VITOR HUGO DE ASSUNÇÃO DO AMARAL 5° Período - Direito Noturno
PRESCRIÇÃO DA AÇÃO MONITÓRIA – TÍTULOS DE CRÉDITO
A ação monitória, conforme disposto no art. 1.102-A do Código de Processo
Civil, tem por objetivo o pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel, baseada em prova escrita sem eficácia de título executivo. Conforme aduz o artigo 585 inciso I do diploma processual civil, a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque, são títulos executivos extrajudiciais, e se emitidos com observância ao disposto nos arts. 1° e 2° do capítulo I do decreto n° 57.663/66 (Lei Uniforme de Genebra), serão a perfeita descrição de título de crédito. Cada um dos institutos citados tem seu devido prazo de vencimento, e até que tal ocorra, podem ser executados judicialmente sem a necessidade do processo de cognição, dentro de suas respectivas exigências, caso haja o inadimplemento. Desta forma, é possível inferir o motivo de a ação monitória ser meio eficaz para o recebimento da obrigação constante do título, caso este esteja vencido, uma vez que se vencido, tais cártulas não terão eficácia de título executivo, e saliente-se que são provas escritas. Entretanto, qual seria o prazo prescricional da ação monitória que vise o pagamento do exigível inscrito no título? Uma vez recebida à petição inicial constando a pretensão do recebimento e estando esta apta, o juiz deferirá de plano a expedição do mandado de pagamento ou de entrega da coisa no prazo de quinze dias, podendo o réu da ação monitória oferecer embargos que suspenderão a eficácia do mandado inicial, e caso não haja os embargos o mandado inicial se converterá em título executivo judicial. Desta forma podemos notar que o objetivo da ação monitória é constituir a partir de, por exemplo, um título executivo extrajudicial sem eficácia, um novo título executivo, que possibilite realizar a pretensão que lhe for inerente. Para que possamos, entretanto, vislumbrar o correto prazo prescricional, mister se faz descobrir a natureza da pretensão deduzida do título vencido, para sua respectiva efetivação. Neste sentido surgem quatro correntes acerca do aludido. A primeira propõe considerar-se a pretensão exercida, como uma pretensão pura e simples de direito pessoal, ao que lhe seria aplicada a regra do art. 205 do Código Civil, qual seja, dez anos. A segunda corrente considera que a pretensão ali encartada, como sendo uma vedação a locupletamento ilícito, com prazo prescricional disposto no art. 206 §3° inciso IV do mesmo codex, e que, portanto, prescreveria em três anos. Uma terceira vertente preconiza que a pretensão que melhor se enquadra ao caso, seria a disposta no art. 206 §3° inciso VIII, qual seja, a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial. E uma derradeira, que aduz que deve ser considerado incidente a regra do art. 206 §5° inciso I do CC, prazo de cinco anos para pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular. No que tange ao proposto pela última corrente, aqueles que se opõem a tal idéia defendem que a dívida líquida que seria constante do título de crédito, deflui de uma obrigação de natureza cambial, e estando o mesmo vencido, a obrigação cambial nesse caso, já haveria se extinguido, motivo pelo qual a regra não mais se aplicaria. Defendendo ainda que este instituto se presta a demandas que sejam baseadas em contratos ou instrumento sem força executiva, ou atingido pela prescrição, e neste último caso, não inclui-se o que era anteriormente título de crédito. Com relação ao disposto no §3° inciso VIII do mesmo artigo, apesar da literalidade indicar que seria o prazo mais apto ao requerido, defendem os de posicionamento diverso, que a pretensão ali constante é pretensão executiva do título, deduzindo ainda que, mesmo que vencido o título de crédito, ele ainda é executável, sendo assim a ação monitória não se prestaria a tal feito, por falta do interesse de agir. Existem os que acreditam que o prazo mais adequado seria o do inciso V do mesmo parágrafo, uma vez que vencido o título a obrigação ali constante seria inexistente, e com a decorrência deste inciso, o que estaria em voga não seria a obrigação decorrente do título, mas sim a prova de que existiu uma obrigação, que no caso deve ser ressarcida, tendo em vista a regra que permeia o diploma civilista do naemien laedere (não causar dano), e também impossibilitando o enriquecimento sem causa. Esclarecem ainda que diante desta situação, incorreria a regra do art. 884 do CC, verbis, aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários. Reforçando ainda mais sua tese, salienta tal corrente, que anterior ao advento do processo monitório, a ação que era movida para haver valores decorrentes de títulos de créditos prescritos era usualmente denominada “ação de locupletamento indevido”. Desta forma ainda afirmam que a correta interpretação dos institutos seria a seguinte: existe a pretensão executiva do título que se inicia com o vencimento deste e que tem prazo prescricional de três anos, conforme 206 §3° inciso VIII do CC, possibilidade ainda de execução do mesmo. Prescrito o título (impossibilidade de sua execução) extingue-se a obrigação cambiária, surgindo, não obstante, a vedação ao locupletamento ilícito, atendendo então ao disposto nos artigos 206 §3° inciso IV c/c 884 ambos do CC, justificando-se, portanto, o uso do processo monitório para satisfazer a pretensão, visão esta que nos parece mais plausível.