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PSICOLOGIA SOCIAL I

PERCEPÇÃO SOCIAL E COMPORTAMENTO


SOCIAL

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1- Reconhecer a importância de fatores individuais na percepção social;

2- Identificar os tipos de fatores ambientais e pessoais na teoria de atribuição de causalidade;

3- Relacionar o modelo de covariação com a teoria de atribuição de causalidade;

4- Entender a teoria da inferência correspondente.

1 Comportamentos
A ampla pesquisa na área de comportamento interpessoal nos leva a entender, através da Psicologia Social, os

diversos comportamentos manifestos nas dinâmicas dos processos interativos dos sujeitos sociais.

Neste campo, encontramos vários tópicos de destaque, como, por exemplo, a definição e o estudo da proxêmica,

da comunicação não verbal, da personalidade e da interação social, como veremos nas próximas telas.

Você já parou para pensar por quê quando chegamos a um local nunca antes visitado, aproximamo-nos

sempre primeiro das pessoas que julgamos ser mais parecidas fisicamente e/ou psicologicamente com a

gente?

Poxêmica

Em relação ao estudo da proxêmica observamos pesquisas sobre as distâncias físicas que mantemos com outras

pessoas e grupos em relação a diversos fatores como sexo, status, papel social, entre outros.

Em outras palavras, o quão próximos nos colocamos dos outros, em função de diversos elementos determinantes

do grupo social.

Muitas vezes, mantemos uma proximidade maior daquelas pessoas que representam papeis sociais semelhantes

ao nosso, ou das pessoas que realizam atividades sociais complementares à nossa.

Como, por exemplo, quando vamos almoçar com colegas que exercem o mesmo cargo que nós.

Assim, dentro da sala de aula, é normal nos sentirmos mais próximos de nossos colegas do que do nosso

professor, pois ainda que ele se posicione de maneira acessível à turma, o papel por ele desempenhado no

momento, não permite uma proximidade total com o grupo de alunos.

Mas, talvez, em outro ambiente, como, por exemplo, em uma confraternização, os alunos possam se sentir mais

próximos de seus professores.

Em relação a isto, Helmuth Krüger (1986, p. 55) aponta

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“Presume-se que as pessoas tendem a preservar distâncias médias estabelecidas pelo grupo social do qual façam

parte, nas diversas situações interativas de que venham a participar. Desse modo, é de supor que haja a

tendência à manutenção de espaços considerados (social e culturalmente) convenientes entre leitores de

bibliotecas, doentes hospitalizados, passageiros de elevadores e professores e alunos em salas de aula”.

2 Conceitos e fatores do comportamento social


Na verdade, como o domínio da pesquisa da Psicologia Social sobre a interação social carece de teorias gerais, é

necessário recorrer a conceitos e definições de fatores centrais que participam no comportamento social

interpessoal.

Na continuação, destacamos alguns desses conceitos e fatores básicos.

Percepção da pessoa

Em termos gerais, o ato de perceber implica a possibilidade de tornar conscientes informações dos estímulos

ambientais decodificadas pelos nossos órgãos sensoriais.

Por outro lado, este processo perceptivo não pode ser considerado como linear ou passivo.

A percepção implica a construção destas informações de forma que as mesmas passem a ser significativas para o

sujeito que as percebe.

Krüger (1986) identifica esta condição da percepção como a subjetividade do processo perceptivo.

Desta forma, entendemos como percepção de pessoa as contribuições de cada um de nós na obtenção de

informações dos objetos examinados.

Para tornar consciente e dar sentido às sensações provenientes do mundo externo, todos os sujeitos interpretam

com certo grau de subjetividade, dando sentido a todas essas informações.

Esta subjetividade da percepção de pessoa pode ser definida através de várias particularidades, como veremos a

seguir.

• Seletividade

Para Krüger (1986), os diversos elementos que compõem a realidade objetiva não se apresentam em

iguais condições para todos os sujeitos. De fato, quando percebemos aplicamos, inevitavelmente,

valorizações diferentes para os diversos componentes da realidade objetiva, construindo assim nossa

realidade subjetiva.

• Qualidade de ser organizada e significativa

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Desde o ponto de vista psicológico, necessitamos ressaltar que nossas percepções dos objetos são

ordenadas, ou seja, respondem às leis de ordem e significado, e que precisamos das mesmas para poder

significar as nossas sensações. Devemos ressaltar que, na maioria das vezes, buscamos interpretar o que

foi percebido. Por estes motivos, dois sujeitos podem chegar a conclusões diferentes ao perceber o

mesmo estímulo.

• Categorização

É inevitável aplicar rótulos verbais a tudo que estimula os nossos sentidos no mundo circundante.

Os psicólogos preocupam-se com o estudo da categorização para entender as influências de termos

generalizados, na percepção de membros de grupos sociais, tais como étnicos, profissionais, ideológicos

e outros.

• Formação de impressões

Em antigos trabalhos experimentais, como os de Asch (1946), pesquisou-se a hipótese de que os traços

centrais da personalidade influem, de forma significativa, a impressão global que temos de outras

pessoas.

Para Asch (1946): "(...) uma constelação de traços da personalidade não deve ser interpretada

aditivamente, pois essas variáveis se interinfluenciam, determinando uma resultante que decorre da

articulação peculiar das características arroladas, não sendo, por conseguinte, redutível à sua mera

adição" (apud Krüger, 1986, p. 57).

Neste sentido, podemos entender que a forma como percebemos os outros é o resultado da inter-relação

do conjunto de traços que caracterizam o sujeito. O resultado desta mistura de características nos

permite formar impressões sobre os outros, muito mais do que uma simples soma de cada traço.

Por outro lado, o comportamento não verbal nos permite entender também a maneira como formamos

impressões sobre as outras pessoas, como veremos a seguir.

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3 Comunicação não verbal
Normalmente, prestamos enorme atenção ao que o outro fala quando interagimos. Mas, na verdade, as palavras

que ouvimos não representam a totalidade do que percebemos no momento. Existem outras fontes de

informação muito importantes além da fala que, muitas das vezes, percebemos sem tomar plena consciência

delas.

Estamos nos referindo à comunicação não verbal que vem sendo estudada de forma significativa para desvendar

como as pessoas se comunicam, seja intencionalmente ou não, sem o emprego das palavras.

As fontes de informação mais importantes aqui estão representadas pelas expressões faciais, o tom de voz, os

gestos, a linguagem corporal, e o modo de olhar.

Expressões faciais

As expressões faciais representam o ponto forte da comunicação não verbal. Elas vêm recebendo atenção e

sendo pesquisadas desde longa data. O próprio Charles Darwin (1872) escreveu um livro sobre este assunto

destacando as expressões emotivas tanto em animais como em humanos.

Segundo Darwin, as expressões primárias transmitidas pelo rosto são universais. Em outras palavras, os animais

de uma mesma espécie expressam as emoções da mesma forma e os outros conseguem interpretá-las com a

mesma precisão. Este processo de codificação e decodificação das emoções pelas expressões faciais estaria

relacionado, segundo o autor, com o fenômeno da evolução e não com fatores culturais.

Para Darwin, as expressões faciais foram adquirindo uma função adaptativa e, por tanto, a expressão de certos

estados emocionais acaba tendo, na verdade, um valor de sobrevivência para a espécie.

Por este motivo, a maioria dos autores, hoje, coincide em afirmar que existem pelo menos seis grandes

manifestações emocionais: raiva, felicidade, surpresa, medo, nojo e tristeza.

A decodificação de fotos de pessoas representando facialmente estes seis tipos de emoções é feita com precisão,

independentemente, do grupo cultural dos indivíduos fotografados ou de quem os decodificam.

No entanto, Paul Elkman e seus colegas (1969 apud Aronson et al, 2002) notaram existirem regras de

manifestações das emoções determinadas por fatores culturais.

Estes autores destacaram que manifestamos de forma específica nossas emoções dependendo do grupo cultural

ao qual pertencemos.

Assim, por exemplo, na cultura americana, os meninos são desestimulados a expressar tristeza de forma aberta

como o choro. Já em outras culturas como no Japão, as mulheres não devem exibir um sorriso largo e completo.

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Segundo Aronson et al. (2002), a comunicação não verbal serve a vários fins. Através dela podemos expressar

emoções, transmitir atitudes, opiniões e preferências, comunicar traços de personalidade e facilitar a

comunicação não verbal complementando a mensagem falada.

Certamente, o comportamento não verbal nos fornece diferentes pistas que contribuem de forma significativa na

construção de nossas impressões gerais sobre os outros.

Existem várias outras formas de comunicação não verbal obedecendo a fatores culturais. Assim, temos o contato

do olhar, o espaço pessoal, o toque físico, os gestos das mãos e cabeça, entre outros.

Desta forma, como Aronson, Wilson e Akert (2002) destacam, o fenômeno da comunicação acaba acontecendo

por uma multiplicidade de canais, permitindo-nos obter informações completas e complementares da mensagem

que está sendo transmitida.

4 Atribuição de Causalidade
A teoria de atribuição de causalidade analisa como explicamos o comportamento das pessoas. Apesar de

existirem diferentes variações desta teoria elas compartilham vários pontos em comum.

Nas teorias de atribuição encontramos, normalmente, dois grupos de fatores relevantes: os fatores ambientais e

os fatores pessoais ou de personalidade.

Estes dois grupos podem exercer pressão em conjunto ou não, e a dinâmica resultante se manifesta no

comportamento observável.

Um dos grandes representantes das teorias de atribuição, Fritz Heider (1958), observou como as pessoas

explicam os eventos cotidianos e concluiu que a maioria tem a tendência de atribuir o comportamento dos

outros a causas externas (fatores ambientais, situacionais) ou causas internas (fatores pessoais, características

da pessoa).

Esta diferenciação entre os dois grupos de fatores/causas se torna, muitas das vezes, pouco clara, já que em

muitos casos fatores externos podem produzir mudanças internas.

Por exemplo, quando afirmamos que alguém é pouco capaz (atribuição pessoal) quando na verdade as condições

do ambiente e das circunstâncias são as responsáveis pela falta de motivação dessa pessoa (atribuição

situacional).

Erro fundamental de atribuição

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Na atribuição de causalidade existe um tipo de erro que muitas vezes realizamos quando tentamos explicar

porque alguém fez o que fez. É chamado de erro fundamental de atribuição. Em muitas ocasiões consideramos

que os outros são responsáveis pelo que acontece e quando se trata de nós mesmos, consideramos que as nossas

ações foram determinadas pelas circunstâncias.

Da mesma forma, quando nos referimos a nós mesmos usamos verbos que descrevem as nossas ações, já quando

falamos de outra pessoa temos a tendência de usar o verbo ser, como por exemplo, “ele é pouco interessante”.

Em outras palavras, existe uma distorção na maneira como explicamos o comportamento dos outros, onde

muitas vezes ignoramos importantes determinantes situacionais. Isto pode ser explicado através da diversidade

de perspectivas e percepção situacional.

Existe uma perspectiva diferente quando analisamos o nosso comportamento e de quando analisamos o

comportamento dos outros. Ao agirmos, o ambiente exige a nossa atenção. Já quando observamos o que outra

pessoa faz, é ela quem ocupa nosso centro de atenção e por este motivo, ela parece responsável por tudo o que

acontece.

Adicionalmente, o tempo pode alterar nossas perspectivas sobre a explicação de nosso comportamento ou do

comportamento dos outros. Com o passar do tempo, consideramos que os determinantes do comportamento são

mais relativos a fatores externos, às circunstâncias.

Outro fator que contribui no erro de atribuição é a cultura. Em uma visão do mundo ocidental é mais frequente

considerar que os determinantes do comportamento são pessoais mais do que circunstanciais. Segundo Myers

(2000, p. 47): “Na cultura ocidental, à medida que as crianças crescem, tendem cada vez mais a explicar o

comportamento a partir das características pessoais dos outros”.

Teoria da inferência correspondente

O pai da teoria da atribuição, Fritz Heider (1958), destacou assim, que as atribuições internas são

particularmente atraentes para os observadores.

Este fato constitui o ponto de partida da teoria da inferência correspondente, formulada por Edward Jones e

Keith Davis (1965).

Teoria da inferência correspondente: Teoria que descreve o processo pelo qual chegamos a uma atribuição

interna. Em outras palavras, estuda como inferimos disposições ou características internas de personalidade.

Muitas das vezes, frente a uma história ou relato de alguém, costumamos inferir aquilo que desconhecemos,

como os motivos internos ou as características de personalidade dos envolvidos.

Assim, consideramos que as verdadeiras causas por trás do acontecido estão relacionadas com fatores pessoais e

passamos a explicar os atos através de disposições internas.

Vejamos o seguinte exemplo...

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Imagine você no supermercado fazendo as compras da semana...

... quando encontra uma senhora de aproximadamente 35 anos, brigando com uma criança de mais ou menos 4 e

que aparenta ser sua filha.

O que você pensa a respeito dessa suposta mãe?

Na maioria das vezes, quando não presenciamos o acontecimento anterior, consideramos a mulher pouco

paciente ou muito estressada e que briga com o filho por todas estas condições internas.

Modelos de covariação – Conceito

Outra teoria que tenta explicar este processo de atribuição causal é o modelo de covariação, proposto por Harold

Kelley (1967) que se preocupou em explicar como decidimos em fazer uma atribuição interna ou externa.

Esse pensamento coincide com o do Heider ao supor que no processo de atribuição, reunimos informações que

nos facilitam poder chegar a uma conclusão.

Estes dados são variações do comportamento do sujeito avaliado ao longo de certo tempo.

Ou seja, para poder explicar porque alguém fez o que fez, podemos usar informações relativas à maneira como o

sujeito vem agindo.

Modelo de covariação – Tipos

Para Kelley (1967), existem três tipos de informações que podemos usar. São eles:

Consenso A informação distintiva refere-se como o sujeito avaliado reage frente outros estímulos.

Distintividade A informação distintiva refere-se como o sujeito avaliado reage frente outros estímulos.

Descreve a frequência com a qual o comportamento observado frente ao estímulo


Consistência
específico se apresenta em tempo e em situações diferentes.

No exemplo visto da mãe no supermercado, se fosse o caso de conhecer essa mulher antes, poderíamos contar

com estes três tipos de informação. A informação de consenso seria, por exemplo, como esta mãe interage com a

criança normalmente quando está no supermercado. O segundo tipo de informação seria como essa mulher

interage com adultos, se ela é simpática ou calma ou pelo contrário, estressada e pouco paciente. O terceiro tipo

seria como esta mãe interage com o menino em outros locais, como por exemplo, em casa. Para Kelley, quando

combinamos estes três tipos de informação, estamos mais capacitados a realizar inferências mais claras e

precisas. Porém, as pesquisas feitas parecem apontar ao fato de que as informações de consenso não são usadas

como os outros dois tipos, as informações de consistência e distintividade.

Comparando as teorias

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Para as duas teorias apresentadas, a da inferência e a de covariação, as atribuições causais são feitas de forma

racional e lógica.

Mas porque nos parece que nossas impressões são corretas quando na maioria das vezes elas acabam

sendo erradas?

Segundo Aronson, Wilson e Akert (2002, p. 84) este fato pode ter várias razões.

Destacamos algumas:

Em primeiro lugar, vemos as pessoas em um número limitado de situações e, por tanto, nunca temos a

oportunidade de verificar que as nossas impressões estão erradas.

Em segundo lugar, muitas vezes não percebemos que nossas atribuições são erradas porque, sem notar, fazemos

com que elas se transformem em realidade. Este fenômeno é conhecido como profecias autorrealizadoras.

Isto acontece quando interagimos de tal forma com as pessoas que elas acabam reagindo a nós da maneira que

esperamos. Por exemplo, podemos cumprimentar secamente a alguém que consideramos antipático e esta

pessoa acaba cumprindo com as nossas expectativas, sendo antipático conosco pelo jeito pouco sociável com o

qual nos aproximamos.

Em terceiro lugar, talvez deixemos de compreender que estamos enganados se várias outras pessoas concordem

a respeito do que outra é (ainda que estejamos errados).

Para podermos melhorar a precisão de nossas atribuições e impressões, não podemos esquecer a existência do

erro fundamental de atribuição e das profecias autorrealizadoras. Na medida em que somos mais conscientes

das nossas tendenciosidades, poderemos ser mais justos ao julgar aos outros. Não entanto, segundo Myers, o

erro de atribuição é, na verdade, fundamental, já que nos permite entender porque explicamos da nossa forma os

outros, e desta maneira podemos estudar com mais clareza as atribuições que fazemos e suas consequências. De

fato, as atribuições podem estar relacionadas a diversos fatores importantes dos comportamentos interpessoais.

O que vem na próxima aula


• Processo de socialização e aprendizagem social;

• Formação do autoconceito e a auto-percepção;

• Desenvolvimento da moralidade e da necessidade de realização.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:

• compreendeu em que consiste a percepção social e a formação de impressões;

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• compreendeu em que consiste a percepção social e a formação de impressões;
• aprendeu as principais características da teoria de atribuição causal;
• conheceu o modelo de covariança e a teoria de inferência correspondente.

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