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Universidade Federal da Bahia

Docente: Miguel Calmon


Discente: Letícia Ferreira Souza Da Silva - Matrícula: 219218116
Semestre: 2021.1
Questão. Comissão Parlamentar de Inquérito é requerida para apurar o
retardamento na aquisição de vacinas pelo Governo Federal e a incapacidade de
cobertura vacinal suficiente e adequada, sendo apresentado requerimento 1/3
dos Senadores e tendo prazo determinado, vindo a ser instaurada em 10 de
fevereiro de 2023. Diante disso, analise as situações abaixo, indicando sua
compatibilidade ou não com a ordem constitucional brasileira.
a) O Presidente do Senado pode se recusar a instalar a Comissão Parlamentar de Inquérito
por entender que o fato já não é mais relevante, tendo em vista que, quando requerida a
instauração, a vacinação já havia alcançado mais de 70% dos brasileiros e a pandemia estava
controlada (2,0 pontos); Incompatível.
O artigo 58, §3º, da Constituição Federal estabelece os elementos necessários para
instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito. A partir dele, pode-se compreender que
são necessários os seguintes requisitos:
1. Requerimento de um terço de seus membros
2. Indicação de fato determinado a ser apurado
3. Por prazo certo
Nesse sentido, durante o período do primeiro trimestre do ano de 2021, numa situação
parecida com a descrita no quesito da questão, alguns senadores sustentaram que, ao
apresentarem o requerimento de instalação de CPI, por iniciativa do senador Randolfe
Rodrigues e subscrito por 30 senadores, não houve nenhuma iniciativa do então presidente do
Senado para instaurar a CPI. Para os senadores, a postura omissiva do presidente do Senado
afronta a previsão do art. 58, § 3º, da Constituição.
Diante disso, o ministro do STF Luís Alberto Barroso, ao analisar o caso, pontuou que
de acordo com os anteriores julgados do STF, a instauração do inquérito parlamentar
depende, unicamente, do preenchimento dos três requisitos previstos no art. 58, § 3º, da
Constituição. Isso significa dizer que a instalação de uma CPI não se submete ao juízo de
vontade do presidente do Senado ou até mesmo da casa legislativa. Não pode, na visão do
ministro, a mesa diretora ou a maioria parlamentar se opor ao requerimento “por questões de
conveniência e oportunidade políticas.”
Sendo assim, conforme entendimento do ministro Barroso a instalação da comissão
parlamentar de inquérito depende somente do preenchimento dos requisitos constitucionais
(art. 58, §3º, da CR), fazendo com que o presidente da casa legislativa esteja compelido a
implementar a CPI, sob pena de crime de prevaricação caso não o faça.
Portanto, de acordo ao enunciado da questão, os três requisitos necessários, de
acorodo com o art. 58, §3º, da Constituição Federal, estão presentes, respectivamente:
1. apresentado requerimento 1/3 dos Senadores
2. apurar o retardamento na aquisição de vacinas pelo Governo Federal e a incapacidade
de cobertura vacinal suficiente e adequada,
3. tendo prazo determinado, vindo a ser instaurada em 10 de fevereiro de 2023
Esse quesito, assim, está em incompatibilidade com a Constituição, uma vez que o presidente
do senado não tem autorização constitucional para deliberar se instaura ou não uma comissão
parlamentar de inquérito

b) Instaurada a Comissão Parlamentar de Inquérito, não pode ser determinado o


comparecimento obrigatório para prestar testemunho do Ministro da Saúde responsável (2,0
pontos); incompatível
O art. 58, §3º da Constituição Federal delega poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais durante as CPIs. Nesse sentido, a CPI se comporta como um inquérito
policial, podendo, de acordo ao §2º do mesmo artigo, convocar Ministros de Estado para
prestar informações e solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão, sob a condição
de investigado ou testemunha.
De acordo com decisões anteriores do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo
Tribunal Federal (STF), as pessoas convocadas como testemunhas por Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) têm o dever de comparecer aos atos para os quais
foram chamadas, para que prestem esclarecimentos e contribuam com as investigações. O
direito ao não comparecimento está restrito aos investigados, não se estendendo às
testemunhas. Segundo o ministro do STJ, entre as provas que podem ser produzidas na
instrução criminal, ou seja, da CPI, está a indagação de pessoas capazes de contribuir para o
esclarecimento dos fatos."A essas pessoas dá-se o nome de testemunhas, as quais, nos termos
do artigo 206 do Código de Processo Penal, não podem eximir-se da obrigação de depor, ou
seja, trata-se de um múnus público", explicou o ministro.
Em que pese, tanto investigados, como testemunhas têm direito de permanecerem em silêncio
sempre que considerarem que uma resposta pode lhes prejudicar, sobretudo o investigado,
podendo, apenas este, não comparecer para preservar o direito à não autoincriminação, ou
seja, o direito de não terem que falar ou produzir outras provas que os incrimine. As
Testemunhas, por outro lado, são obrigadas a comparecer à CPI quando convocadas, podendo
até ser levadas à força ao Congresso caso se recusem de forma injustificada a depor.
A exemplo disso, têm-se o caso do ex-ministro da saúde do Brasil, que no ano de
2021 foi convocado na condição de testemunha para depor na CPI que investiga ações
governamentais durante a Covid-19, não podendo assim, negar o comparecimento. Da mesma
forma procede para o atual ministro da saúde do Brasil, que também foi convidado a depor na
mesma CPI, Queiroga. Para as convocações de ministros de Estado, como é o caso de
Queiroga, a Constituição estabelece que o não comparecimento, sem justificação adequada,
caracteriza crime de responsabilidade.
Portanto, esse quesito está em incompatibilidade com os preceitos constitucionais, tendo
em vista que Ministro da Saúde responsável, sendo convidado a depor como
testemunha, tem a obrigação de comparecer.
c) Se houver convocação extraordinária para a continuidade dos trabalhos da CPI no
período de 10 de dezembro de 2023 a 2 de fevereiro de 2024, medidas provisórias que
estejam em tramitação não poderão ser apreciadas no mesmo período (2,0 pontos) e será
devida indenização aos parlamentares; Incompatível.
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 57, ao deliberar sobre as reuniões do
Parlamento, dispõem, em seu §7º, que ao ser convocada a sessão legislativa ordinária, o
Congresso irá deliberar apenas sobre a matéria pela qual foi convocada, ressalvada a
hipótese previstas no §8º. Nesse sentido, qual seria então essa hipótese?
No §8º do art.57, a Constituição determina que havendo medidas provisórias que estejam em
vigor na data de convocação da sessão legislativa ordinária do Congresso Nacional, elas
serão automaticamente incluídas na pauta da convocação.
Diante disso, se houver convocação extraordinária para a continuidade dos trabalhos da CPI
no período de 10 de dezembro de 2023 a 2 de fevereiro de 2024, as medidas provisórias que
estiverem em vigor nessa data de convocação serão automaticamente incluídas na pauta
da convocação, de acordo como estabelece a lei suprema do Brasil.
Por isso, ante ao abordado, conclui-se que esse quesito está incompatível com a
Constituição, tendo em vista que ele declara que as medidas provisórias que estejam em
tramitação durante convocação extraordinária não poderão ser apreciadas, enquanto a
Constituição delibera que elas estarão automaticamente incluídas.
d) Como a Comissão Parlamentar de Inquérito tem poderes de autoridades judiciais, suas
deliberações podem acarretar a diretamente a cassação do mandato de parlamentar que esteja
licenciado do cargo de Deputado Federal para exercício do cargo de Ministro de Estado da
Saúde (2,0 pontos); Incompatível
Uma CPI, Uma CPI não pode prender nenhuma pessoa, exceto em flagrante, quando uma
testemunha mente perante o inquérito, nem determinar a cassação de um político com
mandato eletivo, tampouco o afastamento de um ocupante de cargo de confiança – como um
secretário estadual ou ministro. O perfil da CPI é de investigação e não de condenação. Mas
isso não implica que a CPI não tenha grandes poderes.
A cassação de um mandato parlamentar está prevista no artigo 55 da Constituição Federal. Os
casos dos incisos I, II e VI, dependem de decisão da Câmara dos Deputados, no caso de
Deputado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, mediante a provocação da respectiva
Mesa ou de Partido Político representado no Congresso Nacional assegurada a ampla defesa.
Já Os casos do artigo 55, III, IV e V se referem a extinção do mandato, de maneira que a
declaração pela Mesa da perda deste é de cunho apenas informativo, apenas para
reconhecimento da ocorrência do fato. Em ambos os casos, não é por meio de uma CPI.
É importante salientar que, embora a comissão não tenha a legitimidade para, por exemplo,
cassar um senador ou determinar o impeachment de um presidente, ela pode levantar
informações que proporcionem a abertura de um processo contra o político em questão. O
resultado das investigações de uma CPI, ao ser analisado, pode comprovar crimes de
responsabilidade que levem ao início de um processo para cassar um político. Em outros
termos, Uma CPI não tem poder de julgar, nem tem competência para punir os investigados,
não sendo estabelecida para processar ou julgar, mas para investigar os fatos determinados,
emitir um parecer e, caso necessário, seja enviado ao Ministério Público para possíveis
seguimentos.
Sendo assim, o enunciado da questão está em incompatibilidade com a Constituição, pois a
CPI não pode instaurar uma cassação de um mandato, mas sim uma investigação dos fatos.
Os casos e a maneira como uma cassação de um mandato devem ser estabelecidos estão
previstos constitucionalmente no art. 55, não incluindo a instauração de uma CPI. Contudo,
uma CPI pode apurar fatos e colher provas que influenciem em um processo que leve à
cassação.
e) As deliberações da Comissão Parlamentar de Inquérito, em decorrência da harmonia
entre os poderes, podem se sujeitar ao veto do Presidente da República, que deve ser
motivado e pode ser derrubado, na forma da Constituição, pelo Senado Federal (2,0 pontos).
Incompatível.
O artigo 58, §3º, estabelece que, após findar o prazo da CPI, as suas conclusões, se for
o caso, serão encaminhadas ao Ministério público. Nesse sentido, quando o prazo da CPI
termina, a comissão envia o relatório com as conclusões para a Mesa Diretora do Senado e
seu relatório final depois de votado. Outrossim, também pode ser enviado para o Ministério
Público para que sejam tomadas eventuais ações de responsabilização civil ou criminal.
Já o veto presidencial está estabelecido no art. 84, inciso V da Constituição Federal,
definindo ser uma atribuição do presidente vetar projetos de lei, de maneira total ou
parcialmente. Em alguns casos, os relatórios finais das CPI podem resultar na apresentação
de projetos de lei, mas não existe uma relação direita entre o veto presidencial e as
deliberações da Comissão parlamentar de inquérito.
Nesse sentido, o quesito está em incompatibilidade com a constituição, tendo em vista
a inexistência de um projeto de lei para que assim venha ser vetado pelo presidente. Caso
aconteça de, após a CPI, ocorrer a criação de um projeto de lei, dá-se início ao processo
legislativo que pode contar ou não com um veto presidencial. Entretanto, esse veto não ocorre
sobre as deliberações da CPI.

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