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Lerosa de Siqueira
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O engenheiro é um solucionador de problemas. Uma solução não serve se ela não é ética, porque se o trabalho
do engenheiro não levar em conta o bem da sociedade, cedo ou tarde ela o expulsará do seu seio. Pelo mesmo
motivo, uma solução não é aceitável se não é sustentável, financeira, social e ambientalmente, principalmente
no campo da engenharia, que tem o poder de mudar o meio ambiente e a natureza. Na linguagem dos
engenheiros, dizemos que ética e sustentabilidade são restrições básicas para a realização de qualquer projeto
de engenharia.
A PREVISÃO DE TIMMONS
Um famoso professor de empreendedorismo, Jeffrey Timmons, do Babson College, autor principal de
uma das obras fundamentais do empreendedorismo, New Venture Creation, começa o seu livro declarando
que o empreendedorismo será mais importante para o século 21 do que a revolução industrial foi
para o século 19. A partir de 1760, a revolução industrial introduziu novos processos de manufatura e
pela primeira vez o trabalhador não dependia da sua força física para poder trabalhar. Foi o começo
do fim do trabalho pesado. As máquinas começaram a assumir a execução das tarefas mais árduas,
que apenas usavam a força do ser humano sem dar muita importância para a sua inteligência.
Quando o indivíduo começou a ter o direito de assumir as rédeas de sua vida, a ter o direito de
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escolher com o que queria trabalhar, e não seguir naturalmente a profissão do seu pai e do seu avô,
ele percebeu que se ele ficasse atento às oportunidades que surgissem, e assumisse riscos
calculados, ele seria mais bem sucedido financeiramente. Foi o início da meritocracia de massa.
Dom Manuel sabia que se dez naus saíssem do porto de Lisboa em direção ao Oriente pelo caminho marítimo,
em busca de especiarias, e quase todas se perdessem no caminho, vítimas de tempestades, de motins a bordo,
de doenças, de ataques por povos selvagens no caminho, bastava que uma das naus conseguisse retornar a
Lisboa para que a aventura fosse bem sucedida financeiramente.
O EMPREENDEDORISMO NA ENGENHARIA
Se existe um curso para formação de empreendedores, é o de engenharia. A engenharia é por princípio
empreendedora. Basta verificar as três principais características da atuação do engenheiro .
Primeira característica do engenheiro: ele não fica apenas no papel, muito menos na idéia; ela ou ele também
sai do laboratório de desenvolvimento, do escritório de projeto, da reunião de discussão e compromete-se com
a transformação da idéia em algo real, concreto, palpável, seja um novo aplicativo de smartphone, seja um
novo produto a ser lançado no mercado, seja um novo processo de transformação de matérias primas. O
engenheiro é um executor de ações.
Segunda característica do engenheiro: ele é treinado nas competências de planejamento, porque sem elas
apenas problemas de pequeno grau de complexidade podem ser enfrentados. O engenheiro é um planejador
de ações. Como não adianta nada planejar sem monitorar e supervisionar se o plano está sendo seguido, o
engenheiro também é um gestor. Sem planejamento e portanto sem gestão, apenas podem ser resolvidos
problemas simples, triviais, praticamente iguais a outros problemas também simples já enfrentados.
Terceira característica do engenheiro: ele é treinado para estar atento a oportunidades que ele possa
aproveitar para gerar mais valor para a sociedade. O engenheiro aproveita as oportunidades. Este é o principal
papel do empreendedor, e é por este motivo que o seu impacto na economia do mundo é tão grande.
OBJETIVOS DO EMPREENDEDORISMO
Gerar valor para a sociedade? Mas o principal objetivo do empreendedor não é ganhar mais dinheiro e mais
poder? Não é. O principal objetivo do empreendedor é conseguir gerar valor. Somente é bem sucedido o
empreendedor que consegue ter esta grande revelação: dinheiro e poder não podem ser os objetivos, mas sim
consequências do desenvolvimento de uma capacidade pessoal para gerar valor para a sociedade.
Imagine por exemplo que você, ao assistir a estas aulas, perceba que existe um aprimoramento sutil no modo
como um curso é ministrado, que irá aumentar sensivelmente a probabilidade de formar bons engenheiros,
profissionais desejados pelo mercado, pessoas bem sucedidas no seu trabalho. Se você conseguir criar um
protótipo da sua ideia e apresentá-la para os responsáveis pelo curso, é possível que eles aceitem fazer um
projeto piloto, com você na equipe, para testar na prática o aprimoramento que você sugeriu. Se der certo,
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você terá gerado valor para o curso da UNIVESP, algo que você poderá colocar no seu currículo como sendo um
aprendizado confirmado e concretizado.
A REPUTAÇÃO PESSOAL
Se você continuar a propor alterações que agreguem valor, com o tempo, você adquirirá uma reputação
profissional como alguém que entende de cursos virtuais. Mas do que isto, sua reputação como planejador e
executor de projetos complexos também ficará visível. Será esta reputação que permitirá a você assumir papéis
cada vez mais complexos, aumentando quanto você vale perante o mercado.
Como é possivel gerar mais valor? Fazendo diferente; enfrentando problemas que ainda não foram
plenamente resolvidos; usando novas tecnologias que não estavam sendo consideradas; aproveitando um
recurso que ninguém mais percebe que está disponível para conceber uma nova solução para um problema.
É da natureza do engenheiro estar disposto a inovar. E ele sabe que inovação é algo que gera valor para a
sociedade de uma forma antes não percebida.
As três características do engenheiro apontadas acima, executar, planejar e inovar, são exatamente aquelas
que definem o indivíduo empreendedor.
Os termos empregado e empregador perderam o significado dicotômico de antes. A evolução das relações de
trabalho gerou uma gradação contínua entre estes dois extremos. Em plena economia do conhecimento,
existem muitas posições intermediárias.
RISCO E LUCRO
Uma dessas posições intermediárias com características tanto de empregado quanto de empregador é a de
empreendedor corporativo. Você trabalha numa empresa e tem uma ideia para gerar uma inovação na
empresa. Por exemplo, você acredita que há espaço para desenvolver uma nova linha de produtos para o
mercado. Então elabora um plano e o executar em parceria com a empresa. Os resultados financeiros
originados da inovação são divididos entre você e a empresa. Em partes iguais? Claro que não, este não é o
melhor critério. O lucro entre uma parceria de empreendedores, é dividido na proporção em que os riscos
assumidos foram divididos.
Riscos: aí está a origem do termo empreendedor. Quando primeiro foi usado, empreendedor significava
planejador. Logo em seguida, empreendedor foi usado no sentido de assumidor de riscos. Mas assumir um
risco e planejar as suas consequências no futuro são a mesma coisa dita de duas formas diferentes.
- quando ocorrer um conflito entre dois objetivos, ou quando houver necessidade de escolher apenas um
deles, tomar decisões rápidas;
- quando surgir o inesperado, encontrar rapidamente um plano B ou já ter um plano B preparado just in case;
- saber a hora certa de abandonar um barco que você percebeu que irá afundar, enquanto a margem ainda
está perto e dá para nadar de volta. Isto minimiza a perda provocada por um risco que se concretizou.
INVENTANDO O FUTURO
Em outras palavras, o empreendedor procura usar muito bem o recurso mais importante de todos: o tempo.
Você e a pessoa mais bem sucedida do mundo têm 24 horas num dia de vida. No longo prazo, a forma como
você usa este tempo é o que define o grau de sucesso que terá. O único modo sensato de otimizar o uso do seu
tempo é planejando antecipadamente como irá usá-lo. Para isto, você procura lembrar de todas as tarefas que
precisa executar. E para lembrar de todas as tarefas você precisa antes inventar o seu futuro.
MINIMIZANDO OS RISCOS
A relação entre o empreendedor e o risco é uma relação de amor e ódio. O empreendedor está disposto a
assumir um risco, desde que ele seja conhecido e seja o menor possível, e que se faça o avanço de uma forma
gradual, de modo a que ele já possa pôr na conta das despesas a pagar o custo dos erros que certamente irá
cometer. Uma das principais competências que o empreendedor procura desenvolver é saber como minimizar
os riscos do empreendimento em que deseja apostar. Como se faz para diminuir um risco? Só há três formas:
eliminando o risco, transferindo parte do risco para outro, ou mitigando o risco inevitável.
Vamos imaginar que você pretenda desenvolver um novo produto para colocar no mercado e que tem o
domínio total da tecnologia que será necessária para fabricar o novo produto. Porém você não tem certeza de
que alguém irá desejar comprar aquele produto. Este é um risco de cunho mercadológico. Você pode eliminar
este risco produzindo somente sob encomenda para quem vende, ou fazendo uma parceria com alguém que
atue muito bem em vendas e que está disposto a compartilhar riscos e resultados. Ou você pode transferir o
risco terceirizando as vendas do seu produto. A transferência do risco não o elimina, apenas aumenta a
probabilidade dele ser dominado. Pode também mitigar este risco só iniciando a empreitada quando tiver
certeza de que um mercado para ele existe, perdendo a oportunidade de ser um pioneiro e se conformando
em ser um seguidor de tendências. Do seu ponto de vista, sempre que um risco é eliminado, transferido ou
mitigado, o potencial de geração de valor da oportunidade diminui.
O TRABALHO COLABORATIVO
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Outra informação importante: o empreendedor é sempre um colaborador. O empreendedor tem muitos
parceiros e muitas parceiras no empreendimento, com os quais divide o risco. Todos na mesma equipe.
A parte horizontal do T, a sua mesa, é como se fosse o barramento no qual os outros parceiros se conectam.
Ela representa as competências de comunicação, de linguagem, de interface, de capacidade de negociar,
desenvolver, manter e fomentar parcerias, principalmente que com parceiros que discordem de você. Uma
competência extremamente valiosa é a que permite sustentar uma discordância cordial, elegante, sem
agressões mútuas. O desenvolvimento destas competências merece pelo menos metade do seu tempo
restante.
À medida que o engenheiro formado se desenvolve como profissional, ele passa a dedicar uma fração cada vez
maior do seu tempo para desenvolver as competências de interface.
Um empreendimento envolve vários Ts, isto é, vários empreendedores, ligados no mesmo barramento.
Às vezes a empresa tem na sua equipe o elemento que percebe a existência de um desafio e sabe o que precisa
ser feito para superá-lo. Tem também o elemento que junto com o primeiro desenvolve um plano de ação. Mas
se não existir um empreendedor que entenda de risco, não há movimento para a inovação.
- técnicas de criatividade
É uma questão de buscar aumentar a empregabilidade daquele que para de estudar após o ensino médio.
Em seguida, quando não há mais o que aprender na empresa ele troca de empresa até ter acumulado experiência
suficiente para ter desenvolvido uma reputação de seriedade e confiança. Enquanto ele atua como empregado, ele fica
atento a dois aspectos:
- a chamada cadeia de suprimentos do setor, que é o nome dado ao sistema de empresas, pessoas, atividades,
informações e recursos envolvidos em mover um serviço ou um produto desde o fornecedor de matérias primas até o
consumidor final.
O segundo aspecto é ficar atento às oportunidades que tecnologias emergentes oferecem para aprimorar a cadeia de
suprimentos. Vejamos um exemplo fora da engenharia. Até os anos 1990, quem quisesse obter a partitura de uma
música precisava comprá-la de um editor de partituras, mesmo que a música já tivesse caído em domínio público.
Quando algo cai em domínio público, o uso é livre, sem necessidade de se pagar nada ao autor. Entretanto, o papel do
editor na cadeia de suprimentos era essencial, porque alguém precisava publicar a partitura e vender as cópias para os
interessados.
De repente em 1993 surge a internet. O que aconteceu? Vários grupos resolveram organizar e disponibilizar as
partituras dos principais compositores clássicos, pela internet, por um preço simbólico ou até mesmo de graça. Fizeram
o que é chamado de inovação destrutiva ou disruptiva, porque destruiu de modo irreversível o editor de partituras, um
dos elos da cadeira até então existente de suprimentos de partituras para os músicos. Por outro lado, a disponibilidade
de partituras a um preço mais barato permitiu o aumento da quantidade de músicos, que por sua vez permitiu o
crescimento da indústria de instrumentos, que contrataram mais funcionários e em função da escala de fabricação
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diminuíram de preço, permitindo que mais pessoas pudessem tocar música. A inovação sempre gera um círculo
virtuoso, em que, na média, a sociedade e a economia do setor ganha, apesar de algum elo da cadeia de suprimentos
perder rentabilidade ou até desaparecer.
Vale a pena repetir: a preocupação primordial do empreendedor não é ganhar dinheiro. O mais importante é criar
valor. Ganhar dinheiro é uma consequência natural. Se algum elo da cadeia produtiva deixa de criar valor, ele será
inevitavelmente eliminado com o tempo. É a chamada desintermediação, em que onde antes havia um intermediário
que existia apenas para juntar duas partes da cadeia produtiva, de repente um empreendedor percebe que o
intermediário é inútil e o elimina da cadeia produtiva.
- Hipótese de geração de valor: o que eu pretendo oferecer ao mercado agrega valor à vida de alguém, isto é, o meu
produto tem um cliente conhecido e confirmado.
- Hipótese de crescimento: o mercado consumidor do meu produto é formado por muitos clientes, portanto o meu
negócio pode crescer com o tempo.
- Hipótese de escalabilidade: eu consigo aumentar minha capacidade de produção de modo a atender o mercado,
quando ele crescer.