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novembro de 2011
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Em setembro de 2010, mês de abertura da 29ª Bienal de Artes de São Paulo, a fotógrafa Zanele
Muholi (1972) acompanhada do artista nigeriano Andrew Esiebo (1978), compartilharam um
pouco de suas motivações e percepções artísticas, num bate papo na Casa das Áfricas, espaço
cultural e de estudos sobre sociedades do continente africano.
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Zanele traz em sua trajetória artística uma maneira afiada de abordar questões complexas.
Gênero, raça e sexualidade se entrecruzam e transbordam em imagens poderosas. Sua
produção visual, entre fotografia e documentário, revela universos duramente discriminados
pela sociedade contemporânea. Atuando no campo da militância queer (grupos LGBT –
Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros – que questionam a ordem homogênea das relações
de gênero), seu bravo ativismo visual documenta traços de uma África do Sul pós-apartheid que
ainda tem à frente o desafio de graves desigualdades e expressões de intolerância, entre elas, a
homofobia.
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retratado por enquadros coloniais eurocentristas. Seus trabalhos nos mostram “Faces e Fases”
pessoas – sujeitos de seus destinos. Invertendo a chave
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da representação, Zanele realiza a
intenção de muitos artistas africanos – a de contar suas próprias histórias.
Ngiyabonga, Zanele!
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mas como mulheres negras. Meu mote é a negritude e a ausência de mulheres artistas. Quando
de artistas ou ativistas, refiro- me as que estão fazendo
falo (http://www.omenelick2ato.com)
trabalhos relacionados aos
universos queer ou fazendo trabalhos políticos – ocupando espaços que nunca foram
concebidos para nós.
Assim, para mim, estar neste espaço significa muito porque tenho a oportunidade de
apresentar, representar, reescrever e projetar imagens que podem aparecer em espaços
específicos. Eu falo também sobre a necessidade de termos colaborações entre artistas de raça
negra para entendermos nossas existências. Quem estava aqui antes de nós. O que significa que
nós somos gerações que irão informar futuras gerações a partir de nossas existências neste
espaço. Os livros que são escritos sobre pessoas negras não foram escritos por nós. Os filmes
que foram feitos sobre pessoas e comunidades negras foram explorados por etnógrafos e
antropólogos europeus e nunca feitos por nós. É nossa geração que pode provocar mudanças e
mostrar o que veio antes de nós e ter oportunidade de processar e consumir o que tem sido feito
por nós, pessoas negras, e especialmente mulheres. Sei da felicidade de ser um ser que sangra,
que tem sangue e menstruação. Sei o que isso representa e provoca.Pessoas transgêneros,
especialmente mulheres trans, tornaram-se alvos de crimes de ódio no Brasil. E na África do
Sul, as mulheres lésbicas viraram alvo de estupros corretivos, onde pessoas tem a idéia de que
se você estupra uma lésbica ela se tornará uma mulher hetero. Assim, falando como uma
pessoa lésbica por identidade, eu sei a dor de perder amigos, de testemunhar e ver que crimes
de ódio acontecem dentro de minha comunidade.
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de todos os lugares. Interessa-me particularmente perguntar de onde você é, de onde você vem.
nós dividiremos existências que não sabemos,(http://www.omenelick2ato.com)
Talvez porque as pessoas se deslocaram. Nós
somos um só povo, nós somos uma nação.
OM2ºATO: Estar no Brasil, na bienal e não ver pessoas negras. Como você sente isso?
ZM: Há inda muito trabalho, muita coisa a ser feita. Eu acho que pessoas como nós têm a
oportunidade de estar nessa bienal para dizer “não é isso que queremos ver”. Nós queremos
ver mais pessoas negras presentes, nós queremos ter convergências com os locais. Coisas que
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tragam educação para as escolas. Nós queremos ter oportunidade de ver as comunidades
porque os trabalhos que nós produzimos estão muito(http://www.omenelick2ato.com)
relacionados com as realidades de nossas
vidas. Então, isso é, de certa maneira artificial.
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Eu quero ter conversas com outras mulheres, que podem saber sobre o país de onde eu venho
para além das informações pela internet que estão aí. Também vou ouvir mais vozes de
mulheres brasileiras e temos que falar sobre possibilidades de como essas mulheres, vindo de
outros espaços, podem a partir de alianças, enriquecer, trazer colaborações e trocas que nos
possibilitem comandar. Eu quero ver mulheres reais. Eu não estou falando do tipo de mulher
“Porshe cinco estrelas” . Não estou falando de sofisticação. Estou falando de mulheres reais.
Mulheres reais artistas, mulheres reais que não têm medo de falar sobre política, políticas de
exclusão, políticas de exploração, políticas de auto representação, políticas de todas as formas.
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NOTAS
Ngiyabonga
Significa obrigado, em zulu, uma das 11 línguas oficiais da África do Sul.
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Xenofobia
Aversões e preconceitos que resultam em discursos e(http://www.omenelick2ato.com)
práticas discriminatórias ao que é
percebido como estrangeiro ou diferente, criando barreiras sociais que estigmatizam outras
culturas, raças ou nações.
Lesbian-phobia
Aversão, medo e preconceitos que resultam em reações negativas, opressivas ou violentas às
pessoas identificadas como lésbicas.
Townships
Sharpeville e Soweto são outros exemplos de townships fortemente noticiadas por terem sido
palco de protestos e rebeliões durante o Apartheid. Na primeira, houve, em 21 de março de
1960, uma manifestação pacífica contra a lei do passe, que obrigava a população negra a portar
carteiras de identidade que restringiam os locais de circulação. Em memória ao massacre, a
ONU decreta em 1969 o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Já
em Soweto, houve em 1976 uma manifestação de estudantes contra as desigualdades na
educação. A rebelião foi violentamente reprimida pelo exército sul africano com saldo de
centenas de mortes.
Queer
Termo originalmente pejorativo usado para ofender homossexuais nos Estados Unidos. Na
década de 80 ganha outros sentidos com o avanço das pesquisas de gênero que objetivavam
desmistificar a homossexualidade trazendo outros entendimentos e rompendo com percepções
homogêneas do masculino e feminino reivindicando a multiplicidade de identidades de gênero.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
STEVENSON GALLERY
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Luciane Ramos Silva é antropóloga, bailarina, mobilizadora cultural e membro do Conselho Editorial da
Revista O Menelick 2º Ato. Doutoranda em Artes da Cena e mestre em antropologia pela UNICAMP.
Bacharel em Ciências Sociais pela USP. Atua nas áreas de artes da cena, estudos africanos e educação.
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REDAÇÃO (HTTP://WWW.OMENELICK2ATO.COM/AUTHOR/ADMIN)
A Revista O Menelick 2º Ato é um projeto editorial de re exão e valorização da produção cultural e artística da
diáspora negra com destaque para o Brasil.
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