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CAMPUS REALEZA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITOS HUMANOS
ATIVIDADE AVALIATIVA:
MEIO AMBIENTE E DIREITOS HUMANOS NO BRASIL
REALEZA
2021
WELLEN PEREIRA AUGUSTO
ATIVIDADE AVALIATIVA:
MEIO AMBIENTE E DIREITOS HUMANOS NO BRASIL
REALEZA
2021
1 INTRODUÇÃO
Por fim, no espaço das considerações finais é feita a análise crítica proposta: “elabore
uma análise crítica sobre a possibilidade de o meio ambiente se afirmar como direito
humano”.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 AS CORRENTES DA ECONOMIA AMBIENTAL
1 Para mais da relação entre antropocentrismo e cálculo econômico, ver Montibeller-Filho (1993).
A economia ecológica tem como cerne “princípios da ecologia (geral) transpostos,
com as devidas adaptações, à ecologia humana” (MONTIBELLER-FILHO, 1999, p. 85).
Conceito adaptado da ecologia geral (originadas na física e biologia), a ecologia ecológica se
situa dentro da categoria da ecologia humana2. Revisita uma compreensão biocêntrica de
interconexão entre todos os seres, uma visão sistêmica (CAPRA; LUISI, 2014).
O ponto fulcral da economia ecológica é a adaptação desses conceitos ao
desenvolvimento, em especial na noção de equilíbrio: “este equilíbrio é necessário que as
saídas (output) se igualem às entradas (input), significando uma relação de 1 : 1, um para um,
na troca de energia e materiais” (MONTIBELLER-FILHO, 1999, p. 94). Especificamente no
campo de processo econômico, “analisa a estrutura e o processo econômico de geossistemas
sob a ótica dos fluxos físicos de energia e de materiais”, noções importadas da física
(MONTIBELLER-FILHO, 1999, p. 95). Tais fluxos são notadamente o que se produz, como
se produz, a frequência que produz etc, que questiona “a dependência da economia à natureza,
vem questionar a idéia de urna economia emancipada da necessidade, o imaginário de um
crescimento econômico sem limites e a ilusão de que entrarmos em uma era de pós-escassez”
(LEFF, 2006, p. 177).
Enfim, encontra respaldo nas limitações biofísicas da natureza e demanda uma outra
percepção da relação homem-natureza, de preferência biocêntrica ou ecocêntrica
(GUDYNAS, 2019). Em suma: “para haver progresso em direção à sustentabilidade, nós
precisamos harmonizar economia humana com economia da natureza” (BOSSELMANN,
2006, tradução livre).
Pode-se colocar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU e seu
“desenvolvimento sustentável”, entendido como aquele desenvolvimento que atende as
necessidades das presentes gerações, sem comprometer as que as gerações futuras, nesse
patamar. O direito mundial tem avançado também nesta concepção, para considerar a
natureza como bem em si mesma, com uma visão kantiana de valor intrínseco.
Por fim, para a economia ecomarxista, reside as contradições do capital de que a
exploração da força de trabalho empobrece e que a apropriação ilimitada da natureza causa
sua destruição e, por consequência, tem limites biofísico. Eis que “os custos sociais (ou custos
externos) são inerentes ao processo produtivo capitalista: a produção de mercadorias requer
não-mercadorias”, ou seja, a natureza e sua degradação (MONTIBELLER-FILHO, 1999, p.
159).
2 “[…] uma ciência com característica interdisciplinar, voltada a compreender os dinâmicos processos
biológicos, físicos e sociais que se dão entre os homens e o ambiente em que vivem” (MONTIBELLER-FILHO,
1999, p. 88).
Alguns exemplos de que a contradição do capital é dada a partir da ilimitada
exploração e apropriação da natureza é o surgimento da covid-19, que tem fatores ambientais
e de zoonoses, demonstrando que o processo produtivo desencadeia externalidades e, depois,
sofre com as consequências advindas da degradação da natureza. O desemprego, a fome, a
inflação e o decrescimento da economia notórios no último ano são concausas do processo
produtivo capitalista.
A vasta obra de Marx é ímpar na análise econômica, política e social das relações
sociais e produtivas constituídas pelo capitalismo de seu tempo. No plano da economia
política, Marx se preocupa da relação entre o homem e a natureza pelo exercício do trabalho.
O sociólogo rebate criticamente noções apropriadas por seus contemporâneos no tocante a
esta relação, à produção e manutenção da agricultura, bem como sobre a chamada Segunda
Revolução Agrícola. Diante disso, a relação homem-natureza foi chamada por ele de
“metabolismo [social]”. Sua visão crítica adere à ideia de que há uma falha nesse
metabolismo “em decorrência das relações capitalistas e da separação antagonista entre cidade
e campo”, isto é, de como o capital se apropria da natureza e transforma essa relação nada
racional (FOSTER, 2005, p. 201).
A origem desse debate é a discussão sobre a propriedade privada capitalista em
contraposição à propriedade comunal e a gestão comunitária da terra:
Por isso que, desde o século XVIII, Marx (e Proudhon) alertaram para o “tratamento
cônscio e racional da terra como propriedade comunal permanente” como condição
“inalienável para a existência e reprodução da cadeia de gerações humanas” (MARX apud
FOSTER, 2005, p. 231).
Sem dúvidas, a racionalidade comunitária, distinta da racionalidade capitalista e
contemporaneamente neoliberal, tem se mostrado eficaz no tratamento adequado do solo,
permitindo um modelo sustentável e que se adéque às necessidades das futuras gerações, ao
compreender que os recursos são limitados. As comunidades tradicionais e os movimentos
sociais pela terra são exemplos de que a preservação ambiental é mais eficiente pela lógica de
comunidade, em detrimento da apropriação predatória e individual.
O filme Promised Land (2012), dirigido por Gus Van Sant, retrata uma ficção atual e
preocupante na relação entre capital financeiro e exploração da natureza. A película traz a
estória de dois representantes de uma megacorporação que pretende utilizar terras rurais para
exploração de gás natural de xisto. As comunidades escolhidas são afastadas dos grandes
centros e subsistem da agropecuária de pequeno impacto.
Na tentativa de convencê-los, os representantes Sue e Steven atraem os moradores
com diversas ilações e uma parte do dinheiro bilionário que ganhariam, como oferecimento de
boa escola e faculdade para os filhos, participação nos lucros e insinuação de que os locais
podem ficar milionários com o empreendimento etc.
Logo enfrentam a resistência de um professor doutor e especialista em externalidades
químicas que denuncia a contaminação da água e as doenças originadas do processo de
extração do gás de xisto, também conhecido como fracking. A ilusão também advém de que a
cidade, detidamente interiorana e nada industrialização, precisa de modernização para
alcançar o desenvolvimento.
Ocorre que, para afetar os planos dos representantes, aparece um ambientalista da
chamada organização “Athena” para convencer os munícipes de todo o desastre social,
econômico e ambiental causado pelo fracking, tais como a contaminação da água, do solo e a
morte do gado.
Ao final se descobre que o ambientalista Dustin era, na verdade, linha auxiliar na
manipulação para implementar a extração do gás natural na comunidade, pois seria
desmascarado como manipulador. Trata-se de estratégia da própria empresa Global para
formar uma ilusão de que havia um confronto e que a empresa tinha oposição, bem como para
evitar legítimos ambientalistas que impediriam as mentiras, de modo que falsificaram o
movimento e desmascararam para que cedessem aos contratos. Assim, garantiriam que a
votação popular fosse a favor do empreendimento.
O Estado, no filme, é representado pelo prefeito local que recusa a ideia de instalação
da empresa na cidade. Na verdade, o Estado se mostra omisso e sem regulação de uma
atividade com tantas contingências e externalidades, as quais a comunidade local não seria
capaz de suportar.
O capital financeiro que ganharia bilhões na atividade e produziria miséria no local
não seria responsabilizado pela atividade poluidora, o que, parece ter retornado à ideia da
economia ambiental clássica.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
BOSSELMANN, Klaus. Strong and Weak Sustainable Development: Making the Difference
in the Design of Law. South African Journal of Environmental Law and Policy, 13, 14–
23. Disponível em: https://hdl.handle.net/10520/AJA10231765_45. Acesso em: 8 mai. 2021.
CAPRA, Fritjof; LUISI, Pier Luigi. A visão sistêmica da vida: uma concepção unificada e
suas implicações filosóficas, políticas, sociais e econômicas. São Paulo: Cultrix, 2014.
HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das
Letras, 2009.