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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ___ª VARA

DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE SÃO PAULO (CAPITAL), ESTADO DE SÃO


PAULO

xxxxxxxx, brasileiro, divorciado, aposentado, portador da cédula


de identidade RG nº xxxxxxxx, inscrito no CPF/MF nº xxxxxxx (doc. 01), residente e
domiciliado à Rua xxxxxxxxxxx, no município de Caraguatatuba/SP, CEP xxxxxxxxxxxx;
xxxxxxxxxxxx, brasileira, solteira, desempregada, portadora da cédula de identidade RG
nº xxxxxxxxxxxxx, inscrita no CPF/MF nº xxxxxxxxxxxxx (doc. 02), residente e
domiciliada à Rua xxxxxxxxxxx, no bairro Poiares, no município de Caraguatatuba/SP,
CEP xxxxxxxxxxxxxxxx vêm, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por intermédio
do Defensor Pú blico que esta subscreve, dispensado da apresentaçã o de procuraçã o, nos
termos do disposto no artigo 128, da LC 80/94, propor a presente

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS

em face do ESTADO DE SÃO PAULO, pessoa jurídica de direito


pú blico interno, com sede na capital do Estado, a ser intimado, nos termos do art. 75,
inciso II do Có digo de Processo Civil, na pessoa do Procurador Geral do Estado, cujo
domicílio fica em Sã o Paulo/SP, na Rua Pamplona, 227, 7º andar, pelas razõ es de fato e
de direito a seguir aduzidas.

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1. DOS FATOS

xxxxxxxxxxxxx, filho e irmã o, respectivamente, dos autores


xxxxxxxxxx e xxxxxxxxxxx, veio a ó bito no dia 29 de dezembro de 2009, tendo como
causa da morte “hemorragia interna de tó rax e abdó men por projétil de arma de fogo
(homicídio)”, conforme certidã o de ó bito em anexo.

Segundo o Boletim de Ocorrência nº xxxxxxxxxxx/2009, do D.P.


de Caraguatatuba, registrado em 29 de dezembro de 2009, foi informado pelo policial
militar xxxxxxxxxx que este estava em patrulhamento, juntamente com seu colega Cb.
PM xxxxxxxxxxxxxx, quando recebeu mensagem via rá dio (COPOM) informando a
ocorrência de roubo em andamento na casa comercial Nikkeypar, localizada na Avenida
xxxxxxxxxxxxx.

Conforme o referido B.O., os policiais militares foram informados


que os autores do delitos eram dois indivídios que portavam arma de fogo. Também foi
informado aos policiais militares a direçã o que os indivíduos haviam tomado, suas
características e que, além disso, já havia uma viatura adiantada patrulhando a
demanda.

Apó s receber as informaçõ es, os policiais militares estavam


digirindo-se ao local do suposto delito quando foram informados pelo COPOM que a
pró pria vítima, funcioná rio do local, havia perseguido os indivíduos até o bairro Poiares,
onde um deles, Tiago, possuía residência.

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Posterioriente, os policiais militares informaram que ao chegarem
na residência de Tiago fizeram um cerco com o apoio de outra viatura – a que estava
adiantada no patrulhamento - e que foi formada uma equipe tá tica, pretegendo-se com
um escudo.

Os policiais militares, entã o, adentraram a residência. Dentro da


residência, estes subiram uma lance de escada, encontrando Tiago e iniciram uma
tentativa de de negociaçã o verbalizada.

Acontece que, na tentativa de negociaçã o verbalizada, os policiais


militares informaram que Tiago efetuou três disparos que atingiram o escudo segurado
por um dos policias, o Cb. PM Lucca.

Foi informado no B.O que, Lucca, em REVIDE, teria efetuado um


disparo em direçã o a Tiago e que, em seguida, o policial Marcondes também teria
efetuado um disparo em direçã o a Tiago. Este caiu no chaõ e, posteriormente, os dois
policiais se dirigiram até Tiago, o desarmaram e perceberam que este fora atingido pelos
dois disparos e ainda apresentava sinais vitais. Tiago, supostamente, foi socorrido pelos
pró pios policiais e levado ao pronto socorro, entretando, veio a ó bito.

O policial militar xxxxxxxxxxxxxxxxxx informou que nã o adentrou


a residência, mas sim, ficou do lado de fora fornecendo apoio a parte externa.

O policial militar xxxxxxxxxxxxxxxx afirma que Tiago já havia sido


preso anteriormente preso por ele também pela prá tica de roubo. Esta informaçã o
aliementa a dú vida da real motivaçã o da morte de Tiago, a vingâ ncia surge como uma
das hipó teses desta.

Tal versã o, porém, é contestada pelos familiares de TIAGO.

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Conforme relato de Ernandes, assistido por sua filha, seu filho
estava em casa no dia do ocorrido, localizada na Rua Dom Joã o, 138, Poiares, juntamente
com seu irmã o Mateus Pedro Silva. Foi informado que por volta das 11 horas da manhã
policiais militares teriam invadido sua residência a procura de seu filho.

Ernandes informa que os policiais militares quebraram portõ es e


cadeados no momento da invasã o, inclusive a porta do quarto de Tiago.

Ao se depararem com Tiago, conforme relata o pai da vítima, os


policiais militares supostamente o torturaram – foi informado a existência de vó mito no
chã o e sangue no parede – e posteriormente o executaram com dois disparos de arma de
fogo, levando o corpo já sem vida na viatura.

Ao saber do ocorrido, Ernandes e sua filha informaram que foram


à delegacia de polícia e ao hospital local Santa Casa e que, em nenhum destes dois locais,
obtiveram informaçõ es sobre Tiago. Foi narrado que só apó s 1h30 o corpo de Tiago
surgiu no Hospital Santa Casa.

Ernandes narrou que o irmã o de Tiago, já falecido, presenciou


todos os fatos na época do crime, além de seus vizinhos.

A mã e da vítima, xxxxxxxxxxxxxx, informou em termo de


declaraçõ es que por volta das 13h do dia 29/12/2009, uma viatura policial com seu filho
menor de idade, xxxxxxxxxxxxx, parou em frente a casa de sua filha, onde reside
atualmente.

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Foi informado que um policial militar disse que Oneide deveria
acompanhar seu filho menor de idade à delegacia e que seu outro filho, Tiago, estava
sendo levado por outra viatura, visto que ambos teriam praticado crime de roubo.

Oneide, entã o, entrou na viatura e dirigiu-se até a delegacia de


polícia. Chegando no local, esta foi informada de que seu filho, Tiago, teria sido levado ao
hospital e foi impedida de se dirigir até o local. A filha de Oneide, irmã de Tiago, apó s um
tempo chegou à delegacia informando que seu irmã o teria falecido.

xxxxxxxxxxxxxx, irmã o da vítima e atualmente falecido, informou em


termo de declaraçõ es que por volta das 11h30 do dia 29/12/2009 estava em seu quarto
dormindo quando foi surpreendido por policiais militares invadindo sua residência. Foi
informado que um dos policiais militares teria engatilhado uma arma de fogo e pedido
para que este sentasse no chã o e, posteriormente, teria perguntado onde estava Tiago.

Foi informado pelo irmã o da vítima que este estava no andar de cima
da casa, em seu quarto. Mateus informou que inicialmente eram dois policiais militares
que teriam entrado na residência.
Apó s informar a localizaçã o de seu irmã o, Mateus informou que os
policiais militeres o levaram pelo braço para fora da residência e que, neste momento,
vá rios policiais militares entraram na casa e foram em busca de Tiago. Foi informado,
ainda, que Mateus viu um os policiais militares ir até a viatura e pegar uma arma
cromada.

Mateus ouviu um barulho de portas quebrando além de quarto


disparos de arma de fogo, parecendo ser de armas diferentes. Um dos policiais militares
fez um comentá rio a Mateus nos seguintes termos “Seu irmã o é bravo, né?” e o mesmo
respondeu que nã o.

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Apó s tal ato, Mateus afirmou que viu quando os policiais militares
retiraram seu irmã o do interior da casa, estacionando a viatura de ré, na porta de
entrada da casa. Mateus afirmou que nã o conseguiu ver se seu irmã o estava ferido ou
nã o. Posteriormente, jogaram o corpo de seu irmã o na viatura e o levaram embora.

Um fato importante é que, Mateus, informou que um dos policiais o


pediu para afirmar que viu seu irmã o com uma arma de fogo, e o mesmo disse que nã o
faria isso, visto que era mentira.
Em laudo necroscó pico, está descrito que TIAGO foi alvejado por
2 (dois) disparos, um na região do hemitorax esquerdo e outro na região
masogastrica. Além disso, consta no referido laudo que ambos os projéteis nã o foram
localizados apesar de exaustiva procura.

Foi instaurado inquérito policial e inquérito policial militar para


averiguar melhor os fatos ocorridos e a conduta dos policiais militares.

Mesmo diante da pobreza investigató ria e das provas que nã o


confirmam a versã o do B.O., o Ministério Pú blico solicitou o arquivamento do inquérito
policial, por entender que os policiais militares teriam sido protegidos pela extinçã o da
punibilidade pela morte de Tiago.

Com a devida vênia, atuando-se desta maneira, deixou-se de dar


cumprimento efetivo à funçã o institucional do Ministério Pú blico de conduzir a
investigaçã o por meio da requisiçã o de providências faltantes para elucidar todas as
circunstâ ncias do ocorrido, conforme o disposto no artigo 129, VIII, da Constituiçã o
Federal, no artigo 26, IV da Lei nº 8.625/93 e no artigo 104, V da Lei Complementar
Estadual nº 734/93.

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O pleito do Ministério Pú blico foi acolhido pelo juiz, arquivando-se
os autos em 02 de agosto de 2010.

Outrora, no inquérito policial militar, foram ouvidos os policiais


que estavam no dia do ocorrido e um dos funcioná rios da loja que sofreu o roubo.

Acontece que, alguns detalhes intrigantes do IPM nº 20BPMI-


017/60/09 devem ser levados em consideraçã o neste momento.

Inicialmente, ambos os policiais militares que efetuaram disparos


de arma de fogo em Tiago afirmaram em seus depoimentos que o intuito foi o REVIDO,
entretanto, resta claro que o revide nã o pode ser confundido com a legítima defesa.

O revide tem significado muito distinto da legítima defesa,


enquanto esta se apresenta como reaçã o proporcional a uma injusta agressã o o revide se
apresenta como um sentimento de vingar ofensa sofrida, o que é inadmissível na
conduta de policiais militares.

Outra informaçã o de extrema relevâ ncia foi a resposta de um dos


questionamentos feitos durante o IPM. Foi questionada a seguinte informaçã o: “Quantas
ocorrências de resistência seguida de morte possuem cada PM envolvido diretamente
nos fatos (em conformidade aos registros existentes na Corregedoria da PM)?”. A
resposta foi surpreendente, o Cb. PM Marcondes já havia se envolvido em dois casos
anteriores, o que deixa claro que a prá tica é corriqueira.

O Inquérito Policial Militar também foi arquivado.

Esses sã o os fatos e provas que constam da versã o oficial dos


autos.

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Porém, é importante trazer ao conhecimento de V. Exa.
informaçõ es e documentos que nã o constaram da investigaçã o criminal comum.

Apesar de TIAGO estar identificado no B.O., seu pai Ernandes


somente ficou sabendo do ocorrido horas depois, a mã e da vítima e seus irmã os também
foram privados da realidade dos fatos na delegacia. Não houve qualquer tentativa por
parte da polícia ou de qualquer outra instância estatal para prestar
esclarecimentos aos familiares de TIAGO.

A morte de TIAGO foi um grande choque para a família, tendo em


vista que ele tinha boa relaçã o com todos. Sua morte trouxe imensurá vel abalo à sua
família, que sofre, até hoje, com o ocorrido.
Ernandes Pedro da Silva, pai de TIAGO, ficou muita abalado com a
morte de seu filho, o que fragilizou sua saú de. Apó s o ocorrido, este fez uma cirurgia
devido ao seu diagnó stico com câ ncer de pró stata, além disso, toma remédios
controlados até hoje devido problemas de depressã o.
Luciene Marques da Silva, irmã de TIAGO, também ficou muito
abalada com a morte de seu irmã o, tendo de passar por diversos médicos: psicó logos,
psiquiatras e neurologistas.
Em razã o da morte e das falhas na apuraçã o das circunstâ ncias
envolvidas e discorridas acima, bem como da negligência estatal na localizaçã o dos
familiares da vítima, fazem jus os autores a indenizaçã o pelos danos sofridos, de acordo
com as regras probató rias do processo civil, diferentes das do processo penal diga-se,
conforme adiante se especificará .

2. DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO PELO HOMICÍDIO

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Excelência, antes de mais nada, pede-se vênia para reproduzir o
§6º do art. 37 de nossa Constituiçã o Federal:

“§6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.

A primeira premissa a ser colocada é esta. O Estado é


objetivamente responsável pelos danos causados a indivíduos por seus agentes. A
responsabilidade, portanto, independe da existência de dolo ou culpa por parte do
agente estatal.

Assim, os autores fazem jus a uma indenizaçã o pelos danos


materiais e morais que sofreu, oriundos da morte de TIAGO.

Todos os requisitos necessá rios para que restasse caracterizada a


responsabilidade objetiva do Estado estã o presentes: i) consumaçã o do dano; ii) açã o
praticada por agente estatal; iii) vínculo causal entre o evento danoso e o
comportamento estatal e iv) ausência de qualquer causa excludente de que pudesse
eventualmente decorrer a exoneraçã o da responsabilidade do Estado.

Vamos a eles.

A consumaçã o do dano é facilmente constatada. A certidã o de


ó bito de TIAGO determina a causa da morte como hemorragia interna de tó rax e
abdó men por projétil de arma de fogo (homicídio)”. É claro, portanto, que a morte foi
consequência de ferimentos por disparos de arma de fogo.

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Em relaçã o à a açã o ter sido praticada por agente estatal, os
pró prios policias militares, no B.O., confessam que quem realizou os disparos foram os
policiais militares Roldolfo Geraldo Marcondes e Cassiano Carlos Guagliano de Lucca.
Além disso, os pró prios policiais que efetuaram os disparos confessaram o fato.

Diante disso, pode-se deduzir que TIAGO foi morto em razão de


disparo de arma de fogo efetuado por policiais militares do Estado de São Paulo.

Assim, se TIAGO acabou morto (evento danoso) em decorrência


de disparo de arma de fogo desferido por agente estatal, a relaçã o causal entre a açã o do
agente (disparo de tiro de arma de fogo) e o dano (morte de TIAGO) é clara, dispensando
maiores digressõ es.

Dessa forma, preenchidos os requisitos e caracterizada no caso


concreto a responsabilidade civil objetiva do Estado, de rigor a procedência da demanda.

Somente poderia a presente açã o ser julgada improcedente caso a


Ré venha a comprovar causa excludente da responsabilidade civil.

Primeiramente, necessá rio deixarmos claro que o fato de o


inquérito policial e o inquérito policial militar que investigavam eventual homicídio e a
conduta dos policiais ter sido arquivado em nada afeta a jurisdiçã o civil, ainda que o
magistrado tenha entendido que os policiais teriam agido em legítima defesa ou estrito
cumprimento do dever legal.

Isso porque o Superior Tribunal de Justiça tem entendimento


dominante (vide STJ, 2ª Turma, REsp 1266517/PR, Rel. Mauro Campbell Marques,
04/12/2012) de que quando se apura danos causados por agentes estatais a terceiros,
como no caso em aná lise, em que discutimos o dano ao genitor, e a irmã de TIAGO, em

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razã o da morte deste, a regra do artigo 65 do Có digo de Processo Penal deve ser
mitigada, eis que a reponsabilidade civil do Estado, por expressa disposição
constitucional, é objetiva, sendo despicienda a análise do elemento subjetivo
daquele que causou o dano. A busca por sua “culpa” (lato sensu), portanto, é
irrelevante.

Dessa forma, o reconhecimento, em sentença criminal, de causa


excludente de ilicitude – entra elas a legítima defesa – nã o afastaria o dever de o Estado
indenizar os danos provocados por seu agente, já que a aná lise do elemento subjetivo do
agente, embora fundamental na esfera criminal para demonstraçã o da legítima defesa, é
completamente desnecessá ria na esfera cível, notadamente em açã o de indenizaçã o, em
razã o da responsabilidade civil estatal objetiva.

É este o entendimento do colendo Superior Tribunal de Justiça


sobre o tema:

ADMINISTRATIVO – RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO -


RECURSO ESPECIAL - ALÍNEAS "A" E "C" - ART. 65 DO CPP - ART.
160, I E II, DO CC/16 - TESE DA IRRESPONSABILIDADE CIVIL DO
ESTADO EM RAZÃ O DO ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER
LEGAL DE SEUS AGENTES – NÃ O-APLICAÇÃ O – FATO DO
SERVIÇO – NEXO CAUSAL - DANO - CONFIGURAÇÃ O – DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL - AUSÊ NCIA DE SIMILITUDE FÁ TICA
ENTRE ACÓ RDÃ OS RECORRIDO E PARADIGMA.
1. A questã o federal está em saber se, absolvidos os agentes da
polícia no juízo criminal em razã o de causa excludente de ilicitude
– no estrito cumprimento do dever legal (art. 65, CPP) –, pode ser
o Estado demandado em razã o do dano causado (homicídio) a
herdeiros da vítima, existindo, como causa de pedir, a
responsabilidade objetiva estatal – fato do serviço.
2. Entendimento do TJRO: "Entretanto, na matéria de reparação do
dano, deve-se distinguir bem entre a ilicitude
(objetiva) do fato e a responsabilidade (subjetiva) do autor do fato
ou de terceiro [...]. Também é irrelevante que o fato tenha sido
praticado no estrito cumprimento do dever legal ou no exercício

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regular do direito quando a lei civil exige reparação. Em todas essas
hipóteses, não se discute mais a existência da excludente de ilicitude
(há nessa parte coisa julgada), mas não se impede a propositura da
ação civil objetivando a reparação do dano." (fls. 398/397)
3. Realmente, a sentença absolutó ria fundada em excludente de
ilicitude repercute sobremaneira no juízo cível, a teor do art. 65
do CPP. Entretanto, a repercussã o integral só acontece quando se
está diante da responsabilidade civil subjetiva, hipó tese bem
diversa dos autos. Entendimento doutriná rio e jurisprudencial
(REsp 111843/PR, Rel. Min. JOSÉ DELGADO)
4. Nã o configurada a culpa exclusiva da vítima, pois tal hipó tese
foi descartada na segunda instâ ncia com a aná lise das provas,
impossível chegar a conclusã o diversa que nã o a da ausência de
vulneraçã o do acó rdã o recorrido aos artigos 65 do CPP e 160 do
CC/16. Também nã o se desincumbiu a recorrente de comprovar a
inexistência do nexo causal apto a ensejar sua irresponsabilidade,
imunizando, portanto, o acerto do acó rdã o recorrido na
compreensã o da matéria e aplicaçã o do direito à causa.
5. Alínea "c". Divergência nã o configurada. O acó rdã o recorrido
trata de responsabilidade objetiva por ato estatal em razã o da
impossibilidade de se eximir o Estado da responsabilidade por ato
de seus agentes no estrito cumprimento do dever. Já o paradigma
trata de hipó tese diversa, qual seja, a nã o configuraçã o de todos os
pressupostos da responsabilidade estatal em razã o da legítima
defesa de seus agentes.
Recurso especial conhecido em parte e improvido.
(STJ, 2ª Turma, REsp 884.198/RO, Rel. Min. Humberto Martins.
Julg. 10/04/2007)

Aliá s, a liçã o de Carolina Bellini Arantes de Paula mostra com


clareza as diferenças entre as causas que excluem a responsabilidade civil quando ela é
subjetiva e objetiva:

Ao considerar o â mbito dos pressupostos da responsabilidade


civil subjetiva, que engloba a açã o ou omissã o culposa do agente, o
nexo causal entre a conduta culposa do agente e o dano, bem
como a verificaçã o do dano, a esfera das causas de
irresponsabilidade abrange: (I) as justificativas, que ilidem a
ilicitude do ato, também denominadas causas de isençã o, como a
legítima defesa, o exercício regular do direito e o estado de

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necessidade; (II) a ausência de culpabilidade; e (III) as
excludentes do nexo causal.
Assim, o espectro da defesa de eventual responsá vel
subjetivamente é amplo, podendo ser comprovada a sua
inimputabilidade, caso se prove uma das justificadoras, ao ser
impugnada a sua culpabilidade, cujo ô nus da prova é geralmente
da vítima, ou, ainda, provar que nã o foi a causa do dano,
comprovado quaisquer das excludentes do nexo causal.
Já na seara da responsabilidade civil objetiva, as causas de irresp
onsabilidade possuem seu campo de exercício restrito ao nexo
causal entre a conduta e o dano, por nã o serem pressupostos da
responsabilidade civil objetiva a ilicitude ou a culpabilidade do
ato.
Os meios de defesa do responsá vel objetivamente restringem-se a
provar uma das excludentes do nexo causal, limitando-se a
demonstrar que nã o foi a causa do fato, açã o ou omissã o
ensejadora do dano que lhe é atribuído.
(...)
De fato, para afastar a responsabilidade (objetiva) do agente
imputado, deverá ser provado que o resultado danoso é fruto de
uma causa estranha à sua atividade ou à s coisas sob sua guarda;
ou seja, ou o acusado deverá identificar e provar que a causa
eficiente do dano é completamente alheia e exterior à sua
atividade, pessoa ou coisa sob sua guarda.
(...)
O rigor da responsabilidade civil objetiva, conforme já foi
apresentado em capítulos anteriores, advém da ausência da
apreciaçã o da voluntariedade do agente, que é responsá vel pelos
efeitos de atividades, fatos ou coisas pelo mero nexo causal destes
com o dano advindos deles. Portanto, as fronteiras de sua
responsabilidade encontram-se no nexo causal e sã o traçadas
pelas excludentes. (grifo nosso)
(As excludentes de Responsabilidade Civil Objetiva. Sã o Paulo:
Atlas, 2007, pp. 88/90)

Podemos concluir, entã o, que, caso a responsabilidade do Estado


fosse subjetiva, fatalmente a demonstraçã o pelo réu de legítima defesa por parte de seu
agente levaria à improcedência desta açã o. Contudo, sendo a responsabilidade do
Estado objetiva, é completamente irrelevante esta demonstração.

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Além do que, é bom que frisemos, culpa exclusiva da vítima não
houve. Até porque, os policiais sã o treinados para enfrentar situaçã o de perigo a fim de
obter os menores gravames possíveis à populaçã o. No caso concreto, contudo, a conduta
gerou o maior gravame possível, ou seja, a morte de TIAGO.

Ademais, não há qualquer evidência de que TIAGO de fato


deu causa para que MAIS DE UM policial militar tivesse efetuasse disparos de
arma de fogo contra este, visto que se encontrava sozinho no momento da ação,
não apresentando grande perigo eminete. Os policias militares estavam usando
escudo de proteção balística.

Outrossim, nã o podemos nos esquecer das regras acerca do ônus


da prova.

No processo civil, diferentemente do processo penal, há regras


expressas sobre a distribuiçã o do ô nus da prova. In verbis:

Art. 333.  O ônus da prova incumbe:


        I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
        II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor.

Deste modo, a parte que nã o se desincumbir de seu ô nus


probató rio, verá , ao final, a açã o julgada contra seus interesses.

Nesta açã o cível, como o Estado é que tem o ô nus de comprovar


excludente de responsabilidade, caso nã o a demonstre de maneira cabal, durante a
instruçã o, nã o haverá outra soluçã o que nã o a procedência da demanda.

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Nesse sentido é o tranquilo posicionamento de nossa
jurisprudência:

“A efetivaçã o de disparos de arma de fogo contra jovens que


ouviam mú sica nas proximidades da residência do autor justifica a
condenaçã o ao pagamento de indenizaçã o por danos morais.
Desnecessidade de comprovaçã o do prejuízo. Dano moral in re
ipsa. 3. A prova da alegada ameaça iminente cabe ao réu, segundo
o que estabelece o art. 333, inciso II, do CPC, ô nus do qual nã o se
desincumbiu, sequer minimamente. 4. Indenizaçã o a título de
dano moral mantida, eis que em consonâ ncia com as
peculiaridades do caso, bem como assegura o cará ter repressivo e
pedagó gico da indenizaçã o, sem poder ser considerada elevada a
configurar enriquecimento sem causa da parte autora.
DESPROVERAM A APELAÇÃ O E O RECURSO ADESIVO. (Apelaçã o
Cível Nº 70042736488, Quinta Câ mara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Isabel Dias Almeida, Julgado em 31/08/2011)”

Sendo o ô nus da prova, portanto, do réu, temos que fatalmente a


açã o será julgada procedente, eis que jamais conseguirá comprovar, de maneira
cabal, a existência da legítima defesa por parte do policial.

Observe-se que o Relator Especial de execuçõ es extrajudiciais,


sumá rias ou arbitrá rias, Dr. Philip Alston, da ONU, aponta que “Os policiais podem atirar
para matar apenas quando ficar claro que alguém está prestes a matar outra pessoa (de
modo que a força letal seja proporcional) e quando nã o existir nenhum outro meio
possível de deter essa pessoa (de modo que a força letal seja necessá ria).”1

1
Addendum Missão ao Brasil, A/HRC/11/2/Add.2, de 29 de agosto de 2008, tradução não oficial pelo NEV/USP, disponível
em www.nevusp.org/downloads/relatoriophilip.doc

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No caso em tela, claramente se violou a obrigaçã o de preservaçã o
da vida, nã o havendo justificativa para o ocorrido.

Nã o há informaçõ es concretas no Inquérito Policial, nem no


Inquérito Policial Militar, sobre o socorro prestado a TIAGO apó s ter sido atingido pelos
disparos. Os policiais militares afirmam de forma genérica que realizaram o socorro a
Tiago assim que este foi baleado, porém, nã o há nada concreto que prove o alegado.

Ainda, é importante ressaltar que Tiago estava SOZINHO no


quarto quando os policiais invadiram sua residência. Além disso, é injustificá vel que dois
policiais munidos com ESCUDO para sua proteçã o estivessem em iminente perigo com a
presença da vítima, sendo assim, nada justifica a açã o policial.

Assim, não comprovada com juízo de certeza qualquer


excludente de ilicitude da responsabilidade objetiva, a ação deverá ser julgada
procedente.

Dessa forma, deve o réu Estado de Sã o Paulo ser condenado a


indenizar os autores.

3. DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO ESTADO PELA INSUFICIENTE APURAÇÃO


DO HOMICÍDIO E A NÃO-PUNIÇÃO DOS RESPONSÁVEIS

É de se constatar no presente caso, pelo que já foi relatado, que a


investigaçã o sobre o crime que vitimou TIAGO foi extremamente precá ria e insuficiente.

De fato, vá rios fatos e detalhes que demonstram uma série de


falhas da atividade de polícia judiciá ria, seguidas da inércia do Ministério Pú blico que

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nã o ordenou diligências complementares, limitando-se a homologar o parco trabalho da
polícia civil e da polícia científica.

Nã o se realizaram diligências no sentido de localizar testemunhas


oculares dos fatos, apesar dos autores, principalmente o pai da vítima, ter afirmado que
os vizinhos presenciaram todos os fatos.

Além disso, nã o foram realizadas buscas para averiguardar se


haviam câ meras pró ximas ao local que poderiam ter presenciado a açã o.

O Ministério Público pediu o arquivamento do inquérito


policial, e do Inquérito Policial Militar, sem requisitar diligências investigativa
para complementar as perícias ou para novas provas. Tal, inclusive, em razã o da sua
pouca intervençã o desde o início do procedimento, caso em que atuaria na sua funçã o
constitucional de controle externo da atividade policial.

Em suma, é forçoso afirmar que estamos diante de investigaçõ es


mal conduzidas, as quais nã o têm o condã o de esclarecer as circunstâ ncias exatas da
morte.

Se a morte em si já caracteriza um dano indenizá vel, também as


falhas nas investigaçõ es implicam num dano na esfera de direitos do autor, uma vez que
fere o direito à verdade do mesmo.

Com a devida vênia, essas “falhas” na investigaçã o da morte de


TIAGO escancaram que a Polícia Civil do Estado de Sã o Paulo e o Ministério Pú blico nã o
tiveram interesse em elucidar este caso.

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Dessa forma, foi retirado dos autores o direito à verdade, o qual
decorre do direito de proteçã o à vida, impondo-se como sinal de respeito aos mortos e
aos vivos. Esse é o entendimento de André de Ramos Carvalho:

“A proteçã o à vida abarca também o direito à verdade sobre os


fatos que marcaram o fim da vida de uma pessoa. Nos diversos
casos submetidos à s cortes internacionais de Direitos Humanos
sobressaem as violaçõ es clandestinas do direito à vida, em
especial no caso dos desaparecimentos forçados ou fruto da açã o
dos “esquadrõ es da morte”. Muitas vezes é negado aos familiares
da vítima o direito à verdade sobre os fatos, restando sempre em
aberto o destino dos envolvidos. No plano americano, o caso
célebre sobre o direito à verdade é o Caso Bámaca Velásquez, no
qual a Corte IDH estabeleceu que “el derecho a la verdad, en
ú ltima instancia, se impone también en señ al de respeto a los
muertos y a los vivos”2

A Assembléia Geral da Organizaçã o dos Estados Americanos, em


sua Resoluçã o “O direito à verdade”, de 2006, reconheceu “o direito que assiste à s
vítimas de violaçõ es manifestas aos Direitos Humanos e violações graves ao direito
internacional humanitário, assim como às suas famílias e à sociedade, em seu
conjunto, de conhecer a verdade sobre tais violações da maneira mais completa
possível, em particular a identidade dos autores e as causas, os fatos e as circunstâ ncias
em que se produziram”3.

A Comissã o Interamericana de Direitos Humanos, por sua vez,


desenvolveu sua doutrina sobre o direito à verdade, com base nos fundamentos do
Direito Internacional dos Direitos Humanos, fundando-o na Declaraçã o Americana de
Direitos Humanos (artigo 1.1 – obrigaçã o de respeitar os direitos; 8.1 – acesso à justiça;
13 – liberdade de pensamento e expressã o e 25 – proteçã o judicial). Hoje, a comissã o

2
Manual Prático de Direitos Humanos Internacionais, ESMPU, Brasilia, DF, 2010, Coordenador: Sven Peterke, capítulo §16
- O direito à vida e a pena de morte- André de Ramos Carvalho , pag 247
3
Resolução AG/RES. 2175 (XXXVI-0/06), O direito à verdade, de 6 de junho de 2006

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define esse direito como o de “conhecer a verdade íntegra, completa e pública sobre
os fatos ocorridos, suas circunstâncias específicas e quem participou deles”4.

Em realidade a supressã o do direito à verdade estende-se, neste


caso concreto, à falta de comunicaçã o da lesã o aos autores, falha que também acaba por
violar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem, do lesionado e de seus
familiares, direitos que sã o inviolá veis segundo o artigo 5, X, da Constituiçã o Federal,
bem como o direito à informaçã o, previsto em seu artigo 5, XIV, XXXIII.

No Sistema Universal do Direito Internacional dos Direitos


Humanos, a Resoluçã o 1989/65, do Conselho Econô mico e Social da ONU5, já citada,
prevê que necessidade da comunicaçã o imediata do ó bito à família, por parte dos
Estados: 16. (…) Uma vez determinada a identidade do falecido, o óbito será
notificado, informando-se imediatamente a respectiva família. O corpo da pessoa
falecida ser-lhe-á devolvido uma vez concluída a investigaçã o.

Pontue-se por fim que cabe aos Estados o dever de buscar a


identidade dos cadáveres das pessoas assassinadas, fornecendo a seus familiares
a ajuda para recuperá-los, identificá-los e sepultá-los segundo o desejo desses
familiares, conforme dispõ e ainda a garantia da SATISFAÇÃ O que lhes compete
assegurar à s vítimas de violaçõ es manifestas de normas internacionais de direitos
humanos, item 22, c, da Resoluçã o 60/147 da Assembleia Geral da ONU.6

O Estado, portanto, deve ser responsá vel por reparar a violaçã o


aos direitos dos autores, no três eixos acima apontados (responsabilidade pela
lesão, pelas falhas na investigação e pela falta de busca ativa da família para

4
Informe n. 37/00, de 13 de abril de 2000, caso 11.481, Monsenhor Oscar Romero.
5
Princípios Relativos A Uma Prevenção Eficaz E À Investigação Das Execuções Extrajudiciais, Arbitrárias E Sumárias
(ECOSOC, Res. 1989/65, de 24 de maio de 1989
6
http://direitoshumanos.gddc.pt/3_6/IIIPAG3_6_29.htm, acesso em 04/06/2014.

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entrega do corpo identificado), o que fará com que o valor da indenização por
dano moral seja fixada em valor superior ao que seria se estivéssemos diante
apenas do dano representado pela morte.

A desídia e falta de interesse demonstrada durante as


investigaçõ es da morte de TIAGO acaba por violar os direitos humanos dos autores,
como já mencionado, consistente no direito à Justiça, à verdade e à reparaçã o da
violaçã o, que, naquele â mbito penal, se daria através da busca da verdade real e da
puniçã o dos responsá veis, como veremos abaixo.

4. DA INDENIZAÇÃO

Com a violenta morte de TIAGO, sua família ficou extremamente


desestabilizada.

Tiago residia com seus familiares quando veio a ó bito, mas


especificamente, com seu pai, seus irmã os e sobrinhos. A família toda ficou
extremamente abalada com o fato.

Ernandes Pedro da Silva, pai da vítima, apó s o ocorrido, teve de


fazer uma cirurgia devido seu diagnó stico com câ ncer de pró stata e toma até hoje
medicamentos diversos em decorrência da depressã o constatada apó s a perda de Tiago.

xxxxxxxxxxxxx, irmã da vítima, também se encontra muito


debilitada e até hoje faz uso de medicamentos e passa por psicó logos, psiquiatras e
neurologistas.

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Ademais, os autores sofrem por nã o saberem as circunstâ ncias
exatas da morte de TIAGO. As omissõ es na investigaçã o lhes suprimiram, para sempre, o
direito à verdade.

A perda inflingida à família de TIAGO, já que nã o foi evitada,


merece, no mínimo, reparo pelo dano material e pelo dano moral sofridos, de
acordo com o art. 5º, inciso X da Constituiçã o Federal, in verbis:

“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem


das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação”

Para a aferiçã o do quantum a título de dano material, a legislaçã o


ordiná ria estipula que deve a indenizaçã o ser composta daquilo que foi perdido, bem
como daquilo que se deixou de ganhar, compreendendo, pois, o dano emergente e o
lucro cessante, cobrindo todo o dano patrimonial experimentado e a ser experimentado
pelos lesados. Dispõ e o art. 402 do Có digo Civil que:
“Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e
danos devidos ao credor abrangem, além do que efetivamente
perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar”.

O objetivo da indenizaçã o por dano material é a reconstituiçã o


total do estado anterior, “restitutio in integrum”.

Nesse sentido, o Có digo Civil é claro ao determinar ao menos o


direito dos familiares a receber uma pensã o alimentícia mensal, levando-se em conta a
duraçã o prová vel da vida da vítima, assim como o ressarcimento das despesas com seu
funeral:

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir


outras reparações:

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I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu
funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia,
levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

Outrora, importante citar que a jurisprudência do Eg. STJ


sedimentou o entendimento de que há uma PRESUNÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO NO
SUSTENTO DA FAMÍLIA DE BAIXA RENDA, sendo o pagamento da pensão devido
aos genitores do falecido:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃ O


ORDINÁ RIA. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. MORTE DE
DETENTO NO INTERIOR DE PRESÍDIO ESTADUAL. PRESUNÇÃO DE
CONTRIBUIÇÃO NO SUSTENTO DA FAMÍLIA DE BAIXA RENDA.
PENSÃO PÓS-MORTE EM FAVOR DOS GENITORES DA
VÍTIMA.POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STJ.
(...)
2. O recorrente, nas razõ es do recurso especial, somente impugnou a
condenaçã o ao pagamento da pensã o mensal, alegando a
impossibilidade de se transferir obrigaçã o personalíssima (prestaçã o
de alimentos do filho aos seus pais) para a Administraçã o Pú blica
Estadual, bem como pelo fato da condenaçã o estabelecer pensã o
mensal para os ascendentes de vítima falecida que nã o percebia
renda mensal.
3. A Corte de origem nã o transferiu para o ente pú blico a obrigaçã o
de pagar alimentos, pois fixou a pensã o mensal, com fundamento no
art. 948, II, do CC, como forma de indenização devida aos genitores
da vítima, em razã o da morte do detento em presídio estadual, já
que perderam o direito de serem auxiliados pelo filho em seu
sustento.
4. É pacífico o entendimento desta Corte Superior no sentido de
que é legítima a presunção de que existe ajuda mútua entre os
integrantes de famílias de baixa renda, ainda que não
comprovada atividade laborativa remunerada.
5. Recurso especial nã o provido.
(REsp 1258756/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 22/05/2012, DJe 29/05/2012) (grifo
nosso)

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O que foi materialmente perdido se compõ e ainda dos gastos com
o veló rio, transporte e sepultamento, mesmo que tais gastos nã o fiquem comprovados,
uma vez que se trata de gasto notó rio e inevitá vel:

“Os custos com o funeral sã o aqueles consequentes da morte e


ligados diretamente ao sepultamento, como o serviço funerá rio,
autó psia e etc., conforme o caso; veló rio; aquisiçã o e urna, flores,
coroa; igualmente a realizaçã o de cerimô nia de luto e a publicaçã o
do ó bito na imprensa, usualmente jornais. Caso não se logre
comprovar as despesas fúnebres, a jurisprudência tende a
fixa-la em cinco salários-mínimos, por se tratar de gasto
inevitável, pois o respeito à dignidade humana exige um
sepultamento merecedor de respeito.”
(Responsabilidade Civil Contemporâ nea: em homenagem a Sílvio
de Salvo Venosa/ Otá vio Luiz Rodrigues Junior, Gladston Mamed,
Maria Vital da Rocha. Sã o Paulo, Atlas, 2011).

A indenizaçã o pelos gastos deve ser fixada, seguindo-se a


jurisprudência, em cinco salários mínimos.
Já o que se deixou de ganhar consiste no ordenado que TIAGO
trazia para casa para contribuir no sustento da família.

Deste modo, tem-se que o quantum relativo ao que deixou de


ganhar deve ser composto por um salário mínimo mensal, no valor atual, a ser
destinado para Ernandes, seu pai, eis que este residia com o filho e era o destinatá rio
do salá rio de TIAGO.

Deste modo, a indenização por danos materiais deve ser fixada


em um salário mínimo mensal a ser pago à Ernandes, referente ao que se deixou
de ganhar com a morte de TIAGO. Este salá rio mínimo mensal deve ser pago até a data
em que TIAGO completaria 65 (sessenta e cinco) anos.

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Já a respeito do Dano Moral, a forma como ocorreu a morte de
TIAGO – extremamente violenta e sú bita –, bem como a que se desenvolveu a
“investigaçã o” da mesma – superficial, equivocada, inconclusiva –, somada à falta de
comunicaçã o estatal de seu ó bito, gerou, gera e gerará nos autores da açã o evidentes
sentimentos de dor, perda, saudade, angú stia, desproteçã o, injustiça, medo e revolta.

Tais sentimentos caracterizam os chamados danos morais,


aqueles danos provocados na alma, nas lembranças.

Esses danos, como quaisquer outros, merecem e necessitam ser


reconhecidos e reparados, para que a sensaçã o de impunidade, injustiça e prostraçã o
nã o se protraiam no tempo e retroalimentem os sentimentos já provocados pelo evento
lesivo original.

Ou seja, o reconhecimento e a reparaçã o dos danos morais


sofridos pelos autores servem, por si só , para minorá -los, embora jamais vá anulá -los ou
apagá -los; nã o reconhecê-los e nã o repará -los, ao contrá rio, vai agravá -los.

Por outro lado, o causador dos danos morais, no caso, o réu,


precisa ser responsabilizado pelos atos de seus agentes, responsabilizaçã o que terá o
condã o de ter que refletir sobre o comportamento passado e futuro de seus agentes e a
absoluta intolerâ ncia da sociedade e do Estado como um todo a eventos como esses.
A jurisprudência pá tria, com suporte em sucessivas
interpretaçõ es sistemá ticas do ordenamento jurídico, veiculadas por notó rios
doutrinadores, sedimentou o entendimento que acena para a plena reparabilidade dos
prejuízos emergentes dos danos imateriais, independentemente da existência de
reflexos patrimoniais do evento.

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O colendo Superior Tribunal de Justiça tem entendimento
consolidado de que é devida a indenizaçã o por dano moral, mesmo nos casos em que
nã o há comprovaçã o da dor e sofrimento, quando houver ofensa à dignidade da pessoa
humana.

Recente julgamento neste sentido foi publicado no informativo de


jurisprudência nº 513 daquela Corte, datado de 6 de março de 2013:

DIREITO CIVIL. DANO MORAL. OFENSA À DIGNIDADE DA PESSOA


HUMANA. DANO IN RE IPSA.
Sempre que demonstrada a ocorrência de ofensa injusta à
dignidade da pessoa humana, dispensa-se a comprovação de
dor e sofrimento para configuração de dano moral. Segundo
doutrina e jurisprudência do STJ, onde se vislumbra a violaçã o de
um direito fundamental, assim eleito pela CF, também se
alcançará , por consequência, uma inevitá vel violaçã o da dignidade
do ser humano. A compensaçã o nesse caso independe da
demonstraçã o da dor, traduzindo-se, pois, em consequência in re
ipsa, intrínseca à pró pria conduta que injustamente atinja a
dignidade do ser humano. Aliá s, cumpre ressaltar que essas
sensaçõ es (dor e sofrimento), que costumeiramente estã o
atreladas à experiência das vítimas de danos morais, nã o se
traduzem no pró prio dano, mas têm nele sua causa direta.
REsp 1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
4/12/2012.

Ou seja, o dano moral, quando fundado em alguma violaçã o a


direito fundamental é presumido, sendo desnecessá ria (porque impossível) a prova
efetiva da ocorrência dos danos.

Como se percebe, o direito dos autores à indenizaçã o por danos


morais é inquestioná vel sob o pá lio nã o só das diretrizes jurisprudenciais supracitadas,
como, também, da garantia consagrada no já mencionado inciso X, do artigo 5º da

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Constituiçã o Federal, que sedimentou em si toda a tendência pretoriana que informava a
matéria.

Resta-nos, agora, estabelecer os critérios para a estipulaçã o do


quantum inerente a vindicada reparaçã o.
Salienta-se, neste passo, que o objetivo almejado é, além de buscar
a reparaçã o patrimonial pela dor absurda que sua família sofreu com a morte do ente
querido, a pretensão de penalização dos causadores do evento do qual foi vítima
TIAGO.

Maria Helena Diniz em sua obra Curso de Direito Civil Brasileiro,


ao tratar do dano moral, ressalva que a reparaçã o tem sua dupla funçã o, a penal
"constituindo uma sanção imposta ao ofensor, visando a diminuição de seu patrimônio,
pela indenização paga ao ofendido, visto que o bem jurídico da pessoa (integridade física,
moral e intelectual) não poderá ser violado impunemente", e a função satisfatória ou
compensatória, pois "como o dano moral constitui um menoscabo a interesses jurídicos
extrapatrimoniais, provocando sentimentos que não têm preço, a reparação pecuniária
visa proporcionar ao prejudicado uma satisfação que atenue a ofensa causada." (7º
v. 9ª ed., Saraiva).

Assim, o quantum deve, pelo Juiz e só por ele, ser contemplado à


luz da equanimidade e a par de critérios que, além de uma soluçã o ponderada, consigam
satisfazer o dogma constitucional da mais completa indenizaçã o.

Nã o sã o ignoradas pelo autor as dificuldades prá ticas para se


estabelecer o montante indenizató rio. Porém, deve-se destacar a força motriz que os
impulsiona, cingida na busca de um quantum reparató rio que sirva como fator de
desestímulo, para que malefícios como os aqui retratados nã o mais ocorram.

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Ou seja, a fixaçã o de um valor indenizató rio ínfimo, além de nã o
acalentar, ao menos um pouco, o sofrimento dos familiares do falecido, deixaria de
culminar na necessá ria reflexã o do Poder Pú blico sobre a urgente necessidade de
reformulaçã o da política pú blica de segurança, sendo um de seus pilares a melhor
formaçã o e treinamento dos policiais.

Frente a essas dificuldades na fixaçã o do quantum indenizató rio,


doutrina e jurisprudência criaram fó rmulas prá ticas, extraídas de casos semelhantes, e
que servem como diretrizes ao juiz no momento do arbitramento do quantum
indenizató rio.

Carlos Alberto Bittar, dentre tantos outros, ensina:

“(...)a indenização por danos morais deve traduzir-se em


montante que represente advertência ao lesante e à
sociedade de que se não aceita o comportamento assumido,
ou o evento lesivo advindo.
(...)
Consubstancia-se, portanto, em importâ ncia compatível com o
vulto dos interesses em conflito, refletindo-se de modo
expressivo, no patrimônio do lesante, a fim de que sinta,
efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do
resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia
economicamente significativa, em razã o das potencialidades do
patrimô nio do lesante.”
(Reparação Civil por Danos Morais, RT, Sã o Paulo, 1993, pá gs.
215/220)

A doutrina de vanguarda, portanto, assume, como elemento


importantíssimo na fixaçã o do quantum indenizató rio, que seja ele um desestímulo a
novas prá ticas semelhantes.

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Vale frisar que há muito o nível social dos lesados nã o é mais
entendido majoritariamente como uma das circunstâ ncias a serem analisada pelo
julgador na fixaçã o da indenizaçã o. A ideia de que à queles que pertencem à s classes
menos favorecidas economicamente devem receber uma indenizaçã o menor do que os
integrantes das elites demorou para ser rechaçada, eis que completamente descabido.

Ora, peguemos dois exemplos: o do autor e seu filho, que


pertencem à s camadas mais pobres da sociedade, e tiveram seu ente querido
assassinado, e o de uma família rica, que desgraçadamente também teve um ente morto
de maneira semelhante. Pela ló gica acima – há muito abandonada, embora alguns ainda
entendam desta forma – a indenizaçã o referente ao dano moral seria fixada em um valor
maior para a família rica do que para a pobre. Como o dano moral é uma reparaçã o pelo
sofrimento suportado, como poderíamos explicar que a indenizaçã o de uma é maior que
a da outra? Será que o sofrimento da família rica seria maior do que o suportado pelo
autor da açã o?

Por ó bvio que nã o. Sofrimento pela morte de um filho ou de um


pai é sofrimento da mesma forma entre ricos e pobres.

Assim, independentemente da classe econô mica, deve-se analisar


na fixaçã o do quantum indenizató rio primordialmente a conduta daquele que praticou a
lesã o ao bem jurídico protegido e a extensã o do dano causado. Quanto mais reprová vel
sua conduta e maior o dano, maior deverá ser a indenizaçã o.
Outrossim, para nortear a fixaçã o da indenizaçã o neste caso
concreto, há alguns parâ metros jurisprudenciais que podem ser utilizados:

- R$1.140.000 (um milhã o, cento e quarenta mil reais) para


policial baleado em serviço, com danos permanentes (REsp

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797.989/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA
TURMA, julgado em 22/04/2008, DJe 15/05/2008);
- R$ 500.000 (quinhentos mil reais) pela tortura e morte de
cidadã o, ocorrida durante a 2ª Guerra Mundial (REsp 797.989/SC,
Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado
em 22/04/2008, DJe 15/05/2008).
- 2.000 (dois mil) salá rios mínimos pela morte de filho perpetrada
por agentes do Estado incumbidos de zelar pela Segurança
Pú blica.

Pela semelhança deste ú ltimo com o caso concreto, vale a pena a


transcriçã o de sua ementa:
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.
DANOS MATERIAIS E MORAIS. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
- Quando o quantum fixado a título de indenizaçã o por danos
morais se mostrar irrisó rio ou exorbitante, incumbe ao Superior
Tribunal de Justiça aumentar ou reduzir o seu valor, nã o
implicando em exame de matéria fá tica. Precedentes deste
Sodalício.
- A perda precoce de um filho é de valor inestimável, e
portanto a indenização pelo dano moral deva ser
estabelecida de forma eqüânime, apta a ensejar indenização
exemplar.
- Ilícito praticado pelos agentes do Estado incumbidos da
Segurança Pública. Exacerbação da condenação.
- Recurso desprovido.
Indenizaçã o por dano moral mantida em R$ 486.000,00
(quatrocentos e oitenta e seis mil reais), 2.000 (dois mil)
salários mínimos.(REsp 331.279/CE, Rel. Ministro LUIZ FUX,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/04/2002, DJ 03/06/2002, p.
150)

Ora, tratando-se de caso semelhante, onde a indenizaçã o fixada


fora de 2000 (dois mil) salá rios mínimos, temos que a mesma ló gica pode ser usada
neste caso concreto.

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Veja-se que, conforme vimos, as circunstâ ncias primordiais para
decidir o valor da indenizaçã o sã o a aná lise da conduta de quem praticou o dano e a
extensã o do dano causado.

Ora, a conduta praticada pelos agentes do réu é extremamente


reprová vel. TIAGO foi morto por policial. A sociedade nã o tolera mais a violência policial
que a cada ano mais cresce, acrescida da indiferença estatal no seu enfrentamento,
conforme mostramos no desenvolver desta inicial, o que torna a conduta muito
reprová vel.

Por outro lado, nada precisamos acrescentar quanto à extensã o do


dano. A conduta do agente do réu Estado de Sã o Paulo causou o maior dano possível, eis
que TIAGO perdeu a vida, assassinado por policiais.

Ademais, In casu, também devem ser levado em conta a


circunstâ ncia agravante de que houve inú meras falhas na inevstigaçã o acerca da morte
de tiago.

Ademais, se fosse possível mensurar o sofrimento, é certo que a


dor de ter o filho morto por negligência de agentes do Estado, remunerados pelos
pró prios pais, vizinhos e demais contribuintes, é ainda maior.

O fato é que, somados os sofrimentos, sua existência torna-se mais


que palpá vel, bastando-nos para essa percepçã o um mínimo de alteridade – capacidade
de nos colocarmos no lugar do autor.
A morte de TIAGO surrupiou de forma irreversível o bem maior de
nosso ordenamento jurídico e inverteu o curso natural da vida, trazendo a morte para
quem é jovem e o calvá rio da vida para seus pais, companheira e filho que continuam

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vivos, marcados para sempre pelo sofrimento, tendo retirado a possibilidade de amparo
material e afetivo deles por BRUNO.

Assim, levando-se em consideraçã o os critérios supra


estabelecidos; jamais se olvidando do sofrimento suportado pelos autores com a morte
prematura de BRUNO; e considerando-se, ainda, o objetivo maior deste pleito, que é o de
evitar que novas barbá ries se repitam, fica aqui vindicado, como sendo suficiente e
adequado à reparaçã o das pungentes dores experimentadas pelo autor, a quantia
equivalente a 2.000 salários mínimos, valores ínfimos diante do destinado à Segurança
Pú blica no orçamento estadual.

Tal verba indenizató ria, por sua natureza alimentar, deve mesmo
ser paga de uma só vez, consoante iterativo entendimento pretoriano a respeito da
matéria, afinado, aliá s, com o disposto nos arts. 33 e 100 do Ato das Disposiçõ es
Transitó rias da CF/88, representarem a posiçã o prevalente na doutrina e na
jurisprudência sobre o assunto.

8. DOS PEDIDOS:

Ante o exposto, requer-se a citaçã o do réu, na pessoa de seu


representante legal, para, querendo, oferecer resposta, sob pena de revelia.
Ademais, requer-se seja julgada procedente a presente ação,
para condenar o réu:

a) ao pagamento, a título de danos materiais, do


pensionamento mensal de 01 (um) salá rio mínimo ao autor Ernandes, até a data e que
TIAGO completaria 65 anos de idade;

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b) ao pagamento, à título de danos morais, da quantia de 2.000
(dois mil) salá rios mínimos aos autores, devendo, por sua natureza alimentar, ser paga
de uma só vez, recordando-se que tal valor é devido pela morte de BRUNO e pelas
sucessivas falhas na investigaçã o;

Outrossim, requer-se:

a) a concessã o aos autores dos benefícios da assistência judiciá ria


gratuita, por estar caracterizada hipossuficiência econô mica;

b) a sujeiçã o do réu aos ô nus da sucumbência, com reversã o dos


honorá rios advocatícios para o Fundo Especial de Despesas da Escola da Defensoria
Pú blica do Estado, nos termos do art. 3º, inciso II da Lei estadual nº 12793/08;

c) seja concedida a possibilidade de provar o alegado por todos os


meios de prova em direito admitidos.

d) com amparo no artigo 128, inciso I, da Lei Complementar


Federal nº 80/94, que a Defensoria Pú blica seja pessoalmente intimada através de seus
ó rgã os de execuçã o de todos os atos praticados no feito, contando-se-lhe em dobro os
respectivos prazos.

Com base no artigo 425, inciso VI, do Có digo de Processo Civil,


declara-se que sã o autênticas as có pias dos documentos que instruem a presente açã o.

5 – DO VALOR DA CAUSA:

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Atribui-se à presente causa, para efeitos fiscais, o valor de R$
2.294.713,00.

Termos em que, pede deferimento.

Sã o Paulo, 05 de maio de 2017.

Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXX

ROL DE DOCUMENTOS:

Doc. 01 – Certidã o de ó bito de xxx;


Doc. 02 - cédula de identidade RG de xxxx;
Doc. 03 - cédula identidade RG de xxxxx;
Doc. 04 – cédula de identidade RG de xxxx;
Doc. 05 – Có pias do Inquérito Policial e Inquérito Policial Miliar;
Doc. 06 – Boletim de Ocorrência;
Doc. 07 – Declaraçã o de hipossuficiência;
Doc. 08 - ?

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