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CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDO DI BIASE

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL


INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

HISTÓRIA DO RIO DE JANEIRO


ESCRAVIDÃO URBANA

Élcio Santana

Volta Redonda, Maio de 2009


CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDO DI BIASE
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL
INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO

HISTÓRIA DO RIO DE JANEIRO


ESCRAVIDÃO URBANA

Trabalho elaborado como parte dos requisitos para


obtenção de nota na disciplina História do Rio de Janeiro
I, sob a responsabilidade de Élcio Santana

Volta Redonda, Maio de 2009


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................

2 ATIVIDADES DOS NEGROS ESCRAVOS NO RIO DE JANEIRO........

2.1 OPERÁRIOS FABRIS....................................................................................

2.2 HORTELÕES E CAÇADORES.....................................................................

3 RELAÇÕES ENTRE SENHORES E ESCRAVOS......................................

4 ALFORIA...........................................................................................................

5 O MERCADO DE ESCRAVOS NO RIO DE JANEIRO.............................

6 A NACIONALIDADE ESCRAVA.................................................................

7 TRABALHADORES NAS RUAS..................................................................

7.1 CARREGADORES NEGROS......................................................................

7.2 SERVIÇOS PÚBLICOS................................................................................

7.3 VENDEDORES AMBULANTES E CRIADOS..........................................

8 CONCLUSÃO..................................................................................................

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................
1 Introdução

O cotidiano do da cidade do Rio de Janeiro do século XIX, não se caracterizou sem a


constante e marcante presença da mão-de-obra escrava e africana.
Esse fator é tão predominante na rotina da cidade, que sua retratação ganhou fama nas
telas de Debret, artista que permitiu com suas obra, e visão pessoal do cotidiano carioca, a
análise historiográfica e a conclusão latente do grau de importância da presença africana na
estrutura funcional da cidade do Rio de Janeiro.
Para se entender a importância da presença da mão-de obra escrava na cidade, é
necessário observar a evolução da participação desta no total da população.
No final do século XVIII (1799), os escravos eram uma minoria (34,6%) da população
de 43.376 habitantes do Rio. Viviam numa cidade pequena, onde, somados aos libertos
(20,3%), já superavam, em número, as pessoas livres. A chegada da corte, em 1808, marcou a
transformação do Rio em capital política do Império Português e, mais que isso, provocou
uma explosão populacional, motivada pela grande quantidade de imigrantes que
desembarcaram na cidade. A chegada da corte aumentou também a demanda por escravos
para construir casas, palácios e edifícios públicos, e para trabalhar como escravos domésticos.
O tráfico africano cresceu enormemente depois de 1808 e já em 1821, a população escrava
mais do que dobrara para 36.182, o que representava então 46% do total de habitantes.
Observa-se, a partir daí, que a população escrava continua crescendo, chegando a um
máximo em torno de 1849 (78.855 escravos). A partir de 1850, com a entrada em vigência da
Lei Euzébio de Queiroz, a população escrava foi diminuindo até a Abolição, seja pela
proibição da entrada de novos contingentes de africanos, seja pela tendência de fluxos
migratórios de escravos para a zona rural, sobretudo para suprir a demanda das fazendas de
café.
Certamente não discutiremos nessa análise, a questão de certo ou errado da escravidão,
mas sim trataremos de analisar e identificar a utilização incondicional de mão-de-obra escrava
na cidade do Rio de Janeiro, a escravidão urbana.

2 As funções dos negros escravos

De acordo com a perspectiva dos senhores de escravos do Rio de Janeiro, havia apenas
um papel apropriado para os cativos: realizar todas as atividades manuais e servir de “bestas
de carga” da cidade. Eles eram não apenas as máquinas e “cavalos” da capital, mas também
fontes de riqueza e do capital de seus donos.
É preciso lembrar que, em função da ideologia escravista, então arraigada na
sociedade brasileira, todo trabalho manual era considerado degradante e vergonhoso, só sendo
digno de ser executado por escravos. Isso incluía o transporte de qualquer tipo de objeto pelas
ruas, por menor e por mais leve que fosse.
Além de trabalhar, os escravos exerciam muitas outras funções. Nas manhãs de
domingo, por exemplo, os donos faziam-nos desfilar pelas ruas da cidade para exibir sua
posição social e riqueza. Se um senhor precisasse tomar emprestado dinheiro, os escravos
serviriam de garantia. Quando a filha do senhor casava, eles podiam servir de dote, assim
como, em ocasiões especiais, podiam ser dados de presente a amigos ou parentes do dono ou
ainda doados a instituições de caridade. Também ganhavam dinheiro para ele, que às vezes os
alugava. Com freqüência, os senhores viviam dos proventos de seus escravos ou faziam-nos
trabalhar de “negros de ganho”, recebendo uma parte do que eles obtinham. Além disso, as
escravas tinham, às vezes, de servir de parceiras sexuais de seus senhores, na qualidade de
concubinas, amantes ou companheiras.

2.1 Hortelões e caçadores

Antes de 1830, muitas zonas do Rio tinham um baixo nível de urbanização e


muitos escravos cariocas trabalhavam em atividades agrícolas e pastoris de subsistência:
hortas, plantações para vender produtos na cidade, criação de animais e caça. Os senhores e
seus cativos viviam, na verdade, em chácaras ou tinham hortas em seus quintais. Em
conseqüências, muitos escravos urbanos eram hortelões e caseiros de pequenos sítios e
residências suburbanas, ou trabalhadores agrícolas, se as chácaras fossem grandes o suficiente
para cultivar produtos comerciais, como laranjas e bananas. Assim, os cativos cuidavam de
arvores frutíferas, pés de café, legumes, verduras e flores nas elegantes propriedades
localizadas ao longo das estradas de São Cristóvão e Mataporcos e nos subúrbios de Engenho
Velho, Glória, Catete e Botafogo. Nas encostas do Corcovado, havia até cafezais. Em alguns
casos, plantava-se para o consumo imediato da família e seus escravos; em outros, os cativos
vendiam a produção na cidade, para seus donos ou por conta própria.
Os escravos agricultores também eram utilizados para o transporte de provisões.
Quando chegavam à capital, esses cativos desempenhavam muitas atividades, tais como
carregar mercadorias e cuidar de jardins e hortas.
Por fim, para muitos escravos, plantação e criação eram apenas duas de suas
muitas tarefas. Se pertencessem a uma família pobre ou de renda média, tinham
responsabilidade exclusiva pelo cuidado do quintal da casa, com horta, pomar e animais, tais
como galinhas, porcos e cabras.
Um grupo especial de escravos exercendo esse tipo de atividade estava ligado ao
Jardim Botânico, no subúrbio da Lagoa, onde havia plantas exóticas, inclusive chá.
O cuidado e a alimentação de animais era outra ocupação de tempos integral ou
parcial. Os escravos criavam vacas, ordenhavam-nas, levavam o leite em latas sobre a cabeça
ao Rio e o vendiam, ou então conduziam as vacas pelas ruas e ordenhavam na hora, a pedido
dos clientes. Muitos deles eram também responsáveis pelo cuidado e a alimentação de bois,
mulas e cavalos utilizando em transportes. Embora esses animais grandes fossem geralmente
mantidos nos arredores ou nas fazendas, havia estrebarias na cidade, onde também se
encontravam animais, pequenos, como cães e gatos, em todas as casas.
Segundo Debret, os negros das zonas rurais eram treinados desde a adolescência
a acompanhar seus senhores e caçar a comida necessária para viagens longas. O resultado de
suas caçadas para vender na cidade às cozinheiras da família ricas, que pagavam bem por
tatus e lagartos; outros se voltavam para a captura de espécimes para coleções de animais. O
Museu Imperial de História natural mandava escravos a caçar espécimes para sua coleção; um
alemão residente na cidade usava alguns de seus escravos para coletar e preparar espécimes
de insetos, pássaros e conchas, e dois ou três deles para vendê-los nas ruas a viajantes e
naturalistas estrangeiros.
De um modo geral, os escravos eram muitos importantes na produção, na colheita
e no transporte de ida e volta de produtos alimentícios para zonas suburbanas e rurais.

2.2 Trabalhadores nas ruas

2.2.1 Carregadores negros

Várias foram as categorias de trabalhadores escravos que se fizeram presentes no


cotidiano urbano da cidade do Rio de Janeiro. Porém, certamente, os carregadores negros
estiveram em maior predominância, haja visto os inúmeros relatos e retratações de viajantes
que vieram ao Rio de Janeiro, e quando ali chegavam, a primeira figura que visualizavam
eram os carregadores negros.
A constatação que posso fazer, no entanto, é que na primeira metade
do século XIX os carregadores foram, assim como a baia da
Guanabara, um item obrigatório nos relatos de viagem sobre a
cidade do Rio de Janeiro.
De fato todo esse volume de mão-de-obra utilizada de forma tão abrangente,
proporcionava lucros finais para grupos diversos. Os donos dessa mão-de-obra, que alugavam
suas propriedades – os escravos – para as mais variadas atividades, detinham a maior parte
dos lucros da empreitada, mas os escravos também lucravam com esse comércio. Pois após
acertarem com seus donos, e ou contratadores, o restante do pecúlio era por eles retido.
De qualquer forma, esse trecho nos leva a especular que os escravos
poderiam, assim como seus senhores, ter algum benefício na
atividade de carregar.
A logística urbana da cidade do Rio, pouco antes e principalmente após a chegada da
família real ficou totalmente atrelada aos serviços dos carregadores negros africanos, e
diversas mercadorias eram por eles transportadas, assim como os serviços exercidos. A
exemplo, estava o transporte de sacas de café, mobiliários, ferramentas, vestimentas, produtos
alimentícios, também se apresentavam para os serviços de carregadores de liteiras, tração de
seges, carregadores de defuntos, e vários outros.
Por fim tanto é possível observar o interesse tanto dos escravos quanto de seus donos
em uma atividade que uma certeza era marcante, o ganho.
Um dos trabalhos de carregador mais prestigiosos e lucrativos estava no porto e na
alfândega, como estivador. Calcula-se que, num dia bom, um escravo podia ganhar ali seis ou
sete vezes mais que seu dono exigia e que alguns conseguiam, com seu pecúlio acumulado,
comprar sua liberdade depois de dois ou três anos.
Um ponto interessante a respeito dos carregadores da zona portuária, é que muitos se
organizavam em grupos para comprar a liberdade. Havia um sorteio para definir quem seria
libertado primeiro e todos trabalhavam pela liberdade de todos, permanecendo juntos até que
todos do grupo fossem alforriados.

2.2.2 Serviços públicos

Alguns dos canteiros faziam parte do maior grupo de escravos em obras públicas.
Na maioria dos casos um grupo misto de condenados, escravos sob punição, escravos
alugados e africanos livres trabalhavam em todos os projetos de obras públicas da época.
Um dos trabalhos mais difíceis era a construção de estradas que, em alguns casos,
compreendia a drenagem de pântanos e a preparação de um leito elevado, precisando de
bandos de escravos para mover a terra. Em grande medida, a cidade obtinha sua mão-de-obra
para carregar terra e pôr pedras dos presos acorrentados, cativos alugados e africanos livres.
Os escravos alugados eram aparentemente pavimentadores especializados.
A prática de alugar escravos para o governo municipal era tão comum que os senhores
os alugava até como acendedores de lampião. Alguns africanos livres também trabalhavam
como acendedores de lampião.
Outro serviço público que empregava tanto escravos quanto africanos livres era o dos
bombeiros.
Sempre que a raiva ameaçava a cidade, o governo municipal alugava escravos para a
perigosa tarefa de capturar e matar cães vadios e possivelmente infectados.

2.2.3 Vendedores ambulantes e criados

A venda de qualquer coisa de porta em porta era uma atividade constante dos escravos
de todas as idades e de ambos os sexos. Era feita em tempo parcial ou integral. Escravos
ambiciosos usavam seu tempo livre de domingo, feriados ou as noites para vender alimentos
ou objetos que haviam feito, comprado ou roubado.
Havia escravos que conseguiam sucesso como vendedor, e com a permissão de seus
donos efetuavam a atividade em tempo integral. Já outros escravos pertenciam a senhores que
já tinham algo a vender, e simplesmente eram utilizados como escravos de ganho - criado.
Esse padrão cresceu evidentemente ao longo da primeira metade do século XIX.
Existe um fator característico dos escravos utilizados como vendedores ambulantes e
que se sobressai às outras atividades exercidas por escravos. Trata-se do fato de que essa
categoria necessitava de licenças para trabalhar, o que fez com que houvesse registros, que
estão conservados até hoje. É importante também mencionar o fato dessa categoria fascinar os
que pintavam frequentemente seus trajes tradicionais.
Não existiam limitações para a venda de mercadorias nas ruas, desde que pudesse ser
carregada de porta em porta. Alguns escravos se tornavam especialistas em vender certos
artigos, porque eram empregados péla pessoa que os fazia. Mas era comum também um
escravo vender vários artigos e produtos
Uma das mais importantes ações dos ambulantes estava na venda de todos os tipos de
alimentos frescos ou preparados. Em particular o negócio de comida exceto a carne e o peixe
vendidos por homens, parece ter sido uma especialidade das mulheres africanas.
A prostituição também estava presente nas ruas como uma forma de comércio, e as
escravas se encontravam nessa atividade em tempo parcial ou até mesmo integral. Algumas
escravas se prostituíam para ganhar dinheiro, mas também havia senhores que forçavam suas
cativas com melhor aparência, a se prostituírem, e agenciavam essas escravas obrigando-as a
trabalhar na rua.

2.3 Profissionais especializados e artesãos

Os escravos mais peritos do Rio e, com freqüência, os mais bem pagos, eram os
profissionais especializados e artesãos. Alugados pelas autoridades municipais, faziam parte
da elite dos escravos da cidade. Muitos trabalhavam para seus donos, que também eram
artífices peritos, e haviam lhes ensinado a profissão, ou sozinhos, como negros de ganho.
Havia tal demanda por libertos e escravos peritos que eles encontravam pleno emprego e bom
pagamento.
A instrução de um escravo levava tempo, porém se compensava com a valorização do
escravo e com os aluguéis mais altos que seu amo passava a receber. Segundo Gorender,
baseado em informações de Eschwege, enquanto se pagava pelo aluguel de um escravo
comum 300 réis diários, aos piores aprendizes de um ofício qualquer, 600 rés e, aos mestres,
900 a 1.200 réis. Um escravo comum custava cerca de 400$000, enquanto que o preço de
venda de um escravo oficial oscilava entre 600$000 e 1:000$000.
Os escravos especializados faziam-se presentes em todos os ofícios urbanos –
carpinteiros, pedreiros, calceteiros, impressores, pintores de tabuletas, construtores de móveis
e de carruagens, artífices de objetos de prata, joalheiros e litógrafos, alfaiates, sapateiros,
barbeiros, cabeleireiros, curtidores, ferreiros, ferradores e outros.

2.4 Operários fabris

Embora negligenciados nos estudos sobre escravidão, havia um número significativo


de escravos empregados nas indústrias do Rio de Janeiro. Na primeira metade do século XIX,
havia poucas grandes fábricas na cidade. Havia um estaleiro naval, a Fundição de Ipanema,
que empregava mais de cem escravos e a Fábrica Imperial de Pólvora, na Lagoa, também com
mais de uma centena de cativos No caso da Fundição de Ipanema, considerando as duras
condições de trabalho, a massa de trabalhadores era complementada por mais de uma centena
de africanos livres.
O restante das fábricas era composto de pequenas unidades, raramente com mais de
vinte escravos, usados quase exclusivamente no processamento de produtos tropicais, como
café, açúcar, cachaça, farinha de mandioca, índigo e fibras vegetais. Outros tinham escravos
na produção de roupas e adornos pessoais como chapéus, sapatos e tecidos grosseiros de
algodão.
Os escravos eram encontrados também em outros trabalhos extremamente insalubres,
como exemplo, nas pedreiras do Catete e Glória, onde o risco era alto tanto quanto a
temperatura, chegando ao ponto de sofrerem insolação. O trabalho nas pedreiras era tão difícil
e perigoso que os senhores o consideravam uma punição apropriada para seus escravos mais
rebeldes e fugitivos Estes eram forçados a carregar sobre suas cabeças enormes blocos de
pedra morro do Castelo acima.

2.5 Escravos domésticos

As famílias de baixa renda utilizavam seus escravos domésticos para a realização de


todas as atividades domésticas, mais também das ocupações externas.
Nas casas das famílias ricas, no entanto, que possuíam muitos escravos, havia
especialização de mão-de-obra. A elite das escravas eram as criadas pessoais conhecidas
como mucamas ou mucambas. A mucama era com freqüência meia-irmã, filha ou concubina
de seu senhor, ou era aparentada da família de alguma outra maneira. Atuava como
governanta, supervisora de outros escravos ou como ama-de-leite dos filhos do senhor.
Os escravos de sexo masculino de famílias ricas trabalhavam de cocheiros, lacaios
uniformizados, cavalariços e carregadores de cadeirinha. Seus uniformes já elaborados os
destacavam dos outros escravos.
Outros escravos domésticos especializados de ambos os sexos eram os cozinheiros e
compradores. Havia bons cozinheiros, que com o aumento da demanda, podiam ser alugados
por um bom salário e trabalhavam em tempo parcial ou integral. Já os compradores -
necessitavam ser de confiança, pois a eles era confiada certa quantia de dinheiro – eram
enviados ao mercado para as compras de alimentos e produtos necessários ao lar.
Muitas casas tinham pelos menos um escravo, alugado ou próprio, para lavar, engomar
e passar. As roupas eram lavadas em pelo menos três pontos diferentes da cidade. Uma das
mais centrais era o grande tanque de lavar ao pé do aqueduto, no largo da Carioca.
Outros utilizavam a fonte do campo de Santana, principal local de lavagem de roupas
do Rio. Um terceiro lugar importante dessa atividade era o encantador vale das Laranjeiras.
Os escravos que ali lavam roupas também o faziam em troca de pagamento.
No inferior da hierarquia dos criados domésticos estavam aqueles designados para as
tarefas mais subalternas, como limpar, carregar água, servir à mesa, auxiliar na cozinha e
despejar lixo.
Muitos escravos domésticos, em especial os de baixo status, sofriam com o
confinamento e a reclusão impostos às mulheres brasileiras e não tinham liberdade pessoal
para andar pelas ruas da cidade. Ser um escravo doméstico não era por si só garantia de
melhores condições de vida e tratamento. A proximidade do dono podia significar maus-
tratos, tanto quanto boas oportunidades.
3 Relações entre senhores e escravos

A historiografia tradicional apresenta mitos e invenções referentes ao cativo e à sua


relação com seu proprietário. Exemplo dessas criações é a proposta da democracia pastoril,
segundo a qual a relação entre escravo e senhor era de quase igualdade e colaboração, e não
de exploração.
Formaram-se muitos mitos sobre o escravismo urbano. Como o que propõe que o
escravo urbano sofreria menos e teria mais liberdade do que o trabalhador escravizado rural.
Fato esse que não condiz como a realidade geral vivida pelos cativos urbanos. Em geral, a
historiografia tradicional baseia-se para propor uma vida mais tranqüila do cativo urbano na
figura do "escravo de ganho". Comumente, esse trabalhador escravizado vivia longe de seu
senhor, vendendo sua força de trabalho. Porém, a grande parte da renda recolhida por ele
ficava com seu senhor, que determinava metas a serem compridas pelo cativo. Como lembra
Jacob Gorender sobre a figura do escravo de ganho:
As cidades brasileiras impressionavam o europeu recém-chegado
pela multidão de negros, que enchia as ruas. Eram eles os
encarregados de todos os serviços urbanos, sobretudo do transporte
de mercadorias e passageiros. Constituíam a categoria especial dos
negros de ganho, (...) Passavam o dia na rua alugando seus serviços
com a obrigação de entregar ao senhor uma renda diária ou semanal
previamente fixada, pertencendo-lhes o excedente.
Para o escravista, o "ganhador" era uma grande fonte de renda, pois o proprietário
desfazia-se de muitas das obrigações com seu escravo, já que, não tinha mais despesas com a
sua alimentação, vestimentas e, algumas vezes, moradia, despesas sustentadas pelo pouco
dinheiro arrecadado pelo cativo. Em termos de valor de compra, o ganho do cativo não
representava muito. Em media, de 1840 a 1860, um escravo de ganho tinha 211 réis para o
seu consumo diário, o que não lhe permitia muito luxo.
Era também, comum que famílias de homens livres tivessem de um ou mais cativos de
ganho. Isso era fonte de prestígio social e, sobretudo, uma ótima fonte de renda.
Outro mito sobre o escravo ao ganho é que ele teria mais liberdade por estar longe do
senhor. O cativo ganhador não sofria a fiscalização constante de um escravo rural, entretanto,
mesmo contando com o liberto para a busca de trabalho, ele sempre seguia sendo visto e
fiscalizado pelos homens livres.
Em geral, era comum que o escravo de ganho cometesse crimes, muitas vezes como
forma de resistência ou simplesmente de sobreviver, como os roubos para completar a quantia
do ganho pedido pelo seu senhor, fato quase normal nas cidades.
Valéria Zanetti relata como era feito o aluguel de cativos:
Largamente utilizados com ou sem especialidade, os negros de
aluguel eram alugados a terceiros, por tempo limitado. Findo o
prazo, eles retornavam aos seus proprietários, que durante o aluguel,
podiam ficar livres das despesas com saúde, vestimenta e
alimentação, que corriam, por contrato, por conta do contratante.
Era comum que o proprietário fizesse uma espécie de contrato com o cativo,
prometendo a liberdade após a sua morte. Uma promessa que muitas vezes não era cumprida,
devido a que, não raro, o cativo morresse até antes do senhor.
Havia também a resistência de cativos ao sistema imposto, apesar de a historiografia
brasileira tratar muitas vezes o trabalhador escravizado como agente passivo ao sistema
escravista. Foram formas de resistência ao trabalho escravizado: a apropriação de bens, o
suicídio, a quebra de instrumento de trabalho, os ataques aos proprietários e seus familiares. O
roubo é um exemplo claro de resistência urbana. Muitas vezes, os cativos que cometiam os
roubos, era escravo ao ganho, que roubavam para completar os valores exigidos pelo seu
senhor. Os furtos cometidos pelos cativos eram praticados comumente em meio urbano.
Nem sempre os processos crimes movidos contra os cativos ladrões resultavam em
processos. Eles podiam ser resolvidos pelo senhor ou entre os senhores nos limites de seus
poderes.
Entretanto, justiça mentos de proprietários será uma realidade na sociedade escravista
urbana, com diversos fins e razões, como também assinala Ana Regina Falkembach Simão:
Alguns homicídios cometidos por cativos contras seus senhores
tinham por objetivo roubar. Em 18 de fevereiro de 1847, Roberto
Barker, proprietário do iate Quibebe, denunciou a morte do patrão
do iate, José Antonio de Almeida, que fora assassinado pelos
escravos da tripulação. Ao anoitecer, junto à baliza do Mosquit.o
O suicídio foi à forma encontrada pelo cativo de se livrar da escravidão, mas não se
pode pensar que os atos de suicídio de escravos eram feitos somente para prejudicar o
proprietário. Ana Regina Falkembach Simão propõe que de forma geral, os suicídios
cometidos por escravos não devem ser analisados como um ato premeditado para prejudicar o
senhor, mas, sim, como uma situação decorrente da péssima qualidade de vida que a
escravidão proporcionava, salvo exceções. Muitas vezes, a morte do cativo era vista pelo amo
como uma agressão ao sistema escravista, mesmo que essa morte tivesse sido natural.
Efetivamente, se percebe nos processos criminais violências cometidas por razões
sexuais. Fato explicado em boa parte pelo número reduzido de cativas, sobretudo à disposição
dos cativos, realidade de todo o Brasil. Cativos impulsionados pela falta de relações com
mulheres acabavam atacando mulheres forras, libertas e até mesmo filhas de senhores. Entre
esses casos se encontra o do cativo João, que atacou uma filha de um senhor:
O cativo João "crioulo, solteiro, vinte e cinco anos de idade",
escravizado por Eduardo Jacinto da Silva, teria tentado forçar uma
mulher livre, de nome Laurinha, quando se encontrava em companhia
de Gertrudes, na propriedade de Pedro José dos Santos, conhecido
como "Pedro Guavirova”.
O negro cativo fazia tudo dentro de casa e, fora, ainda proporcionava bom rendimento
a seu dono, o qual recebia dele uma féria diária ou semanal proveniente do que vendesse ou
do aluguel do seu trabalho. Essa era explicação da preguiça brasileira.
Mas, além disso, era um motivo de consideração social: quanto maior o número de
escravos, tanto mais ascendia o prestígio de quem os possuísse. O fato, observado por
viajantes no século XIX, vinha da época colonial e confirma-o José da Silva Lisboa: “É prova
de mendicidade extrema o não ter um escravo; ter-se-ão todos os incômodos, mas um
escravo”.
Os escravos decerto sustentavam os senhores que assim podiam dedicar-se ao prazer
permanente de administrar o ócio.
Quase toda a população livre aceitava como coisa inevitável, o não ser diretamente
produtiva, com exceções óbvias dos senhores de engenho, plantadores, criadores e
mineradores. O resto, a maioria, pacientava sem função muito definida, numa organização
social baseada em grande medida nas atividades econômicas voltadas para a exportação que
interessava à Metrópole.
À população urbana brasileira só restava acomodar-se e transformar o ócio, a preguiça,
em virtude, em coisa prestigiosa naturalmente almejada por todos.
A ligação direta entre Colônia e Metrópole dava-se pela cidade, e assim o modelo de
divertir-se, de comer, de vestir, aparecia primeiro nos centros urbanos. E aqui, como que para
compensar ‘o viver em Colônia’, longe da Corte, exorbitava-se nos hábitos gerados pelo ócio,
a começar pela aquisição de escravos, o que, num círculo vicioso, proporcionava o tempo
livre ostentado como sinal de prestígio naquela sociedade produtora e consumidora de
serviços.
O padrão ideal de status, portanto, era esse: possuir cativos que dispensassem o dono
de certos trabalhos ou, melhor ainda, de todo trabalho.
Alguns escravos, decerto com enorme esforço e persistência, alcançaram o objetivo
maior de comprar sua própria pessoa e incorporar-se à população dos livres por nascimento.
Atingido esse patamar, o ex-escravo obviamente investiria (se conseguisse) no ofício ou
trabalho que aprendera quando cativo, e logo trataria, ele também, de obter... Escravos!
Reproduzia, assim, o padrão vigente, e decerto com maior razão e afinco, pois teria de se
afirmar socialmente em meio hostil. Mostrar-se ocioso em virtude da posse de escravos seria
um primeiro passo para obter reconhecimento (não aceitação) no mundo arrogante dos
brancos. De qualquer modo, já não recebia ordens, mas dava as ordens. Escreveu Mahommah
Baquaqua, um africano que fora escravo no Brasil que disse quase ter sido comprado por um
liberto no Rio de Janeiro:
A posse de escravos é gerada pelo poder, e qualquer um, tendo
condições de comprar seu semelhante com reles sobras de economia,
pode tornar-se um proprietário de escravo, não importando sua cor,
credo ou nacionalidade, e... o homem de cor, tão logo tenha algum
poder, escraviza seu companheiro com se fosse um branco.
O mais esdrúxulo era a existência de indivíduos sob pleno cativeiro como proprietários
de escravos.
Os senhores passaram a aceitar que o próprio escravo comprasse outro para auxiliá-lo
a juntar dinheiro, ou simplesmente para ser dado em troca como reposição. Havia, entretanto,
uma incapacidade jurídica, pois o escravo não tinha legalmente personalidade civil, assim, o
cativo só podia comprar outro por meio de intermediários, embora na qualidade de dono
usufruísse à vontade de seu trabalho.
Como vimos mesmo no correr do século XIX era vergonhoso exercer qualquer
profissão “mecânica” e até mesmo carregar qualquer coisa pelas ruas com suas próprias mãos.
Assim, a ostentação, cuidadosamente praticada, de opulência ou só de bem-estar devia ser
perseguida com tenacidade por quem não quisesse passar por pobre ou miserável.
Thomas Ewbank, que esteve no Rio de Janeiro em 1846, afirmava que “ a tendência
inevitável da escravidão por toda a parte é tornar o trabalho desonroso, resultado
superlativamente mau, pois inverte a ordem natural e destrói a harmonia da civilização...”.
Alguns escravos domésticos podiam gozar de regalias vedadas aos demais da mesma
residência. As amas-de-leite, por exemplo, decerto estavam nesse caso, ou, ainda, os
protegidos, por qualquer motivo, dos senhores.
Outro exemplo eram as escravas que mantinham relações sexuais com o dono. Elas
tinham alguma ascendência sobre os outros cativos da casa; esta posição, de resto, criava às
vezes situações embaraçosas.
Esse tipo de relacionamento acontecia dentro de casa. Nas ruas, o escravo devia ser
exibido como símbolo de poder ou de riqueza do senhor.
4 As alforrias

Alforriar um escravo é um ato que só depende do senhor. Isso porque o escravo é


considerado, por lei, propriedade do senhor e como propriedade o senhor pode dispor dele da
maneira que quiser. Portanto, libertar um escravo é um ato que depende ou não da vontade
daquele que tem o poder de mando sobre o cativo. A princípio, ninguém pode forçar o senhor
a alforriar um escravo e isso pode claramente ser visto nas próprias cartas de alforria, onde o
senhor faz questão de escrever que está libertando seu escravo por vontade própria – as cartas
de alforrias proclamam a quem o quiser saber, que elas foram concedidas de “livre e
espontânea vontade, sem qualquer constrangimento”, mesmo porque não há qualquer razão
para um senhor se sentir “constrangido” a outorgar a liberdade a seu escravo com consciência
e interesse.
Tendo em vista essa questão de propriedade, tão bem zelada pela justiça brasileira,
fica difícil de esperar que um escravo conseguisse obter sua liberdade sem o consentimento de
seu senhor. Não que isso não tenha ocorrido, pois houve casos de escravos que conseguiram
que uma terceira pessoa, uma espécie de tutor, os representasse na justiça contra seus
senhores, para conseguirem através de uma intervenção estatal, a liberdade que fora negada
por seus proprietários.
Mas que espécie de acordo seria esse feito pelo senhor e pelo escravo? No geral, o
acordo era de que os escravos seriam obrigados a servir com fidelidade, por anos, a seus
senhores. Se assim o fizessem, após o tempo determinado e mediante uma quantia estipulada
que deveria ser paga ao senhor, o escravo receberia a sua carta de liberdade. Vemos aí, dois
pontos que são muito importantes para a concessão da alforria. O primeiro deles é a fidelidade
que o escravo tinha que ter para com o senhor. Para ser libertado é preciso, portanto, que o
escravo tenha sido trabalhador, fiel e obediente. Esta é a “liberdade merecida” que estimula os
escravos a serem bons servidores por uma vida toda, para poderem um dia merecer a
liberdade.
Esta atitude do senhor de exigir fidelidade ao escravo para poder então recompensá-lo
com a carta de alforria, demonstra o valor patriarcal na qual estava mergulhada a sociedade
brasileira, pois ao libertar um escravo, o senhor assumia uma responsabilidade perante esta,
que era a garantia de que o alforriado seria um bom cidadão. É uma satisfação moral que
deveria ser dada pelo senhor, pois este só dá alforria ao escravo que bem ou mal já sabe se
comportar diante da sociedade branca. Aquele que é rebelde, não aceita as estruturas do
poder, nunca seria alforriado.
O segundo ponto que é importante para a concessão da alforria se refere ao preço que
o escravo tem que pagar a seu senhor para que este lhe conceda a liberdade. A compra da
liberdade era uma realidade imposta para a maioria dos escravos, pois no Rio de Janeiro do
século XIX, a liberdade raramente era gratuita. Os escravos cariocas entravam para a
categoria dos livres não porque senhores benevolentes concediam gentilmente a liberdade,
mas porque eles a compravam. Os escravos tendo em vista a possibilidade de conseguirem
pagar o preço de suas cartas de alforria, iam à luta, aproveitando as inúmeras oportunidades
de uma economia urbana dinâmica, como a do Rio de Janeiro, para ganhar dinheiro e pagar o
preço de suas liberdades.
Aí se encontram uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo escravo: o preço a ser
estipulado. Ele é estabelecido à raiz de um acordo verbal mútuo, e grande número de cartas de
alforria registra que o preço foi decidido pelas duas partes, mas na verdade baseia-se numa
avaliação feita pelo senhor. Portanto, àqueles a quem os senhores não queriam libertar, ele
poderia qualificá-los com preços impagáveis. Contudo o valor fixado vai variar diante das
características do escravo, como sua saúde, sua idade, o sexo e de suas qualificações para o
mundo do trabalho. O senhor somente alforriará um cativo, se o mercado de oferta lhe
permitir substituí-lo por um outro, Após 1850, devido à restrição do mercado desde a abolição
do tráfico em 1830, o preço do escravo subiu muito.
Para o escravo conseguir sua alforria na justiça, os argumentos usados através dessa
intervenção estatal, era a alegação de: sua mãe, avó ou bisavó já havia sido libertada antes; a
tentativa de compra de alforria; as acusações de violência; e a alegação de ter chegado ao
Brasil após o término do tráfico negreiro.
Com relação ao fato do escravo ter a possibilidade de arrecadar dinheiro para comprar
sua liberdade, a prática é bem diferente da teoria, pois pela lei, por ser o escravo considerado
propriedade, uma mercadoria, jamais este poderia acumular pecúlio. Além disso, o escravo
nada possui de seu. Cabe ao senhor decidir se esta situação lhe é tolerável, se o escravo que
trabalha fora tem o direito de manter a posse de quantias que lhe permitirão comprar a sua
liberdade. A constituição deste pecúlio é, pois, resultante de um acordo verbal entre senhor e
escravo.
Na questão moral, no final do século XVIII, Henri Wallon afirmou ser a escravidão e
o progresso do cristianismo mutuamente excludente, ou seja, percebeu haver uma contradição
entre a servidão humana e um sistema de valores fundamentais. Em outra oportunidade,
James Redpath diz: “Cristianismo e escravidão não podem conviver, mas “igrejismo” e
escravidão são irmãos gêmeos.” Devido as grandes fazendas pertencentes à Igreja, fazenda
estas que necessitavam de escravos, o clero procurava na Bíblia, argumentos, justificativas
ideais para a condição de ser escravo, fundamentando a escravidão e contribuindo para a sua
manutenção. Os escravos da Igreja também conseguiam sua alforria, mas esses criavam
estratégias de vida que os enlaçavam em autênticas comunidades, com estrutura familiar, o
que lhe proporcionava um grande crescimento endógeno, explicando a grande superioridade
numérica dos “crioulos”, nessas comunidades, em detrimento aos de origem africana.
Havia sim, um grande incentivo, por parte dos religiosos, à constituição familiar de
sua escravaria com matrimônio legítimo. Na Congregação Beneditina do Brasil, as mães de
seis filhos e casadas legitimamente, conseguiam suas alforrias e poderiam continuar vivendo
junto de seus maridos, pois não viviam em senzalas comunais: possuíam pequenos lotes de
terras nos quais habitavam e retiravam sua subsistência e a de sua família. Usufruía ainda, da
possibilidade de formação de pecúlio, proveniente da comercialização dos excedentes
produzidos em seus pequenos lotes. Além disso, a Igreja proporcionava como o Mosteiro de
São Bento, a formação de jovens cativos em vários ofícios e artes, como carpinteiros, oleiros,
ferreiros, alfaiates, pedreiros, marceneiros, fiandeiras, cozinheiras, etc. Os escravos da Igreja
podiam conseguir suas alforrias de três formas: pagas, gratuitas, serviços.
Somente a título de curiosidade, na história da escravidão em Mariana, Minas Gerais,
os escravos forros compravam outros escravos, de preferência, seus parentes, para alforriá-los
e manter os laços e a continuidade familiar. O interessante era que a maioria que assim agia,
eram de mães, filhas e avós, demonstrando que a continuidade da família escrava esteve mais
ligada à escrava do que ao escravo.
5 O mercado de escravos no Rio de Janeiro

Para um europeu, o espetáculo é chocante e quase insuportável.


Durante o dia inteiro esses miseráveis, homens, mulheres, e crianças,
se mantêm sentados ou deitados perto das paredes desses imensos
edifícios e misturados uns aos outros (...) a única coisa que parece
inquietá-los é uma certa impaciência em conhecer seu destino final,
por isso o aparecimento de um comprador provoca entre eles muitas
vezes, explosões de alegria.

A descrição acima, feita por Rugendas, dá uma idéia do que eram os mercados de escravos
nas grandes cidades portuárias brasileiras.
O Rio de Janeiro, juntamente com Pernambuco, Maranhão e Bahia, era um dos focos
de penetração de grupos africanos. As necessidades variavam, porém a mão-de-obra durante
quase três séculos e meio era a mesma. Era o negro lavrador, minerador, doméstico,
boiadeiro. Com o desenvolvimento das cidades, observamos estes negros sendo destinados a
atividades bem diferenciadas das que originalmente motivaram a retirada tão violenta do seu
território.
O mercado do Valongo, no Rio de Janeiro chegou a ser o maior mercado de escravos
do Brasil. Segundo MacDouall, em 1826, havia, no Valongo, cinqüenta salas nas quais
ficavam expostos cerca de 2 mil escravos. Calcula-se que tenha passado por ali cerca de 1
milhão de africanos.O perfil típico do africanos que desembarcavam como escravos, no Rio,
era de indivíduos do sexo masculino (70% do total) e com idade variando de 10 a 24 anos
(83% do total).
No mercado do Valongo, não eram negociados somente escravos africanos recém-
chegados. Eram feitos negócios também com escravos ladinos , ou de segunda mão, que eram
mais valorizados, por serem já assimilados e capacitados. Da mesma forma, também eram
negociados escravos nascidos no Brasil.
8 Conclusão

Concluindo podemos afirmar que a questão da escravidão na Cidade do Rio de


Janeiro, foi um fator historiográfico de enorme importância para aqueles que desejam
entender a realidade nacional. Submetido a todo tipo de desconforto, o negro no Rio de
Janeiro sonhava com a oportunidade da liberdade e pelo ganho pode vislumbrar e fazer
realidade esse sonho.
Em uma sociedade em que se privilegia o status, o ócio e a riqueza, o comércio de
almas humanas (escravos negros) se fez um negócio de primeiríssima qualidade. Esses
senhores não levavam em conta esses escravos como pessoas, mais mercadorias. O que se
pode imaginar é que para eles suas mercadorias não tinham almas, não sofriam por falta de
sua família, não choravam por estarem longe de seus lares, etc. Mais como historiadores
entendemos que tudo isso era fruto de seu tempo. Naquela época ter escravos para realizar
atividades consideradas de porte inferior era uma coisa normal e aceitável. Tanto que os
negros alforriados reproduziam esse modelo escravocrata. A mentalidade era a de que esse
tipo de negócio era parte de um requisito que enobrece, que traz honra e status. Havia um
desejo profundo nessa sociedade de se elevar, de demonstrar poder e nada mais valioso para
época do que possuir um bom número de escravos. A sociedade hoje é outra e tem outros
valores, mais no futuro a historiografia denunciará mazelas de nossa própria época.
9 Referências Bibliográficas

ARAÙJO, Emanuel. Teatro dos Vícios: transgressão e transigência na sociedade urbana


colonial. 2ª ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1997.
SILVA, Marilene Rosa Nogueira da. Negro na rua: a nova face da escravidão.
São Paulo: Hucitec, Brasília: CNPq, 1988.
RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca através do Brasil. Belo Horizonte:
Itatiaia, São Paulo: EDUSP, 1979.
br.geocities.com/historiaonline_artigos/artigos/alforria.doc
www.anpuh.uepg.br/xxiiisimposio/anais/textos/VANESSA%20GOMES%20RAMOS.pdf
www.baraodemaua.br/revista/v1n1/por_amor.html - 27k

http://www.webartigos.com/articles/13618/1/uma-revisao-sobre-a-historiografia-da-
escravidao-urbana-no-rio-grande-do-sul-porto-alegre-pelotas-rio-grande-e-cruz-
alta/pagina1.html

GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. 2 ed. São Paulo: Ática, 1978.

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