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Empreendedorismo na Engenharia | J. A.

Lerosa de Siqueira
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COMPETÊNCIAS ATRAVÉS DE CHA


Você já ouviu falar da sigla CHA? Significa Conhecimentos, Habilidades e Atitudes. Este é um termo usado por
quem atua no desenvolvimento de recursos humanos, uma área das empresas que recentemente evoluiu
muito no Brasil. Um curso superior irá desenvolver em você uma coleção completa de competências. Cada
competência exigirá o domínio de um conjunto de fatos (saber certos conhecimentos), o treinamento de uma
série de atividades práticas (saber fazer, ter as habilidades específicas da formação buscada) e a valorização de
certas atitudes corretas, como querer fazer certo, com responsabilidade, com iniciativa.

AS ATITUDES SE DESENVOLVEM SOBRE OS VALORES


As atitudes de uma pessoa dependem dos valores que ela preza. Assim, durante a sua formação em
engenharia, em que você será gradualmente treinado nas competências exigidas pelo mundo do trabalho, você
ouvirá falar muito sobre os valores ética, sustentabilidade e empreendedorismo. Não haverá aulas sobre esses
temas, porque eles são ditos transversais, isto é, sempre ficarão nas entrelinhas durante a atuação do
engenheiro na sociedade.

O engenheiro é um solucionador de problemas. Uma solução não serve se ela não é ética, porque se o trabalho
do engenheiro não levar em conta o bem da sociedade, cedo ou tarde ela o expulsará do seu seio. Pelo mesmo
motivo, uma solução não é aceitável se não é sustentável, financeira, social e ambientalmente, principalmente
no campo da engenharia, que tem o poder de mudar o meio ambiente e a natureza. Na linguagem dos
engenheiros, dizemos que ética e sustentabilidade são restrições básicas para a realização de qualquer projeto
de engenharia.

A EMPREGABILIDADE AUMENTA COM O COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR


Talvez você não passe por um treinamento específico em empreendedorismo. Porém, a sua empregabilidade
— a maior ou menor facilidade de obter um emprego que o satisfaça em todos os aspectos importantes —,
cada vez mais depende de quanto o valor empreendedorismo está desenvolvido em você. Hoje em dia, para se
desempenhar um papel relevante numa organização, não basta saber, ter o conhecimento. Também não
resolve saber fazer, ter a habilidade prática desenvolvida, saber interagir com as pessoas. É preciso também
querer fazer, persistir, até atingir resultados. O engenheiro pode querer fazer porque foi contratado para isto.
Mas cada vez com maior frequência, na economia global em que estamos vivendo, a chamada economia do
conhecimento, ele enfrenta um problema porque gosta do desafio.

EMPREENDEDORISMO É ACEITAR DESAFIOS COMPENSADORES


Este gostinho pelo desafio é o que chamamos de empreendedorismo. Mas não confundamos gostinho pelo
desafio com vicio em adrenalina. O empreendedor gosta de um desafio, mas não quer lidar com incertezas, não
quer assumir riscos desconhecidos. Ele se prepara para lidar com riscos conhecidos e isto faz toda a diferença.

A PREVISÃO DE TIMMONS
Um famoso professor de empreendedorismo, Jeffrey Timmons, do Babson College, autor principal de
uma das obras fundamentais do empreendedorismo, New Venture Creation, começa o seu livro declarando
que o empreendedorismo será mais importante para o século 21 do que a revolução industrial foi
para o século 19. A partir de 1760, a revolução industrial introduziu novos processos de manufatura e
pela primeira vez o trabalhador não dependia da sua força física para poder trabalhar. Foi o começo
do fim do trabalho pesado. As máquinas começaram a assumir a execução das tarefas mais árduas,
que apenas usavam a força do ser humano sem dar muita importância para a sua inteligência.
Quando o indivíduo começou a ter o direito de assumir as rédeas de sua vida, a ter o direito de
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escolher com o que queria trabalhar, e não seguir naturalmente a profissão do seu pai e do seu avô,
ele percebeu que se ele ficasse atento às oportunidades que surgissem, e assumisse riscos
calculados, ele seria mais bem sucedido financeiramente. Foi o início da meritocracia de massa.

DOM MANUEL I – O VENTUROSO


O empreendedorismo sempre existiu e foi o que levou a raça humana a construir sistemas sociais cada vez mais
complexos. Na época dos descobrimentos, o 14º rei de Portugal, Dom Manuel I, era chamado de “O
Venturoso”. Na linguagem de hoje, ele seria chamado de Dom Manuel “O Empreendedor”. Foi ele quem
acreditou na possibilidade de sucesso do navegador Vasco da Gama, que queria encontrar o caminho por mar
para as Índias. Foi ele também quem confiou a Pedro Álvares Cabral a tarefa de descobrir o outro caminho para
as Índias, navegando para oeste, o que o levou e dar de costados com um novo continente. D. Manuel soube
tirar proveito comercial dessas descobertas, tornando Portugal um dos países mais ricos e poderosos da Europa
na época.

Dom Manuel sabia que se dez naus saíssem do porto de Lisboa em direção ao Oriente pelo caminho marítimo,
em busca de especiarias, e quase todas se perdessem no caminho, vítimas de tempestades, de motins a bordo,
de doenças, de ataques por povos selvagens no caminho, bastava que uma das naus conseguisse retornar a
Lisboa para que a aventura fosse bem sucedida financeiramente.

O EMPREENDEDORISMO NA ENGENHARIA
Se existe um curso para formação de empreendedores, é o de engenharia. A engenharia é por princípio
empreendedora. Basta verificar as três principais características da atuação do engenheiro .

Primeira característica do engenheiro: ele não fica apenas no papel, muito menos na idéia; ela ou ele também
sai do laboratório de desenvolvimento, do escritório de projeto, da reunião de discussão e compromete-se com
a transformação da idéia em algo real, concreto, palpável, seja um novo aplicativo de smartphone, seja um
novo produto a ser lançado no mercado, seja um novo processo de transformação de matérias primas. O
engenheiro é um executor de ações.

Segunda característica do engenheiro: ele é treinado nas competências de planejamento, porque sem elas
apenas problemas de pequeno grau de complexidade podem ser enfrentados. O engenheiro é um planejador
de ações. Como não adianta nada planejar sem monitorar e supervisionar se o plano está sendo seguido, o
engenheiro também é um gestor. Sem planejamento e portanto sem gestão, apenas podem ser resolvidos
problemas simples, triviais, praticamente iguais a outros problemas também simples já enfrentados.

Terceira característica do engenheiro: ele é treinado para estar atento a oportunidades que ele possa
aproveitar para gerar mais valor para a sociedade. O engenheiro aproveita as oportunidades. Este é o principal
papel do empreendedor, e é por este motivo que o seu impacto na economia do mundo é tão grande.

OBJETIVOS DO EMPREENDEDORISMO
Gerar valor para a sociedade? Mas o principal objetivo do empreendedor não é ganhar mais dinheiro e mais
poder? Não é. O principal objetivo do empreendedor é conseguir gerar valor. Somente é bem sucedido o
empreendedor que consegue ter esta grande revelação: dinheiro e poder não podem ser os objetivos, mas sim
consequências do desenvolvimento de uma capacidade pessoal para gerar valor para a sociedade.

Imagine por exemplo que você, ao assistir a estas aulas, perceba que existe um aprimoramento sutil no modo
como um curso é ministrado, que irá aumentar sensivelmente a probabilidade de formar bons engenheiros,
profissionais desejados pelo mercado, pessoas bem sucedidas no seu trabalho. Se você conseguir criar um
protótipo da sua ideia e apresentá-la para os responsáveis pelo curso, é possível que eles aceitem fazer um
projeto piloto, com você na equipe, para testar na prática o aprimoramento que você sugeriu. Se der certo,
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você terá gerado valor para o curso da UNIVESP, algo que você poderá colocar no seu currículo como sendo um
aprendizado confirmado e concretizado.

A REPUTAÇÃO PESSOAL
Se você continuar a propor alterações que agreguem valor, com o tempo, você adquirirá uma reputação
profissional como alguém que entende de cursos virtuais. Mas do que isto, sua reputação como planejador e
executor de projetos complexos também ficará visível. Será esta reputação que permitirá a você assumir papéis
cada vez mais complexos, aumentando quanto você vale perante o mercado.

Como é possivel gerar mais valor? Fazendo diferente; enfrentando problemas que ainda não foram
plenamente resolvidos; usando novas tecnologias que não estavam sendo consideradas; aproveitando um
recurso que ninguém mais percebe que está disponível para conceber uma nova solução para um problema.

É da natureza do engenheiro estar disposto a inovar. E ele sabe que inovação é algo que gera valor para a
sociedade de uma forma antes não percebida.

As três características do engenheiro apontadas acima, executar, planejar e inovar, são exatamente aquelas
que definem o indivíduo empreendedor.

EMPREENDEDORISMO NÃO É ABRIR UMA EMPRESA


Quando se falava sobre empreendedorismo nos anos 80, a definição que se dava ao termo seguia um ponto de
vista muito estreito. Se alguém perguntasse o que devia fazer para se tornar um empreendedor, a resposta era:
abra uma empresa, seja dono do seu nariz, deixe de ser empregado de alguém para ser patrão de si mesmo.

Os termos empregado e empregador perderam o significado dicotômico de antes. A evolução das relações de
trabalho gerou uma gradação contínua entre estes dois extremos. Em plena economia do conhecimento,
existem muitas posições intermediárias.

RISCO E LUCRO
Uma dessas posições intermediárias com características tanto de empregado quanto de empregador é a de
empreendedor corporativo. Você trabalha numa empresa e tem uma ideia para gerar uma inovação na
empresa. Por exemplo, você acredita que há espaço para desenvolver uma nova linha de produtos para o
mercado. Então elabora um plano e o executar em parceria com a empresa. Os resultados financeiros
originados da inovação são divididos entre você e a empresa. Em partes iguais? Claro que não, este não é o
melhor critério. O lucro entre uma parceria de empreendedores, é dividido na proporção em que os riscos
assumidos foram divididos.

Riscos: aí está a origem do termo empreendedor. Quando primeiro foi usado, empreendedor significava
planejador. Logo em seguida, empreendedor foi usado no sentido de assumidor de riscos. Mas assumir um
risco e planejar as suas consequências no futuro são a mesma coisa dita de duas formas diferentes.

UMA NOVA DEFINIÇÃO PARA EMPREENDEDOR


No mundo atual do começo do século 21, uma definição mais ampla é dizer que o empreendedor é aquele que
domina suas funções executivas. Este é um termo guarda-chuva para a gestão dos processos cognitivos do
cérebro humano que se relacionam com o fazer. São as funções que demandam qualidades de liderança, de
iniciativa e de inovação, e que incluem:

- selecionar os objetivos atrás dos quais deseja ir;


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- ir atrás dos objetivos selecionados;

- quando ocorrer um conflito entre dois objetivos, ou quando houver necessidade de escolher apenas um
deles, tomar decisões rápidas;

- quando surgir o inesperado, encontrar rapidamente um plano B ou já ter um plano B preparado just in case;

- saber a hora certa de abandonar um barco que você percebeu que irá afundar, enquanto a margem ainda
está perto e dá para nadar de volta. Isto minimiza a perda provocada por um risco que se concretizou.

INVENTANDO O FUTURO
Em outras palavras, o empreendedor procura usar muito bem o recurso mais importante de todos: o tempo.

Você e a pessoa mais bem sucedida do mundo têm 24 horas num dia de vida. No longo prazo, a forma como
você usa este tempo é o que define o grau de sucesso que terá. O único modo sensato de otimizar o uso do seu
tempo é planejando antecipadamente como irá usá-lo. Para isto, você procura lembrar de todas as tarefas que
precisa executar. E para lembrar de todas as tarefas você precisa antes inventar o seu futuro.

O empreendedor é um inventor do seu próprio futuro.

A ATITUDE EM RELAÇÃO AO RISCO


Como o empreendedor lida com o risco? Ele percebe logo uma verdade fundamental: o risco é algo inerente e
essencial à própria vida. Só ganha quem sabe perder. Só aprende quem erra. Só se desenvolve como um
cidadão pleno quem teve a oportunidade de experimentar, acertar e errar durante infância, juventude e
mocidade.

MINIMIZANDO OS RISCOS
A relação entre o empreendedor e o risco é uma relação de amor e ódio. O empreendedor está disposto a
assumir um risco, desde que ele seja conhecido e seja o menor possível, e que se faça o avanço de uma forma
gradual, de modo a que ele já possa pôr na conta das despesas a pagar o custo dos erros que certamente irá
cometer. Uma das principais competências que o empreendedor procura desenvolver é saber como minimizar
os riscos do empreendimento em que deseja apostar. Como se faz para diminuir um risco? Só há três formas:
eliminando o risco, transferindo parte do risco para outro, ou mitigando o risco inevitável.

Vamos imaginar que você pretenda desenvolver um novo produto para colocar no mercado e que tem o
domínio total da tecnologia que será necessária para fabricar o novo produto. Porém você não tem certeza de
que alguém irá desejar comprar aquele produto. Este é um risco de cunho mercadológico. Você pode eliminar
este risco produzindo somente sob encomenda para quem vende, ou fazendo uma parceria com alguém que
atue muito bem em vendas e que está disposto a compartilhar riscos e resultados. Ou você pode transferir o
risco terceirizando as vendas do seu produto. A transferência do risco não o elimina, apenas aumenta a
probabilidade dele ser dominado. Pode também mitigar este risco só iniciando a empreitada quando tiver
certeza de que um mercado para ele existe, perdendo a oportunidade de ser um pioneiro e se conformando
em ser um seguidor de tendências. Do seu ponto de vista, sempre que um risco é eliminado, transferido ou
mitigado, o potencial de geração de valor da oportunidade diminui.

O EMPREENDEDORISMO ESTÁ EM TODAS AS PROFISSÕES


Espero que não fiquem com a impressão de que só o engenheiro precisa ser empreendedor. Hoje qualquer
profissional tem a ganhar sendo empreendedor, inventando o seu próprio futuro, independentemente de sua
área de atuação.

O TRABALHO COLABORATIVO
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Outra informação importante: o empreendedor é sempre um colaborador. O empreendedor tem muitos
parceiros e muitas parceiras no empreendimento, com os quais divide o risco. Todos na mesma equipe.

O EMPREENDEDOR FALA VÁRIAS LÍNGUAS


Outra característica interessante de todo empreendedor é que ele é poliglota. Fala com maior ou menor
sucesso diversas linguas: a língua da tecnologia, a língua das negociações, a língua das finanças, a língua das
leis.

AS COMPETÊNCIAS DO EMPREENDEDOR SE ORGANIZAM NA FORMA DE UM T


Costuma-se representar a formação, isto é, o conjunto de competências do empreendedor, na forma de um T.
A parte vertical do T, a sua alma, representa o conjunto de competências de geração de valor que o
empreendedor desenvolveu, as chamadas competências técnicas. Por exemplo: competências relacionadas ao
trabalho intelectual do engenheiro. É desejável que estas competências tenham valor para pelo menos um dos
parceiros. No momento em que isto não for mais verdade, não haverá mais motivo para aquele empreendedor
continuar sendo aceito naquela rede de relacionamentos. As competências técnicas que possui são sua moeda
de troca. O curso de engenharia irá desenvolver principalmente o conjunto de competências da parte vertical
do T.

A parte horizontal do T, a sua mesa, é como se fosse o barramento no qual os outros parceiros se conectam.
Ela representa as competências de comunicação, de linguagem, de interface, de capacidade de negociar,
desenvolver, manter e fomentar parcerias, principalmente que com parceiros que discordem de você. Uma
competência extremamente valiosa é a que permite sustentar uma discordância cordial, elegante, sem
agressões mútuas. O desenvolvimento destas competências merece pelo menos metade do seu tempo
restante.

À medida que o engenheiro formado se desenvolve como profissional, ele passa a dedicar uma fração cada vez
maior do seu tempo para desenvolver as competências de interface.

Um empreendimento envolve vários Ts, isto é, vários empreendedores, ligados no mesmo barramento.

O PAPEL DO EMPREENDEDOR NA EMPRESA


Na empresa de hoje, o papel do empreendedor é fundamental, porque sem ele não há inovação e sem
inovação não há futuro: a única certeza em relação ao presente é que ele não permanecerá estático, ele irá
mudar e para a empresa se preparar para o futuro ela precisa reinventá-lo à sua maneira.

Às vezes a empresa tem na sua equipe o elemento que percebe a existência de um desafio e sabe o que precisa
ser feito para superá-lo. Tem também o elemento que junto com o primeiro desenvolve um plano de ação. Mas
se não existir um empreendedor que entenda de risco, não há movimento para a inovação.

DESENVOLVENDO A ATITUDE EMPREENDEDORA


O que você pode fazer para se tornar mais empreendedor?

Existem cursos de empreendedorismo voltados para o treinamento de competências como:

- entreprenismo (trabalho em equipe com altos resultados)

- técnicas de criatividade

- técnicas de representação de visões do futuro

- técnicas de planejamento do tempo


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- treinamento em foco, persistência e resiliência.

TENDÊNCIAS NO FUTURO PRÓXIMO


Com a evolução constante e paulatina da tecnologia da informação e da automação de processos, pode-se
esperar que a tendência no futuro é que os problemas que já foram resolvidos antes sejam enfrentados com
métodos regrados, que irão pouco a pouco sendo automatizados, dispensando a participação de um
solucionador de problemas, vulgo engenheiro. Logo, sobrarão para os engenheiros as tarefas empreendedoras.
Um famoso empreendedor do Silicon Valley, Vinod Khosla, disse uma vez: “ninguém é contratado para resolver
um não-problema”.

A DISCIPLINA “ENGENHARIA” NO ENSINO MÉDIO


O espírito empreendedor é algo tão próprio do engenheiro que alguns países já possuem na grade curricular do
ensino médio a disciplina “Engenharia”, ao lado de matemática, comunicação escrita e oral e tudo aquilo que
faz parte do kit do cidadão.

É uma questão de buscar aumentar a empregabilidade daquele que para de estudar após o ensino médio.

OPORTUNIDADES NA CADEIA DE SUPRIMENTOS


O engenheiro empreendedor, logo depois de se formar, procura primeiro aprender deixando que outros paguem a
conta, isto é, atuando como empregado numa empresa em que possa aprender muito.

Em seguida, quando não há mais o que aprender na empresa ele troca de empresa até ter acumulado experiência
suficiente para ter desenvolvido uma reputação de seriedade e confiança. Enquanto ele atua como empregado, ele fica
atento a dois aspectos:

- a chamada cadeia de suprimentos do setor, que é o nome dado ao sistema de empresas, pessoas, atividades,
informações e recursos envolvidos em mover um serviço ou um produto desde o fornecedor de matérias primas até o
consumidor final.

- as tecnologias emergentes que podem aprimorar a cadeia de suprimentos.

AGREGAÇÃO DE VALOR EM CADA ETAPA


Cadeias de suprimentos geram cadeias de valor, significando que cada etapa agrega valor aos insumos daquela etapa,
incorporando este valor no produto que gera, que entra como insumo na etapa seguinte, e assim por diante, até chegar
no consumidor final. Cada etapa da cadeia de suprimentos representa uma oportunidade para o engenheiro ser
empreendedor.

O segundo aspecto é ficar atento às oportunidades que tecnologias emergentes oferecem para aprimorar a cadeia de
suprimentos. Vejamos um exemplo fora da engenharia. Até os anos 1990, quem quisesse obter a partitura de uma
música precisava comprá-la de um editor de partituras, mesmo que a música já tivesse caído em domínio público.
Quando algo cai em domínio público, o uso é livre, sem necessidade de se pagar nada ao autor. Entretanto, o papel do
editor na cadeia de suprimentos era essencial, porque alguém precisava publicar a partitura e vender as cópias para os
interessados.

De repente em 1993 surge a internet. O que aconteceu? Vários grupos resolveram organizar e disponibilizar as
partituras dos principais compositores clássicos, pela internet, por um preço simbólico ou até mesmo de graça. Fizeram
o que é chamado de inovação destrutiva ou disruptiva, porque destruiu de modo irreversível o editor de partituras, um
dos elos da cadeira até então existente de suprimentos de partituras para os músicos. Por outro lado, a disponibilidade
de partituras a um preço mais barato permitiu o aumento da quantidade de músicos, que por sua vez permitiu o
crescimento da indústria de instrumentos, que contrataram mais funcionários e em função da escala de fabricação
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diminuíram de preço, permitindo que mais pessoas pudessem tocar música. A inovação sempre gera um círculo
virtuoso, em que, na média, a sociedade e a economia do setor ganha, apesar de algum elo da cadeia de suprimentos
perder rentabilidade ou até desaparecer.

Vale a pena repetir: a preocupação primordial do empreendedor não é ganhar dinheiro. O mais importante é criar
valor. Ganhar dinheiro é uma consequência natural. Se algum elo da cadeia produtiva deixa de criar valor, ele será
inevitavelmente eliminado com o tempo. É a chamada desintermediação, em que onde antes havia um intermediário
que existia apenas para juntar duas partes da cadeia produtiva, de repente um empreendedor percebe que o
intermediário é inútil e o elimina da cadeia produtiva.

AS CONDIÇÕES BÁSICAS DE SUCESSO DE UM EMPREENDIMENTO


Uma lição que aprendi durante a vida, como empreendedor e como mentor de empreendedores, é que em qualquer
empreendimento três hipóteses básicas precisam ser confirmadas para que ele possa ser bem sucedido:

- Hipótese de geração de valor: o que eu pretendo oferecer ao mercado agrega valor à vida de alguém, isto é, o meu
produto tem um cliente conhecido e confirmado.

- Hipótese de crescimento: o mercado consumidor do meu produto é formado por muitos clientes, portanto o meu
negócio pode crescer com o tempo.

- Hipótese de escalabilidade: eu consigo aumentar minha capacidade de produção de modo a atender o mercado,
quando ele crescer.

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