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DIREITO AGRÁRIO - ATIVIDADE 3

Paulo Fernando Mandim Morais


Gabryella Tayná Freitas Souza

A propriedade rural que não cumprir sua função social é passível de


desapropriação para fins de reforma agrária (CASSETTARI, 2015). Destaca-se,
entretanto, que, consoante art. 185 da Constituição Federal e art. 4º da Lei 8.629 da
Constituição Federal, é insuscetível de desapropriação o imóvel rural classificado
como pequeno, entre 1 e 4 módulos fiscais, e médio, entre 4 e 15 módulos fiscais
(MARQUES, 2015).
Assim, para que seja juridicamente possível uma ação de desapropriação
para fins de reforma agrária da propriedade de Rômulo deve-se avaliar se ela é
suscetível à desapropriação pelo seu tamanho e se houve o descumprimento de
algum dos requisitos da função social da propriedade.
Encontra-se no texto a informação de que a propriedade rural de Rômulo
compreende 50 mil hectares.
O art 186 da Constituição Federal e o art. 9º da Lei 8.629/93 dispõe que a
função social é cumprida quando a propriedade atende, simultaneamente:
aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente; observância das disposições que
regulam as relações de trabalho; exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores (MARQUES, 2015).
O aproveitamento racional e adequado corresponde, segundo Marques
(2015) à produtividade, avaliada pelo grau de utilização e de eficiência na
exploração, fixado, respectivamente, em 80% e 100%. Dessa forma, à medida que
Rômulo foi premiado como produtor rural em razão da alta produtividade e da boa
relação/lucros no mercado internacional de commodities, o requisito se encontra
preenchido.
Acerca da utilização dos recursos naturais assevera Cassetari (2015) que
será adequada quando a exploração respeita a vocação natural da terra. A
preservação do meio ambiente se dá, por sua vez, pela manutenção das
características próprias do meio natural e da qualidade dos recursos ambientais, nos
termos do art. 9º, §3º da Lei 8.629/93 (BRASIL, 1993). Em virtude da propriedade
ser cortada por uma reserva legal e dois rios, preenche-se os requisitos.
No que diz respeito à observância das disposições que regulam as relações
de trabalho, isto é, na obediência às leis trabalhistas referentes aos contratos de
trabalho e disposições sobre contratos de arrendamento e parceria rurais
(MARQUES, 2015), a menção à empregabilidade e não disposição sobre violações
às leis do trabalho importa na subsunção ao requisito.
O requisito da exploração que favorece o bem-estar de proprietários e de
quem trabalha se refere, de acordo com Cassettari (2015), à propriedade que com
sua produtividade atende as necessidades básicas dos que trabalham com a terra.
Dessa forma, pela premiação por alta produtividade recebida por Rômulo, entende-
se cumprido o requisito.
Pelo exposto, percebe-se que a propriedade rural de Rômulo pode ser
inserida na categoria de grande propriedade, todavia, cumpre cumulativamente
todos os requisitos da função social, não sendo a desapropriação aplicável.
Dessarte, já alerta Marques (2015) que não basta ser a propriedade um minifúndio e
latifúndio para a desapropriação para fins de reforma agrária, o instrumento
encontra-se vinculado ao cumprimento da função social, o qual resta cumprido no
imóvel rural de Rômulo.
Na possibilidade de haver um decreto expropriatório, isto é, a manifestação
da União de que o imóvel rural é de interesse social para fins de reforma agrária,
este tem por efeitos o direito de penetração, a fixação do estado do bem e a
autorização à União a propor ação de desapropriação (CAMPOS, 2019).
Todavia, a proposição da ação, que se dá nos termos da Lei Complementar
76/93, não é a única forma de se efetuar a desapropriação (MARQUES, 2015).
Concordando o proprietário com a desapropriação e o valor ofertado para
indenização, realiza-se um acordo extrajudicial (CAMPOS, 2019).
Efetuada a desapropriação, o expropriante registra o título translativo de
domínio e, em três anos, deve destinar a área aos beneficiários da reforma agrária
(CASSETTARI, 2015). Para tanto, de acordo com o art. 16 da Lei 8.629/93, admite-
se a exploração individual, condominial, cooperativa, associativa ou mista (BRASIL,
1993).
A distribuição dos imóveis rurais pela reforma agrária se faz por meio de
títulos de domínio, concessão de uso ou concessão de direito real de uso
(CASSETTARI, 2015). Os títulos de domínio e a concessão de direito real de uso,
inegociáveis no prazo de dez anos, são outorgados após a realização de medição e
demarcação topográfica.
O processo de seleção de indivíduos e famílias candidatos a beneficiários do
Programa Nacional de Reforma Agrária será realizado por projeto de assentamento,
observada a seguinte ordem de preferência na distribuição de lotes ao
desapropriado; aos que trabalham no imóvel desapropriado como posseiros,
assalariados, parceiros ou arrendatários, identificados na vistoria; aos trabalhadores
rurais desintrusados de outras áreas; ao trabalhador rural em situação de
vulnerabilidade social; ao trabalhador rural vítima de trabalho em condição análoga à
de escravo; aos que trabalham como posseiros, assalariados, parceiros ou
arrendatários em outros imóveis rurais; aos ocupantes de áreas inferiores à fração
mínima de parcelamento.
Porquanto a desapropriação por interesse social é um instrumento da reforma
agrária (MARQUES, 2015), cabe explicar as finalidades e características desta.
Conforme art. 16 do Estatuto da Terra, estabelecer um sistema de relações
entre o homem, a propriedade rural e o uso da terra, capaz de promover a justiça
social, o progresso e o bem-estar do trabalhador rural e o desenvolvimento
econômico do país, com a gradual extinção do minifúndio e do latifúndio (BRASIL,
1964).
Tem como principais características ser um meio de intervenção do Estado na
propriedade privada; ser distinta em cada país; ser transitória, executada a longo
prazo pela extinção gradual das propriedades improdutivas; ter dimensionamento de
área mínima e máxima porque os lotes a serem distribuídos (propriedade familiar)
não poderem ter área superior a dois módulos fiscais e inferior à fração mínima de
parcelamento; ser vinculada a uma Política Agrícola; ter natureza punitiva a
desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária (CASSETTARI,
2015).
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 4.504 de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e
dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4504.htm> Acesso em: 26 jul 2021.
BRASIL. Lei 8.629 de 25 de fevereiro de 1993. Dispõe sobre a regulamentação dos
dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III,
Título VII, da Constituição Federal. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8629.htm> Acesso em: 26 jul.2021.
CAMPOS, Ana Cláudia. Direito Administrativo Facilitado. São Paulo: Método; Rio de
Janeiro: Forense, 2019.
CASSETTARI, Christiano. Direito agrário. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2015

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. 11. ed. São Paulo: Atlas,
2015.

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