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APRESENTAÇÃO

A liturgia pascal dos judeus era dividida em quatro grandes


partes, e para cada uma delas haviam quatro cálices de vinho. No
momento em que Jesus e os seus doze apóstolos consumiriam o
quarto e último cálice, Nosso Senhor interrompe a cerimônia e se
dirige ao Getsêmani. Lá, Ele reza ao Pai, dizendo: “Abá, Pai! Tudo
te é possível. Afasta de mim este cálice!” [Mc 14,36]. Jesus, o
Cordeiro de Deus, sabe que precisa beber o “Quarto Cálice” a fim
de consumar a celebração pascal.
É esse o assunto discutido em “O Quarto Cálice”.
Nessa investigação feita pelo Dr. Scott Hahn é possível
entender melhor o que é a Páscoa, a Santa Missa e, além disso, a
Eucaristia. Afinal, na liturgia pascal dos judeus era prescrito que o
cordeiro fosse comido e não apenas sacrificado.

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Obs. 1: Texto extraído das legendas em vídeo do Dr. Scott


Hahn, traduzido pela equipe d’O Tradutor Católico. O presente
texto, disposto na íntegra a seguir (com algumas edições
ortográfico-gramaticais), foi encontrado em 15-06-2019 no link:
https://otradutorcatolico.wordpress.com/2019/04/13/scott-hahn-o-
quarto-calice/.
Obs. 2: Os textos das citações bíblicas foram adaptados
conforme a nova “Bíblia Sagrada. Tradução oficial da CNBB”.

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“TUDO ESTÁ CONSUMADO!”

Eu gostaria de passar um tempo na Escritura tratando sobre


algo que para mim se tornou um assunto realmente crucial, algo que
os católicos precisam compreender melhor para crescer como
católicos, mas também algo que precisam estudar mais na Escritura
para ajudar os “católicos não praticantes” a redescobrirem a sua fé.
O assunto, obviamente, é a Santa Eucaristia.
E eu tenho que dizer que, quando eu era um anticatólico, essa
era a doutrina que eu mais me opunha; eu era contra Maria e contra
o Papa, as duas doutrinas pareciam algo supersticioso. O
ensinamento de que o Papa é o infalível vigário de Cristo ou o
ensinamento de que Maria foi concebida sem pecado, cedo ou tarde
eu os encontrei na Escritura e vários testemunhos dos primeiros
padres da Igreja, porém tinha uma coisa que eu achava
extremamente repulsivo sobre a Igreja Católica, e isso era que eles
introduziram um senso idólatra dentro dos católicos para adorarem
uma “bolacha”. Vocês têm de perceber que algumas pessoas são
anticatólicas por causa de intolerância ou preconceito cultural. Eu
não estava nessa categoria, a minha preocupação era: se aquela
“bolacha” em cima do altar deles não é Deus, como eles afirmam,
então esse ato de adoração é nada menos que idolatria, sacrilégio,
profanação do verdadeiro Deus. E eu tinha uma convicção profunda
de que a missa era um sacrilégio onde a Eucaristia envolvia uma
adoração idólatra. Levei anos de estudo e oração para que Deus me
tirasse desse desentendimento.
O que eu gostaria de compartilhar nos próximos 45 minutos
são as várias etapas do que eu descobri pela Escritura, sem querer o
que a Igreja Católica ensina sobre a Santa Missa.

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O cenário desse processo de descoberta foi na manhã de um
domingo em que fui à Lanesville Congregational Church, onde
minha esposa e eu íamos quando estávamos estudando no
seminário; e o meu professor preferido, querido amigo e professor
de hebraico, estava pregando um sermão naquele mesmo dia, e o
pastor Huggenberger estava pregando rapidamente, por alguns
minutos, a morte de Jesus na cruz de acordo com o evangelho de
João. Ele citou João 19,30 onde Nosso Senhor grita: “Tudo está
consumado!”. E então, passando por esse versículo, ele levanta uma
pergunta: ‘o que Jesus quer dizer com tudo está consumado?’. A
minha mente imediatamente recorreu a uma costumeira
interpretação que eu já havia ouvido anteriormente de muitas outras
pessoas, que isso se referia ao trabalho de redenção de Jesus. Uma
vez que Ele morreu na cruz não resta mais nada a fazermos para que
sejamos salvos, mas então ele aponta para Romanos 4,25. São Paulo
nos ensina como foi essencial que Jesus fosse ressuscitado para que
nós pudéssemos ser justificados, então nossa Salvação não está
completa com o fim dos sofrimentos de Jesus porque a sua
ressurreição é também uma parte essencial de nossa salvação. Daí
então eu fiquei lá sentado ouvindo e pensando: ‘okay, então ao que
Cristo se refere?’. Daí o pastor tem a coragem de dizer, em frente a
toda congregação, que ‘essa é uma pergunta que eu ainda não
encontrei a resposta, então vamos seguir em frente’. Ele disse isso
e eu fiquei tipo ‘Como assim?!... Espera um pouco, você não pode
fazer isso!’ E eu era aquele tipo de estudante que achava aquele tipo
de observação especialmente problemática, porque eu sempre fui
aquele tagarela socrático que sempre levantava as questões mais
difíceis e procurava as respostas difíceis; então, francamente, eu não
ouvi mais nenhuma palavra daquele sermão de domingo. Apenas
me concentrei na Escritura tentando achar uma reposta para a
pergunta que ele tão rudemente levantou sem nem saber a reposta e
levou semanas, meses, para encontrar a resposta.
E a resposta final veio em 1986 quando eu entrei para a Igreja
Católica e recebi o Sacramento da Comunhão pela primeira vez.
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Mas vamos voltar algumas etapas; à primeira etapa do meu processo
de descoberta, tentando descobrir ao que Jesus estava se referindo
quando ele disse “Tudo está consumado!”. Eu queria voltar um
pouco e dar alguns passos para trás, e descobrir qual era o contexto
para interpretar os sofrimentos de Cristo na cruz e também as suas
últimas palavras. E é claro que quando você volta e estudo isso em
contexto percebe que Jesus começa a se oferecer como um sacrifício
voluntário quando Ele começa a celebrar a Última Ceia. Então a
primeira etapa do meu processo de descoberta começou estudando
o Velho Testamento como um plano de fundo da Última Ceia de
Jesus, especialmente focando na ocasião da festa judaica da Páscoa.
Acredito que todos nós estamos cientes do fato de que os judeus
celebravam a Páscoa com grande admiração e reverência, realmente
é a mais notável e venerável festa do calendário sagrado que
remonta ao tempo quando os judeus eram escravos no Egito e Deus
mandou pragas, e a décima praga marcava o primogênito do Egito
para a destruição enquanto que as famílias israelitas eram instruídas
por Moisés a acharem um cordeiro macho, sem mácula, para
sacrificá-lo, para aspergir o sangue em suas portas e, desse modo,
seus filhos primogênitos seriam poupados. E então, na noite da
Páscoa, todas as famílias israelitas no Egito sacrificavam o cordeiro,
aspergiam o sangue, assavam a carne, comiam a refeição em pé;
porque assim que eles terminassem o que eles fariam? Fugiriam do
Egito sob a liderança de Moisés através do Mar Vermelho para o
Monte Sinai onde, claro, os Dez Mandamentos foram dados e a
Aliança foi selada entre Deus e Israel através de sacrifícios de
animais e uma refeição de comunhão.
Logo, a Páscoa em seu ambiente original era algo que
preparava Israel para ser redimida da escravidão e ser trazida a um
relacionamento de aliança com Deus. Agora, parte dessa pesquisa
me levou a descobrir que para os antigos hebreus a Aliança era mais
do que um contrato, e que envolvia nada menos do que um sagrado
vínculo familiar, nesse caso, entre Yahweh (o Deus dos deuses) e
Israel (o povo de Deus): a família de Yahweh. Por toda Escritura
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essa Aliança é expressa em termos familiares: Yahweh é o Pai e
Israel seu filho primogênito ou Yahweh é o noivo e o povo israelita
é a noiva do Senhor, isso está em Jeremias, Ezequiel 16, Oséias 2...,
em vários lugares que nos remonta a Aliança que foi selada entre
Deus e seu povo no Monte Sinai. Sob a luz desse ponto de vista,
dessa aliança, toda a liturgia, o ritual e o sacrifício é conduzido
como parte das alianças; todas essas coisas são para significar e
fortalecer o vínculo familiar de comunhão entre Deus e o seu povo.
Esse é o propósito essencial e o significado por trás da liturgia e
ritual de sacrifício do Velho Testamento. Eles significam o vínculo
familiar entre Deus e seu povo, ao mesmo tempo que eles
fortalecem esse vínculo.

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A CEIA CERIMONIAL SÉDER DA PÁSCOA

Agora, com essa ideia de aliança em mente, veja algo que eu


fui perceber no início dos anos 80. Jesus somente usa esse termo tão
importante: Aliança, em apenas uma única ocasião, de acordo com
os evangelhos, e essa ocasião é a Última Ceia. Por exemplo, em
Marcos 14,23-24 nós lemos que Ele pegou o cálice e quando dá
graças – e a palavra em Grego é “Eucharistēsas”, onde temos a
palavra Eucaristia, que significa “Dar Graças” –, Ele dá a eles o
cálice e todos eles bebem, e Ele diz: “Este é o meu Sangue da nova
Aliança que é derramado em favor de muitos”. Esta é a única
ocasião na qual Jesus usa a palavra Aliança porque essa é a ocasião
que Ele sela uma Nova Aliança, como um novo vínculo familiar
entre nós e Ele. Isso foi durante a Ceia da Páscoa, durante a Última
Ceia, onde Ele estava se preparando para se oferecer como sacrifício
voluntário e, claro, é também quando Ele institui a Eucaristia. Em
sua própria consciência, Jesus é ambos: o Cordeiro de Deus a ser
sacrificado, assim como o Filho Primogênito de Deus com o
pensamento de volta à experiência da antiga Israel, no Egito,
quando os filhos primogênitos foram mortos ou quando o cordeiro
foi sacrificado; nesse caso, Jesus traz para si mesmo ambas as
imagens para levá-las à plenitude.
Agora, a segunda etapa da minha própria pesquisa e
descoberta veio quando eu foquei em como os judeus, no tempo de
Jesus, celebravam a liturgia da Páscoa. Você já ouviu sobre a Ceia
Séder? A Páscoa Séder é uma antiga liturgia onde você tem a Páscoa
celebrada de acordo com quatro estruturas. A Ceia da Páscoa, há
muito tempo, foi dividida em quatro partes que são refletidas em
quatro cálices de vinho e que são consumidos pelos participantes
durante a Ceia da Páscoa. Então, quando você estuda a ceia
cerimonial Séder da Páscoa, você descobre que o Primeiro Cálice é
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a parte preliminar que se inicia abençoando a cerimônia. Jesus teria
conduzido seus discípulos em uma oração conhecida como Kadosh
na qual santifica, consagra e abençoa a celebração; seguidamente
eles teriam passado um prato de ervas amargas remontando à
amargura da escravidão no Egito, e depois das ervas o Primeiro
Cálice era passado a todos os participantes, então eles prosseguiam
para a segunda parte da ceia que era iniciada com a citação de Êxodo
12, na qual é a narrativa da Páscoa, a história original de como Deus
resgatou Israel da décima praga, do anjo da destruição. E a história
da Páscoa é contada em forma de pergunta e resposta. O mais jovem
presente na celebração faz as perguntas e o membro mais velho –
mas que nesse caso teria sido Nosso Senhor – é quem responde
essas perguntas. Assim que a citação é terminada, o Salmo 113 é
cantado por todos. É conhecido como o pequeno Hallel, que
significa “Louvar”. (É dessa palavra que recebemos a palavra
“Aleluia”; uma abreviação do que literalmente significa “Louvado
Seja Deus!”). Eles cantam o Salmo 113 ao final da segunda parte da
celebração e logo prosseguem para beber do Segundo Cálice.
Imediatamente depois que o segundo cálice é passado, seguem para
o prato principal da ceia que consiste em cordeiro assado com pão
sem fermento. Depois que o pão sem fermento é comido o
celebrante da Páscoa passa para todos o Terceiro Cálice de vinho
e este é conhecido como o Cálice da Benção. Este é, sem dúvidas,
o Cálice que Jesus abençoou de acordo com os evangelhos. Logo
depois que o Cálice da Benção é passado para todos beberem vem
o ponto mais importante da ceia, porque é nesse momento que eles
cantam o grande Hallel que consiste nos Salmos 114 a 118. Após
essa longa canção, que é entoada por todos, o Quarto Cálice é
passado para todos e este é o Cálice da Consumação que representa
o clímax da Ceia Séder, ou Sagrada Páscoa. Agora, nós sabemos
que o cálice que Jesus abençoou e passou para todos na mesa, o qual
Ele consagrou, era o Terceiro Cálice; e nós sabemos disso porque
assim que ele passa o cálice para os demais, nós lemos, no versículo
seguinte, em Marcos 14,26 que “Depois de cantar o hino, saíram
para o Monte das Oliveiras.”.
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JESUS NÃO BEBEU DO QUARTO CÁLICE

De fato, em 1Coríntios 10,16 Paulo identifica que o Cálice


Eucarístico que celebramos durante a santa missa é o Cálice da
Benção. O Cálice que abençoamos não é uma “Koinonia”, diz ele,
uma comunhão do Sangue de Cristo. Mas então um problema
significante aparece nesse momento... Eu não sabia porque eu sou
um ‘gentio’, mas quando você lê fontes judaicas – onde judeus
estudiosos e alunos estão estudando como Jesus conduziu a Ceia
Pascal na Última Ceia – eles estranham, porque eles percebem uma
desordem séria, um sério problema na sequência da narrativa que os
evangelhos apresentam. Isso não passa despercebido por leitores
judeus, mesmo que passe despercebido por nós, leitores gentios.
Para eles Jesus passa o Terceiro Cálice e os discípulos bebem
dele, eles prosseguem cantando a canção e assim que terminam o
hino, em Marcos 14,26, Jesus e os discípulos saem e vão para o
Jardim de Getsêmani, o Monte das Oliveiras. Para nós que estamos
familiarizados com a história dizemos ‘Hum... okay!’, mas os
estudiosos judeus dizem ‘Ei! Espera aí! tem algo de errado aqui!’.
Não somente o Quarto Cálice foi omitido, mas o ponto mais
importante da Celebração da Páscoa foi, de alguma maneira,
ignorado. O propósito fundamental, o significado da Celebração da
Páscoa é realmente expressado na consumação, no Cálice da
Consumação. E então os judeus estudiosos – e também outros que
são especialistas na antiga Páscoa – comentam como a sequência
parece interrompida. Mas então quando você olha mais de perto
descobre que em Marcos 14,25, logo antes deles cantarem o hino e
saírem para o Monte das Oliveiras e logo após Jesus beber do
Terceiro Cálice, Jesus diz: “Em verdade, não beberei mais do fruto
da videira até o dia em que o beber, de novo, no Reino de Deus”.
Ele disse isso logo após beber do Terceiro Cálice, mas antes de
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beber o Quarto Cálice. E assim que Ele diz isso, eles cantam o
Grande Aleluia e saem durante a noite. É como se Jesus pretendesse
não beber o que era esperado que Ele bebesse. Alguns estudiosos
especulam que talvez fatores psicológicos tivessem sido a causa da
omissão de Jesus nessa passagem. Talvez Ele estivesse tão
perturbado, tão angustiado, tão psicologicamente triste, que não
poderia se importar com a precisão na liturgia. Eles apontam para
Marcos 14,34 onde nós lemos como Jesus começa a ficar
preocupado e angustiado. E ele diz “Minha alma está triste até a
morte!”. Talvez ele estivesse muito triste para se importar com o
Quarto Cálice. Essa análise pode até parecer plausível, mas eu acho
que, de fato, é improvável. Parece ser muito duvidoso para mim e
para outros que Jesus esqueceria e interromperia a Liturgia da
Páscoa depois de ter expressamente declarado sua intenção de não
beber novamente do fruto da videira, logo antes de cantar o Grande
Aleluia. Em outras palavras, porque Ele falaria tão claramente antes
de agir de uma maneira desordenada? Parece ser intencional, não
parece ser inadvertido, não parece ser uma desordem psicológica ou
angústia. Então, porque Ele resolveu não beber do Quarto Cálice?
Novamente, eu quero mostrar a importância disso, você pode não
perceber isso lendo o evangelho assim como eu não percebi, até que
pesquisasse mais a fundo, mas imagine se você fosse à missa no
domingo e o padre pronunciasse as palavras da consagração e então
pulasse totalmente a Comunhão, e fosse direto para a Benção Final.
Você acha que notaria se ele fizesse isso? Claro que você
perceberia! Então os judeus notam quando a consumação, e o
clímax da celebração, é pulada totalmente. Então porque Jesus
resolveu não beber?
A terceira etapa do meu processo de descoberta ocorreu
quando eu o segui durante a noite, no Monte das Oliveiras. Porque
quando você segue Ele, você descobre que Ele entra no Jardim do
Getsêmani para rezar. Então presta atenção comigo, em como Ele
reza em Mateus 26,39. Nós lemos e vamos um pouco adiante e
vemos que Ele, prostrando-se com a face por terra, reza: “Meu Pai,
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se possível, passe de mim este cálice. Contudo, não seja como eu
quero, mas como tu queres.”. E Ele faz isso três vezes, rezando para
seu Pai – Abba – que tire “Este Cálice”. Agora, acredito que nesse
momento surge uma pergunta: o que é “Este Cálice” ao qual Jesus
se refere? Alguns estudiosos sugerem que isso é uma referência dos
profetas lá no Antigo Testamento em Isaias 51,17 e em Jeremias
25,15. Os profetas se referem ao cálice da ira, que algumas pessoas
vão ter de beber por causa de seus pecados. Mas a conexão parece
ser indireta. Eu suspeito que a Páscoa, como plano de fundo, é uma
conexão mais direta com o cálice que Jesus reza para que seja
afastado, com o Quarto Cálice que Jesus pulou e que não tomou. E
o fato de que antes de sair durante a noite Jesus disse: “Em verdade,
não beberei mais do fruto da videira até” o que? Até que seu Reino
venha a nós. Até que Ele entre em seu Reino.

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JOÃO, A TESTEMUNHA OCULAR

Agora, a próxima etapa do meu processo de descoberta foi


mais sutil, um pouco mais difícil para que eu entendesse, mas eu
comecei a focar na narrativa do evangelho de João porque, afinal de
contas, ele foi a única testemunha ocular do que acontece na
sequência com a prisão, julgamento e execução; ele é aquele que
estava aos pés da cruz. Então, como testemunha ocular, eu acredito
que o que ele tem a dizer sobre tudo isso nos ajuda a entender. É
interessante que João parece perceber a vinda do Reino de Jesus de
uma maneira quase que irônica. Normalmente quando ouvimos as
palavras de Jesus dizendo que não beberá do fruto da videira até que
seu Reino seja estabelecido, nós pensamos em que? Na segunda
vinda, seu advento final, em algum momento no futuro quando Ele
retornará para estabelecer o Seu Reino. Mas no Evangelho de João
você descobre que o Reino de Jesus não é primariamente uma
instituição politica ou militar e sim uma manifestação de
misericórdia e Amor Divino. Em outras palavras, é quando Jesus é
levantado que o governante desse mundo é expulso, e Jesus é
entronizado como Rei. Essa é a linguagem que você encontra em
João 12,23-33. Jesus diz “Quando eu for elevado da terra, atrairei
todos a mim”, e Ele fala que nesse momento será o julgamento do
mundo, quando o governante ou o rei desse mundo for expulso. E
depois, em João 18,33-37, quando Jesus está sendo testado por
Pôncio Pilatos, quando ele está em seu momento mais vulnerável, é
naquele momento que Jesus fala mais sobre o seu Reino do que em
qualquer outra ocasião. Ele fala sobre a natureza de seu Reino ser a
Verdade e a resposta cínica de Pilatos é “O que é a Verdade?”, mas
Pilatos percebe e diz “Então tu és Rei?”, e daí ele manda
ridicularizar Jesus o vestindo com um manto de púrpura e uma
coroa de espinhos. Em João 19,14: “Era o dia de preparação da

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Páscoa, por volta da hora sexta. Pilatos disse aos judeus: ‘Eis o
vosso rei!’. Eles, porém, gritavam: ‘Fora! Fora! Crucifica!”.
Precisamente na sexta hora, percebeu João. Coincidentemente era
na sexta hora do dia da preparação que o cordeiro pascal deveria ser
imolado, e aqui o Cordeiro de Deus é sentenciado a morte no exato
momento em que o cordeiro da Páscoa era levado para o abate.
São João percebe outros importantes detalhes sendo
testemunha ocular, como, por exemplo, em João 19,23-24 menciona
que Jesus não estava apenas vestindo as roupas que foram divididas
entre os soldados, mas Ele também estava com uma vestimenta de
linho sem costura; isso em grego é um “quíton”. Eles tiveram que
tirar a sorte para ver com quem ficaria, o interessante é que essa
palavra em grego, descrevendo a vestimenta de linho sem costura,
é exatamente a mesma utilizada em Êxodo 28,4 e em Levítico 16,4
para descrever o que o sumo sacerdote deveria usar enquanto
estivesse sacrificando, quando o sumo sacerdote ia oferecer o
sacrifício do cordeiro pascal também estava vestindo um “quíton”,
a vestimenta de linho sem costura. João percebe que Jesus não é
somente a vítima, o cordeiro, o sacrifício; Ele também é o sacerdote
que oferece, ou seja, os dois: sacerdote e vítima. João também é a
única testemunha ocular (dos doze), o único discípulo que teve
coragem de ficar com Jesus e sua mãe aos pés da cruz. Apenas João
percebe, em João 19,33-36, que Jesus era o único crucificado
naquele dia, entre os três, que não teve nenhum de seus ossos
quebrados. Relembre que os soldados quebraram as pernas dos dois
ladrões para agilizar a morte deles, logo após a morte de Jesus. E
João nota que, para cumprir a Escritura, nenhum osso deveria ser
quebrado. Mas ao que isso está se referindo? Vá lá em Êxodo 12,46
e Deus mandará Moisés dizer ao povo que peguem do rebanho um
cordeiro pascal sem mácula e o abata como sacrifício, mas Deus
ordena que o cordeiro não deverá ter os ossos quebrados. Então
Jesus é sacerdote e vítima do princípio ao fim e João percebe tudo
isso. E João nos prepara para isso quando nós lemos o seu evangelho
indo para o início, como que ele retrata Jesus sendo apresentado a
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todos nós? João Batista apresenta Jesus em João 1,29. O Batista
aponta para Jesus e diz: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o
pecado do mundo.”, em outras palavras, desde o início do
Evangelho de João e até o final do mesmo Jesus é apresentado como
o Cordeiro Pascal do Novo Testamento que foi enviado para tirar os
nossos pecados.
Esse é o plano de fundo, nós precisamos entender o que Jesus
está fazendo lá na cruz. Gradualmente, esses temas em volta da
Páscoa e o Reino que Cristo estava estabelecendo começou a mudar
meu pensamento.

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“TENHO SEDE!”

Eu comecei a estudar mais de perto a passagem que Jesus diz


que “Tudo está consumado!”. Uma coisa que eu percebi foi que
Jesus, nosso Rei, nosso Sacerdote e a Vítima Pascal, na hora de sua
Glória sofrendo na cruz disse, para cumprir a Escritura, “Tenho
sede!”. João escreve que “Sabendo Jesus que tudo estava
consumado, para que se cumprisse a Escritura, disse: ‘Tenho
sede’!”. Agora, pense nisso por um momento, veja que Jesus não
apenas notou nesse momento que estava com sede, obviamente por
horas antes o seu corpo foi atormentado não somente pela dor mas
pela sede também, em outras palavras, esse não é só um comentário
passageiro que Ele faz momentos antes de expirar; isso é algo que
Ele está dizendo deliberadamente com a intenção de significar algo.
Ele diz para que se cumpra a Escritura: “Tenho sede!”. Perceba o
quanto é difícil falar enquanto você está pregado em uma cruz.
Quando Jesus foi crucificado qual foi a causa da morte? Não era a
perda de sangue – isso na verdade era mínimo – Ele perdeu muito
mais sangue enquanto estava sendo açoitado do que enquanto
estava sendo crucificado, e também não era a dor porque, na
verdade, ele até poderia lidar com a dor. A maneira que uma vítima
de crucificação morre é através da lenta asfixiação. Foi uma tortura
cansativa. Enquanto você está na cruz, os seus músculos colapsam
sua caixa torácica então colapsa e seus pulmões se enchem de
fluídos corporais até que você lentamente morre afogado em seus
próprios fluídos corporais, e a única maneira de respirar é você se
apoiar. Mas em que você se apoiaria? Nos pregos em seus pés.
Então você só respiraria se fosse realmente necessário. Imagine que
se já era difícil respirar, então seria muito mais difícil falar. Portanto
Jesus não está somente respirando, mas está se levantando para
dizer: “Tenho sede!”, para cumprir a Escritura.

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E o que acontece? João percebe, nesse capítulo, aquela vara
de hissopo que eles pegaram e uma pequena tigela com vinagre
(vinho azedo); e havia uma esponja. Eles pegaram essa esponja,
mergulharam no vinagre e levantaram até os lábios de Jesus usando
uma vara de hissopo. João relata isso, no entanto Mateus, Marcos e
Lucas também relatam essa cena. Todos os quatro evangelistas
relatam como o vinho foi levantado até os lábios de Jesus, todavia
Mateus, Marcos e Lucas não nos dizem se Jesus bebeu ou não do
vinho. Ele bebeu ou não? Porque, afinal de contas, a caminho do
Calvário o que eles oferecem a Jesus enquanto Ele estava
carregando a cruz? Eles oferecem vinho misturado com fel ou mirra,
que é um narcótico, um tipo de analgésico. No caminho do Calvário
quando Jesus percebe o que eles o estavam oferecendo, que Ele faz?
Recusa. Afinal de contas, Ele disse que não beberia do fruto da
vinha até que seu Reino fosse manifestado. Então, aqui temos Ele
dizendo com grande dor: “Tenho sede!”. Mateus, Marcos e Lucas,
todos relatam como o vinagre é levantado até Ele, porém apenas
João nos diz se Jesus recebe ou não o vinagre; e João ainda nota que
a esponja foi levantada até os lábios de Jesus com uma vara de
hissopo que, coincidentemente, é a vara estipulada lá em Êxodo 12
como a vara que era utilizada para espalhar o sangue dos cordeiros
nas portas. Outra coincidência, certo? Dificilmente! E João percebe
que assim que Jesus recebe o vinho azedo (vinagre) diz: “Tudo está
consumado!”.

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O CÁLICE DA CONSUMAÇÃO

De repente eu entendi o que estava consumado. Ele disse que


não beberia do fruto da vinha, Ele omitiu o Quarto Cálice, Ele
estava no processo de celebração da Páscoa assim como estava no
processo de cumprir a Páscoa da Antiga Aliança transformando-a
na Páscoa da Nova Aliança através da Eucaristia. Ele
deliberadamente interrompeu a celebração da Páscoa da Antiga
Aliança para trazer a plenitude e a transformação daquilo que se
tornará a Páscoa da Nova aliança. De repente eu compreendi.
Quando Jesus disse que tudo está consumado, após beber o vinho,
ao que Ele estava se referindo? A celebração da Páscoa, que
começou na Última Ceia com seus discípulos, enquanto instituía a
Eucaristia, que Ele havia interrompido temporariamente e agora Ele
completa e finaliza bebendo o vinho que corresponde ao Quarto
Cálice, o Cálice da Consumação. Quando eu percebi isso comecei
a entender uma coisa: eu tinha um entendimento errôneo sobre a
natureza do sacrifício de Jesus.
Como um não católico eu sempre pensei que a resposta para a
pergunta ‘Quando o sacrifício de Jesus começa?’ era a típica
resposta: ‘Quando Ele está lá em cima da cruz, no Calvário. Ou
talvez quando Ele foi flagelado ou talvez quando Ele carrega a cruz.
São todos momentos de sacrifício, mas especialmente quando o
primeiro prego foi pregado em suas mãos ou pés, foi quando o
sacrifício começou, certo?’ Errado! Uma vez que você entende que
a Páscoa é o plano de fundo do sacrifício de Jesus, quando que o
sacrifício Pascal de Jesus começa? Quando Ele está celebrando a
Páscoa. “Jesus tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e lhes
deu, dizendo: ‘Isto é o Meu Corpo’. E tomando na mão o cálice,
deu graças e passou-o a eles, e todos beberam. E disse-lhes: ‘Esse
é o meu sangue da Nova Aliança’.” Ele simbolicamente separa seu
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corpo e sangue através da transformação desses elementos,
significando a separação do seu corpo e sangue. O que mais você
estará significando se você separar meu corpo do meu sangue? Isso
significa morte, certo? Jesus começa o sacrifício voluntário de si
mesmo através da Eucaristia na celebração da Páscoa, na
consagração dos elementos. É aí que o sacrifício de Jesus começa.
Não começa com a flagelação, não começa com o carregamento da
cruz, não começa martelando os pregos em suas mãos e pés, porque
o sacrifício de Cristo é o sacrifício Pascal que começa na celebração
da Páscoa, dentro da sala no andar superior. E aí surge uma nova
pergunta: onde, então, a Páscoa termina? A Páscoa termina quando
Jesus sai durante a noite para ir ao Monte das Oliveiras, no Jardim
do Getsêmani? Dificilmente, porque eles ainda não beberam do
Quarto Cálice, o Cálice da Consumação. Assim como o sacrifício
de Jesus não começa no Calvário, mas o sacrifício do Calvário
começa na sala no andar superior durante a Páscoa; a Páscoa não
acaba quando eles saem daquela sala no andar superior, a Páscoa
não acaba até que Jesus bebe o vinho lá na cruz. Aquela é a
consumação da Páscoa e aquele é o momento no qual Jesus termina
a transformação da Páscoa da Antiga Aliança na Páscoa da Nova
Aliança, que nós chamamos de Eucaristia.

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VOCÊ TEM QUE COMER O CORDEIRO

Eu penso que isso faz muito sentido e começou a fazer sentido


pra mim em 1984, dois anos antes da minha conversão. Eu comecei
a estudar o Evangelho de João mais uma vez só para ver se alguma
outra coisa iria dar suporte a isso e, realmente, encontrei em João 6
um grande suporte. No começa dessa manhã eu fiz a leitura de João
6,53-56. Vou ler um trecho dessa passagem mais uma vez. Isso é
quando Jesus diz “Em verdade, em verdade vos digo: se não
comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue,
não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe
o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
Com efeito, minha carne é verdadeira comida e meu sangue é
verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue,
permanece em mim, e eu nele.” Agora, quando que Jesus diz essas
palavras? Durante o discurso do Pão da Vida. Mas quando que Ele
deu esse discurso? Em João 6,4 nós lemos que era por volta da
Páscoa, e Jesus multiplica os pães e faz o discurso do Pão da Vida,
e fala como eles devem comer a sua carne e beber o seu sangue. Em
outras palavras, um ou dois anos antes de sua crucificação, na época
da Páscoa, Jesus, o Cordeiro de Deus, fala em como nós devemos
comer a sua carne e beber o seu sangue. Tem muito sentido que era
Páscoa quando Jesus fala desse jeito, porque a Páscoa representa o
início de seu sacrifício assim como o Calvário representa o fim da
Páscoa.
Agora, eu já sugeri que quando Jesus recebe o vinho, isso
representa o término da Páscoa para Ele. Ele disse que não beberia
do fruto da vinha, mas bebe algum tempo depois. Entretanto agora
tenho uma pergunta a todos vocês, foi uma pergunta que me ocorreu
em 1985, alguns meses antes de eu entrar para a Igreja Católica. Se
a Páscoa para Jesus termina com o Quarto Cálice na cruz, então há
21
algo a mais que permanece para nós: quando vamos celebrar a
Páscoa? É necessário que pensemos um pouco como os judeus aqui,
para responder a essa pergunta. Pense no antigo Egito, se nós
fôssemos israelitas e vivêssemos sob a escravidão, e estivéssemos
celebrando a Páscoa naquela noite, não seria o suficiente para nós
abater o cordeiro, não seria o suficiente aspergir seu sangue, não
seria o suficiente para nós assar a sua carne e comer o pão sem
fermento e as ervas amargas; o cordeiro em si deve ser comido, não
somente o pão sem fermento e as ervas amargas. Nós teríamos que
comer o cordeiro. Suponha que você não gosta de carne de cordeiro,
suponha que a sua família decida abater o cordeiro, aspergir o
sangue, cozinhar a carne, mas não irá comer. O que aconteceria? Na
manhã seguinte o seu filho primogênito estaria morto. Você TEM
que comer o cordeiro. Veja que Deus exigindo sacrifício animal não
estava primeiramente interessado em ver derramamento de sangue
e tripas, e Ele não quer sentir o cheiro de carne sendo assada. O
propósito primário em sacrificar animais não era matá-los, mas
comê-los em uma ceia de comunhão que simbolizava a Aliança
Familiar. A razão pela qual Deus ordena o sacrifício de animais é
para trazer uma ceia de comunhão para significar nossa unidade
familiar com Ele. Então quando o cordeiro Pascal é sacrificado e
seu sangue é aspergido, algo final ainda falta; e esse algo é comer o
cordeiro. Você TEM que comer o cordeiro. Se você não comesse
não adiantaria. Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus. Ele é morto, seu
sangue é derramado, mas algo permanece para nós fazermos. Nosso
cordeiro é sacrificado, seu sangue é aspergido, mas nós temos que
comer o cordeiro. Não é suficiente para nós termos apenas o
cordeiro morto, apenas ter o seu sangue aspergido. Se ele é o
cordeiro da Páscoa, então nós temos que receber a Ceia da Páscoa.
Isso é o que eu descobri que Paulo tinha em mente em
1Coríntios 5,7 Paulo diz que Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi
imolado. Assim sendo... [...] o que?! Como um não católico eu
costumava dizer que, uma vez que Cristo havia sido crucificado não
havia nada mais para nós fazermos exceto celebrar e aceitar a nossa
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salvação. Mas isso não é o que Paulo diz. Paulo diz que Cristo,
nosso cordeiro Pascal, foi sacrificado para nós; assim sendo, vamos,
celebremos a festa não com o fermento velho, fermento de maldade
e perversidade, mas com o pão sem fermento da verdade. Ele está
falando sobre Cristo, nosso cordeiro Pascal. Foi sacrificado e nós
ainda temos uma obrigação, nós temos que manter a celebração e
como é que nós fazemos? Com pão sem fermento. Sobre qual
celebração ele está falando? Sobre a Páscoa da Nova Aliança na
qual Cristo instituiu na Eucaristia e é por isso que ele continua em
1Coríntios 10,16 dizendo que “O Cálice de Benção, que
abençoamos – uma referência ao Terceiro Cálice da Páscoa –, não
é comunhão com o sangue de Cristo? E o pão que partimos, não é
comunhão com o corpo de Cristo?” E ele diz no próximo capítulo
que “Quem come e bebe sem distinguir devidamente o corpo do
Senhor, come e bebe sua própria condenação.” Em outras palavras,
São Paulo ensina claramente que assim que Cristo recebeu esse
vinho, assim que a Páscoa foi levada à plenitude por Ele, algo ainda
permanece para nós fazermos. E o que é isso? Nós temos que
receber o cordeiro, nós temos que comer o cordeiro. Todo o
propósito atrás da ressurreição, da ascensão e do derramamento do
Espírito Santo, estes representam os meios pelos quais Deus faz o
corpo do cordeiro universalmente distribuível para que assim nós
todos possamos banquetear com Cristo, o sacerdote e vítima.

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‘SOA MUITO CATÓLICO’

Eu comecei a ensinar essas coisas para alguns seminaristas


(protestantes), e eu tinha um ex-católico na minha sala de aula;
assim que ele me ouviu discutindo isso com eles ele ergueu a mão
e eu disse ‘O que foi John?’. Ele disse: ‘Sabia que todas essas coisas
que você está dizendo soa muito católico?’. E naquela época eu não
estava feliz em ser católico ou soar católico; então eu disse: ‘Talvez
para você’, e ele disse: ‘Não, toda essa ideia de que o sacrifício do
Calvário começa com a Páscoa, na Eucaristia, e não acaba até o
Calvário. O que você está dizendo é que a Eucaristia e o Calvário
são um no mesmo sacrifício’. Eu disse: ‘Sim, é isso mesmo que eu
estou dizendo’, e ele disse: ‘É isso que o Catecismo Baltimore
ensina’. Eu nunca tinha ouvido sobre o Catecismo Baltimore e eu
tentei garantir a ele que não era uma Doutrina Católica. Eu não
queria perder o meu emprego...
Mas, eu me senti desafiado a checar por mim mesmo e assim
que eu chequei, descobri que não somente era totalmente
consistente com a Doutrina Católica, mas a Doutrina Católica me
levou ainda mais longe e me mostrou como toda a Liturgia da
Eucaristia é baseada na Páscoa.
Eu nunca tinha ido a uma Missa em toda a minha vida e assim
que eu comecei a ler os doutores da Igreja, os santos e os padres da
Igreja, descobri que, para eles, toda a Liturgia Eucarística não era
nada mais que a Páscoa do Novo Testamento. De fato, eu descobri
no livro do Apocalipse onde Jesus é apresentado a nós, no capítulo
5, como o Cordeiro. Daquele ponto em diante, em Apocalipse 5, 6,
7, 8, 9, 10, praticamente o resto do livro do Apocalipse há uma
prolongada descrição da Liturgia Celestial; e toda a ocasião é

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celebrada por esse Sacerdote e Rei que João viu parecendo um
Cordeiro.
Então, estudiosos católicos e, para o meu espanto, estudiosos
protestantes estavam discutindo que desde o início da Igreja as
visões que João teve da Ceia das Núpcias do Cordeiro na assembleia
celestial, onde a liturgia estava sendo celebrada por todos os Santos
e Anjos, representam um “esboço” da Santa Missa.
Desde o início a missa é baseada na Liturgia Celestial e a
Liturgia Celestial é a Páscoa da Nova Aliança baseada na Ceia da
Páscoa, e o principal celebrante é Cristo, descrito como sacerdote e
vítima. Ele é o Rei e Ele é o Cordeiro de Deus que apresenta ter sido
morto.

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UMA MISSA PELA PRIMEIRA VEZ

Quando eu descobri isso, tive coragem suficiente – com a


Graça de Deus – para ir a uma Missa pela primeira vez; ao meio dia,
durante uma celebração em uma capela do porão da Gesù, a
paróquia universitária em Marquette. Assim que eu entrei eu não
tinha certeza do que esperar. Eu fui condicionado por meu próprio
treinamento de que a missa era o maior ato blasfemo de sacrilégio
que um homem poderia cometer; onde Jesus era novamente
crucificado, onde Jesus era sacrificado outra vez, onde Jesus
sangrava novamente, onde Jesus sofreria novamente, onde Jesus
morreria novamente. Eu sentei lá no banco de trás como um
observador e assisti para a minha surpresa, como essa liturgia
totalmente bíblica se desdobrava diante dos meus olhos. Eu mal
conseguia me conter em alguns pontos. Eu queria levantar e dizer:
‘Espera um pouco! Isso é de Êxodo, aquilo é de Isaías e isso é de
Zacarias, você sabe o que está fazendo?’. Era tão empolgante. E
quando a Liturgia Eucarística começou eu notei como as orações
eram baseadas na mais antiga Páscoa dos judeus; todas as palavras,
sentenças, eram inteiramente tiradas da antiga Páscoa que Jesus e
seus discípulos tinham celebrado. Isso é um sacrilégio não bíblico?
De maneira alguma! Ficou claro para mim que essa é a Ceia de
Aliança Familiar de Jesus e seus irmãos e irmãs. Quando o padre
pronunciou as palavras da consagração e elevou a hóstia e o cálice...
eu preciso dizer que a última gota de dúvida desapareceu do meu
cérebro e do meu coração. Eu disse maravilhado: ‘Meu Senhor e
meu Deus, é você?’ O Cordeiro de Deus, o hóspede desse banquete
e a refeição, ao mesmo tempo convidando todos os filhos de Deus
à mesa para celebrar o fato de sermos a família de Deus.
Nós compartilhamos carne e sangue nós compartilhamos do
mesmo banquete espiritual, nós somos a morada da Sagrada
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Trindade. Eu mal conseguia me conter. No momento em que a
bênção foi pronunciada e as pessoas começaram a sair após alguns
momentos de ação de graças eu continuava sentado totalmente
atordoado. Eu não podia contar a ninguém porque eu não tinha
certeza do que havia acontecido. Mas eu tenho que te dizer que, no
dia seguinte, eu voltei lá para a missa do meio dia, e no dia seguinte
também, e no dia seguinte de novo, e dentro de uma semana eu
tenho que dizer que eu estava totalmente apaixonado por Nosso
Senhor no Santíssimo Sacramento! Eu não sabia que Ele estava lá,
nunca tive a certeza de que lá estava verdadeiramente Jesus Cristo,
meu Senhor e meu Cordeiro, mas Ele estava. E quanto mais a gente
estuda a Bíblia, mais a gente entende a Aliança; quanto mais a gente
estuda a Páscoa, quanto mais a gente vê que a Doutrina Católica da
Missa é enraizada e fundada na Bíblia, mas você precisa do Antigo
Testamento, assim como do Novo Testamento, isso é o que mais os
cristãos deixam de lado.
A Igreja nunca ensinou que Jesus estava sendo sacrificado
novamente ou que Ele estava sendo re-crucificado ou que Ele
estaria sangrando e sofrendo de novo e de novo... Nunca! O livro
do Apocalipse e o Catecismo Baltimore, os dois apresentam Cristo
como o celebrante e a refeição, o hóspede e a vítima, mas Ele não
sangra, Ele não sofre e Ele não morre novamente. Nós recebemos o
Corpo do Cordeiro Glorificado que é Cristo o Cordeiro de Deus.
Nós estamos entendendo o que foi dado a nós? Nós tomamos isso
como certo? Nós temos tantos católicos afastados tantos
anticatólicos que foram católicos algum dia amargamente se
opondo à Missa e à Eucaristia, e muitos deles nunca ouviram uma
explicação bíblica. Eles estão em estudos bíblicos atrás de estudos
bíblicos, mas ninguém apresenta a eles a partir da Bíblia o
significado da Missa. Eles estão estudando o cardápio enquanto nós
estamos aproveitando a refeição e nós nem sabemos a receita ou os
ingredientes, na maioria das vezes porque nós não estamos nos
aprofundando nas Sagradas Escrituras. Nós não estamos lendo, nós
não estamos estudando. Um pouco de estudo e nós iremos longe.
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O TRIUNFO DE SATANÁS

Você imagina o triunfo que Satanás está comemorando agora


mesmo? Pode a América se orgulhar de ter de 20 a 25 milhões de
católicos romanos? Você sabe qual é o segundo maior grupo
religioso entre os americanos? Os Batistas do sul são 14 milhões,
mas eles vêm em terceiro lugar O segundo maior grupo religioso de
americanos consiste em 15 milhões de católicos não praticantes que
se afastaram. 15 milhões de irmãos e irmãs batizados que não vem
mais pra casa para jantar. Se isso não parte nossos corações então
deve ser porque eles estão gelados como gelo, e precisamos de
novos. Nós estamos apreciando o suficiente o que recebemos para
que os amemos e os tragamos de volta pra casa? Nós estamos
amando Deus e nossos irmãos e irmãs que deixaram a família e
fugiram, que foram sequestradas por falsos mestres. Nós os amamos
o suficiente para levantar as nossas mangas e dobrar os nossos
joelhos e aprender bem a nossa fé para responder as perguntas deles
e ajudá-los com as objeções deles para que assim eles possam
realmente compreender?
Eu estive no banco da frente em uma ocasião e eu pude ver a
fila da comunhão se formar e todas as pessoas que esticavam a mão
ou a língua, e o padre que dizia: ‘O corpo de Cristo’, ‘Amém!’, ‘O
Corpo de Cristo’, ‘Amém!’. E recentemente eu estava em uma
igreja e apenas observando todas essas pessoas recebendo o corpo
de Cristo... ‘amém’, ‘corpo de Cristo’, ‘amém’. E eles voltam para
os seus assentos, em algumas vezes eles apenas saem e vão para o
estacionamento e vão embora. Será que eles percebem o que eles
estão recebendo? Eu olhei em volta e a igreja estava metade vazia e
as pessoas estavam indo embora tão depressa depois disso, e eu
pensei comigo o que eles fariam se ao invés de dizer ‘O Corpo de
Cristo’ o sacerdote dissesse ‘Dez milhões de dólares’, ‘amém’, ‘Dez
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milhões de dólares’, ‘amém’; e ele estivesse entregando pacotes de
dinheiro vivo. O que você acha que aconteceria com a sua paróquia
se todos os dias que você fosse lá para a frente e o padre dissesse:
‘Dez milhões de dólares’, ‘amém’. ‘Dez milhões de dólares’,
‘amém’...? Eu penso que as filas da comunhão teriam milhas e
milhas de comprimento, certo? Nós teríamos todo mundo se
convertendo. Mas quer saber? Nós estamos recebendo muito mais
que dez milhões de dólares. Quem nós amamos mais, Deus ou ouro?
Tolice, você não acha? Nós recebemos a graça necessária para
sermos santos de uma única comunhão e mesmo assim nós não
damos valor. Nós estamos nos preparando, nós estamos preparados?
Nós rezamos antes de irmos à igreja? Nós estamos nos preparando
para receber toda a plenitude da Graça que nós temos lá? Megatons
de Graça e muito mais. Nós temos na Santa Eucaristia a Graça que
precisamos para termos as nossas vidas transformadas. Nós temos
na Santa Missa a Graça que precisamos para sairmos e mudarmos o
nosso mundo, mas ao invés estamos "dormindo no volante". Não
estamos dando valor, não estamos tocando no tesouro que é nosso
por direito de nascença.

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VAMOS REZAR AO SENHOR...

... e pedir por mais Graça para amolecer nossos corações para
preparar as nossas almas para receber Nosso Senhor com mais
santidade: “Em nome do Pai, e do Filho e do Espirito Santo. Nós
rezamos: Deus Todo-Poderoso, Nosso Pai que está no Céu, nós vos
agradecemos pela Aliança que vós estabelecestes através de Jesus
Cristo. Em seu Corpo e Sangue nós temos um laço familiar que nos
une a Ti, Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espirito Santo. Nós
desejamos estar envolvidos em seu amor e sua comunhão da vida.
Nós somos fracos, nós somos ignorantes, nós somos pecadores, nós
somos miseráveis que não conseguimos nem admitir a nós mesmos.
Tenha piedade de nós, Senhor! Olhe seus filhos rebeldes. Estamos
tão orgulhosos de nossa tecnologia, nossas riquezas materiais,
nossas forças econômicas e políticas. Tenha piedade de nós, nos
conceda uma nova Graça, nos mostre mais de sua misericórdia, faça
com que voltemos com uma disposição santa de receber a plenitude
da graça quando nós recebemos todo o Cristo. Eu oro para que o
Santo Espírito mova nossos corações, que os amoleçam para que
fortaleça as nossas mentes para que possamos entender e crer e amar
a Verdade que Cristo revelou, a Verdade que é Cristo. O Senhor
conhece cada pessoa que está aqui hoje e aquilo que atinge a cada
um, cada sofrimento que cada pessoa enfrenta, seja no casamento,
em suas famílias, em seus trabalhos, algum problema de saúde...
Nos mostre o quão perto estás na Santa Eucaristia, que possamos ir
a Ti e que possamos ganhar toda a ajuda que nós precisamos de Ti.
Nos perdoe também por nossa desobediência e nossa ingratidão,
porque nós não demos o devido valor por tanto tempo. Vós
morrestes Senhor Jesus para fazer de nós uma única família e agora
tu vives para nos abençoar e nos tornar santos. Que assim seja,
Senhor Jesus, que assim seja! Em nome do Pai, e do Filho e do
Espirito Santo. Amém!”
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SUMÁRIO

“TUDO ESTÁ CONSUMADO!” ........................................................... 5


A CEIA CERIMONIAL SÉDER DA PÁSCOA ........................................ 9
JESUS NÃO BEBEU DO QUARTO CÁLICE ........................................ 11
JOÃO, A TESTEMUNHA OCULAR ..................................................... 14
“TENHO SEDE!” ............................................................................. 17
O CÁLICE DA CONSUMAÇÃO......................................................... 19
VOCÊ TEM QUE COMER O CORDEIRO ........................................... 21
‘SOA MUITO CATÓLICO’ ................................................................ 24
UMA MISSA PELA PRIMEIRA VEZ................................................... 26
O TRIUNFO DE SATANÁS ............................................................... 28
VAMOS REZAR AO SENHOR... ........................................................ 30

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