primeira fase, em seu primeiro grau, o comunismo ainda não pode, do ponto de vista
econômico, estar completamente maduro, completamente livre das tradições ou dos vestgios do
capitalismo. Daí este fenômeno interessante que é a manutenção do ‘horizonte estreito do direito
burguês’ no regime comunista em sua primeira fase. Naturalmente, o direito burguês, no que diz
respeito à repartção dos objetos de consumo, supõe necessariamente um Estado burguês, porque o
direito nada é sem um aparelho capaz de constranger à observação de suas regras do direito.”

1 – Fusão do Socialismo Cientfco com o Movimento Operário e Trabalhador.

Na verdade, entre 1815, com a queda de Napoleão e o Congresso de Viena, cria-se na


Europa o “Estado restaurador”,, instrumento das forças feudais decadentes, sob a
manipulação da Grã-Bretanha, para impedir a manutenção ou a eventual ampliação dos
direitos democrátcos para os trabalhadores e o povo em geral. Como uma reação natural a
semelhantes manobras reacionárias, o movimento intelectual progressista moveu-se mais
para a esquerda, desenvolvendo-se as teorias da democracia revolucionária e da democracia
popular. O movimento operário e artesanal cresceu contnuamente (1821-1860), avançando
sob as diferentes formas em defesa dos direitos do trabalhador, de uma sociedade mais
democrátca e da elaboração de teorias e prátcas libertárias e socialistas. A burguesia, aliada
à aristocracia decadente, usava o exército para massacrar as lutas dos trabalhadores.

Neste contexto de crescimento das lutas democrátcas é que se desenvolve a teoria da


revolução na militânncia dos jovens Marx e Engels. Deram-se as revoluções democrátcas de
1830 e 1848, logo, a guerra civil nos EUA, que pôs fm à escravidão naquele país (1860-1865).

735
A estes acontecimentos, acrescentou-se a derrota de Napoleão III na guerra contra a Prússia
(1870) e a formação da Comuna de Paris, fato fundador – na prátca – do poder operário.
Todas estas lutas levam ao amadurecimento polítco e ideológico do movimento operário,
aos começos da aliança operário-camponesa como elemento consciente, e a formação da
doutrina comunista como um fato de ciência social. Os cinco congressos gerais da Primeira
Internacional (1866-1872) expressaram as lutas das diferentes concepções de socialismo e a
passagem generalizada do debate teórico para o campo da luta organizatva das forças mais
consequentes. A massa do proletariado tomou ampla consciência do caráter explorador das
relações de trabalho e tendeu a alinhar-se na luta sob as bandeiras do marxismo
revolucionário. O marxismo se consolidou, difundiu-se a todos os países da Europa e
alcançou também a classe operária nos EUA (1880-1900). Depois da luta do movimento
“Vontade do Povo”,, que tentou abater o czarismo (1870-1890), penetrou na Rússia o
movimento marxista, sob a liderança de Plekhanov, que criou a organização polítca
“Emancipação do Trabalho”, (1890-1905). Deu-se assim a luta teórica contra o populismo
russo e a formação de grupos marxistas em diferentes pontos da Rússia. Os “projetos de
programa”, (1884; 1887) de Plekhanov serviram de base para a formação do partdo operário
social democrata russo (POSDR) (1890-1917), que mais tarde se dividiria em duas estruturas,
embora ofcialmente permanecesse um só (bolcheviques e mencheviques).

Portanto, entre 1850 e 1900, criou-se um amplo movimento internacional, em que ocorreu
a fusão da teoria do socialismo científco, desenvolvida por Marx e Engels, e o movimento
efetvo dos operários e trabalhadores nos principais países industriais do mundo de então. A
doutrina do comunismo estava reconstruída e a burguesia havia perdido o monopólio do
discurso polítco e da interpretação do mundo. Diz Kuusinen:

“As relações de produção do capitalismo abriram amplas possibilidades para o desenvolvimento das
forças produtvas. Surge e cresce, a ritmos rápidos, a grande produção mecânica, baseada na
utlização de forças tão poderosas da natureza, como o vapor e, em seguida, a eletricidade, e na
ampla aplicação da ciência ao processo de produção. O capitalismo levou a efeito a divisão do
trabalho não somente dentro de países isolados, mas também entre os países, criando, com isto, o
mercado mundial, e, em seguida, o sistema mundial de economia.”

Junto com o movimento de internacionalização das forças produtvas e o surgimento de um


mercado mundial de “mão dupla”, (vai e vem de mercadorias), a classe trabalhadora e suas

736
percepções também se tornaram internacionais, travando-se a luta pelo socialismo não mais
em meia dúzia de países, mas em escala mundial. O problema do desenvolvimento da
democracia deixou de ser um “problema”, exclusivo da burguesia. Diz Kuusinen:

“No fundamento do modo socialista de produção se encontra a propriedade social dos meios de
produção. Daí porque as relações e produção da sociedade socialista são relações de colaboração e
de ajuda mútua entre trabalhadores livres de exploração. Tais relações correspondem ao caráter das
forças produtvas: o caráter social da produção é reforçado pela propriedade social dos meios de
produção.”

Com o desenvolvimento do capital fnanceiro (1870-1918), a burguesia entra em luta


intestna pelo controle mundial de matérias primas e mercadorias, desenvolvendo como
nunca as forças armadas e os meios de matança. É uma forma também de combater a
revolução social em todas as partes: diz Lênine:

“A burocracia e o exército permanente são “parasitas” sobre o corpo da sociedade burguesa,


parasitas engendradas pelas contradições internas que dilaceram esta sociedade, mas, mais
exatamente parasitas que “tapam” seus poros vitais.”

Lênine chama a atenção para a necessidade de preservar em escala mundial e desenvolver


as formas democrátcas, preenchendo-as com o conteúdo novo da partcipação operária e
popular:

“A democracia tem uma importância considerável na luta que a classe operária trava contra os
capitalistas para sua libertação. Mas a democracia não é de forma alguma um limite que não se
poderia ultrapassar; ela não passa de uma etapa no caminho que leva do feudalismo ao capitalismo
e do capitalismo ao comunismo.”

O materialismo científco permitu o conhecimento dos traços essenciais que caracterizam o


sistema de poder em nossa época histórica, afastando as formulações enganadoras e mítcas
que apresentam a sociedade e suas transformações como uma escalada incessante rumo ao
bem e a riqueza absoluta. O materialismo indicou que as transformações na sociedade e no
meio onde ela se encontra pode ser benigna ou maligna, de acordo com qual seja a classe
dominante, a classe que comanda a vida polítca e social. Até o advento do socialismo, todas
as classes dominantes foram classes minoritárias, que têm desprezado a maioria da
população e cuidado apenas de seus interesses mesquinhos. A aliança operário-camponesa

737
permite pela primeira vez na História a presença de umas classes dominantes que cuidam do
interesse da maioria, com seus conselhos (comitês) de governo. Tal é uma experiência única,
e não uma democracia de ricos para ricos. Diz Lênine:

“A democracia é uma forma de Estado, uma de suas variedades. É, portanto, como todo Estado, a
aplicação organizada, sistemátca de coerção aos homens. Isto, por um lado; mas, por outro lado, ela
significa o reconhecimento oficial da igualdade entre os cidadãos, do direito igual para todos de
determinar a forma do Estado e de administrá-lo. Segue-se, pois, que, a um certo grau do seu
desenvolvimento a democracia de início une o proletariado, a classe revolucionária antcapitalista, e
lhe permite quebrar, reduzir a migalhas, fazer desaparecer da face da terra a máquina estatal
burguesa, seja burguesia republicana, exército permanente, polícia, burocracia, e... substtuí-la por
uma máquina estatal mais democrátca (... mas que nem por isso deixa de ser uma máquina do
Estado), sob a forma das massas operárias armadas e depois por todo o povo, partcipando
maciçamente das milícias.”

Não se trata, pois, de enganar as massas e acreditar que as formas democrátcas asseguram
sempre uma sociedade melhor, mas de deixar-se convencer à luta das massas populares,
armadas com a doutrina e a experiência histórica do socialismo, transformando tal
experiência acumulada à luz da sua própria prátca. Pode, sim, construir uma sociedade
melhor. A superioridade da doutrina socialista em comparação ao liberalismo é tão evidente
que os “liberais”, não permitem a legalidade do partdo operário, o livre debate de ideias,
etc., lançando mão da perseguição no trabalho e na vida social, lançando mão da polícia
capitalista para reprimir o movimento socialista e trabalhador. Diz Kuusinen:

“O partdo comunista é a vanguarda da classe operária, isto é, a sua parte avançada, consciente,
capaz de conduzir consigo as amplas massas trabalhadoras para luta pela derrubada do capitalismo
e a edificação do socialismo. Escreveu Lenine: ‘Educando o partdo operário, o marxismo educa a
vanguarda do proletariado, capaz de tomar o poder e conduzir todo o povo ao socialismo, de orientar
e organizar o novo regime, de ser o mestre, o dirigente, o chefe de todos os trabalhadores e
explorados’.”

Ou seja, caso o poder capitalista não usasse de violência contra o partdo operário, então o
avanço polítco das massas populares e o entendimento por ela de seu papel, seriam em
breve obtdos. Por isso, os capitalistas e seus sequazes lançam mão de todos os meios –
mentra, calúnia, prisão, tortura, assassínios, etc., - para iludir e enganar as massas do povo.

738
Os “teóricos”, da burguesia chegam a condenar o marxismo por desejar “salvar toda a
humanidade”,, o que seria impossível, classifcando-o de “doutrina judaica”, e de
“degeneração do cristanismo”,... Ou seja, na difculdade para vencer o debate, partem para
desclassifcar o inimigo... Não conseguem elaborar sequer uma teoria sobre o Estado que
corresponda em algum grau à observação histórica. Diz Lênine:

“O Estado é o produto e a manifestação do fato de que as contradições de classe são inconciliáveis.


O Estado surge, no momento e na medida em que, objetvamente, as contradições de classe não
podem conciliar-se. E inversamente: a existência do Estado prova que as contradições de classes são
inconciliáveis.”

“Segundo Marx, o Estado é um organismo de dominação de classe, um organismo de opressão de


uma classe por outra; é a criação de uma ‘ordem’ que legaliza e fortalece esta opressão diminuindo o
confito das classes. Segundo a opinião dos polítcos pequeno-burgueses, a ordem é precisamente a
conciliação das classes, e não a opressão de uma classe por outra; moderar o confito é conciliar e
não retrar certos meios e processos de combate às classes oprimidas em luta pela derrubada dos
opressores.”

O que opõem os “ideólogos”, da burguesia a tal afrmação curta e correta? Dizem que o
Estado – partcularmente o capitalista - está a serviço de todos, e não apenas a serviço do
capital; que o Estado protege os “mais fracos”,; que o Estado protege a sociedade contra os
extremistas, etc. Será que tais “ideólogos”, retram semelhantes patranhas da observação
histórica? Sua ideologia seria motvo de riso, caso não fosse imposta a todos na sociedade...
Semelhantes bobagens são “ensinadas”, até na universidade a serviço do capital... O Estado,
na verdade, é um produto da luta de classes. Diz Lênine:

“É antes um produto da sociedade quando esta chega a um determinado grau de desenvolvimento;


é a confissão de que essa sociedade se enredou numa irremediável contradição com ela própria e
está dividida por antagonismos irreconciliáveis que não consegue conjurar. Mas, para que esses
antagonismos, essas classes com interesses econômicos colidentes não se devorem e não consumam
a sociedade numa luta estéril, faz-se necessário um poder colocado aparentemente por cima da
sociedade, chamando a amortecer o choque e mantê-lo dentro dos limites da ‘ordem’. Este poder,
nascido da sociedade, mas posto acima dela e dela se distanciando cada vez mais é o Estado.”

A fusão do socialismo científco com o movimento operário e trabalhador se manifesta na


superioridade de formulação racional dos conceitos para a vida de classe, tanto na sociedade

739
capitalista como na sociedade socialista, da ideologia socialista. A ideologia socialista é pura
e cristalina, ao contrário da colcha de retalhos de (a) interesses ocultos e (b) explicações
mítcas e irracionais, que consttuem o tecido da ideologia do capital. Vejamos um exemplo, a
questão do patriotsmo.

Tão logo a burguesia derrotou a classe feudal, abandonou desta o conceito de


“universalização”,, implantando em seu lugar o “patriotsmo nacional chauvinista burguês”,.
Em que consista o “patriotsmo”, do burguês? Como explicaram todos os pensadores
socialistas, em cercar um curral, que chamaram de “nação”, e prender ali mão de obra,
matérias primas, etc., para assegurar à burguesia território para suas fábricas, força de
trabalho “doméstca”,, isto é, barata, etc. Ou seja: cada burguesia criou para si um mercado e
ali aprisionou recursos e trabalhadores, que passaram a ser “seus”,. Por que a burguesia agiu
assim? Porque não tnha força para tomar tudo para si.

No entanto, tão logo as burguesias foram se tornando ricas (1849-1914) e surgiu o capital
fnanceiro, cada uma delas achou que podia saquear impunemente as suas vizinhas.
Tornaram-se então, como antes era a aristocracia, “cosmopolitas”,, partdárias da
“universalização”,, que agora chamam de “internacionalização”,, movimento para “unifcação”,
do mundo, etc. E quanto aos trabalhadores da burguesia, os “seus”, trabalhadores? Ora, estes
não devem envolver-se com internacionalismos, são assuntos complexos, não para o “bico”,
de operários e camponeses. Eles “devem”, contnuar patriotas burgueses, ou seja: franceses,
ingleses, alemães, portugueses, etc. Mas por que? Porque contnuam sendo “carne-de-
canhão”, para os eventuais “assuntos guerreiros”, entre as burguesias daqui e dali, entre elas
é claro, nas colônias ou “desgraçadamente”,, em guerras centrais – 1ª e 2ª guerras mundiais.

Ou seja, os burgueses podem “brincar”, de cosmopolitas, os pobres e operários, não. Marx é


óbvio, chamou a atenção de que o operário – e o camponês lúcido – não devem nenhum
“patriotsmo”, à burguesia. No mesmo momento em que a burguesia se prepara para tomar o
poder de vez – eliminando “idas”, e “vindas”, – a revolução de 1848, Marx adverte os
trabalhadores de que não devem sangrar por ela em defesa de “seus”, currais nacionais:

“Os operários não têm pátria. Não se lhes pode trar aquilo que não possuem. Como, porém, o
proletariado tem por objetvo conquistar o poder polítco e erigirem-se em classes dirigentes da

740
nação, torna-se ele mesmo a nação, ele é, nessa medida, nacional, embora de nenhum modo no
sentdo burguês da palavra.”

“As demarcações e os antagonismos nacionais entre os povos desaparecem cada vez mais com o
desenvolvimento da burguesia, com a liberdade do comércio e o mercado mundial, com a
uniformidade da produção industrial e as condições de existência que lhes correspondam.”

“A supremacia do proletariado fará com que tais demarcações e antagonismos desapareçam ainda
mais depressa. A ação comum do proletariado, pelo menos nos países civilizados, é uma das
primeiras condições para a sua emancipação.”

Ou seja, se o operário passa a ler “nação”, como “nação operária”, e não “nação burguesa”,, o
elemento irracional – servir à nação daquele que o escraviza – vê-se eliminado. De maneira
semelhante, é irracional os operários matarem-se entre si – como fzeram na primeira guerra
mundial – para as “suas”, burguesias ganharem dinheiro, vendendo armamentos e
“congelando salários”,. O Estado operário deve ser solidário com outro Estado operário. Diz
Lênine:

“... o internacionalismo proletário exige que, em primeiro lugar, os interesses da luta proletária em
um país se subordinem aos interesses da luta proletária em escala mundial e, em segundo lugar,
qualquer nação que esteja a alcançar a vitória sobre a burguesia seja capaz e desejosa de realizar o
sacrifcio dos interesses nacionais em benefcio da derrota do capitalismo internacional.”

Portanto, os partdos operários não podem ser inimigos entre si, somente para agradar às
“suas”, burguesias:

“A unidade dos partdos marxistas-leninistas é a expressão suprema da unidade e solidariedade da


classe operária de todos os países. Esta unidade tem uma base objetva, e esta base é a comunidade
de interesses de classe do proletariado, de todos os trabalhadores, independentemente do país em
que vivam e da nacionalidade a que pertençam. O movimento comunista internacional é a forma
superior em que se manifesta tal comunidade. A unidade de suas fileiras está cimentada pelo objetvo
comum da classe operária: o triunfo do comunismo existe, ademais, uma unidade espiritual: sua
ideologia comum: o marxismo-leninismo. Por distntas que sejam as condições em que travam sua
luta, os comunistas têm um inimigo comum: o imperialismo internacional.”

Mas a burguesia de cada país – partcularmente centrais – “fnge”, que é patriota, quando
defende apenas o seu lucro comercial ou neocolonial. Daquele lucro, nada ou muito pouco

741
será cedido aos trabalhadores. Por isso, os trabalhadores devem estar prontos a “morrer por
ela”,... trata-se de um chamamento cínico, que manipula elementos mítcos (por exemplo, o
patriotsmo burguês) quando todo trabalhador consciente está farto de saber que o
patriotsmo da burguesia é acumulação de lucros – que ela gasta onde quiser – e exploração
de pobres, que ela explora onde os encontram

2 – A Crítca de Marx à Ideologia Burguesa.

Tão logo a ideologia burguesa conseguiu triunfar sobre as velhas ideias da sociedade
anterior, iniciou suas manobras para delas preservar na vida social tudo que possuíam de
pior. Isso, para a dominação da burguesia, tornava a “vida mais fácil”, em dois planos: (1) as
ideias da burguesia podiam apresentar-se “perpetuamente”, como avançadas e (2) o atraso
preservado podia contribuir para manter a maioria da humanidade mergulhada nas trevas,
enquanto que a burguesia apresentava ao mesmo tempo semelhante “tolerânncia”, como
prova de seu caráter magnânnimo, seu espírito de “cooperação”, e “respeito”, ao passado, etc.
Semelhantes macacadas fzeram uma primeira vítma, a escola básica obrigatória e o ensino
pedagógico, cujo nível tornou-se tão eclétco e obscurantsta que não serve de muita coisa.

O maior esforço teórico dos “intelectuais”, burgueses é assim dirigido para dividir o
“conhecimento”, em dois campos: (a) um mantdo sob manobras esotéricas para produzir o
lucro e o desfrute das classes dominantes e (b) outro num amálgama de sandices e teorias
eclétcas que são difundidas para as massas de forma apologétca como o que “há de
melhor”,m

Esta vocação para a estupidez e a imbecilidade empoada, para o autoelogio que


desconsidera o mundo real, já havia sido observado por Marx e Engels, que denunciaram tais
traços, inúmeras vezes.

Resumindo aqui os comentários ao campo da análise social, pode-se comentar, por


exemplo, a análise que Marx faz no livro A Teoria da Mais-Valia. Vê-se ali que a fraqueza

742
daqueles “teóricos”,, como J.B. Say, se expressa em meter os pés pelas mãos, listando desejos
de classe como fatos observáveis, tais como o “equilíbrio entre oferta e a procura”,, o “fato”,
de a oferta criar sua procura, o mercado como fonte de equilíbrio e outras bobagens. Embora
as “teorias”, e as “observações”, desses extraordinários míopes-de-classe não resistrem à
menor análise, eles as veem consagradas pela literatura “científca”,, pelo jornalismo de
ocasião, pelo caráter de classe das universidades e outras insttuições de ensino, etc. A
burguesia consegue transformar o conhecimento – sobretudo quando se trata de difundi-lo –
numa massa opaca e confusa de informações desprovida de método, verdadeiro “gigante de
pés de barro”,m

Uma importante fonte da desorientação da burguesia na produção das ideias é – aponta


Marx – o abandono pelos elaboradores teóricos dessa classe da gênese histórica de cada
ideia, a ignorânncia – muitas vezes deliberada – do contexto onde os problemas surgem e
geram grandes ideias postas em prátca na sociedade. Para fazer uma ideia classifcar-se
desde seu meio de produção é necessário retfcar-lhe as noções, carregadas de passadismo
e preconceitos, que expressam sua cultura de classe, partcularmente de classe exploradora.
As determinações do processo de dominação contaminam de tal forma a produção e a
distribuição social das ideias que difcilmente elas podem manter-se como produto de um
método diretor e único. Dessa forma, a desorganização, o utlitarismo e o preconceito de
classe minam toda a produção do pensamento burguês, determinado pelo imediatsmo de
suas formulações e o interesse de classe exploradora. O autoelogio, o esmurrar de portas
abertas, se torna a sua marca. Lênine havia comentado:

“Não estamos vivendo num Estado simplesmente, mas num sistema de Estados; e é inconcebível que
a república soviétca contnue a existr por muito tempo, lado a lado com os imperialistas. No final,
um ou outro será vencedor. Entrementes, um grande número de terríveis embates entre a República
Soviétca e os Estados burgueses será inevitável.”

Nas condições da formação de Estados proletários e diante das possibilidades de todo um


campo socialista, a produção de ideias, os meios científcos da burguesia, se tornam ainda
mais exacerbadamente utlitaristas, concentrando em produção de meios de guerra, e
capazes de falsear de todas as formas os problemas mais conhecidos da vida social –
problemas sociopolítcos – em ódio puro de classe. Assim, ao lado da “primeira vítma”,, que
foi a transmissão pacífca e progressista da educação para a ciência, vê-se formar uma

743
“segunda vítma”,, com a distorção sistemátca de qualquer verdade, posta a operar pelos
meios de radiodifusão, imprensa, etc., de um suposto “perigo vermelho”, no altar da
chamada “guerra fria”,. A segunda vítma é a opinião pública internacional, bombardeada
pela mentra e pelas distorções “informatvas”, a serviço da dominação do capital. Pode-se
dizer que uma das principais ocupações da “ciência burguesa”, hoje é produzir um tpo de
conhecimento que seja antmarxista.

O esforço dos “ideólogos”, burgueses, por exemplo, para a naturalização do domínio


burguês e de suas aberrações, consome grande parte do tempo de sua produção teórica.
Para eles, a sociedade do capital sempre existu, a miséria não decorre da exploração, mas de
pessoas estúpidas; não existe exploração social, etc. O rol de besteiras que apresentam como
coisas naturais, próprias da natureza humana, “apesar de”, uma burguesia generosa, etc.,
pratcamente não tem fm. Essa cantlena fascista generalizou-se e é agora o meio próprio de
todo o pensamento dito “liberal”, (“partdário da liberdade”,m). Outro grande esforço é
dedicado a provar que a liberdade é uma “escolha individual”, e não o resultado da solução
de necessidades sociais. Ensina Ho Chi Minh, reportando-se à luta na Indochina:

“Não sejamos subjetvistas subestmando o inimigo. Pelo contrário sejamos sempre clarividentes,
estejamos sempre atentos e prontos a aniquilar todas as atvidades. Nós podemos, contudo, afirmar
que as suas atvidades são mais prova da sua fraqueza do que da sua força. Receia a nossa polítca de
resistência prolongada e o movimento da paz no mundo. Para aniquilar as suas maquinações,
devemos impulsionar vigorosamente a resistência. Para aniquilar as suas maquinações, devemos
impulsionar vigorosamente a resistência. Para isso devemos realizar a reforma agrária.”

Uma vez que os “ideólogos”, da burguesia querem triunfar no “plano das ideias”, para
impedir à maioria do povo qualquer programa crítco que venha a alterar a ordem “natural”,
capitalista, Ho Chi Minh destaca a importânncia da prátca social, que rejeita tanto as falsas
“interpretações”, da dominação, quanto a “naturalidade”, da ordem estabelecida: façamos a
reforma agrária. A transformação do objeto real, no caso as relações agrárias, faz ruir por
terra a “interpretação”, errada que a dominação estabelecida está a oferecer na situação.

Embora as ideias da dominação sejam superfciais e erradas em seu fundamento, elas são
assim porque expressam mais uma classe minoritária – a burguesia – que logrou chegar ao
poder e que, por um lado, (1) à fascistzação das ideias das classes dominantes (total ruptura

744
com o real) e (2) ao surgimento e consolidação de novas ideias no campo dos trabalhadores.
Daí a importânncia de os trabalhadores e o movimento popular em levar à prátca, suas ideias
revolucionárias, empurrando para o lixo da História toda a ideologização.

Por exemplo, o nazifascismo italiano e alemão correspondia à ditadura aberta e terrorista


dos grandes monopólios, que escolheu – por necessidade histórica – impor a toda sociedade,
por meio da violência, a sua ideologia extremamente falsa quanto à realidade do mundo.
Qual a solução para suas vítmas? É evidente que no plano do debate, no plano da lógica,
não poderiam convencer o poder fascista do acerto de outras teorias ou ideologias. Só
restava derrotar os fascistas pela luta armada e, a partr dessa mudança na realidade,
promover a desfascistzação das sociedades ideologicamente dominados por ele. Diz
Kuusinen:

“Assim ocorreu precisamente nas revoluções democrátco-populares dos países da Europa central e
oriental. A luta contra as sobrevivências do feudalismo não teve, ali, significado independente nem
determinou o caráter da revolução. O gume da revolução foi dirigido contra o imperialismo
estrangeiro e a grande burguesia e os latfundiários natvos, que se haviam associado àquele. Isto
conferiu à revolução, desde o início, um novo caráter, criou possibilidades partcularmente favoráveis
para a sua transformação em revolução socialista. Por isso, em alguns países pode-se observar
claramente a substtuição da etapa democrátca pela etapa socialista, enquanto que em outros
países não houve tal separação nítda: em uns países, o desenvolvimento para o socialismo ocorreu
de maneira mais suave e encontrou menos resistência, em outros foi acompanhado de brusco
aguçamento na luta de classes. Mas, ao mesmo tempo, manifestaram-se plenamente as leis gerais de
transformação da revolução, descobertas pelo marxismo-leninismo.”

“Nos países europeus de democracia popular, na primeira etapa, surgiu o poder democrátco do
povo, dirigido contra o fascismo e os traidores nacionais, que se encontravam entre a grande
burguesia, os latfundiários e o alto clero. A força dirigente do poder popular era a classe operária.”

“O poder popular, em primeiro lugar, liquidou até o fim as consequências do regime de ocupação
hitlerista e destruiu o domínio polítco dos servidores do invasor – os latfundiários e a burguesia
monopolista – completando a libertação desses países do jugo do imperialismo, assegurando a
independência nacional e realizando amplas transformações democrátcas. Em segundo lugar, o
poder popular liquidou os vestgios do feudalismo que se conservam em vários países e afetou a
reforma agrária democrátca, em consequência da qual foi eliminada a classe dos latfundiários e a
situação dos camponeses trabalhadores melhorou consideravelmente.”

745
Ou seja, é impossível separar o processo de produção de ideias da luta ideológica. É
impossível separar a luta ideológica da solução dos problemas materiais da sociedade. As
classes dominantes querem que tudo permaneça como esteja, e o povo trabalhador quer
que quase tudo mude. Daí que a ideologia da dominação e a ideologia da revolução se
choquem. Elas não podem ver o mundo da mesma maneira. Diz Kuusinen:

“Uma vez solucionadas as tarefas democrátcas, a classe operária e os partdos comunistas


orientaram-se para a transição da etapa democrátca à etapa socialista da revolução. Essa transição
foi facilitada pelo fato de que, naqueles países, havia partdos comunistas fortes e temperados numa
luta clandestna de muitos anos. A revolução nos países europeus de democracia popular decorreu
ininterruptamente, as etapas democrátcas e socialistas consttuíram duas fases de um só processo
revolucionário, dirigido em toda a sua extensão pela classe operária.”

“Partcularmente característca da transformação foi o fato de que aqui não se verificou um


reagrupamento radical das forças de classes. A maioria esmagadora daqueles que marcharam juntos
com a classe operária na etapa democrátca da revolução – a maioria dos camponeses, as camadas
urbanas, parte considerável da intelectualidade e, em alguns países, até mesmo, certas camadas da
burguesia – apoiaram a polítca orientada no sentdo da construção do socialismo. Não foram
necessárias medidas polítcas como a neutralização das camadas médias dos camponeses. Em
relação com isso, a passagem da etapa democrátca à socialista nos países europeus de democracia
popular decorreu, no fundamental, por via pacífica, sem insurreição armada nem guerra civil.”

“Isto não significa que, nas fileiras do bloco democrátco, não houvesse contradições. Sendo o bloco
composto de forças de classe heterogêneas, era de esperar que, depois da solução das tarefas
democrátcas gerais, se acirrassem as contradições de classe. Com efeito, o desenvolvimento da
revolução da primeira para a segunda etapa não se deu através de um processo tranquilo e suave,
mas no curso de choques de classe que, em alguns países (Tchecoslováquia, 1948), assumiram
momentaneamente um caráter agudo.”

“Os líderes da extrema direita da social-democracia e os representantes reacionários dos partdos


burgueses tentaram mais de uma vez deter o desenvolvimento da revolução e organizar golpes
contrarrevolucionários, com o apoio da reação internacional. Seu objetvo era afastar a classe da
direção do bloco democrátco e orientar o desenvolvimento por um caminho democrátco-burguês.
Todavia, os elementos de direita foram varridos pelo povo revolucionário, e a passagem da etapa
socialista, nos países da Europa central e sul-oriental, foi coroada de pleno êxito.”

746
Não só as ideologias polítcas das diferentes classes, então ou agora, entram em choque,
como a ideologia social do povo trabalhador – alicerçada nos valores do trabalho – deve
substtuir a ideologia social dos exploradores, fundamentada na vida do “bem-bom”, e que
despreza os valores do trabalho, sugando na sociedade a mais-valia da maioria.

É, portanto, certa a crítca de Marx à ideologia burguesa. Esta esquece da historidade de


toda ideia e desenvolve o seu sistema de pensamento fora do processo do mundo real,
atribuindo-lhe as virtudes da eternidade e da naturalidade, só faltando aqui a bênção de um
deus. Suas ideias assumem assim, o caráter de um ópio, com o qual deseja sujeitar toda a
humanidade repetndo à exaustão o seu refrão social. Quando o mundo da dominação
burguesa sofre rupturas, esta classe exploradora lança mão da guerra e de massacres para
restabelecer a “normalidade”, - ou “naturalidade”,. Veja-se em nossos dias o Congo e o
Vietnam. Não nos esqueçamos que o Congo é o país mais rico do planeta em recursos
naturais por metro quadrado. E com sua falsidade ideológica, a burguesia atribui à revolução
social o fato de avançar através de guerras. Diz Kuusinen:

“A guerra não é a fonte, nem a condição necessária das revoluções. Isto é demonstrado, em
partcular, pela experiência das revoluções de libertação nacional dos últmos tempos. Anteriormente,
tais revoluções, em regra geral, só podiam ter êxito numa situação de crise e de confusão causada
pela guerra imperialista. Agora conhecemos exemplos de revoluções democrátcas vitoriosas em
tempo de paz, como a revolução de julho no Iraque (1958) e a insurreição popular em Cuba (1959).”

“O marxismo-leninismo ensina que a revolução proletária é a consequência de um extremo


aguçamento das contradições sociais e polítcas. Entretanto, como já dissemos antes, na época atual,
semelhante aguçamento se tornou um estado crônico na maioria dos países do capitalismo
contemporâneo, que sofre profundíssima crise geral.”

“Nestas condições, para que as contradições internas do capitalismo se manifestem com enorme
força não é necessário esperar as guerras ou quaisquer impulsos exteriores. Com o alto grau de
consciência e organização que atngiu em nossa época o movimento operário revolucionário, com a
existência de condições internacionais favoráveis, a explosão revolucionária pode ocorrer também
como resultado dos processos que se desenvolvem na vida econômica e polítca dos países
capitalistas.”

747
“O crescente enfraquecimento interno do capitalismo é a causa decisiva e inevitável de que os
trabalhadores, encontrando-se sob o jugo do capital, possam esperar novos e novos êxitos no
grandioso movimento por sua emancipação social.”

A guerra é um confito de classes de grande extensão, desencadeado em geral – em nossa


época – como resultado da ambição sem limite das classes dominantes, tentando tomar o
que “pertence”, a outros, ou resultado da hiper-exploração dos pobres e trabalhadores. A
dominação burguesa, e partcularmente de seus monopólios, é a causa próxima de toda
guerra no mundo contemporânneo. Mas não faltam “vítmas”, locais para que a burguesia
apresente na imprensa como o “causador”, da guerra. E assim, o regime burguês fabrica as
suas verdades.

Explica Kuusinen como se dá a revolução:

“Toda revolução digna de ser chamada assim é a ação de amplas massas populares, que se erguem
numa luta sem tréguas, plenamente decididas a modificar a ordem social e as condições de sua
existência. Mas, quando se trata da luta de classes e povos inteiros, seria ingênuo pensar que se pode
levá-los à ação pelo capricho de quem quer que seja. Os povos e as classes erguem-se à luta sob a
infuência de motvos profundos, que tem origem nas condições objetvas de sua vida.”

“O leninismo elaborou os critérios gerais para julgar se as condições para a revolução estão
maduras, se a situação objetva propicia a luta das massas pelo poder. Na linguagem polítca, tal
situação favorável denomina-se situação revolucionária.”

“Lênine indicava que a situação revolucionária se caracteriza por três indícios principais: ‘1) A
impossibilidade, para as classes dominantes, de conservar seu domínio sob a forma de antes; uma
crise na ‘cúpula’, crise de polítca da classe dominante, com a qual se abre uma fenda por onde se
infiltram o descontentamento e a indignação das classes oprimidas. Para que ocorra a revolução não
é suficiente, em geral, que ‘os de baixo não queiram viver como antes’, mas é preciso também que ‘os
de cima não possam viver como antes’. 2) Um agravamento acima do comum das privações e males
que afetam as classes oprimidas. 3) Uma elevação considerável, por força das causas indicadas, da
atvidade das massas, que em um período ‘pacífico’ se deixam explorar passivamente, mas que, em
tempos tempestuosos, são atraídas, tanto pela situação de crise como pela própria ‘cúpula’, a uma
ação histórica independente.”

748
“Sem estas modificações objetvas, independentes da vontade tanto de grupos e partdos como de
uma outra classe, a revolução – em regra geral – é impossível. O conjunto destas mudanças é o que
se denomina situação revolucionária.”

“Partcularmente importante é a observação de Lênine no sentdo de que, para chegar a uma


situação revolucionária, não basta que as massas estejam descontentes e indignadas. Além disso,
para que haja a revolução é necessário que as classes dominantes não possam viver e governar como
antes. Em outras palavras, a revolução é impossível sem uma crise que abarque toda a nação, isto é,
tanto os ‘de baixo’ como os ‘de cima’. Disto se conclui que o partdo revolucionário da classe operária
não pode construir sua tátca partndo apenas do estado de espírito das massas; deve ter em conta
também a conduta das classes dominantes.”

“A situação revolucionária surgiu quando a polítca dos círculos dominantes entrou em bancarrota e
chegou a um beco sem saída, quando nas massas populares cresceram e se amplia o
descontentamento e na ‘cúpula’ reina a confusão, quando, como se diz, futua no ar a ideia de
mudanças radicais. Isto ocorre geralmente nos períodos tempestuosos da história, quando a sorte das
classes e de povos inteiros depende de uma ou de outra mudança dos acontecimentos. As massas,
neste momento, encontram-se diante de uma opção: ou um caminho ou o outro, não havendo
terceira alternatva. Elas se levantam para a derrocada do poder existente porque se convencem, por
sua própria experiência da impossibilidade de outro meio para alcançar a satsfação de seus
interesses vitais e essenciais.”

3 – A Ideologia Cientfca e a Ação Revolucionária das Grandes Massas.

O marxismo como ideologia científca foi elaborado por Marx e Engels no período 1842-
1852. Dedicaram-se eles, depois de estabelecer as diferenças entre o método científco para
analisar a visão de mundo da época e outras abordagens, em sua maioria ainda românntcas,
a aperfeiçoar suas teorias. Nos “manuscritos econômicos-flosófcos de 1844”, e na “Ideologia
Alemã”,, encontramos a base da criação desta metodologia nova, o materialismo histórico e
dialétco. Colocando o homem - produto da História – no centro das transformações que se
dão e como elemento capaz de vir a compreendê-las, Marx e Engels romperam com a velha
flosofa e com as metodologias para estudo da mudança social, que até então giraram em
torno da moralização dos costumes ou da religião. No miolo da revolução industrial, não só
perceberam como fenômeno permanente e lhe deram nome, como descobriram as

749
condições sociais da mesma e seus desdobramentos até para um futuro centenário.
Comenta Kuusinen:

“Entre as causas objetvas que agravam a situação, o papel decisivo corresponde, via de regra, aos
fatores econômicos, ao sério pioramento das privações das classes oprimidas. Um reforçamento sem
precedentes da exploração, o desemprego, em massa, o aumento rápido do custo de vida, fenômenos
de crise na economia, que privam as massas de segurança no dia de amanhã e de perspectvas para o
futuro, são fatores que, sem dúvida, tornam muito provável a explosão da atvidade revolucionária
das massas. Entretanto, os marxistas nunca consideraram as causas materiais como os únicos fatores
que radicalizam a consciência e a vontade das massas trabalhadoras.”

Com o desenvolvimento da revolução industrial, desapareceu nos países mais avançados os


artesãos como classe, signifcando para elas enorme rebaixamento nas condições de vida.
Por outro lado, na Grã-Bretanha, a região em maior industrialização, os salários dos operários
caíram contnuamente entre 1760 e 1840, com agravamento drástco da situação dos
oprimidos. A fusão entre a ideologia científca do socialismo e a ação polítca das grandes
massas desenvolveu-se, portanto, de maneira inevitável. As massas de trabalhadores
enfrentaram greves e jornadas heroicas (1821-1849), partcipando de modo essencial nas
revoluções de 1830 e 1848. Mais tarde, com a Comuna de Paris (1870-71), completariam a
fase de aprendizado da luta revolucionária contemporânnea.

Dessa maneira, como instrumento consciente das lutas das massas trabalhadoras em toda
parte, o marxismo avançam de uma formulação científca da teoria do socialismo para
tornar-se uma concepção integral - o materialismo dialétco e histórico – que é o miolo da
ideologia polítca da classe operária em todo o mundo. Marx e Engels descobriram as leis do
desenvolvimento da sociedade capitalista e as colocaram nas mãos da classe trabalhadora de
toda parte, para que ela a utlize como elemento transformador em sua prátca social. Lênine
elaborou – dando contnuidade ao marxismo – a teoria da luta revolucionária nas condições
do imperialismo. Diz Kuusinen:

“No que tem de fundamental e principal, a teoria leninista da transformação da revolução


democrátco-burguesa em socialista é aplicável a todas as revoluções democrátcas de nossa época.
Isto não significa, é claro, que toda revolução democrátca se transforme obrigatoriamente em
socialista, mas apenas que ela pode transformar-se, se a classe nela conseguir ocupar uma posição
dirigente. Assim nos indica, em partcular, a experiência das revoluções democrátco-populares

750
antfascistas que se desenvolveram no fim da Segunda Guerra Mundial nos países da Europa central e
sul-oriental, bem como a experiência das revoluções democrátcas de libertação nacional em países
da Ásia como a China, a Coreia e o Vietnan.”

“Tanto em um como em outro caso, as revoluções, que se iniciaram com um caráter democrátco
geral, não se detveram na etapa democrátca, e mais ou menos rapidamente, com maiores
dificuldades, transformaram-se em revoluções socialistas. Isto revela uma vez mais o quanto é grande
a importância daquela teoria leninista, que desencadeia a atvidade revolucionária da classe operária
e abre uma ampla perspectva para a passagem ao socialismo, tanto nos países economicamente
atrasados como nos países capitalistas desenvolvidos.”

“Deve-se ter em vista, certamente, que a época atual contém muitos fatores novos em comparação
com os tempos da primeira revolução russa. A revolução de tpo democrátco apresentava então, no
fundamental, um caráter antfeudal. Agora, em muitos países, ela se dirige desde o início não apenas
e não tanto contra as sobrevivências feudais, mas contra a ala mais reacionária e monopolista da
própria burguesia. Em outras palavras, a revolução democrátca é dirigida agora, em essência, contra
o mesmo inimigo a que visa a revolução socialista da classe operária. Isto significa que se deu uma
aproximação maior dos dois tpos de revolução. Nessas condições, a luta pela solução das tarefas
democrátcas e socialistas pode também não tomar a forma de duas revoluções distntas, mas
consttuir apenas duas etapas de um só processo revolucionário.”

Portanto, a prátca social dos trabalhadores, a luta de milhões para modifcar suas
condições de vida e garantr uma vida melhor a seus descendentes não pode ser qualifcada
de ação secreta ou subversiva. Tal ação das grandes massas é o motor da própria história e
não pode ser confundido com as conspirações golpistas de minorias a serviço desta ou
daquela classe dominante. E semelhante ação polítca das grandes massas é o povo
construindo sua própria sociedade, uma sociedade nova, a partr da crítca e da
reorganização da sociedade vigente.

A consequência de descobrir-se o caráter objetvo da revolução como uma necessidade,


graças ao materialismo científco, é não só separar-se (a) o processo objetvo do (b) processo
subjetvo, como chegar a criar o partdo operário, como instrumento da elevação das
condições subjetvas. Comenta Kuusinen:

“Em partcular, Lênine adverta os partdos revolucionários contra um perigo, que não está excluído
nos períodos de desenvolvimento tempestuoso dos acontecimentos: o perigo de confiar apenas em

751
suas próprias forças, de tomar o estado de espírito e a decisão da vanguarda pelo estado de espírito
de todo o povo.”

“Sem a direção do Partdo, a revolução é impossível. Entretanto, o Partdo não pode realizá-la
apenas com suas próprias forças. Lênine adverta: ‘Somente com a vanguarda não é possível triunfar’.
Seria não só estupidez, mas um crime lançar apenas a vanguarda na luta decisiva, enquanto toda a
classe, enquanto as grandes massas não ocuparem a posição de apoio direto à vanguarda ou, pelo
menos, de neutralidade favorável em relação a ela, e de completa recusa em apoiar o inimigo. E para
que efetvamente toda a classe, as grandes massas trabalhadoras e os oprimidos pelo capital
cheguem a tal posição, não é suficiente a propaganda e a agitação. Para isto é necessário a própria
experiência polítca dessas massas. Tal é a lei fundamental de todas as grandes revoluções.”

“Estes são, em resumo, os conceitos do marxismo-leninismo sobre a situação revolucionária, que se


consttui em virtude de causas objetvas mas que só pode ser utlizada com êxito para a ação
revolucionária por um partdo que compreenda as exigências do momento histórico, seja
estreitamente ligado às massas e saiba conduzi-las.”

“De situações revolucionárias em condições distntas podem surgir revoluções de diferentes tpos. Na
revolução democrátca, cria-se uma situação favorável para a subida ao poder de uma ampla
coalizão popular; na revolução proletária, para a subida ao poder da classe operária e seus aliados,
forma pela qual se realiza a revolução e modo pelo qual chegará ao poder a coalizão popular ou a
classe operária, dependem de muitas circunstâncias.”

Portanto, o partdo operário, elemento mobilizador e organizador da classe trabalhadora,


não pode jamais equivocar-se quanto às condições objetvas e subjetvas do processo de luta
de classes. Por isso que o materialismo dialétco e histórico, ao fornecer as bases teóricas
necessárias a um partdo para inserir-se corretamente na luta, manifesta seu caráter
científco. Ele corresponde a uma ementa analítca, capaz de levar às interpretações corretas.
Não assimilar e aplicar os conceitos do marxismo-leninismo e deixar-se levar por
“concessões”, à realidade, conduz ao oportunismo e não é compatível com a experiência de
classe revolucionária internacionalmente acumulada. O partdo é assim expressão do caráter
científco da ação das mais amplas massas do povo, e, como dizia Rousseau, deve carregar
dentro de si os elementos para o acerto da ação popular.

Ensina Kuusinen:

752
“Diante de cada partdo da classe operária, quando orienta as massas para a revolução proletária,
surge antes de tudo a questão do caráter – pacífico ou não pacífico – que assumirá a transformação
socialista. Isto depende, em primeiro lugar, das condições objetvas: da situação dentro de um
determinado país, inclusive do nível de desenvolvimento da luta de classe, da tensão a que esta
chegou e da força de resistência das classes dominantes, assim como da situação internacional.”

“Deve-se ter em vista ainda que, em qualquer revolução, a escolha das formas de luta não depende
apenas de uma das partes. Na revolução socialista, ela não depende apenas da classe operária, que
se lança ao assalto contra o capitalismo, mas também da burguesia e de seus serviçais, que
defendem as muralhas cambaleantes do regime de exploração.”

“A classe operária não aspira a solucionar os problemas sociais por meio da violência. Lênine sempre
acentuou que a ‘classe operária preferiria, como é natural, tomar o poder pacificamentee’ A
burguesia não leva em conta essa preferência e, pode impor aos operários revolucionários os mais
agudos e violentos métodos e formas de luta.”

Somente a análise contnuada de cada situação da luta das amplas massas do povo permite
ao partdo manter atualizado o balanço de forças em presença, a intensidade e o grau de
envolvimento de cada camada social no processo. Esta análise situacional, feita a cada
pequena mudança na correlação de forças permite manter atualizado o plano de ação tátca
e evitar surpresas diante de mudanças bruscas. Como diz Kuusinen:

“Ao expor as opiniões do marxismo sobre a insurreição armada, Lênine acentuava constantemente a
seriedade e a responsabilidade desta forma de luta, adverta os operários revolucionários contra
qualquer espírito de aventura, contra o jogo conspiratvo para ‘empolgar’ o poder. Sempre concebeu
a insurreição como uma ampla ação das massas trabalhadoras, dirigidas pela parte consciente da
classe operária.”

“Cinco meses antes da Revolução de Outubro, em maio de 1917, Lênine afirmava: ‘Nós não
queremos’ ‘empolgar’ o poder, pois todas as experiências das revoluções ensinam que só é firme o
poder apoiado na maioria da população; precisamente este poder estável foi criado em consequência
da revolução socialista na Rússia em outubro de 1917.”

“Nos trabalhos de Lênine, é possível encontrar uma análise desenvolvida da insurreição armada, que
ele denominava ‘um tpo especial de luta polítca’. Lênine dava os seguintes conselhos aos
revolucionários:”

“1) Nunca brincar com a insurreição e, ao iniciá-la, saber firmemente que é preciso ir até o fim.”

753
“2) É necessário reunir uma grande superioridade de forças no lugar decisivo, no momento decisivo,
pois do contrário o inimigo, que dispõe de melhor preparação e organização, destruirá os insurretos.”

“3) Uma vez iniciada a insurreição, é necessário atuar com a maior decisão e passar
obrigatoriamente, infalivelmente, à ofensiva. ‘A defensiva é a morte da insurreição armada’.”

“4) É preciso esforçar-se por colher de surpresa o inimigo, aproveitar o momento em que suas tropas
estão dispersas.”

“5) É preciso obter êxitos, ainda que pequenos, diariamente (poderíamos dizer a cada hora, se se
trata de uma cidade), mantendo a todo custo a ‘superioridade moral’.”

“A acertada aplicação dessas indicações de Lênine foi uma das condições do êxito da Revolução
Socialista de Outubro na Rússia, talvez a mais incruenta revolução da história. No assalto ao Palácio
do Inverno, que terminou com a queda do Governo Provisório e a passagem do poder aos sovietes,
morreram de ambos os lados, no total, apenas algumas dezenas de homens.”

“Ninguém afirma, evidentemente, que as revoluções proletárias em outros países terão


obrigatoriamente o mesmo caráter que na Rússia. Explicando o aspecto encarniçado que tomaram
posteriormente as batalhas revolucionárias na Rússia, Lênine assinalava duas circunstâncias:”

“Em primeiro lugar, os exploradores foram derrotados apenas em um país; imediatamente depois da
revolução, ainda possuíam uma série de vantagens em relação à classe e, por isso, ofereceram uma
resistência prolongada e desesperada, sem perder até o últmo minuto suas esperanças de uma
restauração.”

“Em segundo lugar, a revolução russa surgiu de ‘uma grande matança imperialista’, numa situação
de inusitado incremento do militarismo. Uma revolução como essa não podia passar ‘sem
conspirações e atentados contrarrevolucionários por parte de dezenas e centenas de milhares de
oficiais pertencentes à classe dos latfundiários e dos capitalistas...’ E isto não podia deixar de
provocar uma ação contrária por parte do povo insurreto.”

O partdo operário, como força construtora da unidade popular, deve efetuar um trabalho
polítco minucioso e quotdiano, para manter semelhante unidade. É preciso recordar-se que
é má polítca “dormir sobre os louros obtdos”,. A importânncia da contnuidade do trabalho
de massas é que permite ao movimento popular manter a iniciatva. O partdo operário, para
materializar-se este grau de mobilização, precisa construir-se em toda parte. Diz Lênine:

754
“Em todas as organizações, sindicatos e associações sem exceção, em primeiro lugar nas proletárias,
mas logo também nas da massa não proletária de trabalhadores e explorados (nas polítcas,
sindicais, militares, cooperatvas, culturais, desportvas, etc.), devem criar-se grupos ou células de
comunistas. Estes grupos de células serão de preferência, organizações abertas, mas também
deverão ser secretas em todos os casos em que a burguesia abrigou o propósito de proibi-las e de
prender ou desterrar seus membros. Estas células, estreitamente ligadas entre si e com os
organismos centrais do Partdo, permutando sua experiência, realizando um trabalho de agitação, de
propaganda e de organização e adaptando-se sem falta a todas as esferas da vida social, a todas as
categorias e setores da massa trabalhadora, devem educar-se a si mesmas com toda regularidade
através desta atvidade multlateral e educar o Partdo, a classe e as massas.”

Nosso partdo assim analisa as últmas jornadas de luta no quadro do parlamentarismo de


ocasião, criado pelas forças golpistas, diante de sua derrota nas jornadas de agosto-setembro
(1961). É um exemplo da correção das forças polítcas progressistas, na condução da luta das
amplas massas do povo:

“A renúncia do sr. Auro de Moura Andrade, refete a pressão das massas populares, foi como que a
expressão de uma nova situação em que os representantes do latfúndio e do imperialismo ianque, da
reação e do entreguismo, já não fazem livremente o que querem, precisam levar em conta a
consciência patriótca e democrátca das massas populares, muito especialmente da classe operária.”

“Sob o impacto da greve geral e das manifestações de Caxias e de outras cidades fuminenses contra
a caresta e a fome – manifestações que levaram o pânico aos arraiais da reação – foi indicado o
nome do sr. Brochado da Rocha para o posto de primeiro-ministro e, em seguida, contra o voto da
UDN e o manifesto descontentamento do PSD, aceito pela Câmara dos Deputados o novo Gabinete.
Em sua composição, teve infuência decisiva o presidente Goulart. Ao mesmo tempo que colocou à
frente dos principais ministérios pessoas de sua confiança pessoal, transigiu mais uma vez com os
reacionários e entreguistas – inclusive Mister Gordon, embaixador dos Estados Unidos, não por acaso
presente na oportunidade em Brasília – incluindo no Gabinete conhecidos agentes do imperialismo
como, entre outros, o sr. Moreira Sales, defensor permanente dos interesses do Fundo Monetário
Internacional em nosso país.”

“Na luta que se travou entre os representantes da reação e do entreguismo, de um lado, e os setores
da burguesia conciliadora, representados pelo sr. Goulart, de outro, os últmos conseguiram certo
êxito, reforçando sua partcipação no poder. Apoiado no movimento de massas e utlizando-o,
conseguiu o sr. Goulart livrar-se em boa parte dos representantes das cúpulas do PSD e da UDN.”

755
Deve-se ter em mente a importânncia, o efeito positvo, de cada pequena mudança a favor
na correlação de forças. Ela não deve ser desprezada, mas servir de ponto de partda para
obter novas pequenas vitórias. Comenta Prestes:

“É de notar-se, no entanto, que, com a aprovação pela Câmara dos Deputados do novo Conselho de
Ministros, as forças em choque conseguiram uma trégua apenas. Pensam elas poder chegar às
eleições de 7 de outubro em ambiente de tranquilidade, sem que a campanha eleitoral determine
maiores agitações e lutas populares. E aguardam o resultado do pleito para voltar novamente à
carga e à disputa por uma maior partcipação no poder.”

“Se é certo, pois, que as forças mais reacionárias não conseguiram alcançar seus objetvos, devemos
também reconhecer que, apesar do novo nível alcançado pelo movimento de massas, do vigor com
que a classe operária lutou por um governo nacionalista e democrátco, as forças patriótcas e
democrátcas não foram ainda desta vez suficientemente poderosas para impedir que a burguesia
contnuasse impondo a conciliação com a reação e o entreguismo. A luta por um governo nacionalista
e democrátco prossegue, portanto, e, mais do que nunca, é indispensável que todos os patriotas se
mantenham vigilantes em defesa das liberdades democrátcas, crescentemente ameaçadas. Diante
do agravamento da situação das grandes massas trabalhadoras, vítmas da infação e da caresta,
que se acentuarão com as recentes emissões de papel-moeda, superiores a 40 bilhões de cruzeiros
nos últmos vinte dias, o novo Conselho de Ministros, nos termos de sua primeira Nota, já se
preocupava prioritariamente com a e ‘manutenção da ordem pública’, e não com as reformas básicas
exigidas pelos mais elevados interesses da nação. Simultaneamente, as forças da reação tratam de
reagrupar-se, preparam-se para novas ameaças de golpes militares e tomam o caminho do fascismo,
empunhando a bandeira do antcomunismo.”

Portanto, não se pode perder a perspectva do caráter permanente, contínuo, do processo


de luta. A cada pequeno avanço das forças progressistas, os elementos reacionários se
reagrupam, a partr dos postos de poder que ainda se encontram em suas mãos, e preparam
novas ações, cada vez até mais agressivas, devido ao crescente desespero. Como comenta o
partdo:

“A conquista de um novo governo nacionalista e democrátco exige que as massas travem uma luta
constante tendo como objetvo principal isolar e derrotar as forças que representam o imperialismo e
o latfúndio e, neste sentdo, utlizem os choques entre os dois setores das classes dominantes. Isto
não deve significar um apoio passivo às posições da burguesia ligada aos interesses nacionais,
porque esta camada da burguesia, ao mesmo tempo que utliza o movimento de massas, a fim de

756
exercer pressão sobre as forças retrógradas, tende a entrar em conciliação com estas às custas do
povo.”

“Por essa razão, um aspecto fundamental da ação das massas na luta para derrotar as forças do
imperialismo e do latfúndio deve ser o combate à polítca de compromisso entre o setor burguês,
representado pelo sr. João Goulart, e as forças reacionárias.”

“Não é possível lutar efetvamente para isolar e derrotar as forças reacionárias e alijá-las do poder;
não é possível conquistar um governo nacionalista e democrátco que realize reformas efetvas sem
derrotar a polítca de compromisso, que favorece o inimigo, realizada por aquele setor da burguesia.
Para que seja efetvo o golpe principal contra o imperialismo e as forças reacionárias que o apoiam, é
necessário golpear também a polítca de concessões a estas forças, com as quais a burguesia, ligada
aos interesses nacionais, procura encerrar cada episódio da luta. A luta contra a conciliação só pode
ter êxito através da mobilização das grandes massas trabalhadoras e populares, que devem levantar
suas próprias bandeiras, exigir medidas efetvas contra o imperialismo, o latfúndio e a reação, e
combater constantemente os compromissos com o inimigo, realizados pelo setor vacilante da frente
única.”

4 – A Organização Comunista.

O partdo, como organização máxima da classe operária, distngue-se de todas as formas


prévias de organização que se conhece. Para o partdo, a organização é uma ciência
fundamentada na dialétca, assim como a polítca proletária. Ambas expressam os princípios
marxistas de ação histórica, que, quando aplicados, caracterizam o estlo de trabalho, ou
estlo de direção, do partdo. O conjunto de métodos de direção decorrem da análise da
situação polítca e são aplicados para organizar e construir o partdo. Este aparato, ou esta
“máquina”, de aplicar a linha polítca, educa, organiza e conduz o movimento de massas
através de um conjunto de procedimentos, que corresponde a tais necessidades. São
métodos externos ao trabalho interno do partdo e dele resultante de forma contraditória,
obedecendo à dialétca. São, portanto, não “métodos de direção”,, como os métodos
internos, mas “métodos de trabalho”, de massas.

Uma vez que a análise que o partdo faz das diferentes situações, das diferentes
“conjunturas”,, são expressões não de sua vontade, mas de uma análise objetva da realidade,

757
daí decorrem novas necessidades e indicações para operar mudanças nos métodos de
direção de trabalho. Há uma passagem – com difculdades – da formatação teórica das
condições objetvas e a estruturação ou reestruturação do trabalho prátco, que requer uma
arte de materialização, uma habilidade específca das direções interna e externa para
produzir a nova prátca necessária. Esta arte polítca e esta arte organizatva expressa o
trabalho coletvo dos órgãos dirigentes do partdo. Haverá como resultado um novo estlo de
direção e um novo estlo de trabalho. Na prátca da luta revolucionária de tempos em
tempos, o partdo deve corrigir tanto seu estlo de direção quanto seu estlo de trabalho. É
preciso descobrir os erros da atuação contnuada e corrigi-los.

O sistema de organização do partdo operário combina três estruturas, bastante


conhecidas: (a) de comissão (ou comitê); (b) estrutura hierárquica; (c) estrutura funcional.
Vamos comentá-las um pouco.

(A) Estrutura de Comitê. - O partdo é um coletvo de assembleias, onde partcipam seus


membros e seus quadros, desde a base até a cúpula. Os organismos do partdo, que tomam
decisões, o mais baixo e o mais elevado, são todos, assembleias. Isto porque nenhum
comunista pode tomar decisões sozinho dentro de uma organização comunista. A estrutura
de comitê é a mais importante do partdo. Numa organização de base, com três ou vinte
membros, ela deve se consttuir em assembleia, isto é, reunir, para tomar suas decisões. O
mesmo se dá com qualquer nível ou qualquer órgão dirigente do partdo. Rousseau já
indicava que o povo só pode tomar decisões quando se reúne, debate e vota. Gera assim
uma linha consciente de construção da história. Todos os movimentos socialistas
contemporânneos descendem do lema liberdade-igualdade-fraternidade, dístco de princípios
da revolução francesa. Ao contrário dos elementos burgueses, que valorizaram apenas a
“liberdade”, e a “fraternidade”,. A burguesia recusou com seu poder tanto ser “irmã”,
(fraternidade) das outras classes e camadas que fzeram a revolução, quanto a igualdade com
as mesmas. Os girondinos, tão logo impuseram sua ditadura aos jacobinos, restauraram a
escravidão, pondo abaixo a igualdade e a fraternidade.

O partdo leninista, no entanto, expressa no seu sistema de organização a estrutura de


assembleia (comitê) que assegura a partcipação de todos na discussão, na escolha e
elaboração de temas e decisões, etc. Cada assembleia decide sobre o nível da prátca social

758
que ela representa. Semelhante sistema se chama centralismo democrátco. É uma
democracia de decisões, tomada a cada nível de prátca social e centralizada, porque está
também estruturada numa linha de hierarquia, desde o mais partcular até o mais geral. A
opinião e a decisão – o balanço da prátca social – sobe por esta linha hierárquica,
enriquecendo a experiência e a tomada de decisão de cada nível mais elevado (mais geral)
da prátca social, porque venha a passar. Assim, a experiência democrátca de cada
organismo é levada para cima na linha hierárquica dos organismos. Não há forma mais
democrátca de ser considerado e transmitr experiências. Assim como a experiência da
prátca social “sobe”, pela linha hierárquica, ela também “desce”,. Vejamos um exemplo:

Uma determinada base do partdo detecta em sua área de atuação uma determinada
mudança para pior. Considere-se que se trata de uma base do partdo numa fábrica. Ela
detecta uma mudança no sistema de contagem das horas extras que prejudica o ganho dos
trabalhadores dali. O organismo de base vai analisar em sua assembleia tal fato e estudar
como o movimento de trabalhadores no local pode enfrentar tal nova difculdade. Ora, esta
discussão e esta respectva decisão serão levadas aos organismos superiores da linha da
hierarquia, que irá analisar os resultados e passar a experiência para o conjunto fabril do
partdo. O conjunto da classe será “alertado”, para o “aparecimento”, de “inovações”,
semelhantes. Como se vê, trata-se de um partdo operário que enriquece o conhecimento e
a prátca polítca dos operários. No entanto, tem efeito similar em todas as estruturas que
possui.

Imagine uma base de médicos, de pesquisadores científcos, de artstas de teatro, de


tratoristas, etc. Todos vão se ajudar mutuamente. Todos aprenderão de todos. Suas
experiências serão acumuladas como teoria, como cultura e como prátca social de
diferentes escalões de um partdo operário transformador da realidade. Por que – então –
tanto ódio contra o partdo operário? O ódio vem dos exploradores.

(B) Estrutura Hierárquica. - Nesse ponto, o partdo dos trabalhadores não pode ser diferente
dos partdos da burguesia. Ele tem que possuir uma linha hierárquica. Esta linha arruma o
partdo numa estrutura de pirânmide desde a base até a cúpula. A cada nível que a linha de
hierarquia sobe, consttui-se um novo “estado-maior”, de coordenação, asseguramento e
orientação do partdo. A experiência histórica demonstra que não basta ao povo ser

759
democrátco, debater seus problemas e buscar aplicar soluções. Isso tem que ser feito de
forma organizada, enquadrada e com um comando único. Do contrário, as cabeças
pensantes, em vez de se ajudarem, irão se atrapalhar mutuamente. Assim, em cada nível, há
um nível de assembleia. Em cada assembleia, se elege uma direção, para um mandato de
determinado prazo, escolhido pelos membros da assembleia. Esta é a direção da assembleia
que a elegeu. Sua missão é aplicar a linha estratégica e tátca do partdo, aplicar os estatutos,
garantr a integridade do partdo no nível em que existe. Este pequeno “estado-maior”, - a
direção do nível – é montado em toda a linha de hierarquia do partdo, sendo a sua coluna
vertebral, do “dedão do pé”,, até o “cerebelo”,m

A estrutura hierárquica do partdo é democrátca porque ela é eleita e expressa o consenso


do nível de assembleia que a compõe. Ninguém de “fora”, pode ser “enfado”, num cargo de
mando no partdo operário. Os quadros do partdo estão distribuídos pela hierarquia de
comando e são o “cérebro”, do partdo, e “suas meninas dos olhos”,. Para se chegar a quadro
do partdo, tem que ser um membro experimentado, com comprovado espírito de classe
proletária.

(C) Estrutura Funcional. - Ao longo de toda a estrutura do partdo operário, estão


distribuídas as tarefas tátcas, operacionais e estratégicas do mesmo. A densidade, o
tamanho e as característcas das subestruturas encarregadas destas tarefas depende das
necessidades da luta da classe operária, da organização da aliança operário-camponesa e da
ampliação do movimento popular. No trabalho de mobilização e organização do partdo,
nada é arbitrário. Tudo depende de necessidades reais, cuidadosamente previstas e revistas
e, por fm, levadas ao nível organizacional. Por exemplo: uma base do partdo em um bairro
ou numa fábrica muito grande tem crescido muito e precisa reforçar sua organização. Ela
pode então ser transformada em uma outra estrutura, compreendendo várias bases e não
apenas uma.

Em suma: um exame da estrutura do partdo mostra tratar-se de um partdo do povo,


verdadeiramente democrátco, onde as pessoas vão debater e procurar construir soluções
para os problemas polítcos e sociais. O ódio e a calúnia com que é tratado o partdo operário
resulta de o mesmo retrar das mãos das classes dominantes o monopólio da polítca e da
organização. Para as classes dominantes, o povo deve ser deixado na escuridão, nas trevas

760
do analfabetsmo, sem escolas. E - veja-se – o partdo operário é uma escola de cidadania,
ensina as pessoas a se organizarem e lutarem pelos seus direitos. Os militantes nesse tpo de
partdo se tornam educadores de si mesmos, com base nos princípios de luta, de associação
e de solidariedade. Não há coisa mais horrível para um membro das classes dominantes ou
para um fascista ver!

Da maneira simples como o partdo é organizado, as pessoas mais pobres podem dele fazer
parte e ter os meios para consttuí-lo. Basta um núcleo de três pessoas como mínimo, para
formar uma célula ou uma organização de base do partdo. Este pequeno grupo deve iniciar
suas atvidades de modo clandestno, sob o mais absoluto segredo. Isto porque as
autoridades do Estado capitalista são corruptas. Nunca se sabe como vão atuar as forças do
latfúndio, da burguesia reacionária, neste ou naquele distrito, nesta ou naquela
municipalidade. Os membros de uma organização de base devem começar estudando os
documentos do partdo, estudando os clássicos do marxismo-leninismo e analisando a
situação polítca e de luta de classe nos três níveis: (a) internacional; (b) nacional; (c) local. O
organismo não deve ser deixado crescer de maneira descontrolada. É preciso tanto recrutar
novos membros cumprindo as regras de segurança como dividir o organismo (daí “célula”,m)
para que não seja percebido pelas forças hosts. Recorde-se que os inimigos do povo não
recuam sequer diante do assassinato para se livrar das pessoas conscientes. Criado o
organismo de base ou até uma estrutura de bairro, de distrito, de município, etc., os
membros não devem se afobar para ligar sua estrutura ao partdo operário. Certfcar-se
primeiro da solidez de seu trabalho; da solidez do contato que obtveram com o partdo; da
adequação do momento para se ligar à estrutura hierárquica do partdo operário.

A direção do partdo – seja em que nível for – deve tomar as medidas necessárias para
assegurar um círculo sólido de proteção e formação ao partdo. Em geral, as medidas para
obter a segurança e a formação consistem na vigilânncia, no contato pessoa por pessoa, na
omissão do nome do partdo e na existência de papéis escritos de caráter concreto. Como
membros de organismos nascentes devem militar no movimento nacionalista e democrátco,
devem, portanto, assegurar tanto o apoio a esse movimento como descaracterizar o seu
núcleo de militânncia para o inimigo de classe.

761
A direção do partdo operário – em qualquer nível que seja – não pode se esquecer de
reforçar o apoio e controle de seus militantes, de impedir sua identfcação pelo inimigo de
classe e de preparar-se para a profundidades das lutas futuras. O projeto do imperialismo
para o Brasil é esquartejá-lo em quatro partes, formando dele quatro repúblicas bananeiras,
como se fez já na América Central e como até hoje – fazem os imperialistas – na África. Já D.
Pedro II tnha consciência desse objetvo e chegou a escrever sobre isso. Os brasileiros não
podem se deixar anestesiar pelos cantos de sereia: o Brasil necessita de um poder nacional,
capaz de representar a estratégia do povo brasileiro.

Portanto, em razão da profundidade da luta, insiste na vigilânncia, na proteção, na formação,


no apoio e no controle de sua militânncia. E pede a outras lideranças do movimento
nacionalista e democrátco que ajam da mesma forma. A arte, a habilidade da condução da
luta do partdo operário deve gerar em torno de si um círculo protetor. Este círculo se dá pelo
cuidado no aprendizado da linha polítca; a assimilação da estratégia e da tátca leninistas;
pela formação do militante cada vez mais cuidadosa; pela adequação entre quadros e
tarefas, ou seja, mecanismos leninistas de controle.

O partdo operário tem sido uma grande escola de formação polítca no Brasil
contemporânneo. O partdo tem um pensamento transparente; faz autocrítca ampla dos
erros que tem cometdo. O partdo procura – cada vez mais – formar milhares de pessoas
politzadas, aptas a partcipar das lutas do movimento popular. Como estruturas, o partdo
tem permitdo a muitos milhares de pessoas (a) partcipar das jornadas polítcas do nosso
povo; (b) fazê-lo trocando suas experiências, enriquecendo suas personalidades. É
extraordinário que a força obscurantsta das classes dominantes ouse caluniar o partdo
operário com calúnias como “lavagem cerebral”,, “incitação à greve”, e outras bobagens com
que costuma encher as páginas de suas publicações. Ao contrário do que difundem as
classes dominantes, o partdo tem vivido na clandestnidade e na semiclandestnidade
devido a perseguições forjadas. Montadas com base em calúnias importadas do estrangeiro
e outros arremedos, etc. O partdo operário sempre procurou a legalidade. Tem sido
impedido de vivê-la pelo temor profundo das classes dominantes. Sem o debate aberto, sem
a luta eleitoral de classe, podem enganar as massas trabalhadoras e de pobres por mais
tempo. As chacinas, as perseguições, as prisões injustfcadas, a tortura, é que levam o

762
partdo a organizar as massas de forma clandestna e não os seus objetvos, de todos
conhecidos, porque estão escritos no programa do partdo. Diz Lênine:

“A passagem do capitalismo ao comunismo não pode evidentemente deixar de fornecer


uma grande abundância e diversidade de formas polítcas, mas sua essência será
necessariamente uma só: a ditadura do proletariado.”

Como poderíamos, portanto, mudar o mundo com base na mentra? A burguesia é a classe
que apresenta sua ditadura como democracia para “todos”,, inclusive para os trabalhadores e
os pobres. No entanto, sua primeira medida enquanto ditadura de classe foi retrar da
maioria da sociedade a igualdade, reduzindo a igualdade am “perante a lei!”, Isso sim, é
mentra, é falsidade, é piada de mau gostom

Quando a chamada justça eleitoral cassou o registro do PCB, em maio de 1947, alegou que
o partdo era uma agremiação internacional e que, violava com sua existência a lei brasileira.
Vejam os piadistas! Esse é o nível moral das classes dominantes! Será que existe no mundo
de hoje alguma ideia que não seja internacional? O liberalismo será uma ideia “inglesa”,? A
democracia representatva uma “ideia norte-americana”,? Então, não se podem adotar no
Brasil, porque não foram “produzidas”, no Brasil? Eis aí a qualidade do poste onde temos o
nosso cavalo amarrado: mentra, hipocrisia, enganação do próximo no melhor estlo nazi. O
poder de uma classe se expressa em nível internacional – como diz Lênine – sob diferentes
formas, mas na essência expressa a ditadura dessa classe sobre outras, cujos programas,
polítco ou social, cuja visão de mundo, por isso, é tomada como irrelevante. E a verdade
nesse caso, para a burguesia internacional, é que ela é uma classe minoritária.

Quanto ao partdo operário, não. Ele representa o povo trabalhador, a maioria absoluta da
população em cada país. Portanto, para as classes dominantes, é importante que não haja
espaço onde o povo se reúna, onde o povo confraternize, onde o povo debate as questões
fundamentais da sociedade. Para reunir milhares, para trazer milhões a uma discussão como
necessidade de um governo nacionalista e democrátco, a necessidade de se estabelecer um
poder nacional, é preciso ter acesso ao espaço público, ter acesso às praças e ruas. No
entanto, tão logo os trabalhadores venham para as ruas, que lhes oferecem as classes
dominantes? Gás lacrimogênio, água com areia jorrando dos brucutus, pancadariam É assim
que afrmam sua “compreensão democrátca”,m Como pergunta Afanasyev:

763
“Se a ideologia apresenta sempre um caráter de classe, cabe perguntar se pode ser verdadeira como
tal; será que ela não refete uma deformação da realidade que melhor satsfaça os interesses de
classe?”

No caso das classes dominantes, não resta a menor dúvida. O seu número é tão reduzido, o
seu “debate”, inclui tão poucas pessoas que sua “visão de mundo”, é necessariamente
distorcida e zarolha. Para as classes dominantes, não há a menor importânncia quanto ao que
pensa e que pretende a maioria. Os dominadores estão sempre “esclarecidos”,, representam
sempre o que “está certo”, e se bastam para si mesmos.

5 – Conclusão.

Durante nossa aula 18, abordamos o que é o partdo comunista, partdo operário
comprometdo com a luta dos trabalhadores e dos países em geral, a partr de uma
perspectva revolucionária.

Entendemos um pouco mais da formação da doutrina do socialismo científco e de sua


fusão, no processo da luta, com o movimento operário e trabalhador. Buscamos entender
como Marx estabeleceu a crítca da ideologia burguesa, visão de mundo subjetvista e
despreocupada em refetr a ideologia como explicação da realidade.

Introduzimos também a noção da unidade entre o caráter científco da ideologia operária e


as premissas para sua fusão com a ação revolucionária das grandes massas.

Finalmente, discutmos alguns elementos da organização comunista.

Perguntas.
1 – Por que o partdo comunista é um partdo operário?
2 – Que entende por materialismo dialétco e histórico?
3 – Defna socialismo científco.

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4 – Como se formou o movimento operário e trabalhador?
5 – Defna ideologia polítca operária.
6 – Defna ideologia social burguesa.
7 – Que entende por grandes massas populares?
8 – Que entende por ação revolucionária?
9 – Como o partdo operário conduz o movimento operário?
10 – Defna três traços da organização comunista.
*

Aula 19

765
19 – Princípios de Organização do Partdo.

Uma vez que a revolução social se consttui uma exigência do desenvolvimento de qualquer
sociedade, captar esta necessidade e trabalhar com ela para que chegue a um desfecho
favorável, com o menor sofrimento possível, é a tarefa racional do partdo revolucionário.
Imagine uma pessoa sentada na sala de sua casa e, de repente, de modo aparentemente
imprevisto, uma caixa d’água se parte e começa a inundar todo o ambiente. É claro que esta
pessoa não pode fcar sentada ali, apreciando o “espetáculo”,m Não seria um
comportamento racional. Racional, sim, seria levantar-se e por mãos à obra, para reduzir o
tamanho do desastrem Assim se passa com o revolucionário: ele apenas está ali, e não pode
omitr-se. Sabe que acelerando o desfecho, com as providências adequadas, reduzirá até as
perdas a ocorrer.

Diante da presença da revolução, não adianta fazer discursos, apresentar-se como um


“apaziguador”,, etc. O primeiro princípio revolucionário é buscar conhecer a verdade, dizer a
verdade e organizar a luta segundo a verdade encontrada. Os mencheviques, por exemplo,
faziam belos discursos “revolucionários”,. Mas para eles, a função dos revolucionários seria

766
arrebanhar massa para ajudar a burguesia e tomar o poder e instaurar plenamente um
“capitalismo democrátco”, na Rússia, que tal seria a melhor maneira para “abrir caminho”,
rumo ao socialismom Trabalhavam, portanto, para a burguesia.

Os princípios da organização do partdo de Lênine jamais enxergou o partdo operário e a


aliança operário-camponesa como força auxiliar da burguesia ou de qualquer outro ente
social. O partdo se organiza como força dirigente independente de classe e se coloca à
frente do povo para travar as batalhas pela sua libertação. No entanto, a partr de sua leitura
da correlação de forças na luta polítca que se dá no curso da vida social, o partdo operário
identfca outras forças sociais que têm interesses semelhantes aos seus, que marcha na
mesma direção e – é óbvio – com tais forças estabelece plataformas comuns, à base de
concessões polítcas positvas, que não distorcem os objetvos de nenhuma das partes. A
frente da luta é muito larga. O inimigo é poderoso. Pode-se obter aliados para enfrentá-lo,
ainda que seja apenas em parte de nossa marcha. A história não pode ser antecipada. Mas
pode ser vivida. Muitas pessoas não compreendem o que signifca “ter princípios”,, ou
“sustentar princípios”,. Muitos até citam o provérbio alemão “se não pode vencer o seu
inimigo, junte-se a ele”,. Na verdade, tal inimigo seria apenas certamente o seu “adversário”, e
não o seu “inimigo”,. “Ter princípios”, quer dizer “analisar o mundo sempre a partr do mesmo
ponto de partda, qualquer que seja a situação”,. Signifca descobrir o inimigo social e
combatê-lo com contnuidade, até obter superioridade, qualquer que seja a situação. “Ter
princípio”, signifca não trocar de lado na luta de classes, no desempenho das jornadas
impostas pela história. Não se pode defender o proletariado, defender os camponeses,
defender o povo e depois “trocar de lado”, só para salvar a própria pele. Dos princípios
ideológicos decorrem, pois, os princípios polítcos. E das tarefas polítcas decorrem os
princípios organizatvos do partdo de Lênine, do partdo operário.

1 – O Partdo Combatente Intransigente Contra o Capitalismo.

Quanto mais a sociedade se desenvolve, mais se tornam complexas as relações sociais. No


mundo capitalista contemporânneo, a divisão do trabalho avançou muito, gerando centenas
de profssões que não existam, por exemplo, há cem anos atrás. Isso quer dizer que o
número de parasitas sociais, elementos inúteis e desprovidos de caráter de todo tpo,

767
aumentou, certamente em muito. Esta escória social se origina, seja no parentesco das
classes dominantes, seja entre as camadas e classes dominantes da sociedade. O famoso
“171”,, do decreto de 1940, é claro, não apareceu em 1939, mas sim muito antes. Uma parte
desse lixo social se põe a “trabalhar”, para as classes dominantes em diferentes insttuições,
por exemplo, a DOPS-DPPS, mas também como intermediários da dominação em “cargos
polítcos”,. Viram senadores, deputados, etc. No “desempenho”, de suas funções, tudo que
eles planejam e põem em marcha visa (a) aumentar a exploração dos trabalhadores e dos
pobres; (b) perseguir e destruir os elementos progressistas na vida social; (c) aumentar a
riqueza dos mais ricos e “concentrar, cada vez mais, a riqueza criada”,. Pode-se dizer que –
nesses aspectos – o lixo social a serviço da dominação é intransigente.

Assim posto, a luta é inevitável. O partdo tem que ser – também ele – combatvo. Tem que
ser – também ele – intransigente. O partdo operário não pode materializar seus objetvos se
fzer concessões negatvas ao inimigo. Diz – recordemos – o nosso partdo:

“A fim de alcançar este objetvo, é necessário fortalecer a união de todas as forças nacionalistas e
democrátcas; a classe operária, os camponeses e as massas populares, que consttuem a base do
movimento pela libertação e o progresso do país, e a burguesia ligada aos interesses nacionais. Um
governo nacionalista, e democrátco, capaz de adotar medidas efetvas contra inimigos da nação,
deverá ser um governo de coalizão onde estejam representadas as forças integrantes da frente única,
inclusive aquelas que dão a maior contribuição na luta ant-imperialista e antfeudal: os operários, os
camponeses, a intelectualidade revolucionária, as camadas médias. Não poderia inspirar confiança
ao povo, nem realizar um programa efetvo de frente única, um governo do qual partcipasse apenas
a burguesia ligada aos interesses nacionais, cujas tendências ao compromisso com o inimigo são
evidentes.”

É um princípio frme do trabalhador de organização do partdo operário construir a unidade


de todo o movimento social desde a base: unidade do movimento operário; do movimento
camponês; de toda estrutura insttucional de representação das classes oprimidas,
partcularmente do movimento sindical. Os quadros do partdo operário não medem
esforços em organizar, apoiar e educar politcamente às massas do povo e das lideranças
naturais que nele já estejam formadas. No entanto, na medida em que o trabalho de
educação e organização nas diferentes insttuições avança e a luta se amplia, o partdo
operário luta também para melhorar o desempenho polítco dos elementos de nível de

768
consciência mais baixo, que colocam os seus interesses pessoais e de grupo, acima dos
interesses de classe e das massas populares. Diz Lênine:

“É de extraordinária importância estabelecer pratcamente a necessária diferenciação entre os


métodos de trabalho, por um lado, com relação aos ‘líderes’ ou aos ‘representantes responsáveis’, a
cada instante, depravados irremediavelmente pelos preconceitos pequeno-burgueses e imperialistas
(estes líderes devem ser impiedosamente desmascarados e expulsos do movimento operário) e, por
outro lado, com relação às massas, que, sobretudo depois da matança imperialista, se inclinam em
grande parte a escutar e admitr a doutrina sobre a necessidade da direção do proletariado, como
única saída da escravidão capitalista. No que se refere às massas, é preciso aprender a abordá-las de
maneira mais paciente e cautelosa, com o objetvo de chegar a compreender as partcularidades e os
traços originais da psicologia de cada camada, profissão, etc.”

A educação das amplas massas do povo é um objetvo da luta antcapitalista que é


permanente. No entanto, não se pode estender a proteção ideológica do partdo operário a
elementos corrompidos pela gula capitalista, que eventualmente utlizem seus postos de
direção no movimento de massa para bloquear o processo de educação polítca da classe
operária; elementos que eventualmente insistam em persistr no atraso e que façam desse
atraso instrumento de divisionismo e capitulacionismo. Diz o partdo:

“Cumpre aos comunistas lutar para que o movimento sindical não seja uma atvidade apenas de
cúpula, porém conte com a partcipação atva das massas trabalhadoras. A organização dos
trabalhadores nos próprios locais de trabalho, nas empresas, é o passo decisivo para estreitar os
laços entre os sindicatos e a massa de associados, bem como para organizar as massas não
sindicalizadas. Preocupação constante deve ser a organização sindical das categorias de
trabalhadores ainda desorganizados. Os comunistas devem atuar no sentdo de coordenar melhor o
movimento operário dentro da estrutura sindical legal. Trabalhando para aperfeiçoar a forma vertcal
de organização, esforçam-se para que seja insttuída legalmente a forma horizontal de organização,
desde o município e o Estado até a Central Unitária, que deve ser a expressão da unidade nacional
dos trabalhadores. Cabe ao movimento operário um papel decisivo na luta pela libertação nacional e
pelas transformações democrátcas. Os comunistas lutam para que as organizações sindicais, além
da defesa dos interesses profissionais dos trabalhadores, assumam uma posição cada vez mais atva
em defesa dos interesses nacionais e se integrem no movimento ant-imperialista, partcipando de
iniciatvas conjuntas com outros setores patriótcos.”

769
O partdo operário mantém seu foco na luta para elaborar uma linha polítca correta e obter
plena assimilação e aplicação para ela, da parte de suas estruturas, do movimento operário,
da aliança operário-camponesa e do conjunto do movimento popular. O partdo não
considera uma questão de princípio pratcar o máximo de esforços, sob a condição de uma
ampla aceitação de sua linha polítca, mas luta para que tal assimilação aconteça, e aplica o
máximo de esforços.

Chama-se no partdo “linha polítca”,, à tátca geral fxada e aprovada pelo Congresso ou por
um pleno – em emergência – do partdo e fxada sob a forma de uma ou várias resoluções.
Esta linha deriva da estratégia geral do partdo e expressa a leitura de uma dada situação ou
conjuntura, que é prevista – pela análise marxista-leninista – durar um certo entrecho de
tempo previsto e defnido. A “linha”,, ou tátca geral, apresenta elementos das tátcas
previstas a se aplicar na conjuntura de referência, e suas implicações necessárias de arte
operacional. A cada linha do partdo, corresponde não só uma variação de tátca geral, mas
uma mudança na prátca social da luta revolucionária. Tal quer dizer, diferentes formação e
treinamento dos membros e quadros do partdo, diferentes polítcas de construção e
organização do partdo e do movimento operário, diferente processo de aperfeiçoamento,
enquadramento e luta. Ou seja, o método de ação do partdo para acumular forças e para
economizá-las é diferente na combinação de suas formas de trabalho: clandestno,
semiclandestno e legal.

A experiência histórica demonstra uma certa periodicidade no processo de luta de classes e


– diga-se – a necessidade de acompanhar tal fenômeno com fexibilidade, alterando as
polítcas internas e externas do partdo operário. O aparato do partdo deve estar preparado
para absorver o impacto de tais diferenciações, adequando a orientação e a organização dos
militantes. As polítcas de organização, de recrutamento, de agitação, de propaganda, de
construção e de educação veem-se então modifcadas.

O objetvo central do trabalho de construção e organização do partdo é a movimentação


revolucionária de massas populares de milhares e de milhões de trabalhadores e do povo em
geral. Como tarefa estratégica do partdo, todas as ações e todas as tátcas servem para este
objetvo. Para tal missão ser efetvamente cumprida, o centro da polítca de recrutamento do
partdo é a mobilização da juventude. Diz a nossa resolução polítca:

770
“Considerando o importante papel que cabe à juventude na vida social e polítca do País, devem os
comunistas intensificar seu trabalho entre os jovens, organizando-os nos sindicatos, em clubes
esportvos, recreatvos e culturais, e em organizações de massas, ou em entdades especialmente
juvenis.”

O partdo está convencido pela experiência histórica da absoluta superioridade da


militânncia da juventude, força social que se desprende mais livremente dos preconceitos e
consequentemente dos laços de submissão.

É conhecida a sentença russa: “quem não é comunista aos 18 anos é porque não tem
coração”,. Trata-se assim de desenvolver a razão emocional da juventude de nosso país, e dar-
lhe um papel atvo na construção do mesmo. Isso signifca também criar as condições para
chegar à juventude e dialogar com ela. Diz o partdo:

“A experiência destes últmos anos demonstrou, outrossim, que o problema da organização da


juventude comunista requer uma solução específica. Embora tenha melhorado consideravelmente
nossa atvidade entre a juventude estudantl, partcularmente a universitária, ainda não fomos
capazes de traçar com a devida clareza a polítca dos comunistas para o trabalho entre as novas
gerações. No entanto, os jovens possuem reivindicações peculiares, motvo porque, através de formas
de organização adequadas à sua condição, poderão ser ganhos com mais facilidade para as ideias do
marxismo-leninismo. Conquanto o trabalho entre os jovens seja tarefa de todo o Partdo, é necessário
que a juventude de tendência comunista, filiada e não filiada ao Partdo, disponha de organização
autônoma, orientada pelo Partdo, com a missão de educar os jovens no espírito do marxismo-
leninismo, de torná-los atvos combatentes pela causa revolucionária e de realizar, em escala de
massa, a propaganda do socialismo.”

O desprendimento e o espírito combatvo da juventude permite fazer as tarefas da


revolução no plano subjetvo avançarem. Sua attude destemida de luta e descompromissada
com o capital permite ampliar as forças vivas da revolução de modo contínuo. Diz o nosso
partdo:

“A juventude corresponde um papel de primeira grandeza na luta em que se empenha o povo


brasileiro por sua libertação nacional, a democracia e o progresso social. Pelas qualidades que lhes
são inerentes, e a juventude a parcela mais combatva do povo, a mais apta à assimilação das ideias
sociais de vanguarda, e a que com maior ardor abraça e defende as nobres causas dos explorados e

771
oprimidos, contra os exploradores e opressores. Toda a experiência passada e atual das lutas polítcas
e sociais de nosso povo confirma sobejamente essas qualidades de sua juventude.”

Por isso, a linha polítca do partdo atribui centralidade da polítca de recrutamento na fase
atual da luta a trazer massas crescentes da juventude para integrar-se de forma consciente à
luta pelas reformas:

“Conquistar a juventude brasileira para a revolução é, assim, tarefa central do Partdo, parte
integrante e inseparável da tarefa de forjar a frente única revolucionária. Por isso mesmo, a ela deve
dedicar-se o conjunto do Partdo, todas as suas organizações e frentes de trabalho, e não apenas nos
jovens, aos quais se atribua a inteira responsabilidade pela realização da mesma. A pouca atenção
dispensada atualmente pelo Partdo ao trabalho juvenil ou o relegamento deste à condição de tarefa
atribuída aos comunistas jovens, apenas, consttui grave erro que precisa ser com urgência,
corrigido.”

A juventude estudantl e a juventude sindical são até aqui as duas principais frentes do
trabalho de construção entre os jovens. No entanto, o partdo deve retomar o seu trabalho
na juventude feminina e na juventude rural, que tem sido descurado nos últmos oito anos.

Stálin observou a importânncia de confar na juventude:

“A juventude é livre do peso do passado e assimila melhor do que ninguém os preceitos leninistas. É
justamente por causa disso, por assimilar melhor do que ninguém os preceitos leninistas, é que a
juventude está convocada a impulsionar os desanimados e vacilantes. É certo que os jovens não
possuem os conhecimentos necessários. Mas, conhecimentos se adquirem. Hoje não os possui, mas
amanhã tê-los-ão. Por esse motvo o problema se baseia em aprender e aprender até assimilar o
leninismo. Camaradas da Juventude Comunista: aprendei e assimilai o bolchevismo e empurrai os
vacilantes! Falai menos e trabalhai mais, e vereis como tudo marcha facilmente!”

O desprendimento próprio da juventude a leva a enfrentar com maior sucesso as atvidades


repressivas e a recompor-se mais rapidamente dos revezes da luta, aprendendo de seus
inimigos e os superando em tempo hábil. Isso é não só uma característca da juventude
estudantl no trabalho de construção polítca, mas também da juventude operária. Diz
Lênine:

772
“Necessitamos de jovens capazes... Há uma quantdade imensa de homens mas é preciso recrutar
mais ampla e audazmente, mais audaz e amplamente, todavia mais audaz e amplamente, entre a
juventude, sem temê-la... A juventude decidirá do resultado de toda a luta, tanto a juventude
estudantl como – em medida maior ainda – a juventude operária.”

Nos últmos anos, o trabalho do partdo operário de recrutamento da juventude operária


tem crescido em quantdades notáveis. Também o trabalho de educação polítca dessa
juventude tem avançado com muita rapidez. O enorme avanço da luta operária e sindical no
período (1958-1962) indica o acerto da polítca de reestruturação das lideranças sindicais,
com uma polítca de frente única, unidade desde a base de apoio mútuo dos partdos e
movimentos partcipantes. A formação do PUA, do CGT, etc, expressam a qualidade nova,
resultante do crescimento numérico dos militantes. Recordemo-nos do balanço do Comando
Geral de Greve (C.G.G.), quanto à luta contra a exploração, contra a polítca de
esfomeamento pratcada pelos açambarcadores, sob ampla proteção dos elementos das
forças retrógradas, encastelados no poder:

“Comando Geral da Greve – Manifesto à Nação. A classe trabalhadora alcançou grandiosa vitória
ao realizar, pela primeira vez na história do movimento sindical brasileiro, uma greve geral em todo
território nacional. O 5 de julho, data de afirmação da luta libertadora, já agora se tornará, também,
uma data histórica do proletariado brasileiro, que reúne em torno de sua ação as forças progressistas
de nosso povo.”

“O nosso movimento, conforme reiteradas manifestações anteriormente dadas a público, tem


objetvos claros e definidos, consubstanciados nos itens do programa que apresentamos à Nação,
para cuja realização consideramos imperiosa a consttuição de um governo democrátco e
nacionalista. Neste propósito forçoso é reconhecer que a nossa greve de 24 horas consttuiu firme e
serena advertência aos quadros dirigentes do País, do amadurecimento polítco e progressiva tomada
de consciência da classe trabalhadora. Demonstramos, de maneira inequívoca, que os trabalhadores,
como também os demais setores patriótcos do povo brasileiro – civis e militares – não estão
dispostos a assistr passivamente aos jogos de interesse que, em seu nome, são feitos na defesa de
grupos nacionais e estrangeiros que exploram a ação brasileira. Demonstramos, na prátca, que a
classe trabalhadora é hoje uma força organizada independente, disposta a lutar com todas as
camadas sociais do nosso povo para tornar efetvas as reformas de base, consolidar e ampliar as
liberdades democrátcas e sindicais, defender e ampliar a polítca externa que vem sendo executada.
Por isso mesmo não silenciamos sobre as violências pratcadas contra os grevistas e populares que

773
pacificamente defendiam suas prerrogatvas democrátcas, exigindo que sejam imediatamente
libertados os que sofreram atentados à sua liberdade, bem como punidos aquelas autoridades que
cometeram essas violências e, até mesmo, assassinaram populares em via pública.”

“A formidável demonstração de unidade e combatvidade dada pelos trabalhadores, que já se


haviam pronunciado pela greve em suas assembleias sindicais, foi a melhor resposta que se poderia
dar aos pronunciamentos golpistas, antdemocrátcos e antpopulares dos conhecidos agentes do
latfúndio e do capital estrangeiro em nossa terra.”

“Obtdos esses resultados imediatos, resolvemos determinar a suspensão da greve às 24 horas de


hoje, dia 5, em todo o território nacional. Com esta trégua que concedemos apontamos às forças
progressistas as amplas perspectvas da formação do governo democrátco e nacionalista que
reclama a Nação.”

Esta ampla negociação do movimento operário e sindical conta com a combinação


destacada da (a) liderança de classe, com quadros operários forjados em 40 anos de luta e
(b) massas de jovens operários, conscientes do vínculo entre a causa de libertação nacional e
a causa do socialismo. O partdo operário e as forças suas aliadas cresceram enormemente
nas grandes empresas industriais do país, habilitando uma nova partcipação polítca, capaz
de legitmar a classe operária como um fator independente na polítca nacional. Diz o
partdo:

“Outra característca consiste em que, no curso das greves, os trabalhadores vêm realizando
grandes manifestações de rua – passeatas, concentrações, comícios, etc. – nas quais, ao lado de suas
reivindicações econômicas, levantam bandeiras polítcas, tais como a da limitação da remessa para o
exterior dos lucros das empresas estrangeiras, da nacionalização dos frigoríficos e das empresas de
energia elétrica norte-americanas, da reforma agrária, da nacionalização dos bancos estrangeiros de
depósitos, do restabelecimento das relações diplomátcas e comerciais com a União Soviétca e a
China Popular, da defesa e da ampliação da Petrobrás, da solidariedade à Revolução Cubana e à luta
emancipadora do povo argelino, a da interdição das armas atômicas e de hidrogênio, pelo
desarmamento universal e completo, etc. Nesse sentdo, se é verdade que a maioria das lutas do
proletariado se reveste, no início, de um caráter essencialmente econômico, adquire no processo um
conteúdo polítco, por força da ação reacionária do poder consttuído, chegando, muitas vezes, a
choques violentos, entre operários e o aparelho de repressão do Governo, como aconteceu
recentemente em São Paulo, por ocasião da greve dos trabalhadores da CMTC e da dos metalúrgicos,
e no Estado do Rio, na greve dos trabalhadores de Cabo Frio e de Caxias.”

774
“Os comunistas consttuem, no movimento sindical brasileiro, uma força de primeiro plano e a sua
atuação tem contribuído, de modo decisivo, para elevar o grau de unidade, de organização e a
consciência do movimento operário. Fazendo esforços para romper com o sectarismo que nos isolava
das grandes massas trabalhadoras, temos conseguido neutralizar a ação das forças antunitárias no
movimento operário, reforçando nossas posições e ampliando o campo de nossos aliados, para
desespero dos elementos reacionários interessados em manobras divisionistas. Vai ficando pra trás o
tempo em que os tubarões do sindicalismo brasileiro, mancomunados com as forças obscurantstas
do imperialismo e da reação interna, podiam facilmente enganar as massas e impor a elas sua
vontade. Vivemos na grande época da transição do capitalismo ao socialismo.”

Dessa forma, o trabalho de construção do partdo vem-se desenvolvendo de forma


satsfatória, permitndo criar “sobre a marcha”, as forças que vão-se formando e, logo,
engajando na ampliação das tarefas. O reforço do trabalho planifcado – ora em expansão –
deve contribuir para elevar o ritmo de construção, com impacto futuro no trabalho de
organização do campo popular. Diz o partdo:

“A classe operária, este ano, atuou mais organizadamente. Em sua maioria, as greves realizadas
foram precedidas de assembleias preparatórias com grande partcipação de massa, contaram com
programas reivindicatvos previamente elaborados, com a ampla atvidade dos piquetes de greve e
com comandos livremente eleitos e, por isso mesmo, com o prestgio e a autoridade necessárias junto
às massas.”

2 – O Trabalho de Propaganda do Partdo.

Para os marxistas-leninistas, a propaganda é uma ciência social, e sua prátca é uma arte.
Expressão necessária do materialismo histórico, a propaganda estuda as associações formais
entre os processos de percepção e formação do pensamento, bem como o efeito das
associações – verdadeiras e falsas – que aí se dão, no estabelecimento da verdade. Para os
pensadores burgueses – quase todos – a propaganda é apenas uma técnica de divulgação de
uma ideia, de uma tese, de uma ideologia. É um procedimento que elogia as supostas
qualidades de um objeto, pessoa, ou grupo – ou critca negatvamente – tendo como público
um grande número de pessoas. Este conceito burguês de propaganda cobre apenas a visão
marxista de aplicação da propaganda como arte. Para os teóricos burgueses, tanto faz se a
propaganda trabalhe com a mentra ou com a verdade.
775
Para o partdo operário, a propaganda é um investmento de educação em massa. Portanto,
ela só pode se basear na verdade. O partdo operário jamais engana deliberadamente as
massas populares.

A aparência dos fenômenos muitas vezes – com base no senso comum – é tomada como o
próprio fenômeno. Por exemplo, um raio é tomado pelo fogo que pode produzir, mas não
como o que é, uma descarga elétrica. Essa incapacidade de julgar de um modo imediato,
profunda e corretamente é que fez entre os homens desenvolver-se a ciência. É difcil
entender um fenômeno em sua aparência isolada, sendo ainda mais difcil perceber sua vida
de relações e o que nela expressa. A percepção do laço da causa com o efeito e a separação
do que ali é constringente não é a tarefa que se solva de imediato.

O partdo operário, com sua análise marxista, dedica-se a explicar cada fenômeno na vida
social e apresentar a verdade que dele se pode conhecer em uma linguagem simples,
acessível às amplas massas dos povos. Este acervo de conhecimento escrupulosamente
construído é transmitdo ao povo pelo trabalho de educação do partdo. Ele gera uma
enorme quantdade de sínteses, de interpretações, que são encadeadas em diferentes
associações, em livros, textos, materiais e são explicados de modo sistemátco às massas.
Nisso consiste o trabalho de propaganda do partdo. Dizer às massas, do modo mais
essencial, as verdades que elas precisam para construir o seu caminho na história de forma
independente. Combater a mentra das classes dominantes, estabelecer a verdade como fato
social, ensinar o povo a caminhar – como diz Mao – “com as suas próprias pernas”,.

Como ensinou Lênine, “educar as massas com todo o conhecimento disponível”,, instruí-las
de A a Z, com a verdade e de Z a A, com a verdade. Este trabalho tem que ser feito com
paciência, com determinação e “de modo perpétuo”,, constante. O partdo operário é uma
organização que instrui o povo na verdade acontecida, e na verdade presumida a acontecer,
pelo estudo sistemátco de seus dirigentes, sempre a serviço do povo.

Os inimigos do povo procuram espalhar o boato de que a propaganda marxista e a


propaganda burguesa têm os mesmos objetvos: isso não é verdade. O povo em geral
acredita na ideologia e na mentra das classes dominantes, é vítma da “estratégia do
engodo”, pratcada pela dominação. Ora, se o partdo operário tvesse a mesma fnalidade,
iria aderir a tais mentras – como fazem os partdos burgueses – e não combatê-las.

776
O partdo organiza o conhecimento polítco e social verdadeiro e, em uma análise correta, o
transmite para o povo, enfrentando os diferentes graus de difculdade. O partdo organiza
seu trabalho de educação, seu trabalho de formação ideológica. O trabalho interno de
propaganda do partdo é o seu trabalho de educação e formação ideológica. O mesmo
trabalho de educação, quando levado aos círculos externos – sindicatos, grupos polítcos,
associações de bairro, etc., - é o seu trabalho de propaganda. Alguém crê que o partdo
formaria seus quadros, baseado em coisas erradas?

O trabalho de propaganda do partdo é analisado periodicamente e seus erros eventuais


eliminados; seu trabalho é concentrado em torno dos objetvos mantdos corretos pela linha
do partdo. Não pode ser feito com a má qualidade com que as classes dominantes ensinam
em “suas”, escolas. O estudo, tal como organizado pelo partdo, é individual; e a discussão do
que foi estudado é coletva. Após o aprofundamento do debate e a correção eventual dos
erros e insufciências, o coletvo que partcipou da atvidade produz coletvamente seus
textos e os leva à massa a que tem acesso. O objetvo é ensinar às massas e aprender com as
massas. O trabalho de educação e propaganda do partdo é levado a cabo em todos os seus
níveis, interna e externamente. O partdo não acredita no espontaneísmo, isto é, que os
membros e quadros do partdo conheçam o socialismo e possam alcançá-lo; não acredita
que as massas cheguem a conhecer o socialismo e construí-lo; ambos sem uma sólida
formação educatva e propagandístca. Por isso, o trabalho de educação e propaganda do
partdo é feito com extremo rigor.

No nível de base do partdo, na chamada célula, a direção local do partdo organiza em geral
uma comissão (três membros) para o trabalho de educação interno, e outra para o trabalho
de propaganda externo. A leitura e debate dos materiais do partdo são feitas com paciência
e detalhe, nada sendo deixado de discutr ou “posto para o lado”,. A formação comunista –
honesta e baseada na verdade – não pode ser tergiversada. O trabalho construtvo da
propaganda não deve se apoiar na legalidade burguesa, mas nos sólidos métodos da
clandestnidade, com o método de contato pessoal, abordagem individual, “homem a
homem”,, “boca a boca”, e “ouvido a ouvido”,. As classes dominantes não podem destruir
uma organização que não encontra, apreender um texto bem guardado.

777
O partdo é o estado-maior do proletariado, é o principal organizador do povo trabalhador.
Ele não pode ser encontrado facilmente, nem seu trabalho pode ser apanhado e destruído. É
preciso combater as ideias liberais no seio do partdo, que consideram a repressão mais
brutal e criminosa algo do passado.

O trabalho de propaganda da organização de base aplica o aprendizado que obtém do


marxismo-leninismo para as condições locais. Ele estuda a empresa, o bairro, o distrito ou o
município onde atua. Ele analisa a correlação de forças, seguindo as normas da linha polítca
e do trabalho de educação para identfcar a existência do inimigo na localidade e os meios
de enfrentá-lo e isolá-lo politcamente. Ele educa as massas locais para a luta e forja no local
as alianças que correspondam ao trabalho de massas no nível nacional (ou estadual).
Insistmos que um comunista não deve esperar ser mobilizado pela direção para montar o
trabalho do partdo. Ele deve construir o partdo e aguardar o momento adequado para dar
“um passo adiante”,. Recorde-se que na Rússia czarista, a organização marxista levou de 1886
a 1896 sem uma direção central, e isto contribuiu para “baratnar”, a repressão.

A repressão das classes dominantes não tem piedade do povo, organizado ou não. Diz Mao:

“ ‘A guerra é a contnuação da polítca’. Nesse sentdo, a guerra é a polítca; ela é, pois, por si
mesma, um ato polítco; desde os tempos imemoriais, jamais houve uma guerra que não tvesse
caráter polítco...”

“Mas a guerra tem também suas característcas específicas. Nesse sentdo não é idêntca à polítca
em geral. ‘A guerra é contnuação da polítca por outros meios’. Uma guerra estoura para fazer
desaparecer os obstáculos que se erguem no caminho da polítca, quando esta atngiu certo estágio
que não pode ser ultrapassado pelos meios habituaise Quando o obstáculo é transposto e o objetvo
polítco alcançado, a guerra termina. Enquanto o obstáculo não for completamente superado, é
preciso prosseguir a guerra até que ela atnja seu fim polítcoe É por isto que podemos dizer que a
polítca é uma guerra sem derramamento de sangue e a guerra, uma polítca com derramamento de
sangue.”

Quem partcipou dos acontecimentos recentes na Baixada Fluminense, contou setenta


mortos na luta polítca. O vínculo entre a polítca e a guerra contra o povo fcou ali bem
evidente. Por isso, o partdo não pode ensinar mentras à massa popular. Comentou o nosso
partdo:

778
“Nas cidades, é sobretudo o movimento estudantl que expressa a crescente indignação das
camadas médias, cada dia mais afetadas pela infação e a caresta, pelas dificuldades de
abastecimento dos gêneros mais essenciais, pelos problemas de habitação, transporte, saúde e
educação. A greve nacional universitária revelou a força do movimento estudantl organizado e seu
crescente papel na vida polítca nacional. Assim também, os acontecimentos de 5 de julho na Baixada
Fluminense expressaram, de forma espontânea e violenta, o justo descontentamento das grandes
massas urbanas e sua disposição de não tolerar passivamente a protelação criminosa das soluções
para os problemas vitais do povo.”

“O agravamento das contradições da sociedade brasileira, a elevação da consciência polítca das


massas, a ampliação e a radicalização da luta contra o imperialismo e o latfúndio, a necessidade
cada vez mais urgente de mudança na estrutura econômico-social do país não podem deixar de infuir
nas posições dos diversos setores das classes dominantes, manifestando-se em confitos dentro do
bloco heterogêneo de forças que detêm o poder do Estado, em crises de governo que se repetem com
maior frequência.”

A propaganda “homem a homem”,, “ouvido a ouvido”, é completamente independente do


controle burguês dos meios de informação e divulgação. Entre 1880 e 1904 (apenas 24
anos), construiu-se o movimento operário russo, ucraniano e polonês. Em 1917 (13 anos
após 1904), a classe operária chegava ao poder. Sua base de propaganda? A propaganda
“homem a homem”,, “ouvido a ouvido”,. Nada pode derrotar as forças invencíveis da massa
popular consciente. Diz o partdo:

“Como consequência do processo de industrialização e da evolução polítca dos últmos anos,


aumenta no aparelho do Estado a infuência da burguesia ligada aos interesses nacionais,
imprimindo-lhe a marca de sua natureza dúplice e conciliadora. Essa camada da burguesia,
representada fundamentalmente pelos círculos dirigentes do PTB, pelo Sr. João Goulart e pelas forças
polítcas que o cercam, é favorável às reformas de base. Sua aspiração principal consiste em
impulsionar o desenvolvimento econômico capitalista, e este impõe a adoção de medidas como, por
exemplo, a regulamentação da remessa de lucros do capital estrangeiro e uma reforma agrária
limitada, que representam restrições ao capital imperialista e à propriedade latfundiária, não
implicando, porém, na eliminação efetva desses fatores de atraso do país. Embora não sendo
revolucionária, tal posição leva este setor da burguesia a confitos com os interesses do imperialismo
e das forças reacionárias. Do mesmo modo, no plano internacional, esta camada da burguesia trata
de utlizar em favor de seus interesses a nova situação mundial, o crescente poderio dos países
socialistas e a Revolução Cubana, servindo-se desses fatores inclusive como elementos de pressão

779
sobre o governo e os monopólios dos Estados Unidos, a fim de aumentar seu poder de barganha e
obter concessões. Esta é uma das razões que explicam os aspectos positvos da atual polítca exterior
do Brasil, o estabelecimento de relações diplomátcas e comerciais com os países socialistas, a defesa
da autodeterminação dos povos e do princípio de não intervenção e a aproximação com os chamados
países não alinhados em questões como a do desarmamento.”

O campo de luta do trabalho de construção do partdo abarca o mundo inteiro. O partdo


operário tem que levar em consideração a correlação de forças no plano internacional; tem
que considerar a correlação de forças no país, como um todo; tem que apreciar a relação de
forças no nível de cada estado onde exista; tem que considerar a situação em cada distrito ou
município, em cada bairro ou empresa, etc. O partdo operário não pode ser arrogante, nem
displicente com o desenvolvimento de cada situação, seja onde seja. Por isto, os organismos
de base do partdo têm que estudar a história de cada local onde atuam, atentar para os seus
costumes e desdobramentos, dominar a correlação de forças no plano local. A polítca de
educação e do trabalho ideológico, a linha polítca, devem ser tratados com esforço de
aplicação cuidadosa e expressar a responsabilidade própria de forças revolucionárias. Diz o
partdo:

“Inúmeras são as formas de propaganda utlizadas na campanha para eleger os patriotas e derrotar
os entreguistas. Entre estas, porém, destacam-se os comícios que consttuem sempre uma
demonstração viva e palpável do apoio do povo a seus candidatos. Existem diversas formas de
comícios: os comício-relâmpagos nas portas das empresas e nos pontos de maior movimento, os
grandes comícios que abarcam toda a cidade, etc. Não obstante a grande utlidade dos pequenos
comícios, muitas vezes improvisados, subsiste porém, a necessidade de promover comícios de bairros,
isto é, comícios parciais em determinadas zonas da mesma cidade, que são marcados e anunciados
com antecipação e exigem preparação adequada. Como preparar esses comícios de bairro?”

“O escritório ou o posto eleitoral deve tomar a iniciatva. Para isso, é aconselhável organizar uma
Comissão Promotora, convidando para integrá-la os candidatos do posto e outras personalidades
democrátcas do bairro. Esta Comissão, ou o próprio posto, faz convite ao povo e toma as medidas
necessárias à realização do comício.”

“Providenciar a construção e a instalação do palanque, preparar o local que será teatro comício.
Elaborar o plano de propaganda do comício.”

780
O comportamento dos comitês intermediários do partdo e a direção central do partdo
operário procedem da mesma forma que as organizações da base, dando cumprimento às
suas obrigações educatvas e organizatvas no nível que lhes corresponde. Cada nível de
direção do partdo constrói a estrutura de organização necessária ao detalhamento e
execução de suas tarefas polítcas. Cada seção constrói as comissões necessárias ao
andamento do trabalho de direção e organização de massas. Diz o partdo:

“Mas os comícios não se resumem no ato em que os oradores falam ao público. Sua importância
consiste também em que eles aproximam as massas do Partdo. Reforçam os nossos laços com a
massa. A preparação de um grande comício por exemplo, exige um intenso trabalho de agitação, de
propaganda, de movimentação e organização das massas nas empresas e nos bairros. Isso significa
um estmulo para as atvidades polítcas das células, e deve ser aproveitado, portanto, para o
reforçamento do Partdo.”

“Há comícios de vários tpos: grandes e pequenos, centrais, de bairros, de porta de empresas,
comícios preparados e comícios relâmpagos.”

“Durante a campanha eleitoral, devemos realizar alguns grandes comícios ou comícios centrais.
Estes comícios devem ser poucos, mas realmente grandes com a partcipação de amplas massas.
Para isso eles exigem uma preparação cuidadosa, agitação preparatória nas empresas e nos bairros
por meio de faixas, cartazes, comícios relâmpagos, inscrições nas ruas, anúncios da imprensa e rádio,
etc. Nestes comícios, cuja duração poderá ser maior do que os pequenos comícios, os oradores se
farão ouvir em maior número. Comícios deste tpo, poderão ser realizados na abertura, no
encerramento e no decorrer da campanha, sobretudo quando houver acontecimentos que os
justfiquem.”

“Os pequenos comícios podem ser realizados na porta de empresas, em feiras, em bairros e em
qualquer outro ponto de concentração de massas. Alguns destes comícios devem ser preparados,
outros podem ser tpo relâmpagos, nos bairros e nas portas das empresas, é necessário realizar
comícios preparados previamente e bem organizados. Diariamente, porém, nossos agitadores e
candidatos podem realizar em vários pontos dezenas de comícios relâmpagos, atngindo assim, com a
maior mobilidade, mesmo os setores da população de município que não se movimentam
espontaneamente, para assistr comícios. É necessário que os mesmos comícios sejam atraentes e
não cansatvos. Os discursos devem ser curtos, de vinte a trinta minutos. Nos intervalos entre os
discursos podem ser apresentados pequenos números musicais, cantores populares, humorismo. Mas
não se deve abusar destes recursos de modo a prejudicar o conteúdo polítco do ato.”

781
Importante elemento do trabalho de propaganda entre as massas é o trabalho de
alfabetzação – para benefciar aqueles que ainda não sabem ler – é o trabalho cultural, com
o teatro popular, marionetes nos coretos para as crianças, organização de bandas populares,
etc. Nos últmos anos, o partdo tem criado inúmeros grupos artístcos promotores da cultura
popular e que aproveitam em toda parte a expansão das tradições de nosso povo. Mas as
tarefas são muitas.

O trabalho de alfabetzação e cultura popular caminha para rapidamente atngir uma


dimensão nacional. Ele consolida a unidade de nosso povo e contribui para a organização das
massas populares. O desenvolvimento da cultura popular é um fator muito importante para
o estabelecimento de um poder nacional. Marighella assim analisa as defciências do
trabalho de propaganda e agitação para o movimento feminino:

“O nosso trabalho de imprensa para as mulheres se ressente das mesmas falhas e debilidades de
nossa agitação e propaganda. Além de não atngir as amplas massas de mulheres, nossa imprensa
feminina tem uma circulação irregular, sua difusão é diminuta e instável. A única publicação
progressista feminina não vai além de 15 mil exemplares. Sua rede de agentes é quase
exclusivamente consttuída de comunistas, mesmo assim não ultrapassa a casa dos 200. As dívidas
acumulam-se nos CC, RR., mais importantes do país como Piratninga e Rio, sem falar no Rio Grande
do Sul, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e outros. Tal situação revela nossa imensa fraqueza no
terreno da imprensa feminina, fraqueza que se torna necessário reconhecer abertamente e ao mesmo
tempo eliminar com rapidez. Isto é absolutamente imprescindível, a fim de podermos enfrentar com
êxito a terrível propaganda pelo imperialismo norte-americano e seus agentes no país através do
rádio, da televisão, da imprensa, das histórias em quadrinhos e revistas de cinema, cuja infuência
sobre as mulheres, as moças, a infância e a juventude é grandemente perniciosa.”

“Onde estão as causas das nossas debilidades no trabalho de agitação e propaganda entre as
mulheres e em nossa imprensa feminista? Estas causas são várias e não diferem das causas
apontadas, que entravam nosso trabalho de massa entre as mulheres. Mas a causa principal, sem
dúvida, reside na subestmação do trabalho encarado até agora no terreno da agitação e
propaganda e da imprensa. Pertence ao CC, em primeiro lugar, a responsabilidade por esta situação
que agora procuramos resolver, partndo de nossa própria autocrítca. Penso, por isso, que merece
franco estmulo toda a crítca a este respeito aqui trazida pelos camaradas delegados e delegadas a
esta Conferência.”

782
“A realização com êxito das históricas tarefas hoje colocadas diante da classe operária e de sua
vanguarda exige vencer no mais breve prazo possível nossas debilidades na agitação e propaganda
ente as mulheres e na imprensa feminina.”

Há também o problema da falta de quadros para o trabalho feminino. Ou seja, um trabalho


feminino débil gera uma estrutura de trabalho feminino débil, que não é capaz de cumprir as
tarefas que lhe são atribuídas pela linha polítca. Daí que o esforço de reconstrução do
partdo se faça em todas as frentes, mas com maiores exigências naquelas frentes em que já
era débil, antes das difculdades de 1954-1958. Prossegue Marighella:

“Em que consiste para isso, no momento atual, no terreno da agitação e propaganda entre as
mulheres, nosso objetvo principal? Esse objetvo consiste em ajudar a despertar a mulher para a luta
por sua própria emancipação, é antes e acima de tudo e essencialmente, a luta contra a miséria, pela
elevação do nível de vida das grandes massas trabalhadoras das cidades e do campo. Isto não se
consegue com generalidades, com palavras de ordem gerais e vastas. Nossa agitação e propaganda
deve saber tocar no fundo do coração das mulheres, apontar-lhes o caminho da luta contra a miséria,
pela sua emancipação.”

“Devemos buscar as palavras de ordem que correspondem aos desejos das massas femininas e
levantá-los. Nossa agitação e propaganda para as mulheres deve ser simples, combatva,
convincente, sugestva, com poucas palavras.”

3 – O Trabalho de Agitação do Partdo.

Por “agitação”, em nosso partdo, queremos dizer o oposto de propaganda. Nesta, trabalha
a razão em seu aspecto analítco-dialétco. Na agitação, trabalha a razão emotva. Na
agitação, não tratamos da “relação a a z”,. Tratamos, outrossim, de concentrar toda nossa
capacidade de trabalho em “a”, ou “b”, etc., ou em “z”. Apenas um tema é centralizado e
“tematzado”,, ou seja, tratado como único. Assim, na agitação, nos concentramos no fato.
Tudo aquilo que aprendemos na propaganda é canalizado para mobilizar, para partcipar da
construção do fato, ou para modifcá-lo. A agitação se concentra no fato acontecido ou a
acontecer. Por exemplo, descobrimos que a reação deu um golpe e removeu Jânnio na manhã
do dia do soldado de 1961. Temos um fato. Mobilizamos toda nossa força, mobilizamos as
massas, e vamos à luta, para defender a consttuição e o direito à vida democrátca. Sem
agitação não há movimento de massas. Pode-se dizer que a agitação é a fase da propaganda
em que as massas atuam e fazem a história. Ela é o coroamento , assim, da fase do trabalho
783
da construção. A base polítca formada pelo leito de propaganda permite agora o
lançamento das “palavras-de-ordem”, que vão materializar nova fase da luta pela mudança.
Diz Lênine:

“Ver-nos-íamos, agora, na necessidade de definir a diferença entre propaganda e agitação de


maneira distnta da estabelecida por Plekhanov. (Martnov acaba de citar as palavras de Plekhanov:
‘O propagandista incute muitas ideias a uma só pessoa ou a um pequeno número de pessoas, ao
passo que o agitador inculca uma só ideia ou pequeno número de ideias, mas em compensação o faz
perante toda uma multdão de pessoas’). Por propaganda entenderíamos a explicação revolucionária
de todo o regime atual ou de suas manifestações parciais, prescindindo de sabermos se isto se faz em
forma acessível somente a algumas pessoas ou para as grandes massas. Por agitação, no sentdo
estrito da palavra (sic!) entenderíamos o apelo dirigido às massas para certas ações concretas, o fato
de se contribuir para a intervenção revolucionária direta do proletariado na vida social.”

“Felicitamos a social-democracia russa – assim como a internacional – por esta nova terminologia
martnoviana mais rigorosa e profunda. Até agora, acreditamos (com Plekhanov e com todos os
chefes do movimento operário internacional) que um propagandista, que trata, por exemplo, da
questão da paralisação forçada do trabalho, deve explicar a natureza capitalista das crises, mostrar a
razão de serem estas inevitáveis na sociedade atual, indicar a necessidade de transformar-se a
sociedade capitalista em socialista, etc. Numa palavra, deve oferecer ‘muitas ideias’, tantas que,
todas elas, em seu conjunto, poderão ser assimiladas no ato apenas por um número relatvamente
pequeno de pessoas. Em troca, o agitador ao falar desta mesma questão, tomará um exemplo, o mais
destacado e conhecido do seu auditório – citemos, no caso, o de uma família de desempregados,
morta de fome, o aumento da miséria, etc. - e, aproveitando este fato bem conhecido pelo auditório,
tratará de oferecer a todos a cada qual à ‘massa’, uma só ideia : a ideia da contradição absurda
entre o incremento da riqueza e o aumento da miséria; e tratará de despertar nas massas o
descontentamento e a indignação contra esta irritante injustça, deixando ao propagandista a
explicação completa desta contradição.”

“Por isso, o propagandista procede, principalmente, por meio da palavra impressa, ao passo que o
agitador atua de viva voz. Do propagandista exigem-se qualidades distntas das do agitador. Assim,
chamaremos de propagandistas a Kautski e Lafargue; a Bebel e Guesde, chamaremos de agitadores.
A estabelecer-se um terceiro terreno ou uma terceira função de atvidade prátca, envolvendo nesta
função o ‘apelo dirigido às massas para certas ações concretas’ é o maior dos desatnos, pois o
‘apelo’, como o ato isolado, ou bem é um complemento natural e inevitável do tratado teórico, do
folheto de propaganda e do discurso de agitação, ou, então, consttui uma função nitdamente

784
executva. Com efeito, tomemos, por exemplo, a presente luta dos social-democratas alemães contra
as tarifas sobre cereais. Os teóricos, em seus estudos de investgações sobre a polítca aduaneira,
‘chamam’, digamos assim, lutar pela conclusão de tratados comerciais e pela liberdade do comércio;
o mesmo fazem o propagandista, nas revistas, e o agitador, em seus discursos públicos. A ‘ação
concreta’ das massas consiste, neste caso, em dirigir uma mensagem do Reichstag, exigindo que não
sejam aumentadas as tarifas contra os cereais. O apelo a esta atuação parte indiretamente dos
teóricos propagandistas e agitadores, e, diretamente, dos operários que percorrem as fábricas e
residências partculares com as listas de adesão à mensagem. Segundo a ‘terminologia de Martnov’,
resultaria que tanto Kautski como Bebel são propagandistas e os portadores de listas de adesão
agitadores. Não é assim?”

Portanto, o partdo deve não só preparar a massa para a luta “ilustrando-a”, com numerosos
fatos e exemplos em seu trabalho educatvo e propagandístco, como deve também ser capaz
de – no momento devido – diante de um fato novo, levá-la à luta e à possível transformação
da situação dada. Ou seja, materializar o trabalho de agitação. É por isso que na base do
partdo, em cada comitê do partdo, etc., estão formadas comissões encarregadas do
trabalho de massas, ou seja, da condução do trabalho de agitação, quando a evolução da
situação assim o exija. Diz Lênine:

“O operário revolucionário, se quiser preparar-se plenamente para o seu trabalho, terá que se
converter também em revolucionário profissional. Por isto, B-v não tem razão ao dizer que, por estar
o operário ocupado na fábrica onze horas e meia, as demais funções revolucionárias (salvo a
agitação) ‘incumbem forçosamente a reduzidíssimo número de intelectuais’. Isto não sucede
‘forçosamente’, e, sim, em virtude de nosso atraso, porque não compreendemos ser nosso dever
ajudar todo operário que se distnga por sua capacidade a se converter em agitador profissional, em
organizador, em propagandista, distribuidor, etc. Neste sentdo, desbaratamos vergonhosamente
nossas forças, não sabemos cuidar do que tem que ser cultvado e desenvolvido com partcular
solicitude. Contemplai os alemães: têm cem vezes mais força do que nós, porém, compreendem
perfeitamente que os operários ‘médios’ não proporcionam, com demasiada frequência, agitadores,
etc., efetvamente capazes.”

“Por isso, procuram colocar imediatamente todo operário capaz em condições que lhe permitam
desenvolver e aplicar plenamente suas aptdões; fazem dele um agitador profissional, levam-no a
ampliar seu campo de ação, a estendê-lo de uma fábrica a todo um ofcio, de uma localidade a todo o
país. Deste modo, o operário adquire experiência e habilidade profissional, alarga seus horizontes e

785
seus conhecimentos, observa de perto os chefes polítcos eminentes de outras localidades e de outros
partdos, procura elevar-se ao nível desses chefes e reunir em sua pessoa os conhecimentos do meio
operário e a força das convicções socialistas à competência profissional, sem a qual o proletariado
não pode lutar porfiadamente contra seus inimigos perfeitamente instruídos. Assim, e só assim,
surgem da massa operária os Bebel e os Auer. Mas o que num país politcamente livre se faz em
grande parte por si mesmo, entre nós deve ser feito sistematcamente, por meio de nossas
organizações. Nenhum agitador operário que tenha algum talento, ‘que prometa’, deve trabalhar
onze horas na fábrica. Devemos providenciar de modo que ele viva por conta do Partdo, para que,
quando for preciso, possa passar a agir clandestnamente, para que possa mudar de residência, pois,
de outro modo, não adquirirá grande experiência, não ampliará seus horizontes, não saberá manter-
se, ao menos uns tantos anos, na luta contra os gendarmes.”

Ou seja, Lênine defende a necessidade de formar os quadros do partdo, em grande


número, como organizadores propagandistas, e agitadores profssionais saídos de dentro da
massa fabril, por decisão do próprio partdo, e não “apenas”, aqueles que se veem obrigados
a passar à clandestnidade, devido à perseguição sistemátca da polícia.

Ou seja, Lênine chama a atenção que há um impulso natural na massa trabalhadora para
romper com a polítca da conciliação e avançar pelo caminho revolucionário. Este impulso
deve ser canalizado pelo movimento de profssionalização dos companheiros mais
combatvos no nível de base do movimento. Portanto, nos momentos de viragem na luta,
diante de fatos novos e importantes, numa luta de massa mais candente, dá-se a
oportunidade de revelação de novos militantes, de quadros da revolução. Diz Lênine:

“Quanto mais amplo e mais profundo for o impulso espontâneo das massas operárias, mais
agitadores de talento produzirão elas, e não só agitadores, mas também organizadores,
propagandistas e militantes, ‘prátcos’ de talento, no bom sentdo da palavra (que são tão escassos
entre nossos intelectuais, em sua maior parte apátcos e descuidados, à maneira russa). Quando
tvermos destacamentos de operários revolucionários especialmente preparados (em todas as armas
da ação revolucionária, entenda-se bem) por longa aprendizagem, nenhuma polícia social do mundo
poderá com eles, porque esses destacamentos de homens consagrados de corpo e alma à revolução,
gozarão igualmente de uma confiança ilimitada por parte das grandes massas operárias. E
cometemos grande falta não ‘impelindo’ bastante os operários para este caminho da aprendizagem
revolucionária profissional, mas, pelo contrário, muitas vezes, arrastando-os para trás, com discursos
néscios sobre o que é ‘acessível’ a massa operária, aos operários médios, etc.”

786
Assim, o partdo operário dedica um esforço para elevar o nível de entendimento e
preparação dos quadros e membros do movimento popular, não apenas daqueles que são
membros do partdo. E procura consolidar suas estruturas próprias, dando-lhes
profundidade de ação, a partr da prátca social das grandes massas envolvidas na luta. Diz
Zinoviev:

“Os órgãos do Partdo devem também se preocupar com a educação superior dos estudantes
comunistas e outros intelectuais. Os estudantes comunistas não devem ter permissão de se
conservarem num estado de esplêndido isolamento.”

“As frações estudants ou núcleos existentes e que tenham até então sido círculos seletos de
autoeducação sem qualquer sistema partcular, devem ser transformados, debaixo da orientação
direta de experimentados trabalhadores do partdo, bem versados em marxismo e leninismo e
familiarizados em movimentos trabalhistas, em corpos educacionais capazes de produzir verdadeiros
propagandistas e mais ainda os membros desses grupos estudants devem ser conduzidos a tomarem
parte nos trabalhos prátcos do grupo.”

O trabalho de formação e recrutamento de intelectuais contribui para elevar o nível de


discussão entre os intelectuais de distntas correntes progressistas e não apenas a formação
de intelectuais comunistas. A criação de centros de pesquisas, sociais ou de ciências da
natureza, amplia o número de insttuições de pesquisa no país e contribui para pôr fm à
estranheza provinciana que nos redutos atrasados como o Brasil cercam o debate de ideias.
Neste país o nível de discussão é tão baixo que há organizações ditas polítcas que defendem
o extermínio fsico de pessoas progressistas (1) Imaginem semelhantes “intelectuais”,
confrontados não apenas com ideias opostas, mas com o direito de organizar a luta polítca
segundo ideias que são opostas às suasm É por isso que classifcamos as forças retrógradas
de “inimigos”,. É porque na realidade eles o são. Não reconhecem a ninguém o direito de
lutar para mudar coisa alguma. Para eles – que estão lucrando – o mundo está perfeito. Daí a
chacina de trabalhadores, pobres, etc., é apenas um pequeno passo.

O trabalho de agitação, portanto, compreende tarefas muito concretas, ligados a fatos que
mudam ou podem mudar a correlação de forças e, por isso, implicam medidas de ação
imediata, muitas vezes já indicadas e trabalhadas pela arte operacional. Como diz Stálin:

787
“A palavra-de-ordem é a formulação sucinta e clara dos objetvos imediatos e distantes da luta,
lançada, por exemplo, pelo grupo dirigente do proletariado, pelo seu Partdo. Existem palavras-de-
ordem diversas, que variam segundo os objetvos da luta, palavras-de-ordem que abrangem todo um
período histórico, ou diferentes fases e episódios de um determinado período histórico. A palavra-de-
ordem de ‘Abaixo a autocracia’, que o grupo ‘Emancipação do Trabalho’ lançou pela primeira vez, no
decênio de 1880-1890, era uma palavra-de-ordem de propaganda, porque tnha por objetvo ganhar
para o Partdo, individualmente e em grupos, os combatentes mais firmes e intrépidos. No período da
guerra russo-japonesa, quando a instabilidade da autocracia se tornou mais ou menos evidente às
grandes massas da classe operária, essa palavra-de-ordem se transformou em palavra-de-ordem de
agitação, porque já se propunha ganhar massas de milhões de trabalhadores. No período que
precedeu a Revolução de Fevereiro de 1917, quando o tsarismo já estava definitvamente
desacreditado aos olhos das massas, a palavra-de-ordem de ‘Abaixo a autocracia’ se transformou de
palavra-de-ordem de agitação em palavra-de-ordem de ação, porque o seu objetvo era mobilizar
massas de milhões de trabalhadores para o assalto contra o tsarismo. Durante as jornadas da
Revolução de Fevereiro, essa palavra-de-ordem já se transformara em diretva do Partdo, isto é, num
apelo aberto à conquista, dentro de um prazo fixado, de certas insttuições e de certas posições do
sistema tsarista, posto que se tratava de derrubar o tsarismo, de destruí-lo. A diretva é um apelo
direto do Partdo à ação em momento e lugar determinados, obrigatório para todos os membros do
Partdo e habitualmente secundado pelas grandes massas trabalhadoras, se o apelo formula de
modo justo, exato, as reivindicações das massas, se é verdadeiramente oportuno.”

“Confundir a palavra-de-ordem com as diretvas ou a palavra-de-ordem de agitação com a palavra-


de-ordem de ação é tão perigoso quanto são perigosas, e às vezes até funestas, as ações prematuras
ou tardias. Em abril de 1917, a palavra-de-ordem de ‘Todo o Poder aos Soviets’ era uma palavra-de-
ordem de agitação. A célebre manifestação de Petrogrado, em abril de 1917, com a palavra-de-
ordem de ‘Todo o Poder aos Soviets’, demonstração que se realizou em torno do Palácio de Inverno,
foi uma tentatva, uma tentatva prematura e por isso desastrosa, de transformar essa palavra-de-
ordem em palavra-de-ordem de ação. Teve razão o Partdo ao condenar os promotores daquela
manifestação, pois sabia que ainda não existam as condições indispensáveis pra transformar essa
palavra-de-ordem em palavra-de-ordem de ação. Que uma ação prematura do proletariado poderia
conduzir ao desbaratamento das suas forças.”

Vê-se aí, portanto, a importânncia da elaboração correta das consignas, das palavras-de-
ordem que hão de expressar a concentração das massas para o “assalto”, à fortaleza inimiga.
É preciso distnguir entre a mobilização das massas – exigindo seus direitos – pela agitação,

788
parte de todo o processo educatvo da conquista do poder, e a ação vindoura, ou seja,
eventual tentatva – de fato – de tomada de poder. É preciso saber avançar e saber recuar.
Sobretudo, na luta aberta entre as classes, é preciso saber manobrar. Não imaginamos que
as classes dominantes aprenderão a ceder algo, porque o povo está organizado. Elas
procurarão ganhar tempo para organizar o “contra-ataque”,, como ocorre atualmente.
Comenta Stálin:

“Existem, por outro lado, casos em que o Partdo se vê na contngência de retrar ou modificar ‘em
24 horas’ uma palavra-de-ordem (ou uma diretva) já aprovada e que era oportuna, para salvar as
suas fileiras de uma emboscada preparada pelo inimigo, ou para adiar temporariamente a aplicação
de uma diretva até o momento mais propício. Um caso dessa espécie ocorreu em Petrogrado, em
julho de 1917, quando a manifestação de operários e soldados, metculosamente preparada e fixada
para 9 de junho, foi ‘inesperadamente’ suspensa pelo C.C do nosso Partdo, em vista de mudança
operada na situação.”

“A tarefa do nosso Partdo consiste em transformar hábil e oportunamente as palavras-de-ordem de


agitação em palavra-de-ordem de ação, ou as palavras-de-ordem de ação, em diretvas precisas e
concretas, ou, se o exige a situação, dar prova da fexibilidade e decisão indispensáveis para
suspender a tempo a aplicação de determinadas palavras-de-ordem mesmo que sejam populares,
mesmo que sejam oportunas.”

Há, portanto, situações em que a velocidade de aumento de partcipação das massas cresce
tão rápido que supera as mobilizações de massas politzadas. Ou seja, massas normalmente
apátcas despertam e partcipam do processo de luta, surpreendendo não só a reação, mas
os próprios dirigentes do campo revolucionário. Tratam-se de ações espontânneas, com a
partcipação de massas crescentes. Nesse caso, é preciso saber transformar as palavras-de-
ordem de agitação em palavras-de-ordem para a ação. Diz Prestes:

“Melhorar e ampliar a nossa agitação e propaganda e dar maior atenção a nossa imprensa – Na
situação atual, ampliar e melhorar a propaganda e a agitação polítca do Partdo é uma questão
decisiva para o próprio Partdo. O Programa do Partdo precisa ser conhecido e compreendido pelas
grandes massas de milhões de todo o nosso povo. Para os objetvos e tarefas indicados pelo
Programa precisamos ganhar as massas de milhões. Sem dúvida, avançamos no trabalho de agitação
e propaganda entre as massas. Temos conseguido elevar a consciência de milhares de pessoas
explicando-lhes a polítca de paz da União Soviétca, desmascarando as intenções sinistras dos
incendiários de guerra anglo-americanos, assim como a polítca de traição nacional do governo de
789
latfundiários e grandes capitalistas. Já conseguimos, também, realizar uma ampla difusão do
Programa do Partdo entre os mais diversos setores da população e temos feito alguns esforços no
sentdo de atrair as massas populares ao debate das teses e ideias nele expostas.”

“Muito precisamos, no entanto, ainda fazer para colocar a agitação e a propaganda na altura das
necessidades atuais de nosso Partdo, quando aumentam suas responsabilidades diante do crescente
descontentamento popular e da intensificação e ampliação das lutas de massas. Na verdade, não
vamos ainda às grandes massas de milhões.”

“Um trabalho de agitação e propaganda eficiente exige a assistência permanente dos organismos
dirigentes do Partdo que devem fornecer os materiais necessários, reunir frequentemente os
propagandistas e agitadores para consulta e troca de experiências, visando sempre melhorar os
métodos e as formas de seu trabalho.”

“Quanto à imprensa é indispensável tomar algumas medidas enérgicas para melhorar rapidamente
seu conteúdo e assegurar sua maior difusão. A imprensa precisa ter à sua frente, direções
responsáveis, ideologicamente firmes, com espírito de iniciatva e capazes de aplicar sem graves erros
a polítca do Partdo aos fatos concretos de cada dia que devem ser levados ao conhecimento das
massas, devidamente explicados e respondidos. Nossa imprensa deve ser combatva e polêmica,
saber convencer, mas também desmascarar. As organizações do Partdo devem dedicar maior
atenção à difusão de nossa imprensa, acabar com a subestmação da imprensa, assegurar a ligação
necessária indispensável da imprensa do Partdo com as bases e as massas.”

Ou seja, o fundamento do trabalho legal é o trabalho clandestno e semiclandestno. O


trabalho legal não terá profundidade alguma se não estver alicerçado por (a) uma rede de
sustentação que pode reestruturá-lo ou substtuí-lo com certa rapidez e (b) assegurado por
desdobramentos preestabelecidos pela arte operacional, a fm de enfrentar a mudança de
situações. Tudo isso tem que estar planejado e dosado pela (1) extensão de nossas forças e
(2) pela possibilidade de execução da manobra necessária com êxito. Não se pode correr o
risco de aventuras. Comenta Lênine:

“A questão a respeito de se é mais fácil apanhar ‘uma dezena de homens inteligentes’ que ‘uma
centena de imbecis’ reduz-se à questão que analisei mais atrás de se é compatvel uma organização
de massas com a necessidade de manter um rigoroso regime clandestno. Nunca poderemos dar a
uma organização ampla o caráter clandestno indispensável para uma luta firme e contnua contra o
governo. E a concentração de todas as funções clandestnas nas mãos do menor número possível de

790
revolucionários profissionais não significa de modo algum que estes últmos ‘pensarão por todos’, que
a multdão não tomará parte atva no movimento. Pelo contrário, a multdão fará surgir de seu seio
um número cada vez maior de revolucionários profissionais, pois então saberá que não basta que
alguns estudantes e operários que lutam no terreno econômico se reúnam para consttuir um
‘comitê’, mas que é necessário forjar-se através de anos, como revolucionários profissionais, e
‘pensará’ não só nos métodos artesãos de trabalho, mas exatamente nessa formação. A centralização
das funções clandestnas da organização não implica, de modo algum, na centralização de todas as
funções do movimento.”

Ou seja, o movimento de massas é uma força viva que alimenta o partdo operário e a luta
revolucionária e não o contrário – como imagina que seja a reação -. É a luta do povo que se
eleva e pode gerar o partdo operário, transformando-o consequentemente ao longo das
diferentes necessidades da própria luta. Compreender que “ir das massas”, para a condição
de “quadro do partdo”, não é senão uma necessidade das próprias massas é compreender
também a necessidade de aprender com as massas para capacitar-se a dirigi-las. Prossegue
Lênine:

“A partcipação mais atva e mais ampla das massas numa manifestação não só não sairá
prejudicada, como, pelo contrário, terá muito mais probabilidade de êxito se uma ‘dezena’ de
revolucionários profissionais, provocados, bem adestrados, pelo menos tão bem quanto nossa polícia,
centralizar o trabalho clandestno em todos os seus aspectos: publicação de volantes, elaboração do
plano aproximado, escolha dos dirigentes para cada estabelecimento de ensino, etc., (dirão, já sei,
que minhas concepções são ‘antdemocrátcas’, mas refutarei mais adiante pormenorizadamente esta
objeção nada inteligente). A centralização das funções mais clandestnas pela organização dos
revolucionários não debilitará, mas sim reforçará a amplitude e o conteúdo da atvidade de uma
grande quantdade de outras organizações destnadas ao grande público, e, por conseguinte, o
menos regulamentadas e clandestnas possível: sindicatos operários, círculos operários de instrução e
de leitura de publicações ilegais, círculos socialistas, círculos democrátcos para todos os demais
setores da população, etc. Tais círculos, sindicatos e organizações são necessários por toda parte; é
preciso que sejam os mais numerosos, e suas funções as mais variadas possíveis, mas é absurdo e
prejudicial confundir estas organizações com a dos revolucionários, suprimir as fronteiras, que há
entre elas, extnguir na massa a consciência, já por si incrivelmente obscurecida, de que para ‘servir’ a
um movimento de massas é necessário dispor de homens que devem forjar-se com paciência e
tenacidade até converter-se em revolucionários profissionais.”

791
4 – O Trabalho de Organização do Partdo.

O partdo operário é o estado-maior da luta revolucionária. Cabe a ele coordenar as


diferentes insttuições criadas pela classe operária, pelas massas de camponeses pobres,
pelos intelectuais revolucionários e pelo povo insatsfeito em geral. Portador de uma
superioridade polítca e uma superioridade moral que decorre de seu sacrifcio – até
absoluto, quando necessário – o partdo operário debate com todas as camadas de nosso
povo as melhores formas de se organizar e de travar a luta polítca contra o imperialismo e
seus aliados, a maioria das classes dominantes. O partdo organiza a luta da classe operária e
do povo em geral em busca de fazê-lo com perfeição, sob a restrição óbvia do número, dos
recursos e da capacidade de recrutar para isso os melhores flhos de nosso povo. O partdo
não se rebaixa a capitular diante do inimigo, nem se deixa intmidar. Ele é invendável, porque
vem do povo. Não importa quantas vezes as classes dominantes tentem destruí-lo, tantas
vezes ele renascerá, até que haja completado a sua tarefa histórica. Assim, o partdo
partcipa sempre da organização das massas para a luta. Todo o seu trabalho está voltado
para levar crescentes massas populares à luta. Diz Lênine:

“Como é grande a infuência moral das greves, como é contagiante a infuência que exerce nos
operários ver seus companheiros, que, embora temporariamente, se transformam de escravos em
pessoas com os mesmos direitos dos ricos! Toda greve infunde vigorosamente nos operários a ideia
de socialismo: a ideia da luta de toda a classe operária por sua emancipação o do jugo do capital. É
muito frequente que, antes de uma greve, os operários de uma fábrica, uma indústria ou uma cidade
qualquer não conheçam sequer o socialismo, nem pensam nele, mas que depois da greve difundam-
se entre eles, cada vez mais, os círculos e as associações e sejam maior o número dos operários que
se tornam socialistas.”

“A greve ensina os operários a compreenderem onde repousa a força dos patrões e onde a dos
operários, ensina a pensarem não só em seu patrão e em seus companheiros mais próximos, mas em
todos os patrões, em toda a classe capitalista e em toda a classe operária.”

É desse processo que surge o partdo operário como força de educação. É desse processo
que as dezenas se transformam em milhares e milhões de revolucionários. Não há outro
caminho para a redenção desde uma sociedade podre e corrupta, desde uma sociedade de

792
escravização, que a luta revolucionária. E o partdo é capaz de tal expressar, de elaborar
teoria revolucionária e de conduzir a massa revolucionária. Comenta Lênine:

“Assim, as greves ensinam os operários a unirem-se, as greves fazem-nos ver que somente unidos
podem aguentar a luta contra os capitalistas, as greves ensinam os operários a pensarem na luta de
toda a classe operária contra toda a classe patronal e contra o governo autocrátco e policial.
Exatamente por isso, os socialistas chamam as greves de ‘escola de guerra’, escola em que os
operários aprendem a desfechar a guerra contra seus inimigos, pela emancipação de todo o povo e
de todos os trabalhadores do jugo dos funcionários e do jugo do capital.”

“Mas a ‘escola de guerra’ ainda não é a própria guerra. Quando as greves alcançam grande difusão,
alguns operários (e alguns socialistas) começam a pensar que a classe operária pode limitar-se às
greves e às caixas ou sociedade de resistência, que apenas com as greves a classe operária pode
conseguir uma grande melhora em sua situação e até sua própria emancipação. Vendo a força que
representa a união dos operários e até mesmo suas pequenas greves, pensam alguns que basta aos
operários defagrarem a greve geral em todo o país para poder conseguir dos capitalistas e do
governo tudo que queiram. Esta opinião também foi expressada pelos operários de outros países
quando o movimento operário estava em sua etapa inicial e os operários ainda tnham muito pouca
experiência. Esta opinião, porém, é errada. As greves são um dos meios de luta da classe operária por
sua emancipação, mas não o único e se os operários não prestam atenção a outros meios de luta,
atrasam o desenvolvimento e os êxitos da classe operária.”

O partdo operário não se agarra ao formalismo nem ao formulismo e não tem ilusões
quanto às imposições dialétcas da realidade. Ele vai à prátca e tão logo se dê nela um
desfecho parcial na correlação de forças, dá um balanço autocrítco – seja nessa prátca
“vitorioso”, ou “derrotado”,-. O balanço autocrítco é o momento adequado para analisar um
por um os erros cometdos e tomar as providências organizatvas para corrigi-los, para os
eliminar. Por exemplo, no balanço das greves de 1958, assim examina Lucchesi o aprendizado
do partdo com as massas:

“A greve proporcionou o avanço do movimento patriótco democrátco. A classe operária lutando


por suas reivindicações mais imediatas, pelo progresso e contra o imperialismo, tem necessidade de
liberdade. Por isso mesmo a greve determinou o avanço do movimento democrátco e patriótco. Na
complexidade desta situação em que a liquidação da opressão imperialista e dos restos feudais
surgem como uma necessidade para o progresso da sociedade brasileira surgem à tona, com mais
força, as debilidades e fraquezas ainda existentes no seio do proletariado. Estas debilidades e

793
fraquezas devem ser corrigidas pela ação do Partdo Comunista, no terreno polítco, ideológico e
organizatvo. Lutando pela unidade de ação e de organização da classe operária, o Partdo contribuiu
para seu fortalecimento, para o avanço do seu nível de compreensão, para torná-la mais solidária e
unida. O Partdo adquiriu, em seus longos anos de vida, experiências importantes na condução das
lutas do proletariado. Nesse processo cometemos sérios erros, a maioria de caráter sectário.
Procurando melhorar sua atvidade, o Partdo baseia-se cada vez mais na realidade e, não
esquecendo os erros cometdos, procura imprimir em seus trabalhos uma orientação que satsfaça
mais os interesses do proletariado e atender melhor, suas necessidades. Partndo das condições
objetvas favoráveis, procurando refetr o pensamento dos militantes do Partdo e apoiados no
próprio estado de espírito do proletariado, chegamos a algumas conclusões polítcas e tátcas que
foram se ajustando e aperfeiçoando no próprio processo de sua aplicação na luta grevista. A essência
dessa polítca, sua viga mestra foi: orientar e dirigir a luta do proletariado em greve pela conquista de
suas reivindicações mais sentdas, mobilizando para isso as categorias que já haviam esgotado todos
os recursos legais, para chegar a um acordo conciliatório com os patrões. Aproveitar o próprio
movimento para levar a classe operária a reforçar a sua unidade e organização. Desenvolver a
solidariedade conquistando o apoio das demais categorias de trabalhadores e da opinião pública
para os grevistas. Explorar, em benefcio do proletariado, as contradições existentes no seio das
classes dominantes, mantendo uma posição firme, independente e de classe, mas abertas a todas as
negociações. Utlizar as condições e possibilidades legais, como um dos fatores de êxito do
movimento, combatendo as manifestações sectárias e esquerdistas. Defender e ampliar as conquistas
democrátcas. E, finalmente, no processo e como resultado de luta, reforçar as fileiras do nosso
Partdo.”

“O nosso Partdo avançou, reforçou-se com o movimento grevista. Cresceu seu prestgio. Ligou-se
mais às massas. Agiu com certa justeza nas questões polítcas.”

“Do ponto de vista polítco, os erros, defeitos e debilidades de caráter ideológico e orgânico, bem
como os erros de métodos, uma vez localizados e examinados, poderão e deverão ser superados,
determinando um novo fortalecimento do Partdo.”

Ao aprender com as massas em suas jornadas de luta, o partdo cresce seu entendimento e
sua capacidade de luta sem cessar. No entanto, aqueles que não conseguem assimilar os
princípios da dialétca, querem inferir que, se “aprende da luta”,, não cometerá mais erros. A
vida não é assim e acreditar na perpetuidade dos próprios acertos só leva ao desastre. É
importante entender que a ciência leninista da organização não é um manual burguês de
administração de empresas. Da análise da transformação das conjunturas que se dão, e das
794
alterações que provoca na correlação de forças, impõe-se novas tarefas, correções de rumo,
e, portanto, reestruturação organizatva por novas imposições de tátca. O partdo não é uma
administração de depósitos, onde medidas tomadas valem por uma década. Ao acompanhar
as necessidades e os ensinamentos dos movimentos de massas, há momentos que se
impõem ao partdo revolucionar-se a si mesmo, para se tornar uma organização mais capaz e
prever com acerto o caráter de certas lutas vindouras, tomando as providências que sua
estratégia irá exigir. Como diz Kuusinen:

“Apesar de toda a importância que têm as condições externas, internacionais, o fator decisivo na
formação da situação revolucionária reside sempre nas condições internas do país, na tensão das
contradições de classe e no nível alcançado pela luta de classes.”

“A base objetva do desenvolvimento dos processos revolucionários nos países capitalistas é o


constante aprofundamento de todas as suas contradições antagônicas. Na terceira etapa da crise
geral do capitalismo, essas contradições, agravadas sensivelmente pela revolução cientfico-técnica
dos nossos dias, adquirem novos traços, manifestam-se em formas específicas e encontram sua
expressão mais geral no agravamento da contradição que opõe o punhado de monopolistas que se
encontra no poder à maioria esmagadora do povo. Essa contradição afeta atualmente todos os
aspectos básicos da vida social dos países capitalistas e dá origem a uma série de fatores constantes
que estmulam o desenvolvimento do processo revolucionário.”

A tendência interna para aguçamento das contradições vê-se não raro “coadjuvada”, pela
pressão imperialista, mais ou menos externa, para que as classes dominantes locais
“antecipem”, e esmaguem os movimentos populares, através de golpes de estado e guerras
civis, antes que tais movimentos adquiram proporções consideráveis. Esta tem sido a
tendência após a segunda guerra mundial e não há porque supor que se modifcará na
próxima década. Por isso é importante a advertência de Lênine:

“Todos hão de convir que seria insensata e até mesmo criminosa a conduta de um exército que não
dispusesse a conhecer e utlizar todos os tpos de armas, todos os meios e processos de luta que o
inimigo possui ou pode possuir. Mas essa verdade é ainda mais aplicável à polítca que à arte militar.
Em polítca é ainda mais fácil saber de antemão que método de luta será aplicável e vantajoso para
nós, nessas ou naquelas circunstâncias futuras. Sem dominar todos os meios de luta podemos correr
o risco de sofrer uma derrota fragorosa – às vezes decisiva – se modificações independentes da nossa
vontade na situação das outras classes puserem na ordem do dia uma forma de ação na qual somos

795
partcularmente débeis. Se dominamos todos os meios de luta, nossa vitória estará garantda, pois
representamos os interesses da classe realmente avançada, realmente revolucionária, inclusive se as
circunstâncias nos impedirem de utlizar a arma mais perigosa para o inimigo, a arma mais capaz de
assestar-lhe golpes mortais com a maior rapidez. Os revolucionários inexperientes imaginam
frequentemente que os meios legais de luta são oportunistas, uma vez que a burguesia enganava e
lograva os operários com partcular frequência nesse terreno (sobretudo nos períodos chamados
‘pacíficos’, nos períodos não revolucionários), e que os processos ilegais são revolucionários. Mas isso
não é justo. O justo é que os oportunistas e traidores da classe operária são os partdos e chefes que
não sabem ou não querem (não digam: não posso, mas sim: não quero) aplicar os processos ilegais
de luta numa situação, por exemplo, como a guerra imperialista de 1914/1918, em que a burguesia
dos países democrátcos mais livres enganava os operários com insolência e crueldade nunca vistas,
proibindo que se dissesse a verdade sobre o caráter de rapina da guerra. Mas os revolucionários que
não sabem combinar as formas ilegais e legais são péssimos revolucionários. Não é difcil ser
revolucionário quando a revolução já estourou e está em seu apogeu, quando todos aderem à
revolução simplesmente por entusiasmo, modismo e inclusive, às vezes, por interesse pessoal de fazer
carreira. Custa muito ao proletariado, causa-lhe duras penas, origina-lhe verdadeiros tormentos
‘desfazer-se’ depois dos triunfos. É muitssimo mais difcil – e muitssimo mais meritório – saber ser
revolucionário quando ainda não existem as condições para a luta direta, aberta, autentcamente de
massas, autentcamente revolucionária, saber defender os interesses da revolução (através da
propaganda, da agitação e da organização) em insttuições não revolucionárias e, muitas vezes,
simplesmente reacionárias, numa situação não revolucionária, entre massas incapazes de
compreender imediatamente a necessidade de um método revolucionário de ação. Saber perceber,
encontrar, determinar com exatdão o rumo concreto ou a modificação partcular dos acontecimentos
suscetveis de levar as massas à grande luta revolucionária verdadeira, final e decisiva é a principal
missão do comunismo contemporâneo na Europa Ocidental e na América.”

Ou seja, a partr de um certo ponto de agravamento da situação, o partdo operário,


levando em consideração o conhecimento da história do movimento operário local e
internacional, deve se preparar para enfrentar a antecipação pelo inimigo de todas as formas
de luta e eliminar a hipótese de – depois – desculpar-se perante as massas, que não era
possível prever a mudança das formas de luta pelo inimigo de classe. A experiência histórica
ensina que as classes dominantes sempre preferem a violência, ao desenvolvimento pacífco
das conjunturas. Ensina que as classes dominantes – quando em difculdade – mudam a
forma de luta parlamentar para a luta armada, pratcando genocídios e fagelando a

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população com golpes de estado e guerra civil. Portanto, o partdo operário deve ter a
humildade de aprender da experiência histórica e saber antecipar-se ao desenvolvimento da
situação – não para desencadear a violência – mas para dela prevenir-se. Recordemos o
ensinamento de Mao:

“Na China, sem a luta armada, não haveria lugar para o proletariado, nem para o povo, nem para o Partdo
Comunista, nem vitória para a revolução. É através das guerras revolucionárias destes 18 anos que nosso
Partdo se desenvolveu, consolidou e bolchevizou e, sem a luta armada, não haveria o Partdo Comunista de
hoje. Os Camaradas do Partdo jamais devem esquecer esta experiência, paga com nosso sangue.”

Quando uma burguesia semicolonial é obrigada – por seus colonizadores ! - a assumir uma
fachada democrátca, isso não signifca que em algumas décadas ela se tornará uma força
civilizada. É necessário pois vigiar suas intenções. Diz Mao:

“Cada comunista deve assimilar esta verdade – que ‘o poder está na ponta do fuzil’.”

“A tarefa central e a forma suprema da revolução é a conquista do poder pela luta armada, é resolver o
problema pela guerra. O princípio revolucionário do marxismo-leninismo é válido em toda parte, na China como
nos outros países.”

De nada valeria a correção da tátca geral do partdo e do movimento de massas, caso o


partdo não incluísse entre as artmanhas possíveis das classes dominantes a hipótese de
mudança brusca da forma-de-luta, através de um golpe de estado. Recordemos a defnição
de estratégia por Stálin e medite-se sobre suas implicações:

“A tarefa principal da estratégia é a determinação da direção básica segundo a qual se deva fazer seguir o
movimento da classe, e segundo a qual se torne mais fácil ao proletariado fazer sentr a sua ação contra o seu
oponente para realização dos propósitos ditados pelo seu programa. O plano da estratégia é o plano de
organização do golpe principal, na direção em que ele possa produzir o máximo de resultados.”

“Os elementos básicos da estratégia polítca podem ser facilmente identficados, sem grande trabalho,
fazendo-se uma comparação com a estratégia militar, por exemplo, no período da Guerra Civil, durante a luta
com Denikin. Todos se recordam dos fins de 1919, quando este últmo se deteve defronte de Tula. Despertou na
época uma querela interessante entre os homens de farda sobre a questão de onde levar avante a ação
principal, pelos exércitos de Denikin. Alguns militares sugeriam a seleção da linha partndo de Tsaritsyn
(Stalingrado) até Novorossisk, para o ataque principal. Outros, ao contrário, diziam que a ação principal deveria
ser levada a efeito segundo a linha Voronezh até Rostov, a fim de, ao se ultrapassar esta linha, se pudesse
dissociar os exércitos de Denikin em duas partes, e depois derrotá-los um de cada vez.”

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Ou seja, “na direção em que ele possa produzir o máximo de resultados”, - escolha do
caminho mais favorável – não pode ser um direito exclusivo das classes dominantes, mas
também do estado-maior do proletariado (escolha e preparação da forma de luta que irá
obviamente prevalecer). Tampouco se pode deixar de perguntar quais os caminhos (planos)
alternatvos que a esta altura restam ao inimigo de classe. Comenta Stálin:

“Em outras palavras, definir a direção principal do golpe significa determinar a natureza das operações em
todo o período da guerra, determinar os nove décimos da sorte de toda guerra. Nisto reside a tarefa da
estratégia.”

Ou seja, se tínhamos preconizado e estamos pratcando todo um caminho através de


disputas democrátcas, para mudar a nosso favor a correlação de forças – com o apoio de
amplas massas populares – podemos ser responsabilizados se o inimigo escolhe a opção pela
violência para mudar nossa orientação? É evidente que não. A luta pela ampliação das
liberdades democrátcas não pode fcar contda nos limites que desejam impor as classes
dominantes, mas devem perseguir vias de efetvação que, infelizmente, nunca receberão a
autorização ou a chancela dessas classes, para se dar.

O trabalho de organização do partdo operário deve, portanto, levar em consideração todos


os elementos potencialmente implicados por sua linha polítca e não se “deixar surpreender”,
pelo que – na leitura da mesma – já se torna evidente como óbvio. É fato corrente que as
classes dominantes procurem com frequência “militarizar”, a polítca, quando suas
artmanhas já não surtem efeito e a pressão popular siga aumentando por mudanças. No
entanto, isso não pode ser uma surpresa, porque sabemos, como apontou Clausewitz, que a
guerra é a “contnuação da polítca por outros meios”,. Antes de se deixarem apear do poder,
é evidente que as classes dominantes lançarão mão da guerra civil. Quando se aproxima a
mudança necessária, que ela seja suprimida pelas classes dominantes. Diz Lênine:

“Aqui ‘a quantdade se transforma em qualidade’: chegando este grau, o democratsmo sai do


marco da sociedade burguesa, e começa a evoluir para o socialismo. Se todos partcipam de fato da
gestão do Estado, o capitalismo não se pode mais manter. O desenvolvimento do capitalismo cria, por
sua vez, todas as condiçees necessárias para que ‘todos’ possam partcipar na gestão do Estado.
Estas condições são, entre outras, a instrução geral já realizada por vários países capitalistas mais
avançados, depois a ‘educação e a formação na disciplina’ de milhões de operários pelo aparelho

798
socializado, imenso e complexo que são os correios, as estradas de ferro, as grandes usinas e o
grande comércio, os bancos, etc.”

O avanço da industrialização, o avanço da escolaridade, a partcipação polítca das massas e


suas lutas, ou seja, a assimilação de direitos civis e democrátcos para muitos – quase para
todos – leva as classes dominantes a desprezar a vida democrátca e retornar aos círculos
onde se conspira contra tal vida.

Ou seja, é preciso considerar se os ganhos tátcos obtdos devem ser incorporados como
algo consistente na correlação de forças, ou se devem ser abandonados – deixados de lado -
por não permitrem seguir avançando e pondo assim em risco os objetvos da linha polítca
em ação. Lembrando Stálin:

“Há também ocasiões em que os sucessos tátcos, brilhantes em seus efeitos imediatos, mas não
correspondendo às possibilidades estratégicas, criam situações ‘inesperadas’, desastrosas para a campanha. Tal
o caso com Denikin no final de 1919 quando, levado à frente por sucessos fáceis do efetvo avanço contra
Moscou, apertou suas frentes do Volga até o Dnieper, preparando destarte a destruição de seus exércitos. Tal foi
o caso em 1920, na época da guerra com a Polônia, quando nós, subestmando o poder do fator moral na
Polônia, e levados por sucessos fáceis de nosso avanço, tomamos sobre nossos ombros a tarefa difcil de entrar
pela Europa através de Varsóvia, levantando a maior parte da população polonesa contra as tropas soviétcas e
criando por isso uma situação que anulou os sucessos das tropas russas diante de Minsk e Zhitomir, e que
fizeram baixar o prestgio da autoridade soviétca no Oeste.”

“Finalmente, há também momentos em que é preciso ignorar os sucessos tátcos, incorrendo deliberadamente
em perdas desse gênero a fim de assegurar à estratégia louros no futuro. Isto ocorre frequentemente na guerra
quando um dos lados, desejando salvar as tropas e furtá-las ao embate principal de forças superiores do
inimigo, dá início a um plano de retrada e se rende sem dar batalha, entregando cidades inteiras e regiões a
fim de ganhar tempo e reunir forças para determinadas batalhas no futuro. Eis o caso na Rússia em 1918, por
ocasião do ataque alemão, quando nosso Partdo foi obrigado a aceitar a paz de Brest, que resultou uma
enorme perda do ponto de vista do efeito polítco naquele momento, a fim de preservar a aliança com os
camponeses, sedentos de paz e obter uma pausa alentadora, de modo a criar um novo exército e garantr, por
estes meios, ganhos estratégicos em outra oportunidade.”

“Em outras palavras, a tátca não pode se subordinar a interesses do momento; não deve ser orientada por
considerações de efeito imediato e polítco; ainda menos, se deve deixar embair por castelos no ar – a tátca
precisa adaptar-se às tarefas e possibilidades da estratégia.”

A questão termina por se colocar o quanto do entendimento anterior correto da estratégia

facultou de preparação prévia, se houve os meios desta preparação ou não. Sem a

799
fundamentação na arte operatva dos elementos da passagem de fase na estratégia, trata-se
de lançar ao “tabuleiro do acaso”, o desfecho da direção “do momento”,. O “momento”, não
deve apenas ser reconhecido previamente, mas também haver sido preparado previamente.
E não importa quanta audácia se tome, ainda se faz necessário implantar organizatvamente
os momentos de passagem previstos pelo desdobramento potencial da correlação de forças.

5 – Conclusão.

Aprendemos coisas novas na aula 19. Estudamos e debatemos porque o nosso partdo é – e
deve ser – intransigente na defesa do proletariado e do povo trabalhador em geral.
Compreendemos que não se conserta a exploração do homem pelo homem, mas sim que se
deve eliminá-la. Demos uma “espiada”, na complexa relação entre construção polítca,
educação de quadros e de massa e o trabalho marxista da propaganda na defesa da verdade.
Entendemos um pouco mais da categoria da agitação e de seu lugar na luta e na construção
das palavras-de-ordem do partdo. Por fm, demos uma espiada também no trabalho de
organização do partdo, e de suas relações com as necessidades da estratégia e da tátca.

Perguntas.

1 – Por que o partdo deve ser intransigente face ao sistema de exploração?

2 – Como o partdo vê o trabalho de massas?

3 – Por que a “organização de base”, é a estrutura mais importante do partdo operário?

4 – Quais os tpos de estrutura que organizam o partdo?

5 – Que entende por “estrutura de comitê”,?

6 – Que entende por “estrutura hierárquica”,?

7 – Que entende por “estrutura funcional”,?

8 – Como funciona o centralismo democrátco?

9 – Qual a responsabilidade de um dirigente – de qualquer nível – do partdo?


800
10 – Por que o partdo é invencível?

Aula 20

801
20 – A Polítca de Organização do Partdo.

O partdo é uma organização muito forte porque se baseia nos dois pontos mais
importantes que uma organização deve apresentar: (a) adesão voluntária e (b) democracia
interna. Ninguém está no partdo senão por sua própria vontade. Nenhum escalão do
partdo deixa de ter estruturas e direções que ele próprio escolheu, a não ser em situações
extremas. Por isso, o partdo não pode ser combatdo senão com calúnias e crimes e
violência brutal das forças do Estado.

Como já se explicou, todos os órgãos do partdo elegem suas estruturas correspondentes.


Portanto, a responsabilidade do trabalho de massas e de construção interna, atuando as
direções superiores como mero orientador e aconselhador, a não ser em situações extremas.
São situações extremas a infltração policial, provocações (não cumprir a linha do partdo),
risco de desagregação (fracionismo) etc. O partdo não é perfeito. Ele é consttuído de seres
humanos. Mas nele se acredita no aperfeiçoamento contínuo, por meio da análise, da
autocrítca e da correção dos erros que são percebidos.

Cada organismo do partdo se organiza de forma a levar a cabo suas tarefas. Cada
organismo sabe que sua tarefa central é organizar as massas, educá-las no espírito
revolucionário e aprender com elas. Não existe no partdo qualquer exorcismo ou “arte

802
secreta”, que não possa ser compreendida por qualquer membro do partdo. As resoluções
gerais são obrigação geral de todo militante. As decisões específcas de cada organismo
devem ser pratcadas e consolidadas pelo respectvo organismo. A elaboração de materiais,
textos, etc., e a polítca de divulgação, segurança e sigilo dos mesmos é obrigação do
organismo emissor, mas deve ser zelada pelo conjunto do partdo. Veja-se exemplo de
diretvas do CC, de março de 1961:

“RESOLUÇÕES DA REUNIÃO DO CC DE MARÇO DE 1961”

“1. Com base na discussão do Informe da C. Exec. sobre a posição dos comunistas no atual momento
polítco, aprovar uma resolução polítca a ser publicada no órgão central, e determinar à C.E. que
lance, no prazo de 30 dias, um manifesto baseado no mesmo memorial.”

“2. Aprovar uma resolução sobre a ‘Declaração da Conferência dos Partdos Comunistas e
Operários’, realizada em Moscou, em novembro passado.”

“3. Aprovar o Informe da C.E., do balanço de suas atvidades bem como as medidas prátcas nele
propostas (para estas, ver o anexo número 1).”

“4. Aprovar o Regimento dos Órgãos Dirigentes da C.E. e a criação das Seções nele propostas,
acrescidas de uma Seção para assuntos econômicos e financeiros.”

“5. Aprovar o relatório da Comissão do CC., incumbida de informá-lo sobre o fechamento de “Hoje”,
a situação do trabalho de finanças e a situação das empresas, bem como as medidas prátcas
propostas no item 43 do mesmo, ressalvada a modificação aprovada com relação à letra “h”. (Para as
medidas prátcas aprovadas, ver o anexo número 2).”

“6. Aprovar o Relatório da Comissão Especial do C.D. para aplicar a resolução de adaptar a
organização regional dos marítmos à nova estrutura do Partdo; aprovar, igualmente, as medidas
prátcas propostas na parte final do Relatório. Eleger uma nova Comissão Especial para tratar do
assunto, composta dos camaradas Adalberto, Elias, Humberto, Itair e Mello. (Para as medidas
aprovadas, ver o anexo número 3).”

“7. Discutr na próxima reunião do C.C. a polítca econômica-financeira que convém à classe
operária.”

“8. Discutr na próxima reunião do C.C. o Plano de Construção do Partdo, com as modificações
propostas pelo Partdo.”

803
“9. Discutr na próxima reunião do C.C. o Regulamento de Finanças, com as modificações propostas
pelo Partdo.”

“10. Discutr na próxima reunião do C.C. a conveniência ou não da mudança agora do C.C. para São
Paulo.”

“11. Discutr na próxima reunião do C.C. a forma de publicação dos documentos do Partdo.”

“12. Assegurar a realização do “Encontro Sul-Americano de Mulheres”, programado para abril


próximo, no Rio. Determinar que todas as organizações do Partdo ajudem nessa tarefa.”

“13. Assegurar a realização do Congresso de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas programado


para outubro, em Belo Horizonte. Mobilizar as organizações operárias, estudants e outras para que o
apoiem.”

“14. Convocar, de acordo com o Art. 37 dos Estatutos e em consequência da Resolução do V


Congresso, a I Conferência Regional do Nordeste, a realizar-se em Recife a 15 e 16 de julho do
corrente ano. Consttuir uma Comissão Especial de Organização da Conferência, composta dos
camaradas Capistrano, Aristeu e Bonavides. Autorizar à C.E., a elaborar e aprovar as Normas para a
Conferência.”

“15. Realizar, na primeira quinzena de julho próximo, uma reunião de Delegados de Organizações de
Base de Comitês Universitários.”

“16. Determinar à C.E. que envie à região de Formoso um quadro para ajudar o Partdo nas questões
de organização, estudar a situação real da região e realizar ali um trabalho de educação do Partdo.”

“17. Decidir que os Suplentes do C.C., quando membros do Secretariado deste, partcipem das
reuniões do Comitê.”

“18. Enviar mensagem ao C.E. de Goiás, por motvo do falecimento do camarada Abraão Isaac
Neto.”

ANEXO N. 1

“Em, conclusão, é necessário tomar, entre outras, as medidas abaixo especificadas, objetvando
possibilitar a correção dos erros e a aplicação mais correta do centralismo democrátco,
principalmente do princípio da direção coletva:”

“1. Eleger 9 membros para a C.E. e 2 suplentes desta. Esta medida possibilitará a mobilização para o
trabalho de direção, de maneira mais efetva, de um maior número de camaradas, criando condições

804
para um trabalho coletvo mais sólido da C.C. a necessidade de suplentes se faz sentr, a fim de
impedir que a C.E. funcione desfalcada de seu efetvo.”

“2. Regulamentar a atvidade da C.E.”

“3. Regulamentar a atvidade do Secretariado.”

1 – Conteúdo do Programa do Partdo.

O partdo possui um programa máximo, que expressa as necessidades efetvas – do ponto


de vista estratégico – do povo brasileiro, que serão enfrentadas com a implantação do
socialismo. E possui também um programa mínimo, que contempla aquelas necessidades
que podem ser resolvidas no curso do sucesso da tátca geral do partdo, evidentemente
mediada pela presença de outras forças sociais e polítcas progressistas. Nosso programa
mínimo inclui, por exemplo, a luta por reformas de base na atual estrutura do país. Na
análise da realidade que o partdo faz, abordam-se os problemas da luta pelo programa
mínimo. Por exemplo:

“A luta pela mudança na correlação de forças polítcas e pela formação de um governo nacionalista
e democrátco está inseparavelmente ligada à luta pela realização imediata de reformas na estrutura
do país, orientadas contra o imperialismo e o latfúndio. Estas reformas se convertem em uma
necessidade irreprimível. Entretanto, a maioria parlamentar resiste a aprová-las ou trata de esvaziá-
las de qualquer conteúdo efetvo. O governo João Goulart-Brochado da Rocha proclama sua
disposição de realizá-las, abandonando-as, porém, para barganhar com o Parlamentarismo a
antecipação do plebiscito. Ao mesmo tempo em que fala em reformas, o governo atual anuncia pela
boca do entreguista Roberto Campos a conclusão de um escandaloso ‘acordo de garanta de
investmentos’ com os Estados Unidos, cujo objetvo declarado consiste em assegurar novos
privilégios ao capital imperialista em nosso país. Os fatos demonstram que as reformas necessárias
ao progresso nacional só poderão ser realizadas efetvamente, de acordo com os interesses do povo
brasileiro, se forem desencadeados grandes movimentos de massas pela sua concretzação. Essa é
uma das tarefas inadiáveis traçadas pelo Encontro de Libertação Nacional e pelo Encontro Nacional
Sindical realizado recentemente em São Paulo. A ação de massas pelas reformas básicas deve estar
intmamente vinculada à luta pelas reivindicações imediatas dos trabalhadores e do povo, pela
elevação dos salários, pela revisão do salário mínimo, contra a caresta de vida, pela solução dos
problemas do abastecimento que afigem amplas camadas da população.”

805
“O Sr. João Goulart e outros representantes da burguesia alegam que o obstáculo à realização das
reformas reside no sistema parlamentarista, porque este fraciona os poderes, dilui a autoridade
governamental e impossibilita a execução eficaz de um programa administratvo. Afirmam que, sem
a antecipação do plebiscito e a volta ao presidencialismo, não pode haver reformas de base. Essa
argumentação, entretanto, destna-se a ocultar ao povo a essência do problema. Os comunistas são
favoráveis à realização do plebiscito, no mais curto prazo, porque o povo deve ser consultado sobre a
forma de governo, alterada sem o seu consentmento por uma maioria parlamentar reacionária. Mas
a solução dos problemas nacionais não depende de escolha entre o parlamentarismo ou o
presidencialismo. O empecilho às reformas de estrutura não está na forma de governo, mas na
composição dos órgãos governamentais, na polítca de conciliação com o imperialismo e o latfúndio.
Governos presidencialistas como os dos Srs. Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros tampouco
realizaram as reformas necessárias ao desenvolvimento independente e progressista do país, dado
que se baseavam, como o atual, em um compromisso entre a burguesia ligada a interesses nacionais
e as forças pró-imperialistas e reacionárias. Sem se deixar desviar para o debate secundário em torno
do sistema de governo, o povo brasileiro deve intensificar sua luta por um governo nacionalista e
democrátco.”

O partdo usa métodos de debate e persuasão e negociação dentro da frente única, para
obter soluções parciais para os problemas indicados pelo programa mínimo. O partdo
reconhece a multplicidade de forças no processo de luta comum e vê nisso uma vantagem e
não uma desvantagem. É natural que forças sociais diferentes tenham concepções diferentes
e vejam os mesmos problemas com ótca diferenciada e – não raro – até oposta à de outros
aliados.

O nosso partdo aplica suas teses no processo de luta e procura torná-las cada vez mais
descritoras do processo que está vivendo. As teses que nortearam nosso 4º Congresso são
diferentes daquelas que nortearam o 5º. Atualmente, como percepção de mudanças na
realidade, as teses vão sendo debatdas e transformadas para o próximo 6º Congresso. A
realidade está sempre em mudança e deve-se tentar acompanhá-la. Por exemplo, a nossa 5ª
tese está ora sendo discutda assim:

“5ª Tese – As tarefas, as forças motrizes e o caminho da Revolução.”

“- A revolução brasileira é parte da revolução internacional.”

“- O desenvolvimento capitalista aprofundou as contradições brasileiras que se entrelaçam.”

806
“- A hegemonia do proletariado só adquire força quando forma e consolida a aliança operário-
camponesa.”

“- O caminho pacífico, oportuno nas mais variadas formas de luta, exige que se chegue, em certas
circunstâncias, a choques violentos com a reação.”

“O caminho da luta armada não deve ser compreendido como ponto da conspiração de pequenos
grupos, porém, como resultado de experiência polítca das massas.”

“- A luta pelas reformas de base permite aos comunistas aprofundar as contradições, ganhar
posições e propiciar a implantação de um governo nacionalista e democrátco.”

“- Após realizadas as tarefas da fase ant-imperialista e antfeudal, a revolução brasileira passará


para a fase das transformações socialistas.”

Na preparação do 4º Congresso, assim – entre outras característcas – se pedia do quadro


do partdo:

“2) Ter a mais estreita ligação com as massas. Devem ser elevados aos postos de direção aqueles
companheiros que sabem tomar o pulso da vida das massas, que sabem auscultar seus sentmentos,
conhecer sempre seu estado de espírito e suas necessidades mais sentdas, e ainda, que sejam
capazes de modificar esse estado de espírito. Será tanto maior a autoridade dos nossos dirigentes
quanto mais a massa enxergar neles seus verdadeiros líderes, convencendo-se da capacidade deles
na base da experiência e abnegação de que eles são possuidores. Eis porque atribuímos tanta
importância à origem e à função social dos camaradas.”

“3) Ter a capacidade de orientar-se por si mesmo em qualquer situação, e não temer a
responsabilidade de decidir sobre qualquer questão. Realmente, não pode ser considerado dirigente
quem teme assumir responsabilidades, quem não sabe demonstrar iniciatva e acha que deve se
limitar a fazer somente aquilo que especificamente lhe deram para fazer. Só é verdadeiro dirigente
aquele que não se deixa levar pela menor sombra de pânico quando as coisas se tornam perigosas ou
qualquer nuvem negra surge no horizonte, aquele que não perde a cabeça na hora de derrota e que
não se envaidece na hora do triunfo. Só é verdadeiro dirigente aquele que conserva a cabeça fria e
demonstra uma firmeza inabalável na aplicação das decisões tomadas. Os dirigentes se formam e se
criam da melhor maneira quando se veem forçados a resolver por sua própria conta os problemas
concretos da luta, e sentem toda a responsabilidade que isto determina. Devem, portanto, os
dirigentes eleitos ser homens que não têm medo das dificuldades, que têm a sensibilidade e
fexibilidade para conduzir o Partdo através de todos os obstáculos, homens que não percam o rumo,

807
desviando-se da nossa linha polítca, e que não percam o ritmo, desviando-se da nossa linha polítca,
e isolando-se das massas. Eis porque atribuímos tanta importância ao preparo dos companheiros, à
sua autoridade, à sua coragem polítca e ao seu equilíbrio no trabalho prátco.”

“4) Ter disciplina partdária e têmpera bolchevique tanto na luta contra os nossos inimigos quanto
na irreconciliabilidade para com todos os desvios da linha de conduta do nosso Partdo. Eis porque
atribuímos tanta importância à contnuidade do desenvolvimento dos companheiros e à sua energia
em defender o Partdo.”

“5) Ter capacidade de trabalhar coletvamente e soldar as forças do Partdo em uma unidade
monolítca. Isto é da maior importância, porque quanto mais difceis e complexos os problemas que
se apresentam ante o nosso Partdo, tal como ocorre no momento atual, maior necessidade temos de
melhorar o trabalho coletvo, de intensificar o espírito de equipe. O individualismo pequeno-burguês,
a centralização do trabalho em mãos de um determinado companheiro como consequência de
métodos de trabalho errados, só podem ser altamente prejudiciais. Além do mais, por mais que
sejam suas qualidades, o trabalho de direção individual por ele executado só trará em seu bojo os
germes do caudilhismo, como também jamais poderá ser do mesmo alto nível de um trabalho de
direção executado coletvamente, como fruto de discussões democrátcas dentro de cada organismo.
Por outro lado, o mesmo que se aplica aos indivíduos, também se aplica em parte aos organismos. E
por isso mesmo, precisamos nas direções do Partdo homens capazes de soldar as forças do Partdo
em unidade monolítca, que não permitam a hipertrofia de um determinado setor com prejuízos de
outros, que congreguem todas as vontades numa vontade única férrea, determinada, de marchar até
a vitória. Eis porque atribuímos tanta importância aos companheiros que sabem pôr todo o seu
trabalho em movimento e que têm um grande espírito de unidade, bem como uma natural modésta,
um verdadeiro espírito do Partdo.”

2 – A Polítca Revolucionária do Partdo.

A simplicidade e a frmeza com que o partdo operário defne seus objetvos e reconhece
seus inimigos sociais e polítcos é decorrência inevitável de tratar-se de um partdo
revolucionário, o mais revolucionário de nossa época. Ele procura dar consequência a todas
as soluções conhecidas para libertar e melhorar a vida da maioria das pessoas em cada canto
da terra. Como seres humanos, os membros da humanidade devem ter acesso ao que há de

808
melhor possível, produzido e distribuído com as normas mais racionais e científcas que se
podem elaborar.

Esta luta do partdo operário é a mesma luta de todos os oprimidos, de todos os desvalidos.
É necessário melhorar a vida, não para uma minoria, mas para todos. Este é um objetvo que
se coloca ao alcance dos homens conscientes: evitar tudo errado e buscar fazer tudo certo.
Diz nosso partdo:

“Na luta por esses objetvos revolucionários, os comunistas levam em conta que, na situação
presente, é a exploração imperialista norte-americana que consttui o principal obstáculo ao
desenvolvimento independente e progressista da nação.”

“O principal inimigo da revolução brasileira é consttuído pelo imperialismo norte-americano e por


seus agentes internos.”

Um partdo revolucionário não atua só quando há uma situação revolucionária, e o poder


social da classe dominante se desagrega. Nesse caso, um agrupamento oportunista pode
assumir uma “fachada”, revolucionária e até apossar-se do poder (vide a chamada revolução
de 30 no Brasil). Partdo revolucionário é aquele capaz de atuar em qualquer conjuntura,
fazendo uma leitura dos elementos revolucionários ali encontrados e atuando de acordo com
isso. Esta é a postura do partdo operário. Diz-se isso de outra forma nesta declaração do
nosso partdo:

“O dia 7 de novembro consttuiu-se num importante marco da história do movimento operário no


Brasil. Nesse dia, quando ainda se ouvia o eco da memorável greve nacional dos estvadores, da
greve geral dos trabalhadores em carris urbanos do Estado da Guanabara, e da greve geral dos
gráficos e dos metalúrgicos de São Paulo, os marítmos, portuários e ferroviários, concentrados em
três pontos diferentes da cidade, dirigiram-se em passeata, conduzindo faixas e cartazes, a bandeira
nacional e as fâmulas de seus sindicatos, rumo ao Teatro João Caetano, onde, após terem realizado o
enterro simbólico do deputado Meneses Côrtes, decretaram em monumental assembleia a
defagração da greve geral pela aprovação da paridade de vencimentos entre civis e militares.”

“Durante três dias, o movimento paredista, que envolveu cerca de 400 mil trabalhadores de setores
vitais da economia nacional, paralisou o transporte marítmo, o das principais ferrovias, e os serviços
portuários de todo o País. Mais uma vez, os portuários, ferroviários e marítmos, que ‘não têm o
direito de fazer greve’, desmoralizaram e derrotaram o famigerado decreto antgreve 9 070 e a Lei de

809
Segurança Nacional, numa demonstração evidente de que as imposições da vida não podem ser
enquadradas nos cânones reacionários forjados pelas classes dominantes.”

“Diante do vigor revelado pelos trabalhadores, o Governo entrou em crise. Sucederam-se as


reuniões ministeriais. Brasília deixou de ser, temporariamente, o centro polítco da nação, e a luta das
massas passou a ser o fator determinante dos acontecimentos. O pânico apossou-se das classes
dominantes. Ministros foram substtuídos e o diretor do DOPS teve de ser exonerado. A greve pela
paridade de vencimentos adquiriu um colorido polítco, aprofundou o processo de polarização das
forças em presença no tabuleiro polítco do País. Em face da pressão dos trabalhadores, todos os
partdos polítcos tveram de definir-se, bancadas parlamentares lançaram notas marcando sua
posição, a Câmara dos Deputados passou a reunir-se em caráter permanente, as forças armadas
foram colocadas em prontdão e sucederam-se as reuniões dos comandos militares, policiais em
todos os Estados. Os trabalhadores fortaleceram a confiança na força de sua unidade e de sua
organização. Para todas as classes e camadas progressistas da população brasileira tornou-se mais
claro o papel hegemônico da classe operária, o que reforçou o respeito e a confiança do povo na
capacidade dirigente do proletariado. Nessa batalha, o proletariado soube expressar o sentmento de
indignação de todo o povo contra a polítca entreguista, reacionária e de fome, executada pelo atual
Governo.”

É preciso lutar em quaisquer condições e agrupar ali as forças mais consequentes; nunca se
pode esperar “condições mais favoráveis”, para lutar. Se o partdo operário chinês, francês,
russo, italiano, polonês, iugoslavo, etc., estvessem “esperando”,, o mundo ainda seria o
mesmo de 1914. Deve-se lutar tanto no “zig”, como no “zag”, do movimento histórico, para
ajudar a criar um mundo melhor. Analisando a greve geral desencadeada pelo Comando de
Greve e a atuação do movimento operário, diz o partdo:

“Prova de que o Governo não conseguiu intmidar os operários é o fato de terem os trabalhadores
de diversas empresas nos Estado voltados ao trabalho muitas horas depois de ter cessado a greve no
Rio. Os operários não se guiaram pelo alarde atemorizador do rádio e de certa imprensa. Somente
voltaram ao trabalho após terem recebido a palavra de ordem do Comando Geral da Greve. Na
assembleia realizada na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, os marítmos, ferroviários e portuários já
tnham decidido voltar ao trabalho quando foram cercados pela polícia milita e civil. Diante de mais
essa provocação, os trabalhadores declararam-se novamente em greve e exigiram a retrada das
forças policiais. E somente depois da retrada da polícia resolveram suspender a greve.”

810
“Os trabalhadores suspenderam a greve. Voltaram ao trabalho. Recuaram organizadamente com
suas forças de combate intactas, mais unidas, organizadas e mais temperadas e levando como
troféus da batalha uma série de vitórias. Com a força de sua ação unitária, de sua organização, da
solidariedade que receberam e do apoio do povo, os trabalhadores conseguiram:”

“1 – Impedir o estabelecimento do estado de síto e garantr, assim, a vigência das liberdades


consttucionais.”

“2 – Fazer aprovar, na Câmara dos Deputados, o projeto de Paridade de Vencimentos.”

“3 – Obrigar a polícia a desinterditar a sede dos sindicatos por ela ocupados.”

“4 – Libertar os companheiros presos no curso da greve.”

“5 – Anular as medidas punitvas já decretadas pelo Governo e garantr a reintegração dos


trabalhadores em seus respectvos postos.”

Lutar, portanto, em quaisquer condições, elaborando para isso uma metodologia correta
para enfrentar a situação que se apresenta, não entrando em debandada diante de um
inimigo experimentado e impiedoso. A capitulação jamais abre caminho a qualquer vitória.
Pelo contrário, a experiência histórica demonstra que a presença de grandes massas leva
sempre as forças reacionárias a adiar o ataque e tomar medidas polítcas e organizatvas para
dividir o campo popular. A reação encontra difculdades para unifcar suas forças tátcas e
avançar, quando as massas populares estejam em ofensiva. A reação sempre busca atacar
nos momentos de relatva calmaria, quando as massas mais amplas estão relaxadas e
consideram que obtveram uma vitória ou uma trégua. Nesse “momento”, posterior ao auge
do movimento popular, a reação contra-ataca, tentando destruir ou neutralizar as lideranças
populares.

Portanto, o partdo operário busca manter a capacidade geral de organização do


movimento popular em todas as fases da luta, para evitar que as tentatvas de surpreender
da parte dos elementos reacionários tenha êxito. Para tal, o partdo operário cultva a
disciplina polítca, que procura também incutr em todas as forças que partcipam da luta
nacionalista e democrátca. A disciplina polítca não ferta com provocações ou ações
desnecessárias. Ela é o motor da economia de forças. Deixando-se de lado as tentatvas para

811
obter um êxito fácil e imediato, entra-se no terreno mais sólido de contar apenas com o
trabalho cuidadosamente construído.

Para assegurar uma attude racional e tão científca quanto possível, o partdo operário se
apoia no caráter sistemátco de seus métodos de direção. Como indica o conjunto de
diretvas da reunião de março de 1961, do Comitê Central:

“5 – Em cada uma de suas reuniões ordinárias, o Secretariado tomará conhecimento das decisões
individuais e das iniciatvas tomadas, assim como serão prestadas contas das tarefas pelas quais é
responsável cada Secretário.”

“7 – O Secretariado é responsável pelo funcionamento da Secretaria Técnica, à qual cabe manter


organizada a aparelhagem técnica do Comitê Central (datlografia, mimeografia, etc.), atender ao
trabalho de correspondência do Comitê Central, etc.”

“8 – O Secretário Geral do Comitê Central coordena a atvidade do Secretariado e trabalha sob a


direção deste. O Secretário Geral representa legalmente o Partdo e, em nome do Comitê Central,
assina sua correspondência mais importante.”

“9 – O Secretariado designará os responsáveis pelos locais do Comitê Central (sedes e escritórios) e


pela conservação dos bens patrimoniais.”

“Seçees do Comitê Central”

“1 – As Seções do Comitê Central são órgãos auxiliares permanentes, por estes criados ou extntos, e
têm por finalidade ajudá-lo a elaborar a polítca do Partdo nas diferentes frentes de trabalho e
contribuir para sua justa aplicação.”

“2 – Cada Seção do Comitê Central terá um responsável designado pelo Comitê Central e será
integrada por três ou mais camaradas igualmente designados pelo Comitê Central.”

“3 – As Seções do Comitê Central são responsáveis perante ele, mas trabalham sob a imediata
direção e controle da Comissão Executva e em ligação com o Secretariado do Comitê Central, com o
qual se entende relatvamente às questões do trabalho diário.”

“4 – As Seções do Comitê Central devem planificar sua atvidade, partndo sempre das resoluções do
Comitê Central e da Comissão Executva. O plano de trabalho de cada Seção deve ser submetdo à
aprovação da Comissão Executva, cabendo a esta controlar sua realização.”

812
“5 – Cada Seção do Comitê Central distribuirá entre seus membros as diversas tarefas a realizar,
organizando, sempre que possível, departamentos específicos, com funções e responsabilidade
definidas. Na Seção de Organização haverá obrigatoriamente, um responsável de quadros que
cuidará do controle e desenvolvimento dos quadros do Partdo.”

“6 – Cada Seção do Comitê Central reúne-se, pelo menos duas vezes por mês. A ordem-do-dia das
reuniões deverá ser organizada com antecedência e dada a conhecer a todos os membros da Seção,
com antecedência de, pelo menos, 24 horas. Todas as questões serão resolvidas através de discussão
e por decisão da maioria. Em caso de controvérsia, cabe à Comissão Executva decidir.”

“7 – Cada Seção do Comitê Central prestará contas, obrigatoriamente, de sua atvidade, de dois em
dois meses, em reunião com a Comissão Executva ou através de relatório escrito.”

“8 – Cada Seção do Comitê Central apoia-se, para seu funcionamento, num corpo de colaboradores,
cujo efetvo varia de acordo com as necessidades, que são designados pela Comissão Executva.”

“9 – As Seções do Comitê Central realizarão, uma vez por mês, uma reunião ordinária para discutr a
situação polítca nacional e internacional.”

“10 – São criadas as seguintes Seções do Comitê Central:”

1) Seção de Organização (S.O.)


2) Seção Sindical (S.S)
3) Seção de Campo (S.C.)
4) Seção de Educação e Propaganda (S.E.P.)
5) Seção de Massas (S.M.)
6) Seção Juvenil (S.J.)
7) Seção Parlamentar e Eleitoral (S.P.E)
8) Seção de Finanças (S.F)
9) Seção de Estudos Econômicos (S.E.E)
10) Seção de Relações com o Exterior (S.R.E)”

Os órgãos de direção do partdo operário atuam na aplicação dos princípios do marxismo-


leninismo à realidade brasileira e se esforçam para formar totalidade de seus organismos
com o mesmo espírito revolucionário. Em extensão, com absoluta mentalidade
revolucionária, não esconde de seus aliados e das massas populares em geral a maneira com
que está a interpretar cada desdobramento da situação. Esta é uma maneira completamente
revolucionária de educar a si mesmo e de educar as massas para a luta polítca. O partdo
operário, nem seus aliados, podem se dar ao luxo de tratar com igual ênfase toda iniciatva

813
do inimigo social e polítco, ou - pratcamente – enfrentar cada uma de suas ações, quase
sempre se tratando estas de provocações ou violações dos direitos legais dos trabalhadores
ou cidadãos. Por exemplo, a negação do direito de voto aos analfabetos e a proibição de
militares subalternos de votar e serem votados para cargos eletvos consttuem – além de
violação dos direitos dos cidadãos – clara provocação no mundo de hoje. É claro que
apoiamos a luta dessas massas e camadas oprimidas. No entanto, se partcularizamos em
demasia a luta em defesa destas reivindicações legítmas, estaremos caindo em uma
provocação cuidadosamente montada. A luta por tais direitos deve, portanto, ser conduzida
pelos próprios interessados e suas necessidades devem ser tratadas no conjunto da luta pelo
programa mínimo (reformas). Dessa forma, mantemos a densidade de nosso movimento,
sem perder a quantdade que poderia tornar-se dispersa na sucessão de numerosas
pequenas lutas distntas. Assim, o princípio marxista de concentração e economia de forças
nos ajuda a compreender a natureza da fexibilidade tátca e seus verdadeiros parânmetros,
não correndo a fazer o jogo inimigo. A igualização com ênfase em todas as bandeiras de luta
levaria sem dúvida a fragmentar a nossa frente. No entanto, a concentração em nosso centro
tátco – a luta por um governo nacionalista e democrátco – permite reunir nossas forças e
atacar de forma concentrada na direção por nós escolhida. O inimigo não teme senão o
golpe concentrado no objetvo do poder polítco. Como analisa o partdo:

“Se é certo, pois, que as forças mais reacionárias não conseguiram alcançar seus objetvos, devemos
também reconhecer que, apesar do novo nível alcançado pelo movimento de massas, do vigor com
que a classe operária lutou por um governo nacionalista e democrátco, as forças patriótcas e
democrátcas não foram ainda desta vez suficientemente poderosas para impedir que a burguesia
contnuasse impondo a conciliação com a reação e o entreguismo. A luta por um governo nacionalista
e democrátco prossegue, portanto, e, mais do que nunca, é indispensável que todos os patriotas se
mantenham vigilantes em defesa das liberdades democrátcas, crescentemente ameaçadas. Diante
do agravamento da situação das grandes massas trabalhadoras, vítmas da infação e da caresta,
que se acentuarão com as recentes emissões de papel-moeda, superiores a 40 bilhões de cruzeiros
nos últmos vinte dias, o novo Conselho de Ministros, nos termos de sua primeira Nota, já se
preocupava prioritariamente com a ... ‘manutenção da ordem pública’, e não com as reformas
básicas exigidas pelos mais elevados interesses da nação. Simultaneamente, as forças da reação
tratam de reagrupar-se, preparam-se para novas ameaças de golpes militares e tomam o caminho do
fascismo, empunhando a bandeira do antcomunismo.”

814
Assim, a luta das massas populares abrange dois momentos bem distntos: (a) sua
preparação polítca, sua agitação, seu momento de despertar, e (b) sua presença no espaço
onde se exerce o poder, para reivindicar uma parcela do poder ou todo o poder. Em ambas as
situações, o partdo operário não pode atuar como se fosse uma organização qualquer, uma
associação pequeno-burguesa ou um sindicato. O partdo operário deve trazer consigo no
seu planejamento de situação a inteligência – a compreensão – marxista-leninista. No
processo de educação pela luta de massas, no processo de agitação, deve saber dispersar a
luta popular no espaço, na medida em que unifca suas palavras-de-ordem e aprecia na luta
a evolução polítca da situação. Quanto ao segundo momento, o partdo operário deve saber
concentrar suas forças e obter a superioridade numérica necessária a colocar na ordem-do-
dia a palavra-de-ordem e questonar o poder. Como analisou o nosso partdo a aceitação do
gabinete Brochado da Rocha.:

“A renúncia do Sr. Auro de Moura Andrade, refete a pressão das massas populares, foi como que a
expressão de uma nova situação em que os representantes do latfúndio e do imperialismo ianque, da
reação e do entreguismo, já não fazem livremente o que querem, precisam levar em conta a
consciência patriótca e democrátca das massas populares, muito especialmente da classe operária.”

“Sob o impacto da greve geral e das manifestações de Caxias e de outras cidades fuminenses contra
a caresta e a fome – manifestações que levaram o pânico aos arraiais da reação – foi indicado o
nome do Sr. Brochado da Rocha para o posto de primeiro-ministro e, em seguida, contra o voto da
UDN e o manifesto descontentamento do PSD, aceito pela Câmara dos Deputados o novo Gabinete.
Em sua composição, teve infuência decisiva o presidente Goulart. Ao mesmo tempo que colocou à
frente dos principais ministérios pessoas de sua confiança pessoal, transigiu mais uma vez com os
reacionários e entreguistas – inclusive Mister Gordon, embaixador dos Estados Unidos, não por acaso
presente na oportunidade em Brasília – incluindo no Gabinete conhecidos agentes do imperialismo
como, entre outros, o Sr. Moreira Sales, defensor permanente dos interesses do Fundo Monetário
Internacional em nosso país.”

“Na luta que se travou entre os representantes da reação e do entreguismo, de um lado, e os setores
da burguesia conciliadora, representados pelo Sr. Goulart, de outro, os últmos conseguiram certo
êxito, reforçando sua partcipação no poder. Apoiado no movimento de massas e utlizando-o,
conseguiu o Sr. Goulart livrar-se em boa parte dos representantes das cúpulas do PSD e da UDN.
Consttuiu um governo que poderá mais facilmente iludir as grandes massas populares, pela própria
composição que lhe deu, com a inclusão de personalidades conhecidas por suas posições ao lado do

815
movimento nacionalista, assim como pela habilidade com que comprometeu o Sr. Brizola, de quem
era auxiliar de confiança o Sr. Brochado da Rocha. Com o novo Conselho de Ministros, apoia também
seu governo em dispositvo militar que lhe é mais favorável e que lhe dá, assim, maior base de
segurança.”

“É de se notar, no entanto, que, com a aprovação pela Câmara dos Deputados do novo Conselho de
Ministros, as forças em choques conseguiram uma trégua apenas. Pensam elas poder chegar às
eleições de 7 de outubro em ambiente de tranquilidade, sem que a campanha eleitoral determine
maiores agitações e lutas populares. E aguardam o resultado do pleito para voltar novamente à
carga e à disputa por uma maior partcipação no poder.”

Em quaisquer das duas situações, (a) ou (b), apresentar-se o partdo operário como um
partdo dirigente de grandes massas o coloca como um elemento-chave na conjuntura
polítca. A perspectva da ação revolucionária já não pode ser desprezada. Nessa nova
situação, é preciso ter em mente a elevada capacidade das classes dominantes para o
engodo e o engano, na verdade, sua forma estratégica favorita. As classes dominantes – com
controle da informação – são altamente capazes, tanto do engano atvo, quanto do engano
passivo. No plano atvo, as classes dominantes buscam ganhar tempo para preparar o golpe-
de-estado e “cedem”, terreno, apresentando até capacidade de negociação e “desejo”, de
encontrar uma solução sem agravamento do choque. Por exemplo, tudo indica que, diante
da greve geral e a queda inevitável de Auro de Moura Andrade, o recuo das forças
reacionárias no congresso expressa o medo diante da possibilidade de uma insurreição
popular. Nesse caso, para avaliar com cuidado seu campo de força, a reação “recua”, e deixa
consttuir-se o gabinete Brochado da Rocha como uma cabeça-de-ponte, para destruí-lo
num contra-ataque. Seria um caso clássico de engano atvo.

Mas a reação também é forte no engano passivo, ou seja, na ocultação de seus reais
objetvos, que talvez já não se centrem na defesa do parlamentarismo de ocasião, outrossim,
se centre no restabelecimento do presidencialismo pleno, para facilitar a ampliação de seu
campo de força rumo ao golpe-de-estado. Em qualquer caso, desejam falsear a nossa tátca
geral, enganando nossos aliados e favorecendo a decisão de nosso golpe de ataque,
dividindo-se em dois (no lugar de nossa proposta de crescente pressão de massas, favorecer
a pressão nas cúpulas insttucionais). Esse seria o fruto a colher do engano arquitetado – se o
foi – pelo inimigo. Diz o partdo:

816
“Nestas condições, a posição do movimento operário e das forças populares não pode ser de
expectatva, à espera de que se produzam novas crises de governo. Sejam quais forem os
acontecimentos que venham a ocorrer, as massas estarão preparadas para enfrentá-los na medida
em que se mobilizarem desde já, através das organizações operárias, camponesas, estudants, e por
todas as formas, e intensificarem a luta pelas reformas de estrutura, por um governo nacionalista e
democrátco, pelas suas reivindicações imediatas, pela defesa e ampliação das liberdades, pelo
isolamento e derrota das forças que representam o imperialismo e o latfúndio, contra a polítca de
conciliação do Governo atual com os inimigos do povo e da nação.”

“O momento presente exige dos comunistas que ponham em tensão todas as suas forças, estreitem
sua ligação com as massas trabalhadoras da cidade e do campo, compreendam corretamente a
situação polítca e avaliem com acerto o grau de radicalização da consciência das massas. Da
atvidade dos comunistas, da sua capacidade em organizar e dirigir as massas, depende hoje em
grande parte o maior ou menor avanço no sentdo dos objetvos revolucionários do povo brasileiro.”

“Rio, agosto de 1962.”

3 – A Missão da Direção Estratégica.

O partdo operário parte da compreensão leninista. Nela, viver-se na época do imperialismo


faculta a elaboração de qualquer caminho revolucionário em qualquer país contemporânneo,
como uma forma de ocorrência da revolução socialista mundial. Tal revolução socialista abre
caminho a uma nova fase histórica, a fase de transição para a sociedade comunista. Marx,
Engels e Lênine não desejaram elaborar um “prognóstco”, da duração histórica desse
confronto, rumo à sociedade comunista. No entanto, o camarada Mao atribuiu à luta entre
os “dois ventos”, uma duração de 400 anos. Ou seja, lá por 2.360 estaremos à beira da
sociedade comunista. Porque Mao concebe assim o fm da presente sociedade? Certamente,
ele se baseia no tempo que o capitalismo levou para suplantar o feudalismo (1450-1849). É
uma ponderação interessante.

Na luta pela construção da nova sociedade iremos passar certamente por vários
“momentos”,. O camarada Barros costuma chamar a atenção que um “revolucionário deve
viver a revolução que se dá em sua época, e não às revoluções futuras”,. E os revolucionários
devem descobrir sua forma e dela partcipar.

817
A estratégia leninista indica que todas as lutas que encerrem grandes camadas ou classes na
sociedade contemporânnea envolvem interesses sociais de trabalhadores, interesses polítcos
e econômicos da burguesia e de suas elites oligopolistas – monopolistas. Todas essas lutas –
no plano local – têm um conteúdo democrátco mais ou menos profundo; no entanto,
expressam parte do choque mundial entre o proletariado e as massas dirigidas por ele e um
outro campo de forças, liderado pelos monopólios e pelos oligopólios. Assim Stálin defniu
estratégia leninista:

“A estratégia é o plano do golpe principal a ser desfechado contra o inimigo de classe.”

Portanto, para se saber elaborar o “plano”,, é necessário saber-se qual é o “golpe principal”,,
ou seja, distngui-lo dos golpes secundários, que são outros e têm outro objetvo que não
assegurar-nos o controle da direção principal que nos levará à vitória. Tal é a missão da
direção estratégica do partdo operário. Diz Stálin:

“A tarefa principal da estratégia é a determinação da direção básica segundo a qual se deva fazer
seguir o movimento da classe, e segundo a qual se torne mais fácil ao proletariado fazer sentr a sua
ação contra o seu oponente para realização dos propósitos ditados pelo seu programa. O plano da
estratégia é o plano de organização do golpe principal, na direção em que ele possa produzir o
máximo de resultados.”

“Os elementos básicos da estratégia polítca podem ser facilmente identficados, sem grande
trabalho, fazendo-se uma comparação com a estratégia militar, por exemplo, no período da Guerra
Civil, durante a luta com Denikin. Todos se recordam dos fins de 1919 quando este últmo se deteve
defronte de Tula. Despertou na época uma querela interessante entre os homens de farda sobre a
questão de onde levar avante a ação principal, pelos exércitos de Denikin. Alguns militares sugeriam
a seleção da linha partndo de Tsaritsyn (Stalingrado) até Novorossisk, para o ataque principal.
Outros, ao contrário, diziam que a ação principal deveria ser levada a efeito segundo a linha
Voronezh até Rostov, a fim de, ao se ultrapassar esta linha, se pudesse dissociar os exércitos de
Denikin em duas partes, e depois derrotá-los um de cada vez. O primeiro plano, sem dúvida, oferecia
seu lado favorável, que contava com a tomada de Novorossisk, cortando destarte a linha de retrada
para os exércitos de Denikin. Mas apresentava, por outro lado, uma feição desfavorável, desde que
propunha para o nosso avanço, regiões desfavoráveis e hosts às autoridades soviétcas ( a região do
Don) e exigia, por isso, graves sacrifcios; além disso, havia um perigo, pois abria aos exércitos de
Denikin as portas da estrada para Moscou, através de Tula e Serpukhov. O segundo plano para a ação
principal era o único correto em sí, pois que, de um lado, propunha o movimento dos grupos

818
principais em regiões ( Voronezh – província e bacia do Donetz) simpátcas às autoridades soviétcas e
em face de que não exigia, portanto, grandes sacrifcios; do outro lado, desorganizava a ação dos
grupos mais importantes de Denikin ao se movimentarem contra Moscou. A maioria dos militares
declararam-se pelo segundo plano e assim estava decidida a sorte da guerra com Denikin.”

“Em outras palavras, definir a direção principal do golpe significa determinar a natureza das
operações em todo o período da guerra, determinar os nove décimos da sorte de toda a guerra. Nisso
reside a tarefa da estratégia.”

O partdo operário não é – como a maioria dos partdos de outras classes – um


ajuntamento, um partdo sem cérebro. Ele possui um só senhor, a classe trabalhadora, e só
para ela trabalha prioritariamente. Quanto aos partdos burgueses, trabalham para seu
chefe, e há tantas correntes e projetos nele quantos chefes por acaso tenha. Cada qual puxa
numa direção, que lhe dará o monopólio do poder. Seu único objetvo é derrotar a classe
operária, desorientá-la, e aos aliados que ela possua.

O partdo operário, na luta pela construção da aliança operário-camponesa, elabora seus


planos estratégico, operacional e tátco geral. Escolhe sua linha polítca e põe-se a construir o
partdo, as alianças necessárias e o movimento de massas, de acordo com a etapa
revolucionária que se está a viver. Os quadros do partdo são distribuídos de acordo,
portanto, com a etapa revolucionária, com a natureza suas tarefas estratégicas, operacionais
e tátcas. Dessa forma, a missão de cada um dos planos de construção do partdo fca
garantdo. É de suma importânncia que o membro do partdo compreenda o caráter
sistemátco de sua partcipação, dedicando-se a esclarecer as massas e indicando o caminho
correto pelo qual a luta das massas há de encontrar a menor resistência. Ao mesmo tempo
em que organiza e educa o movimento popular e é por ele educado, a direção estratégica
correta procura afastar as massas das ilusões que ela adquire da dominação, quanto à luta
polítca. É costume que as pessoas do povo tenham que – em sua ingenuidade – montar
ilusões com salvadores. Tendem a acreditar em qualquer falso tribuno que as classes
dominantes periodicamente lhes enviam. É preciso eliminar as ilusões com que a massa vê
os dominadores. Para as classes dominantes, tudo que existe no mundo está para elas
reservado e não é possível compartr ou repartr tal patrimônio com trabalhadores e com
pobres. Para as classes dominantes, só elas têm flhos, só elas têm um futuro, só elas têm
direito à riqueza. Assim, as pessoas do povo têm difculdade de compreender a natureza da

819
dominação, esta maldade inconsciente de classe que os poderosos trazem consigo para a
vida social. A dominação é a encarnação do mal, e o povo precisa aprender que isso consttui
uma constante estratégica presente na luta.

Portanto, uma das tarefas da direção do partdo é imbuir cada organismo de base de uma
compreensão efetva de “célula”,, isto é, que este pequeno organismo possua dentro dele a
compreensão da missão estratégica do partdo e seja capaz de se centuplicar e saiba aonde
ir. A organização de base, ao manter o partdo vivo entre as massas, deve reproduzi-lo às
dezenas, aos milhares, aos milhões. Só assim a revolução social necessária pode sair
vitoriosa. Só assim se pode abreviar o tempo necessário às mudanças.

O partdo não é uma organização qualquer, minada pela ganânncia do poder e pela
corrupção, para servir a meia dúzia de chefetes antpovo, em seus propósitos pessoais. Não é
uma máquina de mentras, nas mãos de um punhado de fascistas. O partdo operário é o
elemento construtor de uma nova sociedade, esta baseada na solidariedade, no trabalho
coletvo, na aplicação racional dos meios. O partdo operário nada tem em comum com a
sucessão de classes dominantes que se tem apresentado ao longo da história. O partdo
operário representa a maioria da população, e ela será a sua “classe dominante”,.

Isso signifca que a direção estratégica do partdo avalia constantemente os episódios da


luta que se está a travar e em que grau os mesmos expressam a variação de nossos
interesses, os avanços ou eventuais perdas e recuos, retfcando nosso campo de forças e
introduzindo na prátca social as novas medidas necessárias. A tarefa estratégica de
condução da luta signifca abandonar tanto perdas como ganhos que não sejam importantes,
mas que podem se desdobrar de modo perigoso, ignorando o movimento de nossa própria
iniciatva. Signifca habilidade em concentrar e em acumular forças, pondo as forças inimigas
em sentdo geral sob crescente risco de perdas e derrotas. Dessa forma, a vigilânncia
estratégica nos permite ampliar até um máximo, nossas polítcas de recrutamento e de
formação de quadros. O aprofundamento da luta de massas conduz a que o movimento
popular obtenha e mantenha a iniciatva na luta polítca, não restando às classes dominantes
outras alternatvas para recuperar a iniciatva que o golpe de estado – ou uma sucessão deles
- e a guerra civil. Em geral, as classes dominantes combinam semelhantes mudanças na
forma de luta principal com campanhas de ódio, mentras e calúnias, levando ao paroxismo

820
seu desprezo pelos trabalhadores e a ampliar sua polítca de engano. Portanto, a direção
estratégica do partdo assegura a cada escalão no processo da luta a unidade do comando. A
independência de cada escalão pode, no processo de ação, manter a iniciatva, de acordo
com a linha geral já estabelecida.

Dessa forma é evidente que uma direção estratégica consolidada e correta evita considerar
ou enveredar pela valorização de atos individuais ou pessoais, não cedendo à tentação de
misturar a ação polítca de grandes massas com atos menores, por exemplo, atvidades
terroristas. Em um cenário social, não se pode controlar todo ato individual nem todos os
indivíduos, mas nossa ação polítca deve deixar claro que semelhantes desperdícios de força
não fazem parte de nossa ação polítca. Não são atos nossos. Quando vemos pichado nos
muros “Já matou seu comunista hoje?”,, por militares que estão no serviço atvo, que fque
claro que não temos assuntos pessoais com esses senhores. Diz Iona Yakir:

“A importância de uma correta avaliação da correlação de forças reside na avaliação do que


podem fazer as nossas forças, de que pode fazer o inimigo e a história recente dessas ambas
possibilidades. A unidade de mando deve ser capaz de tomar o pulso do inimigo, antes de um
engauamento pleno do nosso esforço principal na direção necessária.”

Ou seja, a natureza do nosso engajamento deve nos assegurar a capacidade de entrar na


luta sob diferentes formas e com diferentes ênfases, sem permitr ao inimigo que – no
desdobramento da situação – ele nos venha retrar a iniciatva. Este cálculo quanto ao
possível sentdo para o qual irá evoluir a relação de forças deve conferir ao partdo operário
as condições para um efetvo planejamento estratégico, qualquer que seja hoje a situação.
Por exemplo, Marx, Lenine e Stálin chamaram a atenção para a difculdade de vitória na luta
popular, quando a aliança operário-camponesa está pouco desenvolvida ou não existe. Num
caso assim, a relação de forças deve trar disso as devidas consequências. Diz Stálin:

“A força polítca da revolução proletária russa consiste no fato de que a revolução agrária dos
camponeses (liquidação do feudalismo) se realizou sob a direção do proletariado (e não da
burguesia), em que, como consequência, a revolução democrátco-burguesa serviu de prólogo à
revolução proletária, em que os vínculos entre os trabalhadores do campo e o proletariado e o apoio
que os primeiros deram aos segundos estavam assegurados, não só do ponto de vista polítco, mas
também consolidados, nos sovietes, do ponto de vista de organização, o que granjeou ao proletariado

821
as simpatas da esmagadora maioria da população (e justamente por isso não é um grande mal que o
proletariado não consttua a maioria no país).”

“A debilidade das revoluções proletárias na Europa (no contnente) consiste no fato de que, ali, o
proletariado não tnha essa ligação com o campo nem esse apoio do campo; a libertação dos
camponeses do feudalismo realizou-se, ali, sob a direção da burguesia (e não do proletariado que era
então débil), circunstância que, dada a attude indiferente da social-democracia para os interesses do
campo, assegurou à burguesia, por longo tempo, as simpatas da maioria dos camponeses.”

Tratam-se, pois, de desdobramentos potencialmente concretzáveis indicados já na


correlação prévia de forças e que devem ser levados em consideração pelo procedimento da
direção estratégica. O cálculo é possível, pode ser feito em detalhe e resulta certamente na
manutenção da iniciatva, durante o desenrolar do processo de luta. Como comenta Stálin
quanto aos períodos (três) do desenvolvimento do partdo bolchevique:

“a) o período da formação da vanguarda (isto é, do Partdo) do proletariado, período da formação


dos quadros do Partdo (neste período o Partdo é débil, tem o seu programa e os seus princípios
gerais de tátca, mas é débil como Partdo de ações de massas);”

“b) o período da luta revolucionária de massas sob a direção do Partdo Comunista. Neste período o
Partdo transforma-se, de organização de agitação de massas, em organização de ações de massas; o
período preparatório converte-se em período de ações revolucionárias;”

“c) o período que se segue à tomada do Poder depois da transformação do Partdo Comunista em
Partdo governamental.”

Obviamente fez parte do acompanhamento das diferentes situações no movimento da


correlação de forças compulsar de todas as forças nos distntos espaços do “teatro de forças”,.
Esta avaliação é extremamente complexa e afeta as decisões a tomar de modo que não pode
ser previsto. É uma tarefa tanto da direção estratégia quanto da direção tátca. Os exemplos
históricos são numerosos e devem ser utlizados na educação polítca pela história do
movimento operário. Não se pode avançar o tempo todo em todas as frentes impunemente.
Comentou Stálin sobre a importânncia de “tomar fôlego”,, “reagrupar-se”,, na guerra civil e na
frente da guerra civil polonesa:

“Uma ofensiva sem consolidação das posições já conquistadas é uma ofensiva fadada ao desastre.
Quando pode uma ofensiva, no consenso militar, ser bem sucedida? Quando a força avançada não se

822
limita apenas a um progresso determinado à frente, mas sim quando luta ao mesmo tempo para
consolidar as posições já ganhas, reagrupar suas forças de acordo com as novas circunstâncias,
cerrar bem a retaguarda e puxar pelas reservas. Por que isto é necessário? A fim de evitar as
surpresas, de liquidar bolsões isolados, dos quais toda ofensiva depende e preparar assim, por todos
os meios, a completa destruição do inimigo.”

Na luta polítca, a questão não é diferente. Se as vitórias alcançadas não forem


consolidadas, se os quadros novos não forem formados, se as insttuições obtdas não forem
transformadas, lançar uma nova ação ofensiva pode resultar em fracasso. Não se pode deixar
os eventuais êxitos subirem à cabeça. É preciso avaliar com muita justeza, quais as vitórias
que permitem contnuar avançando, que ainda não esgotaram sua iniciatva e quais as que
são diferentes, pois requerem uma pausa no movimento ofensivo. Diz Stálin:

“e nunca pode haver, como nunca houve, uma ofensiva feliz sem um reagrupamento de forças no
decorrer dela, sem uma consolidação das posições já ocupadas, sem a utlização das reservas a fim
de desenvolver o êxito conseguido e levar avante a operação até sua conclusão definitva. Num
movimento sem estas condições, isto é, que não observa estas regras, a ofensiva inevitavelmente
terminará num colapso. Correr indiscriminadamente à frente é fatal numa ofensiva. Nossa
experiência é bastante rica das lições da guerra civil, sobre este assunto.”

Aqui mais uma vez vê-se o ensinamento que também expressa uma verdade na ação
polítca. Não devemos querer “andar mais depressa”, que nossos aliados. Não devemos
desprezar o trabalho de construção que cada vitória exige. Por exemplo, caso hajamos
tomado um sindicato que antes se encontra na mão da patronal, devemos saber exercer o
comando ali com paciência, com tolerânncia àqueles que vinham no erro: devemos consolidar
nossa aliança com os elementos que nos permitram – com sua mudança – garantr nossa
vitória. Caso não atuemos assim, podemos perder o apoio de elementos que, na verdade,
deviam estar ou contnuar a nosso lado. Não basta derrotar uma vez o inimigo para que
nossa posição se veja consolidada. Após vencê-lo, devemos contnuar a analisá-lo e procurar
afastar dele aliados que tem, mas que de fato, não sejam nossos inimigos, mas nossos
adversários. É preciso despir o inimigo de suas alianças e isolá-lo de modo efetvo no plano
polítco.

Só então poderemos contar aquela vitória em fase de consolidação. O inimigo não pode ser
derrotado com um único golpe. Mas um golpe bem aplicado, pode levar à debandada em

823
seu campo e podemos assim desmoralizar umas tantas forças que antes o apoiavam. Como
diz Stálin:

“O inimigo aguenta derrota sobre derrota. Justamente por isso é preciso, por maior que seja o
sucesso obtdo, prosseguir na destruição de seu poderio, estar vigilante e não permitr nenhuma
complacência e falta de cuidado de modo que ele possa entrar em nossas fileiras. Nunca houve um
caso sequer na história em que o inimigo tenha se lançado ao abismo por conta própria. Para vencer
uma guerra é preciso lançar o inimigo no precipício e, ainda mais, passar por cima dele.”

Este comentário militar de Stálin está cheio de ensinamento polítco. Não nos esqueçamos
que se “a guerra é a contnuação da polítca por outros meios”,, a “polítca será a contnuação
da guerra por outros meios”,. Há nisso muito ensinamento comum a ambos os campos.
Jamais com meia dúzia de vitórias vamos enviar o inimigo ao museu histórico. Vamos
precisar de muito esforço ainda para fazê-lo. Assim, não podemos contnuar a avançar sem
estabilizar e consolidar as vitórias já obtdas, sob pena de transformar importantes vitórias
em castelos de cartas. E isto é uma etapa decisiva da direção estratégica. Veja-se que na luta
pela estabilização e consolidação de nossas vitórias pode-se ver um outro tpo de perigo, que
não resulta propriamente da ação direta do inimigo. Comenta Stálin:

“Em relação aos êxitos militares alcançados nas frentes de batalha, partcularmente depois da
liquidação de Wrangel, em algumas regiões periféricas atrasadas, que não têm, ou quase não têm,
um proletariado industrial, aumentou tendências dos elementos nacionalistas pequeno-burgueses
para entrar no Partdo com o objetvo de fazer carreira. Estes elementos, considerando que o Partdo
ocupa a posição de força dirigente efetva, dão-se habitualmente um verniz de comunistas e com
frequência entram no Partdo em grupos inteiros, introduzindo um mal disfarçado espírito chauvinista
e de decomposição nas organizações do Partdo, em geral débeis, das regiões periféricas, que nem
sempre são capazes de resistr à tentação de ‘ampliar’ o Partdo com novos membros.”

“Com o seu apelo a uma luta sem tréguas contra todos os falsos elementos comunistas que se
infiltram no Partdo do proletariado, o Congresso põe o Partdo de sobreaviso contra a ‘ampliação’
através de elementos intelectuais nacionalistas de espírito pequeno-burguês. O Congresso considera
que, nas regiões periféricas, o recrutamento deve efetuar-se sobretudo entre os proletários, os
elementos pobres e os trabalhadores do campo, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a atvidade no
sentdo de reforçar as organizações do Partdo mediante o melhoramento da sua composição
qualitatva.”

824
Importa insistr, portanto, que a desagregação do campo do inimigo de classe não pode ser
tão generosa a ponto de esquecer que os aliados dele não são nossos aliados, mas sim
podem ser neutralizados politcamente por umas tantas concessões positvas. Não se pode,
portanto, acreditar que sejam ingênuos.

4 – A Missão da Direção Tátca do Partdo.

A direção tátca do partdo operário garante a luta pela plena aplicação da linha polítca
entre as massas, ao mesmo tempo em que recolhe ensinamentos no dia a dia para melhorar
a expressão que ela é da realidade, ou seja, aperfeiçoá-la. A direção tátca é o caminho para a
prátca social da linha polítca e é, ao mesmo tempo, o termo que designa o nível ou níveis de
direção envolvidos na ação da tátca geral e das tátcas situacionais. A direção tátca conduz
na prátca todas as polítcas do partdo operário, no seu processo de construção dentro do
movimento de massas e na construção do movimento de massas. Assim defne Stálin a
tátca:

“A tátca é a parte da estratégia, a ela subordinada e para servi-la. A tátca diz respeito não à guerra
em seu todo mas a seus episódios separados, como as batalhas, os engajamentos. Se a estratégia se
bate por ganhar a guerra, ou para chegar a uma conclusão, como, por exemplo, a vitória contra o
Tsarismo, então a tátca, de outro lado, pugna por vencer este ou aquele engajamento, esta ou
aquela batalha e conduzir com êxito esta ou aquela campanha, este ou aquele avanço, que mais ou
menos corresponde à situação concreta da luta em dado momentoe O papel mais importante da
tátca está na determinação de que os caminhos e meios, que formas e métodos de luta, que no geral
correspondem a uma situação concreta num dado momento e permitem preparar o sucesso da
estratégia. Por isso, a ação tátca, seus resultados não devem ser levados em conta puramente nem
do ponto de vista de efeitos imediatos, mas do ponto de vista das missões e possibilidades da
estratégia.”

“Há momentos em que a tátca facilita o preenchimento das tarefas estratégicas. Por exemplo, tal
foi o caso de Denikin no final de 1919, da libertação, por nossas tropas, de Orel e Voronezh, quando o
sucesso de nossa cavalaria diante da últma delas e da infantaria diante de Orel, criaram uma
situação favorável para o golpe de 1917, na Rússia, quando a passagem de Petrogrado (Leningrado)

825
e Moscou para o lado dos Bolchevistas, criaram uma nova situação polítca, facilitando a subsequente
ação de outubro pelo nosso Partdo.”

“Há também ocasiões em que os sucessos tátcos, brilhantes em seus efeitos imediatos, mas não
correspondendo às possibilidades estratégicas, criam situações ‘inesperadas’ desastrosas para a
campanha. Tal o caso com Denikin no final de 1919 quando, levado à frente por sucessos fáceis do
efetvo avanço contra Moscou, apertou suas frentes do Volga até o Denieper, preparando destarte a
destruição de seus exércitos. Tal foi o caso em 1920, na época da guerra com a Polônia, quando nós,
subestmando o poder do fator moral na Polônia, e levados por sucessos fáceis de nosso avanço,
tomamos sobre nossos ombros a tarefa difcil de entrar pela Europa através de Varsóvia, levantando
a maior parte da população polonesa contra as tropas soviétcas e criando por isso uma situação que
anulou os sucessos das tropas russas diante de Minsk e Zhitomir, e que fizeram baixar o prestgio da
autoridade soviétca no Oeste.”

“Finalmente, há também momentos em que é preciso ignorar os sucessos tátcos, incorrendo


deliberadamente em perdas desse gênero a fim de assegurar à estratégia louros no futuro. Isto
ocorre frequentemente na guerra quando um dos lados, desejando salvar as tropas e furtá-las ao
embate principal de forças superiores do inimigo, dá início a um plano de retrada e se rende sem dar
batalha, entregando cidades inteiras e regiões a fim de ganhar tempo e reunir forças para
determinadas batalhas no futuro. Eis o caso na Rússia em 1918, por ocasião do ataque alemão,
quando nosso Partdo foi obrigado a aceitar a paz de Brest, que resultou uma enorme perda do ponto
de vista do efeito polítco naquele momento, a fim de preservar a aliança com os camponeses,
sedentos de paz e obter uma pausa alentadora, de modo a criar um novo exército e garantr, por
estes meios, ganhos estratégicos em outra oportunidade.”

“Em outras palavras, a tátca não pode se subordinar a interesses do momento; não deve ser
orientada por considerações de efeito imediato e polítco; ainda menos, se deve deixar embair por
castelos no ar – a tátca precisa adaptar-se às tarefas e possibilidades da estratégia.”

A) A direção tátca das bases do partdo operário é vista pelas classes dominantes
meramente como “atvidade subversiva”,. Esta maneira de ver é totalmente falsa, porque não
corresponde à prátca social das células do partdo. Na verdade, o papel das bases do partdo
é fortemente civilizatório. Nos bairros, nas ruas onde há uma célula do partdo, os moradores
são mais organizados e suas lutas e protestos tendem a fazer melhorar a vida local. Lutam
pelo calçamento, pelo arruamento, pela água encanada, pela regularização dos lotes de
terreno, pela iluminação do bairro, etc. Esta luta se refete nas melhorias sociais e

826
econômicas para todos, pois aumenta a efciência econômica dos municípios e do país.
Somente aquele indivíduo que lucra com a miséria e a desorganização da maioria se volta
contra aquilo que é a luta pelas soluções positvas. Até mesmo muitos dos parlamentares
que são cobrados nesse processo terminam por reconhecer que o protesto das populações
ajuda a melhorar os serviços industriais e sociais.

Outro ponto em que os ricos veem com desespero é a existência de bases do partdo em
empresas privadas ou públicas. Ora, como é possível que alguém trabalhe oito ou dez horas
por dia numa empresa e não possa reunir como um grupo polítco de trabalhadores da
empresa fora da empresa? Será que o fato de as pessoas analisarem os problemas polítcos e
desenvolver o seu entendimento do mundo é inconveniente? Os patrões, quando descobrem
que são os trabalhadores politzados, costumam demit-los, fazendo um cadastro para
persegui-los, com a colaboração da DOPS-DPPS, Não é isto uma violação dos direitos
consttucionais dos cidadãos que são vítmas?

Por outro lado, ao debater uma organização de base as situações internacional, nacional,
local, etc., ela contribui para um entendimento mais racional do seu próprio ambiente de
trabalho, procurando infuenciar no sentdo de melhorar – e não piorar – aquele ambiente. A
attude hostl só pode vir de um patronato que não cumpre nem quer cumprir as próprias
leis burguesas e que deseja “beber o sangue”, de seus trabalhadores e lesar o fsco e o
Estado. As bases do partdo representam na verdade a memória da massa trabalhadora de
um dado local, e contribui para que esta massa trabalhadora venha fazer parte do processo
histórico, pela partcipação consciente. Por isso é importante formar bases do partdo
operário em toda parte, dando meios para uma crescente ação consciente dos trabalhadores
e dos pobres. Não se esqueça de que as forças reacionárias temem o povo organizado.

Portanto, a maior parte da vida dos coletvos da base do partdo operário, se dá no plano de
aplicação tátca dos princípios da luta revolucionária à prátca social, mobilizando para isso as
massas populares. O partdo constrói seu trabalho polítco no movimento popular. O partdo
operário constrói, além de si próprio, as insttuições do movimento popular. Nesse processo,
o partdo operário mobiliza todas as forças progressistas e luta pra organizá-las. É uma
jornada de luta quotdiana, em que o partdo apoia cada reivindicação ou exigência da massa
trabalhadora e do povo em geral, procurando com ela mobilizar os setores diretamente

827
interessadas e envolvidos, para levá-los a um nível superior de organização. No plano
organizatvo, a polítca de concentração e acumulação de forças do partdo defne sua
polítca de recrutamento e as camadas sociais prioritárias nesse esforço de – primeiro –
mobilização, logo, formação polítca em escala de massa. O conjunto de todas as
organizações de base do partdo está envolvido nesse trabalho de despertar e organizar o
povo brasileiro.

Consequentemente, as organizações de base do partdo veem-se em choque mais direto


com as forças reacionárias no dia a dia e devem de todos os meios ao seu alcance para isolar
o partdo das massas e destruir sua capacidade de mobilização e de organização. Enfrentar
tais forças requer dos membros do partdo um esforço verdadeiramente heroico. Quanto
mais se multplica o número daqueles que aderem à causa da mudança, mais se aprofunda a
luta de classes e mais se aprofunda o choque entre dois campos, o campo da luta pelo poder
nacional e o campo da entrega do país às forças do neocolonialismo.

As organizações de base do partdo operário, ao lado de outras forças progressistas,


intensifcam a luta do movimento popular por um governo nacionalista e democrátco, que
seja capaz de empreender a luta pelas reformas de base desejadas por todas as camadas do
povo brasileiro. As palavras-de-ordem do partdo têm um amplo alcance, atngindo massas
de milhões de pessoas em todo o país. O partdo operário intensifca a luta pela organização
das massas, buscando levar as massas à defesa de seus interesses polítcos, próprios e
independentes. Para tal, é preciso incrementar o recrutamento da massa da juventude:

“Conquistar a juventude brasileira para a revolução é, assim, tarefa central do Partdo, parte
integrante e inseparável da tarefa de forjar a frente única revolucionária. Por isso mesmo, a ela deve
dedicar-se o conjunto do Partdo, todas as suas organizações e frentes de trabalho, e não apenas nos
jovens, aos quais se atribua a inteira responsabilidade pela realização da mesma. A pouca atenção
dispensada atualmente pelo Partdo ao trabalho juvenil ou o relegamento deste à condição de tarefa
atribuída aos comunistas jovens, apenas, consttui grave erro que precisa ser com urgência corrigido.”

O esforço de recrutamento tem seu centro tátco no recrutamento de jovens estudantes,


operários e camponeses pobres, pelo seu maior desprendimento no processo da luta e maior
destemor, frente às artmanhas das forças reacionárias.

828
Os pontos do programa mínimo, ressaltados pelas massas em todo o país tem sido objeto
de carinhosa análise por parte do partdo operário, que os levanta em sua imprensa, em
negociações com todas as forças progressistas e faz deles palavras-de-ordem de agitação,
levadas em toda parte. É evidente que a máquina do partdo operário – embora em
crescimento – é insufciente para dar a cobertura a todos os pontos do movimento
reivindicatório. No entanto, este é o ponto mais alto que a agitação pelas bandeiras
populares atngiu nos últmos trinta anos. Uma vez mais o partdo aplica em suas polítcas de
agitação e propaganda a polítca de concentração e economia de forças. A propaganda e
agitação tem se concentrado:

“ - Polítca do petróleo, baseada no monopólio estatal;”

“ - Polítca exterior que se ajuste aos objetvos nacionalistas do desenvolvimento;”

“ - Polítca de crédito de capitais estrangeiros subordinados ao interesse nacional;”

“ - Polítca de integração de áreas subdesenvolvidas no processo do desenvolvimento brasileiro;”

“ - Polítca de abastecimento nacional e de emergência para atenuar o custo de vida;”

“ - Polítca de educação para o desenvolvimento nacional.”

A concentração nesses pontos junto com a Frente Parlamentar Nacionalista (FPN) ganhou o
apoio de dezenas de milhões de patriotas. Isso permitu ao partdo reforçar sua posição
dentro da juventude. Como diz o partdo:

“Existem no Brasil as condições objetvas necessárias para que a juventude seja mobilizada para
uma partcipação atva e de vanguarda na luta polítca. Vivemos numa época em que profundas
transformações ocorrem nas vidas dos povos. O socialismo está triunfante em uma terça parte da
humanidade e a revolução socialista já chegou às terras da América; desmorona-se o sistema colonial
do imperialismo, tornando clara a incapacidade deste últmo de manter conjugados por muito mais
tempo os povos ainda delas dependentes, enquanto os povos que lutam e conquistam a sua
independência polítca encontram no campo socialista o apoio eficaz e decidido de que necessitam
para defender-se das arremetdas imperialistas. Tudo isso marca uma nova etapa na história da
humanidade e abre amplas perspectvas para a luta do povo brasileiro por sua libertação nacional e
social.”

829
“Aos comunistas cabe conduzir a luta ideológica do proletariado dentro do movimento juvenil, como
vanguarda consciente que são dessa classe e intérprete de seus superiores interesses. É seu dever
difundir entre os jovens as ideias sociais do marxismo-leninismo, apresentar-lhes as soluções e os
caminhos preconizados pelo Partdo para os problemas gerais de todo o povo e para aqueles
específicos da juventude, e esforçar-se para que, por essa via, a juventude e o movimento aceitem e
adotem as ideias, a polítca a direção do Partdo, consttuindo-se naquela força entusiástca e
combatva capaz de levar a revolução brasileira até as suas últmas consequências, até o socialismo.
Essa a tarefa mais importante do trabalho polítco do Partdo na juventude.”

Vê-se que o entrelaçamento dos princípios da luta faz o processo avançar pela arte polítca,
a partr das indicações analítcas do processo de correlação de forças em presença.

Da mesma forma, como organização independente, o partdo não abandonou o seu


programa agrário, embora haja apoiado inúmeras tentatvas de fazer avançar as propostas de
reforma agrária, no mesmo período (1958-1962). Diz Kuusinen:

“Fundamentando teoricamente o programa agrário dos partdos comunistas, considerava Lênine


que o confisco da grande propriedade é condição necessária e obrigatória para a completa liquidação
de todas as sobrevivências do feudalismo. Ao mesmo tempo, indicava ele que sob determinadas
condições históricas, as terras confiscadas aos latfundiários podem ser repartdas entre os
camponeses como propriedade privada destes. Lênine parta do fato de que a supressão da
propriedade latfundiária e de todas as sobrevivências feudais fortalece a aliança do proletariado com
as massas fundamentais do campesinato e a burguesia. Isto torna mais fácil ao proletariado, em
aliança com o campesinato pobre a luta pela revolução socialista.”

“E mais adiante:”

“Os interesses vitais das massas fundamentais do campesinato coincidem com os interesses do
proletariado. Nisto reside a base econômica para a aliança do proletariado com o campesinato
trabalhador na sua luta comum contra o regime capitalista.”

Assim, enquanto força independente na frente única, nunca a tátca operária deixou de
propagar a sua própria compreensão da luta agrária, já constante de seu programa nos anos
40 e confrmada nos anos 50:

“38 – Confiscação de todas as terras dos latfundiários e entrega dessas terras, gratuitamente, aos
camponeses sem-terra ou possuidores de pouca terra e a todos que nelas queiram trabalhar, para

830
que repartam entre si. A divisão das terras será reconhecida por lei, e a cada camponês será entregue
o ttulo legal de sua propriedade. A lei reconhecerá as posses e ocupações de terras dos latfundiários
e do Estado, anteriormente realizadas pelos camponeses, que receberão os ttulos legais
correspondentes.”

“39 – Abolição das formas semifeudais de exploração dos camponeses – meação, terça e todas as
formas de prestação de serviços gratuitos – abolição do vale e barracão, e obrigação de pagamento
em dinheiro a todos os trabalhadores agrícolas.”

“40 – Garanta de salário suficiente aos assalariados agrícolas, não inferior ao dos operários
industriais não especializados, como também garanta de terra aos que a desejarem.”

“41 – Garanta legal à propriedade dos camponeses ricos. A terra cultvada por eles ou por
assalariados agrícolas assim como seus outros bens serão protegidos contra qualquer violação.”

“42 – Anulação de todas as dívidas dos camponeses para com os latfundiários, os usurários, o
Estado e as companhias imperialistas norte-americanas.”

“43 – Concessão de crédito barato e a longo prazo aos camponeses para a compra de ferramentas e
máquinas agrícolas, sementes, adubos, insetcidas, construção de casas, etc. Ajuda técnica aos
camponeses. Amplo estmulo e ajuda ao cooperatvismo.”

“44 – Construção de sistemas de irrigação, partcularmente nas regiões do Nordeste assoladas pelas
secas, de acordo com as necessidades dos camponeses e do desenvolvimento da agricultura.”

“45 – Garanta de preços mínimos para os produtos agrícolas e pecuários necessários ao


abastecimento da população de modo que permitam aos camponeses desenvolver suas atvidades
econômicas e aumentar a produtvidade de suas terras, salvaguardando-se ao mesmo tempo os
interesses da grande massa consumidora.”

“46 – Abolição das restrições injustas ao livre trabalho dos pescadores. Ajuda aos pescadores por
meio da concessão de créditos para a construção de casas, entrepostos, etc., e fornecimento de
instrumentos e embarcações para a pesca.”

Em todas as lutas conduzidas pelo partdo no campo, ele tem difundido como palavra-de-
ordem de agitação e de ação cada ponto de seu próprio programa. Mais uma vez, trata-se da
polítca leninista de concentração, acumulação e economia de forças: partcipar da frente
única para que todas as forças progressistas aumentem sua força e o seu poder, diante do
inimigo comum. Diz a nossa resolução polítca:

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“Os comunistas têm o dever de lutar à frente das massas camponesas por uma reforma agrária que
liquide o monopólio da propriedade da terra pelos latfundiários e fortaleça a economia camponesa,
sob forma individuais ou associadas. A fim de abrir caminho para essa reforma agrária radical é
necessário lutar por medidas parciais com a desapropriação de grandes propriedades incultas ou
pouco cultvadas, com base no preço da terra registrado para fins fiscais e loteamento das terras
entre pequenos agricultores sem-terra ou com pouca terra, mediante pagamentos módicos e a longo
prazo; por um forte aumento da carga tributária sobre as grandes propriedades e isenções fiscais
para as pequenas propriedades: pela utlização das terras do Estado para formar núcleos de
economia camponesa; pela entrega de ttulos de propriedade aos atuais posseiros e a defesa rigorosa
dos direitos dos camponeses contra a grilagem.”

Ou seja, o partdo operário concentra o seu programa agrário em alguns pontos, que
também são aceitos por outras forças na frente única. Tal favorece fortemente a frente
comum para a modifcação do agro, no lugar de dividir-se esta frente unida numa sucessão
de pontos em disputa. A superioridade e a habilidade dos comunistas para unir forças e adiar
debates que – na atual correlação de forças – não são essenciais, é conhecida. Reunindo
agrupamentos de partdos, tendências agrupações, frentes, cada vez maior, a frente única
nacionalista e democrátca tem avançado de forma notável em todas as frentes. O partdo
operário manifesta sua satsfação em trazer sua contribuição tátca para tal sucesso.
Referindo-se ao trabalho de agitação e propaganda entre as mulheres, assim se pronuncia
Marighella:

“Uma grande agitação e propaganda de massas que nos orientemos para as grandes massas de
mulheres que vivem afastadas de qualquer atvidade produtva, para as grandes massas de donas de
casa que vivem a maior parte do tempo no lar, presas aos afazeres doméstcos. A elas devemos fazer
chegar a nossa agitação e propaganda de massas. Em vez de esperar que elas venham a nós, é mais
acertado irmos em sua procura no próprio lar, utlizando os meios que nos facilitam entrar em
contato com elas. Com isso poderemos responder aos monopólios norte-americanos que em sua luta
pela colonização do Brasil e pela implantação de uma ditadura militar de tpo fascista em nosso país
tudo fazem para isolar dos comunistas as amplas massas femininas, afastá-las para refrear a luta de
seus maridos, filhos, irmãos ou noivos, e prepará-las para aceitação passiva da escravidão
imperialista. Às donas de casa, no lar, devemos mostrar que somos defensores da família e que
lutamos pela liberdade de religião, respeitamos os sentmentos religiosos de todos e a todos
estendemos a mão na luta em defesa dos direitos democrátcos, em defesa de nossa soberania,
contra a miséria e pelo bem-estar do povo.”

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Vê-se aí claramente o caráter popular e democrátco com que o partdo operário conduz o
seu trabalho de educação das massas e o respeito aos costumes positvos e às tradições de
nossa população, em nada, aliás, respeitados pela máquina de propaganda imperialista.

Diz Marighella:

“Para uma agitação e propaganda correta, penso que nossas militantes precisam ir às grandes
concentrações de mulheres, viver entre elas, conhecer a situação concreta das massas femininas em
cada região ou localidade, em cada conjunto residencial, em cada fábrica ou fazenda, e ter a
capacidade de saber encontrar os meios e formas de despertar as mulheres para a ação pelas
reivindicações mais imediatas e sensíveis, pelas liberdades, pela paz e pelo progresso do Brasil.”

“Os problemas que a nossa agitação e propaganda entre as mulheres deve levantar são a meu ver
os problemas da caresta da vida, as dificuldades de moradia, os altos aluguéis, falta d’água, a difcil
situação dos transportes e os aumentos incessantes, a falta de creches, escolas, jardins de infância, a
defesa da criança, etc.”

“Assim, ligados às amplas massas femininas, sempre lhes poderemos falar em anista a partr de
1945, e em outras palavras de ordem como esta, e trazê-las para a luta polítca. Igualmente, sempre
que for útl, necessário e conveniente começar por uma agitação e propaganda polítca, jamais
deixaremos de saber ligá-la à luta pelas menores reivindicações específicas, permanentes ou
temporárias da mulher.”

“Isto tudo pode ser feito em combinação com a propaganda de pontos específicos do Programa do
Partdo relacionados com a defesa da mulher, e da infância com mais ampla difusão da Resolução de
março de 1955 e de seu programa de reivindicações e a intensa divulgação entre as massas
femininas da plataforma de quatro pontos apresentada pelo Partdo.”

A luta, portanto, do partdo operário no plano tátco visa tão somente devolver explicado ao
povo brasileiro o programa que ele apresenta – quando perguntado – como pontos isolados.
O partdo analisa cada uma destas reivindicações e a insere no contexto das demais,
mostrando as relações que aí existem e que expressam a vida de tal programa pela miséria
das mais amplas massas. Ao devolver aos trabalhadores e aos pobres o programa que eles
próprios apresentaram em forma fragmentária, o partdo – através de suas palavras-de-
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ordem leva o povo à mobilização, à agitação e à ação, em defesa de seus próprios interesses.
Tudo isso seria louvável, não se encontrasse no campo oposto o vampiro das classes
dominantes, que nada pode ou deseja ceder. Mas nós contnuaremos na luta pelas
transformações. Como diz Ho Chi Minh:

“Para eliminar as sequelas da antga sociedade, para forjarmos a virtude revolucionária, busquemos
estudar, aperfeiçoar, nos remodelar para contnuarmos sempre progredindo. Se não nos esforçamos a
progredir, vamos regredir, ficar para trás. Ora, o homem que fica atrasado, atrás, será rejeitado por
uma sociedade em progresso. (e) Aquele que está imbuído de moral revolucionária nada tem a
temer, não se deixa intmidar e não recua diante das dificuldades, das provas, das falhas. Pelo
interesse comum do Partdo, da revolução, da classe, do povo e da humanidade, ele não hesita em
sacrificar os interesses pessoais. (e) Os imbuídos de virtude revolucionária restam simples, modestos,
prontos a aceitar todas as adversidades (e) não cair no narcisismo, na burocracia, no orgulho, na
depravação, tudo isso consttui uma outra manifestação da moralidade revolucionária.”

5 – Conclusão.

Ampliamos nossos conhecimentos na aula 20. Tivemos uma visão de como o partdo
operário se alimenta apenas de princípios, e vimos como conceitos tais como estratégia,
tátca, arte operacional, concentração e acumulação de forças, economia de forças, agitação
e propaganda, etc., estão enlaçadas, são categorias interdependentes da lógica dialétca,
aplicada à polítca e à organização. Vimos como o programa máximo do partdo é elaborado
pelas próprias massas populares, e como o partdo funde com o programa máximo
necessário da classe revolucionária. Com esta noção da polítca revolucionária do partdo,
avançamos para estudar o duplo caráter – dialétco – da direção estratégica e da direção
tátca do partdo. Munidos dessas noções básicas, entendemos a importânncia de estudar
mais a dialétca como lógica, como método e como teoria do conhecimento, para estarmos à
altura teórica necessária para cumprir as tarefas da luta revolucionária.

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Perguntas.

1 – Como se constrói o programa máximo do partdo?

2 – Como se constrói o programa mínimo do partdo?

3 – Que entende por polítca revolucionária?

4 – Qual a importânncia da estratégia?

5 – Como ela conduz ao planejamento estratégico do partdo?

6 – Qual a importânncia da arte operacional?

7 – Qual a importânncia da tátca do partdo?

8 – Como se dá o acompanhamento da tátca do partdo?

9 – O que signifca economia de forças?

10 – O que entende por concentração de forças?

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