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DIAMANTINA
Introdução:
Metodologia:
Justificativa:
O pretexto utilizado para este trabalho tem relação com a explicação entorno do
elo estabelecido pelos moradores da tabatinga que ajudaram a corroborar para a
formação de uma memória local que é repassada pelos antigos moradores dessa rua. A
partir das entrevistas realizadas, foi possível entender que, muitas das tradições
religiosas tiveram influência de moradores da tabatinga. Outra questão vincula-se com
o processo de disseminação da língua para outras regiões da cidade e a forma com que
se popularizou como mecanismo de resistência.
O primeiro escolhido para essa entrevista possui uma ligação afetiva com o
passado dos moradores da tabatinga. José Raimundo dos Reis de 62 anos, possui
diversas lembranças da sua juventude na rua. A conversa não trata apenas de uma língua
pois essa memória repercute nas tradições que até hoje estão presentes naquela
localidade. Diante disso, os moradores as festividades e o dialeto são elementos que
estão coesos e fortemente ligados na fala de Zé Raimundo, que é bastante conhecido na
cidade. Os nomes e apelidos de vários daqueles que compunham a comunidade são
mencionados em sua fala:
Toda essa sensibilidade presente nos seus dizeres reafirmam um encontro entre
passado e presente pela ideia da ‘vivacidade’ encontrada nos seu discurso. Uma
determinada experiência que é narrada de forma tão viva é um traço que encontra-se
com a fonte oral, de acordo com a historiadora Verena Alberti:
Outro fator que converge e reforça sobre as questões das condições de trabalho,
especificamente dos moradores da Tabatinga foi discutida por Sônia através de um
levantamento feito pela pesquisadora. Durante a elaboração de sua pesquisa, foi
realizado um levantamento das ocupações profissionais dos moradores e entendeu-se
que a maioria deles eram empregados de baixa remuneração. Pela tabela, e por outros
dados que também são expostos em seu livro, constata-se que foi feito um esboço do
perfil dos falantes dessa língua, que reflete na caracterização da localidade dessa rua,
remetendo a ideia de subúrbio. Junto com isso, forjou-se um imaginário concebido pelo
próprio morador da cidade, àquele que não habitava a rua, enrijecia o estigma designado
àqueles habitantes da tabatinga. Ou seja, muitos daquelas pessoas carregavam o fardo de
morar em um local perigoso.
Tabela 1
Ressaltam nas entrevistas pelo menos mais dois temas importantes pela
ênfase que recebem e, conseqüentemente, por revelarem muito do universo
cultural dos falantes: a sobrevivência e a repressão. O primeiro deles aparece,
como é de se esperar, entrelaçado a três subtemas: a alimentação, o trabalho e
o dinheiro. [...] Quanto ao outro tema enfatizado nas entrevistas, a repressão,
liga-se, invariavelmente, como é comum entre nós, a dois elementos: a
violência e o policial. (QUEIROZ, 2018, p. 92)
Essas implicações mencionadas refletem na questão racial que também reforça a
ausência de uma intervenção do Estado sobre essa marginalização sofrida por grande
maioria dos moradores da tabaca, que tantas vezes foi mencionada pelo entrevistado.
Juntamente disso, em muitas ocasiões, o dialeto representava uma realidade sócio-
cultural marcada pela perseguição e pela imposição da autoridade policial. José
Raimundo relembra, que na gíria da tabatinga o ‘viriango’ era atribuído tanto para a
polícia e também para capitão do mato:
O segredo das gírias estão atreladas a diversos contextos que muitos moradores
da Rua vivenciaram em sua época. A construção identitária, que percebe-se tanto das
memórias individuais que vão para além disso, representam um imaginário coletivo. A
memória herdada de parentes, avós e bisavós, a esfera do religiosos é apenas uma
referência que coexistiu com diversos outros aspectos da memória coletiva daqueles
moradores da tabatinga. Em uma de suas entrevistas, Sônia Queiroz conversa com um
dos mais antigos moradores da comunidade, o seu Jesus, um dos descendentes de
Diguberto, aquele que, representa um dos introdutores do dialeto na tabaca:
Essa linguage é feia é por isso, que tem gente que num compreende ela. Às
vez eu canto aqui ó: Deus Maria, Deus Maria, Nazaré, São José... a muié
vizinha acha que eu tô falano mau dela. (...) Essa linguage é bonita demais...
ma é pra quem sabe, né? (Jesus Pinto)
A admiração pelo dialeto em sua fala é apenas entendido por ele e os demais falantes,
isto é, a ocultação do linguajar e o seu uso como espécie de código, situa-se como forma
de confrontamento sobre o olhar daquele que não compreende nem domina a língua.
Raimundo tem a lembrança de vários festejos populares e a forma com que se observava
o envolvimento da própria comunidade.
A congada que é o que nós chamamos aqui também de reinado ali na
Tabatinga era onde foi fundado praticamente o corte do penacho. O corte do
penacho foi seu Zé Feliciano (...) foi o fundador, ele a Maria Feliciana, a
Nair, a turma toda deles ali. Então tinha essa parte do congada, teve esse
corte, o corte do penacho que hoje tem aí outros né, depois veio o seu Altivo
e outros tentaram. E também, chegada a época de Dezembro, o mês de
Dezembro que vem o natal ali tinha muito e ainda tem né, a tradição da folia
de Reis e depois em janeiro quando entra, eles ainda tem o costume de tocar a
folia de são sebastião, ela começa no dia 6 e vai até o dia 20 de janeiro,
termina a de reis em janeiro, começa no natal e vai até o dia 6 e depois entra
a de são sebastião, apesar que, parece que não tem nada haver mas elas são
emendadas e o jeito de cantar e o de tocar são diferentes, são tudo folia né,
folia é a dança deles é a forma que eles buscavam, principalmente os negros
pra cultuar o seus santos né, os reis magos da folia de Reis aqui também,
principalmente na tabatinga. Hoje tem dois ternos de folia, o da Odete e o do
Seu Altivo que é do corte do Penacho, seu altivo faleceu mas tem os filho
deles dando continuidade. Mas isso tudo é da tabatinga. (José Raimundo)
A História oral e sua ligação com a memória, pode ser entendida como um ato
investigativo sobre a questão de muitos moradores alegam numa necessidade em se
manter viva àquela lembrança passada. No entanto, a importância em se ver a
pontecialidade da oralidade como elemento que fortifica a concepção de pluralidade da
narrativas memórias e perspectivas do passado.
O aspecto de uma memória afetiva com a antiga rua onde residiu na infância,
marca a ideia de um pertencimento ao passado e reforça uma certa relação de
proximidade entre os moradores de ruas vizinhas. A noção de coletividade reforça uma
certa ideia de memória coletiva e suas intencionalidade em reforçar questões vividas e
suas experiências.
Conclusão:
De maneira Geral, por meio da realização das entrevistas e com os
embasamentos teóricos levantados por historiadores que utilizam da fonte oral como
ferramenta de pesquisa, foi possível perceber como a memória resgata aspectos que os
entrevistados revelam em suas falas. Um desses aspectos faz referência a um passado
próximo que continua vivo, no entanto, o recurso da oralidade e suas implicações
metodológicas de pesquisa incitam para além do aspecto da sensibilidade e da
afetividade, que se revela pela questão da pluralidade de narrativas e seus aspectos
identitários. A memória herdada e que foi passada por gerações, transfere juntamente
com a cultura e tradições, os reflexos sociais e políticos, numa forma subjetiva que não
está de forma concreta apenas no dialeto da Tabatinga e sim na forma de organização da
comunidade e os valores que nela estão presentes.
Referências: