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Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar uma reflexão acerca das potencialidades
de uma idéia (ou proposta) de ressurgimento do circuito de cinemas antigos da cidade
Salvador, como resultante de políticas governamentais voltadas para a memória,
formação de público, formação profissional e turismo cultural, entre outros, num
cenário contemporâneo das tecnologias, mas, também, da relevância da economia
criativa para a sociedade. Em outras palavras, a gestão governamental no campo da
cultura deveria se restringir ou priorizar apenas a criação e administração de editais? A
manutenção da preponderância deste regime escópico não afeta e inviabiliza novas
possibilidades para a sociedade, os artistas e os gestores culturais? Para tanto, o
referencial teórico registra autores como George Yúdice, Cliford Geertz, Milton Santos,
Celso Furtado, Joseph Schumpeter, entre outros. A metodologia escolhida, ainda que
este trabalho se encontre numa versão embrionária, contempla um levantamento
bibliográfico acerca da cultura enquanto agente econômico, identitário e de cidadania.
Também se registrou um mapeamento dos cinemas antigos de Salvador, a partir de
entrevistas semiestruturadas com dois aposentados soteropolitanos e ativos
frequentadores destes cinemas, entre as décadas de 1950 e 1980.
Palavras-chave: Cultura, Desenvolvimento, Memória, Cidade, Cinema.
Introdução
1
Docente do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia (CECULT/UFRB). aaccastro@gmail.com
de ser e fazer arte, e, porque não dizer, dos aspectos estratégicos desta no tocante à sua
contribuição aos projetos de nação, quando estes foram formulados.
Muitas das nações apresentadas como “desenvolvidas”, por excelentes
indicadores sociais ̶ educação, saúde, renda, economia etc ̶ , fomentam e monitoram o
seu campo cultural, através de políticas públicas, fundos patrimoniais, regulação, entre
outros. A relação cultura e desenvolvimento é, portanto, compreendida como relevante
para o próprio conceito de nação e estratégica quando pensada no desenvolvimento
desta, principalmente no contexto contemporâneo, de acentuada corrida tecnológica,
guerra fiscal, comoditização, “indústria 4.0”, especulação financeira e ampliação do que
se convencionou denominar de globalização.
Indiscutivelmente, este olhar estratégico acerca da cultura como recurso
(YÚDICE, 2006) é um desafio para os países menos desenvolvidos, por tudo que
registram de estatísticas no campo educacional e social, mas, por outro espectro, pode se
configurar como ampliação das possibilidades de inclusão sociocultural, de políticas
públicas inovadoras e vinculadas ao patrimônio histórico-cultural material e imaterial, e,
não menos relevante, da geração de emprego e renda nestes tempos tão escassos.
Neste breve argumento, destaque para o cinema no campo do entretenimento,
enquanto linguagem artística, atividade econômica e patrimônio cultural. Nesta direção,
a relação entre cinema e cidade também é dinâmica e possui presença constante na
cinematografia. Para muito além do espaço físico, as cidades também oportunizam o
protagonismo de suas tramas, de suas histórias, de seus cenários, de suas personagens,
de seus comportamentos, universos simbólicos, enfim, de um conjunto significativo de
possibilidades de registros, ficcionais ou documentais, tendo o espaço geográfico como
ponto de partida para o roteiro.
Não obstante, outro fator surge na relação entre cinema, memória e a cidade de
Salvador, uma vez que a história do cinema da Bahia é marcada por um amplo e diverso
protagonismo no campo do pensamento cinematográfico, da produção etc. Dentre eles,
destaque para realizadores/desbravadores/críticos/amantes da sétima arte, como Rex
Schindler, Glauber Rocha, Walter da Silveira, Roberto Pires, Póla Ribeiro, Cláudio
Marques, Edgard Navarro, Orlando Senna, João Carlos Sampaio, Jorge Alfredo, entre
outros.
O objetivo deste artigo é apresentar uma reflexão acerca das potencialidades do
circuito de cinemas antigos da cidade Salvador, como resultante de políticas
governamentais voltadas para a memória, formação de público, formação profissional,
organização de eventos, de festivais e para o turismo cultural num cenário
contemporâneo das tecnologias, mas, também, da relevância da economia criativa para a
sociedade. Em outras palavras, a gestão governamental no campo da cultura deveria se
restringir ou priorizar apenas a criação e administração de editais? A manutenção da
preponderância deste regime escópico não afeta e inviabiliza novas possibilidades para
a sociedade, os artistas e os gestores culturais?
A metodologia escolhida contempla um levantamento bibliográfico acerca da
cultura enquanto agente econômico, identitário e de cidadania. Também se registrou um
mapeamento dos cinemas antigos de Salvador, a partir de entrevistas semiestruturadas
com dois aposentados soteropolitanos, ativos frequentadores destes cinemas entre as
décadas de 1950 e 1980.
Não obstante, o Cinema é sujeito de poder, mas, também está sujeito ao poder de
instâncias e forças mais “permanentes”: a própria cidade e seus agentes, estruturas e
instituições políticas que se instituem, para muito além de alguns dias, como agentes de
poder, transformação e manutenção de sistemas. O econômico, inclusive. Para Canclini
(2003, p.265):
2
Produzida a partir de entrevistas semi-estruturadas com os aposentados Carlos Andrade
Cardoso e Antônio Menezes, ambos moradores do Centro Histórico de Salvador, no período
compreendido entre 1950 e 1980.
Cine Rio Vermelho Rio Vermelho Cidade Alta/Orla
Fonte: Pesquisa de campo do autor, 2017.
Considerações finais
Referências