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Lavagem de Dinheiro

Lavagem de Dinheiro (Lei 9.613/98)


A Lei de Lavagem de Dinheiro sofreu grandes alterações por meio da Lei
n° 12.683/2012. O propósito da reforma foi conferir maior celeridade à
atividade persecutória.
O primeiro capítulo da lei diz respeito à tipificação do crime de lavagem
de dinheiro.

CAPÍTULO I
Dos Crimes de "Lavagem" ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores
Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
direta ou indiretamente, de infração penal.
Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.
O crime de lavagem de dinheiro é praticado por aquele que tenta fazer
os recursos obtidos por meio de atividade ilícita pareçam ter origem
legítima.
Formas Equiparadas
§ 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de
bens, direitos ou valores provenientes de infração penal:
I - os converte em ativos lícitos;
II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem
em depósito, movimenta ou transfere;
III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos
verdadeiros.
§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem:
I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores
provenientes de infração penal;
II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que
sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos
nesta Lei.
Esse rol deve ser lido diversas vezes. Muitas vezes, as questões irão se
restringir simplesmente ao rol de condutas equiparadas!
Conduta: desenvolve-se por meio dos verbos “ocultar” e “dissimular”,
dando a noção de esconder ou disfarçar a natureza (qual tipo de bem), a
origem (a sua proveniência), a localização (local onde está o bem), a
disposição e a movimentação (de que forma o bem está sendo utilizado)
e a propriedade (qual o verdadeiro proprietário do bem). Além da
existência de indícios suficientes da infração penal antecedente, há
necessidade de indícios de ocultação ou dissimulação de bens, valores e
direitos. A autonomia do crime de lavagem de dinheiro é relativa
(relação de acessoriedade limitada), pois, tal qual ocorre na receptação,
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a configuração desse crime depende da infração penal antecedente.


Deve, nesse caso, o representante do Ministério Público trazer cópias de
processo-crime envolvendo o ilícito penal em que o agente da lavagem
foi o próprio autor ou beneficiário. No caso de crime praticado por
organização criminosa, podem ser abrangidos outros delitos de alta
concentração de lavagem de dinheiro, como o de receptação e
sonegação fiscal.
A Doutrina normalmente divide o crime de lavagem de dinheiro em três
fases diferentes, não sendo necessário que ocorram as três para que
o crime esteja consumado:
a) Colocação (placement)  Inserção dos recursos no mercado
financeiro, geralmente por meio de pequenos depósitos em contas
diferentes, ou de pequenas compras feitas em espécie;
b) Ocultação ou Dissimulação (layering)  Os recursos são
movimentados de forma a tentar “despistar” qualquer ação
investigativa;
c) Integração (integration)  Os valores são introduzidos na economia
por meio de investimentos, de forma a não levantar suspeitas sobre sua
origem.

Há muita discussão doutrinária acerca dos bens jurídicos tutelados pelo


crime de lavagem de dinheiro. Alguns autores dizem que se trata da
ordem econômico-financeira, outros dizem que é a administração da
justiça.
Para fins de prova, recomendo que você considere dois bens jurídicos
tutelados: a ordem socioeconômica e os bens atingidos pelos crimes
anteriores, pois a lavagem de dinheiro somente pode existir se houver
recursos provenientes de outras atividades ilícitas, não é mesmo?
Havia, no regramento anterior, uma lista de crimes que poderiam ser
considerados antecedentes da lavagem de dinheiro. Com as alterações
legislativas, hoje o art. 1° da Lei de Lavagem de Dinheiro trata somente
de infração penal. Os recursos que são objeto da lavagem de dinheiro,
portanto, podem ser provenientes de qualquer crime.
Alguns doutrinadores dividem a criminalização da Lavagem de Dinheiro
em três gerações:
a) primeira geração: países que preveem apenas o tráfico de drogas
como crime antecedente da Lavagem de Dinheiro. As primeiras leis que
criminalizavam a Lavagem de Dinheiro utilizavam esse mecanismo,
tendo sido editadas logo após a “Convenção de Viena”;
b) segunda geração: essas leis surgiram num momento posterior,
trazendo um rol de crimes antecedentes, ampliando a repressão da
lavagem. O Brasil estava nesta fase até a edição da Lei n° 12.683/2012;
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c) terceira geração: leis que estabelecem que qualquer ilícito penal


pode ser antecedente da lavagem de dinheiro. É o caso da Bélgica,
França, Itália, México, Suíça, EUA e agora o Brasil com a alteração
promovida pela Lei n.° 12.683/2012.

Sujeito Ativo
É crime comum, que, no Brasil, pode ser cometido até mesmo pelo
sujeito ativo da infração penal antecedente (STJ, AP 458, Dipp, CE,
m., 16/09/2009), ao contrário do que se dá com a receptação (CP, art.
180) e com o favorecimento real (CP, art. 349), que não podem ter como
autor a mesma pessoa que praticou a infração penal antecedente.

Tentativa
§ 3º A tentativa é punida nos termos do parágrafo único do art. 14 do Código
Penal.
A tentativa de lavagem de dinheiro é punível nos termos do art. 14 do
Código Penal, ou seja, com a pena do crime consumado, reduzida de
um a dois terços.

Causas de aumento da pena


§ 4º A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos nesta
Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização
criminosa.
A pena prevista também é aumentada de 1/3 a 2/3 se o crime é
cometido de forma reiterada ou por meio de organização criminosa.

Colaboração Premiada
§ 5º A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em
regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou
substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor,
coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades,
prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à
identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens,
direitos ou valores objeto do crime.
Se as informações dadas pelo delator mediante colaboração espontânea
conduzirem à apuração dos crimes, à identificação dos autores,
coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores
objeto do crime, sua pena pode ser reduzida de um a dois terços e
ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, sendo possível ainda
ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de
direitos.
Na redação dada ao dispositivo pela Lei n. 12.683/2012, é explicitado
que os benefícios poderão ser reconhecidos a qualquer tempo, ou seja,
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mesmo após o recebimento da denúncia ou mesmo durante a execução.


A alteração é criticável por permitir ao acusado que manobre, somente
passando a colaborar após a sua própria condenação, diante da falta de
outra perspectiva.
A Lei das Organizações Criminosas, por ser posterior e tratar do campo
específico da criminalidade organizada, deve ser aplicada à colaboração
premiada sempre que se tratar de organização criminosa, ou, de forma
subsidiária, quanto ao procedimento, ainda que não se trate de
organização.

Ação controlada e Infiltração de agentes


§ 6º Para a apuração do crime de que trata este artigo, admite-se a utilização
da ação controlada e da infiltração de agentes. (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)
Em sua redação original, não havia previsão expressa da possibilidade de
utilização dos institutos da ação controlada e da infiltração de agentes
para fins de investigação dos crimes de que trata a lei.
A doutrina, entretanto, indicava que a atuação retardada da autoridade
responsável já seria possibilitada diante da interpretação do art. 4º-B.
Art. 4º-B. A ordem de prisão de pessoas ou as medidas
assecuratórias de bens, direitos ou valores poderão ser suspensas
pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução
imediata puder comprometer as investigações.
Assim, embora a lei apenas se referisse apenas ao sobrestamento da
ordem de prisão ou das medidas assecuratórias, a doutrina majoritária já
entendia pela possibilidade da ampliação do autorizativo para as medidas
cautelas diversas da prisão, por exemplo.
Atualmente, com a inclusão do §6º no art. 1º pelo Pacote Anticrime, há
expressa concessão que viabiliza a utilização tanto da ação controlada
quando da infiltração de agentes na investigação dos crimes da Lei de
Lavagem de Capitais.
ATENÇÃO: a ação controlada é uma técnica especial de investigação
prevista na Lei de Lavagem de Capitais, na Lei de Drogas e na Lei
das Organizações Criminosas.

Aspectos processuais
O processo relativo ao crime de lavagem de dinheiro não depende do
processo relativo ao crime que deu origem aos bens ou recursos ilícitos.
Mesmo que a infração penal que deu origem ao dinheiro ilícito tenha sido
praticada no exterior, pode-se aplicar a lei penal brasileira aos casos
de lavagem de dinheiro (em razão do princípio da justiça universal).
Este é o posicionamento da jurisprudência, extraído do art. 2º, II, da
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legislação em estudo.
Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:
I – obedecem às disposições relativas ao procedimento comum dos crimes
punidos com reclusão, da competência do juiz singular;
II - independem do processo e julgamento das infrações penais
antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo ao juiz
competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de
processo e julgamento;
(…)
§ 1º A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da
infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda
que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da
infração penal antecedente.
O crime de lavagem de dinheiro seguirá o rito comum ordinário, previsto
pelos arts. 394 e s. do CPP.
Mesmo que ainda não processado pela infração penal antecedente,
pode o acusado pelo crime de lavagem ser processado normalmente, a
teor do art. 2º, II, da Lei de Lavagem de Dinheiro. Há necessidade,
contudo, de um mínimo de provas em relação à infração penal
antecedente.
Essa autonomia é condicionada à existência de indícios (CPP, art. 239)
da infração penal antecedente (LLD, art. 2º, § 1º), sendo desnecessária
a existência de prova cabal da materialidade da infração penal
antecedente (STF, HC 94.958, Barbosa, 2ª T., u., 09/12/2008), tendo
sido adotada a chamada acessoriedade limitada.
Ação Penal
A ação penal nos delitos de lavagem de dinheiro é sempre pública
incondicionada.
A competência para processar em julgar os delitos previstos na Lei n.
9.613/1998, em regra, é da Justiça ESTADUAL.
Excepcionalmente, a competência será da Justiça Federal quando:
1) a infração penal causar prejuízo à união, suas autarquias e empresas
públicas;
2) quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça
Federal;
3) quando a lavagem de dinheiro for internacional.
Art. 2º … III - são da competência da Justiça Federal:
a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-
financeira, ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de
suas entidades autárquicas ou empresas públicas;
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b) quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal.

Suspensão do processo (art. 366 do CPP)


Art. 2º …. § 2º No processo por crime previsto nesta Lei, não se aplica o
disposto no art. 366 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941
(Código de Processo Penal), devendo o acusado que não comparecer nem
constituir advogado ser citado por edital, prosseguindo o feito até o
julgamento, com a nomeação de defensor dativo.
O dispositivo transcrito afasta a aplicação do art. 366 do CPP, que
trata da suspensão do processo e da prescrição em relação ao acusado
que, citado por edital, não comparece nem constitui defensor, devendo a
ação penal prosseguir, com a nomeação de defensor dativo.
Pelo teor do art. 2º, § 2º, da Lei de Lavagem de Dinheiro, não se aplica
a suspensão prevista no art. 366 do Código de Processo Penal, não se
suspendendo o processo, como ocorre nos demais delitos (Lei n.
9.271/96), em caso de revelia, devendo o acusado que não comparecer
nem constituir advogado ser citado por edital, prosseguindo o feito até o
julgamento, com a nomeação de defensor dativo. Na Exposição de
Motivos da lei, apresenta-se a justificativa de que a suspensão poderia
constituir em prêmio ao delinquente. Assim, ao inadmitir a suspensão do
processo pela revelia do acusado, admitem-se os efeitos dela, com o
prosseguimento do feito (art. 367 do CPP).

Medidas Assecuratórias
Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante
representação do delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em 24
(vinte e quatro) horas, havendo indícios suficientes de infração penal, poderá
decretar medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou
acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam
instrumento, produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei ou das
infrações penais antecedentes.
§ 1º Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos
bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou
depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção.
§ 2º O juiz determinará a liberação total ou parcial dos bens, direitos e
valores quando comprovada a licitude de sua origem, mantendo-se a
constrição dos bens, direitos e valores necessários e suficientes à reparação
dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias, multas e custas
decorrentes da infração penal.
§ 3º Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o comparecimento
pessoal do acusado ou de interposta pessoa a que se refere o caput deste
artigo, podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à conservação
de bens, direitos ou valores, sem prejuízo do disposto no § 1º.
§ 4º Poderão ser decretadas medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou
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valores para reparação do dano decorrente da infração penal


antecedente ou da prevista nesta Lei ou para pagamento de prestação
pecuniária, multa e custas.
A incriminação da lavagem de dinheiro tem como um dos fundamentos
principais, justamente, o ataque ao braço financeiro da criminalidade
organizada, bem como evitar a continuidade da prática delitiva. Nessa
linha, o art. 4º da Lei estabelece um regime de medidas assecuratórias
diferenciado daquele previsto no CPP, que trata do tema em seus arts.
125 a 144.
Legitimidade para postular
Como deixa claro o art. 4º, a medida pode ser decretada:
a) pelo juiz, de ofício;
b) a requerimento do MP;
c) em virtude de representação da autoridade policial, caso em que
deve ser ouvido o MP antes da decretação da medida.
Bens passíveis de constrição
Tendo em vista o disposto no § 4º do art. 4º, é admitida a constrição
sobre bens do patrimônio do investigado que não guardem relação
com o crime, considerado o valor do arbitramento da responsabilidade,
incluindo o prejuízo causado, bem como as despesas processuais e o
valor provável das penas pecuniárias (CPP, arts. 135 e 140). Com isso, o
regime da Lei de Lavagem de Dinheiro fica assemelhado ao do CPP e do
Decreto-lei n. 3.240/1941, nos quais a constrição pode recair sobre o
produto do crime (CPP, art. 125) ou mesmo sobre o conjunto do
patrimônio (CPP, arts. 134 e 137).
A redação do §1° traz a possibilidade de os bens arrecadados serem
alienados antecipadamente. Esta solução evita a perda de valor dos
bens arrecadados pelo decurso do tempo. Este é um problema muito
comum, que pode ser colocado na conta da morosidade do Poder
Judiciário.
Não há incompatibilidade entre o § 3º do art. 4º, que exige o
comparecimento pessoal para o pedido de restituição, e o § 2º do art.
2º, que afasta a aplicação do mesmo dispositivo em ação penal por
delito de lavagem de dinheiro. O art. 366 do CPP diz que, quando o réu
não comparece nem constitui defensor, suspende-se o processo. Quando
o § 2º do art. 2º afasta a aplicação do art. 366 do CPP, quer dizer que o
sujeito pode ser citado por edital, mas que o processo não fica suspenso,
enquanto o § 3º do art. 4º estabelece que não se conhecerá do
pedido de restituição sem o comparecimento pessoal. Então, no
caso de o acusado não comparecer nem constituir defensor, o processo
por crime de lavagem de dinheiro segue o seu curso normal e não existe
a possibilidade de fazer o pedido de restituição, porque é condição de
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procedibilidade o comparecimento pessoal do acusado.


O § 2º do art. 4º não implica inversão do ônus da prova, no sentido
de que caiba ao investigado ou acusado comprovar a licitude de seu
patrimônio. A regra apenas assegura a liberação antecipada dos bens,
antes do término da ação penal, restando a perda subordinada às regras
ordinárias, pressupondo, então, a condenação com trânsito em julgado,
nos termos dos arts. 91 do CP c/c 133 e 143 do CPP. Quer dizer, a
inversão do ônus da prova se aplica apenas à devolução antecipada dos
bens, não importando em presunção nem representando ofensa indevida
ao direito de propriedade do investigado, à presunção de inocência, ao
devido processo legal ou à ampla defesa.

Alienação Antecipada
A alienação antecipada é regulada pelo art. 4°-A. Eu recomendo uma
leitura rápida, mas considero muito difícil a cobrança dos detalhes em
prova.
Art. 4º-A. A alienação antecipada para preservação de valor de bens sob constrição
será decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou por
solicitação da parte interessada, mediante petição autônoma, que será autuada em
apartado e cujos autos terão tramitação em separado em relação ao processo
principal.
§ 1º O requerimento de alienação deverá conter a relação de todos os demais bens,
com a descrição e a especificação de cada um deles, e informações sobre quem os
detém e local onde se encontram.
§ 2º O juiz determinará a avaliação dos bens, nos autos apartados, e intimará o
Ministério Público.
§ 3º Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências sobre o respectivo laudo, o
juiz, por sentença, homologará o valor atribuído aos bens e determinará sejam
alienados em leilão ou pregão, preferencialmente eletrônico, por valor não inferior a
75% (setenta e cinco por cento) da avaliação.

Ação controlada
Art. 4º-B. A ordem de prisão de pessoas ou as medidas assecuratórias de
bens, direitos ou valores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério
Público, quando a sua execução imediata puder comprometer as
investigações.
Assim como se dá nas investigações relativas a organizações criminosas
(LOC, arts. 8º e 9º) e nos crimes de tráfico ilícito de drogas (Lei n.
11.343/2006, art. 53, II), também na lavagem de dinheiro há
possibilidade de ação controlada, na qual, embora ciente da ocorrência
do crime, a polícia ou agência investigatória retarda a ação para o
momento mais conveniente, como se vê da leitura do art. 4º-B.
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Administração dos bens


Art. 5º Quando as circunstâncias o aconselharem, o juiz, ouvido o Ministério
Público, nomeará pessoa física ou jurídica qualificada para a administração dos
bens, direitos ou valores sujeitos a medidas assecuratórias, mediante termo
de compromisso.
Art. 6º A pessoa responsável pela administração dos bens:
I - fará jus a uma remuneração, fixada pelo juiz, que será satisfeita com o
produto dos bens objeto da administração;
II - prestará, por determinação judicial, informações periódicas da situação
dos bens sob sua administração, bem como explicações e detalhamentos
sobre investimentos e reinvestimentos realizados.
Parágrafo único. Os atos relativos à administração dos bens sujeitos a
medidas assecuratórias serão levados ao conhecimento do Ministério Público,
que requererá o que entender cabível.
Os arts. 5º e 6º autorizam a nomeação de pessoa qualificada para
administração dos bens, direitos ou valores, quando as circunstâncias o
aconselharem. A medida pressupõe oitiva prévia do MP, que terá ciência
dos atos relativos à administração, consistente em uma espécie de
intervenção judicial, por meio do administrador, o que é especialmente
conveniente em caso de bens de difícil gestão, como fazendas ou
empresas, embora o texto mencione, de forma ampla, bens, direitos ou
valores, que constituem o objeto material do crime. Administração é o
ato ou efeito de administrar, a gestão de negócio ou patrimônio.
O administrador, que será remunerado com o produto da administração
dos bens, fica obrigado a prestar, periodicamente, informações da
situação dos bens e medidas tomadas. Não é dado ao administrador,
no entanto, dispor gratuitamente dos bens sob constrição. Conforme o
parágrafo único do art. 6º, os atos do administrador serão levados ao
conhecimento do MP, que é chamado a atuar aqui no duplo papel de
fiscal da lei e responsável pela persecução penal, e, portanto,
interessado na manutenção dos bens.

Efeitos da condenação
Art. 7º São efeitos da condenação, além dos previstos no Código Penal:
I - a perda, em favor da União - e dos Estados, nos casos de competência da
Justiça Estadual -, de todos os bens, direitos e valores relacionados, direta ou
indiretamente, à prática dos crimes previstos nesta Lei, inclusive aqueles
utilizados para prestar a fiança, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro
de boa-fé;
II - a interdição do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza
e de diretor, de membro de conselho de administração ou de gerência das
pessoas jurídicas referidas no art. 9º, pelo dobro do tempo da pena privativa
de liberdade aplicada.
Lavagem de Dinheiro

§ 1º A União e os Estados, no âmbito de suas competências, regulamentarão a


forma de destinação dos bens, direitos e valores cuja perda houver sido
declarada, assegurada, quanto aos processos de competência da Justiça
Federal, a sua utilização pelos órgãos federais encarregados da prevenção, do
combate, da ação penal e do julgamento dos crimes previstos nesta Lei, e,
quanto aos processos de competência da Justiça Estadual, a preferência dos
órgãos locais com idêntica função.
§ 2º Os instrumentos do crime sem valor econômico cuja perda em favor da
União ou do Estado for decretada serão inutilizados ou doados a museu
criminal ou a entidade pública, se houver interesse na sua conservação.
Em relação aos bens, o texto é distinto daquele do art. 91, II, “b”, do CP,
em três pontos.
Primeiro, enquanto o CP limita os efeitos aos instrumentos ilícitos e ao
produto do crime, a LLD é mais ampla, podendo o perdimento se
estender ao objeto, ao produto e ao instrumento do crime, seja a coisa
lícita ou ilícita.
Segundo, enquanto no regime do CP o perdimento é sempre em favor da
União, no caso da LLD os Estados-membros serão destinatários
dos bens em relação aos delitos de sua competência.
Terceiro, o § 1º autoriza a União e os Estados a regulamentarem a
destinação dos bens, direitos e valores aos órgãos encarregados da
persecução penal e julgamento da lavagem de dinheiro.
A lei ressalva expressamente o direito do lesado ou de terceiro de boa-
fé, que não estarão sujeitos ao perdimento.
Já quanto ao exercício de cargo, o inciso II do art. 7º da LLD se
diferencia do inciso I do art. 92 do CP em três pontos:
a) a interdição aqui é mais ampla do que aquela prevista no inciso I
do art. 92 do CP, por abranger também posições ocupadas na
iniciativa privada;
b) a interdição aqui é tratada como efeito genérico da condenação,
de modo que o seu reconhecimento não está subordinado ao parágrafo
único do art. 91 do CP, a exigir que tais efeitos sejam motivadamente
declarados na sentença, sendo suficiente a menção ao dispositivo legal,
sem exigência de motivação específica;
c) enquanto a regra do CP implica apenas a perda do cargo ou função
ocupado ao tempo do crime, a regra da LLD agrega o efeito do
impedimento de ocupar novamente aquele cargo pelo dobro da
pena aplicada.
Registramos que o afastamento do servidor também tem lugar como
medida cautelar, em razão do disposto no art. 17-D, introduzido pela Lei
n. 12.683/2012, o qual é objeto da ADI 4.911.
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Cooperação Jurídica Internacional


CAPÍTULO IV
Dos Bens, Direitos ou Valores Oriundos de Crimes Praticados no Estrangeiro
Art. 8º O juiz determinará, na hipótese de existência de tratado ou convenção
internacional e por solicitação de autoridade estrangeira competente, medidas
assecuratórias sobre bens, direitos ou valores oriundos de crimes descritos no
art. 1º praticados no estrangeiro.
§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo, independentemente de tratado ou
convenção internacional, quando o governo do país da autoridade solicitante
prometer reciprocidade ao Brasil.
§ 2º Na falta de tratado ou convenção, os bens, direitos ou valores privados
sujeitos a medidas assecuratórias por solicitação de autoridade estrangeira
competente ou os recursos provenientes da sua alienação serão repartidos
entre o Estado requerente e o Brasil, na proporção de metade, ressalvado o
direito do lesado ou de terceiro de boa-fé.
O art. 8º, ao tratar da cooperação internacional, autoriza a adoção de
medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou valores oriundos de
crimes de lavagem de dinheiro, cometidos no estrangeiro. O § 2º do
mesmo artigo estabelece, de forma pioneira, a divisão por metade do
produto da alienação dos bens submetidos a perdimento após constrição
solicitada por autoridade estrangeira, ressalvada a existência de
disposição diversa em instrumento internacional.
A seu turno, o art. 18 da Convenção de Palermo prevê a cooperação
internacional para fins probatórios ou qualquer outro tipo de assistência
compatível com o direito interno do Estado Requerido. Por fim, os itens
36 a 40 das Quarenta Recomendações fazem referências específicas a
medidas que possam facilitar a cooperação jurídica internacional.

Controle Administrativo
Nos arts. 9º e seguintes, instituiu um sistema de controles
administrativos em matéria de lavagem de dinheiro, atribuído às
entidades fiscalizadoras e regulamentadoras do SFN, as quais são
encarregadas de regulamentar as obrigações (art. 10) das pessoas
físicas e jurídicas sujeitas à lei (art. 9º) quanto a:
a) identificação de clientes e manutenção de cadastros (art. 10, I);
b) manutenção de registros das transações (art. 10, II);
c) adoção de políticas, procedimentos e controles internos que permitam
o cumprimento desses deveres (art. 10, III);
d) cadastramento no órgão supervisor ou no COAF;
e) atendimento às requisições formuladas pelo COAF (art. 10, V);
f) comunicação de operações suspeitas (art. 10, II).
Lavagem de Dinheiro

Além de regulamentar a atividade das pessoas sujeitas aos mecanismos


de controle, cabe também aos órgãos de supervisão a tarefa de impor
penalidades administrativas pelo descumprimento de tais obrigações
(art. 12). Em relação àqueles setores sujeitos às obrigações que não
contam com um órgão de fiscalização específico, tais atividades são
desempenhadas pelo COAF.
Sendo assim, a fiscalização é distribuída da seguinte forma:
a) ao BACEN cabe a fiscalização de Instituições Financeiras, empresas de
compra e venda de moeda estrangeira ou ouro, de arrendamento
mercantil e administradoras de consórcios;
b) à CVM compete a fiscalização de corretoras e distribuidoras de títulos
e valores mobiliários; bolsas de valores; bolsas de mercadorias e
futuros;
c) à PREVIC é atribuída a fiscalização de entidades fechadas de
previdência privada (fundos de pensão);
d) à SUSEP toca a fiscalização de entidades de seguro e capitalização;
e) finalmente, ao COAF, que tem a competência residual (art. 14, § 1º),
incumbe fiscalizar empresas que exploram cartões de crédito, meios
eletrônicos ou magnéticos para transferência de fundos, factoring,
sorteios e promoção imobiliária ou compra e venda de imóveis.
Partindo da concepção de que o Estado não pode fiscalizar tudo, a lei
impõe a particulares, cuja atividade pode servir de meio para a lavagem
de dinheiro, obrigações no sentido de evitar e coibir a ocorrência do
crime em exame, na chamada política de compliance, ou seja, a ação
realizada de acordo com um pedido ou comando, que não é de fácil
implantação, em especial porque a pessoa obrigada também tem lucro
com a operação.
As pessoas arroladas pelo art. 9º da Lei, sejam elas instituições
financeiras ou não, estão obrigadas, então, a deveres, traduzidos em
procedimentos que consistem na identificação dos clientes, vigilância,
manutenção dos registros e comunicação de operações suspeitas.
Conforme o art. 9º, estão sujeitos aos mecanismos de controle os
segmentos adiante arrolados:
a) mercados financeiro e monetário (art. 9º, I);
b) mercado de câmbio (art. 9º, II);
c) mercado de valores mobiliários (art. 9º, III e parágrafo único, I);
d) mercado de seguros (art. 9º, parágrafo único, II);
e) cartões de crédito, credenciamento ou transferência de fundos (art.
9º, parágrafo único, III e IV);
f) consórcios (art. 9º, parágrafo único, III);
Lavagem de Dinheiro

g) arrendamento mercantil (leasing) e as de fomento comercial


(factoring) (art. 9º, parágrafo único, V);
h) sorteios e loterias (art. 9º, parágrafo único, VI);
i) filiais, representantes, procuradores, agentes, comissionários ou
assemelhados de entidades estrangeiras que explorem alguma das
atividades arroladas (art. 9º, parágrafo único, VII e IX) ou
representantes, no exterior, em relação a pessoas sediadas no Brasil
(art. 9º, parágrafo único, XVIII);
j) outras atividades sujeitas à autorização de órgão de supervisão do
SFN (art. 9º, parágrafo único, VIII);
k) mercado imobiliário (art. 9º, parágrafo único, X);
l) comércio de joias, pedras e metais preciosos, objetos de arte,
antiguidades e outros bens de luxo ou alto valor (art. 9º, parágrafo
único, XI e XII);
m) atividades que envolvam grande volume de recursos em espécie (art.
9º, parágrafo único, XII);
n) juntas comerciais e registros públicos (art. 9º, parágrafo único, XIII);
o) atividades de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria,
aconselhamento e assistência (art. 9º, parágrafo único, XIV);
p) transferências de atletas profissionais, feiras, exposições e eventos;
q) transporte e guarda de valores;
r) comercialização de produtos rurais.
O dever de identificação (LLD, art. 10, I) pode ser resumido na regra:
conheça seu cliente, também referida como dever de vigilância relativo à
clientela (Customer Due Diligence — CDD), à qual se soma a política
“conheça seu empregado”.
Já o dever de comunicação é corolário do dever de vigilância, estando
regulado pelo art. 11 da LLD. O dever imposto às pessoas obrigadas é de
comunicar a realização de operações atípicas, assim entendidas
aquelas cuja natureza, complexidade, volume ou caráter não habitual,
ante o perfil do cliente, indiquem a possibilidade de que se trate de uma
operação visando à lavagem de dinheiro.
De ver que a realização da comunicação em questão não gera
responsabilização penal ou administrativa, salvo casos de
comprovada má-fé (LLD, art. 11, § 2º). Ao contrário, o descumprimento
do dever de comunicação pode gerar responsabilização administrativa,
nos termos do art. 12 da LLD.
Lavagem de Dinheiro

Sanções administrativas
As pessoas obrigadas que não cumprirem os deveres determinados pelos
arts. 10 e 11 da LLD poderão sofrer as seguintes sanções
administrativas, aplicadas de forma cumulativa ou isolada:
a) advertência;
b) multa pecuniária variável;
c) inabilitação temporária, pelo prazo de até dez anos, para o exercício
do cargo de administrador;
d) cassação ou suspensão da autorização para operação ou
funcionamento.

Disposições Gerais
A Lei 12.683/12 acrescentou um novo capítulo à Lei n.° 9.613/98
(Capítulo X – Disposições Gerais) com cinco novos artigos. Vejamos cada
um deles:
Art. 17-A. Aplicam-se, subsidiariamente, as disposições do Decreto-Lei nº
3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), no que não forem
incompatíveis com esta Lei.
Desse modo, em caso de lacunas e omissões, o CPP é aplicado nos
processos que envolvam os crimes de lavagem de dinheiro.

Art. 17-B. A autoridade policial e o Ministério Público terão acesso,


exclusivamente, aos dados cadastrais do investigado que informam
qualificação pessoal, filiação e endereço, independentemente de autorização
judicial, mantidos pela Justiça Eleitoral, pelas empresas telefônicas, pelas
instituições financeiras, pelos provedores de internet e pelas administradoras
de cartão de crédito.
Apesar da redação do artigo não ser das melhores, o que quis dizer o
dispositivo foi o seguinte:
- O delegado de polícia e o membro do Ministério Público
- poderão requisitar diretamente (ou seja, sem necessidade de
autorização judicial),
- das empresas de telefonia, das instituições financeiras, dos provedores
de internet e das administradoras de cartão de crédito e da Justiça
Eleitoral,
- os dados cadastrais do investigado
- que contenham a sua qualificação pessoal, filiação e endereço.

Art. 17-C. Os encaminhamentos das instituições financeiras e tributárias em


resposta às ordens judiciais de quebra ou transferência de sigilo deverão ser,
sempre que determinado, em meio informático, e apresentados em arquivos
que possibilitem a migração de informações para os autos do processo sem
Lavagem de Dinheiro

redigitação.
A Lei, de forma muito sábia, determinou que as instituições financeiras e
tributárias, ao cumprirem as ordens judiciais de quebra ou transferência
de sigilo deverão, sempre que assim determinado, encaminhar as
respostas em meio informático, em arquivos digitais que possibilitem
copiar as informações que tenham nos arquivos para um editor de texto.
Ex: os bancos deverão encaminhar os extratos bancários em formato pdf
copiável, ou seja, pdf que reconheça os caracteres escritos e permita sua
cópia.

Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será


afastado, sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei, até
que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno.
Caso o indiciado seja servidor público, ele será afastado do exercício
do cargo, somente sendo possível o seu retorno por meio de
autorização fundamentada do magistrado competente.
Ou seja, este dispositivo legal estabelece o afastamento do servidor
público de suas funções como efeito automático do indiciamento e
sem prejuízo de remuneração e demais direitos previstos em lei,
permitindo seu retorno às atividades funcionais apenas se houver
decisão judicial fundamentada nesse sentido.

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