Você está na página 1de 17

[Insira sua logo]

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA _______ VARA FEDERAL


DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE ______

OBJETO: Exclusão da contribuição ao PIS


e à COFINS das próprias bases de cálculo.

IMPETRANTE, pessoa jurídica de direito privado, com sede e foro na Rua


_________________ – Bairro _________________ , Estado _________________,
CEP: _________________, devidamente inscrita no CNPJ sob nº
_________________, neste ato representada pelo sócio-administrador
_________________, brasileiro, estado civil _________________, profissão
_________________, CPF nº _________________,

por seus procuradores signatários, com fulcro no art. 5º, inciso LXIX da
Constituição da República, e na Lei 12.016/2009, vem, respeitosamente,
perante V. Exa., impetrar

MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO P


A
(com pedido liminar) G
E
\*
M
E
Contra ato do Ilmo. Senhor Delegado da Receita Federal do Brasil em ______,
podendo ser encontrado na ______ – Bairro ______ – Estado ______, CEPR ______,
na Comarca de ______, G
E
F
O
R
M
pelos fundamentos fáticos e jurídicos que passa a expender:
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

1. DOS FATOS

A Impetrante é pessoa jurídica que, conforme Art. ______º de seu

Estatuto Social (doc. X), atua no ramo de ______, sob o regime tributário do
LUCRO REAL que, no exercício de suas atividades empresariais, se sujeita ao
pagamento dos tributos e contribuições inerentes a tais atividades, dentre os
quais se inserem a contribuição ao PIS e à COFINS não-cumulativas.

No contexto de suas atividades, a Impetrante recolhe regularmente as


contribuições destinadas ao PIS e à COFINS incidentes sobre a sua receita
bruta, conforme comprovam as guias em anexo (docs. X).

As contribuições ao PIS e à COFINS foram introduzidas no


ordenamento jurídico pátrio, respectivamente, pelas Leis Complementares
7/1970 e 70/1991. Em ambos os casos, foi determinado, como base de
cálculo, o faturamento, ali entendido como a receita bruta decorrente das
vendas de mercadorias, da prestação de serviços ou da combinação de
ambos.

Essas contribuições foram recepcionadas pela Constituição Federal de


1998, que, no seu art. 195, I, b, previa, em sua redação original (antes da EC P
nº 20/1998.), a instituição de contribuições sociais incidentes sobre o
A
G
faturamento das pessoas jurídicas. E
\*
Com a entrada em vigor da Lei 9.718/1998, tentou-se estabelecer como M
E
base de cálculo às referidas contribuições a receita bruta, entendida a
R
“totalidade das receitas auferidas pela pessoa jurídica, sendo irrelevantes o G
tipo de atividade por ela exercida e a classificação contábil adotada para as E
receitas”. Essa alteração, por certo, era inconstitucional, por violar aquela
F
O
base de cálculo originalmente prevista no texto constitucional. R
M
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

Na tentativa de se “constitucionalizar” a referida Lei 9.718/1998, editou-


se a Emenda Constitucional 20/1998, que alterou o art. 195, I, b, da
Constituição Federal, para possibilitar a instituição de contribuições sociais
que tivessem como base de cálculo o faturamento ou a receita bruta das
pessoas jurídicas. E, em julgamento em sede de repercussão geral (RE
585.235), o Supremo Tribunal Federal reconheceu a inconstitucionalidade do
alargamento da base de cálculo das contribuições ao PIS e da COFINS,
introduzido pela Lei 9.718/1998.

Posteriormente, foram publicadas a Lei 10.637/2002 – relativa ao PIS –


e a Lei 10.833/2003 – relativa à COFINS - que introduziram significativas
alterações no recolhimento dessas contribuições. A um passo, determinou-
se que essas contribuições passariam a ser recolhidas sob a sistemática
não-cumulativa e incidiriam sobre a totalidade das receitas auferidas
pelas pessoas jurídicas. Veja-se:

Lei 10.637/2002 (PIS), Art. 1. A Contribuição para


PIS/PASEP, com a incidência não-cumulativa, incide sobre
o total das receitas auferidas no mês pela pessoa
jurídica, independentemente de sua denominação ou
classificação contábil. (grifei)
Lei 10.833/2003 (COFINS), Art. 1. A Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS,
com a incidência não- cumulativa, incide sobre o total das
receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica, P
independentemente de sua denominação ou classificação
contábil.
A
G
E
Observe-se. Apesar de agora a base de cálculo infraconstitucional
\*
coadunar-se com aquela prevista no art. 195, I, b, da Constituição Federal, M
com redação dada pela EC 20/1998, é de se destacar que inexiste previsão E
relativa à exclusão do PIS e da COFINS da base de cálculo dos próprios
R
G
PIS e COFINS. E
F
E, nesse sentido, sempre foi o entendimento da Secretaria da Receita O
R
Federal do Brasil, que em suas Soluções de Consulta esclareceu que as
M
contribuições ao PIS/COFINS integravam as suas respectivas bases de A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

cálculo. Note-se:

RFB, Solução de Consulta 118/2009


ASSUNTO: Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social – COFINS. EMENTA: BASE DE CÁLCULO.
EXCLUSÃO DO VALOR DA CONTRIBUIÇÃO DEVIDA.
VEDAÇÃO. No regime não-cumulativo, é vedado excluir da
base de cálculo da COFINS o valor dessa mesma contribuição
(o cálculo da Cofins não-cumulativa é realizado “por dentro).”

RFB, Solução de Consulta nº 82/2010


ASSUNTO: Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social – COFINS. EMENTA: BASE DE CÁLCULO
– RECEITA BRUTA. Na receita operacional bruta (receita de
venda de produtos e prestação de serviços), base de cálculo
da Cofins não cumulativa, estão incluídos os valores dos
tributos incidentes sobre a venda, a exemplo do ICMS, ISS e
da própria contribuição, em consonância com a legislação
tributária vigente os princípios contábeis incidentes, não
havendo nenhum permissivo legal para a sua exclusão. Resta
prejudicado, em conseqüência, o enfretamento das questões
relativas à potencial direito à restituição e compensação dos
valores das referidas contribuições que, em razão de alegado
erro na metodologia de cálculo, houvessem sido recolhidos a
maior pelo contribuinte.”

Sendo assim, em razão do reconhecido entendimento da Autoridade


Coatora, embora o PIS/COFINS não seja receita da Impetrante, tem sido
obrigada a recolher essas contribuições com a inclusão do valor apurado a
esse título nas suas próprias bases de cálculo. É importante se reconhecerP
que os valores recolhidos a título de PIS/COFINS são, em realidade,A
G
receita do ente público competente para a sua cobrança e recolhimento:
E
a União Federal. \*
M
A Impetrante, apesar de reconhecer a ilegalidade / inconstitucionalidadeE
R
desta cobrança, faz seus recolhimentos seguindo o entendimento da
G
Autoridade Coatora para não ser penalizada com duro rigor fiscal em razão deE
suposto recolhimento a menor de PIS/COFINS. F
O
R
Posteriormente a Lei 12.973/2014 passou a dispor que a base de cálculoM
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

das contribuições ao PIS/COFINS corresponderia ao total das receitas


auferidas, compreendidas como “a receita bruta de que trata o artigo 12 do
Decreto-Lei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977”. E, o art. 2º, dessa lei,
inseriu o §5º no art. 12 do Decreto-Lei 1.598/1977, que passou a prever
expressamente que “na receita bruta incluem-se os tributos sobre ela
incidentes”.

Com essa alteração, a lei passou, expressamente, a prever que no


conceito de receita bruta estavam inseridos os tributos sobre ela incidentes, na
forma do entendimento externado pela Receita Federal nas já citadas
Soluções de Consulta 118/2009 e 81/2010.

Então perceba-se: até o advento da Lei 12.943/2014, a base de cálculo


das contribuições PIS/COFINS era o faturamento (totalidade das receitas),
sem previsão textual de inclusão dos tributos incidentes sobre o valor da venda
ou do serviço. Mas, a partir da entrada em vigor desta lei, passou-se a prever,
expressamente, que a base de cálculo das contribuições em comento
contemplaria os tributos incidentes sobre a receita (a exemplo do próprio PIS e
COFINS).

Ocorre que, tanto no período anterior quanto no período posterior à


entrada em vigor das alterações trazidas pela Lei 12.973/2014 não se
concluir pela constitucionalidade da inclusão do PIS e da COFINS emP
A
suas próprias bases de cálculo. Isto porque, considerando a previsão do art.
G
195, I, b, da Constituição Federal, não se pode admitir a tributação de qualquerE
numerário que não caracterize receita do contribuinte. \*
M
E
E, conforme é claro na jurisprudência pátria, os valores recolhidos a título
R
de PIS e a COFINS não são receitas pertencentes aos contribuintes, poisG
ingressam em suas contas de forma transitória e com destinatário certo; qualE
F
seja, a União Federal. Desse modo, exigir a inclusão do PIS/COFINS na base
O
de cálculo das referidas contribuições sociais significa tributar algo que não éR
receita do contribuinte, o que viola frontalmente as disposições constitucionaisM
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

e o princípio da capacidade contributiva.

Por tudo isso, não resta à Impetrante alternativa senão buscar tutela
jurisdicional para o reconhecimento do seu direito líquido e certo de promover
a exclusão das contribuições ao PIS/COFINS de suas próprias bases de
cálculos, bem como a restituição dos valores indevidamente recolhidos a título
da referida exação nos últimos 5 (cinco) anos anteriores ao ajuizamento da
presente demanda, devidamente atualizados pela Taxa Selic.

2. DA PRIORIDADE DE PROCESSAMENTO DO
MANDADO DE SEGURANÇA

Por expressa previsão legal contida no art. 20, da Lei 12.016/2009,


requer prioridade no processo e julgamento do presente mandamus, vez que
estão envolvidos direitos líquidos e certos do impetrante.

Por certo, o art. 12, do CPC, diz que “os juízes e os tribunais atenderão,
preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença
ou acórdão”. Excluindo-se desta ordem cronológica, conforme §2º, inciso VII,
do mesmo artigo legal supracitado, “as preferências legais (...)”.

Assim sendo, não há dúvidas que a ação ora manejada merece terP
reconhecida sua prioridade de processo e julgamento neste E. Juízo. A
G
E
\*
3. DO PEDIDO DE DISPENSA DA AUDIÊNCIA DE M
E
CONCILIAÇÃO R
G
E
Com vistas a obter maior celeridade processual, garantindo o efetivo F
contraditório e evitando diligências inúteis e/ou que não tragam qualquer O
R
resultado útil ao processo, a Impetrante pleiteia a Vossa Excelência que
M
dispense a audiência de conciliação normalmente designada em face da A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

disposição legal que trouxe o art. 319, VII, do CPC, por inexistir a
possibilidade de autocomposição no caso concreto.

4. DO DIREITO

4.1. DA ABRANGÊNCIA DO TERMO “RECEITA” UTILIZADO COMO


BASE DE CÁLCULO DAS CONTRIBUIÇÕES PIS/COFINS

As atuais redações das já citadas Leis 10.637/2002 e 10.833/2003 são


no sentido de que as contribuições ao PIS e à COFINS incidem sobre “o
total das receitas auferidas no mês pela pessoa jurídica, independentemente
da sua denominação ou classificação contábil”. Ou seja, essas contribuições
incidem sempre que houver o ingresso de qualquer receita que caracterize
incremento ou acréscimo patrimonial do contribuinte.

Mas, é de se pugnar que, os valores de PIS/COFINS, por


representarem numerário que trafega de forma transitória nos cofres da
Impetrante, sendo objeto de posterior transferência à União Federal,
não podem ser caracterizados como acréscimo patrimonial, razão pela
qual não devem integrar a base de cálculo das contribuições ao PIS e à
COFINS, na forma prevista no art. 195, I, b, da Constituição Federal. Veja-
se: P
A
CF/1988, Art. 195: A seguridade social será financiada por G
toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da E
lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da \*
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais: (Vide Emenda
M
Constitucional nº 20, de 1998) E
R
I – do empregador, da empresa e da entidade a ela
equiparada na forma da lei, incidentes sobre: G
E
(...)
F
b) a receita ou o faturamento;
O
(Grifou-se) R
M
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

Nas lições de Leandro Paulsen, notável tributarista contemporâneo,

(...) A análise da amplitude da base econômica “receita”


precisa ser analisada sob a perspectiva dos princípios
constitucionais tributários, dentre os quais o da capacidade
contributiva e o da isonomia. Nem tudo o que contabilmente
seja considerado como receita poderá, tão só por isso, ser
considerado como “receita tributável”. Tampouco é dado à
SRF ampliar por atos normativos o que se deva considerar
como tal. A receita, para ser tributada, deve constituir
riqueza reveladora de capacidade contributiva.
(...) é possível anunciar as notas determinantes da realidade
pressuposta na Constituição Federal que permitem
evidenciar o conteúdo do conceito de receita, enquanto
materialidade suscetível de revelar capacidade contributiva
apta para sustentar contribuição para a seguridade social.
Nessa perspectiva, a configuração da receita exige a
presença dos seguintes atributos: (a) conteúdo material:
ingresso de recursos financeiros no patrimônio da
pessoa jurídica; (b) natureza do ingresso: vinculada ao
exercício de atividade empresarial; (c) causa do
ingresso: contraprestação em negócio jurídico que
envolva a venda de mercadorias ou prestação de
serviços, assim como pela cessão onerosa e temporária
de bens e direitos e pela remuneração de investimentos;
(d) disponibilidade: pela definibilidade do ingresso; e (e)
mensuração instantânea e isolada em cada evento,
abstraindo-se dos custos e de periodicidade para sua
apuração” (MINATEL, José Antônio. Conteúdo do conceito
de receita e regime jurídico para sua tributação. São Paulo:
MP, 2005, p. 253-255). (...) (PAULSEN, Leandro.
Constituição e código tributário comentados à luz da
doutrina e da jurisprudência. 18. ed. São Paulo: Saraiva,
2017. p. 1927 – 1929, E-book) (grifos nossos) P
A
Da leitura acima, parece claro que a “receita” distingue-se do mero G
E
ingresso de valores em caixa, de forma transitória. A receita incorpora-se, \*
em definitivo, ao patrimônio de quem a está recebendo, podendo servir M
de parâmetro para a medida da capacidade contributiva do E
R
contribuinte.
G
E
O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que os F
valores que ingressam momentaneamente nos cofres dos contribuintes O
R
para, logo em seguida, serem repassados para os seus verdadeiros titulares M
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

não significam receita bruta do contribuinte.

“(...) O conceito de faturamento, atribuído pela referida


legislação equivale à receita bruta da pessoa jurídica. A
receita bruta, por seu turno, traduz-se na totalidade das
receitas auferidas pela correspectiva pessoa jurídica (cf. art.
3º, §1º).
As sociedades cooperativas, para efeito de exação,
estariam enquadradas no momento em que a lei dispõe que
é irrelevante a atividade exercida pela pessoa jurídica e a
classificação contábil adotada pelas receitas (cf. art. 3º,
§1º).
Ocorre, contudo, que, de acordo com a característica
peculiar das cooperativas acima apontadas, quando da
prática de seus atos típicos, não se verifica a hipótese de
incidência da COFINS, ou seja, a atividade-fim das
sociedades não visa ao proveito do faturamento, pois
os valores percebidos são repassados aos cooperados.
Nesse passo, embora a Lei Complementar contemple a
hipótese de isenção, pode-se afirmar que se cuida de não-
incidência”. (STJ, REsp 526.304/SC; Rel. Min. Franciulli
Neto; DJu de 31.05.2004) (grifos nossos)

Se meros ingressos com destinatário certo (a exemplo do PIS e da


COFINS) não podem ser considerados receita do contribuinte, a alteração
trazida pela Lei 12.973/2014, ao modificar o art. 12, § 5º, do Decreto-Lei
1.598/1977, prevendo que no conceito receita bruta se incluem os tributos
sobre ela incidentes, encontra-se eivada de inconstitucionalidade.

P
Ora, os tributos que incidem sobre a receita bruta não se enquadram no A
conceito de receita. Isso porque são valores que ingressam nos cofres dos G
E
contribuintes de forma temporária, atuando estes como meros agentes
\*
arrecadadores. Não há com o ingresso desses valores qualquer acréscimo M
patrimonial. E
R
G
Em suma: não há como reconhecer como válida a inclusão do PIS E
e da COFINS em suas próprias bases de cálculo, eis que se trata de F
grandeza estranha ao conceito de receita, prevista na Constituição O
R
Federal. Demonstrado, portanto, que tanto para o período anterior ou
M
posterior à alteração trazida pela Lei 12.973/2014 é inconstitucional a A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

inclusão do PIS e da COFINS em suas próprias bases de cálculo.

4.2. DO JULGAMENTO, EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL, PELO


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL DO RE 574.706 E DEMAIS
JURISPRUDÊNCIAS PÁTRIAS

Em Março de 2017, o STF, ao julgar o mérito do RE 574.706, definiu,


em sede de repercussão geral (frise-se: com reprodução obrigatória em
todas as instâncias) que o ICMS não pode compor a base de cálculo das
contribuições PIS/COFINS, por não ser faturamento dos contribuintes;
mas, apenas, valores que ingressam nos cofres das empresas de forma
transitória para serem repassados ao fisco.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM


REPERCUSSÃO GERAL. EXCLUSÃO DO ICMS
NA BASE DE CÁLCULO DO PIS E COFINS.
DEFINIÇÃO DE FATURAMENTO. APURAÇÃO
ESCRITURAL DO ICMS E REGIME DE NÃO P
CUMULATIVIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. A
Inviável a apuração do ICMS tomando-se cada G
mercadoria ou serviços e a correspondente E
cadeia, adota-se o sistema de apuração contábil. \*
O montante de ICMS a recolher é apurado mês a M
mês, considerando-se o total de créditos E
decorrentes de aquisições e o total de débitos R
gerados nas saídas de mercadorias ou serviços: G
análise contábil ou escritural do ICMS. 2. A E
análise jurídica do princípio da não- F
cumulatividade aplicado ao ICMS há de atentar ao O
disposto no art. 155, §2º, Inciso I, da Constituição R
da República, cumprindo-se o papel da não M
cumulatividade a cada operação. 3. O regime da A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

não cumulatividade impõe concluir, conquanto


se tenha a escrituração da parcela a se
compensar do ICMS, não se incluir todo ele na
definição de faturamento aproveitado por este
Supremo Tribunal Federal. O ICMS não
compõe a base de cálculo para a incidência do
PIS e da COFINS. 4. Se o art. 3º, § 2º, Inc. I, in
fine, da Lei nº 9.718/98 excluiu da base de cálculo
daquelas contribuições sociais o ICMS transferido
integralmente para os Estados, deve ser
enfatizado que não há como se excluir a
transferência parcial decorrente do regime da
não-cumulatividade em determinado momento da
dinâmica das operações. 5. Recurso provido
para excluir o ICMS da base de cálculo da
contribuição ao PIS e da COFINS.” (RE nº
574706/PR; Rel.: Min. Carmem Lúcia, Órgão
Julgador: Tribunal Pleno do STF; Data do
Julgamento: 15.03.2017) (grifos nossos)

A Exma. Ministra Relatora Cármen Lúcia em seu voto bem pontuou que
“(...) o contribuinte não inclui como receita ou faturamento o que ele
haverá de repassar à Fazenda Pública”. O Exmo. Ministro Luiz Fux
também se manifestou em seu voto no sentido da inviabilidade de “(...) o
imposto incidir sobre um tributo, sob o pálio da alegação de que o
pagamento do tributo que tem como destinatário o Poder Público é um
faturamento do contribuinte”. P
A
A ratio decidendi deste precedente é aplicável ao caso ora em G
discussão. Tendo por base o julgamento do STF no leading case, pode-se E
\*
inferir que é inadmissível a inclusão de um tributo na base de cálculo de
M
outro. Portanto, é inevitável reconhecer a exclusão do PIS e da COFINS das E
suas próprias bases de cálculo, em virtude de o referido valor não configurar R
G
receita da Impetrante, mas mero ingresso temporário.
E
Restou claro no leading case que não há capacidade contributiva do F
contribuinte para pagar PIS/COFINS sobre os valores arrecadados a título
O
R
de ICMS, cujos valores recolhidos são repassados de forma imediata aos M
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

cofres públicos estaduais. De forma análoga, é incontestável que inexiste


capacidade contributiva na exigência de inclusão do PIS e da COFINS
na base de cálculo das próprias contribuições sociais, pois o
PIS/COFINS representa numerário que ingressa transitoriamente nos
cofres da Impetrante sendo imediatamente repassado para a União.

E, aqui, acerca da capacidade contributiva, é importante se destacar as


lições da Paulo de Barros Carvalho:

(...) Há necessidade premente de ater-se o legislador à


procura de fatos que demonstrem signos de riqueza,
pois somente assim poderá distribuir a carga tributária
de modo uniforme e com satisfatória atinência ao princípio
da igualdade.
(...) Realizar o princípio pré-jurídico da capacidade
contributiva absoluta ou objetiva retrata a eleição, pela
autoridade legislativa competente, de fatos que ostentem
signos de riqueza. Esta é a capacidade contributiva que,
de fato, realiza o princípio constitucionalmente previsto.
(CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário.
29. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. p. 63, E-book)
(grifei)

Portanto, as lições do eminente tributarista reforçam a ideia de que a


base de cálculo dos tributos deve refletir sobre signos de riqueza do
contribuinte. E, em definitivo, seguindo a doutrina ou a jurisprudência
vinculante do STF, não há como se dizer que os valores recolhidos a título
de PIS/COFINS e repassados aos cofres da União representam valores a
serem tributados ao contribuinte.
P
A
Ainda acerca da possibilidade de exclusão do PIS/COFINS de suas G
próprias bases, é de se dizer que a jurisprudência pátria está firmada nesse E
\*
sentido. Veja-se:
M
TRIBUTÁRIO E PROCESSO CIVIL. MANDADO DE E
SEGURANÇA. EXCLUSÃO DO PIS E DA COFINS DA R
BASE DE CÁLCULO DAS PRÓPRIAS CONTRIBUIÇÕES. G
SENTENÇA QUE CONCEDEU A ORDEM. REMESSA
E
OFICIAL E APELO DA UNIÃO DESPROVIDOS. – Recurso
Extraordinário n. 574706. Repercussão geral F
reconhecida. Os valores arrecadados a título de ICMS O
não são incorporados ao patrimônio do contribuinte e, R
dessa forma, não podem integrar a base de cálculo do M
PIS e da COFINS, uma vez que a arrecadação daquele
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

imposto constitui tão somente ingresso de caixa ou


trânsito contábil a ser totalmente repassado ao fisco
estadual e, assim, não representa faturamento ou
receita. Destarte, razoável que se aplique o mesmo
raciocínio ao presente caso, haja vista a identidade de
fundamentos e especialmente porque tributos não
devem realmente integrar a base de cálculo de outros
tributos. (...)
– Ao se entender que o quantum pago a título de PIS e de
COFINS (destacados em nota fiscal) integre o valor total da
nota, em realidade admite-se que essas contribuições
fazem parte do faturamento da pessoa jurídica, o que viola o
princípio da capacidade contributiva, segundo o qual os
particulares devem contribuir conforme a sua capacidade
econômica e não de acordo com valores que sequer fazem
parte de seu faturamento, considerado que serão
repassados compulsoriamente ao fisco.
(...) Com relação à Lei n. 12.973/14, especificamente no que
concerne às contribuições para o PIS e à COFINS, tal
diploma normativo apenas manteve a expressão total das
receitas auferidas (artigos 54 e 55 – para a sistemática da
não cumulatividade), bem como especificou as receitas
compreendidas na definição de receita bruta (artigo 2º, o
qual alterou o artigo 12 do Decreto-Lei n. 1.598/77 – para a
sistemática da cumulatividade). No entanto, apesar de a
mencionada lei incluir o § 5º ao artigo 12 deste decreto-lei,
entendo que o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal
do RE n. 574.706 encerrou tal discussão ao considerar
expressamente neste julgado as alterações concernentes
ao tema trazidas pela Lei 12.973/2014. Portanto, em
respeito ao ordenamento jurídico brasileiro, se a inclusão do
ICMS na base de cálculo do PIS e da COFINS foi declarada
inconstitucional de forma legítima e pelo órgão competente
para tanto, descabido o pleito da apelante no que toca a
essa análise, conforme se comprova ao se analisar o inteiro
P
teor do acórdão citado. (...) (TRF 3ª Região, 4ª Turma, A
ApReeNec – APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO – G
5022842-67.2018.4.03.6100, Rel. Desembargador Federal E
Andre Nabarrete Neto, julgado em 19/12/2019, Intimação
\*
via sistema DATA: 20/01/2020). (destaquei)
M
E
(...) A viabilidade jurídica de se incluir tributo na base de R
cálculo de outro tributo restou afastada, diante da G
decisão proferida pelo STF no RE n.º 574.706/PR, no qual
o Pretório Excelso fixou a tese de que "o ICMS não compõe
E
a base de cálculo para a incidência do PIS e da Cofins": (...) F
Ante o exposto, concedo a segurança, com resolução do
O
mérito, nos termos do artigo 487, I, do CPC, para declarar: R
(i) A ilicitude da inclusão das contribuições do PIS e da
M
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

COFINS nas suas próprias bases de cálculo e


(ii) o direito de efetuar a compensação das
contribuições recolhidas nos últimos cinco anos
anteriores ao ajuizamento desta ação, ou seja, a contar
de 31 de outubro de 2014, na forma do art. 74 da Lei n.º
9.430/96, observado o quanto prescrito pelo artigo 170-A,
do CTN, e observado o quanto prescrito pelo artigo 170-A
do CTN, condicionada a exequibilidade da compensação ou
repetição ao quanto decidido na modulação dos efeitos da
decisão proferida, pelo Supremo Tribunal Federal, nos autos
do Recurso Extraordinário, com repercussão geral
reconhecida, n.º 1233096. (...) (Decisão prolatada no
Mandado de Segurança 5002743-18.2019.4.03.6108 em
trâmite na 2.ª Vara Federal de Bauru/SP, julgado em
07/02/2020) (grifei)

(...) considerando que o ônus fiscal referente ao ICMS/ISS


e às próprias contribuições não revela medida de
riqueza, conforme o artigo 195, I, “b”, da CF, revejo meu
entendimento e concluo não ser possível determinar a
sua incidência sobre a base de cálculo das
contribuições em questão, sob pena de permitir que a
lei ordinária redefina conceitos utilizados por norma
constitucional, razão pela qual deve ser reconhecida
como devida a exclusão do ICMS/ISS e das próprias
contribuições, da base de cálculo do PIS e da COFINS,
em consonância ao posicionamento do STF.
Ante o exposto, DEFIRO a liminar postulada para
reconhecer o direito da Impetrante de excluir, da base
de cálculo das contribuições para o PIS e para a
COFINS, a parcela relativa às próprias contribuições, e
suspender a exigibilidade dos créditos tributários a tal
título. (...) (Decisão prolatada no Mandado de Segurança
P
5033009-63.2018.4.02.5101 em trâmite na 16ª Vara Federal
A
do Rio de Janeiro, julgado em 12/7/2019) (destaco)
G
Forçoso se concluir, de maneira inequívoca, que a inclusão das E
\*
contribuições em suas próprias bases de cálculo gera grave afronta aosM
dispositivos constitucionais atinentes à matéria, da mesma medida queE
ocorreu com a histórica e inconstitucional inclusão do ICMS na base deR
G
cálculo do PIS e da COFINS, definitivamente reconhecida pelo Supremo
E
Tribunal Federal quando do julgamento do RE 574.706 submetido àF
repercussão geral da matéria. O
R
M
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

5. DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN MORA

Nos termos do art. 7º, da Lei 12.016/2009, o Juiz, ao receber o


Mandado de Segurança, poderá suspender o ato que deu motivo ao pedido
quando houver fundamento relevante e tal ato puder resultar na ineficácia da
medida.

No caso em tela, o dispositivo suscitado se amolda como luva, tudo


conforme se demonstra mediante apreciação dos requisitos intrínsecos para
concessão de medida liminar fumus boni iuris e o periculum in mora.

O fumus boni iuris, ou seja, a plausibilidade do direito invocado


consubstancia-se na inequívoca manifestação da doutrina e jurisprudência
pátria conforme já demonstrado, acerca da impossibilidade de as
contribuições PIS/COFINS serem consideradas em suas próprias bases, por
não representarem faturamento ou receita dos contribuintes.

O periculum in mora é notório e decorre dos prejuízos tributários


decorrentes da exigência de desenvolvimento de uma tributação
manifestamente ilegal e inconstitucional, conforme vastamente demonstrado
na presente. Além disso, sem o provimento judicial liminar, a Impetrante não
poderá deixar de recolher a contribuição indevida, sob pena de ter restrições
P
no CADIN, e, por via de consequência lhe poderá ser negada a Certidão
A
Negativa de Débitos Fiscais - CND, o que compromete sua atividade G
empresarial. E
\*
M
Desta feita, in casu, uma vez reconhecido o direito líquido e certo de E
petição da Impetrante, pugna-se pelo deferimento da medida liminar para R
que seja reconhecida a imediata inexigibilidade da inclusão do PIS e da G
E
COFINS em suas próprias bases.
F
O
R
M
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

6. DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, a IMPETRANTE requer o seguinte:

a) O processo e julgamento, de forma prioritária, do presente Mandado


de Segurança, conforme art. 20, da Lei 12.016/2009,

b) a concessão da medida liminar, nos termos do artigo 7º, inciso III, da


Lei nº 12.016/2009 e do artigo 151, IV, do CTN, para que seja
suspensa a exigibilidade do crédito tributário relativamente às
contribuições do PIS e da COFINS incidentes sobre essas mesmas
contribuições;

c) Além da concessão da LIMINAR pleiteada no item anterior, requer-se


também, (i) a notificação da D. Autoridade Coatora para prestar
informações; (ii) a ciência da pessoa jurídica de direito público a ela
vinculada para que, querendo, ingresse no feito e (iii) a oitiva do
Ministério Público para que, ao final, seja CONCEDIDA A
SEGURANÇA pleiteada reconhecendo-se à impetrante o seu
direito líquido e certo de excluir da base de cálculo das
contribuições ao PIS e à COFINS os valores apurados a título
dessas próprias contribuições sociais.
P
A
d) Ao final, a confirmação da liminar (em concessão definitiva da G
segurança) para que seja reconhecido o direito da Impetrante ao E
\*
crédito relativo aos valores indevidamente recolhidos a título de
M
PIS/COFINS nos últimos 5 (cinco) anos – porquanto incidentes E
sobre a própria base de cálculo, devidamente atualizados pelo R
índice SELIC, para o exercício do direito à restituição mediante G
E
compensação administrativa, com quaisquer tributos
F
administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil. O
R
M
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos
[Insira sua logo]

Requer que as futuras publicações sejam realizadas em nome dos


advogados signatários, sob pena de nulidade.

Os signatários desta peça declaram, sob responsabilidade pessoal, que


são autênticos os documentos aqui juntados – nos termos do art. 425, inciso
IV, do CPC.

Em anexo:

a) Procuração;

b) Documentos de identidade da Autora (cartão CNPJ e contrato social);

c) Amostragem documental do recolhimento de PIS/COFINS;

d) Recolhimento das custas processuais.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais), meramente para


fins fiscais e de alçada, recolhendo-se aqui o valor das custas, conforme
comprovante anexado.

Termos em que,

Pede e aguarda deferimento.

P
Estado, ___ de __________de 20_. A
G
E
\*
ADVOGADO... M
OAB... E
R
G
E
F
O
R
M
A
T
NOME DO SEU ESCRITÓRIO - OAB / CNPJ 9
Endereço - Contatos

Você também pode gostar